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A marca do Z A vida e os tempos do editor Jorge Zahar

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A marca do ZA vida e os tempos do editor Jorge Zahar

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4 A MARCA DO Z

CIP-Brasil. Catalogação na publicaçãoSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

Pires, Paulo Roberto, 1967-P745m A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar/Paulo

Roberto Pires. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2017.il.

Inclui bibliografi a e índiceCronologiaISBN 978-85-378-1713-1

1. Zahar, Jorge, 1920-1998. 2. Editores – Brasil – Biografia. 3. Editoração – Brasil – Biografia. I. Título.

CDD: 920.517-44744 CDU: 929:070

Copyright © 2017, Paulo Roberto Pires

Jorge Zahar Editor Ltda.rua Marquês de S. Vicente 99 – 1o

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FOTOS DO ACERVO JORGE ZAHAR: Pepe SchettinoCARICATURA DE JORGE ZAHAR NA QUARTA CAPA: Chico Caruso

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“Cruzo os arredores da Broadway com um imenso outdoor anunciando a próxima estreia nos cinemas de A marca do Zorro, com Antonio Banderas. Ao vê-lo, não penso em Douglas Fairbanks, Tyrone Power ou Frank Langella, os primeiros Zorros da tela, mas em outro herói com sua própria marca. Penso em Zahar, Jorge Zahar. Foi em livros com sua marca que a minha geração – e não só ela – aprendeu o que precisava saber de ciências políticas e sociais, antropologia, mitologia e até música erudita.” Sérgio Augusto

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“Um perfi l? Mas eu sou low profi le”

Há quem defenda que uma vida só pode ser contada numa obra. Joseph Brodsky, que saiu da pobreza na Rússia, pe-nou num Gulag e ganhou o Nobel de Literatura, teve, convenhamos, uma vida e tanto. Mesmo assim, sustentava

que nada disso valia mais ou dizia mais dele do que seus poemas. Se, no caso de biografi a tão venturosa, esse princípio é duvidoso, talvez seja infalível quando aplicado a editores. Jorge Herralde, fundador da Anagrama, a importante editora espanhola, publicou alguns livros sobre seu ofício, mas em todos eles defende que a melhor biografi a de um editor sempre será seu catálogo, documento de suas ideias, esco-lhas, acertos e também difi culdades e erros.

Acho a tese muito boa. Salvo exceções como Giangiacomo Feltri-nelli, o aristocrata que virou guerrilheiro e se explodiu num atentado terrorista frustrado, não sem antes contribuir decisivamente para a modernização do universo editorial na Itália, vidas de editores costu-mam ser tranquilas em seus enredos – ainda que muitas vezes intensas em suas decisões e charmosas pelo convívio íntimo com escritores e intelectuais. Disso dão testemunho as memórias de grandes editores americanos ou europeus, e alguns dos livros escritos sobre eles e seus

Jorge Zahar em Paris, sua cidade favorita, em outubro de 1994.

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catálogos. Ainda que autocongratulatórios ou hagiográficos em sua maioria, esses relatos são indispensáveis para tentar entender uma ciência tão inexata quanto a de publicar livros.

No Brasil, os editores fundamentais do século passado e do atual pouco nos legaram de suas memórias – e apenas alguns foram objeto de biografias. Mas ainda que seguíssemos a tradição ameri-cana, que conta com novos títulos a cada ano, seria difícil encon-trar algo parecido assinado por Jorge Zahar. Discreto nos mínimos detalhes, só posava para a imprensa ao lado de seus livros. Sobre sua vida, além de esparsas entrevistas, quase sempre ligadas a uma nova empreitada editorial, o máximo que se permitiu foi um peque-no e importante volume da série Editando o Editor, publicada pela Edusp, que transcreve depoimento prestado na universidade. Ainda assim, ele próprio encarregou-se de editar o texto final, cortando mais que acrescentando. Jorge – e assim vou me referir a ele daqui para a frente – não era avaro de sua experiência. Ao contrário, es-tava sempre disposto a ajudar editores iniciantes ou compartilhar informações. Mas seguia à risca o princípio de que um editor É os livros que publica. E ponto.

De fato, para a maioria dos leitores brasileiros, Jorge Zahar foi um livro. Ou melhor, um livro marcado por um “Z” que, entre es-tudantes e intelectuais, era símbolo de inovação, combatividade e excelência – as duas primeiras sempre submetidas à última. Se é im-possível entender a literatura e o pensamento brasileiro modernistas sem José Olympio, outro homem que virou livro, é pouco provável que as ciências sociais no Brasil possam ser dissociadas da marca do Z, em suas três vidas editoriais – na sociedade com os irmãos, que fundou a marca, em associação à editora Guanabara e, por fim, na parceria com os filhos, que perpetuou a editora.

Para mim, Zahar deixou de ser um livro na primeira vez em que falei com Jorge pelo telefone. Eu era repórter do Segundo Caderno do Globo, dedicado a cobrir livros e literatura. Entrevistei-o não lembro mais por quê, e a partir de então falávamos com uma certa regulari-dade. Infelizmente não fui seu amigo e tampouco frequentei as famo-

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UM PERFIL? 11

sas festas de Natal na sobreloja da rua México, no Centro do Rio. De nossas conversas, telefônicas em sua maioria, guardei um princípio: mais importante do que um editor ou um jornalista terem um ao outro como “contato” ou “fonte” é se elegerem como interlocutores. É daí que nascem os diálogos que valem a pena cultivar. E que, nesse caso específico, resultariam, depois de consolidada a confiança dele, em uma longa entrevista feita na sede da editora, em março de 1998, três meses antes de sua morte. “Você me disse que quer um perfil? Mas eu sou low profile”, brincou ele quando cheguei a seu escritório. “Trouxe o fórceps?”, continuou. Na época, escrevi que as advertên-cias, acompanhadas pelo sorriso aberto de sempre, “mais convidam do que afastam um interlocutor”. Era isso mesmo.

É da condição de interlocutor, ainda que bissexto, que vêm as poucas e marcantes lembranças pessoais desse que agora vira meu personagem. A de uma conversa em que ele me pedia opinião sobre o tradutor de um livro de filosofia – e eu, muito espantado de ser consultado sobre algo que estava longe da minha especialidade. De outra, tristíssima, em que o entrevistei sobre a perda sucessiva de An-tonio Callado, Darcy Ribeiro e Paulo Francis, este, um de seus amigos essenciais. Ou de um telefonema divertido em que ele combinava me enviar – como de fato enviou – uma montanha de livros de filosofia que estavam parados na editora, e que ele achava interessantes para um repórter na época jovem e metido a tratar no jornal de esoteris-mos filosóficos, sobretudo franceses.

Lembro ainda de cumprimentá-lo na cerimônia em que se tor-nou Chevalier des Arts et des Lettres, durante o Salão do Livro de Paris, em 1998. Poucos ali mereciam tanto a honraria e estavam tão genuinamente felizes quanto ele e Ani, sua mulher, naquela que seria a última viagem internacional do casal. Cristina, sua filha e àquela altura já uma amiga, me telefonou no início da madrugada, logo depois da morte de Jorge, para dar a notícia e pedir ajuda para divulgá-la. Encerrava-se ali uma conexão entre os anos de jornalismo sem graça que eu então vivia e um passado intelectual inapelavelmente perdido.

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Estas páginas cumprirão seu objetivo se reconstituírem, passa-dos sessenta anos da publicação do primeiro livro com a marca do Z, algumas das interlocuções de Jorge Zahar. Naquela que seria nossa última entrevista, ele relembrava seu lema: editor não é inte-lectual, é o sujeito sensível ao fenômeno cultural. Concilia ideias e comércio e, sobretudo, tem a humildade de entender o quão inexa-ta é a ciência da edição. “É, tem isso, sim senhor, tem muita coisa que a gente não sabe. A profi ssão de editor é assim até hoje, por mais que se diga o contrário”, me contou Jorge Zahar em 1998, mais de quarenta anos depois de ter entrado no mercado editorial para escrever parte decisiva de sua história.

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Jorge retratado por Chico Caruso em dezembro de 1996, na festa de Natal na editora, sempre animada e com muito uísque entre amigos.

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