A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

17
3. A FUNÇÃO COMUNICATIVA DE ALGUNS PROCEDIMENTOS DE REPARO A descrição de diferentes categorias de reparo exposta no capítulo anterior incluiu – não como foco - a consideração de procedimentos distintos de reparo. Ou se ja, na te nt ativa de re solver pr ob lema s envolv id os na at ividade de compreensão e processamento da fala em interação, os participantes precisam, ora corrigir um erro, ora unicamente repetir o que foi dito, ora explicitar o contedo de sua fala por meio de par!frases. "les precisam tamb#m, inmeras ve$es, adiar sua prod ução, gan% ar temp o para process ar seus enunciados. &este capí tulo, discutiremos mais detidamente a funcionalidade desses tipos de atividades, aç'es envolvidas nas operaç'es de reparo descritas at# aqui. Os trabal%os de (c%e gl of f me nc io na dos ante ri ormen te abordam  procedimentos como a correção, a repetição, a repetição exata, a explanação dentre outros, sem se deterem em especificidades ou nos aspectos interacionais e funcionais envolvidos nessas operaç'es. )ara os prop*sitos desta pesquisa, estas são dimens'es importantes da an!lise. Ab orda ge ns in teracionais e co mu ni ca ti vas do fe n+ me no do repa ro, sob ret udo de sua manifes taç ão mais comum na fala em interação – os auto- re par os intra turnos  gan%aram sistemati$ação em trabal%os reali$ados no rasil. )elo que pudemos observar da descrição feita at# aqui, os procedimentos envolvidos em operaç'es reali$adas enquanto auto-reparos estendem-se a outras categorias de reparos, embora sua função interacional possa sofrer variação em virtude da forma como se manifestam, da posição que ocupam e de quem reali$a esses procedimentos. )a ra uma an!lise ma is detida desses as pe ctos, na s se ç' es se gu in tes, tomamos as con trib uiç 'es advindas dos est udos sobre a org ani $ação tex tua l interativa vinculados ao )rojeto da ram!tica do )ortugus /alado. 0aremos aqui especial atenção a uma revisão te*rica dos procedimentos parafr!sticos 12ilgert, 34546 e de repetição 17arcusc%i, 34486 dada sua import9ncia para a an!lise do material lin g:í stico que su ste nta uma das pro po siç'es assum ida s por nos so trabal%o de pesquisa.

Transcript of A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

Page 1: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 1/17

3.A FUNÇÃO COMUNICATIVA DE ALGUNSPROCEDIMENTOS DE REPARO

A descrição de diferentes categorias de reparo exposta no capítulo anterior 

incluiu – não como foco - a consideração de procedimentos distintos de reparo.

Ou seja, na tentativa de resolver problemas envolvidos na atividade de

compreensão e processamento da fala em interação, os participantes precisam, ora

corrigir um erro, ora unicamente repetir o que foi dito, ora explicitar o contedo

de sua fala por meio de par!frases. "les precisam tamb#m, inmeras ve$es, adiar 

sua produção, gan%ar tempo para processar seus enunciados. &este capítulo,

discutiremos mais detidamente a funcionalidade desses tipos de atividades, aç'es

envolvidas nas operaç'es de reparo descritas at# aqui.

Os trabal%os de (c%egloff mencionados anteriormente abordam

 procedimentos como a correção, a repetição, a repetição exata, a explanação

dentre outros, sem se deterem em especificidades ou nos aspectos interacionais e

funcionais envolvidos nessas operaç'es. )ara os prop*sitos desta pesquisa, estas

são dimens'es importantes da an!lise.

Abordagens interacionais e comunicativas do fen+meno do reparo,

sobretudo de sua manifestação mais comum na fala em interação – os auto-

reparos intraturnos  – gan%aram sistemati$ação em trabal%os reali$ados no

rasil. )elo que pudemos observar da descrição feita at# aqui, os procedimentos

envolvidos em operaç'es reali$adas enquanto auto-reparos estendem-se a outras

categorias de reparos, embora sua função interacional possa sofrer variação em

virtude da forma como se manifestam, da posição que ocupam e de quem reali$a

esses procedimentos.

)ara uma an!lise mais detida desses aspectos, nas seç'es seguintes,

tomamos as contribuiç'es advindas dos estudos sobre a organi$ação textual

interativa vinculados ao )rojeto da ram!tica do )ortugus /alado. 0aremos aqui

especial atenção a uma revisão te*rica dos procedimentos parafr!sticos 12ilgert,

34546 e de repetição 17arcusc%i, 34486 dada sua import9ncia para a an!lise do

material ling:ístico que sustenta uma das proposiç'es assumidas por nossotrabal%o de pesquisa.

Page 2: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 2/17

5

Organi$amos a descrição dos procedimentos, considerando duas grandes

categorias de reparo j! mencionadas anteriormente quando da an!lise dos auto-

reparos 1seção ;.;.36. <ais categorias foram propostas em trabal%o inicial da

An!lise da =onversação 1(c%egloff, 34>46. (ão elas? a dos reparos de orientação

retrospectiva 1regressivos6 e a dos reparos de orientação prospectiva

1progressivos6.

3.1.Reparos regressios

0escreveremos os procedimentos de reparos regressivo considerando,

 basicamente, sua distribuição em trs subcategorias, organi$adas a partir decrit#rios sem9nticos? a correção, a par!frase e a repetição. =onsiderando-se os

 pontos de aproximação e distanciamento entre esses mecanismos de reformulação

do texto falado, os estudiosos desses fen+menos costumam locali$!-los num

continuum, conforme proposição em 2ilgert 13454, p.34@6?

&/B7ACDO B"</=ACDO )ABE/BA(" FGA("-B")"<CDO B")"<CDO

0esse modo, entre as categorias da correção ou infirmação 1que se

caracteri$aria pela anulação total do termo repar!vel6 e da par!frase, situa-se a

retificação 1categoria tamb#m denominada correção parafr!stica6, que se

caracteri$aria por uma anulação parcial do termo repar!vel3;. )or outro lado,

 par!frases e repetiç'es são tamb#m estrat#gias bastante pr*ximas, intermediadas

 pela categoria da Hquase-repetiçãoH.

O fato de que qualquer ação ling:ística implica reflexão sobre a linguagem e

controle do ambiente interacional fica particularmente evidenciado nos

 procedimentos de reparo regressivo, operaç'es retrospectivas atrav#s das quais

o falante, refletindo sobre o material ling:ístico utili$ado, promove retomadas

sint!ticas associadas a uma esp#cie de revisão textual. A atividade de revisão, ou

3; 2ilgert 13454, p.38I6 atribui aos enunciados tidos como correção a característica de anulaçãototal ou parcial do sentido de "/ 1enunciado fonte ou alvo de reparo6. A partir dessa definição domecanismo da correção prop'em-se os termos infirmação e retificação. /!vero 1344>, p.33I6

afirma não ser tarefa f!cil a delimitação dessas categorias, j! que o que se deve entender por HerroHnuma atividade de correção di$ respeito J compreensão do processo de geração de sentido e de suareali$ação expressiva pelo pr*prio falante.

Page 3: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 3/17

reavaliação, de seus procedimentos discursivos pode lev!-lo a operar correç'es

1infirmaç'es e retificaç'es6 - reajustando o contedo do enunciado j! formulado -

ou par!frases e repetiç'es - recursos auxiliares na determinação do sentido, dado

seu car!ter enf!tico e explicitativo.)odemos apontar, portanto, reparos regressivos - correç'es, par!frases e

repetiç'es – como procedimentos indiciadores de maior controle sobre o discurso,

 procedimentos que revelam um tipo de competncia epiling:ística que mel%or 

transparece quando da utili$ação de marcadores metaformulativos do tipo aliás,

ou seja, isto é, recursos freq:entes nesse tipo de procedimento de reparo. &as

subseç'es abaixo, descrevemos mais detidamente cada um dos procedimentos

citados.

3.1.1.A !orre"#o

(egundo /!vero 13448, p.KL56, proceder a uma atividade de correção

significa Hprodu$ir um enunciado ling:ístico que reformula um anterior 

considerado HerradoH aos ol%os de um dos interlocutoresH. Betomamos o

fragmento 136 utili$ado na seção ;.3. para ilustrar uma operação de auto-reparo

auto-iniciado com orientação regressiva3K?

136 At 3, p.;;5

3 (amuel  X-gás (amuel bom dia.; Alice bom dia??, # o seguinte, eu gostaria de- de %um marcar uma

instalaçãoK do rel*gio no meu no meu Mpr#d-N no meu apartamento, no caso,I  porque ... ainda não tem.

(egundo as categorias acima citadas, o fragmento exibe uma infirmação. O

falante interrompe-se antes de completar a produção de um item recon%ecendo,

rapidamente, um equívoco na seleção lexical. (ubstituiç'es lexicais aparecem

como um procedimento muito comum nesse tipo de procedimento que se

caracteri$a pela anulação total do material ling:ístico erroneamente selecionado.

3KOs fragmentos analisados nesta seção exibirão colc%etes para indicar o enunciado alvo de reparoe grifo para indicar o enunciado reformulador.

Page 4: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 4/17

61

7as %! ainda outro tipo de correção – a c%amada correção parafrástica ou

retificação  – que anularia apenas parcialmente o material alvo de revisão.

ejamos o exemplo a seguir, um pequeno fragmento que corresponde ao início de

um atendimento, com a cliente, 2ilda, fornecendo, tão logo atendida, seu nmero

de cliente?

1346 At 3I, p.;LL

3 Pi$andra  X-gás Pi$andra boa tarde.; 2ilda boa tarde Pi$andra. Meu souN, meu nmero de cliente de vocs #K sete oito $ero, nove sete nove traço seis.

O turno que nos interessa 1P;-K6 exp'e a participação de uma cliente

 bastante familiari$ada com a agenda de procedimentos prevista pela empresa.

<anto o termo repar!vel 1H"u souH6 quanto o procedimento de reparo 1Hmeu

nmero de cliente de vocs #H6 são f*rmulas de apresentação. Ao substituir o

 pronome HeuH pelo sintagma nominal correspondente Hmeu nmero de cliente de

vocsH, o falante anula parcialmente seu enunciado inicial, j! que ambas as

f*rmulas remetem J mesma pessoa. Ao contr!rio do que ocorre no exemplo

anterior, tem-se aqui um mesmo referente. <odavia, # evidente que o

 procedimento de reparo altera parcialmente a significação inicial e permite ao

falante constituir uma nova identidade – a identidade de cliente – que o autori$a

como falante e l%e permite iniciar sua negociação com a empresa que l%e presta

serviço.

3.1.$.A par%&rase

Gm outro procedimento de formulação retrospectiva # a par!frase, definida

em 2ilgert 13448, p.3K;6 como? Hum enunciado ling:ístico que, na seq:ncia do

texto, reformula um enunciado anterior M...N com o qual mant#m, em grau maior 

ou menor, uma relação de equivalncia sem9ntica.H

"nquanto procedimento de 1re6formulação textual, a par!frase # tamb#m um

 procedimento envolvido na solução de problemas de compreensão, tendo como

sua função mais geral a tarefa de explicitação do contedo de enunciados j!

Page 5: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 5/17

6

formulados3I. 2!, no entanto, especificidades a serem consideradas no que

respeita J função das paráfrases, especificidades relativas a aspectos ling:ísticos,

discursivos e interacionais envolvidos em sua produção.

)rocedimento largamente utili$ado na conversa, este recurso est! ilustrado

em v!rios dos fragmentos analisados no capítulo anterior 1ver em 1>6, 13@6, 13366,

compondo diferentes manifestaç'es de reparo. 0estacamos abaixo um outro

exemplo do fen+meno que nos permita observar uma das principais funç'es da

 par!frase, a de garantir a intercompreensão, explicitando o contedo da fala,

função observ!vel sobretudo em procedimentos de auto-par!frases3L, como os que

se observam no fragmento 1;@6, no qual a atendente "lena procura responder a

uma cliente que quer esclarecimentos a respeito do alto valor de sua ltima conta.

1;@6 At 8, p.;K4

;L "lena entra em contato na sexta. se a gente j! tiver o val- esse resultado no;8 sistema, Ma gente vai l%e informar.N e aí a gente vai l%e di$er se t!;> correto ou não essa essa leitura. se não, Ma gente deixa a crit#rio do;5 cliente.N pro cliente saber se vai pagar ou se que?? Mse se quer pagar ou;4 não.K@ 9nia M# porque dobrou.K3 não tem como dobrar.K; "lena sendo que Mms passadoN e%?? consta aqui que ela foi estimadaN no ms

KK de maio. ou seja, a leitura dela não foi real. foi estimada. então podeKI ter sido isso que acumulou um pouco pra esse ms Q

eja-se que a fala da atendente organi$a-se por v!rios procedimentos

 parafr!sticos38 atrav#s dos quais procura ser o mais explícita possível,

antecipando-se, inclusive, a alguns possíveis problemas de compreensão como,

 por exemplo, a compreensão do que seja um Hvalor estimadoH 1PK;-KK6, cujo

3I A investigação de 2ilgert 13454, p.IK;6 demonstra que, por meio de par!frases, garante-se aintercompreensão Hexplicitando 1tamb#m por meio de exemplificaç'es6 e especificando,resumindo ou denominando informaç'es da matri$H.3L O trabal%o de 2ilgert 134546 sobre a par!frase resultou da an!lise de H0i!logos entre doisinformantesH, uma das categorias de texto falado do corpus do )rojeto &GB=. "mbora renamtrec%os dialogados, pudemos observar, na maioria dos fragmentos analisados, a predomin9ncia deturnos longos de um nico falante com algumas pequenas contribuiç'es do outro. Os resultados daan!lise da ocorrncia de par!frases nesse contexto apontam para a predomin9ncia deautoparáfrases auto-iniciadas. "sses resultados, assinala 2ilgert 13454, p.;4L6, reforçam

 proposição da An!lise da =onversação a respeito da preferncia por auto-reformulaç'es auto-iniciadas. =onstata-se ainda que a preferncia por autopar!frases auto-iniciadas # ainda maior eminteraç'es com turnos muito longos e com poucos HsinaisH do ouvinte.38

Os colc%etes demarcam enunciados alvo de reparo 1ou o Henunciado-matri$H como prefere2ilgert6. "m grifo sinali$amos os procedimentos de reparo, ou reformuladores, de car!ter  parafr!stico.

Page 6: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 6/17

sentido mel%or define-se pelo contedo da par!frase Ha leitura dela não foi realH, J

qual se acrescenta ainda um outro procedimento, a repetição de Hfoi estimadaH.

)ar!frases de enunciados menores3>, como as acima destacadas, permitem

mais facilmente a identificação de procedimentos reformuladores como aexpansão ou a redução sintagm!tica 1procedimentos de car!ter parafr!stico6, cada

um deles associado a uma função específica. Betomemos uma das par!frases do

fragmento 1;@6, reformatada abaixo de modo a facilitar a observação do

fen+meno?

HM...N a gente vai l%e informar

e aí a gente vai l%e dizer se está correta ou não essa essa leitura"

"sse procedimento parafr!stico promove a expansão do sintagma inicialR

atrav#s dele explicita-se o tipo de informação ao qual a cliente ter! acesso.

)rocedimentos de redução sintagm!tica, ao contr!rio, costumam ser 

denominativos ou resumitivos, precisando mel%or, pela síntese, enunciados vagos,

complexos no seu sentido 12ilgert, 3454, p.IK;6.

"ssas especificidades funcionais dos procedimentos parafr!sticos podem ser 

observadas se considerarmos, ainda, aspectos interacionais diretamente associados

J forma assumida pela operação de reparo. "stamos falando da diferença entre

 procedimentos auto-iniciados e procedimentos efetuados pelo outro. (obre a

função de par!frases efetuadas pelo outro 1por 2ilgert denominadas

H%eteropar!frasesH6, a pesquisa aponta para a import9ncia desse procedimento

enquanto recurso sinali$ador de uma Hação convergente entre os interlocutoresH

12ilgert, 3454, p.;48,IK@6. )arafrasear o outro indicia intercompreensão,

colaboração na construção do envolvimento conversacional35.

3> 2ilgert 13454, p.;3;6 prop'e uma classificação formal para as par!frases denominando par!frases simples Jquelas que tem a dimensão de uma Hunidade conversacionalH 1categoriaaparentemente correspondente a uma <=G6R par!frases segmentais Jquelas que constituem umsegmento 1ou um sintagma6 de uma unidade conversacionalR par!frases complexas Jquelasformadas por mais de uma unidade conversacional.35 "sta # outra importante função da par!frase tamb#m assumida pela repetição. &a seção seguinteexpomos um fragmento que a ilustra. &a verdade, os dois procedimentos são bastante pr*ximos,

sobretudo quando se consideram aspectos relativos a sua funcionalidade. 7uitas das funç'es das par!frases indicadas na pesquisa de 2ilgert 134546 podem ser observadas na an!lise que 7arcusc%i134486 fa$ da repetição.

Page 7: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 7/17

2ilgert analisa, ainda, uma outra manifestação da par!frase, a autopar!frase

iniciada pelo outro, procedimento apontado como de exceção no corpus

analisado por ele. A an!lise demonstra ser este um procedimento implicado na

existncia de problemas reais, manifestos, permeando o processo de construção desentidos na interação. Alguns exemplos do fen+meno foram descritos no capítulo

anterior 1ver em 1>66. (ão casos em que o ouvinte de um enunciado inicia um

reparo levando o falante do turno problema a operar uma autopar!frase

interturno34.

Ao contr!rio, no caso das auto-par!frases intraturno, muitas ve$es, a ação de

 parafrasear a pr*pria fala decorre da consideração de uma possibilidade de

 problema que possa afetar a interação. O falante autoparafraseia-se mais para

evitar a emergncia de um problema de compreensão que propriamente para sanar 

um problema j! emergente. <rata-se de uma ação preventiva, das mais comuns na

fala-em-interação, que sinali$a esforço na construção da intercompreensão e do

envolvimento conversacional.

Al#m das funç'es acima elencadas, %! ainda que se destacar o importante

 papel das auto-par!frases na tarefa de organi$ação do t*pico discursivo. 2ilgert

13454, p.;>;6 aponta para a função resumitiva de par!frases que se locali$am ao

final de uma unidade discursiva, sinteti$ando, indicando o t*pico central da

argumentação, de modo a efetivar sua conclusão. A função de organi$ação macro

do discurso # assumida por essa categoria particular de par!frase, as c%amadas

 par!frases não adjacentes, ou seja, aquelas que se apresentam distanciadas de sua

matri$.

A pesquisa aponta ainda outras funç'es relativas J condução e organi$ação

do t*pico assumidas por procedimentos parafr!sticos. A noção de Hrefrão

 parafr!sticoH 12ilgert, 3454, p.;886, por exemplo, indica a relev9ncia da

ocorrncia de par!frases sucessivas em situaç'es nas quais se deseja manter a

conversa centrada num determinado t*pico discursivo.

34  &a verdade, a observação do fen+meno promovida at# aqui, pela an!lise dos pequenos

fragmentos de nosso corpus de pesquisa situados no capítulo ;, aponta para uma ocorrncia bastante expressiva de auto- paráfrases e repetições iniciadas pelo outro em nosso contexto, aocontr!rio do que ocorre nas situaç'es analisadas em 2ilgert 134546.

Page 8: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 8/17

3.1.3.A repe'i"#o

7arcusc%i 13448, p.4>-3;46 trata do fen+meno da repetição, definindo-o

como Ha produção de segmentos discursivos idnticos ou semel%antes duas ou

mais ve$es no 9mbito de um mesmo segmento comunicativoH. (ua alta incidncia

na produção do texto falado tem sido tomada como evidncia do alto grau de

formulaicidade da fala. (egundo <annen 13454, p.K>6 Ha fala # menos livremente

gerada, mais pr#-padroni$ada do que a maioria das atuais teorias ling:ísticas

recon%ecemH.

A an!lise do fen+meno promovida em 7arcusc%i 134486, a partir dos dados

do )rojeto &GB=, avalia a funcionalidade da estrat#gia da repetição considerando

manifestaç'es distintas do fen+meno;@. A pesquisa dedica-se J investigação de

repetiç'es lexicais, sintagm!ticas e oracionais.

0entre as categorias em estudo destacam-se, como manifestação mais

comum, as auto-repetições adjacentes de itens lexicais. <amb#m os dados dessa

 pesquisa, a exemplo dos avaliados por 2ilgert 134546, apontam para a preferncia

 por efetuar reformulaç'es no mesmo turno, se possível dentro da mesma unidade

construcional de turno.(egundo 7arcusc%i 13448, p.4L6 da maleabilidade funcional da repetição

resulta Huma textualidade menos densa e maior grau de envolvimento

interpessoalH. 0estacaremos algumas das funç'es mais gerais apontadas para essa

estrat#gia. &o plano discursivo, a repetição tem um nmero consider!vel de

funç'es, atuando, sobretudo na garantia da coesividade e na condução dos

t*picos;3. )or outro lado, enquanto recurso de ênfase e explicitação, as

repetiç'es, mais precisamente auto-repetiç'es, tm um papel estritamentevinculado aos processos de construção da compreensão, como procura demonstrar 

o fragmento abaixo, no qual a cliente, <elma, encamin%a um pedido de ação J

empresa.

;@ Fuanto ao segmento ling:ístico repetido tem-se? repetiç'es fonol*gicas, de morfemas, de itenslexicais, de construç'es suboracionais, de oraç'es. Fuanto J produção? auto-repetiç'es eH%eterorrepetiç'esH. Fuanto J distribuição na cadeia textual? repetiç'es adjacentes e nãoadjacentes.;3 Gma estrat#gia importante, nesse sentido, # o princípio da listagem, ou seja, a organi$ação deestruturas paralelas que atuam na conexão interfr!stica e possibilitam um maior envolvimentoentre os interlocutores.

Page 9: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 9/17

1;36 At K, p.;K;

3 alter   X-gás alter. om dia.; <elma bom dia. #?? eu fi$ um pedido de verificação no? medidor, pra saber seK %avia algum tipo de Mmarcação errada,N leitura errada, entendeuS por I causa do valor que veio muito alto.

O fragmento recortado exp'e o que a pesquisa c%amaria uma quase-

repetição. A cliente, que pede a verificação de um erro possivelmente cometido

 pela empresa ao medir seu consumo, repete parte do sintagma para garantir que

seu pedido ser! compreendido. Auto-repetiç'es, bem como auto-par!frases, em

 posição adjacente muito freq:entemente assumem essa função facilitadora da

compreensão.

Auto-repetiç'es funcionam tamb#m como recurso argumentativo. &oexemplo abaixo, a cliente, depois de receber a informação de que a empresa não

era a respons!vel pela execução do serviço solicitado por ela, procura contra-

argumentar a essa posição da empresa, e o fa$ auxiliada pelo recurso J repetição.

1;;6 At 4, p.;IK

I> Peda esta avaliação t#cnica e%? )"lo que eu entendo, quem d! é a X-gás. é aI5  X-gás que di$. não é a companhia de gás? é ela ue diz se est!

I4 va$ando, se o meu cano j! est! estragado, se eu ten%o que trocar. #L@ porque eu moro num pr#dio muito antigo, entendeuS então pode at#L3 acontecer de precisar trocar os canos. eu não sei se # cano, #L; tubulação em geral. o que leva o g!s pra dentro da casa da pessoa.LK pode at# ser que que precise trocar e eu não saiba. mas eu não vouLI acreditar numa pessoa que bate na min%a porta e di$ que eu ten%o queLL trocar porque eu ten%o que trocar, e não justifica mais nada, entendeuSL8 uma? uma uma uma... uma atitude isolada. eu quero um parecer e% e%L> e% 1S6 no caso da companhia de gás Q

 &o plano interativo, %! que se destacar, particularmente, a import9ncia de

repetiç'es efetuadas pelo outro 1ou H%eterorrepetiç'esH como prefere 7arcusc%i6.

(ão elas recursos indiciadores de alta cola!oração entre os interlocutores, ora

sinali$ando concord9ncia com o contedo da fala, ora sinali$ando escuta atenta,

ora indicando que o outro pode prosseguir. ejamos um exemplo no fragmento

1;K6 no qual a atendente =leide, para encamin%ar o serviço solicitado, pede

informaç'es J cliente.

1;K6 At 35, p.;83

44 =leide a sen%ora tem os dados do locat!rio em mãosS

Page 10: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 10/17

3@@ Paura ten%o. um instantin%o s*.3@3 13@ seg63@; oi, o que voc quer saberS3@K =leide primeiramente =)/ do locat!rio por favor.3@I Paura do locat!rio, que est! alugando, n#S

3@L =leide sim.3@8 Paura e%?? cinco dois meia,3@> =leide cinco dois meia ,3@5 Paura oito dois,3@4 =leide oito dois ,33@ Paura cinco meia,333 =leide cinco meia ,33; Paura trs sete,33K =leide trs,  sete ,33I Paura sete tracin%o vinte e um.33L 13@ seg6 1barul%o de digitação6

O fragmento registra sucessivas repetiç'es da fala do outro 1em grifo6. Aqui

a repetição sinali$a o recebimento da informação, oferecendo tamb#m, como se

 pode observar pela organi$ação da seq:ncia, o sinal que autori$a o cliente a

 prosseguir com sua fala.

Bepetiç'es apresentam, portanto, funç'es vari!veis na produção do texto

falado, funç'es que abrangem desde aspectos relativos J legibilidade da fala a

aspectos associados ao andamento da conversa e J promoção da interação e do

envolvimento interpessoal. Algumas dessas funç'es são, conforme j! assinalamos,

tamb#m claramente assumidas pelas par!frases. &a verdade, parece-nos, em

alguns casos, bastante difícil dissociar os dois fen+menos.

=onsiderando o continuum  proposto por 2ilgert, par!frases e repetiç'es

constituem estrat#gias bastante pr*ximas, intermediadas pela categoria da Hquase-

repetiçãoH. 0efiniç'es de um ou de outro fen+meno ilustram a imprecisão dos

limites que demarcam suas fronteiras. "m 7arcusc%i 13448, p.4>6 define-se a

repetição como sendo Ha produção de segmentos discursivos idnticos ousemelhantes duas ou mais ve$es no 9mbito de um mesmo evento comunicativoH.

0e outro lado, segundo a definição de 2ilgert 13448, p.3K;6, uma par!frase

mant#m com o enunciado alvo de reparo, Hem grau maior ou menor, uma

relação de euivalência semnticaH 1grifos nossos6.

"stamos pretendendo c%amar a atenção, na definição do primeiro autor, para

o termo Hsemel%anteH e, no caso do segundo, para a expressão Hequivalncia

sem9ntica, em maior ou menor grauH, a fim de assinalar a dificuldade de se c%egar a uma precisão terminol*gica que distinga as duas categorias.

Page 11: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 11/17

 &esse sentido, 2ilgert 13454, p.3>K6 apresenta uma importante ponderação?

Ora, se a relação de equivalncia sem9ntica leva a identificar um enunciado como par!frase, então ser! ela tamb#m a identificar a relação de repetição. "sta, ali!s,

 pode ser considerada um Hcaso-limiteH da par!frase? admitindo-se que a relação deequivalncia sem9ntica entre os enunciados da relação parafr!stica pode variar deum grau mínimo a um grau m!ximo, a repetição situar-se-ia nesta extremidade, isto#, ela seria uma par!frase que mantivesse com o seu enunciado de origem o graum!ximo de equivalncia sem9ntica, tradu$ido pela sinonímia denotativa.

Argumenta o mesmo autor, no entanto, %aver motivos para que se resguarde

a categoria das repetiç'es, considerando-a diversa das demais atividades de

reformulação. (eriam eles? i6 a distinção entre repetiç'es e par!frases, dada a

existncia de diferentes traços formais 1par!frases não repetem as mesmas palavras na mesma ordem sint!tica em que aparecem no enunciado de origem6;;R

ii6 o fato de repetiç'es apresentarem algumas funç'es específicas na perspectiva

interacionalR iii6 a necessidade de não se ampliar demais a categoria das

 par!frases.

"strat#gias distintas de construção do texto conversacional, repetiç'es e

 par!frases apresentam-se, muitas ve$es, como fen+menos convergentes, sobretudo

se considerarmos as motivaç'es contextuais determinantes de sua ocorrncia. "ssaconsideração # particularmente importante para esta pesquisa, posto que um dos

fen+menos de reparo recorrentes no corpus sob an!lise abrange ambas as

estrat#gias, particularmente pr*ximas devido ao papel interacional assumido nos

eventos focados.

Ainda a prop*sito da an!lise da função de repetiç'es, particularmente de

repetiç'es da fala do outro, fen+meno ilustrado no fragmento 1;K6, vale mencionar 

aqui o estudo de s%iTaUa 13443, p.LLK-L5@6 que prop'e o recon%ecimento da

forte relação entre o formato do texto conversacional e o jogo interativo a ponto

de postular a existncia de um valor Hic+nicoH para algumas estrat#gias de

formulação da fala em interação.

;; A esse respeito, a afirmação que se segue constitui outro dado problemati$ador na nossatentativa de distinção dos dois fen+menos. (egundo 7arcusc%i 13448, p.446, Ha repetição integral,aquela que reprodu$iria a matri$ exatamente, # mais rara do que a repetição com variação, sendoque essa variação aumenta se consideramos o aspecto pros*dicoH. 0o mesmo artigo recortamosoutro fragmento importante que sinali$a a intersecção entre os dois fen+menos. Ao analisar ocorrncias de repetição de um mesmo item lexical, observa o autor que? Hidentidade e diferença

sob o aspecto lexical não equivalem a identidade e diferença sob o aspecto referencial. =aso típico# o da par!frase que em geral manifesta-se com diferenças lexicais para gerar identidadesreferenciais, o que não # garantido nem mesmo no caso da repetição integral.H

Page 12: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 12/17

=onsiderando Has propriedades interacionais do significadoH conforme

 proposto por <annen 134546, o autor argumenta ser o fen+meno da repetição na

fala uma esp#cie de Hsigno ic+nicoH similar ao fen+meno da reduplicação de

morfemas em algumas línguas

;K

. 2averia, portanto, uma forte correspondncianão apenas entre forma e significado 1significado ic+nico6, mas entre forma e

função interacional, relação J qual o autor se refere como um fen+meno de

Hiconicidade interacionalH.

A partir da an!lise do corpus em Vapons, o autor aponta algumas funç'es

interativas de auto-repetições e repetições pelo outro, argumentando que J

repetição de enunciados corresponde - mais diretamente do que se costuma

recon%ecer – alguma função interacional específica.

0essa forma, são apontados alguns Hsignificados ic+nicosH da autorrepetição

intraturno – bem como da reduplicação - quais sejam? intensidade, iteração,

continuidade;I. <ais funç'es comunicativas tm sido, de fato, atribuídas a esse

tipo de repetição, facilmente recon%ecível como uma estrat#gia argumentativa e

como recurso de nfase, conforme j! discutimos.

 &o entanto, # ao discutir as funç'es de repetições efetuadas pelo outro que

se ilustra, de fato, a %ip*tese da Hiconicidade interacionalH. "m conson9ncia com

<annen 134546, o autor aponta a repetição pelo outro como recurso que garante

envolvimento interpessoal;L. A an!lise dos dados exp'e v!rias ocorrncias desse

tipo de repetição em unidades discursivas formuladas a partir das contribuiç'es

conjuntas dos falantes que constroem colaborativamente o texto conversacional

1H joint idea constructionsH6. &esses contextos, o procedimento da repetição pode

ser usado pelo falante para confirmar a fala do outro, para ratificar o seu papel de

ouvinte, para ratificar a contribuição do interlocutor demonstrando compreensão,

aceitação ou concord9ncia, para sinali$ar que o discurso pode prosseguir.

A %ip*tese da iconicidade interacional # ilustrada pela demonstração de que

o vínculo formal expresso pela repetição tem correspondncia na vinculação dos

;K A an!lise de construç'es lexicais, por reduplicação na língua turca demonstra a estreitacorrespondncia entre a forma e o significado. 0esse modo, a expressão muito feliz nesse idiomatem a id#ia de intensidade garantida pela reduplicação da forma? rame Q feli$R ramerameQ muitofeli$.;I O significado Hic+nicoH de continuidade # ilustrado por formas verbais que, repetidas, denotamduração da ação.;L (egundo <annen, a repetição, al#m de criar a coerncia do discurso, garante o envolvimentointerpessoal, o qual gera identificação emocional. A repetição #, portanto, um poderoso recursocognitivo e interacional.

Page 13: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 13/17

70

 selfs constituídos na interação, ou seja, J conexão da forma corresponde algum

tipo de conexão 1intercompreensão, compartil%amento, foco mtuo de atenção6

entre os participantes. )ortanto, a recorrncia de padr'es de turno representaria as

relaç'es entre auele ue repete e auele ue é repetido.

3.$.Reparos progressios

<ratamos na seção anterior de tipos de reparos que se apresentam como

solução para problemas de formulação manifestados textualmente 17arcusc%i,

344L apud /!vero, 344>, p.3;@6, ou seja, reparos associados a uma esp#cie de

revisão textual. Aqui trataremos de um tipo de reparo que não inclui retomadas eque est! associado J tentativa de solução de problemas on line 17arcusc%i, 344L

apud Woc% 3448, p.K>4-I3@6. Ao contr!rio do que ocorre no caso das categorias

acima descritas, ao promover um reparo progressivo, o falante, muitas ve$es,

 parece não saber exatamente o ue ou como di$er. 0essa forma, reparos

 progressivos associam-se J busca da expressão.

)arece-nos bastante complexa a tarefa de construir um conjunto restrito de

categorias no caso desse tipo de reparo, dada a variedade de procedimentosreformuladores a que o falante pode recorrer na tentativa de avançar, prosseguir 

com o discurso, encontrando a mel%or forma de expressão. <emos observado, em

diferentes estudos, uma curiosa variedade de ocorrncias, algumas das quais

recorrentes e indubitavelmente modeladas contextualmente.

Gm exemplo de reparo progressivo foi analisado na seção ;.3 deste

trabal%o. "numeramos abaixo outro exemplo que julgamos ser um procedimento

 bastante comum em contextos diversos.

1;I6 At 34, p.;8L

3 7arcos  X-gás, 7arcos boa tarde.; Vos# boa tarde 7arcos, eu #% eu %oje recebi aqui na?? %oje um comunicadoK que a partir de aman%ã, vai ser trocado MumaN v!rios #%??I medidores Mde g!sN t! 7arcos.L 7arcos M certo N8 Vos# a pergunta que eu faço # a seguinte, se por acaso voc pode> informar??, o tempo m#dio pra trocar um um um medidor desse,5

voc tem uma uma id#iaS

Page 14: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 14/17

7

Os turnos do cliente exibem apenas um procedimento de reparo regressivo

1sinali$ado com colc%etes e grifo6. Os demais procedimentos de reparo comp'em

uma atividade de construção progressiva da fala, esforço marcado por v!rias

sinali$aç'es de %esitação 1em vermel%o6. Beformatamos parte da fala do cliente

 para mel%or visuali$ação dessas ocorrncias de reparo?

Heu #%

eu %oje recebi aqui na???

%oje recebi um comunicado que a partir de aman%ã vai ser trocado uma-

v!rios #%??

medidores de g!s ta 7arcosH

"sse trec%o exibe particularmente bem o esforço de construção on line da

fala que aqui # paulatinamente gerada por acr#scimos sucessivos de material

ling:ístico que se introdu$em ap*s procedimentos de %esitação. O falante

monitora a construção progressiva de seu enunciado, valendo-se da repetição e de

 pequenas pausas como recurso de preparação da fala.

3.3.I(i!ia"#o )e reparo

 &ão nos parece conveniente atribuir a algumas atividades envolvidas na

tarefa de processamento textual o mesmo status das subcategorias de reparo at#

aqui descritas. "strat#gias de processamento textual como a hesitação e a

ruptura são descritas em (c%egloff 134>4, p.;>K6 como Hiniciaç'es de reparoH, ou

seja, como sinali$aç'es de que alguma atividade de reformulação dever! ser efetuada. &o entanto, podemos tamb#m admitir que cortes, pausas preenc%idas,

 prolongamentos voc!licos, fen+menos observ!veis em muitos dos fragmentos

analisados, não apenas anunciam operaç'es de reparo, como tamb#m constituem

os pr*prios procedimentos de reparo.

Woc% 13445, p.>@6 distingue o fen+meno da %esitação dos demais

 procedimentos de reformulação, tratando a %esitação como atividade indissoci!vel

da produção da fala, atividade ling:ística que se caracteri$a pela simultaneidade

entre planejamento e verbali$ação. (ua pesquisa demonstra que Hnão existe trec%o

Page 15: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 15/17

de fala sem %esitaç'es, ao passo que podem existir trec%os de fala, mais ou menos

longos, sem inserç'es ou reformulaç'es, quer ret*ricas, quer saneadoras.H

Abordagem semel%ante em 7arcusc%i 1344L, apud Woc% 3448, p.K>4-I3@6

aponta a %esitação como indício de Hdificuldade de processamento verbal naestrutura sintagm!ticaH, não sendo, portanto, uma solução apresentada para um

dado problema de formulação textual, mas anncio de tentativa de solução de

 problemas on line. O autor enumera alguns procedimentos de %esitação que

surgem na fala como evidncia de problemas de formulação. (ão eles?

 prolongamentos voc!licos, repetiç'es de pequenos voc!bulos, pausas, pausas

 preenc%idas, falsos começos.

Alguns desses procedimentos podem ser observados no fragmento 1;I6,

acima destacado. O exemplo permite demonstrar que reparos são operaç'es

sempre anunciadas, ou por procedimentos de %esitação ou por rupturas como a

que constitui o reparo regressivo operado em? Ha partir de aman%ã vai ser trocado

uma- v!rios #%?? queimadoresH. Bupturas são interrupç'es repentinas da seq:ncia

discursiva ou rompimentos bruscos da sintaxe em curso. (ão observ!veis sempre

que o falante trunca o enunciado e, sem %esitar, opta por outra alternativa de

formulação. Betomemos o fragmento 1;6, analisado no capítulo anterior?

1;6 At K, p.;K;

88 alter Qmas sen%ora, então esse consumo de trinta metros cbicos seria-8> estaria correto. j! que j! que nesse período a sen%ora passou a utili$ar 85 o aquecedor do fogão.84 <elma nã??o.>@ alter dia vinte e doisQ>3 <elma Qeu passei- eu usei- eu comecei- uando eu fiz a-, quando a min%a>; conta c%egou, eu liguei no mesmo dia, porque eu estran%ei o valor.>K tin%a assim uma semana que o meu aquecedor tin%a sido instalado. e

>I não não existe o consumo assim de ficar duas %oras no c%uveiro, com>L o aquecedor ligado. entendeuS o fogão tamb#m # utili$ado o normal,>8 não faço bolos, não faço, entendeuS então eu to eu to tentando te di$er >> o seguinte que o meu consumo normal, eu creio, que não passa desse->5 desse mínimo não. porque eu morei num outro endereço, não pelo fato>4 de ser, manufaturado ou não, porque a tarifa voc disse # a mesma5@ coisa.

 &a lin%a >3, temos quatro rupturas sucessivas que constituem uma operação

de reparo progressivo pondo J mostra o esforço empen%ado na busca da

expressão. )or sua ve$, a ruptura que observamos no fragmento 1;I6 comp'e uma

Page 16: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 16/17

operação de reparo regressivo e evidencia a competncia do falante em encontrar

uma solução r!pida para o problema enfrentado.

Gma avaliação inicial de HrupturasH est! apresentada em nossa primeira

investigação do fen+meno do reparo 1arbosa, 34446. &esse trabal%o c%egou-se Jidentificação de duas categorias de rupturas, as quais nomeamos? i6 rupturas com

função discursivaR ii6 rupturas sem função discursiva.

 &o primeiro grupo reunimos ocorrncias de reparo associadas ao sucesso da

expressão. (ão casos semel%antes ao que se apresenta no fragmento 1;I6. &eles

rupturas antecedem reformulaç'es bem sucedidas, retrospectivas ou prospectivas.

O falante trunca o enunciado por ter encontrado solução mais apropriada. &o

outro grupo reunimos rupturas que, a exemplo do que ocorre em 1;6, sinali$am

extrema dificuldade de processamento. Ou seja, o falante descarta a primeira

tentativa de formulação por l%e faltar a palavra. &o caso de 1;6 o que se observa

são quatro tentativas descartadas quando do início da construção do argumento

que a cliente apresenta ao atendente.

A an!lise do fen+meno da ruptura ajudou-nos a demonstrar de que modo

situaç'es de estresse comunicativo podem levar a um nível de disfluncia

altamente prejudicial J comunicação. Bupturas sem função discursiva

identific!vel interacionalmente compun%am fragmentos que expun%am o falante

lutando pela expressão e mesmo, em alguns momentos, tendo que enfrentar o

constrangimento da perda da palavra.

Bupturas e %esitaç'es são, portanto, segundo a teoria que aborda

 particularmente a sintaxe intraturno 1(c%egloff, 34>46, procedimentos que

constituem operaç'es de reparo, mais propriamente sinali$aç'es de problemas

envolvendo o processamento da fala. "ssas categorias de iniciação de reparo

somam-se a outras envolvidas na construção de seq:ncias de turnos 1como

 pedidos de confirmação ou pedidos para repetir6, constituindo um sistema que

inclui os componentes indiciadores de problemas de processamento e

compreensão e as atividades voltadas para a resolução desses problemas.

Os estudos apresentados neste capítulo analisam a função comunicativa de

alguns procedimentos de reparo. Begistram-se importantes variaç'es da

funcionalidade relativas J forma de organi$ação do reparo e ao agente que o

 promove 1eu ou outro6. (ão estudos que oferecem categorias para a an!lise dotexto falado e contribuem com investigaç'es focadas na relação entre o jogo

Page 17: A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

7/23/2019 A Função Comunicativa de Alguns Procedimentos de Reparo

http://slidepdf.com/reader/full/a-funcao-comunicativa-de-alguns-procedimentos-de-reparo 17/17

interativo e a promoção de reparos na fala. &o capítulo que se segue, em parte

dele, dedicamos atenção especial a este t*pico, abordando estudos que se ocupam

da compreensão de processos interativos que envolvem operaç'es de reparo como

dado revelador do que est! em jogo para os participantes.