Adolescência Poética - Francisco Carlos Machado

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Apresentação Este é um livro inaugural, onde acompanhamos a educação sentimental, literária, ambiental e sociopolítica de um jovem poeta maranhense, um justo e combativo filho daquela terra sofrida, mas pródiga em bardos e em bravos. O poeta, meu amigo e irmão Francisco Carlos Machado. Francisco Carlos é poeta da entrega e da fraternidade, que faz versos como quem irmana(-se), como quem abraça. Sem as incongruências do medo, pois poeta nascido pronto, ciente e senhor de seu ofício e sina, e disposto a pagar o preço, seja da incompreensão, seja da exarada sensibilidade, essa doce fratura exposta que avança ferindo-se pelos penedos e espinhais, mas sem arrefecer, pois aprendeu com o Rabi a trazer sempre pronta a outra face, a mão estendida, o ombro oferto e a arma da palavra, para dar voz ao sem fala. Aqui o poeta desnuda-se, desvela-se em sua humanidade sincera, que anseia por plenitude. Sua escrita ternamente confessional revela um autor... ... ...

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adolescência

poética

Francisco Carlos Machado

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Adolescência Poética Francisco Carlos Machado

Primeira edição (impressa): 2010 Edição em formato e-book: 2014

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Índice

Nota desta edição em e-book ...................................................................... 06 Apresentação ...................................................................................................... 07

Simplesmente Adolescência

Adolescência ....................................................................................................... 09 Espinhas e Cravos ............................................................................................. 10 Barbear ................................................................................................................. 11 O Sorriso ............................................................................................................... 12 A Busca .................................................................................................................. 13 A Depressão ........................................................................................................ 14

Algumas Histórias da Adolescência O Encontro com Cristo ................................................................................... 16 Os Patins ............................................................................................................... 17 Diário, 28 de Abril de 1993 .......................................................................... 18 Divã Psicanalista ............................................................................................... 19 No Quarto ............................................................................................................. 20 Moribundo na Crisálida ................................................................................. 21 Nilza ........................................................................................................................ 22 Lembranças do Tempo Infantil .................................................................. 23 Angústia na Alma .............................................................................................. 24 As Crianças .......................................................................................................... 25 Saudades .............................................................................................................. 26 Família ................................................................................................................... 28 Ébrio ....................................................................................................................... 29

Reflexões de um mundo adolescente Crise de Identidade .......................................................................................... 31 Beijo ........................................................................................................................ 32 Deus Existe .......................................................................................................... 33 Certas Dúvidas ................................................................................................... 34 O Sentido da Vida ............................................................................................. 35 Por Que a Omissão ........................................................................................... 36 Se em nós o amor fosse maior .................................................................... 38

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Enviando Mensagens Adolescentes

Amizade ................................................................................................................ 40 Para Alguém que amei .................................................................................... 41 Uma Canção ......................................................................................................... 42 Procura-se uma namorada ........................................................................... 43 Carta para São Luís .......................................................................................... 44 Um poema para Leal ....................................................................................... 45 Aos Corruptos .................................................................................................... 46

Sonhos e Desejos Adolescentes

À Procura de um Amigo ................................................................................. 49 Preso na Crisálida ............................................................................................. 50 Asas para Voar ................................................................................................... 51 O Amanhã ............................................................................................................. 52 Lua de Mel ............................................................................................................ 53 Algumas Aspirações ........................................................................................ 54 Independência ................................................................................................... 55 O Grande Sonho ................................................................................................. 56

Adolescência Ambientalista Nascer do Sol ...................................................................................................... 58 O céu Azul ............................................................................................................ 59 Estrelas ................................................................................................................. 60 Reconhecimento ao Rio Parnaíba .............................................................. 61 O Açude ................................................................................................................. 62 Os Morros ............................................................................................................. 63 A Gata Camila ..................................................................................................... 64 Por uma Árvore ................................................................................................. 65 Rio Parnaíba ....................................................................................................... 66 Apêndice: O Desabrochar De Um Poeta E A Adolescência ............. 67

Primeiras Críticas

Um Adolescente Poético ................................................................................ 72 Um Discurso sobre o Livro ........................................................................... 73 Emocionante Viagem Poética ...................................................................... 76

Sobre o autor .................................................................................................... 78

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Nota desta edição em e-book de Adolescência Poética

Sammis Reachers, amigo/irmão, meu poeta evangélico brasileiro predileto, no

espírito, alma e poesia deste livro (Adolescência Poética), sobre adolescência; se tornou em graus significativos nos últimos três anos “alguém que saiba e queira ser um bom amigo”, de acordo com os versos do poema “À Procura de um Amigo”, no capítulo “Sonhos e desejos adolescentes”. Talvez, se a vida tivesse me unido a Sammis na adolescência, poeticamente, ela teria sido menos depressiva no âmbito das relações pessoais.

A introdução da edição em E-book de Adolescência Poética, honestamente, não deveria iniciar de outra forma, pela razão de que fora esse meu amigo poeta que com sua amizade, motivação e generosidade, me influenciaram para que minha poesia, como poeta cristão brasileiro, passasse ser divulgada na grande rede de computadores - a internet - no qual ele trabalha voluntariamente como missão e causa divina, fazendo , aliás, magnífico trabalho.

A poesia e os poemas desta obra são os frutos da minha primeira antologia escrita, meus versos primordiais, cuja edição impressa foi de mil exemplares, e se tornou um sucesso entre os leitores. Gentes de todas as idades a apreciaram, muitos sorriram, chegando alguns à comoção emotiva ao degustar os poemas, no ato de lê-los. O que me causou muita surpresa e júbilo. Os depoimentos destes leitores me levaram à maravilhosa emoção de satisfação do dever cumprido como poeta: causar emoção; beleza na alma e no intelecto das pessoas; na promoção de alguma verdade existencial.

Nesta edição em E-book de Adolescência Poética, não houve acréscimo de poemas, algo que planejo/pensava fazer em sucedâneas edições, pois internamente existem alguns sentimentos vigentes desta fase aventureira da vida, hibernados em mim. As mudanças então na obra foram deixar como apêndices o capitulo da edição impressa “Desabrochar de um poeta e a Adolescência”; as críticas dos amig@s Frederico, Battista Soarez e Vilmar – como legado literário a ser divulgado na rede também; além da crítica de Sammis.

Espero, enfim, com a edição de Adolescência Poética na internet, que os leitores digitais da obra possam sentir os risos, emoções e reflexão, que muitos dos leitores da edição impressa sentiram; e que a poesia cristã, a poesia geral, seja amplamente divulgada, lida e popularizada nestas paragens modernas.

Francisco Carlos Machado

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Apresentação

Este é um livro inaugural, onde acompanhamos a educação sentimental, literária, ambiental e sociopolítica de um jovem poeta maranhense, um justo e combativo filho daquela terra sofrida, mas pródiga em bardos e em bravos. O poeta, meu amigo e irmão Francisco Carlos Machado. Francisco Carlos é poeta da entrega e da fraternidade, que faz versos como quem irmana(-se), como quem abraça. Sem as incongruências do medo, pois poeta nascido pronto, ciente e senhor de seu ofício e sina, e disposto a pagar o preço, seja da incompreensão, seja da exarada sensibilidade, essa doce fratura exposta que avança ferindo-se pelos penedos e espinhais, mas sem arrefecer, pois aprendeu com o Rabi a trazer sempre pronta a outra face, a mão estendida, o ombro oferto e a arma da palavra, para dar voz ao sem fala. Aqui o poeta desnuda-se, desvela-se em sua humanidade sincera, que anseia por plenitude. Sua escrita ternamente confessional revela um autor de profundas raízes holísticas, um cristão ‘cuca-aberta’ – se espiritualmente um cidadão dos céus, poeticamente um cidadão do mundo, de todas as cidades e pátrias. De todos os homens. Toda adolescência é uma pequena saga. Colorida não apenas pelo épico, mas pelas caudalosas cores do lírico e também do trágico. A um tempo balão de ensaios e palco de definições do que é/será o homem. É ainda na adolescência que se aprende a dimensionar a solidão, e o poeta o fez, cumpriu também essa dura lição de casa. Este trecho singular do magnífico poema Asas para Voar, revela o poeta que desceu até a raiz ontológica de seu ofício (há quem morra, velho em versos, sem consegui-lo) e descobriu-se, ao descobrir o que é, e o porquê, da poesia:

“Como queria ter asas para voar, mas não posso voar, não nasci de mãe cisne. Nasci gente.”

Neste Adolescência Poética somos viajantes privilegiados, passageiros d’alma deste amorável poeta em seus descobrimentos, seus continentes e ilhas interiores, sua contrição e sua explosão, seu choro e seu sorriso que marca e contagia a quantos o conhecem. Sammis Reachers

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simplesmente adolescência

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Adolescência Surgiu nova aurora em minha vida, na vida dos meus amigos, na vida de muitos humanos. No princípio não sabia o que era, mas depois percebi - a puberdade. E meu corpo de pequeno homem, transformava-se num corpo de homem grande. A voz ficava grave, nasciam espinhas no rosto, cresciam pêlos em todo corpo e o sexo não me deixava. Foram dias bonitos, transformadores e perigosos, como ainda são. E eles foram passando, eu e os amigos mudando, os diálogos também. As paixões se avivavam, as aventuras rolavam, as concepções são criadas, em mim mais radicais. Um novo mundo de sonhos, de vida, descobrimentos, idealismo e amor. O futuro encarado, temido, buscado. Deseja-se Deus, sexo, estudos, dinheiro, namoro,trabalho, poesia ,viagens, bom visual... Simplesmente adolescência: vivências, turbulências, paixões. Certa em metas,ideologias. Psicologicamente rebelde. Errante em vícios, ociosidades. Uma fase aventurada da vida. Marcante passagem existencial.

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Espinhas e Cravos espinhas: vermelhas, salientes, tentadorinhas. o meu pobre rostinho, que nem é tão bonitinho,

cansado está de vê-las incomodar. e os cravos, todos pretinhos, não tem vergonha de bloquear os meus poros ao entrar em contato com o ar. tantas pomadas e soluções e o rosto na mesma situação. penso em me trancar, evaporar, as vezes até aceitar. mas a pele continuará com cravos e espinhas. então me desespero, e as exprimo forte com as unhas. calma, alguém me consola, deixa terminar a adolescência.

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Barbear Eu tirei minha barba Os amigos riram quando tirei minha barba. Fiquei maravilhado me senti mais homem quando me barbeei pela primeira vez. Coitada! Ainda pensei em preservá-la, mas quero logo ser homem grande.

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O Sorriso Sorria, sorria! Com rima, poesia, alegria. Sorria!! Sorrir é tão bom. Só traz benefícios. Sorria!! Deixai-me sorrir com toda minha alegria. Sorria! Sorria comigo de noite e de dia. Sorria!! Sorria, sorria!! Com rima poesia, alegria. Sorria!!!

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Depressão Começou o caos da minha vida. Tudo estagna e para. A desgraça me alcança e a felicidade estilhaça. Em dose alta, desespero, insônia, solidão, Amnésia, destruição, corpo em lentidão. Choros, lamentações, compulsão. O pensamento em confusão Leva o suicídio parecer solução. A corda no pescoço?! O revolver?! Não!... Não!... Choros e lamentações. Não perderei a razão. Ah! Não! Não! Tenho que procurar uma solução. Reencontrar-me-ei nas belas canções. Minha poesia voltará ao meu coração. As algemas cairão, Meu Deus ouvirá a oração. Valerá de novo a pena correr pelas campinas. Sentir o vento nos peitos, cantar, sorrir, dançar... Planejar com determinação os sonhos, e assim continuar lutando.

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No Espelho Não sou belo, nem também forte. Em meu corpo franzino aparece as costelas e os ossos da minha canela. Um rosto repleto de cravos e espinhas, nariz nada afilado, as clavículas aparecendo como asas. Como me aproximarei dela? Certamente, tal espelho e aflições nada resolverão. Minhas ações devam ser outras. Fazer musculação, boa alimentação, natação, usar boas roupas, bons sapatos, e nunca exprimir espinhas da face. E farei preces e orações, choros e declamações poéticas, tentando derreter um coração insensível, a tal amor sincero, bonito, incrível.

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algumas histórias da adolescência

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O Encontro com Jesus Foi como a aurora que antecede o sol. Na noite da minha vida, em escuridão, tinha pavor do inferno, da perdição. Vivia sem esperança de salvação. Nas trevas em que vivia só existia medo, desorientação. Sem visão, caía, me feria, perambulando nas madrugadas frias. Certo dia a luz começou fluir, crescer e banir toda escuridão. No chão, em perdição, contemplei ao longe a Estrela da Manhã. Ajoelhei-me para Jesus. E livre me levantei,recebendo os raios de redenção. Deu-me veraz vida, fez meu mundo colorido, e nova história em mim começou.

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Os Patins Mamãe não me deu os patins, para eu andar por aí, sentindo liberdade nos pés, em cima de rodinhas de acrílico. Que belo aniversário foi o meu. Sem convites, presentes, patins. Sem bolos, refrigerantes, balões. Igual a todos, nada de comemoração. Mamãe quero àqueles patins. Quero correr com ele, sorrir em cima dele, viver adolescência nele.

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Diário - 28 de Abril de 1993 Hoje fui dominado por medo e tristeza, inimigos leiloaram minha casa. Estou no meio da rua. Que loucura! A perseguição vem com bravura. Sinto-me aflito. Profundamente atingido. Na escola me perguntaram: - Onde vais morar? -Na minha casa, respondi. Mas as circunstâncias, os perseguidores, dizem que é na rua debaixo da ponte, sem teto e sem horizontes. - Vais embora? - O que vão fazer? Não sei, não sei dizer. Deus é quem irá responder.

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Divã Psicanalista Quis ser primeiro engenheiro. O tempo passou, decidi ser pastor. Percebi que não valeria à pena, rodei a baiana, seria historiador. Estudei um bocado de livros, gostei tanto, decidi ser escritor. Mas o tempo passou, quis ser cantor, ator, poeta, músico, um trabalhador. Novamente um pregador. Missionário na África Central. Não deu certo. Decidi ser professor. Depois mudei, seria pintor e antropólogo. Vi que estudar índios não era boa ideia, caí no campo da filosofia. Como não ajudaria muita gente, rumei para a psicologia. Agora quero ser tudo: Historiador, escritor, poeta, professor, artista plástico, músico, ator, cantor, advogado, jardineiro, aventureiro, empregador.

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No quarto No quarto eu canto, danço, choro. Muito sorrio. Grito!Me apavoro. Traço e elaboro meus planos ficando perplexo quando me engano. No quarto ouço minhas óperas Prediletas. Todos os clássicos,MPB. Ando nu, peladão, e uso a mão para aliviar o tesão. Sou o chefe, faço o que quero. Danço valsa, rap e balé. Caindo, ao tentar passos de um só pé. No quarto sonho um mundo melhor, com mais justiça, mais amor e fé. Sozinho faço minhas orações pelos descamisados, os famintos e marginalizados, os sem teto, sem terra, sem nada. No quarto em fim, nos términos dos dias, me recolho para dormir. E na manhã do dia seguinte abrir a janela e saudar o sol brilhante para mim.

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Moribundo na Crisálida Lutei. Parando para dormir um pouco, pensando após continuar o romper da crisálida. Ao acordar existia um mau cheiro, bichos atacaram a crisálida. Fiquei moribundo. Há poucas forças. Porém, devo lutar. Preciso barrar a contaminação Para não se alastrar mais, vindo morte. Pela primavera ninguém mais passa. E minhas forças acabam- se. Estou morrendo... morrendo aos poucos. Luto,lutarei. Preciso viver. Sair desta prisão que me impede de voar. Quero beber os néctares dos jasmins e das rosas.

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Nilza Ela brilhava em nosso meio, transmitindo sua luz, sua harmonia. Era um belo cisne negro, com uma simplicidade de rolinha que conquistava admiração Queria a vida como todos nós, desejando desfrutá-la com os amigos, nos sonhos, no presente e no futuro. Um dia, porém, indefesa como um filhote de pardal em seu ninho, seu maior algoz a levou, de maneira desconhecida para nós. A família, os amigos choraram, os que estavam perto, os de longe. A cidade vestiu-se de preto.

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Lembranças do tempo infantil Findou-se alguns anos o tempo que corria nas praças, pulava, gritava, para a vida sorrir dentro de mim. Brincava de esconde-esconde, peteca, lagarta-pintada, cair-no-poço, querendo apenas viver com alegria. O tempo que no dia de meu aniversário esperava presentes e não recebia. Findou-se alguns anos o tempo que sonhava ser príncipe, era Batman, He-man, Superman. Vivia no mundo das fantasias, habitando na órbita da lua, e temendo os lobisomens terrestres. O tempo que eu menino infante era feliz e não sabia.

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Angústia Na alta madrugada, senti feroz angústia na alma. Tentava dormir, mas a insônia era companhia. Folheava as páginas de um livro, suas histórias não acalmavam. Pensava no amanhã, dele fugia. De um lado para outro se caminhava e crescente angústia acontecia. Abro a porta, saindo do quarto. E num pátio escuro de céu límpido de estrelas, chorei muito, em lamentos compulsivos, desejando me derreter em lágrimas. Então, prostrado, corpo todo encharcado, ao Criador do universo orei: “Reconheço o meu orgulho, impossível viver sem Ti. Retira angústia dentro, em mim. Atroz, me domina, ao desprezar teu amor”.

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As Crianças “ Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar ”. São meninos e meninas que cantam, é a infância se manifestando. Belas crianças na alfa vital, seres pequenos brilhantes como cristal. Todas brincando, pulando, sorrindo, uma visão divinal, transmissora de paz. Vejais, são seres inocentes, cadentes como auroras boreais nas frias terras do ártico. Compreendo porque nasci novamente, para ser criança eternamente. Tão puras e brilhantes como cristal.

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Saudades Era uma manhã de domingo na ferrovia São Joaquim, quando despedir de Camila para trabalhar aqui. Ela muito chorava vendo-me partir, mas sabia que devia vir e tentar a vida aqui. Meu coração ficou bastante triste vendo-a chorar ali. E o trem Maria fumaça separava-me para longe de si. Um vazio no peito, saudades no coração As lembranças de seus beijos faziam-me chorar em vão. À minha Camila prometi que um dia voltaria, aos seus braços de conforto, para marcar nossa alegria. Com muito dinheiro no bolso para vivermos melhores dias. Ela é tão bonita, tem olhos de juriti, cabelos longos e cacheados, da cor do açaí. Suas mãos são graciosas como plumas, os pés meio arredondados, os beijos meigos e suaves como brisa da manhã. Nosso amor confortante, fonte autêntica de alegria. Meu bálsamo no fim das lidas,

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consolo nas melancolias. Amigos, na calada desta noite, cansado das minhas afãs, contando para vocês sobre nosso amor, sinto falta de Camila para curar a minha dor.

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Família A minha é uma confusão. Um agrupamento dos pais, oito irmãos, dezenas de sobrinhos e um bisneto. Existem grandes desentendimentos, memoráveis brigas, gritos e lamentos. Às vezes quebramos a casa: portas, janelas, diversos móveis, e tentamos nos matar com balas de línguas, e há socos, pancadas, xingamentos. Mas existe também muito amor, solidariedade, graus significativos de carinhos e de irmandade. E queira alguém de fora prejudicar alguém do clã. É compra uma briga na certa. As espécies são: Mamãe, a chefona, briguenta, que nos sustenta. Papai, desleixado, popular, mulherengo. Primeiro irmão, também mulherengo, voz explosão. Segundo, temperamental, ajuda, mas um covarde. Terceira, valente, empreendedora em areias, amiga. Quarta, trabalhadora, valente, crítica sem fundamentos. Quinta, consumista, dependente, a mais tranquila. Sexta, chata e triste, mas organizada. Sétimo é complexado, brigão, problemático. Oitava, severa, quer ser ditadora, é inteligente. E os diversos sobrinhos que vivem de invadir meu quarto. Os acho um barato. Sem dúvida uma grande família. Até que gosto dela.

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Ébrio A chuva cai no corpo de um pobre demente. Ébrio, estendido no chão quando a chuva desce no sertão. Os pingos d’água rolam em seu rosto, em todo o seu corpo, lambuza-se dos pés à cabeça. Seu vômito... Encara a vida na diversão. Penosamente lhe estendo a mão.

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reflexões de um mundo adolescente

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Crise de Identidade A infância acabou, fantástica existência findou. Estou com pavor, não sei quem sou Sinto e não me sinto criança. Quero, mas sei que não sou adulto. Então, o que sou? Quem eu sou? Adulto? Criança? Robô? Macaco?! Areia? Big Bang? Porque tantas perguntas? Sou criança, adulto. Não sei.

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Beijo

Que gosto tem um beijo? Chiclete de hortelã ou de queijo? Só pode ser de queijo, no ato se troca saliva, salgada como queijo. Qual a sensação de um beijo de língua? Onde as bocas se encaixam, línguas se enroscam, pela emoção da excitação. Eu não sei. Não sei mesmo. Nunca beijei. Sou virgem de boca. Mas busco outra boca para sentir o gosto e a sensação

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Deus Existe Perguntei diversas vezes se Deus existiria. Um ser abstrato, sem tato e formato, em que deveria acreditar inabalavelmente. Embora tivesse conhecido a graça minha mente adolescente questionava, e constantemente me entregava às ações filosóficas. Certo dia, era manhã, em questionamentos vãos, sua presença sobrenatural, dominou o lugar onde estava. E firme conclui definitivamente: Um quadro pintado prova um pintor, os escritos, seu escritor. Então, a vida, o cosmo, minha existência, provavam um criador.

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Certas Dúvidas O mundo e suas muitas voltas não se sabe do amanhã. Permaneceram os homens da paz e do amor? Continuaram firmes os das guerras, ódio e dor? O mundo e suas muitas voltas, nada sei do meu amanhã. Entre os homens viverei com ódio ou amor? Serei autêntico no bem ou autêntico no mal? Construirei os meus sonhos e aspirações? Conseguirei a felicidade nesta vida? Eis algumas grandes questões. Mas, meu Deus, tu sabes do amanhã. Peço-te que nele e agora, esteja Contigo e viva em amor.

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O Sentida da Vida*

Sozinho estou no topo deste monte, ao meu redor encontro vidas. Encontro os pássaros cantando em melodias, os calangos correndo em folias. Encontro borboletas, formigas, plantas, flores. Fito os olhos no horizonte colorido, no vale do Parnaíba, na cidade abaixo de mim. Vejo as pessoas caminhando nas ruas, as casas, e ouço o barulho das crianças brincando na praça. Respiro fundo, pois um vento viajante passa, fazendo as folhas das árvores murmurarem. O meu ser indaga: - Qual o sentido da vida? Começo a filosofar, vou muito longe... De repente, paro. Descobri o sentido da vida! Olho para mim e sinto o coração pulsar, jorrar sangue em meu corpo. Novamente fito os olhos no horizonte colorido, eles enchem-se de lágrimas. Fico trêmulo, levanto minhas mãos e brado bem forte: - Deus, tu és o sentido da vida.

* Classificado entre os 20 no 11º Festival Maranhense de Poesia Falada - 1997

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Por que a Omissão?

Por quê?! Por que pacificamente aceitamos tudo? Cada prefeito que entra torna-se um vagabundo. Não permanece na cidade, vive passeando pelo mundo, de avião, de trem, de BMW. Um dia em Brasília, Teresina, outro em São Luis, e não é atrás de projetos, não. Até na China vão estudar, se preparar, para enganar os sem juízo crítico. Se somos os massacrados, os humilhados, perseguidos, pisados e enganados, por que aceitamos tudo calados, desorganizados? Não reivindicamos, não gritamos, nem lutamos para sermos respeitados e tratados com dignidade. O poder é até nosso, mas deixamos um indivíduo oprimir, estuprar nove mil, seis milhões, de vidas cidadãs. Ele vem de nós, damos a eles, e a cada dia nos fazem passar fome. Em seus camarotes zombam de nós, mentem, enganam, desviam o dinheiro do povo e ainda os aclamamos com viva voz. E em nossas festas lhes damos o melhor pedaço, a melhor fatia do capão, da galinha, do bolo e da melancia.

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Por que cochichar, fuxicar? Se podemos marchar e em passeatas protestar? Porque se separar, se desorganizar? Se devemos é nos unir para vencer a opressão. Por que temer uma minoria? Somos a massa, a maioria. Vamos!!! Vamos dar um basta ao opressor, à mentira, à corrupção. Vamos ser bons cidadãos, honestos, sinceros. Levantemos nossas mãos, quebrando todos os grilhões da velha escravidão. E construamos um país melhor, uma cidade melhor, sem mentiras, exclusões,ladrões, corrupção.

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Se em nós o amor fosse maior...

O mundo... Ah! O mundo seria um esplendor de belezas, alegrias e risos. Imagine! Se o amor em nós fosse maior. As guerras cessariam, a paz triunfaria, e a humanidade se uniria e venceria a pobreza e a fome. Não mais existiriam preconceitos e desrespeitos contras os negros, os índios e judeus. Todos realmente sendo livres e iguais, pois a única e maior das raças é a Humanidade. Se em nós o amor fosse maior, minha vida, tua vida, nossas vidas, seriam grandiosas

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enviando mensagens adolescentes

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Amizade Amigo triste? Faça brilhar de seus lábios um sorriso. Um amigo em situação de perigo? Socorra-o, ele é seu amigo. Precisando de apoio? Estenda suas mãos, é seu irmão. Necessitando de ajuda? Faça com palavras e ações dignas. Um amigo cansado desta vida? Mostre a ele que vale apena as lidas.

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A Alguém que Amei O meu coração batia ao te ver, e me sentia envergonhado. Tu passavas por mim, nem com um olhar saudava-me. No término daqueles dias Quando me recolhia para dormir, sonhava acordado pensando em ti. Sonhava um dia te beijar, abraçar, sentir contigo orgasmo e falar baixinho: te amo. Como queria te amar, namorar, construir contigo um lar. Como queria compartilhar os problemas da juventude e sentir teu amor me aquecer no ermo das minhas solidões. Queria que fosses minha namorada. No entanto, desprezava-me, me traias, com quem não te amavas assim. Oh, tristeza enorme! Uma ferida grande na alma. Lembras quando meu amor ficou notório? As mensagens enviadas pelos amigos estafitas. Estava enfermo de amor. Queria-te. Queria-te. Contudo, não quisestes namorar, não quiseste me amar. Decidi então um dia, que não mais te procurarias. Mas seria feliz por ter te amado desde a tenra infância, por ter amado alguém.

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Uma Canção O sol ilumina a terra emitindo seus raios de luz. As estrelas brilham no céu encantando cada olhar. A flora ornamenta e produz alimento para a fauna que não produz. Os rios correm pra o mar para em forma de chuva voltar. Os pássaros cantam no ar, são livres para voar. A vida sempre a andarilhar até um fim encontrar. Os homens a se odiarem, planejam guerras, explodem bombas, derramam sangue, fazem as crianças chorarem. O poeta vive a cantar, a paixão dos amantes, a beleza da vida, da rosa florida, o resultado de amar.

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Procura-se uma namorada Procura-se uma namorada, uma mulher para ser amada. E sentir seu corpo, seus lábios, os seios, o cheiro, o calor e seu amor. Uma namorada, amada, mulher não encontrada nas praças, ruas e casas, onde andou este poeta que nunca namorou. Procura-se uma namorada para andar livre pelos campos, igual passarinhos soltos de gaiolas, sentindo a gostosura de existir feliz vida. Uma namorada, para simplesmente ser amada, com longos beijos, fortes abraços, nos tumultuados dias e noites adolescentes.

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Carta para São Luís Quando estou aqui só penso em ti. Nos casarões do reviver, o convento, as fontes de carrancas, as galerias de artes, universidades. O mar, as ondas quebrando, o vento que soa, renovando minha pessoa. Restauram as minhas forças, tonificam a poesia, curando partes da nostalgia, no dualismo moradia que vivo.

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Aos Corruptos

Que prazer há ou qual vantagem se terá a riqueza à custa da miséria do povo? Da fome das crianças, dos descamisados, dos sem teto, sem terra, sem nada? As muitas riquezas, as contas bancárias abarrotadas, adquiridas pelo sangue e opressão do povo, dos velhos, da juventude, das criancinhas, dos que trabalham e constroem nossa nação. As consciências de vocês onde estão? Nas verbas, em lamas, na podridão? Onde? Onde estarão? Sintam realmente os problemas da nação. A maioria do povo sem pão, dignidades, direção. Causadas por exclusão, as ladroagens e corrupção.

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Um poema para Leal Leal... Se pudessem abrir teus olhos naquele dia, e ver a multidão em prantos, em lamentos, saberias o quanto te amávamos. Se pudesses naquele dia ouvir o choro das crianças Que perderam sua professora, a vendedora de dindin, de pipoca e chá-de-burro. Saberias o quanto gostávamos disso. Se pudesses acordar, por um instante, verias o quanto sofríamos com tua partida, a despedida, a viagem final. Ah! Leal. Que explosão de dor causou-se. Chuvas salgadas caiam na caminhada fúnebre, formando poças d’águas, onde tristonhos, penosos e arrependidos seguíamos contigo. O mar de lágrimas em nós secou-se por tua causa. Tua partida deixou um vazio imenso, agudo silêncio, uma dor sagaz. Deixou a cidade em luto, corações golpeados, uma saudade que não acaba mais. Deixou as salas vazias, estudantes órfãos, giz intacto, que não será mais usado nos quadros negros, brilhando assim a luz do conhecimento. Deixou marcantes as lembranças tuas, do teu jeito de ser. O jeito diferente e gostoso de viver. O jeito que não fazia mal nenhum, completava nossas vidas, trazendo risos e alegrias.

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Ah! Leal, sentirmos tanta falta de assistirmos televisão e vê-la cochilar com boca aberta. De ouvir o barulho das panelas doze horas da noite, das conversas, das brigas, de ti. De ti, Leal, que sempre foi leal, amiga de todos nós. De ti, Leal, sem casa. A Leal do casarão, do barracão. De ti que era zombada ao passar na rua, que discutia com os moleques na rua, que os fazia sorrir na rua. Ah! Leal, já não podemos cantar juntos, ouvirmos as óperas, os clássicos. Não podemos mais cultivar plantas, sentir seus aromas, suas belezas e formosuras. Não podemos mais estar juntos. Conversarmos, comermos pizzas, viajarmos. Tudo foi contigo, Leal. Tudo ficou para trás. No passado, nas lembranças. E essas lembranças nos fazem reviver tua vida, sentir tua poesia, tua companhia, a amizade que um dia nós teus amigos, usufruímos e participamos com alegria.

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sonhos e desejos adolescentes

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À Procura de um Amigo Sem amigos. Não tenho um amigo para compartilhar essa solidão comigo. Compreender e me erguer nesta subida tão sofrida. Há tempos que procuro de dia e na noite obscura, alguém que saiba e queira ser um bom amigo. Que pena, um grande problema. Conviver com muitas gentes, sorrir com tantos, e não ter um confidente. Tanta gente, tantos risos, meu coração chorando sente, uma dor intransigente, de viver como Robson Crusoé.

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Preso na Crisálida Estou preso na crisálida do eu. Chega de metamorfose, quero sair da crisálida. O mundo deve ver quem sou. Todos os passantes pela primavera do jardim, observaram esforços sem fim. Uma luta dentro da crisálida, almejando a real liberdade, e o sonho de viver voando na companhia alada de outras borboletas nos diversos jardins do planeta. E as lagartas não desejarão mais a existência presas em pecíolos. Mas sim de borboletas nômades. Vivendo a existência voando nos bosques e jardins suspensos.

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Asas para Voar Queria ter asas para voar, mas não posso, sou humano. Voar horizontes infinitos, ultrapassando as barreiras do olhar. Cortar ventos nos peitos, mergulhando em brancas nuvens. Voar altívolo nas correntes quentes do ar. Na altitude que estivesse contemplaria os continentes. Voaria do ocidente ao oriente, visitaria a Terra Santa, as cordilheiras do Himalaia, o país do sol nascente. Como queria ter asas para voar, mas não posso voar, não nasci de mãe cisne. Nasci gente. Voar com as andorinhas peregrinas, e migrar de pólo a pólo. Com as aves de rapinas caçaria, mostrando minhas habilidades. Voando, seria ágil como os beija-flores, em voo recorde a procura de néctar. Ser homem alado, voando com querubins e serafins. Com Miguel, o arcanjo, anunciaria o Filho do Homem. Queria ter asas, montaria num unicórnio, voaria, voaria sobre todos os povos, apregoando das alturas o segredo da paz. Ah! Como queria ter asas para voar.

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O Amanhã Desejo um amanhã de paz, desejo um amanhã de amor. Um amanhã sem guerras, sem rancor. Amanhã de sonhos e realizações, de confraternização universal. Todos almejam um amanhã melhor, com justiça social, sem discriminação racial, com a paz mundial. Se houver o amanhã, façamos o bem hoje, e o amanhã será melhor.

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Lua de Mel Noites de gozo total, de satisfação. Desfrutarei de orgasmos, dádiva de Deus, com a mulher amada em lua de mel. O prazer intensivo na copulação, satisfará a espera pela relação. O clímax da ação levará à adoração, o relaxamento a compreensão de como é bom. Deixarei pai e mãe, e me unirei a uma mulher. Ambos seremos uma só carne, em noites desejosas de lua de mel.

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Algumas Aspirações Decidi caminhar pelas ruas da cidade, minha alma estava alegre. Caminhei, caminhei... e minha alma outrora alegre, ficou muito triste. Ao caminhar pelas ruas da cidade, vi semblantes de pessoas sem ideais e alegrias, vi esgoto e lixo ao céu aberto, bens públicos abandonados, e não encontrei flores nas praças.

Exausto da caminhada, sentei em um banco de praça. Recuperei as energias, fechei meus olhos, e viajei em sonhos acordados pela cidade. Via-me motivando as pessoas a procurar ideais, a buscarem vidas mais dignas, mesa com comida, e alegria que vem de Cristo.

Via-me atalaia ecoando voz contra o esgoto, e o lixo ao céu aberto. Contra o abandono aos bens públicos, construídos pelos impostos nossos. Contra a falta de flores nas praças, onde as crianças brincam com alegria. As flores que trazem harmonia, e bem estar para a comunidade.

Em sonhos acordados, vi-me lutando pela biblioteca, pelos morros que nos cercam, por uma cidade sustentável, com agricultura, cultura, educação, saúde, lazer para a população. E para Jesus Cristo ser conhecido por todos.

Depois de sonhar acordado na praça, retornei ao mundo real, e disse para mim: – Estes sonhos serão algumas das minhas aspirações.

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Independência Independência já. Chega de pai e de mãe. Quero ter o meu próprio dinheiro. Só do meu esforço. Do meu suor, do meu labor e sofrer. Fim às medíocres mesadas, ser pisado, humilhado. Quero ter o prazer de comprar, Independente: sapatos, roupas, CDs, livros, pizzas, pastéis. Já. Quero independência para viajar. E como andarilho caminhar pelo mundo, em dias intensos e nas noites claras de luar. Dinheiro para ajudar, compartilhar, com aqueles irmãos que passam fome. Dinheiro, viagens, CDs, pizzas,refrigerantes, pastéis. Os necessários e supérfluos que gosto. Liberdade, maioridade, autonomia. Quero minha independência financeira.

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O Grande Sonho Abrir os olhos e vê-lo. Resplandecente, Estrela da Manhã. No momento uma pequena lágrima escorrendo, e sentir sua mão crucificada enxugar o rosto molhado. Depois abraçá-lo fortemente, e feliz cantar eternamente a vitória do amor, de Jesus Cristo, meu Senhor.

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adolescente ambientalista

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Nascer do Sol Ao surgir à aurora, nasce o irmão sol. No momento temos um espetáculo criacional. Quando nasce o irmão sol, toda natureza responde começando as lutas diárias. Animais despertam encarando a vida, passarinhos voando, cantam as lidas, as árvores em descanso, começam a fotossíntese. E os homens do oriente-ocidente, iniciam mais um dia do ciclo vital.

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O céu Azul Levanto a cabeça contemplo o céu azul. Um horizonte distante, uma beleza exuberante, uma incógnita para os homens. . Subo montes, contemplo o céu azul. Há vidas, cores e mistérios. Sinto amor, o dulçor da poesia. Do alto desejo precipitar-me, criando asas e voando, rasgando todo o manto azul. No céu azul se vê as aves sorrindo para a liberdade. As nuvens em múltiplas formas que brevemente voltaram onde estou. Olhando o céu azul creio que tudo não surgiu do acaso, mas de um Criador. Creio na realização dos sonhos, em utopias e realidades acontecendo. Olhando o céu azul creio no amor como essência de tudo. Creio um dia ele desabrochando nos corações humanos, e todos com respeito cultivarão a paz.

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Estrelas É noite. Sem interferência das luzes humanas, consigo ver no escuro do infinito universo, salientes pontilhos luminosos espargindo notáveis belezas. Estão distantes, pequenas chamas aos meus olhos, parecem querer falar comigo. Belíssimas. Estou maravilhado. Quem disse que as estrelas não brilham como antes? E quem ao contemplar suas belezas negará o Criador? Olhem ditosas crianças, olhem jovens apaixonados, olhem homens do campo. Procurem homens das grandes cidades, tais vívidos astros brilhantes do Universo. Olhem todos os seres viventes, Javé os criou no terceiro dia para nos alegrar, nos iluminar. E exaltai-o por suas estrelas ostentosas que nos encantam em cada olhar.

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Reconhecimento ao Rio Parnaíba

Rio Parnaíba, grande rio. Fostes um benfeitor de minha terra, de muitas terras no passado. Com teu caráter persistente não desejou tréguas para o nordestino habitante de teus leitos, sofresse por falta d’água, deixando de viajar ou de produzir economia em sua terra. Rio Parnaíba, grande rio. És perene benfeitor de minha terra. Com o caráter incansável que tens, trabalhas ainda para minha terra receber eletricidade e de tuas belas águas lazer e sustentos para se manter. Muito obrigado, meu bom rio. Tu és verdadeiro manancial. As muitas vidas encontram em ti alimentos para existir.

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O Açude Na manifestação da população, as crianças em ação, com palmas nas mãos gritavam de coração: - Queremos nosso açude cheio de água. Para comermos os peixes, para banharmos, para nadarmos e lavarmos roupas. E assim, com união, salvemos nosso açude da destruição.

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Os Morros Labaredas de fogo, em cima dos morros que cercam nossa cidade. Um crime proposital. Subamos todos. Apaguemos o fogo. Salvando as plantas e os bichos do mato. Joguemos areia, água, usemos palhas, salvemos os nossos morros de atitudes irresponsáveis. Depois de apagarmos o fogo, esperaremos sentados a chuva. Ela restaurará os devastados, trazendo o verde e a beleza aniquilada.

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A Gata Camila “Camila, Camilinha... Camila !!!” Ela acordava espantada, e vinha correndo comer carne. Depois voltava para a cadeira, bocejava, se esticava, dormindo toda tarde. Eu a banhava, cheirava a cabeça, Abraçando-a forte no peito, passeando de bicicleta com ela. Era meu xodó, meu animal predileto. Veio de Kombi, de São Luis, para tornar minha vida mais feliz. Um dia a mamãe com raiva, mandou jogar ela bem longe, no meio do mato, por ela ter degustado uns patos. Quase morri de dor e saudades.

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Por uma Árvore Algemas nas mãos, aos olhos da multidão, dos corruptos e vilões, dos que querem a destruição, de uma árvore em extinção e me ver calado, na prisão. Preso, algemado, lixado, por ter protestado, com um machado nas mãos, no arraial de São João, em defesa de uma árvore em extinção.

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Rio Parnaíba À margem esquerda do rio Parnaíba, onde vivo e desfruto de suas belezas, tiro as vestes, e nu, todo despido, atiro-me nas suas límpidas águas de verão. E sentindo-me um peixe ao nadar, mergulhar em seus leitos, entrego-me completamente à natureza. Revolvendo-me nas suas areias brancas, sentindo-as rispidamente em minha pele, com a brisa amiga que me revela o quanto a vida é gostosa e bela, atiro-me novamente nas suas águas, mergulho fundo, nado, me lavo, voltando satisfeito para casa.

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Apêndice: O Desabrochar de um Poeta e a Adolescência

Dentre os vários caminhos deparados na adolescência no qual deveria percorrer na busca do desenvolvimento artístico, a poesia sem dúvida fora a que mais vingou e sobrepõe-se em meu querer e sensibilidade. O destino? Designo divino? Tendência que desabrochou pelo hábito apaixonante da leitura? Acredito existir centelhas de verdade em todas essas indagações e que em tudo exista um propósito e um sentido de ser, como também na vida dos adolescentes, que em sua vivência de transitoriedades psicobiológicas que a fase carrega, com os conflitos, dúvidas e questionamentos, sem encontrar nenhuma resposta consolidada, naturalmente, são bastantes. A poesia e o desejo pelo verbo em mim aconteceram nos meados dos 13 a 14 anos, sem que isso, contudo, levasse-me a sentir que era um poeta, um escritor; se realmente era o que queria na vida. Na época escrevi alguns aforismos, um conto, passei registrar os dias num diário, mas sem compromisso sério com a palavra, dando até em seguida uma pausa. Era motivado pelo desejo de registrar, como historiador, a minha vida, confidenciar no papel. Aos 16 anos, sim, um desejo forte, uma convicção real de querer ser escriba me envolveu, tomou consciência íntima na minha alma, eclodindo um eu de poeta e o escritor definitivamente em mim. Descobri que podia me expressar com a pena. As consequências foram diversos poemas, discursos, cartas, panfletos (que causavam polêmicas, principalmente os de cunho político), e alguns esboços e projetos para livros. Sendo leitor voraz de tudo, principalmente, na época de tomos teológicos, bíblicos e de um segmento literário abundante na cultura cristã evangélica, os livros de testemunhos e biografias, onde as experiências pessoais do antes e do depois do encontro com o Divino; as lutas heroicas de mensageiros pelo mundo em prol da causa e do próximo, são transformadas em letras e milhares de volumes. Embora, literariamente, boa parte destes escritos são tecnicamente ruins, tornam-se fundamentais e importantíssimos, pois é espírito que alimenta a fé das pessoas e mantém uma cultura. Assim, influenciado pela leitura de diversos exemplares destes testemunhos, acredito que, consciente ou inconscientemente, este livro fora moldurado e preparado, no sentido das experiências pessoais serem transformadas em letras, aqui poéticas, buscando dizer alguma coisa. Estes poemas, esclareço, inicialmente não foram escritos com tal propósito sistemático. À medida que alguns surgiam, como O Sentido da Vida, Independência, Lua de Mel, por exemplo, na produção dispersa, pequena e sem rumo que mantinha; percebia-se nas autoanalises poéticas que começara a fazer, que os mesmos brotavam impregnados de fortes sentimentos internos dos conflitos adolescentes, neste caso, um adolescente cristão evangélico.E descobrindo então que no explorar do meu interior, encontraria um rumo e um caminho para o desenvolvimento da minha poesia, surgiu Adolescência Poética, pronto aos 19 anos. Eu era agora um poeta antológico, um adolescente cristão que dava seu testemunho, mas em versos e poemas. Vamos agora publicar? Organizou-se um animado pré-lançamento na cidade (julho de 1998), o amigo Frederico discursou, e logo depois indo embora para a capital

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objetivando isso e os estudos para o vestibular, um porém tristemente deu-se, as crises terríveis de depressão adolescente me atacaram. Planos são interrompidos e adiados. Algum tempo depois retornando para a obra, dando uma enxugada em versos, no amadurecer da técnica, acrescentado outros mais, os poemas são entregues ao Batista Soares, que escreveu bonito sobre eles, estimula a publicação, mas a política da cidade pequena e agora também o desejo de não publicar mesmo, levaram os poemas da adolescência para a gaveta, onde ficaram por muito tempo. 2

A adolescência e a infância são fases extraordinárias da vivência humana. Da infância sem traumas carregamos a fantasia, o encanto do existir, as ações puras e o olhar ingênuo das coisas. Quando se chega à adolescência, um vulcão interno entra em erupção, espargindo magmas de emoções intensas e desequilibradas (as alterações físicas, psíquicas e sociais), causando um reboliço enorme e findando com o nosso mundo infantil de maneira vexatória. Nada passa a ser estável, nem definido, tudo é transitório nesta etapa, e como é difícil saber o que permanecerá das crises e mudanças que remoem no interior adolescente. Cecília Meireles, uma das minhas poetisas prediletas, ensina que para compreender a adolescência, é necessário contemplá-la, estudá-la, sendo capaz de fazê-lo, apenas “quem a observa com amor”. E assim quando os primeiros sintomas do adolescer se manifestaram em mim, com o corpo e a mente em mudança, passei logo a ler tudo que me caia em mãos (fazia procurando entender a mim mesmo e a tais mudanças), pois tudo no começo era espantoso. O desejo inflamado pelo sexo (no qual não podia praticar pelos mandamentos religiosos), junto com o abandonar abrupto dos carrinhos e bonecos plásticos de super-heróis (triste até), paralelo com a mudança no tom da voz (foi terrível); o corpo inchando, crescendo, doendo, e o encanto dos pelos tornando-se negros e densos. Do despertar inicial do eu físico, passa-se logo para a descoberta consciente de si, do interior, quando as paixões e o amor aparecem (ah! o primeiro amor), e as amizades passam a ter também significados mais fortes e intensos (a busca dos grupos com interesse comum, a necessidade de amigo íntimo e confidente).

Até que, obviamente, com os dias, no processo de descobrir a nova identidade, definir a personalidade, ter uma ideologia, se consegue obter certa maturidade para acalmar as eliminações de gases tóxicos e não tóxicos destas mudanças; sofrendo menos, pois já se encontrou um sentido para a vida, se adquiriu um pouco de autodomínio, tomando decisões para o futuro quanto a um projeto de carreira profissional. Então, certa calmura de sentimentos e ideias, passam a existir na massa vulcânica do interior do ser adolescente entre os 17 e 21 anos. Todavia, isso não ocorre em todos os adolescentes. Muitos trilham caminhos tortuosos e escusos, não encontrando o real sentido para existir, assim não contribuem produtivamente para a humanidade.

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3 Embora a idade cronológica não seja somente o indicador certo para marcar

o limiar biológico e psicológico da adolescência, pois ela se dá em diversos casos em aspectos culturais, com ritos de transitoriedade, como também individualmente, de maneira distinta em diferentes pessoas. Assim, a maioria dos psicólogos e estudiosos concordam que ela começa entre os 12 anos, se estendendo até aos 21 anos. Inicia-se e se finda, dependendo da situação sócio-cultural-biológica de cada individuo, de suas experiências consolidadoras de maturidade psicológica, afetiva, sexual e social, nas imaturidades ocorridas desde a puberdade até a idade adulta, quando também um sistema de valores e crenças se enquadra numa identidade já estabelecida.

Sendo então uma época de imaturidade em busca de maturidade, do infante mesclado num jovem, transitando constante nos dois mundos psico/biológico destas almas, não sendo mais o outro, nem também o segundo, a adolescência é inexoravelmente vivências de crises e conflitos de diferentes dosagens e ordens. Um perído cheio de inquietude e incertezas. Nela se busca uma identidade, se sofre, tem somas pequenas ou grandes de inconformismo e rebeldia nas veias, que se expressará em alguma coisa de família, política, religião, social e grupal, quando esse algo o faz questionar e indagar, ferir e prender sua liberdade e o buscar de maturidade; a necessidade de segredar, a timidez que se carrega; a busca da aventura, os riscos e surpresas do desconhecido que se propõe enfrentar, e as aventuras no amor, na amizade, no entrar e sondar o coração do outro, junto com os tormentos, o encanto e a felicidade que isso propicia; buscando em tudo experiência e estímulo. Em conclusão, a alma do adolescente procura por todos os lados uma forma definitiva para se fixar. Assim é preciso dos pais e de seus líderes (educadores, religiosos, mentores, deles próprios), contemplação, entendimento do que eles vivem e compreensão, relembrando os líderes quando viveram essa fase inquieta, para ajudarem os adolesceres a passarem tal etapa de forma construtiva. Os diálogos e o ouvi-los sempre são o caminho mais inteligente para ajudá-los a vencer qualquer problema de ordem pessoal, no encontrar de uma solução. Em certos casos, porém, não espere deles o tradicionalismo vigente, o seguir a tradição da geração anterior. As rupturas, os questionamentos dos jovens e adolescentes em todos os momentos da história humana, seja no âmbito pessoal, no magro ou no coletivo, diante do que é e existe na sociedade de bom ou opressor, sempre foi (e sempre será) o que deu engrenagem para as mudanças precisas e o andar dinâmico das civilizações. Foi isso que fez a história documentada, e que obviamente, assusta os comodistas e não desejosos de uma nova ordem, mas os magmas interiores, os questionamentos de um espírito adolescente preparado, é o que faz a mudança em tudo.

Cecília Meireles em sua prosa diz: “Deixai-o participar da grande vida. Ofereça-lhe uma esperança fecunda que os deixe ser bons, úteis e puros na medida de que são capazes os homens, quando lhes concedemos liberdade e respeito no mais elevado sentido. A mocidade é, excessivamente, em sua concepção, rica para se preocupar com a ideia de qualquer miséria própria, sentindo-se extraordinária,

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inesgotável, eterna, com essa crença maravilhosa de poder realizar até o impossível; fazendo da sua existência um impulso de projeção para o infinito, e imprimindo à sua alegria um ritmo que vence todas as distâncias e sobrevive a todos os tempos ”.

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Sempre tive uma esperança fecunda iniciada desde o começo da minha adolescência, quando encontrei Deus, que me fez decidir a lutar pelo o bem e o bom para mim e o meu coletivo. Trilhei o caminho da fé e do amor, das artes e da poesia, da alegria e do riso; cultivando com coragem vida interior, honesta e sadia, respeitando não somente a vida do homem, mas dos demais seres vivos, conseguindo superar meios sociais mesquinhos e pobres de espírito, vencendo com dignidade as ignorâncias e incompreensão banais deles, que tentaram, em graus, me sufocar. Assim, seguindo os conselhos de Cecília, vivi uma adolescência “que procurou uma definição, não tentando fechar caminhos, mas os alargando claramente para se saber quem é e o que está sendo; não se dobrando a conveniências inferiores; que nega seus ímpetos divinatórios para se submeter a pequeninas vantagens temporárias; fechando os olhos e se entregando rendida a quem queira conduzir, — para não se dar ao trabalho de escolher entre mil caminhos aquele que é o adequado”. Quem viveu, ou quem vive a adolescência assim, vive, então, não “a mocidade, mas uma velhice precoce”, diz Cecília. Sem sentido até, pois são “pessoas de alma decrépita”. “Jovens que já não o são, porque os corrompeu o interesse de sustentarem somente a si, de não levarem a seiva da sua vida além dos limites. A força vital que os poderia levar tão longe ficou paralisada entre os limites estreitos. Em vão a vida lhes dá caminhos ainda longos a percorrer. Já não darão mais um passo”. Eles, digo: se agarraram a ociosidades vãs, a vícios destrutivos, não sonham e não correm atrás da realização deles, mumificando-se em mediocridades. E não participam, nem em pequenas ações na construção das dignidades para um mundo mais bonito e justo.

Entretanto, para “os que têm consciência de si, disposição criadora, confiança, entusiasmo, lealdade, sinceridade, dignidade - que não se delimitam, e não se encerram num círculo mesquinho para nutrir avaramente sua mesquinha pessoa. Esses, que ajudados ou não pelos seus superiores, se “situaram harmoniosamente no lugar de participação que lhe cabe na vida: o mais importante lugar; e quando o compreende profundamente, o procura preencher com plenitude ”.

Será que consegui viver assim minha adolescência na poesia e nas artes? Na fé e na política? Na luta pelo meio ambiente? No amor e nas amizades? Eis um registro pequeno dessas indagações mostradas nestes poemas da adolescência, que foi vivida em consciência pratica e engajada, na busca de si mesmo e de um sentido para expressá-la, onde continuo ainda a vivê-la, pois jamais quero deixar morrer esse espírito vivo, entusiasmático de adolescente dentro do meu ser.

O Autor

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primeiras críticas

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Um Adolescente Poético É tão gostoso de ler o livro primeiro de nosso poeta que flutuei no tempo, no tempo dos gostosos doces do Garapa, que seus avós ajudaram a construir para nós, e ele não alcançou. Com um olhar interrogador de criança e questionador de adolescente, dentro desta fase que não se sabe realmente quem se é, pelo estado de transitoriedade, cujo próprio afirma com clareza e confidência sincera no poema “Crise de Identidade”, vai ele, Francisco Carlos nas aventuras da poesia e da vida, nas ribanceiras do Parnaíba, chopeando as matas e escalando os morros garapenses, na busca de si, de Deus e dos pequenos crimes contra a natureza. E destemido, toma as baladeiras, desarma arapucas e armadilhas diversas que prendem a liberdade dos passarinhos, e quando encontra os filhotes caídos dos ninhos, os devolve com todo carinho e respeito, para prontos, fazerem seu vôo de independência, cumprindo o círculo da existência, como ele deseja e faz também nestas páginas. Sem mochila, sem balança, sem metro, nada de medidas, transmitindo serenidade e apreensão. Este é o Francisco Carlos, que nestes versos, do fundo do peito de cantor adolescente faz explodir sua verdade, doa a quem doer. Depois, retorna e explodindo uma gargalhada afetiva, passa bálsamo em feridas. E a quem bebe o suor dos humildes, neste versos, é fenômeno de intolerância, em geral aos políticos do Garapa, os que estão e os que passaram. Perguntaram-me certa feita: ele é um poeta bem doido? – Não sei, eu não alcanço é as suas reflexões. E lendo suas poesias, retrato-o sereno e apreensivo, indiferente as críticas pequeninas, produzindo uma luz própria que ilumina e encandeia quem está ao seu redor. Ah!... Francisco Carlos, eterno adolescente demasiadamente destemido. Não tens medo de nada, perguntei? Sua resposta fora um clarão para eu o compreender: -Temo sim, e muito. Eu morro de medo é de enterrar meus talentos, chegando a Deus de mãos vazias. Assim, ele nos abrilhanta com sua Adolescência Poética, fazendo meninos e meninas adolescentes, todos os adultos até, gostarem de leitura e poesia. E acima de tudo vivendo sua felicidade, tendo todo direito de fazer, pois sabe produzi-la.

Vilmar Machado Vilar Poetisa, Compositora e Educadora

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Um Discurso sobre o Livro O talento e a fé propiciaram o trabalho que aqui se expõe. Sentindo-me por demais privilegiados e felizes, recebi os originais do livro Adolescência Poéticas, do amigo Francisco Carlos Machado, filho desta terra e para os quais dispenso um carinho todo especial. Recebi um telefonema antes de sua presença pessoal, desta feita veio unicamente comprovar sua educação, de berço, proporcionada pela família e os bons costumes que esta terra cisma resguardar. De posse do material, pude desvendar seu talento navegando em sua poesia, pura e saborosa como os frutos doces das matas dos vales ribeirinhos do Garapa. Em seus versos pude sentir a fluência natural do poeta, seu sentimento, sua alegria e satisfação; seu incomensurável furor de talento e inquietude com os problemas pessoais; a preocupação com a natureza, a ecologia e seu apego ao povo de sua terra. Pude respirar, embora distante, as brisas dos ventos que refrescam esta terra, enfim seus poemas me roubaram da realidade enquanto os lia. Na presente obra, logo em seu capitulo1, vi exposta a adolescência, que de uma maneira natural e afeita, traduz as transformações que acontecem com o homem, física e mentalmente, e o faz muito bem: Surgiu uma nova aurora em minha vida na vida de meus amigos na vida de muitos humanos. No princípio não sabia o que era, Mas depois percebi-a puberdade. E meu corpo de pequeno homem transforma-se num corpo de homem grande . Minha voz ficava grave, nasciam espinhas no rosto, cresciam pêlo em todo o corpo e o sexo não me deixava. Aqui vemos a extraordinária capacidade do autor em traduzir a síntese da adolescência. Fase importantíssima na vida do homem, momento em que a mente e o corpo sofrem as definitivas transformações para o estágio natural da vida e da reprodução. O autor tem um dom todo especial, uma maneira diferente de fazer poesia. Irrompe, modifica, inova e descobre. O mesmo compõe enquanto observa a si mesmo, foge dos padrões. Há embutido no trabalho, o medo, envolvendo sentimentos que somente o próprio poderia descrevê-lo. No poema acima, o autor se notabiliza pela simplicidade e concisão. E o jovem Francisco Carlos foi feliz quando enveredou pelos caminhos da poesia, pois é nessa estrada que vai cumprir a vida e nos abrilhantar com obras maravilhosas.

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A poesia é uma ação filosófica, mais séria do que a história, pois a poesia refere-se a verdades universais e a história a ocorrências particulares. Assim pensava Aristóteles. O Maranhão é um Estado historicamente vitorioso e farto de riquezas naturais, de benesses humanas. Em se tratando do campo intelectual, em especial a literatura, o Maranhão desponta entre os Estados da Federação como um dos mais representativos. Tanto no passado, como nos dias atuais, o Maranhão é respeitado pelos valores humanos que detém. A atual produção literária do Maranhão conta com nomes como Jomar Moraes, Nauro Machado, José Chagas, Luis Augusto Cassas, Milso Coutinho, Nonato Masson, Evandro e José Sarney. O Maranhão tem como príncipe de seus poetas, Gonçalves Dias, uma das mais expressivas personalidades da literatura universal. Quem sabe o Maranhão esteja recebendo de Deus mais uma vitória, mais um grande nome para alicerçar ainda mais seu rol de literatos. Arquimedes dizia que nos tornamos eterno quando escrevemos sobre nossa terra e nossos costumes. Finalmente, o livro Adolescência Poética, retrata como diz o próprio título, a vida do homem quando passa sofrer as principais transformações e descobertas (quando ainda somos inocentes) e rumo à puberdade começamos a descobrir o mundo, o próprio corpo, o sexo, enfim a realidade. O que se pode afirmar mais ainda da obra de Francisco Carlos é que o mesmo soube como ninguém, através da poesia, desvendar este mundo e passar através dos seus versos, com uma pureza jovial todo o sentimento que a adolescência proporciona. Ele procurou versejar coisas pitorescas e simplórias e desta produziu poemas belíssimos, como: Barbear Eu tirei minha barba Os amigos riram quando tirei minha barba. Fiquei maravilhado me senti mais homem quando me barbeei pela primeira vez. Coitada! Ainda pensei em preservá-la, mas quero logo ser homem grande.

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A formação evangélica dele pode ser o ponto primordial de sua capacidade de expressão. Não há como definir perfeitamente um perfil, por quê o mesmo é multifacetado, sua obra abrange vários temas e linhas de pensamentos. Amigos, o livro Adolescência Poética destaca-se como obra e destaca o autor como literato. Frederico Rebelo Poeta, contador, membro da Academia de Letras do Vale do Longá-PI.

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Emocionante viagem Poética Francisco, cara, peguei teu texto num dia que a coisa pro meu lado não estava muito poética: nada tinha de “sorriso com rima...”, nem com “poesia...”, muito menos com “alegria...”. Na verdade, meu baixo astral estava mais para “depressão, onde o caos em minha vida”... parecia ter começado e “o fim da felicidade...” chegado. Ah! Sei lá! Acho que isso é “melancolia...” de intelectual ou, então, estava precisando de um “divã psicanalista...”, entende? Claro que tu entendes companheiro, tu és bom demais nisso, irmão! Tua poesia é de meter inveja em muito marmanjo que, de há muito, está com o pé na estrada. Tu começaste agora e já fala (ou melhor, escreve poesia) como gente grande. É sério! Teu jeito de fazer poesia me faz lembrar Carlos Drummond de Andrade. Teu realismo poético ainda vai queimar neurônios de estudiosos da literatura brasileira. Não para. Pública logo esse trabalho e depois mais outro, mais outro... Procura melhorar cada vez mais; abre o verbo para o mundo e aguarda o resultado que - não tenho nenhuma dúvida - será surpreendente. Deixa eu te dizer uma coisa: li a primeira poesia do teu texto e logo me deu vontade inquietante de partir para a segunda e, não resistindo à tentação poética, mergulhei de cabeça no livro todo. Quando me dei conta, estava numa viagem emocionante de volta a uma “simplesmente adolescência...”. Foi aí que pude rever, no universo da imaginação, encontros com “espinhas e cravos...” e “os amigos riram...” de mim. Ainda não é ovo e já que ser pinto...? - diziam-me idiota e repetitivamente aqueles “carinhas” com sintomas de quem quer ser gente antes do tempo. Amigos adolescentes são porretas pra dar em doido. Essa fase da vida não deixa barato, não!, principalmente quando se trata daquelas famosas patotinhas...? Sabe como é que é? Ainda bem que “a busca” do eu, da identidade, do caráter e finalmente da maturidade nos permite sair dessa “crise de identidade...”. Mas isso é o que contam as “histórias de adolescente...” que, muitas vezes, sequer lembra-se de procurar “o encontro com Cristo...”, sentido maior da vida humana. Mas é isso! Nem sempre “os patins...” da vida adolescente deslizam sobre estrada que nos leva a uma rápida consciência do que realmente é “o sentido da vida...”. Essas considerações, meu companheiro, caracterizam o nosso estado de “angústia na alma” por que, na maioria das vezes, o ser humano vive como “moribundo na Crisálida...”, separado até mesmo da “família...”, único aconchego onde se pode compartilhar com “as crianças...” e os demais “o sorriso...” e as “lembranças do tempo infantil...”. Quando o adolescente vive num mundo de “certas dúvidas...” e, caindo na real, avalia o “por que a omissão?” diante da “independência...” de conseguir “asas para voar...” “na busca” de “o amanhã...”. Para tanto, não seria omissão ter “algumas aspirações...” para construir “o grande sonho”... de estar sempre em “lua de mel...” com a adolescência, no sentido de construir o futuro onde pudesse cantar “uma canção...”, ver

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o “nascer do sol”, “o céu azul” e as “estrelas” “às margens do Parnaíba...” e, assim, poder pegar água para fazer viver o verde de ...“uma árvore”. Poxa! Que viagem, hein, amigo? Não falei a você que seria emocionante? Agora vejo que estais preparado para falar “aos corruptos...”, ensiná-los ser pelo menos gratos à natureza em “reconhecimento ao Rio Parnaíba...” pela água que bebem do seu leito e pelos seres vivos que extraem para alimentos imerecidos. Até mais, garotão! Battista Soarez Escritor, jornalista, professor

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Sobre o autor

Francisco Carlos M. Machado, 1978, maranhense, poeta, escritor, professor, teólogo, missionário evangélico, fotógrafo e ambientalista. Tem dois livros de poemas publicados: “Na Escuridão e no Dia Claro” e “Adolescência Poética”, obra também em E-book. Além dele tem também os livros “Discursos das Causas Primeiras”, “Autoritarismo Pastoral no Maranhão”; as antologias “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses” e “Escritos dos Morros”. O autor participa com textos nas antologias poéticas: “Poesia Falada” e “Águas Vivas 3”; e dos livros “Serviço Social Cristão” e “Áreas de Proteção Ambiental do Maranhão”. Muitos de seus diversos artigos e crônicas foram publicados nos principais jornais do Maranhão e em revistas de circulação nacional. Pertencente da Associação Nacional dos Escritores, trabalha atualmente na produção da sua autobiografia ambiental, um terceiro volume de poesias e num livro de cartas das últimas vivências. Na internet mantém os blogs “Folha do Garapa” e “Poesia e Prosa Morros Garapenses”.