A TRAJETÓRIA DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO: DESAFIOS … TRAJETORIA DE... · maravilhosa da vida...

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO ADRIANO BENTO DA SILVA EDMUNDO CLARINDO JÚNIOR FRANCISCO TIAGO ALVES AGAPITO A TRAJETÓRIA DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO: DESAFIOS E VITÓRIAS FORTALEZA/CE 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ADRIANO BENTO DA SILVA

EDMUNDO CLARINDO JÚNIOR

FRANCISCO TIAGO ALVES AGAPITO

A TRAJETÓRIA DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO: DESAFIOS E VITÓRIAS

FORTALEZA/CE

2014

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ADRIANO BENTO DA SILVA

EDMUNDO CLARINDO JÚNIOR

FRANCISCO TIAGO ALVES AGAPITO

A TRAJETÓRIA DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO: DESAFIOS E VITÓRIAS

Monografia submetida à aprovação da coordenação do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, do Centro Superior do Ceará, como requisito para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientador: Prof. Esp. Jeimes Alencar.

FORTALEZA/CE

2014

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ADRIANO BENTO DA SILVA

EDMUNDO CLARINDO JÚNIOR

FRANCISCO TIAGO ALVES AGAPITO

A TRAJETÓRIA DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO: DESAFIOS E VITÓRIAS

Monografia submetida à aprovação da coordenação do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, do Centro Superior do Ceará, como requisito para obtenção do título de bacharel em Jornalismo, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores abaixo.Aprovação: 30/06/2014.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________Prof. Esp. Jeimes AlencarOrientador – Faculdade Cearense

______________________________________________________Prof. Ms. Emerson Déo Cardoso Examinador – Faculdade Cearense

______________________________________________________Prof. Ms. Renata Monastirscy GaucheExaminadora – Faculdade Cearense

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AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pоr ser essencial еm minha vida, autor

dе mеυ destino, mеυ guia, socorro presente nа hora dа angústia.

A mеυ pai e mãе, que me deram a oportunidade de alçar novos voos e crescer como

pessoa. E também аоs meus irmãos, tios e avós, que sempre estiveram comigo nos

momentos de dificuldades e acreditaram na minha vitória. Sem eles eu não chegaria

até aqui.

À minha namorada e futura esposa, Rachel Rodrigues, que é uma coluna em minha

vida. O seu amor e suas orações me dão forças para lutar com a certeza de que

a vitória sempre é certa, e esta vitória não é só minha, mas dela também. Louvo a

Deus pelo presente precioso que recebi!

Ao meu sogro e sogra, que me acolheram com amor e me adotaram como filho. O

amor é a força que nos move. Agradeço a Deus pela vida deles.

À Faculdade Cearense e a todos os professores que lecionaram no curso de

Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, em especial ao orientador

Jeimes Alencar e à professora Zoraia Ferreira, pelo empenho e contribuição em todo

o processo de construção deste TCC.

Por fim, mas não menos importante, a todos os colegas que dividiram comigo a sala

de aula, em especial, Edmundo Clarindo e Tiago Agapito! A luta foi árdua, mas a

vitória veio. Foram quatro anos de aprendizado. Não ganhei somente amigos, mas

sim, irmãos.

Adriano Bento da Silva

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A Deus, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

À esta instituição e ao seu corpo docente, em especial à professora Zoraia Ferreira,

que nos apoiou bastante durante o percurso. À direção e administração, que

oportunizaram a janela que hoje vislumbro num horizonte superior.

Ao meu orientador Jeimes Alencar, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube,

pelas suas correções e incentivos.

Aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

À minha esposa Erlene Clarindo, que não somente neste projeto, mas em todos os

momentos da minha vida, fornece suporte e força.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito

obrigado.

Edmundo Clarindo Júnior

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A Deus em primeiro lugar, por sempre derramar sobre mim sua infinita bondade e

proteção, por estar comigo nos momentos mais conflituosos, se fazendo presente

através das pessoas maravilhosas que colocou em meu caminho ao longo da vida,

e com elas, toda importância e representatividade dos simples gestos, que tão bem

representam Sua extrema grandeza e amor incondicional.

Às minhas mães, Maria de Fátima Alves Agapito e Maria do Socorro Agapito de

Sousa, por terem sido tão guerreiras, amigas e irmãs, sempre fazendo de tudo para

que nada me faltasse e contribuído para que eu tivesse a melhor formação possível.

E igualmente por todo amor e afeto que direcionaram a mim durante a vida.

À Renata Moreira, que lá atrás me incentivou a dar os primeiros passos desta

caminhada, estando comigo e me apoiando no início da trajetória acadêmica, e

sobretudo por ter sido luz, e feito de mim um ser humano melhor a cada dia de

convivência.

A todo corpo docente da Faculdade Cearense, que por ser composto de

profissionais excelentes, só fez crescer a motivação existente em mim para seguir

em frente.

Ao professor e orientador Jeimes Alencar, que mesmo tendo uma rotina tão corrida

e atribulada nos ajudou sempre que pôde, e contribuiu de maneira positiva para o

desenvolvimento deste projeto.

À professora Zoraia Ferreira, que se mostrou além de uma grande educadora,

uma pessoa extremamente compreensível e atenciosa, tendo sempre consigo uma

palavra de motivação e apoio, sobretudo nos momentos de maior dificuldade. Ela é

pessoa abençoada - daquelas que vale a pena conhecer e conviver.

Aos colegas de turma com os quais tive o privilégio de vivenciar a experiência

maravilhosa da vida acadêmica, em especial: Adriano Bento, Émerson Vieira

(grande amigo), Edmundo Clarindo, Rita Queiroz e Alexandre Paiva. Também ao

funcionário Fábio Leite. E, em particular, à querida Jéssica Marques Capistrano, que

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tive a felicidade de conhecer nos últimos passos desta caminhada de quatro anos, e

com quem pude dividir algumas tensões e muitas alegrias. Sou grato a ela pelo seu

companheirismo, cumplicidade, e também por ser a mão estendida, o ombro amigo

sempre com uma palavra de carinho. Obrigado a ela por simplesmente ser quem é.

Ao Carlos Alberto Maciel e sua família, que além de nos receberem com bastante

acolhimento e carinho, sempre se mostraram dispostos a nos ajudar, para que

tivéssemos êxito em nosso trabalho.

Enfim, a todos que em algum momento da jornada deram sua contribuição para que

este trabalho se concretizasse.

Francisco Tiago Alves Agapito

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“As tarefas que nos propomos devem conter

exigências que pareçam ir além de nossas

forças. Caso contrário, não descobrimos nosso

poder, nem conhecemos nossas energias

escondidas e assim deixamos de crescer”.

Leonardo Boff

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RESUMO

O documentário “A Trajetória de um Atleta Paraolímpico (Desafios e Vitórias)”

busca mostrar por meio de relatos e depoimentos a vida do nadador Carlos Alberto

Maciel. Nessa perspectiva, destaca obstáculos que um desportista com deficiência

física pode enfrentar para conseguir êxito na carreira, e também a maneira como

o esporte pode contribuir para a superação de desafios, impostos a uma pessoa

com necessidades especiais, tanto dentro quanto fora do ambiente de competição.

Em tal contexto, o trabalho consiste numa pesquisa aprofundada sobre o objeto de

estudo, narrando com precisão suas principais conquistas, frustrações e objetivos,

não só na carreira como na vida. Para coleta de dados aplicou-se a técnica de

entrevista semi-estruturada, com gravação de áudio e vídeo, em que participaram

amigos, familiares e o próprio atleta. Também foram entrevistados psicólogos, os

quais destacaram impactos emocionais e psicológicos que uma pessoa pode sentir

ao adquirir uma deficiência física, e também das dificuldades que pode enfrentar no

âmbito social, como a falta ou dificuldade de acesso a espaços urbanos, serviços

de transportes e a outros dispositivos. Destaque-se ainda que este trabalho busca

mostrar a relevância diferencial que o esporte pode fazer na vida de uma pessoa

com deficiência física. E que sua intenção final é demonstrar que, através da história

do paratleta aqui retratado, mais pessoas possam seguir o seu exemplo e encontrar

no esporte maneiras de triunfar sobre todas as dificuldades e “limitações” que uma

lesão pode causar.

Palavras-chave: Paraolímpico. Deficiência Física. Esporte. Atleta. Superação.

Conquistas. Desafios.

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ABSTRACT

The documentary "The Trajectory of a Paralympic Athlete (Challenges and Win)"

aims to demonstrate through reports and testimonies about the life of swimmer

Carlos Alberto Maciel, some of the obstacles that an athlete with physical disabilities

might face to achieve career success and also how sport can contribute to

overcoming challenges, imposed on a person with special needs, both inside

and outside of the competitive environment. Moreover, the work consisted of

a thorough research on the subject of study in order to narrate accurately, its

main achievements, frustrations and goals, not only in career and in life. For

data collection applied the technique of semi-structured interviews with recording

audio and video, involving friends, family and the athlete. Were also interviewed

two psychologists, who talked about the emotional and psychological impact that

a person can feel when acquiring a disability, and also the difficulties they may

face in the social sphere, such as the lack or difficulty of access to urban spaces,

transport services and other devices. This work showed us the importance and the

difference that sport can make in the life of a person with physical disabilities, and

the intention is that, throughout the history of paratleta Carlos Alberto Maciel, more

people can follow his example and find the sport, a way to triumph over all difficulties

and "limitations" that an injury can cause.

Keywords: Paralympcs. Physical Disability. Sport. Athlete. Overcoming.

Achievements. Challenges.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………….11

1 DOCUMENTÁRIO: NARRATIVAS A PARTIR DE IMAGENS..............................13

1.1 DESVENDANDO O CINEMA DOCUMENTÁRIO................................................15

1.2 "UMA IDEIA NA CABEÇA E UMA CÂMERA NA MÃO”: ISSO BASTA?.............17

1.3 LENDO IMAGENS...............................................................................................19

2 ESPORTE PARAOLÍMPICO: CAMINHOS DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE.....................................................................................................22 2.1 CONHECENDO O ESPORTE PARAOLÍMPICO.................................................22

2.2 “BETO”: O NADADOR PARAOLÍMPICO DO CEARÁ.........................................25

2.3 ACESSIBILIDADE: DESAFIOS E CONQUISTAS...............................................29

3 PROCESSOS METODOLÓGICOS: IDAS E VINDAS...........................................33

3.1 METODOLOGIA NA PRODUÇÃO DO DOC. (TIPO DE PRODUTO, TÉCNICA,

MÉTODO...)...............................................................................................................31

3.2 O OBJETO (JUSTIFICATIVA/RELEVÂNCIA).....................................................32

3.3 ROTEIROS DO VÍDEO.......................................................................................36

DIÁRIO DE CAMPO..................................................................................................39

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................42

REFERÊNCIAS.........................................................................................................44

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INTRODUÇÃO

Este trabalho, cujo tema envolve a vida de um atleta paraolímpico no

entorno de seus desafios e conquistas, foi produzido por acadêmicos do curso

de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Busca retratar um pouco

da vida do atleta paraolímpico de natação, Carlos Alberto Maciel, natural de

Morada Nova, município cearense, apresentando sua história de vida, dificuldades

enfrentadas no dia a dia, seu processo de treinamento e principais conquistas.

Nesse sentido, a proposta jornalística é apresentar o caminho que levou

o atleta Beto - como é conhecido - a adentrar na prática esportiva, e de que forma

essas atividades contribuíram para a construção de sua personalidade e o tornaram

um campeão.

Segundo Paulo Vinícius Coelho, o jornalismo esportivo ou desportivo

está relacionado com a especialização da prática jornalística em esportes. O autor

ressalta que o profissional dessa área tem o papel de informar com qualidade,

objetividade e imparcialidade, não apenas como comentarista, mas que deve buscar

conhecer os personagens da matéria de forma aprofundada. (COELHO, 2003).

O gênero documentário teve sua estrutura pensada em formatos

específicos. O primeiro é o observativo. Segundo o teórico Bill Nichols - em seu livro

“Introdução ao Documentário” - esta modalidade de documentário traz a proposta de

contribuir para o efeito de verdade, já que a captura dos fatos da vida cotidiana se

dá de forma fiel, ou seja, no momento em que acontecem.

O resultado deste modelo “é o rompimento com o ritmo dramático

dos filmes de ficção, às vezes apressado, das imagens que sustentam os

documentários...” (NICHOLS, 2005, p. 149).

Outra classificação ressaltada por Nichols - e a utilizada no processo

de construção deste trabalho - é o documentário participativo, que conta com a

participação do diretor. Assim, em decorrência da interação com o contexto que

está envolvido para realizar a coleta das informações, o diretor acaba por participar,

tornando-se agente ativo nos cenários e na narrativa de que participa.

Em relação ao documentário em foco: os personagens foram

selecionados de forma que contribuam na obtenção de informações acerca do

atleta. Logo, quase que sua totalidade tem ligação direta com Beto, seja através de

envolvimento familiar ou profissional.

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Dentre os entrevistados, há um psicólogo que colabora com informações

acerca da superação, já que o atleta não nasceu com a deficiência, e sim a adquiriu

em um acidente sofrido na infância. Outro personagem presente no documentário

e o seu preparador físico, que contribui com relatos sobre os tipos de treino e a

preparação do atleta, de maneira geral, para as competições.

Há também a participação de seus familiares: pai, mãe, esposa, irmã

e amigos, os quais resgatam momentos relevantes da trajetória de vida de Carlo

Alberto Maciel.

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1 DOCUMENTÁRIO: NARRATIVAS A PARTIR DE IMAGENS

Ao longo de décadas, autores como Bill Nichols, Jean Rouch, Eduardo

Coutinho, Luiz Carlos Lucena e Fernando Pessoa Ramos se debruçaram para tentar

definir o termo “documentário”. Entretanto, essa intensa busca jamais resultou em

qualquer tipo de consenso único e de verdade absoluta.

Em tal contexto, e antes mesmo de veicular conceitos referentes à

definição de documentário, e que serviram para nortear este trabalho, é importante

frisar que alguns historiadores acreditam que a origem deste formato esteja

estritamente ligada aos filmes dos irmãos Lumière e Georges Méliès. Portanto, a

equipe decidiu realizar um resgate histórico para ilustrar o nascimento do formato

utilizado aqui.

É importante ressaltar que o objetivo principal do relatório não é buscar

quando e como surgiu o documentário, e sim apresentar a história de vida do

personagem Carlos Alberto Maciel. Entretanto, acredita-se ser de suma importância

expor de que forma é retratado o surgimento do formato escolhido para este TCC.

No dia 22 de março de 1895, os irmãos franceses Auguste e Louis

Lumière exibiram para uma pequena plateia o primeiro filme da história, La Sortie

de l’usine Lumière à Lyon (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon), sendo este um

grande passo para um novo rumo na indústria do entretenimento (Louge Obvious,

2014).

Ressalte-se neste ponto que, ao contrário do que alguns pensam, não

foram eles os criadores do cinematógrafo (aparelho destinado a registrar imagens,

criado por Léon Bouly). Entretanto, os irmãos Lumière têm a fama de criadores

por que obtiveram a patente do produto, podendo assim iniciar uma jornada de

divulgação do equipamento.

Outro momento que deve ser ressaltado referente aos irmãos franceses,

e que ficou marcado na história, foi a primeira exibição pública comercial de uma

película, “L’Arrivée d’um train à La Ciotat” (A chegada do trem na estação).

Em 1896 o filme foi apresentado ao público e o inesperado aconteceu.

Os espectadores acreditaram que o trem, que chegava à estação, sairia da tela!

A cena ficou mundialmente conhecida como o dia em que a plateia fugiu da sala

acreditando que algo sairia daquele imenso painel.

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Outro que também tem seu nome ligado ao início do documentário é

o francês Georges Méliès, nascido em 1861 na França. Depois de se tornar um

dos mais famosos mágicos ilusionistas, dono do teatro “Robert-Houdin”, tornou-

se também o criador do primeiro filme de ficção científica da história, o “Viagem

à Lua”, de 1902. Georges é o inventor de uma técnica especial usada até hoje: o

“stop-motion” ou “movimento parado”, que consiste em uma técnica que utiliza a

disposição sequencial de fotografias diferentes de um mesmo objeto inanimado para

simular seu movimento. “Este recurso é muito utilizado em animações como as dos

desenhos da Disney”. (site Tecmundo, sem data específica).

Como se pode perceber neste fragmento da história, cinema e

documentário estão diretamente ligados. E segundo o pesquisador Amir Lambaki

(2005), o cinema nasceu documentário pela lente dos irmãos Lumière.

Outra perspectiva que envolve a produção deste trabalho - estando

mesmo ligada ao produto final - é a utilização de imagens como narrativas. Isso

significa dizer que o processo de construção deste documentário se deu por meio da

captura de áudio e também de imagens.

Manguel afirma em seu livro, “Lendo Imagens: Uma história de amor

e ódio”, que as imagens, através do tempo, são formadas em nossa mente,

acarretando em uma associação a outras imagens e emprestando-lhes palavras

para contar o que vemos. O autor ainda ressalta que tempo na imagem é infinito,

“uma imagem existe no espaço que ocupa, independente do tempo que reservamos

para contemplá-la”. (MANGUEL, 2001, p. 25).

Ainda sobre esse assunto, o autor destaca questões no campo da

cultura ou civilidade, quando afirma que, “só podemos ver as coisas para quais já

possuímos imagens identificáveis, assim como só podemos ler em uma língua cuja

sintaxe, gramática e vocabulário já conhecemos”. (Manguel, 2001).

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1.1 Desvendando o cinema documentário

Diversos estudiosos sobre o universo do cinema afirmam ter ele uma

linguagem que revela e expande as conexões com o mundo. Como sustenta

Penafria:

(...) vemos que o cinema traz-nos uma nova visão do mundo. Deu-nos a ver imagens que sem ele não seriam possíveis. (...) A câmera de filmar com o seu olho mecânico, em conjunto com o processo de montagem e o próprio editor são uma nova entidade que dá pelo nome de “cinema-olho'‘. Este cinema assenta-se na ideia de que, comparado com o olho humano, o olho da câmara é-lhe largamente superior. O olho mecânico mostra-nos a “verdadeira realidade'', completa e que aperfeiçoa o olho humano. O aparato cinematográfico mostra-nos a nossa presença no mundo. Ao mesmo tempo, transcende-a, pois mostra-nos o que sem ele nunca poderíamos ver. (PENAFRIA, 2003, p.7).

De acordo com essas afirmações, pode-se inferir que o cinema

documentário de oportunidade às pessoas de ampliarem a visão de mundo através

das imagens coletadas pelas câmeras. O “cinema-olho”, citado pela autora, fez com

que o olhar humano, em relação ao mundo, se aperfeiçoasse e ganhasse novas

dimensões. Assim, pode-se enxergar uma praça, mas se essa mesma praça for

gravada por uma câmera e depois passe pelo processo de montagem e pela mão do

editor, veríamos o local com mais perfeição e riqueza de detalhes.

Expressar uma ideia ou sentimento é algo bastante complexo,

principalmente quando essa expressão é feita em vídeo, porque é importante passar

a mensagem para as pessoas de forma eficaz. Segundo Lucena:

(...) Construir uma obra de ficção é algo que exige que recuperemos nosso conceito a respeito do mundo, que exacerba nossa criatividade, que requer a escrita e o registro de algo que queremos expressar e compartilhar. (LUCENA, 2012, p.8.).

Por sua vez, Nichols, sobre o contexto fílmico e o contexto social e

cultural a que ele se relaciona, sustenta:

Todo filme é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela. Na verdade, poderíamos dizer que existem dois tipos de filmes: (1) documentários de satisfação de desejos e (2) documentários de representação social. (NICHOLS, 2005, p.26).

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A afirmação de Nichols é extremamente interessante. Todo documentário

deixa em evidência a cultura da equipe que o produziu, além de reproduzir a

aparência das pessoas que fazem parte do audiovisual, ou seja, a produção em

vídeo é formada por um conjunto cultural que engloba pessoas, ideias e técnicas.

Assim, pode-se concluir que todo filme é um documentário, pois documenta

aspectos culturais. Os documentários, de forma geral, trazem em seus conteúdos

informações que podem ser utilizadas para a satisfação de desejos, como uma

viagem para uma ilha paradisíaca, poder voar, ser um herói, ou podem apresentar

temas relacionados à sociedade, e portanto não fictícios.

Nessa perspectiva, e dentro da sua realidade, o diretor do audiovisual

tenta expor para os seus telespectadores o tema proposto. Vale salientar,

entretanto, que ele não pode deixar se levar, de modo completo, por sua visão.

Aliás, deve ser cuidadoso no que se refere a sua visão de mundo, para que

o documentário permita, - aos espectadores - uma compreensão própria da

narrativa. Lucena (2012, p.24) ressalta que: “(...), contudo, é preciso salientar que o

documentarista, antes e na atualidade, narra a realidade que ele constrói, com suas

inserções subjetivas (...)”.

Nem toda ideia pode virar um documentário, é preciso bem mais que

um lampejo. Várias etapas devem ser consideradas, os fatores que circundam a

produção precisam ser observados, assim como custos, fontes, equipe, etc. Como

assevera Lucena (2012, p.33) “(...) ter uma ideia, no entanto, não significa ter um

filme - todos têm grandes ideias e a toda hora (...)”.

Portanto, após a imersão no mundo dos documentários através de livros

e filmagens, a equipe deseja vivenciar processo por processo, desde a ideia inicial,

ao produto final. E antes de ser iniciada a execução do projeto, houve debates sobre

as ideias, buscando verificar a possibilidade de filmar tudo o que estava em mente.

Assim, após a definição de ideias válidas e possíveis, partiu-se para a

construção do pré-roteiro seguindo eixos representativos de Ramos:

Dentro desse eixo comum, podemos afirmar que o documentário é uma narrativa basicamente composta por imagens- câmera, acompanhadas muitas vezes de imagens de animação, carregadas de ruídos, música e fala (mas, no início de sua história, mudas), para as quais olhamos (nós, espectadores) em busca de asserções sobre o mundo que nos é exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa. (RAMOS, 2008, p.22).

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Através do que assevera Ramos, pode-se compreender que, na criação

da narrativa, a equipe haveria de pensar na parte técnica do documentário, como

posicionamento das câmeras, planos nas imagens e músicas, afinal, técnica

e narrativa trabalham em conjunto. O roteiro foi pensado para transmitir aos

telespectadores, da melhor forma possível, através da utilização adequada de

técnicas, a história do paratleta.

1.2 “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”: isso basta?

O questionamento que abre este tópico lembra a afirmativa que o cinético,

crítico, teórico, diretor de cinema e escritor Glauber Rocha fez ao longo de sua vida

como cineasta. Villaça (2002, p.491) “(...) Podemos citar, como exemplo significativo

dessa circulação, a trajetória internacional da célebre máxima glauberiana: "Uma

ideia na cabeça, uma câmera na mão", que, após sua enunciação em 1961 foi

repetida aos quatro ventos, tornando-se uma espécie de "Pai-Nosso" de toda uma

geração de cineastas (...)”.

Foi Glauber que propôs, em 1960, a criação de um cinema brasileiro

que apresentasse a realidade da miséria da maior parte da população, e que para

conseguir êxito, era necessária a utilização de imagens e elementos culturais das

classes exploradas.

O processo de construção deste documentário teve como ponto inicial

o nascimento da seguinte ideia: fazer um curta-metragem para retratar a história

de vida de um atleta que saiu de Morada Nova, no Ceará, em busca de melhores

condições de treinamento.

No decorrer do curta é possível observar que esta decisão - de sair de

sua terra natal - contribuiu para o crescimento do atleta como desportista. Ou seja,

sua escolha afetou o seu futuro como campeão, dado que hoje, Beto conserva o

posto de melhor nadador paraolímpico das Américas no nado de peito.

Entretanto, uma serie de ações posteriores a essa ideia primária foram

necessárias para chegar ao que hoje é o produto final do filme. Dentre as ações

necessárias para a formulação deste projeto e que teve relevância para que o

objetivo fosse alcançado, a equipe destaca o envolvimento com o personagem.

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Isso significa dizer que não basta ter a ideia e câmera, é necessária uma

investigação aprofundada sobre o “eu” do personagem, para assim adentrar em seu

ambiente e buscar informações que possam ser utilizados no produto final.

Todavia, este não foi um processo fácil nem mesmo rápido. Entre

o pesquisador e o entrevistado existe algo que pode alterar o rumo da coleta

de dados, trata-se da câmera de vídeo. O desafio foi romper a timidez dos

entrevistados diante da filmadora, equipamento difícil de ser ignorado.

Para Comolli (2008), uma das formas de vencer essas dificuldades

é através de novas experimentações, algo que este pesquisador aponta como

uma nova forma de fazer cinema. Trata-se de um formato que tem como centro a

preocupação com o processo de alteridade, despertando no expectador reflexões,

convidando-o a pensar em diversas questões sociais, fugindo da linguagem tão

presente nos meios de comunicação de massa.

A experimentação proposta por Comolli é pautada em uma experiência

fílmica sem roteiro, um cinema feito sob o risco do real, sem seguir um cronograma

determinado. Deste modo confere-se uma maior liberdade a quem é filmado,

promovendo para o entrevistado a conscientização de sua condição de sujeito e

dono de suas imagens.

Comolli afirma em relação à prática do documentário,

(...) não depende, em última análise, nem dos circuitos de financiamento nem das possibilidades de difusão, mas simplesmente da boa vontade - da disponibilidade - de quem ou daquilo que escolhemos para filmar: indivíduos, instituições, grupos. (Comolli, 2008, p.45).

É importante ressaltar que o que esta proposta visa captar não é a

realidade fiel ou pura, pois essa é relativa e passível de cada indivíduo. Dado que:

(...) filmar, cortar, montar, escrever em suma é evidentemente, manipular, orientar, escolher, determinar, em resumo, interpretar uma realidade que nunca se apresenta a nós como “inocente” ou “pura”, a não ser que assim a fantasiemos. Como os filmes de ficção, os documentários são colocados em cena. (Comolli, 2008, p. 45).

Portanto, com a afirmativa de Comolli e com a apresentação do roteiro

presente no terceiro capítulo deste trabalho, pode-se perceber que não basta

somente uma ideia e a câmera na mão. Assim, torna-se necessária uma série

de ações posteriores à ideia para que o documentário ganhe vida, como roteiro,

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equipamento, disponibilidade dos entrevistados e pessoas envolvidas na produção,

personagens, ambientes escolhidos, pesquisas, dentre outros aspectos.

1.3 Lendo Imagens

Um dos processos que envolvem o desdobramento deste documentário

está na captura e utilização de imagens, sejam elas de apoio a um argumento ou de

apresentação direta de um personagem que fala enquanto a sua imagem é exposta

na tela.

Achou-se por bem ressaltar que a inclusão deste tópico está relacionado

à leitura de imagens, com o objetivo de apresentar as possíveis possibilidades que

elas, imagens, têm no processo de transmissão de informações acerca do assunto

proposto a falar neste curta-metragem.

Segundo Ramalho e Oliveira (2006), a leitura de imagens é uma

ferramenta que necessita de um aprendizado para poder ser utilizada. A autora

propõe em seu livro “Imagem também se lê”, de 2006, um modelo de leitura

composto por sete etapas:

1.Escaneamento visual ou gráfico na busca da estrutura básica da

composição, podendo esta ser horizontal, vertical, diagonal, reta, curva,

paralela, formada por figuras geométricas, regulares, irregulares, entre outros.

2. Desconstrução com destaque às linhas, elaborando-se esquemas visuais.

Estes têm como princípio a elaboração de contornos destacando as principais

linhas e formas da imagem.

3. Redefinição dos elementos básicos constitutivos. Estes podem ser pontos,

linhas, planos, formas, cores, texturas, dimensões, materiais. Existem

também os elementos significantes, que são os recortes, a moldura, o

suporte, entre outros, que não estão na obra, mas sim em seu entorno, e que

podem interferir na leitura.

4. Busca dos procedimentos relacionais entre os elementos constitutivos. São

específicos de cada imagem, podem ser destacados sempre em relação com

seu oposto: Ex: repetição/contraste, complexidade/simplicidade, clareza/

obscuridade, naturalidade/artificialidade, harmonia/desarmonia, nitidez/

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nebulosidade, ousadia/timidez, dentre outros.

5. Realização de um incansável trânsito entre elementos, procedimentos

blocos de elementos, o todo e as partes, esquemas visuais e imagem. É

neste processo que se inicia o âmbito da significação.

6.Reconstrução dos efeitos de sentido, com base nos procedimentos

relacionais e em todas as possíveis relações. Aqui a busca é sempre por

novos efeitos de sentido. Esses efeitos são sempre específicos. Além de

específicos de cada imagem, serão também pessoais. Nesse processo cada

pessoa verá nos textos características e significações próprias a seu percurso

de vida.

7. Dados de identificação da obra ou imagem contendo o maior número de

informações disponíveis, como autor, título, data da criação, dimensão, mídia

em que se apresentam, suporte, contexto, dentre outros.

Ramalho e Oliveira (2006) nos apresenta que a leitura das imagens

está fundamentada em três elementos básicos constitutivos: dimensão, cor e

textura. A autora ainda ressalta em seu livro que é necessário que as pessoas

possam conhecer e usar um referencial mínimo, através do conhecimento do nosso

cotidiano, para poder decodificar o universo das imagens.

Por sua vez, Manguel (2001, p.21) diz que “qualquer que seja o caso, as

imagens, assim como as palavras, são a matéria de que somos feitos”. E acrescenta

mais adiante que toda a imagem se trata de um mundo, de um retrato o qual o

modelo surgiu a partir de uma visão sublime, banhada em luz, inserido por uma voz

do interior que aponta para as próprias fontes da expressão.

Com o intuito de trazer informações, dentro da perspectiva do

documentário, forma incluídas imagens para informar acerca da vida e das

discussões levantadas nesta pesquisa. Com isso, uma série de registros de lugares

foram armazenados e depois selecionados, na composição do trabalho final.

A escolha das imagens se deu mediante a sequência temporal presente

no roteiro e anexado ao relatório técnico. O objetivo desta seleção relacionam-se

à informações que contribuam para que a história de vida de Carlos Alberto Maciel

seja contada de forma a dar base para as questões acadêmicas levantadas.

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Como retrado pelos autores presentes neste tópico, a busca das imagens

se deu mediante o acompanhamento do atleta em seu dia a dia ou no seu mundo,

tendo como base um roteiro escrito, o qual serviu para nortear os acadêmicos e o

cinegrafista.

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2 ESPORTE PARAOLÍMPICO: CAMINHOS DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE

Neste segundo capítulo será abordada a questão do esporte paraolímpico

brasileiro. Assim, far-se-á um breve resgate histórico sobre seu surgimento e os

principais fatores que contribuíram para o crescimento desta modalidade no Brasil,

mas sempre se ressaltando a prática no Ceará, dada a importância e a relação

deste tema com o objeto de estudo em foco.

Além disso, serão citados alguns pontos relacionados à participação

brasileira e resultados obtidos por atletas paraolímpicos deste país em grandes

competições, como Jogos Paraolímpicos e em Jogos Parapan-americanos.

Como embasamento teórico para este capítulo, serão utilizadas algumas

publicações dos autores Vanilton Senatore e Renato Francisco Rodrigues Marques,

além de dados fornecidos pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro, disponibilizados

através do site oficial da entidade http://www.cpb.org.br.

Outros aspectos importantes serão discutidos, tais como os conflitos

psicológicos que uma pessoa pode enfrentar a partir do momento que sofre um

acidente e, por conta disso, acaba adquirindo uma deficiência física; os tipos de

impactos que fatos como esse podem causar na vida do indivíduo vitimado e das

pessoas que vivem ao seu redor. Além disso, será debatida a inserção social

que o esporte paraolímpico pode proporcionar aos seus praticantes, e também a

questão da acessibilidade, do modo como o atleta se desloca para seus locais de

treinamento e outros pontos da cidade ao qual tenha que se locomover.

2.1 Conhecendo o Esporte Paraolímpico

A palavra “paraolímpico” deriva da preposição grega “para” - que significa

“ao lado, paralelo”, e da palavra “olímpico”, numa clara referência à ocorrência

paralela entre os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos desde 1960. A palavra

“paraolímpico” era, originalmente, uma combinação de paraplégico e olímpico,

entretanto, com a inclusão de outros grupos de pessoas com deficiência, e a união

das associações ao movimento olímpico, ela tomou outra conotação. (SENATORE,

2006).

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Existem registros de aparições de esporte adaptado datados de 1871,

na School os Deaf, de Ohio, Estados Unidos, que foi a primeira escola para surdos

a oferecer beisebol. As primeiras notícias da existência de clubes esportivos para

pessoas com surdez datam de 1888, em Berlim, Alemanha. Porém, somente em

1924 é que foram realizados, em Paris, França, os primeiros “Jogos do Silêncio”,

com a participação de 145 atletas de nove países europeus. Essa foi a primeira

competição internacional para pessoas com deficiência (SENATORE, 2006;

WINNICK, 2004).

Quanto aos Jogos Paraolímpicos, a versão dos Jogos Olímpicos para o

esporte adaptado, este surge a partir do final da 2ª Guerra Mundial. Um fato

perceptível desse marco histórico, principalmente nos países europeus envolvidos

no grande conflito, foi o considerável número de combatentes que sofreu lesões na

coluna vertebral, ficando paraplégicos ou tetraplégicos.

Esta situação influenciou Ludwig Guttmann, neurocirurgião alemão, a

dar início a um trabalho de reabilitação médica e social de veteranos de guerra por

meio de práticas esportivas, no Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke

Mandeville, Inglaterra, hospital fundado em 1944 pelo próprio cirurgião (Rev. bras.

educ. fís. esporte (Impr.) vol.23 no. 4, São Paulo Oct./Dec. 2009).

O sucesso do trabalho motivou Guttmann a organizar a primeira

competição para atletas em cadeira de rodas, exatamente na mesma data de

abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, (Senatore, 2006). A primeira competição

se deu com 16 atletas paraplégicos (quatorze homens e duas mulheres), na disputa

de arco e flecha.

Em 1952, ex-soldados holandeses se uniram para participar dos jogos de

Stoke Mandeville, e juntamente com os ingleses fundaram a ISMGF - International

Stoke Mandeville Games Federation - Federação Internacional dos Jogos de Stokee

Mandeville, dando início ao movimento esportivo internacional que viria a ser base

para a criação do que hoje é conhecido como esporte paraolímpico (SENATORE,

2006).

Em 1960, o comitê organizador dos jogos de Stoke Mandeville realizou as

competições em Roma, Itália, logo após os Jogos Olímpicos, utilizando os mesmos

espaços esportivos e o mesmo formato das Olimpíadas.

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Quatrocentos atletas de vinte e três países participaram dos primeiros

Jogos Paraolímpicos, que sempre foram realizados no mesmo ano dos Jogos

Olímpicos, porém nem sempre nos mesmos locais. Mas em períodos próximos e

utilizando as mesmas instalações só ocorre de forma definitiva a partir de 1988, em

Seul, Coreia do Sul. (Senatore, 2006).

Segundo Marques (2009, p.371), “(...) os Jogos Paraolímpicos, que

começaram como um evento com fortes implicações sociais e fins terapêuticos,

tornaram-se o evento esportivo mais importante para as pessoas com deficiência em

âmbito mundial”.

Essa afirmação de Marques (2009) pode ser melhor compreendida se for

observado o tamanho da participação dos atletas paraolímpicos nas edições mais

recentes dos Jogos, e, sobretudo, dos resultados obtidos pelos desportistas. Mais na

frente, serão apresentados alguns números para mostrar algumas das conquistas de

paratletas brasileiros.

No Brasil, a história do esporte paraolímpico surge em 1958 com a

fundação do Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro. A iniciativa partiu dos atletas

paraplégicos Robson de Almeida Sampaio e Sergio Delgrande. Nesse mesmo ano

surgia, em São Paulo, o Clube dos Paraplégicos. Em 1959, foi realizada a primeira

competição em cadeira de rodas que reuniu equipes do Rio e de São Paulo. (Comitê

Paraolímpico Brasileiro, 2013).

O basquete em cadeira de rodas foi o primeiro esporte paraolímpico

disputado em território nacional. Com o decorrer dos anos, outras modalidades

paraolímpicas começaram a surgir e a serem praticadas, provocando a necessidade

da criação de uma entidade que passasse a organizar o esporte paraolímpico. Foi

assim que, em 1975, surgiu a Associação Nacional de Desporto para Deficientes

(ANDE).

Antes mesmo da criação da ANDE, atletas brasileiros disputaram pela

primeira vez os Jogos Paraolímpicos, a estreia aconteceu nos Jogos de Heidelberg,

em 1972, porém, sem grandes resultados, conforme o Comitê Paraolímpico

Brasileiro (2013).

No ano seguinte à fundação da ANDE, em 1976, os brasileiros já viajaram

de maneira mais organizada rumo ao Canadá, onde disputaram os Jogos de Toronto

e conquistaram as primeiras medalhas. Robson Sampaio de Almeida e Luís Carlos

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Curtinho conquistaram a prata na 1(bocha paraolímpica), colocando o Brasil na 31ª

colocação geral no quadro de medalhas.

O número de atletas com deficiência aumentou vertiginosamente na

década de 80, exigindo a criação de novas entidades para melhor organizá-lo.

Dessa maneira, em 1984 foi fundada a Associação Brasileira de Desporto para

Cegos (ABDC) e a Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas

(ABRADECAR), de acordo com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (2013).

Em 1984, os atletas brasileiros disputaram os Jogos de Nova Iorque,

onde conquistaram seis medalhas. A corredora e deficiente visual Márcia Malsar

conquistou a medalha de ouro nos 200 m rasos. Os Jogos de 84 foram realizados

em duas sedes: em Nova Iorque foram disputadas as provas para deficientes

visuais, amputados e paralisados cerebrais, já em Stoke Mandeville, na Inglaterra,

foram disputadas as provas para cadeirantes. O Brasil obteve uma boa colocação e

conquistou 21 medalhas. (Comitê Paraolímpico Brasileiro, 2013).

O esporte paraolímpico no Brasil está em constante ascensão. Em 2008,

pela primeira vez o país terminou uma edição dos Jogos entre os dez primeiros no

quadro de medalhas, ficando em nono lugar, com 47 medalhas. Em 2012, o país

ficou em sétimo lugar. Sua melhor posição em Jogos Paraolímpicos.

2.2 “Beto”: o nadador paraolímpico do Ceará

Depois de relatar o surgimento do esporte paraolímpico no Brasil e no

mundo, e sobre alguns fatos marcantes da história dessa modalidade, este trabalho

dá ênfase ao paradesporto no Ceará, com foco no paratleta Carlos Alberto Maciel,

melhor nadador das Américas, em 2013, no nado de peito.

O atleta iniciou sua trajetória no esporte no ano de 2005, quando se

interessou pelo atletismo e passou a ser praticante desta modalidade, chegando a

disputar algumas competições em Fortaleza, e também em Morada Nova. Como era

residente no interior e poucas provas ocorriam em sua cidade natal, Beto começou

a perceber que teria poucas chances de vencer no esporte se continuasse residindo

1 Competem na bocha paraolímpica paralisados cerebrais que utilizem cadeira de rodas. O objetivo do jogo é lançar bolas coloridas o mais perto possível de uma bola branca chamada de Jack (conhecida no Brasil como bolim). É permitido o uso das mãos, dos pés ou de instrumentos de auxílio para atletas com grande comprometimento nos membros superiores e inferiores. Há três maneiras de se praticar o esporte: individual, em duplas ou em equipes.

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no interior, já que lá não havia muitas competições e nem estrutura adequada para

que ele pudesse se desenvolver.

Depois de algumas idas e vindas entre Fortaleza e Morada Nova, foi

despertando nele o interesse por outra modalidade esportiva que sempre esteve

presente em sua vida - a natação. Foram no rio Banabuiú as primeiras de suas

grandes e vitoriosas braçadas, já que ele viria a conquistar muitos resultados

expressivos.

No ano de 2008 Beto se aventurou de vez na natação. Assim, passou

a praticar essa modalidade como esporte prioritário, pois via nela a possibilidade

de alcançar maior autonomia e resultados. Mudou-se então para Fortaleza, onde

passou a morar com sua irmã, em Messejana. O depoimento dela e de outros

personagens importantes na vida do atleta, estão explorados no documentário em

vídeo.

A partir desta mudança, o nadador passou a se dedicar em tempo quase

que integral aos treinamentos, consequentemente conseguindo melhorar seu

desempenho.

Com a intensificação nos treinos, Beto rapidamente se adaptou a essa

modalidade. De maneira rápida e até surpreendente logo se destacou, mostrando

muita determinação e vontade de vencer. De acordo com o preparador físico e

auxiliar técnico do Náutico Atlético Cearense, Flávio Delamonica Aires, o processo

de adaptação de Beto ao esporte se deu de maneira muito natural, devido ao

talento, esforço e dedicação do nadador. Além disso, ele afirma que Beto é um

grande exemplo de superação, não só no esporte, mas também na vida. Segundo

ele:

Beto é um vitorioso, um exemplo de vida aqui no nosso clube, no nosso time. Todo mundo aqui sabe das dificuldades que ele enfrentou por ter vindo do interior, por ter de ficar longe da família, e ainda assim conseguir vencer no esporte e na vida. Hoje é formado em Educação Física, é professor e faz parte do corpo docente do clube, trabalhando conosco no dia a dia.

Dentro d’água os resultados falam por ele, pois em pouco tempo de

treino conseguiu - dentro da sua classe - atingir metas e resultados consideráveis,

os quais lhe proporcionaram a vaga da seleção brasileira nos Jogos Parapan-

Americanos de Guadalajara, no México, onde conquistou a medalha de ouro nos

100m nado de peito, com a quebra do recorde mundial.

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Tal resultado garantiu a vaga para os Jogos Paraolímpicos de Londres

em 2012, chegando ao ápice da carreira de qualquer atleta, “já que essa é

a competição mais importante”, comenta o preparador físico, que conclui o

pensamento ressaltando o esforço de Beto em seguir na busca por alcançar mais

feitos, mesmo depois de conseguir os resultados já obtidos.

Aires ainda comenta:

O Beto continua nos inspirando, pois segue treinando, competindo e dando resultados. Continua brigando pelos seus objetivos, fazendo parte de nosso corpo docente, sendo professor de uma das escolinhas. Então isso é muito inspirador mesmo, pois a gente, que aparentemente não tem nenhuma deficiência física, muitas vezes acaba reclamando da vida e de algumas situações, e quando olhamos para o lado e vemos um cara como o Beto, que mesmo com todas as suas dificuldades consegue se superar e almejar objetivos concretos, isso acaba servindo de motivação pra quem convive com ele.

Em termos de resultado, a trajetória do nadador é muito vitoriosa, como

bem frisou o seu preparador físico, Delamonica. Além da medalha de ouro nos

Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, em 2011, onde conquistou a medalha

de ouro com quebra de recorde mundial, o nadador cearense segue como campeão

brasileiro desde 2008 nos 100 metros peito classe SB8. Além de ter sido o único

atleta do Ceará a participar das Paraolimpíadas de Londres, em 2012.

Como pode ser observado através das declarações do preparador físico

Flávio Delamonica, as conquistas do nadador são bastante representativas, uma

vez que o grau da sua lesão é bem complexo. E para ilustrar melhor os aspectos

relativos ao seu tipo de deficiência, este trabalho fornece exemplos de padrões

motores de classificação funcional de atletas da natação, segundo Penafort (2001):

• S1 – Lesão medular completa abaixo de C4/5, ou pólio comparado, ou

paralisia cerebral quadriplégico severa e muito complicada;

• S2 – Lesão medular completa abaixo de C6, ou pólio comparado, ou PC

quadriplégico grave com grande limitação dos membros superiores;

• S3 – Lesão medular completa abaixo de C7, ou lesão medular incompleta

abaixo de C6, ou pólio comparado, ou amputação dos quatro membros;

• S4 – Lesão medular completa abaixo de C8, ou lesão medular incompleta

abaixo de C7, ou pólio comparado, ou amputação de três membros;

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• S5 – Lesão medular completa abaixo de T1-8, ou lesão medular incompleta

abaixo de C8, ou pólio comparado, ou acondroplasia de até 130 cm com

problemas de propulsão, ou paralisia cerebral de hemiplegia severa;

• S6 – Lesão medular completa abaixo de T9-L1, ou pólio comparado, ou

acondroplasia de até 130cm, ou paralisia cerebral de hemiplegia moderada;

• S7 – Lesão medular abaixo de L2-3, ou pólio comparado, ou amputação

dupla abaixo dos cotovelos, ou amputação dupla acima do joelho e acima do

cotovelo em lados opostos;

• S8 – Lesão medular abaixo de L4-5, ou pólio comparado, ou amputação

dupla acima dos joelhos, ou amputação dupla das mãos, ou paralisia cerebral

de diplegia mínima;

• S9 – Lesão medular na altura de S1-2, ou pólio com uma perna não funcional,

ou amputação simples acima do joelho, ou amputação abaixo do cotovelo;

• S10 – Pólio com prejuízo mínimo de membros inferiores, ou amputação dos

dois pés, ou amputação simples de uma mão, ou restrição severa de uma das

articulações coxofemoral.

No entorno teórico desses padrões de classificação funcional das lesões,

o nadador portador de deficiência física, para competir, precisa ser submetido

a uma equipe classificadora formada por clínicos (fisioterapeutas, médicos) e

classificadores técnicos que fazem a análise de resíduos musculares por meio de

testes de força muscular; mobilidade articular e testes motores (realizados dentro da

água).

Em tal contexto, vale a regra de que quanto maior a deficiência, menor o

número da classe. As classes sempre começam com a letra S (swimming) e o atleta

pode ter classificações diferentes para o nado peito (SB) e o medley (SM). Assim, as

classes são divididas da seguinte maneira:

• S1 a S10 / SB1 a SB9 / SM1 a SM10 – nadadores com limitações físico-

motoras.• S11, SB11, SM11 S12, SB12, SM12 S13, SB13, SM13 – nadadores com

deficiência visual (a classificação neste caso é a mesma do judô e futebol de

cinco).

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• S14, SB14, SM14 – nadadores com deficiência intelectual.

Após essa breve explanação sobre os padrões de classificação funcional

para atletas da natação, observou-se que o objeto de estudo deste trabalho - o

nadador Carlos Alberto Maciel - compete num nível de desempenho muito elevado,

com programas de treinos bem variados e intensos. E mesmo depois de ter obtido

vários resultados expressivos na carreira, ele segue dando suas braçadas para

permanecer figurando sempre entre os melhores da modalidade.

Contudo, não se pode deixar também de discutir o fato desses resultados

não trazerem muitas vezes o impacto e as melhorias almejadas para além das raias

das piscinas, pois mesmo com as excelentes marcas obtidas e feitos alcançados,

não apenas pelo nadador Beto, como também por outros paratletas integrantes da

seleção brasileira paraolímpica, ainda há muito que se avançar no que diz respeito à

acessibilidade. E essa discussão será levantada no próximo tópico.

2.3 Acessibilidade: desafios e conquistas

Acessibilidade é um termo cada vez mais comum e usual nos dias atuais

para tratar do acesso de pessoas com algum tipo de deficiência aos meios de

transportes, serviços públicos e ambientes físicos. Para melhor compreensão dessa

definição, alguns conceitos sobre o tema são relatados a seguir.

A acessibilidade - conceituada pela Lei 10.098 como sendo a

possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,

dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos das edificações, dos transportes e

dos sistemas e meios de comunicação por pessoa portadora de deficiência ou com

mobilidade reduzida - refere-se a dois aspectos, que embora tenham características

distintas, estão sujeitos a problemas semelhantes no que diz respeito à existência

de barreiras que são interpostas às pessoas com necessidades especiais: o espaço

físico e o espaço digital. (TAVARES FILHO et al., 2002).

Historicamente, a origem do termo “acessibilidade” para designar a

condição de acesso das pessoas com deficiência está no surgimento dos serviços

de reabilitação física e profissional no fim da década de 1940. Por sua vez, nos anos

de 1950, com o exercício de reintegração de adultos reabilitados, ocorria na própria

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família, no mercado de trabalho e na comunidade em geral o fato de profissionais

da área de reabilitação constatarem que essa prática tornava-se mais difícil e até

impedida pela existência de entraves arquitetônicos nos espaços urbanos, nos

edifícios, residências e, sobretudo, nos meios de transportes coletivos. Surgia assim

a fase da integração, que perduraria por cerca de 40 anos, até ser substituída

gradualmente pela fase de inclusão.

Na década de 1960, algumas universidades norte-americanas iniciaram

as primeiras experiências de eliminação de barreiras arquitetônicas existentes

em suas unidades: áreas externas, bibliotecas, estacionamentos, laboratórios,

lanchonetes, salas de aula etc. Na década de 1970, graças à criação do primeiro

centro de vida independente do mundo (que surgiu na cidade de Berkeley,

Califórnia, EUA), houve um maior interesse e, consequentemente, aumentaram-se

a preocupação e os debates sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas, assim

como a operacionalização de soluções idealizadas.

Na década seguinte, impulsionado pela pressão do ano internacional

das pessoas deficientes (1981), o segmento de pessoas com deficiência

desenvolveu verdadeiras campanhas de alcance mundial para alertar a sociedade

a respeito dos entraves arquitetônicos e exigir não somente a eliminação deles

(desenho adaptável) como também a não inserção de barreiras já nos projetos

arquitetônicos (desenho acessível). Pelo desenho adaptável, a preocupação

é no sentido de adaptar os ambientes obstrutivos. Já em relação ao desenho

acessível, a preocupação está em exigir que os arquitetos, engenheiros, urbanistas

e desenhistas industriais não incorporem elementos obstrutivos nos projetos

de construção de ambientes e utensílios. Tanto no desenho adaptável como no

acessível, o beneficiado específico é a pessoa com deficiência.

Na década de 90, começou a ficar cada vez mais claro que a

acessibilidade deveria seguir o paradigma do desenho universal, segundo o qual os

ambientes, os meios de transporte e os utensílios fossem projetados para todos e,

portanto, não apenas para pessoas com deficiência. E, com o advento da fase da

inclusão, hoje compreendemos que a acessibilidade não gira em torno somente das

questões arquitetônicas, pois existem entraves de vários tipos também em outros

contextos que não o do ambiente arquitetônico. (SASSAKI, 2005).

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De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), “a definição de

acessibilidade é o processo de conseguir a igualdade de oportunidades em todas as

esferas da sociedade”.

A consideração do termo acessibilidade não poderá ser ditada por meras razões da solidariedade, mas, sobretudo, por uma concepção de sociedade realmente, onde todos deverão participar com direito de igualdade, e de acordo com as suas características próprias. (CONDORCET, 2006).

Como se pode observar, a partir da visão de alguns autores citados

acima, a questão da acessibilidade está cada vez mais presente na vida, e esse

aspecto não está ligado somente às pessoas com deficiência física, vai muito além.

Assim, engloba a sociedade como um todo. Entretanto, em torno da questão da

acessibilidade, este trabalho centra foco em seu objeto de estudo e nas relações

que ele tem com o mundo.

Durante o período em que a equipe esteve em campo pesquisando,

fazendo coleta de material, e também na fase de produção deste documentário, foi

observado que o nadador ainda sente muita falta de políticas públicas voltadas para

pessoas na mesma situação que ele, embora ressalte que as limitações estão mais

na mente, que mesmo com a deficiência ele é capaz de realizar praticamente tudo

que uma pessoa sem deficiência física pode fazer.

Ainda assim, Beto não se sente completamente assistido no que

tange ao assunto “acessibilidade”, pois há carência no acesso para pessoas com

necessidades especiais em diversos setores da sociedade. E se o conceito do termo

visa garantir a pessoas como ele igualdades de oportunidades e condições nos mais

variados segmentos sociais, isto ainda está muito longe de se tornar uma realidade

concreta.

No entanto, o atleta reconhece que o fato de ser um paratleta bem

sucedido lhe abriu muitas portas e tornou algumas coisas mais acessíveis. Ele ainda

crê e torce bastante para que pessoas que enfrentam o mesmo tipo de problema

possam ter as oportunidades que ele acabou tendo, seja através do esporte, que

é sim uma ferramenta de inclusão social, ou por meio de outro tipo de atividade. O

importante é que a pessoa portadora de deficiência consiga encontrar dentro de

si mesma motivação para seguir em frente, traçar novos objetivos e realizar novos

sonhos.

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O nadador espera que o sucesso não só dele como também de outros

atletas paraolímpicos possa refletir em melhorias concretas no cotidiano das

pessoas com necessidades especiais, e que o esporte paraolímpico ganhe cada

vez mais adeptos, pois através da prática esportiva, o indivíduo com deficiência tem

a possibilidade de se reintegrar num ambiente em que suas “limitações” poderão

estar sendo continuamente rompidas. E assim, sentir-se como membro ativo da

sociedade, dono do seu próprio destino e responsável por suas próprias escolhas.

É bem mais provável que a partir de políticas públicas voltadas para a

acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência, que o indivíduo se torne mais

seguro e independente. Beto crê que alguns avanços já foram feitos nessa questão,

mas ressalta que ainda há muito o que ser feito.

3 PROCESSOS METODOLÓGICOS: IDAS E VINDAS

Este projeto de pesquisa teve como ponto de partida a leitura de livros

que abordam, mesmo que de forma ramificada, assuntos inseridos no contexto

da temática que o documentário se propõe a explanar. Assim, são exemplos

publicações como: Esporte Olímpico e Paraolímpico: coincidências, divergências e

especificidades numa perspectiva contemporânea, Revista Brasileira de Educação

Física e Esporte, além de livros que auxiliem nos elementos referentes à produção

de um audiovisual, como: Produção e Direção para TV e Vídeo, e Como fazer

Documentários - conceito, linguagem e prática de produção.

Como mencionado acima, o ponto inicial para o andamento deste projeto

é a pesquisa bibliográfica, que traz em seu contexto assuntos diretamente ligados

a este trabalho. De acordo com Gil, (1991), a pesquisa bibliográfica é elaborada

a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de

periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet.

O roteiro, por sua vez, é o percurso, e versa sobre uma pessoa, ou

pessoas, num lugar, ou lugares, vivendo algo. Todos os roteiros cumprem essa

premissa básica. A pessoa é o personagem, e viver sua coisa é a ação. (FIELD,

2001, P.2).

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O roteiro do documentário foi escrito antes de todas as etapas

anteriormente descritas. Todas as ideias que a equipe teve em torno da filmagem

foram debatidas para se encontrar a melhor forma de contar a história de Carlos

Alberto Lopes Maciel.

Partindo para a etapa de orçamentos e custos, o documentário passa

a ser possível ou não. Neste momento é importante observar tudo o que será

necessário para a produção do vídeo, nenhuma outra etapa pode ser executada se

não couber no orçamento.

No início do projeto os custos tendem a ser menores e mais fáceis de controlar. Nessa fase constam no orçamento custos para reuniões, contratação de equipe, seleção de elenco, cronograma de filmagens, reserva de hotéis, alimentação, viagens e outros custos gerais de planejamento de projeto. (Kellison, 2007, p.87).

As locações foram observadas ainda na etapa do orçamento. No caso de

Carlos Alberto Lopes Maciel, foram analisados os locais de treino, as residências

dos entrevistados, a viagem para gravar em Morada Nova e localidades que, devido

à história do atleta, precisariam ser filmadas. Locais para as entrevistas com os

amigos de infância, familiares, treinador, psicólogo e especialista em acessibilidade

também foram analisados. Segundo Kellison (2007, p.115) “(...) Uma locação pode

ser uma casa, um museu, uma escola, uma rua da cidade, os campos de um país ou

um playground (...)”.

Os locais-base da coleta de dados e imagens que serão explanados pelo

documentário foram os seguintes: biblioteca do Centro de Pesquisa Superior do

Ceará (FaC), onde pesquisamos livros que nortearam a produção do documentário,

além dos depoimentos de especialistas feitos em salas da instituição. Clube

Náutico Atlético Cearense, onde coletamos imagens dos treinos de Carlos e o

depoimento do seu técnico. Setor K, localidade de Morada Nova, onde gravamos os

depoimentos dos familiares, além de imagens de apoio como a plantação de arroz.

Foram gravados também depoimentos de amigos do personagem em

foco no campo de atletismo de Morada Nova. Além disso, foram captadas imagens

do rio Banabuiú e da praça principal da cidade natal do atleta. Os outros locais de

gravações foram a casa de Carlos, em Messejana, e casa da sua irmã, localizada no

mesmo bairro. Houve igualmente coleta de imagens em ambientes externos, como

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paradas de ônibus e ruas da cidade de Fortaleza.

Segundo Silva e Menezes, (2005), a coleta de dados é a pesquisa de

campo propriamente dita. Para obter êxito neste processo, duas qualidades são

fundamentais: a paciência e a persistência.

A entrevista é um gênero jornalístico que requer técnica e capacidade

profissional. Esta prática foi escolhida para o projeto, porque acredita-se ser a

melhor forma de coletar informações dos personagens do vídeo. Através dela, o

pesquisador busca obter informações contidas na fala dos entrevistados. Segundo

Morin (2006), uma má utilização desta prática jornalística pode resultar em fracasso,

comprometendo todo o produto produzido com as informações adquiridas.

No documentário foi realizado um estudo de caso caracterizado por

um estudo intensivo. Em tal contexto, é levada em consideração principalmente

a compreensão como um todo do assunto investigado. Assim, buscou-se

compreender de modo completo a vida de Carlos Alberto Lopes Maciel, sendo

investigados todos os aspectos que englobam sua vida. Quando o estudo é

intensivo podem até aparecer relações que de outra forma não seriam descobertos.

(FACHIN, 2001).

Todas as etapas ocorreram de acordo com o roteiro do audiovisual,

excetuando as pesquisas teóricas, que serão executadas antes da formulação do

roteiro.

Diante do exposto acima, o projeto foi dividido em duas fases: a primeira

se relaciona à pesquisa teórica e bibliográfica, a fim de possuir o embasamento

necessário para a produção do documentário. Além disso, serão feitos os

levantamentos de locações, orçamento, contato inicial com os entrevistados, análise

das fontes, formação de equipe, escolha de equipamentos e projeção do roteiro.

A segunda fase, por sua vez, foi a etapa de execução. Com o roteiro

finalizado a equipe foi a campo para realizar as entrevistas e as filmagens. Neste

processo foram tomados cuidados especiais e precauções, pois os imprevistos

nessa fase de execução são corriqueiros.

Findadas as filmagens, realizou-se a decupagem delas e a finalização do

projeto. O processo de decupagem pode ser dividido em duas partes, a fase inicial é

a análise técnica em que, com o roteiro pronto, começa o processo de levantamento

de necessidades cena a cena. É aqui que se decide, baseado no custo e na opção

estética, qual será o meio usado para o projeto.

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Depois de terminada a filmagem, inicia-se a segunda parte do processo,

a decupagem do material filmado. Assim, usando-se a ficha de filmagem como guia,

são escolhidos os takes utilizados na edição. (Touceira, Michelle. Decupagem. Em:

<http://ntcuniversidade.wordpress.com/2007/12/12/decupagem. Acesso: 16 de junho

de 2014.)

Realizada a decupagem, foi iniciada a edição do vídeo.

ROTEIRO

INT. DEPOIMENTO DE BETO - TARDE. SALA DA CASA DE SEUS PAIS.Sentado em um sofá, na sala, com suas medalhas na estante, Beto começa a falar

sobre a sua infância e o acidente.

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EXT. IMAGENS DE APOIO - MANHÃ. PRAÇA PRINCIPAL DE MORADA NOVA.Plano Geral

Fazer imagens de apoio. Filmou-se a igreja, o movimento das pessoas e o trânsito.

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EXT. IMAGENS DE APOIO - MANHÃ. CASA ONDE NASCEU, NO SETOR K, EM MORADA NOVA.pg

Fazer imagens da casa onde Beto nasceu e viveu até a sua juventude.

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INT. DEPOIMENTO DA MÃE DE BETO - TARDE. CORREDOR DE SUA CASA, NO SETOR K, EM MORADA NOVA.Maria Ilda Lopes Maciel, mãe do Beto, fala sobre o acidente e sobre a infância do

filho. Vai falar também sobre a carreira do filho.

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EXT. DEPOIMENTO DO PAI DO BETO - TARDE. PLANTAÇÃO DE ARROZ, NO SETOR K, EM MORADA NOVA.Antonio Balbino Maciel, pai de Beto, fala sobre o acidente do filho. Explica com

detalhes como aconteceu, mostra o local e faz reflexões.

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INT. DEPOIMENTO DE BETO.- TARDE. SALA DA CASA DE SEUS PAIS -TARDE. SETOR K, EM MORADA NOVA.Vai falar como foi sua adolescência e juventude. Desafios e vitórias. Aborda como se

interessou pelo esporte e onde realizava os seus treinos.

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EXT. DEPOIMENTO DE FRANCISCO ALCIMAR, AMIGO DE INFÂNCIA - MANHÃ. PISTA DE ATLETISMO EM MORADA NOVA.Filmar o depoimento de Francisco Alcimar, amigo de infância de Carlos. Vai falar das

brincadeiras e dificuldades que Beto tinha.

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EXT. DEPOIMENTO DE CARLOS HERLÂNIO, AMIGO DE INFÂNCIA – MANHÃ: PISTA DE ATLETISMO EM MORADA NOVA.Com a pista de atletismo como plano de fundo, filmar o depoimento de Carlos

Herlanio, amigo de infância de Carlos Alberto. Fala sobre a infância, como eram as

brincadeiras,como Beto ficou depois do acidente.

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EXT. IMAGENS DE APOIO - MANHÃ. RIO BANABUIÚ, MORADA NOVA.Fazer imagens de Beto nadando no açude e dando mortais. Filmá-lo subindo a

escada do açude.

Local de gravação: Unifor.

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INT.DEPOIMENTO DE BETO - TARDE. CASA DOS PAIS, SETOR K, EM MORADA NOVA.Beto fala sobre a sua vinda para Fortaleza. Aborda onde foi morar e suas primeiras

competições.

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EXT. IMAGENS DE APOIO - MANHÃ. CASA DA IRMÃ, MESSEJANA.pg

Faça imagens da casa da irmã de Beto.

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INT. DEPOIMENTO DA IRMÃ - MANHÃ. MESSEJANA, FORTALEZADe frente para a sua porta, Cleidiane Lopes Maciel, irmã de Beto, vai falar da sua

vinda para Fortaleza e das principais dificuldades.

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INT. DEPOIMENTO DA ESPOSA DE BETO - TARDE. CASA DE BETO, NA SALA, EM MESSEJANA.Patrícia de Sousa Bento, esposa de Beto, fala sobre como o conheceu. Abordará a

vida a dois, o casamento, a gravidez e a carreira do marido.

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INT-EXT. IMAGENS DE APOIO - TARDE. CASA DE BETO, RUA, PARADA DE ÔNIBUS - TARDE. MESSEJANA.A filmagem acompanha o cotidiano de Beto. Filmar como ele se arruma, escova os

dentes, arruma a bolsa para o treino ou trabalho, acompanha a ida dele ao treino.

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INT. IMAGENS DE APOIO - TARDE. NAÚTICO, BEIRA-MAR, FORTALEZA.pg, pm, pp

Filmar o atleta nadando na piscina.

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INT. DEPOIMENTO DO TREINADOR DE CARLOS - TARDE. NÁUTICO, BEIRA-MAR, FORTALEZA.Flávio Delamonica Aires, treinador de Beto, fala sobre o esquema de treino e

dificuldades que uma pessoa com deficiência física enfrenta para treinar.

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INT. DEPOIMENTO DE BETO - TARDE. CASA DOS PAIS. SETOR K, EM MORADA NOVA.Beto fala sobre suas conquistas profissionais e acadêmicas. Aqui, neste ponto,

levantam-se questões como: acessibilidade, preconceito e políticas públicas. Fala o

personagem também sobre perspectivas de futuro.

INT. DEPOIMENTO DE PSICÓLOGO - NOITE. FACULDADE CEARENSE, FORTALEZA.Walter Lacerda, psicólogo, explica como uma pessoa vence um trauma, congênito

ou adquirido, e consegue se tornar um campeão, pela ótica da psicologia.

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INT. DEPOIMENTO DE ESPECIALISTA EM ACESSIBILIDADE - NOITE. FACULDADE CEARENSE, FORTALEZA.Ana Carina Moraes de Lira, membro da equipe de trabalho de acessibilidade da

UFC, fala sobre as dificuldades que uma pessoa com deficiência física enfrenta para

se locomover na cidade. Aborda também se existe algum projeto para a melhora.

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EXT. IMAGENS DE APOIO - TARDE. BEIRA-MAR.Grava o Beto sentado no espigão da Beira-Mar, observando o pôr-do-sol. Filmá-lo

andando pelo calçadão.

DIÁRIO DE CAMPO

Quando conhecemos pessoalmente o “Betão”, nas primeiras entrevistas

e coletas de informações, ficamos atônitos com tantos desafios que ele teve que

vencer para se tornar o grande atleta que é. A partir deste momento começamos a

refazer o nosso olhar em relação a pessoas com deficiência física. Deslumbramos

um mundo que, muitas vezes, é visto de forma preconceituosa pelos que se dizem

normais. Passamos a nos dedicar ainda mais ao documentário e sua missão de

levar esse olhar, recém-adquirido por nós, para mais pessoas.

Um ponto marcante da nossa trajetória foi quando fomos à Corrida de

Rua da Universidade de Fortaleza (Unifor), vimos ali centenas de pessoas com

deficiência motora, intelectual e visual superar seus limites e desafios. Naquele

momento percebemos a grandeza que o esporte proporciona para essas pessoas,

foi muito emocionante ver a alegria de cada um quando atravessavam a linha de

chegada. Tudo o que enxergamos ali nos ajudou a querer conhecer mais desse

mundo. Assim, passamos a observar as pessoas que param em vagas para

deficientes, locais públicos que não possuem acessibilidade para cadeirantes, sinais

que não foram adequados para deficientes visuais, entre outras coisas que, antes

desse projeto, passavam despercebidas por nós.

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Em cada etapa do projeto, novos aprendizados foram adquiridos. A

cada leitura, nossa percepção sobre o mundo das pessoas com deficiência motora

era melhorada e aguçada. Conhecemos doutores, mestres e professores que nos

ensinaram muito sobre essa temática, entre esses, gostaríamos de citar o mestre

Vicente Cristino, professor da Unifor, e a professora Ana Karina Morais de Lima -

da UFC. Os dois nos deram uma verdadeira aula sobre o universo em foco neste

estudo.

No campo da construção de um documentário em audiovisual, o

conhecimento adquirido foi enorme. Buscamos livros que falassem sobre o assunto,

tutorias na Internet que ensinassem técnicas de gravação, mas nada melhor que a

prática.

O nosso primeiro desafio foi construir um roteiro que detalhasse casa

processo que ira ser realizado nas gravações, além de narrar a história do nosso

personagem. Nesse momento o grande desafio era transformar 36 anos, idade

de Alberto, em 20 minutos, tempo do documentário. Fizemos a decupagem das

câmeras, o planejamento dos gastos e criamos um cronograma das atividades, para

nos auxiliarem na execução do projeto.

Quando fomos captar as imagens, a nossa percepção quanto ao mundo

do audiovisual cresceu consideravelmente. O primeiro local que fomos foi Morada

Nova, interior do Ceará, cidade natal do personagem. A ideia era coletar imagens

que descrevessem a cidade, além de entrevistar e filmar familiares e amigos.

Saímos de Fortaleza na manhã do dia 25 de maio; chegamos a Morada

Nova por volta das 9h30. Foi emocionante retirar os equipamentos do carro e iniciar

as gravações. Começamos pelos principais pontos da cidade, como praça principal,

açude e comércio. Queríamos fazer imagens de apoio para utilizar entre a fala de

Alberto. Em seguida, por volta das 10h30, encontramos um amigo de infância de

Beto e pedimos para ele gravar um depoimento. Fomos até a pista de atletismo da

cidade gravar com esse amigo e, por coincidência, outro amigo de Alberto apareceu

querendo gravar um depoimento. Assim que terminamos essas gravações, nos

dirigimos à ponte do rio Banabuiú, onde gravamos imagens do paratleta nadando.

Em seguida, por volta do meio dia, fomos até ao Setor K, na casa dos pais de Beto,

almoçamos e realizamos mais gravações.

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Na casa onde o atleta nasceu, tivemos muitas surpresas e fortes

emoções. Conhecemos o avô e avó paternos e o avô materno de Alberto, que nos

surpreenderam com as idades: 102, 92 e 101 anos, respectivamente. Coletamos os

depoimentos emocionantes da mãe e do pai de Carlos Alberto, e fomos conhecer o

local do acidente. Por volta das 17 horas voltamos para Fortaleza, mas tivemos um

susto na BR116, na altura de Aquiraz: o pneu direito traseiro do carro estourou. O

automóvel quase se desgoverna, mas com calma, o motorista, Edmundo Clarindo,

conduziu o veiculo ao acostamento onde colocamos o pneu-reserva e seguimos

viajem.

Nosso segundo dia de gravação foi em Fortaleza, no dia 03/06, mais

precisamente no bairro de Messejana. Começamos os trabalhos por volta das

08 horas e fomos até sete da noite. Iniciamos na casa da irmã de Beto, onde

coletamos o depoimento da mesma. Em seguida, fomos para a casa do nosso

personagem gravar com a sua esposa. Depois, acompanhamos o dia de Carlos

Alberto, gravando sua ida até o ponto de ônibus e sua subida ao coletivo. Logo

depois, fomos até o Náutico Atlético Clube gravar com o seu treinador e fazer

imagens de apoio do atleta na piscina. Na sequência, fomos ao novo espigão,

localizado na Beira-mar, para fazer imagens também de apoio com Carlos

caminhando pela praia.

Depois desses dois dias de gravação, paramos por duas semanas

para nos dedicar ao relatório. Quando decidimos voltar às gravações, tivemos

um problema, o cameraman não estava mais de férias e sua disponibilidade não

batia com a nossa. Decidimos que Edmundo Clarindo iria gravar o restante dos

depoimentos.

No dia 23/06 fomos até a Universidade Federal do Ceará gravar com

a professora Ana Karina. A seguir, em 25/06, gravamos com o professor Walter

Lacerda, na Faculdade Cearense, findando as gravações.

Iniciamos o processo de edição e decupagem das imagens antes de

finalizar o processo de gravação, devido ao pouco tempo que tínhamos. Através

do roteiro fez possível delimitarmos o tempo correto para os dois depoimentos

que faltavam em nosso documentário. Finalizamos a edição e terminamos o

documentário no dia 25/06.

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Esse projeto nos fez crescer como pessoas e profissionais. Todo o

aprendizado que obtivemos com ele jamais será esquecido. Queremos que a vida

de Carlos Alberto Lopes Maciel seja exemplo para todas as pessoas. Lançamos a

semente, os frutos vamos colher com o tempo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encerramos esse projeto com o sentimento de dever cumprido.

Foram meses de preparação e dedicação para entregar um documentário que

apresentasse aos espectadores a vida de Carlos Alberto Lopes Maciel, atleta

paraolímpico.

O documentário abordou a vida de Carlos Alberto Lopes Maciel, atleta

paraolímpico. A pesquisa teve por objetivo expor a vida do atleta, ressaltando sua

trajetória de superação através de depoimentos de amigos e familiares. Mostramos

um pouco do seu cotidiano, os locais onde iniciou a prática esportiva, local onde

trabalha e treina, além de opiniões de especialistas em acessibilidade e psicologia.

Nesse processo, descobrimos quais paradigmas foram quebrados para ele superar

seus próprios limites, enfrentando não somente, as suas condições especiais, mas o

preconceito da sociedade.

Escolhemos essa temática através de uma experiência vivida por

Edmundo Clarindo, integrante da equipe que realizou este trabalho de conclusão

de curso (TCC). Ao observar um grupo de pessoas com deficiência visual jogando

futebol, o acadêmico se interessou profundamente em descobrir sobre a trajetória

de atletas com deficiência física. Ao trazer a discussão para o grupo, observamos a

importância de relatar a vida de uma pessoa que conquista medalhas, competições

nacionais e internacionais, mesmo possuindo uma deficiência física. A partir desse

ponto, pesquisamos os atletas paraolímpicos do Brasil e descobrimos, no Ceará, o

nadador Carlos Alberto, personagem principal desse documentário.

Os atletas paraolímpicos estão todos os dias vencendo desafios, não

somente os oferecidos pelo esporte, mas aqueles que são expostos por uma

sociedade que ainda não oferece boas condições de locomoção, para pessoas

especiais. O audiovisual trouxe uma reflexão a todos os sujeitos que não possuem

deficiência física, uma nova maneira de enxergar a vida, não somente a própria

existência, mas a realidade das pessoas com deficiência física.

O tema torna-se cada vez mais relevante em nossos dias. Em outros

tempos, teríamos um preconceito ainda maior em relação às pessoas com

deficiência física. Destaque-se que existem espaços esportivos que estão abrindo

suas portas para o treinamento de paratletas, e muitos deles podem visualizar no

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esporte um novo sentido para a vida, um novo jeito de ver o mundo. A sociedade

precisa tomar conhecimento do mundo dos desportistas paraolímpicos.

Acreditamos que o documentário irá incentivar pessoas com algum

tipo de deficiência física - que tenham interesse na prática do esporte - a buscar

locais especializados em treinamento adapto. Além disso, queremos incentivar

pessoas que têm vontade de praticar uma atividade esportiva, mas acham que não é

possível devido a alguma deficiência física, a acreditarem no poder do esporte para

readaptação e inclusão social.

Através deste trabalho, objetivamos trazer uma discussão sobre

acessibilidade, políticas públicas e inclusão social, pretendendo entender as

dificuldades que uma pessoa com deficiência física enfrenta para se deslocar

ao local de treino e na vida também. Além disso, buscamos entender o olhar

da sociedade para uma pessoa com deficiência física a partir da ótica do nosso

personagem.

Acreditamos que tudo isso foi conseguido.

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