À tabela 81

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Na realidade o ano que ora finda não deixa nenhumas saudades aos trabalhadores e aos reformados portugueses. O governo do eng.º Sócrates, eleito com base em promessas falsas, governou apenas para alguns, os do costume, contra os interesses da maioria. Por mais que a comunicação social dominada, pelos grandes grupos económico-financeiros, se esforce para apresentar uma imagem positiva do governo, a verdade é que as reformas por ele avançadas são todas dirigidas contra os trabalhadores. Nas eleições prometeu que não aumentaria os impostos e a primeira medida que tomou foi a subida do IVA, que é um imposto cego, que casti- ga fundamentalmente os mais desprotegidos. Prometeu rever o Código do Trabalho da direita, mas logo que chegou ao poder esqueceu-se des- se compromisso e seguiu fielmente a política de Bagão Félix. E foi assim em tudo. A contratação colectiva, que tanto tinha sido defendida na opo- sição, continuou bloqueada, ante o olhar impávi- do do governo, os ataques ao Serviço Nacional de Saúde e à Segurança Social pública foram constantes. E por aí além. Entretanto os senhores do dinheiro, que são os verdadeiros timoneiros desta governação, conti- nuam a comer à tripa-forra. Depois do dr. João Salgueiro (que em tempos chegou a ter preocupa- ções sociais) ter afirmado que os bancos arran- jam sempre forma de aumentar ainda mais os lucros, que podemos dizer? Na CP e no caminho de ferro em geral, o pano- rama não é menos negro. Tudo leva a crer que o governo do PS se prepara para vibrar mais gol- pes na estrutura orgânica da CP. Outra leitura não pode ser feita do plano de reestruturação que acaba de ser divulgado. Eis porque afirmamos que o ano que está a che- gar ao fim dificilmente poderia ter sido pior para os portugueses que vivem do trabalho ou das pensões de reforma. Já para os poderosos o ano não podia ter sido melhor. Nunca neste país se ganhou tanto dinheiro através da especulação financeira. Para estes o governo anuncia mais oportunidades de lucros, enquanto para a generalidade dos trabalhadores se reservam as piores ameaças com a nova onda de congelamentos salariais. Os trabalhadores têm, portanto, todas as razões mais uma para estarem descontentes e revoltados com as políticas de direita prosseguidas até pelo executivo do eng.º Sócrates. Nas grandiosas manifestações promovidas pela CGTP-IN, em Outubro e Novembro, o governo já começou a sentir a força da contestação social que varre o País de Norte a Sul. Mas a nossa luta não pode esmorecer. Num País em que aos bancos são proporcionados aumentos dos lucros de 50 e mais por cento, não podemos aceitar que os aumento sala- riais fiquem abaixo da taxa de inflação. Foi assim que os sucessivos governos contribuíram para que a parte do rendi- mento nacional que coube ao trabalho tenha descido de 57 por cento, nos finais dos anos 70, para os actuais 39 por cento. Foi desta forma que os sucessivos governos trataram, deliberadamente, de agravar as desigualdades sociais que tanto dizem querer combater. E quanto aos rasgados elogios que o presidente da Repú- blica tem vindo a tecer ao governo, o mínimo que os traba- lhadores podem pensar é que não foi por acaso que a direc- ção do PS provocou a divisão do partido socialista que con- duziu à eleição do actual inquilino de Belém. ÓRGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 81 EDITORIAL UM ANO PARA ESQUECER

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Orgão da Comissão de Trabalhadores da CP

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Na realidade o ano que ora finda não deixa nenhumas saudades aos trabalhadores e aos reformados portugueses. O governo do eng.º Sócrates, eleito com base em promessas falsas, governou apenas para alguns, os do costume, contra os interesses da maioria. Por mais que a comunicação social dominada, pelos grandes grupos económico-financeiros, se esforce para apresentar uma imagem positiva do governo, a verdade é que as reformas por ele avançadas são todas dirigidas contra os trabalhadores.

Nas eleições prometeu que não aumentaria os impostos e a primeira medida que tomou foi a subida do IVA, que é um imposto cego, que casti-ga fundamentalmente os mais desprotegidos. Prometeu rever o Código do Trabalho da direita, mas logo que chegou ao poder esqueceu-se des-se compromisso e seguiu fielmente a política de Bagão Félix. E foi assim em tudo. A contratação colectiva, que tanto tinha sido defendida na opo-sição, continuou bloqueada, ante o olhar impávi-do do governo, os ataques ao Serviço Nacional de Saúde e à Segurança Social pública foram constantes. E por aí além.

Entretanto os senhores do dinheiro, que são os verdadeiros timoneiros desta governação, conti-nuam a comer à tripa-forra. Depois do dr. João Salgueiro (que em tempos chegou a ter preocupa-ções sociais) ter afirmado que os bancos arran-jam sempre forma de aumentar ainda mais os lucros, que podemos dizer?

Na CP e no caminho de ferro em geral, o pano-rama não é menos negro. Tudo leva a crer que o governo do PS se prepara para vibrar mais gol-pes na estrutura orgânica da CP. Outra leitura não pode ser feita do plano de reestruturação que acaba de ser divulgado.

Eis porque afirmamos que o ano que está a che-gar ao fim dificilmente poderia ter sido pior para os portugueses que vivem do trabalho ou das pensões de reforma. Já para os poderosos o ano não podia ter sido melhor.

Nunca neste país se ganhou tanto dinheiro através da

especulação financeira. Para estes o governo anuncia mais oportunidades de lucros, enquanto para a generalidade dos trabalhadores se reservam as piores ameaças com a nova onda de congelamentos salariais.

Os trabalhadores têm, portanto, todas as razões mais uma para estarem descontentes e revoltados com as políticas de direita prosseguidas até pelo executivo do eng.º Sócrates.

Nas grandiosas manifestações promovidas pela CGTP-IN, em Outubro e Novembro, o governo já começou a sentir a força da contestação social que varre o País de Norte a Sul. Mas a nossa luta não pode esmorecer. Num País em que aos bancos são proporcionados aumentos dos lucros de 50 e mais por cento, não podemos aceitar que os aumento sala-riais fiquem abaixo da taxa de inflação. Foi assim que os sucessivos governos contribuíram para que a parte do rendi-mento nacional que coube ao trabalho tenha descido de 57 por cento, nos finais dos anos 70, para os actuais 39 por cento. Foi desta forma que os sucessivos governos trataram, deliberadamente, de agravar as desigualdades sociais que tanto dizem querer combater.

E quanto aos rasgados elogios que o presidente da Repú-blica tem vindo a tecer ao governo, o mínimo que os traba-lhadores podem pensar é que não foi por acaso que a direc-ção do PS provocou a divisão do partido socialista que con-duziu à eleição do actual inquilino de Belém.

ÓRGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 81

EDITORIAL

UM ANO PARA ESQUECER

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TUDO À VENDATUDO À VENDA

A CP FICOU MALA CP FICOU MAL NA FOTOGRAFIANA FOTOGRAFIA

DESTRUIÇÃO DA CP SOMA E SEGUESOMA E SEGUE

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA

SALAS DE CONVÍVIOSALAS DE CONVÍVIO ENTRECAMPOS E AREEIROENTRECAMPOS E AREEIRO

SALA DE CONVÍVIOSALA DE CONVÍVIO EM COIMBRAEM COIMBRA--CIDADECIDADE

Como é sabido a criação da Tex foi sempre contestada

pelos representantes legítimos dos ferroviários. Até mes-mo antes daquela empresa ter servido de compensação para os fretes que um tal sindicalista-administrador se prestou a fazer no obscuro campo do divisionismo.

Mas enfim, todos sabemos que o desmembramento da CP visa, a médio prazo, a entrega das empresas subsidiá-rias aos privados.

Mas, ao menos, poderia haver um pouco de pudor na forma como as coisas são feitas.

Quando agora se anuncia a próxima criação de uma SA

para substituir a CP na gestão da CP Carga, as explica-ções que se dão para o facto têm todos os condimentos duma estória muito mal contada. Mais do que esfarrapada é a desculpa da directiva da EU que obrigaria à formação de uma nova empresa para respeitar a liberalização, a par-tir do próximo ano.

E esta estória está muito mal contada e apresenta-se lamentavelmente toda esfarrapada, porque a referida

O recente incidente que resultou da inundação do túnel

de Caxarias, serviu para mostrar, mais uma vez, como a CP deve ter mais cuidado com os serviços e atenções que presta, ou deveria prestar, aos seus clientes.

É certo que os principais responsáveis da empresa se encontravam em Évora, na bonita e elegante Pousada dos Lóios, numa comida comemorativa da abertura do troço Casa Branca-Évora, depois das obras de beneficiação por-que passou.

Em Julho deste ano a CT dirigiu uma carta à Comissão

Executiva da CP Lisboa, a reclamar maior cuidado na lim-peza das salas de convívio dos trabalhadores das esta-ções de Entrecampos e do Areeiro, além de solicitar tam-bém a substituição de sofás utilizados pelos trabalhadores que ali prestam serviço.

Volvidos que são cerca de seis meses sobre a data da primeira carta, e como tudo continua na mesma, a CT diri-giu uma recordatória aquela Comissão Executiva, na qual refere que os referidos sofás se encontram agora num estado de degradação que, além de incómodos, colide com a dignidade dos trabalhadores. 2

O administrador-sindicalista vai ser promovido a asses-

sor de qualquer coisa. Os fretes pagam-se bem. Mas seria desnecessário anunciar toda esta pouca vergonha ao som das trombetas da vingança. Os do outro “clube” que se cuidem, “que a mudança está mesmo para acontecer e já se encontra mesmo muito perto. Faltam poucos dias para o começo da revolução”.

Depois disto só falta mesmo explicar como é que os ven-cedores vão “acabar com os sorrisos amarelos de algu-mas pessoas”.

Ao que isto chegou… E, ainda a propósito, não seria razoável que fosse mini-

mamente esclarecido o destino dado ao Fundo Social de 60 mil contos, criado na Tex para acudir a situações de emergência dos trabalhadores? directiva limita-se a abrir o mercado à concorrência, sem falar, sequer, na sua privatização.

Na situação concreta que se nos apresenta, a CT vai con-tinuar a exigir ser ouvida e informada acerca de todo o processo de transferência da CP Carga para outra empre-sa, nos precisos termos em que a lei o determina. A CT não vai ainda abdicar do direito que lhe é legalmente con-ferido de dar parecer prévio a qualquer acto de cedência, fusão ou transferência de um sector da empresa.

E tudo isto porque temos os motivos para pensar que o CG e o governo, sabendo que a liberalização ia acontecer em 2007, em vez de avançar para o plano da criação de uma SA, que não passa da antecâmara da privatização, tinha, pelo contrário, a estrita obrigação de preparar a CP para o embate que aí vinha. Mas não foi isto que fez, por-que, nas suas políticas , como todos sabemos, os CG’s limitam-se a cumprir instruções políticas...

Seja como for a verdade é que, segundo os jornais do dia, 24 horas depois do bloqueamento da Linha do Norte ainda havia passageiros à espera de transbordo.

É evidente que a CP não tem qualquer responsabilidade nas inundações do túnel, mas já o mesmo não pode dizer-se da negligência verificada no apoio aos passageiros que ficaram retidos em Caxarias.

É caso para se dizer que a CP não ficou nada bem na fotografia…

Quanto à Refer seria bom que ficasse clara a sua respon-sabilidade em tudo isto, na medida em que se diz para aí que o empreiteiro da renovação daquele troço da Linha do Norte, teria alertado o dono da obra para a necessidade de se reforçar a drenagem do túnel de Caxarias, para evitar situações como a que ora se verificou. Será verdade?

A sala de convívio do pessoal circulante, na estação de

Coimbra-Cidade, foi beneficiada com pequenos arranjos e pintura geral, de forma que, a partir de agora satisfaz ple-namente as necessidades dos trabalhadores afectos à cir-culação de comboios.

Como se sabe esta sala foi cedida à Sub-Ct de Coimbra pelo CG, depois de ali ter funcionado a Eco-Saúde. A sua utilização é facultada a todos os trabalhadores das circula-ções de comboios, sem qualquer excepção e sem necessi-dade de qualquer autorização prévia.

Exige-se assim também melhorias noutras salas, nomea-damente por exemplo no Poceirão que é uma vergonha.

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“À TABELA” Nº 81 DEZEMBRO DE 2006

Órgão da CT da CP Redacção - Secretariado da CT da CP Composição e Impressão - CT da CP

Calçada do Duque, 14 1249-109 LISBOA - Tel: 213215700

PROMETIDA MODERNIZAÇÃOPROMETIDA MODERNIZAÇÃO DA LINHA DO SADODA LINHA DO SADO

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS

ECOSECOS DA CALÇADADA CALÇADA

GOVERNO CORTAGOVERNO CORTA NAS DESPESAS SOCIAISNAS DESPESAS SOCIAIS

TEMOS QUE LUTAR COM FIRMEZATEMOS QUE LUTAR COM FIRMEZA PELA DEFESA DO 25 DE ABRILPELA DEFESA DO 25 DE ABRIL E DA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESAE DA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA

Em resposta a um pedido de infor-

mação do PEV- Partido Ecologista Os Verdes, o gabinete do ministro das Obras Públicas prometeu, em ofício de 06.10.2006, que estão a ser elabo-rados os projectos de execução de modernização da Linha do Sado, entre Barreiro e Praias do Sado. Este projecto que inclui a electrificação entre Barreiro e Pinhal Novo, deverão estar concluídos, de acordo com o ofício em questão, no 2.º semestre de 2008. Devemos sublinhar que esta

Ao mesmo tempo que investe em

espaventosos empreendimentos como a OTA e o TGV, o governo do PS corta cada vez mais nas despesas sociais. Os maiores cortes no orça-mento de 2007 verificam-se, na reali-dade, na Saúde, na Segurança Social e na Educação.

Na Saúde pretende agora o governo impor-nos taxas moderadoras nos internamentos e nas cirurgias, como se fossem os doentes que decidem, por capricho ou brincadeiras de mau gosto, submeter-se a um internamen-to hospitalar ou a uma intervenção cirúrgica. Quando impuseram as taxas moderadoras nas urgências e nos centros de saúde, logo se viu que se tratava de uma porta aberta para acabar com a gratuitidade da saúde, mas o que se dizia ser tendencial depressa passou a efectivo.

Ora nós continuamos a defender que é a comunidade no seu todo que deve pagar os serviços de saúde e não o cidadão que se encontra debili-tado pela doença.

Com a Segurança Social passasse exactamente a mesma coisa. A direita coerente e assumida defende o plafo-namento contributivo, para engordar as seguradoras, ao mesmo tempo que destruía o sistema público, universal e solidário. Por sua vez o governo do PS, não tendo ainda desplante para ir

resposta do gabinete do ministro resultou de uma diligência do PEV, em sintonia com a acção desenvolvi-da por várias organizações locais, como comissão de utentes e autar-quias, salientado todo o trabalho desenvolvido pela Subcomissão de Trabalhadores da Linha do Sado.

Esperamos que desta vez a pro-messa ministerial se cumpra, até porque além do mais, parece afastar a hipótese da privatização, pelo menos a curto prazo.

tão longe, para lá vai caminhando. Na realidade o aumento da idade

de reforma e a redução das pen-sões constituem ataques brutais contra os trabalhadores e os refor-mados. A nossa posição continua a ser a mesma. Tudo o que vier prejudicar os trabalhadores e os reformados conta com a nossa firme oposição.

No que toca à Educação o cená-rio não é menos preocupante, na medida em que o orçamento do estado, se por um lado reduz as verbas para o ensino público, por outro aumenta escandalosamente as que se destinam a manter os colégios de luxo frequentados pelos filhos dos ministros.

Duma coisa podemos ter a certe-za: Não foi para isto que se fez o 25 de Abril.

E é contra isto que temos de con-tinuar a lutar com todas as nossas forças.

Aos que nos acusam de imobilis-mo por recusarmos o retrocesso social, dizemos que ser imobilista é defender uma sociedade com mais justiça social e menos desi-gualdades, então temos muito orgulho em sermos imobilistas… e não pertencer-mos a essa corja de bandalhos que têm desgovernado este País à beira mar plantado.

Veio nos jornais que a CP falhou, pela oitava vez consecuti-va, a oferta de comboios entre Lisboa e Porto, com a duração de duas horas e meia. Trata-se de um facto, contra o qual não vale qual-quer tipo de argumento. Mas já o mesmo não se pode dizer da sus-peição que começa a pairar nas consciências segundo a qual tanto atraso poderia servir, apenas, para reduzir o impacto negativo que o TGV terá. Uma coisa é redu-zir o tempo de viagem em 45 minutos e outra, muito mais cari-cata, é a que resulta de uma redu-ção de escassos cinco minutos, ou coisa que os valha…

Já não era sem tempo. Os dois

clubes de “boys” ferroviários volta-ram a estar numa grande agita-ção. Uns porque querem entrar e outros porque não querem sair. Ao que consta, nos corredores da Calçada, e não só, tudo começou a ser cozinhado nos primeiros dias de Novembro, ali para os lados do Terreiro do Paço. Na sequência da abertura da caça, houve um almo-ço no Bairro Alto, onde os “Sete Magníficos” trataram de dar os últimos toques na estratégia do assalto. Tanto para mim, tanto para ti… Uma vergonha

A propósito da guerra subter-

rânea em que se degladiam os dois clubes de “boys”, ainda não se sabe ao certo qual o “tacho” que foi atribuído ao líder da cla-que rosa, agora de novo, sob o guarda-chuva do “padrinho dois”. De qualquer forma não deixa de ter alguma graça a designação que os do clube laranja deram aos seus adversários na árdua luta por mais e melhores “tachos”. Calcu-lem que lhe chamam agora “clube da facada”, talvez devido ao sugestivo logótipo com que enca-beça o seu sítio na Net...

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A minha Teresa tem andado um pou-

co engripada, não se mostrando, por isso (e não só) com disposição para grandes discussões. Com isto tenho sido poupado às suas arremetidas contra o que ela chama a corrupção legal. Mas, como a minha Teresa cos-tuma dizer, há limites para tudo. Até para a paciência. Um dia destes quan-do eu mal podia esperar, a minha Teresa, que, como sabem, tem fama de ser muito esperta, atirou-se ao ar quando eu, no fim de mais um dia de trabalho, cheguei a casa e lhe dei a notícia, ou melhor, as notícias, porque dois os factos de que se tratava: A venda da CP Carga e a venda quase simultânea, da TEX.

-Que uma pessoa se desfaça de um negócio ruinoso, muito bem, mas uma empresa que é acusada de dar prejuí-zo venda o que lhe dá lucro, é difícil de engolir, a menos que algo se esconda atrás da cortina…

-Mas tu não vês, Teresa, que é preci-so mudar, que temos de aceitar as reformas que os novos tempos nos impõe?

-Olha, Zé… Não me venhas com essa das reformas, que dessa conversa estou eu farta. Mudar para melhor, rumo a uma sociedade mais justa e solidária, muito bem, mas mudar para que as desigualdades sociais sejam 4

cada vez mais profundas, isso é

caminhar para o abismo… -Mas então tu não compreendes

que é necessário mudar alguma coi-sa para que isto vá para a frente?

-Olha, Zé. Para ir para a frente, estaria tudo bem, mas o pior é que isto está mesmo é a andar para trás. Nunca os ricos foram tão ricos e os pobres tão pobres. É neste contexto que temos de ver o desmembramen-to da CP. Agora é a CP Carga que vai à viola, mas logo a seguir, vão entre-gar a Tex a um dos tubarões da rodoviária. E tudo isto se faz nas barbas do povo, como se não sou-béssemos que, depois de terem tudo no papo, vão alegar que as peque-nas empresas ora roubadas à CP, não têm economia de escala, pelo que a solução estará em voltar a reu-nir o que ora separaram sob reserva mental, dando lugar a um monopólio privado…

-Mas como é que tu consegues ver isso tudo a uma distância tão gran-de, Teresa?

-É fácil. Foi sempre assim. Para o grande capital o segredo continua a ser a alma do negócio. Por isso não esperes que eles, os que vão aboca-nhar a parte lucrativa do caminho de ferro, se prestem a revelar as suas verdadeiras intenções.

Vão por etapas. -E os governantes não vêem tudo o

que me estás a dizer? - Não sejas ingénua, Teresa. Os

governantes, os nossos governantes só fazem e só decidem aquilo que o grande capital os deixa fazer ou deci-dir. O País está a ser governado para umas dúzias de babados, que comem à tripa-forra enquanto o “Zé” vegeta cada vez mais à mingua…

-Mas voltando à vaca fria, o que é que tudo isto tem a ver com a venda da Tex e da CP Carga?

-Tem tudo, Zé. Então tu não vês que os bancos fazem tudo o que lhes dá na gana para aumentarem os escanda-losos lucros que têm, sem que o “pobre do governo” tenha o mínimo de força para os meter na ordem? Então tu não vês que os bancos aumentam os lucros 30, 40 ou mesmo 50 por cento, num País onde os traba-lhadores não podem ter aumentos superiores a 1,5 por cento, com uma inflação que anda pelo dobro? Tu não vês, Zé, que estamos a ser atirados aos bichos?

-De qualquer maneira, Teresa, ainda não me explicaste o que é que tudo isto tem a ver com a venda da Tex e a privatização da CP Carga…

-Ai não expliquei? Então não vês que tudo isto não passa de um embuste, que tem tudo a ver menos com os interesses do nosso povo? Então tu não vês que a Tex deveria ter sido posta ao serviço da expansão do negócio das mercadorias, em vez de ter sido preparada para o triste desti-no que ora se anuncia? Então tu não vês que a CP Carga já foi montada com o destino anunciado daquilo a que, eufemisticamente, designam por liberalização?

-Olha Teresa, já é tarde. Vamos comer qualquer coisa, porque até já estou a perder o apetite…

Zé Ferroviário

o embusteo embuste não páranão pára

A Comissão e as Subcomissões de Trabalhadores transmitem por este meio os seus mais sinceros votos de FELIZ NATAL E ANO NOVO PRÓSPERO a todos os ferroviários e suas famílias, na esperança de que 2007 seja para os Trabalhadores portugueses um ano com menos injustiça social, menos desemprego e menos afrontas aos direitos laborais.