A Reestruturação do sistema brasileiro de pagamentos

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    REESTRUTURAO DO SISTEMA DE PAGAMENTOSBRASILEIRO: O CASO DA CLEARING DE CMBIO DA BM&F

    DOUGLAS MIRANDA LIMA

    Dissertao apresentada Escola Superior

    de Agricultura Luiz de Queiroz,

    Universidade de So Paulo, para obteno

    do ttulo de Mestre em Cincias, rea de

    Concentrao: Economia Aplicada.

    P I R A C I C A B A

    Estado de So Paulo - BrasilNovembro 2002

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    REESTRUTURAO DO SISTEMA DE PAGAMENTOSBRASILEIRO: O CASO DA CLEARING DE CMBIO DA BM&F

    DOUGLAS MIRANDA LIMA

    Bacharel em Cincias Econmicas

    Orientador: Prof. Dr. PEDRO CARVALHO DE MELLO

    Dissertao apresentada Escola Superior

    de Agricultura Luiz de Queiroz,

    Universidade de So Paulo, para obteno

    do ttulo de Mestre em Cincias, rea de

    Concentrao: Economia Aplicada.

    P I R A C I C A B A

    Estado de So Paulo - BrasilNovembro 2002

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    Dados

    Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - ESALQ/USP

    Lima, Douglas MirandaReestrutura o do sistema de pagamentos brasileiros : o caso da

    clearing de cmbio da BM&F / Douglas Miranda Lima. - - Piracicaba, 2002.74 p.

    Dissertao (mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,2002.

    Bibliografia.

    1. Banco C entral 2. Bolsa de mercadorias 3. Cmbio (Economia) 4.Economia monetria I. Ttulo

    CDD 332.4

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

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    Aos meus pais,

    Rafael de Souza Lima e Maria Assuno Lima

    DEDICO

    Aos meus irmos,

    Denner, Dborae ao

    meu sobrinho Gabriel

    OFEREO

    A DEUS,

    AGRADEO por mais esta oportunidade.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Pedro Carvalho de Mello pela amizade, orientao e principalmente pela

    confiana em mim depositada.

    Aos Profs. Alexandre Mendona de Barros, Pedro Valentim Marques e Slvia Helena

    Galvo de Miranda pela ateno, interesse e dedicao dispensados durante a

    elaborao deste trabalho.

    Ao Dr. Isney Manoel Rodrigues, Diretor da Clearing de Cmbio da BM&F, e toda a sua

    equipe, por disponibilizarem dados e informaes indispensveis a este estudo.

    Ao Dr. Luiz Fernando Figueiredo, Diretor de Poltica Monetria do Banco Central do

    Brasil, por no medir esforos na implantao do Novo Sistema de Pagamentos

    Brasileiro, o grande motivador dessa pesquisa.

    Profa. e grande amiga Zilda Paes de Barros Matos, por toda tranquilidade que me

    passou durante a monitoria e nos momentos difceis do curso.

    Aos demais profs. do Departamento de Economia, Administrao e Sociologia da

    ESALQ, por todo o ensinamento compartilhado.

    Aos funcionrios do Departamento de Economia, Administrao e Sociologia da

    ESALQ, em especial Maielli, por toda a ajuda e ateno.

    A todos os amigos que encontrei nesse mestrado e, em especial, aos amigos da

    repblica Deus Quis pela tima convivncia no decorrer do curso.

    A todos vocs, meu MUITO OBRIGADO.

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    SUMRIO

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    LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. vii

    LISTA DE TABELAS................................................................................................. ix

    LISTA DE QUADROS............................................................................................... xLISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.................................................................... xi

    RESUMO................................................................................................................... xiii

    SUMMARY................................................................................................................ xv

    1 INTRODUO...................................................................................................... 1

    1.1 O problema da pesquisa.................................................................................... 3

    1.2 A situao-problema........................................................................................... 3

    1.3 Objetivos............................................................................................................. 6

    2 REVISO BIBLIOGRFICA.................................................................................. 72.1 Panorama de insero do projeto...................................................................... 7

    2.2 Antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro......................................................... 12

    2.3 Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro........................................................... 15

    3 MERCADO DE CMBIO....................................................................................... 28

    3.1 Funcionamento................................................................................................... 28

    3.1.1 Aspectos operacionais dos contratos de cmbio............................................ 30

    3.2 Riscos................................................................................................................. 33

    3.3 Funcionamento do novo sistema de pagamentos na ausncia de uma

    Clearing............................................................................................................. 35

    3.4 Comparao dos modelos de Clearing de cmbio existentes........................... 36

    3.4.1 1oModelo: Fluxo.............................................................................................. 36

    3.4.2 2o Modelo: Com chamadas de garantias, mas com repartio de perdas

    entre participantes........................................................................................... 37

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    3.4.3 3o Modelo: Com chamadas de garantias, mas com repartio de perdas

    entre os participantes que operaram com inadimplentes................................ 38

    3.5 Projeto de Clearing de cmbio da BM&F........................................................... 39

    4 METODOLOGIA.................................................................................................... 42

    4.1 Anlise qualitativa............................................................................................... 44

    4.2 Anlise quantitativa............................................................................................ 45

    4.3 Dados................................................................................................................. 46

    5 RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................ 47

    5.1 Introduo........................................................................................................... 47

    5.2 Efeitos do Novo SPB.......................................................................................... 47

    5.3 Clearing de Cmbio: Seu papel no novo SPB.................................................... 515.4 Banco Central e Clearing de Cmbio................................................................. 55

    6 CONCLUSES..................................................................................................... 59

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................... 62

    APNDICES.............................................................................................................. 67

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    LISTA DE FIGURAS

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    1 Total de garantias depositadas na Clearing de Cmbio em 30/09/2002.......... 10

    2 Total de Fundo de Participao formado pela Clearing de Cmbio em

    30/09/2002 ............................................................................................................. 103 Liquidao no antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro................................. 13

    4 Liquidao no novo Sistema de Pagamentos Brasileiro................................... 16

    5 Mercado de Cmbio Brasileiro.......................................................................... 29

    6 Contratao e Registro no Sisbacen................................................................ 30

    7 Liquidao da moeda nacional e estrangeira................................................... 32

    8 Evoluo do Mercado de Cmbio Primrio Comercial no perodo de jan/2001

    a jul/2002........................................................................................................... 48

    9 Evoluo do Mercado de Cmbio Primrio Financeiro no perodo de

    jan/2001 a jul/2002 ........................................................................................... 49

    10 Evoluo do Mercado Interbancrio de Cmbio no perodo de jan/2001 a

    jul/2002.............................................................................................................. 49

    11 Total de giro, pagamentos e transferncias via TED realizadas pelo STR

    entre 22/04/2002 e 30/09/2002......................................................................... 50

    12 Volume total do giro e dos pagamentos realizados pelo STR entre

    22/04/2002 e 30/09/2002.................................................................................. 51

    13 Volume contratado pela BM&F para liquidao em D+1 no perodo de

    22/04/2002 e 30/09/2002.................................................................................. 52

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    14 Volume contratado pela BM&F para liquidao em D+2 no perodo de

    22/04/2002 e 30/09/2002 ................................................................................. 53

    15 Volume financeiro mensal liquidado pela Clearing de cmbio entre maio e

    setembro de 2002............................................................................................. 54

    16 Volume total do mercado interbancrio de cmbio negociado no Sisbacen e

    na BM&F para liquidao em D+1 no perodo de 22/04/2002 a

    30/09/2002........................................................................................................ 55

    17 Volume total do mercado interbancrio de cmbio negociado no Sisbacen e

    na BM&F para liquidao em D+2 no perodo de 22/04/2002 a

    30/09/2002........................................................................................................ 56

    18 Participao da Clearing no mercado interbancrio de cmbio no perodo de

    26/04/2002 a 30/09/2002.................................................................................. 57

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    LISTA DE TABELAS

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    1 Quantidade de documentos trocados no sistema financeiro brasileiro (em

    milhes de unidades)....................................................................................... 11

    2 Valor dos documentos trocados no sistema financeiro brasileiro (em R$bilhes)............................................................................................................. 11

    3 Caractersticas do antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro......................... 14

    4 Valores das tarifas bancrias cobradas por vrios bancos para as

    operaes de DOC e TED realizadas pelas pessoas fsicas........................... 24

    5 Valores das tarifas bancrias cobradas por vrios bancos para as

    operaes de DOC e TED realizadas pelas pessoas jurdicas....................... 25

    6 Mudanas para as pessoas jurdicas com o novo SPB................................... 26

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    LISTA DE QUADROS

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    1 STR: Aspectos Operacionais das Transferncias de Reservas...................... 18

    2 Diferenas entre os sistemas de liquidao interbancrias............................. 20

    3 Mdia de cheques e DOC entre fevereiro e agosto de 2001........................... 21

    4 Mudanas para as pessoas fsicas com o novo SPB...................................... 22

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BACEN Banco Central do Brasil

    BIS Bank for International Settlements

    BM&F Bolsa de Mercadorias e Futuros

    CBLC Cmara Brasileira de Liquidao e CustdiaCETIP Central de Custdia e de Liquidao Financeira de Ttulos

    CHIPS Clearing House Interbank Payment System

    CIP Cmara Interbancria de Pagamentos

    DEBAN Departamento de Operaes bancrias

    DNS Designated-time net settlement

    DOC Documento de Crdito

    DVP Delivery versus payment

    FEBRABAN Federao Brasileira dos BancosFEDWIRE Federal Reserve Wire Transfer Service

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    IF Instituio Financeira

    LBTR Liquidao bruta em tempo real

    LDL Liquidao diferida lquida

    PCP Pagamento contra pagamento

    PROER Programa de Estmulo Reestruturao e Fortalecimento do Sistema

    Financeiro NacionalPROES Programa de Incentivo Reduo do Setor Pblico Estadual na

    Atividade bancria

    PVP Payment versus payment

    RTGS Real-time gross settlement

    SELIC Sistema Especial de Liquidao e Custdia

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    SFN Sistema Financeiro Nacional

    SISBACEN Sistema de Informaes do Banco Central

    SLC Superintendncia de Liquidao e CustdiaSPB Sistema de Pagamentos Brasileiro

    STR Sistema de Transferncia de Reservas

    SWIFT Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication

    TED Transferncia Eletrnica Disponvel

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    REESTRUTURAO DO SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO: O CASO DA

    CLEARING DE CMBIO DA BM&F

    Autor: DOUGLAS MIRANDA LIMA

    Orientador: Prof. Dr. PEDRO CARVALHO DE MELLO

    RESUMO

    Este estudo teve como finalidade mostrar a importncia da Clearing de Cmbio

    dentro do novo projeto de reestruturao do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Para

    tanto foi observado como funcionava o antigo sistema, com os riscos assumidos peloBanco Central, principalmente no que se refere possibilidade do risco sistmico. No

    novo projeto, as Clearings so fundamentais para se evitar esse tipo de risco. Os

    dados utilizados permitiram que fossem feitas simulaes com a presena ou no da

    Clearing. Para contextualizar o cenrio em que se encontrava a economia antes da

    implantao do novo sistema fez-se uma breve anlise do cenrio de instabilidade pelo

    qual o sistema bancrio atravessava e a forma como o governo conseguiu control-lo.

    Para garantir uma maior segurana em todo o sistema de pagamentos criou-se o

    Sistema de Transferncia de Reservas adotando o processo de liquidao bruta emtempo real, conseguindo eliminar a possibilidade de risco de crdito. A Clearing de

    Cmbio possui um papel fundamental no novo SPB pois trabalha adotando o princpio

    da liquidao lquida, reduzindo a necessidade de capital para a realizao das

    transaes financeiras. O objetivo do trabalho foi mostrar os efeitos causados no

    mercado de cmbio e o papel da clearing nesse novo sistema. Notou-se que o

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    mercado interbancrio de cmbio tem apresentado um grande equilbrio no s entre o

    nmero de contratos de compra e venda de moeda, mas tambm entre o valor desses

    contratos. Os dados obtidos mostraram uma tendncia de aumento no total de giro e

    de pagamentos realizados via STR. A Clearing tem mostrado cada vez mais uma

    grande importncia no novo SPB, com um volume de contratos crescente tanto para

    liquidao em D+1 quanto em D+2. Verifica-se que nos primeiros cinco meses de

    existncia apenas 15% de toda moeda negociada foi efetivamente transferida entre as

    instituies, reduzindo de forma considervel o montante de moeda necessria nas

    negociaes e em conseqncia a possibilidade do risco sistmico. Apesar da

    diminuio do tempo necessrio para as transferncias e da certeza de liquidao

    financeira, um dos principais problemas que ainda dificultam o aumento nas

    negociaes atravs da Clearing de Cmbio so os altos custos para se operar nesse

    sistema. Para consolidar ainda mais a Clearing como instituio, estuda-se o

    lanamento de novos produtos que venham atender demanda do mercado financeiro,

    como por exemplo a possibilidade de liquidao financeira intradia e a negociao com

    outras moedas. A Clearing de Cmbio da BM&F a primeira do mundo a negociar

    moeda e o seu sucesso pode fazer com que instituies do mesmo gnero sejam

    criadas pelos Bancos Centrais dos outros pases.

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    BRAZILIAN PAYMENT SYSTEM RESTRUCTURING: THE CASE OF THE BM&F

    FOREIGN EXCHANGE CLEARINGHOUSE

    Author: DOUGLAS MIRANDA LIMA

    Adviser: Prof. Dr. PEDRO CARVALHO DE MELLO

    SUMMARY

    This study had the goal to clarify the importance of the Foreign Exchange

    Clearinghouse related with the new project of restructuring the Brazilian System of

    Payments (BSP). With this purpose it was observed how the old payment systemoperated, with the risks assumed by the Central Bank, mainly those associated with the

    systemic risk. In the new project, the Clearinghouses have a fundamental role to avoid

    the systemic risk. The data used in the research allowed to simulate and compare the

    effects on the foreign exchange market, in the presence or in the absence of the

    Clearinghouse. To understand how the economy was before the implantation of the

    new project, it was done a brief analysis about the instability which the bank system

    was affected and the way that the government tried to control it. To guarantee more

    security in the whole payment system, it was created the Reserve Transfer System(RTS) that adopt a process of Real-Time Gross Settlement, achieving the goal of

    eliminating the possibility of credit risk. The Foreign Exchange Clearinghouse has a

    fundamental role in the new BSP because works adopting the principle of the net

    settlement, reducing the capital necessity to do financial transactions. A qualitative

    analysis had a purpose to show the effects due in the foreign exchange market and the

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    Clearinghouse function in this new system. It was observed that the interbank foreign

    exchange market has been showed a great equilibrium in the number of contracts

    bought and sold, but also in their values. The data obtained presented a trend of raising

    in the total negotiated and in the payments done via RTS. The Clearinghouse has been

    showed that its importance is increasing in the new BSP, with the volume of contracts

    raising in both settlement D+1 and D+2. It is noted that in the first five months of

    existence, only 15% of whole currency negotiated was effectively transfered within

    institutions, reducing in a considerable manner the total of currency required and, in

    consequence, reducing the possibility of systemic risk. Although the diminishing of the

    time for transferences and of the certainty about the financial settlement, one of the

    main problems are the high costs to operate in this system. To consolidate the

    Clearinghouse importance as an institution, it has been done studies to launch new

    products to take care of the demand like, as example, the possibility of financial

    settlement intraday and the negotiation with other currencies. The BM&F Exchange

    Clearinghouse is the first one in the world that transacts currency and its success may

    influence other countries that can adopt the same system.

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    1 INTRODUO

    De acordo com Banco Central do Brasil - BACEN (2001a), por sistema de

    pagamentos entende-se o conjunto de procedimentos, regras, instrumentos e sistemas

    operacionais integrados utilizados para a transferncia de fundos do comprador para ovendedor, encerrando, assim, uma obrigao. Toda economia de mercado depende

    desses sistemas para movimentar os fundos decorrentes da atividade econmica

    (financeira, comercial e produtiva), tanto em moeda local quanto em moeda

    estrangeira.

    Os sistemas de pagamentos so responsveis por interligar, por meio de uma

    cadeia no coordenada de ordens de pagamentos, os agentes no-bancrios, os

    bancos1e o BACEN. O montante das transferncias dirias dessas ordens (exceto as

    transaes com papel-moeda), realizadas por meio de cheques, cartes de crdito,transferncia eletrnica de fundos, documento de crdito, transforma-se em poucas

    transferncias interbancrias de fundos de elevado valor nas contas reservas

    bancrias mantidas pelos bancos no BACEN. A conseqncia dessas transferncias

    o desequilbrio do fluxo de caixa dos bancos nas reservas bancrias, criando a

    condio para o funcionamento do mercado interbancrio de reservas, cujas

    transaes tambm so realizadas via sistema de pagamentos.

    Com o objetivo de aumentar a eficincia e melhorar a gerncia de risco so

    feitas mudanas nos sistemas de pagamentos. Quanto ao aumento da eficinciabusca-se um melhor fornecimento de servios de pagamentos adequados s

    necessidades dos agentes, minimizao da flutuao (float) gerada pela defasagem

    entre a contratao e a liquidao dos pagamentos e busca da reduo de custos.

    1Consideram-se bancos as instituies financeiras que mantm conta Reservas Bancrias no BACEN.Por reservas bancrias entendem-se os depsitos em espcie que os bancos mantm no BACEN tantopara fins de cumprimento de recolhimento compulsrio, quanto para efetuar pagamentos interbancrios.

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    Como resultado espera-se um melhor desempenho das atividades econmicas

    suportadas por tais sistemas.

    Para melhorar a gerncia de riscos so criados mecanismos que reduzem a

    possibilidade de perdas enquanto o pagamento ainda no finalizou, ou seja, antes da

    transferncia efetiva de fundos entre as contas reservas bancrias dos bancos

    envolvidos e a transferncia do bem, servio ou ativo negociado. A estabilidade dos

    mercados financeiros depende fortemente desse ponto, pois a rede na qual o sistema

    de pagamentos opera um meio potencial de transmisso de distrbios.

    A relao entre os bancos muito grande, de forma que o pagamento de um

    banco representa a liquidez de outro, de modo que qualquer distrbio na transferncia

    de fundos, independente do motivo, pode levar inadimplncia de outros agentes, que

    deles dependiam para equilibrar seus caixas. Assim, mesmo as instituies financeiras

    que no esto diretamente envolvidas com o banco inadimplente podem ser afetadas.

    Esses distrbios na cadeia de pagamentos (sem a existncia de mecanismo de

    proteo), abalam a confiana e a discricionariedade de todo o sistema financeiro,

    afetando a concesso de crdito, especialmente o interbancrio. Se essa

    inadimplncia local no for contida, todo o sistema financeiro desestabilizado.

    Todo o sistema de pagamentos elaborado para poder suportar a quebra de

    um ou mais participantes. Caso no existam mecanismos adequados para o controle

    do risco, o BACEN se torna refm do risco sistmico, pois ele acaba sendo o rgo

    que assume os riscos produzidos pelos demais participantes2.

    O BACEN, para amenizar esses riscos, se defronta com a seguinte questo:

    devolver os lanamentos a descoberto na conta reservas bancrias, aceitando as

    possveis conseqncias, ou fornecer liquidez mesmo que a saque a descoberto,

    dando curso cadeia de pagamentos. Qualquer que seja a deciso tomada, problemas

    surgiro.

    2As razes para se explicar a falha da contraparte podem ser de natureza tcnica ou temporria. Ou seja,o evento pode ser caracterizado como "transao insuficiente", em vez de "falta de pagamento". Muitasvezes, na data de liquidao, os fatores que podem vir a levar falha de uma das partes nem sempre sobem identificados. Em conseqncia, pode-se abalar a confiana das instituies em seus parceiros denegcios. Essa ruptura das condies de perfeita liquidao de qualquer uma das partes pode provocaruma reao em cadeia, que poder impactar a sade financeira de outras instituies, afetando aconfiana na solvncia do sistema, com srias conseqncias s obre os mecanismos de financiamento produo. Segundo Bank for International Settlements - BIS (2002c) a combinao dos efeitos dessascategorias pode levar ao chamado risco sistmico. Uma definio precisa desse tipo de risco dada porBACEN (2000b): "a probabilidade de falhas de crdito e/ou de liquidez que venham a deflagrar umareao em cadeia envolvendo os participantes de um sistema".

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    Adotando a primeira soluo, o BACEN apenas transferir os problemas de

    inadimplncia de um participante para o outro. Se adotar a segunda soluo evitam-se

    problemas sistmicos no curto prazo; no entanto, num segundo momento, elimina-se o

    incentivo dos bancos de se introduzir controles prprios de proteo contra a falta de

    pagamentos tornando-se mais agressivos e assumindo maiores riscos em seu negcio.

    Segundo BACEN (2001a), o Banco Central do Brasil se defronta com esse dilema e

    para tentar ameniz-lo props o projeto de reestruturao do sistema de pagamentos

    brasileiro.

    1.1 O problema da pesquisa

    Dentro do novo sistema de pagamentos proposto pelo BACEN um dos objetivos

    repassar o controle do mercado de cmbio para uma Cmara de Compensao.

    Criou-se ento a Cmara de Registro, Compensao e Liquidao de Operaes de

    Cmbio BM&F (Clearing de cmbio) para deixar as operaes no mercado

    interbancrio de cmbio mais seguras. Essa clearing se responsabiliza pelo

    cumprimento dos contratos interbancrios de cmbio evitando que a inadimplncia de

    alguma instituio financeira venha a gerar problemas para o BACEN e para o

    mercado financeiro, assumindo parte dos riscos causados por essa inadimplncia.

    A proposta desta dissertao avaliar quais os efeitos causados no mercado

    de cmbio com a implantao do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

    Particularmente pretende-se verificar qual o papel da Clearing de Cmbio da Bolsa de

    Mercadorias e Futuros (BM&F) dentro desse novo sistema, analisando a participao

    dessa Clearing junto ao BACEN.

    1.2 A situao-problema

    O antigo sistema de pagamentos brasileiro foi desenvolvido, ao longo das

    ltimas dcadas, em meio a um ambiente de forte desequilbrio macroeconmico e

    com o objetivo principal de aumentar a eficincia. Houve uma reduo do tempo de

    compensao de cheques e outros papis e o desenvolvimento de diversos sistemas

    operacionais para liquidao e custdia eletrnica de ttulos. Na poca em que esse

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    sistema foi instalado as prioridades associadas estruturao destes sistemas eram a

    agilidade e a segurana das operaes.

    Entretanto, a partir da segunda metade dos anos 90, com o Brasil j inserido no

    processo de globalizao, ocorreu um fato decisivo que marcou profundamente a

    transformao na economia brasileira: o processo de estabilizao (a partir do Plano

    Real). Como conseqncia, houve uma reestruturao do setor financeiro (PROER e

    PROES) despertando o debate para a importncia da reduo do risco individual e

    sistmico.

    Sob a tica da experincia internacional trs grandes questes vm norteando

    as discusses sobre o desenho dos modelos voltados para este objetivo,

    principalmente aps as crises financeiras que abalaram o mundo: superviso bancria,

    regulamentao prudencial3e sistema de pagamentos. No caso brasileiro, o BACEN

    coordenou diversos avanos em termos de regulamentao prudencial e lanou, em

    1999, as bases para o debate a respeito do assunto.

    O projeto anunciado estabeleceu as diretrizes para o funcionamento de um

    novo sistema de pagamentos no Brasil. Segundo elas, esse novo sistema funciona

    baseado em trs formas diferentes de liquidao dos pagamentos interbancrios, que

    convivem juntas e se diferenciam pelo montante liquidado e pelo sistema de liquidao

    utilizado. Essas trs formas so: o Sistema de Transferncia de Reservas (STR) que

    liquida grandes valores), as Clearings (baseadas no princpio de liquidao pelo total

    lquido de operaes ao final do dia) e a compensao tradicional (que no modificou o

    seu funcionamento e ainda pode ser utilizado para liquidao).

    De acordo com BACEN (2000a) a implantao do novo Sistema de

    Pagamentos Brasileiro ocorreu em 22 de abril de 2002. A partir desse dia, o mercado

    passou a contar com mecanismos que evitam que o mesmo fique travado em razo do

    aumento excessivo da demanda por reservas bancrias, que eventualmente possa

    ocorrer.

    Uma das bases para o sucesso desse novo sistema a presena das

    Clearings. Elas foram elaboradas para garantir o fiel cumprimento de todos os

    negcios realizados nas bolsas e de acordo com Bolsa de Mercadorias & Futuros -

    3Por regulamentao prudencial entende-se todas as normas e regulamentos estabelecidos pelo BACENque visem estabelecer uma normalidade no sistema financeiro evitando distrbios.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

    22/91

    5

    BM&F (1996), esse sistema pode ser tanto um departamento interno como uma

    organizao independente, controlada ou no pela bolsa.

    Para o BIS (2002a) essa distino depende de quem possui e opera o sistema

    e no da identidade do agente de liquidao. Sendo assim, existem sistemas do

    BACEN, pertencentes a este banco e operados por ele (ou por suas entidades

    afiliadas) nos quais o BACEN tambm se encarrega da liquidao; e sistemas do setor

    privado, pertencentes a um grupo privado e operados por ele (seja uma associao

    bancria ou uma cmara de compensao) onde o papel operacional principal do

    BACEN o de agente de liquidao.

    Na Bolsa de Mercadorias e Futuros - BM&F - os servios de Clearing so

    prestados por um departamento interno, a Superintendncia de Liquidao e Custdia

    (SLC), responsvel pelo registro das operaes e controle de posies, compensao

    de ajustes dirios, liquidao financeira e fsica dos negcios e administrao de

    garantias.

    De acordo com BM&F (2001a), as cmaras de compensao existentes no

    Brasil no possuam instrumentos para o controle de riscos, ficando para o BACEN o

    papel de banco inadimplente (dentro da cadeia de pagamentos), assumindo todo o

    risco existente nos contratos. O BACEN concedia crdito sem limite (via saque a

    descoberto em reservas bancrias), sem garantias e sem contrato para que os bancos

    pudessem saldar suas dvidas e ao mesmo tempo evitassem o risco sistmico.

    Dentro do novo sistema de pagamentos proposto, as Clearings (divididas em

    Clearings de pagamentos, de ativos, de derivativos e de cmbio) mostram-se

    fundamentais para evitar esse risco sistmico.

    Dentre todas essas Clearings, este trabalho analisar a de cmbio pois esta

    contempla um dos mais importantes mercados, tomado como referncia para se

    analisar a economia de qualquer pas. O mercado de cmbio possui enorme

    importncia pois nele so movimentados os fluxos cambiais originrios do sistema

    financeiro e comercial. Alm disso ele envolve o setor produtivo e o mercado

    financeiro, ligando o mercado domstico e o externo.

    At o incio do ano de 2002, as operaes de cmbio eram realizadas atravs

    do Sistema de Informao do Banco Central (Sisbacen) e o pagamento/recebimento

    dos reais correspondentes contratao de determinada operao era feito mediante

    dbito/crdito nas contas de reservas bancrias. A liquidao geralmente acontecia

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

    23/91

    6

    aps decorridos dois dias teis (D+2) pelo valor bruto (uma a uma). Neste antigo

    modelo no estavam envolvidos os depsitos de garantias e no existia sincronia entre

    a efetivao dos pagamentos, de forma que as instituies compradoras ou

    vendedoras corriam riscos nas respectivas operaes.

    O volume movimentado no mercado de cmbio brasileiro gira em torno de

    US$2 bilhes por dia (PROPOSTA, 2000b) e a existncia de uma Clearing que o

    regulamente e o controle ajuda a diminuir o risco sistmico, fortalecendo, em

    consequncia, o sistema financeiro nacional.

    1.3 Objetivos

    O objetivo desta dissertao avaliar, do ponto de vista qualitativo, quais os

    efeitos causados no mercado de cmbio com a implantao do novo Sistema de

    Pagamentos Brasileiro (SPB). Particularmente pretende-se verificar qual o papel da

    Clearing de Cmbio da BM&F dentro desse novo sistema, analisando a participao

    dessa Clearing junto ao BACEN e sua eficincia na reduo do risco sistmico da

    economia brasileira.

    As variveis observadas e medidas ao longo do trabalho procuram mostrar no

    s a evoluo do novo SPB mas tambm a importncia da Clearing de Cmbio nesse

    novo sistema. A participao dos agentes (comercial, financeiro e o BACEN) no SPB, a

    evoluo do Sistema de Transferncia de Reservas (STR), os volumes contratados

    pela BM&F para liquidao em D+1 e D+2 e os volumes liquidados pela Clearing de

    Cmbio so algumas dessas variveis.

    Alm desta introduo, o presente trabalho conta com mais 5 captulos. Uma

    breve caracterizao do atual sistema de pagamentos, da evoluo do setor bancrio e

    da nova proposta do BACEN feita no captulo 2. O terceiro captulo descreve o

    funcionamento do mercado de cmbio, mostrando os seus riscos e a atuao da

    Clearing de cmbio da BM&F.

    O quarto captulo descreve a metodologia a ser utilizada para se alcanar os

    objetivos propostos. No captulo 5 so apresentados e discutidos os resultados e por

    ltimo, no captulo 6 so apresentadas as concluses e as recomendaes finais.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Panorama de insero do projeto

    H cerca de vinte anos, o Brasil terminou um ciclo de crescimento econmicoque se iniciou nas primeiras dcadas do sculo e que foi caracterizado pela

    implantao de uma base industrial, ampla e diversificada, para produzir bens que

    antes eram importados. O papel desempenhado pelo Estado foi muito importante,

    atuando como empresrio, por meio das empresas estatais, criando os mecanismos e

    incentivos para atrair o capital estrangeiro e transferindo renda para financiar o capital

    domstico, privado e estatal.

    Com o fim do modelo de substituio de importaes o Estado entrou numa

    grande crise fiscal, com o esgotamento de sua capacidade de poupar, em virtude daspresses de diferentes grupos da sociedade pelo controle de fatias do bolo das

    despesas governamentais, que excediam aquilo que o Estado era capaz de obter

    atravs da receita tributria tradicional e de sua capacidade normal de endividamento.

    Essas presses foram aumentando e o Brasil entrou na dcada de 90 com uma

    das mais instveis economias at ento j vistas, com uma inflao que chegou a

    2.708% no ano de 1993 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE, 2001).

    O cenrio de instabilidade se altera aps 1994, com a implantao do Plano

    Real. A proposta deste plano era conseguir uma estabilidade financeira por meio docombate inflao, a qual foi alcanada, pois em 1995 a inflao atingiu 14,8% (IBGE,

    2001). Com essa queda na inflao e consequente estabilizao da moeda foram

    retirados os ganhos inflacionrios (floating) das instituies financeiras, enfraquecendo

    diversas dessas instituies. Ocorreu um crescimento das insolvncias bancrias e a

    necessidade de se reformular todo o sistema financeiro passou a ser urgente, pois

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    8

    algumas instituies bancrias (como o Banco Econmico, o Banco Meridional e o

    Banco Nacional) comearam a passar por problemas.

    Esses problemas foram solucionados com o emprego de recursos do PROER

    (Programa de Estmulo Reestruturao e Fortalecimento do Sistema Financeiro

    Nacional) e do PROES (Programa de Incentivo Reduo do Setor Pblico Estadual

    na Atividade Bancria).

    O PROER consumiu, em valores da poca, cerca de R$ 17 bilhes (BACEN,

    2002a) e de acordo com Fortuna (1999) seu objetivo era assegurar a liquidez e a

    solvncia do sistema, possibilitando ao governo administrar as instituies com

    problemas at que elas pudessem ser saneadas e repassadas a outros grupos. Ainda

    em 1995 o governo dificultou a constituio de novas instituies financeiras e criou

    incentivos para a fuso, incorporao e transferncia de controle acionrio.

    O PROES foi criado em moldes semelhantes ao PROER e oferecia trs

    alternativas s instituies bancrias: privatizao com incentivos financeiros do

    governo, transformao em banco de fomento com ajuda do governo ou continuar na

    mesma situao. A estimativa de gastos para esse programa foi bem maior que o do

    PROER, de acordo com Fortuna (1999), algo em torno de R$ 54 bilhes em valores da

    poca.

    Tanto o PROER quanto o PROES tinham como papel garantir a calma e a

    estabilidade do sistema financeiro nacional, assegurando os baixos ndices

    inflacionrios, que poderiam ser revertidos caso o dinheiro depositado nas instituies

    fosse jogado no sistema. Esses depsitos apresentam um valor bem maior do que

    aquele efetivamente depositado nas instituies devido ao mecanismo do multiplicador

    bancrio que os bancos possuem.

    Em tese, somente o BACEN pode emitir moeda, mas os bancos tambm tem

    esse poder. A moeda produzida pelos bancos recebe o nome de moeda escritural e ao

    seu processo de criao d-se o nome de multiplicador bancrio. O mecanismo de

    funcionamento deste sistema est descrito de modo simplificado a seguir.

    Do ponto de vista do banqueiro, os diversos depsitos realizados pelas pessoas

    e empresas nos bancos geram emprstimos; mas do ponto de vista do sistema

    bancrio como um todo os emprstimos que o banco concede s pessoas e empresas

    geram depsitos. O segredo, segundo Simonsen & Cysne (1995) est em que o banco

    no empresta realmente o dinheiro que tem em caixa, mas sim, faz um promessa de

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    que este papel-moeda estar disponvel para o cliente se ele achar necessrio, o que,

    como todos sabem (inclusive o banco) raramente acontece. Aps o depsito e o

    redepsito, o banco est novamente apto a reiniciar o processo.

    O dinheiro que o banco emprestou permanece no seu caixa, pronto para ser

    utilizado. No entanto, o montante que o banco pode novamente emprestar menor que

    o inicial. O motivo e o percentual desta reduo depende da primeira transao

    realizada. Parte do dinheiro que o primeiro cliente solicitou pode ter sido usado para

    pequenas despesas (aquelas feitas sem a utilizao de cheques), resgatando uma

    frao do emprstimo. Para satisfazer essa demanda, os bancos precisam manter em

    caixa um percentual dos depsitos que aceita, ao qual d-se o nome de reserva

    voluntria. O BACEN, por sua vez, considerando esse percentual insuficiente para

    garantir a segurana do sistema decide impor um coeficiente adicional de reservas, ao

    qual d-se o nome de reservas compulsrias (servem para cobrir as retiradas naqueles

    dias em que estas excederem o coeficiente normal, para o qual o banco est

    preparado voluntariamente).

    O mecanismo de funcionamento das clearings semelhante ao do sistema

    bancrio, ou seja, elas fazem com que o valor movimentado pelos bancos seja bem

    maior que o montante realmente depositado em seus caixas. Segundo BM&F (2002a)

    os mecanismos de salvaguardas financeiras (dispositivos de segurana que garantem

    a liquidao das operaes aceitas pelas clearings) so formados pelas garantias

    (feitas pelos bancos), pelos fundos (feitos pela clearing) e pelo patrimnio especial

    (feito pela bolsa). A figura 1 mostra a diversificao dos ttulos aceitos como garantias

    pela clearing de cmbio da BM&F. O montante total dessas garantias no dia

    30/09/2002 era R$ 953.591.947,59 (BM&F, 2002b), enquanto o montante dos fundos

    de participao dessa clearing, para esta mesma data, valia R$ 94.751.319.

    Observando a figura 2 verifica-se os diversos ttulos que formam as garantias. Os

    principais so as Notas do Banco Central (NBCE), seguido pelas Notas do Tesouro

    Nacional (NTN) e pelas Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Juntos, esses trs ttulos

    so responsveis por aproximadamente 85% de todas as garantias depositadas na

    Clearing de Cmbio.

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    30

    35

    40

    N B CE (1 8 ) N T N D (7 8) LFT (21) LTN (10) N T NC (77 ) N T N D (73 ) Dlar L F T B (24)

    T tul os dep os i tad os com o garan ti as

    (%)

    Figura 1 - Total de garantias depositadas na Clearing de Cmbio em 30/09/2002.Fonte: BM&F (2002b)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    N BCE (1 8 ) N T ND (78 ) LFT (21) LT N (10) N TN C (7 7 ) D l ar N T ND (73) L F T B (24)

    T tul os dep os i tad os com o Fun do de P ar t ic ipa o

    (%)

    Figura 2 - Total de Fundo de Participao formado pela Clearing de Cmbio em

    30/09/2002.

    Fonte: BM&F (2002b)

    Junto com a consolidao do sistema bancrio ocorreu um crescimento daquantidade de cheques, Documentos de Crdito (DOCs) e cobranas que circulam no

    mercado e so utilizados para a aquisio diria de bens de consumo e servios. Esse

    consumo dirio representado pelas compras que as pessoas fazem, pelos

    pagamentos realizados e pelas transferncias de dinheiro entre as contas. Nos ltimos

    anos a quantidade de documentos trocados e o volume de moeda transacionado tm

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    11

    aumentado, exigindo maior controle de todo o sistema financeiro, com treinamento de

    funcionrios e modernizao da infra-estrutura bancria, evitando-se com isso que o

    sistema venha a entrar em colapso.

    De acordo com a tabela 1, nos ltimos 5 anos foram trocados no Brasil uma

    mdia anual de 2,7 bilhes de cheques, 580 milhes de bloquetos de cobrana e mais

    de 60 milhes de Documentos de Crdito (DOCs).

    Essas trocas, segundo o tabela 2, chegaram a corresponder a um volume anual

    superior a R$ 4 trilhes, sendo mais de R$ 1,82 trilhes em cheques, R$ 450 bilhes

    em bloquetos de cobrana e R$ 1,76 trilhes em DOCs.

    Tabela 1. Quantidade de documentos trocados no sistema financeiro brasileiro (em

    milhes de unidades).

    Composio da troca

    Documento Participao % no Total

    PerodoCheque (A)

    Bloqueto de

    Cobrana (B)DOC (C)

    Total

    (A+B+C) ChequeBloqueto de

    CobranaDOC

    1997 2.943,9 512,6 44,2 3.500,6 84,1 14,6 1,3

    1998 2.751,5 545,7 49,8 3.347,0 82,2 16,3 1,5

    1999 2.612,1 565,6 58,6 3.236,3 80,7 17,5 1,8

    2000 2.637,5 624,4 70,1 3.332,0 79,2 18,7 2,1

    2001 2.600.3 681,5 82,2 3.364,1 77,3 20,3 2,4

    Fonte: BACEN (2002a)

    Tabela 2. Valor dos documentos trocados no sistema financeiro brasileiro (em R$

    bilhes).

    Composio da troca

    Documento Participao % no Total

    PerodoCheque (A)

    Bloqueto de

    Cobrana (B)DOC (C)

    Total

    (A+B+C) ChequeBloqueto de

    CobranaDOC

    1997 1.860,4 351,7 1.676,1 3.888,3 47,8 9,0 43,1

    1998 1.797,4 367,3 2.031,7 4.196,4 42,8 8,8 48,4

    1999 1.741,0 421,3 1.859,0 4.021,3 43,3 10,5 46,2

    2000 1.805,8 514,6 1.390,5 3.710,8 48,7 13,9 37,5

    2001 1.884,9 595,4 1.849,7 4.330,1 43,5 13,8 42,7

    Fonte: BACEN (2002a)

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    12

    Um novo sistema de pagamentos que trouxesse mais segurana para todo

    esse fluxo de ativos (dinheiro, cheques, DOCs, fundos, etc.) se tornou urgente no

    Brasil, para reduzir os riscos e aumentar a confiana no sistema financeiro.

    2.2 Antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro

    Segundo Andrezo & Lima (1999), o antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro

    era composto por quatro cmaras de compensao: Selic, Cetip, Compe e Cmbio que

    liquidavam as operaes diretamente nas reservas bancrias do BACEN. Algumas

    caractersticas dessas Clearings so dadas a seguir.

    O Selic (Sistema Especial de Liquidao e Custdia) era o sistema responsvel

    pelas transaes, primrias e secundrias, com ttulos pblicos federais, sendo esses

    ttulos desmaterializados (isto , escriturais e custodiados em nome de seus

    possuidores). A Cetip (Central de Custdia e de Liquidao Financeira de Ttulos)

    destinava-se a negociar os ttulos privados e alguns ttulos pblicos. Nesse antigo

    sistema, tanto o Selic quanto a Cetip liquidavam suas operaes atravs do saldo

    lquido multilateral ao final do perodo (D+0 para o Selic e D+1 para a Cetip). A

    transferncia era feita operao a operao, enquanto a liquidao financeira era

    realizada pelo valor lquido por instituio.

    A Compe o sistema responsvel pela compensao de cheques e outros

    papis, enquanto o sistema de cmbio aquele no qual so realizadas as transaes

    interbancrias com moeda estrangeira.

    Em nenhuma dessas Clearings existia um mecanismo que gerenciasse os

    riscos e que fosse capaz de absorver a insolvncia de um de seus participantes. As

    mensagens de liquidao financeira que elas enviavam ao BACEN no eram criticadas

    quanto a saldo, o que permitia a manuteno de saques a descoberto na conta

    Reservas Bancrias ao longo do dia, sem garantias e sem contrato, como mostrado na

    figura 3.

    Os principais tipos de risco assumidos pelo BACEN nesse sistema eram o risco

    de crdito e o risco de liquidez. O risco de crdito, definido como o grau de incerteza

    de uma das partes de uma operao sobre o integral cumprimento da obrigao

    contratual por sua contraparte, efetivava-se caso o banco no regularizasse seu caixa

    at o final do dia, e em geral, estava associado insolvncia da contraparte. J o risco

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    13

    de liquidez define-se como o grau de incerteza de uma das partes de uma operao

    sobre o tempestivo cumprimento da obrigao contratual por sua contraparte e decorre

    da impossibilidade momentnea de cumprimento de uma obrigao financeira.

    Dependendo da intensidade com que esses riscos afetam o mercado, pode

    ocorrer o risco sistmico. Esse risco definido como a probabilidade de falhas de

    crdito ou de liquidez que venham a deflagrar uma reao em cadeia envolvendo os

    participantes de um sistema. Nesse caso, devido interligao e interdependncia de

    direitos e obrigaes, a inadimplncia de uma instituio ocasiona uma sucesso de

    inadimplncias em outras instituies, que pode levar, em casos extremos, ao

    comprometimento da estabilidade dos mercados e at ruptura do sistema como um

    todo. A importncia do risco sistmico, portanto, maior nos sistemas de pagamentos

    interbancrios7, nos quais a maior parte dos pagamentos de grandes valores.

    BA

    NCOS

    Clearing BM&F

    Clearing Bolsas

    SisBACEN: Cmbio

    SELIC

    Compe

    BACEN: Lanamentos diversos

    CETI

    RESERVA

    S

    BANCRIAS

    Figura 3 - Liquidao no antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro.

    Fonte: Elaborao do autor

    7Os fluxos financeiros na economia podem ser intrabancrios (quando o pagador e o recebedor possuemrelao de conta corrente no mesmo banco) ou interbancrios (quando os agentes tm conta em bancosdiferentes).

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    14

    De acordo com Chakravorti (1996) esse antigo sistema de pagamentos

    colocava o BACEN em uma posio complicada. Como as cmaras de compensao

    no dispunham de mecanismos para administrar riscos, o BACEN evitava devolver as

    ordens de liquidao em reservas bancrias dos participantes com saldo insuficiente.

    Por outro lado, essa suposio de certeza de liquidao sob a qual operava o sistema

    financeiro, garantida pelo aumento de risco de crdito do BACEN, criava srios

    problemas, tornando os bancos mais relaxados em suas avaliaes dos riscos

    envolvidos nos sistemas e contrapartes com que eles operavam.

    No entanto, como se pode ver na tabela 3, esse antigo sistema de pagamentos

    possua alguns aspectos positivos. Existia uma ampla automao dos processos (o

    que reduzia o tempo de processamento), os ttulos negociados eram todos

    desmaterializados (permitindo um sistema de custdia eletrnica gil e de menor

    custo), a base tecnolgica de telecomunicaes atendia plenamente s necessidades

    e as cmaras de compensao j existiam e operacionalmente funcionavam de modo

    adequado.

    Tabela 3. Caractersticas do antigo Sistema de Pagamentos Brasileiro.

    POSITIVAS NEGATIVAS

    1 Ampla automao dos processos,

    reduzindo o tempo de processamento.

    1 O BACEN assumia os riscos produzidos pelos

    demais participantes, elevando o potencial derisco sistmico.

    2 Os ttulos negociados eram todos

    desmaterializados, permitindo um sistema

    de custdia eletrnica mais gil e de

    menor custo.

    2 Como as regras de absoro de risco pelo

    BACEN no estavam escritas, no era

    possvel mensurar claramente, na tica do

    investidor externo, os riscos envolvido nas

    aplicaes financeiras no Brasil.

    3 A base tecnolgica de telecomunicaes

    atendia plenamente s necessidades do

    sistema.

    3 As cmaras de compensao no possuam

    mecanismos de proteo que assegurassem a

    liquidao de todas as operaes, na hiptese

    de quebra de um participante.

    4 As cmaras de compensao j existiam

    e operacionalmente funcionavam de

    modo adequado.

    4 Existia um elevado intervalo de tempo para a

    liquidao nas Bolsas, reduzindo sua

    competitividade internacional na atrao de

    investidores externos.

    Fonte: Elaborao do autor

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    15

    No entanto, essa antiga configurao tambm possua srios problemas. O

    principal ocorria quando o BACEN assumia os riscos produzidos pelos demais

    participantes, induzindo suposio de liquidao financeira certa (isso elevava o

    potencial de risco sistmico). Existiam tambm reflexos sobre os investidores externos,

    pois como as regras de absoro de risco pelo BACEN no estavam escritas, no era

    possvel mensurar claramente, na tica do investidor externo, o risco envolvido nas

    aplicaes financeiras no Brasil.

    Um outro problema presente era o fato das cmaras de compensao no

    possurem mecanismos de proteo capazes de assegurar o cumprimento de todas as

    operaes na hiptese de quebra de um participante. Para que isso no ocorresse

    havia a necessidade de melhorias na base legal para reconhecimento da

    compensao multilateral, abrindo espao para processos de novao8assim como as

    garantias constitudas pelos participantes na Clearing que, para tornar efetivos os

    mecanismos de proteo, deveriam ser passveis de execuo sem qualquer

    impedimento, na hiptese de inadimplncia de um participante. Por ltimo, tinha-se um

    elevado intervalo de tempo para a liquidao nas Bolsas, reduzindo sua

    competitividade internacional na atrao de investidores externos.

    Todos esses problemas foram fortes motivadores para a reestruturao do

    Sistema de Pagamentos Brasileiro, e juntamente com o mercado, o BACEN tentou

    resolv-los, contribuindo para maior estabilidade e segurana do sistema financeiro do

    Brasil.

    2.3 Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro

    O BACEN aprovou, na Reunio da Diretoria de 30 de julho de 1999, o Projeto

    de Reestruturao do Sistema de Pagamentos Brasileiro , expondo e detalhando as

    diretrizes adotadas. O objetivo geral desse novo sistema diminuir os riscos do

    sistema financeiro (risco sistmico) assumidos pelo BACEN.

    A implementao desse novo sistema gerou trs mudanas fundamentais para

    a movimentao de recursos no setor financeiro: a criao, pelo BACEN, de um

    mecanismo de transferncia de fluxos interfinanceiros de grandes valores; a adaptao

    8Novao o mecanismo contratual por intermdio do qual as Clearings podem se interpor comoresponsveis por assegurar a finalizao de uma transao entre duas partes.(Sandroni, 1994)

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

    33/91

    16

    de outros sistemas que envolvam movimentao de recursos e, consequentemente,

    adequao das Clearings (nas quais so registradas e liquidadas as negociaes com

    papis e outros ativos financeiros) e a constituio de uma base legal slida para dar

    sustentao ao funcionamento dessas entidades.

    Para que o objetivo de reduo do risco sistmico fosse alcanado, vrias

    medidas passaram a ser adotadas. Entre elas tem-se: os sistemas de liquidao

    financeira e negociao passaram a ser concretizados em tempo real, com liquidao

    bruta de operao por operao, via Sistema de Transferncia de Reservas (STR), ou

    com liquidao lquida pelo total de operaes ao final do dia, via Clearing ou ainda

    pelo sistema de compensao tradicional; monitoramento rigoroso, em tempo real, do

    saldo da conta Reservas Bancrias (no sendo mais permitido saldo negativo);

    estabelecimento de linhas de redesconto intradia e overnight, mediante operaes

    compromissadas com ttulos federais e garantia de integrao dos diversos sistemas

    (internos e externos ao BACEN) que tm liquidao final na conta Reservas Bancrias.

    Nesse novo modelo para o SPB, o fluxo de lanamento nas reservas bancrias

    ocorre como mostrado na figura 4. Todas as transaes originrias dos bancos so

    liquidadas atravs do Sistema de Transferncias de Reservas (STR), ou seja, antes de

    ser efetivada a transao na conta reservas bancrias das instituies as transaes

    devem primeiro ter o aval do STR.

    BANCOS

    C E T I P

    S E L I C

    C l e a r i n g P a g a m e n t o s ( C I P )

    C o m p e

    C l e a r i n g A t i v o s ( C e n t r a l )

    C l e a r i n g A t i v o s ( C B L C )

    C l e a r i n g D e r i v a t i v o s ( B M & F )

    C l e a r i n g C m b i o ( B M & F )

    RESERVAS

    BANCRIAS

    STR

    Figura 4 - Liquidao no novo Sistema de Pagamentos Brasileiro.

    Fonte: Elaborao do autor

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    17

    Os pagamentos ordenados pelos bancos devem contar obrigatoriamente com

    respaldo de reservas, isto , eles no podem apresentar saldo negativo, o que implica

    no cancelamento da operao. Saldos negativos temporrios so financiados pelo

    BACEN a custo zero, por meio do redesconto intradia (no mesmo dia), lastreado em

    ttulos pblicos federais. Isso significa que um banco pode utilizar papis em carteira

    para comercializ-los junto ao BACEN, com o compromisso de recompr-los at o final

    do dia, enquanto negocia os recursos necessrios no mercado interbancrio.

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro exige, portanto, monitoramento em tempo

    real do saldo da conta reservas bancrias de cada banco e a definio de horrios a

    serem observados nos lanamentos dos resultados financeiros provenientes das

    Clearings.

    Para que esse novo SPB funcione deve atuar com base em trs formas

    diferentes de liquidao dos pagamentos interbancrios: O Sistema de Transferncia

    de Reservas (STR) para grandes valores, que funciona com base no Real Time Gross

    Settlement (RTGS que o modelo onde a liquidao ocorre pelos valores brutos e

    em tempo real, operao a operao); as Clearings que funcionam baseadas no

    Delayed Netting System (DNS que o modelo de liquidao no qual as operaes

    ocorrem ao final do dia pelo valor lquido, ou seja, o nettingresultante da diferena

    entre as compras e as vendas no decorrer de um certo perodo de tempo) e existe

    ainda o modelo de compensao tradicional.

    Somente os bancos detentores de contas Reservas Bancrias participam do

    STR. Para evitar que esse sistema apresente travas decorrentes da interdependncia

    das operaes ou situaes momentneas de iliquidez, que no estejam justificadas

    pela indisponibilidade de recursos de participantes, o BACEN adotou algumas

    facilidades (de acordo com a tabela 4) para a sua atuao.

    De acordo com BIS (2001) a opo pela estruturao de sistemas de grandes

    valores que liquidam fluxos financeiros dos participantes com base em valores brutos e

    em tempo real (RTGS) tem sido a mais utilizada pelos bancos centrais do G-10,

    provavelmente por ser a que mais se adapta aos objetivos de minimizao de riscos

    sistmicos. Duas importantes fontes de riscos so eliminadas com a adoo de

    mecanismos do tipo RTGS: no h lapso de tempo entre o envio da ordem de dbito

    ou de crdito e a liquidao financeira propriamente dita (j que as operaes se do

    em tempo real) e nem risco de participantes efetivarem as operaes sem a devida

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    18

    contrapartida financeira (j que esta ocorre, operao a operao, com base nos

    valores brutos transferidos).

    Ordens de

    Crdito

    Podem ser realizadas em favor de contas de liquidao das cmaras de compensao

    e de liquidao, do tesouro Nacional, do BACEN e de outras instituies detentoras de

    Reservas Bancrias.

    Podem corresponder a pagamento de cliente da instituio debitada em favor de

    cliente da instituio favorecida.

    Quando envolverem clientes, sero aceitas ou mantidas em pendncia at

    determinado horrio limite prvio aos demais, quando, se no liquidadas, sero

    rejeitadas.

    Lanamentos

    a Dbito

    Somente podero ser comandados, direta ou indiretamente, pelos detentores das

    respectivas contas.

    Sero realizados conforme a ordem cronolgica de entrada, enquanto houver saldoque os suporte.

    Em caso de saldo (ou limite, at 01/01/02) insuficiente, ficaro pendentes, sendo

    ordenados segundo os seguintes nveis de prioridade (e, dentro destes, ordem

    cronolgica):

    A = saques de numerrio e transferncia a crdito de cmara LDL;

    B e C = conforme estabelecido pela instituio, nos lanamentos que comandar.

    As operaes oriundas do Selic no ficaro pendentes e, em caso de saldo (ou limite,

    at 01/01/02) insuficiente, sero rejeitadas e devolvidas ao Selic.

    Lanamentos pendentes no horrio limite do STR sero rejeitados pelo sistema.

    Mecanismo

    de

    Otimizao

    Poder ser processado pelo BACEN, a seu exclusivo critrio, sem horrio ou data

    preestabelecidos.

    Consiste na simulao do resultado lquido multilateral de todos os lanamentos

    pendentes, buscando dar curso ao maior nmero de lanamentos possvel.

    Manter estrita observncia da ordem de pendncia dos lanamentos e, caso possam

    ser processados, sero efetivados um a um, simultaneamente.

    Cmaras LDL

    Sero abertas contas de liquidao especficas para cmaras LDL (que utilizam o

    conceito de liquidao diferida com base no resultado lquido das operaes).

    No caso de cmaras consideradas sistematicamente importantes (segundo critrios a

    serem definidos pelo BACEN): a abertura destas contas ser obrigatria; a liquidaofinanceira de suas operaes dever ser feita diretamente no STR.

    OutrosNo sero mais admitidos lanamentos com data -valor (realizados em uma data, mas

    com efeitos retroativos).

    Quadro 1 - STR: Aspectos Operacionais das Transferncias de Reservas.

    Fonte: BACEN (2000b)

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    A desvantagem desse sistema que o risco de liquidez ainda existe quando, na

    liquidao do contrato, o banco remetente no dispuser de fundos; alm disso, como

    os pagamentos so de grandes valores e liquidados pelo valor bruto, a liquidao pelo

    RTGS exige maior demanda por reservas bancrias, o que, indiretamente, causa a

    concentrao do mercado em poucos bancos (s participando do mercado as maiores

    instituies).

    No projeto do novo SPB as diversas cmaras de compensao estabeleceram

    um conjunto de regras, definindo os limites de atuao dos bancos em cada um dos

    ativos. Com isso, espera-se que o mercado exercite com mais intensidade o princpio

    da auto-regulao, de acordo com a visibilidade sobre as posies e riscos de todas as

    instituies, passando esses riscos a serem assumidos pelo prprio mercado.

    As cmaras de compensao utilizam-se do RTGS e as cmaras de liquidao

    so autorizadas a processar operaes atravs do conceito de DNS.

    De acordo com BIS (2002b), no sistema DNS a liquidao das operaes

    ocorre ao final do perodo com a transferncia do valor lquido multilateral das

    operaes. Esse sistema mais adequado para se administrar os riscos das

    operaes de cmbio e entre as suas principais vantagens tem-se a exigncia de uma

    baixa demanda por reservas bancrias (a compensao multilateral dos valores entre

    os participantes reduz o volume de recursos a serem transferidos, beneficiando os

    bancos que reduzem os custos de oportunidade de se manter encaixes ociosos) e a

    eliminao do risco de principal atravs da utilizao do princpio de pagamento versus

    pagamento (PVP). Em termos operacionais ocorre a simplificao de forma substancial

    do processo de liquidao pois se trabalha com valores lquidos compensados,

    evitando a movimentao de valores brutos operao por operao. A desvantagem

    desse sistema se refere defasagem de tempo na liquidao, a qual cria uma

    concesso implcita de crdito do banco recebedor para o banco comprador, expondo

    os participantes ao risco de crdito. Essas vantagens e desvantagens do RTGS e do

    DNS so melhor visualizadas na tabela 5.

    Um exemplo ajuda a entender a diferena entre os sistemas RTGS e DNS.

    Suponha um banco que compre US$100 milhes em 10 operaes de US$10 milhes

    e venda US$90 milhes em 9 operaes de US$10 milhes. Pelo sistema RTGS esse

    banco receber 10 crditos de US$10 milhes e emitir 9 ordens de pagamento

    tambm de US$10 milhes, sendo cada uma com os respectivos pagamentos e

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    20

    recebimentos em moeda nacional. Se essa transao ocorresse pelo sistema DNS, o

    banco vendedor teria emitido uma nica ordem de pagamento de US$10 milhes,

    correspondendo ao saldo lquido compensado.

    RTGS (Real Time Gross Settlement) DNS (Delayed Netting System)

    Vantagens Desvantagens Vantagens Desvantagem

    1 No h risco dos

    participantes

    efetivarem as

    operaes sem a

    devida contrapartida

    financeira, pois esta

    ocorre operao aoperao, com base

    nos valores brutos

    transferidos.

    Como os pagamentos so

    de grandes valores e

    liquidados pelo valor bruto,

    exige-se maior demanda

    por reservas bancrias

    levando a uma

    concentrao do mercado,resultando em prejuzos

    para os agentes e para a

    poltica econmica como

    um todo.

    Exige-se uma baixa

    demanda por reservas

    bancrias, pois a

    compensao multilateral

    reduz o volume de recursos

    a serem transferidos,

    beneficiando os bancosque reduziro os custos de

    oportunidade de se manter

    encaixes ociosos.

    Defasagem de tempo

    na liquidao, a qual

    cria uma concesso

    implcita de crdito

    do banco recebedor

    para o banco

    comprador, expondoos participantes ao

    risco de crdito.

    2 No h lapso de

    tempo entre o envio

    da ordem de dbito

    ou de crdito e a

    liquidao financeira

    propriamente dita,

    pois as operaesocorrem em tempo

    real.

    O risco de liquidez ocorre

    quando, no momento

    contratado para a

    liquidao, o banco

    remetente no dispuser de

    fundos.

    Simplificao do processo

    de liquidao, pois se

    trabalha com valores

    lquidos compensados,

    evitando a movimentao

    de valores brutos operao

    por operao.

    3 Existe eliminao da

    defasagem de tempo

    da liquidao e do

    risco de crdito

    (garantindo a

    finalizao ao longo

    do dia, reduzindo o

    risco sistmico).

    A aplicao do princpio de

    PVP elimina o risco de

    principal.

    Quadro 2 - Diferenas entre os sistemas de liquidao interbancrias.

    Fonte: Elaborao do autor

    Para fazer a transferncia de valores em tempo real foi criada a TED

    (Transferncia Eletrnica Disponvel). Esse mecanismo de liquidao financeira

    semelhante ao DOC, diferenciando deste apenas na velocidade com que a

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    21

    transferncia se efetiva. Quando um DOC emitido, o dinheiro sai da conta na mesma

    hora, mas ele s vai ficar disponvel na conta do recebedor em D+1, ou seja, no dia

    seguinte. A liquidao via TED ocorre no mesmo dia da transferncia, ou seja, o valor

    creditado na conta do favorecido est disponvel para uso assim que o banco do

    favorecido recebe a mensagem de transferncia. Desse modo, o favorecido passa a ter

    acesso informao do crdito no mesmo instante do recebimento.

    O limite para as transaes via TED de R$ 5 mil. Esse valor surgiu de

    simulaes realizadas pelo BACEN, que demonstraram que as operaes financeiras

    liquidadas por meio de cheques e de DOC acima desse valor trazem um grande risco

    de gerar prejuzos para a sociedade, como conseqncia de um eventual problema

    financeiro de um banco qualquer. Ao se reduzir os cheques e DOC de valor igual ou

    superior a R$ 5 mil, o risco sistmico consequentemente se reduz.

    Verifica-se no quadro 3 que a quantidade de cheques acima de R$ 5 mil

    pouco mais de 1% do total, mas equivalente a um montante de 70% do total

    transacionado. J a quantidade de DOC acima de R$ 5 mil representa menos de 15%

    do total, mas equivalente a 97% do montante total.

    At R$ 5 mil Mais de R$ 5 mil TOTAL

    Quantidade % Quantidade % Quantidade %

    Cheques 9.704.000 98,7 124.000 1,3 9.828.000 100DOC 287.200 85,2 49.900 14,8 337.100 100

    Montante % Montante % Montante %

    Cheques R$ 1,8 bilho 30 R$ 4,2 bilhes 70 R$ 6,0 bilhes 100

    DOC R$ 0,2 bilho 3 R$ 6,0 bilhes 97 R$ 6,2 bilhes 100

    Quadro 3 - Mdia de cheques e DOC entre fevereiro e agosto de 2001.

    Fonte: BACEN (2001b)

    Assim, ao estabelecer um mecanismo que evite a emisso de cheques e DOC

    acima de R$ 5 mil, reduz-se o risco sistmico. O risco mdio total entre fevereiro e

    agosto de 2001 (representado pelo volume transacionado nesse perodo), na

    compensao de cheques e DOC, de R$ 12,2 bilhes e o montante desse risco a

    partir de R$ 5 mil de R$ 10,2 bilhes, ou seja 85% do total. Assim, ao impor o limite

    no valor das transaes, o risco de compensao se reduz a cerca de 15% do

    montante total transacionado, eqivalente a cerca de R$ 2 bilhes.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    22

    interessante destacar algumas mudanas e os novos produtos que surgiram

    juntamente com o novo SPB. A principal foi a Implantao do Sistema de

    Transferncias de grandes valores em tempo real (no qual os pagamentos so

    acelerados). Tambm merece destaque o surgimento de Cmaras de Compensao

    privadas (assumindo o setor privado o seu prprio risco), a introduo do Depsito

    Prvio da Compe (esse mecanismo gera a reduo do volume financeiro dirio da

    Cmara de Compensao), a reestruturao da infra-estrutura tecnolgica e dos

    sistemas de processamento de dados (com isso, atendendo os requisitos de ajuste ao

    novo SPB) e por fim a reduo no volume de cheques repassados pelos bancos

    (aumentando a importncia de produtos como os cartes de dbito e de crdito).

    Essas modificaes ocorrem de maneira distinta de acordo com o setor

    analisado. As novidades para as pessoas fsicas esto mostradas na tabela 7.

    PESSOA FSICA

    1

    Utilizao do STR (em tempo real de forma definitiva e segura, via TED) ou a CIP (com garantia de liquidao)

    como opo para pagamentos e transferncias de recursos, alm dos tradicionais cheques, DOCs e cartes em

    geral.

    2 Necessidade de saldo disponvel sempre que forem utilizados o STR e a CIP

    3 Crdito instantneo de qualquer soma enviada ou transferida eletronicamente pelo novo sistema (STR ou CIP)

    4 Desestmulo emisso de cheques ou DOCs com valores a partir de R$5 mil

    5 As aplicaes financeiras (exceto poupana) s so efetivadas mediante a existncia de saldo disponvel emconta

    6

    Foi alterada a sistemtica de emisso e resgate de quotas de fundos e investimentos. Para rendimento no

    mesmo dia, os Fundos de Investimento devem emitir uma TED, caso contrrio s passaro a render no dia

    seguinte.

    7 Estmulo ao agendamento de operaes (TED programada);

    8Intensificao do uso de canais alternativos (Internet Banking e Centrais Telefnicas dos bancos) para a

    realizao de transferncias;

    9Os bancos podem negociar taxas diferenciadas para a realizao de aplicaes em funo da condio do saldo

    verificado na conta corrente no momento da transao - disponvel ou bloqueado;

    10 Tarifas diferenciadas de acordo com o meio pelo qual so realizadas as transferncias (Compe, CIP ou STR).

    Quadro 4 - Mudanas para as pessoas fsicas com o novo SPB.

    Fonte: Federao Brasileira dos Bancos - FEBRABAN (2002)

    Para a grande maioria das operaes feitas no dia-a-dia, o novo sistema no foi

    percebido, pois so inferiores a R$ 5 mil. As mudanas so melhor observadas quando

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    ocorrem transferncias a partir deste valor. Alm disso, a necessidade de saldo

    disponvel demanda um controle maior do correntista sobre as entradas e sadas de

    recursos, uma vez que no mais permitida a emisso de ordens de pagamento em

    tempo real sobre valores ainda no disponveis.

    Vale ressaltar os custos da emisso de uma Transferncia Eletrnica

    Disponvel (TED). Esses custos so bem menores que aqueles para os Documentos

    de Crdito (DOCs), como pode ser visto pela tabela 8. A migrao para esse novo

    sistema de transferncia tende a aumentar medida em que se popularizar e ganhar a

    confiana do mercado.

    Vrias mudanas tambm ocorreram para as pessoas jurdicas. As empresas

    so afetadas de forma mais direta com as mudanas do novo SPB, pois sua tesouraria

    movimenta diariamente volumes financeiros maiores que os de um correntista comum.

    O grande problema para os tesoureiros das empresas ater-se ao risco de

    descasamento de fluxos financeiros, principalmente na hora de acertar prazos de

    pagamentos ou de recebimentos e a modalidade de realizao da transferncia.

    A implantao do novo SPB no s afeta os procedimentos tradicionais de

    processamento de transaes financeiras, mas principalmente representa uma nova

    cultura que deve ser disseminada na sociedade, uma vez que produz mudanas em

    prticas comerciais consagradas pelo mercado, como o uso do cheque como

    instrumento de crdito. As tarifas das TED para as pessoas jurdicas tambm so bem

    menores do que aquelas cobradas para a realizao de DOC. Essas tarifas e as

    principais mudanas para as empresas esto representadas nas tabelas 9 e 10,

    respectivamente.

    As empresas comerciais tambm procuram incentivar a utilizao dos cartes

    de crdito e de dbito. Segundo Rabello (in Nunes, 2002) a estimativa de crescimento

    do uso desses cartes de 53% em 2002, alcanando um faturamento de R$ 10

    bilhes. A utilizao desses cartes tende a agilizar o pagamento das compras

    realizadas pelas pessoas, reduzindo a inadimplncia e o atraso nos pagamentos.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    Tabela 4. Valores das tarifas bancrias cobradas por vrios bancos para as operaes

    de DOC e TED realizadas pelas pessoas fsicas.

    DOC TEDINSTITUIO FINANCEIRA

    C D Na agncia Term. Eletrn.

    1 Banco Tringulo S. A. 30,00 30,00 10,00 2,00

    2 Banco do Estado de Sergipe S.A. 30,00 30,00 5,00 1,00

    3 Banco Industrial do Brasil S. A. 20,00 15,01 10,00 3,00

    4 Banco do Est. do Maranho S.A. 15,00 15,00 5,00 1,00

    5 Banco do Brasil S.A. 15,00 15,00 n/d 1,00

    6 Banco Cacique S.A. 13,00 13,00 13,00 3,00

    7 Banco de Pernambuco S.A. 13,00 13,00 11,00 1,80

    8 Banco Rural S.A. 12,00 12,00 12,00 1,00

    9 Banco Citibank S.A. 12,00 12,00 10,00 1,20

    10 Banco Paulista S.A. 12,00 10,00 9,00 1,50

    11 Banco Cooperativo do Brasil S.A. 12,00 8,50 5,00 1,00

    12 Banco ABN AMRO Real S.A. 11,00 11,00 11,00 1,50

    13 Banco Bilbao Vizcaya Arg. Brasil S.A. 11,00 11,00 9,90 1,00

    14 Banco BCN S.A. 10,80 10,80 10,80 1,20

    15 HSBC Bank Brasil S.A. Banco Mltiplo 10,80 10,80 n/d 1,30

    16 Banco Mercantil de So Paulo S.A. 10,60 10,60 10,60 1,00

    17 Banco Santander Brasil S.A. 10,50 9,50 n/d 2,74

    18 Banco Santos S.A. 10,00 15,00 10,00 1,00

    19 Banco Inter American Express S.A. 10,00 10,00 10,00 2,00

    20 Banco Industrial e Comercial S.A. 10,00 10,00 10,00 1,35

    21 BankBoston, N.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    22 BankBoston Banco Mltiplo S.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    23 Banco Sudameris Brasil S.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    24 Banco do Nordeste do Brasil S.A. 10,00 10,00 8,00 1,50

    25 Banco do Estado do Par S.A. 10,00 10,00 7,00 1,5026 Unibanco Unio de Bcos Brasileiros S.A. 10,00 10,00 n/d 1,50

    27 Banco BonSucesso S.A. 10,00 10,00 n/d 1,50

    28 Banco Com. E de Inv. Sudameris S.A. 10,00 10,00 n/d 1,00

    29 Banco Ita S.A. 10,00 10,00 n/d 0,90

    30 Banco Bradesco S.A. 9,80 9,80 9,80 1,30

    31 Banco Mercantil do Brasil S.A. 9,00 10,00 n/d 1,50

    32 Banestes S.A. 9,00 9,00 9,00 1,50

    33 Banco do Estado de So Paulo - Banespa 9,00 9,00 n/d 1,30

    34 Banco Banestado S.A. 8,90 8,90 n/d 2,20

    35 Banco do Est. do Rio Grande do Sul S.A. 8,50 8,50 6,50 1,50

    36 Banco do Est. do Piau BEP 8,50 5,00 n/d 1,00

    37 Banco de Braslia S.A. BRB 8,00 8,00 8,00 5,00

    38 Banco do Est. de Santa Catarina S.A. 6,00 6,00 10,00 1,20

    39 Banco Cooper. SICREDI S.A. 6,00 6,00 6,00 0,70

    40 Banco Lloyds TSB S.A. 5,00 5,00 n/d 3,00

    Fonte: BACEN (2002b)

    Nota: Valores em R$/evento do dia 13/08/2002.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    25

    Tabela 5. Valores das tarifas bancrias cobradas por vrios bancos para as operaes

    de DOC e TED realizadas pelas pessoas jurdicas.

    DOC TEDINSTITUIO FINANCEIRA

    C D Na agncia Term. Eletrn.

    1 Banco BCN S.A. 50,00 50,00 50,00 4,20

    2 Banco Tringulo S. A. 30,00 30,00 10,00 2,00

    3 Banco do Estado de Sergipe S.A. 30,00 30,00 5,00 1,00

    4 Banco Industrial do Brasil S. A. 20,00 15,01 10,00 3,00

    5 Banco do Est. do Maranho S.A. 15,00 15,00 5,00 1,00

    6 Banco do Brasil S.A. 15,00 15,00 n/d 1,50

    7 Banco Cacique S.A. 13,00 13,00 13,00 3,00

    8 Banco de Pernambuco S.A. 13,00 13,00 11,00 1,80

    9 Banco Rural S.A. 12,00 12,00 12,00 1,00

    10 Banco Citibank S.A. 12,00 12,00 10,00 1,20

    11 Banco Paulista S.A. 12,00 10,00 9,00 1,50

    12 Banco Cooperativo do Brasil S.A. 12,00 8,50 5,00 1,00

    13 Banco ABN AMRO Real S.A. 11,00 11,00 11,00 1,50

    14 Banco Bilbao Vizcaya Arg. Brasil S.A. 11,00 11,00 9,90 1,00

    15 HSBC Bank Brasil S.A. Banco Mltiplo 10,80 10,80 n/d 1,20

    16 Banco Mercantil de So Paulo S.A. 10,60 10,60 10,60 n/d

    17 Banco Santander Brasil S.A. 10,50 9,50 n/d 2,74

    18 Banco Santos S.A. 10,00 15,00 10,00 1,00

    19 Banco Inter American Express S.A. 10,00 10,00 10,00 2,00

    20 Banco Industrial e Comercial S.A. 10,00 10,00 10,00 1,35

    21 BankBoston, N.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    22 BankBoston Banco Mltiplo S.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    23 Banco Sudameris Brasil S.A. 10,00 10,00 10,00 1,00

    24 Banco do Nordeste do Brasil S.A. 10,00 10,00 8,00 2,00

    25 Banco do Estado do Par S.A. 10,00 10,00 7,00 1,5026 Unibanco Unio de Bcos Brasileiros S.A. 10,00 10,00 n/d 1,50

    27 Banco BonSucesso S.A. 10,00 10,00 n/d 1,50

    28 Banco Com. e de Inv. Sudameris S.A. 10,00 10,00 n/d 1,00

    29 Banco Ita S.A. 10,00 10,00 n/d 0,90

    30 Banco Bradesco S.A. 9,80 9,80 9,80 1,30

    31 Banco Mercantil do Brasil S.A. 9,00 10,00 n/d 1,50

    32 Banestes S.A. 9,00 9,00 9,00 1,50

    33 Banco do Estado de So Paulo - Banespa 9,00 9,00 n/d 1,30

    34 Banco Banestado S.A. 8,90 8,90 n/d 2,20

    35 Banco do Est. do Rio Grande do Sul S.A. 8,50 8,50 6,50 1,50

    36 Banco do Est. do Piau BEP 8,50 5,00 n/d 1,00

    37 Banco de Braslia S.A. BRB 8,00 8,00 8,00 5,00

    38 Banco do Est. de Santa Catarina S.A. 6,00 6,00 10,00 1,20

    39 Banco Cooper. SICREDI S.A. 6,00 6,00 6,00 0,70

    40 Banco Lloyds TSB S.A. 5,00 5,00 n/d 3,00

    Fonte: BACEN (2002b)

    Nota: Valores em R$/evento do dia 13/08/2002.

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    Tabela 6. Mudanas para as pessoas jurdicas com o novo SPB.

    PESSOA JURDICA

    1Possibilidade de realizar transferncias em tempo real entre os bancos, via TED, mediante a existncia de saldo

    disponvel em conta corrente.2 Agendamento de transaes bancrias, com tarifas reduzidas (TED programada).

    3 Oferta de novos servios para auxiliar a gesto do fluxo de caixa.

    4 Estmulo ao uso do carto de dbito nas transaes de varejo.

    5Substituio dos cheques pr-datados por carto de dbito com agendamento em datas futuras (cheque

    eletrnico).

    6Mudana na poltica dos bancos para depsito em cheque e recebimento de DOC Afetando, principalmente, as

    empresas de varejo.

    7Empresas devem atentar para eventuais descasamentos em seus fluxos de caixa, (Pagamentos ocorrendo

    atravs de CIP ou STR e recebimentos via Compe).

    8

    Criao do piloto de reservas. Profissional que controla o caixa das Instituies Financeiras, evitando que os

    pagamentos ultrapassem o limite das reservas.

    Fonte: FEBRABAN (2002)

    O terceiro setor a sofrer modificaes com o novo SPB a Administrao

    Pblica. Os gestores das finanas pblicas tanto estaduais, quanto municipais,

    tambm so afetados pois administram um fluxo de caixa que movimenta diariamente

    transaes de valores a partir de R$ 5 mil.

    Algumas transaes financeiras entretanto no se modificaram. Como por

    exemplo os pagamentos de contas diversas e de concessionrias de servios pblicos

    (agncias bancrias, casas lotricas e terminais eletrnicos), transaes atravs do

    uso de cartes de crdito e dbito, emisso de cheques e DOC abaixo de R$ 5 mil,

    prazos de bloqueio e compensao para cheques e depsitos em cheques at R$ 5 mil

    em poupana. Tambm no houve alterao para os produtos de Capitalizao,

    Seguros e Previdncia Privada.

    Todas as instituies financeiras (incluindo os bancos) sofreram alteraes no

    seu grau de alavancagem. De acordo com Carvalho et al (2000), por grau de

    alavancagem entende-se a relao entre o volume de depsitos e de reservas que

    cada instituio possui. Esse conceito compatvel com a anlise dos riscos de

    intermediao financeira, isto , com o estado de expectativa dos bancos, refletido pela

    sua preferncia pela liquidez. Assim, quanto mais alavancada uma instituio trabalha,

    mais riscos ela assume.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    Os bancos so vulnerveis a resgates acentuados dos seus depsitos,

    dependendo da relao reservas/depsitos. Dado o estoque de reservas dos bancos

    comerciais, a criao de depsitos representa uma reduo da relao reservas e

    ativos de alta liquidez sobre os depsitos vista. Reduzindo os depsitos vista

    aumenta-se a vulnerabilidade financeira dos bancos. Essa vulnerabilidade tanto

    maior quanto menor for o tamanho e a profundidade dos mercados interbancrios.

    Carvalho et al (2000) tambm mostram que dada a estrutura dos mercados

    financeiros e o acesso dos bancos a fontes de liquidez, a vulnerabilidade aceita pelos

    bancos associa-se diretamente percepo dos riscos adicionais (de default, de

    liquidez e de juros) na medida em que se ampliam os depsitos.

    Ao ampliar a percepo dos riscos totais, os bancos tendem a se tornar mais

    conservadores para um dado estado de expectativas, tornando-se mais seletivos em

    relao aos crditos, buscando aumentar os requisitos em termos de garantias e o

    spread de juros em suas operaes. Assim, uma demanda crescente de crdito para

    um dado estado de expectativas dos bancos tende a ser racionada ao longo do

    processo de crescimento. Para uma economia em crescimento, como a brasileira, em

    que o financiamento se baseia em crdito bancrio, o racionamento de crdito se d

    no apenas porque h uma assimetria de informaes, mas tambm por outros

    motivos, entre eles o nvel de alavancagem bancria, na medida em que este nvel

    alcana limites mximos aceitos pelos bancos (dadas as suas expectativas)

    acomodando as demandas crescentes por crdito.

    Assim, no contexto de crescimento, o racionamento de crdito mais relevante

    se deve a uma seleo mais criteriosa dos crescentes riscos percebidos de crdito de

    emprstimos.

  • 7/25/2019 A Reestruturao do sistema brasileiro de pagamentos

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    3 MERCADO DE CMBIO

    3.1 Funcionamento

    As transaes interbancrias entre moedas estrangeiras envolvem trs tipos de

    agentes: o comercial, o financeiro e o BACEN. Esses trs agentes se relacionam com

    o setor interbancrio, realizando com este transaes responsveis pelo aumento ou

    pela reduo de moedas estrangeiras no pas.

    Por agente comercial entende-se aquele responsvel diretamente pela

    comercializao de bens e servios no pas, tais como as indstrias, as lojas

    comerciais, a agricultura, entre outros. Por agente financeiro entende-se aquele

    responsvel pelo investimento no pas, tais como os bancos e as empresas

    multinacionais. A esses dois agentes chamamos agentes primrios (Garfalo Filho,

    2000). O BACEN o responsvel pela poltica cambial, interferindo no mercado de

    cmbio comprando e vendendo moeda estrangeira visando manter em equilbrio o

    setor interbancrio.

    Atravs da exportao e da importao de bens e servios, o agente comercial

    interfere no mercado de cmbio. Quando h uma exportao de bens e servios por

    parte dos produtores brasileiros ocorre uma importao em algum outro pas. Desse

    modo, existe uma transferncia de moeda estrangeira para o setor bancrio e ao

    mesmo tempo transferncia de reais para o exportador. Quando h uma importao de

    bens e servios por parte do agente comercial brasileiro existe uma transferncia de

    reais para o setor interbancrio e a transferncia de moeda estrangeira para o

    importador.

    O agente financeiro interfere no setor bancrio atravs do envio e recebimento

    de investimentos. Para ingressar no Brasil, o investidor estrangeiro transfere sua

    moeda ao setor bancrio e este transfere reais para o Brasil. J quando o agente

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    financeiro remete moeda para o exterior, tem-se o seguinte processo: o investidor

    brasileiro transfere reais para o setor interbancrio e este transfere moeda estrangeira

    para o Brasil.

    O BACEN procura intervir no setor interbancrio sempre que este se encontra

    em desequilbrio, realizando polticas cambiais que o leve normalidade. Uma situao

    possvel para essas intervenes o setor interbancrio estar saturado de moeda

    estrangeira e com poucos reais em caixa. Nesse caso, para que o equilbrio se

    processe, o BACEN compra moeda estrangeira, reduzindo o montante dessa moeda

    em excesso e transferindo reais para o mercado. Uma ltima situao possvel a

    existncia de um desequilbrio no setor interbancrio, dado pelo excesso de reais neste

    setor. Nessa situao o BACEN novamente intervm buscando equilibrar este setor.

    Esta interveno ocorre atravs da venda de moeda estrangeira, com isso reais so

    transferidos do setor interbancrio para o BACEN e moeda estrangeira se transfere

    para o setor interbancrio.

    Essas so as formas como os agentes se relacionam com o setor interbancrio

    e esto ilustradas na figura 5.

    Exportao Moeda estrangeira

    Real

    Interbancrio Criao de MP

    Real

    Moeda estrangeira

    Interbancrio Destruio deMP

    PRIMRIO

    Comercial

    Financeiro

    Ingresso Moeda estrangeira

    Real

    Interbanc rio Cria o de MP

    Remessa Real

    Moeda estrangeira

    Interbancrio Destruio de MP

    BACEN

    Venda Moeda estrangeira

    Real

    Interbancrio Criao de MP

    Compra Real

    Moeda estrangeira

    Interbancrio Destruio de MP

    Importao

    Figura 5 - Mercado de Cmbio Brasileiro.

    Fonte: Elaborao do autor

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    Nessas relaes ocorre criao e destruio de moeda nacional, afetando os

    meios de pagamentos (MP). Tem-se criao de MP quando aumenta o volume de reais

    em poder da pblico no-bancrio e destruio quando esse volume diminui.

    3.1.1 Aspectos operacionais dos contratos de cmbio

    A antiga estrutura de operaes de cmbio vigente no mercado cambial

    brasileiro podia ser dividida em trs etapas: contratao, registro e liquidao, que

    esto descritas a seguir.

    Contratao da Operao: Ocorria em D+0 e nela os operadores, geralmente

    por contato telefnico, convencionavam entre si as condies das operaes, como por

    exemplo: taxa de cmbio, montante, data para liquidao, forma de pagamento da

    moeda estrangeira, etc.

    Registro da Operao: Ocorria em D+0 e nesse caso, os registros das

    operaes eram feitos nos computadores do BACEN no mesmo dia da contratao.

    Esses regis