Abrente 57

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XV • Nº 57 • Segunda jeira • Julho, Agosto e Setembro de 2010 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega A soluçom, a Revoluçom Sumário Editorial 3 Garzón e a legitimaçom judicial da tortura Xavier Moreda 4 Língua e luita de classes na Galiza do século XXI Afonso Mendes Souto 5-6 Marx hoje (e amanhá) Néstor Kohan 7 Colômbia: continuísmo sangrento e ilegítimo Narciso Isa Conde Por umha Galiza sem espanholismo, capitalismo e machismo Os efeitos mais imediatos que a crise capitalista provoca nas condiçons de trabalho e de vida da classe obreira geram, sem lugar a dúvidas, mal-estar social. Neste caldo de cultivo, objectivamente proclive ao protesto e à revolta, o oportunismo manobra procurando a única finalidade possível que persegue: melhorar a sua situaçom nos espaços de gestom e represen- taçom institucional por meio dos processos eleitorais da democracia burguesa. Recuperando a máscara de força-movimento reivindicativo tenta aproximar povo dos seus posicionamentos aparentemente avançados, gerando falsas expectativas sobre as possibilidades de reformar o sistema a partir do seu interior. Mas, tal como a história da luita de classes nom se tem cansado de demonstrar, o capitalismo nom se pode regenerar: a perpetuaçom da propriedade privada dos meios de produçom baseia-se na exploraçom do proletariado, dos povos e das mulheres. Nom há forma de manter o sistema compatibilizando-o com a introduçom de medidas que corrijam as injustiças e desigualdades que gera sem reacçom violenta da burguesia. Eis a grande fraude do reformismo: nom querer derrubar o capi- talismo e unicamente maquilhá-lo. A realidade manifesta que nom há saída eleitoral à crise capitalista. Nom é possível mudar as selvagens directrizes neoli- berais que a fase imperialista do capitalismo impom a base de atingir maiorias no jogo parlamentar. A única forma de evitarmos mais retrocessos, de pararmos a ofensiva da burguesia, é mediante a luita organizada e com- plementar das massas e da vanguarda. Porém, é imprescindível que as forças revolucionárias atinjamos apoios entre a classe obreira, que o nosso projecto consiga difusom de massas, que a nossa alternativa socialista comece a ser tida em conta como umha possibilidade real, que vertebremos no movimento popular correntes anticapitalistas combativas, que acompanhemos e estimulemos a radicalizaçom das luitas. Nós nom temos mais ataduras e compromissos que a nossa lealdade à Revoluçom Galega e à luita mundial na qual esta se enquadra. Necessita-se um novo sindicalismo, despreendido de todos os vícios e corrupçons incorporados em décadas de políticas conciliadoras. Há que derrotar essa casta de liberados que constringe a capacidade de luita operária e que com diversos linhas discursivas só quer que as imensas maquinarias sindicais nom deixem de ser ferramentas burocráticas indispensáveis para assegurar a estabilidade social do centro capitalista europeu. O sindicalismo realmente existente na Galiza acabou de constatar que carece de umha direcçom com vontade de organizar a luita contra a reforma das pensons e a reforma laboral, contra a política económica do governo espanhol. CCOO e UGT som simples estruturas amarelas, completamente corrompidas e vendidas ao patronato e aos governos de que recebem imensas prebendas e privilégios. Som superestruturas que atraiçoárom há muito tempo a reivindicaçom de emancipaçom obreira. Por seu turno, as cada vez mais estreitas vinculaçons da direcçom da CIG com o autonomismo nom só hipotecam a sua capacidade de luita, como esterilizam qualquer iniciativa que aparentemente procure promover a mobilizaçom operária. A jornada de luita do 17 de Junho contra a reforma laboral e em prol da greve geral nom passou de ser umha sórdida caricatura para cobrir expediente. A CIG pratica a nível nacional um sindicalismo de espectáculo, incapaz inclusive de movimentar os seus delegados e delegadas nas reivindicaçons políticas, dirigido exclusivamente a facilitar a lavagem de cara do regionalismo.

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Publicaçom trimestral de Primeira Linha, organizaçom comunista e independentista galega.

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XV • Nº 57 • Segunda jeira • Julho, Agosto e Setembro de 2010

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a g a l e g a

A soluçom, a Revoluçom

SumárioEditorial

3 Garzón e a legitimaçom judicial da tortura

Xavier Moreda

4 Língua e luita de classes na Galiza do século XXI

Afonso Mendes Souto

5-6 Marx hoje (e amanhá)Néstor Kohan

7 Colômbia: continuísmo sangrento e ilegítimo

Narciso Isa Conde

Por umha Galiza sem espanholismo, capitalismo e machismo

Os efeitos mais imediatos que a crise capitalista provoca nas condiçons de trabalho e de vida da classe obreira geram, sem lugar a dúvidas, mal-estar social. Neste caldo de cultivo, objectivamente proclive ao protesto e à revolta, o oportunismo manobra procurando a única finalidade possível que persegue: melhorar a sua situaçom nos espaços de gestom e represen-taçom institucional por meio dos processos eleitorais da democracia burguesa. Recuperando a máscara de força-movimento reivindicativo tenta aproximar povo dos seus posicionamentos aparentemente avançados, gerando falsas expectativas sobre as possibilidades de reformar o sistema a partir do seu interior.

Mas, tal como a história da luita de classes nom se tem cansado de demonstrar, o capitalismo nom se pode regenerar: a perpetuaçom da propriedade privada dos meios de produçom baseia-se na exploraçom do proletariado, dos povos e das mulheres. Nom há forma de manter o sistema compatibilizando-o com a introduçom de medidas que corrijam as injustiças e desigualdades que gera sem reacçom violenta da burguesia. Eis a grande fraude do reformismo: nom querer derrubar o capi-talismo e unicamente maquilhá-lo.

A realidade manifesta que nom há saída eleitoral à crise capitalista. Nom é possível mudar as selvagens directrizes neoli-berais que a fase imperialista do capitalismo impom a base de atingir maiorias no jogo parlamentar.

A única forma de evitarmos mais retrocessos, de pararmos a ofensiva da burguesia, é mediante a luita organizada e com-plementar das massas e da vanguarda. Porém, é imprescindível que as forças revolucionárias atinjamos apoios entre a classe obreira, que o nosso projecto consiga difusom de massas, que a nossa alternativa socialista comece a ser tida em conta como umha possibilidade real, que vertebremos no movimento popular correntes anticapitalistas combativas, que acompanhemos e estimulemos a radicalizaçom das luitas. Nós nom temos mais ataduras e compromissos que a nossa lealdade à Revoluçom Galega e à luita mundial na qual esta se enquadra.

Necessita-se um novo sindicalismo, despreendido de todos os vícios e corrupçons incorporados em décadas de políticas conciliadoras. Há que derrotar essa casta de liberados que constringe a capacidade de luita operária e que com diversos linhas discursivas só quer que as imensas maquinarias sindicais nom deixem de ser ferramentas burocráticas indispensáveis para assegurar a estabilidade social do centro capitalista europeu.

O sindicalismo realmente existente na Galiza acabou de constatar que carece de umha direcçom com vontade de organizar a luita contra a reforma das pensons e a reforma laboral, contra a política económica do governo espanhol. CCOO e UGT som simples estruturas amarelas, completamente corrompidas e vendidas ao patronato e aos governos de que recebem imensas prebendas e privilégios. Som superestruturas que atraiçoárom há muito tempo a reivindicaçom de emancipaçom obreira.

Por seu turno, as cada vez mais estreitas vinculaçons da direcçom da CIG com o autonomismo nom só hipotecam a sua capacidade de luita, como esterilizam qualquer iniciativa que aparentemente procure promover a mobilizaçom operária. A jornada de luita do 17 de Junho contra a reforma laboral e em prol da greve geral nom passou de ser umha sórdida caricatura para cobrir expediente. A CIG pratica a nível nacional um sindicalismo de espectáculo, incapaz inclusive de movimentar os seus delegados e delegadas nas reivindicaçons políticas, dirigido exclusivamente a facilitar a lavagem de cara do regionalismo.

Nº 57 Julho, Agosto e Setembro de 20102

O desprestígio entre as massas do he-gemónico modelo de sindicalismo actuan-te na Galiza, completamente profissionali-zado, tomado por umha casta burocrática muito bem remunerada com generosos subsídios estatais, vai dificultar umha resposta de altura à ofensiva do Capital. A penetraçom da ideologia burguesa entre a classe obreira é um obstáculo acrescenta-do que dificulta o nascimento de um movi-mento obreiro à margem deste sindicalis-mo entreguista. Porém, a profundidade e a dimensom da crise vam inevitavelmente gerar o desenvolvimento das luitas e no seu seio um novo movimento proletário que compensará a inexperiência com umha primária firme vontade de combate. Mas sem a existência no seu seio de umha força revolucionária comunista que unifi-que e globalize as luitas parciais, as suas ligaçons com outras demandas do povo trabalhador, dando umha perspectiva de libertaçom nacional e social de género, mantendo a sua unidade frente às tenta-tivas permanentes de divisom promovidas polo reformismo, mais cedo que tarde esse novo sindicalismo poderá ser devo-rado polos poderosos mecanismos de um sistema que conserva fabulosos recursos económicos e ideológicos para neutralizar as luitas. A consciência marxista-leninista é a única arma invencível neste combate, é a única garantia de evitarmos o suborno permanente a que está submetido o mo-vimento obreiro pola lógica mafiosa com que age o Capital.

Editorial

gerais som bastante incompatíveis com as campanhas eleitorais que tencionam atrair o apoio dos sectores intermédios da populaçom.

O Dia da Pátria de 2010 tem lugar numha conjuntura de constantes ataques à classe obreira galega e ao conjunto do povo trabalhador após o incremento do IVA. Mas também entre contínuos anún-cios do incremento da taxa de ganho das grandes empresas galegas. Pescanova, Zara, Caixa Nova, Gadisa, Inditex conti-nuam a aumentar os seus lucros à custa de participarem no espólio dos nossos re-cursos naturais e energéticos, na sobre-exploraçom do proletariado galego, com destaque para as mulheres trabalhado-ras. Este contexto ratifica a necessidade de dotar a Galiza e a sua classe operária de um movimento independentista de in-discutível carácter anticapitalista e socia-lista, classista e contrário a manter umha linha conciliadora com qualquer das diver-sas fracçons do autonomismo.

Som horas de luita, de convertermos a rua no epicentro da política com maiús-culas, de promovermos o desenvolvimento da resistência e da autodefesa, de alargar a batalha ideológica, pois a crise capitalis-ta só pode superar-se por meio de umha saída revolucionária. E esta só é factível com um povo organizado dotado de um programa estratégico e umha vanguarda legitimada pola luita.

A adiada greve geral contra a política do governo espanhol e da Junta da Galiza é a expressom deste modelo de sindicalis-mo hegemónico, que com formas es esti-los diferentes, independentemente do seu carácter galego e espanhol, no cerne tem mais similitudes que diferenças.

CCOO e UGT deixam a resposta para 29 de Setembro no que sem lugar a dúvi-das pretendem converter numha morna e ordenada jornada que só paralise alguns sectores económicos, dificultando e repri-mindo as iniciativas combativas, evitando assim umha resposta contundente e cla-ra. Mas, basicamente, diluindo-a numha jornada europeia de luita que dê oxigénio a Zapatero e ao seu governo, desviando

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boa parte das suas responsabilidades nas medidas adoptadas e nas anunciadas para evitar incrementar a fenda eleitoral a favor do PP. Segundo este discurso, a Moncloa estaria sem capacidade de mano-bra, hipotecada polo predador capitalismo financeiro especulativo internacional, in-teressado em desestabilizar os mercados, impossibilitando que os estados voltem a introduzir medidas reguladoras para as-sim seguir fazendo suculentos negócios. Deste jeito o sindicalismo amarelo e o reformismo que lhe dá cobertura preten-dem desfigurar a cara das agressons que padecemos como classe, naçom e género, depositando a responsabilidade no capita-lismo internacional.

Quanto à CIG, ao invés do sindica-lismo basco, carece de coragem política para convocar a greve geral. Nom se atreveu -contrariamente ao que fijo a INTG em Fevereiro de 1984 com infinita-mente menos recursos humanos e eco-nómicos- a levar a iniciativa, convocando umha greve geral nacional. Suso Seixo e a Executiva vam simplesmente ao ritmo que marcam CCOO e UGT. Nom se atrevem a convocar pois nem confiam na capacidade da classe obreira galega nem tampouco na preguiceira e acomodada estrutura sindical de que eles fam parte, mas ba-sicamente porque nom querem danar as expectativas eleitorais do BNG nas mu-nicipais de 2011. E já se sabe: as greves

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“Garzón é um juiz que inventa qua-se todo a nível sumarial. Acontece é que sempre age com o apoio do poder político e do Ministério do Interior. Garzón dá-se ao luxo de ditar autos de processamento ou de prisom absolutamente fabulados, dando por demonstradas ligaçons orgáni-cas e funcionais de diversos sectores com aquilo que ele denomina “o terrorismo”. Garzón nom é, de nengum ponto de vis-ta, um “justo”, um “valente” ou “um dos nossos”: Joaquín Navarro Esteban 1939-2007, foi magistrado e deputado do PSOE.

A imprensa internacional ecoa o dis-curso oficial espanhol (oposto ao que tinha J. Navarro) em defesa de Garzón. Apontam o que outros antes apontaram na mesma imprensa espanhola, radicalmente: “… o paradoxo mais sangrento e insuportável da política espanhola, um insulto à memó-ria de tantos luitadores e luitadoras per-seguidos e assassinados polo franquismo: a primeira pessoa que sentará no banco dos réus na história da Espanha polos cri-mes do fascismo espanhol, 35 anos depois da morte do general golpista, nom será alguém que tenha feito parte daquela in-fámia infinita, ou algum apologista de sua bondade e necessidade histórica, mas sim um juiz que tentou, com maior ou menor acerto, usar algumas armas jurídicas para superar aquela Lei do Ponto Final, como foi chamada a Lei da Amnistia, de 1977”.

Os reformistas, esquerdistas e ines-querdistas internacionais que opinam sobre Garzón desconhecem ou querem desconhecer a verdadeira história do legitimador judicial da tortura por omis-som activa. Porque nunca agiu contra os verdugos fascistas? O magistrado foi o açoute da esquerda revolucionária, es-pecialmente em Euskal Herria: “Fijo-o no caso de Xaki, assunto em que está a actuar de forma fanfarrona, e também no caso de Ekin, inventando isso de que é a frente política da ETA. Também tem encar-cerado pessoas pacifistas o contrárias à acçom armada, como é o caso de Sabino Ormazabal e Pepe Uruñuela, que conheço pessoalmente”(J. Navarro).

Nom há nada de casual no currículo de Baltasar Garzón e sim de oportunista profissional. Um cínico carreirista que na-vega com a mais falsa das equidistáncias, santificado por factos relativos à Memó-ria, disfarçado de mártir. Baltasar andou a brincar com os sentimentos das vítimas ou dos danificados, ajudado com o senti-mentalismo mediático. Ninguém lembra na imprensa, ou fai lembrar, outras actu-açons do tribunal herança franquista as-sumida com nome mais insultante ainda, de fedor imperialista: Audiência Nacional, criada por Real decreto-lei 4 de Janeiro de 1977 no mesmo dia que era “suprimido” o TOP, criado a 12 de Dezembro de 1963 que assumia também as funçons da enti-dade chamada Tribunal Especial de Repre-sión de la Masonería y el Comunismo: 14 anos de funcionamento nos quais fôrom processados e condenados milhares de vermelhos e vermelhas.

Ele é Jogador herdeiro requintado do presentismo; omite a necessária referên-cia ao passado para entender o presente: o regime bourbónico que mantém o mes-mo tribunal de excepçom; a utilidade da Memória manipulada polos comissários do esquecimento, organizando a Memó-ria selectiva ou alheia como redentora da sangrenta história imperial espanho-la, escolhendo sempre o caso oportuna e mediaticamente, como quando Garzón ficou conhecido mundialmente ao emi-tir aquela ordem de prisom em desfavor do ex-presidente do Chile, Pinochet, por assassinatos e torturas de cidadaos es-panhóis. Utilizando como base o relatório da Comissom Chilena da Verdade (1990-1991). Foi com aquela gloriosa façanha quando ficou consagrado, intocável. Ago-ra utiliza, mais umha vez, umha parte das associaçons memorialistas, (na Galiza maioritariamente nom), que se sentem representadas por quem joga a vingador

tia, e a detençom de vários responsáveis de Orain, S.A, acusados de “integraçom em bando armado”; postos em regime de “incomunicaçom” a 14 de Julho de 1998. Nom é nem será nunca tarde para apro-fundar a batalha contra a impunidade e a falsa e criminosa ideia de que os órgaos públicos tenhem o direito de torturar e matar, encarcerar qualquer suspeito de actos considerados criminosos. Por im-perativo ético e moral para as mesmas vítimas, precisamos de recompor as injus-tiças do passado e as que se continuam a cometer. O direito à Memória, nom pode ser manipulado por juízes que nom com-bateram o fascismo. Nom queremos, nom podemos esquecer o que nom foi conheci-

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do ou reconhecido polos construtores da história oficial, nom superaremos o que nom foi nunca enfrentado com valentia po-lítica. Existe umha profunda imoralidade na sua intervençom repressiva, um com-portamento intrinsecamente oportunista e desleal neste jeitinho garzoniano que nega e menospreza a milhares de luitadores e luitadoras que crem na necessária entre-ga pessoal e colectiva à livre determina-çom política dos povos, das naçons sem estado.

A justiça espanhola tem um modelo arcaico e perverso derivado da sua pró-pria tradiçom dos autos de fé: declarar publicamente renegar de qualquer fé. Os seus labores repressivos som falsamen-te justificados como preventivos contra a violência e contra a vulnerabilidade social, física ou nom. Som os representantes do poder os que definem as condutas crimi-nosas ou delituosas, as que devem ser punidas exemplarmente, e no caso que tratamos a sua intervençom tem muito a ver com a excepcionalidade que legiti-ma ainda mais suas actuaçons longe do controlo público. O aparelho judiciário do que o actor é estrela se concentra na ti-picaçom interpretada a partir da conveni-ência especificamente política do regime bourbónico: ”... Isso da frente política é umha invençom do Ministério do Interior que o senhor Garzón aplica de manera sis-temática, sabendo que as suas decisons, por injustas que forem, som impunes por-que estám apoiadas polo poder político. O mesmo acontece no caso de AEK, que seguramente considerará frente cultural da ETA. Só falta descobrir que há umha frente religiosa da ETA ou umha frente ve-terinaria. Isto é umha caça de bruxas que me parece alarmante e inquietante” (J. Navarro)

Por ter escuitado centenas de denún-cias de presas e presos, nom só bascos, a relatar os métodos de tortura clássicos: violaçons como “a banheira”, “o submari-no”, a picana eléctrica ou o saco de plás-tico. Por terem dito perante o narco-presi-dente Uribe e os seus sequazes: “para nós é básica a incomunicaçom prolongada nos primeiros dias na reclusom”, ele tem a certeza de que os quartéis policiais espe-cialmente da Guarda Civil de Itxaurrondo, Barcelona de Madrid ou outros, som iguais aos mesmos que foram utilizados para a repressom durante o franquismo, e ainda mais avançados nos métodos de tortura, com a mesma vontade de destruiçom fas-cistas dos corpos da juventude detida. No entanto, o “superjuiz” olha de esguelha e assina as intervençons antiterroristas no tribunal de excepçom com a modalidade de detençom incomunicada e prolongada de que tanto se orgulha o governo espa-nhol. Só seriam suspeitas se nom exis-tissem informes como os dos relatores de organismos como o da ONU ou como o Comité para a Prevençom da Tortura do Conselho da Europa (CPT) ou o CAT espa-nhol que exigem a aboliçom dos métodos que defende o adail dos direitos humanos a medida do terrorismo imperialista de Estado que agora o encaminha ao exílio dourado em Haia da mao do juiz argentino, fiscal-chefe da Corte Penal Internacional, Luis Moreno-Ocampo, que publicamente pede ao usurpador que “melhore os seus métodos de pequisa”.

Xavier Moreda é activista da memória histórica

çom da ruptura necessária para eliminar os resíduos franquistas que assasinárom impunemente até o ano 1977. A sua rup-tura estelar é fictícia e mediática, nega omitindo a necessária eliminaçom dos re-síduos franquistas e do próprio tribunal; máximo resíduo fascista e da “transiçom sem fim”. É o grande promotor do presen-tismo, da Memória parcial manipulada de modo culturalista e sentimentalóide para ser vexada, negada, relativizada para a reconstruçom argumental dum Estado-naçom que jamais existiu.

Algum dia a restituiçom real da Me-mória, permitirá julgar episódios tam irre-gulares como o encerramento “cautelar” de Egin e da emissora de rádio, Egin Irra-

Garzón e a legitimaçom judicial da tortura

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dos despojados polos tribunais fascistas, dos perdedores, sem saírem do próprio TOP. Desde 1988, fai parte rechamante dum tribunal obscuro, onde foi, até ser destituído, a máxima estrela no firma-mento dos que julgam como terrorista a queima da figura do Bourbon. Dentro e a carom da extrema-direita, de aquele mes-mo tribunal que condenou tantos e tantas antifascistas durante a ditadura franquis-ta e que continua a ser chicote da es-querda. O juiz nunca ilegalizou a extrema-direita assassina, essa que agora exerce paradoxais “direitos constitucionais”, os falangistas que nunca investigou. Garzón é estrela do continuísmo judiciário fran-quista, do regime bourbónico, da nega-

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Lógica colaboraçom das instituiçons do regime

aNÁliSE

Qual é a relaçom que existe entre a língua galega e a luita de classes? Dito de outra forma, qual é a relaçom existente entre o idioma e a classe que domina a Naçom do ponto de vista político, econó-mico e social?

Cumpre abordarmos antes de mais umhas ideias que rompem com a as-sunçom do idioma como um elemento essencialmente subjectivo e sentimental, colocando-o ao nível de elemento fun-damental e objectivo que fai com que a burguesia oriente a língua galega face os seus interesses, controlando e limitando o seu aparelho legal e difusom social com a finalidade de perpetuar o seu quadro simbólico-material de acumulaçom e ex-pansom de capital.

Nem é preciso dizer que o galego é a língua própria da Galiza, única para as re-laçons de todo o tipo de todas as classes sociais desde a gestaçom do idioma até a integraçom na Coroa de Castela e poste-riores marcos políticos de dominaçom da Galiza até chegarmos ao dias de hoje. Sa-bemos que é desde a “doma e castraçom da Galiza” que o idioma vem invertendo os seus usos e possibilidades sociais. Porém, mesmo hoje em dia a língua ga-lega está directamente relacionada com a classe trabalhadora, mas nom só, tam-bém é usada por burguesia rural –nom apenas com usos rituais ou enganosos- e por umha relativamente recente nova burguesia mesocrática que em ocasions pode defender de algum jeito o idioma. Também é evidente que o espanhol tem já muita presença entre a classe traba-lhadora, sobretodo a mais jovem, a das cidades galegas e na imensa maioria das e dos imigrantes que venhem à Galiza para vender a sua força de trabalho.

Foi graças ao sindicalismo nacional e de classe que o resto do sindicalismo galego começou a fazer as suas reivin-dicaçons na nossa língua, hoje, isto é umha realidade consolidada a excepçom de algum caso de sindicalismo mais mi-noritário. O mesmo aconteceu no ensino graças a ERGA.

Dado que a contradiçom principal que existe na Galiza é a de classe, daí de-rivam o resto, quiçá seja possível que se poda construir umha Galiza independente como aconteceu na Irlanda, ainda dos 26 condados, e como aspiram a criar outras naçons sem estado que tenhem as suas línguas próprias extintas ou em vias de extinçom como é o caso da Escócia. Mas a nova fase do conflito língüístico na Gali-za nom é por acaso.

Para compreender as atitudes espe-cialmente beligerantes contra o galego dos últimos anos quiçá tenhamos que escapar do pensamento antagónico ao nosso, quer dizer, nom é que sintam o espanhol apenas como algo próprio e em perigo na Galiza, quiçá tenhamos de ver esta questom em chave de defesa da na-çom espanhola pola sua parte e observar do mesmo modo os conflitos que amea-çam a sua integridade, especialmente no País Basco e nos Países Cataláns, para além, é claro, das conquistas históricas da esquerda nacionalista galega. Nom se deve considerar em nengum caso o bipartido como um governo que se mo-vesse nestas chaves perigosas para a identidade espanhola, já que nestas duas expressons políticas encontramos, ainda que de forma desigual, espanholismo e direitismo.

Antes de mais, gostava de desmentir um tópico muito recorrente entre muitas e muitos das/dos que defendem o gale-go. Trata-se da afirmaçom “o espanhol é umha língua imperialista”. Nom há lín-guas imperialistas nem línguas proletá-rias, só as utilizaçons que se dam às lín-guas é que as convertem em ferramentas para construir uns modelos de sociedade ou outros. Para pôr três exemplos que desmintam o anterior, temos a classe trabalhadora castelá, andaluza ou a de

falantes vejam no galego um sinal de iden-tidade útil com o que abrirmos novas vias de comunicaçom no mundo.

Acho interessante continuar a desenvol-ver a ligaçom entre a língua galega e a luita de classes através de dous pontos concre-tos:

1 – a quem pertence a língua galega? E que interesses tem cada classe na língua?

Na prática, o idioma pertence às galegas e galegos que nascêrom com ele de forma espontánea e assim quigérom e querem que continue a ser e àquelas pessoas que polo contrário fôrom educadas em espanhol e decidírom a escolha do galego para praticar justiça lingüística e desenvolver-se na Galiza no idioma de seu.

No entanto, como vimos antes, o galego encetou no seu dia o código de quem exige a tranformaçom da Galiza em chave nacional, de esquerda e antipatriarcal, nom só, mas sim fundamentalmente.

Também vimos que o galego nom é idioma único entre trabalhadoras e traba-lhadores nem o espanhol entre a burguesia. Já sem entrarmos em questons de diglossia ou da pressom que em cada contexto pode exercer um idioma ou outro na hora de que

Porto Rico, que com as suas variantes do espanhol tenhem esta língua como própria para a sua classe trabalhadora, embora tam-bém no Estado seja o espanhol o idioma que se utilize como ferramenta contra as demais. Portanto, nom é certo que existam línguas operárias e burguesas ou imperialistas. Esta utilizaçom do espanhol, e a escolha de certos traços dialectais, no Estado, atende apenas à localizaçom da capitalidade em Madrid. Se por razons históricas a capitalidade tivesse sido por exemplo Compostela e a linhagem galega de reis fosse a que agisse como a Co-roa de Castela, diríamos hoje que o galego é umha língua imperialista? O caso é que nom deveríamos.

Outro mito de que ainda nos custa afastar-nos é o que exprime a ideia do idio-ma galego como elemento rural. Umha das conseqüências do modo de produçom capita-lista é a aglutinaçom da populaçom arredor da indústria e logo da cidade, cada vez mais, e se bem é certo que hoje é o rural onde se fala mais galego também o é que o rural está sendo despovoado e isto nom deve ser álibi para deixar de reivindicar o idioma, mas polo contrário, é dever conseguirmos que estas migraçons internas nom perdam a língua e também o é luitar por direitos lingüísticos que fagam com que as pessoas espanhol-

Língua e luita de classes na Galiza do século XXI

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classe trabalhadora ou burguesia falem ga-lego ou espanhol.

Em todo o caso, o evidente é que o gale-go é ferramenta ideológica para a classe tra-balhadora e o espanhol para a burguesia que na Galiza pretende continuar a desenvolver o projecto nacionalista espanhol.

Todo nacionalismo tem uns símbolos de construçom nacional desde a sua apariçom com o Romantismo: bandeira, território e língua som fundamentais. O nacionalismo espanhol –Zapatero, Rajói ou Feijó som na-cionalistas espanhóis ou ao serviço do na-cionalismo espanhol- utilizam, portanto, o espanhol como algo simbólico e material que sirva de elo entre as pessoas que habitam no Estado.

Embora o galego tenha certa legislaçom que a reconhece, o certo é que esta nom se cumpre, o que fai com que cada vez haja menos falantes. Ainda que desde finais da década de 70 e princípios da década de 80 pouco se tenha avançado em direitos para o galego, só graças aos últimos ataques ao idioma vemos umha resposta sem preceden-tes quase à altura dos ataques. O movimento popular está dirigido por pequena-burguesia, por conseguinte, a resposta também está li-mitada. Estamos perante umha nova fase de conflito lingüístico na Galiza, iniciada duran-

te o bipartido por sujeitos direitistas como o PP, Galicia Bilingüe ou La Voz de Galicia. O governo do bipartido nem soubo nem pudo reagir. Nom pudo porque umha luita plena e coerente na defesa do galego deve ser umha luita anti-sistémica.

A burguesia tem limitado o galego e as suas possibilidades para que prevaleça o status quo e podemos chamar burguesia àquela minoria que acumula a maior parte do capital galego, à pequena-burguesia tecno-crata da RAG ou à mesocrática funcionarial que na hora da verdade tanto fai o que se faga com o idioma enquanto puder escrever e falar galego no seu posto de trabalho ou com outros fins sociais.

2 – a alternativa reintegracioinista

O reintegracionismo é umha fantasia pequeno-burguesa? Nom, ao invés, é umha ferramenta de duplo fio e elemento simbóli-co-material objectivo que pode fazer perigar a relaçons económico-sociais na Galiza e o território espanhol como marco político-jurídico da naçom espanhola e o que esta representa.

Falávamos de que talvez seja possí-vel umha Galiza independente sem galego, acrescentamos agora que quiçá também o

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académicas, subsidiadas polas grandes empresas, mas de umha ebuliçom social ge-neralizada e já inocultável em escala global. Incluindo as grandes capitais europeias. Também ali há e haverá incêndios... Acabou a época em que a juventude europeia, pro-gressista e bem intencionada, procurava solidarizar-se com algumha boa e longínqua causa do terceiro mundo para nom se sen-tir vazia e encontrar um sentido à sua vida. Nom estará na hora de alimentar a rebeldia e o confronto directo também no primeiro mundo?

O variado e colorido leque de luitas ra-dicais, valiosas por si próprias, mas ainda dispersas e fragmentadas, ainda nom con-seguiu conformar umha coordenaçom ou umha frente comum que as agrupe organi-camente em escala internacional contra o capitalismo e o imperialismo. Os Foruns So-ciais Mundiais fôrom umha primeira tentati-va de diálogo, mas ainda demasiado fraca e cada vez mais light. Sobrevive a dispersom, a fragmentaçom e a falta de umha autêntica coordenaçom que permita elaborar estra-tégias comuns no longo prazo. Em termos políticos, essa segmentaçom resta força às reivindicaçons. Reconhecê-lo como umha insuficiência e umha debilidade –julgamos nós que transitória– constitui um passo obrigatório e necessário se o que se pre-tende é avançar colectivamente com novos fôlegos para maiores níveis de confronto contra o sistema capitalista do imperialis-mo contemporáneo em escala mundial.

A crise que vivemos actualmente nom só é económica, também é política, cultural, ecológica, energética, em suma, civilizató-

Inti Maleywa, Bolívar marcha com as FARC, 2004

A antiutopia de um mundo capitalista eterno mete água. O barco das grandes corporaçons multinacionais ranje. O leme do FMI, do Banco Mundial e doutras insti-tuiçons “filantrópicas” gira sem ponto fixo nem farol à vista no meio do oceano de cri-ses generalizadas por todo o lado. Mesmo o euro, moeda tam sólida noutro momen-to, começa a abalar. E Marx continua aí. Com um sorriso zombador entre os lábios. O seu livro O Capital voltou a ser um best seller.

Nom se trata hoje do “regresso” do Marx caricato da vulgata stalinista, facil-mente refutável (por isso mesmo sempre presente nas impugnaçons académicas). Tampouco retorna o Marx economicista que só sabe balbuciar a língua do funcionamen-to do mercado e a acumulaçom, mas nom pode pronunciar umha só palavra inteligível sobre o poder, a política, a dominaçom, a hegemonia, a cultura e as subjectivida-des.

O Marx que retorna a cena, e que nós tomamos como inspirador, conselheiro e guia, é o que alimentou os incêndios mais difíceis de apagar. O que alentou histori-camente as aspiraçons mais radicais dos condenados e vilipendiados da terra. Nom interessa se satisfai ou nom o gosto dis-ciplinado que conseguiu instalar como ho-rizonte fechado o pensamento único dos nossos dias (que nom desapareceu ainda que agora esteja na moda cuspir sobre o neoliberalismo). A volta de Marx –das suas problemáticas, de suas hipóteses, das suas categorias, dos seus debates e até da sua linguagem– nom depende das normas que ordenam a agenda das ONGs nem do re-conhecimento que atribuem as fundaçons

Marx hoje (e amanhá)Nést

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Há umha década, na mudança de mi-lénio, escassos dez anos após a queda do Muro de Berlim e em plena crise do neoli-beralismo, a BBC News On Line de Londres realiza umha votaçom polo site a pesquisar quais seriam “os dez pensadores maiores do milénio”. Participam e intervenhem jo-vens de todos os cantos do mundo e todos os idiomas. O resultado é inequívoco. A vo-taçom atribui o primeiro lugar a Karl Marx; seguido a boa distáncia de Albert Einstein, Isaac Newton, Charles Darwin, Santo To-más de Aquino e Friedrich Nietzsche.

Dez anos após aquela votaçom e a vinte anos da queda do Muro, na Europa ociden-tal, na América Latina e no mundo todo, as-sistimos a um outro momento histórico. Já nom estamos como nos anos ‘80 –em tem-pos neoconservadores de Thatcher, Gorva-chov ou Reagan– nem a começos dos ‘90 –naquela euforia neoliberal que fijo Fram-cis Fukuyama delirar com um reinado de mil anos para o capitalismo, pesadelo sombrio que também tinha sido sonhado por Hitler na sua melhor época.

Hoje em dia, generalizárom-se numero-sas rebelions e resistências contra a chama-da “nova ordem mundial”. Enquanto nos ‘80 e primeiros ‘90 o só acto de mencionar o termo “imperialismo” parecia anacrónico e caduco, hoje o debate voltou ao centro da agenda teórica e política. Até no meio de algumhas capitais europeias as pedras e os cocktails molotov ocupam o centro da cena política. De maneira análoga, a palavra “socialismo” retornou à esfera política pública (em torno dela hoje discute-se se na América Latina seria pertinente o socialismo clássico, o do século XXI ou qual. Venezuela é um desses palcos privilegiados, mas nom o único).

Umha espécie está em perigo de extin-çom: a espécie humana! Fagocitando o pla-neta no seu conjunto, incluindo as diversas formas de vida social que o habitam, o ca-pitalismo leva cinco séculos infatigáveis de perversa lida. Este monstro impiedoso, já velho e decrépito, tenciona arrastar ao seu túmulo toda a humanidade. Nom se trata de um indivíduo particular, mas de todo um sistema, um conjunto de relaçons sociais frias, anónimas e burocráticas no seio das quais as pessoas som só meios de lucro, ganho e acumulaçom. O mercado capitalista, que desde o seu nascimento aspirou a ser mundial, termina por engolir todo o planeta entre fins do século XX e começos do XXI. O mundo unifica-se. O american way off life transforma-se no único modo aceitável de (sobre)viver. Aqueles que nom o aceitarmos seremos considerad@s terroristas, subver-sivos, bandoleiros, fundamentalistas. Vam vigiar-nos. Vam incluir-nos nos index das novas inquisiçons e nas suas listas negras. Vam escuitar as nossas conversas. Vam ler a nossa correspondência. É lógico.

Nesse contexto totalitário de barbárie, vigiláncia e controlo generalizados, ressur-gem as rebeldias, reaparece a indisciplina social, voltam os choques e confrontos com a polícia. E contra todos os vaticínios, retor-na Marx.

Ainda hoje, os poderosos da Terra sentem um arrepio polas costas ao escutarem ou le-rem o nome de Marx. Empresários e banquei-ros, magnatas e financeiros, polícias e milita-res, compartilham o mesmo ódio contra o mar-xismo. Na televisom, nos diários, nas rádios e em qualquer meio de comunicaçom, os que tenhem poder e muitíssimo dinheiro nom can-sam de insultar o marxismo. Porque será?

seja num galego com “enhes”. Porém, no estádio actual da luita de classes parece difícil que se dê umha situaçom revolu-cionária que poda permitir a ruptura com Espanha. De todos os jeitos, isto som hi-póteses e sobre estas o tranquilizador e esperançoso é que neste país quem fala e age em chave revolucionária tem práti-ca reintegracionista, embora todo aquilo que é reintegracionismo na Galiza nom fale nem aja em chave revolucionária, para além do que a proposta tem em si.

Como digo, o reintegracionismo nada tem de ideia ou fantasia pequeno-bur-guesa. Para já, cumpre dizer que é umha proposta científica, já que propom a recu-peraçom da grafia histórica e do estudo do português para contrastar com os es-panholismos que temos na língua assim como recurso ou viveiro de neologismos e tecnicismos que nos venhem dados de série polo espanhol.

Além do mais, o reintegracionismo consiste em procurar umha comunica-çom que podamos ter com os países de fala portugesa por todo o mundo, seria a procura de um contributo cultural que nos é negado politicamente para conhe-cermos expressons culturais de outros países e podermo-nos realizar no nosso idioma noutras latitudes. Isto nem nos foi permitido nem se nos vai permitir. Alguém acha viável que um/ha cantor/a galego/a triunfe em galego por todo o Es-tado? Nem a realidade política e cultural, nem a invisibilidade de umha alternativa a isto fam com que o pensemos.

O reintegracionismo também supe-raria o caos lingüístico que existe na Galiza, palavras, expressons, aprendiza-gem de umha normativa científica com maior facilidade seria umha realidade que nom se pode fazer hoje com os dicionários e gramáticas da pequena-burguesia galega. Mesmo estas contra-diçons lingüísticas fam com que militán-cia independentista questione palavras ou expressons que o reintegracionismo assume e que basicamente para muitas destas pessoas o reintegracionismo seja utilizado ou adoptado, sem querer, apenas como algo simbólico que rompe com o elemento espanhol. Mas o rein-tegracionismo é muito mais do que isto e a arma que implica tem muito mais potencial.

Que aqui leiamos livros ou revistas em português ou que nos movamos em qualquer outra chave cultural que se nos ocorrer no mundo da lusofonia pom em risco o mercado da burguesia espanho-la, o que se oferece para consumir per-deria negócio na Galiza, iria abrir-se um espaço cultural novo. A nossa ferramen-ta seria o idioma galego-português, por fim língua extensa e útil, nom espanholi-zada e iria mover-se no novo espaço cul-tural como algo acessível, por cómodo, para o novo público lusófono, a fronteira cultural estaria fragmentada, o referen-te cultural seria um outro e isto nom in-teressa à burguesia. Com certeza que a burguesia poderia participar do negócio, mas nom é só a questom cultural a que está em debate. A contradiçom princi-pal nom é a nacional, nem a lingüística, nem nengumha outra que nom seja a de classe, que na Galiza adopta a forma de libertaçom nacional. O pequeno-burguês é o contrário, assumir a luita nacional deixando para depois a questom de clas-se, ou priorizar o cultural ou o Status Quo sobre o que aqui se expom. A língua e a cultura estám mutiladas, espanholi-zadas, limitadas. O motivo disto é que o que está em jogo é o quadro simbólico-material de acumulaçom e expansom de capital que se chama Espanha, a supe-raçom, passa polo sujeito revolucionário e a orientaçom política e cultural deste movimento.

Afonso Mendes Souto fai parte de NÓS-UP de

Corunha

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Associaçom Galega de Amizade com a Revoluçom BolivarianaSimón Bolívar. Libertador da naçons, criador da Pátria GrandeCompostela, AGARB, 2010, 37 páginas

A p r e s e n t a -nos a AGARB, com a cola-boraçom do Consulado da República Bo-livariana da Venezuela, a sua segunda pub l i caçom arredor da fi-gura do Liber-tador latino-americano Simón Bolívar, obra que tem a importáncia acrescentada de ser a primeira biografia sobre o grande líder independentista ve-nezuelano publicada no nosso país e na nossa língua.Além disso, é esta umha biografia que contribui para o resgate da ver-dadeira história de um Bolívar cuja vida foi manipulada e deturpada por quem o atraiçoou, a ele e o seu projecto para melhor converter-se em vassalos do imperialismo e opressores dos seus povos.O texto mostra-nos a influência de Simón Rodríguez, o seu mes-tre, para o surgimento do futuro inimigo da monarquia espanhola. Estando junto a ele em Roma, o ainda jovem Simón Bolívar decide retornar à sua terra e jura consagrar a sua vida à emancipaçom da Venezuela.Desde entom, a sua figura vai ganhando importáncia e prestígio como líder militar e dirigente político, se bem a oligarquia e a Igreja católica nunca vírom com bons olhos a sua proximidade do povo, concretizada em decisons como a aboliçom da escravatura. Também vai definindo as suas ideias sobre a necessária unidade americana, plasmadas na Grande Colômbia e no tratado de uniom aprovado polo Congresso An-fictiónico do Panamá de 1826.Mas o nascente e prometedor projecto é frustrado polas tendências separatistas das oligarquias fomentadas polo imperialismo. Os seus inimigos conspiram contra ele e, em 1830, Simón Bolívar é assassi-nado num crime que contou com a participaçom decisiva do governo estado-unidense, como agora se sabe. Matárom-no, mas nom pudé-rom apagar o seu exemplo, hoje vivo na Venezuela Bolivariana, na in-surgência armada das FARC-EP e nas esperanças dos povos da Pátria Grande. (Anjo Torres Cortiço)

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ria. Mas da crise, como bem ensinárom Lenine e Gramsci, nom deriva automa-ticamente “o derrube” do capitalismo e muito menos o socialismo. Nunca tivo nem terá “derrube” sem revoluçom e sem intervençom subjectiva. Tem razom o Che Guevara nos seus Apontamentos críticos à economia política (grosso vo-lume, publicado em 2006, onde discute de economia política com os soviéticos): o famoso e sempre citado “choque entre forças produtivas e relaçons de produ-çom” só se desencadeará através da intervençom política dos povos e em par-ticular dos trabalhadores. Nom fai sen-tido sentarmos à espera desse choque, nem ficarmos sentados para ver passar o caixom do inimigo em frente da porta da nossa casa.

Para dar conta desse horizonte com que se abriu no novo milénio em escala mundial, nom há melhor companhia que Karl Marx. Esteja ou nom de moda nas grandes academias. Digam o que dixe-rem os grandes empórios de desinfor-maçom.

A necessidade de reinstalar a dis-cussom e o debate sobre Marx na agenda contemporánea dos movimentos sociais, as organizaçons políticas e as ciências sociais torna-se umha urgência inadi-ável. Nom esqueçamos que durante o último quartel do século XX predominou no terreno do pensamento social um leque de relatos –principalmente o pós-modernismo, o pós-estruturalismo e o pós-marxismo– que conduzírom ao aban-dono de todo horizonte crítico radical e à deslegitimaçom de todo questionamento da sociedade capitalista.

O marxismo, em tanto filosofia da praxe, concepçom materialista da histó-ria, teoria crítica e estratégia política de hegemonia, nom pertence ao mundo do Jurasic Park. Recordemos que Jacques Derrida, pai do “deconstrucionismo”, de-dica Espectros de Marx ao autor do Capi-tal em 1993, convidando a retomar esse programa injustamente esquecido. E Der-rida dedica o seu livro nada menos que a Cris Hani, quadro militar do comunismo

Marx hoje (e amanhá)

Robert SkidelskyKeynes, o Regresso do MestrePenguin, 2009, 224 páginas

Vê de descrever a origem e as diver-sas interpretaçons da crise e apresen-ta as posiçons dos Novos Clássicos e dos Novos Keynesianos. Analisa a ascensom e a queda da Economia Key-nesiana, salienta a distinçom entre o conceito de incerteza e o conceito de risco e compara o Sistema de Bretton Woods (1951-1973) com o Sistema do Consenso de Washington (1980-2008).Procura na obra de Keynes nom ape-nas ideias para a reconstruçom da Economia, mas as dimensons filosófi-cas (mais em concreto as éticas e as políticas).Os três pilares do pensamento do mestre seriam:Que o futuro é incerto, nom é unicamente arriscado. As flutuaçons, as bolhas e os pánicos vam de consum com a devandita insegurança num mercado intrinsecamente instável.Que as economias abaneadas por estes choques, de serem deixadas em roda livre, poderiam estar em depressom prolongada e incluir um de-semprego trágico. Cumpriria, pois, umha política monetária nom neutra e umha política orçamental para tempos “anormais”. Acreditava em que as taxas de juro nom bastavam para derrotar as crises.Que as manias do capitalismo financeiro desenvolveram um sistema possuidor de rendimentos que é todo menos “um caminho para um mundo civilizado”.Um livro muito aconselhável, porém, nom há que obviar que o keyne-sianismo é umha saída capitalista, nom alternativa, e há que olhar as armadilhas ecológicas das políticas keynesianas de procura.À vista da crise financeira e económica, assim como da crise ecológi-ca (crise energética, ameaçador derrubamento do clima, inapropriada oferta de água e alimentos em muitas regions do mundo, et cetera) nom estaria mal recordar o ponto fulcral, para Marx, da Economia Política: o duplo carácter do trabalho e da mercadoria. Para dar remate: o sistema Terra incrementa a cotio a entropia: estám a se produzir transformaçons materiais irreversíveis na produçom, no transporte, na comunicaçom e no consumo… E o keynesianismo nom é a soluçom, pois nom se trata de reformar o capitalismo, e sim de o substituir. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Ricardo GurriaránInmunda escoriaVigo, Xerais, 2010, 525 páginas

Interessante novo contributo de Ricar-do Gurriarán para a escassa bibliografia sobre a história do Movimento Estudan-til Galego, na qual se fai um repasso pormenorizado da evoluçom e dos con-flitos que sofreu a universidade galega durante o período de 1936 a 1968. Leitura histórica limitada porém por umha excessiva preponderáncia na análise das fontes achegadas polas testemunhas dos distintos processos que afectárom a Universidade Galega duran-te o franquismo. Testemunhas que maioritariamente na actualidade fam parte da elite político-cultural do Estado espanhol e que portanto devem distorcer a realidade para tapar a continuidade da esséncia da universidade franquista na universidade galega do seculo XXI. Existe, pois, na leitura a sensaçom de umha vitória da esquerda estudantil que logrou transformar a instituiçom universi-tária; trasfomaçom ínfima como pode observar qualquer estudante galego que tivesse que sofrer Senem Barro, prologuista do livro, como reitor.Paradoxalmente nom se pode deixar de recomendar esta obra ao apresentar as distintas fracçons políticas que in-teragiam no período, tanto do campo franquista como da oposiçom. Tem, além do mais, o valor acrescentado de o fazer a partir de um espaço, a universidade, de conflu-ência da totalidade de “famílias” e reprodutora das eli-tes democráticas. Interessante livro, logo, ao analisar a evoluçom política do regime fascista partindo do lugar de criaçom das seus elites e mais ainda ao fazê-lo a partir de umha instituiçom periférica como a galega. Tampouco se pode esquecer a valiosa e ampla documentaçom anexa que o complementa e enriquece. (José Miguel Cuba)

LIVROS WEB

ConlutasCoordenação Nacional de Lutashttp://www.conlutas.org.br

Nascida da ruptura em 2004 com a CUT, principal central sin-dical brasileira hoje claramente situada do lado do governo, a Conlutas agrupa um número crescente de sindicatos situa-dos à esquerda e contrários a qualquer colaboraçom ou finan-ciamento do Estado. Rejeitam, por exemplo, a cobrança do sucu-lento imposto sindical brasileiro, instituído em tempos de Getúlio Vargas, bem como as actividades formativas que, tal como na Ga-liza, revelam umha clara depen-dência económica e política em relaçom ao sistema.

No seu site, podemos ver o tipo de trabalho amplo que a Conlutas desenvolve, incluindo nom só o trabalho estritamente laboral, ao incorporar movimen-tos sociais de negros, LGBT, mu-lheres, juventude, etc.

Além da informaçom rela-tiva aos conflitos concretos da luita de classes no Brasil, no seu site podemos acompanhar o processo de unificaçom em curso entre esta central e outras situa-das na oposiçom de esquerda ao governo Lula.

Helios Gómez, Viva Outubro, 1935

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da África do Sul assassinado polos neo-nazis (no mesmo país em que hoje se joga o Mundial de futebol). Hoje em dia, Gianni

Vattimo, outro dos progenitores do “pen-samento débil” pós-moderno, farto do capitalismo e do mercado, no seu recen-

é que até os principais e mais famosos popes das metafísicas “pós”, depois de batalharem durante anos contra O Capi-tal, vinhérom a reconhecer que Marx e o marxismo continuam a ser o horizonte insuperável da nossa época.

Nom som delírios. Nom som loucu-ras. O marxismo constitui umha ferra-menta imprescindível para dar umha perspectiva no longo prazo aos mal-estares, as luitas, os protestos e as re-beldias contemporáneas. Em tanto teoria de hegemonia o marxismo permite unir o diferente sem o esmagar, articulando um arco multicor contra um mesmo inimi-go: o capital, um modo de exploraçom e dominaçom, ou seja, umha forma de vida que termina sendo na realidade inimiga de toda forma de vida no planeta.

O desafio, entom, tanto teórico como prático, consiste em tratar de consoli-dar a oposiçom radical ao capitalismo construindo a partir dos ensinamentos de Marx certo grau de organicidade en-tre os movimentos sociais e políticos. Só com a espontánea comunicaçom virtual (via email, facebook ou o que seja) ou as redes voláteis já nom dá. Continuam a ser úteis mas... insuficientes. Jogárom um grande papel, importantíssimo e in-substituível, durante a primeira fase da resistência ao neoliberalismo, quando se vinha do dilúvio e a dispersom absoluta. Mas hoje já nom é suficiente. A oposiçom ao sistema, se pretender ser eficaz e mo-dificar realmente as relaçons sociais de força a nível regional, nacional e mundial, entre opressores e oprimidos/as, entre exploradores e explorados/as, deve as-sumir o desafio de construir força social e bloco histórico, tendendo para a con-vergência das mais diversas emancipa-çons contra as mesmas relaçons sociais do capital. Para isso, torna-se necessário e impostergável, nom só no ámbito da discussom das ciências sociais, como também na agenda política, recuperar a radicalidade de Marx e tirar-lhe todo o pó cinzento, encardido e burocrático que se depositou sobre os seus ombros na hora do derrube do muro de Berlim.

Néstor Kohan é militante marxista argentino

te Ecce comu. Como se chega a ser o que se era (2009) convida-nos a recuperar o comunismo como horizonte de vida. Isto

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“Com o triunfo ilegítimo do conti-nuísmo, repudiado pela abstençom cidadá, o país entrou num processo de radicalizaçom da luita política, no que o povo será protagonista de pri-meira linha... Estamos muito próximo de outros quatro anos de ofensiva oli-gárquica contra o povo em todas as ordens, lambuzado com melifluas e enganosas promessas oficiais em tor-no de umha vitória militar, como re-petiram sem cessar durante 46 anos, sem se preocuparem, nem muito me-nos se comprometerem, para superar as causas que geram o conflito”. (“O triunfo ilegitimo” Secretariado das FARC-EP)

Santos substituirá Uribe: lascas de um mesmo pau sangrento.

Dizem que na Colômbia há democra-cia e que se fizeram “eleiçons livres”. Mas nos oito anos de governos de Álvaro Uribe Vélez -isto sem contar o meio sé-culo anterior de “guerra suja”- disparou a níveis horríveis o número de desapare-cidos, assassinados, deslocados, tortu-rados, masacrados? Nada estranho num regime surgido do abraço carnal do pa-

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Colômbia: continuísmo sangrento e ilegítimo

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Juan Manuel Santos, a nova cara do terrorismo oligárquico e paramilitar

Estes resultados, bem e francamente lidos, significam que em Juan Manuel San-to votou apenas à roda dos 27% de os/as eleitores/as colombianos/as e que em Atanás Mockus votou por volta dos 13% ou 14 do total, já que também há que restar os votos nulos.

Santos, por tanto, “arrasou” Mockus exclusivamente dentro da minoria que votou, mas a verdade é que nom conse-guiu motivar a seu favor nem sequer um terço das e dos registados no censo elei-toral colombiano. Inclusive juntos, Santos e Mockus, só somam 42% dos registados nesse censo, enquanto a abstençom atin-giu 55%.

Entre a minoria votante, simpatizante da extrema-direita, a direita e o centro- di-reita político que coincidiu nas urnas, ga-nhou o mas de direita, o mais guerreirista dos dous. Isto dá para se estranhar.

Mas ao mesmo tempo o suposto triunfador ficou totalmente ilegitimado

Só que se trata de umha vitória sem representaçom institucional, de um triunfo extra-institucional dentro de um processo inconcluso. umha vitória que para além das inibiçons por indiferença ou apoliti-cidade, expressa o desenvolvimento pro-gressivo de umha espécie de contrapoder popular enfrentado ao estado de terror e à classe dominante-governante oligárqui-ca e mafiosa desse país.

Julgam vocês que em tais condiçons o Diabo Santos pode assegurar capacida-de para derrotar as FARC e o ELN e para prometer e anunciar o fim da insurgên-cia?

Pode um Presidente tam ilegitimo prometer o que durante quase meio sécu-lo todos os seus antecessores -proceden-tes como ele da rançosa oligarquia colom-biana subordinada aos EUA- prometêrom sem conseguir?

Estes resultados eleitorais mostram precisamente as profundas raízes sociais

A verdade é que quem carece de força política no seio do povo Colombiano, mal pode garantir em tais circunstáncias a sua vitória pola via militar.

Com fanfarronaria nom se ganham nem guerras nem as eleiçons. Santos nom ganhou porque nom é Santo e sim Diabo, e porque realmente foi derrotado polos tantos/as que votárom por nengum, por-que foi minimizado e ilegitimado polos que ante a falta de opçom alternativa decidí-rom enfrentar o ouro corruptor e o terror afastando-se das urnas.

Uribe e Santos, os seus padrinhos Bush e Obama, continuam no governo sem terem ganho. Na verdade fôrom parcial-mente derrotados e esperam-nos derro-tas maiores, num continente que dixo bas-ta e começou a andar.

Derrotas maiores relacionadas com o processo de conversom da resistência e o contrapoder em desenvolvimento em poder hegemónico, em nova institucionalidade,

À mentira de que os dias da insur-gência estám contados, agrega-se umha outra maior: “que as FARC estám acaba-das”.

O que nom podem explicar os gover-nantes colombianos é porque, se isso for assim, pedem ao G8, à Uniom Europeia e a um grande número de governos do mundo umha maior ajuda para as perseguir e as derrotar.

A verdade toma relevo quando se apreciam tantas incoerências e umha ocu-paçom militar a cada vez maior de parte de EUA.

É forte a luita, mas nom há maneira de derrotar militarmente a resistência multifacética do povo colombiano. A saída política ao conflito armado terá de impor-se sobre os senhores da guerra, da fame, a narcocorrupçom e o sangue.

Narciso Isa Conde é Presidente do Movimento

Continental Bolivariano (MCB)

ramilitarismo com umha das oligarquias mas vorazes e sangrentas da America e um imperialismo altamente militarizado e agressivo.

Na Colômbia existe um narco-estado terrorista que impom um carimbo policial-militar e paramilitar em todo o seu terri-tório.

A Colômbia converteu-se em platafor-ma de sete bases militares estado-uniden-se destinada a tutelar e nutrir a contra-insurgência; e a preparar, junto à IV frota dos EUA posicionada nas redondezas, a conquista militar da Amazonia.

A “democracia representativa” desse país está montada sobre esse arsenal e sobre um verdadeiro estado de terror. As suas eleiçons estám marcadas polo medo, a narcopolítica e a fraude arteira.

Dizem que Santos conseguiu 69% dos votos e que Atanás Mockus, ambos neoli-berais com matizes diferentes, conseguiu 27.5%.

Visto superficialmente, o continuador de Uribe arrasou Mockus e pareceria que se trata de umha maioria esmagadora. Assim, de resto, tencionam vender esses resultados as grandes agências dês-infor-mativas imperialistas, reforçando a falsa ideia de que o povo colombiano votou em grande polos chamados sucessos do gue-rreirismo oficial.

Mas acontece que 69% que se atribui a Santos é calculado sobre os 45% de votos depositados, já que a abstençom foi de 55%, alguns dim que de muito mais! O mesmo serve para os 27% atribuídos a Mockus.

em frente da sociedade e ante a própria “democracia representativa” que diz en-carnar. Como ficou também ilegitimado, em maior grau ainda, quem ainda diz ser a “alternativa” dentro do sistema político decadente que impera na Colômbia.

Ganhou realmente a abstençom. Ganhárom todos os que nom acreditam nessa falsa democracia. Ganhou a in-surgência armada. Ganhou a oposiçom radical nom armada. Ganhárom os movi-mentos sociais contestatários. Ganhárom os povos originários e os deslocados pela guerra suja.

do conflito armado na Colômbia, a enor-me base popular divorciada do sistema dominante dentro dessa sociedade e a impossibilidade do sucesso militar de um poder oligárquico-mafioso a cada vez mas ilegitimo, desgastado e antinacional.

Mostram claramente até onde che-gou o descrédito de seus protagonistas e beneficiários, mascarados com contínuas avalanches de mentiras mediáticas desti-nadas a justificar o negócio da guerra suja tutelada polos EUA, cada vez mais depen-dente do seu fluxo de armamentos e da sua intervençom directa.

em novo Estado e novo governo. Nessas quatro cousas misturadas, sem patentes nem hierarquias definidas no tempo, impul-sionadas polas mais variadas formas de lui-ta, polas suas ricas combinaçons, pola infi-nita criatividade de um povo que tem sabido sobreviver, resistir, despregar heroísmo e criar forças transformadoras em condiçons de sometimiento e crueldade realmente ex-cepcionais e horrendas.

As vitórias pírricas som realmente contrariedades e esta foi umha vitória pí-rrica dos Santos, Uribe, os falcons de Wa-shington e dos seus demónios.

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 10 de Julho de 2010Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

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A ofensiva global que a burguesia espanhola desenvolve contra as conquistas e direitos da classe obreira nom pode ser desligada da aceleraçom das medidas espanholizadoras que padece a Galiza, nem do incremento da marginalizaçom e exploraçom laboral das trabalhadoras.

O Estado espanhol pretende fazer recair sobre a classe obreira, sobre as mulheres e as naçons que oprime, os custos do duro pacote neoliberal imposto polo seu submetimento às directrizes do FMI, do Banco Central Europeu e do governo alemám.

O mesmo Estado que nega a existência do povo ga-lego, o exercício do direito de autodeterminaçom, que criminaliza a luita pola independência, que pretende avançar no processo secular de assimilaçom lingüís-tico-cultural da Galiza, é incapaz de evitar que Berlim, Bruxelas e Washington determinem a sua política eco-nómica. É um governo prepotente e soberbo com os povos, mas completamente submisso e obediente com as potências imperialistas.

O povo trabalhador galego deve deixar de olhar para o exterior, tem que confiar nas suas próprias fo-rças e recursos, nas suas capacidades. Tantos séculos de exploraçom e opressom, de esquecimento e mar-ginalizaçom som mais que suficientes para sabermos que nada bom podemos esperar de Espanha.

Temos que apostar na Galiza, definir o nosso futu-ro colectivo como povo, avançar na conquista de umha Pátria libertada. E a única classe objectivamente inte-ressada em conquistar a independência e a soberania somos essa imensa maioria social que conformamos o povo trabalhador.

A burguesia intermediária, a burguesia nacional e a pequena burguesia estám satisfeitas e conformes com o papel reservado à Galiza. No melhor dos casos, pretende atingir maiores quotas de autogoverno mediante o incre-mento de competências autonómicas que permita faci-litar o sucesso dos seus negócios, mas nunca apostar na recuperaçom da soberania conculcada por Espanha.

Conta com três grandes forças políticas para re-presentar os seus interesses. PP, PSOE e o BNG cum-prem correctamente essa funçom: som organizaçons interclassistas que, com matizes e ritmos próprios, perpetuam na Galiza a lógica do capitalismo espanhol.

A classe obreira nom pode confiar, nem a pode ter como aliada. Nós, mulheres e homens do mundo do Trabalho temos força mais que suficiente para dirigir e construir um movimento de libertaçom nacional de carácter socialista e antipatriarcal que vincule a eman-cipaçom de classe e género com a conquista da plena soberania e independência nacional.

A unidade do povo trabalhador com base num programa reivindicativo anticapitalista, antipatriarcal e anti-imperialista é a principal tarefa da esquerda independentista e socialista galega. Unidade para lui-tar por umha Pátria superadora do espanholismo, do capitalismo e do machismo. Eis o principal objectivo que o MLNG tem nesta conjuntura histórica: difundir e desenvolver o seu genuíno projecto revolucionário.

Viva Galiza Ceive, Socialista e nom patriarcal!BNG-PSOE-PP a mesma merda! Antes mort@s que escrav@s!

Galiza, 25 de Julho de 2010

Dia da Pátria 2010

Por umha Galiza sem espanholismo, capitalismo e machismo