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A Vulnerabilidade aos Incêndios na Madeira – Caso de estudo Santa Cruz Pedro Filipe Brigham da Guerra Andrade Dissertação de Mestrado em Gestão do Território Área de especialização em Detecção Remota e Sistemas de Informação Geográfica Abril, 2014

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A Vulnerabilidade aos Incêndios na Madeira –

Caso de estudo Santa Cruz

Pedro Filipe Brigham da Guerra Andrade

Dissertação de Mestrado em Gestão do Território

Área de especialização em Detecção Remota e

Sistemas de Informação Geográfica

Abril, 2014

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I

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção

do grau de Mestre em Gestão do Território – Detecção Remota e Sistemas de

Informação Geográfica, realizada sob a orientação científica da Doutora Teresa

Santos e co-orientada pelo Professor Doutor José António Tenedório.

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Dedicatória Pessoal

(opcional)

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III

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, uma palavra de agradecimento aos orientadores desta

dissertação, a Doutora Teresa Santos e o Professor Doutor José António Tenedório,

que o souberam guiar na direcção certa e se mostraram sempre disponíveis para

prestar apoio e para o esclarecimento de dúvidas.

Ao Doutor Richard Freitas Mata e à Câmara Municipal de Santa Cruz, pelo

fornecimento dos dados necessários à condução desta investigação, que de outra

forma teria sido impossível.

Ao meu colega João Domingues, pelo apoio prestado numa fase difícil.

A todos os colegas e amigos de curso que tornaram a faculdade uma

experiência inesquecível e com quem fui crescendo, partilhando experiências,

divertimentos e também momentos menos bons ao longo dos anos. De destacar o

Miguel Jeremias que é mais do que um amigo, é um irmão.

À Ana Sofia, pelo apoio incondicional, por toda a força que me deu ao longo

deste período, e pela paciência para os desabafos.

Por fim, à minha família, aos meus pais e ao meu irmão, pela motivação e apoio

constante independentemente das adversidades que cada um enfrentou. Este período

de realização da dissertação coincidiu com alguns momentos difíceis que felizmente

foram já ultrapassados.

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IV

VULNERABILIDADE AOS INCÊNDIOS NA MADEIRA – CASO DE ESTUDO SANTA CRUZ

Pedro Filipe Brigham da Guerra Andrade

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: Incêndios florestais, Risco, Vulnerabilidade, Dano potencial, Sistemas de Informação Geográfica

Desde 1970 que se tem verificado em Portugal um agravamento no número de ocorrências de incêndios florestais bem como da área ardida resultante dos mesmos. A mesma tendência se tem verificado noutros países, atingindo no entanto mais severamente os países do Sul da Europa, com clima mediterrânico. Neste contexto, procura-se nesta investigação analisar as causas deste fenómeno, nas suas diferentes dimensões: social, económica e ambiental. Deste modo, a análise decorre a duas escalas: uma análise a um nível nacional (evolução do problema em Portugal) e a um nível regional (região do caso de estudo).

Ao longo do trabalho analisa-se o actual estado das investigações sobre avaliação de risco de incêndio, considerando sempre o papel que os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) assumem nesta área. Com este propósito, confrontam-se metodologias elaboradas por diferentes investigadores, reflectindo sobre as opções tomadas em cada uma delas.

A metodologia proposta é aplicada a um caso de estudo específico - Santa Cruz (Madeira) com o propósito de analisar a Vulnerabilidade deste território aos incêndios e atingir um melhor entendimento de como combater este problema.

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Wildfire Vulnerability in Madeira – Case Study Santa Cruz

Pedro Filipe Brigham da Guerra Andrade

ABSTRACT

KEYWORDS: Wildfires, Risk, Vulnerability, Potential Damage, Geographic Information Systems

Since the 1970’s there has been an increase in wildfire occurrences, as well as a rise in the burnt areas per wildfire. The same tendencies exist in other countries, particularly in the Southern Europe, with a Mediterranean climate. Considering this, the present investigation aims to expose the true causes of this phenomenon, analyzing its different dimensions: social, economic and environmental. Thus, the analysis is made in two scales: national (wildfire evolution in Portugal) and regional (case study).

The current developments of the investigations concerning the science of wildfire risk will also be analyzed, always considering the role Geographic Information Systems (GIS) play in this area. With this in mind, different methodologies by different authors will be examined, reflecting upon the choices in each of them as a base to the vulnerability methodology that will result from this paper.

The proposed methodology is applied to a specific case study – Santa Cruz (Madeira) with the purpose of analyzing this territory Vulnerability to wildfire risk and achieve a better understanding how to fight it.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ………………………………….……………………………………….……………..…….. 1

CAPÍTULO 1: A PROBLEMÁTICA DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS ……………….………… 3

1.1 – Evolução do problema em Portugal …….………….…………………….……. 3

1.2 – Consequências físicas e socio-económicas …….……………….…….……. 8

1.3– Enquadramento legal ………………………………………………………..…….… 12

CAPÍTULO 2: DISCUSSÃO CONCEPTUAL ……………………………………….……………….. 20

2.1 – Ciência do risco …….………………………………………………………………..… 20

2.2 – Modelo conceptual ……..………………………………...…………...…………… 23

2.3 – Análise de metodologias de risco existentes …….………………………. 29

CAPÍTULO 3: PROPOSTA METODOLÓGICA PARA AVALIAÇÃO DA

VULNERABILIDADE …………………..………………………..………………………….……..……… 33

CAPÍTULO 4: CASO DE ESTUDO: O CONCELHO DE SANTA CRUZ ……….……..…… 37

4.1 Área de estudo e dados geográficos …………………………..……..………… 37

4.1.1- Caracterização física e socioeconómica do concelho de

Santa Cruz ……………………………………….…………….……………………. 39

4.1.2 – Planeamento urbano-florestal e o impacto dos

incêndios nos últimos anos ………………………………….……………… 45

4.2 - Implementação da metodologia proposta ………………..………..…….. 52

4.3 – Discussão dos resultados …………….…………………………….….…………. 55

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES ………………………………………………….………….………….… 62

5.1 – Proposta de medidas de prevenção .………..……..…………..…………… 62

5.2 – Considerações finais …………..……………………………..……….…….……… 66

BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………..……….…..……..….. 70

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VII

ÍNDICE DE FIGURAS ………………………………………………………………………..…………….. 75

ÍNDICE DE QUADROS ………………………………………………………………………..………….. 76

ANEXOS …………………………………………………………………………………………….…………. 77

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VIII

LISTA DE ABREVIATURAS

AFN – Autoridade Florestal Nacional

CEFF – Comissões Especializadas de Fogos Florestais

COSRAM - Carta de Ocupação do Solo da Região Autónoma da Madeira

ENF – Estratégia nacional para as Florestas

IGP – Instituto Geográfico Português

ICNF - Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas

PDM – Plano Director Municipal

PGF – Plano de Gestão Florestal

PNDFCI - Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios

PNPPFCI - Plano Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra os

Incêndios Florestais

PROF - Plano Regional de Ordenamento Florestal

SIG – Sistemas de Informação Geográfica

RAM – Região Autónoma da Madeira

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Introdução

Este trabalho propõe-se a analisar a questão dos incêndios florestais a dois

níveis: o nacional, no qual se elaborará uma síntese da problemática e da evolução

desta questão em Portugal, e o regional, através da análise de um caso de estudo

concreto, nomeadamente do concelho de Santa Cruz na Madeira. Pretende-se com

esta análise de um caso específico compreender a Vulnerabilidade de um determinado

território aos incêndios florestais. Importa referir que a Vulnerabilidade é apenas um

de diversos indicadores constituintes da análise do Risco de incêndio. Avalia

determinados factores que outros indicadores de Risco não conseguem.

A problemática dos incêndios florestais tem vindo a assolar Portugal,

provocando danos sociais, económicos e acima de tudo ambientais, irreparáveis.

Assim, tendo em vista a atenuação das consequências desta problemática, e

atendendo à sua complexidade, importa explorar as diferentes dimensões que esta

assume estudando as causas concretas, bem como as tendências verificadas nos

últimos anos no país. No contexto desta dissertação, interessa ainda avaliar aspectos

estruturais do país, analisando a sua estrutura florestal e a legislação elaborada no

sentido da protecção das florestas, procurando determinar de que forma estes

elementos contribuem para a prevenção ou o agravamento do problema. Aborda-se

neste capítulo ainda a evolução das medidas legais tomadas ao longo dos anos e

avalia-se em que medida estas contribuíram para a resolução (ou não) do problema.

Estes assuntos serão abordados no capítulo 1.

Ao lidar com a análise de Risco, importa definir o modelo conceptual que será

seguido neste trabalho, uma vez que a existência de uma multiplicidade de estudos

sobre este assunto criou alguma confusão na terminologia usada por parte da

comunidade científica. Assim, no capítulo 2 explicam-se os diversos conceitos de risco

aplicados nesta investigação e as relações que estes têm entre si. Cumulativamente,

este capítulo engloba ainda uma análise às principais metodologias de risco existentes

na actualidade, tendo como objectivo entender as principais diferenças entre cada

metodologia bem como as variáveis utilizadas em cada uma destas.

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No capítulo 3 terá lugar o desenvolvimento de uma metodologia que permita

calcular a Vulnerabilidade de um determinado território. Depois de no capítulo 2 se

terem analisado diversas metodologias de Risco existentes, será realizada uma

adaptação que permita calcular as áreas mais vulneráveis em caso de incêndio na

região.

No capítulo 4 é seleccionado um caso de estudo – o concelho de Santa Cruz, na

Madeira – e é aí realizada uma análise aprofundada às características específicas do

território em questão por forma a poder proceder à elaboração de cartografia de risco,

nomeadamente da Vulnerabilidade desta região aos incêndios. A selecção do território

de estudo atendeu a diversos critérios. Antes de mais, porque a prevenção nas Regiões

Autónomas ainda está aquém do desejável. Por exemplo, enquanto em Portugal

Continental existe já uma cartografia de risco de incêndio florestal, criada pelo

Instituto Geográfico Português (IGP), isso não existe para as regiões insulares. Outro

aspecto importante foi que em 2012 este concelho sofreu de graves incêndios, pelo

que se torna um bom caso de estudo, actual e com interesse pois é uma região onde é

possível analisar as consequências do incêndio a nível ambiental, social e económico.

Ainda neste capítulo será aplicada a metodologia para o cálculo da Vulnerabilidade

bem como a apresentação e discussão dos resultados.

O capítulo 5 focar-se-á na proposta de medidas adicionais de prevenção que

podem contribuir para a diminuição da vulnerabilidade aos incêndios. Estas propostas

oferecidas terão um enquadramento tanto à escala de estudo (Santa Cruz) como à

escala nacional. Serão ainda tecidas as considerações finais relativas a esta

investigação.

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Capítulo 1: A problemática dos incêndios florestais

1. 1. Evolução do problema em Portugal

Uma vez que grande parte da área do território português se encontra coberta

por vegetação é natural que um dos maiores desafios que Portugal enfrenta seja os

incêndios florestais. No entanto importa conhecer as verdadeiras causas deste

problema, como forma de melhorar a sua prevenção. Para tal é necessário regressar à

época em que os incêndios florestais foram assumidos como um verdadeiro problema.

Isto aconteceu com a promulgação do Decreto-Lei nº 488/70, onde está escrito que

“Todas estas circunstâncias impõem, pois, a promulgação de medidas legislativas que

se coadunem com as realidades presentes, devendo reconhecer-se, tal como sucede

em muitos outros países, que os incêndios florestais, nomeadamente na sua fase de

extinção, constituem problema de ordem pública, exigindo, portanto, a intervenção

das autoridades administrativas”, coincidiu com um período em que os incêndios

florestais se agravavam drasticamente, os anos 70/80, do século passado. Nesta altura,

verificava-se um aumento significativo de ocorrências juntamente com um

crescimento da área ardida por incêndio.

Esta problemática apresenta uma abordagem complexa por englobar uma

grande diversidade de factores de origem a par de uma grande interacção entre os

mesmos. Começando pela origem do problema, este explica-se através de variáveis

socio-económicas e físicas do território, bem como administrativas. Todos estes

factores estão relacionados (como será explicado posteriormente) e contribuíram para

o agravamento da questão dos incêndios florestais.

É importante referir que Portugal apresenta à partida atributos físicos e

naturais desde logo propícios aos incêndios. O seu clima mediterrânico tem como

características principais Verões secos, quentes e longos e Invernos húmidos. Os

Verões são secos, dada a baixa humidade relativa do ar, o que juntamente com as

temperaturas elevadas, leva a que seja neste período que se registam a maior parte

das ocorrências. “O risco de eclosão de fogos florestais relaciona-se essencialmente

com o jogo entre a temperatura e a humidade do ar, sendo tanto maior quanto mais

elevada for a temperatura e a humidade mais baixa, considerando-se a velocidade do

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vento muito importante, em especial se ele vier de certos quadrantes” (F. Rebelo,

1980; L. Lourenço, 1988 e 1991).”

No que concerne à topologia, Portugal apresenta uma grande diversidade,

desde as vastas planícies a Sul até ao relevo acidentado nas regiões Centro e Norte,

com a existência de diversas serras, montes e montanhas. O relevo acidentado vem

contribuir para o aumento do risco de incêndio uma vez que “condiciona a

temperatura e a precipitação” (Ventura e Vasconcelos, 2006). A propagação de fogos

também é afectada pelos declives, sendo que esta tende a ser mais acelerada quanto

maior for o declive. Em 2006, Viegas designou de “triângulo do fogo” aos três

principais factores condicionantes do comportamento do fogo sendo estes o

combustível, a topografia e a meteorologia. Assim sendo, uma vez que em Portugal

existe uma vasta área florestal, um clima quente e um relevo relativamente

acidentado, estão assim reunidas as condições naturais favoráveis ao desenvolvimento

de incêndios florestais.

Portugal sempre foi um país maioritariamente agrícola, muito pouco

industrializado. Ao longo do século XX a sua indústria foi-se desenvolvendo, sendo que

em 1963 o valor da produção industrial ultrapassou pela primeira vez o valor da

produção agrícola. Como nos outros países da Europa Ocidental, “A industrialização da

economia portuguesa teria inevitavelmente de acarretar a diminuição da importância

da agricultura na produção nacional” (Lains, 1994). Tal como já se tinha verificado em

outros países após a Revolução Industrial, esta teve várias consequências de ordem

social e económica. Destacam-se o êxodo rural, deslocando-se a população em

direcção às cidades na busca de melhores condições de vida, provocando um

abandono dos campos, contribuindo para a uma diminuição da mão-de-obra

disponível e para o envelhecimento da mesma no sector agrícola. Consequentemente,

este sector ficou muito debilitado, ficando as matas e florestas muitas vezes ao

abandono, sem ninguém para as limpar. Isto resulta numa acumulação de combustível,

tornando estes locais mais propícios para a deflagração e propagação de incêndios.

Existiu no entanto um outro factor que contribuiu para o aumento de combustível nas

florestas. Juntamente com o abandono do meio rural, verificou-se o abandono da

lenha como principal fonte de aquecimento, bem como o aparecimento de novos

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fertilizantes químicos, factores que conduziram a uma menor utilização de lenha,

carvão e de estrumes. Deste modo, resulta que estes permanecem na floresta em vez

de serem utilizados, traduzindo-se num grande aumento da quantidade de

combustível.

Outro factor de natureza socio-económica consiste na melhoria da qualidade

de vida, que levou a que muitas pessoas citadinas fossem passear por lazer para o

campo, sendo um factor causador de incêndios por desleixo. A realização de

piqueniques ou outras actividades acentuam a acção antrópica sobre a floresta,

deixando resíduos (lixo) que podem também por vezes ser combustíveis, cigarros

acesos, etc. (L. Lourenço, 1991).

Outro aspecto muito importante, apesar de difícil quantificação, reside nos

incêndios de origem criminosa. Estes podem ter uma motivação económica, de alguém

ou alguma empresa que procura enriquecer com base num determinado terreno.

Podem também ter origem em sentimentos de vingança pessoal, ou até mesmo de

“inocentes” jogos.

A falta de consciência ecológica é um problema que se verifica em grande parte

da população, patente nos passeios descuidados, nos incêndios criminosos e até em

incêndios provocados deliberadamente por motivos recreativos que por vezes se

podem descontrolar (queimadas, fogueiras, etc). Este é um dos maiores desafios que é

necessário resolver e um dos mais complexos, uma vez que não é fácil de modificar

mentalidades. É importante destacar que os incêndios florestais são causados

maioritariamente por acção antrópica, voluntária ou não. Quando ocorrem por causas

naturais, estas podem ser duas: a combustão espontânea (fenómeno bastante raro)

ou, mais normalmente, por trovoadas. A título de exemplo, num estudo realizado em

Espanha concluiu-se que em 230.000 incêndios apenas 4% foram provocados por

causas naturais, tendo 25% causas desconhecidas e os restantes 71% foram causados

por pessoas (16% por negligência e 55% intencionais) (Martinez et al., 2009).

São estes os principais motivos que precipitaram o aumento do número de

ocorrências de incêndios bem como a sua gravidade. Como se pode ver, as causas têm

várias dimensões, sendo sociais, económicas, ambientais e culturais estando na

maioria dos casos inter-relacionadas. No entanto a identificação do problema e das

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Figura 1: Número de ocorrências de incêndio em relação à área ardida em Portugal entre 1980 e 2011.

Nota: Dados de 2013 apenas representam até ao mês de Outubro.

Fonte: Dados provenientes do ICNF.

causas não permitiu a resolução do problema. Apesar de ter sido elaborada ao longo

dos anos legislação no sentido de apresentar medidas de apoio à prevenção e combate

de incêndios, estas não têm sido eficazes. Pelo contrário, este problema continuou a

agravar-se até aos dias de hoje (fig.1), acarretando sérias consequências para o país.

A figura 1 mostra um gráfico que indica muito especificamente o sentido em que

esta situação tem vindo a evoluir ao longo dos anos. A partir do ano de 1998

deparamo-nos com um claro aumento de ocorrências de incêndios de grandes

dimensões, traduzindo-se numa área ardida muito superior ao que era observado nos

anos anteriores.

Existe outra questão que tem grande impacto nos incêndios florestais - a estrutura

florestal portuguesa. Neste caso específico, afecta a prevenção de incêndios. De

acordo com a Estratégia Nacional para as Florestas (2007), “apenas 2% da área

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Figura 1: Área ardida em Portugal Continental por ano entre 1980 e 2011

Fonte: Dados provenientes do ICFN

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florestal é propriedade pública, ou seja, praticamente toda a floresta é propriedade

privada. Isto levanta inúmeros problemas, sendo um dos principais a dificuldade de

implementação de uma política de gestão florestal verdadeiramente eficaz. Estando a

floresta distribuída nas mãos do investimento privado, naturalmente que apesar de ser

possível a criação de directrizes comuns, torna-se um processo extremamente

complexo conciliar os diversos interesses existentes com o interesse nacional.”

A nível climatológico, verifica-se ainda outro fenómeno que também contribui

para o aumento dos incêndios (ainda que não seja possível quantificar em que escala),

o aquecimento global. Estima-se que desde os anos 70 a temperatura em Portugal

tenha aumentado cerca 0.5°C por década, um aumento superior ao da temperatura

média mundial (ENF, 2007). Como consequência, os Verões tornam-se mais quentes e

consequentemente mais propícios à deflagração de fogos. No anexo I – figura 1, está

representada a evolução da média das temperaturas máxima e mínima em Portugal,

discriminando Portugal Continental, Ponta Delgada e Funchal. Tendo estes aspectos

em mente, Kasischke e Turetsky (2006) elaboraram um estudo sobre o modo como as

alterações climáticas influenciavam os incêndios, comprovando que o aumento de

ocorrências e de severidade dos incêndios está de facto relacionado com o aumento

das temperaturas que se tem vindo a verificar nas últimas décadas.

Estas “alterações recentes nas condições sociais e climáticas têm afectado

significativamente os regimes de fogo históricos, envolvendo um potencial de dano

maior do que existia tradicionalmente” (Román et al., 2012). Desta forma, é

importante perceber não apenas as causas do aumento de ocorrências de incêndio,

mas também o porquê do potencial de dano ter tendência para aumentar com o

passar dos anos.

Curiosamente, as causas dos incêndios, de um modo geral, mantêm-se as mesmas

ao longo das décadas. Significa isto que o mais grave problema continua a ser a

mentalidade das pessoas para com esta questão, não entendendo bem a dimensão do

problema e as reais consequências deste.

Apesar da sua importância, a influência dos factores humanos nos padrões

espaciais e temporais de ocorrência de incêndios não é bem compreendida

(Sturtevand e Cleland, 2007). É por este motivo que muitos investigadores se

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debruçam actualmente sobre formas de quantificar o impacto da actividade humana

no âmbito da prevenção de incêndios, através da criação de índices de risco que

integrem esta componente. Trata-se naturalmente de um tema complexo uma vez que

as actividades humanas são muito dinâmicas no espaço e no tempo, o que dificulta

muito a estimativa de padrões espaciais específicos (Martinez et al., 2009).

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) desempenham um papel fundamental

no contexto da avaliação do risco de incêndio. Vieram permitir uma optimização da

eficácia na prevenção, oferecendo apoio também na fase de planeamento. A sua

capacidade de organizar e manipular uma grande quantidade de informação em

ambiente digital permite o desenvolvimento de cartografia de apoio à decisão. É assim

possível identificar dentro de cada território as áreas de maior susceptibilidade, ou

seja, onde se verificam condições mais favoráveis para a deflagração de incêndios,

juntamente com os elementos expostos. Estes consistem numa rede de elementos

potencialmente afectados por um incêndio que interessa proteger como por exemplo

a população, infra-estruturas e actividades económicas. Deste modo é possível

delinear planos de acção tendo em vista uma maior eficácia na fase do combate, uma

vez que aquando da ocorrência de um incêndio já se conhecem previamente quais os

principais pontos a defender e as melhores rotas a tomar para chegar rapidamente ao

local em risco.

Assim, verifica-se que os SIG são actualmente uma ferramenta indispensável no

estudo do risco de incêndio. Mais, é este o meio que permite um melhor

entendimento desta problemática e é através deste que tem sido possível a concepção

de novas metodologias de risco que têm vindo a aperfeiçoar a avaliação de risco.

1. 2. Consequências físicas e socio-económicas

É importante clarificar a real gravidade das consequências provocadas pelo

crescimento do número de incêndios florestais. Antes de mais, importa salientar o

peso que o sector florestal tem no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Tratando-se

de um país com uma área florestal muito grande é natural que esta adquira

importância para a economia. De acordo com a Estratégia Nacional para as Florestas

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(2007), a “produção económica anual da floresta portuguesa é avaliada em 1,2 mil

milhões de euros”. Porém, as consequências da destruição da floresta através dos

incêndios florestais não se limitam ao impacto desta no PIB nacional. “Os prejuízos por

eles causados repartem-se por um tão vasto leque de áreas de intervenção que, em

regra, se torna impossível a sua exacta avaliação” (L. Lourenço, 1998). Mesmo

limitando-nos às consequências económicas, o sistema florestal envolve diversas

variáveis, algumas de difícil quantificação. Por estes motivos, vários investigadores

dedicam-se à procura de novos métodos que permitam avaliações mais correctas aos

danos causados por incêndios.

Na sequência de um incêndio interessa fazer uma avaliação dos estragos sendo

para isso necessário, antes de mais, determinar o valor das árvores ardidas, valor esse

que pode ser quantificado com algum rigor. Apesar de ser exequível, apenas se pode

quantificar o valor das diferentes tipologias florestais no momento do incêndio. Os

incêndios propiciam o aparecimento de pragas, que por vezes não se limitam à área

incendiada, destruindo árvores ao seu redor que não podem ser contabilizadas. Existe

ainda uma multiplicidade de actividades relacionadas com a floresta que se tornam

mais complicadas de avaliar, normalmente consistindo de actividades de subsistência

para as populações locais que sentem assim um impacto ainda maior a nível

económico nas suas vidas.

Com o intuito de dar resposta a estes problemas, têm sido realizados

recentemente diversos estudos. Actualmente, com a utilização dos SIG é mais eficiente

a espacialização dos recursos em risco, permitindo assim a quantificação do dano

potencial no caso de incêndio (Thompson, 2011). Ou seja, é possível elaborar já

previsões e estimativas do que poderá ser perdido na eventualidade de ocorrência de

um incêndio num determinado território.

No caso de os fogos atingirem áreas urbanas, terá também que se calcular os

danos causados a casas, infra-estruturas públicas, etc. Neste caso todos estes aspectos

podem ser facilmente quantificados. No entanto, L. Lourenço em 1991, chama a

atenção para a componente humana, as famílias que ficam sem casa muitas vezes

chegam a viver em condições desumanas por atrasos nos subsídios ou mesmo na não

atribuição dos mesmos. O autor atribui isto à condição social, cultural e/ou etária da

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população afectada, tratando-se muitas vezes de áreas remotas e até isoladas em que

as pessoas não sabem o que fazer para obterem os seus subsídios e indemnizações.

Outro factor económico que é esquecido frequentemente é o valor das

florestas para o turismo. Naturalmente, a abundância de espaços verdes é um

importante factor de atracção para os estrangeiros que visitam o país. Nomeadamente

num país em que o turismo adquire uma grande importância para o PIB nacional, este

aspecto é muito relevante. Mais uma vez, este é um indicador difícil de calcular – o

valor paisagístico. Para a acentuação deste problema contribui ainda a delapidação do

património ambiental e arquitectónico. Este apresenta duas dimensões, uma

económica e outra ambiental, uma vez que se tratam de áreas de interesse turístico e

de grande investimento, não esquecendo a componente ambiental, uma vez que a

devastação destes espaços resulta na destruição de ecossistemas insubstituíveis,

prejudicando severamente a biodiversidade.

Conclui-se que um incêndio pode ter graves consequências socio-económicas e

estruturais. Cumulativamente, devido à multiplicidade de elementos afectados o

processo de cálculo tendo em vista a quantificação financeira das perdas adquire uma

grande complexidade.

No entanto, as consequências dos incêndios florestais não se limitam a estas

áreas. Têm profundas repercussões no ambiente físico do país actuando a vários

níveis.

A um primeiro nível, lida-se com o grave problema da desflorestação e

desertificação do solo. Esta questão transcende o simples valor económico das

florestas, causando também a destruição de ecossistemas, ou seja, de diversas

espécies vegetais bem como de fauna, traduzindo-se assim numa enorme perda para o

ambiente. No entanto, o dano causado pelos incêndios não se cinge à desflorestação

em si, uma vez que esta provoca por sua vez danos ainda mais graves. Quando um

incêndio destrói a vegetação existente num determinado local, o processo de erosão

do solo desse local é acelerado com consequências graves. Sem a protecção da

vegetação, as primeiras chuvas após um incêndio embatem directamente no solo, o

que naturalmente leva a um maior desgaste do mesmo. Concomitantemente, as taxas

de infiltração do solo tornam-se inferiores o que vai resultar num aumento do

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coeficiente de escoamento superficial. Significa isto que grande parte da água

resultante da precipitação irá manter-se à superfície, acentuando ainda mais o seu

efeito erosivo, resultando este processo no transporte de detritos e sedimentos (L.

Lourenço, 2004).

No entanto estes efeitos são apenas as acções naturais. Este problema atinge

novas proporções quando se considera a acção antrópica. Naturalmente um incêndio

atrai a presença humana. Numa primeira fase a presença de bombeiros durante o

combate às chamas, juntamente com os seus veículos. Posteriormente é necessário

retirar a lenha destruída e proceder a limpezas recorrendo-se por vezes a maquinaria

pesada. Tudo isto provoca a deslocação de terra, provocando a libertação de detritos e

nutrientes do solo e aumentando desta forma a sua susceptibilidade aos efeitos

naturais que se seguirão. Todas estas acções acumulam pressão sobre um território já

afectado por um incêndio, vindo acentuar fortemente o impacto erosivo sobre este,

acelerando ainda mais o processo de erosão.

Concluindo, estes processos de natureza física implicam a perda das

propriedades naturais dos solos, resultando numa menor fertilidade o que poderá ter

consequências para a política florestal no futuro. Importa referir que existem algumas

excepções de espécies florestais, como por exemplo o eucalipto, que estão bem

adaptadas e conseguem recuperar rapidamente após um incêndio. No entanto, a

verdade é que a maior parte das espécies demora bastante tempo a recuperar após

ter ardido. Assim sendo, as áreas afectadas por incêndios florestais podem revelar uma

maior dificuldade na reflorestação ou qualquer outro projecto que se tenha para essas

áreas. Nesta medida, verifica-se que os incêndios florestais vêm contribuir para uma

deterioração das condições do solo do nosso país.

Importa ainda não esquecer as mais trágicas perdas derivadas dos incêndios, a

perda de vidas humanas. No ano de 2013, apenas durante o Verão, os incêndios

conduziram à morte de oito bombeiros. Este é um número demasiado elevado e que é

indicador de que algo está errado na actual política de prevenção e combate aos

incêndios.

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1.3. Enquadramento legal

Portugal sempre foi um país com uma vasta área florestal. O clima temperado

mediterrânico oferece condições extremamente favoráveis à plantação de diversas

espécies vegetais. Este factor, aliado às características físicas do país, constituído por

vastas planícies a Sul e montanhas a Norte, permitem o cultivo de grande qualidade,

quantidade e diversidade de produtos. Consequentemente, a agricultura sempre foi a

principal actividade económica deste país. Uma vez que a floresta é parte integrante

da agricultura, é curioso que apenas em 1970 tenha surgido a primeira legislação no

sentido da gestão deste recurso considerando o risco de incêndio.

Pretende-se neste ponto sintetizar a principal legislação referente à política

florestal seguida em Portugal, ordenada cronologicamente, de modo a que seja

possível analisar a evolução desta e as repercussões que a mesma teve na floresta

portuguesa.

O Decreto-Lei 488/70 surge num contexto de agravamento da situação. A

década de 60, do século passado, viu o número de ocorrências de incêndios e a área

destruída por estes aumentar drasticamente, exigindo uma resposta. Assim, foi este o

primeiro momento em que se reconheceu o perigo real dos incêndios a nível social,

económico e patrimonial, verificando-se desta forma a necessidade de prevenção e

combate a este fenómeno.

Apesar de não responder à totalidade das dificuldades sentidas naquela altura,

este documento trouxe algumas ideias muito importantes, chamando a atenção para

os principais problemas do sector florestal. Pela primeira vez, foram realizados estudos

para entender as causas dos incêndios. Estes estudos permitiram identificar muitos

dos problemas e das causas que não só dão origem dos incêndios florestais mas

também à sua propagação. Destes, o documento destaca as características climáticas

(que dão origem a uma grande época estival) e a estrutura desorganizada da

propriedade florestal privada, falta de sensibilidade e de mão-de-obra especializada.

O documento destaca medidas como por exemplo acções de sensibilização e

campanhas educativas tendo como alvo a população. Como “incentivo” à população,

outro importante ponto que esta lei apresenta é o estabelecimento de coimas e

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punições para quem não cumpra o que está na lei – que cada cidadão deve proteger o

seu património. Esta responsabilização é fundamental para que se possa conseguir

instaurar uma mentalidade no sentido da protecção das florestas. Existe também um

incentivo por parte da legislação no sentido do desenvolvimento de estudos nesta área

com o intuito de descobrir novos métodos de prevenção, detecção e combate aos

incêndios. Também as vítimas de incêndios passam a partir deste momento a serem

compensadas, tendo direito a indemnizações e outros benefícios. Outro aspecto muito

importante reside no reconhecimento da necessidade de concertação entre diversas

entidades para que seja possível a prevenção e um combate mais eficaz aos fogos. Esta

resolução revela que existia já uma compreensão da complexidade do fenómeno com

que se estava a lidar.

Apesar da publicação do Decreto-Lei 488/70 o número de incêndios continuou

a aumentar, pelo que em 1980 surgiu o Decreto-Lei 327/80. A análise do documento

revela que é muito idêntico ao que fora promulgado nos anos 70. Significa isto que

provavelmente parte do que estava especificado na lei anterior não estava a ser

cumprida, pelo que esta lei veio reforçar o que já estava definido. No fundo, este

documento vem reforçar ideias como a concertação de entidades, aumentar as coimas

e punições atribuindo ainda ao Governo um papel mais activo por exemplo com o

artigo 15º onde está determinado que este deve ser responsável pela reconstituição

dos povoamentos florestais atingidos por incêndios.

Seguiu-se quase imediatamente o Decreto Regulamentar 55/81. Documento

este que traz algumas novidades, como a introdução do conceito de risco de incêndio.

Divide também Portugal Continental Continente em 4 classes de risco, baseando-se

nos seguintes critérios:

a) Distribuição e natureza das espécies florestais e sua vulnerabilidade ao

fogo;

b) Grau de combustibilidade e inflamabilidade da vegetação arbustiva e

subarbustiva;

c) Média das temperaturas máximas do período Maio - Setembro;

d) Humidade relativa média do ar no mesmo período;

e) Morfologia do terreno;

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f) Exposição geral das vertentes;

g) Índice demográfico de utilização.

Procede-se à criação de órgãos locais, as Comissões Especializadas de Fogos

Florestais (CEFF) à escala municipal e distrital e atribuição de competências.

Determinou-se também obrigatoriedade para estas que fossem até 30 dias após a

promulgação deste Decreto, o que revela uma vontade de forçar o cumprimento.

Relativamente aos meios de detecção é montada uma rede de postos de vigia, criam-

se brigadas móveis de vigilância e aposta-se também nos meios aéreos.

No ano de 1988, surge pela primeira vez uma preocupação com a rearborização

de áreas ardidas. Pretendeu-se assim, através da criação de linhas gerais de

reflorestação, combater os efeitos negativos dos incêndios que podem ser

perpetuados através de uma rearborização irreflectida. O Decreto-Lei nº 139/88 obriga

à rearborização de áreas florestais ardidas no prazo de 2 anos e à comunicação (no

caso de utilização da mesma espécie) ou pedido de autorização (no caso de alteração

da composição do povoamento) à Direcção-Geral das Florestas. Após esta lei, este

assunto continuou a ser abordado com novas leis ao longo dos anos (Decretos Lei nº:

180/89, 327/90, 54/91, 224/98, 55/2007, 142/2008). A Lei 327/90 vem restringir a

ocupação do uso do solo em áreas ardidas, proibindo obras de loteamento urbano,

urbanizações etc. sendo alterada pelo Decreto-Lei em 54/91 acrescentando a proibição

na rotação de culturas.

Em 1996, a legislação portuguesa começou a mostrar preocupação como

planeamento e a política florestal. A promulgação do Decreto-Lei nº 33/96 criou a Lei

de Bases da Política Florestal, estabelecendo neste documento os princípios gerais da

política florestal Portuguesa, focando-se em imputar a responsabilidade aos cidadãos,

aos proprietários florestais e ao Estado (que assume um papel preponderante) na

protecção da floresta. Como objectivos destacam-se a promoção de um

desenvolvimento sustentável da floresta, a melhoria dos rendimentos dos agricultores

e produtores, assegurar a protecção da floresta e o incentivo a investigação científica e

tecnológica no domínio florestal. São ainda criados dois instrumentos de enorme

importância no ordenamento florestal, o Plano Regional de Ordenamento Florestal

(PROF) e o Plano de Gestão Florestal (PGF). O primeiro visa a criação de planos

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regionais, ou seja, pretendem definir um plano atendendo às características

específicas de cada território. Os PGF pretendem regular as intervenções de natureza

cultural e de exploração em espaços florestais. Assim sendo, estes instrumentos

complementam-se, pois os PROF definem as áreas de exploração florestais que serão

obrigatoriamente sujeitas aos PGF e estes têm necessariamente que ter em

consideração às especificações da PROF da região em causa. Importa ainda referir que

na eventualidade de os proprietários das terras não cumprirem com as obrigações, um

organismo público poderá executar as operações em causa. Estes instrumentos serão

aprofundados posteriormente com o Decreto-Lei nº 16/2009, acrescentando ainda um

novo instrumento, o Plano Específico de Intervenção Florestal (PEIF).

As mais recentes actualizações da lei ocorreram em 2004, com o Decreto

Regulamentar 5/2004, o Decreto Legislativo Regional 14/2004 e com o Decreto-Lei

156/2004. O Decreto Regulamentar leva à concepção da Agência para a Prevenção de

Incêndios Florestais sob a coordenação do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento

Rural e Pescas tendo a “missão de concertar estratégias e compatibilizar e orientar

acções concretas de prevenção e protecção da floresta contra incêndios.” Deste modo,

pretende-se com esta instituição obter uma maior coordenação e coerência entre as

instituições à escala regional e nacional. Das diversas competências atribuídas à

agência destacam-se como principais novidades a elaboração do Plano Nacional de

Prevenção e Protecção da Floresta contra os Incêndios Florestais (PNPPFCI), a

concertação e integração da informação geográfica e alfanumérica a utilizar no

planeamento da prevenção, na detecção e combate aos incêndios e a promoção do

desenvolvimento de cartografia de risco e perigo de incêndio.

No Decreto Legislativo Regional constitucionaliza-se a criação de comissões

municipais de defesa da floresta de onde se destacam as seguintes atribuições:

“- Elaborar um plano de defesa da floresta que defina as medidas necessárias

para o efeito e que inclua a previsão e planeamento integrado das intervenções das

diferentes entidades perante a ocorrência de incêndios, em consonância com o Plano

Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra Incêndios (PNPPFCI) e com o

respectivo plano regional de ordenamento florestal;

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- Propor à Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais, doravante

designada por Agência […] projectos de investimento de prevenção e protecção da

floresta contra incêndios e levar a cabo a sua execução;

- Desenvolver acções de sensibilização da população;

- Executar, com o apoio da Agência, a elaboração de cartografia de infra-

estruturas florestais, delimitação de zonas de risco de incêndio e de áreas de

abandono;

- Em matéria de incêndios florestais assegurar, em situação de acidente grave,

catástrofe ou calamidade, o apoio técnico ao respectivo centro municipal de

operações de emergência e protecção civil.”

Em 2004 é publicado o Decreto-Lei 156/2004, onde pela primeira vez se encara

a floresta como uma “prioridade nacional”. No entanto, é importante referir que está

explícito no artigo 1º do documento que esta legislação não se aplica às Regiões

Autónomas. No fundo este diploma vem reafirmar e aprofundar um pouco as medidas

já existentes. Está patente um esforço no sentido da maior prevenção, a tentativa de

diminuir o risco de incêndio através da obrigatoriedade de limpeza. Verifica-se ainda

uma maior versatilidade da lei para lidar com situações mais específicas como as

queimadas e o lançamento de foguetes.

A 26 de Maio de 2006 é aprovada a Resolução de Conselho de Ministros nº

65/2006, Neste documento é aprovado o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra

Incêndios (PNDFCI) assente em cinco eixos estratégicos:

Aumento da resiliência do território aos incêndios florestais;

Redução da incidência dos incêndios;

Melhoria da eficácia do ataque e da gestão dos incêndios;

Recuperar e reabilitar os ecossistemas;

Adaptação de uma estrutura orgânica e funcional eficaz.

Aproximadamente 1 mês depois, sai o Decreto-Lei 124/2006 consistindo um

dos primeiros pontos deste documento na revogação da Lei 156/2004 por variados

motivos. Destes destacam-se o desajustamento de conceitos, o desincentivo ao

fraccionamento da propriedade através da criação de zonas de intervenção florestal e

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ainda o facto de terem decorrido dois anos que revelaram a existência de aspectos a

ser melhorados. Ou seja, esta Lei consiste numa remodelação da sua antecessora,

procurando a melhoria de alguns aspectos.

Deste documento importa reter dois pontos: o entendimento que a política

florestal nacional “não pode ser implementada de forma isolada, mas antes inserindo-

se num contexto mais alargado de ambiente e ordenamento do território, de

desenvolvimento rural e de protecção civil, envolvendo responsabilidades de todos,

Governo, autarquias e cidadãos, no desenvolvimento de uma maior transversalidade e

convergência de esforços de todas as partes envolvidas, de forma directa ou indirecta”

(Ponto 1 do Decreto-Lei) e ainda o reconhecimento de duas componentes diferentes

da estratégia de defesa contra incêndios tendo em conta por um lado as pessoas e os

bens e por outro a defesa dos recursos florestais. De referir ainda que este documento

procede a uma necessária clarificação de conceitos no âmbito da defesa da floresta

contra incêndios com o intuito de optimizar a cooperação e concertação entre

entidades. Tal como está especificado no artigo 1º este decreto-lei enquadra-se no

contexto do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios. Nas Regiões

Autónomas esta lei só será aplicada após a respectiva adaptação à sua situação, uma

vez que as condições nestas regiões são diferentes das do Continente.

A questão da reflorestação volta a ser abordada em 2007, entrando em vigor o

Decreto-Lei nº 55/2007, procurando abordar também outras temáticas como o

combate ao incêndio criminoso, com medidas como a proibição total de construção de

edificações durante um período de 10 anos, excepto no caso de se tratar de um

empreendimento de interesse público. No entanto estas medidas têm-se revelado

insuficientes, uma vez que os incêndios criminosos continuam a suceder, sendo clara a

necessidade de novos métodos de combate a estas práticas.

A 14 de Janeiro de 2009, é publicado o Decreto-Lei 17/2009. Também este tem

como objectivo vir estruturar o Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra

Incêndios já existente. Um dos problemas identificados residia na falta de

enquadramento institucional e no facto de não existir uma definição clara das

atribuições das comissões distritais de defesa da floresta, bem como de entidades do

Estado e da administração local. Deste modo, nesta legislação estão melhor definidas

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as competências da Autoridade Florestal Nacional (AFN), e da Guarda Nacional

Republicana (GNR). Relativamente às comissões distritais de defesa da floresta ficam

melhor definidos os seus objectivos enquanto estrutura de articulação planeamento e

acção (com as comissões distritais da protecção civil), tendo como principal missão a

coordenação de programas de defesa da floresta.

Fica também definida a obrigatoriedade de elaboração e revisão dos planos de

defesa da floresta contra incêndios, forçando todos os municípios a criarem este plano

e a renová-lo como forma de adaptá-lo as alterações verificadas num território

específico ao longo do tempo.

Ainda em 2009 é publicado em anexo ao Decreto-Lei 254/2009 o Código

Florestal, que “enquadra as orientações de política florestal e abrange as normas

referentes ao planeamento, ao ordenamento e gestão florestal, determina as

incidências do regime florestal, a protecção do património silvícola, a valorização dos

recursos florestais e o regime aplicável às contra-ordenações florestais”.

Em jeito de conclusão, constata-se que com o passar dos anos a legislação

evoluiu sempre no mesmo sentido, procurando sempre aprofundar e optimizar as

medidas e ideias já publicadas anteriormente. Em primeiro lugar, houve um

entendimento da complexidade do problema, reconhecendo a sua dimensão supra

municipal e a necessidade de cooperação e concertação entre entidades a diferentes

escalas. Foram ainda criadas pelo Estado ao longo do tempo algumas entidades e

comissões com diversas atribuições e competências com o intuito de promover esta

articulação. Parte destas atribuições assentam num esforço de consciencialização da

população através de acções e campanhas de sensibilização para esta problemática

uma vez que esta é uma questão fundamental para a resolução do problema dos

incêndios. Uma vez que se estima que a grande maioria dos incêndios (principalmente

os de grande dimensão) tenham origem antrópica, voluntária ou não, a proliferação de

uma consciência ambiental é um dos mais importantes “instrumentos” a implementar.

Concomitantemente, verifica-se um aumento da aposta na prevenção dos

incêndios. Com este fim, aposta-se no desenvolvimento de índices de risco e na

produção de cartografia de risco, de modo a identificar os principais focos

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problemáticos, ou seja, as áreas onde a probabilidade de deflagração de incêndios é

superior.

Quanto ao que poderá ainda ser melhorado, especialistas defendem (como já

foi referido) que um dos principais problemas com que nos deparamos é a estrutura

florestal portuguesa, que impede o êxito da legislação criada. Lourenço (1992),

defende que apesar da legislação existente abranger praticamente todos os aspectos

inerentes à problemática dos incêndios florestais, era necessária a reformulação de

algumas leis, uma vez que algumas destas seriam contraditórias e impediam certas

práticas agrícolas necessárias. Refere ainda que um dos principais motivos que impede

o êxito da legislação é que seria necessária a criação de mecanismos legais que

permitam alterar a actual estrutura fundiária da propriedade florestal privada uma vez

que actualmente esta não permite uma política de prevenção eficaz alem de impedir a

rentabilidade de exploração da floresta. Esta preocupação não obteve resposta até à

actualidade, dado que a estrutura florestal permanece igual ao que era. Assim sendo,

este é um dos principais problemas que necessita de ser resolvido para que a

legislação tenha êxito no combate aos incêndios florestais.

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Capítulo 2: Discussão conceptual

2. 1. Ciência do risco

“A ideia de risco tem acompanhado desde sempre o Homem. No princípio, os

riscos eram exclusivamente naturais; a pouco e pouco, além desses apareceram outros

como consequência das suas próprias actividades, tendo ou não componente natural.

Hoje, os riscos são já de toda a ordem, desde os naturais aos socioeconómicos ou aos

tecnológicos (Faugéres, 1991) ”.

A ciência do risco é uma área de estudo relativamente recente, em rápido

desenvolvimento nas últimas décadas. De acordo com um estudo elaborado pela

Munichre Georisk Research Group, nas últimas três décadas a ocorrência de

catástrofes naturais triplicou, tendo o impacto económico destas aumentado seis

vezes (Birkmann, 2006). No caso específico desta investigação, o principal foco

consiste na componente do risco de incêndio. O constante agravamento dos incêndios

florestais tem levado ao reforço da investigação nesta área. Traduz-se pela

multiplicação do número de ocorrências juntamente com o aumento da dimensão das

mesmas reflecte-se num aumento exponencial de área ardida e, consequentemente,

de danos causados. Esta tendência tem-se verificado não apenas em Portugal mas em

diversos países, pelo que se torna necessária uma resposta eficaz a esta problemática.

Porém, este campo de investigação evidencia uma grande falta de organização

e estruturação, na medida em que no decorrer das investigações diferentes autores

foram definindo diversos conceitos da forma como consideraram mais correcto. Até

recentemente esta questão deu origem a uma enorme confusão conceptual. Esta está

bem presente na bibliografia sobre o assunto. Na terminologia inglesa, as palavras

“danger”, “hazard”, e “risk” surgem frequentemente com significados diferentes. A

título de exemplo, pode-se comparar o trabalho de dois autores, Varnes (1984) e Smith

(1992). Varnes define “hazard” como a “probabilidade de ocorrência num período

específico de tempo e numa determinada área de um fenómeno potencialmente

danoso”. Por outro lado Smith (1992) define “risk” como sendo “directamente

dependente da probabilidade de ocorrência de um acontecimento natural ou não”,

considerando no entanto que quando acontece um “hazard” este se limita a uma

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ameaça potencial à humanidade. Ou seja, estes dois autores atribuem o mesmo

significado a termos diferentes, de forma que a maneira como Smith descreve “risk” é

sinónima à forma como Varnes descreve “hazard”.

Destes três termos, importa distinguir o Risco que “enquanto conceito é

entendido no seu sentido mais restrito, hazard ou aléas designa a probabilidade

espacial e temporal de ocorrência de um fenómeno, neste caso um fenómeno

indesejado, pelas consequências negativas de que se reveste para o Homem e para a

sociedade” (Cunha e Dimuccio, 2002). Por outro lado, o termo “danger” foi já

considerado obsoleto e caiu em desuso.

Naturalmente esta confusão transpõe-se e chega mesmo a crescer com as

traduções e adaptações de termos para outros países. Esta inconsistência nas

definições conduz a dificuldades relativas à pesquisa.

De modo a que se entenda a gravidade desta questão pode-se observar o

exemplo acima referido, revelador de que quando diferentes autores estudam o

mesmo fenómeno tendo no entanto diferentes ideias acerca dos conceitos envolvidos,

estas investigações nunca poderão ser comparadas uma vez que não assentam nos

mesmos pressupostos (Bachmann A, Allgöwer B. 1999). Sabendo que o

desenvolvimento de uma ciência assenta fundamentalmente na elaboração de

investigações e na comparação entre as mesmas, é possível entender as

consequências adversas que este problema causa. A obtenção de conhecimento

relacionado com um determinado tema acontece através da consulta de diversas

investigações, sendo estas as bases para futuros estudos. Porém, este problema não se

limita a atingir a componente teórica desta ciência.

Está desta forma patente a necessidade de uma terminologia consistente

entendida de igual modo por toda a comunidade envolvida no tema do risco dos

incêndios florestais. Uma rede conceptual robusta será uma grande ferramenta para

que a análise de risco se possa desenvolver. Por seu lado, a análise de risco é uma

parte integrante no estudo dos incêndios florestais. Será assim possível conseguir uma

maior interdisciplinaridade que permitirá avanços nesta ciência (Bachmann A, Allgöwer

B. 1999). Deste modo, tornou-se imperativo proceder a uma uniformização

conceptual.

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Mas a terminologia não se limita aos três termos já mencionados. A avaliação

de risco trata-se de um processo complexo que tem em consideração uma diversidade

de factores, não sendo uma “ciência” certa. Por este motivo, torna-se necessária a

utilização de uma multiplicidade de conceitos, de maneira a que seja possível avaliar

da melhor forma todas as componentes que o influenciam, bem como as diferentes

fases de um incêndio.

Uma vez que esta investigação tem como objecto de estudo uma região de

Portugal, a linha conceptual seguida será a que está estipulada para este território. No

que concerne ao nosso país, apenas em 2009, aquando da publicação do Guia

Metodológico para a Produção de Cartografia Municipal de Risco e para a Criação de

Sistemas de Informação Geográfica (SIG) de Base Municipal surgiu um documento

uniformizador de conceitos. Projecto promovido pelo Governo (Despacho n.º

27660/2008), um dos grandes objectivos assumidos neste trabalho reside na

“uniformização de conceitos técnicos e de metodologias de identificação e

representação cartográfica da informação” uma vez que esta se torna “essencial para

um trabalho conjunto, articulado e coerentemente organizado, de modo a produzir os

resultados desejados” (Guia Metodológico para a Produção de Cartografia Municipal

de Risco e para a Criação de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) de Base

Municipal, 2009). Este documento foca-se na determinação de uma metodologia

específica para a produção de cartografia municipal de risco tendo em vista a sua

uniformização referente a todo o país. Simultaneamente, define um quadro

conceptual de risco que deve ser seguido por toda a cartografia à escala municipal.

Relacionados com o conceito de Risco, surgiram ao longo dos anos outros

conceitos como a Susceptibilidade e a Vulnerabilidade para descrever diferentes

aspectos e fases de um fenómeno de causas naturais ou antrópicas com

consequências nefastas para o Homem ou para o Ambiente. Estes permitem um

melhor entendimento destes processos, não existindo porém até à publicação deste

Guia a uniformização destes conceitos. Os conceitos abordados neste quadro têm uma

óptica de análise do risco, considerando todos os fenómenos/processos naturais,

tecnológicos ou mistos que tenham consequências sociais, económicas ou ambientais.

Este trabalho tem uma enorme pertinência pois diversos conceitos aparentam por

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vezes ser semelhantes mas têm significados diferentes, sendo da maior importância a

sua distinção. Existem ainda relações entre estes conceitos que devem ser tidas em

consideração quando se aborda a temática dos riscos do território. Ou seja, esta linha

conceptual apresenta alguma complexidade, motivo pelo qual é necessária a

clarificação dos conceitos tendo em vista a análise do risco num determinado

território.

2. 2. Modelo Conceptual

A temática do Risco engloba os seguintes conceitos:

Perigo;

Severidade;

Susceptibilidade;

Perigosidade ou Probabilidade de Perigo;

Exposição (elementos expostos);

Elementos Expostos Estratégicos/Vitais e/ou Sensíveis;

Vulnerabilidade;

Valor;

Consequência ou Dano Potencial;

Risco.

Importante também salientar que todos estes conceitos apresentam duas

dimensões: uma qualitativa (carácter explicativo) e outra quantitativa (cada uma é um

indicador que pode ser calculado). A figura 2 mostra um modelo conceptual que

simplifica as relações entre os diferentes conceitos de Risco.

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Perigo

Enquanto Perigo se refere a um processo susceptível de produzir perdas ou

danos identificados, Perigosidade/Probabilidade de Perigo consiste na probabilidade

de ocorrência de um processo com potencial destruidor e com uma determinada

severidade, numa dada área e num dado período de tempo. Quer isto dizer que o

Perigo se refere simplesmente a um determinado processo enquanto a Perigosidade

traduz a probabilidade de esse processo acontecer num determinado território. A

avaliação do Perigo pode ser visto como um substrato da avaliação do risco (Bukowski,

2006), sendo uma componente fundamental no cálculo do Risco a que um

determinado território está sujeito.

Susceptibilidade

Esta traduz-se numa incidência espacial do perigo, ou seja, é a propensão que

uma área tem para ser afectada por um determinado perigo em tempo

indeterminado. É avaliada com base nos factores de predisposição para a ocorrência

de processos como por exemplo no caso dos incêndios florestais os factores

climatéricos ou a existência de excesso de combustível numa determinada área. Não

tem em consideração a probabilidade de ocorrência, apenas o facto de poder ocorrer

Figura 2: Modelo conceptual de Risco.

Fonte: Verde e Zêzere (2007).

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sustentado por especificidades do território. É este o principal indicador de risco a ter

em conta pelas autoridades envolvidas no planeamento e gestão do território uma vez

que é este indicador que determina as áreas mais sujeitas a riscos, onde será

necessária uma intervenção mais cuidada. Este indicador adquire um papel tão

relevante no Ordenamento do Território actual que é (juntamente com a Carta de

Elementos Expostos) uma Carta de produção obrigatória à escala municipal. Significa

isto que antes da elaboração de um Plano Director Municipal (PDM) é obrigatório para

os municípios produzirem a cartografia respeitante a este indicador.

Exposição

A Exposição consiste na criação de uma carta representativa da população,

propriedades, estruturas, infra-estruturas, actividades económicas, etc. expostos a um

determinado processo perigoso natural, tecnológico ou misto, num determinado

território. Também esta cartografia é indispensável aquando da elaboração de um

PDM, uma vez que é importante que ao conceber este documento se tenha o

conhecimento exacto não apenas de todos os elementos num território expostos aos

perigos, mas também da sua localização.

Elementos Expostos Estratégicos, Vitais e/ou Sensíveis

Refere-se a um conjunto de elementos expostos de importância vital e

estratégica, fundamentais para a resposta à emergência (como por exemplo hospitais,

bombeiros, autoridades civis e militares). Este instrumento adquire assim não apenas

uma dimensão de prevenção de um fenómeno (através da localização destes serviços)

mas também ao combate uma vez que serve de apoio ao planeamento de acção e

apresenta uma rede de serviços de emergência cuja articulação será necessária na

eventualidade de uma cheia, terramoto, incêndio ou qualquer outro fenómeno

perigoso.

Os restantes conceitos dizem respeito à avaliação das consequências de um

processo. Ou seja, são relevantes após o acontecimento de um fenómeno destruidor,

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tendo por objectivo avaliar os danos por este causado. É aqui que entram a

Severidade, a Vulnerabilidade, o Valor, a Consequência/Dano Potencial e o Risco.

Severidade

A Severidade tem em conta a capacidade de um processo para causar danos

tendo unicamente em conta a sua magnitude/intensidade, ou seja, não engloba as

consequências de um determinado fenómeno. Apesar de não ter em conta os danos

em concreto de um dado processo, avalia a dimensão física deste, o que por exemplo

no caso dos incêndios é muito relevante pois ao analisar a sua dimensão é possível

determinar em que sentido este se propagou bem como as causas.

Vulnerabilidade

O conceito de Vulnerabilidade é definido como consistindo no “grau de perda

ou de estragos provocados por um dado elemento em risco ou um conjunto de

elementos em risco (população, actividades económicas) resultante da ocorrência de

fenómenos naturais” (Nações Unidas, 1984). Este conceito manteve-se relativamente

consensual deste que surgiu. No entanto, apenas com este Guia Metodológico em

2009 é que este conceito é oficializado em Portugal, acrescentando a esta definição

apenas o método de quantificação do mesmo, atribuindo uma escala de 0 (sem perda)

a 1 (perda total). Deste modo, a Vulnerabilidade é uma medida que pretende calcular

e demonstrar a perda resultante de um determinado processo (incêndio, cheias, etc.).

A título de exemplo, depois de um incêndio, caso se queira apurar os estragos

causados por este processo terá necessariamente de se proceder ao cálculo da

vulnerabilidade. Porém, este indicador poderá ser conjugado com o Valor caso o

intuito consista na obtenção da quantificação dos danos em termos monetários. Neste

contexto, pode ser avaliada de diferentes modos, desde o valor económico-financeiro

dos prejuízos (análise custo-benefício) e a quantidade de energia necessária para

reparar as perdas e danos, às chamadas técnicas multi-critério em que se conjugam

diversos destes elementos (DAUPHINÉ, 2001).

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Naturalmente, este conceito encontra-se também intimamente relacionado

com a Severidade, pois neste caso os estragos causados dependeriam da dimensão

física do processo ocorrido. A Vulnerabilidade pode também ter um carácter

preventivo, caso se pretenda representar um cenário, com base nas características de

um determinado território em que se efectua uma estimativa do que se perderia na

eventualidade de ocorrência de um desastre. No fundo, procura traduzir as

consequências previsíveis, sobre o homem e a sociedade, de um fenómeno natural

(Cunha e Dimuccio, 2002).

Valor

O Valor corresponde ao valor monetário (ou estratégico) de um elemento em

risco, devendo corresponder ao custo de mercado da respectiva recuperação tendo

em conta o tipo de construção ou outros factores que possam influenciar esse custo.

Deve incluir a estimativa das perdas económicas directas e indirectas por cessação ou

interrupção de funcionalidade, actividade ou laboração. Resumindo, é a forma de

quantificar monetariamente as consequências que resultam de uma catástrofe numa

determinada área.

Consequência ou Dano Potencial

O conceito de Consequência ou Dano Potencial consiste no prejuízo ou perda

expectável num elemento ou conjunto de elementos expostos, em resultado do

impacto de um processo (ou acção) perigoso natural, tecnológico ou misto de

determinada Severidade. Por outras palavras, para o cálculo deste indicador é

necessário ter em conta a Vulnerabilidade e o Valor dos elementos expostos

determinando assim as consequências totais de um determinado processo.

Consequentemente, estes três conceitos estão intrinsecamente relacionados, sendo

que a sua utilização depende do resultado final pretendido.

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Risco

Finalmente aborda-se o conceito de Risco, podendo ser considerado como um

conceito generalista ao qual todos os restantes estão associados. Em termos

concretos, define-se pela probabilidade de ocorrência de um processo perigoso

juntamente com a estimativa das suas consequências sobre pessoas, bens ou

ambiente. Esta definição é reforçada no “Risk Assessment and Mapping Guidelines for

Disaster Management”, publicado pela Comissão Europeia no ano de 2011. Assim

sendo, na eventualidade de se pretender a quantificação deste indicador em concreto,

é necessário considerar a Perigosidade e a Consequência. Ou seja, enquanto conceito

encontra-se relacionado com todos os outros, no entanto enquanto indicador só pode

ser quantificado no contexto de análise das consequências de um determinado

processo.

Verifica-se assim que os conceitos de risco se encontram actualmente bem

definidos tendo assim sido resolvida a questão da confusão conceptual, e que

apresentam entre si uma grande interacção. Quer isto dizer que para efectuar uma

análise cuidada e eficaz quer ao nível da prevenção (através da análise das condições

existentes num território num certo momento) quer ao nível da avaliação das

consequências após a ocorrência de um determinado processo é necessário o domínio

destes conceitos, permitindo assim a articulação entre os mesmos tendo em vista a

compreensão total de um fenómeno juntamente com o impacto real deste no

território.

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2. 3. Análise de metodologias de risco existentes

O quadro seguinte (quadro 1) tem como objectivo identificar e explicar

sumariamente algumas das principais metodologias existentes, focando-se

principalmente em metodologias que poderiam ser aplicáveis ao território Português.

Autores Variáveis

consideradas/Ponderação Metodologia Comentário

Chuvieco e Congalton

(1989)

- Vegetação: 100 - Elevação: 30 - Declive: 10 - Exposição solar: 5 - Proximidade à rede viária: 2

1. - Análise multicritério e integrada ao risco de incêndio;

2. - Hierarquização das variáveis -> atribuição de peso com base na importância que cada uma tem para o risco de incêndio.

Inovadora, no sentido em que foi a primeira metodologia que procura uma abordagem integrada ao risco de incêndio. Constitui a base de quase todas as metodologias a partir desse ponto.

IGP (2004)

- Ocupação do solo: 590 - Declives: 210 - Rede Viária: 70 - Exposição solar: 60 - Densidade demográfica: 40 -Visibilidade por postos de vigia: 30

3. - Elaboração de Carta uma de susceptibilidade;

4. - Reclassificação das cartas temáticas em 5 classes (Muito Baixa, Baixa, Média, Alta e Muito Alta).

Baseada em Almeida (1995) e Chuvieco e Congalton (1989)

IGP (2009)

- Ocupação do solo: 590 - Declives: 210 - Rede viária: 90 - Exposição solar: 60 - Densidade demográfica: 50

5. - Deixou de se considerar os postos de vigia; - Aumento da ponderação demografia.

Resultados semelhantes à metodologia usada em 2004.

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Autores Variáveis consideradas/Ponderação Metodologia Comentário

Vettorazzi e Ferraz (1998)

- Vizinhança (50m): 5 - Rede viária: 4 - Ocupação do solo: 4 - Os declives: 3 - Exposição Solar: 2

6. - Peso de cada variável atribuído de 1 e 5;

7. - Subclasse das variáveis classificadas de 1 a 20 consoante a sua influência para o risco.

-Metodologia criticada por, ao contrário do que defendem a maioria dos especialistas, não atribuir mais importância à ocupação do solo do que às restantes variáveis.

Virginia Department of Forestry

Variável Montanha Planície Litoral

Ocupação do Solo

32 40 21

Declive 9 14 13

Exposição 10 2 13

População 14 16 14

Rede viária 7 8 11

Caminhos-de-Ferro

4 6 5

Ocorrências 24 24 23

8. - Subclasses das variáveis classificadas de 0 a 10;

9. - A ponderação só entra em função da sua localização no litoral, na planície ou na montanha.

- Algumas dúvidas na ponderação relativamente à localização por exemplo em relação à montanha ter menos peso do que as planícies uma vez que áreas de maior altitude costumam apresentar maior risco.

Mário R. Caetano,

Sérgio Freire & Hugo Carrão (2004)

- Vegetação: 100 - Declive: 30 - Exposição solar: 10 - Proximidade a estradas ou áreas urbanas: 5 - Elevação: 2.

10. - Reclassificação de índice estrutural de incêndio (3 classes) e de índice potencial de incêndio (4 classes).

- Pretende integrar as variáveis estruturais e as dinâmicas; - Revela um esforço para considerar a actividade humana.

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Quadro 1: Quadro de síntese das principais características de algumas metodologias de risco existentes. Quadro

completo pode ser consultado nos anexos (anexo V).

Autores Variáveis consideradas/Ponderação Metodologia Comentário

Abhinnet, J., Shirish A. R. (2006)

- Vegetação: 10 - Habitações: 5 - Estradas: 5 - Declives: 3

11. – Variação das subclasses com vegetação de 1 a 10, habitações e estradas de 1 a 4 e declives de 1 a 5;

12. –Reclassificação do índice de risco em 5 classes.

- Grande preocupação com a componente humana; - Analisa áreas ardidas no passado e comprova que maioria dos incêndios tem origem próximo de estradas, caminhos e urbanizações.

Neste quadro estão expostos os princípios básicos de algumas das mais

utilizadas metodologias de risco. Este conjunto de metodologias surge nesta

investigação com um propósito. Em primeiro lugar, permite-nos entender o estado

actual da ciência da avaliação de risco de incêndio, bem como em que sentido tem

vindo a evoluir. Ou seja, analisando estas diferentes metodologias é possível constatar

a que factores foi sendo atribuída maior relevância na análise de risco ao território,

bem como diferentes formas de considerar as diferentes variáveis. Por exemplo, a

variável antrópica pode ser avaliada em função da proximidade de estradas, das

habitações ou da densidade populacional. Mais recentemente têm sido realizados

estudos com o intuito de analisar componentes mais específicas do risco de incêndio,

como aprofundar a componente humana, identificada claramente como a principal

causa dos incêndios. Porém, este factor de risco revela uma grande complexidade de

análise sendo ainda impossível determinar com total clareza o seu impacto, bem como

o seu enquadramento eficaz na análise de risco.

As diferentes abordagens seguidas em cada metodologia originam diferentes

resultados, sendo que estes dependem totalmente das variáveis consideradas. Importa

assim escolher variáveis (e suas subclasses) de modo a que se enquadrem e

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representem bem as características específicas da região em estudo. O processo de

selecção de variáveis será sempre a parte mais relevante na elaboração de uma

metodologia de risco.

Uma vez que o principal objectivo desta investigação reside no

desenvolvimento de uma metodologia de Vulnerabilidade, que é uma componente do

Risco de incêndio, esta será inspirada em algumas das metodologias expostas neste

quadro. Convém no entanto lembrar que a metodologia final deste trabalho procurará

determinar a Vulnerabilidade da região em estudo, e não o Risco de incêndio. Porém, a

análise destas metodologias não deixa de ser muito importante por todos os factores

já mencionados, bem como pela similaridade entre os factores de risco considerados.

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Capítulo 3: Proposta metodológica para aferir a Vulnerabilidade

No desenvolvimento de uma metodologia, o passo mais relevante consiste na

selecção de variáveis a considerar. A escolha destas variáveis tomou em consideração

as metodologias analisadas no quadro do capítulo anterior, selecionando as que foram

consideradas mais relevantes para o cálculo da Vulnerabilidade:

- Ocupação do solo (vegetação);

- Estado da rede viária;

- Declive;

- Exposição solar.

Para o cálculo da Vulnerabilidade proceder-se-á à reclassificação de cada

variável em 3 níveis: baixa (1), média (2) e elevada (3). As diferentes variáveis têm

diversas classes e é a estas que serão atribuídos valores entre 1 e 3, correspondentes

ao grau de vulnerabilidade que cada uma representa. Importa destacar que na

vulnerabilidade a acção das pessoas não tem peso, uma vez que se trata da construção

de um cenário na eventualidade de um incêndio estar a ocorrer, pelo que apenas as

características do território devem ser consideradas.

Desta forma procura-se incorporar nesta análise os principais factores de propagação

de um incêndio. Em seguida explicar-se-á o porquê da escolha de cada uma destas

variáveis.

Ocupação do solo

Em relação à vegetação, é em todas as metodologias analisadas o principal

factor de risco. No cálculo da Vulnerabilidade é indispensável a sua utilização como

forma de identificação das áreas onde esta existe e da dimensão destes espaços. Uma

vez que a vegetação é o principal combustível para o fogo é obrigatória a sua

consideração em qualquer indicador de risco de incêndio.

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Quadro 2: Vulnerabilidade das diferentes espécies de árvores.

Fonte: Adaptado de DGRF (2007).

Na DGRF (2007) foi publicado um estudo onde se especificava a

Vulnerabilidade de cada um dos tipos de árvore presentes no território português.

Assim sendo, serão estes valores que serão utilizados para esta metodologia.

Eucalipto Castanheiro Carvalhos Outras

Folhosas

Pinheiro

Bravo Resinosas Matos

0,75 0,70 0,60 0,50 1 1 0,40

Para a reclassificação desta variável e com base nestes valores de Vulnerabilidade

serão criadas três classes de vulnerabilidade, de acordo com a reclassificação

estipulada do índice da Vulnerabilidade.

- Vulnerabilidade baixa: 0 – 0.5

- Vulnerabilidade média: 0.51 – 0.7

- Vulnerabilidade elevada: 0.71 – 1

Rede viária

Para a avaliação da acessibilidade de um território é necessário avaliar a

constituição da sua rede viária. Enquanto na análise do Risco de incêndio esta variável

costuma aparecer como indicador da intervenção humana neste caso ela pretende

medir as acessibilidades do território, um factor preponderante na Vulnerabilidade,

uma vez que a progressão de um incêndio depende muito deste aspecto.

O impacto das acessibilidades na Vulnerabilidade de um território é muito

elevado. Em primeiro lugar, este é um dos factores mais relevantes na celeridade da

intervenção das forças de combate aos incêndios. A qualidade da rede viária

desempenha assim um papel fundamental na análise da Vulnerabilidade, uma vez que

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na eventualidade de um incêndio, é importante que existam bons acessos para todo o

território. Caso isso não aconteça, o combate às chamas não será eficaz e estas

propagar-se-ão dando origem a mais estragos.

Existe ainda outro aspecto em que a rede viária influencia a propagação dos

fogos. A dimensão de uma estrada poderá servir de barreira artificial à proliferação de

um incêndio podendo confiná-lo a uma determinada área. Pelo contrário um caminho

de terra que normalmente tem pequenas dimensões permite que o fogo passe com

facilidade e rapidez para o outro lado da via onde este se continua a propagar.

Declive

A forma como o declive impacta directamente não só a deflagração mas

também a progressão de um incêndio já foi referida anteriormente. Deste modo,

conclui-se que quanto maior for o declive maior perigo este representa em caso de

incêndio. No que concerne à Vulnerabilidade, quanto mais acidentada for uma

determinada área mais vulnerável esta será, uma vez que terrenos mais íngremes são

favoráveis à propagação dos incêndios, resultando em danos superiores. Importa ainda

considerar a dificuldade acrescida que declives muito acentuados representam na fase

do combate aos incêndios. Um combate ineficaz significa que o fogo continua a

alastrar-se, aumentando desta forma o dano potencial de um incêndio.

Exposição solar

Também a importância da exposição solar para o risco de incêndio será

abordada um pouco mais a fundo mais a frente. No contexto da Vulnerabilidade,

quanto maior for a exposição solar de um determinado local maior a probabilidade de

ignição, actuando também como um factor favorável à propagação dos fogos. Mais, a

exposição solar tem uma profunda relação com a topologia de um território, indicando

a orientação geográfica da inclinação das vertentes. Permite assim elaborar previsões

da direcção para que os incêndios se poderão propagar, o que significa que este é um

factor muito importante no cálculo de Vulnerabilidade.

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Para a elaboração de um mapa final será necessário realizar um overlay de toda

a informação, pelo que haverá necessidade de atribuir uma ponderação às diferentes

variáveis.

Esta ponderação será adaptada de algumas das metodologias abordadas no

capítulo 2 adaptando-as ao caso específico do território em estudo. Atribuindo maior

ponderação à vegetação (que é constantemente o maior factor de risco) e aos

declives, que têm sempre profunda influência na propagação de um incêndio.

Assim sendo, a ponderação proposta será:

- Ocupação do solo – 40%

- Declives – 30%

- Rede viária – 20%

- Exposição solar – 10%

Esta metodologia apresenta semelhanças em relação às metodologias de risco

abordadas anteriormente. No entanto, convém lembrar que esta é uma análise à

Vulnerabilidade, e não ao Risco de incêndio. Considerando isto, o principal aspecto

diferenciador das restantes metodologias reside na interpretação da variável “rede

viária”. Enquanto esta aparece muito no estudo do risco, ela é utilizada sempre

associada à integração da componente humana. Importa lembrar que enquanto o

Risco de incêndio pretende identificar as áreas onde a probabilidade de deflagração de

um incêndio é maior, a Vulnerabilidade consiste na criação de um cenário a partir do

momento em que este deflagra, pretendendo identificar os locais em que, ocorrendo

um fogo, este poderá ter maior severidade e causar mais estragos. Neste contexto, a

rede viária surge associada às acessibilidades do território e à forma como estas

influenciam o comportamento do fogo.

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Figura 3: Enquadramento geográfico do concelho de Santa Cruz na Região Autónoma da Madeira.

Fonte: CAOP 2012.

Capítulo 4: Caso de Estudo: O concelho de Santa Cruz

4.1 Área de estudo e dados geográficos

O concelho de Santa Cruz localiza-se na costa sul da Região Autónoma da

Madeira, com uma área total de 96km². Incluídas nesta área encontram-se as Ilhas

Desertas, que fazem parte deste município. Santa Cruz tem como limites físicos o

Funchal a Oeste, o Machico a Norte e o Oceano Atlântico a Sul (Figura 3). É composto

por cinco freguesias: Santa Cruz, Caniço, Gaula, Camacha e Santo António da Serra.

A aquisição de informação para a realização desta dissertação foi difícil. Por

fim, foi possível contactar a Câmara Municipal de Santa Cruz que teve a cortesia de

fornecer informação para esta investigação. Os seguintes dados foram cedidos:

- Altimetria (2007);

- Ambiente (1999);

- CAOP (2012);

Limites administrativos

Área de estudo

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- COSRAM (2007);

- Ortofotomapas (2004, 2007, 2010);

- PDM;

- Pontos de Interesse.

Considerando os dados obtidos, a informação utilizada para a aplicação da

metodologia consistirá na conjugação da altimetria, da COSRAM e do ortofotomapa de

2007. Também a caracterização das especificidades do território se baseará na

sobreposição das classes que serão avaliadas que constam na Carta de Ocupação do

Solo da Região Autónoma da Madeira (COSRAM) sobre o ortofotomapa. A

caracterização do território será acompanhada sempre de mapas ilustrando as

principais especificidades deste uma vez que só assim é possível identificar e localizar

as suas características mais relevantes.

Isto significa que esta dissertação tem como objectivo o desenvolvimento de

uma proposta de metodologia, no entanto a sua aplicação será apenas como modelo

de implantação prática, não representando assim a real Vulnerabilidade actual de

Santa Cruz.

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4.1.1 Caracterização Física e Socioeconómica do concelho de Santa

Cruz

A caracterização física deste território visará focar apenas as diferentes

especificidades da área de estudo que interferem ou tenham influência na avaliação

de risco de incêndio.

Um dos primeiros aspectos de natureza física a considerar na região é o clima.

A Região Autónoma da Madeira tem um clima diferente de Portugal Continental.

Enquanto no território continental português o clima mediterrânico proporciona um

elevado risco de incêndio durante longos períodos (Verão), a Ilha da Madeira

apresenta um clima subtropical, no qual muito raramente se verificam temperaturas

extremas. De um modo geral, apresenta temperaturas medianas e suaves, pelo que

não é costume existirem grandes variações mantendo uma temperatura de

aproximadamente 20ºC ao longo dos anos (Anexo I – Figura 2). Regista ainda valores

de precipitação estáveis, com excepção do ano de 2010 (Anexo I – Figura 3). De referir

ainda que a Madeira no geral é uma região montanhosa o que gera por vezes alguns

contrastes. Considerando todos estes factores, conclui-se que o clima na Madeira não

assume a relevância que assume noutros locais enquanto factor de risco.

O relevo de um território tem profundas consequências na ignição e na

propagação dos fogos. Dependendo da altitude do relevo num determinado território,

mesmo o clima pode ser profundamente influenciado. Por exemplo, na eventualidade

de existirem montanhas muito altas, estas vão influenciar a temperatura, a humidade,

a precipitação e também os ventos, podendo abrandá-los, alterar a sua direcção e

mesmo pará-los se vierem de uma determinada direcção. Para além de influenciar o

risco de ignição, numa situação de incêndio torna-se essencial ter um conhecimento

das características topográficas de um território uma vez que este condiciona

fortemente a propagação do fogo em termos de intensidade e mesmo de rumo.

Neste contexto, interessa analisar o relevo do território em estudo. Para a

análise topográfica do território torna-se necessária a elaboração de cartografia.

Os declives têm extrema importância na propagação de um incêndio, sendo

que a cada 10% de aumento de declive, regra geral, é duplicada a velocidade de

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propagação do fogo (X. Viegas, 1989). Por outro lado, são também relevantes na fase

de combate às chamas podendo dificultar a mobilidade dos bombeiros. Neste sentido,

e uma vez que este trabalho se foca nos incêndios, a cartografia topológica elaborada

consistirá não na criação de uma carta topológica (que identificaria as áreas mais

montanhosas) mas na produção de uma carta de declives e de uma carta de exposição

solar. A carta de declives de Santa Cruz (figura 4) mostra a inclinação das vertentes, em

percentagem. Para a sua elaboração foi necessário reclassificar a imagem em 5

intervalos iguais, uma vez que existiam valores muito discrepantes devido à grande

variação da altimetria. Estes valores diziam respeito à área noroeste do concelho,

quase no limite da freguesia de Camacha, sendo uma área muito reduzida e muito

pouco representante para o estudo deste território. A observação desta carta permite

concluir que o território tem um relevo algo acidentado, sendo no interior que se

encontram os principais declives. Podemos constatar que é em Santo António da Serra,

na Camacha e em Gaula onde se observam declives de maior intensidade. De resto,

verifica-se que o litoral é praticamente plano, exibindo no mapa cores claras em

contraste com as cores escuras verificadas na zona central de Santa Cruz. No todo,

conclui-se que o concelho de Santa Cruz é algo acidentado, com uma clara tendência

de aumento de declive à medida que se avança do litoral para o interior. No entanto,

na ciência do risco de incêndio importa ter sempre em atenção as áreas onde existem

os maiores declives. Outro factor importante profundamente relacionado com este

consiste direcção geográfica da inclinação das vertentes, informação extremamente

valiosa na fase de combate aos incêndios. Com este conhecimento, é possível prever

em que direcção o fogo se propagará. Para apurar esta variável, procede-se à

elaboração da carta de exposição solar (figura 5). Esta revela não apenas a direcção da

inclinação das vertentes (com base no ângulo em que são visadas pelo sol), mas

identifica também quais destas se encontram mais expostas ao sol, e que

consequentemente representam maior risco de incêndio. Nesta carta, as cores mais

claras representam uma maior exposição solar.

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No contexto socioeconómico este concelho caracteriza-se com uma dinâmica

positiva tendo-se verificado nos últimos anos um crescimento tanto a nível

demográfico como económico, tendo a população residente quase duplicado nos

últimos 10 anos (Anexo III – Quadro 2). O quadro 3 representa a estrutura etária da

população residente em Santa Cruz.

No anexo III – quadro 1, encontram-se diversos indicadores caracterizadores da

estrutura demográfica da região, por comparação com o Continente e com os

restantes concelhos da Madeira. É importante salientar que Santa Cruz apresenta uma

taxa de crescimento natural superior à verificada tanto na restante Madeira como no

Continente, possuindo a mais elevada taxa de natalidade e uma das mais baixas taxas

de mortalidade. Em relação à densidade populacional, o concelho de estudo também

se destaca sendo ultrapassado apenas pelo Funchal e Câmara de Lobos.

População residente

Total 0-14 15-24 25-64 65+

Santa Cruz 42977 8079 4756 25711 3330

Figura 4: Carta de Declives de Santa Cruz. Figura 5: Carta de Exposição Solar de Santa Cruz.

Quadro 3: Estrutura etária de Santa Cruz em 2011.

Fonte: Própria. Adaptado do Anuário Anual Estatístico da Região Autónoma da Madeira, INE, 2011.

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42

Quadro 4: Estabelecimentos e capacidade de alojamento e proveitos de aposento nos estabelecimentos hoteleiros

por município 2011.

Fonte: Anuário Anual Estatístico da Região Autónoma da Madeira, INE, 2011.

A nível económico verifica-se neste território uma predominância do sector

terciário, concentrando-se principalmente na área do comércio e serviços. Este

concelho tem desde logo dois aspectos muito fortes e potenciadores ao

desenvolvimento do turismo: o Aeroporto Internacional da Madeira e um grande

património ambiental.

Tudo isto traz grandes vantagens à região que naturalmente procura aproveitar

estas condições excepcionais efectuando com este intuito grandes apostas no sector

turístico, sendo este actualmente o principal destino de investimento. Recentemente

tem sido seguida uma política que tem tido como claro objectivo o desenvolvimento

do turismo na região, dirigindo-se o investimento para o sector da hotelaria bem como

para os empreendimentos imobiliários.

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43

A capacidade hoteleira de Santa Cruz está explícita no quadro 4, através do

número de estabelecimentos, bem como a capacidade de alojamento, sendo

ultrapassado neste sector apenas pelo Funchal. Correspondentemente é também (à

excepção do Funchal) a região que mais lucro obtém do turismo, como se pode

constatar observando os proveitos de aposento, atingindo quase 20 mil euros

unicamente em dormidas no ano de 2011. Naturalmente que o real impacto do

turismo na região é muito superior a este valor, uma vez que a economia local

beneficia também muito com a estadia de turistas.

Outro sector importante da economia da região é a agricultura (Anexo II –

Mapa 1). Atendendo às condições climatéricas da Madeira, este território apresenta

solos muito férteis, possuindo assim excelentes condições para a prática agrícola.

O anexo III – quadro 1 faz referência a toda a Região da Madeira, no entanto no

que concerne à produção local, produzem-se em Santa Cruz maioritariamente:

batatas, frutas, flores e vinho. Santa Cruz é actualmente o principal produtor de vinho

na Madeira (anexo III – quadro 2). Este município é também o principal produtor no

sector da pecuária (anexo III – quadro 3), pelo que esta assume também grande

relevância para a economia local. A exploração pecuária é traduzida na figura 8 pela

quantidade de prados naturais existentes, usados como pastagens pelos criadores de

gado. O sector industrial não é muito relevante, destacando-se a indústria metalúrgica

e a alimentar que consiste maioritariamente no tratamento de carnes que vêm da

produção pecuária local.

A figura 6 indica a localização de alguns pontos de interesse que permitem uma

caracterização do território. Pretende-se assim analisar a distribuição espacial no

território dos principais serviços, evitando a confusão que resultaria caso de

pretendesse utilizar mais pontos de interesse. Foram também seleccionadas algumas

variáveis já mencionadas anteriormente, como os estabelecimentos hoteleiros e os

restaurantes. A observação do mapa mostra claramente a existência de três

concentrações de serviços – no Caniço, na Camacha e em Santa Cruz.

Importa ter em atenção também a localização dos quartéis dos bombeiros e

das forças de segurança, uma vez que se concentram em redor do aeroporto. No

entanto, importa referir a falta de bombeiros ou esquadras no Caniço. Outra questão

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44

consiste, como se observará mais à frente, na localização dos quartéis de bombeiros

uma vez que se situam a uma distância considerável das principais manchas florestais

do concelho, situadas na Camacha e em Santo António da Serra. Com a excepção

destes focos de construção e infra-estruturas, o restante território de Santa Cruz

consiste principalmente em espaços verdes, com reduzida densidade de infra-

estruturas.

Administração pública Equipamentos de utilização colectiva Equipamentos de justiça

Câmaras municipais

Juntas de freguesia

Salas de espectaculo

Piscinas

Museus

Igrejas

Escolas

Desporto

Centros de saúde

Estabelecimentos hoteleiros

"

"

X

X

X

X

X

X

X !( Tribunais

! Forças de Segurança

! BombeirosFreguesias de Santa Cruz

XW Restaurantes

XW

Figura 6: Carta de Elementos Expostos de Santa Cruz

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45

4. 1. 2. Planeamento urbano florestal e impacto do incêndio de

2012

Em primeiro lugar, analisar-se-á o tecido urbano existente em Santa Cruz, como

forma de avaliar o planeamento do território deste concelho.

De forma a tornar clara a visualização do que se pretendia representar foi

necessário unir as diferentes classes de tecido urbano representadas na Carta de

Ocupação do Solo (COS) agrupando-as em duas variáveis únicas: tecido urbano

contínuo e tecido urbano descontínuo, atribuindo-lhes cores bem visíveis.

Acrescentou-se ainda a informação das freguesias de Santa Cruz para que os limites

administrativos do concelho ficassem bem definidos, uma vez que o ortofotomapa

representa área que não pertence ao concelho, logo não será trabalhada.

A observação da figura 7 permite identificar um claro contraste entre o litoral e

o interior da região. É no litoral que se localiza a maior parte do tecido urbano deste

território, podendo ser identificada uma predominância de uma estrutura de tecido

urbano descontínua. Enquanto nos afastamos do litoral verifica-se que o tecido urbano

se vai tornando gradualmente mais descontínuo, até consistir apenas de casas isoladas

nas proximidades ou mesmo nos limites de matos e florestas. Verifica-se que as

freguesias apresentam grandes diferenças, surgindo o Caniço e Santa Cruz com mais

tecido urbano contínuo do que descontínuo, ao contrario do que se verifica em Gaula,

Camacha e Santo António da Serra.

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46

Esta estrutura evidencia claros factores de risco. Num primeiro nível, este

traduz-se na perigosa proximidade de diversas habitações das matas e florestas como

se poderá ver em seguida. Esta significa que na eventualidade da ocorrência de um

incêndio, estas casas encontrar-se-ão extremamente expostas, aumentando a

probabilidade de sofrerem danos. Simultaneamente encontram-se afastadas do litoral

e dos equipamentos de socorro como por exemplo os bombeiros, pelo que em caso de

necessidade o tempo de reacção será forçosamente maior.

Avançando para a análise da estrutura florestal da região, importa observar a

localização de florestas e matos no concelho (figura 8). Para a elaboração do mapa

realizou-se o mesmo processo que para o do tecido urbano, consistindo as duas

variáveis em matos e em floresta. Através desta podem retirar-se duas conclusões. Em

primeira instância, verifica-se a tendência inversa do tecido urbano, ou seja, quanto

mais para o interior do território maiores dimensões atingem os espaços florestais.

Figura 7: Tecido Urbano em Santa Cruz.

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Figura 8: Localização de matos e florestas em Santa Cruz.

Fica ainda patente nesta figura a vasta mancha florestal que existe em Santa

Cruz. Quase todo o território é tocado por vegetação, o que por um lado confere a esta

região um grande património ambiental e paisagístico. Por outro lado, esta ocupação

do solo representa uma elevada Vulnerabilidade no que concerne aos incêndios, uma

vez que a vegetação, como já foi abordado no quadro de metodologias de risco, é

sempre o maior indicador de risco. Isto porque para um incêndio é necessário

combustível, e a madeira é dos elementos mais facilmente devorado pelas chamas.

O facto de todo o território estar coberto por vegetação significa também que

todo o território poderia potencialmente ser afectado por fogos. Em Santa Cruz, no

Caniço, em Gaula e em Santo António da Serra podem-se encontrar alguns espaços

que não estão cobertos por vegetação. No entanto, como se pode constatar pela

comparação entre o mapa da distribuição das florestas e matos com o do tecido

urbano (Anexo II – figura 2) e com a Carta de Elementos Expostos (Anexo II – Figura 3)

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estes espaços sem vegetação são os locais onde o tecido urbano contínuo e os

Elementos Expostos se encontram. Significa isto que na eventualidade de um incêndio

não existem barreiras físicas nem artificiais que possam estabelecer nenhum limite.

Deste modo, esta estrutura florestal apresenta condições muito favoráveis para a

deflagração e a propagação de incêndios.

Após a análise relativa à localização e área ocupada por matos e florestas

interessa saber por que espécies são compostas. Isto uma vez que diferentes espécies

podem representar diferentes níveis de risco, sendo algumas mais susceptíveis ao

fogo. De acordo com o INCF (Anexo IV), as espécies florestais dividem-se em dois

grandes grupos: as resinosas e as folhosas. Espécies folhosas como os carvalhos ou os

salgueiros são as que apresentam uma maior resistência ao fogo, tendo menores

probabilidades de entrar em combustão e podendo ainda atrasar a progressão de um

incêndio. Isto deve-se ao elevado teor de humidade que estas espécies possuem.

Importa referir uma interessante particularidade. O eucalipto, uma das espécies

florestais mais presentes no país, é uma excepção, apesar de ser uma espécie folhosa é

uma das árvores que mais ardem em Portugal. Isto acontece por uma particularidade

desta espécie, que liberta óleos voláteis, que podem entrar facilmente em combustão,

tornando-a uma espécie de elevada perigosidade relativamente à deflagração e

propagação de incêndios. Por outro lado, espécies resinosas apresentam baixos teores

de humidade, ou seja, são secas. Assim sendo, são altamente perigosas, causando um

muito elevado risco de incêndio. Destas destacam-se por exemplo os pinheiros-bravos,

o maior representante de espécies resinosas em solo português. Importa assim avaliar

a composição dos matos e florestas existentes neste território.

Apesar da maior parte das espécies folhosas apresentarem maior resistência ao

fogo, o eucalipto, como já foi referido, é uma excepção, sendo das árvores que entram

em combustão com maior facilidade. Isto significa que numa análise da ocupação do

solo num contexto da Vulnerabilidade é necessário distinguir o eucalipto das restantes

árvores folhosas. Com este intuito, foi elaborado ainda um mapa representante de

todas as espécies florestais presentes no território em estudo (figura 9). Mais á frente

será analisada a forma como esta estrutura florestal influenciou a evolução do

incêndio de 2012.

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Tendo em conta que a ocupação do solo é considerada por todos os

especialistas como o principal factor de risco de incêndio, isto significa que a estrutura

urbana florestal do concelho de Santa Cruz apresenta algumas debilidades graves, que

resultam num índice de risco relativamente elevado. Destes aspectos destacam-se

alguma falta de atenção para com a política florestal e ainda a proximidade excessiva e

em demasiados casos o contacto directo entre o tecido urbano e a floresta. Estes

factores representam um grave perigo pois são propícios para a deflagração de

incêndios, para a sua propagação e deixa ainda diversos elementos expostos em risco.

No ano de 2012, de 19 a 21 de Julho, o concelho de Santa Cruz foi atingido por

um incêndio de grande severidade, tendo atingido uma grande magnitude e afectando

enormemente este concelho. Este é um dos motivos pelo qual este concelho foi

Figura 9: Distribuição de florestas e espécies arbóreas em Santa Cruz

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Quadro 5: Área ardida no incêndio de 19 a 21 de Julho de 2012.

Fonte: Câmara Municipal de Santa Cruz.

escolhido como caso de estudo desta dissertação, de modo a ser possível estudar as

consequências que um grande incêndio pode ter num determinado território. Deste

modo, procurar-se-á estudar o impacto que este incêndio teve na área de estudo.

Para se ter uma percepção da gravidade deste incêndio, a área total ardida no

concelho de Santa Cruz atingiu os 31.8%, traduzindo-se este valor em 2150 hectares

(quadro 5). Naturalmente, as diferentes freguesias foram afectadas a níveis diferentes,

no entanto a freguesia mais atingida foi a de Gaula, consistindo a área ardida num

valor correspondente a 67.8% da área total.

Naturalmente que os incêndios costumam ter dimensões supra municipais. O

mesmo sucedeu neste caso, não se limitando unicamente ao concelho de Santa Cruz.

No entanto foi esta a área que foi mais severamente atingida, pelo que só esta será

considerada. O mapa 5 do anexo II ilustra cartograficamente a real dimensão deste

incêndio.

Este incêndio teve graves consequências, atingindo fortemente todos os

sectores. Importa assinalar o impacto directo na população. Este traduz-se através do

número de casas ardidas (Anexo II – Mapa 6) que atingiu as 42 habitações.

Neste caso nota-se claramente a falta de barreiras físicas ou antrópicas, uma

vez que o incêndio se propagou rapidamente ao longo de apenas dois dias atingindo

grandes dimensões e atingindo um terço da área do concelho. Este problema está

intimamente relacionado com a estrutura florestal (espécies arbóreas) da região

(figura 10). Por um lado, a vasta mancha florestal conduziu à rápida propagação deste

incêndio, causando uma enorme devastação. Entre matos e florestas, a progressão do

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Figura 10: Área ardida no incêndio de 2012 por espécie arbórea.

incêndio foi vertiginosa. O tipo de vegetação também foi um factor condicionante,

uma vez que as florestas resinosas são maioritariamente compostas por pinheiros-

bravos e as folhosas por eucaliptos, uma vez que são estas as duas espécies

predominantes neste território. Outras espécies arbóreas poderiam possivelmente

travar ou abrandar o avanço do incêndio, atenuando assim os seus estragos.

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52

4.2. Implementação da metodologia proposta

Procede-se nesta fase à implementação da metodologia proposta no capítulo 3,

aplicando-a assim ao estudo de caso – o concelho de Santa Cruz.

Todos os procedimentos aplicados foram utilizando recorrendo ao software

ArcGis 10. Em primeiro lugar, foi necessário uniformizar a informação, através da

alteração dos sistemas de coordenadas dos diversos dados para o sistema de

referência para a Madeira – PTRA08_UTM_28N. Em seguida o tamanho da célula foi

convertido para 10x10m, como estipulado no Guia Metodológico de Produção

Cartografia Municipal de Risco e para a Criação de Sistemas de Informação Geográfica

de Base Municipal. Em seguida foi necessário o tratamento de cada variável para que a

sua reclassificação fosse possível.

Ocupação do solo

No que concerne à ocupação do solo, os diferentes níveis de vulnerabilidade

variam com os diferentes tipos de vegetação. A metodologia será aplicada tal como foi

enunciado no capítulo 3. Para a reclassificação, diferentes tipos de árvores serão

selecionados de acordo com a escala de Vulnerabilidade referida.

Rede viária

A rede viária é constituída por várias classes. No entanto, algumas destas são

muito pouco significativas pelo que ficarão excluídas desta análise. Assim sendo as

classes que serão consideradas serão: estradas, ruas, impasses, veredas, caminhos e

travessas. Torna-se assim necessária a reclassificação destas classes de acordo com o

nível de vulnerabilidade a que serão associadas. As estradas e os impasses são

normalmente largas vias de circulação e oferecem uma reduzida vulnerabilidade.

Possibilitam uma rápida circulação dos veículos numa situação de incêndio o que

permite uma resposta eficaz no combate aos fogos. Desta forma, a severidade dos

incêndios e, consequentemente, os danos causados por estes serão

consideravelmente reduzidos, o que por sua vez resultará numa baixa vulnerabilidade

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53

em áreas onde a rede viária é constituída por estradas em boas condições. Pelo

contrário, o oposto acontece com os caminhos e veredas. São vias de pequena

dimensão, possuindo normalmente uma única via e em muito más condições. Isto

significa um acesso extremamente difícil por parte das forças de combate aos

incêndios o que se traduzirá em incêndios de maiores dimensões e com consequências

mais graves, logo estas áreas terão uma vulnerabilidade muito superior.

Concomitantemente, a rede viária representa uma barreira física contra a propagação

dos incêndios, levando a que também neste sentido as estradas permitam um melhor

controlo e combate aos incêndios e os caminhos possibilitem uma maior propagação

dos mesmos. A classe “travessas” surge bastante diversificada, sendo que algumas se

encontram em boas condições e outras danificadas, algumas situam-se no centro de

áreas urbanizadas outras em áreas pouco ocupadas. Por estes motivos, a classe

“travessas” será classificada como tendo uma vulnerabilidade média.

As três classes de vulnerabilidade definidas serão então:

- Vulnerabilidade baixa: estradas, impasses, ruas;

- Vulnerabilidade média: travessas;

- Vulnerabilidade elevada: veredas, caminhos

A classificação da rede viária teve como base a observação cuidada das diversas

componentes da rede viária no ortofotomapa, procurando distinguir, de um modo

geral, quais se encontravam em melhores condições.

Para o tratamento dos eixos de via em ambiente ArcGis foi utilizado a seleção

por atributos por forma a criar as classes de vulnerabilidade. Em seguida foram

convertidas para raster e reclassificadas.

Declive

Os valores decididos resultam de uma adaptação da proposta de risco para os

declives na DGRF (2007). Uma vez que esta proposta consistia em 5 classes de risco e

esta investigação assume apenas 3 classes de vulnerabilidade foi necessária a sua

adaptação. Assim sendo, as três classes de vulnerabilidade definidas serão:

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54

- Vulnerabilidade baixa: 0-10%

- Vulnerabilidade média: 11-15%

- Vulnerabilidade elevada: >20%

No caso do declive, tendo sido criado a partir das curvas de nível foi necessário

converter esta informação para raster depois calcular o declive. A reclassificação foi

feita através da criação de uma máscara binária utilizando o Raster Calculator.

Exposição solar

As três classes de vulnerabilidade definidas serão:

- Vulnerabilidade baixa: -1-72 graus;

- Vulnerabilidade média: 73-285 graus;

- Vulnerabilidade elevada: 286-360 graus.

Esta variável, à semelhança dos declives, foi criada com base no raster

resultante das curvas de nível e em seguida foi calculada a exposição solar. A

reclassificação também foi feita recorrendo ao Raster Calculator e à criação de uma

máscara binária.

A criação de máscaras binárias foi realizada através da utilização de fórmulas de

cálculo que reclassificam a informação que não está a ser usada nessa classificação

como 0 e atribuem outro valor à informação relevante. Ou seja, foram criados 3

rasters para cada variável tendo estes como valores 0 e 1, 0 e 2 e 0 e 3, representando

os diversos níveis de vulnerabilidade.

Depois somaram-se os rasters tendo em vista a criação de overlays

correspondentes aos três níveis de vulnerabilidade para unir as diferentes variáveis.

Em seguida, realizou-se um overlay ponderado, recorrendo à mesma ferramenta. Com

este intuito, atribuíram-se valores de ponderação a cada uma das variáveis, resultando

assim na seguinte ponderação:

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55

- Ocupação do solo – 40%

- Declives – 30%

- Rede viária – 20%

- Exposição solar – 10%

O resultado mostra algumas zonas com vulnerabilidade indeterminada. Estas

são áreas que não tinham informação suficiente para serem classificadas

correctamente, como por exemplo áreas mais urbanas, que tendem a ser construídas

em áreas com menores declives e onde não abunda vegetação. Uma vez que era

possível identificar os valores que criavam conflito, foi realizada uma nova

reclassificação com o intuito de isolar os valores relevantes dos restantes para que

fosse possível depois o mapa mostrar claramente as áreas de baixa (anexo VI – mapa

1), média (anexo VI – mapa 2) e elevada vulnerabilidade (anexo VI – mapa 3). O output

final resultou num mapa com três classes de vulnerabilidade em que a vulnerabilidade

baixa corresponde ao intervalo entre 0,1 e 0,5, a vulnerabilidade média de 0,51 a 0,7 e

a vulnerabilidade elevada de 0,71 a 1.

4.3. Apresentação e discussão dos resultados

Em primeiro lugar, importa explicar o significado do output final desta

investigação. Se uma área apresenta uma Vulnerabilidade elevada, significa que na

eventualidade de deflagrar um fogo os factores caracterizadores daquela área são

profundamente favoráveis a que este se alastre rapidamente e consequentemente

provoque graves perdas à região. Apesar dos sinais alarmantes que este índice revela,

é necessário olhar para este como um instrumento de identificação de áreas que

necessitam de intervenção. Quer seja relativamente às acessibilidades ou à ocupação

do solo, estão assim identificados os focos de risco da região. Neste sentido, a

interpretação da Vulnerabilidade consiste na identificação das áreas que devem ser

palco de acções de reabilitação e reflorestação. Nestas áreas deve ainda ser reforçada

a vigilância, bem como redobrada a atenção às limpezas das florestas e das áreas

próximas de habitações.

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56

Na figura 11 verifica-se uma tendência de agravamento de Vulnerabilidade do

litoral para o interior. Todo o litoral apresenta uma Vulnerabilidade baixa, devido aos

declives suaves e à prevalência de tecido urbano face às vastas áreas vegetais. No

entanto, à medida que se observa a zona central do território de estudo, ou seja, onde

as freguesias de Gaula, Camacha e Santa Cruz se cruzam apresenta áreas de grande

Vulnerabilidade, representando isto um elevado perigo para o concelho de Santa Cruz.

Já foi mencionado previamente o desafio que Santa Cruz enfrenta em relação à

delapidação do seu património florestal, e esta área central do concelho é sem dúvida

aquela a que mais atenção se deve prestar, uma vez que possui diversos focos de

elevado risco.

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57

Figura 11: Carta de Vulnerabilidade de Santa Cruz

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58

Figura 12: Comparação entre a distribuição de florestas por espécie arbórea e a Vulnerabilidade de

Santa Cruz.

Imediatamente na observação do mapa nota-se a elevada quantidade e

dimensão de áreas com elevada vulnerabilidade. Este é um grave indicador de Risco

para o concelho de Santa Cruz que necessita de ser gerido. Considerando a

metodologia seguida, é natural que as áreas de maior vulnerabilidade estejam

profundamente relacionadas com a localização da vegetação, mais especificamente

das espécies que oferecem maior vulnerabilidade. As semelhanças entre as imagens da

distribuição das florestas por espécie arbórea e o mapa de Vulnerabilidade são claras,

revelando uma correlação muito grande, principalmente se se considerar as áreas de

eucaliptal e pinheiros-bravos (figura 12). Assim se conclui que há uma necessidade

premente de alterar esta tendência.

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59

Figura 13: Relação entre tecido urbano e Vulnerabilidade em Santa Cruz.

Importa avaliar a relação entre o tecido urbano e a Vulnerabilidade (Figura 13).

Não tendo sido considerado uma das variáveis da metodologia para o cálculo deste

índice, é expectável que as áreas que apresentam uma maior concentração de tecido

urbano não estejam definidas no mapa final. No entanto, é possível visualizar com

clareza no mapa final quais as áreas urbanas que se encontram em maior risco,

concluindo-se uma clara tendência no sentido de quanto maior for a isolação de uma

habitação maior é o risco em que se encontra. Isto sucede pois, de acordo com a lógica

seguida no desenvolvimento da metodologia, quanto menor for o aglomerado urbano

maiores serão os declives bem como as florestas em seu redor e a condição das

acessibilidades. A justificação para este fenómeno é que as áreas urbanas são

tendencialmente construídas em territórios com baixos declives e não costumam ter

vastas manchas florestais no seu interior. Porém, neste caso específico, as florestas e

as zonas urbanas encontram-se muito próximas, colocando estas zonas em

considerável risco. Neste caso, a área urbana de Camacha e a de Santa Cruz são

aquelas onde se verifica um risco superior.

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60

Figura 14: Comparação entre área ardida no incêndio de 2012 e a Vulnerabilidade em Santa Cruz.

Mais um indicador que interessa comparar consiste no cruzamento entre a área

ardida e os resultados obtidos (figura 14), uma vez que a análise de fogos passados

serve de validação para metodologias. Verifica-se desta forma que estes são

consistentes, uma vez que a maior parte da área ardida no incêndio de 2012 se

enquadra com as zonas de vulnerabilidade elevada. Apesar de existirem certas áreas

de vulnerabilidade reduzida, estas têm uma dimensão mais pequena e encontram-se

rodeadas na sua maioria por outras de vulnerabilidade elevada. Neste contexto

convém relembrar que menor vulnerabilidade não significa que um terreno não pode

arder, mas sim que este arde mais lentamente e oferece mais barreiras à progressão

de um incêndio. A freguesia de Caniço foi a que menos perdas sofreu no incêndio de

2012, algo suportado pelo índice de Vulnerabilidade calculado, que atribui a esta

freguesia um grau de vulnerabilidade muito inferior às restantes. Por outro lado, a

área central do concelho, afectando a freguesia de Santa Cruz gravemente, foi a que

mais sofreu com este incêndio.

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61

Outro mapa que interessa avaliar no contexto da Vulnerabilidade é o da carta

de elementos expostos (figura 15). Estes dois mapas estão também profundamente

relacionados, uma vez que os elementos expostos são pontos importantes no

território. Tratando-se de elementos importantes tanto estes como as áreas em redor

deles terão prioridade de protecção na eventualidade de incêndio. Assim sendo, a

observação da figura permite constatar que a Camacha e Santa Cruz são os locais onde

a informação destes mapas mais se cruza, o que significa que são locais onde é

fundamental tomar medidas de protecção.

Administração pública Equipamentos de utilização colectiva Equipamentos de justiça

Câmaras municipais

Juntas de freguesia

Salas de espectaculo

Piscinas

Museus

Igrejas

Escolas

Desporto

Centros de saúde

Estabelecimentos hoteleiros

"

"

X

X

X

X

X

X

X !( Tribunais

! Forças de Segurança

! BombeirosFreguesias de Santa Cruz

XW Restaurantes

XW

Figura 15: Cruzamento de informação entre a Carta de Elementos Expostos e a Carta de Vulnerabilidade.

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62

Capítulo 5: Conclusões

5. 1. Proposta de medidas de prevenção

A situação desesperada que todos os Verões se repete na Madeira, tal como

em Portugal Continental, significa que há ainda muito a fazer no que concerne à

prevenção dos incêndios. Para combater uma situação desta dimensão, que tanto

afecta a população, a economia e o património ambiental deveria existir um esforço

maior do que o que existe actualmente.

A primeira “linha de combate” aos incêndios num território é naturalmente a

legislação em vigor. É nesta que devem estar explícitas as multas e as coimas,

criminalizando todo e qualquer acto contra a floresta portuguesa. Com a importância

já mencionada que esta tem para a economia portuguesa aliada ao facto de estar

comprovado que a vasta maioria dos incêndios têm origem em fogo posto, ou seja,

tem mão criminosa, parece evidente que uma das medidas a tomar está relacionada

com a legislação, e na necessidade de um esforço complementar no sentido da sua

execução. O combate ao fogo criminoso é uma questão complexa, uma vez que

mesmo quando o culpado é capturado e encarcerado este é sempre o mandado e não

o mandante. Isto significa que os verdadeiros culpados saem ilesos e possivelmente

repetirão o crime no futuro. Os interesses em jogo e a corrupção apenas vêm

acrescentar à dificuldade de lidar com este problema. Assim sendo, propõe-se a

criação de uma divisão policial independente dedicada unicamente à investigação

deste tipo de crime.

No contexto do combate aos incêndios criminosos baseados em interesses

financeiros, a legislação enuncia no Decreto-Lei nº 55/2007, a proibição por um

período de 10 anos de certas actividades em áreas ardidas, como por exemplo a

construção ou a substituição de espécies florestais por outras técnicas ecologicamente

desadequadas. No entanto, estabelece excepções para obras que se considerem ser de

“interesse público”. Este aspecto vem, naturalmente, abrir portas à corrupção. José

Gomes Ferreira (2013), defende que na realidade diversos terrenos nesta situação se

encontram urbanizados ao fim de poucos anos. Significa isto que é necessária uma

alteração desta legislação, não permitindo que qualquer excepção seja realizada uma

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vez que enquanto isto for possível existirão sempre interesses em conflito. Assim

sendo, seria importante a criação de uma autoridade independente cujo objectivo

consistiria na fiscalização destas situações, forçando o cumprimento da lei e, no caso

de a presente legislação se manter, fazer uma avaliação profunda ao que realmente

pode ser considerado de interesse público.

Cumulativamente, importa realizar uma monitorização regular uma vez que a

lei em muitos casos não está a ser cumprida. No caso específico de Santa Cruz, verifica-

se a existência de muitas habitações isoladas e muito próximas de áreas florestais e

matos. Neste contexto, a legislação obriga a limpeza dos matos até 50 metros em

redor de uma habitação (fig. 16). O seu não cumprimento representa um risco para a

região, não só facilitando a deflagração de incêndios mas também vindo acentuar o

risco de propagação dos mesmos, dificultando simultaneamente a defesa das

habitações em caso de fogo. Mais, a aplicação desta medida em Portugal Continental

seria um processo muito complexo, porém, em Santa Cruz, pela dimensão do

território, seria relativamente simples. Com fiscalização regular, seria possível aplicar

coimas à população que não cumprisse com a lei, forçando as pessoas a procederem a

limpezas mais frequentemente.

Outro importante problema com graves consequências é a estrutura florestal

portuguesa. Este é um problema estrutural nacional, representando assim um grande

desafio á sua resolução. Para o resolver seria necessário proceder a uma alteração

Figura 16: Representação da forma como a limpeza em redor das casas deve ser feita. As árvores devem estar

limpas e desramadas em altura aconselhável de 4m até à sua copa.

Fonte: Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil (Asprocivil).

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total da floresta nacional. No entanto, algo que é possível realizar consiste no aumento

da diversidade de produção. Actualmente, a maior parte da floresta portuguesa é

constituída por eucaliptos e pinheiros-bravos, uma vez que estas espécies apresentam

crescimentos consideravelmente mais acelerados que outras. Porém, como já foi

referido neste trabalho, são espécies “amigas” do fogo, ardendo com muita facilidade

e rapidez, facilitando desta forma a progressão dos fogos, resultando em incêndios de

maior dimensão do que poderiam ser de outra forma. Assim, cada vez mais se torna

urgente uma mudança radical na política florestal, que continua ainda a apoiar novas

plantações de eucaliptos. A política actual não pode continuar, caso contrário os

portugueses continuarão a pagar um elevado custo. Assim sendo, caberá ao Estado

criar políticas de apoio à plantação de espécies mais resistentes ao fogo e que criem

barreiras naturais à propagação dos fogos.

O principal entrave a esta acção é o facto da maior parte da floresta portuguesa

estar nas mãos do sector privado, que prefere plantar espécies resinosas devido ao

lucro mais rápido. Assim, propõe-se a atribuição de incentivos fiscais ou a atribuição de

subsídios aos privados que optarem pela plantação de espécies diferentes. Desta

forma poder-se-ia criar resistências aos incêndios, combatendo-os indirectamente,

uma vez que a sua progressão seria bastante mais lenta não atingindo dimensões

excessivas.

Uma vertente muito importante deste problema e que apesar das tentativas

não tem havido muito sucesso é na criação de uma consciência ambiental na

população. Verificam-se ainda muitos fogos provocados inadvertidamente, quer por

cigarros acesos atirados para o chão ou até queimadas que se descontrolam. Neste

contexto considera-se que é necessário um maior investimento e esforço dedicado à

criação de campanhas de sensibilização para o bem-estar da floresta. Se toda a

população tiver uma mentalidade pró ambiental veremos com certeza um

decrescimento no número de ocorrências de incêndio verificadas anualmente. Estas

iniciativas deverão decorrer à escala municipal, tal como está legislado, sendo da

responsabilidade das câmaras a sua organização. Neste sentido, estas devem procurar

realizá-las mais frequentemente e possivelmente experimentar diferentes abordagens,

como por exemplo levar a cabo acções práticas de formação que levassem as pessoas

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às florestas com o intuito de realizar diversas tarefas tendo como objectivo a criação

de uma maior ligação entre a população e a floresta. Neste contexto, uma ideia

positiva seria a criação por parte dos municípios de grupos de voluntariado florestais,

talvez até vocacionados para os jovens, procurando assim desde cedo instituir uma

mentalidade pró ambiental desde cedo.

Mais uma medida fundamental seria a estimulação da concertação de esforços

entre os bombeiros e o Exército. A colaboração existente actualmente não é suficiente,

limitando-se, de um modo geral, a um apoio logístico, como por exemplo ao

abastecimento de helicópteros e aviões de combates aos incêndios. Assim, na ausência

de guerras, devia-se procurar mais a participação dos seus homens, durante o período

de Verão, para as florestas com o objectivo de prestar auxílio no combate aos

incêndios e até mesmo com o intuito de vigiar as mesmas.

Existe uma necessidade urgente de criação de informação digital sobre o

território. A informação territorial nacional deve ser actualizada anualmente e ainda

divulgada para o público sem qualquer custo. Para tal, deve ser criada legislação neste

sentido, forçando a publicação e criação dos dados territoriais à escala municipal. Esta

medida seria importante em vários sentidos. Em primeiro lugar e no âmbito deste

trabalho, permite ao município um conhecimento actualizado do próprio território.

Uma catástrofe, como por exemplo o incêndio de 2012 em Santa Cruz pode alterar

consideravelmente o território. Com uma actualização regular, estas transformações

seriam registadas e cartografadas devidamente. A partilha destes dados possibilitaria

ainda uma coordenação de esforços intermunicipais mais eficiente.

Por último, de mencionar uma medida muito meritória da autoria de L.

Lourenço (1992). Este propõe a criação de um serviço cívico obrigatório, como

alternativa a quem opta por não realizar o serviço militar, com o intuito de

desempenhar tarefas relacionadas com a floresta. Isto permitiria não apenas o

aumento do “capital humano” interveniente na floresta o que naturalmente

possibilitaria um melhor controlo da mesma, bem como seria um instrumento

fundamental na instauração de uma mentalidade preocupada com a defesa da floresta

na população. Sendo a floresta um assunto de interesse nacional, a criação deste

serviço justificar-se-ia por inteiro e seria com certeza extremamente proveitosa. No

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entanto, esta medida foi já proposta em 1992 e encontra-se desactualizada uma vez

que mesmo o serviço militar já não é obrigatório. No entanto, inspirada nesta medida

seria possível uma adaptação actualizada. Esta consistiria na utilização dos

desempregados que recebem subsídio de desemprego para esta mesma função -

proteger e limpar as florestas nacionais. Isto permitiria um aproveitamento de

população que de outra forma não estaria a contribuir para o país, oferecendo mão-

de-obra a esta causa, permitindo uma prevenção contra os incêndios bastante mais

eficaz e, muito importante, sem custos extra para o Estado.

Naturalmente, esta última medida seria extremamente difícil e complexa de

implementar, no entanto a floresta portuguesa trata-se indubitavelmente de um

assunto de interesse nacional. Isto significa que todos os esforços possíveis devem ser

feitos tendo em vista a sua protecção, sabendo já que os esforços actuais não estão a

resultar uma vez que todos os anos se repete a mesma tragédia, consumindo milhares

de hectares nacionais bem como conduzindo à perda de vidas humanas.

5.2. Considerações Finais

Ao longo deste trabalho, foi realizado um ponto da situação em que Portugal

vive relativamente aos incêndios. Com este intuito, recuou-se ao passado como forma

de explicar como se chegou à situação actual, pois não se pode compreender o

problema sem saber as questões estruturais que lhe dão origem. A compreensão de

uma situação é indispensável para que se possa resolve-la ou pelo menos para que se

trabalhe nesse sentido. Foi também necessário fazer um acompanhamento da

evolução da legislação, indicador importante da forma como o Governo foi lidando

com a evolução da problemática dos incêndios florestais ao longo dos anos.

Em seguida, para trabalhar com o caso de estudo, foi necessário fazer a

caracterização do concelho de Santa Cruz, preparando assim para posteriormente

elaborar a cartografia necessária para a aplicação da metodologia de risco ao

território. Desta análise resultou a identificação dos principais factores de risco de

Santa Cruz: a sua estrutura florestal onde predominam espécies de elevado risco, a

grande quantidade de tecido urbano descontínuo, possuindo um elevado número de

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habitações isoladas dos “centros urbanos” e rodeadas de florestas e a falta de

barreiras físicas ou artificiais.

O problema da estrutura florestal de Santa Cruz é idêntico ao do Continente - a

continuação de uma política florestal comprovadamente com falhas com

consequências graves para o território. Como foi analisado na investigação, todas as

metodologias de incêndio classificam a ocupação do solo como o principal factor de

risco de incêndio e é por este motivo que esta política deve ser alterada

urgentemente. Esta dissertação revelou assim a necessidade de uma remodelação

urgente na forma como o concelho de Santa Cruz trata as suas florestas, sendo

indispensáveis novas políticas de reflorestação e de protecção da mesma. Esta

afirmação aplica-se de igual modo à escala nacional, Portugal Continental deve

também revisitar a sua política florestal e corrigir as suas falhas fundamentais. Como já

foi referido, uma possível medida para alterar a política vigente seria o apoio

financeiro à plantação de outras espécies. Os pinheiros e os eucaliptos são preferidos

actualmente porque são espécies de rápido crescimento, porém com apoios

financeiros é possível proteger o cultivo de espécies de crescimento mais lento mas

que protegerão o solo português e poderão simultaneamente dar lucro, apenas num

horizonte temporal maior.

As áreas onde predomina o tecido urbano descontínuo encontram-se em

grande perigo. São geralmente habitações isoladas e de difícil acesso, e o seu risco

aumenta ainda mais porque as leis de limpeza e manutenção da floresta muitas vezes

não são cumpridas. Com o intuito de defender estas áreas é importante a construção

de melhores acessibilidades e a obrigatoriedade de limpeza das áreas em seu redor.

Em relação à falta de barreiras físicas ou artificiais, esta questão pode ser

resolvida de duas formas. Por um lado, a plantação de espécies mais resistentes ao

fogo cria uma barreira natural que poderá por si só abrandar a progressão de um

incêndio. Também a criação de estradas em boas condições pode servir, como já foi

referido, de barreira artificial à propagação dos incêndios contribuindo desta forma

para uma redução da Vulnerabilidade deste território.

No capítulo IV foi caracterizado o concelho de Santa Cruz, e analisadas as

consequências resultantes de um grande incêndio na região. Foi também explicada a

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forma como potencialmente os incêndios poderiam destruir a economia deste

território. Convém lembrar nesta fase que em Portugal (tanto nas Regiões Autónomas

como em Portugal Continental) se podem encontrar inúmeros território com

características muito semelhantes e aos quais poderia suceder exactamente o mesmo,

resultando numa catástrofe nacional. É por este motivo que lidar com esta questão é

absolutamente de interesse nacional e deve ser prioritário.

A Vulnerabilidade é um indicador de risco a ter em consideração em todos os

momentos. Enquanto o Risco de incêndio prevê em que áreas a probabilidade de

deflagrar um incêndio é maior, a Vulnerabilidade é uma ferramenta indispensável no

planeamento do combate às chamas, permitindo assim antecipar a propagação do

fogo e a identificação prévia de que áreas se encontram em maior perigo na

eventualidade de uma deflagração de um incêndio. Este índice permite assim uma

maior eficácia na fase de combate aos incêndios, sendo uma parte fundamental do

planeamento. No entanto, este indicador de risco é ainda pouco explorado focando-se

os especialistas na criação de metodologias para determinar o Risco de incêndio e a

Susceptibilidade, ambos os indicadores focados na identificação de áreas onde a

probabilidade de ignição é superior. A Vulnerabilidade vem dar resposta a outra

necessidade: tendo já deflagrado o fogo para que áreas é mais provável que este se

propague.

O papel dos Sistemas de Informação Geográfica é cada vez mais uma parte

integrante da ciência do estudo de incêndio. Actualmente são já uma ferramenta

indispensável nesta área, servindo de suporte para a criação de diferentes

metodologias. É através do avanço destas metodologias, da consideração de novas

variáveis, e da inovação da forma de tratamento dos dados que estas metodologias se

desenvolverão e serão cada vez mais avançadas e mais exactas, vindo desta forma

prestar um apoio valioso na constante luta contra os incêndios. Uma das dificuldades

sentidas neste trabalho consistiu na dificuldade de obtenção de dados. Tendo sido

adquirida uma considerável quantidade de informação digital, esta não estava

actualizada, datando a maior parte dos dados do ano de 2007. Por esse motivo esta

investigação não poderá ser aplicável à realidade actual do concelho de Santa Cruz.

Como foi abordado na secção de propostas deste trabalho, o caminho que deve ser

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seguido é o da actualização regular (anual) e disponibilização de informação. Este e

trabalhos semelhantes poderiam desta forma ser mais do que uma aplicação teórica e

poderiam mesmo ter uma utilização prática por parte dos municípios. A partilha de

informação poderia beneficiar muito as investigações no campo da ciência do risco de

incêndio.

Na actualidade, de um modo geral, todo o mundo sofre com a questão dos

incêndios e procura uma resolução para a mesma. Florestas por todo o mundo são

destruídas, as alterações climáticas vêm agravar ainda mais esta situação, surgindo

assim cada vez mais uma necessidade de novos métodos eficazes de previsão,

combate e avaliação dos fogos florestais.

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Índice de figuras

Figura 1: Número de ocorrências de incêndio e área ardida em Portugal entre 1980 e

2013 ………………………………………………………………………………..…………………………..……..…….. 6

Figura 2: Modelo conceptual de Risco …………..…………....... ………………………………….…... 24

Figura 3: Enquadramento geográfico de Santa Cruz na Região Autónoma da Madeira

……………………………………………………………………………………..………………………………...………. 37

Figura 4: Carta de Declives de Santa Cruz ……………………..……………………………..…..…….. 41

Figura 5: Carta de Exposição Solar ……………………………………………………………….……....…. 41

Figura 6: Carta de Elementos Expostos ……………………..………….…………………………………. 44

Figura 7: Tecido urbano em Santa Cruz ……………………………………………………..……..…..… 46

Figura 8: Localização de matos e florestas em Santa Cruz ……………………………….....…… 47

Figura 9: Florestas por espécie florestal em Santa Cruz………………………………….…….…… 49

Figura 10: Área ardida no incêndio de 2012 por espécie arbórea………………….….………. 51

Figura 11: Carta de Vulnerabilidade de Santa Cruz ……………………………………….…..…….. 57

Figura 12: Comparação entre a distribuição de florestas por espécie arbórea e a

Vulnerabilidade de Santa Cruz ……………………………………………………………………………..….. 58

Figura 13: Relação entre tecido urbano e Vulnerabilidade em Santa Cruz ……………….. 59

Figura 14: Comparação entre área ardida no incêndio de 2012 e a Vulnerabilidade em

Santa Cruz …………………………………………………………………………………….…………………………. 60

Figura 15: Cruzamento de informação entre a Carta de Elementos Expostos e a Carta

de Vulnerabilidade …………………………………………………………………….…………………............ 61

Figura 16: Representação da forma como a limpeza em redor das casas deve ser feita

………………………………………………………………………………………………………….……………………… 63

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Índice de Quadros

Quadro 1: Análise das principais metodologias actuais……………………………………..… 29-31

Quadro 2: Vulnerabilidade das diferentes espécies de árvores…………………………..……. 34

Quadro 3: Estrutura etária de Santa Cruz em 2011 ……………………………….…………..…….. 41

Quadro 4: Estabelecimentos e capacidade de alojamento e proveitos de aposento nos

estabelecimentos hoteleiros por município 2011 …………………...............…………………… 42

Quadro 5: Área ardida no incêndio de 19 a 21 de Julho de 2012 …………….…………..….. 50

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ANEXOS

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Anexo I – Gráficos de análise às temperaturas em Portugal

Continental, Açores e Madeira

Figura 1 – Evolução da média das temperaturas máxima e mínima em Portugal.

Adaptado de Santos e Miranda (2006).

Fonte: Estratégia Nacional para as Florestas (2006).

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79

Fonte: http://estatistica.gov-madeira.pt/

Figura 2 – Temperaturas médias anuais do ar registadas na estação meteorológica do

Porto Santo.

Figura 3 – Precipitação total por estação meteorológica (Funchal e Porto Santo).

Fonte: http://estatistica.gov-madeira.pt/

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80

Anexo II – Mapas de apoio à componente teórica

Mapa 1 – Ortofotomapa de 2010 do Concelho de Santa Cruz.

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Mapa 2 –Sector agrícola no concelho de Santa Cruz

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Mapa 3 – Comparação entre distribuição das florestas e matos e o tecido urbano

Mapa 4 – Comparação entre distribuição das florestas e Carta de Elementos Expostos

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Mapa 5 – Distribuição de florestas por espécie arbórea em Santa Cruz.

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Mapa 6 – Incêndio de 2012 em Santa Cruz

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Mapa 7 – Casas ardidas no incêndio de Santa Cruz em 2012

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Anexo III – Quadros de apoio à análise da produção do sector primário

em Santa Cruz

Quadro 1 – Indicadores demográficos por município

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Quadro 2 – População residente em Santa Cruz no período 2001-2011

Município Total População Residente

2001 2011

Região Autónoma da Madeira

253426 266540

Calheta 13005 11428

Câmara de Lobos 31476 35614

Funchal 115403 111289

Machico 22016 21705

Ponta do Sol 8756 8827

Porto Moniz 3432 2681

Ribeira Brava 13170 13275

Santa Cruz 23465 42977

Santana 10302 7636

São Vicente 7695 5655

Porto Santo 4706 5453

Fonte: Própria. Tabela elaborada com base em dados provenientes do INE (Instituto Nacional de Estatística).

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Quadro 3 – Principais culturas produzidas na RAM em 2011.

Fonte: Censos 2011, Instituto Nacional de Estatística

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Quadro 4 – Produção vinícola declarada expressa em mosto por município em 2011.

Quadro 5 – Produção pecuária por município em 2009.

Fonte: Censos 2011, Instituto Nacional de Estatística

Fonte: Censos 2011, Instituto Nacional de Estatística

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Anexo IV – Nomenclatura do ICNF de espécies florestais mais

comuns em Portugal Continental

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Anexo V – Quadro completo de principais características de metodologias de risco

Autores Dados utilizados

Variáveis consideradas/Ponde

ração

Metodologia Área de estudo

Comentário

Chuvieco e Congalton (1989)

Imagem de alta resolução (LANDSAT)

- Vegetação: 100

- Elevação: 30

- Declive: 10

- Exposição solar: 5

- Proximidade à rede

viária: 2

13. - Análise multicritério e integrada ao risco de incêndio

14. - Hierarquização das variáveis -> atribuição de peso com base na importância que cada uma tem para o risco de incêndio

Costa mediterrânea de Espanha – Selecção tem em atenção as condições climatológicas, físicas e as espécies vegetais típicas de regiões mediterrânicas

Inovadora, foi a primeira metodologia que procura uma abordagem integrada ao risco de incêndio. Constitui a base de quase todas as metodologias a partir desse ponto.

IGP (2004)

Carta de Ocupação do Solo (COS 2001)

- Ocupação do solo:

590

- Declives: 210

- Rede Viária: 70

- Exposição solar: 60

- Densidade

demográfica: 40

-Visibilidade por

postos de vigia: 30

15. - Elaboração de Carta uma de susceptibilidade;

16. - Reclassificação das cartas temáticas em 5 classes (Muito Baixa, Baixa, Média, Alta e Muito Alta).

Portugal Continental

Baseada em Almeida (1995) e Chuvieco e Congalton (1989)

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Autores Dados utilizados

Variáveis consideradas/Ponde

ração

Metodologia Área de estudo

Comentário

IGP (2009)

Carta Ocupação do Solo (COS 2007)

- Ocupação do solo:

590;

- Declives: 210

- Rede viária

(incluindo rede

ferroviária e linhas de

alta tensão): 90

- Exposição solar: 60

- Densidade

demográfica: 50

17. - Deixou de se considerar os postos de vigia - Aumento do peso atribuído à densidade demográfica e às redes viárias

Portugal Continental

Estudos indicam que as alterações não trouxeram melhorias acentuadas aos resultados desta metodologia por comparação com a de 2004.

Vettorazzi e

Ferraz

(1998)

- Carta planialtimétrica do IGC (1978) - Mapa uso do solo -Fotografias aéreas de 1995

- Vizinhança (50m em

redor da área de

estudo): 5

- Rede viária: 4

- Ocupação do solo: 4

- Os declives: 3

- Exposição Solar: 2

18. - Peso de cada variável atribuído de 1 e 5

19. - Subclasse das variáveis classificadas de 1 a 20 consoante a sua influência para o risco

Estação Experimental de Tupi, São Paulo

- Metodologia criticada por não atribuir mais importância à ocupação do solo do que às restantes variáveis

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Autores Dados utilizados

Variáveis consideradas/Ponderação Metodologia Área de estudo

Comentário

Virginia Department of Forestry

Variável Montanha Planície Litoral

Ocupação

do Solo

32 40 21

Declive 9 14 13

Exposição 10 2 13

População 14 16 14

Rede viária 7 8 11

Caminhos-

de-Ferro

4 6 5

Ocorrências 24 24 23

20. - Subclasses das variáveis classificadas de 0 a 10

21. - A ponderação só entra em função da sua localização no litoral, na planície ou na montanha

Virginia, Estados Unidos da América

- Algumas dúvidas na ponderação relativamente à localização por exemplo em relação à montanha ter menos peso do que as planícies uma vez que áreas de maior altitude costumam apresentar maior risco

Mário R. Caetano, Sérgio Freire & Hugo Carrão (2004)

Imagens LANDSAT

- Vegetação: 100

- Declive: 30

- Exposição solar: 10

- Proximidade a estradas ou áreas urbanas:

5

- Elevação: 2

22. – Reclassificação de índice estrutural de incêndio (3 classes) e de índice potencial de incêndio (4 classes)

23.

- Área escolhida com base na frequência de incêndios no passado, diversidade paisagística e de espécies florestais

- Pretende integrar as variáveis estruturais e as dinâmicas - Revela um esforço para considerar a actividade humana

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Autores Dados utilizados Variáveis consideradas/Ponderação

Metodologia Área de estudo

Comentário

Abhinnet, J., Shirish

A. R. (2006) - Imagens satellite IRS IB e LANDSAT -Ortofotomapas

- Vegetação: 10

- Habitações: 5

- Estradas: 5

- Declives: 3

24. – Variação das subclasses com vegetação de 1 a 10, habitações e estradas de 1 a 4 e declives de 1 a 5

25. – Reclassificação do índice de risco em 5 classes

Índia, Parque Nacional Rajaji

- Grande preocupação com a componente humana - Analisa áreas ardidas no passado e prova que maioria dos incêndios tem origem próximo de estradas, caminhos e urbanizações

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Anexo VI – Mapas resultantes das reclassificações na fase da

metodologia

Mapa 1 – Mapa da Vulnerabilidade Baixa

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Mapa 2 – Mapa de Vulnerabilidade média

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Mapa 3 – Mapa de Vulnerabilidade Elevada