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Curso PrØ-ENEM 7 Linguagens Tema A dissertação 1 Tópico de estudo Estrutura básica do texto dissertativo. Entendendo a competência Competência 1 – Demonstrar domínio da norma da língua escrita. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando nenhum desvio gramatical leve e de convenções da escrita. Assim, o mesmo desvio não ocorre em várias partes do texto, o que revela que as exigências da norma padrão foram incorporadas aos hábitos linguísticos. Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata desenvolve muito bem o tema, explorando os seus principais aspectos. A redação contém uma argumen- tação consistente, revelando excelente domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo. Isso significa que o texto está estruturado, por exemplo, com: uma introdução, em que a tese defendida é explicitada; argumentos que comprovam a tese, distribuídos em diferentes parágrafos; um parágrafo final com a proposta de intervenção funcionando como uma conclusão. Além disso, os argumentos defendidos não ficam restritos à reprodução das ideias contidas nos textos motivadores nem a questões do senso comum. Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema proposto de forma consistente, configurando autoria, em defesa de seu ponto de vista. Explicita a tese, seleciona argumentos que possam comprová-la e elabora conclusão ou proposta que mantenha coerência com a opinião defendida na redação. Percebe-se também uma visível preocupação da candidata em fazer referências a aspectos da realidade, o que leva a uma argumentação mais convincente e crítica. Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumen- tação. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata articula as partes do texto, sem inadequações na utilização dos recursos coesivos. É nítida a sequência de ideias, que vão sendo montadas de forma harmônica e gradual. Os conectivos são muito bem escolhidos, tanto no aspecto inter como intraparagrafal.

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Curso Pré-ENEM 7 Linguagens

Tema

A dissertação 1

Tópico de estudoEstrutura básica do texto dissertativo.

Entendendo a competênciaCompetência 1 – Demonstrar domínio da norma da língua escrita.

A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.A candidata demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando nenhum desvio gramatical leve e de convenções da escrita. Assim, o mesmo desvio não ocorre em várias partes do texto, o que revela que as exigências da norma padrão foram incorporadas aos hábitos linguísticos.

Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.

A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.

A candidata desenvolve muito bem o tema, explorando os seus principais aspectos. A redação contém uma argumen-tação consistente, revelando excelente domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo. Isso signifi ca que o texto está estruturado, por exemplo, com: uma introdução, em que a tese defendida é explicitada; argumentos que comprovam a tese, distribuídos em diferentes parágrafos; um parágrafo fi nal com a proposta de intervenção funcionando como uma conclusão. Além disso, os argumentos defendidos não fi cam restritos à reprodução das ideias contidas nos textos motivadores nem a questões do senso comum.

Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.

A candidata seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema proposto de forma consistente, confi gurando autoria, em defesa de seu ponto de vista. Explicita a tese, seleciona argumentos que possam comprová-la e elabora conclusão ou proposta que mantenha coerência com a opinião defendida na redação.

Percebe-se também uma visível preocupação da candidata em fazer referências a aspectos da realidade, o que leva a uma argumentação mais convincente e crítica.

Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumen-tação.

A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.

A candidata articula as partes do texto, sem inadequações na utilização dos recursos coesivos. É nítida a sequência de ideias, que vão sendo montadas de forma harmônica e gradual. Os conectivos são muito bem escolhidos, tanto no aspecto inter como intraparagrafal.

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Curso Pré-ENEM 8 Linguagens

Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.

A candidata elabora proposta de intervenção clara e inovadora, relacionada à tese e bem articulada com a discussão

desenvolvida no texto. São explicitados os meios para realizá-la. Essa qualidade é bastante impactante no texto acima,

pois citam-se os serviços sociais, que precisam ser assegurados, o planejamento do Estado, assim como também as

campanhas governamentais. Isso demonstra a profundidade da visão cidadã da candidata e a relevância do tema

discutido.

Situações-problema e conceitos básicos

1. As informações sobre a redação do Enem

De acordo com o Edital, publicado em maio, o Inep garantiu, mais uma vez, a tipologia textual a ser cobrada no

próximo concurso:

A matriz de redação do Enem considera cinco competências cognitivas, que servem de referência para a

correção do texto elaborado pelos participantes do Exame. O texto referido é do tipo dissertativo-argumentativo e

deve ter de sete até o máximo de trinta linhas.

Nesse sentido, cabe-nos, neste primeiro momento, conhecer a estrutura mínima de avaliação textual:

a dissertação.

2. Tipo de Texto: Dissertação

Muitos estudantes apresentam um grande desconforto no que diz respeito ao modelo de texto cobrado pelo

vestibular. Tempo escasso, muitas ou poucas linhas, temas nem sempre tão compreensíveis, coletânea pobre são

alguns exemplos do tipo de preocupação que acomete os alunos. Entre as dificuldades, destaca-se a necessidade de

adequar-se a um modelo um tanto quanto técnico de texto: a dissertação.

Não há dúvidas de que esse tipo de texto apresenta uma série de características que mais parecem limites à

criatividade ou à liberdade do aluno. Porém, tal modelo não foi escolhido ao acaso. Com o crescimento da demanda

por um lugar no ensino superior e a relativamente pequena oferta de vagas nos cursos de qualidade, não é preciso

ser um gênio da lógica para compreender que a concorrência torna necessária uma avaliação comparativa justa. Ou

o mais perto da justiça que seja possível a um exame de que participam cerca de sessenta mil candidatos.

Dessa forma, os tais limites que assustam a todos nada mais são do que parâmetros de comparação. Afinal, como

seria possível colocar em uma ordem de qualidade textos tão distintos quanto um poema, uma descrição ou uma

carta administrativa? Não seria ainda mais injusto compará-los, hierarquizá-los com notas diferenciadas?

No entanto, persiste a crítica de que essa escolha das Bancas estaria privilegiando um aluno “mecanizado”, que

não pensa de forma independente ou que sabe apenas responder a estímulos óbvios. Tudo isso se torna exagero

adolescente quando olhamos as provas com atenção.

De fato, tanto a elaboração dos temas quanto a correção das provas pelas Universidades demonstram crescente

preocupação em medir o senso crítico, a inteligência estratégica, a concentração, a habilidade de articular idéias,

o uso diferencial dos dados da realidade, enfim, a capacidade de absorver a realidade em que vivemos e produzir

idéias sob a forma escrita.

Na realidade, portanto, as Bancas estão nos dizendo: é possível conciliar limite e liberdade. Trata-se, se

pensarmos bem, do grande desafio que nos é dado ao viver em sociedade. Em outros termos, precisamos entender

as regras do jogo, mas não devemos cair na chamada “receita de bolo”, quando copiamos um padrão, sem refletir

sobre ele.

Portanto, para cumprir com rigor nosso objetivo na Redação do vestibular, é necessário que conheçamos, em

primeiro lugar, quais são os tais limites. O primeiro deles é objeto desta ficha: o modelo dissertativo.

3. Características da Dissertação

O texto dissertativo é, por definição, aquele em que desenvolvemos um tema com o objetivo de esclarecer seus

aspectos principais e, eventualmente, apresentar nosso ponto de vista. Quando esse tipo de texto faz apenas um

panorama das idéias principais relativas ao tema, sem defender uma opinião específica, ele recebe a designação

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Curso Pré-ENEM 9 Linguagens

de dissertação expositiva; quando, ao contrário, o objetivo do autor é convencer os leitores de seu ponto de vista, trata-se de uma dissertação argumentativa.

Em geral, as provas de vestibular não costumam fazer menção a textos puramente expositivos. Espera-se que o candidato apresente senso crítico em sua redação e, para isso, nada melhor do que redigir uma argumentação propriamente dita. Assim, sempre que falarmos de dissertação, estaremos fazendo referência aos textos de caráter argumentativo, mesmo que essa denominação não seja explicitada.

a) Tema

Em qualquer prova de redação, há sempre um tema a ser desenvolvido. Isso se faz necessário a fim de que os textos de milhares de candidatos possam ser comparados segundo um critério comum. Por essa razão, qualquer fuga à proposta feita pela Banca é vista como falha grave, podendo, em muitos casos, levar à anulação da prova. Apesar do medo decorrente desse aspecto, é assustador o número de alunos que foge total ou parcialmente ao tema proposto, o que pode ser explicado pelas condições de tensão a que estão submetidos naquele momento. Assim, faz-se imprescindível ter toda concentração na interpretação da tarefa a ser executada.

b) Defesa de um ponto de vista

Considerando o caráter argumentativo de que falamos, não será difícil perceber que é necessário “tomar partido” em qualquer redação de vestibular. Assim como convencemos nossos pais a nos deixarem chegar tarde após uma festa, precisamos de todas as armas necessárias a levar o leitor a concordar — pelo menos em tese — com nossa opinião. Essa é uma tarefa que faz uso constante do raciocínio lógico e da organização das idéias.

Cumpre ressaltar, a esse propósito, que as Bancas não avaliam qual é o ponto de vista do candidato, uma vez que todos temos liberdade de pensamento. No entanto, como em sociedade não basta ter uma opinião, sendo preciso justificá-la e fundamentá-la, os examinadores procuram avaliar essas competências na correção das provas.

c) Linguagem Impessoal

Por se tratar de texto técnico, a dissertação deve tratar do tema proposto com uma linguagem impessoal. Além da credibilidade alcançada, obtém-se a vantagem de tornar a redação até mesmo mais consistente, ao tratar da opinião defendida como uma verdade indiscutível. É por essa razão que evitamos a 1ª pessoa do singular (“Eu”; “penso”; “na minha opinião” etc.), o que, além de tudo, seria redundante, uma vez que o texto é escrito por apenas uma pessoa e contém suas idéias.

d) Objetividade

Além da linguagem, espera-se que o redator de uma dissertação seja capaz de tratar o tema com critérios objetivos. Dito de outro modo, seria inadequado deixar-se influenciar por aspectos emocionais e religiosos, por exemplo, ao discutir um tema como a legalização do aborto. Embora existam razões respeitáveis do ponto de vista puramente irracional, eles não se combinam com o caráter exclusivamente racional da dissertação.

e) Modalidade Escrita / Padrão Culto

Ninguém precisa ter conhecimento profundo de gramática para saber que existem profundas diferenças entre uso oral do idioma e sua utilização escrita. Palavras como “aí” e “coisa”, por exemplo, só fazem sentido se houver um contexto físico que esclareça seus significados. A repetição de palavras, também, é fundamental em um diálogo, para que o assunto permaneça despertando atenção. Na escrita, entretanto, a imprecisão do vocabulário e as repetições lexicais, entre outros aspectos, constituem inadequações a serem evitadas.

Ao mesmo tempo, por se tratar de uma prova integrante da disciplina Língua Portuguesa, a redação deve ser produzida dentro dos limites da norma culta, ou seja, sem erros gramaticais. Isso não significa que precisemos ser sofisticados; um bom texto, claro e natural, pode fazer uso dessa norma e ser perfeitamente aceitável para o leitor comum.

f) Estrutura Lógica

Assim como uma conversa, um filme e um dia têm começo, meio e fim, também uma dissertação é dividida em etapas, denominadas respectivamente de introdução, desenvolvimento e conclusão. A cada uma corresponde uma função específica dentro da estratégia maior de convencer o leitor. Ao mesmo tempo, o desempenho de cada função pode ser feito de maneira original e inteligente, fugindo ao puro didatismo, conforme veremos depois.

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g) Qualidades

Um texto dissertativo que se enquadre nos parâmetros descritos até aqui não necessariamente “merece”

nota dez. Isso porque, nesse caso, o aluno estaria apenas cumprindo suas obrigações. Além dos aspectos

fundamentais, portanto, a redação “perfeita” deve apresentar coesão, clareza, coerência, concisão, profundidade,

senso crítico e criatividade. Não é pouco, sem dúvida. Por isso, não há mágica que faça um aluno redigir melhor

da noite para o dia. Apenas aos poucos, com dedicação e reflexão, será possível incorporar tantas qualidades

ao próprio texto.

4. Análise de texto dissertativo

Observe a redação abaixo e seus respectivos comentários:

Variações linguisticas

Os artistas do final do século XIX estavam presos à formalidade, à cânones que moldavam suas formas de expressão e comunicação. Por sua vez, no breve século XX, como diria Hobsbawn, os artistas entendiam as variações linguísticas existentes como um ambiente culturalmente rico, que poderia ser explorado dentro da arte, assim como as vanguardas europeias e o modernismo no Brasil. Assim, a língua e as transformações sociais caminham juntas.

É necessário perceber a importância da gramática normativa para a comunicação. Para isso, foi instituído um novo acordo ortográfico que criou uma unidade em relação à escrita para todas as comunidades que usam o português. Mas, a língua é a principal característica cultural de um povo, logo, o controle desse mecanismo é exercido por ele.

As variações da língua são necessárias para o desenvolvimento da língua, mas também da literatura como arte. Visto que algumas regiões possuem características linguísticas específicas deve-se entender suas particularidades para entender os costumes e cultura daquela região. No Brasil, por exemplo, Guimarães Rosa, representou o sertão nordestino principalmente através da linguagem especifica da região. Com tal estratégia, Guimarães conseguiu representar as relações humanas e sociais daquela região.

Dessa forma, entende-se que a transformação linguística é importância da sua comunidade. Tendo em vista que o francês, o espanhol, o italiano e o português são originados do latim, fica claro que a troca entre línguas é essencial para o desenvolvimento delas. O contato entre culturas também traz mudanças imediatas, como a criação de novos vocábulos como xampu e abajur, por exemplo. Essas mudanças favorecem a comunicação dentro da sociedade, pois a interlocução é privilegiada pelo aumento do número de palavras.

Conclui-se que se deve entender que a mudança da língua é inerente à ela como é necessária para o desenvolvimento das artes e da comunicação. Assim, é necessário que o governo invista para que o povo conheça a variedade da língua dentro de sua própria linguagem. É um absurdo que ainda exista preconceito linguístico em pleno século XXI, sendo necessário mudarmos nossas atitudes antes que seja tarde demais para as variações linguísticas.

COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO

O tema A LÍNGUA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS refere-se, especificamente, à linguagem verbal e

como essa é influenciada pelas transformações sociais. No caso da análise do texto pela banca do ENEM, a proposta

deve ser problematizada e o candidato deve aderir a um posicionamento específico em relação a ela, visto que se

trata de um texto dissertativo-argumentativo.

Além disso, a banca cobra uma proposta efetiva de intervenção para a problemática, bem como não admite

infração aos direitos humanos, os quais devem ser valorizados e respeitados ao longo do texto.

Sob essa perspectiva, o redator do texto “Variações linguísticas”, em uma visão global, não foge do tema, mas

também não trabalha seu posicionamento de forma clara. Em primeiro lugar, ele deveria ter se preocupado em

construir um clímax argumentativo, o que não foi feito, uma vez que não houve a organização dos parágrafos em

relação à força argumentativa dos mesmos. Em segundo lugar, no parágrafo de introdução, o redator não expôs sua

tese de forma adequada, sem trabalhar de forma completa a sua ideia. Em terceiro lugar, não houve a preocupação

com a regularidade da paragrafação ao longo do texto, o que pode ser visto pela discrepância dos tamanhos dos

parágrafos, especialmente o primeiro de desenvolvimento. Isso acarretou uma falha argumentativa do parágrafo

em questão, visto que ficou superficial e limitado.

Quanto à argumentação, em geral, as ideias estão desorganizadas e, em alguns pontos, mal formuladas,

enfraquecendo o poder de convencimento do redator. Em alguns momentos, como no terceiro parágrafo de

desenvolvimento, a exemplificação excessiva e faltosa de explicação resultou na perda de teor argumentativo e na

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Curso Pré-ENEM 11 Linguagens

caracterização de um parágrafo expositivo. Já no segundo parágrafo de desenvolvimento, a utilização de informações

incorretas (“sertão nordestino”) fez com que o redator fosse desautorizado, uma vez que não demonstrou domínio

completo sobre o assunto tratado.

Em relação à conclusão, o momento mais falho de todo texto, não houve o cumprimento das características

típicas de uma conclusão estilo ENEM, pois a proposta de intervenção foi vaga e pouco objetiva, o que não condiz

com os critérios exigidos pela banca. Além disso, não houve a retomada da tese exposta na introdução, ocasionando

a falta de um texto-circuito.

No texto “Variações linguísticas”, embora não tenham sido encontradas marcas de oralidades, o redator não

deveria ter utilizado palavras e expressões que indicam pessoalidade (“absurdo”, por exemplo). Essa característica,

por sua vez, não deve ser encontrada nesse tipo de texto, o qual deve ser escrito de forma objetiva e sem subjetividade,

mesmo que exija uma opinião concreta do candidato. Além disso, foram observados alguns erros gramaticais

referentes à colocação pronominal, utilização de vírgulas e crases.

Itens para avaliação

5. Exercício

5.1 A proposta temática abaixo foi exigida por uma famosa banca de vestibular:

O cartum abaixo usa o recurso do humor para sugerir um tipo de relação entre o homem e os meios de

comunicação.

MILLÔR FERNANDES www2.uol.com.br

Para você, os meios de comunicação devem sofrer alguma forma de

controle, ou todo controle representa uma censura indevida?

Observe o texto argumentativo abaixo produzido por um candidato:

Monstros lutando com a informação

A imprensa de Gutenberg ajudou no processo e na fundação da imprensa contemporânea. Com a facilidade da difusão, os meios de comunicação se desenvolveram e atuaram de maneira primordial para o avanço da liberdade inicial. Essa relação entre mídia, informação e poder sempre foi controversa, em função do poder subversivo e controlador hipnotizante da primeira. A mídia é também veiculadora de informação e portadora de dados importantes para a opinião pública.

Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da realidade. A pesquisa pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito, o recorte torna a informação parcial. A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia comprometida.

Nesse sentido, é estranha a problemática encontrada com relação a temas tão polêmicos quanto a liberdade dos meios. Quando se exige democracia, liberdade de informação, o que se quer é pluralidade de visões. Ela não pressupõe

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que exista uma visão absoluta e a maioria chegará a ela. O sistema político vigente visa alcançar o mais próximo da justiça a partir da ligação entre visões e de interpretações do real e os meios de comunicação possibilitam essas diversas possibilidades de olhares. Quanto mais olhar, menos lugares enegrecidos em uma sociedade historicamente marcada pela injustiça baseada no discurso de poder.

Portanto, a liberdade de imprensa não deve ser questionada em nenhum sentido, já que é uma conquista. Obviamente excessos são cometidos pelos jornais. Entretanto, com a percepção de que existe uma realidade plural, a melhor forma de combater uma visão única é apresentar a diversidade. O perigoso, nesse caso, é surgir o monstro do autoritarismo que ronda. Política e internet, por exemplo, podem se ajudar reciprocamente em uma evolução que é necessária e deve ser constante, tornando qualquer controle uma afronta a um quadro que queira ser um conjunto de fragmentos libertários.

A partir da leitura crítica da redação, responda às questões:

1. Em uma dissertação argumentativa, uma das funções básicas do primeiro parágrafo, o de introdução, além de contextualizar o tema é também o de apresentar a tese – o posicionamento a respeito do tema. Na sua opinião, o candidato executou essa tarefa com perfeição? Justifique a sua resposta, tecendo um comentário crítico.

2. Observe o segundo parágrafo do texto, o primeiro de DESENVOLVIMENTO:

“Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da realidade. A pesquisa

pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito, o recorte torna a informação parcial.

A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia comprometida.”

É perceptível nele uma falha no que diz respeito à construção coesiva dos períodos. Não há um elo semântico bem montado. Porém, além dessa falha, pode-se apontar também algo relacionado ao argumento em si. Qual a sua avaliação da qualidade do argumento? É convincente? Construa sua resposta com a devida justificativa.

3. Na conclusão dissertativa, é comum ratificar a visão defendida ao longo do texto a fim de fechar seu teor argumentativo. No entanto, essa retomada da tese tem que ser feita de maneira ampla para que todos os argumentos sejam contemplados.

O parágrafo em análise na redação acima cumpriu com eficácia tais comandos? Justifique a sua resposta.

Anotações

Solução comentada dos itens

1. Uma falha ainda aparece no parágrafo. O redator demonstra entendimento claro do tema, mas se limita a expô-lo. A introdução deve pelo menos prenunciar a tese, sugerir uma linha de abordagem, se não quiser apresentar o posicionamento na íntegra.

2. A ideia que sustenta a tese deve ser aprofundada. No desenvolvimento em questão, o argumento baseado na parcialidade da imprensa é apenas repetido de maneira constante. Não há explicações sobre o tópico frasal. O redator poderia também aprofundar as ideias trabalhadas com alguma outra estratégia como a causa e a consequência, por exemplo. O desenvolvimento, ainda, não apresenta nenhum recurso criativo que o diferencie da média. Nenhuma estratégia de texto circuito foi pensada previamente.

3. Não. O principal problema da conclusão em questão é afirmar a tese com uma séria restrição do tema. A UERJ em 2008 propôs uma abordagem ampla na questão da informação ao usar o termo “meios de comunicação”. O redator afirmou uma tese que não abrange todo o tema e ainda não abarca os argumentos apresentados porque trata apenas da imprensa. A banca examinadora poderia considerar uma restrição parcial, que seria atenuada pelo fato de a abordagem no texto todo ter sido ampla.

4. Não houve pertinência, pois o termo “monstro do autoritarismo” não faz sentido com o restante do parágrafo e não encontra par em nenhum momento do texto.

5. O parágrafo em questão apresenta uma ideia argumentativa e ela é aprofundada com certa competência. Entretanto, o trecho apresenta alguns erros estruturais. Há, a princípio, um desequilíbrio de tamanho na relação entre esse desenvolvimento e os outros parágrafos. Provavelmente isso aconteceu porque ele foi bem aprofundado. Além disso, a coesão com o segmento anterior se dá de maneira muito explícita e com um período esvaziado de sentido. Isso torna o texto mais burocrático. Vale a pena, nesse momento, elaborar uma frase que retome parcialmente a ideia anterior, dando o

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gancho para o prosseguimento do argumento. No terceiro período, a retomada acontece de forma ambígua. O pronome pessoa “Ela” pode se referir a mais de um termo anterior. Isso provoca uma falha coesiva. A melhor maneira de resolver isso é usar um sinônimo ou repetir a própria palavra, correndo o risco de provocar “eco”. O verbo visar está sendo utilizado no sentido de “ter como objetivo”. Nesse uso, ele é um verbo transitivo indireto. Então, ocorre um erro no critério de modalidade de língua portuguesa. No penúltimo período, aparece uma repetição: “possibilitam” e “possibilidade”. Pode-se usar um sinônimo também. É visível, ainda, a falta de um recurso diferencial.

Conceitos básicos e sua operacionalização

5.2. Depois de rever conteúdos desenvolvidos nesta fi cha, analise o tema abaixo e a redação apresentada.

Proposta de redação

Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

I. Coletânea

Leia com atenção os seguintes textos.

Abu Ghraib é aqui (fragmento)

SÃO PAULO - Deu na Anistia Internacional, a respeitada organização de defesa dos direitos humanos sediada em Londres: as torturas generalizadas nas delegacias e prisões do Brasil são comparáveis às praticadas mundo afora na chamada “guerra ao terror” dos EUA, tão criticada pelo governo brasileiro. Eu acho que as torturas aqui são piores. São brasileiros torturando brasileiros na nossa também falida “guerra ao crime”, sem que nenhuma autoridade mova uma pedra para efetivamente mudar a situação, sem que a sociedade civil mostre horror diante do conhecido fato, sem que o Congresso brasileiro, como ocorre com o dos EUA, investigue a fundo o flagelo de pardos, pretos e pobres em nossas jaulas. Mesmo o massacre de 111 detentos no Carandiru, em 1992, passou impune. Ninguém até hoje cumpriu pena pelas mortes. E o coronel que comandou a operação elegeu-se deputado por São Paulo.

MALBERGIER, Sérgio. Folha de São Paulo, 27/05/2004.

As teses, atos e fatos sobre as políticas públicas para as comunidades mais pobres estão dividindo ao meio a cidade. Da mesma forma a repressão à informalidade apenas com vistas à visibilidade para a classe média. As pesquisas de opinião mostram isso a cada tema levantado. E grave: induzindo (intencionalmente) a classe média a criminalizar os pobres. Situações como essas podem produzir rupturas "culturais", quebrando a sensação unitária de pertencimento à mesma cidade. Essa identidade sempre foi a do Rio, onde a desigualdade social pouco afetou a unidade espacial nas praias, nos campos de futebol, na música, nas festas... Uma sensação de não pertencimento à mesma cidade produz uma nova identificação ideológico-religiosa, que defina nitidamente uma fronteira. Isso leva a busca de novos referentes e valores, incluindo os meios de comunicação. Já está sendo assim, entre os mais pobres em relação à audiência da TV. E, isso, sem tocar no tema violência. Nesse caso, os exemplos são os mais diversos em tantos países, da América Central à França. Há que se avaliar muito, refletir muito, os desdobramentos de tais teses, atos e fatos.

Ex-Blog do César Maia

Motivado pela declaração do prefeito Eduardo Paes de que “a remoção das favelas não pode ser tabu”, o jornal O Globo lembrou que isso já aconteceu nas cercanias da Lagoa Rodrigo de Freitas:

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Ainda repercutindo essa declaração do atual prefeito, o site desse mesmo jornal propôs, na manhã do domingo

de Páscoa, uma enquete entre seus leitores: “Você é a favor da remoção das favelas?”. Mais de três mil pessoas

responderam à pergunta. 95% delas se disseram a favor.

Instruções

• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.

• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.

• A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada insuficiente e receberá nota zero.

• A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. A redação

que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas

copiadas desconsiderado para efeitos de correção.

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REDAÇÃO

Políticas democráticas

As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se projetos que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há investimento no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência precisa ser mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências.

Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, caímos no fato que nos remete a história brasileira anterior ao processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre priorizadas pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.

Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável e formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades.

Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral.

COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO

Introdução

As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se projetos que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há

investimento no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência

precisa ser mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências.

Comentário: O ttema ppropoosto appreseenta doois asssuntoss qque eests ão diriretammente rrelaccioi naddos, poorém nna coontexttualizaação

inntroduutóriaa é prreciso aborrdá-loss de maneeira coonjuntnta evitanndod , asssim, um ddesennvolvimmentoo tanggenciial ao temaa. O

caandidato, nno preesentee paráágrafoo, inttroduzz apennas umma daas quuestõees preesentees na propoosta. NNo âmmbitoo ideológicoo há

doois prroblemmas: o primmeiroo é a rreduçção daas pololíticass públicass apennas àss minooriass e o ssegunndo é a asssociaçção deesse

mmesmoo penssameento à criaçção dee projojetos, destininadoss aa qqueuemm nãoo tem acessso “àss formmas dee cultuura eeruditta”. AAlém

diisso, aa discuussãoo restrringe--se sommentte ao BBrasil, qque não é citaddoo direttamennte naa frasee temaa.

Noo aspeecto ggrammatical,l, há ddesvioos relalacionaados à ccono cordânância verbrbal naa voz passiviva sinntéticaa: “crria-se projeetos”

emm que obserrvammos umm sujeeito noo plurral e seueu respectivo predicadado no singugular; nno treccho “aacessso as fformaas de

cultltura eeruditta ”, ppontuaamos aa ausêência dod acentntoo grave – às forormas dee cultuura eruudita --, paraa indiicar aa funçãão doo

commplemmento nomiminal. NNo últitimo peeríodoo constatammosos uumm problemama de rereferênncia disiscursiiva: “eesta ddeficiêência””

não rer tomma anaaforicacamentnte nenhnhum ppene samemento anterior, como nnaa aplicaaçção dee ““essaa deficiêiênciaa””.

Sugestão de reescritura

Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado

em busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse

âmbito auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam

investimentos em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças

sociológicas.

Desenvolvimento 1

Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, remetemo-nos à história brasileira anterior ao

processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre priorizadas

pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio

Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.

Comentário: Ininicic almentnte,e há a uttililizização inadequ dada a dada ccononjjunção “entretanntoto”” que exprpressa, prpreedomininantemmente,

uma ded sconnsts ruçããoo de ideiaias s anteriormementnte apresentadas. Sua aplicaçãçãoo aantecipada oocasiona a uuma opoposiçãoo ddo quuee

fof i expoposto naa tese, oo qque prejujudica a credibibililidadadede do textxto.o. HáHá, ainda, a supupeerposição o dde ideiaias em uum únnicico

peerír odo ee a utilizizaça ão inanaprp opriadda a dod contexto histórico do Estado Novo ccoomo recursrso de intnteerdiscipipllinaridadade,

cujaa clarezaa se perdde e em rellaçação ao texto.

ApA resesentam-sse e os desvivios gramaatiticais: a concordâdâncnciaia nnomominin lal e crase no trechoho ““ao procecesso de ddemocraattização.o...

vovoltada((o)o) as(às)) clc asses urrbab nas” em ququee o vocábulo “voltada” deve se relelacaciionar sinttatatiicamentee com “prprocessoo””; o

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Curso Pré-ENEM 16 Linguagens

emmpprego dodo pronoomme demononststrativo “istoto”,, qquando na verdade cabbereriaia em seu lugagar r o vocábubulol anafófórir co “isssos ”; o

eqequívococo no uso o ddo parônnimimo “mandadadodo”, que no contexto tem sentido de “mmanandad to”; o ppleleonasmoo ccaracteririzado ppela

utilizaçação doss vocábululoos “eleitooss em eleições” qqueue mmarca uma rededunundâdância.

Sugestão de reescritura

Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações

globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos

econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da

identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade.

Desenvolvimento 2 Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter

sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável e formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades.

Comentário: A construção “como visto acima” é problemática, pois não estabelece textualmente uma relação semântica clara com as ideias apresentadas anteriormente, além de se caracterizar como uma forma de pouco engajamento do texto. Os três sintagmas “variadas formas”, “âmbito citado” e “ideologias apresentadas” apresentam-se de modo vago e pouco esclarecedor no parágrafo. Além disso, a expressão “ciclo vicioso” é um clichê bastante recorrente em textos argumentativos, uma vez que constitui um vício de linguagem, resolvido a partir de sua troca pela expressão equivalente “círculo vicioso”. Ainda, a estrutura adverbial “a partir desse argumento” é vaga, pois não há um embasamento sobre o qual podemos associar essa assertiva. Por fim, com a inserção do trecho “conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades” há uma visão reducionista que nos remete a restrição dos problemas aos âmbitos recortados.No que tange à estruturação, observa-se a ausência de vírgulas: anterior à oração adverbial “já que os indivíduos caracterizam-se...”, posterior à construção adverbial “a partir desse argumento”. Também no vocábulo paroxítono “individuos ” não há a marcação gráfica na sílaba tônica, a saber, “indivíduos”.

Sugestão de reescritura

Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas públicas, não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes para a resolução das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte, uma análise acerca dos resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção das medidas apresentadas.

Conclusão

Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral.

Comentário: Em um primeiro momento, localiza-se a expressão “conclui-se que” que revela pouco engajamento textual e constitui um clichê recorrente em textos argumentativos. Há um tom panfletário no primeiro período do texto, especificamente no trecho “criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas”.Consnstata-sse a suupep rpososição ddas estruutut ras encaabebeçaçadas pela pprerepposição dee:: “a necesessidadede da crcriaçãoo de mmeedidaas ded cononscienntizaçãoão da poopup laçãão”o . Além ddisso, há um desvio ortográficoo eem relaçãçãoo à palalavra “rreeinvinnddicanddo”, quque éé grg afadada “reieivindiccana do”.”

Sugestão de reescritura

É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas, quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas, devem-se redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de modo a preservar um desenvolvimento aplicado.

COMENTÁRIO GERAL

Com relação à contextualização temática da redação mediana, encontram-se algumas carências ligadas à abordagem: “Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.” A utilização do dado histórico como inclusão de interdisciplinaridade ao texto, além de caracterizar uma falha relacionada diretamente à compreensão do texto, devido à falta de conexão das ideias

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Curso Pré-ENEM 17 Linguagens

propostas, demonstra também a argumentação sem fundamentação, pois não apresenta um desenvolvimento ao longo do parágrafo. Equívocos como esse podem ocasionar na perda de pontos nas competências 2 e 3 do ENEM,

principalmente interdisciplinaridade e argumentação, respectivamente.Ainda sobre a abordagem argumentativa, há alguns desvios sutis relacionados à colocação de alguns termos

como, por exemplo, “como visto acima”. A seleção inadequada desses vocábulos pode comprometer sua coesão. No entanto, não observamos problemas de coerência nesse texto, visto que as ideias estabelecem relação interna. Há, ainda, a restrição temática focada somente às questões brasileiras, assunto não explicitado especificamente na frase tema. Desse modo, sua abordagem pode ser considerada limitada, assim como sua interpretação e seu entendimento sobre a proposta.

Relacionados à norma culta, há alguns desvios, não tão marcantes, mas que podem acarretar, também, perda de poucos pontos na primeira competência – norma culta – como podemos ver em “mandado” e “ciclo vicioso”. A última, além de ser considerada uma expressão de utilização clichê, comprometendo o estilo criativo de seu texto, é escrita erroneamente, a saber, “círculo vicioso”. Embora as competências mais características do ENEM sejam interdisciplinaridade e proposta de intervenção, normal culta é igualmente pontuada, visto que todas as cinco competências tem o mesmo valor de pontuação: 200 pontos.

Sobre a conclusão da redação, há a exigência especificamente da elaboração de uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Entretanto, não são consideradas todas as propostas que apenas apresentem um tom interventivo. É preciso elaborar uma intervenção que seja concreta e viável, principalmente, além de objetiva e que não restrinja as ideias a nenhum grupo social, econômico ou político. Propor medidas apenas às escolas, ou governantes, por exemplo, além dessa restrição, apresenta a visão limitada acerca da problematização desenvolvida ao longo do texto. Apresentar, também, uma retomada clara de sua tese, atribui à sua redação a característica de boa compreensão textual além de uma conclusão coerente com seus argumentos.

UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR

Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado em busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse âmbito auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam investimentos em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças sociológicas.

Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade.

Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas públicas, não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes para a resolução das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte, uma análise acerca dos resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção das medidas apresentadas.

É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas, quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas, devem-se redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de modo a preservar um desenvolvimento aplicado.

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Curso Pré-ENEM 18 Linguagens

Tema

A dissertação 2

Tópico de estudo

Planejamento de texto: leitura da coletânea, construção de teses e seleção de argumentos.

Situações-problema e conceitos básicos

1. O planejamentoHá muitas e diferentes maneiras de se montar um texto. Existem os que pensam em começar a escrever a partir

da famosa “inspiração”. Ficam horas esperando cair algo mágico no pensamento, para que aquilo se torne um bom

argumento, o que vamos considerar logo de antemão que isso poderia até funcionar, mas não para algo lógico e

convincente como se espera de uma dissertação argumentativa. Talvez fosse uma boa estratégia para as narrativas,

por exemplo.

No entanto, medidas como chuva de ideias, desdobramento da palavra-chave, escolha de um tópico frasal podem

ser úteis, mas nada disso garante uma eficácia no desenvolvimento e qualidade dos argumentos. Encontramos

muitos problemas em texto de concursos como: a fuga ao tema, a contradição, a redundância, a falta de organização

lógica dos argumentos e, muito disso, em função de muitos alunos preferirem ir escrevendo à medida que vão

pensando sobre o assunto.

Nesse sentido, pensamos que é categórico o aluno saber conduzir seu texto antes de começar a escrevê-lo,

para evitar problemas desse tipo. Para isso, após selecionar sua tese, o aluno deve listar, num rascunho, todas as

suas idéias/ argumentos sem censurar, nem descartar nada. Nessa etapa, é fundamental não ser crítico consigo

mesmo para que tenhamos um material extenso a ser trabalhado. Após isso, nossa tarefa é organizar essas ideias,

eliminando aquelas que não atendem diretamente ao tema e associando aquelas que são afins.

Nesse momento, o aluno precisa lembrar que cada tópico deverá corresponder a um parágrafo, e, com isso, o

senso crítico deve vir à tona: devemos pensar na relevância, na originalidade, na solidez das ideias selecionadas.

Por fim, temos que organizar nossos argumentos segundo um projeto de redação. Sugerem-se, inclusive, algumas

perguntas que o aluno pode fazer na hora de criar esse roteiro:

a) O que eu pretendo defender?

b) Qual a relevância de eu apresentar este tópico?

c) Qual o desdobramento desse item?

d) Estou montando uma linha de raciocínio coerente com a minha tese principal?

Deve-se pensar na fluidez do texto, na seqüência lógica de idéias, na gradação crescente dos argumentos até

chegarmos à conclusão. Com certeza, trata-se de um processo de extrema importância para quem pretende escrever

um bom texto. Veja abaixo as etapas de construção do planejamento até a produção final.

a) Interpretação e compreensão da frase-tema

• Analisar a estrutura da frase-tema;

• Identificar a palavra-chave;

• Observar elementos de restrição ou de ampliação.

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Curso Pré-ENEM 19 Linguagens

b) Levantamento de ideias

• Montar uma estratégia de brainstorming – anotar tudo no papel que venha à mente naquela hora;

• Buscar os porquês daqueles pontos;

• Sugerir exemplos/situações notórias para fundamentar exposições.

c) Seleção e organização dos argumentos

• Decidir quais ideias mais relevantes para o raciocínio final;

• Criar a sequência coerente entre os pontos escolhidos;

• Proporcionar um clímax crescente – o último argumento tende a ser o mais impactante.

d) Elaboração final

• Checar todas as partes do texto;

• Verificar a relação entre os parágrafos;

• Tentar montar um “algo a mais” – uma estratégia diferenciada para a conclusão ou um texto-circuito.

2. Coletânea de textosDe fato, as mudanças estruturais na educação brasileira, sobretudo na última década, têm tido enorme influência

nos modelos de vestibular. Uma das conseqüências mais evidentes diz respeito à forma de apresentação das

propostas de redação. Antes limitados a duas ou três frases, muitas vezes enigmáticas, os temas passaram a incluir

fragmentos de textos teóricos, trechos de leis, letras de música, poemas, charges e fotografias, enfim, uma coletânea

de ideias e informações para ajudar o aluno a construir seu texto.

Dessa maneira, o ato de redigir propriamente dito é antecedido de um ato de leitura. A rigor, é com o material

fornecido pela Banca que o aluno saberá orientar sua redação sem se perder nos inúmeros caminhos que lhe

ocorrem ao ler o tema. Ao mesmo tempo, ele deverá exercer — e demonstrar — sua capacidade de absorver o

conteúdo apresentado, adaptando-o a seu projeto de texto, como que numa atividade de reciclagem criativa.

Com frequência, porém, os candidatos confundem uso com cópia ou citação literal. A esse respeito, cumpre

lembrar que os fragmentos fornecidos precisam ser interpretados para que se aproveite deles apenas o essencial.

Com essa compreensão, o aluno passa a associar as informações e ideias apresentadas, somando-as às suas. Só

assim, ele terá utilizado de forma inteligente e ativa a coletânea. Mais uma vez, portanto, não existe uso fácil; por

outro lado, para quem não tem medo de pensar, eis uma excelente oportunidade de enriquecer a redação.

Para fazer uma utilização inteligente dos textos da coletânea, é preciso ter uma postura ativa no momento da

leitura. Sublinhar palavras ou frases, reler o fragmento várias vezes, sintetizar a idéia central, estabelecer relações

com outras ideias, refletir sobre o texto são algumas das tarefas a serem cumpridas.

Em todo caso, podemos exemplificar o que seria um uso bem feito de uma coletânea. Para isso, selecionamos um

tema exemplar, proposto pelo Enem em 2004:

Leia com atenção os seguintes textos:

Texto I

Caco Galhardo. 2001.

Texto II

Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam

curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem

nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem

barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito

o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no

massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.

BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

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Curso Pré-ENEM 20 Linguagens

Texto III

Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema complexo porque remete para a questão da responsabilidade não

só das empresas de comunicação como também dos jornalistas. Alguns países, como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm

há anos tentando resolver o problema da responsabilidade do jornalismo por meio de mecanismos que incentivam

a auto-regulação da mídia.http://www.eticanatv.org.br Acesso em 30/05/2004.

Texto IV

No Brasil, entre outras organizações, existe o Observatório da Imprensa – entidade civil, não-governamental e não-partidária –, que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua página eletrônica , lê-se:

Os meios de comunicação de massa são majoritariamente produzidos por empresas privadas cujas decisões

atendem legitimamente aos desígnios de seus acionistas ou representantes. Mas o produto jornalístico é,

inquestionavelmente, um serviço público, com garantias e privilégios específicos previstos na Constituição Federal,

o que pressupõe contrapartidas em deveres e responsabilidades sociais.

http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br (adaptado) Acesso em 30/05/04.

Texto V

Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de

censura ou licença;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a

indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

• Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte tema:

Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?

2.1. Análise

Sobre a proposta trata-se da questão da imprensa e do impacto de seus conteúdos na sociedade.

Para guiar o aluno em suas reflexões sobre o papel da imprensa, o tema de redação do Enem 2004 apresentou

uma charge de Caco Galhardo na qual um aparelho de TV é representado por uma lata de lixo. A imagem trazia

para o centro da proposta a problemática dos conteúdos midiáticos no Brasil, especialmente o que o senso comum

chama de “baixaria” – a lixocultura como centro das atenções.

No segundo texto, o autor evidencia a questão da espetacularização da realidade - a mídia invade a intimidade

alheia, o grotesco do examinado. Tudo em busca de uma maior adesão e aplauso do público.

No terceiro texto, o enfoque gira em torno da regulação da imprensa. Como poderíamos estabelecer os limites

na abordagem das notícias e no nível das reportagens.

No penúltimo, cita-se a existência de um blog que faz uma espécie de vistoria sobre as coberturas jornalísticas.

Evidencia-se uma crítica em função das coberturas interesseiras e parciais dos principais órgãos midiáticos.

Por fim, apresentam-se fragmentos da Constituição para fundamentar o aspecto da liberdade na cobertura das

informações, assim como a garantia ao respeito das imagens das pessoas.

3. Elaboração da tese

Com frequência, observam-se redações muito bem escritas, bem apresentadas e de acordo com o tema proposto

que, no entanto, parecem desinteressantes, como se não tivessem algo a dizer. Esse problema é típico de redatores

que querem enquadrar seus textos em “fórmulas” e que não refletem sobre o problema a ser discutido. Em geral,

leitores desatentos considerariam razoáveis essas redações “certinhas”, mas os examinadores das bancas procuram

mais do que organização: eles preferem textos que transmitam uma mensagem, por mais simples que seja.

Um bom indício de uma redação vazia está em sua introdução. Com dois ou três períodos, distribuídos em cinco

ou seis linhas, em que se apresenta o tema e se enumeram os argumentos, esse parágrafo poderia ser utilizado por

virtualmente todos os candidatos. Qual é, nesses casos, o problema central? A resposta não é difícil: trata-se da

ausência de uma tese que sustente o projeto do texto.

Em uma concepção simples, tese seria a ideia ou eixo fundamental que existe sob toda a argumentação desenvolvida ao longo do texto. Normalmente, constitui uma resposta sintética para a pergunta que foi feita

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Curso Pré-ENEM 21 Linguagens

— se esse for o caso — ou uma maneira pessoal de recombinar as palavras do tema. Funciona, portanto, como a

essência que sobraria se tivéssemos que reduzir o texto a um único período.Dito de outro modo, a tese caracteriza-se por ser uma expressão de um ponto de vista pensado pelo autor

acerca da questão proposta. Isso significa, em primeiro lugar, que a elaboração dessa idéia central não costuma ser imediata ou automática, demandando certo tempo para meditação. Entretanto, uma vez elaborada, a tese permite um fácil desenrolar das ideias, contribuindo até mesmo com outros aspectos importantes, de que trataremos ainda hoje

É preciso estarmos cientes, porém, de que não existe uma técnica ou método geral a ser aplicado por todos a fim de se elaborarem suas teses. Isso seria até contraditório em relação ao que dissemos. Por isso, procuraremos demonstrar essa teoria com alguns bons exemplos, que não são — nem poderiam ser — modelos.

3.1. Reconhecimento do problema

• Leia o parágrafo a seguir, que serviu de introdução a um texto sobre a situação dos negros no Brasil hoje:

Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Para compreender — e superar — esse panorama, faz-se necessário analisar os fatores sociais, econômicos e políticos que sustentam a vergonhosa distribuição racial brasileira.

Com certeza, essa introdução é bem redigida, clara e objetiva. Falta-lhe, entretanto, uma idéia central. Compare-a com os parágrafos que se seguem:

Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Esse panorama constitui mais uma faceta de um grave vício brasileiro — elaborar soluções verbais para problemas concretos. Entretanto, enquanto se proferem belos discursos, as vítimas continuam a sofrer.

Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Ao mesmo tempo, exaltamos a miscigenação étnica como uma marca brasileira diante da intolerância global. Entretanto, este é o problema — sob o mito da mistura racial, ocultamos um racismo ainda mais perverso, que não tem sequer uma face visível.

• O parágrafo a seguir é a introdução de uma redação para o tema “Democracia e desigualdade social no Brasil.” Observe que a capacidade de síntese de seu autor produziu um bom exemplo de texto:

Sabe-se que o Brasil é, historicamente, marcado por absurdas desigualdades sociais e por nenhuma medida política eficaz para, pelo menos, amenizá-las. Nesse contexto de displicência governamental, o abismo entre as classes apenas aumentou, chegando, nos dias atuais, a uma assustadora realidade de divisão e segregação. O paradoxal, no entanto, é que mesmo em um país de gritantes diferenças, há quem acredite viver em uma plena democracia.

Em geral, quando a frase-tema possui forma interrogativa, construímos nossas teses respondendo à pergunta proposta. Quando ela possui estrutura afirmativa, a tese surge quando problematizamos a questão, combinando as palavras da frase-tema de uma maneira pessoal. Uma vez elaborada, a tese se torna o eixo central de toda a argumentação do candidato: em todos os parágrafos, necessariamente, deve-se buscar fazer uma referência implícita ou explícita a ela. Se a tese é pessoal, não é possível encontrar um método universal para estabelecê-la. Só a prática será capaz de fazer com que o aluno a construa de maneiras cada vez mais interessantes para tornar seu texto mais atraente.

Itens para avaliação

4. Exercício

4.1 Interprete de forma completa o tema abaixo:

A partir dos trechos abaixo, elabore um texto dissertativo-argumentativo em que você apresente suas reflexões sobre o brasileiro e a questão da moral.

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Curso Pré-ENEM 22 Linguagens

Texto I

“Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os

brasileiros são moralmente frouxos mesmo. Isso ninguém discute.”

Diogo Mainardi

Texto IICena 9 - Canção do exílio

Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem uma

pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, claro, que tinta é

a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15,

M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada.

Elas não são mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade

e aflição.

Fernando Bonassi

Texto III

Ser brasileiro

Somos um povo sui generis em vários aspectos. Alguns ditados populares têm lá a sua razão de ser. Aqui há

“leis que pegam” e “leis que não pegam”, depende de a quem se aplica. A rigidez da letra fria da lei esbarra no

“jeitinho brasileiro”, no “favor”, no quebra-galho. Sérgio Buarque de Hollanda aponta algumas características

de nossa formação social no clássico “Raízes do Brasil”. Somos um povo cordial e intimista. Em que outra nação conhecem-se as pessoas pelo apelido diminutivo, inclusive após o honorífico, como por exemplo: “Seu Luizinho”, “Dona

Candinha”... Até alguns santos merecem tratamento informal, como Santa Terezinha e o Menino Jesus por exemplo.

Lázaro Curvelo Chaves

1. Analise a proposta, determinando especificamente o que deve ser abordado.

2. Elabore uma tese que servirá de base para a defesa do ponto de vista sobre o tema.

3. Levante três argumentos que serão usados como base para a sua tese.

4. Agora, confeccione um parágrafo argumentativo com cerca de seis linhas baseado em um de seus argumentos citados.

Anotações

Solução comentada dos itens

1. Considerando que análise de palavra-chave é uma etapa fundamental da interpretação temática, é importante que o aluno

saiba conceituar moral. Seria impossível, por isso, fugir da questão da ética. Portanto, é importante perceber basicamente:

a questão da assimilação social dos valores – que fundam e fundamentam regras de convívio – e a idéia de “fazer a coisa

certa sem que isso seja uma regra/ordem”. Um bom recorte para a relação entre a questão moral e o brasileiro é partir das

noções de moral individual e moral coletiva.

2. A falta de seriedade do brasileiro é fruto de uma alienação forçada que, por sua vez, é fruto da influência, na moral

individual, da falta de moral social.

3.

A1) O excesso de comportamentos desviantes cria uma nova noção de certo e errado. Assim, há uma banalização do erro,

que é repetido sem medição de conseqüências.

A2) A compreensão plena da questão moral só se dá na fusão entre o individual e o coletivo. O “mas todo mundo faz/faria

isso” cria uma aceitação social de condutas imorais.

A3) Por mais que a moral individual crie, para o brasileiro, determinadas regulações – sanções, impedimentos e até mesmo

culpa – a freqüente corrupção da moral coletiva, observada por ele em seu cotidiano, pode motivá-lo a ferir a sua também.

4. Mais um fator interfere na relação entre o brasileiro e a moralidade: a falta de moral social. Por isso, mesmo quando ele

possui valores sociais e costuma obedecer a regras de convívio, pode perceber condutas imorais de outras pessoas de seu

convívio. Condutas, inclusive, muitas vezes bem recompensadas ou, de alguma forma, vantajosas. Assim, ele se sente

incitado a desrespeitar a moral também.

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Curso Pré-ENEM 23 Linguagens

Conceitos básicos e sua operacionalização

4.2. Sua tarefa, agora, é interpretar o tema, elaborar uma tese e planejar a organização dos argumentos para cada uma

das propostas apresentadas.

Leia o texto a seguir:

Texto I

Em uma passagem por São Paulo, o escritor Mia Couto brindou sua platéia com pérolas moçambicanas. O

autor de O Outro Pé da Sereia observou que seus conterrâneos têm dificuldade para dizer não, como se a negação

representasse uma forte desavença. Certa vez perguntou a um pescador se a maré estava a subir e colheu a seguinte

evasiva: “Sim, está a subir, mas já começou a descer”. D’outra ocasião, exercia atividades de biólogo em uma

praia e avistou um pássaro. Interessado, perguntou a um nativo próximo: “Qual o nome daquele pássaro?”, ao

que o interlocutor respondeu: “A esse pássaro nós aqui chamamos de sapo”. Em um terceiro evento, perguntou

a um produtor, beneficiado por uma determinada política pública, se sua vida havia melhorado, ao que o dito

produtor retornou: “Está a melhorar a vida, mas está a melhorar muito mal”. Moçambique não tem apenas a língua e a colonização portuguesa em comum com Pindorama. Os habitantes daqui e d’acolá parecem intimidados pela possibilidade de terem de dizer não. Nos trópicos sul-americanos, como na África Austral, dizer não parece ser um convite ao constrangimento. Se não for acompanhada de mesuras e compensações, a temerária conduta poderá colocar em risco Mia Couto amizades e relações profissionais, ou despertar sentimentos de vingança. Qual é a raiz? A primeira hipótese, obviamente, é o passado colonial. Sociedades coloniais são assimétricas. Moçambique livrou-se do jugo há três décadas; Pindorama, há quase dois séculos, mas ainda não se emendou.

“O projeto estará pronto até o fim do mês?” “Certamente.” “O carro estará reparado até o fim da semana?” “Sim, sem sombra de dúvida.” Naturalmente, não se pode tomar tais respostas por seu valor de face. Tais respostas significam que, findo o prazo, os assuntos apenas começarão a ser considerados. A chance de os trabalhos serem terminados no momento prometido é, como se sabe, remota ou nula.

WOOD, Thomas Jr. A Terra do Não. Em Carta Capital, junho de 2006.

Texto II

Conte quantas vezes você fala “sim” e “não”. O sim é pouco usado. Pois as línguas já são naturalmente afirmativas. Mas a negação precisa ser explícita. O francês nega usando duas palavras — “ne pas”. O inglês pede ajuda a um verbo — “do not”. Quem fala, afirma. Se quiser soar democrático, usa os cansativos “na minha opinião” ou “eu acho que” para disfarçar o autoritarismo do discurso.

Jornalistas escondem a assertividade* implícita nas perguntas usando o “aí”. “O que o senhor tem a dizer aí sobre o mercado na semana passada?”. Como se a indicação de lugar-aí-abrisse várias possibilidades de resposta.

Há quem use o “pô” mal educado como vírgula ou pedido de desculpas, da mesma forma que alguns americanos usam o “you know”.

Não adianta — a língua revela despudoramente a pretensão de saber ou poder de quem fala Por outro lado, discursamos apenas sobre o que é discutível ou falso. “Eu sou honesto”. Na turbulência, a aeromoça afirma: “A situação é normal”. O evidente e o óbvio passam em silêncio.

SAYAD, João. Pas du tout, Folha de S. Paulo, 29/05/2006.

*assertividade = capacidade de dizer aquilo que se pensa, que se julga correto.

• Com base na leitura dos textos apresentados, escreva um texto dissertativo que deverá ter como tema:

Como conciliar, na vida profissional, assertividade e bom relacionamento?

Sua redação deverá ser escrita em prosa e obedecer aos padrões da norma culta do português do Brasil.

Para apoiar a discussão, a proposta apresentou dois textos em cujas idéias o candidato poderia se basear.O texto I, de Thomas Wood, foi publicado pela revista Carta Capital e relatava uma observação feita pelo

escritor moçambicano Mia Couto: o fato de habitantes dos trópicos sul-americanos e da África Austral sentirem-se intimidados pela possibilidade de terem de dizer não. Parece que o ato de dizer não, para essas pessoas, representa um convite ao constrangimento, que poderia colocar em risco amizades e relações profissionais, ou até mesmo, despertar sentimentos de vingança.

O texto II, de João Sayad, publicado pelo jornal Folha de São Paulo, tratava do fato de as línguas serem naturalmente afirmativas e, sendo assim, revelarem “despudoradamente” a pretensão de saber ou poder de quem fala.

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Curso Pré-ENEM 24 Linguagens

Considerando essas reflexões, o candidato poderia questionar o fato de como a comunicação, no ambiente de trabalho, pode impactar no desempenho da empresa.

Em geral, na relação entre as diferentes hierarquias organizacionais é possível observar, entre outros, comportamentos de submissão e passividade, sem questionamento por parte do falante, quando se trata do funcionário, e agressividade ou inflexibilidade, quando se trata da chefia ou de superiores hierárquicos. As atitudes agressivas da chefia acabam sendo reforçados pelo comportamento passivo dos subordinados, que o fazem para evitar confronto direto com os superiores e possível perda de privilégios. O subordinado não questiona o chefe nem expõe suas idéias porque ele é avaliado por esse chefe. Ao não questionar, o funcionário pode estar favorecendo os comportamentos agressivos do chefe. O chefe, por sua vez, ao manter um bom relacionamento com o funcionário que não questiona e uma relação não tão boa com aquele que questiona, acaba expondo um modelo de interação social que prega a “passividade” ou o não questionamento. Assim, por uma questão cultural, comportamentos ditos assertivos não ocorrem no ambiente de trabalho devido a esse tipo de interação chefe-subordinado. Como consequência, os problemas dificilmente são superados.

Uma alternativa seria as pessoas aprenderem que expressar suas próprias opiniões e sentimentos de maneira direta, e em um tom moderado, olho no olho, pode representar uma resposta verbal sobre sentimentos ou opiniões de maneira respeitosa ao ouvinte.

Esse comportamento se opõe àquele classificado como agressivo, em que o funcionário se expressa de forma hostil, inflexível e em voz alta. Comportamentos assertivos, ao contrário, incluiriam a expressão dos sentimentos do falante de forma direta e clara, sem infringir os direitos dos outros.

Uma das atividades mais comuns em organizações de todos os portes é o trabalho em equipe. Durante esse tipo de atividade, funcionários precisam expor idéias, observações e apontar problemas para que tarefas sejam realizadas da melhor maneira possível, contribuindo para o bem estar da empresa. Os comportamentos assertivos mais diretamente relacionados à efetividade do trabalho em equipe incluem apontar erros/problemas, verbalizar soluções, e expressar e defender as próprias opiniões. Assim, faz-se necessário propor uma mudança cultural, em que deve estar clara a ligação entre essas mudanças propostas e as conseqüências que as mesmas trarão para a empresa. Ao treinar funcionários a serem mais assertivos quando se comunicam uns com os outros, por exemplo, é preciso garantir que os resultados obtidos com esse tipo de treinamento sejam relevantes para a organização, caso contrário tal treinamento acarretará perda de tempo e dinheiro.

Assim, no ambiente de trabalho são comuns as situações nas quais indivíduos precisam dar suas opiniões, fazer pedidos, e expressar seus pontos de vista. Parte do sucesso da empresa depende da forma como os funcionários se comunicam.

Para que o candidato entenda o tema de maneira plena, ele deve considerar que as palavras-chave são “assertividade” e “bom relacionamento”. Do mesmo modo, há que se perceber a limitação discursiva empreeendida pela expressão “vida profissional”, que impõe uma discussão centralizada somente nesse campo social. Entretanto, uma das estratégias a ser adotada pode ser o debate generalizado em torno de todos os relacionamentos interpessoais, comparadas ao convívio profissional. Além do mais, não se deve esquecer o fato de o tema ser construído a partir de uma pergunta. Respondê-la, então, é imprescindível para uma abordagem específica e correta da temática.

Todavia, para não tangenciar o tema, é importante que o aluno não se limite a responder apenas uma parte do questionamento proposto inicialmente. Assim, as respostas não devem se restringir a apenas um aspecto do tema, tal qual como falar de assertividade sem relacionar ao bom relacionamento interpessoal. Pelo contrário, ainda que seja necessária a restrição ao âmbito profissional, trabalhar com todas as possibilidades é fundamental para cumprir as expectativas da banca. Ademais, o importante no texto não é somente definir as palavras-chave, mas mostrar a conciliação proposta entre as mesmas.

Teses:

• Nem todo relacionamento é mantido por concessões, uma vez que é necessário reafirmar-se a partir de algumas negativas. Tratando-se de profissionalismo, essa premissa faz-se essencial para a manutenção da noção hierárquica pré-estabelecida.

• A assertividade, vista de uma maneira respeitosa, ajuda na construção de um bom relacionamento profissional na medida em que estabelece uma predisposição para aceitar as diferenças.

• O conceito de assertividade - capacidade de julgar-se correto - não pode ser visto como uma imposição, e sim um conciliação interpessoal para um bom convívio profissional.

Argumentos:

• Valores profissionais desenvolvidos à base de concessões têm como resultado direto um bom relacionamento interpessoal, na medida em que as prerrogativas de negação estabeleceram-se como um aspecto construtivo e não conflitante.

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Curso Pré-ENEM 25 Linguagens

• No universo profissional, aceitar as diferenças é positivo, já que elas contribuem para a construção de um trabalho diversificado e pautado na união de valores e no bom convívio social.

• Julgar-se correto pode gerar conflitos interpessoais, já que, muita vezes, é uma forma de impor-se sobre a opinião alheia.

REDAÇÃOPor um mundo mais justo

Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano age desse jeito? O que leva o indivíduo a agir de forma preconceituosa?

Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso?

O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele. Por exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de maneira preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente.

Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas.

COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO

Introdução

Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano age desse jeito? O que leva a o indivíduo a agir de forma preconceituosa?

Comentário: No parágrafo introdutório, resolve-se começar com um adjunto adverbial temporal pouco esclarecedor e consistente, não sendo capaz de contextualizar de forma plena o assunto a ser abordado. A seleção lexical de “É aí” e “entra” está inapropriada, sendo marca do registro formal/oral da língua. Outro problema presente na introdução reside no excesso de questionamentos ao final do parágrafo. Além de haver muitas perguntas, todas elas significam a mesma coisa, tornando o parágrafo redundante.

Sugestão de reescritura

“Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos desafios que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado, analogamente, à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas vezes, em teste, assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito estão associadas ao paralelo entre o micro e o macrocosmo?

Desenvolvimento 1

Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso?

Comentário: O tópico frasal do primeiro parágrafo de desenvolvimento mostra-se precário e pouco desenvolvido ao longo do mesmo. A repetição da palavra “instinto” também prejudica o desenvolvimento textual. O uso da expressão “levando em consideração” não é recomendado em textos dissertativo-argumentativos, já que referências metalinguísticas (ao próprio texto) não são adequadas a essa tipologia textual. Além disso, o uso da conjunção adversativa “mas” no início da frase é proibido de acordo com a norma culta, servindo apenas para associar duas frases. O uso de perguntas retóricas também não é recomendado quando se está desenvolvendo um argumento. De maneira geral, o parágrafo não cumpriu sua função de convencer os leitores da opinião do autor.

Sugestão de reescritura

É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito. Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim como o Ateneu a mesma.

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Curso Pré-ENEM 26 Linguagens

Desenvolvimento 2

O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele.

Por exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de

maneira preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente.

Comentário: O segundo parágrafo de desenvolvimento já se inicia com uma falha de paralelismo, devendo ter

começado por “Segundamente” ou “Em segundo lugar”. Perceba que o tópico frasal é muito limitado e quase não

é explicado, sendo seguido por um exemplo que aumenta o caráter expositivo do parágrafo. O exemplo utilizado é

muito previsível e pouco consistente no que tange ao poder de convencimento. O uso de “Ele é” generaliza e o uso

de “infelizmente” marca uma opinião pessoal do autor, o que não é permitido em textos dissertativo-argumentativos.

Sugestão de reescritura

Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada

pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias,

culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada

por preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar

laços de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente.

Conclusão

Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas

ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim

poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas.

Comentário: Ao concluir um texto, o autor deve retomar a tese e elencar uma proposta prática de conscientização

que promova a mudança da problemática apresentada – o que não acontece. Esqueceu-se que fazer referências

metalinguísticas, como em “Conclui-se”, não é recomendado, além do uso de palavras abstratas, como “coisas”.

Deve-se tomar cuidado também com a praticidade e objetividade da proposta de intervenção. No caso, apenas a

conscientização não seria suficiente para mudar a situação-problema. Além disso, a última frase da conclusão é

clichê e pouco convincente, concluindo o texto de forma precária.

Sugestão de reescritura

Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os

Ateneus criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial,

étnico, social, religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o

governo poderia incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural

e o externo é vantajoso e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a

representação mimética de que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento.

COMENTÁRIO GERAL

O tema “Preconceito e intolerância no mundo de hoje” pode parecer fácil devido à enorme veiculação desse

assunto em diversos meios midiáticos. Portanto, uma boa redação a respeito desse tema seria a que conseguisse

problematizar tal questão, pensando em causas, consequências e conjunturas diversas. O primeiro passo, então,

seria tornar a frase tema mais explorável criticamente, não apenas exposta de forma objetiva.

A proposta exige que o candidato construa um texto dissertativo-argumentativo que se estruture em introdução,

desenvolvimento e conclusão. Os segundo e terceiro parágrafos do texto “Por um mundo mais justo”, embora

tenha tópicos frasais iminentemente discutíveis, não foram desenvolvidos de maneira consistente e completa. Pelo

contrário, limitaram-se a generalizar e a dar exemplos pouco esclarecedores. Analisando o título do texto, embora

não seja uma exigência da banca, percebe-se uma construção muito clichê.

Quanto aos recursos utilizados para enriquecer a argumentação, estão a pergunta retórica e a exemplificação.

Essas estratégias são, de fato, bem valorizadas pela banca do ENEM, já que demonstram a capacidade do aluno de

criar mecanismos linguísticos válidos para a construção argumentativa, um dos critérios utilizados pela banca. O

redator, porém, ao usar cada uma dessas estratégias, apresentou alguns problemas, como o excesso e a redundância

de questionamentos na introdução, o uso de uma pergunta retórica no desenvolvimento, área do texto inapropriada

para esse tipo de recurso e a utilização de um exemplo específico, pouco esclarecedor argumentativamente.

Levando em consideração a coesão e a coerência textuais, o redator do texto não soube organizar de forma clara

e estruturada as ideias para a defesa do seu ponto de vista, tendo como marca frases muito soltas, pouco articuladas

sintática e semanticamente.

Outros critérios cobrados pela banca do ENEM são a interdisciplinaridade – aplicar conceitos de outras áreas

do desenvolvimento para desenvolver o tema – e a proposta de conscientização social – elaborar uma intervenção

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Curso Pré-ENEM 27 Linguagens

plausível para o problema abordado. O primeiro critério não foi utilizado no texto “Por um mundo melhor”, o

que acarretaria a retirada de 200 pontos da nota final (valor do critério). A respeito da proposta de intervenção,

percebe-se uma precariedade e ineficácia da mesma, mostrando-se abstrata, pouco clara e objetiva, quando deve

ser exatamente o oposto. Em uma visão geral, o texto não possui falhas ortográficas e não traz grandes equívocos

gramaticais.

UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR

Ateneus em chamas

“Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos desafios que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado, analogamente, à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas vezes, em teste, assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito estão associadas ao paralelo entre o micro e o macrocosmo?

É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito. Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim como o Ateneu a mesma.

Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias, culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada por preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar laços de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente.

Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os Ateneus criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial, étnico, social, religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o governo poderia incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural e o externo é vantajoso e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a representação mimética de que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento.

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Curso Pré-ENEM 28 Linguagens

Tema

Dissertação 3

Tópico de estudoEstratégias gerais de aprofundamento argumentativo (dedução e indução).

Situações-problema e conceitos básicosSaber trabalhar a argumentação é pré-requisito fundamental em um texto dissertativo argumentativo, já que a

banca irá avaliar a capacidade do candidato de ser convincente na defesa de um ponto de vista. Há, evidentemente, diversas formas de se fazer isso.

Porém, para além das técnicas tradicionais (causa e consequência, analogia, exemplificação...), temos também o uso de ferramentas que, inicialmente, estão ligadas à filosofia. Dentre as principais, destacam-se a dedução e a indução – formas de organização do raciocínio lógico que ajudam os argumentos a serem melhor construídos.

Por isso, ainda que não seja uma exigência argumentativa do ENEM, dominar tais estratégias pode funcionar como um elemento diferencial na avaliação do texto. Vejamos como:

1. Conceito de raciocínio lógico

Entende-se por raciocínio lógico a forma de organização das ideias em, ao menos, três partes, de modo que a ligação da primeira com a segunda produza um resultado explicitado na terceira. A forma mais tradicional tem origem no pensamento de Aristóteles, no chamado silogismo:

Todos os homens são mortais. (I)Ora, Sócrates é homem. (II)Logo, Sócrates é mortal. (III)

Perceba que a conclusão (III) só pôde ser obtida a partir da relação feita entre a primeira afirmação (I) e a segunda (II), produzindo, portanto, um resultado lógico. Conceitualmente, se essa forma de raciocínio é baseada em duas verdades, inevitavelmente a sua conclusão também o será. Daí viria a sua força argumentativa.

2. Formas de raciocínio

a) Dedução

É a forma que parte de uma afirmação geral para uma conclusão particular. Baseia-se, portanto, em um princípio maior – uma lei, uma regra, um teorema – que, quando aplicado a um caso específico, produz um resultado ligado a este. Observe o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2005, “O trabalho infantil na realidade brasileira”:

Pode-se dizer que, dos direitos trazidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, aquele que afirma que toda criança tem direito à infância é o mais fundamental. Ao mesmo tempo, sabemos que, das atividades relacionadas a essa faixa etária, não faz parte o trabalho. Apesar disso, no Brasil, temos menores que, diariamente, estão envolvidos em atividades laborais, como em minas de carvão e plantações de cana-de-açúcar, em vez de aproveitarem seu tempo com brincadeiras e estudos. Logo, é cabível dizer que o fato de essa prática existir no país constitui um desrespeito a uma regra básica e, por isso, deve ser combatido o mais rápido possível.

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Curso Pré-ENEM 29 Linguagens

Perceba que, nesse caso, o candidato baseou-se na seguinte estrutura:

Toda criança deve ter direito à infância.O trabalho é uma atividade de adultos.Muitas crianças, no Brasil, trabalham.Logo, muitas crianças, no Brasil, não tem sua infância respeitada e isso precisa acabar.

Ao fazer isso, garantiu que seu argumento tivesse um embasamento maior, em vez de o deixar com a aparência de uma mera opinião. É claro que, para tal, ajudou muito o fato de suas informações serem verdadeiras e coerentes – caso contrário, o questionamento seria fácil e o resultado, insatisfatório. Note como o mesmo não ocorre em outro parágrafo, também sobre o mesmo tema:

Sabemos que trabalhar é uma atividade que desenvolve a todos, pois cria senso coletivo e responsabilidade. No Brasil, cada vez mais percebemos crianças que, em vez de estarem brincando nas ruas, exercem práticas remuneradas. Como, na infância, elas são imaturas e individualistas, o fato de começarem a trabalhar cedo fará elas serem adultos muito melhores. Logo, podemos afirmar que o trabalho infantil não deve ser recriminado, pois pode fazer a diferença para todos no futuro.

Consegue perceber onde está a falha aqui? A primeira afirmação não é uma regra, podendo facilmente ser questionada. Basta pensar, por exemplo, que trabalhar de forma forçada não traz nenhuma das duas características afirmadas. Além disso, dizer que todas as crianças são imaturas e individualistas é muito taxativo, bem como garantir que o trabalho fará delas adultos melhores. Apesar de aparentar um bom raciocínio por conta de sua forma correta, o conteúdo é impreciso, o que tira toda a força da argumentação.

b) A indução

É a forma que parte de uma série de afirmativas particulares para chegar a uma conclusão geral. Baseia-se, portanto, em casos específicos – fatos, hipóteses – que, quando associados, produzem uma espécie de regra. Observe o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2004, “Violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”:

É fácil notar que os grandes centros urbanos do país apresentam diversos casos de violência. Isso se deve à desigualdade muito acentuada coexistente dentro de um mesmo espaço. No entanto, nas cidades menores também observamos a existência de práticas criminosas, às vezes até em maior escala, oriundas da falta de segurança e de controle. Ainda que por razões distintas, o fato é que a violência, hoje, é uma realidade distribuída por todo o nosso território, o que torna urgente a tomada de decisões que visem a reduzir, de forma drástica, seu percentual.

Atente para a estrutura:

Os grandes centros urbanos brasileiros apresentam muita violência.As cidades periféricas também lidam com essa realidade.Logo, não importa o motivo; o Brasil enfrenta esse mal em caráter nacional e precisar combater.

Repare como a conclusão gerada ao final do raciocínio parece muito mais forte a partir das evidências dadas anteriormente. Como os casos escolhidos são de conhecimento público, fica difícil questionar a afirmação final. O maior risco em um raciocínio deste tipo seria o de se encontrar uma exceção à regra proposta. Porém, ao se cercar de exemplos amplos, o candidato conseguiu minimizar essa possibilidade, fazendo uma argumentação bem consolidada. Note, agora, como o mesmo não ocorreu no caso abaixo, desenvolvido para o mesmo tema:

No Rio de Janeiro, a violência tem atingido um nível assustador. Em São Paulo, não tem sido muito diferente. Se levarmos em conta que essas cidades são um exemplo do que acontece em todo o território nacional, é possível dizer que, hoje, o maior problema do Brasil é a violência. Enquanto não a resolvermos, estaremos fadados a viver em um país atrasado, com uma população que não se orgulha das cores da sua bandeira e teme o amanhã por não saber a que tipo de crime pode estar sujeita quando sai de casa.

Aqui, como o candidato escolheu apenas dois casos para fundamentar sua teoria, a argumentação tende a ser fraca. Imagine, por exemplo, que alguém questione o fato de ele ter se baseado exatamente nas duas evidências maiores de centros urbanos, ignorando que a realidade do interior é bem distinta. A partir daí, sua “regra” sobre a violência no Brasil passa a não ser mais comprovável. A estrutura foi utilizada corretamente, mas o conteúdo impreciso, definitivamente, prejudicou o desenvolvimento da ideia.

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Curso Pré-ENEM 30 Linguagens

Itens para avaliação1. Observe o parágrafo argumentativo abaixo e responda ao que se segue:

Jean Jacques Rousseau afirmou, certa vez, que "o homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. Se aplicarmos tal pressuposto ao povo brasileiro, a conclusão não será diferente. Apesar de vivermos propalando a evolução de nossa organização social, a verdade é que, década após década, percebemos que as gerações vindouras trazem em si as mesmas falhas das anteriores: querem acreditar no “jeitinho”, ganhar sem esforço e se orgulhar da sua malandragem. Diante disso, fica difícil acreditar em um futuro melhor, pois sabemos que qualquer novo filho do Brasil que surgir nessa esfera, dificilmente fugirá ao padrão nocivo instituído pela própria sociedade nacional.

a) Sabendo que o autor do texto optou por um método de raciocínio lógico em sua argumentação, diga qual foi e ilustre as etapas do seu pensamento.

b) Qual raciocínio Rousseau parece ter utilizado para chegar à sua frase? Por quê?

c) Esse parágrafo pode ser considerado eficiente quanto ao seu poder argumentativo? Justifique.

2. A partir das informações abaixo, construa um parágrafo argumentativo sobre o tema “Desemprego: o mal do mundo atual”. Neste exercício, você deve utilizar o método indutivo.

Depois de dois anos consecutivos em queda, o desemprego no mundo aumentou em 2012. No ano passado, cerca de 197,3 milhões de pessoas estavam sem trabalho, quase 5 milhões a mais do que em 2011, segundo o relatório Tendências Mundiais de Emprego 2013, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que será divulgado nesta terça-feira (22). A expectativa da OIT para este ano é a de que o desemprego cresça ainda mais, chegando a atingir 202 milhões de pessoas até o final de 2013, 204,9 milhões até 2014 e 210 milhões até 2018. Segundo a OIT, a recuperação da economia mundial não será forte o suficiente para reduzir as taxas de desemprego rapidamente.

O pico de desemprego na última década foi em 2009, ano da crise financeira internacional, com mais de 198 milhões de desempregados. Em 2010 e 2011, houve recuperação, com a queda do número de pessoas sem emprego – 194,6 milhões, em 2010; e 193,1 milhões, em 2011.

A incerteza em torno das perspectivas econômicas e as políticas inadequadas que foram implementadas para lidar com isso debilitaram a demanda agregada, freando os investimentos e as contratações. Isso prolongou a crise do mercado laboral em vários países, reduzindo a criação de empregos e aumentando a duração do desemprego” explicou, em nota, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

As regiões onde foram registradas as taxas mais altas de desemprego foram o Norte da África (10,3%), o Oriente Médio (10%) e o grupo das chamadas “economias desenvolvidas” (8,6%) – que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão, a Espanha e Portugal.

Em contraponto, as três regiões com os índices mais baixos de desemprego estão na Ásia: no Sul da Ásia (3,8%), na Ásia Oriental (4,4%) e no Sudeste Asiático (4,5%). A região da América Latina e do Caribe, grupo em que está o Brasil, ficou com taxa de 6,6%.

http://sobralagora.com.br/v1/2013/01/aumenta-o-desemprego-no-mundo-confira-os-numeros

Anotações

Solução comentada dos itens

1.

a) Método dedutivo. Primeiro, apresentou uma premissa geral (“O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.”), depois aplicou a um caso particular (o povo brasileiro), chegando a uma conclusão também particular (povo brasileiro).

b) Indutivo. Analisando vários casos de pessoas que foram modificados pelo convívio em sociedade, ele teria chegado à conclusão de que o meio determina o que o ser humano será.

c) Sim, pois se baseia em uma afirmação de valor reconhecido e associa seu pressuposto com correção ao caso analisado, gerando uma conclusão válida.

2. Resposta pessoal. Exemplo: Nos últimos anos, o Norte da África tem apresentado um aumento no nível de desemprego bastante preocupante. O mesmo tem acontecido com o Oriente Médio, os Estados Unidos, a Espanha, o Reino Unido, Portugal e Japão. Assim sendo, não seria absurdo afirmar que o panorama econômico global hoje é de extrema preocupação, pois parte da população do mundo enfrenta dificuldades para obter um emprego e, consequentemente, ter uma vida decente em meio ao modelo capitalista e neoliberal contemporâneo.

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Curso Pré-ENEM 31 Linguagens

Conceitos básicos e sua operacionalização

ANÁLISE DA REDAÇÃO

Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema O PAPEL DA MEMÓRIA PARA A FORMAÇÃO DA CULTURA NOS DIAS DE HOJE, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto I

“Memória não é algo do passado, é um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e de coerência,

seja ele processado individualmente ou em grupo em reconstrução em si, torna-se o fator preponderante para o

entendimento de sentimento de identidade.”

Maria Rossel Souza Santoswww.rosellsusa.com.br/private/sabores culturais memorias.pdf

Texto II

“Os contos de fadas são um exemplo privilegiado ao falar de identidade cultural. Os contos dor irmãos Grimm

foram coletados entre as histórias transmitidas oralmente como a Alemanha – mas que, no início do século 19, se

organizava em territórios que, embora compartilhassem a língua, apresentavam fragmentação política. Esse livro

de contos infantis, cuja publicação foi iniciada em 1818, era um esforço que visava à formação de uma identidade

alemã, em meio a um processo de unificação que se estenderia pelo resto do século.

Identidades culturais se relacionam com o sentimento de pertencimento a um grupo que compartilha uma

memória coletiva, um conjunto comum de conhecimentos. Nas intenções dos irmãos Grimm, a repetição de contos

parecidos por todos aqueles estados autônomos representaria uma unidade manifestada no saber comum do povo

alemão – como uma base cultural unindo os fragmentos políticos.”

Luciana Silveira(Lhys) http://www.materiaobscura.com.br/02-07/memorias-midiatizadas-a-identidade-cultural-sem-lugar

Texto III

Texto IV

“O resgate da memória é de suma importância devido à construção de uma identidade consciente de um

determinado povo. Para isso é necessário que não deixe de rememorar, ir em busca de raízes, das origens, do âmago

da sua história, etc.

A memória tem um caráter primordial para elevação de uma nação de um grupo étnico, pois aporta elementos

para sua transformação.

A ideia de nação é uma realidade que se impõe por si mesmo, pois é uma construção contínua que repousa no

erro histórico. Ao falar de raça vem em nossas mentes altura, índice cefálico, uma aparência hereditária, enquanto

etnicidade os aspectos culturais são primordiais, pois é uma comunidade biológica de cultura e de língua.

A nação, raça e etnia se distinguem pela pertença racial, originada na comunidade de origem, a pertença étnica

é dada pela crença subjetiva na comunidade de origem e a nação pelo poder político. Expresso nas instituições

democráticas nas instâncias competentes. Apesar de que hoje não se fala mais em raça que é um conceito em

desuso.

Stuart Hall afirma que: ‘as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas,

transformadas no interior da representação’ (HALL, 1999,48). Sendo a nação construída, é uma comunidade

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Curso Pré-ENEM 32 Linguagens

simbólica e gera sentimentos de identidade e de pertença que não necessariamente tem de ser os limites geográficos

que impõe essa nação.

Partindo do pressuposto que a ‘memória é a faculdade de reter ideias ou reutilizar sensações, impressões ou

quaisquer informações adquiridas anteriormente como afirma o dicionário da

Língua Portuguesa (FERRIRA, 1989, 334), percebe-se que essa memória proporciona a lembrar da própria

lembrança e não deixa que se apaguem as experiências adquiridas por todos envolvidos com aquele episódio.”

Claudio Magalhães Batista http://ecoviagem.uol.com.br/fique-por-dentro/artigos/turismo/memoria-e-identidade-aspectos-relevantes-para-o-desenvolvimento-do-turismo-

cultural-1333.as

REDAÇÃO MEDIANA A memória e sua importância para a formação cultural

Muros. Casas. Ruas. Monumentos. Desde o surgimento de nações e constituição de povos, a importância do passado é elemento crucial na formação de culturas. Seguindo uma definição primária, memória é a faculdade de reter as ideias, as impressões e os conhecimentos adquiridos anteriormente. As memórias individual e coletiva são importantes para a criação e manutenção da cultura de qualquer organismo social. Ao reconhecer que cada função é importante para o resultado positivo do todo, o homem pode perceber que as duas faculdades estão interrelacionadas a fim de compor uma memória coletiva salutar. Assim, tal qual o trabalho de um corpo, a lembrança é órgão mais silencioso e responsável pelo corpo social.

Mas muitos foram os casos em que a sobreposição de culturas mais poderosas teve como alvo as julgadas como inferiores. A Alemanha Nazista é o exemplo categórico que comprova a minimização de culturas judias, assim como a sobreposição do ideal de vida americano sobre os países latinos. Se cada indivíduo é responsável pela disseminação de ideias, ele possui grandes possibilidades de modificar sua atual condição por meio de experiências passadas. O escritor alemão Johaan Goethe afirmou que se o interesse do indivíduo diminui é porque com a memória já aconteceu o mesmo. Dessa forma, o escritor demonstra a importância para a preservação de um resgate consciente da memória.

Nessa perspectiva, todo movimento que visa resgatar a memória coletiva tem o poder de maximizar o espaço de gays, transexuais e negros. Consequentemente, reconhecer o déficit histórico de uma imposição cultural é fundamental para que, de alguma forma, os que foram postos a margem se sintam inseridos no atual contexto histórico. Dessa maneira, o processo de transformação do cenário sociocultural, para a libertação de culturas fundamentadas em padrões preconceituosos, é o único meio de dissipar culturas intolerantes e deve seguir o fluxo inverso, assim como um organismo, o movimento de liberação deve ceder espaço ao de contração – inserção – para a manutenção de um corpo social saudável.

Em síntese, a memória não pode ser analisada por uma cultura estagnada, mas guiada com o sentimento de continuidade e progressão, contínuos, para que cumpra sua parcela na construção de culturas mais tolerantes. Percebemos, muito próximos a nós, museus e centros culturais igualmente vítimas de descaso da administração pública e, ainda, eventos que não alcançam regiões periférias. Por isso, cada cidadão deve cultivar uma consciência mais participativa na busca por fatos passados. Entretanto, o sentimento coletivo deve ser o foco principal, afinal uma única andorinha não faz verão.

COMENTÁRIOS

Introdução

Muros. Casas. Ruas. Monumentos. Desde o surgimento de nações e constituição de povos, a importância do passado é

elemento crucial na formação de culturas. Seguindo uma definição primária, memória é a faculdade de reter as ideias, as

impressões e os conhecimentos adquiridos anteriormente. As memórias individual e coletiva são importantes para a criação e

manutenção da cultura de qualquer organismo social. Ao reconhecer que cada função é importante para o resultado positivo

do todo, o homem pode perceber que as duas faculdades estão interrelacionadas a fim de compor uma memória coletiva

salutar. Assim, tal qual o trabalho de um corpo, a lembrança é órgão mais silencioso e responsável pelo corpo social.

Comentário: No parágrafo introdutório, o redator escolheu o uso de “Flashes” como estratégia para ambientar o início

do texto. Embora esse recurso seja pertinente ao propor uma percepção mais ilustrativa do tema, não foi bem empregado,

pois eles não constroem uma relação imediata com o assunto – “Muros. Casas. Ruas. Monumentos”. Com isso, podemos

perceber que em nada se relacioanam à questão da memória e sua importância para a construção cultural. Outro problema

facilmente constatado é a ausência de cumprimento da proposta, uma vez que não focou “nos dias de hoje”. Além disso, a

contextualização no parágrafo não foi pertinente, porque ele afirma que “desde o surgimento de nações e constituição de

povos, a importância do passado é elemento crucial”, o que torna a delimitação confusa e sem fundamento para o leitor.

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Curso Pré-ENEM 33 Linguagens

Sugestão de reescritura

“Seguindo uma definição primária, memória é a faculdade de reter as ideias, as impressões e os conhecimentos

adquiridos anteriormente. As memórias individual e coletiva são importantes para a criação e manutenção da

cultura de qualquer organismo social, primordialmente em um século de ritmo acelerado. Ao reconhecer que cada

função é importante para o resultado positivo do todo, o homem pode perceber que as duas faculdades estão

interrelacionadas a fim de compor uma memória coletiva salutar. Assim, tal qual o trabalho de um corpo, a

lembrança é órgão mais silencioso e responsável pelo corpo social.

Desenvolvimento 1

Mas muitos foram os casos em que a sobreposição de culturas mais poderosas teve como alvo as julgadas

como inferiores. A Alemanha Nazista é o exemplo categórico que comprova a minimização de culturas judias,

assim como a sobreposição do ideal de vida americano sobre os países latinos. Se cada indivíduo é responsável pela

disseminação de ideias, ele possui grandes possibilidades de modificar sua atual condição por meio de experiências

passadas. O escritor alemão Johaan Goethe afirmou que se o interesse do indivíduo diminui é porque com a memória já

aconteceu o mesmo. Dessa forma, o escritor demonstra a importância para a preservação de um resgate consciente

da memória.

Comentário: No primeiro parágrafo de desenvolvimento, o aluno tentou utilizar a estratégia de “Exemplificação”,

sendo importante para deixar o argumento mais ilustrativo e acessível de visualização para o leitor. No entanto,

não foi utilizado de forma adequada, uma vez que o parágrafo ficou predominantemente expositivo ao centrar

em relatos históricos e nas opiniões do escritor Johaan Goethe. Quanto à estrutura coesiva, o conector “mas” foi

empregado equivocadamente, pois seu uso é intrafrasal e não pode, portanto, iniciar períodos.

Sugestão de reescritura

Sendo cada indivíduo responsável pela disseminação de ideias, ele possui grandes possibilidades de modificar

sua atual condição por meio de experiências passadas. Entretanto, muitos grupos já figuraram em nossa história

e mostraram que a sobreposição e exclusão de culturas só nos ofertaram heranças negativas. A manutenção da

memória individual, mesmo em episódios equivocados, é fonte de novos caminhos para uma determinada

comunidade, mas cada indivíduo precisa se (re)conhecer como participante primordial. Dessa forma, percebemos a

máxima de Goethe: “Quando o interesse diminui, com a memória ocorre o mesmo”.

Desenvolvimento 2

Nessa perspectiva, todo movimento que visa resgatar a memória coletiva tem o poder de maximizar o espaço

de gays, transexuais e negros. Consequentemente, reconhecer o déficit histórico de uma imposição cultural é

fundamental para que, de alguma forma, os que foram postos a margem sintam-se inseridos no atual contexto

histórico. Dessa maneira, o processo de transformação do cenário sociocultural, para a libertação de culturas

fundamentadas em padrões preconceituosos, é o único meio de dissipar culturas intolerantes e deve seguir o fluxo

inverso, assim como um organismo, o movimento de liberação deve ceder espaço ao de contração – inserção – para

a manutenção de um corpo social saudável.

Comentário: No segundo parágrafo de desenvolvimento, o redator pecou ao reduzir seu campo argumentativo

quando exemplificou com algumas minorias – “gays, transexuais e negros” –, pois na verdade o espaço de todos

deve ser “maximizado”. Tal restrição também se agrava quando ele defende que esse resgate é o “único meio”

de reverter os parâmetros de uma cultura intolerante, sendo uma generalização não admitida em um texto

dissertativo-argumentativo. Além disso, o segundo parágrafo de desenvolvimento contém um período longo,

estrutura que compromete a compreensão das ideias e gera o empilhamento das mesmas.

Sugestão de reescritura

Sendo cada indivíduo responsável pela disseminação de ideias, ele possui grandes possibilidades de modificar

sua atual condição por meio de experiências passadas. Entretanto, muitos grupos já figuraram em nossa história

e mostraram que a sobreposição e exclusão de culturas só nos ofertaram heranças negativas. A manutenção da

memória individual, mesmo em episódios equivocados, é fonte de novos caminhos para uma determinada

comunidade, mas cada indivíduo precisa se (re)conhecer como participante primordial. Dessa forma, percebemos a

máxima de Goethe: “Quando o interesse diminui, com a memória ocorre o mesmo”.

Conclusão

Em síntese, a memória não pode ser analisada por uma cultura estagnada, mas guiada com o sentimento de

continuidade e progressão, contínuos, para que cumpra sua parcela na construção de culturas mais tolerantes.

Percebemos, muito próximos a nós, museus e centros culturais igualmente vítimas de descaso da administração

pública e, ainda, eventos que não alcançam regiões periférias. Por isso, cada cidadão deve cultivar uma consciência

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Curso Pré-ENEM 34 Linguagens

mais participativa na busca por fatos passados. Entretanto, o sentimento coletivo deve ser o foco principal, afinal

uma única andorinha não faz verão.

Comentário: Na conclusão, o redator cumpre sua função primordial ao retomar a tese logo no início do parágrafo.

Porém, em nenhum momento ele retoma o uso da imagem que foi iniciada na introdução – “corpo” e “órgão”-,

o que não forma, portanto, um texto-circuito. No critério “Proposta de intervenção”, o parágrafo não foi eficaz

quando propõe uma cultivação da consciência, já que não se trata de uma solução concreta ao tema abordado.

Além disso, o uso do clichê no último período não acrescenta uma ideia nova e original, sendo assim, dispensável

ao parágrafo.

Sugestão de reescritura

A memória, portanto, não pode ser analisada por uma cultura estagnada, mas guiada com o sentimento de

continuidade e progressão, contínuos, para que cumpra sua parcela na construção de culturas mais tolerantes.

Percebemos, muito próximos a nós, museus e centros culturais igualmente vítimas de descaso da administração

pública e, ainda, eventos que não alcançam regiões periféricas. Por isso, o incentivo ao resgate da memória de

qualquer sociedade não pode se pautar em uma questão de boa vontade. O investimento público é primordial, assim

como a mudança saudável é urgente.

VISÃO GLOBAL + CRITÉRIOS DA BANCA ENEM

O tema, “O papel da memória para a formação da cultura nos dias de hoje”, delimitava, em primeiro olhar, as

ideias que deveriam ser tratadas como foco. Dessa forma, deveriam ser abordados aspectos como: memória e

cultura, nos dias atuais, essas três expressões deveriam figurar na contextualização. O redator, no caso, cumpriu

parcialmente essa função, pois deixou de abordar parte da frase-tema, uma vez que não focou “nos dias de hoje”

Além disso, o título é formado por ideias que parafraseiam a proposta – “A memória e sua importância para a

formação cultural”.

Na proposta, pede-se um texto dissertativo-argumentativo que preza pela estruturação de um texto dividido

em introdução, desenvolvimento e conclusão de forma que deve existir a imparcialidade no tratamento do tema.

Com isso, o redator do texto respeitou predominantemente essa tipologia textual. Além disso, o aluno fez uso de

uma imagem na introdução – “corpo” e “órgão” – que não foi retomada ao longo do texto, o que não promoveu a

elaboração de um texto-circuito. Ele poderia, por exemplo, usar a imagem como sugestão para evitar a paráfrase

do título.

Quanto à argumentação, a banca do ENEM, que valoriza a criatividade, marca de autoria, no que diz respeito

às ideias selecionadas, preza pela argumentação e pelas estratégias usadas para isso. No texto em pauta, o redator

tentou utilizar a estratégia de “Exemplificação”, que é importante para deixar o argumento mais ilustrativo e

acessível para o leitor. No entanto, não foi utilizado de forma adequada, uma vez que o primeiro parágrafo ficou,

predominantemente, expositivo ao se centrar em relatos históricos e em opiniões do escritor alemão. Já o segundo

parágrafo apresenta mais uma inadequação no que diz respeito à generalização sobre a defesa do resgate da

memória como única saída para reverter o problema das minorias.

O autor do texto “A memória e sua importância para a formação cultural”, em uma visão geral, possui domínio

razoável em relação à coesão e à coerência. Primeiramente, a imagem não foi retomada ao longo do texto e não

cumpriu a função coesiva e no segundo parágrafo de desenvolvimento contém um período longo, o que

compromete a compreensão das ideias e gera o empilhamento das mesmas. Além disso, há um equívoco na utilização do

conectivo adversativo “mas”, pois seu uso é intrafrasal - liga oração em um mesmo período - e não pode, assim, iniciar

períodos. Tal inadequação compromete não somente a coesão do texto como também a coerência das ideias, além de

transparecer certo tom informal, não aceito nesse tipo textual.

De acordo com critério “Proposta de intervenção” é esperado que o candidato proponha uma medida real e

objetiva que visa uma melhoria significativa no quadro apresentado e não um mero paliativo. Contudo, a ideia não

foi pertinente, quando propõe uma “cultivação da consciência”, já que não se trata de uma solução concreta ao tema

abordado. Além disso, o uso do clichê, no último período, não acrescenta uma ideia nova, sendo dispensável ao

parágrafo por não contribuir para a “Marca de autoria”.

A redação comentada, em geral, não possuiu falhas ortográficas nem grandes desvios com relação à

norma culta da língua. Assim, em uma visão global, o texto não apresenta grandes comprometimentos gramaticais e

atende razoavelmente ao tema proposto pela banca.

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Curso Pré-ENEM 35 Linguagens

REDAÇÃO EXEMPLAR

Corpo-cultura

Seguindo uma definição primária, memória é a faculdade de reter as ideias, as impressões e os conhecimentos adquiridos anteriormente. As memórias individual e coletiva são importantes para a criação e manutenção da cultura de qualquer organismo social, primordialmente em um século de ritmo acelerado. Ao reconhecer que cada função é importante para o resultado positivo do todo, o homem pode perceber que as duas faculdades estão interrelacionadas a fim de compor uma memória coletiva salutar. Assim, tal qual o trabalho de um corpo, a lembrança é órgão mais silencioso e responsável pelo corpo social.

Sendo cada indivíduo responsável pela disseminação de ideias, ele possui grandes possibilidades de modificar sua atual condição por meio de experiências passadas. Entretanto, muitos grupos já figuraram em nossa história e mostraram que a sobreposição e exclusão de culturas só nos ofertaram heranças negativas. A manutenção da memória individual, mesmo em episódios equivocados, é fonte de novos caminhos para uma determinada comunidade, mas cada indivíduo precisa se (re)conhecer como participante primordial. Dessa forma, percebemos a máxima de Goethe: “Quando o interesse diminui, com a memória ocorre o mesmo”.

Nessa perspectiva, todo movimento que visa resgatar a memória coletiva tem o poder de maximizar uma minoria. Consequentemente, reconhecer o déficit histórico de uma imposição cultural é fundamental para que, de alguma forma, os que foram postos a margem sintam-se inseridos no atual contexto histórico. Dessa maneira, o processo de transformação do cenário sociocultural, para a libertação de culturas fundamentadas em padrões preconceituosos, deve seguir o fluxo inverso. Assim, como um organismo, o movimento de liberação deve ceder espaço ao de contração – inserção – para a manutenção de um corpo social saudável.

A memória, portanto, não pode ser analisada por uma cultura estagnada, mas guiada com o sentimento de continuidade e progressão, contínuos, para que cumpra sua parcela na construção de culturas mais tolerantes. Percebemos, muito próximos a nós, museus e centros culturais igualmente vítimas de descaso da administração pública e, ainda, eventos que não alcançam regiões periféricas. Por isso, o incentivo ao resgate da memória de qualquer sociedade não pode se pautar em uma questão de boa vontade. O investimento público é primordial, assim como a mudança saudável é urgente.

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Curso Pré-ENEM 36 Linguagens

Tema

O perfi l de cobrança do Enem 1

Tópico de estudoCaracterísticas gerais & fatores de nota zero.

Situações-problema e conceitos básicos

1. As características específicas do modelo de cobrança do Enem

a) O tipo de tema

No edital publicado em maio, o Inep manteve sua referência tradicional ao tipo de produção textual a ser exigido

do candidato.

Como nos anos anteriores, a proposta da Redação do Enem será elaborada de forma a possibilitar “que os participantes, a partir de uma situação-problema e de subsídios oferecidos, realizem uma reflexão escrita sobre um tema de ordem política, social ou cultural, produzindo um texto dissertativo-argumentativo em prosa”.

Já vimos as características fundamentais do texto dissertativo-argumentativo nas aulas anteriores. O que, então,

poderíamos apontar como especificidades do Exame Nacional do Ensino Médio?

Perceba que será solicitada ao candidato uma reflexão escrita sobre tema de ordem política, social ou cultural, a

partir de uma situação-problema. Isso significa que sua redação versará sobre algum assunto relevante, presente

de forma objetiva (concreta, visível) no seu cotidiano, exigindo de você uma postura crítica. A análise dos temas dos

anos anteriores não deixa dúvida sobre isso. Veja:

1998: “Viver e Aprender”

1999: “Cidadania e participação social”

2000: “Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?”

2001: “Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?”

2002: “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o

Brasil necessita?”

2003: “A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”

2004: “Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?”

2005: “O trabalho infantil na realidade brasileira”

2006: “O poder de transformação da leitura”

2007: “O desafio de se conviver com a diferença”

2008: “Preservação da Floresta Amazônica”

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Curso Pré-ENEM 37 Linguagens

Atenção:

Nesse ano de 2008, a redação do Enem fugiu do padrão apresentado em todos os outros anos. Além da proposição de tema, a prova sugeria ao candidato três possibilidades de ação, para que o candidato ressaltasse suas possibilidades e as limitações:

– a suspensão completa e imediata do desmatamento na Amazônia até a identificação de áreas exploráveis de maneira sustentável;

– o pagamento a proprietários de terras para que deixem de desmatar a floresta, utilizando-se recursos financeiros internacionais;

– o aumento da fiscalização e a aplicação de pesadas multas àqueles que promoverem desmatamentos não autorizados.

2009 (prova válida): “O indivíduo frente à ética nacional”

2009 (prova anulada):“Valorização do idoso”

2010: “O trabalho na construção da dignidade humana”

2011: “Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado”

2012:“Movimento imigratório para o Brasil no século XXI”

b) Como trabalhar um tema assim?

• Nos últimos anos, a proposta de redação tem sido apresentada da seguinte maneira na prova:

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema O MOVIMENTO MIGRATÓRIO PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Note, então, alguns outros pontos interessantes, além daqueles que já trabalhamos:

• Em geral, há textos motivadores para nos auxiliar a entender o tema apresentado e a abordá-lo de forma criativa.

• Devemos utilizar os conhecimentos construídos ao longo de nossa formação, construindo uma visão crítica sobre a questão em análise.

• É exigida uma proposta de intervenção (que respeite os direitos humanos) para aquele problema apresentado.

Para que construamos uma redação completa, é fundamental adotarmos algumas estratégias. Trata-se de algo fundamental para que percamos “o medo do papel em branco”, tão terrível para a maior parte dos candidatos:

• Se a redação do Enem parte de uma situação-problema, é fundamental, primeiro, definir o problema da

questão. Nem sempre é fácil conseguir isso. Pense, por exemplo, num tema como o da prova anulada 2009: “A valorização do idoso”. É fácil perceber que a expressão “valorização do idoso” não traz, em si, nenhum problema explícito. A análise da coletânea, no entanto, permitia que deduzíssemos certo descaso da sociedade com a população que pertence a esse segmento. Portanto, a visão que o candidato deveria ter sobre o tema seria sobre a dificuldade da valorização do idoso.

• A partir daí, cabe-nos pensar nas origens desse problema. Que razões de ordem histórica, social, econômica, política e cultural poderiam nos ajudar a compreender a existência desse problema? Nesse momento, é muito importante que o candidato acesse os conhecimentos desenvolvidos ao longo de sua formação acadêmica para dar profundidade e consistência à reflexão produzida.

• Também é muito importante investigar as consequências dessa questão, entendendo, assim, como o ser humano tem reagido a esse problema, refletindo sobre as limitações que ele provoca e sobre a relevância social de sua eliminação.

• Ao compreendermos a questão em análise, podemos construir uma proposta de intervenção, buscando alguma forma viável (concreta) de amenizar ou eliminar as dificuldades impostas por ela. Ninguém espera que, em apenas uma hora, o candidato seja capaz de desenvolver um projeto detalhado de ação: busca-se, na verdade, verificar se há no redator do texto uma postura ativa e crítica em relação à situação-problema apontada.

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Curso Pré-ENEM 38 Linguagens

Atenção:

Não se deve, em hipótese alguma, copiar trechos da coletânea na redação. Ela deve servir como fonte de

reflexão e inspiração, apenas.

c) Avaliação

A nota da redação, variando entre 0 (zero) e 1000 (mil) pontos, será atribuída respeitando-se os seguintes critérios

de avaliação:

I. Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

II. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das varias áreas de conhecimento para desenvolver o

tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

III. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto

de vista.

IV. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

V. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Na aulas seguintes, vamos trabalhar cada um deles, para permitir que todos os nossos alunos possam garantir o

grau máximo em cada uma dessas competências.

Observações importantes:

• A redação será corrigida por dois corretores de forma independente.

• Cada corretor atribuirá uma nota entre 0 (zero) e 200 (duzentos) pontos para cada uma das cinco competências.

• A nota total de cada corretor corresponde à soma das notas atribuídas a cada uma das competências.

• Considera-se que existe discrepância entre dois corretores se suas notas totais diferirem por mais de 100 (cem)

pontos ou se a diferença de suas notas em qualquer uma das competências for superior a 80 (oitenta) pontos.

• Caso não haja discrepância entre os dois corretores, a nota final do PARTICIPANTE será a média aritmética das

notas totais atribuídas pelos dois corretores.

• Caso haja discrepância entre os dois corretores, haverá recurso de ofício e a redação será corrigida, de forma

independente, por um terceiro corretor.

• Caso não haja discrepância entre o terceiro corretor e os outros dois corretores ou caso haja discrepância entre o

terceiro corretor e apenas um dos corretores, a nota final do PARTICIPANTE será a média aritmética entre as duas

notas totais que mais se aproximarem, sendo descartadas as demais notas.

• Na ocorrência do previsto no item anterior e sendo a nota total do terceiro corretor equidistante das notas totais

atribuídas pelos outros dois corretores, a redação será corrigida por uma banca composta por três corretores que

atribuirá a nota final do PARTICIPANTE, sendo descartadas as notas anteriores.

• Caso o terceiro corretor apresente discrepância com os outros dois corretores, haverá novo recurso de ofício e a

redação será corrigida por uma banca composta por três corretores que atribuirá a nota final ao PARTICIPANTE,

sendo descartadas as notas anteriores.

2. Os fatores de nota zero

• Será atribuída nota 0 (zero) à redação:

– que não atenda à proposta solicitada ou que possua outra estrutura textual que não seja a estrutura dissertativo-

argumentativa, o que configurará “Fuga ao tema/não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa”

– que não apresente texto escrito na Folha de Redação, que será considerada “Em Branco”;

– que apresente até 7 (sete) linhas, qualquer que seja o conteúdo, que configurará “Texto insuficiente”;

– que apresente impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, bem como que desrespeite os

direitos humanos, que será considerada “Anulada”;

– que apresente parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto, que será considerada

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Curso Pré-ENEM 39 Linguagens

“Anulada”.

• As linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no Caderno de Questões serão desconsideradas para

efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas.

• Os PARTICIPANTES poderão requerer vista de suas provas de redação, exclusivamente para fins pedagógicos,

após divulgação do resultado.

Itens para avaliaçãoDepois de rever conteúdos desenvolvidos nas nossas aulas, analise o tema e a redação apresentada.

Conceitos básicos e sua operacionalizaçãoProposta de redação

Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua

formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema

AS NECESSIDADES BÁSICAS DO SER HUMANO, apresentando proposta de conscientização social que

respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para

defesa de seu ponto de vista.

Texto I

Bebida é água!

Comida é pasto!

Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida

A gente quer comida

Diversão e arte

A gente não quer só comida

A gente quer saída Para qualquer parte...

A gente não quer só comida

A gente quer bebida

Diversão, balé

A gente não quer só comida

A gente quer a vida

Como a vida quer...

Arnaldo Antunes, http://bit.ly/P8qlKf

Texto II

Eu lembraria que são bens incompressíveis não apenas os que asseguram sobrevivência física em níveis

decentes, mas os que garantem a integridade espiritual. São incompressíveis certamente a alimentação, a moradia,

o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça pública, a resistência à opressão etc.; e

também o direito à crença, à opinião, ao lazer e, por que não, à arte e à literatura?”,

Antonio Cândido, O Direito à Literatura

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Curso Pré-ENEM 40 Linguagens

Texto III

REDAÇÃO As necessidades do homem

Iphones. Ipods. Imacs. Ipads. Computadores de última geração. Roupas de marca. Jóias. Carros importados. Habitação. Acesso à diversão e cultura. Viagens. Saúde e educação de qualidade. Com a Revolução Industrial, o conceito de necessidade começa a modificar-se. Nesse sentido, é possível dizer que, quando tal impulso ganha espaço no contexto sócio-político, o entendimento do que é indispensável à vida inverte-se.

O capitalismo é o principal responsável pelo consumismo, que se estabelece na vida das pessoas quase que numa relação de necessidade absoluta. Isso porque esse sistema incentiva a busca desenfreada por lucros, estimulando um modelo de vida em que a felicidade é alcançada a partir da obtenção de bens. Dessa forma, resta perceber que todo contato humano passa a basear-se na troca, já que, até mesmo as relações mais circunstanciais, são fundamentadas em um mínimo interesse, o que gera uma espécie de coisificação das relações pessoais, como afirmou Karl Marx.

Outra questão que influencia a mudança da definição de necessidade é o fato desse ser criado a partir de padrões sociais excludentes. Como apenas a classe social com maior poder aquisitivo tem acesso pleno ao que é visto como essencial, ela torna-se o exemplo a ser seguido pelas outras classes sociais. Dessa forma, as classes sociais menos favorecidas funcionam como engrenagem para a manutenção do sistema capitalista.

A humanidade abandonou a chamada “era dos homens” para adentrar a “era das coisas”. Com isso, bens antes vistos como luxos, hoje são vistos como necessidades básicas, ao passo que é crescente a insatisfação da maior parte da sociedade por não ter acesso a eles. Para mudar essa situação, é necessário que se criem leis que garantam o acesso irrestrito a todos os bens materiais e imateriais a todos os grupos sociais. Pois só assim a sociedade conseguirá de fato produzir uma realidade mais igual.

COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO

Introdução

Iphones. Ipods. Imacs. Ipads. Computadores de última geração. Roupas de marca. Jóias. Carros importados.

Habitação. Acesso à diversão e cultura. Viagens. Saúde e educação de qualidade. Com a Revolução Industrial, o

conceito de necessidade começa a modificar-se. Nesse sentido, é possível dizer que, quando tal impulso ganha

espaço no contexto sócio-político, o entendimento do que é indispensável à vida inverte-se.

Comentário: A função da introdução é, além apresentar o tema, se posicionar sobre o assunto. No caso

acima, o aluno utiliza o flash para introduzir o tema, o que se mostra como um recurso interessante, pois

faz com que o leitor visualize imagens sobre o assunto que irá ser abordado. No entanto, esse recurso

foi mal usado, pois o aluno utiliza muitos elementos quando cita as imagens, o que faz com que esse

recurso fique muito extenso no parágrafo e, em vez de contextualizar o leitor, provoca um distanciamento

inadequado entre a contextualização e a tese. Ele também utiliza o nome das marcas que, embora sejam

conhecidas, devem ser evitadas.

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Curso Pré-ENEM 41 Linguagens

Outra questão problemática é que o aluno afirma que o conceito de necessidade muda a partir da

Revolução Industrial, mas não explica o porquê de isso ocorrer. Além disso, não apresenta o posicionamento claro e

objetivo exigido pelo ENEM, pois sua tese fica implícita a partir da consideração de que “o entendimento do que é

indispensável à vida inverte-se”.

Sugestão de reescritura

Aparelhos eletrônicos. Roupas de marca. Habitação. Acesso à diversão e cultura. Saúde e educação de qualidade. A partir da Revolução Industrial, o conceito de necessidade começa a modificar-se, pois o homem deixa de buscar apenas aquilo que era essencial para sua subsistência e passa a voltar seu interesse ao supérfluo. Nesse sentido, é possível dizer que, quando tal impulso ganha espaço no contexto sócio-político, o entendimento do que é indispensável à vida inverte-se, uma vez que o consumo sobrepõe-se aos bens coletivos e imateriais.

Desenvolvimento 1

O capitalismo é o principal responsável pelo consumismo, que se estabelece na vida das pessoas quase que numa relação de necessidade absoluta. Isso porque esse sistema incentiva a busca desenfreada por lucros, estimulando um modelo de vida em que a felicidade é alcançada a partir da obtenção de bens. Dessa forma, resta perceber que todo contato humano passa a basear-se na troca, já que, até mesmo as relações mais circunstanciais, são fundamentadas em um mínimo interesse, o que gera uma espécie de coisificação das relações pessoais, como afirmou Karl Marx.

Comentário: A função dos parágrafos de desenvolvimento (argumentação) é discutir o tópico frasal escolhido a fim de problematizar um nicho da proposta. É fundamental que em cada parágrafo o redator defenda um ponto de vista claro e objetivo, pois somente o aprofundamento do debate pode garantir ao texto a qualidade argumentativa cobrada pelas bancas de vestibular.No primeiro parágrafo de desenvolvimento, o redator do texto defende o argumento de que “o capitalismo é o principal responsável pelo consumismo, que se estabelece na vida das pessoas quase que numa relação de necessidade absoluta”, o que significa dizer que a qualidade de vida no sistema capitalista é pautada pela obtenção de recursos materiais, o que pressupõe, é claro, a exclusão de uma parcela significativa da população. Esse argumento é bastante defensável e dialoga parcialmente com sua tese, no entanto, é preciso destacar alguns equívocos do ponto de vista formal do texto. Primeiro, o autor não expos da forma mais clara possível o seu tópico frasal. O período é confuso e as ideias se repetem. Depois ele apresenta a ideia de que tal sistema econômico é também simbólico ao dizer que ele “incentiva a busca desenfreada por lucros, estimulando um modelo de vida”, porém o autor não dá nenhum exemplo de como isso ocorre, o que dificulta o entendimento do argumento. Por último, é importante perceber que o redator utiliza um interessante mecanismo, que é o uso do argumento de autoridade. No entanto, ele não deixa claro o conceito além da redação do texto também não contribuir para que a estratégia funcione da melhor forma possível.

Sugestão de reescritura

Na perspectiva capitalista, o ato de consumir deixa de ser uma opção e torna-se uma necessidade para a sociedade. Isso porque esse sistema incentiva a busca desenfreada por lucros, estimulando, inclusive por meio da mídia, um modelo de vida em que a felicidade é alcançada a partir da obtenção de bens. Dessa forma, como afirma Karl Marx em seu conceito de Fetichismo da mercadoria, todo contato humano passa a basear-se na troca, já que, até mesmo as relações mais circunstanciais, são fundamentadas em um mínimo interesse, o que gera uma espécie de coisificação das relações pessoais.

Desenvolvimento 2

Outra questão que influencia a mudança da definição de necessidade é o fato desse ser criado a partir de padrões sociais excludentes. Como apenas a classe social com maior poder aquisitivo tem acesso pleno ao que é visto como essencial, ela torna-se o exemplo a ser seguido pelas outras classes sociais. Dessa forma, as classes sociais menos favorecidas funcionam como engrenagem para a manutenção do sistema capitalista.

Comentário: A O aluno, no 2º parágrafo de argumentação, relaciona o conceito de necessidade com a ideia de manipulação do sistema capitalista. É um argumento forte e bem-vindo, mas, no caso, ele é mal fundamentado. Isso porque o aluno cita que a classe social com maior poder aquisitivo torna-se exemplo para as demais classes sociais, mas não explica a relevância dessa constatação para o seu argumento. Além disso, conclui que “as classes sociais menos favorecidas funcionam como engrenagem para a manutenção do sistema capitalista”, mas não desenvolve essa ideia, mostrando como isso ocorre. Outro problema apresentado pelo aluno é a repetição da expressão “classe social”. Esse tipo de repetição é inadequado porque, além de tornar a leitura cansativa, mostra que o aluno não domina muito bem os recursos coesivos que dão conta de conectar o texto sem que ele fique repetitivo.

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Curso Pré-ENEM 42 Linguagens

Sugestão de reescritura

Outra questão que influencia a mudança da definição de necessidade é o fato desse ser criado a partir de padrões

sociais excludentes. Como apenas a classe social com maior poder aquisitivo tem acesso pleno ao que é visto como

essencial, ela torna-se o exemplo a ser seguido pelas outras camadas, que acabam por produzir mais na expectativa

de alcançar a tão sonhada qualidade de vida. Dessa forma, as parcelas sociais menos favorecidas funcionam como

engrenagem para a manutenção do sistema capitalista, pois elas garantem a mão de obra necessária para a produção

de bens que, na maioria das vezes, não poderão consumir.

Conclusão

A humanidade abandonou a chamada “era dos homens” para adentrar a “era das coisas”. Com isso, bens

antes vistos como luxos, hoje são vistos como necessidades básicas, ao passo que é crescente a insatisfação da

maior parte da sociedade por não ter acesso a eles. Para mudar essa situação, é necessário que se criem leis que

garantam o acesso irrestrito a todos os bens materiais e imateriais a todos os grupos sociais. Pois só assim a sociedade

conseguirá de fato produzir uma realidade mais igual.

Comentário: Na conclusão das redações de propostas ENEM, existem duas tarefas fundamentais: a primeira é

a retomada da tese, que possibilita o fechamento do texto além de uma reflexão sobre o acumulado ao longo da

dissertação; a segunda tarefa é a apresentação de proposta de conscientização social ( proposta de intervenção ) que respeite os direitos humanos.Na conclusão do texto, o redator retoma a tese a partir do conceito, já apresentado, de coisificação de Karl Marx. Seria interessante que a fonte fosse citada, pois isso garantiria a formação de um circuito textual, além de garantir a legitimidade da tese. Além disso, a proposta de intervenção citada é vaga e não atende à demanda de todas as problemáticas levantadas ao longo do texto. Por último, destaca-se o uso de ponto antes da conjunção, pois que, no geral, é utilizada para ligar orações coordenadas. No caso em questão, o mais correto seria a utilização de vírgula em lugar do ponto.

Sugestão de reescritura

Assim, segundo a perspectiva marxista, a humanidade abandonou a chamada “era dos homens” para adentrar a “era das coisas”. Com isso, bens antes vistos como luxos, hoje são vistos como necessidades básicas, ao passo que é crescente a insatisfação da maior parte da sociedade por não ter acesso a eles. Para a mudança dessa situação, é necessário o investimento em debates, nas escolas e instituições coletivas, que promovam a reflexão acerca da supervalorização dos bens materiais. Além disso, a partir dessa reflexão, deve haver programas do governo que viabilizem o consumo consciente da população, promovendo a todos a real possibilidade de alcance do que é preciso para uma vida plena.

COMENTÁRIO GERAL

As redações estilo ENEM se caracterizam, sobretudo, por suas especificidades formais. Cumprir os critérios ENEM significa dominar uma quantidade grande de atributos específicos de um texto. Daí a dificuldade que muitos encontram em aplicar de forma adequada os recursos interdisciplinares e a proposta de conscientização social (proposta de intervenção). É por isso que o planejamento do texto constitui-se como um mecanismo fundamental à boa produção de textos.

O tema “As necessidades do homem” busca a reflexão sobre o conceito de necessidade e sobre como essa ideia modificou-se a partir do período de vigência do regime capitalista de produção. É fundamental que o redator do texto tenha em mente a importância acerca dos motivos que levaram a humanidade a alterar seus valores em relação àquilo que é crucial à vida. É claro que também se deve levar em conta a impossibilidade de se viver sem alguns bens materiais que se sacramentaram na vida das pessoas com o passar do tempo, tal como a energia elétrica e alguns aparelhos eletrônicos. O fundamental é que o redator defenda de forma clara um ponto de vista que não desrespeite os direitos humanos, mas que problematize todas as questões pertinentes à alteração dos valores e até mesmo da inversão desses na lógica consumista de vida.

No texto “As necessidades do homem”, o redator conseguiu depreender de forma razoável o tema. Sua abordagem é inteligente e comporta um vasto campo de possibilidades argumentativas. No entanto, sua tese, por ficar suspensa, caracteriza uma falha argumentativa muito grave, pois a banca ENEM é clara ao dizer que o candidato deve defender um posicionamento claro e objetivo.

Também é importante notar que há algumas falhas estruturais ao longo do texto que não o comprometem em sua totalidade, mas parcialmente podem trazer dificuldades de entendimento, além de caracterizar equívocos coesivos. Há poucas incorreções gramaticais, mas é importante que se perceba que o uso repetitivo de algumas palavras torna o texto, em alguns momentos, redundante e enfadonho.

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Curso Pré-ENEM 43 Linguagens

Por último, vale ressaltar que a criatividade é sempre um elemento chave para a produção de um bom texto. Por isso, é possível dizer que a estratégia argumentativa utilizada pelo redator – argumento de autoridade – contribui para a fundamentação da tese, além de deixar o texto mais fluido. No entanto, é importante que outros dois aspectos criativos do texto sejam revistos: o primeiro é o título, que claramente é clichê, pois se trata da transcrição de parte da frase-tema; o segundo é a proposta de intervenção, que ocupa a plataforma 5 dos critérios ENEM, e, no texto “As necessidades do homem”, foi mal desenvolvida.

UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR

Realidade coisificada

Aparelhos eletrônicos. Roupas de marca. Habitação. Acesso à diversão e cultura. Saúde e educação de qualidade. A partir da Revolução Industrial, o conceito de necessidade começa a modificar-se, pois o homem deixa de buscar apenas aquilo que era essencial para sua subsistência e passa a voltar seu interesse ao supérfluo. Nesse sentido, é possível dizer que, quando tal impulso ganha espaço no contexto sócio-político, o entendimento do que é indispensável à vida inverte-se, uma vez que o consumo sobrepõe-se aos bens coletivos e imateriais.

Na perspectiva capitalista, o ato de consumir deixa de ser uma opção e torna-se uma necessidade para a sociedade. Isso porque esse sistema incentiva a busca desenfreada por lucros, estimulando, inclusive por meio da mídia, um modelo de vida em que a felicidade é alcançada a partir da obtenção de bens. Dessa forma, como afirma Karl Marx em seu conceito de Fetichismo da mercadoria, todo contato humano passa a basear-se na troca, já que, até mesmo as relações mais circunstanciais, são fundamentadas em um mínimo interesse, o que gera uma espécie de coisificação das relações pessoais.

Outra questão que influencia a mudança da definição de necessidade é o fato desse ser criado a partir de padrões sociais excludentes. Como apenas a classe social com maior poder aquisitivo tem acesso pleno ao que é visto como essencial, ela torna-se o exemplo a ser seguido pelas outras camadas, que acabam por produzir mais na expectativa de alcançar a tão sonhada qualidade de vida. Dessa forma, as parcelas sociais menos favorecidas funcionam como engrenagem para a manutenção do sistema capitalista, pois elas garantem a mão de obra necessária para a produção de bens que, na maioria das vezes, não poderão consumir.

A humanidade abandonou a chamada “era dos homens” para adentrar a “era das coisas”. Com isso, bens antes vistos como luxos, hoje são vistos como necessidades básicas, ao passo que é crescente a insatisfação da maior parte da sociedade por não ter acesso a eles. Para a mudança dessa situação, é necessário o investimento em debates, nas escolas e instituições coletivas, que promovam a reflexão acerca da supervalorização dos bens materiais. Além disso, a partir dessa reflexão, deve haver programas do governo que viabilizem o consumo consciente da população, promovendo a todos a real possibilidade de alcance do que é preciso para uma vida plena.

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Curso Pré-ENEM 44 Linguagens

Tema

O perfi l de cobrança do Enem 2

Tópico de estudoAnálise da coletânea e do tema de 2012.

Conceitos básicos e sua operacionalizaçãoAnalisar um tema antigo com profundidade é excelente caminho para consolidarmos nosso aprendizado sobre

as características da prova do Enem e para nos prepararmos para a prova deste ano.

Apresentamos, a seguir, algumas reflexões sobre o tema cobrado no ano passado. Primeiro, leia apenas a

proposta de redação e pense, sozinho, sobre suas características e sobre a melhor forma de abordar o tema. Em

seguida, acompanhe nossos comentários para ver que pontos precisam ser ajustados.

Boa aula!

Proposta de redação

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo

de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema

O MOVIMENTO IMIGRATÓRIO PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI, apresentando proposta de intervenção,

que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos

para defesa de seu ponto de vista.

Ao desembarcar no Brasil, os imigrantes trouxeram muito mais anseio de refazer suas vidas trabalhando

nas lavouras de café e no início da indústria paulista. Nos séculos XIX e XX, os representantes de mais de 70

nacionalidades e etnias chegaram com o sonho de “fazer a América” e acabaram por contribuir expressivamente

para a história do país e para cultura brasileira. Deles, o Brasil herdou sobrenomes, sotaques, costumes, comidas e

vestimentas.

A história da migração humana não deve ser encarada como uma questão relacionada exclusivamente ao

passado: há a necessidade tratar sobre deslocamentos mais recentes.Disponível em: HTTP://museudaimigracao.org.br

Acre sofre com invasão de imigrantes do Haiti

Nos últimos três dias de 2011, uma leva de 500 haitianos entrou ilegalmente no Brasil pelo Acre, elevando para

1400 a quantidade de imigrantes daquele país no município de Brasileia (AC). Segundo o secretário-adjunto de

Justiça e Direitos Humanos do Acre, José Henrique Corinto, os haitianos ocuparam a praça da cidade. A Defesa

Civil do estado enviou galões de água potável e alimentos, mas ainda não providenciou abrigo.

A imigração ocorre porque o Haiti ainda não se recuperou dos estragos causados pelo terremoto de janeiro de

2010. O primeiro grande grupo de haitianos chegou a Brasileia no dia 14 de janeiro de 2011. Deste então, a entrada

ilegal continua, mas eles não são expulsos: obtêm visto humanitário e conseguem tirar carteira de trabalho e CPF

para morar e trabalhar no Brasil.

Segundo Corinto, ao contrário do que se imagina, não são haitianos miseráveis que buscas o Brasil para viver,

mas pessoas da classe média do Haiti e profissionais qualificados, como engenheiros, professores, advogados,

pedreiros, mestres de obras e carpinteiros. Porém, a maioria chega sem dinheiro.

Os brasileiros sempre criticaram a forma como os países europeus tratavam imigrantes. Agora, chegou a nossa

vez – afirma Corinto.Disponível em : HTTP://www.dpf.gov.br

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Curso Pré-ENEM 45 Linguagens

Trilha da Costura

Os imigrantes bolivianos, pelo último censo, são mais de 3 milhões, com população de aproximadamente 9,119 milhões de pessoas. A Bolívia em termos de IDH ocupa a posição de 114º de acordo com os parâmetros estabelecidos pela ONU. O país está no centro da América do Sul e é o mais pobre, sendo 70% da população considerada miserável. Os principais países para onde os bolivianos imigrantes dirigem-se são: Argentina, Brasil, Espanha e Estados Unidos.

Assim sendo, este é o quadro social em que se encontra a maioria da população Boliviana, estes dados já demonstraram que as motivações do fluxo de imigração não são políticas, mas econômicas. Como a maioria da população tem baixa qualificação, os trabalhos artesanais, culturais, de campo e de costura são os de mais fácil acesso.

OLIVEIRA, R.T. Disponível em: HTTP://www.ipea.gov.br

Instruções• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.• A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada insuficiente e receberá nota zero.• A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. • A redação que apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos receberá nota zero.• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de

linhas copiadas desconsiderado para efeitos de correção.

COMENTÁRIOS

1. A opção de tema

No seu edital, o Enem deixa claro que sua proposta da Redação é elaborada de forma a possibilitar que os participantes, a partir de uma situação problema e de subsídios oferecidos, realizem uma reflexão escrita sobre um tema de ordem política, social ou cultural, produzindo um texto de tipo dissertativo-argumentativo.

Por isso, não chega a causar surpresa a opção pelo tema O MOVIMENTO IMIGRATÓRIO PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI. Além de exigir dos candidatos uma reflexão sobre uma questão importantíssima dentro do quadro socioeconômico atual, a banca sai de questões mais óbvias, como a violência e o meio ambiente, permitindo que os candidatos mais bem preparados sobressaiam. Prova maior ainda desse refinamento é que a “situação problema”, mencionada no edital, não aparece explicitamente na frase-tema. Caberia ao candidato refletir sobre essa questão, com auxílio da coletânea, para que se pensasse no desafio suscitado e na intervenção necessária.

2. A frase-tema

É sempre importante começarmos uma dissertação pela análise das palavras que compõem a frase-tema. Repare que, embora a coletânea induzisse o candidato a focar casos específicos, como o dos haitianos e bolivianos, a frase em questão sugere que a preocupação deveria recair sobre o fenômeno “movimento imigratório para o Brasil” na atualidade e no futuro próximo (“século XXI”).

3. Coletânea

Composta por três textos, como já é costumeiro no Enem, a coletânea oferecida aos candidatos dava plenos subsídios para que uma redação consistente pudesse ser elaborada, ainda que não se tivesse conhecimento prévio sobre a questão.

O primeiro texto procura demonstrar que o acolhimento de imigrantes não é um fenômeno estranho à nossa cultura. Pelo contrário, nossa formação identitária revela traços inequívocos da presença de diferentes culturas em nosso território, em diálogo permanente. Em vez de um “lugar para trabalhar”, os imigrantes buscariam “um novo lar”.

A matéria sobre os haitianos ilegais no Acre é bastante provocativa. Depois de apresentar elementos referenciais no primeiro parágrafo, o locutor, sutilmente, passa a manifestar sua subjetividade. Perceba que a construção “Deste então, a entrada ilegal continua, mas eles não são expulsos” é, argumentativamente, favorável à permanência do grupo de imigrantes no território. Para fundamentar sua tese, ele aponta justificativas humanitárias (obtêm visto humanitário e conseguem tirar carteira de trabalho e CPF para morar e trabalhar no Brasil). O texto deixa claro, ainda, que não são apenas pessoas miseráveis que buscam abrigo na nossa terra, mas também profissionais qualificados que, sem dinheiro, buscam oportunidades de reconstruir suas vidas. O secretário-adjunto José Henrique Corinto deixa no ar uma reflexão importante: “Os brasileiros sempre criticaram a forma como os países europeus tratavam imigrantes. Agora, chegou a nossa vez”.

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Curso Pré-ENEM 46 Linguagens

O último texto aborda a questão dos bolivianos que, por viverem em condições miseráveis, têm procurado abrigo em países mais desenvolvidos, como o Brasil, dando ênfase à questão econômica para justificar esse movimento.

Em resumo, eis as ideias centrais:

Texto I

O Brasil é, histórica e culturalmente, bastante receptivo à imigração.

Texto II

Brasileiros sempre criticaram outros países pela intolerância e pelo desrespeito aos direitos humanos.Há pessoas qualificadas que buscam o nosso território.

Texto III

Brasil como potência regional, principalmente no que se refere à pujança econômica.

4. A relação entre a frase-tema e a coletânea: problematização

A coletânea nos permite entender o problema a ser enfrentado e para o qual se deve propor uma intervenção. É inegável que estamos diante de um processo de imigração (cujo destino é o Brasil), motivado pelo atual cenário de estabilidade econômica. Também é certo que nosso país sempre buscou a interação com diversas culturas para crescer. No entanto, estaríamos preparados para lidar com essa questão, dentro da conjuntura atual?

Muito mais que apenas explicar o movimento migratório (suas causas e consequências) era fundamental que se refletisse sobre o desafio que nos está sendo imposto por essa circunstância histórica, para que pudéssemos assumir uma tese, argumentar para sustentá-la e propor uma intervenção, com respeito aos direitos humanos.

5. Encaminhamentos possíveis

É perfeitamente possível que o candidato se posicione em qualquer dos polos dessa discussão. Parece que expressiva parte dos candidatos se posicionou contra a entrada de imigrantes ilegais, alegando que já

teríamos mão de obra abundante e que precisaríamos garantir emprego e oportunidade para brasileiros, num país que ainda vive grandes desigualdades sociais.

Optando por esse viés argumentativo, deve-se tomar cuidado para que a proposta de intervenção respeite os direitos humanos e para que ela não seja utópica. Por exemplo, sugerir o patrulhamento das fronteiras, a exemplo do que fazem os americanos na divisa com o México, num país com nossas dimensões continentais, pode soar utópico. Uma boa possibilidade seria propor a cooperação econômica entre Brasil e países vizinhos, para que eles se fortalecessem, e seus habitantes não buscassem a imigração como forma de reconstruir a vida.

Outra parte dos candidatos mostrou-se favorável à inclusão desses imigrantes à nossa sociedade, apoiando-se em questões humanitárias, na diversidade característica da nossa formação cultural e no potencial econômico a ser desenvolvido no país.

Nessa linha, seria interessante propor, por exemplo, que se permitisse a incorporação digna desses novos membros à sociedade, fazendo com que eles tenham acesso a emprego e a programas sociais oferecidos pelo governo à população de baixa renda. Sob outro aspecto, o candidato poderia defender a necessidade de reforçarmos as bases do respeito e da tolerância no nosso território, para evitarmos episódios de violência (física e moral) que muitos países desenvolvidos enfrentam há anos.

NOTA: OUTRAS POSSIBILIDADES PODEM SER ACEITAS.

Itens para avaliaçãoDepois de rever conteúdos desenvolvidos nas nossas aulas, analise a seguinte redação apresentada, com base no tema Enem – 2012.

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Curso Pré-ENEM 47 Linguagens

Conceitos básicos e sua operacionalizaçãoREDAÇÃO

Muito se tem discutido acerca da construção da identidade de uma nação, que se estabelece pelas diferentes heranças culturais e étnicas recebidas ao longo de sua formação. Dessa forma, é inegável a importância da presença de imigrantes pra este processo no Brasil, sejam eles europeus, africanos ou asiáticos; livres ou cativos. Ainda hoje, pode-se perceber um constante fluxo migratório para o país, por conta da estabilidade econômica e do crescimento vivenciados, o que denota a necessidade de análise e compreensão desse fenômeno. Assim, como visto acima, o Brasil vem assumindo posição de destaque no cenário internacional, sobretudo, como defensor dos países em desenvolvimento.

Entretanto, embora seja visto como um país multicultural e que aceita bem a entrada de pessoas, é inegável a presença da xenofobia e do protecionismo no Brasil. A intolerância é visível e não são raros os casos de discriminações ao estrangeiro. O que se deve à criação da ideia da necessidade do fluxo como unilateral, acreditando-se que só quem chega possui bons motivos para a sua permanência. Mas o não reconhecimento da bilateralidade dessa inserção, de como o país também tem a ganhar com a imigração, é uma forma simplista de negação da própria sintaxe da sociedade brasileira.

Por outro lado, é inegável os benefícios políticos que podem ser trazidos pela boa relação do Brasil com os imigrantes. A possibilidade de apresentar uma nova forma de lidar com os imigrantes traz uma diferenciação em relação às políticas de contenção de outros países. O desafio, muito maior que a construção de barreiras físicas, é a adoção, pelo governo brasileiro, de uma postura independente e conciliadora com os imigrantes que buscam o país para uma melhoria de vida. Dessa forma, pode-se conquistar uma afirmação no cenário internacional.

Conclui-se que é fundamental que haja uma postura receptiva e, principalmente, humanitária em relação aos imigrantes. O controle da entrada não deve ser algo feito por barreiras físicas ou violações aos direitos humanos, como ocorre em diversos países, mas por uma fiscalização regularizada. Essa deve existir de forma que vise não um leviano impedimento, mas uma correta inserção do imigrante, de forma que esse tenha os subsídios necessários, por meio de uma expansão e adequação de políticas públicas, para a promoção de crescimento pessoal e, consequentemente, nacional.

COMENTÁRIOS

Introdução

Muito se tem discutido acerca da construção da identidade de uma nação, que se estabelece pelas diferentes heranças culturais e étnicas recebidas ao longo de sua formação. Dessa forma, é inegável a importância da presença de imigrantes pra este processo no Brasil, sejam eles europeus, africanos ou asiáticos; livres ou cativos. Ainda hoje, pode-se perceber um constante fluxo migratório para o país, por conta da estabilidade econômica e do crescimento vivenciados, o que denota a necessidade de análise e compreensão desse fenômeno. Assim, como visto acima, o Brasil vem assumindo posição de destaque no cenário internacional, sobretudo, como defensor dos países em desenvolvimento.

Comentário: No primeiro parágrafo, o redator introduz o tema por meio de “muito se tem discutido”, que além de ser uma expressão clichê, afasta o redator da temática, sendo inadequada para uma dissertação argumentativa. Nesse parágrafo, apresentam-se os desvios gramaticais: o emprego da forma contraída pra, sendo o mais adequado o uso de “para” e o emprego do pronome demonstrativo “este”, quando na verdade caberia em seu lugar o vocábulo anafórico “esse”. Além disso, a construção “como visto acima” é problemática, pois não estabelece textualmente uma relação semântica clara com as ideias apresentadas anteriormente, além de se caracterizar como uma forma de pouco engajamento do texto.

Sugestão de Reescritura

A construção da identidade de uma nação se estabelece pelas diferentes heranças culturais e étnicas recebidas ao longo de sua formação. Dessa forma, é inegável a importância da presença de imigrantes para esse processo no Brasil, sejam eles europeus, africanos ou asiáticos; livres ou cativos. Ainda hoje, pode-se perceber um constante fluxo migratório para o país, por conta da estabilidade econômica e do crescimento vivenciados. Com isso, denota-se a necessidade de análise e compreensão desse fenômeno, uma vez que o Brasil vem assumindo posição de destaque no cenário internacional, sobretudo como defensor dos países em desenvolvimento.

Desenvolvimento 1

Entretanto, embora seja visto como um país multicultural e que aceita bem a entrada de pessoas, é inegável a presença da xenofobia e do protecionismo no Brasil. A intolerância é visível e não são raros os casos de

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Curso Pré-ENEM 48 Linguagens

discriminações ao estrangeiro. O que se deve à criação da ideia da necessidade do fluxo como unilateral,

acreditando-se que só quem chega possui bons motivos para a sua permanência. Mas o não reconhecimento da

bilateralidade dessa inserção, de como o país também tem a ganhar com a imigração, é uma forma simplista de

negação da própria sintaxe da sociedade brasileira.

Comentário: Nesse parágrafo, inicialmente, há a utilização inadequada da conjunção “entretanto” que expressa,

predominantemente, uma desconstrução de ideias anteriormente apresentadas. Sua aplicação antecipada ocasiona

uma oposição do que foi exposto na tese, o que prejudica a credibilidade do texto. Outro problema é a coesão entre

os períodos, que ficaram desconexos. Isso é agravado pelo uso da conjunção “mas” iniciando o quarto período, já

que essa é intrafrasal.

Sugestão de Reescritura

Embora seja visto como um país multicultural e que aceita bem a entrada de pessoas, é inegável a presença

da xenofobia e do protecionismo no Brasil. A intolerância é visível e não são raros os casos de discriminações ao

estrangeiro. Isso se deve à criação da ideia da necessidade do fluxo como unilateral, acreditando-se que só quem

chega possui bons motivos para a sua permanência. Entretanto, o não reconhecimento da bilateralidade dessa

inserção, de como o país também tem a ganhar com a imigração, é uma forma simplista de negação da própria

sintaxe da sociedade brasileira.

Desenvolvimento 2

Por outro lado, é inegável os benefícios políticos que podem ser trazidos pela boa relação do Brasil com os

imigrantes. A possibilidade de apresentar uma nova forma de lidar com os imigrantes traz uma diferenciação em

relação às políticas de contenção de outros países. O desafio, muito maior que a construção de barreiras físicas, é a

adoção, pelo governo brasileiro, de uma postura independente e conciliadora com os imigrantes que buscam o país

para uma melhoria de vida. Dessa forma, pode-se conquistar uma afirmação no cenário internacional.

Comentário: Nesse parágrafo, há desvio de regência no uso de “é inegável”, quando deveria ser usado “são

inegáveis”. Em relação à argumentação, ficou vaga a ideia da contenção de outros países, devendo ser melhor

explicado como esses países impedem a entrada de estrangeiros. Além disso, há a repetição do termo “imigrantes”,

o que compromete a fluência textual.

Sugestão de Reescritura

Por outro lado, são inegáveis os benefícios políticos que podem ser trazidos pela boa relação do Brasil com

os imigrantes. A possibilidade de apresentar uma nova forma de lidar com o estrangeiro traz uma diferenciação

em relação às políticas de contenção de outros países, como a construção de muros, adotada por países como

Estados Unidos, na fronteira com o México, e pela Espanha, na cidade de Celta. O desafio, muito maior que a

construção de barreiras físicas, é a adoção, pelo governo brasileiro, de uma postura independente e conciliadora com as

pessoas que buscam o país para uma melhoria de vida. Dessa forma, podendo conquistar uma afirmação no cenário

internacional.

Conclusão

Conclui-se que é fundamental que haja uma postura receptiva e, principalmente, humanitária em

relação aos imigrantes. O controle da entrada não deve ser algo feito por barreiras físicas ou violações aos direitos

humanos, como ocorre em diversos países, mas por uma fiscalização regularizada. Essa deve existir de forma que

vise não um leviano impedimento, mas uma correta inserção do imigrante, de forma que esse tenha os subsídios

necessários, por meio de uma expansão e adequação de políticas públicas, para a promoção de crescimento pessoal e,

consequentemente, nacional.

Comentário: Nesse parágrafo, em um primeiro momento, localiza-se a expressão “conclui-se que” que revela

pouco engajamento textual e constitui um clichê recorrente em textos argumentativos. Com relação ao emprego da

norma culta da língua, pode-se destacar o uso inapropriado da palavra “algo”, que não apresenta um significado

delimitado e o desvio de regência do verbo “visar” que, no sentido de almejar, é transitivo indireto.

Sugestão de Reescritura

Pensar que o estrangeiro em nada contribui para o Brasil é reducionista e até mesmo injusto. Por isso, é fundamental que haja uma postura receptiva e, principalmente, humanitária em relação aos imigrantes. O controle da entrada não deve ser feito por barreiras físicas ou violações aos direitos humanos, como ocorre em diversos países, mas por uma fiscalização regularizada. Essa deve existir de forma que vise não a um leviano impedimento, mas a uma correta inserção do imigrante, de forma que esse tenha os subsídios necessários, por meio de uma expansão e adequação de políticas públicas, para a promoção de crescimento pessoal e, consequentemente, nacional.

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Curso Pré-ENEM 49 Linguagens

VISÃO GLOBAL + BANCA ENEM

O tema, “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI” delimita bem as ideias que deveriam ser tratadas como foco. Com isso, o redator deveria escolher de forma clara e objetiva qual seria a sua abordagem, se contra ou a favor da entrada de imigrantes no Brasil. Nesse aspecto, o texto cumpriu bem a sua função, tendo uma tese consistente, a de que a presença de imigrantes é fundamental para a construção da identidade do brasileiro, que, por isso, deve receber bem o estrangeiro.

Embora o Manual do ENEM mencione que o título não é obrigatório, trata-se de um elemento importante para a diferenciação do candidato. Nesse caso, o redator optou por não colocá-lo, perdendo a oportunidade de deixar seu texto mais criativo.

Em relação ao domínio da norma culta, há alguns desvios, que mesmo não muito graves, podem comprometer a qualidade do texto. Esses problemas foram o emprego da forma contraída pra, sendo o mais adequado o uso de “para”, o emprego do pronome demonstrativo “este”, quando na verdade caberia em seu lugar o vocábulo anafórico “esse”, desvio de regência no uso de “é inegável”, quando deveria ser usado “são inegáveis”, o uso inapropriado da palavra “algo”, que não apresenta um significado delimitado e o desvio de regência do verbo “visar” que, no sentido de almejar, é transitivo indireto.

Quanto à compreensão da proposta, o redator foi coerente na defesa da sua tese, respeitando os limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. Em relação à aplicação de conceitos de diversas áreas de conhecimento, ele poderia ter sido mais eficiente, explorando melhor a diferenças entre a postura do Brasil e a de outros países.

No que concerne à argumentação, o texto possui bons argumentos, mas, no segundo parágrafo de desenvolvimento, ficou vaga a ideia da contenção de outros países, devendo ser mais bem explicado como esses países impedem a entrada de estrangeiros.

Em relação ao conhecimento dos mecanismos linguísticos, o redator comete desvios mais graves. A coesão entre os períodos não é bem feita. Há o uso da conjunção “mas”, intrafrasal, iniciando período. Além disso, há empilhamento de ideias desconexas, o que deixa a redação confusa. Há ainda a repetição de vocábulos e o uso do conectivo “conclui-se” que revela pouco engajamento textual e constitui um clichê recorrente em textos argumentativos.

A proposta de intervenção foi eficiente, trazendo uma intervenção possível e que respeita os direitos humanos.

REDAÇÃO EXEMPLAR

Sem muros

A construção da identidade de uma nação se estabelece pelas diferentes heranças culturais e étnicas recebidas ao longo de sua formação. Dessa forma, é inegável a importância da presença de imigrantes para esse processo no Brasil, sejam eles europeus, africanos ou asiáticos; livres ou cativos. Ainda hoje, pode-se perceber um constante fluxo migratório para o país, por conta da estabilidade econômica e do crescimento vivenciados. Com isso, denota-se a necessidade de análise e compreensão desse fenômeno, uma vez que o Brasil vem assumindo posição de destaque no cenário internacional, sobretudo como defensor dos países em desenvolvimento.

Embora seja visto como um país multicultural e que aceita bem a entrada de pessoas, é inegável a presença da xenofobia e do protecionismo no Brasil. A intolerância é visível e não são raros os casos de discriminações ao estrangeiro. Isso se deve à criação da ideia da necessidade do fluxo como unilateral, acreditando-se que só quem chega possui bons motivos para a sua permanência. Entretanto, o não reconhecimento da bilateralidade dessa inserção, de como o país também tem a ganhar com a imigração, é uma forma simplista de negação da própria sintaxe da sociedade brasileira.

Por outro lado, são inegáveis os benefícios políticos que podem ser trazidos pela boa relação do Brasil com os imigrantes. A possibilidade de apresentar uma nova forma de lidar com o estrangeiro traz uma diferenciação em relação às políticas de contenção de outros países, como a construção de muros, adotada por países como Estados Unidos, na fronteira com o México, e pela Espanha, na cidade de Celta. O desafio, muito maior que a construção de barreiras físicas, é a adoção, pelo governo brasileiro, de uma postura independente e conciliadora com as pessoas que buscam o país para uma melhoria de vida. Dessa forma, podendo conquistar uma afirmação no cenário internacional.

Pensar que o estrangeiro em nada contribui para o Brasil é reducionista e até mesmo injusto. Por isso, é fundamental que haja uma postura receptiva e, principalmente, humanitária em relação aos imigrantes. O controle da entrada não deve ser feito por barreiras físicas ou violações aos direitos humanos, como ocorre em diversos países, mas por uma fiscalização regularizada. Essa deve existir de forma que vise não a um leviano impedimento, mas a uma correta inserção do imigrante, de forma que esse tenha os subsídios necessários, por meio de uma expansão e adequação de políticas públicas, para a promoção de crescimento pessoal e, consequentemente, nacional.