A privatização do setor elétrico -...

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A privatização do setor elétrico Julho de 2015 Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos Escritório Regional: Av. Júlio de Castilhos, 596 8º andar Porto Alegre RS Cep 90.030-130 ׀www.dieese.org.br ׀[email protected]

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A privatização do setor elétrico

Julho de 2015

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos Escritório Regional: Av. Júlio de Castilhos, 596 – 8º andar – Porto Alegre – RS Cep 90.030-130 ׀ www.dieese.org.br ׀ [email protected]

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Em julho de 1995, há 20 anos, o governo federal iniciou a privatização do setor elétrico. Visando marcar essa data e lembrar as inúmeras consequências desse processo para os trabalhadores, sua organização e representação sindical, para a população e para o Brasil, o presente documento procura resgatar suas lutas contra a privatização e em defesa dos trabalhadores.

Fruto da denominada Reforma do Estado, o receituário privatista de meados dos anos 90 a início dos anos 2000 parece, embora com menos força, voltar à tona. À época, segundo o governo federal, a privatização, não só das distribuidoras de energia, mas também de usinas siderúrgicas, ferrovias, telefônicas e bancos estaduais, passaram para a iniciativa privada com argumentos de que o Estado não tinha condições de investir e que haveria melhoria na eficiência da gestão destas empresas diante do avançado processo de globalização.

No caso particular do setor elétrico, os defensores do processo de privatização acenavam a população com promessas de melhoria dos serviços prestados e com o barateamento das tarifas. Sabe-se, porém, que esse foi um argumento falacioso, pois os problemas estavam pautados na falta de investimento e de gestão e em momento futuro os problemas emergiriam.

O setor elétrico e a conjuntura

No início da década de 90 o setor elétrico, assim como os demais setores da economia brasileira, encontrava- se em crise. Oito das 10 empresas mais representativas do setor – incluindo as federais e estaduais - fecharam o ano de 1990 registrando prejuízos em seus balanços patrimoniais.

O principal entrave à retomada do crescimento do setor elétrico foi a dívida externa, contraída dos órgãos internacionais, com o objetivo de obter dólares para equilibrar as contas externas. Apenas 17% do total de quase 2,8 bilhões de dólares vencidos e não pagos (juros+principal), correspondem a empréstimos para investimento no setor.

O retorno da política de contenção das tarifas de energia também contribuiu para agravar a situação financeira das empresas. A desvalorização das tarifas de energia persistem no governo Collor, tornando o setor deficitário e ajudando a alimentar o mito da ineficiência das empresas estatais.

A privatização do setor elétrico nacional

O Estado brasileiro passou longos anos enfrentando problemas para estruturar o setor elétrico nacional, através da construção de usinas, subestações e interligação do sistema por meio de infindáveis linhas de transmissão. Após esse processo, as empresas de energia tornaram-se novamente atraentes, o que despertou o interesse do capital privado.

O pontapé inicial da privatização do setor elétrico nacional aconteceu em junho de 1992, quando o ex-presidente Collor incluiu a Escelsa e a Light no Programa Nacional de Desestatização (PND), através do Decreto 572/92.

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Considerada a mais “enxuta” das empresas da Eletrobrás, após um acirrado processo de demissões e terceirizações, a Escelsa foi a primeira a ser privatizada, em julho de 1995. Em abril do ano seguinte foi a vez da Light, seguida pela Cerj (Companhia Elétrica do Rio de Janeiro), privatizada em novembro de 96.

A partir daí, a investida contra as estatais de energia não parou mais. Entre outras empresas importantes que foram privatizadas está a RGE, privatizada em 1997. Após a venda a RGE passou a fazer parte do Grupo CPFL Energia, um dos maiores grupos privados do setor elétrico brasileiro.

A luta dos trabalhadores brasileiros contra a privatização

Mesmo antes da privatização, os trabalhadores já começaram a sentir na pele as consequências desse processo. Foram desencadeadas demissões de empregados dos quadros próprios das empresas e estes foram imediatamente substituídos por terceirizados. Ou seja, os contratos de obras e manutenção eram repassados para empreiteiras.

As terceirizadas contratavam trabalhadores menos preparados para ocupar as vagas dos demitidos, alguns sem carteira assinada, exigindo jornadas excessivas, pagando salários mais baixos e com menos benefícios. Isso, fora as péssimas condições de trabalho, que muitas vezes foram denunciadas pelo movimento sindical.

Na medida que o governo Collor ia se revelando incompetente para resolver os enormes problemas do país e dos trabalhadores brasileiros, as centrais sindicais e seus sindicatos filiados, junto com os partidos políticos de oposição, passaram a ter maior sucesso na organização da grande campanha nacional de mobilização dos eletricitários, ocorrida no início de 1992.

As principais reivindicações da campanha eram as reposições salariais e a estabilidade no emprego. A luta pela estabilidade tomou corpo porque, vendo que as concessionárias de energia estavam em vias de serem privatizadas, os trabalhadores temiam a demissão em massa em função da terceirização do trabalho no setor.

A questão da terceirização, em especial, era no momento assunto da maior gravidade. Afinal, enquanto o setor se preparava para a redução de grande número de trabalhadores de seus quadros e a contração de serviços através de empresas terceirizadas, ficava nítido que a margem de negociação por melhores salários e outros benefícios diminuiria em função da luta pela garantia do emprego.

As consequências para a sociedade

A inclusão varias empresas do setor de energia elétrica no Programa Nacional de Desestatização (PND) chamou a atenção da sociedade por trazer o temor de que os programas sociais, como o de eletrificação rural (1972) e o de baixa renda (1976) fossem abortados.

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O programa de baixa renda visava à instalação de redes elétricas em bairros não urbanizados garantindo um desconto na tarifa para consumidores de baixo poder aquisitivo.

Cabe à sociedade indagar qual a lógica que prevalece na privatização: a de produção de um serviço de natureza pública ou apenas a lógica econômica em que a energia é um produto como outro qualquer e, portanto, submetido estritamente às regras de mercado?

Tarifas

Há algum tempo o movimento sindical eletricitário vem denunciando a relação existente entre a privatização do setor elétrico e a elevação das tarifas de energia. Desse modo, não chega a causar surpresa as conclusões contidas no estudo: Por que as tarifas foram para os céus? Propostas para o Setor Elétrico Brasileiro. O que surpreendeu é que o estudo foi publicado pela Revista do BNDES, número 29, junho de 2008 que pode ser acessado no site: www.bndes.gov.br. O texto foi produzido por três economistas e um contador, todos do BNDES, braço financeiro que operacionalizou a privatização no país.

A publicação surge quase como um pedido de desculpas do banco pelas consequências geradas pela privatização. Afirma que “o novo modelo transformou o melhor sistema elétrico de grande porte do mundo em uma máquina de ganhar dinheiro à custa do bolso do consumidor, do erário público e da competitividade da indústria nacional”.

Os autores negam as afirmações recorrentes dos representantes das empresas de que a tarifa é alta em razão dos impostos e dos encargos setoriais. Considerando o consumo médio residencial no país, os principais impostos (ICMS, PIS e COFINS) não tiveram mudanças importantes. Sobre encargos os autores afirmam que “os novos encargos setoriais foram criados com o propósito de arcar com os custos intrínsecos ao modelo privatizado” trata-se de um custo planejado da privatização, já que a maioria deles não existia.

Os autores identificaram a quintuplicação dos lucros e dos dividendos das companhias elétricas entre 2002 e 2007 como resultado de uma “concorrência simulada”, imprópria para um setor caracterizado como monopólio natural. Ao mesmo tempo em que inúmeros critérios de risco são introduzidos na tarifa, a Aneel tem que garantir o equilíbrio econômico e financeiro das concessões, como verificado no período do apagão aonde houve redução de 25% no consumo e mesmo assim toda a energia poupada foi paga às empresas.

Para os autores a energia é cara no Brasil por 6 razões: 1) o modelo gasta bilhões de dólares apenas para simular, contabilizar e administrar os conflitos de um falso mercado concorrencial; 2) incentiva a energia térmica; 3) a margem de lucro das empresas é muitíssimo elevada; 4) o modelo não incentiva a inovação e tampouco repassa os ganhos de produtividade para o consumidor; 5) o modelo levou ao apagão e seus diversos custos embutidos e está levando a outra crise energética; 6) choques e erros de previsão fazem com que o modelo sempre gere “esqueletos”, que acabam sendo pagos pelos consumidores.

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Os autores defendem que o país deve pensar em voltar ao sistema público como é na França, Canadá, Noruega e o sistema hidrelétrico norte-americano. “Essa não é uma proposta estatizante ou anticapitalista. É a constatação de que a energia elétrica é um bem público, principalmente em um sistema hidrelétrico. Na verdade ele nunca deixou de ser público. Ele é apenas uma tentativa malsucedida de maquiar uma falsa concorrência que gera muito lucro privado e custa muito caro ao consumidor”.

Antes das privatizações, os sindicatos alertaram para o aumento das tarifas como uma das consequências prejudiciais à população. Somente de dezembro de 96 a maio de 98 as tarifas residenciais tiveram um reajuste de 20,94%, contra uma inflação de 8,42% no mesmo período.

Em novembro de 1995, as contas de energia dos consumidores residenciais ficaram 35% em média mais caras. Isso porque, foram reduzidos – ou retirados – subsídios do governo que permitiam uma diminuição no preço final das contas.

Apagão

Além do aumento excessivo das tarifas, outro fator importante ocorrido após a privatização deve ser destacado: a queda na qualidade dos serviços prestados à população. Não é à toa que durante vários anos as empresas privadas de energia elétrica (a exemplo de outras empresas de prestação de serviços públicos que foram privatizadas) mantém-se entre as primeiras em número de reclamações no Procon.

Os piques de energia – e a consequente queima de eletrodomésticos –, blecautes, demora no atendimento, entre outros problemas, tornaram-se frequentes.

Tabela: Reclamações comerciais pela concessionária RGE – 2010 a 2015

Ano Quant. Reclam

Recebidas

Reclamações Solucionadas

Quant. Proce-dente

Proced/ Soluc (%)

Improce-dente

Improced/ Soluc (%)

2010 155.353 145.857 124.057 85,05 21.800 14,95

2011 136.256 138.813 118.672 85,49 20.141 14,51

2012 68.383 65.623 55.707 84,89 9.916 15,11

2013 55.110 54.495 45.646 83,76 8.849 16,24

2014 55.630 53.819 40.488 75,23 13.331 24,77

2015 25.320 23.059 16.722 72,52 6.337 27,48

Nota: Informações provenientes dos relatórios encaminhados pelas distribuidoras em cumprimento à Resolução Normativa 414, de 2010, podendo variar após o processo de fiscalização. Fonte: ANEEL Elaboração: DIEESE ERRS

Os sucessivos “apagões” ocorridos após a privatização evidenciaram a falta de planejamento e de uma política clara para o setor elétrico e acabaram levando ao racionamento de energia, fazendo com que, novamente, o consumidor fosse prejudicado.

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Gráfico: Consumo final energético (em 1.000 tep) – 1970 a 2013

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética Elaboração: DIEESE ERRS

Em 2001, assim como recentemente em 2014, o país viveu períodos de estiagem e diminuição da geração de energia e dependia quase que exclusivamente de hidrelétricas. Naquele ano, a economia estava bem e o consumo da indústria estava alto, porém, estávamos diante de um sistema elétrico incompatível com a demanda. O setor energético não recebeu investimentos do governo (nem do privado) e sem fontes alternativas para uma possível compensação, o sistema entrou em colapso. Diante da crise, o governo determinou o racionamento de 20% do consumo.

Em relatório de 2009 (tardiamente feito), o TCU destacou que o “apagão” elétrico de 2001 custou R$ 45,2 bilhões ao país, além de outros prejuízos incomensuráveis como o efeito potencializado na queda do PIB. Antes do apagão, em 2000, a economia crescera 4,3%. Em 2001, o PIB despencou para 1,3%. A maior parte do dano (60%), equivalente a R$ 27,12 bilhões, foi repassada aos contribuintes por meio de reajustes nas contas de energia residenciais e comerciais. Os demais 40% (R$ 18,08 bilhões) foram pagos pelo Tesouro Nacional1.

Para operar o sistema e garantir o suprimento, desde 2013 é necessário o acionamento de todo o parque termoelétrico existente, e mais se tivesse, a um custo médio, em 2015, de R$ 450/MWh. Multiplicando este valor por 15.000 MW e o resultado pelo número de horas do ano, chega-se a quase R$ 60 bilhões, outro número de respeito, que, somado aos R$ 28 bilhões do GSF e metade dos R$ 25

1 Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2009/07/brasileiros-pagaram-r-45-2-bi-pelo-

apagao-eletrico-de-2001

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bilhões da CDE, representa o custo da crise atual do sistema elétrico brasileiro, o custo do desequilíbrio entre oferta e demanda.

Para que se tenha uma noção desse número, R$ 100 bilhões são bem mais do que valem todas as empresas do SEB, o que significa que o custo da crise é maior do que o valor total das empresas. Também é muito maior do que todo o resultado do ajuste fiscal promovido pelo governo. Assustam essas relações, que passam longe dos olhares menos atentos. Somando-se as perdas de valor das empresas o valor ultrapassa a arrecadação da privatização da década de 90.

Para enfrentar a crise, um caminho é o estímulo à expansão da capacidade instalada de geração, que exige preços bem maiores, R$ 200/MWh, para a compra de energia em contratos de longo prazo, ante R$ 135/MWh de leilões realizados até 2013, o que, novamente, implica novos aumentos de tarifas. Só que, neste caso, com um resultado inesperado: como haverá um excedente de energia mais adiante, motivado pelos incentivos atuais, o consumidor não tirará proveito da redução dos custos marginais disso decorrente, uma vez que estará 100% contratado e a preços maiores. Se nada mudar, isto é, se os consumidores continuarem com o mesmo nível de contratação, estaremos diante de uma “contradição econômica”, pois uma superoferta não resultaria em redução do preço da energia.

Tabela: Consumo de energia elétrica (em MWh) no Rio Grande do Sul - 2013

AES CEEE RGE

Comercial 378.032 854.938 340.026

Industrial 2.251.003 1.037.398 1.216.432

Outros 26.870 12.187 149.520

Residencial 1.045.892 1.536.893 887.439

Rural 565.484 257.727 45.220

Setor Público 334.063 448.522 324.354

Total 4.601.344 4.147.665 3.400.829

Fonte: FEE Dados Elaboração: DIEESE ERRS

O custo médio da energia para a indústria brasileira passou de R$ 537,40 para R$ 543,90 por MWh após os reajustes da AES Sul (RS), Uhenpal (RS), Coelba (BA), Coelce (CE), Cosern (RN), ESE (SE), e Celpe (PE), autorizados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

No ranking estadual, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Bahia passaram a ocupar posições mais caras. O Ceará (R$ 529,21 por MWh) passou da 21ª para a 13ª posição; Pernambuco (R$ 519,39) da 17ª para a 15ª; o Rio Grande do Norte (R$ 448,06 por MWh) da 24ª para a 22ª; e a Bahia (R$ 425,10 por MWh) da 25ª para a 24ª. O Rio Grande do Sul ocupa a 9ª posição, com o custo médio de R$ 556,16 por MWh.

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Terceirização

Um dos principais fatores que levaram à queda na prestação de serviços à população e a péssimas condições de trabalho foram as demissões de empregados, o fechamento de postos de atendimento direto, principalmente do interior do Estado, e a terceirização.

As políticas governamentais de privatização trazem a marca da terceirização como carro chefe na prestação de serviços em um campo considerado de vital importância na economia do país.

A Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) gaúcha reduziu seu efetivo de 8.189 empregados no início de 1997 para apenas 2.162 pessoas ao final do mesmo ano. A redução de 6.027 postos de trabalho resultou da cisão da empresa e privatização de duas novas empresas distribuidoras (Rio Grande Energia e AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia). A Administração afirma, no entanto, que a redução do efetivo de pessoal já vinha ocorrendo antes da cisão propriamente dita.

A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) foi privatizada em novembro de 1997 quando o controle acionário passou a ser exercido pela DOC4 Participações S/A. Nessa sociedade, a parte majoritária coube à VBC, formada pelos grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa.

Confira no gráfico abaixo a evolução do número de posto de trabalho nas empresas estatais e empresas privadas no Rio Grande do Sul.

Gráfico: Números de empregados no setor elétrico no Rio Grande do Sul – 2007 a 2013

Fonte: RAIS Elaboração: DIEESE ERRS

5.4

42

5.7

21

5.7

28

5.5

13

5.2

00

5.1

13

4.8

65

5.6

52

5.5

44

5.4

53

5.2

27

4.9

94

4.7

80

4.6

37

2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007

Entidade Empresa Estatal Entidade Empresa Privada

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Saúde e segurança

A série de transformações porque passou o setor elétrico nos últimos anos tem trazido graves consequências aos seus trabalhadores. As políticas governamentais de privatização vieram acompanhadas de aposentadorias e demissões, que hoje trazem a marca da terceirização como principal fator na prestação de serviços em um campo considerado de vital importância na economia do país. Com a terceirização de serviços, os problemas e acidentes com os trabalhadores foram ampliados. Os acidentes no setor, muitas vezes graves e ou fatais, são a representação do exercício profissional em condições inadequadas.

O exercício das atividades através de prestadores de serviços, com força de trabalho nem sempre capacitada e ou com experiência insuficiente, tem se tornado frequentes. Somam-se a isso as falhas de instalação elétrica, energização indevida, não desligamento de circuito e fadiga por sobrecarga de serviço que, segundo dados do Grupo de Intercâmbio e Difusão de Informação Sobre Engenharia e Segurança do Trabalho (Gridis), têm interferência direta sobre a segurança dos trabalhadores em energia.

Enquanto nas empresas terceirizadas aumentaram os acidentes físicos, nas empresas estatais há uma evolução das doenças mentais do trabalho como a depressão, angústia, estresse e até síndrome do pânico, devido a sobrecarga de afazeres administrativos.

Indicadores financeiros da RGE X Relações de trabalho

As breves considerações a seguir procuram fazer um comparativo dos principais indicadores financeiros do balanço da RGE em 2010 e dos anos seguintes até 2014.

Os indicadores utilizados como referência são de natureza operacional constante nas contas de resultado da empresa. As contas patrimoniais, por sua vez, estão presentes na análise da estrutura de capital apresentada pela RGE ao longo destes anos.

Tabela: Número de consumidores de energia elétrica no Rio Grande do Sul – 1991 e 2013

AES CEEE RGE

1991 2013 1991 2013 1991 2013

Comercial 50.642 85.820 76.387 139.616 59.926 115.123 Industrial 12.649 8.033 9.729 13.335 16.961 15.495 Residencial 550.556 1.056.104 828.346 1.313.951 500.799 1.112.294 Rural 63.667 111.368 38.466 80.701 103.401 138.497 Setor Público 5.494 1.069 5.077 8.170 8.981 13.925 Outros 144 8.868 289 151 268 263

Total 683.152 1.271.262 958.294 1.555.924 690.336 1.395.597 Fonte: FEE Dados Elaboração: DIEESE ERRS

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A elevação do número de clientes atendidos por cada trabalhador revela não somente a intensificação do trabalho, sem o devido incremento salarial, mas também uma mudança no perfil de consumo e receita da RGE. A partir dos anos 90 cresceu de maneira substancial a participação das classes residenciais e comercial em detrimento do setor industrial, o que reforça a necessidade de alavancar investimentos na geração de energia para o setor doméstico pulverizado.

Gráfico: Número de consumidores de energia elétrica no Rio Grande do Sul – 1991 a 2013

Fonte: FEE Dados Elaboração: DIEESE ERRS

É importante ressaltar a questão da qualidade do trabalho e no trabalho, muitas vezes comprometida devido à crescente precarização (redução drástica no quadro funcional da empresa) das condições de trabalho que, em última análise, comprometem a própria qualidade dos serviços e a capacidade de sua universalização.

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Tabela: Indicadores do Balanço Social da RGE – 2010 a 2014

Fonte: BS RGE, diversos anos. Elaboração: DIEESE ERRS

1 - Base de Cálculo

Receita líquida (RL)

Resultado operacional (RO)

Folha de pagamento bruta (FPB)

2 - Indicadores do Corpo Funcional

Nº de empregados(as) ao final do exercício

Nº de admissões durante o período

Nº de empregados(as) terceirizados(as)

Nº de estagiários(as)

Nº de empregados(as) acima de 45 anos

Nº de mulheres que trabalham na empresa

% de cargos de chefia ocupados por mulheres

Nº de negros(as) que trabalham na empresa

% de cargos de chefia ocupados por negros(as)

Nº de portadores(as) de deficiência ou necessidades especiais

3 - Informações relevantes quanto ao exercício da

cidadania empresarial

Relação entre a maior e a menor remuneração na empresa

Número total de acidentes de trabalho

Valor adicionado total a distribuir

(em R$ mil):1.275.381 1.170.501 1.749.259 1.618.738 1.481.252

Distribuição do Valor Adicionado (DVA):

64,3% governo

7,6% colaboradores(as)

4,8% acionistas

14,3% terceiros

9,0% retido

8 7

62,1% governo

7,7% colaboradores(as)

10,6% acionistas

19,6% terceiros

0,0% retido

2013

34,5531,59

2014

148

5,88%

164

259

5,56%

73

5,56%

72

2014 Valor

(Mil reais)

2013

5,88%

294

265

2.648.483

243.452

83.287

1.522

2014

22

172

ND

25

144

77.314

1.505

230

ND

2010 Valor

(Mil reais)

2.125.171

325.424

2013 Valor

(Mil reais)

2.421.550

162.786

1.457

256

1.323

68.158

2010

37,13

15,09%

63

0,21%

52

142

315

17

70,2% governo

5,7% colaboradores(as)

13% acionistas

7,8% terceiros

3,3% retido

2012 Valor

(Mil reais)

2011 Valor

(Mil reais)

2.641.916 2.279.458445.249 336.62577.154 71.775

1.556

379

2011

58

2010

ND

1.479

36

285

174

ND

261

33

9,09%

140

69

264

17

70,5% governo

5,6% colaboradores(as)

15% acionistas

8,9% terceiros

0% retido

2012

69,2% governo

4,8% colaboradores(as)

18,3% acionistas

7,7% terceiros

0,0% retido

2,78

58

18

2011

69,41

6,06%

14,61%

66

61

2012

3,06%

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Tabela: Indicadores financeiros da RGE – 2010 a 2014

Fonte: DRE RGE, diversos anos. Elaboração: DIEESE ERRS

2015 – Perspectivas para o setor elétrico

A energia elétrica deve ter um reajuste de 43,4% em 2015 fechado, informou o Banco Central por meio do relatório de inflação do segundo trimestre de 2015. A estimativa de alta no preço da energia elétrica em 2015 reflete do repasse às tarifas do custo de operações de financiamento, contratadas em 2014, da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

O governo anunciou, no início deste ano, que não pretende mais fazer repasses à CDE – um fundo do setor por meio do qual são realizadas ações públicas – em 2015, antes estimados em R$ 9 bilhões. Com a decisão do governo, as contas de luz dos brasileiros podem sofrer em 2015, ao todo, aumentos ainda superiores aos registrados no ano passado.

O custo de produção de eletricidade no país vem aumentando principalmente desde do final de 2012, com a queda acentuada no armazenamento de água nos reservatórios das principais hidrelétricas do país. Para poupar água dessas represas, o país vem desde aquela época usando mais termelétricas, que funcionam por meio da queima de combustíveis e, por isso, geram energia mais cara. Isso encarece as contas de luz.

Entretanto, também contribui para o aumento de custos no setor elétrico o plano anunciado pelo governo ao final de 2012 e que levou à redução das contas de

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luz em 20%. Para chegar a esse resultado, o governo antecipou a renovação das concessões de geradoras (usinas hidrelétricas) e transmissoras de energia que, por conta disso, precisaram receber indenização por investimentos feitos e que não haviam sido totalmente pagos até então. Essas indenizações ainda estão sendo pagas, justamente via CDE.

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Escritório Regional Rio Grande do Sul DIREÇÃO SINDICAL

Maria Helena Oliveira SEMAPI Valdir Santos de Lima SE Comércio de Porto Alegre José Antônio Guimarães de Fraga STI Gráficas de Porto Alegre

Carlos Eduardo Neumann Passos STI Purificação e Distribuição de Água no RS

Leive Maria Dallarosa Federação dos Municipários do Rio Grande do Sul Valter Souza STI da Construção Civil de Porto Alegre

Luiz Fernando Lemos Federação dos Empregados do Comércio de Bens e Serviços Jairo dos Santos Carneiro FTI Metalúrgicas do RS

SUPERVISÃO TÉCNICA Ricardo Franzoi

EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL Iara Welle