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Relatos de uma experiência alfabetizadora não- formal Talita de Araujo MAGALHÃES Estudante do curso de Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Contato: [email protected] Resumo Este depoimento conta a experiência de estágio da autora, o qual consistiu em planejar e aplicar uma aula que tratasse de um dos assuntos tratados em aula, um elemento da gramática de língua portuguesa por meio do uso do computador em um ambiente formal ou não formal de educação. Sendo assim, o estágio foi realizado em um grupo escoteiro no município de São Paulo, em que foram trabalhados os conceitos de poesia e rima através de uma canção tradicional do escotismo em Portugal. Palavras-chave: escotismo – Portugal – rimas – computador – canção Depoimento

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Relatos de uma experiência alfabetizadora não-formal

Talita de Araujo MAGALHÃES

Estudante do curso de Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Contato: [email protected]

Resumo

Este depoimento conta a experiência de estágio da autora, o qual consistiu em planejar

e aplicar uma aula que tratasse de um dos assuntos tratados em aula, um elemento da

gramática de língua portuguesa por meio do uso do computador em um ambiente formal ou

não formal de educação. Sendo assim, o estágio foi realizado em um grupo escoteiro no

município de São Paulo, em que foram trabalhados os conceitos de poesia e rima através de

uma canção tradicional do escotismo em Portugal.

Palavras-chave: escotismo – Portugal – rimas – computador – canção

Depoimento

A professora Doutora Nilce da Silva na disciplina: “Metodologia e fundamentos da

alfabetização em países de língua oficial portuguesa: uma introdução” propôs um estágio que

se diferia dos demais, visto que não seria um estágio de observação, mas um estágio ativo em

que os estagiários seriam protagonistas em um processo de alfabetização que precisaria

necessariamente envolver um dos assuntos tratados em aula, um ou mais itens de uma

gramática da língua portuguesa, bem como estratégias de Novos letramentos, como o uso do

computador. A primeira vista, parecia uma tarefa impossível e pensamos primeiramente em

tratar dos sinais de pontuação, através de uma viagem para a Angola, em uma escola de

educação infantil. Algumas outras ideias surgiram como a aplicação de uma aula semelhante

em uma sala de apoio pedagógico (SAP), do ensino fundamental, a aplicação em uma igreja,

porém a ideia que mais saltou aos olhos foi a de que a aplicação ocorresse em um grupo

escoteiro. Para que não só a atividade fosse realizada, mas também nos permitisse uma

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experiência diferente daquela vivenciada em sala de aula. Contatamos o grupo no qual a

minha dupla realiza atividades, felizmente não só conseguimos contato, como uma data

agendada para aplicação da aula. O Gesp está localizado a Rua Baetinga, 99, no bairro do

Brooklin, município de São Paulo, e optamos por trabalhar com o grupo mais novo chamado

de “Alcateia”, no qual crianças de sete a 11 anos são chamadas de “lobinhos”.

A ideia de aplicação da aula em um grupo escoteiro ocasionou uma mudança dos

conteúdos do plano de aula, porque tínhamos mais uma variável: o movimento escoteiro.

Então, o novo desafio seria articular não só um assunto da aula, com a língua portuguesa e o

computador, como também o movimento escoteiro. Pesquisando sobre países lusófonos, onde

o movimento escoteiro ocorre, verificamos que Portugal é o país, que tem como língua oficial

o português, onde o movimento escoteiro é bem conhecido. Chegamos à conclusão que

precisaríamos, não só situar o país a discutir, como situar o próprio movimento escoteiro no

país. As atividades dos grupos escoteiros são dotadas de muitas músicas, procurando

composições lusitanas, encontramos algumas canções dos lobinhos, chamados Lobitos em

Portugal, o que atrelava o país estudado à própria língua e ao movimento escoteiro.

Decidimos trabalhar rimas, a partir destas canções.

Por fim, a aula planejada teve como pano de fundo tudo o que foi discutido até aqui:

Portugal, escotismo, rimas, através do computador. O plano de aula se consistia em atividades

divididas em quatro momentos. Primeiramente, a apresentação de tudo o que estava envolto

na aula: apresentação das estagiárias, das crianças, de Portugal e das canções. Em um segundo

momento, seria introduzida a questão gramatical: os conceitos de poesia e rima perfeita,

através das letras das canções apresentadas, identificando as rimas presentes nas mesmas. O

terceiro momento seria o momento de produção dos lobinhos: um jogo de rimas, em que

divididos em dois grupos, as crianças agrupariam os pares de palavras que rimassem entre si;

e a produção gráfica livre, em que poderiam desenhar, escrever o que chamou-lhes a atenção

durante a atividade. O último momento seria uma roda de conversa em que seriam colocadas

as dúvidas, opiniões, sugestões e críticas das crianças como meio de permitir uma avaliação

das estagiárias, da atividade e da participação dos lobinhos.

Para a aula, preparamos apresentações em Power Point sobre Portugal, sobre a canção,

gravamos a canção e confeccionamos o jogo de rimas, além de levar papel, lápis de cor, giz

de cera para a produção gráfica.

No dia oito de outubro de 2011, nos encaminhamos para o local antes mesmo do início

das atividades do dia, por volta das 14h30 para conhecer o local, reunir os materiais

necessários e preparar o local da atividade. Verificar se havia mesa, projetor, extensão

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elétrica, verificar as tomadas e por fim posicionar os computadores, projetor e o local onde as

crianças ficariam sentadas.

Enquanto isso, as crianças chegavam e ficavam brincando pelo espaço, correndo,

conversando, se despedindo dos pais. Eu nunca havia estado em um grupo escoteiro, os

uniformes, o campo aberto com árvores e obstáculos, tudo aquilo parecia uma cena de filme.

A chefe do grupo os chamou para iniciar as atividades, às 15h00, totalizaram-se 17

crianças, de diferentes idades – todas entre sete e 11 anos. As “saudações iniciais”

aconteceram e optamos por reunir o grupo em um círculo, a fim de estabelecer um contato

inicial. Para tal, realizamos uma dinâmica em que jogávamos uma bola para uma das crianças,

esta falava o seu nome, idade e um país que gostaria de conhecer, em seguida jogava a bola

para outra pessoa do círculo até que todos tivessem falado. Uma das crianças citou Portugal, e

ao citar, explicitamos que falaríamos sobre esse país. Algumas crianças afirmaram já ter

viajado para Portugal, bem como elementos que lembravam Portugal, como Cristiano

Ronaldo – um jogador da seleção portuguesa. Feito isso, as crianças seguiram para uma

atividade do grupo, em que um dos lobinhos iria receber um título por realizar algum feito,

nesta ocasião, era um título por artes marciais, em que o lobinho demonstrou alguns golpes da

arte do “Tae Kwon Do”. Após esta cerimônia interna, os lobinhos se encaminharam para o

salão onde iniciaríamos a atividade propriamente dita.

Reunidos no salão, expusemos a apresentação em PowerPoint que continha as

características principais de Portugal: localização, moeda, idioma, geografia, gastronomia,

curiosidades. A partir desta explanação, mostramos algumas características do escotismo em

Portugal, mostrando semelhanças e diferenças entre o escotismo no Brasil e em Portugal. Esta

apresentação de slides se enriqueceu notavelmente com os comentários e questões dos

lobinhos que se interessaram bastante ao ver a ligação e proximidade com a própria realidade.

Em seguida apresentamos a música selecionada para que as crianças tomassem

conhecimento do português em Portugal: a “Canção das Máximas”. Ouviram a canção e, em

um primeiro momento, acharam o sotaque peculiar e demonstraram dificuldade em entendê-

la. Com a letra da canção projetada, os lobinhos acompanharam estrofe a estrofe, notando as

diferenças e semelhanças com a língua falada no Brasil. Neste momento questionamos sobre

quais elementos faziam a canção ser uma canção e não um texto, os lobinhos levantaram

inúmeras características como o ritmo, as palavras, a melodia, o som, e então um deles citou a

rima.

Partindo dos elementos trazidos, caracterizamos os conceitos de poesia e rimas,

exemplificando e recebendo inúmeras sugestões das próprias crianças. Um fato interessante

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observado foi o respeito entre as crianças que não criticavam o colega quando apresentava um

exemplo incorreto, mas apresentando um exemplo correto com a mesma palavra. Sendo

assim, utilizamos a canção ouvida para observar as rimas, os lobinhos identificaram

prontamente às rimas da canção e à medida que terminavam a estrofe, as palavras que

rimavam eram destacadas nos slides. O retorno das crianças demonstrou compreensão dos

conceitos apresentados, visto que no decorrer da letra da canção identificavam as rimas cada

vez mais rápidas.

Divididos em dois grupos, o próximo momento foi o de realizar um jogo de rimas, a

fim de permitir um momento de descontração e reforço do conceito de rima. Pares de cartões

com palavras (apêndice 1.2) foram distribuídos e embaralhados pelo chão (por exemplo, as

palavras: AMIGO e PERIGO), enquanto as crianças estavam viradas de costas com os olhos

fechados. Com o sinal dado, todos viraram ansiosamente para organizar os pares de palavras,

os grupos se esforçaram para juntar as palavras, ao passo que pareciam querer a vitória do

jogo. Quando todas as palavras estavam organizadas, os grupos conferiram-nas e concluíram

que não havia erros, todos os pares foram encontrados.

O último momento da atividade foi a produção gráfica, distribuímos e

disponibilizamos papéis, lápis de cor, giz de cera para todas as crianças com o objetivo de

desenharem ou escreverem algo sobre a atividade (apêndice 1.3). As produções foram bem

diversas, haviam desenhos relacionados a Portugal, à canção, palavras que rimassem, entre

outras ideias divertidas. Este exercício mostrou os pontos que as crianças mais gostaram da

atividade, e o mais importante foi que cada um gostou de algo, apenas uma criança se recusou

a fazer porque afirmou não saber o que desenhar. Mostrando assim, um retorno satisfatório à

atividade realizada.

Quando acabaram seus desenhos, distribuímos uma cópia da canção a cada um

(apêndice 2), até mesmo a chefe do grupo falou que retomaria a canção nas atividades do

grupo, visto que é uma música escoteira. Por fim, todos os integrantes do grupo escoteiro ali

presentes, lobinhos e chefes, deram uma palma escoteira, com um ritmo próprio, que

simbolizou para mim a sensação de objetivos atingidos e que de alguma forma as crianças não

só aprenderam como também se divertiram.

De modo geral, a aplicação da aula superou as minhas expectativas. Ao fazer o plano,

objetivos e atividades são estabelecidos, porém a concretização da aula permite compreender

a real necessidade de planejamento. Todas as atividades que nos propusemos a executar foram

realizadas, as crianças participaram muito além do esperado e a diferença de idade entre eles

não se apresentou como empecilho, mas um recurso para que uns pudessem ajudar os outros

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tanto na compreensão dos conteúdos, como no momento do jogo de rimas. Como dito

anteriormente, o resultado durante a produção gráfica ou até mesmo pela saudação final,

apresentou os subsídios para que avaliássemos a atividade satisfatoriamente. Além de que, a

realização em um ambiente diferente do escolar, mostrou que a alfabetização não se restringe

aos meios formais de educação e nem aos recursos tradicionais de educação como lousa,

caderno, carteira, sala de aula. Arrisco afirmar, com base na experiência vivenciada, que as

estratégias mais flexíveis foram fatores que determinaram positivamente a qualidade da

atividade realizada. Concluo desta maneira que a prática de estágio foi uma experiência

extremamente enriquecedora, não só pelo resultado positivo obtido, mas também pelo

percurso construído desde o planejamento da aula, passando pela preparação e execução da

mesma, assim como pela curiosidade e participação das crianças no decorrer da atividade.

Referências

Canção das Máximas. 1min 47seg. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?

v=s0_nmCb-01o>. Acesso em: 15 set 2011.

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Apêndices

1. Fotos da aula-atividade

1.1 Crianças reunidas junto às estagiárias Rebeca Castiglione e Talita Magalhães.

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1.2 Parte do jogo de rimas construído pelas estagiárias.

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1.3 Crianças realizando a produção gráfica na aula-atividade.

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2. Letra da Canção das Máximas

CANÇÃO DAS MÁXIMAS

SOU “LOBITO” DA JANGAL QUERO DA MELHOR VONTADEFAZER BEM, NÃO FAZER MAL E DIZER TODA A VERDADE

O “LOBITO” NÃO É EGOÍSTASABE VER E SABE OUVIR O “LOBITO” É ASSEADOVERDADEIRO E SABE RIR! OLÉ!

AQUELÁ É NOSSA CHEFEBALU NOSSO GRANDE AMIGOE O “LOBITO” BEM FORMADODE NINGUÉM É INIMIGO

SEGUIR A PISTA DA LEICOM TODA A NOSSA ATENÇÃOE FAZER SEMPRE MELHOR CADA DIA A BOA AÇÃOOLÉ!

SOU “LOBITO” PEQUENINOAINDA TENHO POUCA IDADEMAS NA SELVA EU APRENDIA DIZER SEMPRE A VERDADE

NA ALCATEIA TENHO AMIGOSPORQUE EU FAÇO MESMO ASSIM:PENSO PRIMEIRO NOS OUTROSANTES DE PENSAR EM MIM ATCHIM!

AQUELÁ E O BALUANDAM SEMPRE A REPETIRO “LOBITO” QUE É “LOBITO”SABE VER E SABE OUVIR

O “LOBITO” É BEM DISPOSTO O “LOBITO” CANTA E RIO “LOBITO” É ALEGREE PARA TODOS SORRI HI! HI!

EU JÁ NÃO SOU PATA TENRANO COVIL ANDO APRUMADOE AQUI EU APRENDIQUE “LOBITO” É ASSEADO

NA ALCATEIA TENHO AMIGOSPORQUE FAÇO MESMO ASSIM:PENSO PRIMEIRO NOS OUTROSANTES DE PENSAR EM MIMATCHIM!