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Amenosdeumanodoprazoparaaextinçãodoslixõesbrasileiros,velhosproblemaspersistem.Háumgrandecontingentedetrabalhadoresaserem

recolocadosnomercadodareciclagem.Elesbuscam,noslixões,umaocupaçãoquenãoexigemuitoalémderesistênciafísica.Essadiscussão

continuaamanhãemoutrocadernoespecial

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lixõescearenses

FOTO: FABIANEDEPAULA

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NolixãodeIguatu,asmulheressãoamaioriaabsolutaentreostrabalhadoresquedisputammateriais

PROTAGONISTA

SOBREVIVÊNCIA

O lixão de Iguatu, município doCentro-Sul do Ceará, distante388quilômetrosde Fortaleza,sedestacapor ficarà beira daestra-da, bem à vista dos passantes.Lá, nos chamou a atenção o fatode a maioria dos catadores per-tencer ao sexo feminino.

De todas as idades, elas têmmuitas histórias para contar,quase sempre relacionadas aodesejo de manter suas famíliascomo podem.

Metódicas, ao perceber a che-gada de um novo caminhão delixo, elas se posicionam, cadauma como o seu gancho (instru-

mento utilizado para puxar dolixo os materiais que interessamà reciclagem). O que cada umaconsegue pegar é seu.

Aproximadamente 20 minu-tos após a saída do caminhão,cada uma já tem o seu sacolãocheio e retorna aos local ondereserva o seu material para ven-der aos atravessadores, que nor-malmente têm dia e hora paravisitar o lixão.

Nessa caminhada de volta, euacompanhei Antônia até meioconstrangida em ficar fazendoperguntas enquanto ela cami-nhava, sob o sol forte, puxandoseupesadofardo.Afinal,500qui-los de plástico são R$ 540 a maisno bolso.

Caminhão vai, caminhãovem... São vários ao longo dodia... “E nós devora (sic) tudo!”Antônia Pereira Lima, 38, setefilhos, moradora da Chapadi-nha, comunidade próxima aolixão, é uma guerreira como tan-tas outras catadoras que ouvi-mos, mas com uma diferença: a

espontaneidade. Ela fala semmedo sobre tudo o que pensa.Conta que chegou a trabalharem casa de família, mas que eradifícil. “Quando um filho adoe-cia, precisava justificar para fal-tar. Hoje mesmo, cheguei maistarde porque tive que levar umfilho pra fazer exame. Só queaqui não devo satisfação a nin-guém”, afirma.

“Façomeuhorário”

Esse tipo de frase foi um dos quemais ouvimos ao longo de oitodias de trabalho nos lixões dointerior do Estado do Ceará. An-tônia conta que bota os filho pa-ra o colégio e segue para o lixão,onde seleciona materiais reci-cláveis das 7 às 17 horas, ao ladodo seu companheiro. “A gentetrabalha pra gente mesmo, semter hora pra chegar e pra sair”.

Ainda assim, seu maior temordiante das mudanças previstascom a nova Política Nacional deResíduos Sólidos é que a Prefei-turaosretiredolixãoenãoofere-ça nenhuma alternativa paramanter o sustento deles.

Com chapéu, mangas e calçascompridas, muito magra e apa-rência de cansaço dessa vida du-ra,apesardaausênciadecobran-ças, Francisca Feitosa de Souza,58, mais conhecida como donaColô, nos conta que tem vividoentre o lixão e a casa dos quatrofilhos,emVitória(ES).Umépor-teiro, outro cuida de uma cháca-ra e as duas filhas trabalham co-mo empregadas domésticas.“Eles mandam uma ajuda quan-do podem”, relata.

“Quando vi que dava ao me-nos para conseguir o que comer,vim para cá. O ganho é muitopouco, mas pelo menos não temninguémchateando”,afirmado-na Colô, que exerce o ofício decatadora de recicláveis há 11anos no lixão de Iguatu, após tertrabalhado também como em-pregada doméstica.

“Vim pra cá porque não acha-va serviço”, comenta com gran-de disposição, apesar da aparen-te fragilidade. Por fim, confessaque, ao contrário das outras pes-soas, não consegue se alimentarno lixão. “Tomo café com pãoantes de sair de casa de manhã esó como de novo quando volto,depois das 5 horas”. Ela mora nacidade e vai para o lixão todo diade carona na bicicleta do irmão,que sempre trabalhou por lá, ouno caminhão da coleta.

Portodaavida

Marleide Alves Pinheiro, 28, aos9anosfoimorarnolixãodeIgua-tu.Hojejánãomoramaislá,masainda trabalha, e muito. Ela temesperança de dias melhores eacha que, se não tivesse catadorna cidade, o caminhão traria umganho melhor no seu dia a dia.

Lá,comoemoutroslixõesquepercorremos no interior do Cea-rá, encontramos Resíduos Sóli-dos de Saúde (RSS), ou, comotodos estão acostumados, “lixohospitalar”. Marleide, como to-dososoutroscatadoresqueouvi-mos, admite que já levou suasagulhadas. “A gente tem medode pegar doenças, mas fazer oquê? É pegar ou largar”, afirma.

Aproximadamente 60 famí-lias vivem daquele lixão, dasquais48 são associadas à entida-de criada para organizá-los embusca de benefícios comuns. Esãoelesmesmosquedenunciamo abandono do novo aterro sani-tário com centro de triagem,construído no município paradisciplinar adestinação final dosseus resíduos sólidos.

A construção foi iniciada em2006. Em outubro de 2008 hou-ve audiência para apresentar oestudo e o relatório de impactoambiental (EIA/Rima). Mas foiembargada pela Justiça em mar-ço de 2010, pois, apesar de tersido licenciada pela Superinten-dência Estadual do Meio Am-biente(Semace),ambientalistase representantes da Justiça nomunicípio (promotores e juiz)entendem que o aterro sanitárioestánaáreadoentornodaLagoadoJulião, propíciaaalagamentono período chuvoso; e seria, por-tanto, uma área inadequada pa-ra esse tipo de ocupação.

Fumaça

Por outro lado, a obra tambémfoi alvo, em junho de 2009, daOperaçãoFumaça,daPolíciaFe-deral, que apura, em vários mu-nicípios, desvios de recursos pú-blicos em obras com a participa-ção da Fundação Nacional deSaúde (Funasa).

A Operação resultou em umaAçãoCivilPúblicadeImprobida-de Administrativa contra o pre-feitodeIguatu.Oprocessoaindaestá tramitando na 25ª Vara daJustiça Federal.

Antônia é uma guerreira como ou-

tras catadoras do lixão de Iguatu.

Mãedesetefilhos,falacomesponta-

neidadeesemmedooquepensa.Já

trabalhou em casa de família. Esco-

lheuavidadecatadora,pelaflexibili-

dadedehorário.Masissonãosignifi-

ca que o trabalho seja menor. Ela

costuma ficar por sete horas segui-

das catando lixo. A cada caminhão

que chega a história se repete e a

correriaégrande.Eladisputacomas

colegasosmateriaismaisinteressan-

tesedevalorparareciclagem.Carre-

gandoumpesadofardo,paravalera

pena sua presença no lixão, Antônia

segueseucaminho.

ANTÔNIAPEREIRALIMA

Catadora

Aguerreiraealutadiárianolixãode Iguatu

48desses grupos familiaressão

associadosàentidadecriadapara

organizá-losembuscade

benefícioscomuns.Elesdenunciam

oabandonodonovoaterro

60famílias retiramsuasobrevivência

do lixãode Iguatuobtendoseu

sustentocomacoletadiáriade

resíduossólidosdepositados

diariamenteno local

COrganizadas,elasseparamo

materialdescartado

poroutrasfamílias

FOTO: FABIANEDEPAULA

MARISTELACRISPIM

Editora

EDITORAVERDESMARESLTDA. -PRAÇADAIMPRENSA,S/N-DIONÍSIOTORRES-CEP-60.135-690-FORTALEZA-CEARÁ-DIRETORSUPERINTENDENTE:PÁDUALOPES -DIRETOREDITOR: ILDEFONSORODRIGUES -DIRETORINDUSTRIAL:A.CAPIBARIBENETO -GERENTEGERALDECOMERCIALIZAÇÃO:RUYDOCEARÁFILHO -GERENTEADMINISTRATIVO:LÍDIOJOSEFERNANDESFERREIRA -TELEFONE: (85)3266.9783 (EDITORIADEREPORTAGEM)-FAX: (85)3266.9797 -EDIÇÃO:MARISTELACRISPIM -TEXTOS:EMERSONRODRIGUES,FERNANDOMAIAEMARISTELACRISPIM -FOTOGRAFIAS:FABIANEDEPAULAEWALESKASANTIAGO -CONCEITO/DESIGNEDITORIAL:FELIPEGOES -REVISÃO:EDUARDOSOLON,LÚCIACOELHOEVÂNIAMONTE

2 | DIÁRIO DO NORDESTE

FORTALEZA, CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2013

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Umagaleriadearteemmeioaolixotorna-seespaçodeexpressãodaindignaçãocomonossoconsumismo

Fazerdaquiloquefoidescartadoalgo que produza outros signifi-cadosé algoquevem movendoaprodução artística desde que anatureza passou a não dar maisconta de absorver os resíduosgerados pela nossa civilização.

Nesta nossa incursão peloslixões do Estado do Ceará, antesmesmode parar ocarro, no lixãodeAracati,municípiopraianolo-calizado a 154 quilômetros deFortaleza, uma figura curiosa,vestida com paletó, camiseta dedivulgação dele mesmo e comdreads nos cabelos, nos chamoua atenção. Pelo visto, tambémchamamos a atenção dele, que,mesmo sem largar os vasilha-mes que conduzia para pegarágua,foiaténós,ávidopordivul-garotrabalhoquevemdesenvol-vendo naquele lugar.

Poeta, compositor, artistaplástico,decoradorexótico,fotó-grafo,artesão,arteeducador,vo-luntário, tecelão, ombro amigo,lixeiro e liso. Assim Paulo Perei-ra da Silva (foi duro arrancaressenome dele) ou simplesmen-te Paulinho Cariri, 47, se define.Nascido e criado em Aracati, seintitula, também, como gueva-riano e ex-militante pró-Lula.

Sua ideia atual, de montar omaior museu do lixo da AméricaLatina, surgiu a partir de umaexperiência vivida entre os anosde 2004 e 2006. Seu objetivo erapassar 100 dias sem banho, nolixãodeMossoró,municípiolito-râneo do Rio Grande do Nortelocalizadoa92,4 quilômetrosdeAracati e a 278 quilômetros deNatal. “Eu gosto de desafios”,afirma o poeta do lixo. Só queessa empreitada em terras poti-guares não foi a bom termo. Elesóaguentou85dias.“Meucorpo

começouapapocar equando tomei banhotiveumchoque térmico que durou três dias. Fiz isso por-que fui rejeitado pela sociedade intelectual deMossoró”, conta.

Paulinho Cariri nos conta que foi para o Lixãode Aracati em 2007, depois de passar quatro me-ses dando oficina na Fundação da Criança e daFamília Cidadã (Funci), da Prefeitura de Fortale-za.“Antes euera umsonhadornomeiodomundo.Hoje eu sou também um catador de material reci-clávelcomoobjetivoderealizarumsonho”,decla-ra sem parar de andar e mostrar objetos quecoleciona e também suas produções artísticas.

No local, Paulinho Cariri criou uma espécie de“casa de lixo” com coisas que vai garimpando.Temsala,quarto,cozinhaeatégaleriaondeexpõesuasobras quediz não venderporque aarte foiumdom que Deus lhe deu para presentear e expor.

“Hoje eu sobrevivo integralmente do lixo. Te-nho um organismo de porco. Já comi alimentovencido há três anos”, diz, mostrando, em sua“dispensa” um pacote de macarrão, feijão, umpote de maionese e outras coisas difíceis de deci-frar num olhar.

“Já tô com saudade porque isso aqui vai aca-bar...Vaiviraraterro...Todomundoparaumdia...Eu quero ter um lixão no meu quintal! Quero serenterrado no lixo”, declara ao ser perguntadosobre a implantação da nova Política Nacional deResíduos Sólidos (PNRS).

Depois de 17 anos de dread, 20 de estrada emais alguns de lixão, Paulinho Cariri usa, além dequadros, esculturas e instalações, a poesia para seautodefinir e falar.

Francisco Daniel dos Santos, 30 (11 no lixão deAracati), afirma que Paulinho Cariri ajuda a ani-mar o duro dia a dia. Ele conta que 40 catadorestrabalham no local e que todos estão cansados depromessas de políticos. O material coletado é re-

passado a um atravessador de Cascavel, outromunicípio praiano, que fica a 86,9 quilômetros deAracati e a 68,6 quilômetros de Fortaleza.

Precursor

Em Fortaleza, entre a década de 1970 e 1990, nóstivemosZé Pintoa mover nossos sentidos ao trans-formar sucatas em esculturas que remetiam à nos-saculturapopular eànatureza.Menino,FranciscoMagalhães Barbosa já produzia os próprios brin-quedos. Homem maduro, passou a transformarem arte alumínio amassado, pregos envergados,molas disformes, numa época que ainda nem sefalava em reciclagem.

Paraexporotrabalho,ZéPintotambémreinven-tou a galeria, ao socializar a arte em espaços ao arlivre.Em1975,expôs,nocanteirocentraldaAveni-daBezerradeMenezes,emFortaleza,umaescultu-ra de Luiz Gonzaga, confeccionada a partir depara-choques, parafusos e outras sucatas de carro.Espirituoso, Zé Pinto batizou de Pintódromo ocanteiro que funcionou como a vitrine de suasobras por muitos anos.

Logo as criações de Zé Pinto foram expostas emmuseus, praças, prédios e ruas de Fortaleza. Masrapidamente transpuseram divisas e fronteiras doCeará, do Nordeste e do Brasil. Sua produçãoartísticapodeserencontradaemmuseusde Portu-gal e do Vaticano, e também em acervos particula-res em Frankfurt e Colônia, na Alemanha, bemcomo em Nova York e New Hampshire, nos Esta-dos Unidos. Ele parou de produzir em 1996, quan-do ficou viúvo e nos deixou em 2004.

Experimentação

Mais recentemente, o brasileiro tem na figura deVik Muniz uma referência de artista plástico que,ao experimentar materiais e novas mídias, fezuma interessante incursão pelo mundo dos resí-

duos sólidos. Radicado em NovaYork, em 2010 ele teve o docu-mentário “Lixo Extraordinário”,sobre o seu trabalho como cata-dores de materiais recicláveis noaterro de Jardim Gramacho, emDuquedeCaxias(RJ),premiadonoFestivaldeSundance.NoFes-tivaldeBerlimem2010,foiagra-ciado em duas categorias.

Àsmoscas

Subindo o Rio Jaguaribe, nãomuito distante de Aracati fica omunicípiodeLimoeirodoNorte,a 209 quilômetros da Capital,Fortaleza. Chegamos ao lixão dacidade, às 16 horas, horário deluzperfeita parabelas fotos,masfomosrecebidosapenaspormos-cas, muitas moscas mesmo.

Tantas que nem dava paraabrir a boca ou os olhos. Só namanhã seguinte ficamos saben-do que os catadores sópermane-cem no local até 13h30 por cau-sa da praga, e ainda assim, co-brem os ouvidos para evitá-las.

Quem nos deu essas informa-ções foi Maria Rubens SaldanhaBezerra, 45, presidente da Asso-ciação de Catadores de Mate-riais Recicláveis Bom Jesus Sul,comatuaçãonoLixãodeLimoei-ro do Norte, que encontramosem plena atividade.

Ela conta que já estava tudocerto para os catadores ocupa-remumarmazém,jádisponibili-zadopelaPrefeitura,atécomdo-cumentação, mas uma empresaprivada ocupou o local. Aindasegundo suas informações deMaria Saldanha, a ProcuradoraRegional do Trabalho (PRT) jáestá questionando isso judicial-mente. “Não entendo por que aPrefeitura não cedeu pros cata-dores e cedeu pra uma empresa,que tem muito mais condições”,queixa-se.

Maria, que entrega o cargo depresidentedaAssociaçãoem no-vembro, atua há 25 anos noLixão de Limoeiro do Norte, on-de hoje trabalham 37 catadores.No momento, eles se organizampara fundar uma cooperativa.“Só falta um local porque debai-xo do sol não dá mais. Já esta-mos muito cozinhados”, diz.

Gostodedesafios.HojeeusobrevivointegralmentedolixoTenhoumorganismodeporco.Jácomialimentovencidohátrêsanos”

PAULINHOCARIRI

Poeta,compositor,artistaplástico

CPaulinhoCaririescolheuolixãocomo

espaçoparasua

expressãoartística

FOTO: FABIANEDEPAULA

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MARISTELACRISPIM

Editora

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DIÁRIO DO NORDESTE | 3FORTALEZA, CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2013

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OAsmocéoúnicoaterrolegalizadonoCeará,masemdoisanosprecisaráserexpandido

Cerca de cinco mil toneladas delixodeFortalezasãoencaminha-das todos os dias, em média, pa-ra o Aterro Sanitário Metropoli-tano Oeste de Caucaia (Asmoc),que já opera há 23 anos, recebetambém os resíduos do própriomunicípio e é o único do Estadoa funcionar dentro dos padrõeslegais. No local, trabalham cercade100pessoas,dentrefuncioná-rios da Ecofor Ambiental, moto-ristas terceirizados e vigilantes,a maioria deles residente no en-torno do equipamento público.

Os Asmoc funciona 24 horas,durante os 365 dias do ano, se-gundo o gerente do equipamen-to Gleydson Amorim. Está insta-lado numa área de 101 hectares,o que equivalente a 101 camposde futebol. O fim da sua vida útilestáprevistoparaoanode2015.Seforacopladoaumaáreade23hectares, seu funcionamento seestenderá por mais 17 anos.

Umacenacomuméaintermi-nável fila de caminhões a partirda BR-020. São cerca de 800viagens durante as 24 horas dodia. Para a pesagem dos resí-duos, são utilizadas duas balan-ças rodoviárias. Uma terceira es-tá sendo construída.

Somente os veículos devida-mente cadastrados têm acessoao local. Na chegada, informa-ções como a origem do resíduo,

horáriosde entrada(e posterior-mente saída) dos caminhões e opeso do material ficam armaze-nadas nos computadores. Alémdisso, toda a operação é filmada.

ParaoAsmoc sãoencaminha-dos, além do lixo domiciliar, omaterial recolhido nas chama-das pontas de lixo, o entulho co-letado em áreas públicas e osresíduos resultantes da poda deárvores. Ao deixarem o aterro,os responsáveis pelos cami-nhõesrecebemtodasasinforma-ções processadas.

Estudos

O único aterro sanitário regula-mentado do Estado já foi alvo depelo menos cinco pesquisas dedoutorado, conforme o gerenteGleydsonAmorim.“Ospesquisa-dores buscam saber, por exem-plo, qual o tipo de grama quedeve ser plantada para diminuira infiltração de água, a qualida-de do chorume”, explica.

Hugo Nery, diretor de opera-ções da Marquise Ambiental, éenfático ao dizer que “não hátempo para a implantação deaterros sanitários no prazo esta-belecido. “Um aterro sanitário édiferente de um lixão, é umaobradeengenharia,quenecessi-ta atender a uma série de crité-rios socioambientais, desde a es-colha da área para construção,passando pelo projeto, estudode impacto ambiental,operacionalização e encerra-mento do aterro”, salienta. Se-

gundo ele, o principal entravepara tal são os prazos das licen-ças ambientais e das obras civis.

Hugogaranteofuncionamen-to do Asmoc até 2015. “De acor-do com o projeto inicial, o encer-ramento está previsto para julhode 2015 e seu primeiro projetode ampliação, que está em pro-cesso final de licenciamento naSuperintendência Estadual doMeioAmbiente(Semace),esten-derá sua vida útil por mais 17anos.Alémdisso, há aindaa pos-sibilidade de união das célulasexistentes no aterro atual, quenos dará aproximadamentemais 10 anos”, assegura.

Aocontráriodoslixões,noAs-moc não se vê catadores, graçasà vigilância, que funciona 24 ho-ras. O aterro é dividido em célu-las. Todas elas possuem drenosparacontrolarogás metanopro-duzido pelo lixo. Por conta dofluxo de caminhões, a adminis-tração optou por trabalhar comduas células ao mesmo tempo.

Quando uma está ocupada, adescarga é feita na outra. Apósuma célula ser fechada, uma no-va é construída, a começar pelasua escavação.

“Nãoéumtrabalhosimples. Épreciso um estudo por parte deespecialistas para determinar sea permeabilidade atende às ne-cessidades do solo. Se não forfavorável, tem que ser feita essaimpermeabilização com argilaoumaterialsintético.Depoisdis-so, a drenagem que conduzirá ochorume até a estaçãoelevatória e desta para a lagoade tratamento, é implantada”,detalha o gerente do AsmocGleydson Amorim.

A presença dos urubus não

difere do que ocorre nos lixõestradicionais: é constante.Gleydsonlembraque, ao contrá-rio do que se pensa, “essas avessão importantes pois são inofen-sivas e ajudam a reduzir o volu-me dos resíduos, já que se ali-mentam deles”.

Olixoécompactadoecobertocom a ajuda de dez tratores comcabine vedada que conta inclusi-ve com ar-condicionado. A faltade coleta seletiva em Fortaleza -restrita a poucos bairros - é res-ponsável por um volume extrade 30% de resíduos. “Esse mate-rial poderia ser reaproveitado. Édinheiro que está sendo desper-diçado aqui”, afirma Gleydson.

Coletaseletiva

O diretor de operações da Mar-quise Ambiental, empresa res-ponsável pela coleta seletiva emFortaleza, Hugo Nery, diz queestamos no início de um novoprocesso. “A coleta seletiva ain-da é um piloto e depende daparticipação dos munícipes paraalcançar toda a cidade. Isso re-quer entre cinco e dez anos paraacontecer”, avalia.

Atualmente, dois caminhõesda EcoFor fazem a coleta seleti-va de resíduos em condomíniose empresas de quatro bairros:Fátima, Aldeota, Meireles e Dio-nísio Torres. Após recolhido, omaterial é pesado e distribuídoigualmenteentreastrêscoopera-tivas de reciclagem cadastradas,localizadasnoBomSucesso,Jan-gurussu e Planalto Universo.

Conforme Hugo Nery, alémda coleta, são feitas ações deconscientização, por meio depanfletagem e carro de som. Oprojeto atende a 1.600 residên-

cias e a 35 grandes geradoresdos bairros da Regional II. Noprimeiro semestre de 2013 (ja-neiro a junho), foram coletadas652 toneladas de material reci-clável.Osprincipaisprodutosre-colhidos na coleta seletiva sãopapelão, papel branco, plástico,alumínio e vidros.

Nery defende uma ação dopoder público em relação à res-ponsabilidade de cada geradorderesíduoscomoformadecons-cientizaraspessoasdanecessida-de de se fazer a coleta seletiva.Ele também entende que seriamelhor, nesse instante, que o li-xo fosse separado apenas em or-gânico e inorgânico, como for-ma de facilitar a coleta seletiva.

“Esse é o começo ideal desseprocesso e objetivo inicial do po-der público. De certa forma, oscuidados que temos com o lixosão decisões pessoais. Muito va-leopotencialdeconsciênciaam-biental de cada cidadão. Essa éuma das principais premissasque já adotamos no projeto pilo-toemcursonacidadedeFortale-za, sempre indicando que sejaseparado o lixo seco, do orgâni-co, deixando o último para serrecolhido na programação nor-mal das residências”, informa.

Jangurussu

A vida de Sebastiana do CarmoAlves, 36, é exemplo de perseve-rança. Durante pelo menos trêsanos criou um dos filhos no anti-golixãodoJangurussu,desativa-do desde 1998. Foi uma épocade grandes sacrifícios. Hoje, nacondição de presidente da Asso-ciação dos Catadores do Jangu-russu (Ascajan), Sebastiana temoutra luta: aumentar a coleta se-

Dopontodevistagerencial,aindatemosmuitoqueavançarnosmodelosquegarantamaefetivaimplantaçãodaPNRS”

PAULOHENRIQUELUSTOSA

Deputadofederaleex-presidentedoConpam

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FOTO:WALESKA SANTIAGO

Umaterrosanitárioédiferentedeumlixão,éumaobradeengenharia,quenecessitaatenderumasériedecritériossocioambientais”

HUGONERY

DiretordeoperaçõesdaMarquiseAmbiental

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FERNANDOMAIA

Repórter

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CAPACIDADE

letiva para impulsionar os negó-cios da Associação. “A minha lutasempre foi dura. Aos 17 anos, en-gravidei da minha primeira filha,Camila. Cinco dias depois, tiveque deixar minha moradia, emPacajus, e vir para Fortaleza embusca de melhores dias. E a únicaopção que me foi possível foi olixão do Jangurussu”, relata.

Casinha

Durante os três anos seguintes,Sebastiana trabalhou catando li-xo no local. Camila ficava abriga-da numa casinha de papelão im-provisada pela mãe. “Não tinhacom quem deixar. A necessidademe obrigou a criá-la dentro dolixão. O momento mais difícil foiquando meu ex-marido teve tu-berculose e a Camila pegou umacoceira danada por causa do lixo.Graças a Deus tudo foi superado.Camila hoje mora em sua própriacasa com o marido e seus doisfilhos”, conta.

Sebastiana é mais um exemplodecriançasqueperderamainfân-cia e a adolescência trabalhandopara ajudar a família a ganhardinheiro para sobreviver. “Come-cei aos 13 anos ajudando minhamãe a fazer vassouras, até engra-vidar do meu ex-companheiro evir para cá. Apesar de todas asdificuldades, consegui criar meuscinco filhos”, relata.

Em relação ao trabalho desen-volvido como associada da Asca-jan, Sebastiana revela “que dá pa-ra faturar em média de R$ 350,00a R$ 400,00 por mês. É pouco,mas, juntando com o Bolsa Famí-lia, ajuda bastante. Espero quemelhore”, afirma. Segundo suasinformações, há, ainda, dois pro-blemas a resolver. O primeiro é

que vendem o que separam paraatravessadores. “A indústria fazalgumas exigências, como aquantidade de material mínimoasernegociado,oquenãotemoscondições de cumprir no mo-mento. Estamos nos organizan-do para atender a essa obriga-ção”, diz. A outra dificuldade,segundo ela, é a falta deconscientização de muitas pes-soas,quenãofazemacoletasele-tiva e desperdiçam o que pode-ria ir para lá.

A Ascajam recebe, em média,60 toneladas de resíduos pormês,conformeLianaMartins,as-sistentesocialdaEmpresaMuni-cipal de Limpeza e Urbanização(Emlurb), uma das parceiras daAssociação.

Com a desativação do lixãodoJangurussu,em1998,oscata-doresseorganizaramnumacoo-perativa para trabalhar na Usinade Triagem, construída pelo Sa-near. “Nessa época, muitos nãose adaptaram às mudanças e fo-ram embora. De quase mil cata-dores, cerca de 300 permanece-ram. Aos poucos, esse númeroveio diminuindo e hoje restamsomente 70, a maioria mulhe-res. A usina de esteiras, que du-rou oito anos, se mostrou inviá-vel, já que o chorume produzidoacabava corroendo as máqui-nas.Em 2006, enfim, foicriada aAscajan. Na época, estudantesestagiários do então Cefet fize-ramumagrandemobilizaçãoen-tre os grandes geradores de resí-duos, o que fortaleceu o projeto.Com a obrigatoriedade da cole-ta, a partir de 2014, acredito quea atividade da Ascajan sofreráum grande incremento”, aposta.

No entanto, essa obrigatorie-

dade não é garantia de que tudofuncionará como previsto pelanova Política Nacional de Resí-duos Sólidos (PNRS). Questõesfinanceirasedificuldadesdeges-tão estão entre os principais gar-galos e preocupações do Conse-lhode Políticase Gestão do MeioAmbiente (Conpam).

Colômbia

Essas preocupações motivaramo órgão a reunir no mês de agos-to último vários prefeitos numencontro na Assembleia Legisla-tiva. Na ocasião, foi apresentadaa experiência colombiana, quecobratarifapararecolherosresí-duoseéumadasmaisbem-suce-didas do mundo.

Conforme Silvia Yepes, presi-dente da Comissão de Regula-ção de Água Potável e Sanea-mento Básico da Colômbia, o se-tor privado administra desde acoletaaogerenciamentodeater-ro. As tarifas são progressivas.Dessa forma, quem gera mais,pagamais.Atarefabásicaatualéde R$ 18,50 por mês. Os maiscarentes são subsidiados em até70%, derrubando o valor básicopara R$ 5. Os maiores geradorespagam em torno de R$ 92.

Odeputadofederaleex-presi-dente do Conpam, Paulo Henri-que Lustosa, que ocupou o cargoaté a primeira semana deste mêse conduziu a política do órgãonos últimos três anos, avalia que“do ponto de vista dos desafiosdaconstrução de uma sociedadecom práticas sustentáveis, aPNRS mostra todas as diretrizespara tal”.

ParaLustosa,“o prazoestabe-lecido para as metas propostas(agosto de 2014), como a extin-

ção dos lixões, é bastante ousa-do e pode desestimular os agen-tes envolvidos, especialmenteaquelesqueestejammaisdistan-tes dos resultados esperados.Por fim, para que tenhamosavanços realmente significati-vos, a PNRS deveria ter indicadomais objetivamente e garantidoas fontes dos recursos necessá-rios para tamanho investimen-to, uma vez que muitas das difi-culdades e dos entraves hoje ob-servados decorrem da falta declarezasobrequempagaráacon-ta e como o fará”.

Em relação aos entraves, Lus-tosa aponta que, “do ponto devistagerencial,aindatemosmui-to que avançar na construção demodelos de gestão que garan-tam a efetiva implantação daPNRS. O Estado do Ceará avan-çou bastante na constituição dosconsórcios, mas seu funciona-mento e gestão ainda precisamser melhor definidos”, diz.

Segundo estimativas realiza-das pelo grupo de trabalho queestá coordenando a implanta-ção, para que o Estado cumpris-se as metas previstas na PNRSseriam necessários investimen-tos da ordem de R$ 1 bilhão e ofuncionamento do sistema fica-ria na casa dos R$ 450 milhõespor ano.

“Não temos onde buscar taisfundos. Além disso, há todo odesafio de envolver o conjuntoda sociedade nesta tarefa. Nãose alcançarão as metas propos-tas se não houver total engaja-mento de cada pessoa, de cadaresidência, cada comércio e ca-da Prefeitura. Talvez esta seja atarefa mais desafiadora”, desta-ca o ex-dirigente do Conpam.

FIQUE POR DENTRO

5mil toneladasde lixooriundas

deFortalezasãoencaminhadas

todososdias, emmédia,parao

AterroSanitárioMetropolitano

OestedeCaucaia (Asmoc)

No aterro sanitário, os rejeitos são

manejados de forma ambientalmen-

te correta, e já chegam ao local de-

poisdeseremselecionados, levando-

seemconsideraçãooaproveitamen-

to da parcela passível de ser recicla-

da/reaproveitadadoresíduo.

Os aterros sanitários são uma

obrade engenharia e sãoprojetados

para não contaminar o solo, a água

do subsolo e o ar. Estas plantas têm

base impermeabilizada, tratamento

do chorume (líquido gerado na de-

composiçãodos resíduos), tratamen-

to dos gases gerados, cobertura diá-

ria, compactação adequada para o

tratamento biológico dos resíduos e,

como a separação da fração reutili-

zável / reciclável é prévia à disposi-

ção, não há catadores selecionando

materialnadescargadoscaminhões.

No lixão, os dejetos são despeja-

dos sem qualquer critério, o que po-

de provocar a poluição do solo, do

lençol freático, proliferação de veto-

res de inúmeras doenças. Ainda há

risco de explosões devido à falta de

tratamentodosgasesgerados,ecata-

dores trabalhando em condições in-

salubres. O lixão não possui a prote-

ção do solo ou tratamento do choru-

me. A Lei que instituiu a Política Na-

cional dos Resíduos Sólidos (PNRS)

no Brasil determina a extinção dos

lixõesatéagostode2014.

Fonte:MMA

101hectares éaáreadoAsmoc,o

equivalentea101camposde

futebol.Noentanto,em2015,o

Aterroprecisaráserexpandido

emmais23hectares

800viagens decaminhõessão feitas

diariamenteparaoAterrode

Caucaia.Filasdecaminhõesde

lixosãovistas todososdiasnas

margensdaRodoviaBR-020

DiferençaentrelixãoeaterroSanitário

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Emmeioàdurezadetrabalharsobosol,emmeioàsmoscas,urubusemaucheiro,aindaháespaçoparaaalegria

“Foi dia de festa lá em casa on-tem. Achei numa rampa um pa-cote de feijão, outro de massa demilho e dois de macarrão. Paramuitos, isso é alimento vencido.Para mim e minha família, comonão têm aqueles bichinhos ‘fri-viando’ por cima, é comida daboa”, relata Francildo Felipe daSilva, 51, um dos 70 catadoresque tiram o sustento da famíliado lixão de Pacajus, municípiodaRegião Metropolitana de For-taleza (RMF).

Casado e pai de cinco filhospequenos, Francildo era agricul-tor há cinco anos. “Nos últimostempos, as chuvas começaram adesaparecer. Encontrar ocupa-ção na agricultura estava difícil.Como minha mulher é doente enãopode trabalhar, decidiaban-donar tudo e, sem outra opção,vim parar aqui no lixão. Apesarde pobre, não sou malandro. Ja-mais ganhei dinheiro na molezaou de forma desonesta. Se forassim, prefiro ficar sem fazer na-da”, relata.

Com a atividade de catador,Francildo fatura em média R$100,00 por semana. “Ainda bemque existe o Bolsa Família paranos ajudar. Do contrário, não seicomoseria”,diz.Ocatadordesta-caqueoscincofilhosestãomatri-culados numa escola municipal

de Pacajus e têm direito a quatrorefeições diárias. “Na medida dopossível,elesestãobem.Sóespe-ro que não comam doce demais.Quando jovem, fazia isso e o re-sultado é esse”, conta sorridentemostrando o único dente quetem na boca.

Contentamento

Apesar de viver abaixo da linhada pobreza - sem acesso à ener-giaelétrica,bebendoáguaretira-da do Canal do Trabalhador, vi-venumbarracoimprovisado,fei-todepapelão,compensadoeou-trosmateriaisrecolhidosalimes-mo do lixão - Francildo se mos-tra extrovertido e feliz o tempotodo.“Elenuncaestátriste.Sem-pre está contando piadas ou his-tórias”,testemunhaocatadorRi-cardo Ferreira Lima, 37. “A vidaaqui é dura. Comecei a trabalharcom lixo aos 13 anos, no Jangu-russu, em Fortaleza. Fiquei até ofechamento do aterro. Tenteiabandonar essa atividade. Pas-sei a ganhar a vida como auxiliarde eletricista e de pedreiro. Sóque aqui em Pacajus é difícil en-contrarempregoevolteiaconvi-ver com o lixo”, conta.

Ainda, segundo Ricardo Fer-reira, “o que o Francildo relatoué verdade. “Comida vencida pa-ra nós é luxo. Há tempos, umcaminhão vinha despejar lin-guiça,presunto,mortadelaepei-xe por aqui todo fim de mês. Nãoqueira saber a alegria que era.Todos ficavam com a geladeiracheia por quase duas semanas.Comaproibição,ficamosdesam-parados. Eu, por exemplo, nemligo mais a geladeira. Bebo águafria como muitos companheiros.Afinal, até para gelar a água ocusto é muito alto para nós”.

Ricardodestacaque, noiníciodo ano, a Prefeitura realizou umcadastramento dos catadores edistribuiualgumasbotaseluvas.“Eles ficaram de voltar para en-tregaromaterialparaorestodoscatadores, mas não apareceram.A situação só não é pior por cau-sa de uns evangélicos que vêmaqui pra distribuir cestas básicase trazer um sopão. De qualquerforma, serve para acalmar umpouco a nossa fome”, afirma.

Esgoto

Sem perder o bom humor, Fran-cildo denuncia um dos princi-pais problemas encontrados nolixão de Pacajus: o despejo dealimentosvencidos.Essa,aliás,éapenas uma das mazelas encon-tradas ali. As outras são a incine-ração de Resíduos Sólidos deSaúde (RSS) - lixo hospitalar - acéu aberto; a presença de traba-lhadores sem equipamentos; eaté o despejo de fossas por cami-nhões-pipa que coletam os deje-tos em residências e empresasem toda a Região Metropolitanade Fortaleza.

José Guedes, fiscal do lixão,admite que a Prefeitura tem co-nhecimento do despejo de esgo-to por caminhões-pipa que reco-lhem os detritos de fossas. “Elesjogam os dejetos mas isso nãocausa problema. A sujeira escoa,mas não chega a encostar na pa-rede do Canal do Trabalhador,comomuitagentealardeia”,afir-ma José Guedes.

Em relação aos equipamen-tos, o fiscal assegura que todosos catadores receberam. “O pro-blema é que eles não gostam detrabalhar com luvas, máscaras ebotas. Se sentem incomodados.São poucos os que utilizam”.

Já no tocante ao lixo hospita-lar, que é colocado numa valaem separado e queimado, JoséGuedes assegura que os catado-res não têm acesso. Entretanto,no local, não existe fiscalizaçãoou qualquer placa de advertên-cia. Além disso, a vala onde osresíduos de saúde são colocadosnão é fechada de imediato. Issosóocorrequandoháumaquanti-dade considerável de material,ou seja, pode demorar até ummês para que a vala seja cobertapor areia.

Fumaça

Outro problema de insalubrida-de a que estão expostos os cata-dores de Pacajus é a fumaça, quepode ser avistada por quem pas-sa pela BR-116. Zé do Carmoadmite que, nem mesmo duran-te o período chuvoso, a fumaçadá trégua. “É o chamado fogo demonturo. Nunca se apaga. Elefica ali por baixo. Quando o lixoé despejado, em pouco tempo,com o surgimento do sol, ressur-ge. Têmlocais onde as labaredassão grandes. Já estamos acostu-mados com isso”, enfatiza o fis-cal que também não utiliza qual-quer equipamento, nem mesmomáscara.

“A expectativa de todos poraqui é que esse lixão seja fecha-do até o próximo ano. Mas aindanão sabemos se isso vai mesmoacontecer e para onde vão aspessoas que trabalham aqui”, fi-naliza José Guedes.

No entanto, o ex-secretáriodas Cidades, deputado estadualCamiloSantana,nãoacreditanofim dos lixões dentro do prazoestabelecido pela Política Nacio-nal de Resíduos Sólidos (PNRS),que seria agosto de 2014. Após

estudos, a Secretaria estabele-ceu a necessidade de construçãode 30 aterros sanitários consor-ciados. Um deles em Pacajus.

Regiões

“A coleta e destino final dos resí-duos é de responsabilidade dosmunicípios. Entretanto, sabe-mos que os pequenos e médiosmunicípios cearenses não te-riam condições de construir osaterros e operá-los. Daí o Estadoter dividido o Ceará em trintaregiões para efeito de cumprir oque determina a lei”, revela Ca-milo Santana, gestor da Secreta-ria nos últimos três anos e quedeixou o cargo no início de se-tembro. Após isso, uma licitaçãofoi feita para contratar uma em-presa consultora responsávelpor implementar os consórcios.

Os aterros serão implantadosnas cidades de Camocim, Crato,Jaguaribara, Limoeiro do Norte,Pacatuba, São Benedito, Tauá,Sobral, Baturité, Pedra Branca,Paracuru,ViçosadoCeará,Mara-canaú, Aquiraz, Caucaia, Cruz,Aracati, Assaré, Canindé, Casca-vel, Crateús, Icó, Iguatu, Itapajé,Itapipoca, Milagres, Nova Rus-sas, Pacajus, Ipu e Quixadá.

Quatro deles (Baturité, Para-curu, Pedra Branca e Viçosa doCeará) foram formados por ini-ciativas municipais, sendo que ode Baturité beneficiará dois mu-nicípios; o de Paracuru, três; ode Pedra Branca, oito; e o deViçosa que servirá também paraTianguá. Conforme Camilo San-tana, entre os 30 projetos, 13 jáestão em andamento ou em fasede elaboração de edital, o querepresenta um investimento deR$ 5,8 milhões em projetos, be-neficiando 102 municípios.

Paramuitosissoéalimentovencido.Paramimeminhafamília,comonãotemaquelesbichinhos‘friviando’porcimaécomidadaboa”

FRANCILDOFELIPEDASILVA

Catador

Aexpectativadetodosporaquiéqueesselixãosejafechadoatéopróximoano.Masaindanãosabemosaindaseissovaimesmoacontecer”

JOSÉGUEDES

Fiscaldolixão

CAalegriadocatadorFrancildo

FelipedaSilvaé

contagiante

FOTO:WALESKA SANTIAGO

‘‘

FERNANDOMAIA

Repórter

‘‘

6 | DIÁRIO DO NORDESTE

FORTALEZA, CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2013

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Asolidão,nolixãodeTamboril,paraAuricélio, foiumaopção,demaiorrendimentoetambémdepaz

SAIBA MAIS

A solidão de José Auricélio Lo-pes, 49, tem sido preenchida pe-la companhia da porca Curica,do galo Argemiro e de algunsgatos que nomeou como múlti-plos de cinco: Vinte e Cinco, Cin-quentinha, Quinze, Cinco; alémdo trabalho. Ele vive sozinhonumbarraco no lixão de Tambo-ril,municípiodoSertãodosInha-muns, a 284 quilômetros de For-taleza, há quatro anos. Contaque antes trabalhava no lixão deCrateús: “Prefiro trabalhar aquisozinho. Lá tem muita gente emuita confusão”.

Vestido com uma camisa daSeleção Brasileira, ele nos rece-be com alegria e nos conta queantes de trabalhar com lixo, eraserventedepedreiro,mas,quan-do passou dos 30, o empregoficou mais difícil em Fortaleza.Explica que, num mês bom, con-segue ganhar R$ 1.000,00, maso mínimo que faz é R$ 700,00.Segundo suas informações, umrapaz de Crateús pega a merca-doria a cada 15 dias. O plásticorepresenta o maior volume doque coleta: primeiro o PET, se-guido pelos sacos e sacolas.

Auricéliofalacomdesenvoltu-ra a respeito dos materiais e depara onde são encaminhados. OPETsegueparaFortaleza;asem-balagens de produtos de limpe-za e higiene seguem para duasfábricas em Forquilha, municí-pio da Região Norte do Ceará; oferrovaiparaaGerdau,noDistri-to Industrial de Maracanaú, naRegião Metropolitana de Forta-leza (RMF). O cobre e o alumí-nio vão para a Formetal, em For-taleza; o osso vai para a Cesau,também em Maracanaú; os pa-pis, tanto branco, quanto pape-lão, têm destinos diversos; o

PVCsegueparaJuazeirodoNorte,suldoCeará,naRegião do Cariri.

“Aqui eu trabalho duro, mas meio-dia estoufolgado. Em Fortaleza, eu vivia com dificuldade,andava a pé, aqui eu tenho uma moto 83, quecomprei há um ano, por R$ 1.500 e, se não fosseeu, ia ficar tudo aqui, se acabando”.

Ao concluirmos a nossa conversa com Auri-célio, nos desculpamos por atrapalharmos o seutrabalho e ele responde: “Às vezes uma pessoa prafalar é bom por que tira pensamento ruim dacabeça”.

Difícildistinguir

Um dos aspectos a impressionar numa primeiravisita a um lixão ou conversa com um catador é odomínio de informações sobre uma grande varie-dade de materiais, das suas características e atémesmo da destinação de cada um. Neste sentido,Auriocélio não é exceção.

Dentre a grande variedade de materiais, osplásticos chamam atenção, tanto pela gama deapresentações quanto pelos diferentes usos. O ter-mo plástico significa capaz de ser moldado. Sãomateriais artificiais, geralmente de origem sintéti-ca e que em algum estágio da fabricação forammoldados. A moldagem pode ser feita por pressãoou calor. Assim, são divididos em termoplásticos(que podem ser moldados várias vezes, por setornarem fluídos com o aumento da temperatura,retomandoascaracterísticasanteriorescomaque-da na temperatura); e termorrígidos (maleáveisapenas no momento da fabricação, não podendoser remodelados).

OInstitutoSocioambientaldosPlásticos(Plasti-vida), destaca que são utilizados em quase todosos setores da economia, como construção civil,agrícola,calçados, móveis, alimentos, têxtil, lazer,eletroeletrônicos, automobilísticos.

Nestes setores, os plásticos estão presentes nosmais diferentes produtos, a exemplo dos geossin-téticos, que assumem cada vez maior importânciana drenagem, controle de erosão e reforço do solode aterros sanitários, tanques industriais, entreoutras utilidades.

O setor de embalagens para alimentos e bebi-das também vem se destacando pela utilizaçãocrescente dos plásticos, devido a característicascomo a transparência, a resistência, a leveza e aatoxidade.

Os plásticos são reunidos em sete grupos oucategorias (veja quadro nesta página). O Polietile-no Tereftalato (PET) é transparente, inquebrável,impermeável, leve. O Polietileno de Alta Densida-de (PEAD) é inquebrável, resistente a baixas tem-peraturas, leve, impermeável, rígido e com resis-tência química.

JáoPolicloretodeVinila(PVC)érígido,transpa-rente, impermeável, resistente à temperatura einquebrável. O Polietileno de Baixa Densidade /Polietileno Linear de Baixa Densidade (PEBD /PELBD) é flexível, leve transparente e impermeá-vel. O Polipropileno (PP), além de conservar oaroma,éinquebrável,transparente,brilhante,rígi-do e resistente a mudanças de temperatura. OPoliestireno(PS)éimpermeável, inquebrável,rígi-do, transparente, leve e brilhante.

No sétimo grupo se enquadram os plásticosAcrilonitrila, Butadieno e Estireno (ABS) / Acrilo-nitrila (SAN), Espuma Vinílica Acetinada (EVA),Poliamida(PA)ePolicarbonato(PC), queincluemsolados, autopeças, chinelos, pneus, acessóriosesportivosenáuticos,plásticosespeciaisedeenge-nharia, CDs, eletrodomésticos e corpos de compu-tadores.O símboloda reciclagemcom um númeroou uma sigla no centro, muitas vezes encontradonofundodosprodutos,identificaoplásticoutiliza-do para facilitar a reciclagem.

OSPLÁSTICOSSÃOREUNIDOSEM

SETEGRUPOSOUCATEGORIAS:

PET-POLIETILENOTEREFTALATO-

Frascosegarrafasparauso

alimentício/hospitalar,cosméticos,

bandejasparamicro-ondas,filmes

paraáudioevídeo,fibrastêxteis.

PEAD-POLIETILENODEALTA

DENSIDADE-Embalagenspara

detergenteseóleosautomotivos,

sacolasdesupermercados,

garrafeiras,tampas,tamborespara

tintas,potes,utilidadesdomésticas.

PVC-POLICLORETODEVINILA-

Embalagensparaáguamineral,óleos

comestíveis,maioneses,sucos.Perfis

parajanelas,tubulaçõesdeáguae

esgotos,mangueiras,embalagens

pararemédios,brinquedos,bolsas

desangue,materialhospitalar.

PEBD/PELBD-POLIETILENODE

BAIXADENSIDADE/POLIETILENO

LINEARDEBAIXADENSIDADE-

Sacolasparasupermercadose

boutiques,filmesparaembalarleite

eoutrosalimentos,sacariaindustrial,

filmesparafraldasdescartáveis,

bolsaparasoromedicinal,sacosde

lixo.

PP-POLIPROPILENO-Filmespara

embalagensealimentos,

embalagensindustriais,cordas,

tubosparaáguaquente,fiosecabos,

frascos,caixasdebebidas,

autopeças,fibrasparatapetes

utilidadesdomésticas,potes,fraldas

eseringasdescartáveis.

PS-POLIESTIRENO-Potespara

iogurtes,sorvetes,doces,frascos,

bandejasdesupermercados,

geladeiras(parteinternadaporta),

pratos,tampas,aparelhosde

barbeardescartáveis,brinquedos.

OUTROS(ABS/SAN,EVA,PAEPC)-

Solados,autopeças,chinelos,pneus,

acessóriosesportivosenáuticos,

plásticosespeciaisedeengenharia,

CDs,eletrodomésticos,corposde

computadores.

Curica,ArgemiroVinteeCinco,Cinquentinha,Quinze,Cincoeorádioqueencontreiaquisãoasminhascompanhias”

JOSÉAURICÉLIOLOPES

Catador

‘‘

CAuricélio soubebemoqueestava

fazendoquandooptou

pelasolidão

FOTO: FABIANEDEPAULA

Aquieutrabalhoduro,masmeio-diaestoufolgado.EmFortaleza,euviviacomdificuldade,andavaapé,aquieutenhoumamoto83,quecompreiháumano,porR$1.500”

MARISTELACRISPIM

Editora

‘‘

DIÁRIO DO NORDESTE | 7FORTALEZA, CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2013

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NolixãodeCrateúslocalizamostodotipodeResíduodeSaúde,inclusivefrascoscomsanguedelaboratório

PROTAGONISTA

Resíduos Sólidos de Saúde(RSS) são relativamente fáceisde ser encontrados nos lixões doCeará, assim como medicamen-tos vencidos. Mas, ao entrarmosnolixãodeCrateús,maiormuni-cípio da Região dos Inhamuns, a353 quilômetros de Fortaleza,nos assustamos ao lermos numaplaca “Lixo Hospitalar” ao ladode uma vala, onde vimos, alémde seringas com agulhas e man-gueiras de soro e vários tuboscom sangue de laboratório.

Lá encontramos, também,Raimundo Nonato Soares, 60,que há 30 anos lida com lixo e háoito trabalha naquele lixão. Dosseus quatro filhos, dois traba-lhamcomele.Umafilhaéempre-gada doméstica em São Paulo eo outro filho trabalha em umafazenda em Goiás.

E é o seu Raimundo o respon-sável por separar o Resíduo Sóli-do de Saúde (RSS) que, mesmoantes da Política Nacional de Re-síduos Sólidos (PNRS), já deve-ria ser separado, transportado edestinado em condições espe-ciais, com todo o rigor para evi-tar a transmissão de doenças.

Sem nenhum equipamento,seu Raimundo nos mostra assuas mãos cheias de cortes. Me-do de pegar uma doença confes-sa ter, mas não vê saída para

continuarsustentandoa família.Ele conta que nasceu em Teresi-na e que se mudou, com a mãe,em 1956, para Sobral. Em 1960se perdeu da mãe e nunca mais aencontrou.

Em1976,mudou-separaCra-teús. Perguntado sobre as mu-danças previstas com a nova lei,ele se mostra descrente. “É dolixoque a gente vem sobreviven-do. Acho muito difícil as coisasmudarem em Crateús. Os ho-mens grandes só pensam no la-dodeles”,afirma.Perguntadoso-bre o que espera do futuro, afir-ma que não espera nada. “Sóespero me aposentar e descan-sar em paz”, diz.

Francisco das Chagas Mar-ques, 65, não é um veterano nolixão de Crateús. Ele abandonouaprofissãodepedreiroemForta-leza porque ficou difícil e tam-bémparadeixar detrabalharpa-ra os outros. Mas antes, aindatentou a vida por nove meses emSanto Antônio do Monte (MG).“Aqui não tenho horário. Voupara casa na hora que quero.Consigo tirar R$ 400 por mês. Éuma mixaria, mas dá pra ir esca-pando”.

Separado da mulher e comquatro filhos criados, ele moracom uma neta na localidade deFazenda Lagoa da Porta, nãomuito longe do lixão. Entre mos-cas, urubus e mau cheiro, eleaprendeu rápido a reconheceros diferentes materiais para tra-balhar na seleção. “Tem que tercoragem para trabalhar nisso.Não é muito bom não, mas te-nho liberdade”, finaliza.

Legislação

Segundo a Assessoria de Comu-nicação da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (Anvisa) é aResolução da Diretoria Colegia-da (RDC) Nº 306/2004 que dis-põe sobre o Regulamento Técni-coparaogerenciamentodeResí-duos de Serviços de Saúde(RSS).OPlanodeGerenciamen-to de Resíduos de Serviços deSaúde(PGRSS) devesercompa-tível com as normas locais relati-vasàcoleta,transporteedisposi-ção final dos resíduos geradosnosserviçosdesaúde,estabeleci-daspelosórgãoslocaisresponsá-veis pelas etapas de manejo, se-gregação, acondicionamento,identificação, transporte inter-no, armazenamento temporá-rio, tratamento, armazenamen-toexterno, coleta, transporte ex-ternos e disposição final.

Pela Resolução do ConselhoNacionaldoMeioAmbiente(Co-nama) Nº237/97, compete aosserviços geradores de RSS a ela-boração do Plano de Gerencia-mento de Resíduos de Serviçosde Saúde (PGRSS), obedecendoa critérios técnicos, legislaçãoambiental, normas de coleta etransporte dos serviços locais delimpezaurbanaeoutrasorienta-ções contidas no Regulamento.

É preciso designar profissio-nal, com registro ativo junto aoseuconselhodeclasse,comapre-sentação de Anotação de Res-ponsabilidade Técnica (ART),ou Certificado de Responsabili-dade Técnica ou documento si-milar para exercer a função deResponsável pela elaboração eimplantação do PGRSS.

É preciso, entre outras coisas,prover a capacitação e o treina-mento inicial e de forma conti-nuada para o pessoal envolvidonogerenciamentode resíduos.Etambém requerer às empresas

prestadoras de serviços terceiri-zados a apresentação de licençaambiental para o tratamento oudisposição final dos resíduos deserviços de saúde, e documentode cadastro emitido pelo órgãoresponsável de limpeza urbanapara a coleta e o transporte dosresíduos, assim como requereraos órgãos públicos responsá-veis pela execução da coleta,transporte,tratamentooudispo-sição final dos resíduos de servi-ços de saúde, documentaçãoque identifique a conformidadecom as orientações dos órgãosde meio ambiente.

Também é exigido dos gera-dores manter registro de opera-ção de venda ou de doação dosresíduos destinados à recicla-gem ou compostagem.

A responsabilidade, por partedosdetentoresderegistrodepro-duto que gere resíduo classifica-do no Grupo B (resíduos quími-cos), de fornecer informaçõesdocumentadas referentes ao ris-co inerente do manejo e disposi-ção final do produto ou do resí-duo. Estas informações devemacompanhar o produto até o ge-rador do resíduo.

Os detentores de registro demedicamentos devem, ainda,manter atualizada, junto à Ge-rência Geral de Medicamentosda Anvisa listagem de seus pro-dutosque,emfunçãodeseuprin-cípio ativo e forma farmacêuti-ca,nãooferecemriscosdemane-jo e disposição final. Devem in-formaronomecomercial,oprin-cípio ativo, a forma farmacêuti-ca e o respectivo registro do pro-duto. Essa listagem ficará dispo-nível no endereço eletrônico daAnvisa, para consulta dos gera-dores de resíduos.

É do lixo que Raimundo sobrevive.

Ele temconsciênciadequeépreciso

coragem para trabalhar no lixão de

Crateúseseparar,semnenhumequi-

pamento de segurança, os Resíduos

Sólidos de Saúde (RSS). Apesar de

reconhecer que o trabalho “não é

muito bom”, festeja a liberdade que

permeiaosdiasvividosnolixão.Na-

tural de Teresina, Raimundo traba-

lha há30 anos com lixo e há oito no

lixão de Crateús. Ele relata o drama

queviveuem1960,quatroanosde-

poisdechegaremFortaleza,quando

se perdeu da mãe e nunca mais a

encontrou. A vida do catador segue

umarotinasemesperança.Descren-

te sobre mudanças na política do li-

xoele tambémnãoesperamuitodo

futuro, apenas se aposentar e des-

cansarempaz.

RAIMUNDONONATOSOARES

Catador

FIQUE POR DENTRO

AcoragemealiberdadedeRaimundo

Os Resíduos de Serviço de Saúde

(RSS)compreendemosaquelesgera-

dos por serviços de saúde conforme

definidoemregulamentoouemnor-

mas estabelecidas pelos órgãos do

SisnamaedoServiçoNacional deVi-

gilânciaSanitária(SNVS),artigo13da

Política Nacional de Resíduos Sóli-

dos,LeiFederalNº12.305/2010.

A Resolução Conama Nº

358/2005,defineosRSScomotodos

aquelesresíduosresultantesdeativi-

dades exercidas nos serviços defini-

dosnoartigo1ºdestaResoluçãoque,

por suas características, necessitam

de processos diferenciados em seu

manejo, exigindo ou não tratamento

prévioàsuadisposiçãofinal.

Essadefiniçãoseaplicaatodosos

serviços relacionados com o atendi-

mento à saúde humana ou animal,

inclusive os serviços de assistência

domiciliar e de trabalhos de campo;

laboratórios analíticos de produtos

para saúde; necrotérios, funerárias e

serviçosondese realizematividades

deembalsamamento(tanatopraxiae

somatoconservação),serviçosdeme-

dicina legal; drogarias e farmácias;

estabelecimento de ensino e pesqui-

sadaáreadesaúde;centrodecontro-

ledezoonoses;distribuidoresdepro-

dutos farmacêuticos; importadores,

distribuidoreseprodutoresdemate-

riais para diagnóstico; unidades de

atendimento móvel de saúde, servi-

çosdeacupunturaetatuagem.

OquesãoosResíduosdeServiçodeSaúde

CÉassustadorencontrarfrascosde

sanguejogadossem

nenhumasegurança

FOTO: FABIANEDEPAULA

MARISTELACRISPIM

Editora

8 | DIÁRIO DO NORDESTE

FORTALEZA, CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2013