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A LENDA DE VILA NOVA DE GIBRALTAR

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A LENDA D E VILA NOVA D E GIBRALTAR

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A Lenda de Vila Nova de Gibraltar (:')

Apesar de ter sido definido e circunscrito desde 1900 o âmbito que ocupava a Judiaria Velha na actual Lisboa, ainda vários autores, ao tratarem deste bairro judeu, dizem que ele se chamara Vila Nova de Gibraltar, que era situado no sítio da actual igreja da Misericórdia, e que este templo foi a sina- goga daquela judiaria.

Não faz mal repetir aqui a falsidade de tais afirmações; a .Judiaria Grande de Lisboa nunca fai no sítio da Ribeira Velha, nem a Misericórdia foi alguma vez templo hebraico, e nunca este bairro se chamou Vila Nova de Gibraltar.

No mapa que apresentamos vê-se a planta da Judiaria Velha ou Grande sobreposta à planta topográfica da mesma região da actual cidade de Lisboa, e nele se observam os limites do bairro judeu, obtidos segundo documentação que não tratamos de desenvolver aqui.

Vila era antigamente sinónimo de bairro, quando aplicada a uma zona de unia cidade; houve em Lisboa muitas vilas (Vila Franca, Vila Galega, Vila Quente, Vila do Olival, etc.) e algumas vilas novas (Vila Nova, Vila Nova de Andrarle, Vila Kova que foi Judiaria, etc.). Quando os judeus foram expulsos do reino em 1496, ao bairro que ocupavam passaram

(*) Publicado em Elucidcírio hTobiliarquico - Revista de História e de Arte, vol. 11, 1929. 9 17

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a chamar Vila Nova que foi Judiaria Grande, ou que foi dos judeus. As ruas do extinto bairro judeu também algumas vezes eram chamadas Vilas Novas, acrescentando-se-lhes o nome po- pular das ruas, como, por exemplo, Vila Nova do Chancudo, Vila Nova da Gibitana, etc., locuções equivalentes a Rua do Chancudo em Vila Nova, Rua Gibitaria em Vila Nova (que foi dos judeus, etc.).

Alexandre Herculano escreveu uma vez: Vila Nova de Gi- braltar era a Comuna dos Judeus, e coloca esta comuna à beira do Tejo, onde se construiu o edifício da Misericórdia. Esta asserção, devido ao respeito que se tem pelos mestres, tem sido aceite como um dogrna por vários escritores. Uma parte da acção do apreciado romance ((Guerreiro e Monge)), do falecido escritor António de Campos Júnior, passa-se em Vila Nova de Gibraltar, no sítio da Ribeira Velha; e ainda muitas outras citações podenamos fazer.

Mas quem enganou Alexandre Herculano sobre a designa- ção do bairro, foi frei José Pereira de Sant'Ana, que na sua ((História dos Carmelitas)), se refere a um F., que morava na vizinhança da Sinagoga Grande, sítio que naquele tempo se chamada Vila Nova de Gibraltar e também Judiaria: donde procedeu, que ainda de presente com pouca comipção do vo- cábulo, muita parte deste bairro se chama jubetana. Frei José faz derivar a palavra Jubetaria, de Judiaria, quando aquela era o nome de uma antiga rua da comuna hebraica, também escrito sob a forma de Gibitaria, onde estavam arruados os jubiteiros ou gibiteiros.

Não se conliece documento algum que se refira ao bairro judeu pela designação de Vila Nova de Gibraltar, sendo pro- vável que esta versão provenha da leitura incorrecta pelo frade

carrnelita, nalgum documento de peor ortografia, da locução Vila Nova da Gibitana ou da Jubetaria, equivalente a Rua da Gibitaria ou da Jubetaria em Vila Nova, isto é, no bairro

918 que fora da comuna hebraica.

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Na Torre do Tombo encontra-se um documento que se re- fere a umas casas que chamam de Gibraltar (1372); mas pelas confontações conclui-se que estas casas eram fora da Judiaria, na freguesia de S. Julião, perto da Rua dos Fomos.

Um outro documento, de 1556, ((trata de um sapateiro Gaspar Dias que pousa na rua de gibraltar que vai da con- ceição para a rua dos cordoeiros; logo no princípio tem hua escada grande e duas serventias. Este Gaspar Dias morou na Jubataria velha, ou Gibataria, ou jubitarian. Parece, segundo este documento, que havia uma Rua de Gibraltar, próxima da Sinagoga (que então já era Igreja da Conceição dos freires de Cristo), e que é possível que, por analogia com as outras ruas do bairro judeu, depois de extinto, lhe chamassem Vila Nova de Gibraltar, equivalente a Rua de Gibraltar em Vila Nova; mas aparece aqui uma Rua dos Cordoeiros, que não pudemos identificar, e ficámos por isso inibidos, pelo desconhe- cimento dos seus extremos, de definir a Rua de Gibraltar.

Pelo que respeita à localização errada da comuna hebraica, a confusão é porventura mais recente.

Na Judiaria Grande havia várias sinagogas; a principal ou sinagoga grande, ficava situada no leito da actual Rua dos Fanqueiros, a meia distância entre a Rua da Conceição e o Largo dos Torneiros. Essa sinagoga, depois da saída dos judeus eni 1496-98, foi purificada c doada por D. Manuel em 1503 aos freires da Ordem de Cristo, que para ela se mudaram de uiiia erinida que tinham no sítio do Restelo, onde foi depois construída a igreja e o mosteiro dos Jerónimos. Nessa igreja se conservaram os frades até ao terremoto de 1755.

Criou-se em 1.568 uma nova freguesia em Lisboa, da Con- ceição, que se instalou na Igreja da Conceição dos Freires; mas, por dissenções entre o cura da freguesia e os beneficiados da Colegiada dos Freires, aquela separou-se, e mudou-se para a Ermida da Vitória (anterior ao terremoto), onde permaneceu até 1099. 219

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Ern 1608 construiu-se na antiga e desaparecida Rua Nova dos Ferros, para sede da freguesia da Conceição, uma nova igreja, para a qual ela se transferiu no ano seguinte; a sua situação era no leito da actual Rua da Praça, um pouco ao sul do cruzamento com a Rua de S. Julião; e para distinguirem as duas igrejas da mesma invocação, passaram a chamar Con- ceiqão Velha àquela que tinha sido sinagoga, e onde estavam os freires de Cristo; e Conceição Nova à paroquial novamente erecta na Rua Nova dos Ferros.

Chegou o terremoto de 1755, e lançou por terra ambas as igrejas da Conceição. A Igreja da Conceição Nova foi recons- triiída 110 local onde actualmente se acha, mais ao ocidente da antiga paroquial; a igreja dos freires não foi reconstruída.

O edifício da Misericórdia, mandado erigir por D. Manuel entre os primeiros anos do século XVI e o de 1534, foi também arruinado pelo terremoto de 1755, assim como a sua igreja, que parece ocupava a parte central, e ficando apenas de pé a capela fronteira à porta lateral, e esta com as duas altas janelas que a ladeavam.

Com estes restos se fez uma igreja, a actual Igreja da Con- ceição Velha, que foi dada aos freires da Ordem de Cristo, em con~pensação da derruída e desaparecida igreja dos mesmos, onde havia sido a sinagoga.

Transferidos estes frades para a sua nova igreja na Rua da Alfândega, com eles veio também a antiga designação dc ConceiçZo Velha, do templo que eles ocupavam, onde havia sido a sinagoga grande da comuna hebraica.

A denominação Conceição Velha ainda subsistc na Iin- guagenl popular, se bem que o título fosse Real Capela de Nossa Senhora da Conceicão de Li-b a oa.

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MARCAS COMERCIAIS E INDUSTRIAIS C O N T E N D O A S S U N T O S L I S B O E T A S

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Marcas comerci.ais e industriais contendo assuntos lisboetas ( " )

Desde muito tempo que os comerciantes e industriais têm usado marcar os seus produtos, ou os envólucros dos mesmos, com sinais, letras ou rótulos especiais, contendo umas vezes alusão, e outras vezes sem fazerem qualquer referência aos produtos ou ao nome do respectivo comerciante ou industrial.

Essa marcação tem geralmente por fim fazer conhecer os produtos e acreditá-los perante o público consumidor, ao mesmo tempo que os defendem da concorrência dos de outros, muitas vezes pouco escrupulosos, profissionais do mesmo ofício; mas não raramente, usados pelos comerciantes e industriais de má fé, tem em vista iludir os consumidores e causar prejuízos ou incómodos aos profissionais honestos.

0 s diversos Estados tomaram a seu cargo a defesa das marcas dos indivíduos que as quizessem garantir, e instituiram o serviço de registo de marcas, que entre nós funciona na Re- particão da Propriedade Industrial, por onde têm passado, re- queridas a registo, até 31 de Dezembro de 1929, cerca de 39.300 marcas nacionais, - comerciais e industriais - que na sua maioria têm sido registadas. O diploma que regula este serviço

(*) Publicado em Elucidário NobJiárqz<ico - Revista de História e de Arte, vol. 11, Lisboa, 1929. 293

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é o decreto de 28 de Março de 1895, modificado pelos decretos de 1 de Março de 1901, e de 16 de Março de 1905, e, para efeito dos mesmos, os produtos a marcar, tanto do comércio como da indústria, foram agrupados em classes, sendo ga- rantida cada marca para todos os produtos abrangidos na res- pectiva classe.

Nas marcas figura tudo: desde simples letras e sinais incom- preensíveis, fachadas de edifícios, ruas e praças, monumentos, retratos, tipos populares, etc., até aos desenhos evocativos dos grandes acontecimentos que impressionam a opinião pública, tais como, entre nós, os centenários comemorativos da morte de Camões, do descobrimento do caminho marítimo para a fndia, do nascimento de Santo António, a implantação da re- pública, a primeira travessia aérea do Atlântico por Gago COU- tinho e Sacadura Cabral, artistas e espectáculos teatrais e cinematográficos em voga, etc. Folheando os álbuns de marcas da repartição respectiva, é interessante observar como a his- tória e a vida da nação se refletem nesses pequenos rótulos, que em regra têm uma duração efémera, como na vertigem da vida social moderna têm os factos que neles se comemoram, rele- gando os mais remotos para o arcano de recordações mais ou menos saudosas.

0 s desenhos das marcas não revelam, em geral, da parte dos seus autores, um grande esforço artístico. Pode dizer-se que as marcas do registo nacional em que se encontram de- senhos mais primorosos e vistosos são as aplicadas em caixas de charutos e em garrafas; nas destinadas a outros produtos, os desenhos que chamam a atenção pelo lado artístico são meras excepções.

Expostas estas considerações gerais, vamos ver como os assuntos lisboetas tem interessado os lápis dos desenhadores, c prnduzido até ::I de Dezembro de in.39, 170 marcas nacionais - algumas repetidas, para aplicação a produtos de várias classes da tabela - que têm passado pela repartição, reqiie- ridas a registo, registadas, recusadas, canceladas e caducadas.

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Além destas, há mais algumas dezenas, usadas pelos comer- ciantes e industriais, que eles julgaram dispensável submeter a registo, mas cujo número exacto não é possível determinar.

Estas marcas são geralmente litografias em papel ou cartão, e quase sempre coloridas; as destinadas a sardinhas, a azeite e a outros produtos que se vendem em caixas de folha, são estampadas na própria chapa das caixas; algumas são fotogra- vuras; e ainda uma é aplicada por meio de estampilha recor- tada em chapa metálica, e outra gravada no próprio produto.

Em geral não têm estas marcas qualquer indicação do nome do desenhador, nem mesmo da litografia onde são feitas; con- tudo há duas marcas, das mais artísticas e interessantes da série lisboeta, que têm a subscrição de serem desenhadas e litografadas por Henry Gris. As outras oficinas donde têm saído marcas, gravadas e litografadas, com indicação da proveniência, são: Lit. Mata & C.", de Portugal, de Lisboa, Artística, Espe- rança, Sales, Nacional (Porto), A Ilustradora, P. Marinho, Freire gravador; e os desenhadores que subscrevem algumas marcas são: A. Morais, J. Alves, Mirandela, Rafael.

Podem ordenar-se as marcas com assuntos lisboetas, nos seguintes gmpos, conforme o objecto ou a referência que contêm:

1." - Vistas de Lisboa e do seu porto; 2." - Torre de Belém; :i." - Igrejas; 4." - Monumentos; 5." - Estabelecimentos industriais; 6." - Estabelecimentos comerciais; 7." - Ruas, praças, pontes, edifícios públicos e teatros; 8." - Santo Antonio de Lisboa; 9." - Tipos populares;

10." - Escudo d'armas de Lisboa; 11 .O - Denominações; 12." - Diversos assuntos.

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As indicações que vamos fazer relativas aos proprietários das marcas registadas são as constantes dos livros da Repar- tição da Propriedade Industrial, referidas ao dia 31 de De- zembro de 1929. Muitas delas têm sofrido alterações e trans- ferência de proprietários; vários estabelecimentos com marcas registadas têm findado; diferentes marcas têm desaparecido do mercado. Passamos porém em claro todos estes incidentes, porque não os julgámos de grande interesse para os fins do presente estudo.

. Vistas de Lisboa e seu porto:

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Há uma marc de Joaquim Dias Ferreira (n." 3.849), que parte da cidade de Lisboa vista do mar; nela apenas se poaem identificar a muralha mar- ginal marítima, 2 le Relém, e as torres da Igreja da Estrela; o resto osição consiste em casas metidas a esmo; era destinada a chitas.

Outra marca (n.OS 7.210 e 18.398), apresenta a muralha do cais, e seus armazéns do porto; no horizonte perfilam-se as torres da Igreja da Estrela e a Torre de Belém; pertence à firma Manuel A. F. Calado & C.", e destina-se a pacotes de secante.

Numa terceira marca, que não chegou a ser registada, fi- gura uma das projectadas pontes sobre o Tejo, entre Lisboa e Almada; era destinada a panos de algodão.

2." - Torre de Belém

É este o monumento lisboeta que mais tem atraído a atenção dos comerciantes e industriais para figurar nas suas marcas,

996 havendo cerca de 50 em que se vê esta jóia da arquitectura

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manuelina, ora como assunto principal, simples ou estilizada, ora como acessório ou quase perdida nò meio dos outros mo- tivos da ornamentação da marca.

Na impossibilidade de fazer referência a todas as marcas que contêm a Torre de Belém, mencionaremos como mais in- teressantes as seguintes:

a) Marca da Companhia Portuguesa Higiene (n." 27.646), que representa um painel de azulejo estampado a cores, azul e amarela, em que uma cercadura mui artística emoldura a Torre de Belém; o colorido e o bom acabamento da marca dão perfeitamente a ilusão do que pretende figurar; destina-se a ((água de toucador)), e foi feita nas oficinas de Henry Gris & C." (Lisboa), que a subscrevem.

Marca da Companhia Portuguesa de Tabacos (n." 37.798), que representa uma janela dupla em estilo manuelino, por cada um dos vãos da qual se avista uma parte do Tejo, e num deles o perfil da Torre; as cores do quadro, e o emoldurado doirado, com baixos relevos, em que se divisam os vultos do Infante D. Henrique e de Vasco da Gama, dão à marca um aspecto artístico muito interessante.

b) Duas marcas da Companhia ((A Tabaqueira)) (n.Oq7.407 e .37.412), também têm como assunto principal a torre metida numa cercadura em estilo manuelino; as cores azul e amarela estão muito bem combinadas para darem à marca um aspecto atraente.

c) A Compãnhia ((Portugália Filme, Ltd.5) apresenta na marca (n." 21.159), o perfil da Torre em negro, envolvida por um cabo em anel formando moldura; e J. N. dos Santos e M. de Albuquerque registaram uma marca (n." 38.541), tam- bém destinada a fitas cinematográficas, que figura um painel de azulejo com uma moldura em estilo manuelino; o objecto do quadro, como na anterior marca, é apenas a Torre de Belém.

d ) A travessia aérea do Atlântico por Gago Coutinho e Sa- cadura Cabra1 sugeriu algumas marcas, nas quais, ao lado da Torre de Belém. evocação da passada façanha de Vasco da 99'7

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Gama, se comemora com um avião o heróico feito daqueles ilustres oficiais da marinha portuguesa; tais são as marcas de Lourenço Fernandes (n." 30.850), destinada a vinhos; de C. Fuzeta (n." 30.248), e de J. J. Tavares (n." 30.081), desti- nadas a conservas de peixe; e a de Paulino & Irmão (n." 32.955) destinada a azeite.

e ) Como delicadeza de desenho e de estampagem deverão

mencionar-se as marcas de J. N. Danes & C." (n." 3.106), destinada a vinho, e a de Santos & Mendonça (n." 5.689), destinada a conservas de sardinha.

f ) São também dignos de mencão: o rótulo para vinhos, de Spratley & C." (n." 38.329), feito em duas tiragens, mostrando a primeira a Torre em tom esbatido, e consistindo a segunda em grinaldas de parras e cachos de uvas, e nos dizeres sobre- postos à Torre; e a marca colorida e mui vistosa da Fábrica Âncora (n .9 .958) , destinada a licor de ginja, em que a Torre, estampada a sépia, se destaca no meio dos outros motivos da ornamentação do rótulo.

A marca de J. E. de Matos Ferreira (n." 36.134), destinada a envólucros de pastéis, apresenta a ideia original e extrava- gante, da colocação da Torre de Belém ao lado da Torre dos Clérigos, da cidade do Porto.

3 . O - Igrejas:

A igreja que mais tem predominado nas marcas é a de Santa Maria de Relém. O comerciante Jerónimo Martins es- colheu o convento e a Igreja dos Jerónimos para figurar em algumas marcas da sua casa, destinadas a diferentes produtos (n.Oq.560, 6.860, e outras).

Outros industriais e comerciantes adoptaram o mesmo templo como objecto decorativo para as suas marcas; e além

228 deste ainda se encontra a Igreja da Estrela na marca de

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J. Coelho (n." :3'7.26:3), destinada a velas de iluminação, e a Igreja de S. Paulo na marca de P. dos Santos Alves, 'Ltd." ( n." 9.052), destinada a latas de rebuçados.

Quando se pensava em erigir em Lisboa, na actual Rua Vinato, um templo com a invocação da Imaculada Conceição, uma firma comercial A! N. da Silva & J. E. da Silva tratou de fazer registar duas marcas (n."" 8.7749 e 8.750), destinadas a caixas de papel de cartas, em que figuram os projectos de dois aspectos dessa igreja; o templo não passou dos alicerces, e sobre estes construiu-se a Maternidade Alfredo da Costa; a marca desapareceu.

4." - Monumentos:

0 s monumentos de Lisboa que figuram nas marcas são: a) De Eduardo Coelho (n." 8.064), de Basto & Baptista;

destinada a papel de cartas. b) De Eça de Queirós (n." 7.181), de Matos & Figueiredo;

destinada a panos de algodão; foi recusada. c) De Luís de Camões (n." 23.194), de Policarpo Ramos

& C.", destinada a latas de conserva de sardinha. d) De Afonso de Albuquerque (n."" 18.652 e 18.653), de

Correia & Matos, Ltd.", destinadas a vinho e a azeite. e ) Dos Restauradores (n." 29.14-), dc Correia, Sonsa 8: C.8,

dcstinada a conservas de peixe. f ) Estátua equestre de D. José (n." 7.355), de Sandman &

C." (herdeiros) ; num rótulo destinado a garrafas de vinho. g) Coluna ~nonolítica da Praça do Município (n." I:3.357),

de Mendonça Viana & Silva, destinada a caixas dc papel de cartas.

h ) Escultura rcpreçentando o Rio Tejo, nuin dos lagos da Avenida da Liberdade (n." 16.096); da Companhia ((Cimento Tejo)), destinada a rótulos de barricas de cimento, e a outros papéis da Companhia. 899

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5." - Estabelecimentos industriazs:

Muitos industriais têm gostado de representar nas marcas as fachadas ou os conjuntos das suas fábricas. Passamos a fazer menção daquelas em que se acham representados edifícios de Lisboa:

a) A Companhia de fiação e Tecidos Lisbonense tinha duas marcas iguais (n."" 218 e 16.010), que representavam a fachada oriental da sua fábrica em Alcântara, hoje muito modificada; destinavam-se a panos de algodão.

b) A Companhia Nacional de Estamparia e Tinturaria tem registadas também duas marcas iguais (n."".927 e 8.837), que mostram a vista do conjunto dos seus estabelecimentos fabris no sítio da Ponte Nova, junto à ribeira de Alcântara, próximo de Campolide; no primeiro plano vê-se a ponte que deu o nome ao sítio e à fábrica, e no último o Aqueduto das Aguas Livres sobre o vale de Alcântara; destinam-se a panos de al- godão.

c ) A Companhia Produtora de Malte e Cerveja, Ltd.a, SU- cessora da Portugália, apresenta nas marcas (n.O"O.484 e 20.485) a vista da sua fábrica de cerveja, na Avenida Almi- rante Reis.

d) A Sociedade Industrial de Chocolates (SIC), ficou com as marcas da firma A. J. Iniguez & Iniguez, Ltd.a (li."" 5.018, 10.931 e outras), representando a fábrica de cho- colates e bonbons que existiu na Avenida das Cortes, actual- mente Avenida Presidente Wilson; e adoptou, modificadas, as da firma União & Frigor, Ltd." (n.""0.701 e 33.366), que mostram a fachada da fábrica daquela firma, na Rua 24 de Julho, onde actualmente são os escritórios e as oficinas dos vários artigos que a sociedade SIC fabrica.

e) A Companhia União Fabril tem numa das suas marcas (n." 2.463), as fachadas da sua fábrica em Alcântara, sobre

930 a Rua 24 de Julho e sobre a Travessa do Baluarte.

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f ) A Fábrica Vinte e Quatro de Julho, na tua da mesma denominação, possuia uma marca (n." 974), registada em 'nome de Joaquim Antunes dos Santos, na qual estava representada a fachada da fábrica, que então fabricava fósforos de pau.

g) A Fábrica de Bolachas da Pampulha, Ltd.", situada entre a Pampulha e a Rua 24 de Julho, tinha como forro exterior e marca das suas caixas de bolachas e biscoitos, uns rótulos reprcscntando a antiga fachada da fábrica sobre a Rua 24 de Julho, e o depósito para venda na Rua dos Retrozeiros; não cstavarn rcgistaclas.

ti." - Estabelecitnentos co~tlevciais:

Da mesma forma que os industriais, também os comer- ciantes têm achado interessante exibir nas suas marcas os es- tabelecimentos de que são proprietários. As fachadas das lojas de 1,isboa que se encontram nas marcas mais dignas de menção são as seguintes:

a) Ourivesaria da firma Fraga & C." (n." 18.800), na Rua da Palma, n.Os 76 e 78; é uma litografia a cores e dourado, mui vistosa, que os proprietários oferecem como brinde.

b) Ourivesaria de J. M. & Pedro Fraga, na Rua da Palma, n." 82; é uma marca não registada, impressa em cartões com o feitio de concha bivalve, também destinada a brinde e reclamo da casa.

c) Grandes Armazéns do Chiado (n."" 5.128 a 5.138, e outras não registadas); as marcas representam a fachada do corpo central do estabelecimento no topo inferior da Rua Garrett, e as frentes sobre as ruas do Carmo e Nova do Al- mada; destinam-se a vários produtos das Fábricas de Nunes dos Santos & C.", proprietários da marca.

d ) Tenda Cunha1 das Bolas (n." 12.563), na Rua da Rosa; registada em nome da firma António Nunes & Silva. 831

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e ) Loja das Meias (n.OY7.932 e 17.934), na esquina do Rossio e Rua Augusta; registada pela firma Pimentel Costa & Rosado.

f ) Papelaria Verol (n." 7.353), na Rua Augusta; destinada a caixas de papel de cartas.

g) Papelaria Progresso, na esquina das ruas do Ouro e da Vitória; marca não registada, destinada a papel de cartas.

h) Casa de Muitos Artigos, de A. L. Freire, na esquina das ruas do Ouro e da Vitória; marca não registada, destinada a papel de correspondência da casa.

7.0 - Ruas, praças, pontes, edificios pziblicos e teatros:

a) P r a ~ a do Comércio, com o monumento de D. José e o Arco da Rua Augusta; figura nas marcas de: Leopoldo Wagner (herdeiros) (n." 3.608); é uma das marcas coloridas mais vis- tosas e bem acabadas; destina-se a licor de tangerina da Fá- brica Ancora.

Oliveira Soares & C." (n." 5.346); destinada a panos de algodão.

Sociedade Industrial de Chocolates (n."" 24.952 e 24.933). b) Arco da Rua Augusta; está representado nas marcas de: Ricardo Martins da Silva & C." (n." 4.057), destinada a

pacotes de pós de goma. Associa~ão de Socorros Mútuos dos Empregados do Estado

(n." Yd.ltk2); destinada ao cartaz anunciador dos fins da Asso- ciação e aos papéis da correspondência.

F. Marques Júnior & C." (n." 23.303), destinada a papel de cartas; contém também uma vista da Torre de Beiém.

Verol & C."; esta casa possui duas marcas, não registadas, uma das quais é um rótulo muito complexo, destinado a papel de cartas, contendo também na sua composição, além do Arco,

939 a marca registada acima referida (n." 7.352), e os retratos dos

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fundadores do estabelecimento; a outra representa, ao lado do Arco, um militar armado e equipado, na posição de ccsentidon, o que há muito tempo tem sido distintivo daquela casa.

c) Avenida da Liberdade; encontra-se nas marcas da Com- panhia Pu'acional de Estamparia e Tinturaria (n.Oq.929, 1.930 e 8.836), destinadas a panos de algodão; e na marca de Tei- xeira Rocha & C." (n." 22.8-20), destinada a papel de cartas.

d) Ponte Nova, sobre a Ribeira de Alcântara, próxima de Campolide; está representada um tanto esquemàticamente nas marcas iguais de Pinto & C." (a0-29 e 1.9'26); da Com- panhia Nacional de Estamparia e Tinturaria (n.O 8.838); e de Guilherme Graham Júnior & C." (não registada); todas destinadas a panos de algodão.

e ) Edifício da Ciimara Municipal (n." 10.803); marca de Luís Borges da Silva, destinada a penas de escrever.

f ) Teatro Politeama (n." 22.273) ; representa a fachada deste teatro na Rua Eugénio dos Santos, e destina-se aos cartazes anunciadores dos concertos sinfónicos promovidos por Luís An- tónio Pereira, em cujo nome está a marca registada.

8." - Santo António de Lisboa:

O popular santo lisboeta também deu assunto para ilus- tração de' algumas marcas. A comemorayão do centenário do nascimento do santo, que se efectuou em Lisboa em 1805, originou o registo da marca de António Dias (n." 1.785), des- tinada a sabonetes.

A marca mais artística é a da. Companhia Portuguesa de Higiene (n." f>H.814), que representa um painel de azulejos a cores, amarela e azul, estando o santo, com o menino ao colo, metido entre i vasos de manjericos em baixo, e 2 cravos em cima; destina-se a uma loção para o cabelo, e saiu das oficinas de Henr.~ Gris, como a marca contendo a Torre de Belém (n.O 17.646), já mencionada, e outras de que aqui não nos ocupamos. "233

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Encontra-se ainda a imagem do santo na marca de Dio- nísio Vasques (n." 20.394), destinada a café torrado; e na da Companhia dos Tabacos de Portugal que precedeu a n." 13.766, e que deu origem à denominação de untonino: aos cigarros, ainda hoje assim conhecidos.

9." - Tipos populares:

Apenas um único tipo das ruas de Lisboa se encontra re- presentado nas marcas: é a varina ou peixeira; escolheram-no Guimarães & Neves para as suas conservas de peixe (n.Os 7.445 e 7.0'21); e a Companhia Comercial e Industrial Portuguesa, Ltd.", para marca de diferentes produtos compreendidos nas classes 66: e 67." da tabela (n." "225 e 31.226, 31.554 e 31.553).

10." - Escudo das Armas de Lisboa.

Nalgumas marcas registadas e não registadas figura a ca- ravela do escudo das armas de Lisboa, com os corvos à proa e à popa, e mais ou menos deformada conforme a fantasia dos desenhadores. Numa das marcas (n." 142) escreveram a pa- lavra LISBOA no painel da popa, mas esqueceram-se de re- presentar os corvos.

11." - Denominações:

A referência directa à palavra Lisboa, ou a. sítios de Lisboa encontra-se em várias marcas:

a ) Lisboeta (n." 21.269), de Silva & Ferrugem; destinada a rebuçados.

b ) A Lisboeta (n.""8.810 e 38.812), de Joaquim Silvestre 934 Marques; destinada a artigos de vestuário e calçado.

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c ) Rossio (n.OV38.638 a 3R.640), de Seixas Dias, J-td.", destinada a artigos de vestuário; os seus proprietários têm o estabelecimento comercial na Rua do Arco do Bandeira, com janelas para a Praça de D. Pedro ou Rossio.

d ) Original Lisbon Wine (n." 38.981), e Imperial Lisbon Wine (n." 38.635), da Sociedade Vinícola Vale Formoso, Ltd.".

e ) Royal Lisbon Wine (n." 38.952), de Abel Pereira da Fonseca, Ltd.".

f) Vinho de Lisboa (n." 35.731), Lisbon Wine ( a 0 38.462), e Special Lisbon Wine (n." 38.625), de José Domingos Bar- reiro, Ltd.".

g ) Kzng Lzsbon IYzne (n." 38.804), de Gomes de Paiva, Barros 6t C.", Ltd.".

h ) Lzsbon Brand (n." 35.90.3), da Sociedade Lusitana de Conservas, Ltd."; destinada a latas de conserva de peixe.

r ) Café Jerónimos (n." 27.961), dos Estabelecimentos Je- rónimo ilIartins & Filho; alusão ao Convento dos Jerónimos, como contém outras marcas da mesma casa comercial.

j) Santa Clara (n." 35.825), da Sociedade Química In- dustrial Portuguesa, Ltd.", que explora a fábrica conhecida por Fábrica de Santa Clara, situada no campo da mesma deno- minação, próxima à antiga l4undição de Canhões; destina-se a ser gravada em sabonetes. A mesma fábrica tem várias outras marcas, nZo registadas, cm que figura a denominação Santa Clara, irnpressa nos papéis destinados a envólucros dos sabo- netes.

12." - Diversos:

Reservánlos Cara este gmpo 3 marcas que, pelo assunto, não se compreendem nos anteriores:

a ) Marca de António da Costa & Costa (Filho) (n.OV.636 e 'i.@$), que representa o candeeiro reclamo que .o estabele- 935

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cimento daquela firma, conhecida por ((Casa das Bengalas)), tem no passeio em frente da loja; destina-se a artigos das classes 54." e 56.", objectos de ourivesaria, bengalas, etc., mas aplicam-na os seus proprietários a papéis de escrituração da casa.

b) As outras marcas são a reprodução do conhecido re- trato do Marquês de Pombal, pintado por L. Vanloo e J. Vernot, de que se fizeram reproduções desenhadas por A. J. Padrão e J. S. Carpinettus, e gravadas em cobre por J. Beau- varlet; uma das marcas (n." 7.'792), pertence a João Nepomu- ceno, e destina-se a caixas de conserva de peixe; a outra é um rótuio de papel muito bem impresso e colorido, que cons- titui por si só um quadro bastante vistoso; é da firma Guilherme Graham Júnior & C.", e destina-se a fazendas de algodão ((chita Pombal)).

Tendo passado em revista as marcas ou tipos de marcas da série lisboeta, vê-se que estas constituem 4,s por mil das que têm passado pela Repartição da Propriedade Industrial, para efeito de registo, (não incluindo as usadas pelos interessados que não têm sido registadas), e que o assunto que predomina nas mesmas marcas é a Torre de Relém, em cerca de 29 por

cento das da série de Lisboa. A colecção completa das marcas

registadas, como foram ou têm sido usadas pelos seus proprie- tários, é impossível hoje de reunir, porque não só muitos in- dustriais, e comerciantes, ou os seus estabelecimentos, têm desa- parecido, e com eles as suas marcas, mas porque muitas têm caído em desuso, e os seus proprietários, considerando os rótulos corilo papéis inúteis, t&m-se desfeito deles, não lhes ligando mais importância do que o público consumidor, sendo quase impos- sível encontrar um único exemplar de muitas dessas marcas

postas de parte. Aqui fica a sua recordação para conhecimento

936 das gerações futuras.

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SOBRE UMA GRAVURA QUINHENTISTA D E LISBOA

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Sobre uma gravura quinhentista de Lisboa ('"1

Tendo ((A Feira da Ladra)) publicado a pág. 75 do presente volume, um artigo da autoria do dr. Pedro Vitorino, ilustre conservador do Museu Municipal do Porto, propus-me ver se era possível autenticar como sendo de Lisboa, a vista repre- sentada na gravura que acompanha o referido artigo.

A obra donde a gravura é reproduzida existe na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, faltando apenas o vo- lume XIII da parte que trata da América. Aí está registada no catálogo da Biblioteca dos Frades (do Convento de Jesus), com o título latino transcrito no citado artigo.

Cada uma das partes desta colectânea de narrações de viagens e de descrições de usos e de objectos que surpreen- deram os viajantes no século XVI, tanto na América como nas fndias Orientais, tem seu título próprio, muito extenso, e que resume os diferentes assuntos de que trata.

A 3." parte da obra tem por titulo: Historicz anti$odum,/sizce/Novi wbis, Qui vul-/go Ame-

riccz G India Occidenta-/tis Nomine usurpatztr, Pars tertia/.. . Jo. Ludovice Gottofridi. - Sumfitibus Mathczi Meriani - Francofurti - Anno M. DC. X X X .

Esta 3." parte contém a narração de 3 viagens. Em primeiro lugar a de Johannes Stadius (de Hesse), que em 1547 chegou a Setúbal, veio para Lisboa, e daqui partiu para o Brasil.

(*) Publicado em A Feira da Ladra, vol. 3.0, 1931. 939

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A estampa está na pág. 1, mas não tem título nem legenda; a que se transcreve na pág. 7.3 desta publicação, fica por cima da estampa, e é o título do primeiro dos capítulos em que a narração é dividida.

A mesma estampa se reproduz a pág. 102, sem ligação alguma com o texto.

Na mesma 3." parte da obra acha-se, em terceiro lugar, a narração da viagem de Johanne Lerio (de Borgonha), que partiu de Juliobona (actualmente Lillebonne) para a América, sem ter tocado em Lisboa. Esta narração tem por título: Navi- gatio/in/Brasiliam A- lmericace, qua av-lctoris navigatio qual lnzemorice prodenda in mure vide-lrit. . . a Johanne Lerio Burgundo.

A citada estampa vem reproduzida na pág. 146, que é a primeira da narrativa.

A 7." parte da obra tem por titulo: Americce pars VII-lVera et incunda/descriptio prcecipua-

rum/quarundam Indica Occidentalis/regionum G Insularum.. . Anno Christi M . DC. X X V ; e contém a narração da viagem

de Vlncus Faber (de Straubigen), que em 1534 partiu de Cádis para a América, sem ter vindo a Lisboa.

A mesma citada estampa se repete a pág. 3, intercalada no texto desta 7." parte.

O desenho da gravura não tem ponto algum de contacto com as vistas conhecidas da antiga Lisboa; é impossível achar qual-

quer semelhança entre os edifícios, as torres das muralhas, e mesmo o aspecto geral, com alguma coisa da nossa velha cidade; não vi no texto referência alguma à estampa; e o facto da sua inserção a propósito das viagens de Johanne Stadius, de Johanne Lerio e de Ulricus Faber, e ainda repetida na primeira daquelas narrações, leva-me a crer que a estampa é apenas urna vinheta ou gravura decorativa, ou então que quere representar o cais do porto de alguma cidade da Alemanha ou

940 da Holanda, mas nunca o de Lisboa.

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PANORAMA D E LISBOA EM AZULEJOS E X I S T E N T E NO MUSEU NACIONAL D E A R T E A N T I G A

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Panorama de Lisboa em azulejos existente no Museu Nacional de Arte Antiga (")

Desde alguns anos que se acha patente, no grande átrio do Museu Nacional de Arte Antiga no Largo das Janelas Verdes, um extenso lambris ( I ) de azulejos, dividido em vários painéis emoldurados, e assentes os azulejos com gesso sobre fundos de madeira.

Este lambris representa a vista panorâmica a azul, da margem direita do Tejo, desde a Igreja da Madre de Deus, a nascente, até ao extinto Convento de S. José de Ribamar, a poente, e tem, como assunto principal, a cidade de Lisboa.

Actualmente (1932) está dividido em dez painéis distintos, com o comprimento total de 20m,58, fazendo os desenhos segui- mento de uns para outros; todos têm altura igual de 8 azu- lejos (lm,13), mas largura variável, compreendida entre 13 e 17 azulejos. É constituído por 1.224 azulejos, mas nem todos estão inteiros, pois que, devido provàvelmente às exigências da largura das paredes onde tiveram de ser aplicados, alguns foram cortados ao alto, formando meios azulejos, e até tiras.

O lambris esteve aplicado no prédio n." O do Largo de S. Tiago, antigo palácio que foi do Conde de Tentúgal, e que

(*) Publicado em Arnzas e T~ofdus - Revista de História e Arte, vol. 1, 1932.

(1) Silhar. 843

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pertencia, quando o Visconde de Caçtilho escrevia o vol. VI1 da 2.e parte da sua monumental Lkbna Antiga (1390) aos her- cleircs de EugSnio Ruçtan; os azulejos foram comprndos nos meados do ~Cculo XIX, por diligência do Marquéç de Sousa Holstein, vice-inspector da Academia de Relas Artes, a Fran- cisco de Sande Salema, para a mesma Academia, onde estiveram durante milito tempo encaixotados (9.

Mais tarde, por 1903, foram encaixilhadoç, e em 1939 foram novamente encaixilhadoç, d a n d ~ ç e diversa divisão aoç pain&is, que são actualmente dez, como dissemos (=).

Entre virios proprietários que foram do palácio, hotive um, por nome António da Gama Lobo Pereira, que, por ter man- dado proceder a obras importantes em 1619, o Sr. Visconde de Castilho presumiu que teria sido quem mandasse fazer o lambn-s para ornamentar a casa.

Todavia, devemos colocar cerca de 100 anm mais tarde a épma da feitura do l awb~is , pois que muitos edifícios ali repre- sentados s6 existem a partir do segundo quartel do século xvrrr.

Se as datas citadas pelo Padre João Baptista de Castro estão certas, e se o que está reprmentado nos desenhos no Largo de S . João Nepomuceno 6 o 1ioçpicio da mesma invocação, fun- dado em 1737, deveríamos colocar posteriormente a este ano, a data da feitiira do lamb~s.

Por outro lado, vendo-se drs~nhada a torre do relogio do Paçn Rcal íla Rih i ra com a rlispmiçnn que tinha antes das mo- dificações que nela fez T I . JwXo V, em 173-1, para a montagem cio sino de 11Ml nrrobas. devcn'amos preqiirnir que a data dos azu1cjw; fojse antcri!ir a 1734.

( 2 ) V. I-isbon Air!; ,~n, 9.a pnrtc, Bnirro.~ Orlri~lnis , por 4íi1i0 de Castilho, tomo VTI, 1Plin. livro VXiX. cnps. XII a XV. O ~itoprietirio, Francisco Salriiia, faleceir. 9-yrinrlo J . de Cíistilhn. r n i 185.1. Idcm. idem, pig. 126.

(3) V. Lisboa AfilF'jie, O Bcriruo Alto de Lisbon, 2,s edição, vol. V, 4),a 1904, p9g. 369.

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Porém, conio as datas dos dois factos citados estão em anta- gonismo, que pode enc~nt ras explicação em ter sido composto o panorama com retalhos tirados em diferentes ocasiões, cerzidos depois, e driçenhados rlurante muitos meses no vidrado cni dm azulejos, julgamos nào nos desviar muito da verdade fixando a dala dos paineis nas proximidades do ano de 1734.

05 desenhos parciais, de que o desconhecido artista se serviu para ccirilpor o panorama de Lisboa, r i o foram, na sua reunião, subordinados rigorosamente k sua exacta e suceçi.iva situação tupgrificã.

Sc- isto 6 ashirn para os painéis centrais, então quando ciicgou aus dos cxtrcrnos o desenhador pUs de. parte toda a considerqão das distâncias e acumulou ou encaixou os edifícios ao acaso ou onde supus que melhor efeito prcdwiriam.

Se bem que muitus edifícios estejam incorrectamente repre- sentados, e alguns mesmo esquemiticamente, come se pode ven-

ficar confrontando-os com as que ainda existem, contudo e me- recimento du artista não se pode pôr em dúvida, atendendo

época em que r, desenho foi feito e a especialidade do gknero de pintura; e como documento iconográhco da Lisboa da s~culo xvrrr, conquanto não seja tão fidedigno como o Sr. Vis- conde de Castilho presumia, (') o lanabvis tem h t a n f e valor, apesar das suas flagrantes uicorreqões,

E ficil identificar quase todas as construções e locais que constam do panorama; contudo ainda tivemos algumas dúvidas, e as nossas identificações r: referências estão sujeitas a rectifi- caçães que um exame mais detalhado, e confrontos mais rninn- ciosos, possam sugerir.

(4) V. Lisboa Adaga, O Blaiwo Alto de Lishoo, 9.. edir^ vo2. V. pig. 370. Fica satisfeita agora a aspira$ão do erudito inv-stigador da nossa velha cidacle, de ser reproduzido r publicado o re f rn-o de Lisboa que se encontra no lambris de azulejos. 945

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Vamm descrever ràpidamente toda a vista panorâmica, fa- zendo salientar os edifícios e locais nela representados, e para facilitar as referências, numeraremos os painéis com os alga- rismos romanos I a X, a começar do lado esquerdo ou ocidental.

Os assuntos principais deste painel são o Convento de S. Jose de Ribamar e a Torre de Belém.

O convento, de r e l i g i m Arrábidos, fundado em 1559 por D. Francisco de Gusmão, é hoje, bastante modificado, proprie- dade do Sr. Conde da Foz. Todavia a escada que lá se vê repre- sentada, talhada na rocha, e comunicando o adro com o que era então praia, ainda existe com o mesmo aspecto, no extremo ocidental do jardim de Algés.

O cruzeira do adro existe mais em baixo, defronte do palácio onde é hoje o Colégio de S. José de Ribamar, e onde funcionou há anos o Casino Ribamar.

Vê-se em seguida a Ponte de Algés, construída pelo Senado de Lisboa no ano de 1608, e representada com 5 arcos, con- quanto conste que nunca houvesse tido mais do que um ( 5 ) .

A Torre de Belém revela muito pouco escrúpulo do dese- nhador. É este um monumento que, bem que patente a todas as vistas, tem sido vítima de muitos artistas que, até à descoberta da fotografia, o representaram geralmente deformado nos seus quadros ou desenhos ( 6 ) .

( j ) Sobre o cruzeiro e a Ponte de Algés, veja-se o Boletim de Arquitectura e Arqueologia, tomo X , 4.. série, n.O 6, 1905, pág. 277.

( 6 ) O desenho que representa a Torre de Belém tão deformada como a que se vê nos azulejos, é o da pág. 133 da obra: Les Travaux de Mars ou I'Art de la Guerre, por Allain Manesson Mallet. - 1.0 vol.,

246 Paris, 1684.

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Por trás da Torre de Belém vê-se uma propriedade murada, que deve ser a extensa quinta do Duque de Cadaval, a qual chega quase à Ribeira de Algés. A cerca e a casa desta quinta ainda se prolongam para o painel 11.

Neste painel nota-se primeiro na praia, perto da Torre de Belém, um aglomerado de casas que porventura querem repre- sentar o Posto Alfandegário e as Casas de Saúde, já ali insta- ladas, segundo parece, desde o meado do século XVI (').

Segue-se o Mosteiro da Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Domínicas Irlandesas, com a grande torre octogonal da sua igreja, fundado em 1626 por D. Iria de Brito, primeira Condessa de Atalaia.

Um pouco mais para a direita vê-se a Quinta da Praia, com o palácio com 4 torreões nos ângulos, cuja data de constru@o ignoramos. No 3." quartel do século XVII pertencia aos 2.O"on- des de S. Lourenço; o 5." Conde deste título, falecido em 1725, vendeu-o a D. João V, passando a ser conhecido p r Casa Real de Campo de Belém, e este rei com ele presenteou, poçterior- mente a 1729, o Marquês de Marialva, que o deixou, por sua morte, a seu filho D. Diogo, tendo-o herdado a Marquesa de Loulé, em cuja casa permaneceu até 1929, em que os seus her- deiros o venderam ao Estado para nele se instalar a Faculdade de Letras de Lisboa, mas para onde foi afinal o Liceu D. João de Castro

Por cima deste palácio ostenta-se a fachada do Convento e Igreja dos Jerónimos, com a sua cxtensa cerca até ao alto do monte, no qual se divisa a Capela de S. Jerónimo, e mais abaixo a de Santo Cristo.

(7) V. Rainhas de Portugal, por F. da Fonseca Benevides, vol. 11, 1879, pág. 27.

(8) Apontamentos fornecidos pelo sr. JosB Pedro Folque, último proprietário do palácio, que o vendeu ao Estado. 847

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Ao convento segue-se uma ponte, tarnMm com 5 arcos, e mais acima vê-se outra com rn só arco, sobre um riacho, Ri- beira dos Pminhos, que descia sensivelmente paralela A actual Rua dm Qerbnirnoç, e vinha dar A praia. A mesma pwte, mas apenas com um arco, acha-se representada no quadro a bleo de Dirck Stoop, conservado no Museu Real de Haia, e cujo assunto principal 6 o Moçtelro dos Jeránimos.

Ao longe avista-se çonfusamentc um edifício que 6 porven- tura o palácio da antiga Quinta da Calheta, que no principio do çéculo xvrn pertencia a D. Pedro de Vasconcelos e Souça, a quem D. JGri V a comprou. Também era conhecida por Quinta do Meio ou do P5tio das Vacas, no reinado de D. José, e ali estiveram instaladas as Secretaria5 de Estado, o Arquivo Militar e, actualmente, é a kretaria do Jardim Colonial-

Seguem-se duas propriedades muradas, separadas por urna rua; esta corresponde g actual Travessa da Boa Hora, e sendo assim, as duas propriedades serão:

A da esquerda, a Quinta das Aguias, ou da Condessa da Junqueira, actualmente pertencente ao dr. 3,Ianuel Crtroça. O prédio e a quinta foram cwstniídos em ITIG, e foi seu segundo proprietário Diogo de 3Tendonça Corte Real, do que proveio serem também conhecidos os predios pelo nome deste filho do minisba de D. João V 19). O palácio está representado esque- miticamente, pois que mmfra 4 xcoç na fachada quando eles realmente são 7; mas o seu aspecto geral 6 suficiente para a identificar.

A da direita 6 a quinta do primitivo solar dm Saldanhas da Junqueira, constmido noç fins do Gculo XVI { I " ) . Pertenceu aos Condeç da Ega e ao Marechal Beresford, e está hoje ai ins- talado o Arquivo Geral do Ministério das Colhias.

(9) V. A Quilrta de Diogo de Jfendonçcl no s f l io da Jrinqueira (extra-muros dn antiga Lisboa), por Artur Lamas - Lisboa, 1924.

(10) V. A Rua da Jicnqneíru, Garras çom]siEadas e anotadas pelo nutor de algunras delas - Artur Lamas - Lisboa, 11138, pág. 7. -

948 Numa pia de cantaria do paI8cío está gravada a data de 1882.

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Segue-se na praia, já na transição do painel I1 para o 111, o Forte da Estrela, sobre o qual se construiu mais tarde uma parte do palácio, não a que fica A face da rua, mas a mai. recuada, que foi do JIarquk dt: h g e j a , na Rua da Junqiieira, Sítio do Alt id~o. E propriedade hoje do sr. Alves Dinis. Nota- remos que a verdadeira situapo deste forte era muito mais h esquerda da representada nos azulejoç.

V<-se primeiro na linha do horizonte a Jgrcja Paroquia! da Ajuda, com a perta principal voltada para o nascente (para a direita), e um cruzeiro no adro.

Mais abaixo está o Palácio de Santo Arnaro, k Junqueira, construido por José Saldanha, por vnlta de l i l ã , e que mais tarde foi de José Ferreira Pinto Basto (I1).

E ainda por baixo uma ponte com 5 arcos, que quererá porvcntura representar a Ponte da Junqueira, que foi objccto de cstudo do falecido junqucirenw dr. Arhrr Lamaç ( I a ) . se- p n d o as dediiçõcs deste douto investigador, a ponte, que no desenho sc vê quase contígua ao Fortc da Estrela, era muito rnais para a esquerda, em frente, aprbximadamente, da quinta a t r i s citada de Dicip de hIendonca, e devia ser fosca, e n~uitras vezrs dezlia estar ufodrrcida, o quc não condiz com a belissirna conçtnição de dvenaria que o dcscnho aparenta.

Segue-se a antiga capela oitavada de Santo Arnaro, com a sua escadaria pela cnçosta, ati- i nosça actual Rua 1." de Maio.

( 1 1 ) V . R Fiibrirri da I ' i , la .41i,~~uc. O Livru d o sPri ccrrtsatírn'o. ,Votirin ?zistbv~cn dcis casos d d J O S L ~ FCYYC~Y(L Pitllo Rnsto e dos sezrs

d i a r ~ i ~ d c n t e s iin Jirngirrirfi , prio rlr. i i r t u i Lanins - I,isboa, 1923. ( 1 7 ) V. A Po>i le drr J f t i i q i i t ,~ rn - I'oiii t iriicny~o lido erli scssa'o de

31 di ,Mitr~o dr 192.q iin -4ssot.1lifrio dos Avy nrfilflgos Porliigraeses, por h r tu r Lamas - Lisboa, 1923. 249

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Continuando para a direita, ao longo da rua, vêem-se umas casas com uma quinta com grandes árvores, que eram então propriedade dos antigos Condes de Sabugosa, quase à esquina da Rua 1." de Maio para a Rua Luís de Cámões, rua esta aberta em t e m o s da quinta dos mesmos Condes.

Fronteiro a esta propriedade fica o palácio que foi dos Condes da Ponte, onde actualmente, depois de consideràvelmente modi- ficado, são os escritórioç, cocheiras, e outras dependências da Companhia dos Carros Eléctricos. O palácio e quinta foram vendidos em 1864, pelos Condes da Ponte (João Saldanha da Gama e esposa) ao Asilo D. Luís, ao qual foram expropriados, tendo sido arrematados em 1874 pela Companhia Cams de Ferro de Lisboa, antecessora da actual empresa de viação.

Perto vê-se um pequeno forte, de S. João da Junqueira, que existiu nos terrenos da mesma companhia, e que foi absor- vido pelas construções para o serviço ainda dos carros ameri- canos de tracgo animal.

Um alto pilar de pedra (?), assente sobre uma base qua- drada com 2 degraus, é que não sabemos o que significana.

Do lado norte da estrada vê-se o Convento de Nossa Se- nhora da Quietação ou das Flamengas, de Religiosas Descalças da Primitiva Regra de Santa Clara, concluído por 15%. O con- vento serve hoje de moradia a famílias de funcionários do ultramar.

Ao convento fica contíguo o Palácio Real do Calvário, com a sua quinta murada, propriedade que por 1580 pertencia a João Baptista Rovelasco; o palácio era no local onde hoje se levanta o grande prédio de 4 andares, que faz esquina do Largo do Cal- vário para a Rua da Creche.

Em frente, do lado sul da Rua de S. Joaquim (hoje 1." de Maio), vê-se o Mosteiro do Calvário, de Religiosas Franciscanas, fundado em 1617; na igreja está actualmente a Esquadra da Polícia do Calvário, e no convento funciona a Escola k á r i a

850 de D. Pedro V, n." 56, para o sexo masculino.

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É curiosa a disposição que o desenho apresenta neste sítio. Parece que os muroç da cerca da Quinta Real e do Mosteiro das Flamengas se prolongavam atravessando a rua ou largo fronteiro, unindo-se ao Mosteiro do Calvário e As casas con- tíguas a este para o ocidente; em cada um desses muros fron- teiros havia um vão de porta. Limitariam assim com a s edifi- cações um largo ou pátio, através do qual se estabeleceria a continuidade da estrada de Lisboa para o arrabalde ocidental? - Qual seria o fim desta vedação? - Obrigação de pagamento de i m p t o de passagem, revertendo este para qualquer dos mos- teiros fronteiros com acesso por aquele pátio?

Na extrema direita, passando já para o painel IV, vê-se o palácio do Fiúza, que pertenceu a antepassados do Marquês de Pombal, antes de ser do Desembargador José Fiúza Correia.

Na parte inferior estão uns moinhos de rodízios, movidos com água da caldeira formada na foz do Ribeiro de Alcântara; lá se vêm dois machos ou burros, carregados com sacos de cereal para ser moído.

IV

A esquerda está a Ponte de Alcântara, de alvenaria, com 6 arcos e em rampas até à parte média, como era geralmente o tipo de muitas pontes antigas (I3).

Na margem oriental da Ribeira de Alcântara distingue-se o Convento do Livramento, perto de uns redentes das fortificações do tempo de D. João IV. Este Convento; de Religiosas da San-

(I" Parece que nos desenhos antigos os vZos dos arcos das pontes eram um acessório convencional; o seu número por isso variava con- fornie os desenhadores.

No desenho da Biblioteca Nacional que representa a Batalha de Alcântara (1380), reproduzido em Alccintara, apontamentos para unta ~~~oi~ograjicd, por João Paulo Freire (Mário) (1929). mostra 3 arcos.

Nuin desenho a tinta, que possuímos, da 2.a metade do século XVII,

apresenta 10 arcos. Oltimamente, quando foi transformada para ser incorporada na

Rua do Livramento, tinha apenas um arco. 251

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tíssima Trindade, foi construído por 1679, e reedificado por 1698, no sítio onde existira uma pequena capela fundada em 1610. Desapareceu, e no seu local está hoje o edifício de uma sucursal da Caixa Geral de Depósitos.

Mais adiante, depara-se, constniído sobre o Baluarte de Al- cântara, o Mosteiro do Sacramento, de Religiosas Dominicanas, com a capela oitavada da sua igreja. Foi fundado em 1612, e está hoje servindo de Depósito Geral de Material de Aquartela- mento do Exército, e de 4." Conçervatóna do Registo Civil de Lisboa.

A meio do painel está representado esquemiticamente o Con- vento de S. João de Deus, fundado em 1629, com a sua pequena cerca para o lado do no; na margem deste vê-se uma fuma.

No lado norte da rua está o Convento dos Mananos, ou de Nossa Senhora dos Remédios, de Religiosos Carmelitas Des- calços, fundado no ano de 1606, e concluído em 1611, em que começou a ser habitado; a sua extensa cerca prolonga-se pela encosta acima.

Ao lado do Convento vê-se o palácio dos Condes de Murça, onde funciona hoje a Escola Industrial de Fonseca Benevides, e por baixo dele, no lado oposto da rua, o palácio que foi dos Viscondes de Asseca, onde é actualmente a Fábrica da Pregaria e Serraria da Companhia Vitória.

Sobre um montículo de terreno está representada a Igreja de Santos-o-Velho, e as casas à sua direita, que depois de terem sido convento, paço real e propriedade doç Lencastres, da Casa de Abrantes, estão hoje transformadas no Palácio da Legação de França. Parece que havia uma rua íngreme comunicando o adro da igreja com a praia, ao longo do muro divisório dos jardins do palácio.

A primeira das ruas que se vê cortando obliquamente para a direita, e em seguida para a esquerda, perdendo-se nas terras do alto do monte, onde está um cruzeiro, é a actual Rua Sara de Matos (antiga Rua das Trinas do Mocambo) , continuada pela

852 Rua de SantJAna à Lapa.

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A meio desta via pública avista-se, do lado esquerdo, a Igreja e Convento de Nossa Senhora da Soledade, ou das Trinas Recoletas, construído por 1657, com a sua pequena cerca murada.

Na rua direita, actualmente Rua da Esperança, quase no extremo do painel, vê-se uma fachada na qual se abre um grande portão com acesso por umas escadas em dois l a n p paralelos à mesma fachada; trata-se do edifício do Convento de Nossa Senhora da Nazaré ou das Bemardas, fundado em 1652, onde habitam actualmente muitas famílias pobres.

Neste painel, no lado esquerdo, vê-se uma série de conventos, com as suas cercas mui próximas, e algumas separadas apenas por uma rua.

Assim, em baixo, está o Convento dos Religiosos Barba- dinhos Franceses, ou de Nossa Senhora da Porciúncula, situado na Rua da Esperança, e construido em 1648 em terreno dos jardins do Duque de Aveiro; a cerca chegava até à praia, em cuja muralha batiam as águas do Tejo.

O Palácio do Duque de Amiro fica logo a seguir, vendo-se a sua fachada sul com dois torreões nos extremos (I4). Era situado em parte no leito do actual Largo da Esperança, e em parte no local do grande prédio que faz esquina deste largo para a Rua da Esperança.

Sobre o mesmo largo, onde existiu um cruzeiro até 1835, deitava a fachada sul do Mosteiro de Nossa Senhora da Espe- rança, fundado em 1530. A cerca deste mosteiro chegava então até à Calcada da Estrela c ao Caminho Novo, hoje Rua João das Regras.

( 1 4 ) V. A Ribeira de Lisboa, por Júlio de Castilho - Lisboa, 1893, cap. XI. 253

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Por cima deste mosteiro vêm-se dois, ambos também de freiras: o de Santa Brígida ou de S. Salvador de Sion, ou das Inglesinhas, e o das Francesinhas.

O primeiro, fundado em 1651, e situado no começo inferior da Rua do Quelhas, foi comprado pelos Jesuítas em 1864 para sua residência, e nele permaneceram até à sua expulsão de Portugal em 1910. A sua cerca parece que era pequena, e ficava encravada dentro da cerca muito mais extensa do Convento das Francesinhas.

A direita do anterior fica o Mosteiro do Santo Crucifixo, vulgarmente chamado das Francesinhas, de Religiosas Capuchas Francesas da Primeira Regra de Santa Clara. Deu-se-lhe prin- cípio no ano de 1667, e começou a sua demolição por 1911. Hoje (1932) está completamente arrazado.

Ao norte destes dois mosteiros vê-se uma extensa proprie- dade murada, que deve ser pertença do palácio que lá se avista, situado na actual Rua do Quelhas, que foi da Condessa de Sar- mento, e onde funciona actualmente o Liceu Filipa de Len- castre.

Segue-se o Convento de S. Bento da Saúde, ou dos Negros, fundado em 1598, construção extensa e macissa, o que lhe per- mitiu resistir ao terremoto de 1755. Serve hoje, como se sabe, de Palácio do Congresso, e em parte da ala norte e das casas da frente, está instalado o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

0 s muros da cerca deste convento definiram o traçado da actual Calqada da Estrela e do terrapleno ou adro em frente da fachada principal sobre a Rua de S. Bento; nesta parte vê-se um portão, e no muro que fica fronteiro ao Mosteiro das Fran- cesinhas está outro portão; devem ser as duas portas do adro a que faz alusão o Padre Carvalho da Costa (I5).

954 ( 1 5 ) V. C o ~ o g ~ a f i a P w t ~ g u e s a - Tomo 111, 1712, pág. 513.

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A enonne cerca do conven'o, ao longo da encosta, encerra, na sua parte mais alta, o Convento de S. Bento ou da Estrela, fundado em 1571, e pertencente à mesma ordem dos Monges Reneditinos. Nele está actualmente instalado o Hospital Militar e o Depósito n." 2 da Farmácia Central do Exército. A pequenez do convento, quando foi feito de origem, é que originou a fun- dação do outro convento no actual Largo das Cortes.

As Travessas de Santo Amaro, de Santo Ildefonso, de Santa Escolástica (actual Rua dos Ferreiros à Estrela), abertas no terreno da cerca dos frades de S. Bento, receberam os nomes dos oragos de outras tantas capelas da Igreja do seu Convento; o mesmo sucedeu com as denominações da Travessa de Jesus Maria José (actual Travessa do Cabo a Santa Isabel) e da Riia de Nossa Senhora dos Prazeres (actual Rua dos Prazeres), abertas nas proximidades da cerca, mas, porventura, em ter- renos pertencentes ao convento.

Em 1800 havia seguidamente: a ) A Rua da Flor da Murta, desde a Rua do Poqo dos

Negros até ao começo da calçada que então chamavam das Francesinhas e hoje da Estrela;

b) A Rua de S. Bento, desde este último limite até ao arco monumental das Aguas T,ivres, que hoje atravessa a ma, mas que não está representado no painel de azulejo porque ainda então não havia sido construido;

c) A Estrada de S. Bento, continuação da ma, que se vê subindo pela encosta desguameçida de casas.

No começo inferior destes armamentos vê-se s palácio cha- mado da Flor da Mzcrta, uma grande fachada branca com I) ja- nelas no primeiro andar; e no alto dos mesmos avista-se o Palácio de D. Rodrigo, ou dos Soares da Cotovia, onde é actualmente a Imprensa Nacional, e à direita o edifício do No- viciado da Cotovia, da Companhia de Jesus, que ocupava o local do edifício da actual Faculdade de Ciências da Universi- dade de Lisboa (antiga Escola Politécnica). 855

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No primeiro plano est5 reprcwntado o pafhcio doç Condeç- -Rarões dc Alvitn, actualmente dos Condcs de Pinhel, com uma rampa de acesso 3 porta principal; e contíguo fica o PalAcio dos Almadas, Provedores d a Casa da fndia, com uma porta monu- mental, que não corresponde A achai arquitectura do pri-dio existente.

A Rua das Gaivotas sobe pela encmta, mas em vez de se

continuar pela Rua dos Poiais de S. Bento, que se vê por cima do Palácio dos Almadas, liga-se incorrectamente & R i ~ a do Vaie, que vai dar ao adro da Tpeja do Convento de Jeçus.

O Convento de Nossa Senhora de Jeçus, de Religiosm da Terceira Ordem de S. Francisco, fundado em 161.5, est6 repre- sentado com irma grande nitidez: de lado eçqiierdo da Tg-reja v$-se o Hocpital de Jrais, da Vener5veI Ordem Terceira da Prnitf.ncia dr! S. Francisco.

No Convrnto firnciona a Academia das Ciências de Lisboa e a Faciildade de Letras da Universidade de Lisboa. A Tg-reja 6. d e s d ~ IRX5, a paroqnial da Fregi~esia das Mercb.

C o n t í ~ o 3 cerca deste Convento fica o Convento do San- tíssimo Sacramento de Reliqiosas Paulhtas da ?erra de Ossa nii Çnnvento do4 Paiilistas, fiindado em 1647: a I p j a , j5 dese- nhada nn painel VI, 6 , desde lRq.5, a paroquial da Freguesia dc Santa Catarina.

Por cima de+ Conventn projecta-çr no hariznritr n ~x3into

3losteiro de Nnwa S n h n r a da Conc~iczn das Freiras Carmrlitas nc<calyns, tamhbm rmhcçitin por fiTostpirn clm Cardais, por ficar 5i tua i in na Riia dnc: Cardnic dp JCTCSIIS (hnje Rira Rdiiardo Corlho) , ?I c~quina para a Riia Fomnca t hoje R ~ i a do SPciiTo) . Fni fiindarTn Prn 1691 r acti~almrntc F iIm asilo de crgw.

A dirrita, projrctandn-se iqlalnirnte nn cPii, v+-?e um grandr rrlificio, que deve cer o Palacio dm Condm de Sourc.

Na orla maritima e 4 5 represrntado um forte ejtrelado, com casas para o aqtinrtelarnento da fiiarniçzo e dtias guaritas nos

256 salientes; julgamos ser produto da fantasia do dmnhador, pois

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que nunca vimos menção de qualquer obra de fortificação im- portante neste sítio; havia nesse tempo apenas um parapeito contínuo para infantaria, desde o Cais do Tojo e Largo do Conde-Barão, até ao começo oriental da Rua da Baavista, se- guindo apdximadamente o traçado das fachadas setentrionais dos prkdios ulteriormente construídos ao longo dos ditos arrua- mentos.

A Calçada do Combro (ou dos Paulistas), e a Travessa do Convento de Jesus estão bem visíveis no desenho, e a Rua Femandes Tomás, paralela à primeira, também pode acompa- nhar-se-lhe o traçado.

VI

Em cima, à esquerda, vêm-se três edifícios re l ig im quase sobrepostos: o inferior é evidentemente o Convento de Nossa Senhora da Divina Provid2ncia, de Clérigos Regulares de S. Cae- tano, também conhecido por Convento dos Caetanos; foi cons- truido por 1650, ampliado em 1698, e actualmente está nele instalado o Conservatório Nacional de Teatro.

O edifício superior da esquerda deve ser o Colégio de S. Pe- dro e S. Paulo, de Ingleses Católicos Romanos, também cha- mado, ainda hoje, dos Inglesinhos; foi fundado em 1632.

O outro edifício superior, da direita, diríamos representar a Ermida de Nossa Senhora da Ajuda e Santos Fiéis de Deus, fundada, em 1551 na Travessa dos Fiéis de Deus, se não fosse a sua fachada principal estar voltada para o sul, quando na realidade na capela existente o é para o nascente, e num plano mais elevado do que o do Convento dos Caetanos. Ao lado deste vê-se imperfeitamente, por motivo de falhas dos azulejos na sua junção, uma torre encimada por uma cruz, que talvez seja a da referida ermida.

Por baixo destas construções avista-se o Palácio do Marquês de Olhão, na Calçada do Combro, onde foi há anos o Correio Geral, e é hoje a sede da Confederação Geral do Trabalho e habitação de famílias pobres. 857

17

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Um pouco para a esquerda v&-* a Emida da Ascendo de Cristo, tmMm na Calçada dos Paulistas, fundada em 1500, mas representada c m um aspecto mui diferente do que actual- mente possui.

Ao lado deIa foram desenhados o grande prédio que ainda existe no alto da Rua de Santa Catarina, e o palacete A es- quina desta rua para a Traves- da Condessa do Rio, inferior- mente & Igreja dos Paulistas, o qual C actualmente de JQ& Mateus de Almeida Mendia.

Mais abaixo, vê-se o Hospício de S. JcEo Nepomuceno e Sant'Ana, fundado em 1787 no Largo de S. João Nepomuceno. onde est8 instalado desde 1858 o Asilo de Santa Catarina.

A ca-sa nobre desenhada por baixo deste Recolhimento ainda IA estb na Rua da Boavista, com as suas oito janelas de sacada no 1.O andar.

As antigas Igrejas de Santa Catarina e das Chagas IA se

vêem fronteiras uma A outra, cada uma no alto do seu pro- rnont6ri0, e separadas por um vale em cujo c6rrego foi traçada a Rua da Bica de Duarte Belo.

Sepe-se no desenho um rnonticulo muito abrupto, que pre- tende representar o Monte de S. Roque, em cujo alto se vê um edifício que, segundo a perspectiva, deve& wr a Casa Rofssa de S. Roque.

Descendo obnquamenfe para a direita, encontra-se primeiro a Imja do Loreto, com a sua torre sineira: em seguida a da Encarnação, também com uma torre elevada: e por Último, na

linha do horizonte, o Convento da Trindade com uma torre que, par falha do azuIejo, parece uma bandeira na fo to~af ia .

Ao longo da praia notam-se sucessivamente oç armaz4ns da Junta do Maranbão e da de Pemambuco, a Casa da Moeda, para aí transferida no ano de 1720, e a Igreja de S. Paulo, com o seu cnizeiro no adro, tendo a porta principal voltada para o p n t e . Depois do terremoto de 1755 a sua reconstmç5o fez-se

9% ficando a fachada principal orientada para nascente.

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Pela parte inferior da igreja está o Forte de S. Paulo ou da Tenência, com os seus armazéns, os quais pertencem aos grandes negociantes de ferro e outros metais, Orey, Antunes & C.".

Este painel abrange principalmente o Arsenal de Marinha e o Monte de S. Francisco cheio de casario.

Perfilando-se no céu vê-se o primeiro Palácio dos Duques de Bragança; a seguir a antiga Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, construída onde foi o cemitério dos ingleses durante

1 o cerco de Lisboa em 1147; a Igreja e Convento de S. Francisco,

I com a sua torre sineira na parte mais alta; e o palácio que foi dos Condes de Vila Franca e da Ribeira, no cimo da actual Rua

~ Vítor Cordon (antigamente Rua do Ferregial de Cima). A fa-

I chada sul deste palácio parece que assentava sobre cinco arcos, I e à sua frente tinha, ao nível e até à desaparecida Rua dos Arcos

dos Cobertores, um jardim que ocupava o terreno de alguns dos prédios do lado norte da Rua do Arsenal.

No primeiro plano está a Igreja e Convento dos Domínicos Irlandeses, completando a parte que vem do painel VI. Este Convento ou Colégio de Nossa Senhora do Rosário, foi fundado no ano de 1659, e reconstruído depois do terremoto de 1755, mui próximo do local que inicialmente ocupava no Largo do Corpo Santo.

Vê-se também a Ermida de Nossa Senhora da Graça ou do I Corpo Santo, com unia torre encimada por um comchéu (? ) . ~ Segue-se o Palácio do Corte Real, ou Paços do Sr. Infante

(D. Pedro), comqado a edificar por 1585 por Cristóvão de

1 Moura Corte Real, depois Marquês de Castelo Rodrigo, com as duas varandas avanqando sobre o Tejo (I6).

I (H) V . A Ribeira de Lisboa, por J. de Castilho - Lisboa, 1893,

1 livro IV, caps. I e Ii - A s Muralhas da Ribeira de Lisboa, por A.

1 Vieira da Silva -Lisboa, 1900, pág. 231. 259

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A Ribeira das Naus mostra um barco em construçã.0, e ao fundo, ao longo do muro, vê-se a galeria, iluminada por frestas horizontais, mandada fazer por D. Pedro 11, em 1668, para comunicar o palácio do Corte Real com o Paço da Ribeira.

O prédio que se vê no desenho contíguo ao do Corte Real deve ser o de Lopo Mendes do Rio, amigo d'El-Rei D. João 11.

As últimas construções da direita são já dependências do Paço da Ribeira de que vamos tratar.

O assunto principal deste painel é o Paço da Ribeira, tendo ao centro o torreão filipino, que ostenta, num dos cunhais do envasamento, o escudo das annaç reais. Parece que este escudo existia, em posição idêntica, em mais dois cunhais, pelo menos.

Para o lado do rio avançam dois muros paralelos, um deles com duas guaritas, e o outro com uma porta para a praia, a que se segue uma pequena ponte-cais de madeira. Os muros limitam um recinto com árvores, mas julgamos que estas disposições não correspondiam às verdadeiras do local.

A esquerda do torreão vêem-se vários corpos e andares do edifício do palácio, e entre eles sobressai a Torre do Relógio, como era antes das modificações mandadas fazer por D. João V em 1734 ( I 7 ) .

Do mesmo lado, e continuando-se no painel VII, notam-se os arcos do Largo do Relógio ou das Tendas da Capela, sobre o qual deitavam as janelas de várias dependências do palácio. O muro norte da Torre do Relógio ficava à face com a parede sul do pátio. Encontra-se talvez aqui a única vista que existe date quadro do palácio.

( I7 ) V . Relaçáo de vários casos notáveis e curiosos sucedidos em tempo na cidade de Lisboa ..., por Gustavo de Matos Sequeira-

260 Coimbra, 1925, pág. 182.

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Ao lado direito do tomão liga-se o corpo principal do Paço da Ribeira, e a rnusalha que limitava pelo sul o recinto do Ter- reiro do Paço, onde se v& uma porta, e a saida do colector que servia para os despejos e esgotos das A g u a s pluviais recolhidas na extensa bacia hidrográfica que se estende at6 A Penitenciária e Campo Pequeno. Compreende-se fAcilmente que naqueles t e m p as 6guas corriam antes pelo leito das ruas do que pelo coIector. O Temiro do Paço, e a planície onde 6 a nossa Baixa, estavam, antes do terremoto de 1755, em nível muito mais baixo do que o actual, o que contribuis t a m h para serem fhcilmente inund%veis,

N o cimo deste painel a p e i a o Castelo de S . Jorge. O seu aspecto geral não se assemelha ao representado nas antigas vistas de Lisboa, com as suas elevadas torres com ~omch&uç, corpos de edifícios com vários andares, e toda a aparatoça con; tniçáo de quando eram ali os Paqoç Reais, Não tendo desde já muito tempo aquela aplicaqão, os edifícios, noç principioç do dculo XVIII, estavam adaptadas a outros h, e especial- mente o alargamento das instalações do hquivo da Torre do Tombo, deveria ter originado aii grandes ~ f o r m a ç ~ .

Todavia esta vista do castelo não nos deve merecer inteiro cr&dito, pois vemos a fortaleza isolada no alto do monte, quando sabemos que grande parte da encosta se via, do ponto de onde foi tirado o desenho, povoada de habitações, desde as mutalhas do castelo at6 k orla marítima.

Do lado esquerdo desce uma muralha ameiada, de que ainda se conserva uma grande parte, e que terminava numa torre da fortifiça~ão, na C a t a do Castelo, que não foi desenliada.

Ao longe avista-se, no alto de outro monte, a antiga Emida de S . Gens ou de Nossa Senhora do Monte. 961

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Por entre o espesso casario do painel distingue-se, ao centro, a Igreja da Sé, com a sua alta torre quadrangular do cruzeiro, desmoronada em 1755, e o Palácio dos Arcebispos, ao seu lado direito.

Por cima deste palácio está o Convento de Santo Elói, de anegos Regulares de S. João Evangelista, actualmente quartel de uma companhia da Guarda Nacional Repubiicana.

Em seguida vê-se o Convento de Nossa Senhora da Graça, de Religiosas Eremitas de Santo Agostinho, encaixado entre o dos Lóioç e o de S. Vicente.

Este iíltirno, que fica à direita, mostra o elegante zimbório que caiu em 1755.

No segundo plano do painel está alinhada uma série de cons- truções que formavam o fundo do Terreiro do Paqo.

A esquerda vê-se ainda a parte do Paço da Ribeira onde ficava a entrada principal do palácio, uma escadaria com ar- cadas dando acesso à Sala dos Tudescos.

Segue-se uma parte do palácio com a fachada orientada ao sul, as passagens, mal definidas, que comunicavam o Terreiro com a antiga Rua da Confeitaria, e uns arcos formando uma varanda, debaixo dos quais se instalavam vendedores de várias mercadorias.

No lado esquerdo do Terreiro está o chafariz encimado por uma estátua de Apolo (I8).

O Forte de S. João, ou do Terreiro do Paço, construído du- rante o primeiro quartel do século XVII, artilhado com algumas bocas de fogo, ocupa a extremidade esquerda do primeiro plano do painel; segue-se a Alfândega do Jardim do Tabaco, com rés- -do-chão e primeiro andar com 7 janelas, um lanço de muralha,

(18) V . As muralhas da Ribeira de Lisboa, por A. V i e h da Silva 968 -Lisboa, 1900, pág. 254.

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e contíguo a esta o edifício da Alfândega do Tabaco, com arqui- tectura semelhante à do edifício antecedente, também com 7 ja- nelas no primeiro andar. A uma porta do pavimento inferior segue-se uma ponte sobre o rio, vedada com um portão de ferro.

A Alfândega com as suas várias dependências e tribunais ocupava todo o lado oriental da Praça. O grande pátio central descoberto pertencia à Alfândega; o corredor ladeado com lojas, do antigo Terreiro do Trigo, vê-se ao norte do citado pátio.

Por cima do Terreiro do Trigo observa-se 'o edifício da Mise- ricórdia concluído cerca do ano de 1534, mas com ausência das duas formosas janelas que ladeiam a porta travessa representada no desenho, e que ainda hoje existem.

Mais adiante vemos a Casa dos Bicos, construída por Afonso de Albuquerque (filho) também pela mesma ocasião, com a sua original fachada em toda a altura dos seus quatro andares; e em seguida uma parte da muralha mourisca.

Em baixo está a Praça da Ribeira, ou mercado dos comes- tíveis, e as tendas do Malcoçinhado, mostrando as mesas dos vendeiros e as barracas dos empregados do fisco.

Neste último painel a nqão das distâncias e das proporsões foi posta de lado pelo desenhador.

A esquerda vemos uma torre cujas dimensões são evidente- mente desproporcionadas relativamente às dos edifícios que a rodeiam. Não a soubemos identificar. Quererá representar a, ainda hoje inacabada, Igreja de Santa Engrácia, completada segundo a fantasia do artista?

A direita da torre fica o Campo de Santa Clara, a que se segue o Mosteiro das Religiosas Seráficas Observantes da Pro- víncia de Portugal, ou de Santa Clara, fundado por 1294. Foi quase completamente arrasado pelo terremoto de 1755, e no seu 263

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local construiu-se um edifício militar, dependência do Arsenal do Exército, que é actualmente (1932) a Fábrica de Equipa- mentos e Arreios.

Por baixo enfileiram-se uns poucos de prédios, com uma cerca ou jardim murado.

O desenhador suprimiu o Convento dos Barbadinhos Ita- lianos, edifício que então existia wmo ainda o vemos, e repre- sentou logo a seguir o Mosteiro de Santos-o-Novo, com a sua extensa fachada do lado do Tejo munida com 11 janelas em cada andar, bem que na realidade elas sejam 15. A igreja, com a sua torre, fica no lado direito da vasta quadra do claustro, e do mesmo lado vêem-se dois grandes arcos, um dos quais ainda existe entaipado, e o outro foi arrazado. Em parte do mosteiro funciona o Instituto do Professorado Primário Oficial Português, secção masculina, e noutra parte estão morando 12 Camenda- deiras da Ordem Militar de Santiago da Espada, e outras famí- lias que não pertencem à Ordem.

Na extremidade direita do painel, à beira do Tejo, foi repre- sentado um tanto esquemàticamente, o Mosteiro da Madre de Deus, em Xabregas, de Religiosas Franciscanas Descal~as, fun- dado em 1509. Por trás fica a cerca, e à frente vê-se a via pú- blica suportada por uma muralha, e um cais com duas escadas laterais (I9).

No segundo plano vê-se à esquerda uma porta aberta na muralha da cerca maura de Lisboa, posta um pouco ao acaso, e o Chafariz d'El-Rei com 5 bicas de água corrente.

Na margem está representado um grupo de edificações, começando por um edifício quadrangular wm um pátio interior, e outras construções incaracterísticas, que são porventura as an- tecessoras dos edifícios que ficam situados entre o actual B e queirão da Ponte da Lama e o Cais da Lingueta.

(19) Confronte-se a gravura de Dirck Stoop, Vista do Convento da Madre de Deus (1662), que 6 a Única que mostra a vista do

964 Mosteiro naqueles remotos tempos.