ACORDA ATENIENSE! ACORDA MARANHÃO!_ Identidade e Tradição No Maranhão de Meados Do Século XX

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Ciências Humanas em Revista - São Luís, V. 3, n.2, dezembro 2005 73 “ACORDA ATENIENSE! ACORDA MARANHÃO!”: Identidade e tradição no Maranhão de meados do século XX (1940-1960) * Antonio Evaldo Almeida Barros ** Resumo: Analisamos processos de invenção e reinvenção da identidade maranhense, mostrando que, em meados do século XX (1940-1960), o mito da Atenas Brasileira é reatualizado, o Maranhão e o maranhense são ressignificados a partir de temas e sentidos daquela construção imaginária: novas letras refletidas de velhas imagens e transformadas em revelações da maranhensidade. Palavras-chave: Identidade. Tradição. História do Maranhão (1940-1960). Maranhensidade. Abstract: Procedures of invention and reinvention of the maranhense identity are analyzed, showing that, in the middle of the XX century (1940-1960), the myth of the Brazilian Athens is reedited, Maranhão State and the maranhense are remeanings from themes and significations of that imaginary construction: new letters reflected of old images and transformed in revelations of maranhense-ness. Keywords: Identity. Tradition. History of Maranhão / Brazil (1940-1960). Maranhense- ness. * Este artigo baseia-se na Monografia de Graduação (especialmente considerações iniciais e capítulo 2) “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense” defendida no Curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005a) e no Relatório Final de Pesquisa (especialmente considerações iniciais e capítulo 2) “Entre o maranhense- ateniense e o Maranhão de tambores e bumbas: Estudo sobre um momento do processo de reinvenção da maranhensidadeapresentado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, PIBIC/CNPQ/UFMA, em agosto de 2005 (BARROS, 2005b). As fontes históricas citadas neste trabalho podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís / MA. * * Graduado em História pela UFMA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos, Centro de Estudos Afro-Orientais, da UFBA. E-mail: [email protected]

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Autor Antonio Edvaldo Barros

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“ACORDA ATENIENSE! ACORDA MARANHÃO!”:Identidade e tradição no Maranhão de meados do século XX

(1940-1960) *

Antonio Evaldo Almeida Barros **

Resumo: Analisamos processos de invenção e reinvenção da identidade maranhense,mostrando que, em meados do século XX (1940-1960), o mito da Atenas Brasileira éreatualizado, o Maranhão e o maranhense são ressignificados a partir de temas e sentidosdaquela construção imaginária: novas letras refletidas de velhas imagens e transformadasem revelações da maranhensidade.Palavras-chave: Identidade. Tradição. História do Maranhão (1940-1960).Maranhensidade.

Abstract: Procedures of invention and reinvention of the maranhense identity areanalyzed, showing that, in the middle of the XX century (1940-1960), the myth of theBrazilian Athens is reedited, Maranhão State and the maranhense are remeanings fromthemes and significations of that imaginary construction: new letters reflected of oldimages and transformed in revelations of maranhense-ness.Keywords: Identity. Tradition. History of Maranhão / Brazil (1940-1960). Maranhense-ness.

* Este artigo baseia-se na Monografia de Graduação (especialmente consideraçõesiniciais e capítulo 2) “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidadepopular ressignificadas na maranhensidade ateniense” defendida no Curso deHistória da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005a) e no Relatório Final dePesquisa (especialmente considerações iniciais e capítulo 2) “Entre o maranhense-ateniense e o Maranhão de tambores e bumbas: Estudo sobre um momento doprocesso de reinvenção da maranhensidade” apresentado à Pró-Reitoria de Pesquisae Desenvolvimento Tecnológico, PIBIC/CNPQ/UFMA, em agosto de 2005 (BARROS,2005b). As fontes históricas citadas neste trabalho podem ser localizadas na BibliotecaPública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís / MA.* * Graduado em História pela UFMA. Mestrando do Programa de Pós-GraduaçãoMultidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos, Centro de Estudos Afro-Orientais, daUFBA. E-mail: [email protected]

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1. Considerações iniciais

Folheando páginas de jornais e revistas escritos no Maranhão em mea-dos do século XX (1940-1960), podemos escutar vozes do passado e encontrartextos e imagens (re)criadores e propagadores de mitos e ideologias construídossobre aquelas glebas, instituindo um Maranhão e um maranhense singulares, esedimentando um conjunto de discursos que, além de representar, agem no sen-tido de inscrever, significar, multiplicar e propagar o real.

O Maranhão e o maranhense não são categorias que falam de uma situa-ção natural. Ao contrário, trata-se de uma região e de um tipo regional que vêmsendo continuamente reescritos e revistos, e tais processos de ressignificacão ede redimensionamento têm rostos próprios no período em foco. Desse modo,pensamos que o Maranhão e o maranhense são construções sociais e históricasque passam por constantes processos de demarcação, entendendo que demarcaruma região significa dar-lhe sentidos imprimindo-lhe uma forma, uma aparên-cia que tende à homogeneidade, mas que, enquanto (pretensa) identidade, é tãosomente “uma repetição, uma semelhança de superfície, que possui no seu inte-rior uma diferença fundante, uma batalha, uma luta, que é preciso ser explicitada”(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994, p. 9).

É entendendo que “A região não é uma unidade que contém uma diversi-dade, mas é produto de uma operação de homogeneização” (ALBUQUERQUEJÚNIOR, 1994, p. 9), um espaço (re)cortado e (re)inventado a partir de interes-ses variados, que objetivamos analisar, neste texto, um dos momentos em queaquela operação se processa no território demarcado como maranhense, entre asdécadas de 40 e 50 do século XX, a partir do estudo de práticas, experiências ediscursos sobre mitos e ideologias que pretendiam significar, identificar e defi-nir a região (Maranhão) e seu tipo regional (maranhense), aceitando, como pen-sa Baczko (1985, p. 296), que “O imaginário social é uma das forças regulado-ras da vida colectiva” e as produções imaginárias, particularmente os mitos,“constituem outras tantas respostas dadas pelas sociedades aos seusdesequilíbrios, às tensões no interior das estruturas sociais e às ameaças de vio-lência”.

2. Decadência e prosperidade – singularizando a maranhensidade

Em meados do século XX, falas e representações acerca do Maranhão edo maranhense são, em grande medida, definidas e enformadas pela reatualizaçãodo mito da Atenas Brasileira (e seus próximos, como o mito da fundação france-sa de São Luís, a capital do Estado) e pela “ideologia da decadência”,consubstanciando um encadeamento de significados que institui a região e seutipo como singulares – “ideologia da singularidade”.1

Politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos que per-passam o período por nós recortado. Primeiro, entre fins da década de 30 e metadeda década de 40, quando Paulo Ramos foi Interventor (15/08/1936 – 23/03/1945).Depois, de meados da década de 40 até meados dos anos 60, período correspon-dente à oligarquia vitorinista que será substituída por uma outra, a oligarquia Sarney,

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em 1965. Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geraçãode 45”.2 Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra SerrãoCardoso (23/03/1945 – 07/11/1945), Saturnino Belo (16/02/1946 – 10/04/1947) eJoão Pires Ferreira (10-14/04/1947)3. Os governadores no período vitorinista 4:Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (1951-1956), José de Matos Car-valho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966).

Neste contexto, o fundamental é notar que, em ambos os momentos vo-zes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto parareerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.

Paulo Ramos foi nomeado por Getúlio Vargas em 1937 para InterventorFederal (MEIRELLES, 1980). Sua estratégia política, segundo Corrêa (1993, p.207, grifo do autor), foi “a da produção e consolidação de uma convincenteautonomia administrativa, que promovesse o distanciamento gradativo dos tra-dicionais litigantes oligárquicos da máquina do Estado”. E os soldados que fo-ram seus combatentes “outros não foram, senão os intelectuais”.

Importante destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o aliciamento depoetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional. No Maranhão, comPaulo Ramos, a máquina estatal foi expandida. Houve um crescimento das ins-tituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais.Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e dojornalismo provinciano” passam a “compartilhar das responsabilidades admi-nistrativas do Estado” (CORRÊA, 1993, p. 208-217).

Paulo Ramos foi encontrar os intelectuais do Maranhão na AcademiaMaranhense de Letras (AML), “instituição concentradora da inteligência e dosmecanismos regulares e legitimados de um hipotético reconhecimento das qua-lidades literárias”. No contexto estado-novista, vários foram os intelectuaismaranhenses que se destacaram no exercício da atividade pública, entre os quaisAgnello Costa, Clodoaldo Cardoso, Ribamar Pinheiro, Astolfo Serra, Luso Tor-res, Oliveira Roma, Armando Vieira da Silva, Nascimento Morais. Tais intelec-tuais justificavam o Estado Novo enumerando suas conseqüências positivas(CORRÊA, 1993, p. 209-219).

É nesse período que aparece a “Revista Athenas”. Uma revista que, den-tre outras pretensões, visa ser a confirmação das gloriosas tradições que seupróprio nome indicaria. Este é um momento em que a noção de cultura aindaaponta sobretudo para uma tradição que valoriza a Europa: um texto velho, mascontinuamente revitalizado.

Com o fim década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectualmaranhense estavam radicados no Rio de Janeiro. 5 Depois da renúncia de GetúlioVargas, a máquina protetora dos intelectuais maranhenses foi desmontada. Diantedisso, “numerosos escritores e estudiosos maranhenses procuraram o contatoeducativo e estimulante da mocidade” (CORRÊA, 1993, p. 222). Como tentaremosmostrar, um dos resultados daquele contato será a reatualização do mito da AtenasBrasileira através de discursos que eram proferidos nos mais variados lugares, deescolas e centros estudantis à praça pública, por ocasião de festas ou reuniões.

O vitorinismo (1945-1966), por seu turno, como evidencia Costa (2000),caracteriza-se pelo domínio na cena política estadual, de Victorino Freire, da

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Ocupação, contestado pelas Oposições Coligadas, que ascenderiam ao poderem meados dos anos 60, tendo início o sarneísmo; a Ocupação era acusada pelasOposições de consolidar um projeto contrário às verdadeiras tradiçõesmaranhenses; trata-se do período de invenção da mística “Ilha Rebelde” na Gre-ve de 1951 e de forte reatualização do mito da Atenas Brasileira.6

A mitologia da Atenas Brasileira foi “motivada originalmente pelo de-sempenho cultural (socialmente condicionado) do ‘Grupo Maranhense’ [OdoricoMendes, João Lisboa, Gonçalves Dias, Gomes de Sousa], –– nascido em umasociedade de senhores e escravos”. Nesse contexto, a categoria Maranhão éconstruída, “envolta em uma mitologia endêmica, de terra vocacionada pelashipotéticas forças superiores, a um destino especial, porque grande, heróico eglorioso” (CORRÊA, 1993, p. 22; 35). Mesmo contribuindo com a construçãoda identidade nacional patrocinada pelo Estado imperial,

a sociedade maranhense, densamente elitista, combinando crescimentoeconômico e esplendor cultural, fabricou uma excepcionalidade,consagrando-se como brasileira, em consonância com o processo emelaboração, e distinguindo-se do conjunto em elaboração, pelo manuseiode uma superioridade espiritual, ao definir-se como Atenas [...] colocou-sena selvagem América, protegida pela cultura clássica da Europa. [...] A louvaçãodos méritos, que foram reais, em um complexo de intelectuais, foi transposta àcondição de essência particular de todos os maranhenses [...] AtenasBrasileira –– provincianismo mais refinado do que o nacionalismo [...]Maranhenses, nascidos na Atenas Brasileira. Atenas Brasileira, nascidados maranhenses (CORRÊA, 1993, p. 102-104, grifo do autor).

Estudando representações formuladas pelos “Novos Atenienses” acercado mito da Atenas Brasileira e sobre processos de decadência e de renovaçãocultural com que se debatia a elite letrada maranhense ao longo da RepúblicaVelha, Martins (2004) nota que uma marca da produção intelectual daquela elite:

foi a disposição para refletir sobre o Maranhão, visando elucidar especificidadesda trajetória do torrão natal. Essa atitude tinha por norte montar imagens basilarese fundantes do Maranhão, passíveis de utilização simbólica na construçãoidentitária, de sentido novo, reclamada naquela época prenhe de transformações(MARTINS, 2004, p. 103).

Contudo, os esforços e propósitos foram forjados sem a consideraçãodevida das condições reais necessárias para sua realização.

Alguns elementos centrais da construção do mito da Atenas Brasileirapodem ser apontados: primeiro, que ele não se separa da ideologia da decadên-cia; segundo que visa um futuro reatualizando um passado; e, terceiro, que ins-titui um maranhense e um Maranhão singulares. Como veremos, elementos des-te núcleo geral do mito permanecem em meados do século XX, mas sua roupa-gem já não será idêntica a esta. Em grande medida, tecidos novos servirão deemendas a esta velha vestimenta.

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A Atenas Brasileira, enquanto construção mítica, não é um discurso prontoe acabado, pelo contrário, é uma invenção mutante. Trata-se de uma mitologiaque não anda só, ela caminha de braços dados com a ideologia da decadência.Atenas e decadência são irmãs siamesas. Fontes escritas de meados do séculoXX denunciam que o Maranhão vivia um momento de “Decadência”, “Degene-ração”, “Obscurantismo”, estaria “na fase mais negra de sua existência”, de“decadência [...] de nosso passado de glórias imortais” (JORNAL PEQUENO,1952). Uma decadência que se mostra atingindo diversas dimensões dessa soci-edade. Nascimento Moraes, então presidente da AML, reclama da “decadênciada cultura intelectual do Maranhão” (MORAES, 1945).

Analisando a chamada “decadência da lavoura”, registrada no Maranhãodo século XIX, a partir de uma leitura crítica de formas de explicação da situa-ção econômica e social da região, que se cristalizaram na vida intelectual, to-mando como norte teórico Bourdieu (1974), Almeida (1983) nota que a aborda-gem sobre aquela decadência feita por alguns intelectuais consagrados a nívelregional, em sua maioria membros (patronos) das duas mais significativas insti-tuições regionais do período, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão(IHGM) e a AML, em inícios do século XX, acabou por marcar definitivamentetoda a produção intelectual posterior.

Fundamentalmente, podemos dizer que aqueles intelectuais produziraminterpretações sobre a situação sócioeconômica do Maranhão do século XIX,representações tais profundamente eficazes, na medida em que levaram à “re-produção de noções e argumentos, que integram o seu esquema de pensamento,nas diversas interpretações que lhe sucedem”, os intérpretes “comportam-se comoepígonos daqueles” intelectuais do início do século XIX. “Cedem ao impulsoinconsciente de reproduzir as maneiras de pensar, que estruturam suas versõesrelativas à chamada decadência da lavoura” (ALMEIDA, 1983, p. 27-28, grifodo autor). Isso irá consolidar um movimento em que será introjetado, nas repre-sentações futuras acerca do Maranhão, um dilema fundamental que contrapõe a“decadência” à “prosperidade” (ALMEIDA, 1983, p. 202).

Segundo Costa (2001, p. 79), o discurso da decadência é “Umafantasmagoria [que] preside as discussões sobre o Maranhão, ocupando umaposição estratégica quando se pretende pensar o complexo e multifacetado pro-cesso de instituição dos imaginários sociais acerca da identidade regional”.Destaca ainda que:

A decadência e sua contraparte (o mito da Atenas Brasileira) se conjugam parafornecer o referencial imagético e discursivo a partir do qual se fala e se escrevesobre o Maranhão; constituindo e sedimentando várias camadas de idéias-imagens e representações, presentes nos trabalhos de historiadores, geógrafos,literatos, produtores culturais, cientistas sociais, políticos (de esquerda e dedireita), dentre outros. O debate sobre a identidade regional, com variaçõesmúltiplas e contribuições diversas, tem preponderantemente se organizado emtorno destes temas, conformando uma teia discursiva ampla que sustentou (eainda sustenta) práticas políticas, econômicas e culturais dos mais diversosatores sociais (COSTA, 2001, p. 80).

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Enfim, podemos afirmar que a chamada ideologia da decadência doMaranhão configura-se como um modelo representacional constituído a partirda análise da situação econômica daquele Estado durante o século XIX, cujosmoldes e percepções perpassam as representações vindouras sobre o Maranhão,inclusive aquelas presentes em meados do século XX. Um modelo que se refaze que se ressignifica continuamente, não sendo, de modo algum, fixo, estático.Ao lado da Atenas Brasileira, tal ideologia produz o Maranhão e o maranhensecomo singulares – ideologia da singularidade.

Partindo do pressuposto teórico sugerido por Hobsbawm e Ranger (1997) 7

sobre construções de mitos/tradições, segundo o qual o momento em que socieda-des passam por situações difíceis é propício para a invenção de tradições, Lacroix(2000), em (polêmico e polemizador) trabalho, “desmente” toda uma história ofi-ciosa que afirmava terem sido os franceses os fundadores da capital maranhense,trazendo o problema da ideologia da singularidade à arena do debate ainda maisvivo.

Lacroix (2002) nota que é somente durante o século XIX que se começaa falar sobre a fundação francesa da cidade de São Luís, fundada (?) em 1612,exatamente no século da já mencionada decadência da lavoura. Tal século foitambém o período de maior influência da cultura francesa no mundo, não à toaque ficou conhecido como o “século do galicismo”. Momento propício parainvenção de tradições em São Luís.

Numa tentativa de se mostrarem diferentes diante de outros Estados daFederação, os contemporâneos lançam mão de um elemento que os singularize:atualizam, então, a idéia de que São Luís teria sido fundada por franceses. Mis-tura-se ilusão de origens e presunção da superioridade intelectual: “No bojo dodiscurso laudatório, constituindo a comunidade maranhense como a mais erudi-ta, elegante, gentil e hospitaleira, surgiu a construção de uma distinção: a dafundação de sua capital pelos franceses” (LACROIX, 2002, p. 120).

A ideologia da singularidade pode ser lida, segundo Soares (2002), “comoum sentimento de ‘orgulho’ exacerbado da diferença do Maranhão e da figurado maranhense, impresso no modo de ver a história e, principalmente, nas ex-pressões locais da cultura, no contexto da história e da sociedade brasileira”. Deacordo com o historiador, é importante que nos perguntemos sobre como pensarum mito como o da fundação francesa de São Luís numa cidade “onde a maioriados habitantes, seu contingente de negros e mestiços, nela nascidos ou não,parece marcada antes pela indeterminação das origens, míticas ou históricas”.O mito, talvez, mantenha “intocada a idéia em si da fundação, afastando a pos-sibilidade, esta sim terrível, de que São Luís seja uma cidade sem origens”.Pensar a história e a memória da cidade “à falta de expressão exata, poder-se-iachamar de longa vivência do falso”. Tal vivência aponta para uma “situaçãoonde as tentativas visando a invenção de identidades esbarraram sempre comesse campo de indeterminação constitutivo”: primeiro a elite ludovicense quisser portuguesa, depois francesa...

Se São Luís foi fundada por franceses ou portugueses, ou se sua funda-ção é indeterminada são os pontos diretos do questionamento. De todo modo,fica claro que a ideologia da singularidade é idéia presente nos processos de

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construção da identidade ludovicense e maranhense no curso do século XX, e éenquanto tal que a consideramos neste trabalho.

3. Reinscrevendo Atenas

O Maranhão era dito e visto em meados do século XX, de acordo comfontes escritas, como um espaço prenhe de potencialidades, mas que passavapor um momento de decadência. Diversos jornais e revistas, dos mais variadoslugares de onde falavam, seguiam esse padrão explicativo.

O Maranhão “deu, no século passado, homens inteligentíssimos –– gêni-os! Nessa mesma época fôra a cidade de São Luis, capital do Estado do Maranhão,cognominada de ‘Atenas Brasileira’ [por causa de] Antonio Gonçalves Dias,Humberto de Campos, Coelho Neto e muitos outros”. O Maranhão teria vivido,assim, um passado de glórias. E o presente? “Em nossos dias bem poucos são oshomens que possuem inteligência lucida” (LIMA, 1957). Ou nas palavras dopoeta, escritor e membro da AML, Correia de Araújo (1949, p. 3): “[...] entrenós, caiu, ha muito, a noite espêssa. Noite sem astros, sem faiscas, sem tro-vões”.

Em 1950, um repórter do jornal “Correio Trabalhista”, dizendo agir por“amòr á Verdade, á Razão, ao bem estar deste Maranhão heroico e sofredôr”,sente-se na obrigação de “bradar mais uma vez aos céus da ‘Terra Gonçalvina’”e denunciar que São Luís, por exemplo, estaria caminhando numa “escala...Descendente do Progresso e... ascendente da barbaria”, maculando a face da“imortal ‘Atenas Brasileira’”. Este discurso tem uma intenção (estritamente)política, pois, para o repórter, as administrações anteriores da cidade de SãoLuís, de Magalhães de Almeida e Paulo Roma contrastariam com a atuação doentão prefeito da cidade, uma administração que “o pleito de 3 de Outubro vin-douro apagará definitivamente da face imortal da ‘Atenas Brasileira’” (COR-REIO TRABALHISTA, 1950).

A verdade é que o binômio decadência-prosperidade regia as interpreta-ções sobre o Maranhão e o maranhense. Decadência e Atenas constituíam idéi-as-chave que embasavam os discursos de políticos, intelectuais, escritores, poe-tas, etc., um discurso que se reproduzia transformando-se em verdade. Aquiloou aquele em relação ao qual não se concordava, frequentemente era impressocomo símbolo da decadência do Estado, da cidade, sendo que, um outro (seuopositor) traria os tempos áureos de Atenas. Não raro, ambas as partes se apro-priavam de um único discurso.

Desse modo, a espera por um libertador era constante. De fato, comobem mostra Costa (2000), aquela que parece ter sido a apropriação mais bemsucedida dessa parafernália de imaginários, de algum modo, presente (e eficaz)no todo social, foram as Oposições Coligadas, personificadas na figura do “li-bertador” Sarney. As Oposições Coligadas apresentavam-se como depositáriasdas verdadeiras tradições da terra timbira.

No entanto, esta não será uma artimanha original daquelas oposições. Ogrupo vitorinista já fazia isso, embora talvez sem a mesma eficácia. Ao que tudoindica, Sarney e as Oposições apenas se cristalizaram como um momento ápice

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do uso daqueles imaginários a seus interesses. Outros, a partir dos mais diversoslugares, já haviam utilizado aquela estratégia.

Enfim, o Maranhão, diante do momento de decadência por que estariapassando, é convidado/convocado a “Acordar”, “Ressurgir” resgatando suasverdadeiras tradições. As tradições do Maranhão identificar-se-ão com umasérie de textos e contextos, cujo centro nuclear é solidificado por elementosconstitutivos do ideal de Atenas Brasileira, ao redor do qual gravita um conjun-to vasto e diversificado de matizes. O desejado Maranhão do progresso e dacivilização tem a sua mais pura representação na utopia da Atenas Brasileira, eela se reatualiza neste período.

Em 1939, é lançado o primeiro número da “Revista Athenas” (dirigidapor J. Pires), lida como “uma arrancada” no sentido “de confirmar a glória deseu próprio nome e fazer uma demonstração da mentalidade maranhense”. Re-cebendo o nome de Atenas,

[...] em se tratando de uma publicação maranhense, feita no Maranhão, levaráos leitores a recordar aquela “Athenas” do tempo de Perycles, de Socrates, deXenophonte, de Phidias [...] E dirão que “Athenas” é hoje synonimo deescombros, de ruínas, e é o nome que forçará o espírito a recordar um passadode glórias e a physionomia moral de um povo que já deu o que podia dar.Entretanto [...] Digam que se transmudam, que se reformam, que se reorganisam,e que tomam novas directrizes. Mas não se verificam desornamentos nasedificações feitas. O que ficou construído servirá de alicerce a novas edificações[...] A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental.(MORAES, 1939, p. 1-2, grifo nosso).

A reatualização do mito se processava num contexto em que a idéia decivilização (ocidental) e progresso regia os discursos. Aquele (no contexto doEstado Novo) seria um momento de renascimento, de reconhecimento da forçados povos americanos (do sul). “Nossos povos, habitando immensa região tro-pical”, estariam demonstrando “acordar de uma longa lethargia, e de um atrozconformismo”, fato que “não deixará de impressionar algures, dada a fixação depreconceitos que nos mostravam ao mundo como gente dotada de incapacidadepara exercer um relevante papel no desenvolvimento do cyclo da civilizaçãoque nos atingiu no seculo de Colombo” (TEIXEIRA, 1939, p. 18).8

Os alaridos atenienses, como aquele da Revista Athenas, tinham fôlegocurto. Era no conjunto que eles mostravam sua força. Em verdade, a história eraestabelecida por meios de repetições praticamente obrigatórias. Os discursosrepetidos incessantemente davam vida e forma à realidade. Nesse sentido, emmeio ao marasmo pelo qual estaria passando a terra gonçalvina, indicador dadecadência da vida intelectual e cultural do Estado, grêmios e centros estudantisde escolas e faculdades davam sua parcela de contribuição no processo de tenta-tiva de não esquecimento e de rememoração do Maranhão-Atenas, através dapublicação de jornais e de realização de cerimônias. 9

Importante notar que aquelas instituições eram, em geral, chefiadas pormembros da AML e/ou do IHGM. Eram eles os seus diretores, seus responsá-

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veis, seus professores. Também eram eles que, certamente, incentivavam e mes-mo guiavam o andamento das iniciativas da “mocidade ateniense”. O jornalFolha Escolar, por exemplo, “trabalho em cooperação dos alunos da Escola ‘Be-nedito Leite’”, tinha por redatora e gerente, respectivamente os alunos Margari-da Ferreira e Mário S. Mesquita, e a direção das professoras Benedita RosaSoares e Silva e Elda Archer Serra Martins (FOLHA ESCOLAR, 1949).

Esses jornais eram lidos como sinais do ressurgimento das esperançasdepositadas nas classes estudantis. Ficando, “portanto nas mãos dos Estudantesde nossa terra o bom nome bem como o futuro de Atenas Brasileira” (AVANTE,1950). Cada um “jornalzinho” desses indicava um caminho para a concretizaçãodos anseios estudantis e significava verdadeira “jornada heróica” (RAMOS,1950).

O movimento se processava tanto na capital quanto em cidades do inte-rior do Estado, como Caxias – terra natal de Gonçalves Dias. “O que vemos emnossa Caxias [...] é o ressurgimento das letras. Notamos na mocidade um certodesejo de saber e poder expressar o que aprendeu”. A mocidade das escolascaxienses “em poesias e discursos memoráveis” teria comemorado os dias deGonçalves Dias, do Estudante e do Soldado.

É o despertar risonho de uma nova era. De uma época de luz nos céus caxienses.De uma compreensão melhor entre a passada e a atual. Já não vemos o marasmoque se apossou da cidade. São inteligências novas que estão despertando paraa gloria das letras [...] A vida literária que volta trazendo a Caxias, o título deceleiro intelectual da Atenas Brasileira, há muito perdido. É o despertar para asletras (GONZAGA, 1956).

Em geral, os primeiros números dos jornais de estudantes apresentamum eixo central em que vemos pontificada a idéia de que o Maranhão e omaranhense têm um passado de glórias imortais, identificadas com as letras dosseus grandes poetas e escritores, isto é, que o Maranhão foi a Atenas Brasileira,mas que ainda tem, apesar dos sinais presentes de sua propagada decadência,condições de se reerguer e, desse modo, manter e reviver sua distinção, suasingularidade, em relação a outras regiões do país, garantindo um lugar privile-giado no solo da civilização brasileira.

Folha Estudantil, órgão do grêmio liceísta, publicado em 1951, tem umprimeiro número paradigmático. Escutemos palavras dos estudantes:

Este periodico que pela primeira vez se apresenta ao publico e aos representantesda intelectualidade maranhense é mais uma expressão da vontade e da energiada juventude de S. Luiz que quer enveredar o caminho palmilhado pelos seusilustres e doutos antepassados.[...] O passado não volta, mas incontestavelmente é a base da grandeza de todosos povos. E a grandeza intelectual do Maranhão é conhecida dentro e fora doBrasil. Não é sem justo motivo que lhe deram o aposto de Atenas Brasileira.Atenas pela cultura das letras e pela cultura das artes. Atenas pelas fulguraçõesda palavra escrita e pela imponência da palavra falada. Atenas porque como a

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da Grécia, não copiou ninguém [...] Atenas porque as produções de seus filhosserviram de plano e colorido aos grandes espíritos dos outros Estados do Brasil.Alexandre Herculano, uma das maiores figuras da literatura portuguesa, lendoGonçalves Dias, disse que no seu tempo era ele o maior poeta da líiguaportuguesa. Atenas porque Odorico Mendes sabia o grego como os propriosgregos, pois assim o demonstrou com as suas traduções, sem igual, dos trabalhosdos grandes poetas gregos (FOLHA ESTUDANTIL, 1951, p. 1).

Rememora-se um passado miticamente construído, denuncia-se um pre-sente supostamente decadente e vislumbra-se um futuro pelo espectro daquelepassado.

Avante, MOCIDADE ATENIENSEVolvendo a memória ao passado, revivemos os dias áureos dos nossosascendentes, quando a gleba maranhense se sobressaiu, pelas letras, entre asdemais glebas do solo pátrio. Hoje quando desfolhamos as páginas imortais dolivro dos heróis da literatura nacional, orgulhamo-nos daqueles que souberamelevar aos píncaros da glória o nome do Maranhão.“Eles, robustecidos pelo espírito de sacrifício e denotados de boa vontade eamor aos interêsses da pátria, trabalharam pelo engrandecimento literário dopovo brasileiro. Razão esta que bem define a vitória dos grandes homens deletra que o Maranhão se honra de tê-los como filhos, cuja gratidão estes legarama terra berço o título indelével de “ATENAS BRASILEIRA DE LETRAS”.Não podemos esquecer a vida e os relevantes serviços de nossos primeirosirmãos que honraram o nome, a tradição e a história de nossa gente, como,ANTONIO GONÇALVES DIAS, ODORICO MENDES, COÊLHO NETO,JOÃO FRANCISCO LISBOA, HUMBERTO DE CAMPOS, GRAÇAARANHA, RAIMUNDO CORRÊA, ARTUR AZEVÊDO, ALUÍSIOAZEVÊDO, CATULO DA PAIXÃO CEARENSE, e outros mais que despertadêsse sono que te vem silenciando gradativamente, entregando-te ao olvido dopassado! Parece que, aos poucos, vão se extenuando as ideias que sempre hãode ser um baluarte de um povo, onde a liberdade, o cooperativismo e o respeitoaos direitos de cada um são as bases do progresso. Mocidade de minha terra!Não permitas que transpareça estas falsas suposições de frieza e desinteresseao cultivo das letras, as quais foram o orgulho dos nossos antepassados [...]Não deixes que se apague esta luz de inteligência, cujo farol se ergue na terrade Gonçalves Dias![...] para frente! Mocidade Maranhense! Com a mesma cadência quedesenvolviam os maranhenses de ontem; para que a tua plaga não só patenteieesta tradição que é o orgulho do Maranhão, mas de todo o Brasil! (BASTOS,1951, p. 2)

No primeiro ano de um jornal do Liceu Maranhense, em sua primeirapágina, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomadopelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da culturae da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando:

Acorda Ateniense! Acorda Maranhão!

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Acorda Mocidade! Acorda Ateniense!Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas,Recorda o teu passado e, em teu presente, vence,Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras

Acorda Ateniense! Acorda Mocidade!Sôbre glórias dormiste e glórias em dezenas...E’ tempo de acordar, despertando a verdade,Clareando o horizonte e iluminando Atenas!

Acorda Mocidade! Acorda Maranhão!E mostra que depois de sonhos, despertadoSorrís, como um Gigante, um Gigante atenienseQue vem haurir num templo imenso edificado

Desperta Ateniense! Os cânticos são belos!Desperta Mocidade!... E’ fresca a madrugadaO sol da inteligência enloira os teus castelos!...Há sorrisos de luz, cambiantes de alvorada!.(SOUSA, 1945, p. 1). 10

Reginaldo Teles ainda escreve, dois anos depois, um excerto daquelemesmo poema, um segundo despertador para a mocidade, mais uma peça narepetitiva engrenagem discursiva que sonha o despertar de um sono pela forçadas (reinventadas) reminiscências do passado.

Acorda Mocidade! O mundo ouça teu grito!O oceano se agita em convulsões tamanhas...[...]Tens a força latente e o valor dos gigantes.Em teu seio borbulha o esplendor dos teus anos,És mais forte que o forte em duelos constantes,[...]Do teu passado escuta a voz altissonanteQue te fala num brado e pela natureza.(SOUSA, 1947, p. 4).

Esses jornais visavam apagar as controvérsias. “Dizem: Atualmente, amocidade, arvorando-se das nossas glórias de Atenas, sepulta as nossas tradi-ções, sem todavia, tentar dar um passo para a perpétua consolidação do nossopassado”. Tornando-se, assim, um dever “mostrar aos incrédulos [...] e aospessimistas [...] a nossa capacidade, o nosso valor, a nossa fôrça [...] pois oMaranhão tem êsse defeito: Em seus próprios filhos é que mais encontra man-chas” e a isso não teriam escapado nem os escultores de “nosso glorioso már-more”, nossos maiores (ALVORADA, 1946, p. 6).

José Brito (1957) afirmava que a função do “órgão oficial do grêmio

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liceísta”, o jornal “O Estudante de Atenas”, não era “fazer germinar a sementei-ra, ela já estava desenvolvida e havia dado a seu cultivador primitivo a satisfa-ção do contemplar os frutos do seu sacrifício”. O dever seria “continuar inces-santemente a colheita”, e num tom de convocação, bradava: “Liceista, Êste é oteu jornal! Ajuda-o porque êle está tentando salvar uma mocidade que enegrececom a lama da corrupção a brancura lirial de nossas tradições gloriosas”.

“Revivendo seu passado e estudando seu presente”, estudantes (repórte-res) do Liceu foram em visita até a AML para saber e escrever um pouco dahistória da instituição. Depois de escreverem um breve relato da história daAcademia, os estudantes fizeram um apelo à mocidade, especialmente à quefreqüentava os centros estudantis, “para que se aproximem da Academia, paraque se façam seus amigos, para que lhe freqüentem as sessões públicas – quemuito ali terão a aprender, com os vivos e com os mortos” (ESTUDANTE DEATENAS, 1957).

Como já salientamos, os jornais que eram publicados, em geral, tinhamvida curta. A cada nova tentativa, os mesmos órgãos reviam seus nomes, suasformas, mas, depois, sucumbiam aos dias. Ao que tudo indica, esses estudantesnão contavam com condições objetivas para a realização de muitos de seusanseios, ambições tais que eram constituídas com o substrato mítico do MaranhãoAtenas. Por isso, a maioria de suas letras se resume a um conjunto de louvaçõesdo passado.

As próprias escolas das quais eram alunos, como o Colégio Estadual, oLiceu Maranhense, “tradicional estabelecimento de ensino de nossa terra” (OLICEU, 1957, p. 7), apresentava um estado “terrivelmente desolador”, “Janelasvenesianas, tendo as vidraças totalmente quebradas, as paredes riscadas a giz,ou lápis”. As salas “se apresentam em sua maioria, em tal estado que, dir-se-ia,por elas, ter passado um tornado, em vista da lamentável aparência dos móveis,inteiramente danificados” (ARAÚJO, C. F., 1951, p. 3).

Certamente, o passado mítico e dourado da Atenas Brasileira servia comoum referimento tão opaco quanto longínquo, mas tornado tão vivo quanto realna falta de uma realidade objetiva capaz não de aprimorar a Atenas, mas tãosomente de mantê-la tal qual teria sido no glorioso século gonçalvino.

Os próprios estudantes reconheciam que a tradição da Atenas estava sen-do mantida somente pelos “bustos que estão colocados nas praças publicas”,“artigos dos nossos jornais”, “as frases dos nossos oradores nos dias de festa”,“o nosso orgulho” e “nossa vaidade sem termos”. Porém, todos esses elementos“não bastam”, a mocidade maranhense “não pode ficar de braços cruzados. Parafrente, sempre para frente deve caminhar para continuar a obra extraordináriaque legaram ao Brasil e à América os maranhenses ilustres de ontem”, serianecessário “o nosso trabalho intelectual, o trabalho que possa ser apreciadocomo feitos pelos discípulos dos nossos antepassados!” (FOLHA ESTUDAN-TIL, 1951, p. 1).

O poeta e, naquele momento, a dois anos de tornar-se imortal da AML,José Carlos Lago Burnett, salientava que um dos principais empecilhos para odesenvolvimento de escritores jovens era a falta de apoio das autoridadesmaranhenses que, “sem nenhuma originalidade, fazem o mesmo que as demais

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autoridades do Brasil: põem a cultura em plano secundário e desconfiam dosliterários, justamente por sabê-los superiores” (BURNETT, 1952).11

Para o escritor, existiam apenas duas revistas “dignas de registro” noMaranhão: “A Ilha”, dirigida por José Sarney Costa, Bandeira Tribuzi e LuizCarlos Belo Parga, e “Afluente”, dirigida por Ferreira Gullar e ele próprio.“Ambas tiveram duração efêmera mas, senão pelo conteúdo, ao menos pelaintenção dêsse conteúdo, representam o primeiro grito de revolta dos moçosmaranhenses, contra os cânones estabelecidos”. Ainda para o poeta, aquelasrevistas “fôram um sôpro de atualidade, no velho Maranhão decadente”(BURNETT, 1952).

Podemos ver que a crítica de Lago Burnett feita contra as autoridadesmaranhenses se constrói a partir da idéia-imagem, em que o poeta se considera,ao lado de José Sarney Costa, Bandeira Tribuzi, Luiz Carlos Belo Parga e FerreiraGullar como fazendo parte do grupo que está caminhando de braços dados comas legítimas tradições da terra timbira. Além disso, Lago Burnett critica os polí-ticos situacionistas que seriam, naquele momento, a personificação da decadên-cia, fazendo uma convocação à revolta (sublinhemos: em 1952, era Governadordo Estado Eugênio Barros).

Como sabemos, quando Sarney chega ao poder político do Estado, omesmo é construído como “libertador”, sua chegada é lapidada como momento-chave para apagar a decadência. A Geração de 45 (da qual é membro o “liberta-dor”), nesse contexto, vem sendo inventada como a portadora heróica do mo-derno:

Sim, é verdade. O Maranhão conheceu um extraordinário momento literáriono século XIX. Infelizmente o século XX não teve condições de manter ovolume qualitativo que herdou do período da Atenas.Da fase que se convenciona denominar “Decadência” conseguimos dar osprimeiros passos de liberdade a partir do Governo José Sarney, embora com acriação da Academia Maranhense de Letras, Antonio Lobo e outros tentassempromover um surto cultural genuíno.1965, marca o início de um pequeno Renascimento Maranhense [...]O vôo-de-pássaros datamos 1945 o ponto de partida para as gerações, modernasno espírito e na renovação, que buscaram lançar novas sementes artísticas, naterra de Gonçalves Dias.A partir de 1948 um grupo integrado por José Sarney, Lago Burnett, FerreiraGullar, Bandeira Tribuzi etc., sacudiram São Luís! Eram encontros literáriosnos cafés, nos bares, nas casas de família, nas praias... Enfim, o que se pôdefazer para dar novos rumos à literatura local foi feito (AZEVEDO, 1978).

Entretanto, como já mostrou Gonçalves (2000), analisando processos deinvenção e reinvenção do Maranhão, a partir da análise da trajetória (fabricada,deliberadamente construída, que se apresenta como natural) de Sarney no cam-po político e no campo intelectual, a “geração de 50” (geração de 45) idealizoupara o Maranhão um projeto coletivo que foi convertido em projeto pessoalpelo próprio Sarney. Longe de romper com o “estado dinástico”, com o velho e

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o retrógrado (do vitorinismo), Sarney, com seu projeto “Maranhão Novo”,reinstala e reabilita aquele estado de dinastia. Longe de ser natural, “o Maranhãofoi inventado e reinventado, tantas vezes quanto puderam ser construídas estra-tégias para tal” (GONÇALVES, 2000, p. 179).

Partindo de um conceito de cultura identificado sobretudo com “a arte debem escrever”, Ignácio Reis nota uma “Degeneração na Cultura”. Para ele, acadência de tal degeneração é acelerada, impondo-se a necessidade de reagirpara “restabelecer os fóros de inteligência, dignificante a geração hodierna”.Seria “preciso reagir, influenciar, rememorando os tempos primordiais da ele-vada cultura dos nossos antepassados, que, como pirâmides, deixaram marcos ehonraram as nossas tradições através das páginas históricas que ilustram a lite-ratura do Brasil”. Tornava-se necessário promover “a recuperação de uma cul-tura perdida”, com o intuito de honrar a memória dos grandes nomes do passado(REIS, 1956).

“O Sabiá de novo está cantando...” poetizou Correia de Araújo, por oca-sião da entrada de Laura Rosa, em 1943, na AML:

Fechei o livro... E estou surpreso e emocionado:Teu verso, Professora, ensina [...]Professora e Poetisa: Oh ! que belo destino ! [...]Quando, entre nós, caiu, há muito, a noite espêssa,Noite sem astros, sem faíscas, sem trovões,Admira que alguém vele e não adormeçaNa Urbs dormida, e [...]Contenha toda a luz das nossas tradições !A nossa glória está no passado distante... [...]Nosso Passado, oh dia esplêndido ! [...]Entre as ruínas impotentesDe nossa Atenas, junto aos mausoléus sagrados,Onde estão a dormir os nossos ascendentes,Vultos resplandecentesDe Heróis e Gênios imortalizados [...]O Ateniense venceu e hoje o bárbaro vence; [...]Queres que eu te abençoe... Eu te abençôo ! [...]Mas não partas, que falta uma solenidade:O Tempo vai falar com a Eternidade:Evoquemos, do Além, Sombras Transluminosas:Os Gonçalves, os Reis, os Lisboas, os Souzas,Nomes imorredoiros,Indestrutíveis sob as frias lousasE ainda vivos nos séculos vindoiros !(ARAÚJO, C., 1949, p. 3-8).12

Importante notar que a suposta herança européia (branca) maranhenseera também presentificada em outros elementos, indicadores identitários da so-ciedade maranhense naquele período, como a “tradicional Suíça Maranhense

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[...] São Bento, a terra do leite e do queijo” (JORNAL PEQUENO, 1951), a“Atenas Sertaneja [...] por que Carolina é conhecida em todo o Estado pelo altonivel cultural de seus filhos, [cuja] mocidade é sempre ávida de saber” (O GLO-BO, 1947) e o “ser francês ludovicense” marcado pela suposta fundação france-sa de São Luís e por uma herança lingüística francesa espalhada pela cidade,fortemente presente nos jornais de época. Fato é que alguns contemporâneosadmiravam a Europa (Civilização e Cultura), e tentavam, de algum modo, torná-la presente em seu cotidiano dizendo-se dela herdeiros.

Quaisquer eventos poderiam ser inseridos naquele contexto, de uma co-memoração festiva estudantil ao reaparelhamento de uma rádio, tudo servindopara pontificar a idéia-imagem do Maranhão – Atenas Brasileira. O jornal “APátria”, em sua edição de 19 de março de 1947 assim noticiava: “Renova-se,atualmente, em nossa vetusta capital, um entusiástico surto renovador naradíofonia local. A Atênas Brasileira poderá, doravante, dizer que possúa, prati-ca e aprecia um ‘bom radio’” (A PÁTRIA, 1947). Estabelecia-se, sobretudo anível simbólico, a crença de que o Maranhão estaria ressurgindo e renovando.Contudo, de modo ambíguo, não conseguia desvencilhar-se de suas marcasdegenerativas.

As verdadeiras tradições maranhenses identificar-se-iam, por exemplo,com o “Ressurgimento”, página semanal de um jornal que “foi, por espaço depouco menos de três anos, a alegria vesperal dos sábados sanluisenses. E elaseria ainda hoje a festa espiritual dos nossos fins de semana se não houvessedesaparecido o jornal em que era impressa” (SOBRINHO, 1998, p. 43).13

Tratando de supostos fatores que teriam concorrido para a “decadênciada cultura intelectual do Maranhão”, o então presidente da AML, NascimentoMoraes, aponta o “desaparecimento das casas editoriais” que divulgariam a “cul-tura” (DIÁRIO DO NORTE, 1945). Ora, além de perenizar, de salvar o dito notexto, de tornar o dito dependente do texto, seria preciso expandi-lo, para, as-sim, divulgar e perenizar a prosperidade maranhense.

A cidade do interior do Estado, Carolina, foi denominada de “AtenasSertaneja” por que possuiria um conjunto de elementos que a identificariamcom a Atenas Maior, a Atenas Brasileira. Teria recebido tal título por causa do“alto nível cultural de seus filhos” e ainda por que possuiria “um jornal de fei-ção moderna, com um corpo de redatores que em nada ficam a dever aos dacapital”. Também por que nela “foi fundada uma biblioteca para o pessoal daredação e oficinas assim como para outros interessados”. Nessa cidade, tambémhaveria uma biblioteca “para uso da população cuja mocidade é sempre ávidade saber”. E, é claro, “um grupo esforçado de literatos que se reúnem numaassociação única no interior do Estado: a Academia Carolinense de Letras” (OGLOBO, 1947). Novas letras refletidas de velhas imagens e transformadas emrevelações da maranhensidade.

Em 1951, quando Carolina estaria passando por uma “crise de Instru-ção” que estaria vitimando as escolas da referida cidade, é dito que tal fato setorna “Tanto mais lamentável” por que “se trata de uma cidade maranhense que,modéstia à parte, sempre se distinguiu, entre as suas visinhas, de três Estadoslimítrofes, exatamente pelo amor à Instrução e ao cultivo das Belas Letras”

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(A TARDE, 1951, grifo nosso).Observemos que a Atenas Sertaneja toma da Atenas Brasileira um ele-

mento basilar para a configuração de seu estatuto: a necessidade de se distin-guir, de ser diferente, de se singularizar. Ser ateniense é uma mitologia queconduz a região e seu tipo regional para um mundo que é só seu, um mundoparticular, singular. Ser ateniense é como “ser francês”: Josué Montello, em seudiscurso de posse na AML, em 1946, dizia que “A base da nossa formaçãosocial e política foi a bandeira da França que tremulou nos mastros plantadosem nosso chão” (MONTELLO, 1998, p. 56) 14. De fato, os contemporâneosteriam até uma dança que “parece de origem francesa que teve voga na cidadede Rosário”, a dança do lelê... (VIEIRA FILHO, 1953, p. 93)15.

Notas:1 No âmbito acadêmico, são o antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida (1983) eo sociólogo Rossini Corrêa (1993) que iniciam uma análise crítica do termo decadência.O primeiro discute a noção a partir do próprio termo decadência. O segundo elabora suaanálise a partir da construção mítica Atenas Brasileira.2 O início do processo de organização da “Geração de 45” se dá com a fundação doCentro Cultural Gonçalves Dias, sob a liderança de Nascimento Moraes Filho, LagoBurnett, Ferreira Gullar, Vera-Cruz, Santana, Bandeira Tribuzi, José Sarney e outros.Uma das características mais marcantes dessa geração, segundo Corrêa (1993), é o fatode que sua militância cultural logo se transforma em militância política. Emblemático,neste sentido, é o caso de José Sarney que, em 1966, torna-se, ao mesmo tempo, presidenteda AML (cultura) e governador do Maranhão (política), eleições nada ao acaso. Paramais esclarecimentos sobre a Geração de 45 (Geração de 50), ver Gonçalves (2000).3 Então presidente da Assembléia Estadual Constituinte. Fica na chefia estadual porquatro dias, passando-a para o Governador eleito Sebastião Archer (MEIRELLES, 1980,p. 385). Conhecido como J. Pires, nasceu em Loreto (MA), a 29/10/1883, fundou osjornais “O Popular”, em Floriano (PI), “O Imparcial”, “Diário de São Luís”, “A Tarde”,“Diário Popular”, e a “Revista Athenas”, em São Luís. Faleceu na referida cidade a 7/06/1951 (FARIA, 2005, p. 579).4 Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensãopolítica de Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do GeneralDutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido quetinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado emmandonismos locais e no uso sistemático da “Universidade da Fraude” nos processoseleitorais (COSTA, 2004, p. 183).5 No Rio, acreditaram ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores eestudiosos: Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques,Franklin de Oliveira, Odylo Costa Filho, Antonio de Oliveira e Manoel Caetano Bandeirade Mello. Outros, como Erasmo Dias, Mários Meireles e Paulo Nascimento Morais,permaneceram no Maranhão (CORRÊA, 1993, p. 217-219).6 O grupo político chamado de Ocupação foi assim caracterizado pelas OposiçõesColigadas (COSTA, 2000).7 Embora Lacroix (2000) não cite nem mencione Hobsbawm e Ranger (1997).8 Clodomir Teixeira nasceu em Codó (MA), a 17 de agosto de 1913. O Curso Primáriofez em Codó e Coroatá, o Secundário em São Luís, diplomou-se em médico pela

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Faculdade da Bahia (1936). Deputado federal em três legislaturas, senador da Repúblicaem uma legislatura. Professor de Clínica Médica na Faculdade de Medicina daUniversidade do Maranhão (FARIA, 2005, p. 569).9 De acordo com os jornais estudantis que localizamos na Biblioteca Pública BeneditoLeite (BPBL), notamos que: “A Juventude” teve nove exemplares publicados em 1957,“Alvorada” teve nove exemplares publicados entre 1954 e 1955, “Êxito” teve doisnúmeros publicados em 1950, “Folha Escolar” teve doze publicações entre 1944 e 1949,“Folha Estudantil” teve um exemplar publicado em 1951, “O Grêmio” teve um exemplarpublicado em 1955, “Estudante de Atenas” teve sete exemplares publicados entre 1956e 1957 e “O Liceu” teve dois exemplares publicados entre 1957 e 1958.10 Reginaldo Telles de Sousa nasceu em São Luís (MA), a 15 de novembro de 1925.Estudou o Primário em Fortaleza e o Secundário no Liceu Maranhense, em São Luís,diplomou-se em Direito na capital do Maranhão em 1952. Foi vereador da CâmaraMunicipal de São Luís e chefe de assessoria jurídica da prefeitura da referida cidade(FARIA, 2005, p. 602).11 José Carlos Lago Burnett nasceu em São Luís (MA), a 15 de agosto de 1929, estudouo Primário em Codó e o Secundário em São Luís. Radialista, jornalista, cronista, chargista,editor e poeta. Funcionário público estadual. Trabalhou em diversos jornais, dentre osquais “O Imparcial”, “O Globo”, “O Combate”, “Dário de São Luís”. Foi locutor daRádio Timbira e fundador do CCGD (FARIA, 2005, p. 581-582). Foi empossado naAML em 1954.12 A professora a que se refere o texto poético é Laura Rosa, que foi empossada para acadeira número 26 da AML, a primeira mulher a entrar naquela instituição, isso em 17/04/1943.13 Ressurgimento foi um suplemento literário dirigido pelo escritor Fernando Vianapublicado no periódico “Correio da Tarde”.14 Josué Montello nasceu em São Luís (MA), em 1917, fez Curso Primário na EscolaBenedito Leite e primário no Liceu Maranhense. Estudou o Pré-Jurídico no GinásioPaes de Carvalho, em Belém do Pará. Membro e presidente da ABL e dos InstitutosHistórico e Geográfico do Maranhão e do Pará, técnico do Ministério da Educação eCultura, adido cultural em Lima, Lisboa, Madri e Paris, dentre outros. Romancista,novelista, contista, teatrólogo, historiador, cronista, ensaísta, biógrafo, conferencista,jornalista e professor. (FARIA, 2005, p. 587). Empossado na AML em 1948.15 Domingos Vieira Filho nasceu em São Luís, em 1924. Bacharel em Ciências Sociaise Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Luís. Procurador do Estado do Maranhão.Membro da Comissão Nacional de Folclore e do IHGM. Faleceu a 11 de setembro de1981 (FARIA, 2005, p. 571). Fundador da Comissão Maranhense de Folclore em 1948.Empossado na AML em 1953.

Referências:

A PÁTRIA. São Luís, 19 de mar. de 1947.A TARDE. São Luís, 11 de ago. de 1951.ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. O Engenho Anti-Moderno: ainvenção do Nordeste e outras artes. 1994. 501 f. Tese (Doutorado em HistóriaSocial) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas: UniversidadeEstadual de Campinas, 1994.

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