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    Psicologia: Teoria e Pesquisa

    Jan-Mar 2011, Vol. 27 n. 1, pp. 49-53

    Religio e Espiritualidade de Idosos Internados em uma Enfermaria Geritrica1

    Flvia Meneses Duarte2

    Hospital do Servidor Pblico Estadual - SPKtia da Silva Wanderley

    Faculdades Metropolitanas Unidas FMUHospital do Servidor Pblico Estadual de SP

    RESUMO -Esta pesquisa avaliou a inuncia da religio e espiritualidade no enfrentamento da hospitalizao em pacientesidosos. A amostra foi composta por 30 idosos hospitalizados numa enfermaria geritrica. Os instrumentos utilizados foram umquestionrio sociodemogrco e a Escala de Religiosidade DUREL - Duke Religious Index. Religio e espiritualidade sorecursos relevantes aos quais idosos recorrem no enfrentamento da hospitalizao. Reconhecer o bem-estar que estes aspectosproporcionam aos idosos prestar atendimento humanizado. Sugere-se o desenvolvimento de mais pesquisas e instrumentos deavaliao acerca do tema, bem como a incluso de disciplinas que abordam religio e espiritualidade na formao dos prossionaisde sade, dada a importncia que a populao idosa atribui s suas crenas religiosas e espirituais em momentos de diculdades.

    Palavras-chave:religio; espiritualidade; idosos; hospitalizao.

    Religion and Spirituality of Elderly Living in a Geriatrics Ward

    ABSTRACT - This study evaluated the inuence of religion and spirituality on the way in which elderly patients cope withtheir hospitalization. A total of 30 elderly living in a geriatrics ward participated in the study. The instruments used were: asocio-demographic questionnaire and the DUREL Religious Scale (Duke Religious Index). Results indicate that the elderlyattach much importance to their spiritual and religious beliefs to cope with their hospitalization. Recognizing the well-beingthat these aspects provide for the elderly is to provide humanized care. In order to do that, the development of further researchand evaluation tools on the theme is suggested, as well as the inclusion of disciplines of religion and spirituality in the trainingof health professionals.

    Key words:religion, spirituality, aged, hospitalization.

    1 No houve nanciamento; qualquer tipo de despesa foi custeado pelaprimeira autora, sem nus para a instituio. O presente trabalho foidesenvolvido como requisito parcial para obteno do ttulo de aprimo-randa em atendimento interdisciplinar em geriatria e gerontologia doHospital do Servidor Pblico Estadual SP, sob superviso e orientaoda segunda autora.

    2 Endereo para correspondncia: Hospital do Servidor Pblico Estadual(HSPE) Ambulatrio de Geriatria e Crnicos. Rua Pedro de Toledo,1900, Vila Clementino, So Paulo, SP, CEP: 04029-000. E-mail:[email protected]

    O envelhecimento populacional um fenmeno queteve incio na dcada de 1960. Nas primeiras quatrodcadas do sculo passado, os idosos correspondiam a2,5% da populao (Chaimowicz, 1997). A combinaoda queda nas taxas de mortalidade infantil com elevadastaxas de fecundidade, permitiu que pessoas nascidas en-tre 1940 e 1960 completassem 65 anos em 2005, dandoincio fase rpida do envelhecimento populacional.A proporo de idosos com mais de 65 anos saltardos atuais 9% para 18% em 2050, quando somaro 38milhes (Chaimowicz, 2006, p. 106).

    O aumento da expectativa de vida entre idosos e estudossobre o bem-estar na velhice vm crescendo e apontam paraa importncia da religiosidade e da espiritualidade comorecurso de enfrentamento diante de eventos estressantes,temas at ento negligenciados pela cincia e gerontologia(Sommerhalder & Goldstein, 2006).

    Religio e espiritualidade so fenmenos relevantes navida dos brasileiros - 92,51% da populao declarou ser adep-to de uma religio no censo demogrco de 2000 (Santana,2006). Especialmente na velhice, religio e espiritualidadeocupam lugar de destaque, j que o envelhecimento trazconsigo questes existenciais que a religio tenta responder(Sommerhalder & Goldstein, 2006). Alm disso, os idososno enfrentaram o pluralismo religioso dos dias atuais, peloqual os mais jovens so inuenciados. A religio ainda identicada como fonte de signicao na vida. A tradio e aexperincia religiosa levam os idosos a crer (Santana, 2006).

    Com o crescente interesse da literatura cientca em explo-rar as implicaes da religio e da espiritualidade em contextosde sade fsica e mental, observou-se que os achados no sounvocos. Contudo, evidncias demonstram que religiosidadee espiritualidade podem contribuir para o bem-estar pessoal,alm de reduzir os nveis de depresso, angstia, morbidadee mortalidade (Duarte, Lebro & Laurenti 2008).

    Religio e espiritualidade como enfrentamento em

    contextos de sade-doena

    Religio e espiritualidade so termos que, devido a faltade consenso na literatura cientca em relao a conceitua-o, diculta pesquisas acerca do tema. Assim, este estudo

    baseia-se nas denies a seguir.

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    Religio um sistema organizado de crenas, prticas,rituais e smbolos destinados a facilitar a proximidade doindivduo com o sagrado ou o transcendente (Koenig, Mc-Cullough & Larson, 2001).

    A espiritualidade tem a ver com reexo, uma busca pes-soal sobre o signicado da vida e a relao com o sagrado ou otranscendente. A espiritualidade pode ou no estar vinculada

    a uma religio (Koenig e cols., 2001). As pessoas podem tercrenas individuais sem se voltar a um deus ou a crenas eatividades especcas de uma religio (Sommerhalder &Goldstein, 2006).

    Para Allport e Ross (1967), o indivduo pode experienciarsua religio de duas maneiras: extrnseca ou intrnseca. Amaneira extrnseca refere-se a utilizar a religio como meiode obter benefcios. Neste caso, a religio ocupa um lugarsupercial em sua vida; suas crenas religiosas so herdadas,no houve reexo sobre a escolha da losoa religiosa(Drucker, 2005). Vivenciar a religio de maneira intrnsecasignica colocar suas crenas religiosas em primeiro lugar; viver de acordo com seus preceitos, numa atitude de compro-metimento e busca de sentido da vida (Allport & Ross, 1967).

    Os idosos esto mais vulnerveis a sofrerem perdas. Aquantidade de anos vividos lhe permitiu experenciar diversosfatos e, especialmente na velhice, a soma de perdas podeacarretar conseqncias negativas em sua sade. A perdananceira, da situao econmica decorrente da aposenta-doria; a perda da beleza, do vigor da juventude; a perda deum corpo saudvel para dar lugar convivncia com doenascrnicas; a perda de independncia e/ou autonomia; a perdade familiares, amigos e, nalmente, a proximidade da perdada prpria vida. A religio e a espiritualidade podem auxiliarno enfrentamento destes eventos, considerados frequente-mente como estressores.

    A hospitalizao tambm representa um evento estressor.A doena, os sintomas fsicos, os procedimentos invasivos, adependncia, a quebra de rotina e de papis sociais, a distn-cia dos familiares, a gravidade do estado de sade, o medodo desconhecido e fantasias sobre a morte so condiesfrequentemente vivenciadas.

    De acordo com Aldwin (2000), grande parte da literaturasobre enfrentamento dedica-se a compreender as estratgiasutilizadas para lidar com doenas e procedimentos mdicos,especialmente, doenas cardacas, diabetes, artrite reumati-de, cncer e AIDS.

    Pargament et al. (1988) identicam trs estilos de enfren-tamento de problemas relacionados com a responsabilidadeda pessoa e religio. So eles: autodirigido, delegante e

    colaborativo.O estilo autodirigido diz respeito ao indivduo que assume

    a responsabilidade sobre a resoluo dos seus problemas, noespera em Deus. J o estilo delegante, refere-se espera emDeus para a resoluo dos seus problemas, se eximindo dequalquer responsabilidade. No estilo colaborativo, indivduoe Deus participam da resoluo de problemas, cada um fazsua parte. importante lembrar que, uma mesma pessoa podeutilizar de estilos diferentes na resoluo de problemas. Istovai depender do quanto se acha competente diante da situao(Faria & Seidl, 2005).

    Koenig, George e Titus (2004) entrevistaram 838 pa-cientes hospitalizados com idade superior a 50 anos, com o

    objetivo de avaliar os efeitos da religio e espiritualidade esua relao com suporte social, sade psicolgica e fsica.Os resultados demonstraram que prticas religiosas e espi-ritualidade so prevalentes em idosos hospitalizados e estoassociadas a maior suporte social, melhor sade psicolgicae, em certa medida, melhor sade fsica. Suporte social umaspecto diretamente ligado ao bem-estar e apareceu com

    freqncia na amostra, especialmente nos pacientes comidade superior a 75 anos. Alm disso, sintomas depressivosforam menos freqentes nos mais religiosos; prticas reli-giosas privadas, tais como orao e leitura bblica podemconduzir a um melhor funcionamento cognitivo, ou talvezmais provvel, um melhor funcionamento cognitivo podefacilitar tais atividades, dada a natureza altamente cognitivadas mesmas. A relao com sade fsica foi menor quandocomparada aos fatores psicossociais, o que era esperado

    pelos pesquisadores, pois dada a gravidade da doena, ascomorbidades e incapacidade, diculta o acesso do indivduoa uma igreja ou templo religioso, aumentando as prticasreligiosas privadas.

    Religio e espiritualidade na atuao do psiclogo

    hospitalar

    Religio e espiritualidade so recursos utilizados comfreqncia por idosos diante de diversos problemas, espe-cialmente quando se trata de doenas. No trabalho realizadona enfermaria geritrica do Hospital do Servidor PblicoEstadual de So Paulo comum ouvir frases como se Deusquiser vou melhorar, estou me sentindo melhor, graas aDeus, preciso ter f em Deus para melhorar. Tais frasesapontam para a relao da religio ou espiritualidade comotimismo, esperana de melhora, na busca de fora num sersuperior que possa auxiliar. Esta f ajuda a enfrentar proce-dimentos invasivos, a alimentar-se mesmo quando no hapetite algum, como se a crena fosse que Deus j vai fazersua parte, ento, cabe ao paciente cooperar e fazer a dele. Estetipo de pensamento auxilia o trabalho do psiclogo, pois este

    prossional depende do querer, da aceitao do paciente emser atendido. A adeso ao tratamento psicolgico traz consigoo desejo de sentir-se melhor.

    Aldwin (2000) cita sete funes adaptativas principaisno enfrentamento de doenas: lidar com conseqncias -siolgicas de doenas, como dor, sintomas e incapacidade;lidar com o tratamento e o ambiente hospitalar; desenvolvere manter boas relaes com a equipe de sade; manter o

    equilbrio emocional; manter um senso de self, incluindocompetncia e controle; manter boas relaes com famlia eamigos e preparao para futuras exigncias.

    Uma das intervenes do psiclogo na enfermaria ge-ritrica do Hospital do Servidor Pblico Estadual de SoPaulo justamente auxiliar o paciente a desenvolver taisfunes adaptativas, para que o perodo de hospitalizaoseja o menos desconfortvel e aversivo possvel, na intenode propiciar bem-estar psicolgico, emocional e espiritualdurante a internao. Ao atender os pacientes nos leitos,observa-se se h demanda para atendimento religioso, pormeio da relevncia que o paciente atribui a religio, prin-cipalmente se associado com sentimentos de desesperana

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    Religio e Espiritualidade de Idosos

    em relao ao tratamento. Como este hospital dispe deservio de capelania, caso o paciente demonstre o desejode colocar em prtica suas crenas religiosas, informadoquanto a disponibilidade do servio, deixando-o vontade

    para escolher se quer ou no o atendimento. A experinciana enfermaria de geriatria e crnicos tem demonstrado queos pacientes aceitam de bom grado o atendimento religioso

    e relatam sentirem-se melhor aps tal assistncia. Com ticae respeito pelos valores religiosos e espirituais dos pacien-tes, o psiclogo pode encontrar na religio e espiritualidadeferramentas teis que podem auxiliar no atendimento a ido-sos internados, que encontram na f otimismo, esperana emotivao para implicar-se e envolver-se com o tratamento,aspectos de extrema relevncia para sua recuperao.

    Quando questes religiosas e espirituais esto envolvidasno atendimento psicolgico, necessrio considerar alguns

    pontos. O psiclogo deve acima de tudo prezar pela tica erespeito; jamais interferir ou julgar qualquer tipo de crenaou opinio do paciente. Por meio da formao de uma relaoemptica, buscar compreender o signicado e a importnciaque cada paciente atribui s suas crenas religiosas. FariaeSeidl (2005) atentam para a necessidade de identicar noenfrentamento religioso aspotencialidades de ajuda, assimcomo de prejuzo.

    Por prejuzo, aqui entende-se qualquer conduta que,por inuncia religiosa, venha gerar malefcios sade dopaciente. Mais comum ao estilo delegante, comportamen-tos como negligenciar sintomas, descuido com a sade eno-adeso a prticas preventivas, podem decorrer de um

    positivismo exagerado, baseado na crena em que o Paiproteger de qualquer mal, o que facilita a instalao dedoenas e retarda a procura por tratamento mdico. Assim, a

    procura por ajuda especializada pode ocorrer num momentoem que, devido ao agravo da doena, pouco possa se fazer

    pelo paciente. Alm disso, indisciplina s recomendaesmdicas, no-adeso ao tratamento proposto e crenas emque a doena vista como punio, tambm so consideradas

    prejudiciais no que se refere a enfretamento religioso.A Associao Psiquitrica Americana faz algumas

    recomendaes para psicoterapeutas ao abordarem temascomo espiritualidade e religiosidade, entre elas, investigara importncia da religio e espiritualidade no sistema decrenas do paciente e se as mesmas so relevantes a pontode serem abordadas no atendimento clnico. Alm disso,ressalta a importncia do psicoterapeuta treinar intervenesapropriadas a assuntos religiosos e espirituais e de manter--se atualizado a respeito das questes ticas que tais temas

    requerem na prtica clnica (Peres, Simo & Nasello, 2007).

    Mtodo

    Participantes

    Trata-se de um estudo transversal. A amostra foi com-posta por 30 pacientes idosos, com idade igual ou acima de65 anos, internados na enfermaria geritrica do Hospital doServidor Pblico Estadual de So Paulo. Foram selecionados

    para este estudo pacientes orientados, lcidos e sem qualquer

    dcit cognitivo ou sndrome demencial mediante dadosde pronturio mdico.

    Dos 30 idosos participantes da pesquisa, nove eram dosexo masculino (30%) e 21 do sexo feminino (70%). Apesarde a enfermaria geritrica admitir pacientes acima de 65 anos,73% dos pacientes estavam na faixa etria entre 81 e 95 anos;a mdia de idade cou em torno dos 85 anos. Quanto ao

    nvel de escolaridade, a mdia de anos de estudo foi de 4,03anos; 37% possuam quatro anos de escolaridade e apenas10% da populao concluiu o segundo grau. Em relao aoestado civil, 57% so vivos, 27% casados, 13% solteiros e3% separados. Pacientes que vivem s so 23% da amostra,enquanto 77% vivem acompanhados. So naturais do interiordo estado de So Paulo 53% dos participantes, 23% de SoPaulo capital, 3% da Grande So Paulo e 20% de outrosestados. Entre os motivos pelo qual foram internados, 40%se tratavam de doenas do aparelho respiratrio (dispnia,

    pneumonia, doena pulmonar obstrutiva crnica DPOC -entre outras), 20% doenas do aparelho circulatrio, 13% porinfeco do trato urinrio, 3% neoplasias e outros sintomassomam 23% das internaes. A maioria (80%) reside nacapital paulistana. Quanto religio, 73% denominam-secatlicos, 17% evanglicos, 7% espritas e 3% outras re-ligies. interessante frisar aqui que 100% dos pacientesevanglicos so do sexo feminino.

    Instrumentos

    Foi aplicado um formulrio scio-demogrco desen-volvido especicamente para o estudo com o objetivo deobter informaes quanto ao gnero, idade, estado civil,escolaridade, religio declarada e motivo da internaodo paciente na enfermaria. O instrumento escolhido paraavaliar o ndice de religiosidade foi a Escala de Religio-sidade DUREL (Duke Religious Index). Com o crescenteinteresse da cincia em realizar pesquisas acerca do temaem contextos de sade-doena, constatou-se uma limitaoao desenvolvimento de mais pesquisas em pases de lngua

    portuguesa devido carncia de instrumentos que pudessemfornecer dados relevantes e, ao mesmo tempo, que fossemcurtos e simples. Assim, a escala que foi desenvolvida coma populao americana, foi traduzida para o portugus erevisada por pesquisadores brasileiros. Posteriormente,retrotraduziram-na para o ingls e foi enviada para seuautor, que avaliou e aprovou a verso nal em portugus.Esta verso ainda no foi validada para a populao brasi-

    leira. Porm, como assinalam os autores o fato de ambosos pases serem majoritariamente cristos e de a DURELapresentar itens mais genricos, provavelmente aplicveis maioria das religies de nosso meio, sugere que essaverso em portugus possa ser bem aplicvel em nossarealidade (Moreira-Almeida, Peres, Aloe, Lotufo-Neto &Koenig, 2008, p. 31).

    A DUREL uma escala que compreende trs dasdimenses de religiosidade que mais se relacionam comsade: organizacional (RO), no-organizacional (RNO) ereligiosidade intrnseca (RI). composta por cinco itens ena anlise dos resultados, as pontuaes nas trs dimenses(RO, RNO e RI) so analisadas isoladamente. Os escores

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    dessas trs dimenses no so somados em um escore total(Moreira-Almeida e cols., 2008).

    Religiosidade Organizacional (RO) refere-se participa-o e freqncia em igrejas, templos ou encontros religiosos,ou seja, a Religiosidade Organizacional est relacionada aum componente social. Religiosidade No-Organizacional(RNO), diz respeito a atividades religiosas que podem ser

    realizadas a partir da privacidade do lar como oraes,leituras e programas de TV e/ou rdio e que independemda interao com outras pessoas (Koenig e cols., 2001).Finalmente, a Religiosidade Intrnseca (RI) avalia o quantoa religio pode motivar ou inuenciar nos comportamentos,decises e, de forma geral, na vida do sujeito (Koenig e cols.,2004). Trata-se de uma dimenso subjetiva, do quanto e comoo indivduo percebe a importncia da religio em sua vida(Koenig e cols., 2001).

    Procedimentos

    Aps o paciente ser admitido na enfermaria de geriatria ecrnicos, procedimento de rotina passar por uma entrevistade triagem psicolgica, com o objetivo de vericar se o pa-ciente apresenta demanda para atendimento. Por meio destatriagem, colhem-se dados scio-demogrcos, informaessobre dinmica familiar, histria de vida do sujeito, histricode tratamentos de sade entre outros.

    Na triagem os participantes e seus acompanhantes foramorientados quanto aos objetivos deste estudo, dos aspectosticos e da participao voluntria na pesquisa. Aps auto-rizao do paciente, o mesmo assinou o Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido (TCLE). No caso do pacienteestar impossibilitado sicamente de assinar ou ler o termode consentimento, bem como o instrumento, foi solicitado aoacompanhante que presenciasse a aplicao dos instrumentose que assinasse como testemunha, mediante consentimentodo paciente. A coleta de dados ocorreu no leito.

    Resultados

    Quando questionados em relao a freqncia com quevo a uma igreja, templo ou outro encontro religioso, 20%dos pacientes responderam que freqentam uma ou maisvezes por semana; 13% duas a trs vezes por ms; 20%algumas vezes por ano; 30% uma vez por ano ou menos e17% relataram nunca freqentar. Neste item, considerou-se

    nunca pacientes que no freqentam qualquer encontroreligioso pelo menos h mais de dois anos.

    Em relao a freqncia com que dedicam seu tempo aatividades religiosas individuais, como preces, rezas, medi-taes, leitura bblica ou outros textos religiosos, 60% rela-taram que realizam tais prticas mais do que uma vez ao dia;30% uma vez ao dia e 10% duas ou mais vezes por semana.

    Para avaliar a religiosidade intrnseca, so colocadas trsfrases a respeito de crenas ou experincias religiosas e pede--se que responda o quanto cada frase se aplica ao indivduo.

    Na frase Em minha vida, eu sinto a presena de Deus (oudo Esprito Santo), 90% responderam ser totalmente ver-dade e 10% em geral verdade. A frase seguinte era As

    minhas crenas religiosas esto realmente por trs de toda aminha maneira de viver. Totalmente verdade foi a opoescolhida por 87% dos participantes, enquanto em geral verdade se aplicou a 13% dos mesmos. A ltima frase Eume esforo muito para viver a minha religio em todos osaspectos da vida 43% responderam totalmente verdade,13% em geral verdade, 3% no estou certo, 10% em

    geral no verdade e, nalmente, 30% no verdade.

    Discusso

    A proporo da denominao religiosa da amostra coin-cide com os dados do censo de 2000: em ambas, os catlicosso maioria, seguido dos evanglicos, espritas e outras. Amdia da faixa etria da amostra - 85 anos - reete o enve-lhecimento populacional. Os idosos em sua maioria eramoctogenrios (83%).

    Em relao a importncia que o indivduo atribui a reli-gio e espiritualidade em sua vida (religiosidade intrnseca),a grande maioria dos pacientes referiram sentir a presenade Deus em suas vidas, bem como as crenas religiosasesto por trs da forma como vivem. Apesar disso, quandoquestionados em relao freqncia com que participamde atividades sociais religiosas, como idas a cultos, templosou encontros religiosos, apenas 20% dos pacientes freqen-tam uma ou mais vezes por semana. A maior parte referiufreqentar tais encontros uma vez por ano ou menos (30%),sendo que 17% dos pacientes no freqentam h mais dedois anos. Em contrapartida, com a reduo das atividadesreligiosas sociais, aumenta a prtica de atividades religiosasindividuais. Pelo menos 90% da amostra realiza atividadesreligiosas individuais ao menos uma vez ao dia. Este dadosugere que a importncia que a religio ocupa na vida destas

    pessoas, no pode ser mensurada pelo quanto se freqentauma igreja e sim, pelo signicado atribudo aos mesmos eas prticas religiosas individuais. Alm disso, com o avanarda idade, o idoso se depara com limitaes fsicas, comodiculdade de locomoo, decorrentes de doenas crnicas,de seqelas de acidente vascular enceflico, da prpria idadeentre outros fatores. Soma-se a isto, o medo de quedas, medode sair sem companhia e passar por qualquer tipo de apuroou violncia.

    Baseado em dados do Datasus, no ano de 2005, apesardo maior nmero de internaes hospitalares ocorrer entreadultos, o nmero aparentemente baixo de internaes deidosos oculta elevada taxa, pois so internados com maior

    freqncia (Chaimowicz, 2006). Frente a esses dados, faz-serelevante reconhecer a importncia da religio e espiritualida-de na vida de idosos, especialmente em situaes de agravos sade, visto que tais aspectos so utilizados com freqnciano enfrentamento de eventos estressores.

    O objetivo deste estudo foi avaliar de que maneira re-ligio e espiritualidade inuenciam no enfrentamento dadoena e hospitalizao em pacientes idosos. Por meio dosachados deste trabalho foi possvel constatar a relevnciada religio e espiritualidade como recurso de enfrentamentoem idosos hospitalizados numa enfermaria geritrica, dadaa importncia que atribuem s prticas religiosas privadase a freqncia com que recorrem s mesmas. Buscar apoio

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    Religio e Espiritualidade de Idosos

    na religio e espiritualidade ajuda a preencher a distncia dafamlia, da rotina; presta acolhimento, alento para suportaras vicissitudes impostas pela rotina hospitalar. Num cenrioem que a humanizao hospitalar vem ganhando foras,atentar para religio e espiritualidade prestar atendimentohumanizado, olhar o paciente no como um corpo que ado-ece e sim, levar em considerao toda a sua histria de vida,

    hbitos, costumes, cultura e assim evitar a sensao de serapenas mais um leito ocupado, algum despersonalizado.Uma das preocupaes da humanizao hospitalar justa-

    mente cuidar dos prossionais de sade para que estes sejamcapazes de promover a humanizao no servio. Para tanto,sugere-se que os prossionais de sade que trabalham como pblico idoso estejam familiarizados com o tema e cientesda relevncia na vida dos mesmos. Alm disso, a incluso dedisciplinas que abordam religio e espiritualidade na forma-o dos prossionais de sade pode melhor prepar-los parao manejo de tais assuntos em sua prtica prossional, dada aimportncia que a populao de forma geral atribui s suascrenas religiosas e espirituais em momentos de diculdades. no processo de formao que se podem enraizar valores eatitudes de respeito vida humana, indispensveis conso-lidao e sustentao de uma nova cultura de atendimento sade (Ministrio da Sade, 2001, p.5).

    Por m, o presente estudo tem o intuito de mostrar co-munidade cientca a relevncia da religio e espiritualidadecomo recursos de enfrentamento, servindo de estmulo parao desenvolvimento de mais pesquisas acerca do tema e deuma maior variedade de instrumentos que avaliem os efeitosque religio e espiritualidade tm sobre a populao idosa,visto que ainda h pouca ateno por parte da gerontologiaem relao ao bem-estar que a religio e espiritualidade

    proporcionam aos idosos, representa uma importante con-tribuio para a rea.

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    Recebido em 24.04.2009

    Primeira deciso editorial em 26.01.2010

    Verso nal em 24.02.2010

    Aceito em 03.01.2011 n