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Universidade Cândido Mendes Projeto A Vez do Mestre
Curso Docência do Ensino Superior
A FORMAÇÃO DO DOCENTE PARA A ATUAÇÃO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por Flavia Martins de Paula Pedro Nogueira Orientador: Nilson Guedes de Freitas
Niterói
2004
2
Universidade Cândido Mendes Projeto A Vez do Mestre
Curso Docência do Ensino Superior
A FORMAÇÃO DO DOCENTE PARA A ATUAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho Monográfico de
conclusão do curso de pós-
graduação Lato Sensu em
Docência do Ensino
Superior.
Niterói
2004
3
AGRADECIMENTOS
Dedico ao meu marido Luiz
Eugenio e a minha filha Victória
pelo apoio que me deram durante
o curso.
As amigas Lílian, Solange e Néli
pelo carinho, incentivo e apoio na
preparação deste trabalho.
4
EPÍGRAFE
Para pensar novas idéias temos que desarmar nossas idéias feitas e misturar as peças, assim como um tipógrafo ver-se-á obrigado a desarmar os clichês, se deseja imprimir um texto no novo idioma.
(FERNANDES)
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RESUMO
A presente pesquisa levantou como problema o curso de formação de professores e sua contribuição para formação de docentes com uma postura política pedagógica coerente com pressupostos teórico-metodológicos para a Educação Infantil. Tem como objetivo analisar informações relevantes e pontuar fatores primordiais na formação do profissional de educação infantil. O estudo delimita-se à formação do docente no Normal Superior do Estado do Rio (Educação Infantil). Para tal, o presente trabalho foi pautado em pesquisa bibliográfica na qual os principais teóricos abordados foram Celso Antunes, Selma Pimenta, Piaget, Vygotsky e Constance Kamii, que são autores reconhecidos no universo da pedagogia. Os principais aspectos enfatizados nessa pesquisa foram o de analisar as características, vantagens e desvantagens em relação aos parâmetros curriculares e à prática do profissional de educação infantil, as etapas do desenvolvimento infantil e sua aplicabilidade no cotidiano escolar e, enfim, a análise do currículo formal do curso de formação de professores que configura o perfil deste profissional que está ingressando no mercado de trabalho.
“Palavras Chaves” : Competência . Coerência . Conhecimento . Afetividade
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
1- História da Educação Infantil 10
2- Exercitando o olhar para ler a educação infantil 14
3- O papel do professor de educação infantil 20
4- Campo de conhecimento do professor de educação infantil 28
CONCLUSÃO 41
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44
ANEXO 46
ÍNDICE 50
FOLHA DE AVALIAÇÃO 52
7
INTRODUÇÃO
Baseado nas questões que ocorrem no Brasil em relação à Educação,
torna-se necessário “investigar” como acontece a formação dos profissionais que
atuam na Educação Infantil, uma das etapas mais importantes da vida de um
educando, visto que as experiências vividas nos primeiros anos de vida de cada
ser humano são únicas. Sabe-se que nesse período é que se forma a
personalidade, portanto, o adulto de amanhã. É por esse motivo que nessa fase
as crianças necessitam da ajuda de profissionais “competentes”, que possam
estimular e atuar como mediadores no desenvolvimento das habilidades
necessárias para a construção do conhecimento, na sua evolução e no seu
crescimento, a partir das necessidades individuais.
Um dos grandes desafios dos educadores da Educação Infantil é a
mudança de paradigmas, tanto no que se espera da educação infantil na
atualidade, como na preparação de profissionais que atuam nesta fase. Para isso,
é necessário saber: o porquê da escolha desta profissão e sua posição de
destaque perante outras profissões. Por que o profissional que atua com crianças
de até 06 anos não tem o devido prestígio social? Por que os baixos salários e a
divisão “setorial” e por níveis? Por que quanto menores são as crianças menos
ganham os profissionais que atuam com elas?
Sabe-se que a vida é um complexo conceito de educação, onde são
viabilizadas relações entre seres humanos. Adultos e crianças, quando são
educandos, aprendem através das relações e intervenções existentes entre eles e
o meio. Mais delicada ainda, é com relação às crianças, pois temos que
oportunizar nesta fase o desenvolvimento de habilidades para a participação
social e a ampliação de horizontes. A escola de Educação Infantil é o espaço
propício para criação de um ambiente estimulador do desenvolvimento do cérebro
8 da criança, pois nessa fase ela se encontra em melhor poder de absorção. No
espaço escolar constroem-se determinadas práticas e conceitos com significados
construídos no conhecimento do cotidiano e na prática social.
É através da Educação que deve estar presente o olhar maior para a
criança, aliado ao afeto, bem como os conhecimentos científicos, que ajudarão
esses profissionais a desenvolverem seres humanos bem preparados para um
novo mundo.
A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar teoricamente
informações relevantes e pontuar fatores primordiais na formação dos
profissionais que atuam na Educação Infantil, que teve como problema a
contribuição que o curso de formação de professores tem dado para formar
docentes com uma postura político-pedagógica coerentes com pressupostos
teórico-metodológicos para a educação infantil. O tema ficou delimitado à
formação do docente para a Educação Infantil no curso Normal Superior do
Estado do Rio de Janeiro e o procedimento metodológico utilizado foi a pesquisa
bibliográfica.
Para o primeiro capítulo foi elaborado um histórico da educação infantil
iniciando na Idade Média e passando pela Idade Moderna, pelo Brasil escravista e
finalmente pelo Capitalismo, fundamentado nos autores Aries e Faria. Já no
segundo capítulo faremos um breve histórico das políticas de educação criadas
para atender as necessidades das crianças de 0 a 06 anos e a formação do
docente destinado a essa etapa da educação, tendo como base os seguintes
autores, Kuhlmann, Faria, Leite, Cunha, Saviani, Oliveira entre outros. O
terceiro capítulo tem como objetivo analisar e comentar o perfil do professor da
educação infantil, enfocando o caminho histórico – afetivo e as principais correntes
pedagógicas que influenciaram o cenário educacional, baseado nos autores,
Antunes, Oliverira, Hadji, Mizukami, Freire, Pimenta, Kamii. E o quarto capítulo
tem como objetivo analisar o campo de conhecimento do professor da educação
9 infantil, abordando as áreas de estudo (atividade ) e as contribuições de Piaget,
Vygotsky, Gardner e Antunes.
Portanto acreditamos que a formação de professores é uma preocupação
constante e “imediata” daqueles que acreditam na necessidade e reestruturar e
assim, transformar o cenário da Educação Infantil em nossa sociedade, encarando
a escola e seus professores a desempenhar em ensino eficaz e de qualidade.
10 1- HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Toda conduta é ditada por um interesse; toda ação consiste em atingir o objetivo que é mais urgente naquele momento determinado.(CLAPARÈDE)
A concepção de infância, construída ao longo da história, foi determinada
pela organização sócio-econômica da sociedade. O olhar sobre a criança e sua
educação estava de acordo com as relações de produção de cada época.
1.1 - A infância na Idade Média
A sociedade medieval se apresentava a partir da organização familiar. O
poder se concentrava nas mãos dos grandes proprietários de terras, que, em seus
domínios, faziam suas leis, administravam a justiça e, em alguns casos, cunhavam
as suas próprias moedas. Dessa forma, o poder público tornava-se fragmentado.
A Igreja era encarregada de desenvolver, junto ao Estado, a função coercitiva e de
legitimação política, o que incluía as políticas sociais.
Com o crescimento das cidades, no século XIII, a concentração da
pobreza tornou-se mais acentuada tornando evidente os primeiros sinais de
discriminação.
As crianças eram vistas como adultos em miniaturas, vestiam-se e
realizavam trabalhos como adultos. Aos sete anos, eram encaminhadas a outras
famílias para serem educadas para o trabalho doméstico através da prática.
A família não podia portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significa que os pais não amassem seus filhos. Eles se ocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela contribuição que essas crianças podiam trazer a obra comum, ao estabelecimento da família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental. Nos meios mais
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ricos, a família se confundia com a prosperidade do patrimônio, da honra, do nome. (ARIÉS. 1981: p.231)
Os colégios existentes atendiam a um pequeno número de clérigos e
estudantes de todas as idades, inclusive crianças. Assim, mais uma vez, as
crianças eram inseridas no meio de adultos. Nesses colégios os alunos aprendiam
as letras latinas e o mestre tinha por função transmitir conhecimentos.
1.2 - A infância na Idade Moderna
Paralelo ao contexto da Revolução Industrial, ao Iluminismo e a
constituição dos Estados laicos surgem os primeiros passos para o atendimento
direcionado à infância, chamados de “refúgios” ou “asilos”. Estes abrigavam filhos
de mães operárias.
A criança passa a representar alegria para os adultos, começa a usar
trajes diferenciados dos adultos e é tratada com mais atenção (principalmente
filhos de nobres). O colégio aparece como espaço de educação de cunho mais
“pedagógico” objetivando o ensino de teorias de ofícios.
O uso de castigo corporal pela escola e pela família tornou-se comum
nessa época, pois acreditava-se que a natureza infantil, frágil e incompleta,
legitimava o exercício da autoridade constante do adulto sobre a criança. O traje e
o chicote foram os primeiros instrumentos de separação das crianças dos adultos.
Com a justificativa de fraqueza e incapacidade, o ingresso dos meninos
na escola foi adiado para os dez anos. Para as meninas, essa realidade demorou
um pouco mais. Só a partir do século XVIII foi possível à permanência feminina
nas escolas. Também neste século, evidencia-se a dualidade no sistema escolar,
com a criação de ensino diferenciado para o povo e para as classes burguesas e
aristocráticas.
12 1.3 - A infância no Brasil Escravista
No Brasil escravista a economia colonial, centrada no latifúndio e na
mão-de-obra escrava, favoreceu o aparecimento do poder sem limites dos donos
de terras. A criança escrava era incorporada ao trabalho da mãe e quando as
escravas eram escolhidas para amas-de-leite, o destino de seus filhos era a Roda,
que também era utilizada pelos proprietários que não queriam se incumbir dos
encargos da criação da prole de seus escravos. A parir da segunda metade do
século XIX, essa prática começou a ser criticada pelos movimentos abolicionista e
higienista.
As primeiras creches brasileiras foram criadas por médicos que, junto às
mulheres burguesas, iniciarem projetos higienistas com o objetivo de atender a
filhos de trabalhadoras domésticas.
1.4 - A infância no Capitalismo
Marcado pela Revolução Industrial, no final do século XVIII, o capitalismo
é palco para expansão da industrial, ciência, tecnologia e trabalho assalariado.
Nesse contexto, a criança tornou-se alguém que precisava ser cuidada,
escolarizada e preparada para o ingresso no mundo do trabalho. Foi instituído o
ensino primário destinado às classes populares e o secundário para a burguesia e
aristocracia. No final do século XIX surge, no meio da burguesia, o ensino superior
nas universidades ou grandes escolas.
A partir de então, podemos perceber o caráter excludente e
discriminatório da escola, um instrumento de fragmentação da sociedade. A
separação de crianças e adultos, ricos e pobres, diferenciação de níveis de ensino
para as diferentes classes reforçam a estratificação social.
Numa sociedade desigual, constituída por classes antagônicas que vivem em condições materiais bastante
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diferenciadas, somente podem brilhar na carreira acadêmica e ascender aos níveis mais elevados de ensino as crianças das classes dominantes, já que os filhos das camadas populares, devido à pobreza, não têm condições de progredir nos estudos e, às vezes, nem podem freqüentar uma escola porque precisam trabalhar desde a tenra idade. (FARIA. 1995 P.17)
O olhar da sociedade capitalista sobre a criança é de que esta é um ser
a-histórico, a-político, a-crítico, fraco e incompleto, um ser economicamente não
produtivo e que necessita da proteção do adulto. Por trás desse olhar encontra-se
camuflada a subordinação da criança em relação ao adulto e em relação à própria
sociedade, bem como o desejo de inseri-la à sua classe, seu contexto político e
econômico.
14 2- EXERCITANDO O OLHAR PARA LER A EDUCAÇÃO INFANTIL
Estou aqui para quê? Será que é para aprender ? Ou será que é para aceitar? Me acomodar e obedecer ? ( ... ) ( GABRIEL PENSADOR )
Considerando que a faixa etária de 0 a 06 anos é uma fase de grande
importância para o desenvolvimento humano, conseqüentemente, a educação
escolar que lhe é proporcionada precisa ser uma realidade acessível a todas as
crianças, independente da camada social pertencentes.
Nos últimos anos, a educação infantil vem ganhando espaço no cenário
educacional brasileiro. Em nenhum período da história da educação, as iniciativas
governamentais foram tão intensas quanto a partir da década de 80. A importância
que os órgãos oficiais vêm atribuindo à educação infantil, como fator básico e
essencial do desenvolvimento da criança, atingiu um nível jamais constatado. Até
então, este seguimento da educação foi total ou parcialmente negligenciado,
podendo ser observado o seu caráter assistencial e de educação compensatória
com intuito de compensar carências e desvantagens sócio-cultural.
2.1- Contextualizando a educação para crianças de 0 a 06 anos
Durante muitos anos as instituições destinadas a atender crianças de 0 a
06 anos (creches, jardins de infância e asilos) tiveram um cunho assistencialista e
foram mantidas por influência e articulação de forças jurídicas, empresariais,
políticas, médicas, religiosas e pedagógicas. Contudo, sua ênfase estava voltada
para o atendimento médico e sanitário, em decorrência do movimento higienista.
O surgimento da creche no Brasil se deu de forma peculiar. Enquanto
nos paises europeus essa proposta foi desenvolvida para atender ao contingente
feminino que atuava no mercado industrial, aqui ela surge para suprir as
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necessidades das mães escravas que, após a lei do Ventre Livre, não podiam
permanecer com seus filhos nas casas onde trabalhavam. No século XIX começa a
emergir o setor privado da educação pré-escolar para as elites. Os termos asilo e
creche foram atribuídos às instituições que atendiam crianças pobres.
A política assistencialista colocava como objetivo a necessidade de:
Inspecionar e regulamentar a lactação; inspecionar as condições de vida das crianças pobres (alimentação, roupas, habitação, educação, instrução, etc.); dispensar proteção às crianças abandonadas; auxiliar inspeção médica nas escolas e indústrias; zelar pela vacinação; difundir meios de combate à tuberculose e outras doenças comuns às crianças; criar jardins de infância e creches. (KUHLMANN. 1991: p.21)
A forma como se organizava a educação dotava as entidades privadas
de obrigações e deixava sob a responsabilidade do Estado apenas a função de
supervisionar, selecionar as pessoas que seriam atendidas e criar propostas
educativas para evitar a luta de classe.
A demanda por creches públicas para atender as classes populares
começou a crescer e surgiram as creches domiciliares e comunitárias. As
primeiras foram organizadas por mulheres que contavam com bom espaço em
suas casas para abrigar várias crianças, em sua maioria, filhos de mães que
trabalhavam fora. Essa assistência era dada em troca de pagamento. As creches
comunitárias eram construídas pela população, sem apoio governamental e
funcionavam com recursos materiais e humanos locais que provinham dos
usuários.
Na década de 80 e 90, algumas creches comunitárias começam a receber apoio governamental, mais precisamente das prefeituras como é o caso do município de Rio de Janeiro que, através da Secretaria Municipal de desenvolvimento Social, repassa verbas para as creches comunitárias, e também do município de Niterói que através da Fundação Municipal de Educação,
16
estabeleceu convênios com algumas creches comunitárias para repasse de verba pública. (FARIA. 1995: P. 29)
Esses programas de creches se desenvolveram com autonomia, sem
planejamento ou articulação, até que em 1970 foi instituída a educação pré-
escolar para atender às crianças de 04 a 06 anos, com o objetivo de suprir suas
carências e prepará-las para o ingressar na escola com sucesso.
Apesar do caráter discriminatório e assistencialista desta proposta, a idéia de uma pré-escola preperatória para enfrentar com sucesso o primeiro grau é aplaudida por muitos pedagogos e por muitas famílias pobres; pois estas querem que o filho aprenda a ler, escrever e contar cedo, porque, por experiência, sabem que ele não vai permanecer na escola mais do que três anos – provavelmente acabará desistindo (repetência ou necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família). (FARIA. 1995: p. 31)
Com a Constituição Federal de 1988, a educação passa a ser direito de
todos e a educação infantil fica a cargo do Estado. A Constituição também
propiciou o surgimento da municipalização do ensino, com a argumentação de que
a comunidade poderia escolher a escola de sua preferência, bem como
acompanhar e avaliar os serviços prestados pelo poder público, constituindo
assim, o “poder popular”, grupo representativo da sociedade civil.
2.2- Teoria e prática à luz da LDB
No Brasil, os movimentos sociais que levaram a uma ampliação na rede
de creches e pré-escolas, principalmente nos anos 70 e 80, convergiram para a
chegada da LDB no 9.394/96 que, apesar de apresentar somente três artigos que
tratam da educação infantil, foi um marco dessas reivindicações sociais e
educacionais no país, trazendo mudanças e grandes contribuições para a
educação infantil, à medida que lhe conferiu o estatuto de educação básica e
exigiu maior profissionalização dos estabelecimentos dedicados a essa formação.
17 A LDB também reforça o compromisso do Estado com a educação escolar,
assegurando atendimento gratuito em creches e pré-escolas para crianças de 0 a
06 anos de idade.
Na prática, esse atendimento à criança tem se constituído num objetivo
não concretizado. Isto porque existe uma enorme discrepância entre a valorização
dada à criança no que diz respeito ao discurso e a situação real do atendimento
que ela vem recebendo.
Segundo Leite, (2002: p.190):
Se é verdade que a LDB de 1996 passou a considerar, pela primeira vez na história da educação brasileira, a educação das crianças de 0 a 6 anos como uma etapa primeira da educação básica, visando estabelecer efetivamente os direitos educacionais da criança, também é verdade que ainda hoje há uma indefinição da Política Nacional de Educação Infantil no sentido de que apresente claramente a disponibilização de recursos financeiros específicos, que defina as competências e as prioridades de forma que se busque um atendimento de qualidade às crianças de até 6 anos.
2.3- Avanços e rupturas na formação do profissional da educação infantil
Atualmente, um dos maiores desafios relacionado ao processo
educacional é o da formação do professor que agora, mais exigido, necessita se
organizar para atender a uma nova escola, por meio de novas práticas que
garantam o atendimento com qualidade às crianças, objetivando a formação de
cidadãos críticos e reflexivos, capazes de se apropriarem de conhecimentos sobre
a realidade, fazendo deles alicerce para a construção de novos saberes. O texto
da LDB ressalta a importância da formação profissional para os envolvidos com a
educação infantil, reivindicada ao longo dos anos pelos diferentes movimentos de
educadores, estabelecendo como regra a obrigatoriedade do nível superior, em
cursos de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação; contudo, o nível médio na modalidade normal ainda será
aceito como formação mínima para os educadores que atuam na educação infantil
18 e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental (art. 62). Segundo a LDB, ao
final da “década da educação”, período que compreende de 1997 a 2007, será
exigida do professor a habilitação em nível superior ou a formação por treinamento
em serviço (art.87, parágrafo 4o). Cumprindo essa exigência, os esforços deverão
encaminhar-se para que todos os professores atinjam o estatuto universitário.
Diante desse cenário atual da educação infantil, caracterizado por avanços legais, torna-se um desafio e uma necessidade refletir sobre a problemática da formação dos profissionais da educação infantil, em busca de propostas de melhor qualificação para esses profissionais. (LEITE. 2002: p. 190)
A necessidade de formação continuada permeia a legislação e trás
diferentes estratégias para sua operacionalização, merecendo destaque a criação
de um novo espaço de formação de professores: os institutos superiores de
educação, encarregados de formar professores para a educação básica, incluindo
o curso normal superior, destinado a formar docentes para a educação infantil e
para as primeiras séries do ensino fundamental. A carga horária exigida para o
curso normal superior direcionado à formação de professores para a educação
infantil e/ou as séries iniciais do ensino fundamental é estabelecida pela
Resolução CNE/CP nº 2/2002, que institui a carga horária mínima de 2800 horas,
para o Curso Normal Superior e demais licenciaturas, sendo 400 horas de prática,
400 horas de estágio supervisionado e tempo de integralização de, no mínimo,
três anos letivos.
Com a criação de um novo espaço de formação de educadores, nasce
uma rede paralela no plano da educação superior, fora da ambiência universitária.
Fica claro que os estados poderão criar institutos superiores de educação fora do contexto universitário, sem considerar, muitas vezes, os mínimos exigidos para a criação de instituições de nível superior. Há, ainda, o risco de se transformarem os atuais institutos de educação, centro de formação e aperfeiçoamento do magistério e escolas normais, todos de nível médio, em
19
institutos superiores de educação, tendo em vista as demandas pela formação docente presentes nas redes de ensino básico. (CUNHA. 1998: p. 88)
Ressalta-se também a necessidade de implementação de políticas de
valorização do professor, nos diferentes aspectos, inclusive no que diz respeito à
remuneração, a fim de que se vislumbre a possibilidade de melhores profissionais
optarem por esta profissão, para que se possa montar um sistema de educação
voltado para as necessidades vitais da nação e não mais apoiado no idealismo,
como vem acontecendo. Não se deve esquecer de que o professor também tem
responsabilidade no seu processo de formação.
A formação do educador infantil, todavia está ligada simplesmente à formação, mas ocorre também com a experiência, com a aprendizagem cotidiana, com interações construídas com diferentes atores e que conduzem a fome de interação em situações específicas. Não é um caminho para ser trilhado individualmente, mas um processo gradual de aperfeiçoamento que continua por todo o período de atuação do profissional. (OLIVEIRA. 2002: p.45)
Comprometer-se, continuamente, com sua formação, colocar-se como
sujeito-professor em construção, autor de um diálogo constante entre a teoria e a
prática, problematizar, refletir e avaliar suas próprias práticas pode ser o caminho
para construir identidade e exercitar sua autonomia com sabedoria.
Ainda que as dificuldades sejam grandes, cabe a cada um, em seu nível,
trabalhar e exercer o papel que lhe compete de intervenção na realidade, buscando
transformá-la, trabalho este que compete, principalmente, ao educador, cuja
educação se dará a partir de uma sólida formação política e social.
20
3- O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Um único corpo de saberes relacionado ao ensino não basta para a profissionalização dos educadores. Eles devem apropriar-se verdadeiramente desses saberes e torná-los operacionais. Um desafio para a formação em busca de uma prática mais ética.( CHARLES HADJI )
Ao longo dos tempos a profissão de professor passou a ser “escolhida
pelas pessoas que tinham vocação para lidar com crianças” e procuravam atuar
conscientemente, embasadas teoricamente, fazendo do seu cotidiano o seu saber
pedagógico.
Duas posturas são observadas nos profissionais que atuam no cotidiano
das escolas. A primeira é dos professores que ficam sem tempo e sem espaço
para colocarem suas idéias, angústias, discutir um trabalho e os processos
pedagógicos e educacionais que enfrentam e acabam atuando de forma solitária.
A outra é dos professores que vão se afastando da sua prática pedagógica e da
produção intelectual, pela quantidade de “tarefas” e atributos que precisam dar
conta, do exagero dos programas a serem cumpridos, dessa forma, torna-se mais
fácil seguir o livro didático e as orientações passadas por outros agentes que não
as dos professores.
Algumas atitudes do professor facilitaram seu trabalho no cotidiano.
Sendo observador ele poderá criar oportunidades para que a criança
entre em contato espontaneamente com outras crianças, colocando os limites e
criando estímulos necessários para que seus alunos possam vivenciar, explorar,
trocar idéias, expressar livremente seus sentimentos, emoções e imaginação nas
relações sociais.
Acreditamos sinceramente que algumas entidades públicas e privadas poderiam projetar cursos com essas prerrogativas, abordando o processo educacional de zero a seis anos no campo científico, epistemológico, social e crítico, adequando os conteúdos e limpando grades curriculares de lixos acadêmicos acumulados por uma
21
tradição que não diz a que ou por que veio. ( ANTUNES. 2004:p.62 )
O professor tem um espaço de decisão imediato na sala de aula, onde
possui autonomia e controle. Para que isso aconteça é preciso que se sinta sujeito
do seu próprio trabalho caracterizado pela ação e imposição, restrita à escola. O
trabalho que o docente realiza nesse processo é importante, pois ele torna-se um
elemento “decisivo e decisório”.
O objetivo educacional nesse caso é produzir indivíduos eficientes que
possam oferecer um domínio maior sobre a natureza. Acredita-se que para
melhorar o nível dos profissionais que atuam na educação infantil, as entidades
públicas e particulares que oferecem cursos de formação de professores deveriam
reformulá-los para que possam atender com eficácia a demanda no mercado de
trabalho, para isso, torna-se necessário incluir disciplinas que trabalham os
seguintes aspectos: epistemológicos, psicológicos, sociológicos e psicomotores,
como também as diversas linguagens, o pensamento e a lógica matemática, que
darão suporte aos professores em seu cotidiano. Oferecer-lhes estágios
supervisionados para que possam, na prática, exercitar o que lhes são exigidos e
trabalhados no currículo formal torna-se fundamental para que esses profissionais
assumam a postura de mediadores da aprendizagem e não detentores do saber.
Ciente da importância do papel que realiza, fazendo intervenções de
diversas naturezas, o profissional da educação infantil, deve entender os
processos da criança com um significado que poderá ter referencial na própria
criança, viabilizando atividades que precisam ser realizadas, facilitando o processo
interativo, permitindo-lhes acesso à cultura, à exploração e às experimentações
próprias da sua idade.
Cabe a esse profissional abrir mão de ser simplesmente um professor
para ser realmente um EDUCADOR, pois guiará a aprendizagem pela construção
22 de significados onde criará uma base segura para que as crianças, através das
vivências oferecidas, busquem significados que nortearam uma sólida
aprendizagem.
3.1- Correntes Pedagógicas
Quando busca-se uma profissionalização recebe-se muitas informações
que podem ser consideradas primordiais para a escolha do “caminho” que tende-
se a seguir.
De acordo com cada abordagem ou teoria privilegia-se determinados
aspectos que são específicos a cada uma delas, o que possibilitará cada docente
fazer a escolha consciente do papel que deseja desempenhar na sua trajetória
como professor.
3.1.1- Abordagem Tradicional
Esta abordagem é empirista, enfatiza o externo. Fundamenta-se numa
prática educativa e na transmissão do conhecimento através dos anos, inclui
tendências e manifestações diversas.
Parte do pressuposto que o ensino tradicional é verdadeiro, pois conduz
ao aluno na busca do aprender e consequentemente as grandes realizações.
Dá ênfase aos modelos em todos os campos do saber. A realidade será
transmitida ao indivíduo pelo processo de educação formal, como também pela
família, Igreja, entre outras.
O ensino é centrado na figura do professor, este “dita as regras” e o
aluno apenas executa prescrições que lhes são fixas, passando a ser um receptor
passivo, até que repleto de informações necessárias, possa repeti-las a outros que
ainda não as possuem.ampliando e aprofundando as áreas de conhecimento, o
23 que se encontra relacionado aos valores passados pela sociedade na qual está
inserido.
Os programas demonstram os níveis culturais a serem adquiridos na
educação formal, onde valorizam a inteligência ( atividade mental ), isto é, uma
faculdade capaz de acumular/armazenar informações. A reprovação passa a ser
necessária quando o mínimo de cultura naquela faixa não foi atingido. A
mensuração é necessária para constatar que o mínimo exigido para cada série foi
atingido.
3.1.2- Abordagem Comportamentista
Esta abordagem se caracteriza pelo primado objeto (empirismo). O
conhecimento é uma “descoberta” nova para o indivíduo que a faz, ele é resultado
direto da experiência.
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos processos por
meio dos quais o comportamento humano é modelado e reforçado. O conteúdo
transmitido visa objetos e habilidades. O aluno absorve informações e reflexões
que o levarão à competência. Para isso, há necessidade de um prévio feito pelo
professor que tem como objetivo a mudança de acordo com um centro decisório.
Os comportamentos desejados serão instalados e mantidos através de
condicionamentos e reforços, utilizando elogio, notas, prêmios, prestígios, etc...
Como conseqüência dessa abordagem tradicional, fica claro que o que
não é programado não é desejado.
3.1.3- Abordagem Humanista
Esta abordagem de cunho Rogeriano dá ênfase ao sujeito como principal
elaborador do conhecimento humano, quer dizer, o ensino centrado no aluno.
24 Acredita-se que as relações interpessoais e o crescimento que delas
resulta, fazem parte do processo de construção e organização pessoal da
realidade e em sua capacidade de atuar, como uma pessoa integrada.
Enfatizando assim a vida psicológica e emocional do indivíduo.
Pode-se dizer que na aprendizagem professor será um facilitador da
aprendizagem. O conteúdo a ser trabalhado será da própria experiência dos
alunos. A atividade é considerada um processo natural que se realiza através da
interação com o meio. O professor não ensina, apenas criará condições para que
os alunos aprendam. O aprendente tem a responsabilidade de gerar seu próprio
estudo. A educação tem como finalidade criar condições que facilitem a
aprendizagem do aluno e torná-lo capaz de gerenciar sua aprendizagem
possibilitando o desenvolvimento intelectual e emocional. Esta aprendizagem
deverá abranger conceitos e experiências tendo como pressuposto um processo
de aprendizagem pessoal.
A escola deverá oferecer condições para que os alunos se tornem
autônomos.
3.1.4- Abordagem Cognitivista
Esta abordagem é interacionista, vem estudar cientificamente a
aprendizagem com enfoque piagetiano. Dá ênfase aos processos cognitivos, à
investigação científica separados dos problemas sociais contemporâneos.
O indivíduo é considerado um sistema aberto em mudanças sucessivas.
Pode-se dizer que reduzir o desenvolvimento do ser humano consiste, de forma
genética, em alcançar o máximo de operacionalidade em suas atividades, sejam
essas motoras, verbais ou mentais. Essas operacionalidades caminham em
direção a estruturas de funcionamento integrado, tais como grupos de redes
matemáticas. ( Mizukami – 1986 )
25 Toda criança passa pelos estágios de desenvolvimento, que são
subseqüentes e caberá ao professor “proporcionar atividades e estimular” seu
aluno a passar por todos os estágios, levando-o a enfrentar dificuldades, a fazer
descobertas e adaptar-se ao mundo em que vive.
A criança passará por fases, dentro de cada estágio, que serão
importantíssimas para o seu desenvolvimento e a sua adaptação ao mundo
externo. É através do conhecimento dessa abordagem, que os profissionais da
educação poderão perceber que para Piaget a educação é um todo indissociável,
que considera dois elementos fundamentais: o intelectual e o moral.
A aprendizagem consistirá na transmissão de informações,
experimentações, etc... A escola deverá iniciar ensinando à criança a observar, ao
invés de fazer por ela (ação real e material). Onde o aluno atua com liberdade de
ação e, como co-participante desse processo, se apropriará da aprendizagem
passando pelas fases de anomia, heteronomia e chegando a autonomia.
Essas são algumas das abordagens mais conhecidas. Estudar e
conhecê-las são passos que ajudará o professor a escolher o caminho a ser
seguido na sua prática docente.
O “sucesso” no trabalho chegará como conseqüência e realização de
uma caminhada consciente.
3.2- Emoção na Educação
Não se pode falar em aprendizagem sem abordar a afetividade, que
funciona como mola mestra desse processo.
Entende-se por afetividade “o conjunto de fenômenos psíquicos que se
manifestam sob forma de emoções, sentimentos e paixões”.( Dicionário Aurélio:
p.62 ).
26
Acredita-se que quando há amor, seja por um objeto ou por um
semelhante, o ser humano tem grande chance de transformar a vida, seus
caminhos e destinos.
“A afetividade é composta pelas emoções que se constituem numa linguagem cuja mensagem pode tanto desencadear o desenvolvimento da consciência como fragmentá-la”.( Lane, 1994:p. )
É notório que não conseguiremos desenvolver as áreas de
conhecimentos sem trabalhar com emoção, onde a afetividade caminhará
paralelamente à cognição. As escolas deveriam saber que o amor e o desejo de
aprender será mais um aliado aos conteúdos e técnicas educativas.
A afetividade e a cognição são inseparáveis, sabendo disso, o educador
deverá conhecer que tipo de sujeito é esse com o qual trabalhará, e qual a forma
de conhecimento o levará à integração com o objeto e/ou meio, e qual o tipo de
relações que irão surgir nesse processo de aprendizagem. Pois, pensar, agir,
interagir, inventar e recriar são atributos intimamente ligados ao significado de
aprender.
Para Piaget a afetividade funciona como energia para a aprendizagem,
sem esse agente motivador a cognição poderá ficar prejudicada.
Entretanto, num âmbito mais amplo, podemos dizer que a afetividade
poderá ser a grande solução para os problemas da humanidade, como também
para nosso sistema escolar tão desacreditado.
Este será o outro ponto que nos dará suporte em nosso caminhar: a
afetividade. Sem ela, mesmo escolhendo a “melhor corrente Pedagógica”, ficará
faltando a energia que conduzirá a mudança de nossas condutas, não só
intelectual como também na qualidade do “ser”, facilitando assim a intervenção, a
percepção e a compreensão, que constituem a estrutura cognitiva e, juntamente
28 4- CAMPO DE CONHECIMENTO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL.
Ninguém vive plenamente a democracia nem tampouco a ajuda a crescer, primeiro, se é interditado no seu direito de falar, de ter voz de fazer o seu discurso crítico; segundo, se não se engaja, de uma ou outra forma, na briga em defesa deste também a atuar.(PAULO FREIRE )
Numa visão geral, a criança tende a ocupar espaços diferenciados e
especiais na sociedade. Cabe aos adultos determinar e elaborar saberes sobre a
infância para que possam orientar a criança na socialização no meio em que vive.
Entretanto, é importante dizer que a família constitui, para a criança, o
primeiro espaço de convivência e atuação. É a partir daí, que a criança vai
moldando e construindo sua identidade.
Sabe-se da importância da infância, portanto, é necessário compreender
o que acontece nessa fase e como se dá o processo de desenvolvimento e da
construção do conhecimento.
O desenvolvimento da criança é um processo que ocorre numa teia de
relações, isto é, ela está em contato com diferentes adultos e crianças que fazem
parte do contexto do seu cotidiano, isso faz com que a criança se adapte a um
universo maior de relações sociais.
Em relação à formação inicial, pesquisas (Piconez, 1991; Pimenta, 1994; Leite 1995) têm demonstrado que os cursos de formação, ao desenvolverem um currículo formal com conteúdos e atividades de estágios distanciados da realidade das escolas, numa perspectiva burocrática e cartorial que não dá conta de captar as contradições presentes na prática social de educar, pouco têm contribuído para gerir uma nova identidade do profissional docente.(PIMENTA. 2000: p.35)
Ao ingressar em um curso de formação de professores, este profissional
está em contato com conteúdos de um currículo formal que, na maioria das vezes,
não lhe dão suporte para trabalhar, pois esses conteúdos e os estágios
29 supervisionados estão muito distantes da realidade em que atuam, obrigando-os a
buscar vários cursos de atualização e suplência, que nem sempre são de
qualidade ou atendem de forma eficaz a esse professor, impossibilitando-o
traduzir e articular novos saberes em novas práticas.
Para que ele possa construir seu saber, que é fundamentado na sua
prática cotidiana possibilitando interagir com seus alunos na sala de aula onde
atua, ele deverá qualificar-se buscando conhecimento (capacitação), que requer
investigação, sistematização desenvolvidas com base metodológica, objetivando o
“tripé”: conhecimento – saber pedagógico – compromisso com o processo ensino
aprendizagem.
4.1- Com quem trabalhará ?
Atualmente as crianças são capazes de aprender uma diversidade de
coisas, algumas delas em um período curto de tempo, isto se dá devido à
plasticidade cerebral.
Seus primeiros anos de vida são importantes para que funcionem como
reservatórios. Elas observam, imitam e aprendem tudo o que está à sua volta:
formas de expressar sentimentos e emoções, hábitos familiares, brincadeiras,
noções corporais. Começam a dominar seu corpo e logo adquirem a locomoção e
a linguagem; “estão prontos para desbravarem o mundo!”
Para que isso ocorra é necessário acompanhá-las para podermos
perceber e desenvolver a riqueza que há em cada criança.
O professor deve se colocar a serviço do seu aluno e vê-lo tal como é.
Entretanto o que se observa é uma postura inversa desse profissional, que planeja
e quer acompanhar o aluno que ele idealizou.
O construtivismo enfatiza a importância não somente da criança descobrir a resposta à sua própria maneira, mas também de
30
levantar suas próprias perguntas da própria criança assegura a professora o início do processo de aprendizagem construtiva a partir do ponto onde a criança está, ao invés de começar por onde a professora está. (KAMII.1991:p.88)
De acordo com essa linha de pensamento, a idéia em relação ao trabalho
de um grupo de crianças, espera-se que o professor desempenhe intervenções
necessárias em momentos certos para que seus alunos percebam sentido no
trabalho que juntos desenvolvem.
Se não há sentido para a vida, para a sociedade, esse trabalho necessita ser
ressignificado.
4.2- Características marcantes desta fase
O professor de educação infantil deve dominar estratégias de ensino que possibilitem que as crianças ensaiem, estruturem projetos, façam explorações, elaborem hipóteses, desenvolvam conjeturas que as ajude a sair do egocentrismo; que seja um lançador de desafios, propositor de problemas e um motivador, jamais incutindo conhecimento, mas intermediando a construção de conceitos e de significações.( ANTUNES. 2004: p.61)
O professor de educação infantil deve conhecer bem as características
das crianças na fase em que atua para que possa planejar atividades desafiadoras
que desenvolvam e estimulem as crianças no seu processo de construção do
conhecimento, como também, estar atento a forma como as crianças pensam e
realizam as propostas lançadas por ele para que suas intervenções auxiliem na
construção de conceito e de significações, havendo assim, a aprendizagem.
Quando se planeja um trabalho com crianças o professor deve ter em
mente “requisitos” essenciais para que possa atingir os objetivos propostos para a
fase destinada.
O tempo da criança precisa ser respeitado, tanto o biológico, ligado à
maturação cerebral, quanto o tempo cronológico, que indica também a duração de
31 cada atividade, ou seja, o tempo necessário para que a criança possa realizá-la.
Entretanto é necessário que ela seja repetidas exaustivamente quando atingirem
um significado para aquele grupo ou criança que necessitam ouvir sempre a
mesma história, cantar as mesmas músicas, repetir jogos que lhe deram prazer,
isso acontecerá até que ela compreenda e assimile aquela atividade, então seu
interesse se deslocará substituindo pela repetição de uma nova atividade.
A relação espaço–temporal torna-se importante para a aprendizagem da
criança nos seus primeiros anos de vida, pois quanto mais espaço ela puder
vivenciar, de acordo com seu tempo, maiores serão suas chances de formação e
socialização que depende em grande parte da intervenção dos adultos.
É preciso entender que a criança estabelece relações com tudo o que se
encontra a sua volta: o que vê, sente, cheira, ouve e come. Expressa-se também
através do corpo, das artes plásticas, da linguagem e do movimento.
A imaginação e a fantasia são fundamentais não só para a aprendizagem
como também para seu cotidiano. Elas são necessárias para enfrentar problemas
diários, para resolver conflitos, superar situações difíceis ou dolorosas, como
também criar novas situações, elaborar diversas formas de viver e utilizar o
conhecimento adquirido na resolução de tarefas “em comum”.
No brincar e nas brincadeiras as crianças compreendem e elaboram o
mundo que as cerca. Elas brincam e escolhem suas brincadeiras para resolverem
aspectos que lhe são peculiares nessa fase. Isso acontece através do
desenvolvimento da capacidade simbólica que surge por volta dos dois anos de
idade, como o jogo do faz de conta (jogo simbólico), que acompanha a criança
durante o período da educação infantil. Brincando a criança amplia seus
horizontes, seu espaço de investigação e constrói conhecimentos sobre si e sobre
o mundo. Ela se apropria da experimentação e da cultura.
32 Essa é a fase mais importante para a criança, pois é nela que desenvolve
sua personalidade e auto–estima. Isso se dá através dos vínculos afetivos que
estabelece com os adultos que cuidam dela. Ser amada, cuidada, respeitada, ter
regras e limites claros é o que a criança precisa para um desenvolvimento sadio.
4.3- Contribuição de PIAGET
A aprendizagem se dá através do desenvolvimento de alguns aspectos
importantes: a informação (social), o conhecimento (epistemologia genética) e o
saber (psicanálise – implica desejo). Entretanto, nem todas as informações se
transformarão em conhecimento, isso dependerá das estruturas do pensamento
que o indivíduo possui.
Para Piaget a inteligência se constrói através da interação do sujeito com
o objeto (adaptação), por meio do processo de assimilação e acomodação. Nesse
mecanismo o homem incorpora o mundo exterior transformando essas
informações em saber, onde haverá a mudança de sua postura, isto é, “de vida”,
ocorrendo então a aprendizagem.
4.3.1- Estágios da construção da inteligência.
A teoria piagetiana está fundamentada em uma trajetória evolutiva
organiza em períodos: Período sensório motor, Período pré-operatório, Período
Operatório concreto e Operatório formal. Neste trabalho, serão abordados apenas
os três primeiros períodos.
q Período sensório motor – (0 a 2 anos)
Esse período é o mais elementar da conduta humana, é o período dos
reflexos. Período em que os reflexos inatos vão se organizando em
esquemas. Esses esquemas constituem as formas de conduta através da
execução de atos motores.
33
q Período pré-operatório – (2 a 6 anos)
Este período caracteriza-se pelo aparecimento da representação, isso
acontece pelo aparecimento da função simbólica. É a fase pré-conceitual,
pré-lógica, pois os conceitos ainda estão sendo construídos, há a
interiorização da ação–pensamento. A criança trabalha com a imagem e
não com conceitos. Pode-se observar ainda nesta fase alguns
comportamentos egocêntricos da fase anterior. A criança encontra-se
criativa, é toda simbólica: tem a imagem, imagina e cria. Dá vida aos
objetos e fenômenos, emprestando-os suas próprias qualidades
(animismo).
Com função simbólica, a criança toma consciência do mundo, ainda
não consegue separar o pensamento de sua própria ação. Também
reproduz todas as situações vividas no cotidiano, assimilando-as seus
esquemas de ação a seus desejos. Tornando suportáveis ou menos
agradáveis o que na realidade poderia ser penoso.
O jogo simbólico pode ser considerado como um meio de adaptação
infantil tanto afetivo quanto cognitivo e acontece de forma pessoal e
subjetiva.
q Período operatório concreto – (7 a 11 ou 12 anos)
Nessa fase há grande progresso em relação à socialização e à
objetividade do pensamento. Sua linguagem encontra-se mais
aperfeiçoada, já apresentando condições de operar com lógica e com
conceitos.
Nesta fase há a descoberta do eu e do outro. Aparecem sentimentos de
moral, justiça e cooperação. Encontra-se desenvolvida a capacidade de
aceitar e criar regras.
34
Entretanto, a criança ainda necessita operacionalizar o pensamento de
forma concreta, a subjetividade ainda estará sendo trabalhada. Isso será
facilitado com as trocas no meio em que vive. A criança substituirá a
adaptação e o esforço conformista dos jogos sociais baseados em regras
pela assimilação do mundo e de seus esquemas cognitivos a seus
desejos. A atividade individual será substituída pela de grupo, onde há a
conduta de cooperação.
Neste momento, a criança passa da fase de anomia e encontra-se na
heteronomia podendo chegar, no final desse período, à autonomia.
4.4- Contribuição de Vygotsky
O estudioso russo teve uma vasta produção teórica. Para ele, o
funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas
entre o indivíduo e o mundo exterior. Visto que tais relações convergem para um
contexto histórico, social e cultural, desempenhando um papel fundamental na
adaptação do indivíduo à realidade.
Com a criação dos sistemas de signos (linguagem / escrita / sistema
numérico) e os que são criados pela sociedade do longo dos tempos na história,
mudam a forma social e o nível de desenvolvimento cultural.
Vygotsky acredita que a internalização desses signos produzidos
culturalmente provoca a transformação comportamental e estabelece um elo de
ligação entre as formas inicial e tardia do desenvolvimento individual. Entretanto, o
que levará o indivíduo à mudança é o mecanismo que ele desenvolverá de acordo
com suas raízes sociais e culturais.
A mudança envolve conhecimento, inteligência prática que é o
desenvolvimento dos movimentos sistemáticos, da percepção e do cérebro, em
resumo, do seu organismo como um todo. Portanto, as atividades realizadas pelas
35 crianças acontecem gradativamente em cada estágio específico de acordo com o
grau de desenvolvimento orgânico e domínio do objeto (instrumento).
A integração entre a fala e o raciocínio prático faz com que o indivíduo
interaja com o seu meio social – cultural, adquirindo assim, experiências sociais
que vão exercer seu papel através do processo de imitação, quando a criança
imita a forma pela qual o adulto usa instrumentos e manipula objetos, com isso ela
se apropria do verdadeiro princípio envolvendo uma atividade particular, o que
resultará na cristalização de um esquema – a aprendizagem.
A medida em que a criança adquire um número cada vez maior de modelos
que ela compreende, tornará mais experiente.
É importante que conheçamos a atividade prática da criança quando está
começando a falar, pois a fala tem um papel essencial na organização das
funções cognitivas e psicológicas superiores.
A mente da criança contém todos os estágios do futuro (desenvolvimento
intelectual); eles existem na sua forma completa, esperando o momento adequado
para emergir.
A atividade simbólica assume uma função organizadora que facilitará o
processo do uso de instrumentos e produz formas fundamentalmente novas de
comportamento, é quando a criança já consegue controlar seu ambiente utilizando
a fala.
A criança apresenta seu desenvolvimento em dois níveis, o real e o
proximal. O primeiro refere-se as etapas já alcançadas pela criança (coisas que
consegue fazer sozinha) e o segundo indica a capacidade de desempenho das
tarefas com ajuda de outras pessoas, demonstrando como poderá fazer. As
intervenções feitas durante o processo da aprendizagem são fundamentais. Para
36 Vygotsky a zona de desenvolvimento proximal ou preferencial consiste na
distância entre o nível de desenvolvimento real e potencial.
Cabe aos professores, em seu papel de educador, proporcionar
mecanismos e atividades que levem a criança a avançar nesse processo, partindo
do que ela já conhece, para alcançar novos objetivos. Esse processo ocorrerá de
forma natural e espontânea.
4.5- Inteligências Múltiplas
A inteligência é a capacidade de resolver as situações problemas ou
desenvolver mecanismos importantes numa determinada comunidade cultural. O
primeiro indica escolher o melhor caminho para atingir o objetivo desejado e o
segundo está ligado à expressão de opiniões e sentimentos das pessoas.
A inteligência está intimamente ligada à felicidade. Esse é o grande desafio
da escola nesse milênio, proporcionar aos seus alunos novas descobertas,
desafiando-os para “aprender a aprender“, exercitando suas habilidades e
potencialidades, desenvolvendo assim, os vários tipos de inteligências que
conduzem à busca de seus próprios saberes. A escola então passará a ser um
local agradável, onde seus professores serão estimuladores de inteligências.
Segundo Gardner (1995: p.22):
As inteligências funcionam como um sistema computacional com base neural, cada inteligência é ativada ou “desencadeada” por certos tipos de informação interna ou externamente apresentada. Por exemplo, um dos núcleos da inteligência musical é a sensibilidade para determinar relações, ao passo que um dos núcleos da inteligência lingüística é a sensibilidade aos aspectos fonológicos.
O cérebro humano é uma “máquina” eficiente e complexa, e para melhor
ser estudado foi dividido em áreas, onde cada uma delas “abriga“ um tipo de
“inteligência“, que são chamadas de Inteligências múltiplas e são divididas em:
37 lingüística ou verbal, lógico-matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica,
pictórica, naturalista, intrapessoal e interpessoal.
q Inteligência Musical
Diz respeito à capacidade que o indivíduo tem para tocar
maravilhosamente um instrumento musical, pois partes do cérebro
desempenham papéis importantes na percepção e na produção da
música. Estas áreas estão localizadas no hemisfério direito, embora não
tenha uma área específica. Ela dependerá do grau de treinamento e
estímulo que cada indivíduo receberá.
q Inteligência Corporal–Cinestésica
É aquela que nos permite controlar o movimento corporal, que passa
por um programa de desenvolvimento claramente definido nas crianças,
está localizado no córtex motor com cada hemisfério dominante ou
controlador, no lado contralateral.
q Inteligência Lógico-matemática
Está associada à capacidade de linguagem e era considerada a base
dos antigos testes de Q.I.
Encontra-se presente em todas as pessoas, entretanto, em algumas
aparece mais aguçada, isto é, certas áreas do cérebro foram mais
estimuladas do que outras, como a do cálculo matemático. Esta
inteligência encontra-se fundamentada nos estudos de Piaget.
O estímulo a esta inteligência acontece de forma simples, buscando
“a lógica das coisas ou de descobrir que determinados enunciados não
apresentam qualquer lógica.” (Antunes. 1998: p.32)
Torna-se importante lembrar que esta inteligência começa a ser
desenvolvida na infância e perdura pela vida adulta, quando os desafios
vão aumentando em grau e complexidade.
38
q Inteligência Espacial
É comandada pelo hemisfério direito, onde é processada. É a
capacidade que o indivíduo desenvolve para localizar-se e orientar-se no
espaço em que vive, através da observação de detalhes refinados, na
percepção de formas e objetos em diferentes ângulos e administrando a
idéia de espaço.
O estímulo a essa inteligência pode ser promovido de diversas
maneiras respeitando a faixa etária, sendo assim, a escola
especificamente a sala de aula, é primordial para o estímulo dessa
inteligência, onde são feitas a leitura e a representação do espaço que o
cerca descobrindo significados e os ressignificando quando necessário.
q Inteligência Interpessoal
“ Esta inteligência está baseada na capacidade de perceber distinção
entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo,
temperamentos, motivações e intenções.” (Gardner. 1995: p.27)
Encontra-se localizada nos lobos frontais e estudiosos afirmam que
traumas nessa área podem acentuar mudanças atitudinais e reversões
da personalidade, sem que haja alteração nas outras formas de
inteligência.
O estímulo a essa inteligência ocorre de forma lenta. Acontece da
educação infantil a terceira idade, necessitando tanto do enfoque
pedagógico quanto do clínico, quando necessário. A escola nesse caso
torna-se fundamental, pois pode agregar a cognição e a alfabetização
emocional.
q Inteligência Pictórica
A inteligência pictórica se apresenta pela habilidade em se expressar
ou em compreender a linguagem dos signos, das cores ou de desenhos.
Está muito ligada à estética. Podemos percebê-la em pintores,
cartunistas, desenhistas, ilustradores ou especialistas em computação
39
gráfica. Na criança esse senso estético fica bastante evidenciado;
enquanto algumas “odeiam” objetos espalhado e ambiente “bagunçado”,
outras se incomodam com os que pensam dessa forma.
Segundo Machado (1996: p.54), na criança essa inteligência se
destaca:
antes mesmo que a linguagem escrita seja acessível, os recursos pictóricos tornam-se elementos fundamentais na comunicação e na expressão de sentimentos, funcionando como um canal muito especial, através do qual as individualidades se revelam – ou são construídas – expressando ainda, muitas vezes, características gerais da personalidade, ou mesmo sintomas dos mais variados desequilíbrios psíquicos.
A percepção visual está presente em quase todas as ações da vida
humana, por isso, constitui aspecto de extrema importância no processo
de desenvolvimento de uma criança, permitindo melhor desempenho em
tarefas mais complexas, como a escrita e a leitura.
q Inteligência Naturalista
Esta inteligência foi a última identificada por Gardner, está ligada à
compreensão do ambiente e paisagem natural, uma afinidade dos seres
humanos por outras formas de vida e identificação entre os diversos tipos
de espécies, plantas e animais. Ela está presente em todos os
indivíduos, porém, em algumas pessoas encontra-se pouco desenvolvida
ocasionando a percepção da natureza por sua utilidade econômica ou
estética, outras possuindo-a de forma plena e, dessa maneira, vivendo
essa relação com o ambiente de forma apaixonada e intensa.
O estímulo a esta inteligência na família deve começar muito cedo.
Na escola, a criança deverá ser estimulada nos momentos de interação
ambiental, através de procedimentos que despertem a curiosidade,
exploração e descobertas.
40
Em todo o trabalho onde se pretenda estimular os diferentes tipos de
inteligência, é importante envolver os projetos dos estudantes, engajando
também suas concepções intuitivas, tornando-os observadores e
investigativos para que criem suas próprias hipóteses, e, dessa forma, se
tornem autônomos buscando e compartilhando seus saberes.
Caberá à escola construir ambiente estimulador, salas de aulas
adequadas, trabalhar com projetos e atividades que desenvolvam e
agucem os discentes, dando-lhes suporte para que construam sua
própria ação pedagógica, validando ou não as hipóteses levantadas em
seus projetos.
41
CONCLUSÃO
A presente pesquisa se propõe a responder o seguinte problema: como o
curso de formação de professores tem contribuído para formar docentes com uma
postura política pedagógica coerente com os pressupostos teórico-metodológicos
para a Educação Infantil e teve como hipótese original que esta fase é a etapa
mais importante da vida escolar das crianças, por isso deve-se ter bastante
cuidado na formação dos profissionais que atuam nessa área. Entretanto, sabe-se
que os cursos de formação de professores necessitam de uma reformulação para
atender com eficácia a demanda no mercado de trabalho. Para isso, é necessário
que haja a inclusão de disciplinas e a obrigatoriedade de estágios supervisionados
para que os educadores possam, na prática, exercitar o que lhes são exigidos e
trabalhados no currículo formal, que se concretizou pois, Infelizmente, o que ainda
se observa é que os profissionais da Educação Infantil atuam sem demonstrar a
consistência pedagógica necessária, pois lhes falta maior formação em nível
superior, como está previsto na LDB.
Defendemos a importância do curso Normal Superior, mas para que este
venha oferecer uma formação consistente, deverá ser reestruturado com
disciplinas que dêem suporte ao professor para atuar com segurança em sala de
aula e poder construir, com seus alunos, sua prática.
De acordo com Celso Antunes (2004), acredita-se que algumas entidades
públicas e privadas poderiam projetar cursos com essas prerrogativas, abordando
o processo educacional de zero a seis anos no campo científico, epistemológico,
social e crítico, adequando os conteúdos e limpando grades curriculares de lixos
acadêmicos acumulados por uma tradição que não diz a que ou por que veio.
42 Acredita-se que para melhorar o nível dos profissionais que atuam na
educação infantil, as entidades públicas e particulares que oferecem cursos de
formação de professores deveriam reformulá-los para que possam atender com
eficácia a demanda no mercado de trabalho. Para isso, torna-se necessário incluir
disciplinas que trabalhem os seguintes aspectos: epistemológicos, psicológicos,
sociológicos e psicomotores, como também as diversas linguagens, o pensamento
e a lógica matemática, que darão suporte aos professores em seu cotidiano.
Ao longo desse trabalho de pesquisa observamos algumas contribuições
substantivas dadas pela legislação atual para o campo educacional. O que precisa
ficar claro é o compromisso dos educadores no sentido de torná-las efetivas e
continuar lutando pelas necessidades esquecidas e silenciadas.
Segundo Antônio Nóvoa (1992), “Não há ensino de qualidade, nem reforma
educativa, nem renovação pedagógica sem uma adequada formação de
professores.” Esse é um desafio que se coloca para todos aqueles envolvidos com
a educação infantil.
Como primeira sugestão para um estudo mais minucioso propõe-se o
desafio de promover escolas onde todos os seus profissionais sejam formados em
nível superior, e que essa formação represente a qualificação necessária para
atuar com crianças de 0 a 06 anos, e não apenas o caminho para a aquisição de
mais um diploma. Esta proposta significa a busca de um caminho melhor para a
nossa sociedade, onde tanto se preocupa e se discute a reforma do sistema
universitário, porém se esquecem da base. Para se conseguir indivíduos
pensantes, prontos para “enfrentar” a universidade e, conseqüentemente, o
mercado de trabalho devemos pensar em reformas nas séries iniciais, a fim de
oferecer aos alunos um ensino de qualidade com profissionais competentes,
fazendo com que seus alunos desenvolvam o prazer pelo estudo e o gosto de
desvendar e vencer os desafios. Como Segunda sugestão, o desafio de elaborar
propostas para o curso de formação dos docentes, voltado para a educação
infantil, com o objetivo de desenvolver ações de ensino-aprendizagem
43 comprometidas com os saberes, as habilidades e as competências dos
profissionais para lidar com o desenvolvimento da criança. Está é realmente a fase
mais importante na vida de um indivíduo e este não está recebendo um ensino de
qualidade como se espera. Tantos estudiosos já contribuíram com pesquisas que
mostraram a importância de uma educação holística, onde o saber é construído e
sustentado por um tripé tão importante e indissociável, a aprendizagem,
inteligência e a afetividade, que nortearam o currículo desta fase. A terceira
sugestão, é o desafio de reformular a proposta do curso normal superior,
acoplando ao seu currículo uma articulação entre ensino/pesquisa/prática,
garantindo a pesquisa como princípio cognoscitivo e formativo da docência, bem
como assegurar o compromisso com a produção de conhecimento acerca da
educação infantil e de seus profissionais. É preciso que desde pequenos os
alunos possam ter um tempo para desenvolver, assimilar e reestruturar conceitos
e idéias que lhe serão úteis por toda sua vida. Quando são encaminhados assim,
iniciando este processo na educação infantil e tendo continuidade nos ensinos
fundamental e médio, ao ingressar na universidade terá chance realmente de
buscar através da pesquisa uma aprendizagem significativa.
Dessa forma estaríamos criando alicerce para a construção de
profissionais críticos, criativos, transformadores e que pensem a educação como o
caminho necessário à verdadeira construção da cidadania.
Com a certeza de que este tema não se dá por esgotado, desejamos que o
espaço educacional, voltado para a educação infantil e a formação de seus
profissionais, continue sendo pesquisado a fim de que tenhamos registros
constantes de intervenções significativas na história da educação brasileira.
44
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Janeiro: Vozes, 1999.
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4a ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1998.
50
ÍNDICE
RESUMO 05
SUMÁRIO 06
INTRODUÇÃO 07
1- História da Educação Infantil 10
1.1 - A infância na idade média 10
1.2 - A infância na idade moderna 11
1.3 - A infância no Brasil escravista 12
1.4 - A infância no capitalismo 12
2- Exercitando o olhar para ler a educação infantil 14
2.1- Contextualizando a educação para crianças de 0 a 6 anos 14
2.2- Teoria e prática à luz da LDB 16
2.3- Avanços e rupturas na formação do profissional da
educação infantil 17
3- O papel do professor de educação infantil 20
3.1- Correntes Pedagógicas 22
3.1.1- Abordagem Tradicional 22
3.1.2- Abordagem Comportamentista 23
3.1.3- Abordagem Humanista 23
3.1.4- Abordagem Cognitivista 24
3.2- Emoção na Educação 25
4- Campo de conhecimento do professor de educação infantil 28
4.1- Com quem trabalhará ? 29
4.2- Características marcantes desta fase 30
4.3- Contribuição de Piaget 32
51
4.3.1- Estágios de construção da inteligência 32
4.4- Contribuição de Vygotsky 34
4.5- Inteligências múltiplas 36
CONCLUSÃO 41
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44
ANEXO 46
52
TERMO DE APROVAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Flavia Martins de Paula Pedro Nogueira
Em
A FORMAÇÃO DO DOCENTE PARA A ATUAÇÃO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação da monografia à
Universidade Cândido Mendes – Projeto
A vez do Mestre - como exigência final
para obtenção do Título de Especialista
em Docência do Ensino Superior, sob a
orientação do Professor Nilson Guedes
de Freitas.
Avaliado por: ____________________________. Grau: _____________.
Aprovada em______ /_______/ 2005.