Agroenergia em Revista

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1 Agroenergia em Revista Edição 2 Maio 2011 AGROENERGIA Ano II, nº 2, maio de 2011 em REVISTA www.cnpae.embrapa.br Palmas para o dendê

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Publicação quadrimestral da Embrapa Agroenergia. Esta segunda edição tem como tema o Dendê.

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1Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

AGROENERGIAAno II, nº 2, maio de 2011

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Palmas para o dendê

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Editorial

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Dendê

A produtividade e sustentabilidade das espécies cultivadas e dos sistemas agrícolas encontram grandes e crescentes

apelos em um mercado de produtos e serviços, competitivo e profissional. A palma de óleo (dendê) enquadra-se neste foco, e, por tratar-se de uma palmeira oleífera, produtiva em óleos e coprodutos, constitui-se em uma cultura de valor agroindustrial para alimentos, cosméticos e com potencial para utilização agroenergética.

O Brasil reconhece, atualmente, três elementos relevantes para alavancar a expansão da dendei-cultura nacional e definiu políticas públicas para o ordenamento territorial, o financiamento da produção e a capacitação da assistência técnica. Primeiro, definiu os critérios, limites e possibili-dades para o marco regulatório básico, focando no zoneamento agroecológico e econômico da palma de óleo, na legislação ambiental e regulari-zação fundiária como medidas balizadoras para a expansão de cultivo no território nacional. Segun-do, colocou o fator inovação como um dos pilares centrais para a dendeicultura, e aloca os recursos e meios para a Pesquisa, Desenvolvimento e Ino-vação (PD&I), sob a coordenação e execução da Embrapa, visando obter saltos de competitivida-de. E, terceiro, coloca o componente social como fator de desenvolvimento regional, ampliando as bases de participação da agricultura familiar, melhorando as condições para mais emprego e renda.

O Programa de Produção Sustentável da Palma de Óleo no Brasil cria um novo cenário para a expansão da dendeicultura no Brasil, e pavimenta

os caminhos para uma participação integrada e objetiva dos setores público e privado, para uma dendeicultura competitiva e sustentável.

Nesta segunda edição da AGROENERGIA em Revista (maio de 2011), editada pela Embrapa Agroenergia, são apresentados temas em execução de pesquisa com palma de óleo (dendê), com resultados atuais ou potenciais, desenvolvidos por equipes de Unidades Descentralizadas da Embrapa, em Manaus-AM (Embrapa Amazônia Ocidental e Embrapa Negócios Tecnológicos), Belém-PA (Embrapa Amazônia Oriental), e em Brasília-DF (Embrapa Agroenergia, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Cerrados).

Os temas mostram que a dendeicultura é uma atividade agroindustrial complexa, em escala e tempo variáveis, e que requer planejamento, execução, acompanhamento e controle contínuos, incluindo aportes adequados e constantes de recursos públicos e privados. Por demanda dos setores públicos e privados, a Embrapa participa do esforço para dar suporte à dendeicultura nacional, e identificou e busca soluções para questões técnico-científicas e de mercado, focando PD&I em vertentes agrícolas e industriais, infraestrutura e tecnologias de sementes e mudas, modernização de estação experimental, visando disponibilizar nova genética, maior produção de sementes e mudas de qualidade, e mais rápidas soluções visando as boas práticas agrícolas e industriais, processamento e tecnologias de resíduos e coprodutos.

Frederico Ozanan Machado DurãesChefe-Geral

Embrapa Agroenergia

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EXPEDIENTE

Esta é a edição nº 2, de maio de 2011, da Agroenergia em Revista, publicação quadrimestral de responsabilidade da Área de Comunicação da Embrapa Agroenergia

Chefe-GeralFrederico Ozanan Machado Durães

Chefe Adjunto de Pesquisa e DesenvolvimentoEsdras Sundfeld

Chefe Adjunto de Comunicação e Negócios:Bruno Galveas Laviola

Chefe Adjunta de AdministraçãoMaria do Carmo de Morais Matias

Jornalista ResponsávelDaniela Garcia Collares (MTb/114/01 RR)

RevisãoJosé Manuel Cabral de Sousa Dias

Diagramação, capa e arte-finalMaria Goreti Braga dos Santos

Foto da capaSiglia Souza

Todos os direitos reservados.Permitida a reprodução das maté-rias publicadas desde que citada a fonte.

Embrapa AgroenergiaParque Estação Biológica - PqEB s/n°, Av. W3 Norte (final)Edifício Embrapa AgroenergiaCaixa Postal: 40.31570770-901 - Brasília (DF)Tel.: 55 (61) 3448 1581 [email protected]://twitter.com/cnpae

Sumário

Foto: Siglia Souza

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Sumário

3 Dendê

6 A importância do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo: Produtividade e sustentabilidade

8 Requerimentos de PD&I na Agroindústria de Palma de Óleo no Brasil: O papel da Embrapa

10 PD&I em suporte ao melhoramento genético de Palma de Óleo na Embrapa

12 Análise de sustentabilidade para gestão ambiental na produção de palma de óleo

14 Zondendê

16 Zondendê x Amarelecimento Fatal

17 Pesquisas buscam a causa do amarelecimento fatal do dendezeiro

18 Evolução da área plantada com palma de óleo no Brasil, com ênfase no estado do Pará, AM

19 Enzimas nos biocombustíveis

20 Embrapa participa de iniciativas de sequenciamento do genoma de palma de óleo

22 O dendê do Cerrado

24 Ações de pesquisa no Campo Experimental do Rio Urubu

26 Catálise enzimática produz biodiesel mais verde

28 Biofábrica: produção em escala piloto de clones de dendê

29 Melhoramento genético

30 Produção de cultivares e sementes de dendê na Embrapa

32 Programa capacita multiplicadores na cultura de dendê

33 Perspectivas de futuro em relação à produção de óleo para alimentação, cosméticos e o biodiesel

34 Óleo de palma já ganha espaço entre os produtores

36 A agroindústria do dendê na Amazônia: Expansão acelerada e o dilema da modernização tecnológica

38 Zoneamento Agroecológico para o Dendezeiro na Amazônia

39 Dendê: Importante matéria-prima para a produção do biodiesel

40 Biodiesel no Brasil

41 Câmara Setorial da Palma de Óleo realiza terceira reunião

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A importância do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo: Produtividade e sustentabilidadePor: Manoel Vicente Bertone, Secretário Nacional de Produção e Agroenergia – MAPA

Inclusão social, emprego e renda, plantio e par-ceria, ordenamento territorial, produtividade e competitividade, sustentabilidade e biodiversi-

dade e investimento aliado ao desenvolvimento são pressupostos que dão suporte ao Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil.

Em iniciativa inédita, o Governo Federal lançou, em 6 de maio de 2010, em Tomé Açu-PA, um conjunto de ações para disciplinar a expansão do cultivo de palma de óleo no território brasileiro. Para garantir a sustentabilidade da produção, fi-cou proibida a utilização de 86,4% das áreas ap-tas para plantio da palma de óleo, e de 96,3% da área total do território brasileiro.

O óleo de palma é hoje o mais utilizado pela in-dústria alimentícia em todo o mundo, porque é o melhor substituto para gordura trans, por ser rico em vitaminas A e E, além de ser recomen-dado como complemento nutritivo para popula-ções de baixa renda. Também está presente nos produtos de higiene e limpeza, lubrificantes e até mesmo na produção de biocombustível. Tantos usos fizeram o consumo mundial do óleo de pal-ma saltar cerca de 4 vezes, no período de 1998 a 2010 (Ano base 1998: 17 milhões de toneladas). Hoje, o produto responde por mais de um terço do total de óleo vegetal consumido no planeta.

O principal objetivo do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil é discipli-

nar a expansão da produção de óleo e ofertar ins-trumentos para garantir uma produção em bases ambientais e sociais sustentáveis. O programa que engloba o controle de áreas de plantio, cré-dito, pesquisa e formação técnica, está sendo im-plementado com suporte da iniciativa privada e de uma política pública consistente para o setor.

Diferente de outras experiências, o programa bra-sileiro de produção de palma de óleo nasceu com diretrizes e normas ambientais que disciplinam a expansão do cultivo. A produção ficará restrita às áreas desmatadas no passado. O programa nas-ceu sob o signo da sustentabilidade. Para isso, o Governo Federal estabeleceu critérios ambientais à frente dos exigidos pelos compradores interna-cionais, como a vedação expressa de supressão de vegetação nativa em todo o território nacional.

►Restrições

O Zoneamento Agroecológico e Econômico da Palma (ZAE-Dendê) é um instrumento de ordenamento territorial utilizado pelo governo federal para que o País garanta a expansão do cultivo da palma de óleo em bases sustentáveis. O levantamento das terras aptas para o cultivo foi realizado sob a coordenação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa e somente indicou áreas já antropizadas. As tratativas legais em curso prevêem a proibição da supressão de vegetação nativa em todo o território nacional e a exclusão de todas as áreas de conservação,

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reservas indígenas e áreas de quilombo para plantio da palma de óleo. As áreas priorizadas pelo programa são as degradadas na Amazônia Legal (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima) e as áreas utilizadas para cana-de-açúcar do Nordeste.

►Agricultura familiar

As áreas destinadas pelo ZAE ao cultivo da palma de óleo são também regiões com forte presença da agricultura familiar. A proposta do programa é oferecer condições para que os investidores incorporem estes agricultores como parceiros. A palma pode oferecer uma alternativa de produ-ção sustentável, com alta produtividade e renta-bilidade. A projeção é de que uma família consiga aumentar a renda mensal de R$ 415, provenien-tes do trabalho nas lavouras de mandioca ou na extração do açaí, para até R$2 mil.

►Produto estratégico para o Brasil

A indústria, os agricultores e o governo federal vêem no cultivo do óleo de palma uma atividade econômica com uma série de vantagens e opor-tunidades. Para se ter uma idéia do tamanho do mercado nacional, em 2008 o Brasil importou 63% do produto destinado à indústria, um cresci-mento de 45% em relação a 2003. Isso sem con-tar com o mercado internacional, que cresce em igual proporção.

Os Instrumentos indutores do Programa de Pro-dução Sustentável de Óleo de Palma no Brasil:

1. Zoneamento Agroecológico: para garantir a sustentabilidade da produção, a área máxi-ma autorizada será de 13,6% da área apta ou 3,7% da área total do território brasileiro.

2. Crédito: aprimoramento dos instrumentos de crédito.

Pronaf-Eco - para agricultores enquadrados no Programa Nacional de Agricultura Familiar. Juros de 2% ao ano em até 14 anos e carência de 6 anos.

Proflora - para produtores rurais (pessoas físicas e jurídicas), associações e cooperativas. Juros de 6,75% ao ano em até 12 anos e carência de 6 anos.

Produsa - para produtores rurais e cooperativas, inclusive para repasse a cooperados. Juros de 5,75% a 6,75% ao ano em até 12 anos e carência de 6 anos.

3. Mais investimento em pesquisa e inovação: repasse de R$ 60 milhões para melhoramen-to genético de mudas e sementes de palma; ampliação e modernização da produção de mudas com genética definida; articulação de compromissos e parcerias internacionais de excelência em palma de óleo.

4. Ampliação da oferta de assistência técnica: estruturação de qualificação de técnicos ex-tensionistas em parceria com o MDA, Embra-pa e governos estaduais. Este ano 80 técnicos receberão qualificação sobre a cultura da pal-ma de óleo.

5. Criação da Câmara Setorial de Palma de Óleo: será composta por representantes do Gover-no Federal, dos produtores e dos consumi-dores e funcionará como espaço institucional para identificar oportunidades de desenvolvi-mento da cadeia produtiva.

Transcorrendo quase um ano de lançamento do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil podem-se observar resultados altamente significativos. Atualmente, cerca de 15 empresas privadas participam desse esforço, e de uma área histórica de 70 mil hectares observada em 2008, implantada nos últimos 40 anos, para uma área física total de 188 mil hectares, mapeada em 2011. A Agricultura Familiar está recebendo treinamento e oportunidades de inserção econômica na expansão da cultura do dendê, especialmente no estado do Pará. Cerca de 80 técnicos foram treinados em 2010, e outros tantos serão treinados ainda em 2011, nas boas práticas agrícolas e industriais para suporte à expansão da dendeicultura. As operações de crédito continuam em curso, e as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação estão sendo reestruturadas, sob a coordenação da Embrapa. A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Palma de Óleo teve uma atuação importante desde sua criação em agosto de 2010, e realizou duas reuniões históricas, com a participação dos Senhores Presidente da República, Ministros de Estado, e de outras autoridades. Em 2011, essa Câmara retoma suas atividades em maio, buscando cumprir sua missão em prol dos interesses da dendeicultura do Brasil, e ajustamentos úteis para catalisar uma adequada participação de atores e instituições, nos vários segmentos da cadeia produtiva da palma de óleo. Há um enorme trabalho pela frente. Vislumbra-se uma grande oportunidade para a expansão da produção de palma de óleo no Brasil.

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Requerimentos de PD&I na Agroindústria de Palma de Óleo no Brasil: O papel da EmbrapaPor: Frederico O M Durães, Chefe-Geral, Embrapa Agroenergia

O Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil tem foco temático em produtividade com sustentabilidade.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dará suporte ao Programa. As ações que visam esse foco precisam estar baseadas em argumentos técnico-científicos; portanto, inves-timentos consistentes em Pesquisa, Desenvolvi-mento e Inovação (PD&I) são relevantes para as-segurar o êxito do Programa.

A expansão da dendeicultura no Brasil requer contínuo trabalho de pesquisa focado em novas cultivares melhoradas e adaptadas a diferentes condições ambientais, boas práticas de manejo da cultura e de processos de conversão de óleos e resíduos. Além disso, de dados que suportem estratégias e logística de produção e de mercado de óleos e co-produtos.

Quase toda a produção de óleo de palma concen-tra-se no Pará, hoje estimada em 160 mil tonela-das de óleo/ano. Esta produção vem de grandes empresas e produtores independentes de médio e grande porte. Menos de 10% desse número é resultado da agricultura familiar. São três pó-los produtores consolidados, envolvendo nove municípios paraenses (Moju, Tailândia, Acará, Tomé-Açu, Bonito, Igarapé-Açu, Santo Antônio de Tauá, Santa Izabel do Pará e Castanhal). Qua-se tudo vai para a indústria de alimentos. Mas é o mercado do biocombustível, cada vez mais forte no País e no mundo, que está elevando a demanda da produção e buscando novas fontes de matéria-prima.

Para apoiar os trabalhos de PD&I, a Embrapa está fortalecendo equipes de pesquisa e de transfe-rência de tecnologias, sobretudo na região na Amazônia. A primeira ação prática é a capacita-ção de 120 agentes da assistência técnica.

►Ações da Embrapa para a Agenda Dendê em Áreas Selecionadas do Brasil: Metas para PD&I, IEB-Sementes e Mudas, e Estação Experimental

O Programa de Produção Sustentável da Palma de Óleo no Brasil consolida importantes instrumentos legais que delimitam as áreas aptas ao cultivo; restringem a expansão da produção apenas às áreas antropizadas já desmatadas; proíbem a derrubada de vegetação nativa para o plantio de palma de óleo; e, direcionam a expansão da atividade produtiva para recuperação de áreas degradadas; bem como, orienta e incentiva a solução de possíveis restrições na oferta de sementes e mudas geneticamente adequadas às condições do País.

As ações principais do programa são voltadas à produtividade e sustentabilidade. Estruturada-mente, o Programa apresenta cinco eixos: Refe-rência territorial do programa (agendas ambiental e fundiária); Requerimentos de PD&I; Mecanis-mos de Financiamento; Articulação com Agricul-tura Familiar; e, Infraestrutura e Logística.

Nesse contexto, está em andamento um proje-to de médio prazo (10 - 12 anos) de PD&I em palma de óleo, coordenado pela Embrapa. Essa ação envolverá recursos públicos da ordem de R$ 60 milhões e está estruturada em cinco temas-

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-foco, que serão implementados em iniciativas público-privadas:

• Pesquisa e desenvolvimento para melhoramento genético de palma de óleo, obtenção de novos cultivares e busca de soluções para anomalias, em especial do Amarelecimento Fatal;

• Ampliação e modernização da infraestrutura botânica para produção de sementes e mu-das com genética definida;

• Revitalização, modernização e expansão da infraestrutura e facilidades físicas para produ-ção de plantas matrizes e conhecimento;

• Ampliação da capacidade de produção e ofer-ta de sementes de palma de óleo com genéti-ca definida para o Brasil;

• Articulação de compromissos e parcerias in-ternacionais com institutos de excelência em palma de óleo.

Em síntese, a Embrapa, coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuá-ria - SNPA, organiza, coordena e executa os “Requerimentos de PD&I de Palma de Óleo”, focando em 5 ações/temas:

1. Reestruturar programa nacional de PD&I den-dê;

2. Ampliar a disponibilidade de sementes e mu-das com genética definida;

3. Identificar/avaliar situação de banco de se-mentes e variedades e estabelecer acordos de cooperação com centros de referência de dendeicultura (e países limítrofes);

4. Buscar solução para a anomalia amareleci-mento fatal;

5. Focar soluções (agregar valor e destinar) para resíduos e co-produtos da agroindústria do dendê.

►Ações da Embrapa para ampliar a contribuição na nova e incremental Agenda Dendê para o Brasil

1) PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inova-ção):

• Programa de melhoramento genético de dendê;

• Sistemas de produção de dendê;

• Processos de conversão de óleos e resíduos

• Solução genético-cultural para a anomalia Amarelecimento Fatal;

• Rede de Avaliação de genótipos elites de Elaeis spp. (diferentes cultivares em multilocais);

• Parcerias nacionais e internacionais (economia de tempo na obtenção de novos cultivares);

• Investimentos em Elaeis oleifera caiaué (ra-zões: genoma completo, espécie nativa da Amazônia, resistência ao Amarelecimento Fa-tal; foco: mapa físico e WGS - Whole Geno-mic Sequence, transcriptmics bank);

• Investimentos em soluções genéticas para Amarelecimento Fatal (AF): Genômica e me-tagenômica de microrganismos (p.ex., Phyto-phora palmivora e fitoplasmas);

• Plano de uso dos dados genômicos junto ao programa de melhoramento, facilidades labo-ratoriais (equipamentos, reformas lab., bol-sas pós-doutorado, serviços terceiros Pessoa Jurídica e Pessoa Física, materiais e custeios transporte);

• Acordos de cooperação técnica e operacional com iniciativa pública e privada;

• Treinamento e capacitação em produção de sementes e mudas e tratos culturais.

2) Infraestrutura botânica para produção de se-mentes e mudas com genética definida (IEB)(ajustes de protocolos eficientes e implantação de biofábrica modular para produção em escala experimental/comercial, em cooperação técnica e operacional).

• Acordos de cooperação técnica e operacional com iniciativa pública e privada;

• Treinamento e capacitação em produção de sementes e mudas e tratos culturais.

3) Infraestrutura e facilidades físicas para pro-dução de plantas matrizes e conhecimento (EE): (recursos genéticos, introdução/quarentena, me-lhoramento de plantas, biotecnologia, novas cul-tivares, boas práticas agrícolas, anomalia amare-lecimento fatal):

• Revitalização da Estação Experimental do Rio Urubu, Amazonas - Implantação de Estação Experimental no Pará (e foco complementar: escape ao AF e introdução de material genéti-co de “savanas”, com potencial para tolerân-cia a estresses ambientais. Opção comple-mentar: avaliar a ampliação/qualificação da Estação Experimental, em “área de escape” ao AF, em acordo de cooperação com Em-brapa;

• Acordos de cooperação técnica e operacional com iniciativa pública e privada;

• Rede de ensaios de materiais elites pré- e co-merciais de dendê, nacionais e internacionais, em parceria público-privada.

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PD&I em suporte ao melhoramento genético de Palma de Óleo na EmbrapaPor: Manoel Teixeira Souza Júnior, Pesquisador da Embrapa Agroenergia

A demanda mundial de óleo de palma cres-ceu 167% entre 1998 e 2010, passando de 17 para 45.5 milhões de toneladas. Essa

demanda continuará crescendo nos próximos anos, devendo chegar a 63 milhões em 2015. O óleo de palma já responde por 57% das exporta-ções de óleo vegetal no mundo. Essas informa-ções foram divulgadas no “22nd Palm and Lauric Oils Conference and Exhibition (POC 2011)”, que aconteceu na Malásia no último mês de março.

Esse cenário de crescimento de demanda por óleo de palma explica em parte as diversas ini-ciativas estabelecidas nos últimos anos, tanto no setor privado quanto no Governo Federal, para promover uma expansão significativa da área plantada com esta cultura no Brasil. A outra par-te da justificativa leva em consideração o fato da palma de óleo ser uma excelente opção para a fabricação de biodiesel. As principais iniciativas governamentais que se destacam para viabilizar o incremento da produção de óleo de palma no Brasil são: o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e o Programa de Pro-dução Sustentável de Palma de Óleo, lançados respectivamente em 2004 e 2010.

Porém, para que essa expansão ocorra é im-prescindível que exista uma oferta de sementes e mudas de cultivares superiores em quantidade suficiente para atender a demanda. Esses culti-vares serão oriundos de programas de PD&I que tenham um componente de melhoramento gené-tico, sejam eles realizados no Brasil ou no Exte-rior. O programa de PD&I de Palma de Óleo da Embrapa é o único atualmente em curso no Brasil que tem o melhoramento genético como um dos seus focos.

Para ser eficaz no desenvolvimento de cultivares superiores, um programa de PD&I com foco em melhoramento genético precisa ter bem sedi-mentadas estratégias que o possibilitem ser efi-ciente em: a) acesso e conhecimento da variabi-

lidade genética disponível; b) geração e seleção de genótipos superiores; e c) produção e dispo-nibilização de sementes e mudas.

O programa de PD&I de Palma de Óleo da Em-brapa, no que tange a acesso e conhecimento da variabilidade genética disponível, esta na seguin-te situação: É detentor de dois bancos ativos de germoplasma (BAG), sendo um de dendê (Elaeis guineensis – de origem africana) e um de caiaué (Elaeis oleifera – de origem americana), monta-dos a partir de ações de coleta e intercâmbio de acessos realizadas em diferentes locais do Bra-sil e do exterior. Estes BAGs, embora já tenham sido objeto de alguns estudos de caracterização de variabilidade genética, ainda carecem de estu-dos mais amplos e profundos que possam dar a verdadeira dimensão da variabilidade disponível para ser utilizada na geração e seleção de genó-tipos superiores. Técnicas novas de sequencia-mento de DNA e de genotipagem em larga escala estão sendo utilizados pela Embrapa Agroenergia para preencher essa lacuna de informação. A ex-pectativa é que até o final de 2012 um amplo es-tudo de variabilidade genética do BAG de caiaué, utilizando marcadores moleculares do tipo SNPs, seja concluído. Atrelado a essa iniciativa de ge-notipagem é imperativo garantir a manutenção e a fenotipagem dos BAGs; desafio laborioso, a ser realizado em longo prazo e com alto custo.

No que tange a geração e seleção de genótipos superiores, o programa de PD&I de Palma de Óleo da Embrapa, que existe desde a década de 1980, priorizou nos últimos anos o desenvolvimento de híbridos interespecíficos (entre E. guineensis e E. oleifera) resistentes ao Amarelecimento Fatal (AF), principal estresse associado a essa cultura no Brasil. Um dos resultados desse trabalho foi o lançamento da cultivar BRS Manicoré, que ocor-reu em 2010.

O renovado interesse por genótipos superiores levou a Embrapa a promover um plano de

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reestruturação e realinhamento de seu programa de PD&I de palma de óleo. Esse plano, que esta se viabilizando devido a recursos oriundos do componente de PD&I do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo, tem como prioridades do seu componente de geração e seleção de genótipos superiores: a) melhorar a infraestrutura de laboratórios e campos experimentais; b) alavancar estratégias de seleção recorrente tanto para dendê quanto para caiaué; e c) promover a inserção de técnicas da chamada biologia avançada, tais como: citogenética, genômica, proteômica, genética reversa, genotipagem em larga escala, entre outras.

Ainda no seu início, este pla-no é considerado como fundamental para ga-rantir que o programa de PD&I desta cultu-ra na Embrapa seja eficiente na gera-ção de conheci-mentos e tecnolo-gias que garantam a eficácia no de-senvolvimento dos genótipos superio-res tão necessários para garantir a com-petitividade da agroin-dústria da palma de óleo no Brasil.

Por fim, temos o componente de produção e disponibilização de sementes e mudas. Considerado por muitos o principal gargalo à efetividade dos genótipos superiores junto aos produtores rurais, este componente demanda não só estratégias de desenvolvimento de técnicas de produção em larga escala de sementes e mudas, como também de logística de disponibilização destas para os clientes. Estratégias essas que, no caso da Embrapa, precisam ser necessariamente traçadas em um ambiente de parceria público-privada.

O estabelecimento e manutenção pela iniciativa privada de campos de produção de sementes ou mudas, utilizando material genético desenvolvi-do pela Embrapa, é um dos caminhos a seguir. Tecnologias tanto para manejo desses campos, quanto para controle da fidelidade genética des-sas sementes, já existentes, continuariam a ser

aprimoradas pela Embrapa e transferidas para os produtores de sementes.

A clonagem de plantas in vitro é outro caminho a ser utilizado para garantir a oferta satisfatória de mudas de palma de óleo. Este caminho se-ria a principio, complementar ao de produção de sementes. Porém, como já visto em outras cul-turas, apresenta potencial para no futuro domi-nar o mercado de mudas de palma de óleo no Brasil. Para que isso ocorra é necessário validar em média e larga escala a tecnologia de clona-gem já desenvolvida em escala de laboratório pela Embrapa. É imperativo que esses estudos de validação sejam executados paralelamente a estudos de análise da manutenção da fidelidade

genética dos clones; os quais precisam ser feitos tanto em laboratório quanto a cam-

po. Nesse sentido, a Embrapa solicitou recursos do componente de PD&I do

Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo para estabeleci-mento de uma Biofábrica modular a ser estabelecida na sua unidade de Manaus, no Estado do Amazo-nas. Embora dimensionada para atender a demanda de clonagem do programa de melhoramento ge-nético da empresa, essa Biofábrica

modular servirá de base para a transferência dessa

tecnologia a empre-sas interessadas na

produção comer-cial de mudas in vitro de palma de óleo.

Foto: Robinson Cipriano

Foto: Simone Mendonça

Foto: Daniela Collares

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Análise de sustentabilidade para gestão ambiental na produção de palma de óleoPor: Geraldo Stachetti Rodrigues, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente

Os lançamentos, há um ano, do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil e do Protocolo Socioambiental

para Produção de Óleo de Palma no Estado do Pará vieram a fornecer bases de políticas de cré-dito, assistência técnica e zoneamento agroeco-lógico para a cultura, como formas de, ao mesmo tempo, incentivar e regrar a prevista forte expan-são do plantio dessa importante oleaginosa no país. Cercados de cuidadosa precaução técnica e esmerado discurso em defesa do meio ambiente e em favor de pequenos agricultores, esses do-cumentos visam evitar que se repitam, no Brasil, impactos socioambientais negativos observados nas principais regiões produtoras – um objetivo que vem sendo perseguido mundialmente desde a criação, em 2004, da ‘Roundtable on Sustaina-ble Palm Oil’ (RSPO). A despeito dos riscos as-sociados a uma cultura que depende de grandes investimentos para implantação, e que se dirige às áreas de ambientes considerados frágeis da Amazônia, a expectativa é que a atividade venha a contribuir para o desenvolvimento sustentável da agricultura regional.

A iniciativa de focar a cultura da palma de óleo é extremamente vantajosa e traz uma série de valo-res interessantes para a Embrapa e parceiros do sistema nacional de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Em primeiro lugar, ao referir-se ao bioma amazônico, atende às prioridades gover-namentais de integração nacional, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável (leia-se combate à pobreza). Ademais, ao inserir-se no contexto da Política Nacional de Produção e uso do Biodiesel, pode favorecer fortemente a diver-

sificação produtiva e a geração de renda no meio rural, contribuindo para o desempenho agrope-cuário no atual ciclo de crescimento econômico que o país atravessa.

Mas é preciso avaliar, analisar, conferir e, quando necessário, corrigir o desempenho agropecuário, em particular na escala dos estabelecimentos rurais, na qual se pode efetivamente executar a gestão ambiental no campo. Para tanto, requerem-se procedimentos de Avaliação de Impactos Ambientais que integrem as dimensões ecológicas, econômicas e sócio-culturais da sustentabilidade. Um tal sistema de avaliação de impactos desenvolvido na Embrapa, e que integra critérios e indicadores para gestão ambiental de atividades rurais, tem favorecido a análise de sustentabilidade em estabelecimentos dedicados a culturas energéticas, em diversos contextos regionais e de escala produtiva, no projeto-componente ‘Bioenergia e impactos na biodiversidade’, vinculado ao Probio II (GEF/Banco Mundial/Ministério do Meio Ambiente).

Estudos de caso de análise de sustentabilida-de realizados em estabelecimentos dedicados à palma de óleo demonstram o potencial da cul-tura para promoção do desenvolvimento local, e confirmam a oportunidade dos preceitos e o inestimável valor do zoneamento agroecológico proposto no Programa de Produção Sustentável, que reserva somente áreas edafoclimáticas aptas, já anteriormente alteradas (desmatadas), e dire-ciona a expansão da atividade para recuperação de áreas degradadas – ou seja, em favor da bio-diversidade e da diversificação e intensificação

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produtiva. E exemplos há a seguir, que demons-tram a viabilidade do desenvolvimento sustentá-vel do setor, no Brasil, em conformidade com os enunciados preceitos.

Um estudo de caso recente, realizado em parceria com a maior produtora de óleo-de-palma do país, documenta as excepcionais características da empresa como protagonista e líder no cenário tecnológico e de responsabilidade socioambiental no setor de oleaginosas, em nível mundial. Os resultados dessa análise mostram excelentes índices de desempenho em todas as dimensões de sustentabilidade. Com um tal desempenho, a empresa se destaca entre os mais elevados índices integrados de sustentabilidade observados no universo de estudos já realizados com a citada abordagem metodológica, que envolve mais de 180 unidades produtivas, incluindo desde comunidades tradicionais e produtores familiares até grandes empreendimentos de inserção internacional – ver figura. Ressalta-se que, nesses estudos de caso, as dimensões Ecologia da paisagem (marcada com p na figura) e Gestão e administração (□ na figura) têm sido aquelas que mais proximamente se correlacionam com o índice integrado de sustentabilidade, explicando,

respectivamente, 78 e 62% da variação desse índice.

Essa preponderância da dimensão Gestão e ad-ministração levanta uma interessante hipótese de trabalho – que procedimentos de gestão am-biental permeiam o conjunto de indicadores de desempenho e promovem a sustentabilidade de forma integrada. Os resultados do estudo de caso de análise de sustentabilidade em estabele-cimento de produção de palma de óleo no Brasil, que constatam a excelência dos indicadores de gestão e administração, corroboram esta hipóte-se.

É daí que se reconhece o valor e a necessidade de adotar os preceitos enunciados no Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil e no Protocolo Socioambiental para Produção de Óleo de Palma no Estado do Pará. Para tanto, é nosso papel manter e ampliar as pesquisas e os processos de transferência tecnológica da Embrapa, contribuindo com capacitação de produtores e trabalhadores, sementes adaptadas e certificadas, embasamento científico para dirimir incertezas da legislação/licenciamento e sistemas de suporte à decisão para a gestão ambiental dos estabelecimentos produtivos.

Posição comparativa dos índices de desempenho ambiental observados em estabelecimento produtor de palma de óleo no Brasil, em relação ao conjunto de estudos de caso já realizados

com o sistema APOIA-NovoRural (2003-2010).

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ZondendêAplicação dos zoneamentos agroecológicos como instrumento de suporte às políticas públicas para ordenamento territorial e fomento da produção agrícola: vantagens e limitações

Por: Paulo Emilio Ferreira da Motta e Maria de Lourdes M. S. Brefin, pesquisadores da Embrapa Solos

Quando se pretende orientar o melhor aproveitamento do espaço agrícola de uma região existem duas maneiras usuais:

mapear esta região indicando as melhores opções de uso para cada situação de solo e clima, tendo em vista as necessidades agroecológicas das culturas, através da elaboração do zoneamento agroecológico e outra é mapear a região indicando as melhores e piores áreas para uma cultura específica, também com base na informação de solo, clima e da espécie vegetal, o que vai gerar o zoneamento agroecológico para a cultura específica.

O zoneamento agroecológico constitui um instrumento valioso, elaborado em harmonia com a legislação ambiental do país, baseado no conhecimento científico atual e isento de quaisquer outros interesses que não o de conjugar uma exploração econômica e sustentável da atividade agrícola com a máxima proteção ao meio ambiente.

O grande desafio para a apresentação de um zo-neamento realmente eficaz, porém, é a disponi-bilidade de informações em nível de detalhe sufi-ciente. Cita-se aqui o exemplo do zoneamento da palma de óleo, recém publicado pela EMBRAPA. A informação mais detalhada que se dispõe so-bre os solos da Amazônia é aquela armazenada no banco de dados do SIPAM, provinda por sua vez do trabalho exploratório do RADAMBRASIL nos anos 70 e elaborada sobre imagens de sa-télite, o que permitiu a publicação de mapas na escala 1:1.000.000, acrescidas de informações mais detalhadas porém de algumas áreas restri-tas distribuídas na Amazônia. Estes dados foram retrabalhados, complementados e apresentados em mapas 1:250.000 o que, não significa dizer que o detalhamento destas informações estejam compatíveis com esta escala de publicação. A in-formação de clima, por sua vez, provém de uma

rede de postos meteorológicos extremamente rarefeita, o que dificulta sobremaneira a identifi-cação e delimitação das diferentes nuances cli-máticas que ocorrem na Amazônia. Trata-se, por-tanto, de um estudo de natureza generalizada, porém baseado na melhor informação disponível para a região, ou seja, foi feito o que se pode fa-zer de melhor de posse das informações existen-tes. A aplicação das informações contidas num zoneamento feito nessa escala a locais muito es-pecíficos, sofrem grandes restrições e só podem ser realizadas com muito critério.

A carência de informações de solo e clima infelizmente é uma constatação geral em todas as regiões do país e traz consequências indesejáveis, sobretudo com relação à utilização racional das terras.

Não seria aqui exagero afirmar que o conhecimento dos recursos naturais - entre eles o solo e o clima - é um fator de soberania nacional, cabendo ao Estado promover o inventário sistemático, contínuo e meticuloso dos mesmos. Constata-se hoje a necessidade premente de se dar continuidade ao detalhamento do conhecimento dos solos brasileiros, ampliando e reforçando as equipes existentes através da capacitação de novos técnicos. A este esforço deve ser também prevista a utilização de todo o aparato de novas geotecnologias que se mostrem comprovadamente úteis, além da promoção da expansão da rede de postos meteorológicos.

Além da melhoria da informação dos solos e do clima, o aperfeiçoamento contínuo da tabela de conversão, que promove a comparação entre as necessidades das culturas e a oferta ambiental regional, merece atenção, tendo em vista que as pesquisas evoluem e um melhor conhecimento das necessidades da planta deve ser incorporado sempre que identificado. Como exemplo, cita-se

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o caso do amarelecimento fatal da palma de óleo, o chamado “AF”, um distúrbio fisiológico de cau-sa ainda desconhecida e que pode inviabilizar o cultivo desta palmeira nas regiões onde ocorre. Uma vez identificado do seu agente causal, o zo-neamento pode ser revisto de maneira a evitar as zonas mais suscetíveis. O desenvolvimento de novas variedades ou de novos clones com maior resistência às adversidades do pedoambiente, também deve ser considerado. Outro fator dinâ-mico que deve ser considerado são as mudanças climáticas e seu efeito sobre a produção e produ-tividade das culturas.

A nosso ver é necessário, portanto, desenvolver maneiras de tornar o zoneamento, enquanto su-porte à política pública, um instrumento dinâmi-co e flexível, apto a receber novas informações, em diferentes níveis de detalhe, processá-las se-gundo a tabela de conversão, aberta à evolução do conhecimento, e permitir ajustes nas indica-ções e restrições para a implantação de ativida-des agrícolas comerciais, sempre com o objeti-vo de promover uma melhor aproximação com

a realidade, procedendo a um melhor ganho em termos sociais, econômicos e ambientais.

Da incerteza inerente deste tipo de trabalho, determinada pela adequabilidade das informações disponíveis, conforme discutido acima, dois problemas podem ocorrer: áreas inaptas a uma determinada cultura serão consideradas como aptas, o que gerará prejuízos econômicos e ambientais se forem utilizadas, ou algumas áreas aptas deixarão de ser utilizadas gerando prejuízo econômico.

A condição sine qua non para a melhor aplicação e uso dos zoneamentos é portanto, a adequação da escala da informação de solos e clima, à escala de decisão. E no Brasil, isso significa investir na obtenção da informação básica sobre nossos solos a nível estadual em escala de pelo menos 1:100.000.

►Mais informações no link:

http://www.cnps.embrapa.br/zoneamento_dende/

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Zondendê x Amarelecimento FatalMapeamento de áreas com potencial de expansão e de ocorrência de amarelecimento fatal em palma de óleo (dendê) na Amazônia Legal, com ênfase no estado do Pará

Por: Adriano Venturieri, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

O Zoneamento Agroecológico (ZAE) da palma de óleo (dendê) identicou as áreas mais adequadas à expansão sustentável do seu cultivo. O somatório das áreas identificadas no ZAE da palma de óleo corresponde a 31,8 milhões de hectares.

Um exercício técnico relevante é a justaposição das áreas preferenciais de cultivo de palma, normalmente plantadas com o Hibrido intraespecífico tenera de Elaeis guineensis, com a ocorrência da anomalia Amarelecimento Fatal (AF), que causa mortalidade de plantas de dendezais. Esforços de mapeamento estão em progresso para ordenar a perspectiva de aumento de expansão de cultivo de novos dendezais e o potencial de ocorrência do AF.

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Pesquisas buscam a causa do amarelecimento fatal do dendezeiroPor: Ana Laura Lima, Embrapa Amazônia Oriental

A pesquisa está cada vez mais próxima de descobrir a causa do Amarelecimento Fatal (AF) do dendezeiro e consequentemente

a solução tecnológica para a produção de dendê livre da doença. A Embrapa desenvolve pesquisas com melhoramento genético e manejo fitossanitário da cultura que já apresentam resultados promissores.

O amarelecimento fatal é uma doença ainda com sua causa desconhecida. Há suspeitas que as causas sejam bióticas (causada por fitopatóge-nos) e abióticas (encharcamento, toxidez ou de-sequilíbrio nutricional da planta). A doença pode ocorrer em qualquer idade da planta, e caracteri-za-se pela ocorrência de amarelecimento e seca das folhas em desenvolvimento. A pesquisadora Alessandra Boari, da Embrapa Amazônia Orien-tal, explica que quando começam a aparecer os sintomas, as plantas deixam de produzir cachos e nunca se recuperam totalmente. Além disso, em áreas de ocorrência do AF, a mudas replantadas apresentam a doença em menos de um ano.

Um projeto em rede liderado pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém,PA) com a participação da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus, AM), Embrapa

Roraima, Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Embrapa Agroenergia (Brasília, DF), Instituto Biológico de São Paulo e Universidade Federal do Pará tem apontado resultados interessantes como a não ocorrência do AF em áreas com déficit hídrico, o que pode indicar áreas de escape à ocorrência da doença. Outra iniciativa de pesquisa, aprovada recentemente, estuda a possibilidade de implantação do dendezeiro irrigado em áreas não preferenciais da cultura no Brasil. “Pode ser uma maneira de escapar de áreas cujas condições edafo-climáticas são propícias a acontecer o amarelecimento fatal”, explica a pesquisadora Alessandra Boari.

No campo do melhoramento genético do dendezeiro, o principal resultado foi o lançamento da BRS Manicoré (em maio do ano passado), híbrido que apresenta resistência à doença. Desenvolvido pela Embrapa Amazônia Ocidental, o material é fruto do cruzamento entre Elaeis guineensis (dendê de origem Africana) e Elaeis oleifera (origem Americana). O melhoramento do dendê no Brasil também é o objetivo de outra iniciativa, o PRODENDÊ. As ações desse trabalho aliam o método tradicional do melhoramento com técnicas biotecnológicas como a genômica e propagação in vitro.

►Novos métodos

A metagenômica é uma ferramenta da biotec-nologia que vem sendo utilizada para tentar descobrir se causa do amarelecimento fatal é de origem biótica, ou seja, causada por fungos ou bactérias. Alessandra Boari explica que “trata--se de uma técnica relativamente nova que visa construir bibliotecas de metagenômicos per-tencentes a esses microrganismos (fungos ou bactérias) associados com plantas com AF”. O sequenciamento desses microrganismos indi-cará quais seriam os prováveis causadores da doença. Fotos: Raimundo Rocha

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Evolução da área plantada com palma de óleo no Brasil, com ênfase no estado do ParáPor: Adriano Venturieri, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

O Brasil teve uma visão conservadora quanto ao plantio de palma de óleo (dendê), e nos últimos quarenta anos as estatísticas totalizavam cerca de 70 mil hectares plantados com dendê, com cerca de 90% plantados no Estado do Pará, em 2010. Este esforço deveu-se às iniciativas pioneiras

de 3-5 empresas privadas, e o trabalho de pesquisa da Embrapa revigorado na década de 1980.

O Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo, lançado pelo Governo Federal em 2010, criou as condições técnicas, econômicas e ambientais para a expansão ordenada dos cultivos de dendê no Brasil. Os esforços públicos e privados tem mostrado evidentes resultados já neste curto prazo.

Os mapeamentos e levantamentos de campo realizados, demonstram os esforços atuais de cerca de 20 empresas no mercado de produção agroindustrial da palma de óleo, e perfazem cerca de 118 mil hectares de área plantada com dendê no Brasil. Os dados e análises estão em progresso, e a considerar a quantidade de mudas e áreas em preparo para plantio de dendê no Brasil, o potencial atual está estimado em cerca de 180 mil hectares de dendê de cultivo.

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Enzimas nos biocombustíveisEnzimas produzidas por microrganismos do dendezeiro podem ser alternativa para a produção de biocombustíveis

Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

As plantas em geral são consideradas um ambiente propício para a busca de novas espécies microbianas que podem apresen-

tar grande potencial biotecnológico. Visando des-cobrir o potencial biotecnológico da microbiota associada ao dendezeiro, cientistas da Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) selecionaram microrga-nismos para fins energéticos. Com a seleção, os novos microrganismos e suas enzimas que pode-rão ser produzidas serão mais uma opção para produção de etanol e biodiesel.

As pesquisas, iniciadas no início deste ano, são conduzidas pelas pesquisadoras, Léia Fávaro e Thaís Salum, e pelas analistas de laboratório Ca-rolina Poletto e Thais Mendes. Até o momento, já foram realizadas a triagem e o isolamento de cen-tenas de microrganismos. O estudo da produção de enzimas de interesse está em andamento. Os próximos passos serão a caracterização dos mi-crorganismos isolados e aplicação das enzimas em escala laboratorial.

►Os trabalhos

A proposta, que será finalizada em dezembro des-se ano, é procurar enzimas que podem ser utili-zadas na produção de biocombustíveis. A idéia inicial era selecionar apenas microrganismos pro-dutores de lipases, que geralmente, são encontra-dos em materiais com grande quantidade de óleo, como é o caso dos frutos do dendê. As lipases

podem substituir os catalisadores químicos que são utilizados na maioria das indústrias para a pro-dução de biodiesel. “Embora ainda não seja uma opção economicamente viável é ecologicamente correta, pois não gera resíduos tóxicos”, destaca a pesquisadora Thaís Salum.

Salum ressalta que devido a grande quantidade de microrganismos isolados, a equipe já está se-lecionando microrganismos que produzam outras enzimas, como amilases, celulases, ligninases, en-tre outras que poderão ser utilizadas na fabricação de etanol de 1ª e 2ª geração, uma das plataformas de pesquisa da Embrapa Agroenergia.

Para realizar os trabalhos, a pesquisadora Léia Favaro explica que foram coletadas amostras de frutos, folhas e solo, de diversas plantas de den-dezeiro de experimentos da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). “Toda planta, assim como o solo, tem microrganismos naturalmente presen-tes, pois são encontrados em praticamente todos os ambientes”, salienta.

Nos laboratórios, os microrganismos foram culti-vados em placas contendo meios de cultura, onde cresceu uma grande variedade de fungos filamen-tosos, leveduras e bactérias. Até o momento, já foram isolados mais de 1000 microrganismos. Os microrganismos isolados serão incluídos na cole-ção de microrganismos do Laboratório de Proces-sos Bioquímicos da Embrapa Agroenergia.

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Fotos: Thályta Pacheco

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Embrapa participa de iniciativas de sequenciamento do genoma de palma de óleoMontagem dos genomas de caiaué e de dendê será finalizada até o final de 2012

Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) acaba de obter aproximadamente 60 Gbp de dados de ge-nômica de palma de óleo (“reads” de 100 nucleo-tídeos). Este é o primeiro passo no Brasil rumo a obter a completa caracterização do genoma des-sa importante cultura. A conclusão das versões iniciais da montagem dos genomas de caiaué e de dendê está prevista para o final de 2012.

Esta estratégia é dividida em dois componentes, um a ser realizado completamente no Brasil – se-quenciamento “de novo” do caiaué (Elaeis oleife-ra) -, e o outro mediante participação em consór-cio internacional - sequenciamento “de novo” de dendê (Elaeis guineensis) e transcriptoma de den-dê e caiaué. O consórcio internacional é o OPGP – Oil Palm Genome Project, coordenado pelo CI-RAD e Neiker Tecnalia, respectivamente da Fran-ça e Espanha. Diversas ações de pesquisa estão sendo realizadas em conexão com a estratégia de WGS de caiaué (E. oleifera), explica o pesquisa-dor da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza. Ele destaca estudos básicos de morfologia reproduti-va e de citogenética, de confirmação do tamanho do genoma, do nível de homozigose em indiví-duos dos principais acessos do BAG, de caracte-rização qualitativa e quantitativa das sequências repetitivas presente nos genomas dessas duas espécies, e de identificação e validação de marca-dores do tipo SNPs passíveis de uso em estudos de diversidade genética, mapeamento genético e seleção assistida.

Para realizar esses estudos diversas técnicas de biologia avançada estão ou estarão sendo em-

pregadas, entre elas a microscopia ótica e de varredura, citometria de fluxo, “RNA-seq”, “High Throughput SNP Genotyping” e bioinformática. Para realizar esses estudos foi estabelecida uma parceria com as unidades de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF), Amazônia Ociden-tal (Amazonas/AM) e Informática Agropecuária (Campinas/SP) da Embrapa.

O pesquisador adianta que estudos da chama-da “pós-genômica” em caiaué serão iniciados até o final deste ano, com o objetivo de identifi-car genes e promotores candidatos, e validar os mesmos para uso futuro tanto em palma de óleo quanto em outras culturas.

►O sequenciamento

O sequenciamento de DNA se tornou uma realidade na segunda metade da década de 1970. Neste período de pouco mais de 30 anos as tecnologias utilizadas com esse fim experimentaram, e continuam experimentando, grandes aprimoramentos que viabilizaram um aumento geométrico da capacidade de geração de dados por máquina por minuto, a um custo cada vez menor. Este cenário foi utilizado como referencial no desenho da estratégia de genômica de palma de óleo da Embrapa, sob a coordenação da Embrapa Agroenergia. Os 60 Gbp de dados de genômica foram obtidos mediante contratação de serviço de sequenciamento no exterior, que custaram aproximadamente R$ 1,00 cada 2 Mbp de dados. “Esse custo tende a se reduzir ainda mais nos próximos anos”, enfatiza.

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O acesso da Embrapa a serviços de sequenciamento de DNA ao custo apresentado acima, ou menor, em combinação com as ações em curso na empresa de aumento da capacidade de armazenamento e processamento de dados de sequenciamento - mais especificamente o recém inaugurado Laboratório Multiusuário de Bioinformática da Embrapa -, viabiliza de vez o acesso das dezenas de programas de melhoramento genético da empresa à era dos projetos de “Whole Genome Sequencing” (WGS), destaca Manoel Souza. “Esses projetos só eram possíveis até agora para algumas culturas – normalmente commodities agrícolas, e mediante participação em consórcios internacionais – tipo de parceria que aumentava as chances de obtenção dos volumosos recursos até então necessários para executar esse tipo de projeto”, salienta.

Morfologia da inflorescência de caiaué com destaque para desenvolvimento inicial das flores

Estudos iniciais de citogenética - Pólen de caiaué (1), células em fase de tétrade (2), e célula de flor basal em leptóteno (3)

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Citometria de fluxo para quantificação de conteúdo genômico de palma de óleo

Além de viabilizar projetos institucionais de WGS para culturas fora do grupo das commo-dities agrícolas, principalmente para as espé-cies nativas do Brasil – que não necessaria-mente encontram interesse fora do país para ter seu genoma caracterizado -, essa nova rea-lidade torna factível a participação da Embrapa em projetos mais audaciosos, como aqueles objetivando re-sequenciamento de populações segregantes inteiras ou de coleções “core” de germoplasma; assunto já frequente em fóruns internacionais de genômica.

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O dendê do Cerrado

Por: Liliane Castelões Gama, Embrapa Cerrados e Fábio Reynol, Embrapa Pesca, Aquicultura e Sistemas Agrícolas

O cultivo do dendê só é possível em áreas quentes e úmidas? Se a resposta for ba-seada nas referências bibliográficas, sim.

Mas, na prática, pesquisas desenvolvidas no projeto “Fontes alternativas potenciais de maté-rias-primas para produção de Agroenergia” têm provado o contrário. Em área de altitude elevada, temperatura e umidade baixas e sem condições hídricas é possível produzir. Isso abre oportuni-dade para que a lavoura de dendê seja expandida para o Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso, São Paulo e estados diversos da região Nordeste.

“A produção no Distrito Federal é um termôme-tro. Se conseguimos produzir aqui, será possível em qualquer outro lugar”, afirma Nilton Junquei-ra, pesquisador da Embrapa Cerrados e líder do projeto. As características do Cerrado são opos-tas às áreas tradicionais de cultivo. Enquanto na Amazônia, a umidade é acima de 90%, no Cerra-do, no período seco, oscila entre 10% a 55%. A temperatura noturna no Cerrado varia entre 7º a 18º, na Amazônia entre 21º a 25º. Como no Cer-rado não chove com a frequência da Amazônia é preciso utilizar a irrigação.

No experimento conduzido na Embrapa Cerra-dos são testadas quatro cultivares de dendê. Em agosto será colhida a primeira safra, com expec-tativa de alta produtividade. Por mais três anos, será avaliada a produtividade desse plantio. Es-tima-se que em 2014, seja possível recomendar as variedades de dendê irrigado. “Normalmente, leva entre oito a nove anos para estabilizar a pro-dução. Se, nesse período, não ocorrer nenhum problema sério, não vai ocorrer mais. Os resulta-dos dessas avaliações serão encaminhados para órgãos públicos para que sejam formuladas polí-ticas públicas de incentivo ao cultivo de dendê”, explica Junqueira.

O dendê não foi a única aposta do projeto. Entre as fontes alternativas, os pesquisadores estuda-ram a macaúba e o tucumã. Isso sem contar as pesquisas com as mais tradicionais, tais como, soja, cana-de-açúcar, mamona e pinhão manso. De acordo com Junqueira, a cultura que torna es-tável a produção de biocombustível é o dendê. Como é uma espécie perene, com duração de 30 anos, dificilmente o agricultor tem interesse em substituí-la ou comercializar para outros fins. Além disso, as plantas perenes já têm o processo tecnológico definido.

►Manejo de irrigação

Um componente fundamental para viabilizar o cultivo do dendê fora da Amazônia é a irrigação. Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados e em unidades experimentais no Mato Grosso, Piauí e Tocantins avaliam o comportamento de materiais sob as condições de plantio irrigado. Os resultados determinarão o melhor manejo de irrigação para a cultura do dendê.

No Tocantins o projeto mantém dois experimen-tos, um no extremo norte do Estado, em regime de sequeiro, e outro na região central tocanti-nense com dendê irrigado por microaspersão. A plantação do norte está localizada na zona de transição entre os biomas Cerrado e Amazônico. Porém, por ter um regime de chuva aquém da média amazônica, a região não tem apresentado uma produtividade satisfatória.

Já o experimento irrigado em pleno Cerrado tem mostrado resultados promissores. Com apenas quatro anos, a cultura já obteve um rendimento médio de 20% de óleo, o principal produto do dendê. Nada mal se comparado aos 22% de rendimento dos dendezeiros maduros do Amazonas e do Pará.

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O pesquisador Gustavo Campos, do núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicul-tura e responsável pelo experimento no Tocan-tins, aponta para a possibilidade de o Cerrado ser uma área isenta das principais pragas e doenças do dendezeiro como o anel vermelho e o ama-relecimento fatal. O monitoramento de pragas e doenças também deve detectar se o Cerrado possui outros agentes nocivos para essa cultura. “Até agora as notícias são boas, as pragas não apareceram e a produtividade tem respondido bem”, contou Campos.

Contudo, o cientista acha que ainda é cedo para comemorar. “Teremos de esperar mais dois anos para ver se a produtividade supera a das lavouras de clima úmido a ponto de compensar o custo da irrigação, mesmo assim os resultados iniciais são muito bons”, ponderou ressaltando que o Tocan-tins tem um potencial de quatro milhões de hec-tares irrigáveis e boa parte dessa área poderia ser destinada ao dendê.

De acordo com o pesquisador Jorge Antonini, da Embrapa Cerrados, o consumo de água na cultu-ra do dendê é pequeno. De apenas dois a três e meio milímetros de água por dia. “A cultura usa no máximo 4% da água, o restante entra no ciclo hidrológico, vai purificar e cair novamente como

chuva. A irrigação, desde que atenda a legislação, mantenha a recarga natural e cumpra os critérios de uso, não é prejudicial ao meio ambiente”, ob-serva Antonini.

Os custos para a irrigação ainda são altos, princi-palmente para o pequeno agricultor. No entanto, com a produtividade do dendê irrigado é possível amortizar o investimento em 25 anos. Uma alter-nativa é utilizar canais de irrigação já existentes no Nordeste que atualmente estão subutilizados ou mesmo sem nenhum tipo de aproveitamento. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (MAPA), ao apoiar o projeto de irrigação, demonstra interesse em incentivar o cultivo de dendê irrigado no Nordeste.

O dendê ainda pode ser responsável pela criação de pólos de desenvolvimento regionais. O pesquisador Antonini, líder do projeto de irrigação, explica que o fruto precisa ser industrializado no máximo em 24 horas após a colheita, ou seja, a fábrica deve estar próxima a área de plantio. “O processo de industrialização deve ocorrer em um raio de 50 km da área de plantio para não apresentar problemas. Isso gera empregos na região onde há o plantio do dendê e ainda faz uma integração entre os produtores e pequenas empresas, criando arranjos produtivos

locais - APLs”, acrescenta.

Experimento com dendê irrigado conduzido pela Embrapa Cerrados em Planaltina/DF

Experimento com dendê em Tocantins

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Ações de pesquisa no Campo Experimental do Rio UrubuEntrevista com o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM), Raimundo Nonato da Cunha

►Agroenergia em Revista

Qual foi o enfoque dado no começo do Programa de Dendê na Embrapa? Quando foi isso?

►Raimundo Nonato

O Campo experimental de dendê do Rio Urubu (CERU) foi implantado em 1982, na cidade de Rio Preto da Eva/AM com o objetivo de desenvolver pesquisas em diversas áreas do conhecimento agronômico, tais como melhoramento genético, fertilidade, manejo, entomologia e fitopatologia. Os materiais genéticos utilizados foram cedidos pelo I.R.H.O (atualmente CIRAD), no âmbito de um convênio firmado entra a Embrapa e o ins-tituto francês para troca de germoplasma de E. guineensis e E. oleifera.

►Agroenergia em Revista

Qual a importância da fazenda do Rio Urubu para o programa de melhoramento genético do dendê?

►Raimundo Nonato

O CERU foi planejado para, em última instância, atender à demanda nacional de sementes germi-nadas de dendê, a qual, até meados da década de 90, era totalmente dependente de fornecedo-res estrangeiros. Para tanto, 490 famílias de ge-nitores de diversas origens foram avaliadas em ensaios, totalizando uma área experimental de aproximadamente 220 ha. Bancos de germoplas-ma das espécies E. guineensis e E. oleifera tam-bém foram implantados: atualmente o banco de palma de óleo é assim constituído: 320 acessos de material não melhorado, ocupando uma área de aproximadamente 25 ha e 223 acessos de ma-terial em estádio avançado de melhoramento, ocupando uma área de 91 ha. O banco de caiaué constitui-se atualmente de 238 acessos, em uma área de aproximadamente 30 ha. Não obstante essa grande disponibilidade de materiais, é for-çoso dizer que o programa de melhoramento genético do CERU não atingiu o objetivo ao qual nos referimos em virtude de uma série de fatores,

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25Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

►Raimundo Nonato Vieira da Cunha

Possui graduação em Engenharia Agronomica pela Universidade Federal do Amazonas (1983), mestrado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade de São Paulo (2004). É pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase

em Melhoramento Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: dendê (Elaeis guineensis) e caiaué (Elaeis oleifera).

destacando-se dentre estes, a escassez de recur-sos, notadamente financeiros, para manutenção e avaliação desses materiais no momento devi-do.

►Agroenergia em Revista

O que se planeja fazer para revitalizar o Campo Experimental?

►Raimundo Nonato

A revitalização do CERU deve contemplar priori-tariamente a interligação do campo à rede elétrica do Município de Rio Preto da Eva. Recuperação ou construção de prédios para administração, la-boratório, armazenagem de adubos, moradias e aquisição de máquinas, veículos e equipamentos diversos. Espera-se que no decorrer do ano cor-rente recursos do Governo Federal sejam libera-dos para viabilização dessas demandas.

A forma de gestão do campo experimental e os recursos necessários para mantê-lo em funcio-namento são pontos importante que também devem ser considerados, visando à revitalização das pesquisas com a palma de óleo no Brasil. A experiência já demonstrou que projetos pontu-ais, com financiamento do Governo Federal, não

podem ser a única alternativa para dar suporte à pesquisa. É oportuno ressaltar que em todos os países que se destacam pela excelência da pes-quisa com a palma de óleo, há institutos públicos e/ou empresas privadas que se dedicam integral-mente à pesquisa com a cultura.

►Agroenergia em Revista

Quais os resultados mais significativos de todo o programa?

►Raimundo Nonato

Mesmo a despeito de todos os obstáculos en-frentados ao longo desses quase 30 anos de pesquisa, sete variedades foram registradas no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, com produtividade entre 4 e 6 t/óleo/hectare/ano, fruto principalmente do con-vênio que havia entre a Embrapa e o CIRAD. Em 2009 foi efetuado o registro da cultivar BRS Manicoré, que é um híbrido entre o caiaué, pal-meira de ocorrência natural na América do Sul e Central, e a palma de óleo. Este material pode ser tão produtivo quanto às cultivares de palma de óleo, além de não haver registros até hoje de que tenha sido afetado pelo amarelecimento fatal (AF).

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26 Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Catálise enzimática produz biodiesel mais verde

Por: Thaís Fabiana Chan Salum, Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

As fontes limitadas de combustíveis fósseis, o aumento do preço do petróleo e a crescente preocupação ambiental têm

sido as principais razões para os investimentos em pesquisa na área de biocombustíveis.

Não é recente o interesse nacional na produção de biocombustíveis. Grandes projetos datam da década de 1970, com a criação do Pró-Álcool e do Pró-Óleo (Plano de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos). Mais recentemente o governo brasileiro lançou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e o Plano Nacional de Agroenergia (PNA) 2006-2011, que possui, entre outros objetivos, o de assegurar o aumento da participação de energias renováveis na matriz energética nacional e contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O Plano Nacional de Agroenergia determinou ainda a criação da Embrapa Agroenergia, uma unidade descentralizada da Embrapa, com o objetivo de contribuir para superar os desafios definidos nesse plano.

Uma das plataformas de pesquisa previstas no PNA é a plataforma do biodiesel. Tendo em vista que cerca de 50% da matriz de combustíveis veiculares nacional é composta por diesel, o biodiesel aparece nesse cenário como um combustível promissor, já que suas propriedades físicas e químicas são similares ao diesel convencional, permitindo o seu uso em misturas com o diesel em qualquer motor a diesel sem a necessidade de modificações no sistema de ignição ou no injetor de combustível.

No Brasil já existem dezenas de indústrias des-se biocombustível em operação. A produção do biodiesel é principalmente realizada a partir da reação entre um óleo vegetal e um álcool. Para tornar isto possível, um catalisador é adicionado a fim de aumentar a velocidade da reação. Nos processos industriais utiliza-se um catalisador alcalino (hidróxido de sódio ou de potássio). No processo, além do biodiesel, é também formado o co-produto glicerol, que pode ser recuperado e tem amplas aplicações nas indústrias farmacêuti-ca, alimentícia, cosmética e de plásticos.

A produção do biodiesel por catálise alcalina, entretanto, possui diversos problemas: o consumo de energia no processo é alto, a recuperação do glicerol produzido na reação é difícil e o catalisador alcalino solúvel precisa ser removido do produto. A necessidade de tratamento do efluente alcalino gerado e o alto consumo de água durante a lavagem nas etapas de purificação do biodiesel fazem com que o processo alcalino tenha um impacto significativo no meio ambiente. Além disso, se o óleo contiver pequenas quantidades de ácidos graxos livres há a formação de sabões, o que leva a uma redução no rendimento da reação, além de dificultar o processo de purificação.

Os estudos que vêm sendo realizados com o intuito de viabilizar a produção do biodiesel utilizando enzi-mas como catalisadores são promissores e podem levar à produção de um biodiesel ainda mais 'verde'.

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Tendo em vista esses problemas, uma alterna-tiva que vem sendo estudada é a utilização de enzimas como catalisadores para a produção de biodiesel. Enzimas são catalisadores biológicos (biocatalisadores) que podem ser produzidos por microrganismos e são biodegradáveis. A produ-ção de biodiesel por via enzimática tem potencial para superar os problemas da catálise alcalina. Além de as enzimas serem biodegradáveis, não há a formação de sabões no processo, o glicerol pode ser facilmente recuperado sem tratamento complexo, o consumo de energia no processo é menor (a temperatura de reação é mais bai-xa), há uma drástica redução na quantidade de efluentes e, além disso, as enzimas podem ser recuperadas e reutilizadas.

A produção do biodiesel em escala industrial utili-zando enzimas, no entanto, não tem sido adotada principalmente devido ao alto custo dos biocata-

lisadores. Por este motivo, encontrar processos que reduzam o custo do processo enzimático tor-na-se essencial. Uma das possibilidades é a reuti-lização do biocatalisador, o que pode ser possível através da fixação das enzimas em suportes sóli-dos. Outra alternativa seria utilizar resíduos agro--industriais para o cultivo de microrganismos para a produção de lipases. A aplicação destes resíduos fornece substratos alternativos de baixo custo e é economicamente interessante para paí-ses que são grandes produtores agrícolas, como o Brasil.

Assim, os estudos que vêm sendo realizados com o intuito de viabilizar a produção do biodiesel uti-lizando enzimas como catalisadores são promis-sores e podem levar à produção de um biodiesel ainda mais “verde”.

Pesquisadora Thaís Salum coleta frutos de dendê na Embrapa Cerrados, uma das matérias-primas para produção de biodiesel.

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28 Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Biofábrica: produção em escala piloto de clones de dendêEmbrapa instalará em Manaus, laboratório para melhoramento genético, produção e avaliação de clones de dendê

Por: Siglia Souza, Embrapa Amazônia Ocidental e Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

A Embrapa está realizando um grande esfor-ço para que nos próximos 20 anos possa ter um programa de melhoramento do

dendezeiro competitivo com os melhores pro-gramas no mundo, coordenando diversas ações que visam acelerar o ganho genético do progra-ma de melhoramento dessa cultura. Neste sen-tido, a Empresa está viabilizando a aplicação de ferramentas biotecnológicas para a clonagem de genótipos ou cruzamentos superiores por meio da tecnologia de propagação massal in vitro em escala piloto que atenda às demandas do progra-ma. Para isso, adianta a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Regina Quisen foi elaborado um Plano Executivo que propõe a ampliação da infraestrutura do Laboratório de Dendê e Agroe-nergia, com a instalação de uma biofábrica que será o primeiro laboratório de clonagem e geno-tipagem para dendê no Brasil.

A estrutura laboratorial será instalada na Embra-pa Amazônia Ocidental (Manaus/AM) e irá dispor

de infra-estrutura para a produção de clones para estabelecimento de ensaios de alta produtivida-de, em áreas de incidência de amarelecimento fatal, e para o aumento de número de genitores para a produção de sementes comerciais. “As-sociada à clonagem, pretende-se estabelecer um programa de seleção genômica assistida por marcadores moleculares para reduzir o ciclo e a dimensão dos testes de progênies e aumentar a eficiência do programa de melhoramento com ampliação de ganho e redução de custo por uni-dade de seleção”, salienta Quisen.

De acordo com a proposta, elaborada pelas pes-quisadoras Regina Quisen e Daniela Bittencourt, as instalações para genotipagem serão também utilizadas para caracterização e estudo de diversi-dade dos bancos de germoplasma e populações de melhoramento, análise de identidade genética de cultivares e sementes comerciais e também para controle da identidade genética dos clones produzidos in vitro.

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29Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Melhoramento genéticoDendezeiro híbrido de dendê resistente ao amarelecimento, BRS Manicoré faz parte de programa de melhoramento genético que visa o desenvolvimento de variedades superiores da oleaginosa

Por: Kamila Pitombeira, Portal dia de campo

Com o objetivo de gerar ferramentas e co-nhecimento para fortalecer o Programa de Melhoramento Genético que a Embrapa

tem com o dendê, o projeto ProDendê conta com cultivares como a BRS Manicoré, que promete facilitar a vida dos produtores do Pará, principal-mente. Isso porque o híbrido oferece resistência ao amarelecimento fatal (AF), doença responsá-vel por grandes perdas de produtividade.

► O objetivo do programa é viabilizar o desen-volvimento de novas e superiores variedades a serem disponibilizadas para o público que planta dendê — afirma Manoel Souza, pesquisador da Embrapa Agroenergia.

Segundo ele, o projeto se insere no Programa de Palma de Óleo, lançado pelo governo federal no ano passado, e no Plano Nacional de Produção de Biodiesel. Também estão sendo geradas uma série de informações em relação ao controle do amarelecimento fatal, um problema limitante do dendê no Brasil. Além disso, novos conhecimen-tos de genética e genoma também estão sendo estudados.

► O processo de melhoramento genético é continuo. A Embrapa já tem alguns materiais que foram lançados para uso dos produtores no país. Um exemplo é o lançamento, no ano passado, do BRS Manicoré, um híbrido com resistência ao amarelecimento fatal e desenvolvido principalmente para o estado do Pará. Mas como

é um processo contínuo, novos trabalhos estão sendo realizados com o objetivo de gerar novas variedades — diz o pesquisador.

Ele completa ainda que o amarelecimento é um fator limitante da produção do dendê no país, principalmente no estado do Pará. Segundo ele, não se sabe o que causa o amarelecimento, mas sabe-se que um tipo de dendê nativo do Brasil tem se mostrado resistente à esse problema.

► Essa característica foi transferida para o dendê africano através do cruzamento entre essas duas espécies e geração desse híbrido. Além disso, dentro desses programas, existe uma preocupa-ção com a questão de óleo produzido e porte das plantas — explica Souza.

O pesquisador conta que, comparado à um den-dê normal, a produtividade do BRS Manicoré é menor. Mas ressalta que, para as regiões onde ocorre o AF, o híbrido é a uma tecnologia capaz de produzir o dendê sem que o produtor se preo-cupe com o problema da doença.

►A entrevista pode ser ouvida no link:

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30 Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Produção de cultivares e sementes de dendê na Embrapa

Como resposta ao incentivo e apoio que o governo brasileiro vem dando ao dendê, a Embrapa está se estruturando para responder à crescente demanda de sementes

Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

O programa de melhoramento de palma de óleo da Embrapa foi iniciado em meados de 1980 e, como resultado desse programa, foram cadastradas, no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sete cul-tivares de tenera ou híbridos intra-específicos da espécie Elaeis guineensis. Esta é a palma de óleo cultivada no Brasil e no mundo.

De acordo com o Gerente-Geral da Embrapa Transferência de Tecnologia, Ronaldo Andrade, a partir da área de produção localizada na Fazenda Experimental do Rio Urubu, em Rio Preto da Eva, no estado de Amazonas, a Empresa já comercializou, desde 2000, o total de 6.540.000 sementes de variedades de palma de óleo da Embrapa. Dessa quantidade, excluindo-se o que foi exportado, foram comercializadas sementes suficientes para o plantio de uma área de aproximadamente 23 milhões de hectares. “Para 2011, a estimativa é de produzir

800.000 sementes dessas variedades”, declara Andrade. A Embrapa é a única empresa nacional abastecendo o mercado de sementes dessa espécie no Brasil.

A grande novidade resultou do cruzamento da pal-ma africana com uma espécie (Elaeis oleifera) de ocorrência da Amazônia Tropical Úmida, tendo produzido o BRS Manicoré, que é um híbrido de palma de óleo ou dendezeiro de alta capacidade produtiva.

“O Manicoré se destaca em relação às demais culti-vares produzidas”, adianta Frederico Durães, Che-fe-Geral da Embrapa Agroenergia, de Brasília/DF. “Produtividade alta, em torno de 30 ton/cachos/ha, resistência a uma anomalia que ocorre na palma africana, semelhante a uma doença ou uma dis-função que é o amarelecimento fatal, reduzida taxa de crescimento de caule, portanto com porte baixo,

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capaz de viabilizar um ciclo da cultura mais longo e tem alto teor de oleína, uma fração de acido gra-xo, que coloca o óleo produzido pelo Manicoré em condições de produzir biodiesel de alta qualidade, salienta Durães.

A produção de sementes da BRS Manicoré está sendo feita pela Embrapa e, através de um contra-to de licenciamento, pela Denpasa, uma tradicional empresa privada do setor de óleo de palma. Para o ano de 2011, a meta de produção de BRS Mani-coré pela Denpasa e pela Embrapa é de 2.500.000 e 200.000 sementes, respectivamente.

Está prevista a expansão da área de produção de sementes em mais 18 ha, com estabelecimento de cerca de 2.300 matrizes de Elaeis guineensis var. dura, que irão garantir, após 6 a 7 anos de estabelecimento, a produção de aproximadamente 12.000.000 de sementes por ano, informa o Gerente-Geral.

Considerando o grande incremento de área com palma de óleo que ocorrerá no nosso País, e “como resposta ao incentivo e apoio que o governo brasi-leiro vem colocando nessa cultura, a Embrapa está se estruturando para responder a essa crescente demanda de sementes”, ressalta Andrade

Rosildo Costa, Gerente do Escritório de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia em Ma-naus/AM, explica como o produtor rural pode ad-quirir sementes de dendezeiro. Além da BRS Ma-nicoré, o escritório comercializa outras variedades de sementes de dendezeiro para o plantio. Rosildo alerta que o produtor antes de fazer seu pedido deve ter definido a área a ser plantada para que a Embrapa possa ajudar com quantidade de semen-tes, categorias e período de pré-viveiro.

Quem tiver interesse em adquirir sementes de dendê pode entrar em contato com o Escritó-rio de Negócios pelo telefone (92) 3303- 7897 ou 3303-7848. Rosildo esclarece que o pedido deve ser feito com um prazo de 6 a 8 meses de antecedência, devido ao tempo de preparo das sementes, para posterior produção nos viveiros dos produtores.

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Programa capacita multiplicadores

na cultura de dendêEmbrapa e parceiros promovem capacitação em diversos aspectos da cultura da palma de óleo

Por: Ana Laura Lima, Embrapa Amazônia Oriental e Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

Uma das ações previstas no Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil é a capacitação de agentes de

assistência técnica e extensão rural, tanto de empresas públicas quanto de empresas privadas, sobre as estratégias produtivas de agricultura familiar e suas relações com o desenvolvimento rural na Amazônia.

Atendendo a essa demanda, a Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA) formulou o Programa de Qualificação de Extensionistas na Cultura do Dendê, visando à capacitação de técnicos da Emater, Ceplac, Petrobras Biocombustível, de secretarias municipais e da iniciativa privada. O programa, desenvolvido pela Embrapa é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), contanto também com suporte financeiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O curso foi dividido em cinco módulos com aulas teóricas e práticas na sede da instituição, em Belém, e em áreas das empresas Denpasa, Natura, Marborges, Biopalma, Palmatec em outros municípios. Em 2010, o Programa de Qualificação de Extensionistas na Cultura do Dendê capacitou 77 multiplicadores em duas turmas.

O engenheiro agrônomo da Emater/PA, Emerson Pinheiro Penha, que trabalha na região de Moju, a 264 Km de Belém, falou da importância da capacitação. “Os extensionistas conseguiram adquirir conhecimentos aprofundados com a cultura do dendê, que até pouco tempo não tinha muita divulgação”, salientou

A capacitação dos extensionistas é a primeira ação prática do programa governamental. Para

o Chefe-Geral da Embrapa Amazônia Oriental, Cláudio Carvalho, a expansão da dendeicultura é um enorme desafio, mas uma excelente oportunidade para o desenvolvimento das regiões consideradas aptas pelo Zondendê.

De acordo com Mazillene Silva, coordenadora do Programa, em 2011 está prevista a capacitação de uma terceira turma de 40 técnicos, a ser realizada no início do segundo semestre.

Mazillene destaca que a realização dos cursos só foi possível devido ao esforço conjunto de diversos parceiros, tanto da esfera pública quanto privada. Os técnicos da EMATER-PA, por exemplo, foram os facilitadores dos dois primeiros módulos em que foi dado destaque à agricultura familiar e às metodologias de assistência técnica.

Em relação ao módulo referente às bases técni-cas para o cultivo de dendê, a Embrapa Amazônia Oriental atuou em conjunto com empresas pro-dutoras de dendê no estado do Pará: Marborges Agroindústria S.A, Dendê do Pará S.A. (Denpasa), Biovale, Dendê do Tauá S.A. (Dentauá) e Agropal-ma. Nesse módulo participaram também, como facilitadores, técnicos da Embrapa Transferência de Tecnologia e a Embrapa Amazônia Ocidental.

Para apresentar o planejamento e a gestão das unidades produtivas, a Universidade Federal de Viçosa disponibilizou o software “BiodieselFAO”.

No último módulo da capacitação, o MDA enfocou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, o Banco da Amazônia discorreu sobre as linhas de crédito disponíveis para o Programa e disponibilizou as planilhas de crédito Pronaf/Ater e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Pará apresentou a legislação ambiental vigente.

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Perspectivas de futuro em relação à produção de óleo para alimentação, cosméticos e o biodieselPor: Wanderlei Lima, Pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental

A palma de óleo é a oleaginosa que, atual-mente, mais produz óleo por unidade de área plantada e tem seu cultivo adequa-

do para as condições do tropico úmido. É uma cultura perene, o que proporciona proteção do solo contra o efeito da erosão e possui alta ca-pacidade de sequestro de carbono. A exploração econômica da cultura se estende por mais de 25 anos e como a cultura não possui, praticamente, entressafra permite a utilização intensiva de mão de obra e interiorização e fixação do homem ao campo. Atualmente o óleo de palma ocupa o pri-meiro lugar na produção mundial de óleos.

O óleo de palma, ou óleo de dendê como é co-mumente conhecido no Brasil, é o óleo mais co-mercializado no mundo. Está presente na indús-tria alimentícia na forma de margarinas, sorvetes, biscoitos, tortas e outros, além de ser substituto para gorduras tipo trans e ser rico em vitamina A e E. Na indústria de higiene e limpeza na forma de sabões, sabonetes, detergentes e cosméticos. Na indústria química, faz parte da composição de lubrificantes e também pode ser utilizado como biocombustível. Essa diversidade de uso fez com que a demanda mundial por esse óleo incremen-tasse o seu consumo, o qual mais que dobrou nos últimos 10 anos. Hoje representa em torno de 1/3 de todos os óleos comercializados no mundo.

Apesar de o Brasil possuir grande potencial e aptidão agrícola para o cultivo do dendezeiro, sua participação nas estatísticas mundiais como produtor de óleo de palma ainda é muito baixa. Atualmente, o Brasil não produz quantidade sufi-ciente de óleo de palma para atender a necessi-dades das indústrias citadas acima, necessitando

importar quantidades significativas de óleo de palma para tender o mercado interno.

A dendeicultura nacional, impulsionada pelo au-mento da demanda por óleos para diversos fins, passa pelo momento de expansão mais inten-so desde o inicio de sua exploração comercial. Essa expansão é reflexo, dentre outras, de ações e políticas governamentais como a criação atra-vés do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel em 2004 (PNPB), com o objetivo de implementação sustentável da produção e uso do Biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, o qual incentiva o cultivo de oleaginosas baseado-se em áreas ap-tas tais cultivos, que no caso específico para o dendê, prioriza a Região Norte. Também o Pro-grama Sustentável da Palma de óleo no Brasil, lançado em 2010, tem como objetivo disciplinar a expansão e oferecer instrumentos para produ-ção sustentável de óleo de palma no Brasil. Este programa é composto por um conjunto de ações e diretrizes para a expansão sustentável do culti-vo de palma de óleo no território nacional. Para isso, proíbe a derrubada de floresta, determina áreas aptas para plantio, oferece linhas de crédito especiais e amplia a assistência técnica e exten-são rural.

Desta forma, acredita-se que num futuro próxi-mo, a sociedade brasileira terá o óleo de palma ou dendê não somente como iguaria da culinária Nacional ou oferenda para orixás, mas também como um importante segmento do agronegócio Brasileiro e, quiçá que a cultura da palma de óleo venha atender a demanda nacional por seu óleo em todos os segmentos.

Fotos: Simone Mendonça

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Óleo de palma já ganha espaço entre os produtoresPor: Assessoria de imprensa da Ubrabio

O óleo de palma ou dendê apresenta exce-lentes perspectivas na sua utilização como matéria-prima para a produção de Biodie-

sel. Segundo alguns produtores, a principal van-tagem desta oleaginosa é o fato de oferecer bai-xo custo em relação a outras culturas, cerca de R$ 600 por tonelada de óleo, o que o torna muito competitivo no mercado.

O dendê também representa a melhor produ-tividade óleo/hectare. A produção pode chegar até oito mil litros/hectare. Comparando com a soja, que rende até 500 litros por hectare, a palma torna-se muito mais atrativa.

E os benefícios do uso do dendê não param por aí. Na conversa com produtores de Biodie-sel que já investem no plantio do óleo de palma é possível perceber reações entusiasmadas com essa “nova” possibilidade de matéria-pri-ma para o Biodiesel.

Eles alegam, entre outros aspectos, que, por ser uma cultura já conhecida – já são mais de 25 milhões de hectares plantados no mundo – é possível utilizar as melhores práticas, sem desperdiçar tempo com o desenvolvimento de novas técnicas de manuseio, o que acontece-ria com culturas mais recentes.

Além disso, com o zoneamento já aprovado pelo governo federal, o Brasil possui cerca de 30 milhões de hectares com potencial de plan-tio, em áreas já degradadas. Hoje, já são apro-ximadamente de 80 mil hectares plantados.

A União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), única entidade representativa do setor produtivo, vê com bons olhos a utilização do óleo de palma, bem como a diversificação de matérias-primas no geral.

Para a entidade, isso reforça o forte caráter social do Programa Nacional de Produção e

Uso de Biodiesel (PNPB) por meio do fomento à agricultura familiar e o aproveitamento das aptidões regionais, com o estímulo ao cultivo de novas oleaginosas, em especial naquelas áreas até então consideradas pouco atrativas à agricultura.

Hoje, existe um grande número de famílias in-cluídas no PNPB. Segundo dados do Ministé-rio do Desenvolvimento Agrário (MDA), divul-gados no último dia 23 de fevereiro, mais de 276 mil famílias participam do programa, pro-duzindo soja, mamona, girassol, palma (den-dê), canola, algodão e amendoim.

Segundo o MDA, a renda média anual dos Agricultores Familiares que participam do PNPB gira em torno dos R$ 5 mil por família. Em alguns casos, isso significa o dobro da ren-da familiar alcançada antes do programa.

Apenas com a palma, as famílias que a plan-tam em até 10 hectares de terra podem ter ren-da mensal superior aos R$ 2 mil. Além disso, a colheita do dendê exige mais mão de obra, uma vez que não poder ser mecanizada.

A Biocapital, associada à Ubrabio, é uma das empresas que apostam no óleo de palma para produção de Biodiesel. Por meio de uma par-ceria com a Brasil BioFuels, já tem mais de mil hectares plantados com a oleaginosa em áre-as próprias, no estado de Roraima. “Estamos no processo de levantamento de dados nos assentamentos da região, junto ao MDA, para iniciar o trabalho com a agricultura familiar. O objetivo é trabalhar inicialmente com 500 famí-lias”, afirma o presidente da empresa, Roberto Engels.

Segundo o empresário, a aceitação do Biodie-sel de dendê pelo mercado é boa. “No início, a aceitação do biodiesel de palma teve um pou-

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Viveiro de mudas de palma da Biocapital, associada à

Ubrabio, que em parceria com a Brasil Bio Fuels, já tem mais de mil hectares próprios plantados com a oleaginosa, no estado de

Roraima.

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co de rejeição, pois é de cor escura, mas essa questão já foi totalmente superada”, diz.

A questão da fácil cristalização (numa tempe-ratura aproximada de 13ºC, similar ao sebo animal) ainda é vista como uma limitação do óleo de palma, mas pode ser minimizada com a mistura de Biodiesel de soja. “Por outro lado, o Biodiesel de dendê tem um índice de ceta-no elevado, se comparado ao índice do diesel convencional e também possui um elevado grau de lubricidade, ou seja, podemos afirmar que é um excelente aditivo para o óleo diesel mineral”, acrescenta Engels.

Outra associada à Ubrabio, a Oleoplan, tam-bém investe na cultura do dendê. A empresa tem um plano inicial de investimentos em plan-tio de cinco mil hectares próprios com a oleagi-nosa e outros cinco mil hectares ou mais, por meio de produtores familiares, além da usina

processadora para processar toda a produção de dendê originada nessas áreas.

“O nosso projeto, em sua primeira fase, con-templa 800 famílias no Município de Rorainó-polis, em Roraima. A Oleoplan fornecerá mu-das qualificadas, assistência técnica direta e por convênio, com entidades privadas e gover-namentais, além de garantir a compra de toda produção durante o período útil das lavouras”, afirma o presidente da empresa, Irineu Boff.

Diante desses benefícios e experiências que já se mostram bem sucedidas, o óleo de palma ou dendê indica sua importância para uma in-dústria recente como a do Biodiesel e que já fi-gura como um segmento muito promissor para o setor agrícola nacional, com sua capacidade produtiva anual girando em torno dos cinco bi-lhões de litros do biocombustível Biodiesel.

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A agroindústria do dendê na Amazônia: Expansão acelerada e o dilema da modernização tecnológicaPor: Marcos Ene Chaves Oliveira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

A pesquisa com dendê no estado do Pará iniciou-se em 1951 no então

IPEAN, hoje Embrapa Amazônia Oriental, e adquiriu porte industrial a partir da década de 60 do século passado com projetos pioneiros no Pará, i n c e n t i v a d o s pela SUDAM. O avanço da cadeia da palma foi lento, mas tem-se observado nos últimos cinco anos uma expansão acelerada com aumento de cerca de 150% da área plantada no estado do Pará, e que se intensifica mais ainda a partir do lançamento do programa PALMA DE ÓLEO do governo federal em 2010, levando a uma estimativa de que ao término de 2011 a área com palma no estado ultrapassará 150.000 hectares, o que consolidará definitivamente o Pará como o principal produtor de óleo de palma do Brasil.

O aumento de área plantada implica em uma pressão para ampliação, e também modernização, da cadeia agroindustrial que hoje no estado conta com 11 agroindústrias de extração, 2 de refino e 1 de produção de gorduras e margarinas vegetais. Em 2010, este setor foi responsável pelo processamento de 200.000 toneladas de óleo de palma bruto provenientes de 6 empresas e

gerando cerca de 1100 empregos na agroindústria e um total de

cerca de 7000 empregos diretos em toda a

cadeia da palma. Esta produção representa mais de 90% da produção brasileira de óleo de palma e o incentivo ao crescimento da cadeia fornecido pelo programa PALMA DE ÓLEO deve-se ao fato de

que o Brasil ainda importa cerca de

50% do óleo de palma consumido no país.

A ampliação e modernização do setor agroindustrial, entretanto, im-

plicam decisões estratégicas a serem to-madas pelos produtores de palma. Dentre estas decisões está o dilema de que por um lado a mo-dernização se impõe como elemento de aumento de competitividade, mas, por outro lado, na Ama-zônia, a modernização implica em importação de tecnologias e de toda a manutenção e assistência técnica necessárias para lidar com esta nova tec-nologia, o que implica em aumento do custo de produção. Este elemento, somado à entrada do produtor de palma com foco em biodiesel, são motivos pelos quais se observa que a adoção de novas tecnologias ocorre a velocidades diferen-tes entre as agroindústrias da região e, especial-mente, entre as agroindústrias já existentes e os novos projetos de agroindústrias.

Cachos maduros do Híbrido Interespecífico (HIE)

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37Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Nas agroindústrias já existentes, que têm foco na produção de óleo de palma para o mercado de alimentos, há tanto uma tendência de agregação de tecnologia para verticalização da produção até o refino quanto uma tendência diferenciada para mudança de tecnologia na agroindústria de extra-ção do óleo de palma bruto. A verticalização até o refino é vista por alguns produtores como estra-tégica para fugir ao “oligopólio” de compradores de óleo de palma bruto que hoje é constituído por no máximo três empresas no mercado brasileiro, enquanto que o mercado para o óleo refinado é mais diversificado. Entretanto, embora seja pre-visível que o aumento da agroindústria de extra-ção seja de certa forma proporcional ao aumento da área plantada com palma, não está claro se o aumento da agroindústria de refino seguirá esta mesma proporcionalidade, especialmente consi-derando-se que parte significativa da produção futura vá para o mercado de biodiesel no qual não há necessidade de refino como acontece no mercado de alimentos.

A agregação de tecnologia na cadeia de extração já existente, por outro lado, tem como objetivos tanto a otimização econômica do processo como também a minimização da geração de efluen-tes que, além da diminuição de custo de produ-ção, implica também em melhorias da imagem ambiental das empresas. Neste sentido, tem-se observado que a mudança tecnológica caminha no sentido de processos contínuos de esteriliza-ção, novas tecnologias para minimização de con-sumo de água e geração de efluentes, como os tri-decanter, novas alternativas de prensas expel-ler, e controle automático de processo. Entretan-to, a adoção destas tecnologias vem ocorrendo a velocidades diferentes entre as agroindústrias da região. Assim, entre as agroindústrias exis-tentes observam-se aquelas que já adotaram um nível significativo destes elementos, aquelas que adotaram pelo menos um novo processo para minimização de efluentes líquidos e aque-las nas quais nenhuma nova tecnologia foi ou vem sendo adotada.

Nas novas agroindústrias em projeto, e que se instalam com maior foco no mercado de biodiesel, tem-se observado que o nível tecnológico já será caracterizado por processos contínuos e com maior foco na minimização de efluentes e controle de processo. Além disso, entre estes projetos fala-se muito no conceito de agroindústria de extração modular capaz de se expandir à medida que aumenta a produção e também na possibilidade de incorporação de processos de co-geração de energia a partir dos resíduos lignocelulósicos da palma. Entretanto, ainda não está claro qual tecnologia será adotada por cada novo projeto e parece não haver uma linha uniforme de tecnologias, o que poderá implicar em tecnologias de diferentes origens.

O cenário descrito anteriormente mostra clara-mente uma expansão acelerada da cadeia agroin-dustrial da palma, levando não somente à criação de novas agroindústrias de extração como tam-bém a novas agroindústrias de refino e também agroindústrias com foco na produção de óleo para biodiesel. Observa-se também que o nível tecnológico da cadeia agroindustrial da palma será ampliado às custas de uma importação em massa de tecnologia, o que faz com que o produ-tor tenha uma elevação de custos de produção tanto pela compra da tecnologia importada como também pela dificuldade e elevados custos para manter uma logística adequada de fornecedores de equipamentos e assistência técnica. Esta situ-ação deixa clara a necessidade de uma política industrial, nacional e também estadual, para este setor na região Amazônica, e no Brasil, e também a necessidade de investimentos em pesquisa e formação de recursos humanos qualificados para a agroindústria da palma. Tal política no momen-to se justifica pela importância desta cadeia para a economia brasileira, bem como pela expansão acentuada que leva a uma condição mínima de nucleação tecnológica para o setor.

Cachos de dendê chegando à agroindústriaÁrea de estocagem dos cachos frescos

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38 Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Zoneamento Agroecológico para o Dendezeiro na AmazôniaPor: Carlos Dias, Embrapa Solos

A Embrapa Solos lançou o livro Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia

(215 páginas), editado pelos pesquisadores An-tonio Ramalho Filho, Pedro Luiz de Freitas, Paulo Emilio Ferreira da Motta e Wenceslau Geraldes Teixeira.

A obra Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia é a reunião de dois livros em um. O primeiro trata do zoneamento agroecológico das áreas desmatadas da Amazônia para o cultivo da palma de óleo (dendezeiro). Nele são identifica-das em mapas as unidades ambientais da pai-sagem desmatada na Amazônia, ocupadas com terras na grande maioria, esgotadas e ocupadas com pastos em estado avançado de degradação, que tenham aptidão para o cultivo da palma de óleo, e também aquelas que se excluem dessa possibilidade por serem matas nativas, áreas de reserva legal ou inaptas para tal cultivo. Traz ain-da, como bônus, atualização metodológica, que permite total informatização dos procedimentos de elaboração de zoneamentos agroecológicos, seja na avaliação das aptidões de solo e de clima, na organização da informação ou na produção cartográfica.

O segundo livro reúne em quatorze capítulos todo o conhecimento disponível para a implantação e o manejo eficientes e sustentáveis de lavouras de palma de óleo em terras com diferentes níveis de

aptidão agrícola sob variados aportes tecnológi-cos. Além disso, descreve estratégias de amplia-ção da economicidade dos empreendimentos, destacando: as alternativas de convivência e con-trole dos agentes de sua doença mais grave – o Amarelecimento Fatal. Também aborda as possi-bilidades de adoção da cultura da palma de óleo como alternativa econômica e sustentável viável tanto pela agricultura de base familiar como para grandes empreendimentos no contexto da agro-energia, com reflexos diretos na redução da pres-são do desmatamento na Amazônia.

Os assuntos abordados estão ordenados em se-quência, que vai do planejamento conservacio-nista das áreas aptas à implantação de palmares à escolha do material genético para a produção sustentável da palma de óleo.

Esta obra é resultado de uma ação para a Ama-zônia com recursos do Fundo Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que tem o objetivo de criar bases científicas para a produção de biocombustível nas regiões remo-tas de fronteira da Amazônia.

Acompanha o livro CD contendo o Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal.

Quem tiver interesse em adquirir o livro deve en-trar em contato com [email protected] ou (21) 2179-4507.

Foto: Robinson Cipriano

Page 39: Agroenergia em Revista

39Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Dendê: Importante

matéria-prima para a produção

do biodiesel

Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

Inclusão social, emprego e renda, ordenamen-to territorial, produtividade e competitividade, sustentabilidade e biodiversidade, aliados ao

desenvolvimento, são pressupostos que dão su-porte ao Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil que o Governo Federal lançou em 2010. Incentivar a produção de dendê para diversos fins, em especial para a produção de biodiesel é um dos focos da Embrapa. O tema é do programa de rádio da Embrapa - Prosa Ru-ral, produzido pela Embrapa Informação Tecno-lógica (Brasília/DF) com entrevista principal do chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães, sobre o uso do dendê como matéria-pri-ma para a produção do biodiesel.

Durante o programa, Durães explica o funciona-mento do Programa e como o agricultor pode se integrar à cadeia produtiva do biodiesel. Também participam do Prosa Rural o gerente do escritório de negócios da Embrapa Transferência de Tecno-logia, em Manaus, Rosildo Costa; o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA), Rui Gomes; e o técnico em extensão rural da Emater/PA, Anderson Penha.

O dendezeiro é, entre as espécies oleaginosas, a de maior produtividade. No País, especialmente no Pará, as melhores plantações tem atingido 6 toneladas de óleo/ha/ano. Além disso, o óleo do

dendê tem amplo uso nas indústrias de alimen-tos, farmacêutica e química e representa grande oportunidade para a produção de biodiesel.

De acordo com dados de pesquisa, o dendê apre-senta um balanço de energia entre 8,6 e 9 unida-des de energia disponíveis por unidade de ener-gia aportada. Com tudo isso, a expansão dessa oleaginosa no Brasil é indicada como uma das principais alternativas para a agricultura susten-tável na Amazônia.

A expansão da dendeicultura no Brasil, segundo o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, requer contínuo trabalho de pesquisa focado em novas cultivares melhoradas e adaptadas a diferentes condições ambientais, boas práticas de manejo da cultura e de processos de conversão de óleos e resíduos. Além disso, de dados que suportem estratégias e logística de produção e de mercado de óleos e co-produtos.

Mais de 70% dos óleos do mundo são oriundos de 4 espécies vegetais, soja, dendê, girassol e canola. “No Brasil um Programa dessa natureza associa o ordenamento territorial e desenvolvi-mento com as boas práticas agrícolas e indus-triais e foca produtividade com sustentabilidade”, conclui Durães.

►Escute a matéria do Prosa Rural, no link:http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2011/dende-importante-

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40 Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Biodiesel no BrasilProdução de biodiesel está concentrada nas regiões Sul e Centro-Oeste

Por: Daniela Collares e José Manuel Cabral, Embrapa Agroenergia

De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), biodiesel é um combustível

composto de alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais, atendendo as especificações da resolução ANP Nº 7 de 19/03/2008. Atualmente, o biodiesel é misturado, na proporção de 5% a todo o óleo diesel comercializado no país.

Os dados do relatório de fevereiro de 2011 da ANP indicam que existem 69 plantas produ-toras de biodiesel autorizadas para operar no País, correspondendo a uma capacidade total de 17.415,95 m3/dia ou cerca de 5.224 bilhões de li-tros por ano, considerando 300 dias de operação das indústrias.

Desde o lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em 2005, a produção desse biocombustível tem sido cres-cente, no país, sendo que em 2010 houve aumen-to porcentual de 49% em relação à de 2009.

A produção brasileira está concentrada nas regiões Sul e Centro-Oeste.

Os três principais estados produtores em 2010, segundo o relatório já citado, são:

Esses três estados produzem mais de dois terços (67,4%) de todo o biodiesel do país. A principal matéria-prima para biodiesel é a soja, a partir da qual são produzidos cerca de 80% de todo o pro-duto no Brasil. A gordura animal contribui com cerca de 15% e o caroço de algodão com 4%.

O programa de transferência de tecnologias em girassol, mamona e dendê, a ser realizado em conjunto por Embrapa e Petrobras Biocombustí-veis, tem como objetivos, incentivar a diversifica-ção das matérias-primas, buscar a regionalização da produção e incentivar a inclusão produtiva de produtores familiares.

Estado Produção %

RIO GRANDE DO SUL 605.998 m3 25,3

MATO GROSSO 568.181 m3 23,7

GOIÁS 441.976 m3 18,4

Produção de biodiesel no Brasil (em metros cúbicos) por ano

2005 2006 2007 2008 2009 2010

736 69.002 404.329 1.167.128 1.608.448 2.396.955

►SAIBA MAIS

No vídeo “Produção de Biodiesel” a pesquisadora Simone Mendonça explica os passos da reação de transesterificação e a purificação de biodiesel, em escala de laboratório.

Veja em www.cnpae.embrapa.br/videos/ano-2010/producao_biodiesel.wmv/view

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41Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

Câmara Setorial da Palma de Óleo realiza terceira reuniãoPor: Daniela Collares

Criada por meio da Portaria MAPA No. 592/2010, de 17/08/2010, a Câmara Setorial da Palma de Óleo é um espaço

institucional que tem como propósitos identificar oportunidades para o desenvolvimento da cadeia produtiva, estabelecer prioridades para a política pública e articular Governo e agentes privados. O conceito de Câmara Setorial, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está fortemente relacionado com a idéia de um agrupamento de representantes dos organismos, órgãos e entidades, públicas e privadas, que compõem os elos de uma cadeia produtiva do agronegócio, que tem por substrato um ou mais produtos. Tratam dos setores produtivos da Agropecuária, tendo sempre um enfoque sistêmico – Visão de Cadeia Produtiva.

A Câmara Setorial da Palma de Óleo, composta por representantes do Governo Federal (MAPA, MDA, MME, MMA, MDIC, Embrapa e Casa Civil) e por representantes dos produtores de palma de óleo, dos consumidores dos produtos derivados, dos trabalhadores, tem caráter consultivo e propicia um diálogo organizado em torno do interesse comum de garantir a expansão sustentável da produção no Brasil. A primeira reunião ocorreu no dia 18 de agosto de 2010. “A criação desta câmara mostra o comprometimento do governo com o fomento à cultura da palma que, além de gerar emprego e renda ao produtor da Região Amazônica, vai auxiliar na recuperação de áreas degradadas”, disse o Ministro da Agricultura.

De acordo com o ministro, a câmara setorial vai traçar as políticas públicas para a área e defen-der projetos de aproveitamento da palma, pro-movendo mudança estrutural no mercado, hoje dominado por dois países: Indonésia e Malásia.

►Terceira Reunião da CâmaraUm importante tema debatido, na terceira reu-nião ocorrida no dia 12 de maio de 2011, foi o le-vantamento da safra da palma de óleo do Brasil, com levantamento preliminar apresentado pela

Companhia Nacional de Abastecimento – Conab. O levantamento será revisto com a participação das empresas que designaram os seus pontos focais para atualização dos dados. A contribuição da Conab em levantamento de safra com outras espécies tem produzido informações relevantes para a tomada de decisões.

O grupo de trabalho de comércio e logística, for-mado por representantes do governo, de empre-sas produtoras de óleo de palma e de palmiste e de compradoras dos produtos, mapeou os garga-los existentes para comercialização da produção no mercado nacional. As suas conclusões apon-tam para necessidades de reavaliação da regula-mentação e logística em rotas de cabotagem, ro-dovias e ferrovia N-S, tributação (ICMS, impostos de importação, PIS/CONFINS e outros tributos), além de financiamento agrícola, especialmente para médios produtores. O grupo sugere ainda a criação de um Selo “Óleo de Palma Social”.

Nas regiões da Amazônia Legal, tendo como foco principal o Pará, os Governos federal e estadual tem promovido estudos e ações articuladas para a agenda ambiental e regularização fundiária, considerado gargalos para a expansão da den-deicultura no Estado.

A Embrapa apresentou, a “Agroenergia em Re-vista”, abordando temas e resultados em anda-mento em PD&I de palma de óleo, demonstrando o compromisso da Empresa para com o Progra-ma de Produção Sustentável da Palma de Óleo. Na oportunidade, o representante da Empresa na Câmara, Frederico Durães, Chefe-Geral da Embrapa Agroenergia discutiu também sobre disponibilidade de sementes e sobre os recursos financeiros destinados à pesquisa não liberados em 2010. Nesta questão, obteve a determinada posição do Secretário Nacional de Produção e Agroenergia do MAPA e Presidente da Câmara Setorial, Manoel Bertone, visando a busca no Go-verno, junto com a Diretoria da Embrapa, a viabi-lização dos recursos para PD&I, em 2011.

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