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A Temática do Conflito nas Imagens Legendadas do Portal de Notícias G11
Ana Carmem do Nascimento SILVA
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Josimey Costa da SILVA3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal – RN
RESUMO
Interpretamos a forma como a temática do Conflito é exposta por meio de cinco
imagens fotográficas e suas respectivas legendas. Estas imagens pertencem a seção
“Imagens do dia” do portal de notícias G1. Procuramos compreender melhor o discurso
da complementação imagem-legenda, nos levando a tomar uma posição no tocante as
circunstâncias de conflito registradas e comentadas pelos fotojornalistas. A Semiótica e
a linguagem fotográfica nos dão um aporte significativo nesta interpretação. O conflito
é presente nas imagens não só quando o ser humano está envolvido em situações de
agitação ou tumulto, mas também, quando este está rememorando, remediando,
prevenindo ou produzindo o ato de conflito.
PALAVRAS-CHAVE: Fotojornalismo; Conflito; Imagem; Legenda; Temática.
O Fotojornalismo e o Conflito
No fotojornalismo em cada veículo de comunicação existe uma preferência
pelos assuntos da atualidade e com maior impacto social, as fotos são produzidas e
publicadas com um estudo prévio. E quando se une a informação visual (fotografia)
com a informação escrita (legenda) surgem às temáticas.
Tendo em vista que, desde a primeira vez que a máquina fotográfica foi usada
como ferramenta de registro de conflitos, se tornou uma constante que as guerras,
discórdias, lutas, movimentos, revoluções etc. passassem a ser representados pelas
fotografias, ou seja, até os dias atuais, tais fatos tem relevância na sociedade, pois, o
cotidiano dos sujeitos sociais está repleto de imagens reveladoras de desavenças em
todas as partes do globo terrestre.
Lombardi (2011) e Vasconcelos (2009) nos comprovam a existência de uma
abordagem histórica do fotojornalismo sobre circunstâncias conflituosas. Vasconcelos
1 Trabalho apresentado ao VII Intercom Júnior, no XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste
realizado de 14 a 16 de junho de 2012. 2Estudante de Graduação do 5º período do Curso de Radialismo da UFRN, email:
[email protected] 3Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da UFRN, email: [email protected]
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(2009) diz que “Muitos prêmios de fotojornalismo são concedidos a fotos de violência,
morte e fome.”. (p.23) tal fato nos permite refletir o porquê e como são essas imagens.
Somos conscientes que a temática do conflito tem um lugar reservado nas pautas
jornalísticas, mas o que essas imagens dizem? E se elas estão com legendas, como se dá
essa representação do mundo?
Essa importância dada às lutas, guerras, confrontos etc., tanto com objetivo de
registrar em fotografia como em apreciar essas fotografias tem justificativa, para
Lombardi (2011):
Quando o inglês Roger Fenton (1819-1869), acompanhado de quatro
assistentes, partiu em uma carroça-laboratório para fotografar os
campos de batalha da Criméia. Desde então, a documentação
fotográfica de conflitos e massacres tornou-se parte do fluxo
incessante de imagens que circundam nosso cotidiano. (P.15).
Da mesma forma compartilha Vasconcelos (2009):
Os relatos da Guerra da Criméia na imprensa levaram o conflito para
as residências e para as conversas. A sua cobertura foi importante para
o nascimento da ideia de que é preciso estar perto do acontecimento,
para a noção do poder que carrega a carga dramática e para despir a
guerra de seu aspecto épico. Esse novo cenário contribui para
desencadear um processo mais amplo de difusão de fotos, em livros e
exposições. (p.8).
Flusser (2007) nos diz que, “Para que a informação se torne evidente, é preciso
apenas ler as coisas, “decifrá-las”.” (FLUSSER, 2007, p. 54), logo, com a ânsia de
“decifrar” significados, almejamos fazer uma contemplação precisa às partes e ao todo
da fotografia (imagem-técnica) e da legenda, para assim compreendermos melhor o
discurso desta complementação imagem-legenda, nos levando a tomar uma posição no
tocante às circunstâncias de conflito registradas e comentadas pelos fotojornalistas.
“É inegável a importância da documentação fotográfica de conflitos e
guerras, para que a condição da imagem fotográfica de testemunho dos acontecimentos
e de instrumento de rememoração não deixe de ser cumprida.”. (LOMBARDI, 2011,
P.18). A temática do conflito, portanto, irá contribuir para entendermos qual aspecto de
mundo o jornalismo pretende representar.
Nesta investigação procuramos analisar cinco imagens fotográficas –
juntamente com as legendas – da seção “Imagens do dia” do portal de notícias G1
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(mantido no site globo.com), do período compreendido entre os dias 9 a 15 de agosto de
2010. Queremos contemplar (mesmo que de modo um tanto breve) as partes e o todo da
fotografia e da legenda (corpus de pesquisa), para assim compreendermos melhor o
discurso desta complementação imagem-legenda, nos levando a tomar uma posição no
tocante as circunstâncias de conflito registradas e comentadas pelos fotojornalistas.
Circunstâncias estas, que são narradas, algumas vezes com sensacionalismo, outras
vezes não, pois “em busca de aumentar o número de leitores, a mídia vem investindo na
fotografia sensacionalista e na foto-choque.”. (LOMBARDI, 2011, P.15).
Sabendo que em “Imagens do dia” é proposto um entendimento do mundo por
meio do registro dos diversos acontecimentos, como a temática do conflito é expressa
nas imagens? Alegar o modo como o conflito está expresso nas imagens aqui presentes
é um tanto subjetivo. Pois, cada indivíduo faz sua interpretação do mundo, e de acordo
com o que vive em determinado momento pode passar a interpretar as mensagens ao seu
redor de forma diferente, então as imagens possuem diversas decodificações, elas são
polissêmicas, não por si próprias, mas por que existe o ser humano que deposita
significado as coisas.
Assim, a legenda é o código linear que vem complementar a mensagem da
imagem-técnica (FLUSSER, 2007), permitindo que seja efetuada neste artigo uma
interpretação consentida por um maior número de indivíduos. Lembrando que os textos
das legendas são também explicados pelas imagens, o movimento é circular, imagens
estas cada vez mais presentes e das mais variadas formas.
“As superfícies adquirem cada vez mais importância no nosso dia-a-
dia. Estão nas telas de televisão, nas telas de cinema, nos cartazes e
nas páginas de revistas ilustradas, por exemplo. As superfícies eram
raras no passado. Fotografias, pinturas, tapetes, vitrais e inscrições
rupestres são exemplos de superfícies que rodeavam o homem. Mas
elas não equivaliam em quantidade nem em importância às superfícies
que agora nos circundam. Portanto, não era tão urgente como hoje que
se entendesse o papel que desempenhavam na vida humana.”.
(FLUSSER, 2007, p.102).
Destarte, o aperfeiçoamento das câmeras fotográficas, dos acessórios
fotográficos, dos softwares, dos computadores e das conexões de rede proporcionou a
inclusão da fotografia no âmbito do jornalismo da Internet, que gerou, entre outras, uma
nova possibilidade comunicativa que é a construção de galerias nos sites noticiosos. As
fotografias dessas galerias tratam de assuntos distintos (que dependem do perfil do
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veículo de comunicação) e são complementadas por legendas4 ou textos-legenda. Para
Kubrusly (2003, p. 77), com relação ao texto visual e o texto escrito não existe o que se
destaca como o mais importante, a importância está na combinação dos textos, que “nos
atingem por caminhos diferentes e exatamente por isto se completam tão bem”.
O Suporte da Contemplação
Sousa (1998,) assim como Kubrusly (2003), nos auxilia com relação a essa
complementação das palavras com o visual, enfatizando a necessidade de a imagem
transmitir um tema, uma ideia com eficiência e não o excesso de informação.
Baitello (1999) e Santaella (1992 e 2008) nos ajudam com a semiótica, suporte
teórico complementar, que esclarece um pouco mais sobre a produção de significado na
linguagem escrita e linguagem visual. Santaella (2008), em Semiótica Aplicada nos dá
um aporte significativo para que possamos contemplar as imagens fotográficas
escolhidas e suas legendas. “Contemplar significa torna-se disponível para o que está
diante dos nossos sentidos.” (p.29).
Buscamos em Sousa (2004) e Busselle (1977) uma melhor interpretação dos
elementos específicos da linguagem fotográfica, que inclui os elementos formais da
imagem, as formas de expressão visual e regras básicas de fotografia. Flusser (2007) e
Dubois (1993) nos auxiliam também com relação a fotografia, mas, um pouco mais no
que se refere a questão semiótica do seguinte sistema: produtor, imagem e receptor.
Além disso, Flusser (2007) e Dubois (1993) reforçam a ideia de complementação dos
códigos (imagem e legenda).
Neste trabalho, não depositamos definições e conceitos profundos da semiótica,
mas este campo da ciência nos serve de suporte teórico fundamental5 para a
4 (jn) Texto breve que acompanha uma ilustração. Vem geralmente abaixo da foto ou desenho, mas pode igualmente
estar colocada ao seu lado, acima, ou mesmo dentro do seu espaço. A legenda jornalística é uma frase curta, enxuta,
destinada a indicar ou a ampliar a significação daquilo que acompanha. A boa legenda nunca deve ser redundante,
óbvia. “A legenda tem que ser complemento efetivo da notícia e da fotografia. Deve, sim, ajudar o leitor a
compreender e apreciar a foto, esclarecendo as dúvidas e chamando a sua atenção” (Tom Fepersman). Mesmo curta,
a legenda deve ser criativa. Pode ser informativa, explicativa, interpretativa (na medica em que chame a atenção para
este ou para aquele detalhe da foto), irônica, instigadora etc. V. texto-legenda, foto-legenda e cabeça-de-clichê.
(BARBOSA & RABAÇA, 2001, p.417).
5A semiótica é uma das disciplinas que fazem parte da ampla arquitetura filosófica de Peirce. Essa arquitetura está
alicerçada na fenomenologia, uma quase-ciência que investiga os modos como apreendemos qualquer coisa que
aparece à nossa mente, qualquer coisa de qualquer tipo, algo simples como um cheiro, uma formação de nuvens no
céu, o ruído da chuva, uma imagem em uma revista etc., ou algo mais complexo como um conceito abstrato, a
lembrança de um tempo vivido etc., enfim, tudo que se apresenta à mente. Essa quase-ciência fornece as fundações
para as três ciências normativas: estética, ética e lógica e, estas, por sua vez, fornecem as fundações para a metafísica.
(SANTAELLA, 2008, p.2).
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compreensão dos signos6 e elementos que constroem o sentido do texto escrito e visual.
“Nesse sentido, a fotografia pertence a toda uma categoria de “signos” (sensu lato)
chamados pelo filósofo semiótico americano Charles Sanders Peirce de “índice por
oposição a “ícone” e a “símbolo”.”, assim nos fala Phillipe Duboi (1993, p.61).
“Para se abordar o fotojornalismo se tem de pensar numa combinação de
palavras e imagens: as primeiras devem contextualizar e complementar as segundas.”
(SOUSA, 1998, p. 3). A união imagem e texto faz com que o receptor seja capaz de
compreender mais adequadamente a mensagem que o fotógrafo teve a intenção de
transmitir na imagem. “Tenhamos em mente que a imagem só tem dimensão simbólica
tão importante porque é capaz de significar – sempre em relação com a linguagem
verbal.” (AUMONT, 1993, p. 249).
Para que a imagem exista é preciso que alguém a produza, neste caso o
fotojornalista, profissional que trabalha para veículos de comunicação que possuem e
seguem uma política e linha editorial, com isso, por meio da fotografia – juntamente
com o texto – o veículo pretende conduzir o leitor a uma perspectiva de mundo. “Uma
foto de imprensa é trabalhada, escolhida, produzida, construída e editada de acordo com
normas profissionais, estéticas e ideológicas, que contêm fatores conotativos”.
(BARTHES (1980:130) apud SANTAELLA e NÖTH, 2008, p. 112). Isso quer dizer, na
medida em que se escolhem fotografias para publicação, simultaneamente, é dada
preferência a certas temáticas.
“A imagem que aparece na foto é apenas uma parte de algo maior que a foto
não pode abraçar por inteiro” (SANTAELLA, 2008, p.35). Mesmo que a fotografia seja
um recorte da realidade, como nos diz Lúcia Santaella (2008) “enquanto índice, a
fotografia é por natureza um testemunho irrefutável da existência de certas realidades.”.
(DUBOIS, 1993, p. 74).
Para Sontag (2004, p. 17) “Ao decidir que aspecto deveria ter uma imagem, ao
preferir uma exposição à outra, os fotógrafos sempre impõem padrões a seus temas.”
Santaella e Winfried Noth (2008) afirmam ainda que:
6 (lg) Tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma medida, substitui alguma outra coisa representando-se para
alguém (Charles Peirce). A noção de signo é básica e essencial em qualquer ciência à comunicação, inclusive ao
estudo da comunicação não-verbal, e por isso está em constante aprofundamento e questionamento. (BARBOSA &
RABAÇA, 2001, p.674).
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Sob quaisquer pontos de vista, angulação, enquadramento,
proximidade ou distância, a fotografia é sempre um feixe de
indicadores da posição ideológica, consciente ou inconsciente,
ocupada pelo fotógrafo em relação àquilo que é fotografado. (p.120).
Barbosa & Rabaça (2001, p. 674) nos contribuem com o entendimento dos
objetos do signo, estes que estão presentes na linguagem visual e escrita.
(...) Na segunda triconomia (a mais conhecida e importante) de Peirce,
o signo é visto por suas relações específicas para com os seus objetos.
Classifica-se em: a) ícone – quando possui alguma semelhança ou
analogia com o seu referente. Ex.: uma fotografia, um esquema, um
desenho, uma imagem mental, uma estátua; b) índice, índex ou
indicador – quando se refere ao objeto em razão de ver-se realmente
afetado por ele; quando mantém uma relação direta com o seu
referente. Ex.: fumaça, indício de fogo; chão molhado, indício de que
choveu; pegadas, indício de que alguém passou; c) símbolo – quando a
relação com o referente é arbitrária, por força de uma convenção. Ex.:
a maioria, das palavras, a cruz, a suástica, as bandeiras, os sinais de
trânsito.
Assim, corroborada a existência dos signos e elucidado o modo como estes se
apresentam nas legendas e imagens, conseguimos fazer uma melhor leitura dos textos.
Bauer e Gaskell (2007, p 325) nos falam que “o primeiro estágio é escolher as
imagens para serem analisadas. A escolha dependerá do objetivo de estudo e da
disponibilidade do material”. Assim, entre os dias 9 e 15 de agosto de 2010 escolhemos
apenas cinco fotos – duas do dia 9, uma do dia 11, uma do dia 12 e outra foto do dia 15
– para que pudéssemos exercer uma reflexão maior neste artigo. Nos dias 10, 12 e 13 de
agosto não elegemos imagens fotográfica que enfatizassem conflitos, ou pelo menos que
ressaltassem de modo mais intenso. As fotos foram salvas simultaneamente com as
legendas.
No momento em que foram importadas da internet as fotos já estavam nomeadas
e legendadas, provavelmente pelos fotógrafos que as produziram, pois, é de praxe que a
elaboração da legenda7 e a denominação da imagem sejam de responsabilidade do
próprio fotógrafo. Na seção “Imagens do dia” não há informações sobre quais
equipamentos (câmara, lente, filtros) foram utilizados na produção das fotografias, nem
7 No Manual de Redação da Folha de São Paulo (2007) diz que: Identificação de foto – É de responsabilidade do
repórter-fotográfico elaborar legenda informando data, local, horário e contexto de cada foto de sua autoria, assim
como identificar os personagens que nela aparecem, com as respectivas idades. (p.43).
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quais configurações de abertura do diafragma, velocidade do obturador, sensibilidade do
sensor (ISO), etc., foram aplicadas.
Quando determinada fotografia oferece a nossos olhos interrogadores
a visão de determinada personagem, por exemplo, um homem de
uniforme ao lado de um cavalo arreado, só temos certeza de uma
coisa: esse homem, esse cavalo, esse arreio existiram, estiveram
efetivamente ali, um dia, naquela posição. Mas é tudo o que a foto nos
diz. Nada sabemos sobre a significação (geral ou particular) que se
deve atribuir a essa existência.
Nesse sentido, podemos dizer que a foto não explica, não interpreta,
não comenta (...) Permanece essencialmente enigmática. (DUBOIS,
1993, p. 84).
Logo, o sentido da mensagem precisa ser formado sempre com a participação
da legenda, sem ela não há fotojornalismo, Sousa (2004, p 114) diz que “embora
fotografia e texto sejam estruturas heterogêneas (o texto ocupa, geralmente, um espaço
contíguo ao da fotografia, não invadindo o espaço desta, a não ser para construir
mensagens gráficas), não existe fotojornalismo sem texto”. É de extrema relevância
neste trabalho, salientarmos as formas como a legenda funciona com relação à imagem,
Para Sousa (2004) a legenda irá:
1) Chamar a atenção para a fotografia ou para alguns dos seus elementos
(o texto pode, em certas circunstâncias, ser redundante em relação à
imagem);
2) Complementar informativamente a fotografia, inclusivamente devido à
incapacidade que a imagem possui de mostrar conceitos abstratos;
3) Ancorar o significado da fotografia (denotar a foto), direcionando o
leitor para aquilo que a fotografia representa;
4) Conotar a fotografia, abrindo o leque de significações possíveis;
orientar o leitor para os significados que se pretendem atribuir à
fotografia;
5) Analisar, interpretar e/ou comentar a fotografia e/ou o seu conteúdo.
As informações escolhidas para construir a legenda irão transmitir determinada
ideia, então contextualizamos os acontecimentos, nos remetendo a elementos extra-
textuais, dados históricos e geográficos, por exemplo. Contextualizamos as informações
contidas no texto escrito; notamos ainda elementos gramaticais que juntos produzem
significado. Sobre as imagens, efetuamos leitura de alguns elementos técnicos da
fotografia; e deste modo, fazemos uma análise separadamente e em conjunto dos textos
(imagem e legenda).
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Contemplação
Foto 1: Nagasaki
8 – “Cerimônia lembra o aniversário de 65 anos da bomba atômica de
Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. A cerimônia pediu aos poderes
mundiais para abandonarem as bombas nucleares.” Foto: Kyodo/Reuters.
A fotografia Nagasaki, identificamos uma platéia numerosa em primeiro plano
assistindo a uma cerimônia, que seria provavelmente em um país oriental, pois, ao
centro, logo abaixo da estátua há uma pilastra pontiaguda onde estão escritos caracteres
orientais. Além desse detalhe, há nos pontos de interseção direito e esquerdo inferior da
imagem, bem como, ao centro, estruturas em cor predominantemente branca que remete
a arte japonesa do origami, em formato de pomba, o símbolo da paz. Para completar a
interpretação, encontramos no terço superior da imagem pombas sendo soltas.
Em seguida, quando lemos a legenda compreendemos com detalhes do que se
trata o registro fotográfico. As pessoas estão reunidas para se lembrar de um desastre: “a
bomba atômica de Nagasaki, no Japão”. Outra informação apresentada na legenda
justifica o símbolo da ave no evento: “A cerimônia pediu aos poderes mundiais para
abandonarem as bombas nucleares”, caso não estivesse esse trecho expresso na legenda,
não conseguiríamos deduzir, apenas observando a imagem. Porém, não está dita na
legenda uma importante informação, o local onde ocorre a cerimônia é no Parque da paz
de Nagazaki, a referência é a Estátua da Paz. A cada 9 de agosto faz-se uma declaração
de paz ao mundo em frente à estátua que é o ponto principal do parque. O local foi
construído para representar o desejo da paz mundial.
Assim , ao contrário do que é de costume, esta primeira imagem fotográfica é
sim a respeito de conflito, esta cerimônia apenas estaria acontecendo com o fato da
8 Fonte: http://g1.globo.com/fotos/fotos/2010/08/imagens-do-dia-9-de-agosto-de-2010.html.
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Segunda Guerra Mundial e a existência de bombas nucleares. Portanto, imagem e
legenda demonstram não só um conflito, e sim, dois conflitos, um no passado há mais
de 65 anos, e outro caso conflituoso que é o fato das grandes potências mundiais ainda
discutirem sobre abandonar ou não as bombas nucleares.
Foto 2: Sapatos
9 – “Para lembrar vítimas da 2ª Guerra Mundial, 6.830 pares de sapatos
são expostos em praça na China.” Foto: Reuters.
Na foto 2 vemos apenas sapatos chineses, no entanto: onde estão os donos
desses sapatos, eles ainda existem?
O que vemos na fotografia é quase que um exército de sapatos, todos em
ordem, enfileirados, criando linhas diagonais, verticais, horizontais que parecem
convergir dependendo do modo como olhamos para o quadro da imagem.
Apenas contemplando a imagem fotográfica, podemos afirmar que os sapatos
foram propositalmente organizados, posicionados. Outro detalhe importante para a
nossa leitura visual é o plano de fundo da imagem formado por pessoas em uma grande
fila. Utilizando as pessoas e os sapatos, o fotógrafo aplica uma perspectiva que nos
deixa construir opticamente formas, uma grande seta, ou até mesmo um triângulo. Ou
seja, nesta imagem se formam desenhos.
Complementando o nosso raciocínio, Busselle (1977) fala:
Um desenho não é nada além da repetição de uma forma plana, exista
ou não ordem ou simetria na imagem. O desenho repetido ressalta a
tensão existente entre os elementos abstratos e funcionais de uma
fotografia, sendo a imagem então encarada, ao mesmo tempo, como
9 Fonte: http://g1.globo.com/mundo/fotos/2010/08/imagens-do-dia-15-de-agosto-de-2010.html.
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um desenho decorativo de formas planas e como uma imagem de
objetos tridimensionais. (Busselle, 1977, p. 26).
Paulatinamente, ao lermos a legenda temos a certeza de que os sapatos foram
“expostos” de forma estratégica com a intenção de “lembrar vítimas da 2ª Guerra
Mundial”, a partir da complementação da legenda, temos a certeza de que – pelo menos
simbolicamente – os donos dos sapatos não mais existem, eles foram mortos em um
conflito (a Segunda Guerra Mundial) e ainda que, o fato desses sapatos estarem
expostos “em Praça na China” mostra que a temática do conflito também pode está
presente nas instalações10
.
No sentido de lembrar os mortos e sobreviventes de desastres, as duas primeiras
legendas e imagens rememoram um grande conflito mundial. Mesmo depois de cessado
o confronto, este passa a ter suas repercussões, sendo então pautado pelo
fotojornalismo. “Ao longo do desenvolvimento do fotojornalismo, a guerra sempre
ocupou papel de destaque, bem como tema voltado para o social e as misérias humanas,
seja com intenção de informar, chocar ou mobilizar a sociedade. Dessa forma, vários
precursores do fotojornalismo anunciaram a tendência que se consolidou de retratar
situações que envolvem dor e sofrimento humano”.” (VASCONSELOS, 2009, p.26).
O conflito é algo que está presente no seio da sociedade, ocorrendo em todas as
épocas, desde os primeiros traços da existência do homem e sua formação dos primeiros
grupos de sociedade organizada. As três fotos a seguir apresentam à temática do
Conflito de três modos distintos.
10 A permanência da Instalação é um fenômeno destacável na Arte Contemporânea, sendo uma das mais importantes
tendências atuais. A instalação, na Contemporaneidade tornou-se mais complexa e multimidial, enfatizando a
espetacularidade e a interatividade com o público. As combinações com várias linguagens como vídeos, filmes,
esculturas, performances, computação gráfica e o universo virtual, fazem com que o público se surpreenda e participe
da obra de forma mais ativa, pois ele é o objeto último da própria obra, sem a presença do qual a mesma não existiria
em sua plenitude. (http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo5/instalacao.html).
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Foto 3: Pedras
11 – “Demolição de barracos em uma favela erguida em área privada
perto de Manila provoca confronto entre moradores e a polícia local.” Foto: Romeo
Ranoco / Reuters.
Contra quem estes homens estão atirando pedras e por quê? Não é possível
responder esta pergunta, pois o fotógrafo, Romeo Ranoco, no fervor do momento,
preocupou-se em registrar apenas os jovens que atiram as pedras, a impressão causada é
que eles estão atacando, alguns se preocupam em esconder o rosto para não serem
identificados, e por que o medo? Outra falha é que a legenda não diz que Manila é a
capital das Filipinas.
Alguns móveis estão encostados ao muro. O Conflito está estampado na
imagem fotográfica, mas, parcialmente, pois só por meio da legenda obtemos a
informação de que a imagem narra um “confronto entre moradores e a polícia local”,
daí o porquê dos rostos cobertos. O motivo dos móveis é a “Demolição de barracos em
uma favela erguida em área privada perto de Manila”. Este é um conflito direto do
homem contra o homem, gerado pela indignação de perda de suas moradias.
Com relação a foto 4, de imediato, surge uma “brincadeira de criança”, pois é
isso que nos possibilita identificar em uma análise superficial, no entanto, nesta o
conflito está presente de forma implícita; o cotidiano das pessoas – principalmente o das
crianças – foi alterado devido à existência de conflitos. A descontração das crianças
para lente da câmara engana, por trás deste recorte existe o “medo de ataques”. Estamos
falando do “subúrbio de Manila” onde “jovens filipinos lotam motos e sidecars na hora
de ir para casa.”.
11 Fonte: http://g1.globo.com/mundo/fotos/2010/08/imagens-do-dia-112-de-agosto-de-2010.html
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Foto 4: Motoca
12 – “Com medo de ataques no subúrbio de Manila, jovens filipinos
lotam motos e sidecars na hora de ir para casa.” Foto: AFP Photo.
A legenda na foto 4, inversamente á imagem, nos fala tudo o que não
pensaríamos; uma realidade construída com o medo dos conflitos. Se não houvesse a
legenda pensaríamos que estão todos felizes, andando tranquilamente nas ruas, ou seja,
mais um momento de descontração. Não obstante, por isso o texto escrito é fundamental
para entendermos a conjuntura vivida pelos jovens filipinos. Esses jovens estão tentando
prevenir os ataques, já o conflito da foto 5 é imprevisível e não se tem como prevenir.
Foto 5: Bomba
13 – “Um especialista em bombas inspeciona um carro destruído após a
explosão na província de Narathiwat, Tailândia, ao sul de Bangcoc.” Foto: Reuters.
Bomba. O nome nos remete a imagens mentais de destruição, explosões,
atentados e conseqüentemente mortes. Se observarmos, de maneira bem minuciosa a
roupa do homem que pretende abrir (ou fechar) o capô do carro, é possível concluirmos
que mesmo já ocorrido explosão, ainda há perigo no local, pois a roupa que individuo
12 Fonte: http://g1.globo.com/mundo/fotos/2010/08/imagens-do-dia-11-de-agosto-de-2010.html 13 Fonte: http://g1.globo.com/mundo/fotos/2010/08/imagens-do-dia-11-de-agosto-de-2010.html
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está vestindo é mais um equipamento de segurança para os profissionais que combate a
violência ao extremo, ou seja, não é um traje convencional, a ser utilizado em qualquer
momento, tão pouco ser utilizado por qualquer individuo na sociedade.
Um detalhe na fotografia nos chama a atenção e nos faz pensar que o fato
ocorreu em algum país asiático, pois, em meio ao ambiente de cores sóbrias, no canto
direito superior da imagem há uma espécie de anúncio colorido, no qual existe um
homem com feições asiáticas fazendo a propaganda de um produto, talvez algum
cosmético masculino. A legenda nos esclarece nossas suposições, como é “Um
especialista em bombas” que está cuidando do carro, subentendemos que a explosão foi
causada por uma bomba, e ainda, comprova a suspeita do acontecimento ter ocorrido
em um país asiático; “província de Narathiwat, Tailândia, ao sul de Bangcoc”.
Considerações Finais
Enquanto a imagem tende a universalizar, a legenda identifica o evento e
localiza-o no mundo. As legendas que integram as imagens se comportam de várias
maneiras: ressaltam elementos na imagem fotográfica; complementam a mensagem
visual; apontam o significado da fotografia, mostrando ao leitor o que está sendo
representado, e em certas circunstâncias, são redundantes com relação à imagem.
Salientamos que, algumas das legendas estudadas pecaram, também, por não
esclarecerem as dúvidas suscitadas pela imagem, descrevendo apenas o acontecimento e
não fornecendo informações adicionais, sobre o contexto registrado. Percebemos ainda,
que semanticamente as legendas expressam uma circunstância de tempo presente, fator
positivo na elaboração destas.
Ao contrário do que poderíamos deduzir por imagens que representam conflito,
(de determinada maneira), estas imagens do Portal de notícias G1 não focam no
sensacionalismo, deste ponto a ética não fugiu. O conflito é presente nas imagens não só
quando o ser humano está envolvido em situações de agitação ou tumulto, mas também,
quando este está rememorando, remediando, prevenindo ou produzindo o ato de
conflito. Os conflitos representados são resultantes da agressão do homem a natureza,
da intolerância com as diferenças de ideologia/pensamento, e das desigualdades
socioeconômicas.
As imagens e legendas foram estudadas pela perspectiva da temática do
Conflito, contudo, compreendemos durante o estudo que é possível realizar outras
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abordagens, sendo o Conflito uma escolha metodológica particular, pois, “Na fotografia
de guerra é possível observar novas escritas fotográficas, capazes de suscitar questões
relacionadas às barbaridades dos conflitos no mundo contemporâneo” (LOMBARDI,
2011, P.21).
Por fim, o acontecimento; o contexto que envolve o acontecimento; as técnicas
fotográficas utilizadas para registrar o fato; os recursos do equipamento fotográfico; as
informações presentes na legenda, bem como a forma como estas informações estão
dispostas na legenda, são fatores que podem colaborar no processo de análise das
imagens fotojornalística, nos mais diversificados contextos da sociedade.
Cada fotografia legendada trata do conflito por um aspecto distinto;
profissionais de comunicação determinam e selecionam as fotos que são essenciais para
representar o mundo todos os dias, imagens que, mesmo repletas de significados
acabamos não percebendo e nem conseguindo ler devido a rapidez e obsolescência das
coisas do mundo atual. Assim, a imagem fotográfica e as legenda são cada vez mais
abundantes, no entanto, não significa que estão atuando efetivamente como mediação
entre o interpretante e os fatos ao seu redor.
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