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1 A RELAÇÃO SOCIEDADE E NATUREZA

Colégio São Francisco Xavier

Professor: Milton Pinheiro Aluno:_________________________________________Turma_____ N°---------- Disciplina: Geografia

A RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA: DO MEIO NATURAL AO MEIO TECNICO – CIENTÍFICO INFORMACIONAL, MODOS DE PRODUÇÃO,

SOCIALISMO CUBANO e CHINÊS..

1. INTRODUÇÃO:

A partir do momento em que o homem começou a modificar a natureza, plantando e colhendo, criando animais, erguendo construções, o planeta deixou de ser apenas um Espaço Natural para se transformar em um Espaço Geográfico, ou seja, um espaço humanizado, construído através da elaboração de idéias, construção e aprimoramento de técnicas, para a realização de trabalho. À medida que mudam os instrumentos de trabalho, a sociedade também vai se modificando: surgem assim, novas formas de pensar, de morar, de se relacionar e conceber a natureza. Desenham-se espaços geográficos típicos de cada sociedade e de cada época. Por isso, ao olhar uma paisagem não podemos deixar de refletir sobre o modo como vive, e talvez, como viveu a sociedade que a construiu, e assim, discutir as novas formas de organização social que surgem com o avanço tecnológico.

2. A PAISAGEM GEOGRÁFICA:

Quando observamos uma paisagem, seja ela de um local cujas condições naturais estão preservadas, ou do centro de uma grande cidade, podemos assumir uma postura meramente contemplativa, considerá-la feia ou bonita, tranquila ou agitada. A forma como as paisagens se apresentam aos nossos olhos nos permite interpretar heranças do passado, tentar entender o presente e propor ações com vistas a melhorar o futuro. Ao compararmos paisagens de lugares diferentes rios e praias limpas ou poluídas, matas preservadas e áreas desmatadas, impactos ambientais provocados por diferentes tipos de indústrias e práticas agrícolas, etc., podemos avaliar e criticar o resultado da ação humana sobre o espaço, pois ela está impressa na paisagem.

3. COMO O HOMEM VIA E VÊ A NATUREZA

O homem, assim como os outros animais, age sobre a natureza no intuito de obter dela, alimento, proteção e moradia para si e para seu grupo, ou melhor, para satisfazer suas necessidades. Com isso, cria conhecimentos e desenvolve cultura, pois ele é o único que pode pensar e refletir sobre seus resultados. No início de nossa existência, o homem pouco modificava a natureza.Esse homem vivia da caça, pesca e coleta. Era muito subordinado às condições naturais, a tal ponto que era nômade, andava de um lugar para outro em busca de meios para sobreviver.

A relação do homem com a natureza era tão forte que ele não se sentia separado dela. Nessas condições o trabalho era concebido com total naturalidade: nada exaustivo e em certos casos até mesmo prazeroso. A idéia de que a única relação homem-natureza é aquela intermediada pela realização do trabalho, e que este representa transformações na natureza, tem origens históricas. Isso se deve pela universalização de valores ocidentais, impostos à vários séculos. Entretanto, não devemos desconsiderar as culturas que apresentam uma concepção de natureza diferente da nossa. Para determinadas sociedades antigas, ou mesmo para algumas contemporâneas, a natureza é fonte de vida, mas não somente no sentido de fornecer recursos direitamente para a subsistência humana. Para elas, a natureza apresenta-se sacralizada, ou seja, elas fundamentam suas religiões em elementos da natureza. A natureza é um bem comum a toda humanidade, pois é fonte de vida para todos. Mas, dependendo da sociedade, a natureza e o próprio trabalho, podem ser encarados de maneiras diversas. Ao observarmos, por exemplo, uma tribo indígena, cujos membros trabalhavam seis horas por dia para obter o necessário para sua sobrevivência, com a utilização do machado, passaram a trabalhar apenas três, as demais horas eram ou são gastas na realização de jogos, religião e de outras atividades de recreação. Isso acontece porque os índios concebem o trabalho apenas como um meio de satisfazer apenas suas necessidades básicas. Além disso, suas atividades, na maioria das vezes, são realizadas de maneira lúdica, não como uma imposição ou obrigação da vida em sociedade. Em nossa sociedade, o uso de novo instrumento garantiria a subsistência com três horas de trabalho, as outras três seriam utilizadas para aumentar a produção, com o objetivo de obter um excedente para a venda. Afinal, a concepção de trabalho que está por trás da busca pelo excedente é justamente aquela do trabalho produtivo. Percebemos assim uma grande diferença entre as sociedades referidas: enquanto os índios pouco modificam a natureza, nossa sociedade a transforma cada vez mais, chegando ao ponto de destruí-la em alguns aspectos. A construção de uma hidrelétrica implica na inundação de grandes áreas, que na maioria dos casos, ficarão submersas para sempre. Entretanto, é bom lembrar que, as atividades dos grupos humanos, por mais transformadoras que sejamnão chega a eliminar a ação das forças da natureza. Em vários aspectos, anatureza se apresenta como um fator limitante às atividades humanas. Por exemplo, ao prever um maremoto, a atuação devastadora de um furacão ou terremoto, podem-se tomar diversas medidas para tentar neutralizar ou reduzir seus resultados; porém, o homem não pode impedir que o fenômeno deixe de acontecer. As estações do ano ainda são importantes para o ciclo das lavouras. A construção de pontes e

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túneis, nada mais é do que adequação ás condições naturais do terreno. Nesse sentido, o estudo da natureza permite desvendar muitos aspectos da realidade social. 4. AS TRANSFORMAÇÕES QUE OCORRERAM NA TÉCNICA E NA CIÊNCIA:

As Intervenções na natureza, e as consequentes modificações nela introduzidas, dependem diretamente das técnicas empregadas pelo homem. Por sua vez, a técnica, isto é, o modo de fazer algo, envolve instrumentos de trabalho a serem utilizadas no processo. Instrumentos simples, como o machado e o arado, provocam alterações modestas na natureza. Instrumentos mais sofisticados como o motosserra e otrator causam alterações mais expressivas no ambiente natural. Na economia capitalista, no intuito de aumentar seu rendimento, o homem usa sua capacidade de raciocínio para conceber novas técnicas e construir novos instrumentos. Geralmente, as inovações técnicas trazem novos problemas ao homem, representando novos desafios e a necessidade de resolvê-los. Daí a evolução da técnica, ou seja, descobrem-se novas formas do fazer humano. A invenção do automóvel, por exemplo, em 1887, trouxe a necessidade de um rodo compatível ao novo meio de transporte: o pneu foi inventado no ano seguinte. Portanto, as inovações técnicas e o consequente aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho imprimem progressos aos mecanismos de apropriação à natureza o que significa maiores modificações e domínio mais intensos ao meio natural. Assim ocorreu com a invenção da máquina a vapor, em 1803; do motor a combustão, em 1880; e, sobretudo do computador em 1946. A concepção de domínio do homem sobre a natureza, bem como a aceleração e difusão das inovações técnicas, teve como marco fundamental o surgimento do capitalismo, nos séculos XV e XVI. Antes do capitalismo, a economia era basicamente de subsistência. As atividades de compra e venda eram pouco desenvolvidas. Os produtos, artesanalmente fabricados, destinavam-se ao uso direto do homem. Na maioria dos casos não possuíam valor de troca, mas sim valor de uso. Ao desenvolver-se, o capitalismo foi aos poucos se incorporando asatividades até então de subsistência. Sua primeira grande inovação foi promover a divisão do trabalho, a fim de melhorar a produtividade e aumentar a produção de bens, só que agora entendidas como mercadorias, uma vez que se destinavam ao mercado. Ao contrário do que ocorria no artesanato, quando o homem realizava todas as atividades e conhecia todo o processo produtivo, na divisão do trabalho há uma decomposição do processo de produção, de modo que cada trabalhador seja preparado para realizar uma ou no máximo duas tarefas do processo produtivo. Ao ser introduzida, a divisão do trabalho provocou um aumento na produtividade devido: I-Pouco tempo desperdiçado pelo trabalhado ao passar de uma atividade para outra; II- Possibilitou a especialização do trabalhador, agora dedicado a uma só tarefa;

III- E, finalmente, estimulou a inovação de ferramentas especialmente adaptadas a cada tipo de trabalho: 5. O MEIO TÉCNICO CIENTÍFICO INFORMACIONAL:

A economia capitalista mundial conheceu um período de intensa vitalidade após a Segunda Guerra Mundial. Esse ciclo de prosperidade, que correspondeu à segunda onda de inovação tecnológica, entrou em declínio na década de 1970. Os primeiros sinais do seu esgotamento revelaram se em 1973, quando o padrão monetário baseado na equivalência entre o dólar e o ouro foi abandonado pêlos Estados Unidos e a flutuação cambial tomou o lugar do sistema estável criado em Bretton Woods. Naquele momento, a "economia do dólar", baseada na hegemonia norte- americana, esmaecia-se diante da emergência da Europa Ocidental e do Japão, que completavam a sua reconstrução. O fim do ciclo foi caracterizado pela redução das taxas de crescimento das economias nacionais e pelo ressurgimento do fantasma do desemprego na Europa e na América do Norte. Em 1973 e 1979, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) elevou brutalmente os preços do barril, atingindo de frente as economias desenvolvidas. Os “dois “choques do” petróleo” contribuíram para detonar a longa estabilidade de preços vigente no pós-guerra, provocando surtos inflacionários nos países ricos. Ao mesmo tempo a concorrência das transnacionais japonesas assustou as corporações norte americanas e inúmeros observadores profetizaram o fim da liderança econômica dos Estados Unidos. Quando se esgotava o padrão tecnológico do pós-guerra, uma nova onda de inovações estava a caminho. Os seus fundamentos repousam sobre a emergência das tecnologias da microeletrônica e da transmissão de informações, de um lado, e sobre a automatização e arobotização dos processos produtivos, de outro. Essa onda de inovações, que continua a se desenvolver, ficou conhecida como revolução tecnocientífica. A revolução tecnocientífica tem seu núcleo no entrelaçamento da indústria de computadores e softwares com a das telecomunicações. Os extraordinários avanços nas técnicas de armazenamento e processamento de informações foram potencializados pelas redes digitais, cabos de fibras ópticas e satélites de comunicações. As mercadorias derivadas dessas técnicas colonizaram as indústrias tradicionais, que reinventaram seus produtos e processos de produção. A informática invadiu o setor financeiro, os sistemas de administração pública e privada, os serviços de transportes, saúde e educação. Os novos bens de consumo – computadores pessoais, telefones celulares, produtos de multimídia - reorganizaram mercados e geraram uma imensa demanda. A onda de inovações envolveu outros campos, assentada sobre a aplicação da ciência às tecnologias de produção. A química fina abriu caminho para a criação de uma série de novos remédios. A biotecnologia encontrou aplicações na medicina e na agricultura. A robótica intensificou a automação industrial. Mas as grandes empresas que nasceram com a revolução

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tecnocientífica são, principalmente, aquelas ligadas à informática e às telecomunicações. A revolução tecnocientífica confirmou a liderança econômica dos Estados Unidos. As empresas-símbolo da novaera são, em geral, norte-americana. A mais conhecida – a Microsoft - definiu os padrões de software utilizados pelos computadores pessoais e por boa parte das redes de computadores empresariais. Inúmeras outras - como a Intel, a Compaq, a Cisco, a Hewlett-Packard, a IBM, a Sun Micro systems – adquiriram a hegemonia em diferentes áreas da informática. Além delas, as empresas de tecnologia telefônica assumiram lugares de ponta no campo da transmissão de informações. Fora dos Estados Unidos, a onda de inovações desenvolveu-se, em ritmo menos acelerado, a partir de algumas grandes empresas japonesas e européias. UMA NECESSIDADE EPISTEMOTÓGICA: A DISTINÇÃO ENTRE PAISAGEM E ESPAÇO ( Milton Santos ) “Paisagens e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto das formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. Os espaços são essas formas mais a vida que as anima. Durante a Guerra Fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mais preservando todas as construções. O presidente Kennedy afinal renunciou a levar a cabo esse projeto. Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temidaexplosão seria apenas paisagem. # CATEGORIAS GEOGRÁFICAS: PAISAGEM,

ESPAÇO GEOGRÁFICO, TERRITÓRIO, LUGAR E

REGIÃO.

O ESPAÇO GEOGRÁFICO:o espaço geográfico é construído a partir da transformação na natureza pela sociedade e simultaneamente pela relação entre as sociedades que reconstrói e criam novos objetos no espaço. Milton Santos (1997): o espaço geográfico constitui “um sistema de objetos e um sistema de ações”. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. Sendo assim o Espaço Geográfico é o resultado da ação dos Homens (sociedades) sobre opróprio espaço, intermediados pelos objetos naturais e artificiais.

SOCIEDADE-------------------- NATUREZA TRABALHO

O espaço geográfico é constituído da dinâmica entre os Fixos e os Fluxos: Os fixos: são os próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral, incluindo a massa dos homens.

Os fluxos: são os movimentos, a circulação dos fenômenos da distribuição e do consumo. -O QUE É PRODUÇÃO DO ESPAÇO? O espaço geográfico, a superfície terrestre como moradia da humanidade, consiste, antes de tudo, numa interação entre as sociedades humanas e o seu meio ambiente. Esse meio ambiente é composto de áreas nas quais predominam a natureza original e outras — que se expandem a cada dia — onde existe um meio alterado pela açãohumana, pelas suas obras ou construções. Algumas sociedades, como as tribos indígenas, têmcomo meio ambiente a natureza pouco modificada, à qual se adaptam. Porém, especialmente a partir da Revolução Industrial, que se iniciou em meados do século XVIII, a sociedade moderna tem como meio ambiente uma natureza humanizada (alterada, modificada), cuja revolução — as construções, a economia, as relações dos seres entre si e com a natureza — depende essencialmente dela própria, de seus interesses econômicos ou políticos e do nível de seu desenvolvimento tecnológico, e não mais dos acontecimentos naturais (climas, solos, rios, etc.). É lógico que a Natureza continua a ser a base da vida, inclusive a humana, e existem fenômenos catastróficos e incontroláveis sobre os quais a humanidade possui pouco, ou às vezes praticamente nenhum, controle: mudanças climáticas, abalos sísmicos e vulcanismo, meteoritos que caem na Terra, alterações na radiação solar, etc. Mas, comparando com o passado, quando a humanidade tinha um arsenal científico e tecnológico bem menos avançado, o nosso controle sobre a natureza, mesmo que parcial, é bem maior hoje em dia, de tal maneira que até mesmo nos preocupam as consequências negativas das nossas ações sobre a superfície terrestre.Podemos então afirmar que o espaço geográfico dos nossos dias é, acima de tudo, o resultado da ação humana sobre a Natureza. Consequentemente, a Sociedade humana e a Natureza são os elementos fundamentais para a construção e a transformação (ou reorganização) do espaço geográfico.

TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA A natureza é a fonte original de tudo o que existe, e a sociedade humana transforma a natureza original, produzindo, assim, uma segunda natureza, ou seja, uma natureza humanizada, reconstruída pela ação humana. Por exemplo, o nosso próprio corpo, que é composto basicamente de água e diversos minerais, vêm da natureza, assim como os materiais empregados na construção de um edifício, como madeira, ferro, cimento e cal. Esses materiais, no entanto, já não são apenas elementos da natureza em sua forma pura; eles passaram por um processo de transformação. A madeira veio das árvores e foi muito trabalhada antes de ser utilizada como porta ou assoalho; o ferro os pregos e das vigas foi extraído do subsolo e precisou ser bastante modificado. Em outras palavras, o trabalho ou a atividade dos seres humanos transforma as matérias-primas em materiais utilizados nas diversas atividades humanas.. Assim, por meio do trabalho, as pessoas

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estabelecem relações entre si e com a natureza. Entre si, porque geralmente o trabalho é uma atividade social, isto é, realizada pelos homens em conjunto e de forma interdependente. Com a natureza, porque é dela que vêm todas as coisas materiais que utilizamos que transformamos. Nos dias de hoje, quase tudo que nos cerca provém do trabalho humano sobre a natureza, ou, no caso dos elementos abstratos (softwares, planos, fronteiras ou limites, normas ou leis), resultado de pesquisas, negociações e conflitos entre os seres humanos ou entre povos diversos. Isso quer dizer que o espaço geográfico não é somente produto da interação entre sociedade humana e natureza, embora esse seja o seu aspecto essencial; ele é também consequência das relações (cooperativas ou conflituosas) entre os próprios seres humanos, ou seja, entre indivíduos, grupos, classes sociais, gêneros, etnias, povos ou nações, etc. -ESPAÇO GEOGRÁFICO: DIFERENÇAS DEVIDO AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO TÉCNICO E AO CONTEXTO HISTÓRICO DE CADA SOCIEDADE Qualquer povo ou sociedade humana modifica a natureza, embora com graus e formas diferentes. Todavia, até meados do século XVIII, anteriormente à Revolução Industrial, a ação humana sobre a natureza não ocasionava transformações profundas e irreversíveis. O homem construía habitações, caçava e domesticava animais, recolhia frutos das árvores e derrubava uma parte pequena das matas para fazer plantações. Em geral, salvo algumas exceções, havia um equilíbrio nas relações do homem com a natureza. Mesmo essas exceções — como Roma da Antiguidade, extremamente poluída, ou alguns povos do Norte da África e de algumas regiões da Ásia, que devastaram florestas e contribuíram para a expansão dos desertos — aconteciam numa escala mais local, às vezes regional, e nunca na escala global ou planetária, como ocorre com a sociedade moderna ou industrial. Portanto, foi com a Revolução Industrial que a natureza passou a ser profundamente modificada, até chegar ao grave problema atual (e planetário) de poluição e degradação do meio ambiente. A Revolução Industrial, dessa forma, constitui um momento importante na mudança das relações da humanidade com a natureza. É por isso que dizemos que foi com a Revolução Industrial que os seres humanos — ou melhor, a sociedade moderna, que nasceu exatamente com aindustrialização. A moderna sociedade industrial, com suas máquinas, seus meios de transporte e sua produção em grande escala, provoca intensa transformação na natureza. CATEGORIAS DE ANÁLISE DO ESPAÇO GEOGRÁFICO: Segundo Milton Santos (1985) o espaço deve ser analisado a partir das categorias: Estrutura, Processo, Função e Forma, que deve ser considera em suas relações dialéticas. Forma: é o aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial.

Uma casa, um bairro, uma cidade e uma rede urbana são formas espaciais em diferentes escalas. Função: implica em uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhada pelo objeto criado, a forma. Habitar, vivenciar o cotidiano me suas múltiplas dimensões – trabalho, compras, lazer, etc – são algumas funções associadas à casa, ao bairro, a cidade e a rede urbana. Estrutura: diz respeito à natureza social histórica e econômica de uma sociedade em um determinado momento do tempo; é a matriz social onde as formas e funções são criadas e justificadas. Processo: uma ação que se realiza, via de regra de modo continuo, visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança. CATEGORIAS DE ANALISE DA GEOGRAFIA: PAISAGEM: É tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança. Esta pode ser definida como o domínio do visível, porém não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. TERRITÓRIO: [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p.144). Rogério Haesbaert analisa o território com diferentes enfoques: 1) jurídico-político, segundo a qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço” 3) econômica, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital trabalho”. Marcelo Lopes de Souza (2001) Território é política e também cultural, nas grandes metrópoles, grupos sociais que estabelecem relações de poder formando territórios no conflito pelas diferençasculturais. “todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países membros da OTAN”. (SOUZA, 2001, p.11). • Territorialização: • Desterritorialização: • Reteritorialização: LUGAR: É principalmente um produto da experiência humana: “(...) lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização”. O “lugar é um centro de significados construído pela experiência” (Tuan, 1975).

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NÃO LUGAR ( DESLUGAR): Conceito criado para designar as formas estandardizadas, repetidas e com uniformidade de sequência, como os conjuntos habitacionais e algumas lanchonetes fastfood distribuídas ao longo das estradas. REGIÃO: É uma realidade física concreta, ela existe como um quadro de referência para a população que ai vive. (VIDAL DE LA BLACHE) Formação sócio-espacial e é concreta e histórica,produto e meio de produção e reprodução espacial (Geografia Marxista) Tem a região a partir dos sentimentos de pertencimento, mentalidades regionais, um quadro de referencia na consciência das sociedades como um código social.( Geografia Humanistica) MODOS DE PRODUÇÃO, A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NO CAPITALISMO E A GLOBALIZAÇÃO Os grandes modos de produção I- MODO DE PRODUÇÃO COMUNITÁRIO PRIMITIVO

O modo de produção comunitário primitivo foi a primeira forma de organização dos homens. Nela, as relações de produção eram baseadas na propriedade comunitária dos meios de produção. Com o desenvolvimento dos instrumentos de produção, das ferramentas de pedra e dos instrumentos metálicos, a produção aumentou muito. A humanidade evoluiu da coleta de frutos e ervas para o cultivo de plantas, dando início à agricultura. Passou também da caça de animais para a sua domesticação, desenvolvendo a pecuária. Surgia, assim, a divisão do trabalho entre a agricultura e a pecuária. Com o desenvolvimento das forças produtivas, a produtividade aumentou e, com ela, a produção excedente e o consumo, o que permitiu trocas e a acumulação de riquezas. Nascia um novo modo de produção: o escravismo.

II- MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA

Novas divisões do trabalho aconteceram com o aumen to da produção artesanal e das trocas comerciais, surgin do os artesãos e os mercadores. Junto com essas atividades idades surgiram também as primeiras cidades As principaisii relações de produção do modo de produção escravista eram:

• Os meios de produção eram propriedade do senhor. • O escravizado não vendia sua força de trabalho ao dono, mas se tornava uma mercadoria vendida com sua força de trabalho. • Os senhores representavam a minoria da população. • Os escravizados, que constituíam grande maioria da população, realizavam diversos serviços e grandes obras, como em Roma. Esse modo de produção imprimiu grandes modificações nas paisagens, com a construção de portos, estradas, edificações. Um grande número de revoltas de escravizados, que eram muitas vezes explorados até a morte, marcou esse período da história ocidental. No Império Romano,por exemplo, as constantes guerras cujo objetivo era escravizar mais pessoas, se tornavam muito caras. Os pequenos proprietários, que tinham interesse em sua própria

produção, conseguiam melhores resultados do que os grandes proprietários, que utilizavam mão-de-obra escrava, pois os escravos, como nada ganhavam, não tinham estímulo para produzir. A partir do século V, vários fatores levaram à desestruturação do Império Escravista Romano, que desde o século III apresentava crises políticas eeconômicas. As invasões de povos bárbaros (francos, vândalos, hunos, ostrogodos, anglos etc.), as divisões do império, as crises no sistema escravista foram alguns desses fatores. Tudo isso contribuiu para que, aos poucos, a terra fosse sendo redistribuída. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO FEUDALISMO O império escravista romano decaía, e com ele muitascidades. Nesse novo período da História, compreendidoentre os séculos V e XV e conhecido como Idade Média,surgia um novo modo de produção: o feudalismo. Sistemas essencialmente agrários, com territórios que se tornavam cada vez mais autossuficientes, o feudalismo tinha como principais características: • A maioria das relações de produção era servil. O servo, em vez de receber um salário, era obrigado a trabalhar durante uma parte do tempo para o dono da propriedade e pagar-lhe um tributo. Durante outra parte do tempo, trabalhava nas terras próximas ao feudo para conseguir o seu sustento. • O senhor feudal era o proprietário da terra e do servoque a cultivava, mas não podiaabandoná-la. • O poder políticos, antes concentrados nas mãos dos reis, se descentralizou, passando a ser exercido cada vez mais pelos senhores feudais. • Os feudos eram unidades territoriais agrárias dasquais faziam parte o castelo, as terras e as aldeias situadas em seus domínios. • Existiam também os camponeses, pequenos proprietários de terras, e os artesãos, donos de oficinas. Como atividade complementar à agricultura, o artesanato desenvolveu-se dentro do próprio feudo, fazendo crescer o número de povoados onde essa produção e o seu comércio se concentravam.O revigoramento da vida urbana se deu a partir doséculo XI, na Europa, fazendo crescer o intercâmbio e adivisão de trabalho entre as áreas urbanas e as rurais. As forças produtivas se desenvolveram bastante nessa época— com o aperfeiçoamento da fundição do ferro e de ferramentas como o arado de ferro —, dando grande impulso à agricultura, à produção de novos armamentos, como espadas e armas de fogo, à construção de equipamentos, como estradas e portos que permitissem o comércio e a circulação das riquezas.A produção para o mercado aumentava e o comércio ganhava novo impulso. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO CAPITALISMO A partir do século XI o mundo feudal foi sendo substituído pelo modo de produção capitalista.

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Observe as principais transformações dessa época: • No plano político, deu-se o declínio do poder feudal e a centralização do poder nas mãos dos reis, surgindo as monarquias absolutistas com caráter nacional, que por sua vez deram origem às nações e aos Estados centralizados a partir do século XV. • A produção artesanal, resultado do trabalho dos artesãos, foi substituída pela manufatura, caracterizada pela produção em oficinas, auxiliada por ferramentas manuais e máquinas movidas pela energia humana e queempregava trabalhadores assalariados, adotando a divisão de trabalho (cada trabalhador realizava uma tarefa). Posteriormente foi introduzida a maquinofatura,que utilizava energia mecânica e ao longo do tempo passou a usar vapor e, depois, eletricidade. • O comércio gerou lucros e enriquecimento individual.Uma nova classe social surgia nas cidades. Era a burguesia, que passou a liderar o desenvolvimento econômico e a ser proprietária dos meios de produção. • As cidades se desenvolviam e a burguesia fazia alianças com os reis, contra os senhores feudais. • No capitalismo, embora tenham subsistido diversos tipos de relações de produção, as relações servis, que haviam predominado no mundo feudal, foram em grande parte substituídas pelas relações assalariadas de trabalho. O assalariado trabalha um determinado número de horas por dia para os possuidores dos meios de produção e deles recebem um salário.A economia capitalista é regulada pelo mercado, tempor base a propriedade privada dos meios de produção e o lucro como finalidade principal da produção. -PRIMEIROS PASSOS PARA UMA INTEGRAÇÃO GLOBAL Com o ressurgimento e o crescimento do comércio e dos centros urbanos, desenvolveu-se na Europa, a partir do século XII, uma camada social de mercadores, tornando possível a acumulação de recursos. Esse fato, somado às inovações nos transportes marítimos, nos armamentos e nas técnicas de navegação, tornou possível a expansão comercial do final do século XIV e do início do século XV.Começava a surgir um mercado mundial que interligava diversas regiões da Terra. Era a fase do capitalismo comercial ou mercantil.Ao mesmo tempo que o comércio se expandia, a sociedade de consumo e o capitalismo também se expandiam, iniciando-se uma redistribuição global de recursos. Os produtos originários de um continente eram levados para outras partes do mundo, passando a ser consumidos em lugares distantes. A difusão de plantas pelo mundo, que ampliou a oferta de alimentos nos diversos continentes. DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO E PRODUÇÃO DE ESPAÇOS GEOGRÁFICOS DESIGUAIS O sistema capitalista, que teve início na Europa, expandiu-se para outros continentes ao longo dos séculos. Desde que o poder passou a estar centralizado nas mãos dos reis, constituindo as monarquias

nacionais, o mercantilismo surgiu como uma prática adotada inicialmente pela Inglaterra e pela França, no século XV, estendendo-se depois para outros Estados-nações, como Portugal e Espanha. Observe algumas de suas características: • A manutenção de uma balança comercial favorável, na qual as exportações superassem as importações, era vista como uma forma de aumentar as riquezas do país. Vender mais do que comprar era uma forma de proteger os estoques de metais preciosos. • Impulso ao comércio exterior, com a formação de marinhas mercantes, investimentos portuários e a criação de companhias de navegação. • Protecionismo alfandegário às manufaturas existentes, restringindo a importação de produtos manufaturados. • Formação de monopólios, com o surgimento de grupos que se uniam para ter privilégios exclusivos sobre um ramo da produção manufatureira ou do comércio de uma localidade ou colônia. A intensificação do comércio trazia a necessidade de fabricação de mais mercadorias. Por isso tornou-se necessário descobrir novas fontes de matérias-primas baratas e novos mercados consumidores, nos quais os produtos seriam vendidos por preços maiores.No século XVI, vastas regiões da América, da Ásia e da África, entre elas o Brasil, foram invadidas, conquistadas e incorporadas ao mercado mundial e ao sistema capitalista, iniciando-se a exploração de seus recursos e de sua mão-de-obra. A busca do lucro provocou a desestruturação das relações de produção existentes e o aparecimento de novas relações de trabalho, assim como o restabelecimento da escravidão. O mercantilismo orientou a organização da produção das novas colônias, que passou a constituir uma economia complementar, produzindo segundo os interesses dos mercados europeus. O comércio com as colônias era monopolizado pelas metrópoles. As áreas coloniais se tornaram periféricas do sistema capitalista mundial por meio do estabelecimento de uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Nessa época, as nações se especializaram na produção de determinadas mercadorias. Aos países ricos cabia a produção e a comercialização de produtos industrializados, máquinas e tecnologia, enquanto os países periféricos tornaram-se produtores, fornecedores e exportadores de produtos primários, como açúcar, café fumo, algodão e minérios. O comércio intercontinental, antes restrito à Europa, à Ásia e a algumas áreas da África, ampliou-se e mudou de qualidade, passando do comércio de artigos de luxo — como seda, perfumes, porcelanas e especiarias — para a comercialização intensiva de produtos de consumo de massa — como rum, tecidos, armas que iam da Europa para a África —, além do comércio de escravos da África para a América, que fornecia tabaco, açúcar e metais para a Europa. No século XVI, o Brasil integrou-se a esse sistema mundial, tornando-se fornecedor de matérias-primas. O espaço brasileiro por muito tempo se organizou segundo os interesses do colonizador português. Durante séculos, o colonialismo, isto é, a política de ocupação de territórios e de formação de colônias, lançou-se sobre os novos territórios e escravizou povos nativos, para organizar o sistema de plantations — grandes plantações monocultoras

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voltadas para a exportação — e empreender a extração de diversas riquezas. Dessa forma, o sistema colonial contribuiu para a acumulação de riquezas e capitais nos países colonialistas e para a manutenção das condições de vida precárias das populações dos países colonizados, impedindo inclusive a sua industrialização e mantendo-os subordinados ao mercado internacional. A origem das grandes desigualdades econômicas esociais existentes atualmente entre os países explica-se, em boa parte, pelo desenvolvimento do capitalismo em escala mundial.

MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA 1. SOCIALISMO: INTRODUÇÃO O Socialismo clássico seria, teoricamente, um sistema político onde todos os meios de produção pertencem à coletividade, onde não existiria o direito à propriedade privada e as desigualdades sociais seriam pequenas e a taxa de analfabetismo chegaria quase 0%, pois seria um sistema de transição para o comunismo - onde não existiria mais Estado nem desigualdade social - portanto o Estado socialista deveria diminuir gradualmente até desaparecer. A consolidação da ordem burguesa, industrial e capitalista na Europa do século XIX produziu profundas transformações no mundo do trabalho. As precárias condiçõesde vida dos trabalhadores, as longas jornadas de trabalho, a exploração em larga escala do trabalho feminino e infantil, os baixíssimos salários, o surgimento de bairros operários onde conforto e higiene inexistiam, eram apenas algumas das contradições geradas pela nova sociedade capitalista. É dentro desse contexto que se desenvolve a teoria socialista. Trata-se ao mesmo tempo, de uma reação aos princípios da economia política clássica e às práticas do liberalismo econômico que, nessa época, serviam de referencial teórico ao desenvolvimento do capitalismo. Os pensadores socialistas entendiam que a produção capitalista, estabelecida a partir da propriedade privada dos meios de produção e da exploração do trabalho assalariado, era incapaz de socializar a riqueza produzida. Pelo contrário, o capitalismo tendia à máxima concentração da renda, não apenas pelo avanço contínuo do progresso da técnica aplicada à produção, mas, também, e principalmente, pelo fato de se apropriar do excedente das riquezas, produzidas pelos trabalhadores.

2. O SOCIALISMO UTÓPICO

A necessidade de modificações profundas na sociedade foi expressa, inicialmente, pelos chamados socialistas utópicos. Suas ideias, desenvolvidas na primeira metade do século XIX, de uma maneira geral,se distinguiram por propor certas mudanças desejáveis, visando alcançar uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna, sem, no entanto, apresentar de maneira concreta os meios pelos quais essa sociedade se estabeleceria, pois não fizeram uma análise crítica da evolução da própria sociedade capitalista. Tais considerações seriam desenvolvidas mais tarde por Karl Marx e Friedrich Engels.Dentre os

principais "teóricos" do socialismo utópico,destacam-se:- Charles Fourier - propunha a organização da sociedade em "falanstérios", onde se reuniriam todos os segmentos sociais: proprietários, operários e até mesmos capitalistas, que colocariam suas propriedades e força de trabalho em posse comum, recebendo ações proporcionais ao valor de sua contribuição. Essa "comunidade modelo",verdadeiro hotel de veraneio repleto de oficinas de passa tempo,não chegou sequer a sair do papel. Fourier, que não foi levado à sério no seu tempo, não encontrou ninguém disposto a financiar o primeiro "falanstério". # Robert Owen - capitalista dono de várias fábricas, mas sinceramente preocupado com os problemas sociais, tomou atitudes que o inserem na lista dos utópicos: construção de casas para seus funcionários; participação nos lucros de suas empresas; redução da jornada de trabalho para 10,5 horas por dia (em outros locais era 13,14 horas/dia); fundação de escolas para filhos de seus empregados. Propôs, além disso, a organização da sociedade em cooperativas de operários. Chegou, inclusive, a tentar aplicar suas idéias implantando uma colônia em Indiana, Estados Unidos, denominada "New Harmony", não conseguindo êxito, entretanto. Destacou-se muito mais, segundo alguns autores, como um "patrão esclarecido" do que propriamente como um socialista utópico. - Louis Blanc - defendia a interferência do Estado para modificar a economia e a sociedade. Imaginava a criação de"Ateliers" ou "Oficinas Nacionais", que associariam trabalhadores que dedicavam-se às mesmas atividades, onde,com o apoio do Estado, a produção não enfrentaria concorrência de grandes empresas. -#Saint Simon - preocupado com o problema da direção moral da sociedade, o conde de Saint-Simon desejava a planificação da economia, visando, sobretudo beneficiar as classes trabalhadoras. A indústria, afirmava ele, deveria voltar-se para atender aos interesses da maioria, notadamente dos mais pobres. -#Proudon - combatia seus próprios colegas de pensamento socialista, pois, acreditando que a reforma da sociedade deve ter como principio básico a justiça, entendia que dentro do próprio capitalismo estava a solução. Poder-se-ia,segundo seu pensamento, criar o "capitalismo bom". Acreditava que não é na produção que estão as falhas do sistema, mas na circulação. Defendia o "crédito sem juros", feito através de bancos populares ; isso permitia que os operários adquirissem os meios de produção e se traduziria na libertação da classe trabalhadora. Contradizia-se, no entanto, ao afirmar que "toda propriedade é um roubo."Em síntese, o "socialismo utópico" pode ser definido como um conjunto de idéias que se caracterizaram pela crítica ao capitalismo, muitas vezes ingênua e inconsistente, buscando,ao mesmo tempo, a igualdade entre os indivíduos. Em linhas gerais, combate-se a propriedade privada dos meios de produção como única alternativa para se atingir tal fim. Aausência de fundamentação científica é o traço determinante dessas idéias. Pode-se dizer que seus autores, preocupados com os problemas de justiça social e igualdade, deixavam-se levar por

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sonhos. Não foi por acaso que Karl Marx denominou os socialistas utópicos de "românticos".Os princípios básicos do socialismo utópico podem ser resumidos assim: - crítica ao liberalismo econômico, sobretudo à livreconcorrência. - formação de comunidades auto-suficientes, onde os homens, através da livre cooperação, teriam suas necessidades satisfeitas. - organização, em escala nacional, de um sistema de cooperativas de trabalhadores que negociariam, entre si, a troca de bens e serviços. - atuação do Estado que, através da centralização da economia, evitaria os abusos típicos do capitalismo.

3. O SOCIALISMO CIENTÍFICO OU MARXISTA

Reagindo contra as idéias espiritualistas,românticas, superficiais ingênuas dos utópicos, KarlMarx (1818 - 1883) e FriedrichEngels (1820 - 1895) desenvolveram a teoria socialista, partindo da análise crítica e científica do próprio capitalismo. Ao contrário dos utópicos, Marx e Engels não se preocuparam em pensar como seria uma sociedade ideal. Preocuparam-se, em primeiro lugar, em compreender a dinâmica do capitalismo e para tal estudaram a fundo suas origens, a acumulação prévia de capital, a consolidação da produção capitalista e, mais importante, suas contradições. Perceberam que o capitalismo seria, inevitavelmente, superado e destruído. E, para eles, isso ocorreria na medida em que, na sua dinâmica evolutiva, o capitalismo, necessariamente, geraria os elementos que acabariam por destruí-lo e que determinariam sua superação. Entenderam, ainda, que a classe trabalhadora agora completamente expropriada dos meios de subsistência, ao desenvolver sua consciência histórica e entender-se como uma classe revolucionária, teria um papel decisivo na destruição da ordem capitalista e burguesa. Marx e Engels afirmaram, também, que o Socialismo seria apenas uma etapa intermediária, porém, necessária, parase alcançar a sociedade comunista. Esta representaria o momento máximo da evolução histórica do homem, momento em que a sociedade já não mais estaria dividida em classes, não haveria a propriedade privada e o Estado, entendido como um instrumento da classe dominante, uma vez que no comunismo não existiriam classes sociais. Chegar-se-ia, portanto, à mais completa igualdade entre os homens. Para eles isso não era um sonho, mas, uma realidade concreta e inevitável. Para se alcançar tais objetivos o primeiro passo seria a organização da classe trabalhadora. A teoria marxista, expressa em dezenas de obras, foi claramente apresentada no pequeno livro publicado em 1848, O Manifesto Comunista. Posteriormente, a partir de 1867, foi publicadaa obra básica para o entendimento do pensamento marxista: O Capital, de autoria de Marx. Os demais volumes, graças ao esforçode Engels, foram publicados após a morte de Marx.Os princípios básicos que fundamentam o socialismo marxista podem ser sintetizados em quatro teorias centrais: a teoria da mais-valia, onde se demonstra a maneira pela qual o

trabalhador é explorado na produção capitalista; a teoria do materialismo histórico, onde se evidencia que os acontecimentos históricos são determinados pelas condições materiais (econômicas) da sociedade; a teoria da luta de classes, onde se afirma que a história da sociedade humana é a história da luta de classes, ou do conflito permanente entre exploradores e explorados; a teoria do materialismo dialético,onde se pode perceber o método utilizado por Marx e Engels para compreender a dinâmica das transformações históricas.Assim como, por exemplo, a morte é a negação da vida e está contida na própria vida, toda formação social (escravismo,feudalismo, capitalismo) encerra em si os germes de sua própriadestruição.

4. ESTADO SOCIALISTA

Um Estado Socialista é um Estado que adota o regime econômico do socialismo, com a coletivização ou propriedade estatal das empresas, total ou parcialmente. Embora o socialismo diga respeito estritamente à economia e não à forma de governo, todos os estados socialistas adotaram o sistema republicano e, destes, muitos foram governados sob regime de partido único. Atualmente, os estados que podem ser considerados socialistas são a República Popular da China, a República de Cuba, a República Democrática Popular da Coréia, a República Democrática Popular Laoana e a República Socialista do Vietnã.Se denomina Estado socialista aquele que adota o socialismo como sistema econômico e social, incluindo a propriedade estatal ou cooperativa dos meios de produção e do solo, ainda que tenham existido grandes diferenças de conceito entre estados caracterizados por eles mesmos como socialistas. Sefala de estados socialistas em referência àquelas democracias populares que têm ao marxismo-leninismo ou alguma de suas interpretações como ideologia oficial e nunca de países capitalistas governados por partidos social-democratas, embora estes em muitos casos se autodenominem socialistas. Também se emprega o nome Estado comunista, usado pela imprensa capitalista durante a Guerra Fria em referencia ao sistema de partido único e o governo do Partido Comunista. Esta denominação é em realidade um oxímoron, posto que a teoria marxista almeja o socialismo como fase seguinte ao capitalismo e previa ao comunismo, em que o Estado deixaria de existir. quase todos estes estados destacaram seu carácter socialista em seu nome oficial e quatro dos cinco que hoje existem continuam fazendo. Assim, muitos destes estados contêm os adjetivos popular, socialista e democrático em sua denominação. Existem também estados que contém estes términos em seu nome embora não hajam adotado esse sistema, como a República Demócratica Socialista de Sri Lanka ou a República Democrática Popular de Argelia.

O SOCIALISMO CUBANO

1- INTRODUÇÃO

A Revolução Cubana de 1959 representou uma das principais derrotas sofridas pelos Estados Unidos no

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período da guerra fria, reativando a tensão entre as duas superpotências em plena fase da coexistência pacífica.

2- UM BREVE HISTÓRICO

Desde o período colonial, o papel desempenhado por Cuba no mercado internacional era o de fornecedor de açúcar, que é,ainda hoje, uma das principais riquezas do país.No curto período em que ocuparam a ilha (dez meses em1762), os ingleses introduziram o trabalho escravo africano. Os grandes proprietários de terra beneficiaram-se principalmente do livre comércio instituído pela nova metrópole.No século XIX, os proprietários não apoiaram o nascente movimento pela independência, temendo uma sublevação dos negros livres e escravos, como ocorrera no Haiti no final do séculoXVIII. Esse foi um dos fatores que fizeram com que a independência de Cuba fosse uma das mais tardias das Américas.Ela ocorreu apenas em 1898, depois de uma guerra com a Espanha,da qual participaram os Estados Unidos. Forças militares norte americanas ocuparam a ilha até 1902.

3- A RUPTURA REVOLUCIONÁRIA E A INSERÇÃO NO CONTEXTO DA GUERRA FRIA

A influência norte-americana no país só começou a ser rompida a partir de 1959, quando Fidel Castro, liderando um movimento guerrilheiro, depôs o ditador Fulgêncio Batista.O objetivo inicial do movimento guerrilheiro era livrar a ilha da dominação imperialista norte-americana. Porém, em pleno contexto da guerra fria, marcado pela bipolaridade, seria quase impossível evitar que o país caísse na área de influência soviética. Vencidas as ameaças de invasão dos Estados Unidos, e tendo recebido apoio quase imediato da outra superpotência da época, aos poucos Fidel Castro foi assumindo uma orientação socialista e alinhando Cuba ao bloco soviético.

4- A NOVA ORGANIZAÇÃO SOCIO ESPACIAL DE CUBA

As primeiras medidas tomadas por Fidel Castro foram a reforma agrária — o que rompia com o histórico domínio dos latifundiários sobre a maioria da população— e a nacionalização das empresas estrangeiras, a maior parte delas norte-americana. O desenvolvimento econômico assumiu a forma ditada pelo planejamento estatal que orientava os países socialistas. Ou seja, cabia ao Estado fixar os objetivos da nova política econômica.

5- O FIM DA GUERRA FRIA E AS MEDIDAS CUBANAS

Com o fim da guerra fria e o ingresso de quase todo o mundo socialista na economia de mercado, Cuba passou a enfrentar uma grave crise económica. Afinal, após a revolução, a ilha deixou de fazer parte do mercado internacional capitalista para ter como parceiros exclusivos os membros do Comecon (o Mercado Comum de Países Socialistas). Seu isolamento foi ainda agravado pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, desde 1962. Para pressionar outros países a fazer o mesmo, ainda hoje os Estados Unidos prevêem sanções para as empresas

estrangeiras que mantiverem negócios com Cuba. Atualmente o embargo à ilha tem tido como principais opositores os países europeus e o Canadá. Este último tem sido o principal parceiro comercial de Cuba, além de responsável por numerosos turistas que levam divisas ao país. A atual crise vivida por Cuba tem duas raízes básicas: o restrito mercado consumidor interno e externo, que levou à desocupação da força de trabalho e à desativação de várias instalações industriais e comerciais; o a diminuição da oferta de fatores essenciais: capital, fontes energéticas — principalmente petróleo, que era importado da União Soviética — e alimentos em geral. Como resultado, o PNB do país reduziu-se em mais de 30% no período de 1989 a 1993, e ocorreram taxas de desemprego nunca vistas. Para enfrentar as dificuldades, a estratégia principal de Cuba tem sido investir na especialização dos seus principais produtos de exportação (açúcar, níquel e tabaco), visando a aumentar sua competitividade no mercado internacional. Além disso, o país está retomando a sua vocação para o turismo, deixada de lado após a revolução. -ENTRE AS VÁRIAS MEDIDAS TOMADAS PELO GOVERNO CUBANO, DESTACAM-SE: -liberar a entrada de investimentos estrangeiros, de acordo comregras específicas; -modificar o regime jurídico da propriedade, abrindo espaço parao retorno de formas de propriedade privada; -abolir os subsídios dados a agricultores sem condições decompetição no mercado; -entregar 75% das terras a cooperativas e agricultoresindividuais, praticamente extinguindo as fazendas estatais coletivas; -suprimir o monopólio estatal sobre o comércio exterior,concedendo autonomia tanto para estatais quanto paraempresas privadas; -aproveitar a mão-de-obra do país, que, por seu alto grau deinstrução, tem um grande potencial de qualificação.

6- A SITUAÇÃO ATUAL DE CUBA

Apesar das mudanças, Cuba não se transformou numa economia socialista de caráter misto, em que o Estado e o mercado atuam conjuntamente na determinação das regras de produção e de comércio. Afinal, as empresas públicas ainda são dominantes, e as empresas privadas são pequenas e frágeis. No entanto, já se pode falar na existência de uma "segunda", ou seja, aquela que envolve a ação privada de indivíduos. Politicamente, porém, a grande crítica apontada ao governo socialista é a falta de democracia, pois desde a revolução vigora a ditadura personalista de Fidel Castro.

- O SOCIALISMO DE MERCADO NA CHINA A China é hoje um país com dois sistemas econômicos amalgamados (mesclado, misturado) por um único sistema político, a ditadura de partido único, que ainda persiste. Os próprios dirigentes chineses definem seu país como uma economia “socialista de mercado". Que

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"bicho" é esse? A China é a economia que, ao longo dos anos 90 e início do século XXI, mais cresce no mundo, enquanto a União Soviética, seu modelo inicial, desapareceu. O país já é uma das maiores economias do planeta e cada vez mais o mercado mundial é invadido por produtos made in China. Como explicar devidamente esses fatos.

1- A CHINA COMUNISTA

A Revolução Chinesa de 1949 foi um grande divisor de águas na história do país, e isso já ficara evidente quando Mão-Tse-tung, em discurso feito durante a proclamação da República, afirmou para uma multidão em Pequim: "O povo chinês se levantou (...); ninguém nos insultará novamente".Pelo menos no início, até mesmo por falta de opção,a China revolucionária seguiu o modelo político-econômico vigente na extinta União Soviética. Politicamente, com base na ideologia marxista-leninista, implantou-se um regime político centralizado sob o controle do Partido Comunista Chinês, cujo líder máximo era o secretário-geral, Mao-Tse-tung. Economicamente, como resultado da coletivização das terras, implantaram-se gradativamente as comunas populares, que seguiam, em linhas gerais, o modelo soviético. O Estado passou a controlar também todas as fábricas e recursos naturais. No entanto, é interessante lembrar que a Revolução Chinesa, diferentemente da Revolução Russa, Foi essencialmente camponesa. Para ter uma idéia, nessa época havia em torno de 3,2 milhões de operários, o que equivalia a apenas 0,6% da população (aproximadamente 540 milhões de habitantes). Assim, somente após a revolução é que a China e iniciou seu conturbado processo de industrialização.

2- O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO

Seguindo o modelo soviético, inicialmente o Estado passou a planificar a economia. Em 1957, Mão-Tse-tung lançou um ambicioso plano, conhecido como o "Grande Salto à Frente", que se estenderia até 1961. Esse plano pretendia queimar etapas na consolidação do socialismo por meio da implantação de um parque industrial amplo e diversificado.Para tanto, a China passou a priorizar investimentos na indústria de base, na indústria bélica e em obras de infra-estruturar que sustentassem o processo de industrialização.Apesar de dispor de numerosa mão-de-obra, de abundantes recursos minerais e fósseis, a industrialização chinesa teve idas e vindas. O "Grande Salto à Frente" mostrou-se um grande fracasso, desarticulando totalmente a economia industrial eagrícola do país.A industrialização chinesa acabou padecendo dos mesmos males do modelo soviético: baixa produtividade,produção insuficiente, baixa qualidade, concentração de capitais no setor armamentista, burocratização, etc.Além disso, a Revolução Cultural maoísta (1966-1976) acabou por agravar a crise econômica, gerando um verdadeiro caos político.Consistia em um esforço de transformação ideológica contra o revisionismo soviético, uma violenta perseguição dos contra-revolucionários, além de isolamento econômico em relação ao exterior.As divergências e as desconfianças entre os líderesdos dois

principais países socialistas aumentavam cada vez mais. Em 1964, a China explodiu sua primeira bomba atômicae, três anos depois, a de hidrogênio. A União Soviética não admitia perder a hegemonia nuclear no bloco socialista. Essefato decisivo, somado a outros, acabou provocando um rompimento entre a União Soviética e a China, em 1965. Como consequência, Moscou retirou todos os seus assessores e técnicos da China, agravando mais ainda seus problemas econômicos. O rompimento sino-soviético abriu possibilidade para a aproximação sino-americana, iniciada com a viagem do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, à China, em1972. Foi nessa época que a República Popular da China entrou na ONU, em substituição a Taiwan, tornando-se membro permanente do Conselho de Segurança da entidade.Em 1976, Mao-Tse-tung, o grande líder da Revolução Chinesa,faleceu. Foi substituído por Deng Xiaoping. Com a crítica à Revolução Cultural, os novos donos do poder iniciaram um processo de desmaoização na China. Uma nova revolução estava por acontecer!

3- A ECONOMIA SOCIALISTA DE MERCADO

O gigante chinês, depois de viver décadas em estado de letargia, à margem do explosivo crescimento econômico de seus vizinhos - os Tigres Asiáticos -, resolveu finalmente acordar. Sob o comando de Deng Xiaoping, iniciou-se, a partir de 1978, um processo de reforma econômica no campo e na cidade, paralelamente à abertura da economia chinesa ao exterior.Num balanço apresentado ao XIV Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, realizado em 1992, o então secretário-geral Jiang Zemin assim avaliou esse processo:o que significa "integrar a verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país (...) e construir um socialismo com peculiaridades chinesas"?Trata-se, na verdade, de uma tentativa de conciliar o processo de abertura econômica (o estímulo à iniciativa privada, ao capital estrangeiro, à modernização do país) com amanutenção, no plano político, de uma ditadura de partido único. O discurso acima evidencia a importância fundamentaldas reformas econômicas para o regime chinês e também atentativa de justificar ideologicamente a simbiose da economiade mercado com a economia planificada sob o controle doEstado. É uma tentativa de perpetuar, apoiando-se numaeconomia em crescimento, a hegemonia do PCC. A evidênciamais forte de que os dirigentes chineses não estão planejandouma abertura também no plano político foi a dura repressãoaos manifestantes da praça da Paz Celestial. Ocorrido em1989, o movimento, liderado pelos estudantes reivindicavauma abertura política, além da econômica, já em curso.Para um país de 1,2 bilhão de habitantes, dos quais70% são camponeses, é natural que as reformas se iniciassempela agricultura. Foram extintas as comunas populares e,embora a terra continue pertencendo ao Estado cada famíliapoderia cultivá-la como desejasse.Depois de entregar ao Estado uma parte do queproduzisse, poderia vender no mercado o restante. Asrestrições à contratação de mão-de-obra, que impediam aimplantação de relações capitalistas de produção, foramlevantadas e os preços pagos aos

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agricultores foram elevados,incentivando os camponeses. Ao mesmo tempo, osconsumidores passaram a receber sub notável aumento na produção agrícola chinesa.A reforma na agricultura provocou a disseminação da iniciativa privada e do trabalho assalariado no campo, levando a um aumento da renda dos agricultores, inclusive com o surgimento de uma camada de camponeses ricos. Houve também uma expansão do mercado interno, com o consequente estímulo à economia como um todo. Mas a grande revolução ainda estaria por acontecer.A partir de 1982, após o XII Congresso Nacional do PCCh, iniciou-se efetivamente o processo de abertura no setor industrial. As indústrias estatais tiveram que se enquadrar à realidade e foram incentivadas a adequar-se aos novos tempos, melhorando a qualidade de seus produtos, abaixando seus preços e ficando atentas à demanda do mercado. Além disso, o governo permitiu o surgimento de pequenas empresas e autorizou a constituição de empresas mistas, atraindo o capital estrangeiro. Como resultado disso tudo, a economia da China cresceu a uma taxa de 9% ao ano na década de 80. Enquanto isso, a província de Guang dong, localizada próximo a Hong Kong, a mais dinâmica do país e onde a internacionalização está mais avançada, apresentou uma taxa de crescimento real de 12,5% ao ano desde 1979. Com certeza, no período, a taxa mais alta do mundo. No plano da economia, a China está seguindo, em linhas gerais, os passos dos Tigres. Aliás, é interessante lembrar que, com exceção da Coréia do Sul, as populações de Taiwan, Hong Kong e Cingapura são compostas basicamente por chineses, o que favorece o fluxo de capitais, informações, pessoas e de uma "cultura capitalista". Aí está, portanto, a face "tigre" da China, nas zonas econômicas especiais e nas cidades abertas, responsável pelo "milagre chinês". Mas como isso não existe em economia, todo "milagre" tem seu outro lado. Qual seria, então, a outra facedo "milagre Chinês"? Além da liberalização econômica, o fator fundamental que está atraindo vultosos capitais para a China, notadamente para as zonas econômicas especiais e para as cidades abertas, é o baixíssimo custo de uma mão-de-obra muito disciplinada e trabalhadora. Aliás, esse é o grande fator de competitividade da indústria chinesa no momento. Nesse sentido, ela está no mesmo patamar dos Tigres há mais ou menos vinte anos. O salário mínimo na China chegou a ser 25 dólares por uma jornada de trabalho de 12 horas diárias. O salário médio em Shenzen, cidade próxima a Hong Kong, devido à sua prosperidade, era dez vezes mais elevado do que o salário pago em qualquer outro lugar da província de Guang dong,mas, ainda assim, era apenas um quinto do salário pago no Tigre vizinho. Na província de Fujian, o salário médio de um operário era um décimo do salário médio de um operário de Taiwan ou cerca de um trinta e cinco avos do salário médio vigente nas fábricas japonesas. Enquanto isso, na empobrecida província de Anhui, distante de todo esse frisson modernizante, a renda per capita anual é, em média, era de 74 dólares. Uma outra face desse "milagre" é o aprofundamento das desigualdades sociais e regionais, que tem provocado o aumento das migrações internas, apesar das restrições do governo central. A cidade de

Shenzen, por exemplo, pulou de100 mil habitantes, em 1979, para mais de 2 milhões, em1993. Todos querem ir em busca de melhores salários nas zonas especiais e nas cidades livres, mas é justamente isso que impede uma elevação maior dos salários.Assim, com base em uma profunda abertura econômica e nos baixos salários, o made in China invadiu o mundo. No entanto, cada vez mais se levantam restrições ao país, que constantemente é acusado (até pelo Brasil) da prática de "dumping social", ou seja, vende produtos muito baratos,já que super ex-plora a mão-de-obra, fazendo uma concorrência desleal.Como consequência desse verdadeiro boom industrial,a China tem, atualmente, um parque industrial bastante diversificado. No entanto, tem apresentado um crescimento bastante desigual não só territorial, mas também setorialmente. Como já foi visto, as zonas econômicas especiais e as cidades abertas crescem muito mais rapidamente, acentuando os desequilíbrios regionais, mas também as empresas privadas e mistas crescem muito mais que as outras. Um dos dilemas com o qual depara atualmente o regime chinês - pois 48,3% das indústrias são estatais, 38%são de propriedade coletiva e apenas 13,7%, de capitais privados nacionais e estrangeiros - é a disparidade de grau de crescimento de suas empresas. ! A grande virada, porém, veio mesmo com a abertura das zonas econômicas especiais em várias províncias litorâneas. As primeiras foram implantadas em Shenzen, Zhuhai, Shantu e Xiamen. O objetivo fundamental dessas zonas econômicas, espécie de enclaves capitalistas dentro da China, era atrair empresas estrangeiras, que trariam, além de capitais, tecnologia e experiência de gestão empresarial, que faltavam aos chineses. Num esforço de ampliar as exportações, a China concedeu ao capital estrangeiro quase total liberdade de atuação nessas zonas. Conforme se pode constatar em mais um trecho do discurso de Jiang Zemin: “o país está fortemente empenhado no sentido de ampliar as zonas de atuação do capital estrangeiro”. metas de produção e direcionar os investimentos. Era também o Estado, e não o mercado, que fixava os preços se encarregava da distribuição das mercadorias. A prioridade básica assumida pelo governo foi levar os serviços de saúde e de educação para todo o povo. Essas medidas, associadas à política de eliminar totalmente o desemprego, foram determinantes para romper com os péssimos indicadores sociais que ainda hoje caracterizam os países centro-americanos.Com uma população de mais de 11 milhões de pessoas, o índice de analfabetismo está abaixo de 4%, e a taxa de escolaridade,na faixa entre 12 e 17 anos, é de aproximadamente 75%. Esses índices são semelhantes aos de muitos países considerados desenvolvidos.Na área da saúde, destacam-se a elevada expectativa de vida da população (76 anos) e a drástica redução da mortalidade infantil.Do ponto de vista da organização do território, além da reforma agrária, o governo realizou uma grande subdivisão administrativa, que teve como resultado direto a multiplicação do número de municípios.Num país de economia predominantemente agrícola, esses municípios foram os focos centrais da

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política de industrialização,sendo os responsáveis pelo crescente aumento da população urbana (atualmente em torno de 74%).Paralelamente, no campo, o incentivo à modernização das cooperativas camponesas e das fazendas estatais foi um fator a mais AS ESPECIFICIDADES DO MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA: CHINA

1- MUDANÇAS PROFUNDAS:

Hoje, a China vive uma arrancada desenvolvimentista que poderá colocá-la ao lado dos EstadosUnidos (EUA) no patamar de únicas superpotências mundiais. É uma revolução, quando se pensa que,no início do século XX, a nação chinesa era chamada de "o homem doente da Ásia". A expressão referia-seà sua profunda crise econômica, social, política e cultural. Nos 100 anos que decorreram desde então, o país passou por algumas das experiências mais dramáticas da história contemporânea:invasões estrangeiras; a derrocada da ordem monárquica tradicional e a revolução republicana; o confronto armado entre comunistas e conservadores; a guerra contra a ocupação japonesa e a vitória da revolução comunista; industrialização; reforma agrária e a abertura da economia.Com a população mais numerosa do mundo (1,3 bilhão de habitantes) e a terceira maior extensão territorial (atrás da Federação Russa e do Canadá), tudo o que ocorre na China possui caráter grandioso. Desde a abertura econômica, em 1978, a economia do país está entre as dez que mais avançam no mundo, com taxa de crescimento médio de 10% ao ano. Se as condições de vida da população ainda são modestas,quando comparadas às dos EUA, da Europa Ocidental e do Japão, é preciso lembrar que, ao iniciar sua arrancada econômica, o país se encontrava defasado em relação ao mundo desenvolvido e que um ano de más colheitas podia matar de fome milhões de pessoas. Delá para cá, a segurança alimentar e o padrão de consumo e conforto têm melhorado de forma consistente.

2- URBANIZAÇÃO ACELERADA:

No rastro desse espetacular ciclo de crescimento, vem ocorrendo no país uma das maiores migrações humanas de todos os tempos. Nos próximos 25 anos, 345 milhões de pessoas trocarão o campo pelas cidades. Em 1950, a população urbana representava menos de 13% do total no país. Hoje, esse número é de 40% e a expectativa é que chegue a 60% em 2030. Para minimizar o impacto social desse fenômeno, o forte planejamento estatal chinês tem de assegurar moradia, abastecimento,saneamento básico,transporte,segurança, educação, saúde e lazer para esse enorme contingente de centenas de milhões de novos habitantes urbanos.Ao mesmo tempo, é preciso responder também pelas mazelas resultantes do progresso. A crescente demanda

de energia vem produzindo impacto dramático sobre o meio ambiente. A construção da gigantesca hidrelétrica das três gargantas no rio Yang Tse, a maior do mundo, com obras prontas em 2009, criou um lago artificial de 600 quilômetros deextensão, forçando o deslocamento de mais de meio milhão de pessoas e inundando para sempre dezenas de sítios arqueológicos.Enquanto isso, um relatório do Banco Mundial informa que, das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na China. Ainda fortemente dependente do uso do carvão, o país é responsável por boa parte da nuvem de poluentes que encobre os céus do Japão e da Coréia. A China é atualmente o segundo maior emissor de CO2 do planeta (14%),superado apenas pelos Estados Unidos (23%). Mesmo que se considere a gigantesca diferença entre a população chinesa (1,3 bilhão) e a norte-americana (295 milhões), constatando-se que a emissão do poluente percapita é muito maior no caso norte-americano, a situação da China épreocupante. O país tornou-se signatário do Protocolo de Kyoto – cujo objetivo é reduzir a poluição atmosférica mundial -, mas, por enquanto, sem metas para a redução de emissão.

3- DESIGUALDADES

O modelo de desenvolvimento chinês, porém, está trazendo consequências negativas, como o desnível econômico e tecnológicoentre os pólos industriais do litoral e as regiões agrícolas do interior e também a crescente desigualdade social entre a população.Atualmente, os 20% mais ricos detêm 50% do consumo, enquanto os 20% mais pobres respondem por apenas 5%. Esse segmento de novos-ricos, urbanos e ocidentalizados, abriga 94 milhões de usuários da internet e um número de proprietários de telefones celulares que cresce vertiginosamente. Em um país com mais de 1 bilhão de telespectadores, estima-se que 130 milhões serão assinantes de TV paga até 2013. CHINA: O NASCIMENTO DE UMA SUPERPOTÊNCIA Roupas, tênis, celulares, peças de computador, brinquedos, utensílios domésticos, aparelhos desom... Dê uma olhada nas etiquetas das peças que você tem em casa. Certamente vai encontrar alguma com um "made in China". Com preços competitivos, mão-de-obra barata e avanço nos padrões de qualidade, os chineses inundaram o mercado mundial. Essa é uma das várias razões pelas quais o país entrou na agenda diplomática de muitas nações, incluindo o Brasil. FONTE: ATUALIDADES VESTIBULAR. ED: ABRIL.

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13 A RELAÇÃO SOCIEDADE E NATUREZA

- O SOCIALISMO DE MERCADO É MODELO POLÍTICO ECONÔMICO ADOTADO PELA CHINA. O rígido controle da natalidade, que permite a cada casal urbano ter apenas um filho, está gerando um desbalanceamento dos gêneros. Como os chineses, tradicionalmente, preferem meninos, com a disseminação da ultra-sonografia houve um salto no número de abortos de fetos femininos, provocando um perigoso desequilíbrio no balanço dos sexos. Quando chegar à idade sexualmente ativa, esse excedente populacional masculino pode transformar-se em uma explosiva fonte de violência.As autoridades estão preocupadas e estudam soluções que vão do rígido controle das ultra-sonografias à perspectiva de"importação" de mulheres dos países vizinhos. Para serenar os ânimos da população rural, fortemente apegada aos antigos valores patriarcais, o governo teve de afrouxar as normas do controle em 1984. Adotou, no campo, a regra ironicamente apelidada de "um filho e meio", liberando a possibilidade de um segundo filho, caso o primeiro fosse mulher.

Principais dados e características da economia chinesa: - Entrada da China, principalmente a partir a década de 1990, na economia de mercado,ajustando-se ao mundo globalizado; - A China é o maior produtor mundial de alimentos: 500 milhões de suínos, 450 milhões de toneladas de grãos; - É o maior produtor mundial de milho e arroz; - Agricultura mecanizada, gerando excelentes resultados de produtividade; - Aumento nos investimentos na área de educação, principalmente técnica; - Investimentos em infra-estrutura com a construção de rodovias, ferrovias, aeroportos e prédios públicos. Construção da hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo, gerando energia para as indústrias e habitantes; - Investimentos nas áreas de mineração, principalmente de minério de ferro, carvão mineral e petróleo; - Controle governamental dos salários e regras trabalhistas. Com estas medidas as empresas chinesas tem um custo reduzido com mão-de-obra (os salários são baixos), fazendo dos produtos chineses os mais baratos do mundo. Este fator explica, em parte, os altos índices de exportação deste país. - Abertura da economia para a entrada do

capital internacional. Muitas empresas multinacionais, também conhecidas como transnacionais, instalaram e continuam instalando filiais neste país, buscando baixos custos de produção, mão-de-obra abundante e mercado consumidor amplo. - Incentivos governamentais e investimentos na produção de tecnologia. - Participação no bloco econômico APEC (Asian Pacific Economic Cooperation), junto com Japão, Austrália, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Chile e outros países; - A China é um dos maiores importadores mundiais de matéria-prima. - No ano de 2012, com o crescimento do PIB em 7,8%, a economia da China demonstrou que sofreu abalo da crise econômica mundial (iniciada em 2008), porém conseguiu manter seu crescimento num patamar elevado em comparação as outras grandes economias do mundo. - O forte crescimento econômico dos últimos anos gera emprego, renda e crescimento das empresas chinesas. Porém, apresenta um problema para a economia chinesa que é o crescimento da inflação. - Em 2011 a balança comercial chinesa foi positiva em US$ 240 bilhões com exportações de US$ 1,90 trilhão e importações de US$ 1,66 trilhão. PROBLEMAS: Embora apresente todos estes dados de crescimento econômico, a China enfrenta algumas dificuldades. Grande parte da população ainda vive em situação de pobreza, principalmente no campo. A utilização em larga escala de combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo) tem gerado um grande nível de poluição do ar. Os rios também têm sido vítimas deste crescimento econômico, apresentando altos índices de poluição. Os salários, controlados pelo governo, coloca os operários chineses entre os que recebem uma das menores remunerações do mundo. Mesmo assim, o crescimento chinês apresenta um ritmo alucinante, podendo transformar este país, nas próximas décadas, na maior economia do mundo.

Obs: No ano de 2012, o PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 7,8%. O PIB chinês atingiu 8,28 trilhões de dólares ou 51,93 trilhões de iuanes. Com estes dados, a China continua sendo a segunda maior economia do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos