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ANÁLISE COMPARATIVA DE DESEMPENHO DE REDES PROFIBUS DP E PROFINET ANDRÉ L. DIAS Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP E-mails: [email protected] GUILHERME S. SESTITO Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP E-mails: [email protected] EDUARDO A. MOSSIN Instituto Federal de São Paulo Rua Américo Ambrósio, 269 - Sertãozinho - SP E-mails: [email protected] RENATO FERNANDES Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP E-mails: [email protected] DENNIS BRANDÃO Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP E-mails: [email protected] Abstract This article aims to compare the Profibus DP and Profinet protocols under similar conditions like topology and configu- ration of equipments, based on performance indicators cycle time and bandwidth occupancy. It creates a methodology for analyzing protocols based on practical experiments to collect real data that confer credibility and veracity of findings. Keywords Industrial Networks, Profibus DP, Profinet, Performance Indicators. Resumo Este artigo tem por finalidade comparar os protocolos Profibus DP e Profinet em condições semelhantes de topologia e configuração de equipamentos em relação aos indicadores de desempenho tempo de ciclo e ocupação de banda. Cria-se uma metodologia para analisar protocolos baseada em experimentos práticos a fim de coletar dados reais que conferem credibilidade e veracidade aos resultados encontrados. Palavras-chave Redes de comunicação industrial, Profibus DP, Profinet, Indicadores de Desempenho. 1 Introdução Existem diversas tecnologias de redes de comu- nicação industrial desenvolvidas atualmente. Durante as últimas décadas, uma variedade de protocolos fieldbus foram implementados para sistemas de au- tomação industrial. O protocolo Profibus DP é o protocolo de comunicação industrial que possui o maior marketshare e maior êxito entre todos os field- buses no domínio industrial (YU et al., 2012). A tecnologia Ethernet não foi utilizada de imedi- ato em processos industriais, pois estes envolvem em geral ambientes hostis, umidade, poeira e temperatu- ras elevadas, além da tecnologia não disponibilizar requisitos como comunicação em tempo real, deter- minismo e outros critérios de desempenho. Porém, protocolos industriais baseados em Ethernet vêm adequando-se tecnicamente para uso em ambientes industriais, disponibilizando robustez nos hardwares, alcançado com o desenvolvimento de conectores, cabos e switches próprios para este ambiente; e de software, alcançando determinismo necessário, am- plas possibilidades de diagnóstico e, adicionalmente, propicia aos dispositivos de campo a utilização de tecnologias Web (WARREN, 2009). Com estes avanços, criou-se garantias de tempo real ao protocolo Ethernet, passando a se chamar Real Time Ethernet (RTE). Alguns protocolos voltados a aplicações indus- triais são o Profinet, EthernetIP, EtherCAT, Mod- busTCP, P-NET, Vnet/IP, TCnet, Ethernet Power- link, EPA e SERCOS III, todos baseados no padrão IEEE 802.3 descritos pela IEC 61784-2. Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 2430

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ANÁLISE COMPARATIVA DE DESEMPENHO DE REDES PROFIBUS DP E PROFINET

ANDRÉ L. DIAS

Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo

Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP

E-mails: [email protected]

GUILHERME S. SESTITO

Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo

Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP

E-mails: [email protected]

EDUARDO A. MOSSIN

Instituto Federal de São Paulo

Rua Américo Ambrósio, 269 - Sertãozinho - SP

E-mails: [email protected]

RENATO FERNANDES

Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo

Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP

E-mails: [email protected]

DENNIS BRANDÃO

Laboratório de Automação Industrial, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidadede São Paulo

Avenida Trabalhador São-carlense, 400 - São Carlos -SP

E-mails: [email protected]

Abstract This article aims to compare the Profibus DP and Profinet protocols under similar conditions like topology and configu-

ration of equipments, based on performance indicators cycle time and bandwidth occupancy. It creates a methodology for analyzing

protocols based on practical experiments to collect real data that confer credibility and veracity of findings.

Keywords Industrial Networks, Profibus DP, Profinet, Performance Indicators.

Resumo Este artigo tem por finalidade comparar os protocolos Profibus DP e Profinet em condições semelhantes de topologia

e configuração de equipamentos em relação aos indicadores de desempenho tempo de ciclo e ocupação de banda. Cria -se uma

metodologia para analisar protocolos baseada em experimentos práticos a fim de coletar dados reais que conferem credibilidade e

veracidade aos resultados encontrados.

Palavras-chave Redes de comunicação industrial, Profibus DP, Profinet, Indicadores de Desempenho.

1 Introdução

Existem diversas tecnologias de redes de comu-

nicação industrial desenvolvidas atualmente. Durante

as últimas décadas, uma variedade de protocolos

fieldbus foram implementados para sistemas de au-tomação industrial. O protocolo Profibus DP é o

protocolo de comunicação industrial que possui o

maior marketshare e maior êxito entre todos os field-

buses no domínio industrial (YU et al., 2012).

A tecnologia Ethernet não foi utilizada de imedi-

ato em processos industriais, pois estes envolvem em

geral ambientes hostis, umidade, poeira e temperatu-

ras elevadas, além da tecnologia não disponibilizar

requisitos como comunicação em tempo real, deter-

minismo e outros critérios de desempenho. Porém,

protocolos industriais baseados em Ethernet vêm

adequando-se tecnicamente para uso em ambientes

industriais, disponibilizando robustez nos hardwares,

alcançado com o desenvolvimento de conectores,

cabos e switches próprios para este ambiente; e de software, alcançando determinismo necessário, am-

plas possibilidades de diagnóstico e, adicionalmente,

propicia aos dispositivos de campo a utilização de

tecnologias Web (WARREN, 2009).

Com estes avanços, criou-se garantias de tempo

real ao protocolo Ethernet, passando a se chamar

Real Time Ethernet (RTE).

Alguns protocolos voltados a aplicações indus-

triais são o Profinet, EthernetIP, EtherCAT, Mod-

busTCP, P-NET, Vnet/IP, TCnet, Ethernet Power-

link, EPA e SERCOS III, todos baseados no padrão IEEE 802.3 descritos pela IEC 61784-2.

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Este artigo analisa o desempenho da tecnologia

Profibus DP em comparação a Profinet, em relação a

indicadores de desempenho comumente utilizados no

meio acadêmico: o tempo de ciclo e ocupação de

banda. Desta maneira, este trabalho cria uma meto-

dologia para analisar protocolos de comunicação

industrial e contribui para o usuário final das tecno-

logias, visto que ele terá indicadores reais de desem-

penho que servirão de parâmetro na escolha do pro-

tocolo mais aplicável à sua necessidade.

2 Tecnologias e Indicadores de Desempenho

2.1 Profibus DP

O protocolo Profibus é suportado pela Profibus

International (PI), possuía até o final de 2012, 43,8

milhões de nós instalados (PROFIBUS..., 2013), o

que confere a este protocolo o maior market share e

o maior êxito entre todos protocolos de comunicação

no domínio industrial (YU et al., 2012).

Este protocolo possui três versões:

DP-V0: suporta funções básicas, como co-

municação cíclica e diagnósticos para localização de

falhas;

DP-V1: suporta as funções DPV0 e adicio-

nalmente comunicação acíclica entre dispositivos,

como funções de parametrização, operação, monito-

ramento e tratamento de alarmes.

DP-V2: possui funções adicionais ao DP-V1

como controle de drives, possibilitando comunicação

entre escravos, sincronização e estampa de tempo.

Este trabalho implementa experimentos que uti-lizam comunicação cíclica, com nível de desempe-

nho DP-V0.

Existem três tipos de dispositivos

(PROFIBUS..., 2010):

Mestre Classe 1 (MC1) : representa a esta-

ção central, responsável pela comunicação cíclica de

troca de dados de processo com seus escravos asso-

ciados.

Mestre Classe 2 (MC2): inicialmente defi-

nido como um mestre usado como uma ferramenta

de comissionamento. Para comunicação DP-V1 e DP-V2, é definido como um mestre, que pode ser

usada para definir os parâmetros do dispositivo atra-

vés de comunicação acíclica.

Escravo: representa um nó de comunicação

passivo que reage a instruções do mestre, enviando

uma mensagem de resposta. Utiliza-se modelo Mestre-Escravo, sendo que

um mestre pode controlar um ou mais escravos. O

método de acesso ao meio é o modelo Token Pas-

sing, de modo que o mestre que possui o token con-trole o acesso ao meio físico, e também possibilite a

aplicação de múltiplos mestres em uma mesma rede

compartilhando o acesso.

Figura 1. Modelo Mestre/Escravo utilizado no Profibus DP. Adaptado de PROFIBUS..., 2010

A Figura 1 representa graficamente o tempo de

ciclo de uma rede Profibus DP composto por comu-

nicações cíclica e acíclica.

A troca de dados baseia-se no princípio de requi-

sições individuais do mestre classe 1 para os escra-

vos distribuídos em campo que o respondem com as

informações solicitadas. Essa troca de dados é feita

ciclicamente, normalmente utilizada para dados do processo, com exigência de tempo real.

Também é possível comunicação acíclica ente o

mestre classe 2 e os escravos, onde o mestre classe 2

inicia a requisição e no próximo ciclo verifica se a

estação já possui resposta, normalmente são utiliza-

dos para supervisão e parametrização das estações. A

comunicação cíclica possui prioridade em relação a

comunicações acíclicas (YU et al., 2012) e

(MOSSIN, 2012).

Na camada física, o transporte de dados ocorre

via cabo elétrico RS485 com velocidade de transmis-são de 9,6kbps à 12Mbps, com sentido de transmis-

são half duplex. A fibra ótica também pode ser em-

pregada. A topologia física de rede comumente utili-

zada é a barramento, apesar de existirem hubs Profi-

bus DP para topologia estrela.

2.2 Profinet

A tecnologia Profinet também é suportado pela

PI, é definido pelas normas IEC 61158 e IEC 61784-

2 .O protocolo opera na comunicação entre uma

estação central e dispositivos descentralizados, se-

guindo o modelo Provider/Consumer para troca de

dados

Os pacotes Profinet podem ser classificados de

acordo com seu grau de determinismo (FERRARI,

2007; PROFINET, 2010):

RT Class 1 – utilizado em aplicações que

necessitam tempo de ciclo de até 10 milis-segundos. Esta classe não necessita de

hardwares especiais.

RT Class 2 – utilizado em aplicações que

necessitam de tempo de ciclo menores que

10 milissegundos, e ainda não exigindo

hardware especiais e configuração prévia da

rede. Essa versão foi descontinuada na últi-

ma revisão da norma.

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RT Class 3 – também chamado de tempo

real isócrono (IRT) é utilizado em aplica-

ções que requerem sincronismo entre dispo-

sitivos e tempo de ciclos na ordem de 1 mi-

lissegundo. Exige uma rígida topologia de

rede configurada previamente, e hardware

específico.

São definidos os seguintes tipos de dispositivos:

IO Controller representa a estação central

de inteligência, responsável pela configura-ção e parametrização de seus respectivos

dispositivos associados e controla a transfe-

rência de dados do processo.

IO Device: representa os dispositivos de

campo, transmitindo ciclicamente os dados

de processo coletados ao IO Controller e vi-

ce-versa.

IO supervisor: representa a estação de en-

genharia para programação, configuração ou

diagnóstico.

A troca de dados entre IO-Controllers e IO-

Devices ocorre através de canais de comunicação em

tempo real, demais dados como configuração, para-

metrização e estatísticas são transferidos utilizando

canais de comunicação que não apresentam suporte a

tempo real, por exemplo, UDP/IP entre IO-

Supervisor e IO-Devices. (FERRARI, 2007). O ciclo

de comunicação é altamente preciso e sincronizado

enviando inicialmente os pacotes que necessitam de

maior determinismo em tempo real seguido dos pa-

cotes de não tempo real. A tecnologia exige que sejam ocupados no máximo 60% de banda para co-

municação de tempo real, como mostra a Figura 2,

que representa o tempo de ciclo da tecnologia Profi-

net.

Figura 2. Ciclo de comunicação Profinet. Adaptado PROFINET... (2010)

Há alguns parâmetros temporais que são transpa-

rentes ao usuário e que são importantes para a troca

de dados. O primeiro destes é o sendcycle que é a

menor relação de tempo dentro dos dispositivos Pro-

finet, possui valor fixo de 31,25µs. O tempo é medi-

do usando múltiplos desse valor. Os multiplicadores

do sendcycle são chamados de sendclockfactor.

O sendclock é o intervalo de tempo comum em um tempo de ciclo, resultante da multiplicação do

sendcycle e do sendclockfactor.

O último parâmetro é a Reduction Ratio que in-

dica a quantidade de sendclock deve esperar que o

IO-Device está permitido a mandar um novo pacote.

Por exemplo, na Figura 3 a Reduction Ratio do IO

Dev 4 é 0, do IO Dev 3 é 1, do IO Dev 2 é 3 e do

IODev 1 é 7.

Assim, cada dispositivo da tecnologia Profinet

possui um tempo de atualização de variáveis transmi-

tido na rede, composto por sendclock multiplicado

pela reduction ratio. Baseada na definição de Jasper-

neite (2007), o dispositivo com maior tempo de atua-

lização de variáveis determinará o tempo de ciclo da

rede.

Figura 3. Estrutura do ciclo da comunicação RT. Adapta-do PROFINET... (2010)

O meio físico mais utilizado é o padrão

100BASE-TX, no cabo CAT 5. A velocidade de

transmissão é de 100 Mbps no modo full duplex, e

podem ser lançados até 100m de cabo a cada seg-

mento da rede. Utilizam-se conectores RJ45 e M12.

Também podem ser utilizadas fibra óptica e comuni-

cação wireless.

É possível utilização de diversas topologias físi-

cas de rede: estrela, árvore, linha e suas combina-

ções. O switch é um equipamento importante para o

Profinet, ele interconecta os dispositivos. Normal-mente o modelo"cut-through" é utilizado pois insere

menos atrasos nas mensagens transmitidas quando

comparado ao modelo “store-and-foward”.

A análise do desempenho das redes neste traba-

lho é baseada na utilização de indicadores de desem-

penho pesquisadas no meio acadêmico. A partir deste

ponto, coleta-se dados através de implementação de

arquiteturas de ambas tecnologias. Estes indicadores

são descritos mais detalhadamente na próxima seção.

2.3 Indicadores de Desempenho

Indicadores de desempenho despertam significa-

tivo interesse da comunidade científica. São utiliza-

dos para especificar as capacidades de um dispositivo

ou uma arquitetura de rede, bem como para especifi-

car os requisitos e necessidades de uma aplicação (INTERNATIONAL...,2010).

O desempenho de uma rede pode ser influencia-

do por sua topologia, pelo protocolo de comunicação,

pelo meio físico, pela velocidade de transmissão de

dados, dentre outros fatores.

A norma IEC61784-2 apresenta indicadores de

desempenho para redes de comunicação industrial

baseado em Ethernet (RTE), são eles:

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Delivery time: tempo necessário para envio de

um pacote de dados de um dispositivo fonte até

o dispositivo de destino.

Número de estações RTE: número máximo de

estações em uma rede de comunicação RTE

Basic Network Topology: topologias suportadas

pelo protocolo

Number of switches between endstations: núme-

ro de switches entre duas estações que se comu-

nicam.

Throughput RTE: total de dados de tempo real trafegando em um ponto específico da rede por

segundo.

Non-RTE bandwidth: porcentagem de banda

utilizada para comunicação de dados de não

tempo

Time synchronization accuracy: indica o desvio

máximo de clock entre duas estações.

Non-time based synchronization accuracy: indi-

ca o jitter máximo do comportamento cíclico de

duas estações.

Redudancy recovery time: indica o tempo máxi-mo necessário colocar a rede em plena operação

após uma falha.

Na literatura também são utilizados diversas mé-

tricas para análise e comparação de redes de automa-

ção industrial, que apesar de não serem definidas

pela IEC também podem ser considerados como

indicadores de desempenho. Um dos indicadores

largamente utilizado é o tempo de ciclo, utilizado em

Jasperneite (2007), Prytz (2008) e Ferrari (2008).

Jasperneite define o tempo de ciclo como o tempo necessário para se trocar dados de entradas e saída

entre o controlador e todos os dispositivos da rede

uma vez. Ele expõe que este parâmetro é uma métri-

ca importante de desempenho para sistemas de co-

municação industrial.

Outros indicadores diretamente relacionados ao

tempo de ciclo e utilizados em outros estudos é o

tempo de reação ao evento ou tempo de resposta e o

próprio delivery time apresentado anteriormente,

utilizados em Felser (2005), Marsal (2006) e Ferrari

(2007). Além destes indicadores relacionados a tempo,

um indicador que se torna importante é a ocupação

de banda que indica a quantidade de dados que trafe-

gam em um ponto de uma rede industrial em uma

determinada configuração. Este indicador é explora-

do em Domingues-Jaimes, Wisniewski e Trsek

(2010) e Ferrari (2011).

A PI disponibiliza gratuitamente uma ferramenta

chamada Network Load Calculation cuja função é

dimensionar o volume de dados que trafega pela

rede, porém as equações para cálculo não é clara-

mente definida pela IEC 61784-2 e pelo software.

Neste contexto, este trabalho compara a redes

Profibus DP e Profinet através dos indicadores tempo

de ciclo e ocupação de banda, introduzindo uma

metodologia de engenharia que será descrita no pró-

ximo tópico.

3 Descrição da Metodologia

Para uma análise mais assertiva do desempenho

dos protocolos Profibus DP e PROFINET buscou-se

compará-los em condições similares de operação.

Assim, um cenário de teste em laboratório composto por uma rede com a mesma configuração de equipa-

mentos para ambos os protocolos (mesmo número de

dispositivos e mesma quantidade de dados de proces-

so) foi implementado.

A fim de aproximar ainda mais as condições de

operação, foi utilizado um CLP que pode trabalhar

tanto com o protocolo Profibus quanto com o Profi-

net, e ademais, dispositivos possuem versões em

ambas as tecnologias e receberam a mesma progra-

mação. Desta forma, assegura-se que são enviadas e

recebidas quantidades de dados de processo iguais, e

que os dispositivos apresentam mesmo desempenho em relação a seus parâmetros internos.

Para configuração das redes foi utilizado o soft-

ware configurador do CLP, denominado TIA Portal

V.11 da Siemens.

A rede estudada é composta por quatro disposi-

tivos e um sistema de medição para coleta de dados.

Os equipamentos empregados na rede Profibus DP e

Profinet são listados na Tabela 1.

Tabela 1. Equipamentos utilizados na rede Profibus DP e Profinet

Equipamento Profibus DP Profinet

CPU 317-2 DP/PN MC1 IO-Controller

Relé inteligente Simocode Pro Escravo IO-Device

Multimedidor PAC3200 Escravo IO-Device

Remota ET200S Escravo IO-Device

Analisador Profitrace MC2 -

Switch Scalance X208 - Switch

Software Wireshark - IO-Supervisor

Analisador TAP Kunbus TAP/Switch

Para a coleta de dados da rede Profibus DP, uma

rede foi implementada conforme topologia apresen-

tada pela Figura 4.

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Figura 4. Topologia de rede Profibus DP

De maneira semelhante, criou-se uma rede para

coleta de dados Profinet de acordo com a Figura 5.

Figura 5. Topologia de rede Profinet

Para a rede Profibus DP, quatro experimentos

são realizados configurando-se diferentes taxas de

transmissão. Foram utilizadas: 9,6kbps (Rede 1);

500kbps (Rede 2); 1,5Mbps (Rede 3) e 12Mbps (Re-

de 4). A taxa de 12 Mbps é a maior possível na tec-

nologia Profibus DP.

Para rede Profinet, seis experimentos são reali-

zados utilizando velocidade de 100Mbps e configu-rando-se o tempo de atualização das variáveis por

IO-Device de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2. Redes Profinet com diferentes tempos de atualização de

variáveis por IO-Device.

Rede CPU 317 Simocode ET200S PAC3200

5 4 ms 8 ms 8 ms 8 ms

6 4 ms 4 ms 4 ms 4 ms

7 2 ms 2 ms 2 ms 2 ms

8 1 ms 1 ms 1 ms 1 ms

9 0,5 ms 1 ms 0,5 ms 1 ms

10 0,25 ms 1 ms 0,25 ms 1 ms

Coletou-se 10 segundos de dados para cada ex-

perimento, amostra suficiente para validação dos

resultados, visto que o tempo de ciclo é da ordem de

milissegundos. Antes das análises, há o pré-

processamento dos dados, para isso, grava-se os

pacotes com estampa de tempo transmitido pela rede

em um banco de dados.

O sistema de medição utiliza analisadores e mo-

nitores de rede que aferem dados intrínsecos ao bar-

ramento conferindo qualidade a este artigo. Tanto o analisador Profitrace para rede Profibus DP, como o

TAP Kunbus em conjunto com o software Wireshark

para a Profinet são transparentes aos pacotes em

ambas as direções, utilizam estampa de tempo nos

pacotes e possuem resolução de 100ns.

4 Resultados e Discussões

A partir da coleta de dados de todos os quadros

transmitidos nos diversos experimentos, os dados são trabalhados para obtenção dos resultados. A Tabela

3 apresenta os resultados o tempo de ciclo médio e o

desvio padrão (σ) para as dez redes criadas.

Tabela 3. Resultados o tempo de ciclo médio e o desvio padrão (σ)

Rede Protocolo Velocidade Ciclo (ms)

Média (µs) σ (µs)

1 Profibus DP 9,6 kbps 238427.6 10901

2 Profibus DP 500 kbps 4760.3 121

3 Profibus DP 1.5 Mbps 1655.5 44

4 Profibus DP 12 Mbps 600.1 6

5 Profinet 100 Mbps 8000.4 0.30

6 Profinet 100 Mbps 4000.2 0.51

7 Profinet 100 Mbps 2000.1 0.46

8 Profinet 100 Mbps 1000.1 0.52

9 Profinet 100 Mbps 1000.1 0.51

10 Profinet 100 Mbps 1000.0 0.50

Analisando o desvio padrão por parte do tempo

de ciclo, observa-se que quanto maior a velocidade

do Profibus, menor a dispersão existente em relação

a média dos tempos de ciclo. Porém se obteve maior

desvio padrão em relação ao Profinet, apontando

melhor determinismo neste protocolo nas condições

dos experimentos.

De acordo com o gráfico apresentado na Figura

4 verifica-se que o Profibus (utilizando comunicação

DP-V0) alcança tempo de ciclo inferior ao Profinet

na velocidade de 12Mbps, já que para o PAC3200 e Simocode Pro o valor mínimo de atualização de

variáveis é de 1ms. Não foi plotado o tempo de ciclo

da rede Profibus DP em 9,6kbps pois o valor de

238ms foi muito superior as demais redes.

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Figura 4. Comparação do tempo de ciclo

Em relação a ocupação de banda, verifica-se o

uso do meio físico para transporte das informações

de tempo real. Para se calcular o uso do meio físico

médio na rede Profibus e Profinet, utilizou-se a E-

quação 1:

(1)

onde:

- carga da rede

- quantidades de bits enviados em um ciclo

- tempo do ciclo

Para cada byte transmitido na rede Profibus DP

são necessários 11 bits. O primeiro bit corresponde

ao start bit, em seguida vem o octeto correspondente

ao byte a ser enviado, depois o bit de paridade e

finalmente, um stop bit. Isto não ocorre na rede

Profinet.

Para se calcular a ocupação de banda na rede

Profibus e Profinet, utilizou-se a Equação 2:

(2)

- carga da rede no ciclo

- taxa de transmissão configurada

O gráfico representado pela Figura 5 apresenta

os resultados coletados no experimento.

Figura 5. Comparação da ocupação de banda

Adicionalmente foi calculada a quantidade mé-

dia de bits que trafegaram na rede a cada ciclo de

comunicação entre dispositivos. Os resultados são

apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Resultados da ocupação de banda média e o desvio

padrão (σ) para as dez redes criadas

Rede Velocidade Bits/ciclo Ocupação (%)

Média (ms) σ (µs)

1 9,6 kbps (DP) 1993 87.11% 0.60%

2 500 kbps (DP) 1985 83.41% 1.20%

3 1,5 Mbps (DP) 1984 79.93% 1.79%

4 12 Mbps (PN) 3547 49.25% 1.20%

5 100Mbps (PN) 4594 0.96% 0.06%

6 100Mbps (PN) 4570 1.90% 0.07%

7 100Mbps (PN) 4562 3.80% 0.10%

8 100Mbps (PN) 4557 7.59% 0.13%

9 100Mbps (PN) 5836 9.73% 0.17%

10 100Mbps (PN) 8397 13.99% 0.14%

Verifica-se que se mantendo mesma carga da re-de, a ocupação de banda no Profibus DP é reduzida

com o aumento da velocidade configurada. A redu-

ção se torna maior em 12Mbps quando se verificou

que a o mestre classe 1 envia pacotes passando o

token para ele mesmo durante certo tempo. Mesmo

assim, os resultados de ocupação de banda da tecno-

logia Profinet foi extremamente inferior quando

comparada ao Profibus DP até mesmo em sua maior

velocidade disponível de 12Mbps.

Adicionalmente pode-se analisar a quantidade de

bits enviados por ciclo, verificando que a rede Profi-

net mesmo enviando maior quantidade de bits na

rede apresenta ocupação de banda inferior.

5 Conclusões

Existe a cultura de que novas tecnologias possu-

em melhor desempenho nos mais diversos aspectos

em relação a tecnologias mais antigas. Porém, análi-

ses comparativas baseadas em indicadores de desem-

penho podem ajudar na verificação de desempenho

de acordo com necessidade de usuários.

A ideia principal deste artigo é analisar o de-

sempenho de uma rede fieldbus consolidada (Profi-

bus DP) em comparação com a nova tecnologia RTE (Profinet) em relação a indicadores de desempenho

comumente utilizados no meio acadêmico, através de

experimentos em laboratório das redes em condições

compatíveis, observando o comportamento destes

indicadores

Na tecnologia Profinet houve transferência de

maior volume de dados em relação ao Profibus DP,

com ocupação de banda que chega a ser 90 vezes

menor, utilizando mesma configuração de rede no

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que diz respeito a número e tipo de dispositivos ope-

rando com mesma quantidade de dados de processo.

Desta maneira, indica-se a tecnologia Profinet

em aplicações com grande quantidade de dispositi-

vos e/ou haja necessidade de grande ampliação da

rede, ou seja quando é necessário troca de grande

volume de dados; e adicionalmente exista necessida-

de um controle/monitoramento com tempo real res-

trito, requisitando menores tempo de ciclo.

No que diz respeito ao tempo de ciclo a tecnolo-

gia Profibus DP apesar de mais antiga alcançou me-

nores tempo de ciclo na configuração estudada, já

que o tempo de atualização de variáveis do dispositi-

vo PAC3200 e Simocode pro se limita a 1ms. Porém,

o Profinet apresentou menores valores de desvio padrão neste indicador, demonstrando ser um proto-

colo mais determinístico que o Profibus DP.

Verifica-se que o Profibus DP varia a ocupação

de banda para alcançar menores tempos de ciclo,

enquanto o Profinet mantém o tempo de ciclo cons-

tante (configurado via software). Vale salientar que

para o Profibus DP a velocidade de transmissão é

fator determinante no tempo de ciclo da rede. Assim,

em aplicações onde existam baixa quantidade de

dispositivos, não havendo previsão de grandes am-

pliações, e/ou estes dispositivos transmitam baixo

volume de dados, a tecnologia Profibus DP tende a

ser mais eficaz, alcançando tempo de ciclos inferio-res a 1ms, próprios de aplicações de tempo real res-

tritas.

Adicionalmente se verifica que a tecnologia Pro-

finet pode proporcionar aos usuários maior informa-

ções de diagnóstico de maneira mais simples (via

Web Browser por exemplo), o que é mais restrito do

Profibus DP, além de ser uma tecnologia mais flexí-

vel no que diz respeito a topologias de rede e mesmo

de quantidade de dispositivos.

Desta maneira o trabalho contribui para análise

da tecnologia mais indicada aos utilizadores da tec-

nologia e criou-se uma metodologia de engenharia

para análise de redes através de análise de dados

offline.

Para trabalhos futuros outros pontos podem ain-da ser abordados, como: aumentos do números de

dispositivos de rede de maneira gradual, coleta de

dados com diversas configuração de tempo de ciclo e

diferentes topologias de rede para a tecnologia Profi-

net. Outros versões dos protocolos também podem

ser comparadas com o Profibus DP-V2 e o Profinet

IRT, utilizados comumente em aplicações de motion

control.

Agradecimentos

Agradecemos a Associação Profibus Brasil e a

empresa Siemens pela disponibilização de equipa-

mentos nos experimentos para coleta de dados.

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