A Influência Da Familia Nos Problemas de Aprendizagem

25
A INFLUÊNCIA DA FAMILIA NOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM. Avanídia Rosa da Silva* RESUMO A relação família-escola nem sempre é uma relação amigável e parceira, principalmente, quando o elo que as une, ou seja, a criança, apresenta alguma dificuldade em aprender ou em se comportar. Para a família, a culpa é da escola, do professor, do método, enfim; mas raramente se vê a família do aluno se percebendo como um gerador do problema. O objetivo deste trabalho é o de analisar o papel de cada envolvido no processo de educação, sua importância e sua responsabilidade para com o educando Palavras-Chave: Família, Criança, Aprendizagem ABSTRACT *Pedagoga *Especializando em Psicopedagogia *ACEB- Associação Classista de Educação da Bahia

description

....

Transcript of A Influência Da Familia Nos Problemas de Aprendizagem

A INFLUNCIA DA FAMILIA NOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM.

Avandia Rosa da Silva*

RESUMO

A relao famlia-escola nem sempre uma relao amigvel e parceira, principalmente, quando o elo que as une, ou seja, a criana, apresenta alguma dificuldade em aprender ou em se comportar. Para a famlia, a culpa da escola, do professor, do mtodo, enfim; mas raramente se v a famlia do aluno se percebendo como um gerador do problema. O objetivo deste trabalho o de analisar o papel de cada envolvido no processo de educao, sua importncia e sua responsabilidade para com o educando

Palavras-Chave: Famlia, Criana, Aprendizagem

ABSTRACT

The family-school relationship is not always a friendly and partner, especially when the bond that unites them, that is, the child has some difficulty learning or behaving. For the family, it is the fault of the school, the teacher, the method, in short; but rarely see the student's family is realizing as a problem of the generator. The objective of this study is to analyze the role of each stakeholder in the education process, its importance and its responsibility to the student.

Key -words : Family Child Learning

1. INTRODUO

No passado costumava-se atribuir criana, toda culpa por seu fracasso escolar. Hoje, porm, j se reconhece que as dificuldades em aprendizagem no se do no vazio, e sim em contextos, tanto situacionais, quanto interpessoais. Este contexto envolve o ambiente familiar e o ambiente escolar, pois ambos so fundamentais para a educao e desenvolvimento humano. Mas, estas duas importantes instituies podem tambm ser responsveis pela inibio do desenvolvimento da criana, gerando um problema de aprendizagem.Segundo Dessen e Polnia(2007), a famlia e a escola, so os principais ambientes de desenvolvimento nas sociedades ocidentais contemporneas. Assim, o fundamental que sejam geradas estratgias polticas que aproximem estes dois contextos, reconhecendo as semelhanas e diferenas, principalmente no que se refere aos processos de desenvolvimento e aprendizagem, no s em relao ao aluno, mas tambm a todas as pessoas envolvidas.O principal objetivo deste estudo verificar at que ponto a influncia da famlia pode influenciar no aprendizado da criana. A importncia da referida pesquisa justifica-se, pelo fato de que a famlia nuclear, constituda de pai, me e filhos, ainda considerada como a menor unidade social, a clula que reunida s outras formar o tecido social; - o lar e a vida familiar podem proporcionar, atravs do seu ambiente fsico e social, as condies necessrias ao desenvolvimento da personalidade da criana.Tais influncias precoces so as mais duradouras e as mais estveis; - na famlia que a criana encontra, em primeiro lugar, os modelos a serem imitados (modelo de identificao); - existem momentos muito adequados para a realizao de determinadas aquisies, conforme o desenvolvimento maturativo da criana, e isso acontece enquanto ela est sob a custdia da famlia; - a famlia um contexto de socializao especialmente relevante para a criana.

2. CONCEITO DE APRENDIZAGEM

Mussen (1970) define aprendizagem como mudana no comportamento ou desempenho em resultado de experincia. A aprendizagem ocorrer de maneira mais satisfatria se houver uma motivao (necessidade ou desejo de aprend-la) e um reforo (recompensa). O autor, porm, considera que alguns processos de aprendizagem podem ocorrer sem motivao e reforo, ou seja, atravs da identificao com o outro; exemplificando: quando uma criana se identifica com seus pais, adquire muitas das caractersticas, pensamentos e sentimentos deles; em suma, adquire o padro de comportamento da famlia. De acordo com Celidonio (1998) concebe a aprendizagem como um processo em que a personalidade da criana possa se desenvolver autonomamente e no como um reflexo de um certo modelo de indivduo que a famlia ou a sociedade julgam ideal. Enfatiza a questo de valores e as idealizaes que cada membro do casal normalmente projeta sobre o outro e sobre cada um de seus filhos, como fenmeno constitutivo de conflitos e crises do sistema familiar. A autora constata que o processo de aprendizagem, ao invs de ser visto de forma mecnica e esttica, deve ser visto como um processo ativo em que a aquisio de padres e contedos, por parte de um indivduo, envolve um processo de atribuio de significado quilo que aprendido. Ressalta ainda que comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente aos fenmenos que ocorrem na escola, como resultado de ensino. No entanto, o termo tem um sentido mais abrangente: compreende os hbitos que formamos, os aspectos da nossa vida afetiva e a assimilao de valores culturais. Referem-se a aspectos funcionais, resultantes de toda estimulao ambiental recebida pelo indivduo no decorrer da vida.Considerando o que foi exposto, conclui-se que: - O conceito de aprendizagem bastante amplo; - a motivao um fator de grande importncia para a aprendizagem; - a criana tem mais motivao para aprender quando as coisas tm um significado para ela. - a criana aprende melhor quando participa ativamente do processo de ensino.

3. AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A aprendizagem j foi conceituada por muitos autores e estudiosos na busca de entender o seu processo. Segundo um dos pioneiros no campo da psicologia do desenvolvimento, como Mussen (1970), afirma que a aprendizagem uma mudana no comportamento ou no desempenho em resultado da experincia, e que essa aprendizagem ocorrer de forma mais satisfatria se houver uma motivao, um reforo, ou ento uma identificao com o outro. Martin & Marchese (1995) conceituam distrbio de aprendizagem como qualquer dificuldade observvel enfrentada pela criana para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas de mesma faixa etria, seja qual for o fator determinante desse atraso. Pode ocorrer tanto no incio como durante o perodo escolar e mesmo antes do perodo de escolarizao.Bossa (2007), em seu livro sobre dificuldades de aprendizagem apresenta a ideia de que a aprendizagem precisa ser um processo natural, espontneo e prazeroso. J nascemos com a capacidade de aprender. Segundo ela, o descobrir e aprender para a criana deve ser um prazer. Se no for, algo est errado. Esta criana apresenta uma dificuldade de aprendizagem. Este termo, dificuldades de aprendizagem, revela uma discrepncia entre o que a criana capaz de aprender, sob uma determinada situao em sala de aula, e o que ela realmente realiza, resultado do processo de aprendizagem (HUBNER & MARINOTTI, 2002). As dificuldades que surgem neste processo que acarretam no fracasso escolar, podem ser resultados da combinao de diversos fatores de ordem pessoal, pedaggica, familiar e social (MARTURANO & LOUREIRO, 2003).Muitas vezes, as dificuldades de aprendizagem podem ser mascaradas como um mal comportamento daquele que a possui, como afirma Bossa (2007, p. 13) que prefervel para uma criana ou um adolescente acreditar que no tem interesse por um contedo, e leva os outros a tambm crerem nisso, do que aceitar que no entendeu. Isto se deve porque o aceitar pode significar de que um burro, e sentir burro di, machuca o ego.Nos estudos de Okano, Loureiro, Linhares e Marturano (2004), os resultados mostraram que as crianas com dificuldades de aprendizagem percebem possuir menor habilidade para aprender e com mais dificuldades de comportamento, se comparadas com crianas de bom desempenho.Segundo Hardman, Drew e Egan (2006), para os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, importante empregar uma variedade de estratgias especificas para alcanar o sucesso escolar, a aprendizagem de fato. Para estes autores, os alunos que apresentam estas dificuldades precisam de suporte e adaptaes, uma educao inclusiva e planejada.

4. O PAPEL DA FAMLIA E FORMAO DA PERSONALIDADE

Segundo Almeida (2011) a famlia o grupo primrio do qual o indivduo participa. na dinmica familiar que se impe determinados tipos de vnculos particulares, e so esses vnculos que iro interferir na formao da identidade do sujeito e, quando somados aos fatores genticos e sociais, vai se formando as primeiras aprendizagens no mbito familiar, e sero modeladas ao longo da vida.Torna-se cada vez maior a preocupao dos pais em acertar na educao dos filhos. Muitas vezes aqueles se perguntam onde foi que erraram para que o filho tivesse a dificuldade que hoje tem.Bossa (1998) ressalta que mais do que responsveis pela qualidade de vida, os pais so construtores do aparelho psquico dos seus filhos. Nascendo numa condio de total incompletude, o ser humano depende totalmente dos adultos que esto a sua volta, especialmente de seus pais ou daqueles que fazem funo paterna e materna. Embora trazendo uma carga gentica que tambm interfere no seu destino, o fator gentico ser menos influente, quanto mais influente for a educao. A aprendizagem humana envolve uma relao sujeito-objeto. O sujeito que nasce como um ser biolgico, logo se constitui como um sujeito psicolgico. A evoluo normal das funes egicas (ateno, memria, pensamento, juzo, percepo, linguagem, motricidade, afetividade) dependem das condies externas, mais especificamente da relao me-beb, uma vez que uma comunicao especial se estabelece nessa relao desde os primeiros momentos da vida do beb. Piletti (1984) considera, assim como diversos outros autores, que as primeiras experincias educacionais da criana, geralmente so proporcionadas pela famlia. Atravs das influncias familiares, vai-se paulatinamente moldando seu comportamento. Os pais o fazem, na maioria das vezes, de modo inconsciente. Diga-se que os resultados esperados, quando se quer influenciar de modo consciente e deliberado, nem sempre acontecem. O que ensinado inconscientemente tende a permanecer por mais tempo. O autor considera de fundamental importncia para o desenvolvimento posterior da criana e para sua aprendizagem escolar, os sentimentos que os pais nutrem por ela durante os anos anteriores escola. Tais sentimentos contribuem para o desenvolvimento do conceito de si prpria (o autoconceito), o conceito do mundo e de seu lugar no mundo. Considera o autoconceito como base de toda aprendizagem, pois se a criana julga-se capaz de aprender, aprender muito mais do que se ela nutrir sentimento de incapacidade. Mouly (1970) refere-se ao autoconceito considerando que quando a pessoa passa por novas experincias e enfrenta novos valores, aceita-os ou rejeita-os, em funo de sua compatibilidade ou incompatibilidade com a avaliao atual que faz de si mesma. Lembra que a formao do autoconceito um processo lento, que se desenvolve a partir da reao dos pais e de outras pessoas ao comportamento inicial da criana.Dessa forma, est intimamente ligado necessidade de aprovao e aceitao, assim como de auto-estima. O nen pode conceber-se como mau, se a me ao ensinar, irrita-se com ele, se o castiga por seus erros, se o rejeita, se acentua os seus aspectos maus. Quando ocorrem novas experincias, tende, cada vez mais, a avaliar cada nova situao atravs do ponto de vista j formado. Mussen (1970) lembra que, mesmo as influncias familiares sendo relevantes no desenvolvimento da criana, no se deve menosprezar a influncia de outros grupos e entidades sociais. Apesar de existirem poucos estudos sistemticos sobre a influncia de colegas, vizinhos, escola, igreja e meios de comunicao em massa (jornais, cinema, TV, e.t.c.) no desenvolvimento da personalidade da criana, bvio que, no estabelecimento de novos contatos, a criana encontre novos identificandos. Poder acontecer que os comportamentos adquiridos em famlia sejam modificados ou que novas reaes apaream. Em alguns casos as novas identificaes podem reforar e fortalecer as que foram aprendidas no lar; em outros, podem ser diferentes e at opostas. Quando as expectativas familiares e as do grupo de fora da famlia se chocarem, a criana conhecer um conflito. Se sua identificao com os pais for slida, dificilmente adotar valores contrrios aos deles; porm, se for tnue sua identificao com os pais, ou, se a presso do grupo de fora for grande, possvel que adote valores defendidos por este.O comportamento, desejvel ou indesejvel, no apenas acontece: causado. Conforme o enfoque dado pelos pais aprendizagem escolar, ser o tipo de influncia exercida sobre a criana; exemplificando: se os pais preferem ver TV, passear, assistir a algum filme, ao invs de ler, certamente a criana, mesmo possuindo revistinhas e livros, no ter muito interesse por leitura. Portanto, sem inteno de ensinar, os pais podem influenciar a aprendizagem de seus filhos atravs de atitudes e valores que passam a eles. Moreno & Cubero (1995) atribuem famlia garantia de sobrevivncia fsica de seus membros e ressaltam que dentro dela que se realizam as experincias bsicas que sero imprescindveis para o desenvolvimento autnomo dentro da sociedade (aprendizagem do sistema de valores, da linguagem, do controle de impulsividade, etc.). Referem-se ao modelamento psicolgico da criana, citando os meios para tal: recompensas, castigo, observao. Os autores consideram o poder da famlia, no absoluto, nem infinito, visto que: -- quando a criana nasce, certas caractersticas podem ao menos estar parcialmente definidas, como sua sade e temperamento infantil; --outros contextos socializadores, como escola e colegas, influem sobre a criana, paralelamente ao dos pais, em maior ou menor grau. A famlia influenciada por uma srie de fatores determinantes de seu funcionamento, por exemplo, situao scio-econmica dos pais. Os referidos autores discorrem sobre diferentes estilos de comportamento dos pais e consequentes efeitos sobre o desenvolvimento social e da personalidade da criana. Classificam os pais nas seguintes categorias: - pais autoritrios- manifestam altos nveis de controle, de exigncias de amadurecimento, porm baixos nveis de comunicao e afeto explcito. Os filhos tendem a ser obedientes, ordeiros e pouco agressivos, porm tmidos e pouco persistentes no momento de perseguir metas; baixa auto-estima e dependncia (no se sentem seguros, nem capazes para realizar atividades por si mesmos); filhos pouco alegres, mais colricos, apreensivos, infelizes, facilmente irritveis e vulnerveis s tenses, devido falta de comunicao desses pais. Pais permissivos- pouco controle e exigncias de amadurecimento, mas muita comunicao e afeto; costumam consultar os filhos por ocasio de tomada de decises que envolvem a famlia, porm no exigem dos filhos, responsabilidade e ordem; estes, tendem a ter problemas no controle de impulsos, dificuldade no momento de assumir responsabilidade; so imaturos, tm baixa auto-estima, porm so mais alegres e vivos que os de pais autoritrios.Pais democrticos - nveis altos tanto de comunicao e afeto, como de controle e exigncia de amadurecimento; so pais afetuosos, reforam com frequncia o comportamento da criana e tentam evitar o castigo; correspondem s solicitaes de ateno da criana; esta tende a ter nveis altos de autocontrole e auto-estima, maior capacidade para enfrentar situaes novas e persistncia nas tarefas que iniciam; geralmente so interativos, independentes e carinhosos; costumam ser crianas com valores morais interiorizados (julgam os atos, no em funo das consequncias que advm deles, mas sim, pelos propsitos que os inspiram). Embora um pai ou uma me raramente se enquadrem totalmente em um dos trs padres descritos, pois seu comportamento mais variado e menos esteriotipado do que sugere essa classificao, o comportamento educacional predominante da maior parte dos pais assemelha-se a um ou outro desses estilos. Quanto formao da personalidade, deduz-se que: - aps o nascimento, a criana comea sofrer influncias familiares que aos poucos vo modelando seu comportamento, sendo a maior parte das influncias exercidas pelos pais sobre os filhos, provavelmente inconsciente; - a criana estrutura sua personalidade com base nas experincias infantis, sendo uma das mais importantes , o clima psicolgico que os pais propiciam a ela; - muitas vezes os valores adquiridos em famlia so ameaados por outros contextos socializadores.Os pais tm certas maneiras caractersticas de se comportarem, e estas tm influncias diferentes sobre os filhos, que podem desenvolver diferentes personalidades; - a criana deve desenvolver um autoconceito positivo, sendo, para isso, muito importante as reaes dos adultos.

5. A RELAO FAMLIA/ESCOLA

Quando falamos de aprendizagem, precisamos considerar a necessidade de uma relao triangular formada por aluno, famlia e escola. Para Morais & Neves (2009), preciso defender uma relao de comunicao entre escola e comunidade, pois se entende que a aprendizagem dos alunos s ser melhorada se a instituio escolar valorizar e permitir a entrada dos conhecimentos e experincias do dia-a-dia. No Referencial Curricular Nacional para Educao Infantil (1998, p. 76), a famlia a primeira escola da criana, onde ela obter seus primeiros conhecimentos e orientaes para uma vida social, com cidadania, direitos e deveres. As crianas possuem o direito de serem criadas e educadas no seio de suas famlias. De acordo com o Estatuto da Criana e do Adolescente, em seus termos, a famlia a primeira instituio social responsvel pela efetivao dos direitos bsicos da criana. Portanto, cabe as instituies estabelecer um dilogo aberto com as famlias, considerando-as como parceiras e interlocutoras no processo educativo infantil (RCNE, 1998, p. 76).Portanto, a escola que ficar incumbida de mediar, estimular a formao de saberes cientficos e orientar as famlias, dialogando, fornecendo instrumentos pedaggicos e contribuindo para a aprendizagem. Havendo um dialogo entre estas duas instituies importantssimas, famlia e escola, a tendncia de equilibrar-se o desempenho escolar da criana (BAZELESKI & ARRUDA, 2011).Para Baptista (2005), escola e famlia, cada qual com sua funo, devem ser vistas como cooperantes e no concorrentes. Nenhuma pode ou deve tomar o lugar da outra. Pois, quando no existe essa relao, ambas ficam prejudicadas, aonde surgem as reclamaes. Da escola, pela falta de reconhecimento ou alienao da responsabilidade parental; da famlia, por no possurem participao e, em alguns casos, falta de ser ouvida e cuidada. Num contexto educativo que garante o acesso universal e contnuo das pessoas aprendizagem, todos saem beneficiados: as crianas, os professores e as prprias famlias (CARIDE, 2007).Estudos clnicos revelam que a atmosfera familiar tambm est relacionada com o ajustamento emocional. Se for inteno estudar os processos de interao familiar e sua influncia sobre a criana, no suficiente restringirmos anlise de uma dade; necessrio estabelecer o conjunto total de relaes que se d entre os diferentes membros da famlia (pai, me, irmos). Os atritos entre os pais constituem, conforme o autor, o mais comum antecedente dos desajustamentos emocionais nos filhos. As tenses paternas muitas vezes envolve dificuldades sexuais, falta de considerao ou de cooperao, sade frgil, conflitos sobre amigos ou parentes, e qualquer desses motivos pode impedir o estabelecimento de relaes descontradas e felizes entre pais e filhos. Faltando tais relaes, torna-se difcil para a criana aprender reaes emocionalmente maduras e adaptadas. Alm dos efeitos diretos que a atuao do pai e da me tem sobre a criana, necessrio considerar-se os efeitos de segunda ordem ou indiretos, processos atravs dos quais uma pessoa influi sobre a outra por intermdio de uma terceira.Exemplificando: o pai pode afetar positiva ou negativamente a interao que a me tem com o seu filho e, consequentemente, o desenvolvimento deste, em funo da relao emocional que mantm com sua mulher. Drouet (1995) constata que o relacionamento entre pais e filhos depende muito do clima emocional que se estabelece em um lar e que para se obter um bom clima emocional preciso que haja harmonia do casal e tratamento igual dispensado a todos os filhos. Celidonio (1998) afirma que muitas crianas que poderiam ter um relacionamento sadio, no so valorizadas e muitas vezes at so desprezadas porque diferem daquilo que delas esperavam seus pais. Da surgirem grandes conflitos e por parte dos pais, sentimentos de decepo e fracasso diante da inutilidade de "tanto esforo". A escola, no entanto, poder contribuir, e muito, no sentido de promover mudanas nos alunos considerados antes desacreditados pelos pais; e estes mesmos, atravs da interao filho-escola, de alguma forma, conseguem tambm modificar seu comportamento, percebendo e respeitando as caractersticas reais de seu filho, a partir do momento em que este valorizado pela equipe da escola que o assiste diariamente. Para Mussen (1970) e outros, a influncia do lar sumamente importante para o crescimento emocional da criana, dada a importncia das primeiras experincias. Se estas forem saudveis, a criana ter segurana , far uma avaliao realista do seu valor, de suas foras e de suas limitaes. Aceitar a si mesma pelo que , e estando livre de angstia, poder empregar construtivamente suas energias a fim de solucionar problemas.Mouly (1970) atribui primeira infncia, a tarefa indiscutvel de criao da segurana emocional. Enfatiza que a criana precisa ser educada num ambiente emocionalmente estvel e consistente, no qual tenha experincia de aceitao e amor incondicionais. Sob tais condies, pode exprimir seus sentimentos sem medo e sem culpa, de forma que no existe necessidade de fuga, represso, hostilidade ou ressentimento. Quanto mais jovem a criana, maior sua necessidade de segurana. O autor relata que se verificaram diferenas ntidas de personalidade, ligadas ao tratamento emocional recebido durante a primeira infncia. Acredita que o tratamento afetuoso dos nens conduza ao desenvolvimento de uma personalidade desembaraada, generosa e confiante, enquanto as crianas criadas na atmosfera fria de orfanatos so, frequentemente, frias e incapazes de ligaes emocionais intensas. A importncia da segurana emocional fez com que se desse grande ateno posio do lar. Os desajustamentos emocionais nas crianas podem ter diversas causas, conforme inmeros autores enfatizam.Os progressos na aprendizagem ficam inibidos quando a tenso emocional grande. A coordenao muscular marcadamente enfraquecida por uma situao emocional bastante intensa. A eficincia da aprendizagem ser menor, sobretudo se depender da habilidade de manipulao. A eficincia intelectual reduzida diante de forte tenso emocional podendo at ser psicologicamente verdadeira a expresso: "eu estava to nervoso que no podia pensar." -- Comparando-se a produo de uma pessoa normal, e de outra em estado intenso de emoo, a produo desta reconhecidamente menor. Crianas amedrontadas, zangadas, desapontadas ou deprimidas podem reagir em situaes de aprendizagem com menos da metade da capacidade com que poderiam faz-lo. Mediante o exposto, conclui-se que: - as emoes desempenham importante papel sobre a aprendizagem escolar cuja funo no exclusivamente intelectual; - as emoes agradveis so to favorveis aprendizagem, quanto as desagradveis so prejudiciais; - a criana precisa sentir que seu desempenho respeitado e valorizado pelo grupo social a que pertence.; caso contrrio no adquirir confiana em si prpria e ver em cada situao nova, no um desafio e sim , mais uma nova oportunidade de provar sua incapacidade.

6. FAMLIA E NVEL SCIO-ECONMICO

Tambm exerce enorme influncia no aparecimento de problemas de aprendizagem, o nvel socioeconmico da famlia. Segundo Mussen (1970), os valores associados s classes e grupos tnicos refletem-se nas motivaes, nas caractersticas da personalidade e nas atitudes das crianas; e exemplifica: crianas de classe mdia so capazes de inibir a expresso de sentimentos agressivos, visto que aprenderam em sua cultura, que a agresso conduz ao castigo; as de classe baixa, no entanto, so encorajadas a expressar sentimentos agressivos e, consequentemente so mais inclinadas luta e a praguejar quando furiosas. O autor relata que as classes sociais tambm diferem a respeito da motivao de realizao. Enquanto os pais de classe mdia, em geral, valorizam a capacidade de realizao de seus filhos, recompensando-os com frequncia, os pais de classes inferiores, no o fazem. Dessa forma, as crianas de classe mdia mostram-se muito mais interessadas em estudar do que as provenientes de famlias de classe inferior. Estas so propensas s dificuldades no estudo, consideram a escola, enfadonha, e h probabilidade de se converterem em "problemas escolares". Conforme o mesmo autor, as diferenas de classe social na capacidade verbal revelaram-se, em muitos estudos, de um modo constante. As crianas que provm de classe mdia possuem melhor vocabulrio, articulam com maior perfeio, falam mais correta e gramaticalmente e constroem frases mais elaboradas do que as crianas de classes inferiores.Aquelas, falam mais com os pais, tornam-se mais interessadas na linguagem e so mais recompensadas por realizaes verbais. O aumento de estmulo ambiente de uma criana proveniente de classe inferior pode lev-la a intensificar seu interesse pela linguagem e melhorar sua expresso verbal. Isso muito importante uma vez que a aprendizagem complexa e a formao de conceitos dependem ainda mais da linguagem. medida que a capacidade lingustica de uma pessoa melhora, seu comportamento vai ficando cada vez mais controlado e regulado pelas palavras de outros ou pelas instrues que d a si mesmo. A prpria fala interna da criana torna-se a mais importante fonte de estmulo verbal no fim do perodo pr-escolar e nos primeiros tempos da escola. s vezes, o meio familiar, embora de nvel socioeconmico elevado, pouco estimulante: - ambientes familiares super protetores podem privar a criana de um desenvolvimento autnomo, reforando, por exemplo, uma fala infantilizada; - situaes de rejeio em relao criana podem favorecer o aparecimento de dificuldades de comunicao; - ambientes patolgicos podem tambm influir no processo de desenvolvimento das crianas, e consequentemente em suas capacidades comunicativas; exemplificando: quando crescem em ambientes muito deturpados emocionalmente (mes esquisofrnicas ou psicticas), seu desenvolvimento comunicativo pode ser comprometido. Moreno & Cubero (1995) no so categricos na afirmao de que a carncia de estmulos sociais no princpio da vida produza efeitos irreversveis. Ressaltam que muitos autores so de opinio de que a mudana de um ambiente desanimador ou desestimulante pode superar os efeitos retardadores iniciais. Para Mussen (1970), as experincias no playground ou na escola podem fomentar a confiana em si prpria, numa criana anteriormente carente sob esse aspecto. Uma criana tmida, tristonha e retrada, produto de um ambiente familiar insatisfatrio, spero e autoritrio, uma vez que frequente uma escola maternal tolerante, com professores afetuosos e compreensivos, pode-se tornar viva, feliz, imaginativa. Em contrapartida, as experincias infelizes na escola ou na vizinhana podem minar os efeitos benficos de boas relaes entre pais e filhos. Assim, se os pais forem carinhosos, gentis e tolerantes, uma criana poder ingressar na escola sentindo-se segura, confiante em si mesma e nos outros. Porm, se sua inteligncia estiver abaixo da mdia ou lhe faltar motivao para o estudo, poder sofrer amargos fracassos na escola e por conseguinte, tornar-se frustrada, agressiva, retrada, desajustada. De acordo com Drouet (1995), a famlia que pertence classe mdia alta, com posio boa e estvel, pode oferecer uma boa educao s crianas, pagando melhores colgios, organizando biblioteca particular para seus filhos, viagens e estudos complementares. Porm, seu maior ou menor aproveitamento depender tambm de sua capacidade intelectual. Acontece que muitas vezes a criana de classe privilegiada, dividida entre inmeras atividades (piano, bal, aulas de ingls, etc.), no encontram na aprendizagem propriamente dita, o sucesso desejado. Crianas oriundas de classe mdia e de classe mdia baixa so capazes de alcanar altos nveis de desenvolvimento intelectual e de serem bem sucedidos nos estudos. Se forem inteligentes, podero superar as dificuldades e atingir os mesmos nveis das crianas pertencentes s classes mais altas.As provenientes de classes populares, de mdia baixa a baixa, no entanto, lutaro contra inmeras dificuldades educacionais, tais como: ausncia de currculo oculto, freqncia a escolas pblicas (nem sempre satisfatrias), falta de oportunidade de leitura de bons livros, de viagens ilustrativas, e.t.c.. Tero que desprender um esforo redobrado para alcanarem outras crianas mais adiantadas, mesmo sendo inteligentes e estudiosas. Algumas delas, no entanto, conseguem destacar-se e ser bem sucedidas, chegando mesmo at ao curso superior.

CONSIDERAES FINAIS

Pode se concluir que no seio familiar que a criana se percebe, se identifica como indivduo, como afirmaram Martins, Rabinovich e Silva (2008). tambm no ambiente familiar que a criana comea o processo de aprendizagem, desde o ventre materno, aprendendo a sugar o seio da me, a chorar para chamar sua ateno, reconhecendo a voz das pessoas mais prximas. Engana-se quem acha que o aprender inicia-se s no primeiro ano escolar. Se a instituio escolar valoriza-se mais o conhecimento e experincia que a criana traz do seu dia-a-dia, o seu ensino seria muito mais eficaz. o objetivo de escrever este artigo, e que muitas vezes, quando surgem as dificuldades de aprendizagem na idade escolar, a famlia rotula como uma deficincia da escola, uma falha ou incompetncia do professor, um excesso no numero de alunos na sala de aula, mas, dificilmente, reconhecem que pode estar envolvido no suposto fracasso escolar do filho. Isso totalmente possvel, como j abordamos neste trabalho, se considerarmos que a famlia vem sofrendo inmeras mudanas ao longo do tempo, e que a aprendizagem se faz tambm da interao com as pessoas e o meio, e, portanto, pode ser uma causa da dificuldade em aprender da criana.Faz-se, portanto necessrio que haja um relacionamento de cooperativismo entre escola e famlia. O papel da escola de, atravs do servio de orientao, abrir espao e oportunidade para que a famlia seja ouvida e possa expressar seus anseios e expectativas. A instituio escolar pode criar uma poltica mais democrtica e participativa para envolver a famlia e a comunidade na rotina da escola.Faz-se necessrio criar uma escola mais democrtica e participativa. Uma escola onde seus alunos so totalmente capazes de realizar com xito o que se espera deles. Onde a equipe escolar valorizada e estimada pelo seu trabalho. Onde a famlia se sente realizada por ser ouvida e atendida em seus anseios e expectativas. Para que haja esta escola, basta que a relao entre escola e famlia seja real, prxima, cada uma cumprindo seu papel e assumindo suas devidas responsabilidades no processo de ensinar e aprender.Acredito que, se os pais souberem do poder e da fora dos seus contatos com seu filho, se forem orientados sobre a importncia da estimulao precoce e das relaes saudveis em famlia, os distrbios de aprendizagem podero ser minimizados. Podendo haver ainda uma maior compreenso por parte dos educadores e, por conseguinte, melhor xito no seu trabalho, se souberem algo sobre as experincias anteriores da criana, bem como das foras que atuaram sobre ela

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Almeida, A. P.D.; Quando o vnculo doena: a influncia da dinmica familiar na modalidade de aprendizagem do sujeito. Rev. Psicopedagogia 2011; 28(86): 201-13.Baltazar, J. A.; Moretti, L. H. T. As relaes familiares, a escola, e sua influncia no desenvolvimento infanto-juvenil e na aprendizagem. Terra e cultura, ano xx, n 39. 2003.Baptista, I. (2005): Dar rosto ao futuro. A educao como compromisso tico. Porto: Profedies.Bazeleski, Abadia Nair A. A.; Arruda, Roberto Alves de. Famlia no contexto escolar. Sinop, julho de 2011.Bossa, Nadia A. Dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed. 2007. Caride. J. (2007): La Pedagoga Social ante el proceso de convergencia europea de la Educacin Superior. Revista Interuniversitaria Pedagoga SocialSilva, P. V. C.; Fleith, D. S. A influncia da famlia na superdotao. Revista Semestral da Associao Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Volume 12, n. 2, julho/dezembro de 2008, 337 a 346.CELIDNIO, R. F. "Trilogia inevitvel: famlia - aprendizagem - escola", in Revista Psicopedagogia. Vol. 17, So Paulo, Salesianas 1998 CUPELLO, R. O atraso da linguagem como fator causal dos distrbios de aprendizagem. Rio de Janeiro, Revinter, 1998, 135-51pDessen, M. A.; Polnia, A. C. A famlia e a escola como contextos de desenvolvimento humanos. Paidia. 17/36, 31-32, 2007.Hardman, M. L., Drew, C. J., & Egan, M. W. (2006). Learning disabilities. In Human Exceptionality: School community, and family (pp. 164-205). Boston, MA: Allyn and Bacon.Hbner, M. M., & Marinotti, M. (2002). Crianas com dificuldades escolares. In E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em clnica comportamental infantil (vol. 2, pp. 259-304). Campinas, SP: Papirus.Marturano, E. M., & Loureiro, S. R. (2003). O desenvolvimento scio-emocional e as queixas escolares. In A. Del Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem (pp. 259-291). Campinas, SP: Alnea.Morais, Ana Maria; Neves, Isabel Pestana. Revista Portuguesa de Educao, 22(1), pp. 5-28, 2009.MUSSEN, P.H. O desenvolvimento psicolgico da criana. 5 edio. Rio de Janeiro,1970, 54-131p14, pp.11-31.Santos, C. M.; Famlia e aprendizagem: Os caminhos para uma educao plena. Rio de Janeiro, 2010.Okano, C. B., Loureiro, S. R., Linhares, M. B. M., & Marturano, E. M. (2004). Crianas com dificuldades escolares atendidas em programa de suporte psicopedaggico na escola: avaliao do autoconceito. Psicologia: Reflexo e Crtica, 17(1), 121-128.Pratta, E. M. M.; Santos, M. A. famlia e adolescncia: a influncia do contexto familiar no desenvolvimento psicolgico de seus membros. Psicologia em Estudo, Maring, v. 12, n. 2, p. 247-256, maio/ago, 2007.Silva, N. C. B.; Nunes, C. C.; Betti, M. C. M.;Rios, K. S. A. Variveis da famlia e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas em psicologia. Vol. 16, n 2, 215 229. 2008. _______. Referencial Curricular Nacional para Educao Infantil: Braslia: MEC/SEF, 1998. Weiss, M. L. L. (1992). Psicopedagogia clnica: Uma viso diagnstica. Porto Alegre: Artes Mdicas

*Pedagoga*Especializando em Psicopedagogia*ACEB- Associao Classista de Educao da Bahia