Análise da Oferta e Produção de Serviços de Atenção em ... · determined by NOB-96 and later...
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Maurício Ferreira de Vasconcellos
Análise da Oferta e Produção de Serviços deAtenção em Saúde Bucal no Estado do Rio deJaneiro de 1996 a 2003, e sua Relação com os
Processos de Regionalização e Descentralização.
Dissertação de Mestrado apresentada aoPrograma de Pós-graduação em Saúde Coletiva– área de concentração em Políticas de Saúde,do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva –NESC, da Universidade Federal do Rio deJaneiro, como parte dos requisitos necessáriosà obtenção do título de Mestre em SaúdeColetiva.
Orientadores
Rejane Sobrino PinheiroCarlos Eduardo Aguilera Campos
Rio de Janeiro2005
2
Vasconcellos, Mauricio Ferreira de.Análise da Oferta e Produção de Serviços de Atenção em
Saúde Bucal no Estado do Rio de Janeiro de 1996 a 2003, e suaRelação com os Processos de Regionalização e Descentralização.Mauricio Ferreira de Vasconcellos. - 2005148 f.Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - (Políticas ePlanejamento de Saúde)Universidade Federal do Rio de janeiro, Núcleo de Estudos emSaúde Coletiva NESC, Rio de Janeiro, 2005
Orientadores: Rejane Sobrino Pinheiro Carlos Eduardo Aguilera Campos
Referências bibliográficas: f. 135-1401.Políticas em Saúde Bucal. 2.Sistemas de Informação em SaúdeBucal. 3. Programação em Saúde Bucal Teses.I. Pinheiro, Rejane Sobrino (Orient.). II. Universidade Federal do Riode Janeiro, Faculdade de Medicina, Núcleo de Estudos em SaúdeColetiva. III. Título
Maurício Ferreira de Vasconcellos
Análise da Oferta e Produção de Serviços deAtenção em Saúde Bucal no Estado do Rio deJaneiro de 1996 a 2003, e sua Relação com osProcessos de Regionalização e Descentralização.
Dissertação de Mestrado apresentada aoPrograma de Pós-graduação em Saúde Coletiva– área de concentração em Políticas de Saúde,do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva –NESC, da Universidade Federal do Rio deJaneiro, como parte dos requisitos necessáriosà obtenção do título de Mestre em SaúdeColetiva.
Aprovada em ___/___/___
_________________________________________Rejane Sobrino Pinheiro, DSC - NESC -UFRJ
_________________________________________Cláudia Vater, DSC - NESC-UFRJ
_________________________________________Ligia Giovanella, DSC - ENSP-Fiocruz
_______________________________________________Carlos Eduardo Aguilera Campos. DSC NESC - UFRJ
Resumo
Vasconcellos, Mauricio Ferreira de. Análise da Oferta e Produção de Serviços deAtenção em Saúde Bucal no Estado do Rio de Janeiro de 1996 a 2003, e suaRelação com os Processos de Regionalização e Descentralização. Dissertação deMestrado em Saúde Coletiva (Área de Políticas de Saúde) - Pós-graduação doNúcleo de Estudos em Saúde Coletiva NESC, Universidade Federal do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro, 2005.
Este estudo teve como objetivo analisar a situação da rede odontológica doSUS nos municípios enquadrados em regionais de saúde do Estado do Rio deJaneiro, sua estrutura física e a produção ambulatorial odontológica. Utilizou-secomo base, os oito anos compreendidos entre 1996 e 2003, avaliando os processosde descentralização e regionalização da atenção à saúde, determinados pela NOB-96 e posteriormente pela NOAS-01 e NOAS-01/02 e os preceitos constitucionais deuniversalidade e integralidade, ditados pela Constituição Federal de 1988. Como,também, a validade da utilização do Sistema de Informação Ambulatorial do SistemaÚnico de Saúde (SIA-SUS) como instrumento de avaliação e programação emsaúde bucal. Esta análise foi possível, pela recuperação de dados do SIA-SUS,referentes à população residente, à quantidade apresentada de produçãoambulatorial odontológica e a capacidade instalada de atendimento. Com autilização dos programas, TAB-WIN, Tabnet e EXCEL, foi possível avaliar aevolução quantitativa dos procedimentos odontológicos, seus índices de coberturamunicipais, e a adequação destes, aos parâmetros determinados pelo MS. Ao finaldo período estudado, verificou-se que, 74% dos municípios apresentaram aumentono número de procedimentos básicos; 80% com aumento de procedimentosespeciais; 87% apresentaram índices de cobertura básicos dentro ou acima dosparâmetros do MS e apenas 56% com índices especiais dentro ou acima destesmesmos parâmetros; 77% mantiveram sua produção abaixo da capacidadeinstalada; o Estado demonstrou uma mudança no perfil do atendimentoodontológico, com redução média da participação de 32% das extrações dentáriasdo total de procedimentos e aumento médio de 9,5% das ações conservadoras,entre 1999 e 2003; os dados mostraram uma distribuição geográfica desequilibradados procedimentos especiais, o que dificultaria o acesso de parte da população aestes procedimentos. Pode-se concluir que, mesmo com clara evolução naquantidade, e nos índices de cobertura, por parte da maioria dos municípios, osprincípios de descentralização e regionalização ainda não são uma realidade noEstado; e que os preceitos da universalidade e integralidade nas ações emodontologia, principalmente nas de maior complexidade, ainda são questõesutópicas, pela alta demanda reprimida existente e que o SIA-SUS, pode serconsiderado, apesar de suas limitações, um importante instrumento na programaçãoe planejamento das ações em odontologia.
ABSTRACT
Vasconcellos, Mauricio Ferreira de. Análise da Oferta e Produção de Serviços deAtenção em Saúde Bucal no Estado do Rio de Janeiro de 1996 a 2003, e suaRelação com os Processos de Regionalização e Descentralização. Dissertação deMestrado em Saúde Coletiva (Área de Políticas de Saúde) - Pós-graduação doNúcleo de Estudos em Saúde Coletiva NESC, Universidade Federal do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro, 2005.
The aim of this study was to analyze the situation of the dental net of UniqueHealth System (SUS) in the municipal districts, framed in health regions, in the Stateof Rio de Janeiro, its physical structure and the ambulatory dental production. It wasused as base, the eight years between 1996 and 2003, evaluating thedecentralization processes and regionalization of the attention to the health,determined by NOB-96 and later on for NOAS-01 and NOAS-01/02 and theconstitutional precepts of universality and integrality, dictated by the FederalConstitution of 1988. As, also, the validity of the use of the Ambulatory InformationSystem of the Unique Health System (SIA-SUS), as evaluation instrument andprogramming in oral health. This analysis was possible, for the recovery of data ofSIA-SUS, referring to the resident population, to the presented amount of ambulatorydental production and the installed capacity of attendance. With the use of theprograms, TAB-WIN, Tabnet and EXCEL, was possible to evaluate the quantitativeevolution of the dental procedures, its municipal covering indexes, and the adaptationof these, to the parameters determined by the Health Ministry. At the end of thestudied period, it was verified that, 74% of the municipal districts presented increasein the number of basic procedures; 80% with increase of special procedures; 87%presented basic covering indexes inside or above the parameters of the HealthMinistry and just 56% with special indexes inside or above these same parameters;77% maintained its production below the installed capacity; the State demonstrated achange in the profile of the dental attendance, with medium reduction of theparticipation of 32% of the dental extractions of the total of procedures and mediumincrease of 9,5% of the conservative actions, between 1999 and 2003; the datashowed an unbalanced geographical distribution of the special procedures, whatwould hinder the part access of the population to these procedures. It can be endedthat, even with clear evolution in the amount, and in the covering indexes, on most ofthe municipal districts, the process of decentralization and regionalization are notstill a reality in the State; and that the precepts of the universality and integrality in theactions in dentistry, mainly in the one of larger complexity, they are still utopiansubjects, for the discharge it demands repressed existent and that SIA-SUS, can beconsidered, in spite of its limitations, an important instrument in the programming andplanning of the actions in dentistry.
2
Lista de Siglas Utilizadas
• ABRASCO Associação Brasileira de Saúde Coletiva• ACD Atendente de consultório dentário• AIH Autorização de Internação Hospitalar• AIS Ações Integradas de Saúde• APD Auxiliar de prótese dental• BSP Boletim de serviços produzidos• CD.s Cirurgiões Dentistas• CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde• CES Conselho Estadual de Saúde• CFO Conselho Federal de Odontologia• CIB Comissão Intergestores Bipartite• CIT Comissão Intergestores Tripartite• CMS Conselho Municipal de Saúde• CNSB Conferência Nacional de Saúde Bucal• CONASP Conselho de Administração e Saúde Previdenciária• CPOD Índice de dentes cariados, perdidos e obturados• CRO-RJ Conselho Regional de Odontologia - Sessão Rio de Janeiro• DF Distrito Federal• ENATESPO Encontro Nacional de Administradores e Técnicos do Serviço
Público Odontológico• ESB Equipe de Saúde Bucal• SESP Serviços Especiais de Saúde Pública• GAP Guia de autorização de pagamento• IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística• IDH M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal• MBRO Movimento Brasileiro de Renovação Odontológica• MS Ministério da Saúde• NOAS Norma Operacional da Assistência à Saúde• NOB Norma Operacional Básica• OMS Organização Mundial da Saúde• OPAS Organização Panamericana de Saúde• PAB Piso Assistencial Básico• PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde• PISE Programa Integrado de Saúde Escolar• PNAD Pesquisa Nacional• POI Programação e Orçamento Integradas da Saúde• PRECAD Programa Nacional de Cárie Dentária• PROAD Programa de Reorientação da Assistência Odontológica• PROS Programação e Ornamentação da Saúde• PSF Programa e Saúde da Família• SIA/SUS Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS• SB Brasil Senso das Condições da Saúde Bucal da População• SIAB Sistema de Informação de Atenção Básica• SIH Sistema de Informações Hospitalares• SIM Sistema de Informação de Mortalidade• SUDS Sistema Unificado Descentralizado de Saúde• THD Técnico em higiene dental• TPD Técnico em prótese dental
Sumário1 INTRODUÇÃO 8
2 CAPÍTULO I - POLÍTICAS DE SAÚDE BUCAL NO BRASIL. 13
2.1 Políticas Públicas de Saúde Bucal – Um breve histórico 13
2.2 Situação atual da saúde bucal no estado do Rio de Janeiro. 24
3 CAPÍTULO II - SAÚDE BUCAL NO BRASIL: DA PRÁTICA,MODELOS DE ATENÇÃO, E RECURSOS HUMANOS.
28
3.1 Prática e modelos de atenção. 28
3.2 Recursos humanos. 33
3.2.1 Formação. 33
3.2.2 Distribuição geográfica e remuneração. 35
4 CAPÍTULO III - PROGRAMAÇÃO E PARÂMETROS DE
ATENDIMENTO EM SAÚDE BUCAL NO BRASIL.37
4.1 Modelos de programação Odontológica 37
4.1.1 A Odontologia Sanitária 38
4.1.2 A Odontologia Simplificada no Modelo de Programação Tradicional 40
4.1.3 A Odontologia Integral 41
4.1.4 Odontologia e Saúde Coletiva. 44
4.2 Prática programática e seus parâmetros 46
5 CAPÍTULO IV - OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE
BUCAL49
6 CAPÍTULO V - OBJETIVOS 55
6.1 Objetivo Geral 55
6.2 Objetivos Específicos 55
7 CAPÍTULO VI - MATERIAS E MÉTODO 56
8 RESULTADOS 59
8.1 Resultados por regionais 59
8.1.1 Baía da Ilha Grande 59
8.1.2 Baixada Litorânea 63
8.1.3 Centro-Sul Fluminense 70
8.1.4 Médio Paraíba 77
8.1.5 Metropolitana 84
8.1.6 Noroeste Fluminense 91
2
8.1.7 Norte Fluminense 98
8.1.8 Serrana 105
8.2 Resultados Gerais 112
9 DISCUSSÃO 113
9.1 Discussão por Regionais 113
9.1.1 Baía da Ilha Grande 113
9.1.2 Baixada Litorânea 113
9.1.3 Centro-Sul Fluminense 115
9.1.4 Médio Paraíba 116
9.1.5 Metropolitana 118
9.1.6 Noroeste Fluminense 120
9.1.7 Norte Fluminense 121
9.1.8 Serrana 122
9.2 Discussão Geral 124
10 CONCLUSÕES 132
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 135
ANEXOS 141
I. - Lista de procedimentos básicos SIA-SUS 142
II. - Lista de procedimentos especiais SIA-SUS 143
III. -Relação percentual de Glosa entre a produção Apresentada
e Aprovada 1996 - 2003
145
IV. Mapa dos índices de consulta por habitante/ano especiais
em 2003
146
V. Mapa dos índices de consulta por habitante/ano básicos
em 2003
147
VI. - Análise do Perfil de atendimento de procedimentos Básicos
e Especiais
148
8
1. INTRODUÇÃO
O período de tempo no qual o trabalho se insere faz parte dos últimos dois
mandatos de governo federal (1994 - 2002), apoiados em uma linha de política
governamental neoliberal, que tinha como uma das diretrizes principais o processo
de privatização de boa parte do patrimônio Público. No mesmo período consolidou-
se o processo de globalização que gerou um grande impacto sobre a economia
mundial, levando as grandes potências econômicas a fomentar e estimular a
modernização de suas estruturas de produção visando uma maior competitividade
junto a um mercado mundial agora altamente competitivo. Contudo, tal processo
tornou-se muito penoso para as sociedades menos estáveis cujo mercado ainda
permanecia em uma situação de crescimento e desenvolvimento tentando
estabelecer seu lugar dentro do mercado mundial.
Para que tais mudanças pudessem ocorrer, mais capital externo deveria ser
injetado na economia, e como sempre, para que isto ocorresse, estas economias
deveriam criar mecanismos que viessem a estabilizar sua moeda, refrear o processo
inflacionário, diminuindo os gastos públicos, ajustando a política fiscal (como por
exemplo, a Lei de responsabilidade fiscal de Estados e Municípios). Esta
austeridade nos gastos públicos tinham como um de seus principais objetivos reduzir
o crescente endividamento de governos Estaduais e Municipais com a União e desta
com as instituições financeiras internacionais.
No setor de Saúde, ocorreu uma diminuição da capacidade de atendimento ,
já que uma boa parte do patrimônio Federal, repassado aos Estados e Municípios,
que muitas vezes não apresentavam condições de mantê-los, quer pelo caráter
econômico ou operacional, resultando numa drástica redução na qualidade da
atenção à população.
9
E como a odontologia se apresentava neste quadro político-econômico?
A divulgação de uma pesquisa sobre acesso e utilização de serviços de
saúde, em meados de julho de 2000, causou bastante repercussão na sociedade
brasileira. Segundo estudo feito pelo IBGE associados à Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Brasil, PNAD, 1998), cerca de 18,7% dos brasileiros nunca
foram ao dentista. Isto significa que um em cada cinco habitantes ou seja, 29,6
milhões de brasileiros, jamais pisaram em um consultório odontológico, sendo que
quando analisados os dados referentes à população rural, este índice subia para
32% (Brasil, PNAD, 1998). Ainda segundo dados do Governo Federal, através da
coordenação de saúde bucal do Ministério da Saúde, 60% da população, cerca de
100 milhões de habitantes, não têm acesso fácil, direto e regular à assistência
odontológica (Brasil/MS, 2005).
Os resultados finais revelados pelo último Censo das Condições da Saúde
Bucal da População Brasileira (SB-Brasil) de 2002/2003 (Brasil/MS, 2005), são um
bom exemplo do quadro das condições de saúde bucal da população brasileira:
• Em média, uma criança brasileira de três anos ou menos já possui um dente
com cárie dentária. Aos cinco anos, essa média aumenta para quase três
dentes.
• Em adultos, destaca-se o componente dentes perdidos. Os dentes perdidos
são responsáveis por 66% do índice de dentes cariados, perdidos, obturados
(CPOD) no grupo de 35 a 44 anos, e quase 93% no grupo de 65 a 74 anos.
• Cerca 55,9% da população acima de 50 anos não têm dentes ou fazem uso
de próteses totais ou parciais removíveis.
10
• O índice da cárie dentária varia de acordo com a região analisada. A
proporção de dentes cariados é sensivelmente maior nas regiões Norte e
Nordeste.
• A cárie dentária ocupa hoje o segundo lugar na lista das doenças que mais
afligem a população brasileira.
Quando estes dados são associados aos problemas relacionados à situação
sócio-econômica da população, considerando os dois cortes de renda
exemplificados no Quadro 1, verifica-se uma grande dificuldade de acesso ao
tratamento dentário pela população com renda inferior a 10 salários mínimos.
Quadro 1 Relação entre população, renda e acesso a serviços odontológicos no Brasil
(BRASIL / PNAD, 1998)
População Número (milhões) % relativa à faixa derenda
% do total
Total 158.232.252 100,0
Nunca consultou dentista 29.626.264 18,7
Com acesso a dentista, emqualquer tempo
128.526.924 81,3
População com renda < 10salários.
122.247.173 77,3
População com renda < 10salários, com acesso ao dentistano último ano
34.786.697 28,5 22,0
População com renda > 10salários.
27.059.005 17,1
População com renda > 10salários, com acesso ao dentistano último ano
14.909.675 55,1 9,4
Vida saudável para todos significa universalidade na atenção em odontologia
em saúde coletiva e especialmente no acesso a uma qualidade de vida melhor, mais
solidária, eqüitativa e justa. O que também significa que a prática deveria mudar do
modelo de odontologia integral, fortemente influenciado pelo modelo proposto por
Gies (Gies, 1926; Cordón, 1996) na formação acadêmica, para um modelo e
11
abertura de espaços sociais, para uma odontologia inserida integralmente na saúde,
abordando de forma participante estes espaços sociais. Assim sendo, o objetivo
seria construir um modelo de saúde caracterizado pela universalidade, eqüidade e
pela integralidade da atenção em saúde bucal, cujos agentes, se utilizam do método
científico para conhecer estruturalmente as características epidemiológicas em que
se dão os processos de saúde-doença bucal, podendo, assim, intervir de forma mais
eficiente e eficaz (Córdon, 1997).
Significa, portanto, intervir positivamente de forma total na população, com
hierarquia de ações e de forma descentralizada, considerando todos as
necessidades e prioridades sociais para que, de forma coletiva, possa ser promovida
uma qualidade de saúde bucal com prioridade pelas necessidades dos problemas
mais abrangentes que afligem a população, e educadora em todo o seu processo
(Córdon, 1997).
É preciso investir no atendimento de procedimentos especializados, onde o
paciente receberia um tratamento mais específico, de caráter curativo e
conservador, visando a manutenção dos elementos dentários, oferecendo à
população todas as especialidades, respeitando-se assim o conceito constitucional
de universalidade e integralidade, e não o que vemos hoje onde a maior oferta de
serviços prestados à população como um todo é ainda a extração dentária,
principalmente quando avaliamos a prestação do atendimento à população adulta.
(Pucca, 2003).
O desequilíbrio entre a oferta de procedimentos básicos e especiais tem
íntima relação com a rede assistencial, que quando mesmo estando adequada às
necessidades de demandas locais em relação à quantidade de salas de
atendimento, pode carecer dos recursos humanos (clínicos gerais, especialistas,
12
técnicos em prótese dentária e higiene oral) diretamente ligados ao atendimento. A
má distribuição dos cirurgiões-dentistas é um dos fatores que concorrem para esse
quadro. Mais de 70% dos CDs brasileiros estão concentrados nos Estados das
Regiões Sul, Sudeste e no Distrito Federal, regiões onde observamos a maior
concentração de renda no País e portanto, mais atraentes aos profissionais de
odontologia. Portanto, para reverter esse quadro, não bastam ações odontológicas,
estamos falando de causas estruturais, de uma opção de desenvolvimento nacional
extremamente injusta para a maioria do nosso povo. (Pucca, 2003)
A presente dissertação tem como objetivos, analisar se as regionais de saúde
do Estado do Rio de Janeiro e seus municípios demonstraram, no período
compreendido entre 1996 e 2003, uma evolução em relação aos preceitos
constitucionais de descentralização e universalidade da prestação dos serviços em
odontologia; examinar a situação da rede odontológica do SUS no estado, sua
estrutura física e produção ambulatorial odontológica, em relação ao processo de
descentralização e regionalização da atenção à saúde e procurar determinar a
presença de sinais de mudanças no perfil do atendimento odontológico prestado à
população no Estado.
13
2. CAPÍTULO I - POLÍTICAS DE SAÚDE BUCAL NO BRASIL.
2.1 Políticas Públicas de Saúde Bucal – Um breve histórico
O sistema público em odontologia tem como objetivo, a doença e suas
seqüelas, preocupando-se com a racionalidade dos gastos e não com a saúde em si
mesma, utiliza algumas ações preventivas de natureza coletiva e individual que não
impedem a doença de progredir, sendo necessária a utilização de serviços de maior
complexidade para o seu tratamento, envolvendo, conseqüentemente, maior custo.
Segundo Cordón (1985):
Para compreender o problema odontológico no Brasil,necessariamente há que se fazer relação ao desenvolvimentohistórico que assume esta formação econômico-social, desde aépoca anterior à colonização européia até a atualidade, paracolocar nesta dinâmica de relações o aparecimento dosproblemas de saúde/doença bucal, as formas de práticaodontológica, o desenvolvimento e o saber científico etecnológico e as modificações epidemiológicas estruturais .(p. 55)
Até 1950, foi desenvolvida uma prática assistencialista que dava atendimento
quando o indivíduo procurava o serviço, em geral por dor, representando um modelo
de prática idêntico ao da clínica privada.
A partir de 1950, encontramos os primeiros sinais de mudança, através da
introdução do Sistema Incremental de Atendimento, pela Fundação Serviços
Especiais de Saúde Pública (F-SESP), que teve a finalidade de dirigir a atenção ao
grupo epidemiológico mais vulnerável, na faixa etária dos 6 aos 12 anos. (Chaves,
1986)
Em 1953 teve início a fluoretação das águas de abastecimento público, como
primeira ação coletiva voltada à prevenção da patologia mais prevalente, a cárie
dentária.
14
A partir de 1964, iniciou-se o processo de privatização dos serviços de saúde
no país, culminando com o modelo industrial de Medicina e Odontologia, onde as
multinacionais de saúde e as empresas odontológicas, passaram a cumular o lucro
proveniente da atividade de saúde financiada pelo Estado.
Nos anos 70, o País apresentou uma crescente concentração de renda e dos
meios de produção principalmente nos grandes centros urbanos, acarretando um
intenso êxodo rural, aonde indivíduos chegavam à procura de oportunidades de
emprego e melhores condições de vida, gerando como natural conseqüência um
aumento da concentração populacional e um aumento da periferia urbana, o que
levou a implementação de programas de Odontologia comunitária.
Nesta mesma década realizou-se a Conferência de ALMA-ATA, a qual
introduziu o conceito de atenção primária, forçando a segunda grande mudança no
modelo de assistência em Odontologia, levando a atenção primária em odontologia,
associada a uma tecnologia apropriada, simplificação de técnicas e equipamentos,
ampliando o horizonte de atuação do pessoal auxiliar, tendo como foco principal à
ampliação da cobertura e diminuição dos custos operacionais (OMS / UNICEF,
1979).
Contudo, tais iniciativas não mudaram o modelo hegemônico desenvolvido e
em conseqüência não atingiram os objetivos de modificar os perfis de saúde bucal
da população.
Segundo Cordón (1985):
Os níveis de política de saúde bucal eram inexistentes, sendoque somente em 1982 surge um grupo de trabalho no MS,instituição que até então não tinha este setor, surgindo algumaspropostas que paralelamente vão se organizando através deuma proposta única, produzida no M. Previdência com aproposta de reorientação da assistência CONASP. A nívelestadual e municipal alguns esforços eram realizados no sentido
15
de ampliar as redes de serviços, sem ter os recursosnecessários e em todo caso, privilegiando a odontologiaindividual . (pág. 55)
Um dos desdobramentos do Plano de Reorientação a Assistência à Saúde no
Âmbito da Previdência Social do Conselho Consultivo de Administração e Saúde
Previdenciária (CONASP), foi o Programa de Reorientação da Assistência
Odontológica (PROAD).
Em 1983, surgem as Ações Integradas de Saúde (AIS), um dos componentes
mais discutidos do Plano CONASP e que tinha como escopo básico à concepção de
uma melhor utilização da rede de serviços básicos através de convênios firmados
entre os ministérios da Previdência e Assistência Social, Saúde, Educação e
secretarias estaduais de Saúde, com incorporação posterior dos municípios. Sendo
feito o repasse de recursos da união para os órgãos públicos de atendimento por
produção de atos odontológicos.
O item 4 estabelece:
Integralidade das Ações de Saúde , superando as dicotomias preventivo/curativo,
individual/coletivo, ambulatorial/hospitalar e no item 9 Planejamento da Cobertura
Assistencial , a partir das necessidades de atendimento da população, com
parâmetros e estratégia assistências de melhor relação custo/benefício (Brasil-MS.
1983).
Estas ações promoveram o fortalecimento da rede ambulatorial, a contratação
de recursos humanos e principalmente a integração com os municípios. Todavia
questões fundamentais como a participação popular na elaboração das políticas de
saúde bucal, a revisão do papel dos serviços privados e a forma de arrecadação de
verbas a serem investidas no setor, ficaram a margem das discussões.
16
As principais referências quanto aos procedimentos públicos em Saúde bucal
datam de 1984 através de parâmetros introduzidos pela Fundação Serviços
Especiais de Saúde Pública (F.SESP), com base em avaliações de produtividade
dos serviços e desempenho profissional. (BRASIL/MS/FSESP, 1984).
Casotti (1995), em sua dissertação, analisou proposições governamentais
para as políticas de saúde bucal promovidas pelo Ministério da Saúde e Previdência
Social no período compreendido entre 1976 a 1986, concluindo que todas estas
propostas respondiam a um modelo de atenção odontológica hegemônico, que ao
favorecer interesses arbitrários à lógica da saúde não foram capazes de alterar o
padrão de ocorrências das duas principais doenças da coletividade - a cárie e a
doença periodontal.
A segunda metade da década de 80 trouxe dois importantes marcos para a
saúde bucal no país.
A I Conferência Nacional de Saúde Bucal (Brasil, 1986), realizada
conjuntamente com a VIII Conferência Nacional de Saúde e a promulgação da
Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988). Esta I Conferência marcou o início da
luta pelo direito à saúde bucal, como básico à cidadania, preconizada em seu
relatório final:
O programa Nacional de Saúde Bucal deverá estar inserido noSistema Único de Saúde, universalizado, hierarquizado edescentralizado, com a municipalização dos serviços efortalecimento do poder decisório municipal, bem como agarantia de uma prática odontológica integral baseada nasimplificação, desmonopolização e prevenção e ainda aformulação do Programa Nacional de Saúde Bucal .
Os direitos estabelecidos na I Conferência Nacional de Saúde Bucal, foram
consagrados através da promulgação da Constituição Federal de 1988, abrindo-se
uma nova fase de luta pela sua efetivação.
17
Um fato relevante ocorrido neste mesmo período, foi a criação da Divisão
Nacional de Saúde Bucal no Ministério da Saúde, através da Portaria nº 420, de 24
de agosto de 1987, subordinada à Secretaria Nacional de Programas Especiais do
Ministério da Saúde (BRASIL/MS, 1987), como organismo de gestão central para o
setor.
No ano seguinte, foi aprovada a Política nacional de Saúde Bucal (Brasil,
1988a) que apresentava cinco pilares principais: A universalização do atendimento,
a participação comunitária, a descentralização, a hierarquização das ações e a
integração das instituições Federal, Estaduais e Municipais.
Ficaram estabelecidas as seguintes prioridades, estabelecidas através de
consensos entre as várias entidades de saúde pública e de representações
profissionais do país:
1. Grupos populacionais:
• 2 a 5 anos;
• 6 a 12 anos;
• 13 a 19 anos;
• adultos
2. Danos:
• Cárie dental;
• Doenças periodontais;
• Problemas dento-maxilofaciais e ortodônticos;
• Câncer bucal;
• Infecções viróticas (hepatite, AIDS, herpes).
A Divisão Nacional de Saúde Bucal do Ministério da Saúde também foi
responsável pela publicação dos resultados do Levantamento Epidemiológico
18
(Brasil, 1988b); pela implantação do Programa Nacional de Cárie Dentária
PRECAD e de cursos para Agentes Básicos de Saúde Bucal que atuavam em
localidades sem Cirurgiões Dentistas; pela elaboração das normas para controle de
registros de dentifrícios fluoretados e de soluções para enxaguatórios diários com
flúor; e pelos estudos sobre viabilização do uso do sal de cozinha como veículo
preventivo... .
Apesar de todos estes avanços na direção dos princípios da reforma sanitária
e do Sistema Único de Saúde (SUS), a prática odontológica, em sua essência,
continuava prestando serviço às classes dominantes e relacionando o seu labor
diário com as forma mercantilistas, priorizando a doença e não a saúde. (Pretto,
1992)
Este mesmo setor público caracterizava-se pela predominante atenção a
escolares do 1º grau, pelo atendimento das urgências em adultos, pelo custo
elevado de seus insumos, pela utilização de recursos humanos pouco preparados
para atuar nos serviços públicos e pela inexistência de integração com as demais
áreas da saúde.
Como mostra Souza (1991)
a atenção odontológica desenvolvida no país foi destinada
basicamente à população escolar, ao atendimento às urgências
dos demais grupos populacionais. (p. 5)
Com a mudança da estratégia de programação acrescentando-se ao termo
saúde bucal a palavra coletiva, desencadeou-se, a partir do início dos anos 90,
mudanças nas prioridades em relação aos procedimentos e parâmetros de
atendimento.
19
A primeira delas ocorreu em 1991, com a regulamentação dos procedimentos
coletivos para efeito de faturamento pelo MS. Segundo Moreira (1999, p.106) os
procedimentos coletivos são conjuntos de procedimentos a serem desenvolvidos em
grupos populacionais previamente definidos. Os participantes do grupo devem ser
acompanhados durante o ciclo do programa anual, permitindo o controle
epidemiológico do grupo. Os procedimentos dividem-se em três níveis de
complexidade PCI, PCII e PCIII .
Ao final deste mesmo ano de 1991, foi criado o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS) para somar-se aos esforços voltados à redução dos
graves índices de mortalidade infantil e materna na Região Nordeste, sendo
convidadas, na ocasião, as Secretarias Estaduais de Saúde para traçar as diretrizes
para a formação destes agentes comunitários. Em 1992 a expansão do programa
ficou suspensa por alguns meses e sua continuidade só foi garantida, naquele
momento, em função da epidemia e cólera que ameaçava o País.
Em 1993 o PACS foi posto em xeque: ou seria reorientado ou abandonado,
sendo que ao final deste mesmo ano, o Ministério da Saúde iniciou uma discussão
para a implantação de um modelo que viesse a substituir o PACS e que estivesse
sintonizado com o processo de reforma iniciado pela implementação do Sistema
Único de Saúde (SUS), que já expressava avanços significativos na
descentralização e na municipalização dos serviços de saúde, criando instrumentos
ou intervenções que provocassem a ruptura do modelo de atenção tradicional e
historicamente hegemônico no País, traduzido como um modelo centrado na
doença, configurado, ainda como curativo, que privilegiava uma atenção à saúde de
alto custo, exercida de forma verticalizada e acessível apenas a uma parcela restrita
da população. (Brasil/MS 2002 b, p.7 e 8)
20
Com este propósito iniciou-se a formação das diretrizes do Programa de
Saúde da Família (PSF), lançado em 1994, rompendo o comportamento passivo das
unidades básicas de saúde e estendendo suas ações para junto da comunidade.
As unidades do programa, eram compostas, inicialmente, por equipes
multiprofissionais de um médico, uma enfermeira, um ou dois auxiliares de
enfermagem e de quatro ou seis agentes comunitários, com responsabilidade sobre
um território onde viviam ou trabalhavam em torno de 4.500 pessoas ou 1.000
famílias. Estes profissionais assumiam o desafio da atenção continuada, resolutiva e
pautada pelos princípios da promoção de saúde, cujas ações eram consideradas
essenciais para a melhoria dos indicadores de saúde e de qualidade de vida da
população acompanhada. (Brasil/MS 2002 b, p. 11)
Com o avanço do processo de municipalização, a função do Ministério da
Saúde restringiu-se a normatização desses procedimentos, nesta década
basicamente representada pela NOB SUS 96, que determinou no âmbito da saúde
coletiva três grandes campos: o da assistência, o das intervenções ambientais e o
das políticas externas ao setor saúde.
Além disto, a NOB-SUS 96, criou o Piso de Atenção Básica (PAB), pelo qual
todo município teria um valor específico repassado pelo Fundo Nacional de Saúde,
atribuído a cada um dos seus habitantes (um valor per capita), viabilizando a
atenção básica de saúde a toda a população.
O NOB 96 fortaleceu significativamente atenção básica, ao definir
responsabilidades dos gestores municipais nesse nível de complexidade do sistema
e ao definir o PSF como estratégia prioritária para a mudança do modelo
assistencial.
21
Em 2001 o Ministério da Saúde, pela portaria nº 95 de 26 de janeiro, cria a
NOAS-SUS/2001, cujo conjunto de estratégias articula-se em torno do pressuposto
de que naquele momento da implantação do SUS, a ampliação das
responsabilidades dos municípios na garantia de acesso aos serviços de atenção
básica, a regionalização e a organização funcional do sistema são elementos
centrais para o avanço do processo (Brasil-MS, 2001, p.3). Em seu Anexo 2,
estabelece responsabilidades e ações estratégicas mínimas de atenção básica na
área de odontologia, priorizando a prevenção de problemas odontológicos na
população de zero a quatorze anos e gestantes em procedimentos coletivos;
cadastramento de usuários; tratamento dos problemas odontológicos na população
de zero a quatorze anos e gestantes e atendimento à urgências odontológicas.
Embora o Ministério da Saúde tenha normatizado as ações de saúde bucal na
atenção básica no Sistema Único de Saúde, mediante a NOB-96 e a NOAS-2001,
essas ações não se universalizaram entre a população brasileira, por direcionar suas
prioridades à população restrita de zero a quatorze anos e gestantes, o que não
difere muito dos modelos observados no passado.
É preciso reconhecer que não é possível governar apenas através de grupos
técnicos setoriais, ficando claro que até então, pôde-se verificar uma enorme
lentidão nos avanços em direção a um modelo de odontologia pública preocupada
com a saúde bucal coletiva da população como um todo.
Segundo Inácio (2003, p.48) Ainda na década de 90, a crise do mercado de
trabalho dos profissionais do setor privado na área de saúde bucal mobilizou
associações de classe no sentido de reivindicar a inclusão da saúde bucal no
Programa de Saúde da Família PSF, que não constava no projeto inicial de 1994.
Estas reivindicações foram atendidas pela portaria 1.444, de 28 de dezembro de
22
2000, que estabeleceu o incentivo financeiro para a reorganização da atenção à
saúde bucal nos municípios por meio do PSF, e efetivamente entrou em vigor
através da portaria 267, de 6 de março de 2001, com a criação das Equipes de
Saúde Bucal (ESB).
A necessidade de melhorar os índices epidemiológicos de saúde bucal e de
ampliar o acesso da população brasileira às ações a ela relacionadas, na promoção,
proteção e recuperação, impulsionou a decisão de reorientar as práticas de
intervenção nesse contexto, mediante sua inclusão na Estratégia da Saúde da
Família. Contudo a incompleta adesão dos municípios ao sistema e a lenta
incorporação das equipes de saúde bucal às equipes existentes, gerou resultados
ainda incipientes a nível nacional, com impacto ainda restrito em termos
populacionais.
O Governo Federal, depois da posse do Presidente Luiz Inácio da Silva,
elegeu como uma de suas prioridades na área da saúde, a criação efetiva de uma
política de saúde bucal para o país, destacando como pontos primordiais para que
se alcançasse esse objetivo, a finalização do Censo das Condições da Saúde Bucal
da População Brasileira (SB-Brasil) de 2002-2003 e a realização da III Conferência
Nacional de Saúde Bucal. Esta conferência nacional reuniria em seu documento final
as propostas originadas de todos os municípios da federação, que apresentariam
seus principais problemas e carências na área da saúde bucal, aproximando assim
um possível planejamento nacional das realidades e necessidades municipais.
Para o coordenador de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, Gilberto Pucca,
o governo federal havia elegido as Conferências Municipais de Saúde Bucal, cujas
propostas deram origem aos relatórios finais das diversas Conferências Estaduais,
23
que por sua vez culminaram no relatório final da III Conferência Nacional de Saúde
Bucal, como fóruns absolutamente prioritários. (CRO-RJ, 2004b)
As conferências são soberanas, e o Ministério vai
encaminhar exatamente aquilo que os profissionais estão
produzindo nelas (p. 8)
Naturalmente, as propostas levantadas nestes fóruns municipais, forneceriam
informações imprescindíveis e indispensáveis na elaboração do planejamento das
ações em saúde bucal em todos os níveis, principalmente no que diz respeito à
elaboração de um projeto nacional de saúde bucal, através das informações
referentes às necessidades populacionais, de infraestrutura de atendimento dos
diversos municípios e estados da união, permitindo-se, a elaboração, muito mais
segura e real, de uma programação de serviços em odontologia em todos os níveis.
Na contra-mão desta lógica, contudo, o Governo Federal lançou, em março
de 2004 o projeto Brasil Sorridente , que definiu uma política de saúde bucal,
baseada no princípio da integralidade, centrada na instalação, em todo território
nacional, de Centros Odontológicos Integrados, com o objetivo de oferecer à
população todas as especialidades odontológicas, inclusive ortodontia e prótese,
incluindo a instalação de laboratórios técnicos.
Sem, obviamente, tirar o mérito do programa, considerado um enorme avanço
na cobertura de serviços odontológicos à população, o Presidente do Conselho
Federal e Odontologia (CFO), Miguel Nobre, indagou: (CRO-RJ, 2004a)
Teoricamente, o objetivo da Conferência Nacionalde Saúde Bucal é ouvir as reivindicações do setor e, apósanalisá-las, definir uma política de saúde bucal para o país. Masde repente, somos surpreendidos com a definição desta política,antes da Conferência (p.14)
24
Segundo o Ministério da Saúde, através do seu coordenador de saúde bucal,
o país não poderia ficar parado, enquanto a Conferência não fosse realizada (p.14)
(CRO-RJ, 2004a).
A primeira etapa do Programa Brasil Sorridente previu a criação de 25 mil
novos empregos diretos para os CDs, através da construção de 559 consultórios
populares e 354 centros odontológicos, equipados com laboratórios de prótese
dentária, espalhados por todo o país, em municípios-referência em suas regiões. O
orçamento para a implantação desses centros foi de R$ 3,2 milhões.
2.2 Situação atual da Saúde Bucal no Estado do Rio de Janeiro.
A III CNSB, cujo tema central foi Saúde Bucal: acesso e qualidade,
superando a exclusão social , organizou-se a partir de quatro eixos temáticos:
educação e construção da cidadania; controle social, gestão participativa e saúde
bucal; formação e trabalho em saúde bucal; financiamento e organização da atenção
em saúde bucal.
Fizeram parte desta Conferência, representantes da sociedade civil (usuários
do sistema), dos profissionais de odontologia e de gestores de saúde,
respectivamente com 447 (50,6% do total), 228 (25,8% do total) e 208 (23% do total)
integrantes de cada seguimento.
Para que os resultados desejados na Conferência fossem alcançados, foram
convocadas antecipadamente, fóruns e Conferências municipais em todo o país, que
geraram as informações e relatórios para as Conferências Estaduais que por sua
vez enviariam suas conclusões à Conferência Nacional.
No estado do Rio de Janeiro, equipes de saúde bucal e a sociedade civil
organizada de 65% dos municípios do Estado, mais o município do Rio de Janeiro,
25
realizaram suas conferências e fóruns, nos meses de março e abril de 2004,
analisando e debatendo as dificuldades de gestão do setor e os diversos problemas
odontológicos que afligiam a população fluminense.
Segundo a Dr.a Mara Cristina Demier, coordenadora da 3º Conferência
Estadual de Saúde Bucal e assessora de Saúde Bucal da Secretaria de Estado de
Saúde, 60 municípios do estado fizeram conferências: Desse total. Alguns
realizaram encontros regionais, outros municipais e outros plenárias. . (CRO-RJ,
2004b)
O estado enviou 75 delegados, que apresentaram importantes sugestões que
contribuiriam para a criação de uma Política Nacional de Saúde Bucal e
conseqüentemente nos estados e municípios, dentre as quais poderíamos destacar
como mais importantes:
• A importância do acesso à educação como um dos fatores determinantes para
que se alcance a plenitude do conceito de saúde;
• Garantir que cada Secretaria Estadual de Saúde, nas suas instâncias regionais e
nas Secretarias Municipais de Saúde, tenha uma Coordenação de Saúde Bucal,
com recursos assegurados para o adequado desenvolvimento de suas ações, já
que atualmente, a coordenação não existe formalmente, existindo apenas uma
coordenação do PSF; além de uma Assessoria de Saúde Bucal e um
Departamento de Odontologia;
• A criação de residências odontológicas direcionadas à Saúde Bucal, através de
convênios entre os Centros de Estudo das instituições de referência que criariam
cursos de capacitação, com instituições universitárias, garantindo assim o
atendimento à população nesses centros e não só para os paciente internos na
26
instituição, como também, formar recursos humanos de acordo com as
necessidades do SUS;
• Reivindicar a elaboração de propostas, nas três esferas de governo, para
repasse de verbas para o Programa de Saúde Bucal, destinadas
especificamente, à Promoção da Saúde;
• Fluoretação das águas de abastecimento, como bem público essencial à
promoção da saúde bucal;
• Controle pela vigilância sanitária da qualidade da água, cremes dentais e de
todos os produtos que contém flúor.
• Exigir do Ministério da Saúde a produção de material informativo e educativo em
saúde bucal; além da realização de campanhas educativas nos meios de
comunicação, enfatizando a TV, em horário próprio para o público infanto-juvenil;
• Estabelecimento de um sistema de educação permanente que garanta um turno
mensal da jornada de trabalho para atividades de formação profissional na
própria unidade de saúde ou unidades próximas, utilizando o centro de estudos;
• Que os gestores viabilizem a qualificação dos profissionais selecionados para os
programas de saúde bucal no sentido da humanização do atendimento;
• Que seja criado um programa pelo Ministério da Saúde em parceria com o
Ministério da Educação para a educação e a promoção de saúde bucal;
• Inclusão da obrigatoriedade, no currículo de graduação das universidades
públicas e privadas, da prestação de serviços odontológicos, durante o período
de um ano, junto às comunidades carentes.
• Regulamentação das carreiras de THD (Técnico em higiene dental), ACD
(Atendente de consultório dentário), TPD (Técnico em prótese dental) e APD
(auxiliar de prótese dental) e pela não-criação da figura do tecnólogo;
27
• Maior comprometimento da Secretaria de Estado da Saúde com a saúde bucal;
• Capacitação adequada dos profissionais a fim de diminuir a distância entre o
discurso e a atitude educativo-preventiva, com a correta padronização de
conceitos e condutas;
• Aplicar as ações de Vigilância Sanitária nos estabelecimentos públicos de
assistência à saúde bucal, através de profissionais concursados e capacitados.
28
3. CAPÍTULO II - SAÚDE BUCAL NO BRASIL: DA PRÁTICA,
MODELOS DE ATENÇÃO E RECURSOS HUMANOS.
3.1 Prática e modelos de atenção
A prática de serviços na área de odontologia ao longo dos anos tem sido
pautada basicamente por dois modelos de assistência; um baseado na escola norte-
americana, ligada ao odonton, que se caracteriza por uma prática ligada diretamente
ao elemento dentário a ser tratado, desconsiderando ou relegando a segundo plano
o restante da cavidade oral e outra, baseada na escola européia, com um enfoque
estomatológico, valorizando a cavidade oral como um sistema integrado, onde todos
os seus componentes devem ser levados em conta quando do diagnóstico ou
tratamento em questão.
No Brasil, verifica-se um maior apego dos conceitos e técnicas da escola
norte-americana que, ao longo dos anos, não trouxe benefícios à saúde bucal da
população como um todo.
Observa-se, portanto, na América-Latina, quadros epidemiológicos repetitivos
ou mesmo em processo de agravamento, como é o exemplo da cárie dentária e da
doença periodontal, caracterizada por patologias que afetam os tecidos de
sustentação do elemento dentário na cavidade oral gengiva e osso alveolar.
Com a evolução do conhecimento científico, desenvolveu-se o conceito de
Odontologia, que deixava de tratar exclusivamente dos dentes, mas considerava o
indivíduo na sua estrutura individual e como um ser imerso na dinâmica social.
O Código de Ética Odontológica, em vigor desde janeiro de 1992, estabelece
no Capítulo I, Artigo 20 : (CFO, 1992)
29
A Odontologia é uma profissão que se exerce, em benefício da
saúde do ser humano e da coletividade, sem discriminação de
qualquer forma ou pretexto.
O modelo de prática da profissão era único até 1950, conforme analisa Pinto
(1990), tanto no Serviço Público quanto na clínica privada.
A Odontologia é predominantemente liberal no Brasil,baseando-se no exercício individual em consultório privado comremuneração direta por parte dos pacientes que provêm em suagrande maioria das camadas economicamente privilegiadas. Osistema de seguro social possui serviços próprios, mas a maiorparte dos seus recursos, são aplicados através da compra dotrabalho clínico desenvolvido em consultórios particulares, alémde também repassar recursos para instituições públicasprivadas em geral. O setor público, embora se responsabilizepor aproximadamente 41% do total de gastos em saúde bucal nopaís, esta dividido em um grande número de instituiçõesfederais, estaduais e municipais e para-oficiais também nãocoordenadas entre si, o que lhe tira forças . (p. 61)
Mendes (1980) caracterizou este modelo de prática odontológica como
científica, pautada pela concepção mecanicista do indivíduo, pela redução das
doenças bucais à sua dimensão biológica, pela individualização do objeto da
Odontologia, pela crescente corporificação do conhecimento em tecnologia de alta
densidade de capital, exercitada por especialistas, pela ênfase nos aspectos
curativos, pelo seu caráter urbano-cêntrico e pela exclusão de formas alternativas de
prática Odontológica.
Percebia-se que embora a Odontologia praticada era de alto custo e de baixa
cobertura, ineficiente e desigual em seu acesso, ainda assim configurava-se como
um modelo de prática hegemônico, com características estruturais da medicina
científica.(Pretto, 1992)
Pelas características descritas da prática odontológica hegemônica, pela
incapacidade de alterar os indicadores de Saúde Bucal, e baseando-se na crítica
30
dos elementos ideológicos que constituem a Odontologia científica, entre eles a
ênfase na questão curativa, no tratamento das seqüelas das doenças, e, como
conseqüência deste princípio, na organização e na forma de atuar dos diferentes
serviços públicos de Odontologia, o seu oposto, a integralidade do ato odontológico,
vinha sendo exigido pela sociedade e pelos setores mais avançados dentro desta
ciência.
Como resposta a este questionamento de mudança do paradigma da
Odontologia Curativa para a Odontologia Integral foi assim definida por Mendes
(1986):
A Odontologia Integral coloca-se, pois, como a possibilidadeteórica de uma nova forma de pensar e fazer Odontologia quedesloca a prática hegemônica e que, por conseqüência, deixa delado a complementariedade para instituir-se como uma práticasubstitutiva da Odontologia Científica (p. 543)
O perfil teórico da Odontologia Integral estruturou-se segundo três pilares
interdependentes:
1) A simplificação dos elementos;
2) A ênfase na prevenção;
3) A desmonopolização do saber odontológico.
Buscavam-se transformações concretas da prática odontológica, eliminando
os elementos complexos e sofisticados, componentes desnecessários que ocultam
sutilmente a simplicidade. As incorporações de elementos complexos dificultam seu
manejo, reforçando o monopólio do saber concentrado em poucos, em detrimento
da maioria. A simplificação permite, ao contrário, facilitar o trabalho, tornando os
equipamentos menos sofisticados, reduzindo os instrumentos supérfluos,
reordenando e analisando o espaço físico, modificando técnicas e procedimentos,
diversificando os recursos humanos.
31
Neste contexto, cabe destacar, a importância da mudança do modelo que tem
como foco o dente para um modelo de odontologia que possa incluir todo o sistema
estomatognático e todas os aspectos sociais que influenciam diretamente a
população ou grupos sociais que se queira alcançar. Para isto torna-se necessária a
desmonopolização do conhecimento, que se caracteriza como o processo pelo qual
o conhecimento e a tecnologia, socialmente acumulada e apropriada por
determinados grupos sociais, devam ser tomados, compreendidos, criticados e
levados à pratica concreta pela população sem importar sua escolaridade, passarão
a ser irradiadoras de conhecimento.
A Odontologia Integral modificou, substancialmente, os elementos estruturais
das práticas. Seus principais elementos ideológicos são: (Pretto, 1992)
• Coletivismo – como objetivo da prática odontológica.
• Integração de atividades promocionais, preventivas e curativas Ao
reconhecer os problemas decorrentes do corte entre as condutas promocionais,
preventivas e curativas, sob a hegemonia do curativo e procura recompor a
integralidade do ato odontológico, enfatizando o promocional e preventivo.
• Descentralização da atenção odontológica – A concentração dos recursos da
odontologia científica é substituída pelas idéias de níveis de atenção, da
universalização do acesso a todos os níveis, e do deslocamento do poder
decisório para a periferia do sistema.
• Inclusão de práticas odontológicas alternativas – Valorizam-se as práticas
odontológicas alternativas e procura-se captar o discurso popular da odontologia
para integrá-lo com o discurso oficial.
32
• Equipe de saúde – O especialismo é substituído pela idéia de equipe
odontológica, onde se distribuirão as funções odontológicas por diversos tipos de
recursos humanos, profissionais ou da própria comunidade.
• Tecnologia apropriada – A mitificação do ato técnico e da sua sofisticação é
substituída pela idéia de uso de uma tecnologia, que seja eficaz, quando
aplicada no nível de atenção adequado, a um custo social mínimo.
• Participação comunitária – A comunidade deve participar ativamente dos
processos educacionais e da prática odontológica, como condição básica de sua
democratização.
Quanto a este último item, Oliveira (1992), já destacava a importância da
participação popular ou comunitária nos rumos do serviço odontológico público:
"A questão da participação popular, em associação comuma prática profissional, envolve principalmente a procura porum outro tipo de relacionamento entre o profissional, a prestaçãode serviços e a população usuária. O objetivo é enfocar umaodontologia que não divida o homem para o uso de técnicas,mas o compreenda como um ser sujeito de determinaçõessócio-culturais e econômico-políticas." (p. 1-2)
No Brasil as primeiras iniciativas que visavam uma alteração deste quadro
tiveram início em 1977, na Faculdade de Pernambuco, com módulos escolares e
rurais, em Brasília, inicia-se o Programa Integrado de Saúde Escolar (PISE), com o
sistema de clínicas móveis. Atualmente, observamos este tipo de iniciativa em
diversos estados e municípios da federação, desenvolvidos pelas Secretarias
Estaduais, Secretarias Municipais de Saúde e Faculdades de Odontologia.
Mais recentemente destaca-se o Programa de Saúde da Família (PSF), que
possui uma função de destaque no fortalecimento do modelo da Odontologia
Integral, levando à comunidade, através das Equipes de Saúde Bucal (ESB) ações
preventivas. Muito embora o número de ESB, ainda seja pouco representativo no
33
país, o Ministério da Saúde, confirmou durante a III Conferência Nacional de Saúde
Bucal, realizada ao final de julho de 2004, a ampliação do número das ESB no PSF,
das atuais 6.000 para 16.000 até 2006.
Sobre esta ampliação, o presidente do Conselho Regional de Odontologia-
Sessão Rio de Janeiro (CRO-RJ), destacou:
Nossa expectativa é de que governantes estaduais emunicipais abracem essa política venham a adotá-la comoprioridade em suas administrações, fortalecendo e incentivandoa ampliação das equipes de Saúde Bucal, seja através deserviços próprios ou através do sistema Único de Saúde.(Bastazine, 2004, p.5)
3.2 Recursos humanos
3.2.1 Formação.
A busca de uma odontologia voltada para os interesses da população, passa
necessariamente pela discussão dos fatores relacionados aos recursos humanos, já
que estes se constituem em agentes multiplicadores da atenção odontológica.
Ao analisar a formação dos recursos humanos na área de odontologia no
Brasil, constatam-se várias distorções, tais como:
O crescimento do número de cursos, que saltou de 90 oferecidos em 1996,
para 165 cursos em 2003. Neste mesmo período, enquanto a população brasileira
cresceu a uma proporção aproximada de 1,8% ao ano (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE), o crescimento do número de cirurgiões-dentistas
girou em torno de 2,5% ao ano. (CFO, 2003)
Como visto anteriormente cerca de 29 milhões de brasileiros jamais obtiveram
atenção odontológica, uma grande maioria, cerca de 100 milhões de cidadãos,
acessam de modo esporádico os serviços. Como resolver este paradoxo, de
34
cirurgiões dentistas progressivamente sem pacientes em suas clínicas privadas, e
uma população sem acesso ao dentista?
A passagem da Odontologia de mercado, de natureza liberal e privada, típica
das últimas décadas do século XX, para uma Odontologia sujeita às oscilações de
oferta de empregos e renda, em um mercado extremamente competitivo, é a tônica
atual e contribuiu para esta transição nos descaminhos do sistema de educação
superior no Brasil, particularmente na área da saúde, bem como a incipiente
participação da Odontologia no SUS. Além disto o país atravessa uma transição
demográfica e epidemiológica em saúde bucal, com o envelhecimento da população
e o declínio de cárie na população jovem, não obstante persista o fenômeno da
polarização , com um percentual importante de crianças e adolescentes com alta
experiência de cárie e, ainda mais, o adulto brasileiro continua portador de uma
herança epidemiológica das mais graves, com grande estoque de doenças bucais
acumuladas, refletidas no alto índice de edentulismo (ausência de dentes) na
terceira idade. (Moysés, 2004)
Associado a isto, as Universidades não vem proporcionando ao longo dos
últimos anos, elementos teórico-metodológicos que permitam aos estudantes
compreender a realidade social da profissão, prevalecendo o modelo de formação
uni-profissional, não vinculado a uma equipe de trabalho, numa formação
extremamente individualista. Este modelo, ainda dominante, sob a lógica da
competência técnica para o mercado privado e diretamente ligado a uma ação
curativa , não produz sujeitos políticos capazes de protagonizar novas aberturas
para a sociedade e para a profissão e porque o SUS tem pressa para mudar o
modelo de atenção dominante, ou seja, um projeto que seja distinto do modelo
35
biomédico hegemônico e não pode continuar consumindo recursos no esforço de
(des)construção de perfis profissionais inadequados. (Moysés, 2004)
Portanto, os profissionais da saúde bucal, devem se convencer
definitivamente que saúde bucal não se faz apenas dentro de consultórios privados:
"O novo trabalhador em saúde bucal deve dominar ométodo científico, saber reconhecer-se, biológica e socialmente,estudar de forma participante um espaço território com apopulação, ser crítico, criativo e sobretudo, acompanhar asnuanças do tecido social, as costuras necessárias para inter-relacionar esforços e aumentar sua possibilidade de sucesso noespaço social em que desenvolve sua atividade profissional."
(Cordon, 1997, p. 560)
3.2.2 Distribuição geográfica e remuneração.
Para que se possa prestar o serviço na qualidade e quantidade desejadas, se
faz necessário uma distribuição equilibrada dos recursos humanos em odontologia
no território nacional e que estes possam dedicar-se ao serviço público. Contudo o
que se tem verificado até então é uma alta concentração de profissionais nos
grandes centros urbanos aliada a padrões salariais cada vez mais defasados,
levando estes profissionais a encarar a atividade pública como mais um ofício, o que
traz um conseqüente descrédito da população em relação à qualidade dos serviços
prestados. (CEPEC, 1986)
Segundo dados do CFO, 75% das Faculdades de Odontologia no Brasil e
82% dos profissionais estão localizados nas regiões Sul e Sudeste, onde, enquanto
nestas regiões, tem-se um CD para cada 750 habitantes, na região Norte tem-se um
CD para cada 4.000 habitantes.
Segundo dados do CFO, no final da década de 70 e início dos anos 80,
constatou-se que 80% dos profissionais formados queriam trabalhar em consultório
particular, e apenas 20% queriam um emprego, privado ou público. Recentemente
36
através de dados extraídos do último Exame Nacional do Ensino Superior (MEC,
2004), a estatística se inverteu, Contudo, tais dados, só vieram reforçar as
afirmações do Centro de Estudos e Pesquisas em Estomatologia de Curitiba
(CEPEC), acima citadas, onde estes profissionais, pela perda de sua rentabilidade
autônoma, procuram no serviço público apenas um ofício para complementar a seus
rendimentos, sem que estes estejam realmente engajados ao sistema, em seus
conceitos e objetivos.
37
4. CAPÍTULO III. PROGRAMAÇÃO E PARÂMETROS DE
ATENDIMENTO EM SAÚDE BUCAL NO BRASIL.
A prestação de serviços odontológicos públicos surge, de forma incipiente,
nos anos 50, até então praticamente exclusivo da iniciativa privada. Em 1952, os
primeiros programas de odontologia sanitária foram desenvolvidos pelo Serviço
Especial de Saúde Pública. O SESP foi criado em 1942, no período da Segunda
Guerra Mundial, sob o patrocínio do governo dos Estados Unidos.
Na época, a saúde pública brasileira era constituída por um sistema, dividido
entre o Ministério da Saúde, e a Previdência Social, a cargo dos Institutos de
Assistência e Previdência (IAPs), que prestavam serviços apenas aos trabalhos
formais e seus dependentes. Com a unificação dos IAPs, em 1966, houve uma
ampla reorganização da Previdência Social, criando-se, em 1974 o Instituto Nacional
de Previdência Social - INPS e o Instituto Nacional de Assistência Médica
Previdenciária INAMPS, deste ponto em diante a assistência médica previdenciária
teve enorme expansão. Contudo, neste contexto não se desenvolveram políticas
específicas para a saúde bucal, mas apenas propostas isoladas no âmbito da saúde
pública e intervenções individuais curativas nos serviços médicos previdenciários.
(Inácio, 2003)
4.1 Modelos de programação Odontológica
No contexto da saúde pública, pôde-se observar o desenvolvimento de dois
modelos distintos de programação de saúde bucal, originalmente identificados com a
odontologia sanitária e, depois, com a odontologia simplificada e integral. Os
38
conteúdos desses modelos baseavam-se nos trabalhos pioneiros de Chaves(1986),
como Pinto (1989), Zanetti (1993) e Narvai (2002).
4.1.1 A Odontologia Sanitária
De acordo com Zanetti (1993), no âmbito do MS, a década de 50 marcou
avanços na institucionalização da Odontologia segundo dois padrões; por um lado,
tinha-se criado, em 1952, a seção de odontologia do Serviço Especial de Saúde
Pública (SESP), voltada para clientelas selecionadas (escolares em faixas etárias
selecionadas) de forma regionalizada. Por outro, em 1956, foi criado o Serviço
Nacional de Fiscalização da Odontologia (SNFO), voltado quase que exclusivamente
para a vigilância do exercício profissional.
Segundo Pinto (1989), o modelo de programação desenvolvido através do
SESP foi um projeto histórico e um marco da programação em saúde bucal no país,
pelo seu pioneirismo e pela sua longevidade: A fluoretação das águas de
abastecimento em baixo Guandu (ES), em 1953, (implantada nas Companhias
Municipais de Água e Esgotos, administradas pelo próprio SESP); e o Sistema
Incremental inicialmente experimentado em Aimorés (MG) em 1951, programa
concebido para ser desenvolvido no ambiente escolar, preferencialmente, voltado
para algumas faixas etárias de eleição. (apud Zanetti, 1993, p.97).
É muito importante destacar que antes disso não chegou a existir um setor de
odontologia, embora eventualmente, dentistas atuassem na atividade pública de
serviços odontológicos como clínicos generalistas ou cumprindo funções de
assessoria nas áreas de planejamento e administração de saúde no nível central ou
nos estados e municípios, que também recebiam auxílio financeiro. Com a
incorporação do SESP ao MS é que surgiram os primeiros programas nacionais de
odontologia sanitária no país.
39
Uma das primeiras iniciativas em programação no setor de odontologia, surge
por influência da primeira geração de cirurgiões-dentistas sanitaristas brasileiros, em
1951. Foram eles: Mário Chaves, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP),
Reis Vargas, da FSP/USP, e Paulo da Silva Freire, da Fundação SESP (Moreira,
1999, p.35).
Chaves (1986) foi o pioneiro neste campo, liderando o movimento da
odontologia social, que enfatizava a prevenção. Para ele, odontologia preventiva e
sanitária, não são sinônimos:
A odontologia preventiva não cogita de saber se aquele métodoserá usado em clínica particular ou em saúde pública. Estacogitação constitui objeto da odontologia sanitária, que étrabalho organizado da comunidade e para a comunidade(p.18)
A proposta de Chaves tinha como objetivo a construção de estratégias
públicas que fizessem com que a odontologia preventiva chegasse à população sem
acesso aos serviços privados. (Inácio, 2003,p.21). Os programas incrementais de
prevenção em saúde bucal, seriam difásicos, constituindo-se de uma fase
preventiva, pelo método da fluoretação das águas de abastecimento público, onde
houvesse condições para a adoção da medida, ou pelo método de aplicações
tópicas, e de uma fase curativa, em que se procurava reduzir o aumento das
necessidades, melhorando o grau de atenção odontológica. A população alvo do
programa seria constituída por crianças de sete a 12 anos, matriculadas em escolas
públicas de primeiro grau, da área urbana.
De acordo com Moreira (1999, p.40), embora a proposta se referisse a uma
estratégia difásica com ações preventivas e curativas, o grande enfoque desse
programa foi sem dúvida de cunho curativo, destacando, no entanto, as qualidades
dos seus resultados, com destaque para os aspectos de racionalidade, factibilidade,
40
aumento do número de escolares atendidos com tratamento completado e
diminuição de tempo gasto por tratamento finalizado.
4.1.2 A Odontologia Simplificada no Modelo de Programação Tradicional
A Programação em Saúde Bucal escolar da FSESP/MS, nos anos 60, não
representou uma quebra do modelo tradicional restrito a este seguimento da
população, que permaneceu hegemônico, no que diz respeito à simplificação de
recursos e equipamentos. De fato, foi definido como um modelo de odontologia
simplificada, sempre voltado para a população escolar (Inácio, 2003, p. 24).
Segundo Narvai (2002, p.53), a expressão odontologia simplificada apareceu
no discurso odontológico brasileiro nos anos 70 como crítica à odontologia científica.
A mesma expressão vinha sendo utilizada também em outros países da América
Latina.
A teoria da simplificação era definida como uma prática que permitia,
mediante padronização, a diminuição de procedimentos, tornando mais simples e
barata a odontologia, sem alterar a qualidade dos trabalhos realizados. Ao tornar-se
mais produtiva, viabilizaria os programas de extensão de cobertura.
Narvai (2002) critica o modelo nos seguintes termos;
Este enfoque de odontologia simplificada é na realidadeextremamente limitado (...) tão só erige-se como apêndice àodontologia tradicional, uma odontologia complementardestinada às classes sociais marginalizadas e concretizada pelasimplificação dos elementos da prática profissional, em especial,recursos humanos e equipamentos (...) além disso, essaodontologia simplificada discursava sobre a importância daprevenção mas, na prática, continuava a priorizar o curativo(p. 54).
Como estratégia de racionalização surge, ainda na FSESP, a noção de
equipe odontológica, com técnicos de higiene dental (THD) e auxiliares de
41
consultório dental (ACD). A incorporação dessas categorias profissionais à rotina da
clínica odontológica, foi talvez, a grande contribuição desse modelo de
programação, que vai representar, a partir dos anos oitenta, um avanço significativo
nas novas estratégias de programação fora do espaço da clínica. (Inácio, 2003, p.
25).
A fluoretação das águas constituiu-se, neste período, na ação mais
universalizante e equânime em saúde bucal desenvolvida pela Fundação SESP.
4.1.3 A Odontologia Integral
O modelo de programação em saúde bucal desde os anos 50 vinha sendo
aplicado no Brasil e que trabalhava sob a lógica da Odontologia Científica Escolar
Sespiana, foi ampliado a partir de 1964 com o aparecimento da Odontologia
Simplificada.
Nos anos oitenta, surge a Odontologia Integral Escolar. Este modelo visava,
em primeiro lugar, a prevenção no sentido amplo, além do curativo, observando o
indivíduo como um todo, no sentido da promoção de saúde por medidas como
nutrição adequada, hábitos saudáveis, aplicação tópica de flúor, fluoretação das
águas, diagnóstico precoce da doença e limitação do dano mediante o tratamento
curativo.
Neste mesmo período, a Associação Brasileira de Odontologia Preventiva
(ABOPREV), influenciada pela odontologia dos países escandinavos, introduziu uma
série de novas tecnologias e teorias preventivas no país, em particular, a idéia de
risco , potencializada pela noção de cárie como doença infecto-contagiosa (Weyne,
1999, p. 17), provocando mudanças no modelo de atenção.
42
Moreira (1999, p. 66) afirma que esse modelo de programação inicialmente
tinha como população alvo, escolares da rede pública urbana, e o espaço de
realização das práticas, eram as próprias unidades escolares. Portanto, não houve
quebra do paradigma sespiano , e, sim, uma expansão dos limites deste modelo de
programação:
De acordo com Moreira (1999, p. 67), embora a odontologia integral não
tenha representado uma ruptura no modelo de programação escolar sespiano, ela
passa a expor os limites desse modelo, hegemônico durante quase 40 anos. A partir
do conhecimento da cárie dental como doença infecciosa, portanto transmissível,
como considerar adequado um modelo que começa a atuar com crianças de idade
entre seis e sete anos:
a Odontologia Integral, embora tenha herdado daOdontologia Simplificada a idéia de equipe odontológica(Cirurgião dentista - CD, Técnico em Higiene dental - THD eAuxiliar de Consultório Dentário - ACD), aponta para novosespaços a serem ocupados pelo THD para desenvolvimento deatividades preventivas extra-clínicas (...) Enfoca o desmonopóliodo saber odontológico em dois planos: um referente àtransparência de conhecimentos do Cirurgião-Dentista para oTHD e ACD na formação de equipe odontológica e outroreferente à transparência de saberes da equipe odontológicapara o usuário de serviços . (Zanetti 1993, apud Moreira, p. 67 ),
A concepção de assistência desses modelos, na prática, tornou-se ineficaz,
na medida em que eles não promoviam a redução, em níveis significativos, dos
problemas de saúde bucal da população; apresentavam baixa cobertura por
restringir a cobertura populacional a crianças de 7 a 14 anos de idade matriculadas
em escolas públicas urbanas; e tinham um enfoque curativo, em razão do abandono
a que relegavam o emprego de métodos preventivos. Acrescente-se a isso o
inadequado preparo dos recursos humanos, cuja formação superior era
desvinculada das reais necessidades do país, precocemente direcionada para as
43
especialidades e totalmente dissociada das características dos serviços em que os
profissionais deveriam atuar. Com relação aos níveis auxiliar e técnico, insistiu-se na
utilização de mecanismos formais de preparação, já superados por procedimentos
comprovadamente mais ágeis e de baixo custo, como o treinamento ou preparação
em serviço. (Inácio 2003, p. 28),
O modelo de práticas, hegemonizado pela odontologia de mercado, repercutiu
e influenciou, decisivamente, o desenvolvimento de ações odontológicas pelo setor
estatal. Por essa razão, este modelo vinha sendo também objeto de discussão e
proposição por parte dos técnicos dos serviços públicos odontológicos (Inácio 2003,
p. 29). Neste sentido, o documento final do Encontro Nacional de Administradores e
Técnicos do Serviço Público Odontológico ENATESPO, realizado em Goiânia, em
1984, concluiu que:
O exercício liberal da odontologia, hegemônico no sub-sistema, constitui segmento importante na prestação deserviços, mas de cobertura reconhecidamente insuficiente. Talforma de exercício deve ser preservada e amparada no queconcerne aos seus custos operacionais. O empresariamento e amercantilização da prestação de serviços odontológicos,contudo, deve ser evitado como forma de extensão de cobertura.Em nenhuma hipótese e sob qualquer forma, o Estado devetransferir recursos públicos para o setor privado empresariallucrativo, através de prestação de serviços, através de recursoshumanos assalariados pelo setor público, é considerada como amais adequada para a área odontológica, devendo serincrementada em substituição à modalidade de credenciamentosprofissionais ainda em uso pela Previdência Social ..
Durante as discussões relativas às políticas públicas para o setor, sobretudo
as levadas a cabo durante a I Conferência de Saúde Bucal (CNSB) realizada em
1986, juntamente com o Movimento Brasileiro de Renovação Odontológica (MBRO)
e o Encontro Nacional de Administradores e Técnicos do Serviço Público
Odontológico (ENATESPO), propôs-se um modelo de atenção odontológica
denominado Odontologia de Saúde Coletiva.
44
4.1.4 Odontologia e Saúde Coletiva.
O atual Sistema Único de Saúde foi estabelecido pela Constituição Federal de
1988, e regulado pelas leis 8.080 e 8.142, de 1990. Estabeleceram princípios como
a universalidade do atendimento, a eqüidade na prestação das ações e a
integralidade da atenção, e incluem em seus marcos os mecanismos operacionais
para a descentralização político-administrativa e a participação da comunidade.
Com base nestes princípios, a Saúde Bucal passou pela revisão de sua
filosofia orientadora, surgindo, assim, a expressão Saúde Bucal Coletiva (SBC)
(Inácio, 2003, p. 44):
à expressão saúde bucal acrescentou-se durante osanos 80, no Brasil, o termo, coletiva. Passou-se a falar,sobretudo no estado de São Paulo, sob evidente influência domovimento da saúde, e não numa possível odontologia coletiva.Isso não ocorreu por acaso, nem por razões fonéticas. Falar emodontologia coletiva significa continuar preso à noção deodontologia. E era exatamente isto o que se procura evitar.Mesmo reconhecendo o significado e a importância daassistência odontólógica, buscava-se construir uma referênciateórica para as ações a serem desenvolvidas que, mantendo ovínculo com a saúde bucal, extrapolasse os limites domeramente assistencial, vale dizer daquilo que normalmente étido como odontológico. Por isso, não poderia a mesma coisafalar em odontologia coletiva ou saúde bucal coletiva
(Narvai, 2002, p. 70)
Ainda conceituando Saúde Bucal Coletiva, Botasso (1991) refere-se a três
conceitos que julga serem fundamentais para a constituição do seu referencial
teórico-metodológico: A politização dos agentes etiológicos, a vinculação ao campo
das práticas coletivas em saúde e as ações de natureza coletiva.
O grande desafio da SBC está em como fazer chegar aos cidadãos usuários
dos serviços de saúde, em seu cotidiano, os saberes dessa nova odontologia, num
processo de desmonopolização do conhecimento, de democratização de saberes e
práticas de promoção em saúde bucal, considerando não apenas a equipe de
45
saúde, mas, principalmente, por intermédio desses profissionais, a população,
garantindo assim uma participação mais crítica da sociedade no controle e avaliação
das políticas propostas (Moreira, 1999, p. 102):
Para Zanetti (1996), a saúde bucal coletiva enquanto paradigma de
programação, deve ser compreendida como a odontologia integral exposta às
exigências e aos desafios do SUS. Isto porque as mudanças no modelo de
programação que vão ocorrer na Saúde Bucal Coletiva (SBC) são herdeiras das
soluções descortinadas pela odontologia integral com influência escandinava, num
processo de busca de organicidade do SUS; de realização de seus princípios, em
especial os da universalização do acesso, da eqüidade, da territorialização e do
controle social.
Embora o MS tenha normatizado as ações de Saúde Bucal na Atenção
Básica, mediante a NOB 96 e a NOAS 2001, essas ações não se constituíram
enquanto garantia de universalização do acesso da população brasileira, por
direcionar suas prioridades à população restrita de zero a quatorze anos e
gestantes, o que não difere muito dos modelos observados anteriormente (Inácio,
2003, p. 48).
4.2 Prática programática e parâmetros.
A ação programática em saúde pode ser definida como uma proposição de
organizar o trabalho em saúde fundamentada no ideal da integração sanitária, para
o que busca inspirar-se em tecnologias de base epidemiológica (Nemes, 2000).
O SUS, dentro de seu processo de consolidação, vem trazendo para ampla
discussão a organização da atenção à saúde, incluindo o que diz respeito à saúde
46
bucal, tendo como objetivos centrais a serem alcançados a integralidade das ações,
a eqüidade, a descentralização, a hierarquização dos serviços e o controle social.
Incentivos federais à ampliação de projetos como o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa da Saúde da Família (PSF)
incorporando profissionais ligados à odontologia em suas equipes, representaram
as principais intervenções públicas a nível de saúde bucal, mais recentemente , em
2004, o programa Brasil Sorridente vem representando a maior esperança de
melhoria de acesso e de universalidade de oferta para a população. No entanto, na
maioria das vezes, tem-se observado uma expansão da oferta de serviços sem
planejamento e programação das atividades. O ímpeto de implantar essa estratégia
com rapidez têm levado os gestores a incorporar as Equipes de Saúde Bucal (ESB)
pautadas no ensaísmo programático ou mesmo na ausência de programação
(Zanetti 2000).
A mera incorporação das ESB ao PSF, sem a adaptação da proposta à
realidade local, torna-se uma ação verticalizada (Barros, 2003).
Para que se possa traçar o panorama das necessidades da população alvo, e
o trajeto a ser percorrido, e nos processos e meios utilizados para que estas
necessidades sejam sanadas, assume papel primordial, a informação.
O processo de programação em saúde necessita estar solidamente baseado
em informações referentes à capacidade instalada de atendimento, aos
procedimentos realizados (quantidade e tipo) e aos dados populacionais.
Tais dados, quando utilizados e analisados conjuntamente, são essenciais na
tomada de decisões e de ações a serem seguidas, permitindo recuperar informações
relacionadas à esfera municipal, que são importantes na implementação de políticas
47
sociais e programas de saúde, bem como na reorganização e controle das ações de
saúde bucal (Terreri, 2001).
Destacam-se, neste panorama da programação, os parâmetros e metas de
atendimento em saúde bucal, definidos respectivamente pelo Governo Federal
(através do Ministério da Saúde) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que
devem nortear o planejamento estratégico de atenção em saúde bucal.
As metas da OMS em 2000, para países em desenvolvimento, foram
definidas conforme descrito abaixo (OPAS-OMS, 2000):
• No máximo três dentes cariados, perdidos ou obturados (índice CPOD), por
criança de até 12 anos de idade;
• 50% das crianças entre 5 e 6 anos devem estar livres de cáries;
• 85% dos indivíduos com 18 anos devem apresentar todos os dentes;
• 50% de redução de edentulismo (perda de todos os dentes), na população entre
35 e 44 anos;
• Redução de 25% no nível de edentulismo, na população com 65 anos ou mais.
Os índices de consulta por habitante ano, determinados pelo Ministério da
Saúde, são (Brasil/MS, 2002 c):
1. Atendimentos odontológicos 0,5 a 2 procedimentos habitante/ano grupos 3 e
10 (referentes aos códigos iniciais dos procedimentos odontológicos básicos e
especiais Anexos I e II )
2. Ações básicas em Odontologia 0,4 a 1,6 procedimentos habitante/ano (grupo 3,
média do país, variando de acordo com o Pacto de Atenção Básica (PAB)
municipal)
3. Ações Especializadas em Odontologia 0,04 a 0,06 procedimentos
habitante/ano (grupo 10 ).
48
Cabe destacar, que não basta que sejam determinados parâmetros de
atendimento para procedimentos odontológicos, sem que estes estejam
acompanhados dos dados coletados junto aos prestadores do sistema e das
informações epidemiológicas da população, possibilitando, assim a análise pelos
gestores de saúde em todos os níveis de governo, viabilizando e orientando a
elaboração das estratégias e programas de ação na área da odontologia, que mais
se aproximem das necessidades da população.
49
5. CAPÍTULO IV - OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE
BUCAL
Como anteriormente mencionado, intimamente ligadas ao planejamento
estratégico das ações de saúde, estão as informações referentes à população a ser
atingida, os processos técnicos e administrativos ligados ao atendimento e
finalmente o tipo de atendimento a ser oferecido.
Em relação à população, incluem-se todos os dados referentes ao diagnóstico
das condições da saúde e conseqüentemente das necessidades de atendimento e
tratamento da população alvo, tendo como principais fontes os censos demográficos
(IBGE), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e os levantamentos
epidemiológicos em saúde, em especial o último levantamento epidemiológico de
saúde bucal de 2002. (Brasil/MS, 2005)
Quando analisamos os processos e o atendimento, incluímos todas as
informações referentes ao ato em si, quem o realiza, onde é realizado e a
quantidades dos mesmos, tendo como principais fontes os Sistemas de Informação
em Saúde.
São, portanto instrumentos indispensáveis no processo de reorganização,
municipalização e descentralização das ações de saúde.
De acordo com Chaves (1986):
O sistema de informação aplicado à odontologia não significauma estrutura isolada ou específica. Particularmente nos serviçosintegrados de saúde, ele corresponde à parcela de informações deinteresse do campo. Em outras palavras, tal sistema não pode ser vistoà margem do sistema de informações sobre saúde. Não obstante osistema de informação odontológica incluir elementos ou componentesespecíficos e de uso exclusivo, muitas informações utilizadas são deuso comum a outros sistemas e obedecem a normas de coleta,processamento e interpretação idênticas. (p. 243)
50
Conforme o mesmo autor, um sistema de informação aplicado à odontologia é
um arranjo metodizado dos procedimentos, recursos humanos e materiais e
estruturas, tendo como finalidade assegurar o fluxo permanente de formulários que
deverão originar a informação necessária ao planejamento, direção, controle e
avaliação das atividades no campo odontológico. Assim, esse sistema deve prover
informações quando e onde seja necessário, de acordo com propósitos
estabelecidos pela área substantiva. A informação deixa de ser útil quando não
chega aos usuários na ocasião oportuna para a decisão pronta. (Chaves 1986,
p.244)
Na prática, quando se fala hoje de informações em odontologia, trata-se
apenas de uma forma sistemática de referência ao conjunto de dados oriundos das
diversas instituições públicas e privadas prestadoras de serviço em odontologia,
componentes do subsistema odontológico (Inácio, 2003, p.59)
Chaves (1986, p.246) recomenda que um sistema de informação odontológica
obedeça às seguintes diretrizes básicas:
a) Coletar por censo unicamente a informação realmente utilizada em caráter
permanente;
b) Coligir por amostragem os dados de uso eventual e/ou para pesquisa;
c) Limitar-se às variáveis mais significativas da problemática a ser estudada.
Quando o objetivo é programar e planejar ações no âmbito da saúde bucal, o
gestor dispõe, basicamente de dois bancos de dados de âmbito federal, estadual e
municipal, relacionados à produção de serviços: o Sistema de Informações
Ambulatoriais (SIA-SUS) e o Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB).
O SIA-SUS implantado em todo território nacional pela NOB 01/1991, utiliza
dados relativos àquelas atividades não caracterizadas como internação hospitalar.
51
Caracteriza-se pelo registro informatizado do atendimento ambulatorial realizado,
sendo operacionalizado de forma descentralizada pelas próprias secretarias
estaduais de Saúde (IESUS, 1997, p.35). A NOB 01/1996, delegou a
responsabilidade pela gestão da saúde aos municípios e a operação do SIA e a
conseqüente alimentação dos bancos de dados às secretarias de Saúde estaduais.
O SIA-SUS tem, portanto, como unidade de registro de informação, o
procedimento ambulatorial realizado, não fornecendo informações referentes ao
diagnóstico, faixa-etária do indivíduo atendido e o motivo do atendimento. (Mota,
1999)
Com o intuito de reforçar essa atribuição, a NOAS-SUS/2001 delega aos
municípios, de acordo com sua habilitação à gestão de saúde, a responsabilidade
pela operação do SIA e SIAB, repassando os dados colhidos às suas respectivas
secretarias estaduais de saúde.
O SIA-SUS foi implantado tendo como uma de suas funções, substituir o
antigo sistema de pagamento ambulatorial do INAMPS, que era realizado mediante
guias de autorização de pagamento (GAP), documentos considerados pouco ou
nada estruturados, servindo apenas como instrumento de ordenação do pagamento
desses serviços. O número de consultas e exames era apontado com finalidade
puramente estatística, cujo documento de entrada era o boletim de serviços
produzidos (BSP), destinado unicamente à publicação no INAMPS em Dados
(Carvalho, 1997, p.39).
O SIA-SUS possui duas fases distintas de ordenamento dos dados, de sua
criação em 1991, até outubro de 1999 e de novembro deste mesmo ano até a
presente dada.
52
Até outubro de 1999, os procedimentos contidos no sistema eram listados e
codificados seqüencialmente, sendo os procedimentos odontológicos classificados
em Piso Assistencial Básico (PAB) e Não Piso Assistencial Básico (ÑPAB).
A partir desta data, os procedimentos odontológicos foram organizados em
dois grupos distintos de procedimentos: Ações Básicas em Odontologia e Ações
Especializadas em Odontologia.
Estas categorias, por sua vez, incluem diversos procedimentos odontológicos
e seus códigos correspondentes, como listados nos Anexos I e II.
Embora o SIA-SUS tenha a quantidade de procedimentos realizados por
unidade de saúde como informação núcleo, permite a realização de uma série de
combinações e cruzamentos de informações, que permitirão uma ampla
possibilidade de análises e verificações da situação passada e atual, da prestação
de serviços odontológicos em qualquer unidade estadual da Federação, regional de
saúde ou município, ao longo de um determinado período (mês ou ano) ou em uma
série histórica. O sistema permite, também, a avaliação da distribuição, da
quantidade e o tipo de procedimentos realizados pelos diversos prestadores de
serviço do SUS (públicos ou privados contratados).
Outra importante possibilidade de cruzamento de informações possibilitada
pelo sistema é a determinação, através da divisão do número de procedimentos
básicos ou especializados, realizados em determinado espaço de tempo
(normalmente um ano) pelo número de habitantes de uma região ou município,
determinar o índice de consulta habitante/ano, com o objetivo de determinar em
comparação aos parâmetros de cobertura determinados pelo sistema, a cobertura
prestada à população de um procedimento ou conjunto de procedimentos em
especial.
53
O SIA-SUS é alimentado por quatro documentos-fonte: a ficha de cadastro
ambulatorial (FCA), a ficha de programação físico-orçamentária (FPO), o boletim de
produção ambulatorial (BPA) e o boletim de diferença de pagamento (BDP),
conforme abaixo:
• FCA O preenchimento é realizado pela instituição gestora do sistema municipal
ou estadual de saúde. O processamento é feito pela unidade de saúde, que
envia a FCA à instituição gestora, no qual é incorporada ao Cadastro Geral de
Unidades Ambulatoriais.
• FPO É preenchida pela Secretaria de Saúde estadual ou municipal, a partir da
programação prévia, que define o quantitativo de procedimentos por tipo a ser
executado em cada unidade, atribuindo um teto máximo para remuneração dos
serviços prestados. Tanto o quantitativo de procedimentos quanto seus
respectivos tetos são comunicados antecipadamente pelo gestor às unidades
prestadoras de serviços (Portaria SAS/MS 33/95).
• BPA De responsabilidade da unidade prestadora do serviço, é preenchido e
enviado ao final de cada mês à instituição encarregada do processamento. Os
dados constantes do BPA passam por uma bateria de críticas, para confrontá-los
com os que constam nos bancos originados pelas FCA e FPO.
• BDP É o formulário utilizado para a realização de pagamentos extraordinários.
O fluxo de documentos no sistema, portanto, se dá essencialmente entra as
unidades prestadoras de serviço e o órgão gestor, estadual ou municipal. As
informações contidas em todos esses documentos passam a fazer parte do banco
nacional, disponibilizado pelo Banco de Dados do Ministério da Saúde (DATASUS),
na internet e em CD-Rom (Inácio, 2003, p.61).
54
Outro sistema que pode ser utilizado na programação em odontologia é o
Sistema de Informações de Atenção Básica (SIAB), inclui instrumentos de
cadastramento das famílias acompanhadas, da atenção à saúde e das condições
mórbidas da população atendida e acompanhamento da gestante e da criança. Este
sistema abarca e consolida as informações e produção de serviços do PSF
(Programa de Saúde da Família). Contudo as informações referentes às ações em
saúde bucal ainda se apresentam muito pobres em decorrência da participação,
ainda parcial e discreta, de equipes de saúde bucal no Programa de Saúde da
Família, ou mesmo pelo fato do programa não ter sido implantado de forma efetiva
em todos os municípios do Estado.
55
6. CAPÍTULO V - OBJETIVOS
6.1 Objetivo Geral
Analisar se as regionais de saúde do Estado e seus municípios
demonstraram, ao longo do período estudado, uma evolução em relação aos
preceitos constitucionais de descentralização e universalidade da prestação dos
serviços em odontologia.
6.2 Objetivos Específicos
1. Analisar a evolução da rede e da produção de serviços odontológicos, entre 1996
e 2003, e sua relação com as mudanças na política de saúde bucal no que tange
aos preceitos de universalidade e integralidade e aos processos de
municipalização e regionalização no Estado do Rio de Janeiro;
2. Analisar a situação da rede odontológica do SUS no estado do Rio de Janeiro,
sua estrutura física e a produção ambulatorial odontológica, tendo como base os
oito anos compreendidos entre 1996 e 2003, em relação ao processo de
descentralização e regionalização da atenção à saúde, determinada inicialmente
pela NOB 96 e modificada posteriormente pelas NOAS SUS 01 e NOAS 01 / 02
do Governo Federal;
3. Procurar determinar, ao longo do período analisado, sinais de mudanças no perfil
do atendimento Odontológico prestado à população no Estado do Rio de Janeiro.
56
7. CAPÍTULO VI - MATERIAIS E MÉTODO
Foram estudados todos os municípios do estado do Rio de Janeiro,
enquadrados em suas respectivas regionais de saúde, a saber: Baía da Ilha Grande,
Baixada Litorânea, Centro-Sul Fluminense, Médio Paraíba, Metropolitana, Noroeste
Fluminense, Norte Fluminense e Serrana. Para todos os municípios, foram
levantados, anualmente, no Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único
de Saúde (SIA-SUS), os números referentes à população residente, e à quantidade
apresentada de produção ambulatorial odontológica a nível básico e especializado
(segundo grupos de procedimentos), englobando o período compreendido entre os
anos de 1996 a 2003, para os procedimentos básicos, e de 1998 a 2003, para os
especializados (já que a informação sobre os procedimentos NPAB e especiais, só
estão disponível no sistema a partir de 1998).
A escolha pela utilização dos procedimentos apresentados e não aprovados,
está ligada ao objetivo de verificarmos, através de uma visão programática, a
situação, mais próxima possível da realidade, do volume de serviços prestados à
população do Estado, evitando-se a possível intervenção de fatores alheios à
prestação do serviço propriamente dita, tais como: fatores políticos, restrições
financeiras, limitação do teto de atendimento, etc...,
Foi também levantada a quantidade de equipos odontológicos (consultórios
odontológicos), para o cálculo da capacidade instalada, a partir do Sistema de
Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS), dos anos de 1998 e
2003 (já que estas informações, só estão disponíveis no sistema a partir de 1998).
Todos os dados, foram recuperados no site http://www.datasus.gov.br.
Para fins de avaliação de ênfase em determinado tipo de ação, os
procedimentos básicos, contidos no Anexo I, e os procedimentos especializados,
57
contidos no Anexo II, foram enquadrados em grupos de especialidades,
classificados segundo os primeiros quatro dígitos de identificação do procedimento,
conforme os quadros abaixo (Quadro 2 e Quadro 3):
Quadro 2: divisão dos procedimentos básicos por ação ou especialidade.
Código Especialidade0301101 Procedimentos coletivos0302101 Consulta Odontológica (1º cons.)0302201 - 0302208 Procedimentos Preventivos0303101 - 0303112 Dentística0304101 - 0304107 Cirurgia
Quadro 3: divisão dos procedimentos especiais por grupos de especialidades.
Prefixo do Código Especialidade1001 § Dentística1002 § Periodontia1003 § Ortodontia1004 § Endodontia1005 e 1006 § Cirurgia1007 § Implantodontia1008 § Prótese1009 § Prótese extra-oral1010 § Radiologia
Os dados foram organizados em uma série histórica para analisar a evolução
da produção de procedimentos especializados e básicos, buscando-se caracterizar
os perfis de atenção em saúde bucal em cada regional e município do estado do Rio
de Janeiro.
Para o cálculo dos índices de cobertura populacional (procedimentos básicos
ou especiais por habitante/ano) de um determinado ano, estes procedimentos foram
divididos pelo total da população municipal ou do total regional, segundo a fórmula
apresentada na equação 1.
Índice procedimento por Hab/ano = nº procedimentos (básicos ou especiais) (eq.1) Total de habitantes no ano
58
Para o estudo comparativo desta cobertura, foram usados os parâmetros de
referência determinados pela portaria do Ministério da Saúde GM/MS nº 1101/02:
ações básicas em Odontologia 0,4 a 1,6 procedimentos habitante/ano (grupo 3,
média do país); e ações especializadas em Odontologia 0,04 a 0,06
procedimentos habitante/ano (parâmetro sugerido) (Brasil-MS, 2002 c).
Neste trabalho, também foi analisada a relação entre a produção dos
municípios e sua capacidade instalada, procurando determinar se os municípios
estão produzindo acima ou abaixo de suas possibilidades. Para o cálculo da
capacidade instalada de atendimento de um município, foram colhidos, inicialmente,
os dados referentes ao número de equipos (consultórios) odontológicos que
estavam instalados em um determinado ano base, a partir da base de dados do
SIA-SUS. Este total, por sua vez, foi multiplicado pelo número de dias úteis de 1998
ou 2003, conforme o ano estudado, e o resultado, multiplicado por 24 consultas,
número máximo de consultas por dia trabalhado (considerados dois turnos de 4
horas diárias possíveis e pelo parâmetro de 3 consultas por hora de atendimento,
determinado pelo Ministério da Saúde - GM/MS nº 1101/02).
O valor obtido, quando comparado ao número de procedimentos realizados,
determina a posição percentual, de um determinado município ou regional, em
relação à capacidade instalada no ano alvo do estudo, conforme a equação 2.
Capacidade Instalada= nº equipos X nº de dias úteis X 24 consultas
Relação Produção capacidade instalada = nº proc. Realizados X 100 (eq.2) capac. Instalada
A análise dos dados foi realizada com o auxílio dos programas TAB-WIN,
Tabnet e EXCEL, para analisar, através da geração de tabelas, gráficos e mapas, a
evolução quantitativa dos procedimentos odontológicos e a adequação destes aos
59
parâmetros de atendimento básicos e especiais determinados pelo MS, nos
municípios e Regionais de Saúde, com a ótica do princípio de descentralização das
ações de saúde, procurando, também, identificar mudanças no perfil de atendimento
odontológico no Estado ao longo da série histórica estudada.
8. RESULTADOS
8.1 Resultados por Regionais
Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor em decorrência do grande
número de dados a serem apresentados, os resultados foram analisados com
enfoque nos municípios, que, por sua vez, foram enquadrados em suas respectivas
regionais de saúde, facilitando a posterior visão global do Estado.
8.1.1 Baía da Ilha Grande
A regional alcançou uma considerável evolução (113%) no número de
procedimentos básicos ao longo do período (Tabela 1).
Este aumento refletiu-se sobre a cobertura de procedimentos básicos da
população na regional, com um aumento nos índice de cobertura de 0,8 em 1999
para 1,2 em 2003, índices que se mantiveram dentro da faixa recomendada de
cobertura, demonstrando um equilíbrio na oferta ao longo do período.
Em relação aos municípios, Angra dos Reis apresentou um aumento mais
significativo no número de procedimentos que Parati, entre 1996 e 2003 (118% e
79%, respectivamente). Quando analisados os índices de consulta por
habitante/ano, correspondentes, verificamos que o Município de Angra dos Reis,
60
apresentou uma evolução mais significativa, passando de um índice 0,9 para 1,3,
enquanto Parati de 0,5 para 0,7, um aumento mais discreto de 0,2 pontos.
Quando analisada esta evolução de índices básicos, cabe destacar que Angra
dos Reis demonstrou ao longo do período, uma evolução mais uniforme e
progressiva, enquanto Parati apresentou pequenas oscilações, com um pico de
cobertura de 1,6 em 2000, o que representou uma evolução em torno de 200%,
apresentando uma queda ao final do período, chegando ao índice de 0,7.
A regional, como um todo, demonstrou um aumento de 118% no número de
procedimentos especiais, muito próximo da evolução dos procedimentos básicos
(113%) (Tabela 2). Mesmo com este resultado, houve uma evolução muito discreta
nos índices médios de cobertura especiais ao longo do período, saindo a regional de
um patamar de 0,02 em 1998, para 0,03 em 2003, permanecendo abaixo dos
parâmetros programáticos ao longo de todo o período.
Verificou-se, entre os dois municípios, um grande desequilíbrio na oferta de
procedimentos especiais, sendo Angra dos Reis responsável pela prestação destes
atendimentos ao longo de todo o período, com exceção de uma discreta participação
de Parati em 1998 com 161 procedimentos. Portanto, Angra dos Reis é responsável,
por basicamente toda a evolução no número de procedimentos da regional.
Não houve evolução dos índices de consulta por habitante/ano ao longo do
período, com estagnação dos mesmos em 0,02, abaixo da faixa recomendada, em
Angra dos Reis e queda de 0,01 para 0 em Parati, apresentando a regional uma
cobertura muito ruim dos procedimentos especializados
A análise da distribuição dos procedimentos nesta regional fica restrita à
distribuição da oferta destas especialidades pelo município de Angra dos Reis
(Tabela 3). Com exceção de implantodontia e prótese extra-oral, todas as
61
especialidades foram oferecidas. Naturalmente que, dependendo da especialidade,
foram oferecidas de forma muito discreta, como ortodontia, prótese, e cirurgia, com
24, 252 e 436 atendimentos, respectivamente, ao longo do período, demonstrando
um desequilíbrio na oferta.
No período, predominam nesta regional os procedimentos especiais em
radiologia (65%), seguidos pelos procedimentos de endodontia (12%) e dentística
(15%).
Houve uma evolução na relação entre a produção e a capacidade instalada
nos dois municípios ao longo do período, com um aumento em torno de 100%, com
produção equivalente a 36% da capacidade. Contudo, ambos se mantiveram abaixo
da capacidade máxima de atendimento, ao final do período (Tabela 4).
63
8.1.2 Baixada Litorânea
A regional alcançou uma evolução discreta (19%) no número de
procedimentos básicos ao longo do período (Tabela 5 e Figura 1). Mesmo com este
pequeno aumento do número de consultas, houve uma pequena redução no índice
médio de consulta por habitante/ano da regional (de 1,2 em 1996 para 1,1 em 2003),
que mesmo tendo se mantido dentro da faixa recomendada, demonstra uma
pequena queda na cobertura básica à população.
Três municípios (25%) apresentaram redução no número de consultas
básicas ao longo do período (Arraial do Cabo, Cachoeiras de Macacu e Araruama),
com reduções de 81%, 76% e 31%, entre 1996 e 2003, respectivamente. Quando
observamos os demais municípios, que apresentaram aumento na quantidade de
procedimentos, merecem destaque Armação de Búzios, Iguaba Grande e Rio
Bonito, com aumentos de 570%, 458% e 387%, respectivamente.
Seis municípios (50%) apresentaram, em algum período da série histórica,
índices de cobertura básicos, abaixo do recomendado. Porém, de um modo geral, os
municípios da regional apresentaram coberturas dentro ou acima dos parâmetros de
programação do M.S. Verificou-se que o Município de Araruama, mesmo tendo
apresentado uma redução de 31% no número de atendimentos, manteve durante
todo o período altos índices de consulta por habitante/ano, se comparado, por
exemplo, à Armação de Búzios, que, mesmo tendo apresentado a maior evolução
numérica (570%) ao longo do período, seus índices se mostraram mais baixos.
Ao longo da série histórica, Casimiro de Abreu apresentou a melhor evolução
de seus índices cobertura, chegando ao final com o índice mais alto da regional
(3,3). Já os piores desempenhos da regional, cabem a Saquarema e Cabo Frio (em
especial no final do período) que, mesmo tendo Saquerema apresentado uma
64
pequena evolução na quantidade de procedimentos (28%), e apresentando
oscilações de seus índices de cobertura ao longo do período, iniciou e terminou com
um índice de 0,2 (abaixo dos parâmetros recomendados). Cabo frio, embora tenha
terminado o período com cobertura dentro dos parâmetros recomendados, nos anos
anteriores não apresentou índices de cobertura suficientes.
A regional demonstrou um expressivo aumento no número de procedimentos
especiais no período (521%), sendo que esta tendência não se refletiu na realidade
de todos os seus municípios (Tabela 6 e Figura 2).
Embora com este grande aumento, e mesmo com uma discreta evolução no
índice de consulta por habitante/ano (de 0 em 1998 para 0,02 em 2003), o resultado
médio,alcançado pela regional, ficou abaixo da faixa recomendada.
Foi a regional com a menor porcentagem de municípios (41,5%)
apresentando evolução no número de procedimentos especiais ao longo do período.
Os municípios de Rio Bonito, Rio das Ostras e São Pedro da Aldeia, apresentaram
aumento expressivo de 114, 21 e 3 vezes, respectivamente, no número de
consultas.
Oito municípios (66%) apresentaram redução no número ou não realizaram
qualquer tipo de procedimento no período. Destaque para Araruama, Cachoeiras de
Macacu e Arraial do Cabo com reduções de 96%, 86% e 67%, respectivamente.
Cabe destacar que estes mesmos municípios, também apresentaram reduções
quando analisados os procedimentos básicos. Armação de Búzios e Saquarema não
apresentaram ao longo do período qualquer tipo de atendimento.
Somente dois (16%) municípios (Rio Bonito e Rio das Ostras) apresentaram,
ao final do período, índices de cobertura dentro ou acima dos parâmetros
recomendados.
65
No período, predominam nesta regional os procedimentos especiais em
radiologia (56%), seguidos pelos procedimentos de periodontia (23%) e dentística
(15%) (Tabela 7).
No período, 83% dos municípios apresentaram produtividade em radiologia,
50% em periodontia, 41,5% em endodontia e dentística., 66% em cirurgia e 16,5%
em prótese e, apenas o município de Rio das Ostras prestou atendimento em
ortodontia, mesmo que com insignificantes três consultas em todo o período. Cabe
destacar, que, as porcentagens de ocorrência apresentadas, poderiam nos dar uma
falsa impressão de eficiência na cobertura do atendimento.
Contudo, quando observamos o número total de atendimentos de algumas
destas especialidades em alguns municípios, vemos que ocorreram em uma
frequência praticamente insignificante, como por exemplo, um atendimento de
periodontia em Araruma, dois atendimentos de dentística em Arraial do Cabo, dois
atendimentos de radiologia em Rio Bonito, etc... ao longo de todo o período (Esta
avaliação deverá ser observada quando da demonstração dos dados das demais
regionais).
O município de Iguaba Grande realizou 100% de seus procedimentos em
radiologia, seguido por Cabo Frio, com 99%, Cachoeiras de Macacu, com 95%, São
Pedro da Aldeia, com 94%. Silva Jardim praticamente efetuou apenas
procedimentos de endodontia durante o período (87%), culminando com 100% dos
procedimentos oferecidos em 2003.
Cabe destacar a baixa produtividade da regional no período em prótese (41
atendimentos no período) e ortodontia (3 atendimentos no período).
Os municípios que apresentaram o melhor equilíbrio entre a oferta das
especialidades foram Rio das Ostras, seguido por Rio Bonito.
66
A regional apresentou a maior evolução da relação produção/capacidade
instalada do Estado, com 66% de seus municípios com melhoria desta relação
(Tabela 8).
No início do período estudado (1998), apenas dois municípios (São Pedro e
Araruama), apresentavam produtividade acima da capacidade instalada, tendo ao
final do período (2003) aumentado estes números. Da mesma forma, dois
municípios (Casimiro de Abreu e Iguaba Grande) apresentaram reversão do quadro,
saindo de uma produtividade abaixo da capacidade instalada, para uma acima da
mesma.
Os demais municípios se mantiveram, tanto no início do período como no
final, com a sua produção abaixo da capacidade instalada, sendo que 50%
melhoraram sua produtividade e 50% pioraram.
70
8.1.3 Centro-Sul Fluminense
A regional alcançou uma evolução de 98% no número de procedimentos
básicos ao longo do período (Tabela 9). Houve também uma considerável evolução
no índice médio de consulta por habitante/ano de 1,0 em 1996 para 1,7 em 2003,
ultrapassando o limite máximo da faixa recomendada de 1,6 para procedimentos
básicos, demonstrando um aumento na cobertura básica da população.
Foi a regional com a maior porcentagem de municípios (90%) que
apresentaram evolução no número de procedimentos básicos realizados ao longo do
período. Apenas o município de Sapucaia apresentou diminuição no número de
procedimentos ao longo do período (41%), entre os demais, destacam-se os
aumentos de Engenheiro Paulo de Frontin, Comendador Levi Gasparian e Miguel
Pereira, com 616%, 395% e 311% respectivamente.
Quando analisados os índices de cobertura básicos correspondentes,
verificamos que apenas 20% dos municípios (Paraíba do Sul e Sapucaia)
apresentaram redução, nos demais destacam-se Engenheiro Paulo de Frontin (5,1),
Comendador Levi Gasparian (3,3), Miguel Pereira (2,9) e Vassouras (2,6) (40% do
total), que obtiveram, ao final do período, resultados acima do índice máximo da
faixa recomendada para procedimentos básicos, com destaque para Eng. Paulo de
Frontin com um índice 320% maior que o limite superior de 1,6 da faixa
recomendada para os procedimentos básicos.
Dos municípios da regional 40% (Comendador Levy Gasparian, Eng. Paulo
de Frontin, Sapucais e Vassouras) apresentaram em 75% do período (6 anos),
índices acima da faixa recomendada.
Cabe destacar que mesmo com as reduções no número de consultas básicas
e de seu índice ao final do período, o município de Sapucaia, apresentou oscilações
71
importantes de seus índices, chegando em 1997 a um índice de 2,6 e em 2001 de
2,0 e, mesmo com uma queda final para 1,6, este ainda representa um resultado
bastante satisfatório no nível de cobertura populacional (Figura 3).
O pior desempenho da regional ficou por conta do município de Três Rios
(que durante o período estudado chegou a apresentar em 2001 um índice abaixo da
faixa recomendada) seguido por Paraíba do Sul.
A regional demonstrou um expressivo aumento no número de procedimentos
especiais no período (843%), sendo que este não ocorreu de forma uniforme em
todos os seus municípios, sendo Eng. Paulo de Frontin e Paraíba do Sul,
responsáveis por um aumento de 63.642 consultas (89%) de um total regional de
71.394. (Tabela 10)
Este aumento refletiu em um aumento do índice médio de consulta por
habitante/ano especial da regional de 0,04 em 1998, para 0,3 (750% de aumento)
em 2003.
Dos 10 municípios da regional, 60% (Comendador Levy Gasparian, Eng.
Paulo de Frontin, Paraíba do Sul, Sapucaia, Três Rios e Vassouras) apresentaram
aumento do número de procedimentos especiais na regional, com destaque para
Eng. Paulo de Frontin, Paraíba do Sul e Três Rios, responsáveis por 92,5% do total.
O destaque negativo cabe a Areal que durante todo o período, não apresentou
produtividade especializada.
Em relação aos índices de cobertura especiais, 50% dos municípios
(Comendador Levy Gasparian, Eng. Paulo de Frontin, Mendes, Paraíba do Sul e
Três Rios) apresentaram evolução, sendo que destes 30% obtiveram resultados
acima do índice máximo da faixa recomendável, com destaque para Eng. Paulo de
Frontin e Paraíba do Sul que acompanhando o desempenho do aumento de
72
produção no período e alcançaram respectivamente em 2003, 4,94 e 0,11
respectivamente, seguidos por Sapucaia.
Destaca-se, quando avaliados os índices regionais, o município de Vassouras
que mesmo não tendo obtido um aumento expressivo do número de consultas
especializadas (33%) e de seus índices (estabilidade em 0,13), demonstrou estar
preocupado com um planejamento de cobertura populacional, já que ao longo de
todo o período, manteve-se estável com um índice de 0,13, 100% acima do índice
superior da faixa recomendável (Figuras 4 e 5).
O destaque negativo fica por conta dos municípios de Paty do Alferes, com
uma queda de um índice de 0,08 em 1998 para 0,02 em 2003 e para Mendes, que
mesmo mantendo um índice, ao final do período, acima da faixa recomendável, caiu
de 0,20 em 1998 para 0,08 em 2003.
No período, predominam nesta regional os procedimentos especiais em endodontia
31% seguidos pelos procedimentos dentística com 20% e radiologia 19% (Tabela
11).
Nove municípios (90%) apresentaram produtividade em dentística e
radiologia, 80% em cirurgia, endodontia e periodontia, 50% em prótese.
As maiores concentrações de oferta de especialidades no período ficaram por
conta de Eng. Paulo de Frontin no atendimento em endodontia (56%); Comendador
Levy Gasparian, que concentrou 83% de seus esforços em radiologia; Paty do
Alferes, com 70% em dentística; e Paraíba do Sul, em prótese (81%).
O município que apresentou o melhor equilíbrio entre a oferta de
especialidades foi Mendes, seguido por Três Rios.
A regional apresenta o 3º melhor desempenho em ortodontia do estado
quando observada a distribuição de oferta de especialidades dentro das regionais,
73
destacando os municípios de Mendes e Três Rios, responsáveis por 38% e 62%
respectivamente destes atendimentos.
Nenhum município apresentou produtividade em implantodontia e prótese
extra-oral.
Foi a regional que apresentou o pior resultado em relação
produtividade/capacidade instalada, com apenas 30% de seus municípios
apresentando melhoria (Tabela 12).
Durante o período, 70% dos municípios tiveram redução na relação
produtividade/capacidade instalada, com destaque para Com. Levy Gasparian, com
uma redução de 23% acima da capacidade instalada para 37% abaixo da mesma.
Dos municípios que apresentaram aumento, apenas Eng. Paulo de Frontin superou
em 66% a produtividade possível da capacidade instalada.
77
8.1.4 Médio Paraíba
A regional obteve um aumento de 21% no número de procedimentos básicos
ao longo do período (Tabela 13).
Houve uma pequena elevação de apenas 0,1 pontos no índice de consulta
por habitante/ano básico de 1,0 em 1996 para 1,1 em 2003, mantendo a regional
dentro da faixa recomendada para procedimentos básicos, demonstrando a
manutenção da oferta destes procedimentos à população ao longo do período
estudado.
Foi a regional que apresentou a menor porcentagem de municípios (58%)
com evolução no número de procedimentos básicos realizados ao longo do período.
Dos municípios da regional, 58,3% (7 municípios) apresentaram aumento no número
de procedimentos básicos, com destaque para Itatiaia (284%), Pinheiral (127%) e
Piraí (126%). Dentre os municípios que apresentaram diminuição, mesmo que em
pequenas proporções, destacam-se Valença (22%) e Rio das Flores (17%).
Quando analisados os índices de consulta/habitante/ano correspondentes,
verificou-se que 58,3% dos municípios apresentaram aumento ou estabilidade em
seus índices, com destaque para Piraí, Itatiaia e Quatis, que ao final do período
alcançaram índices de 3,6, 2,5 e 2,3, respectivamente. Dos municípios que sofreram
reduções, estas não se apresentaram de forma abrupta e sim de forma gradual e
com pouca diferença entre os índices iniciais e finais, o que demonstra um equilíbrio
dentro da regional da oferta de procedimentos básicos, já que todas os municípios
apresentaram ao longo do período índices dentro ou acima da faixa recomendada,
com exceção dos municípios de Pinheiral e Porto Real, que, mesmo apresentando
índice zero no início do período, posteriormente mantiveram seus índices em uma
faixa aceitável.
78
Seis municípios (50%) sofreram, ao longo do período, fortes oscilações nos
índices de consulta/habitante/ano, com destaque para Barra do Piraí, Piraí e Rio das
Flores (Figura 6).
A regional demonstrou um aumento no número de procedimentos especiais
no período (210%), e este ocorreu de uma forma bastante distribuída entre seus
municípios (Tabela 14 e Figura 7). Da mesma forma, o aumento da produção de
procedimentos especiais correspondeu de forma fiel ao aumento dos índices de
cobertura municipais, refletindo em um aumento do índice geral da regional
(aumento de 33%, de 0,04 em 1998, para 0,12 em 2003), como também de todos os
municípios que apresentaram evolução no número de procedimentos.
Foi a regional com a maior porcentagem de municípios (92%) apresentando
evolução no número de procedimentos especiais realizados ao longo do período,
tendo apenas o município de Rio Claro apresentado queda no número de
procedimentos especiais (55%). Dos municípios que apresentaram aumento
destacam-se, Porto Real (1.222%), Pinheiral (509%) e Itatiaia (380%).
Como dito, o aumento na produção foi de tal monta que correspondeu a um
aumento nos índices de cobertura, com exceção para o município de Rio Claro, que
apresentou queda de 0,08 em 1996 para 0,03 em 2003 (abaixo dos parâmetros
recomendados). Os demais 11 municípios apresentaram evolução, sendo que,
destes, 30% obtiveram resultados acima do índice máximo da faixa recomendável,
com destaque para Porto Real (0,54), Itatiaia (0,37) e Valença (0,35).
No período, predominaram nesta regional os procedimentos especiais em
radiologia (49%), seguidos pelos procedimentos periodontia (16%) e endodontia
(13%). Percebeu-se um nítido desequilíbrio entre as especialidades na regional,
devido a baixa ocorrência relativa das demais especialidades. (Tabela 15)
79
A regional obteve a segunda melhor produção estadual de radiologia e
prótese, e a terceira em endodontia e periodontia, ao longo do período estudado,
ficando atrás apenas da regional Metropolitana e Noroeste Fluminense,
respectivamente. Praticamente todos os municípios (91,6%) dos municípios
apresentaram produtividade em cirurgia, endodontia e radiologia; 83,3% em
dentística, periodontia e prótese; 33,3% em ortodontia.
As maiores concentrações de especialidades no período ficaram por conta de:
Rio das Flores, com 100% dos procedimentos em radiologia, muito embora em
pequeno número; Itatiaia, com 70% dos procedimentos em periodontia; Barra do
Piraí e Barra Mansa, com 59%; Quatis, com 55%; Rio Claro, com 52%; e Pinheiral e
Resende, com 45% de seus procedimentos em radiologia; Itatiaia, com 22%; Quatis,
com 25% e Rio Claro, com 37% de seus procedimentos em endodontia.
A regional apresenta o 2º melhor desempenho em ortotodontia e a segunda
melhor participação proporcional do Estado quando observada a distribuição de
oferta dentro das regionais (5%), destacando o município de Porto Real, responsável
por 49% do atendimento na regional.
Nenhum município apresentou produtividade em implantodontia e Prótese
extra-oral.
Embora tenha apresentado os melhores resultados de cobertura, é a regional
com o segundo pior resultado na análise da relação entre produção e capacidade
instalada, com apenas 33% de seus municípios, apresentando melhora (Tabela 16).
Durante o período, apenas quatro municípios apresentaram evolução na relação
produtividade/ capacidade instalada, e, destes, apenas Itatiaia, ao final do período,
alcançou uma produtividade acima da capacidade instalada (55% inicialmente
abaixo da capacidade, para 7% acima), e Barra Mansa obteve aumento de apenas
80
1%. Dos que sofreram redução, destaque para Pinheiral, que mesmo com ela,
manteve sua produção acima da capacidade instalada ao longo do período; Barra do
Piraí, com uma forte queda de 60% acima para 54% abaixo da capacidade; Porto
real, Quatis, Resende e Volta Redonda, apresentaram não só redução de
produtividade como mantiveram esta produção abaixo da capacidade instalada ao
longo de todo o período.
84
8.1.5 Metropolitana
A regional obteve um aumento de 68% no número de procedimentos básicos
ao longo do período (Tabela 17). Mesmo com este razoável aumento no número de
procedimentos, ocorreu apenas uma pequena e discreta elevação do índice de
consulta por habitante/ano médio, de 0,5 no início do período para 0,7 no final,
mantendo, mesmo sem um aumento expressivo, a regional dentro dos parâmetros
de referência de programação para procedimentos básicos, demonstrando a
manutenção, ao longo do período, dando cobertura à população, ao logo do período,
mesmo que em patamares baixos.
Dos municípios da regional, 70% (14 municípios) apresentaram aumento no
número de procedimentos básicos, com destaque para Nilópolis (482%), Tanguá
(309%) e Seropédica (276%). Dentre os municípios que apresentaram diminuição,
destacam-se São Gonçalo (72%), Belford Roxo (63%) e Duque de Caxias (53%).
Quando analisados os índices de consulta por habitante/ano
correspondentes, verificou-se que, dos municípios (70%) que apresentaram aumento
do número de procedimentos básicos, 71,4% apresentaram elevação ao longo do
período de seus índices, tendo Paracambi (2,9) e Seropédica (3,8) com índices
acima dos parâmetros de programação recomendados, os demais dentro destes, e
Mesquita e Tanguá , apresentando índices abaixo. Cabe destacar que Tanguá,
mesmo tendo apresentado 309% de aumento no número de consultas básicas, o
que ocorreu em apenas um ano, não conseguiu, em 2003, prestar o atendimento
mínimo esperado à sua população, alcançando um índice de 0,1 (abaixo dos
parâmetros).
Dois municípios da regional, Japerí e Itaguaí, apresentaram, ao longo do
período, fortes variações de seus índices de cobertura, Japeri mesmo tendo
85
conseguido resultados dentro dos parâmetros por quatro anos seguidos (1997
2000), apresentou queda vertiginosa para os mesmos 0,1 iniciais, em 2003. Itaguaí,
mesmo tendo obtido ao final do período elevação de seu índice, permanecendo
dentro dos parâmetros, apresentou fortes variações, com o pico em 2000, com
índice de 5,3, sofrendo, no transcorrer dos anos seguintes, queda acentuada até o
índice final de 1,4 (Figura 8).
Dos sete municípios que sofreram reduções ou mantiveram seus índices
estáveis, Belford Roxo e Mangaratiba foram os únicos a apresentar ao final do
período, índices dentro dos parâmetros de programação. Sendo que Belford Roxo
apresentou a queda mais acentuada: de 1,7 iniciais para 0,6 em 2003.
A regional demonstrou um aumento de 373% no número de procedimentos
especiais no período de 373%, tendo apenas três municípios apresentado queda.
(Tabela 18 e Figura 9)
A regional obteve, da mesma forma, aumento dos índices de
consulta/habitante/ano correspondente ao aumento da produção: de 0,01 em 1998,
para 0,05 em 2003, embora com cobertura próxima ao limite mínimo dos parâmetros
de programação recomendados.
Cerca de 80% dos municípios da regional apresentaram aumento no número
de consultas especiais, com destaque para Magé (91 vezes), Paracambi (37 vezes) ,
Itaboraí (22 vezes) e Nilópolis (16 vezes) e 60% dos municípios (12 municípios)
apresentaram aumento de seus índices C/H/A especiais. Destes, cinco (41,5%)
obtiveram índices acima dos parâmetros recomendados ao final do período, quatro
(33%) ficaram dentro dos parâmetros e três (25%) ficaram abaixo.
Dos municípios que apresentaram aumento de seus índices, destacam-se,
Nilópolis e Queimados, com 1,10 e 0,15, respectivamente.
86
Dos seis municípios que sofreram redução de seus índices, apenas
Seropédica obteve, mesmo com a redução, um índice satisfatório (acima dos
parâmetros de programação). Os demais apresentaram índices finais abaixo destes.
O destaque positivo da regional fica com Nilópolis que, além de obter um
expressivo aumento no número de consultas, também apresentou uma melhora
importante de sua cobertura: de 0,06 iniciais para 1,10 final, o melhor resultado entre
os municípios. O negativo fica a cargo do município de Tanguá, que, ao longo do
período, não prestou qualquer tipo de atendimento especializado.
Foi a regional que, juntamente com a Noroeste Fluminense, apresentou o
melhor equilíbrio na oferta de especialidades às suas populações (Tabela 19). No
período, predominaram, porém com equilíbrio, os procedimentos em endodontia
26%, seguidos pelos procedimentos em periodontia (20%) e dentística (19%).
Em 2003 (final do período), a proporcionalidade de oferta das especialidades
na regional se manteve praticamente igual ao encontrado na série histórica (Anexo
III).
Dezenove municípios (95%) apresentaram produtividade em periodontia, 90%
em cirurgia, 80% em endodontia e radiologia, 40% em prótese e 30% em ortodontia.
As maiores concentrações de especialidades no período, quando analisada a
produção de cada município, ficaram: Queimados e São João de Meriti, com 88% de
seus procedimentos em cirurgia; Paracambí, 65% em dentística; Itaboraí, Maricá e
Magé, com 56% a 59% também em dentística; Guapimirim 69% e Nilópolis 66% em
endodontia; Mesquita, 59% em periodontia; São Gonçalo, 63% em radiologia.
O município que apresentou o melhor equilíbrio entre a oferta das
especialidades foi o município do Rio de Janeiro, seguido de Mangaratiba.
87
Se comparada às outras regionais, e partindo-se do princípio que a regional
concentra não só o maior volume do Estado em recursos físicos e possui a maior
concentração populacional do Estado, fica claro que a produção apresentada nas
especialidades de prótese e ortodontia ( 1% e 2%, respectivamente, de todo o
atendimento especializado prestado), mesmo tendo apresentado os maiores
números de atendimento nestas especialidades no Estado, deixaram muito a
desejar, diante da provável demanda requerida por sua população.
Nenhum município apresentou produtividade em implantodontia; o município
do Rio de Janeiro foi o único a apresentar produtividade em prótese extra-oral no
Estado, mesmo com o número muito reduzido de 58 atendimentos, ao longo de todo
o período estudado.
Foi a regional com a terceira maior relação entre produção e capacidade
instalada, junto a regional do Noreste Fluminense (Tabela 20), embora a maioria dos
municípios (13), produziu abaixo da capacidade instalada.
Durante o período, 50% dos municípios apresentaram evolução na relação
produtividade/capacidade instalada, e, destes, seis municípios alcançaram ao final
do período uma produtividade acima da capacidade instalada, com destaque para o
município de Nilópolis, com 21% acima da capacidade instalada. Dos municípios que
apresentaram redução nesta relação, destaque para São Gonçalo, com uma relação
de 85% de produção abaixo da capacidade instalada, em 1998 para uma relação de
18% em 2003.
91
8.1.6 Noroeste Fluminense
A regional mostrou um aumento de 75% no número de procedimentos
básicos ao longo do período (Tabela 21). Mesmo com este aumento no número de
procedimentos, os resultados obtidos na evolução dos índices de consulta por
habitante/ano básicos foi surpreendente, tendo apresentado ao longo de todo o
período estudado, resultados muito acima dos parâmetros de programação,
começando pelo índice médio da regional, com uma evolução de 1,9 em 1996 para
3,1 em 2003.
Dos municípios da regional, 69% (9 municípios) apresentaram aumento no
número de procedimentos básicos, com destaque para Cambuci (365%), Itaperuna
(255%) e Natividade (251%). Três municípios apresentaram diminuição, com
destaque para Varre-Sai (40%).
Foi a regional com a maior porcentagem de municípios apresentando
evolução nos índices de cobertura básicos do Estado (69%), e foi, também, a que
apresentou as maiores coberturas, verificando-se os mesmos 69%. Apenas Santo
Antônio de Pádua apresentou índice ao final do período dentro dos parâmetros de
cobertura. Os demais municípios apresentaram índices muito elevados e bem acima
do parâmetro máximo de programação, com destaque para os municípios de Bom
Jesus de Itabapoana (6,3), Miracema (4,2), Cambuci (3,8) e Itaocara (3,7). Cabe
destacar que, mesmo os municípios que apresentaram queda no número de
procedimentos, apresentaram ao longo do período coberturas muito boas, com
destaque para Varre-Sai que, mesmo tendo o pior resultado na evolução da
quantidade de procedimentos básicos prestados ao longo do período, teve como
índice inicial 5,9 e final 3,3, considerado elevado quando comparado a outros
municípios do estado.
92
Três municípios da regional (Miracema, Porciúncula e São José de Ubá)
apresentaram, ao longo do período, variações elevadas de seus índices de
cobertura. (Figura 10). O pior resultado da regional coube a Santo Antônio de
Pádua, com uma evolução pequena em relação aos demais municípios da regional,
permanecendo, entretanto, com índices dentro dos parâmetros exigidos, ao longo de
todo o período (entre 1,0 e 1,6).
A regional apresentou o melhor resultado do estado, no que diz respeito à
evolução do número de procedimentos especiais, com 1441% de aumento. Contudo
esta evolução se deu de forma desequilibrada entre seus municípios. (Tabela 22 e
Figuras 11 e 12)
Este expressivo aumento refletiu diretamente em uma grande evolução do
índice de cobertura médio da regional: de 0,03 em 1998, para 0,42 em 2003.
Oito municípios (62%) dos municípios da regional apresentaram aumento no
número de consultas especiais, com destaque para Miracema (6504%), Bom Jesus
de Itabapoana (2144%), Laje de Muriaé (1076%). Cabe destacar, comprovando o
desequilíbrio da regional na oferta de procedimentos especiais, seis municípios
(46%), não apresentaram ou demonstraram um aumento muito baixo na produção
ao longo do período (Cambuci, Italva, Natividade, Porciúncula, São José de Ubá e
Santo Antônio de Pádua).
Na regional, 54% dos municípios (sete municípios) apresentaram aumento em
seus índices de cobertura especiais. Destes, cinco (38,5%) obtiveram índices acima
dos parâmetros de programação ao final do período, Itaocara ficou abaixo e Varre-
Sai, dentro do parâmetro. Dos municípios que apresentaram aumento na cobertura
de procedimentos especiais, destacaram-se: Bom Jesus de Itabapoana, com 2,50;
Miracema, com 0,86 e Laje de Muriaé, 0,31.
93
Dos seis municípios (46%) que sofreram redução, ou não apresentaram
evolução em seus índices, todos permaneceram com índice 0 ou apresentaram
índices abaixo dos parâmetros recomendados ao final do período.
O destaque positivo da regional ficou com Bom Jesus de Itabapoana, que,
além de mostrar um expressivo aumento no número de consultas, também
apresentou uma melhora na sua cobertura, alcançando os 2,50 em 2003, o segundo
melhor resultado entre os municípios do estado, ficando atrás apenas de Engenheiro
Paulo de Frontin (região Centro-Sul Fluminense). As piores situações ficaram para
os municípios de Italva, Cambuci e Natividade, que não apresentaram produção
especial, e Porciúncula, com uma irrisória participação de 45 procedimentos ao
longo do período estudado, o pior resultado do estado em número de municípios
com produção de procedimentos especiais muito baixa ou zero.
Foi a regional que, juntamente com a Metropolitana, apresentou o melhor
equilíbrio na oferta de especialidades às suas populações, quando analisadas as
participações percentuais médias das especialidades na Regional (Tabela 23).
A regional obteve a segunda melhor produção de endodontia e periodontia, e
a terceira do Estado em dentística do Estado ao longo do período estudado, ficando
atrás apenas da regional Metropolitana e Norte Fluminense, em endodontia e
periodontia, respectivamente.
No período, predominaram, porém com equilíbrio, os procedimentos de
periodontia (31%), seguidos pelos procedimentos de endodontia (27%) e de
dentística (22%). Oito municípios (62%) apresentaram produção em radiologia, 46%
em endodontia e dentística, 38% em cirurgia, 31% em periodontia e prótese, e
apenas um município (Itaperuna) com produção em implantodontia e ortodontia.
94
As maiores concentrações de especialidades no período, quando analisada a
produção de cada município, ficaram: São José de Ubá, com 100% de seus
procedimentos em dentística; Itaocara com 100% em radiologia; Aperibé com 86%
em radiologia; e Santo Antônio de Pádua com 79% em radiologia.
O município que apresentou o melhor equilíbrio entre a oferta de
especialidades foi o município de Itaperuna, seguido de Miracema.
Nenhum município apresentou produtividade em prótese extra-oral. O
município de Itaperuna, juntamente com Petrópolis (região Serrana), foram os únicos
a apresentar produção em implantodontia ao longo do período estudado.
Em 2003, a proporcionalidade de oferta das especialidades na regional se
manteve praticamente igual às porcentagens verificadas ao longo do período
(Anexo III).
Foi a regional com o melhor resultado do Estado, na análise da capacidade
de produção (Tabela 24). Durante o período, apenas três municípios (Itaperuna, São
José de Ubá e Varre-Sai) apresentaram queda na capacidade de produção. Dos
demais municípios (69%), 46% apresentaram, ao final do período, produção acima
de sua capacidade instalada, com destaque para Bom Jesus de Itabapoana (185%),
Miracema (142%) e Itaocara (138%).
Dos municípios que apresentaram redução nesta relação, destaque para São
José de Ubá, com uma redução de 231% (acima da capacidade instalada) para 83%
da capacidade instalada.
98
8.1.7 Norte Fluminense
A regional mostrou um aumento de 100% no número de procedimentos
básicos ao longo do período (Tabela 25), apresentando, também, uma evolução de
70% de seu índice de consulta por habitante/ano médio (de 1,0 em 1996 para 1,7
em 2003).
Dos municípios da regional, 78% (7 municípios) apresentaram aumento no
número de procedimentos básicos, com destaque para Conceição de Macabu
(442%), Macaé (398%), Quissamã (334%) e Carapebus (202%).
A queda apresentada no volume de procedimentos em dois municípios da
regional (São Fidelis, 13%; e Cardoso Moreira, 9%) trouxe pouco impacto sobre a
cobertura da população dos mesmos, já que mantiveram coberturas acima dos
parâmetros de programação do M.S..
Verificou-se que, dos sete dos municípios (78%) que apresentaram aumento
dos índices de consulta/habitante/ano básicos, 57% (4 municípios) apresentaram
índices ao final do período acima dos parâmetros recomendados. Os demais
mantiveram-se dentro ou acima dos parâmetros, com destaque para os municípios
de Quissamã (3,1), Carapebus (2,5) e São João da Barra (2,7).
Cabe destacar que, mesmo os municípios que apresentaram queda no
número de procedimentos (São Fidelis e Cardoso Moreira), foram os que
apresentaram os melhores resultados em seus índices de cobertura, mantendo
sempre, ao longo do período, índices muito acima dos parâmetros, sendo que
Cardoso Moreira obteve o melhor resultado ao final do período na regional (3,2).
Três municípios da regional (Cardoso Moreira, Carapebus e Campos de
Goytacazes) apresentaram, ao longo do período, fortes variações de seus índices de
cobertura (Figura 13), apresentando valores bastante elevados e, no caso de
99
Cardoso Moreira e Carapebus, valores acima de 5 consultas por habitante /ano. O
pior resultado da regional coube a São Francisco de Itabapuana, que mesmo com
um aumento de 158% no número de consultas básicas, e, mesmo tendo
apresentado evolução de seus índices de cobertura ao longo do período, seu
resultado ficou abaixo dos demais municípios da regional, mesmo tendo ficado, seus
índices, dentro dos parâmetros recomendados pelo M.S.
A regional apresentou uma evolução média do número de procedimentos
especiais de 386% (Tabela 26 e Figura 14). Este aumento refletiu diretamente na
evolução do índice de cobertura médio da regional de 0,02 em 1998, para 0,08 em
2003.
A regional apresentou o segundo melhor resultado no número de municípios
(90%) que aumentaram a quantidade de procedimentos especiais ao longo do
período.
Seis municípios (66%) da regional apresentaram aumento no número de
consultas especiais no período, com destaque para Quissamã (581 vezes), Campos
de Goytacazes (23 vezes) e Macaé (13 vezes). Da mesma forma, 66% dos
municípios (seis municípios) apresentaram aumento de seus índices c/h/a especiais.
Destes, cinco (85%) obtiveram índices acima dos parâmetros programáticos
recomendados, e Carapebus, abaixo.
Dos municípios que apresentaram aumento, destacam-se Campos de
Goytacazes (1,37), Quissamã (0,28), Cardoso Moreira (0,12) e Macaé (0,12), ao final
do período. Os dois municípios que sofreram redução, Conceição de Macabu e São
Fidelis (0,02 e 0,03, respectivamente), apresentaram índices abaixo dos parâmetros
recomendados ao final do período.
100
O destaque positivo da regional ficou com Campos de Goytacazes, que,
mesmo tendo apresentado o segundo lugar na evolução do número de consultas,
obteve ao longo período os melhores índices de cobertura da regional. O negativo
ficou a cargo dos municípios de Conceição de Macabu e São Francisco de
Itabapoana, sendo que o primeiro, apresentou coberturas muito baixas de
procedimentos especiais e o segundo praticamente não realizou procedimentos
especiais ao longo do período.
A regional apresentou um pequeno desequilíbrio na oferta de especialidades,
com ligeiro predomínio de procedimentos de radiologia (33%) e dentística (21%)
(Tabela 27).
A regional obteve a segunda melhor produção de cirurgia e dentística e a
terceira em radiologia do Estado ao longo do período estudado, ficando atrás
apenas da regional Metropolitana e Médio Paraíba, respectivamente.
Oito municípios (89%) apresentaram produtividade em endodontia e
radiologia, 77,7% (sete municípios) em cirurgia, dentística e periodontia, 44,5% em
endodontia e dentística, 55,5% em prótese, 33,3% em ortodontia.
As maiores concentrações de especialidades no período, quando analisada a
produção de cada município, ficaram: São Fidelis com 73% de seus procedimentos
em dentística, Cardoso Moreira com 71% em periodontia, Campos de Goytacazes
com 53% em radiologia e Conceição de Macabu com 52% em cirurgia.
O município que apresentou o melhor equilíbrio entre a oferta de
especialidades foi São Francisco de Itabapoana, seguido de Carapebus.
Nenhum município apresentou produtividade em implantodontia e prótese
extra-oral.
101
Em 2003, a proporcionalidade de oferta das especialidades na regional se
manteve praticamente igual às porcentagens verificadas ao longo do período (Anexo
III).
Foi a regional com o terceiro melhor resultado do Estado, na análise da
relação produção e capacidade instalada (Tabela 28). Três municípios (Carapebus,
20%, Macaé, 44%, São Fidelis, 37%) produziram acima da capacidade instalada. Já
a produção de Campos de Goytacazes, Conceição de Macabu e São Francisco de
Itabapoana foi a metade ou menos da capacidade instalada (51%, 39% e 42%,
respectivamente). Durante o período, 55% dos municípios (cinco municípios),
mostraram evolução na relação produtividade-capacidade instalada. Destes, dois
Macaé, 44% e Carapebus 20% apresentaram produtividade acima da capacidade
instalada, e três abaixo, Conceição de Macabu (39%); Quissamã (67%); e São
Francisco de Itabapoana (42%).
Dos municípios que apresentaram redução nesta relação, Cardoso Moreira foi
o único que caiu de uma faixa acima de 100% da capacidade instalada para abaixo
da mesma (124% para 98% abaixo). Cabe destacar que o município de São Fidelis,
mesmo tendo sofrido uma queda nesta relação (171% para 137%), manteve sua
produtividade acima de sua capacidade de atendimento.
105
8.1.8 Serrana
A regional obteve um aumento médio de 22% no número de procedimentos
básicos ao longo do período, a terceira menor evolução do estado (Tabela 29).
Seguindo o pequeno aumento do número de procedimentos, houve uma pequena
evolução de 10% (o pior resultado do Estado juntamente à regional do Médio
Paraíba) nos índices de consulta por habitante/ano médios da regional, indo de 0,9
em 1996 para 1,0 em 2003.
Entretanto ao longo de todo o período, seus municípios apresentaram índices
dentro dos parâmetros ou acima destes, colocando a regional entre uma das
melhores posições no Estado.
Dos municípios da regional, 71,5% (10 municípios) apresentaram aumento no
número de procedimentos básicos, com destaque para Teresópolis (404%) e
Cordeiro (383%). Dos que apresentaram queda, sobressaíram os municípios de
Nova Friburgo (42%) e Duas Barras (40%).
Verificou-se que dos nove municípios (64%) que apresentaram aumento dos
índices de consulta/habitante/ano básicos, 66% (6 municípios) apresentaram índices
ao final do período acima dos parâmetros recomendados. Os demais mantiveram-se
dentro dos parâmetros de programação, com destaque para São Sebastião do Alto
(3,6), Trajano de Morais e Macucu (2,8) e Sumidouro e Cordeiro ambos com 2,5.
Cabe destacar que, dos municípios acima, São Sebastião do Alto, Trajano de Morais
e Sumidouro apresentaram índices muito acima do limite máximo do parâmetro
recomendado durante todo o período estudado, demonstrando uma excelente
cobertura básica às suas populações. Sendo que estes índices não se apresentaram
de forma crescente e uniforme, tendo demonstrado acentuadas variações ao longo
do período (Figura 15).
106
O pior resultado da regional coube a Petrópolis, que demonstrou a terceira
pior porcentagem de evolução no número de consultas e a pior situação de seus
índices ao longo do período, com 0,6 inicial e 0,7 final, que, no entanto, se manteve
dentro dos parâmetros recomendados.
A regional apresentou uma evolução média de 139% no número de
procedimentos especiais (Tabela 30 e Figura 16). Este aumento se apresentou
próximo dos 100% de aumento dos índices c/h/a médio da regional (de 0,03 em
1998 para 0,06 em 2003).
A regional apresentou o terceiro pior resultado do Estado, quando avaliado o
número de municípios que aumentaram a quantidade de procedimentos especiais
ao longo do período. Nove municípios (64%) da regional apresentaram aumento no
número de consultas especiais, com destaque para Cordeiro (4259%), São José do
Vale do Rio Preto (659%) e Bom Jardim (517%).
Sete municípios (50%) apresentaram aumento de seus índices de cobertura
especiais. Destes, quatro obtiveram índices acima dos parâmetros recomendados ao
final do período, dois na faixa e um abaixo. Dos que apresentaram aumento
destacam-se, Sumidouro (0,23), Duas Barras (0,18) e Cordeiro com 0,11. Dos que
sofreram redução, Trajano de Morais apresentou índice zero ao final do período.
O destaque positivo da regional ficou com Sumidouro e Duas Barras que
obtiveram ao longo período índices sempre acima dos parâmetros recomendados. O
destaque negativo ficou a cargo dos municípios de Santa Maria Madalena, Macucu e
São Sebastião do Alto, que não apresentaram produção especial ao longo do
período. Foi a regional com o segundo maior número de municípios sem produção
de procedimentos especiais.
107
A regional apresentou um desequilíbrio na oferta de especialidades, com
ligeiro predomínio de procedimentos de radiologia (44%) e dentística (21%) (Tabela
31).
Dez municípios (71,%) apresentaram produtividade em periodontia, 64%
(nove municípios) em radiologia e prótese, 57,% (oito municípios) em cirurgia, 43%
(seis municípios) em dentística e 28,5% em ortodontia.
As maiores concentrações de especialidades no período, quando analisada a
produção de cada município, ficaram com: Carmo com 100% de seus procedimentos
em periodontia, Macucu com 100% e Bom Jardim com 99% em prótese, Trajano de
Morais em cirurgia e Duas Barras com 66% em radiologia.
O município que apresentou o melhor equilíbrio entre a oferta de
especialidades foi Nova Friburgo, seguido de Sumidouro.
Nenhum município apresentou produtividade em prótese extra-oral.
Petrópolis foi o único município, juntamente com Itaperuna (região Noroeste
Fluminense) a apresentar produtividade em implantodontia no período, embora com
um número praticamente irrelevante de 2 consultas ao longo do período.
Em 2003, a proporcionalidade de oferta das especialidades na regional se
manteve praticamente igual às porcentagens verificadas ao longo do período,com
um ligeiro aumento da participação dos procedimentos em ortodontia (Anexo III).
Foi a regional com o terceiro melhor resultado do Estado, na análise da
relação de produção e capacidade instalada (Tabela 32). Sete municípios (54%)
apresentaram evolução na relação produtividade-capacidade instalada. Destes
apenas Cordeiro apresentou produtividade acima da capacidade instalada no final
do período, os demais permaneceram abaixo.
108
Dos seis municípios que apresentaram redução nesta relação, todos
permaneceram com uma produção abaixo da capacidade instalada, ao de todo o
período.
O pior resultado coube a Sumidouro com uma queda de 35 pontos
percentuais em sua relação de produtividade com a capacidade instalada.
112
8.2 Resultados Gerais
Através de uma visão mais global dos resultados, pôde-se verificar, ao final
do período, que:
Em relação aos municípios do Estado, de um total de 92 municípios, 74%
apresentaram aumento no número de procedimentos básicos; 80% com aumento de
procedimentos especiais.
Quanto aos índices de cobertura, 87% dos municípios, apresentaram índices
básicos dentro ou acima dos parâmetros do MS e apenas 56% apresentaram índices
especiais dentro ou acima destes mesmos parâmetros.
Cinqüenta municípios (55%), apresentaram evolução na relação
produtividade/capacidade instalada, sendo que destes, apenas 21 municípios (23%)
conseguiram ao final, elevar a sua produtividade, a níveis acima da capacidade
instalada.
A nível estadual, ficou demonstrada, uma mudança no perfil do atendimento
odontológico, com redução média de 32% da participação do total de procedimentos
radicais, envolvendo extrações dentárias (cirurgia básico e especializado) e
aumento médio de 9,5% das ações conservadoras (endodontia, prótese e
periodontia [especiais]; dentistica [especiais e básicos]; procedimentos coletivos e
procedimentos conservadores [básicos]) (Anexo VI).
A análise dos índices de cobertura, dentro de uma visão geográfica (Anexos
IV e V), mostrou uma distribuição desequilibrada da oferta de procedimentos,
principalmente, os especiais nas regionais da Baía da Ilha Grande, Baixada
Litorânea e Serrana, caracterizando uma barreira de acesso à população, que fica
obrigada a deslocar-se para municípios próximos, para obter atendimento em uma
determinada especialidade.
113
9. DISCUSSÃO
9.1 Discussão por Regionais
A mesma metodologia utilizada na descrição dos resultados do trabalho, será
novamente utilizada na discussão, que será agrupada por regionais e ao final, será
apresentada uma discussão geral.
9.1.1 Baía da Ilha Grande
De uma forma geral, em ambos os municípios, a oferta de procedimentos
básicos apresentou-se satisfatória no que diz respeito à cobertura recomendada.
Verificou-se que, mesmo com o aumento de procedimentos em Angra dos
Reis, responsável por praticamente todo o atendimento especializado da regional,
estes não foram suficientes para melhorar a cobertura prestada à população no
período estudado. Mesmo com uma pequena evolução nos índices de cobertura,
estes se mantiveram abaixo dos parâmetros recomendados, o que nos leva a
acreditar que a população da regional possa estar procurando, pela falta de oferta
ou por problemas de acesso, atendimento em municípios vizinhos, que poderiam
estar suprindo a demanda existente.
Esta regional demonstrou o segundo pior resultado quando comparada às
demais, se considerarmos o pequeno número de municípios da regional.
9.1.2 Baixada Litorânea
Em todos os Municípios da regional, com destaque para Casimiro de Abreu e
Araruama, que apresentaram um desempenho bastante satisfatório na oferta de
114
procedimentos básicos, deixaram a desejar na oferta de procedimentos especiais,
mostrando um desequilíbrio entre a produção básica e especial.
Esta regional foi a que apresentou a pior distribuição de oferta de
especialidades à população, com altas concentrações de atendimento na área de
radiologia e deficiência na oferta das demais especialidades. Apresentou também,
os piores resultados quando comparada às demais, no que diz respeito aos índices
de cobertura para procedimentos especiais.
A baixa produtividade em procedimentos especiais da maioria dos municípios
da regional ou a dificuldade de acesso da população aos mesmos, nos leva a
acreditar que esta população possa estar buscando atendimentos em municípios de
outras regionais ou procurando os municípios da regional com melhor oferta,
lembrando que estes por sua vez não demonstraram equilíbrio nesta oferta.
Mais da metade dos municípios precisariam, através do melhor
aproveitamento da capacidade instalada ou da contratação de recursos humanos,
melhorar sua produtividade, aumentando a oferta de serviços à população.
De todos os municípios da regional, apenas Rio das Ostras apresentou índice
de cobertura de procedimentos especiais ao final do período, que poderia nos levar
a crer que o município poderia estar prestando atendimento a municípios vizinhos
que se apresentaram deficientes nesta área.
São Pedro da Aldeia, mesmo tendo apresentado uma boa evolução no
número de procedimentos especiais realizados, demonstrou, por seus índices, uma
baixa cobertura da população.
Rio das Ostras poderia vir a ser considerado como pólo de referência no
atendimento de cirurgia, periodontia e dentística, Rio Bonito poderia ser considerado
um pólo de referência em dentística para a regional, como Cabo Frio poderia vir a
115
ser considerado um pólo de referência em radiologia, já que realizou 74,5% de toda
a produção apresentada pela regional no período.
9.1.3 Centro-Sul Fluminense
Os municípios desta regional demonstraram ao longo período uma boa
relação de oferta de procedimentos básicos em relação à população, com os
aumentos no número de procedimentos se dando de forma equilibrada entre os
municípios, como também, mantiveram aumentos progressivos nos índices de
cobertura, sem que em nenhum momento estes tivessem ficado abaixo da faixa
recomendada.
Quando analisados os procedimentos especiais, verificou-se um maior
desequilíbrio na oferta dos mesmos, com um equilíbrio maior de oferta em apenas
dois municípios (Mendes, Três Rios)
A regional apresentou o pior resultado na relação produtividade/capacidade
instalada no Estado, o que vem demonstrar que se faz necessário investir, através
do melhor aproveitamento da capacidade instalada ou da contratação de recursos
humanos, na melhoraria de sua produtividade, aumentando a oferta de serviços à
população, principalmente em relação aos procedimentos especiais, que, mesmo
tendo apresentado, ao final do período, índices satisfatórios, poderiam estar sendo
oferecidos de forma mais adequada e equilibrada, aumentando, por exemplo, a
oferta de procedimentos de prótese, cirurgia e periodontia, como também evitando
que municípios como Areal, por exemplo, que apresentou uma relação
produtividade/capacidade muito baixa, não tenha apresentado produtividade
especializada ao longo do período.
116
Engenheiro Paulo de Frontin, pelo seu alto índice em 2003 (4,94), poderia vir
a ser considerado como pólo de referência no atendimento de Endodontia, como
também pólo de apoio para os demais municípios da regional nos procedimentos
básicos, devido ao alto índice de 5,1 consultas por habitante/ano apresentado.
9.1.4 Médio Paraíba
Em relação à oferta de procedimentos básicos, esta regional demonstrou ao
longo do período um bom equilíbrio de oferta entre seus municípios, muito embora
tenhamos verificado fortes oscilações dos índices consulta/habitante/ano no período.
Cabe destacar que foi a regional com o segundo maior número de municípios com
redução no número de procedimentos básicos no Estado, ficando atrás apenas da
região Metropolitana.
Porém, estes municípios, mesmo com a redução apresentada, conseguiram
manter, ao longo do período estudado, seus índices dentro ou mesmo acima dos
patamares recomendados de cobertura.
Quando analisados os procedimentos especiais, foi a regional que apresentou
os melhores índices, tanto ao longo de todo o período analisado, como ao final do
mesmo, onde foi possível observar que a grande parte dos índices de
consulta/habitante/ano ficaram acima da faixa recomendada, em todos os
municípios, ao longo dos seis anos do período. Contudo, estes procedimentos
especiais não foram oferecidos de forma equilibrada, havendo uma predominância
de procedimentos em radiologia (quase a metade do total) sobre os demais.
Devemos destacar o desempenho da regional em ortodontia, já que esta
especialidade apresentou-se com a segunda colocação em quantidade e
porcentagem de participação quando comparada às demais regionais.
117
O município que apresentou o melhor equilíbrio na oferta de especialidades
foi Resende, seguido de Valença.
Curiosamente, mesmo a regional tendo apresentado o segundo pior
resultado, na relação produtividade/capacidade instalada no Estado, seus
municípios apresentaram, com poucas exceções, ao longo e ao final do período
estudado, índices de consulta/habitante/ano básicos e especiais dentro ou bem
acima da faixa recomendada, demonstrando que, caso estes municípios tornassem
os seus recursos físicos e/ou humanos mais produtivos, poderiam alcançar índices
ainda mais significativos, proporcionando uma cobertura mais extensa, não só para
sua própria população residente, como eventualmente para a população de
regionais vizinhas mais carentes de atendimento.
O município de Porto Real, pelos índices de consulta/habitante/ano
apresentados ao longo do período estudado e em 2003 (0,54), poderia vir a ser
considerado como pólo de referência para a regional no atendimento de ortodontia,
assim como os municípios de Valença, Itatiaia e Piraí, poderiam vir a ser
considerados pólos no atendimento de radiologia, periodontia e dentística,
respectivamente.
Cabe destacar, que outros fatores de análise, devem ser considerados em
relação aos municípios que apresentaram índices de consulta por habitante/ano,
relevantes, e que poderiam ser considerados pólos de atendimento. Porto Real, por
exemplo, é um município pequeno, com uma capacidade instalada, muito pequena
(5 equipos) e que ao longo do período apresentou redução na relação
produtividade/capacidade instalada em trono de 30%, como da mesma forma,
Itatiaia, apresentou, ao longo do período estudado as maiores porcentagens de
118
glosa (diferença entre os procedimentos apresentados e aprovados) dentro da
regional.
Por outro lado, Valença, por se tratar de uma cidade que apresenta uma
capacidade instalada bem maior que as demais (69 equipos), apresentou a pior
relação de produtividade/ capacidade instalada a regional no período, o que nos leva
a crer que, caso sejam tomadas medidas em relação ao melhor aproveitamento
desta capacidade, realmente o município poderá consolidar uma posição de
referência dentro da regional.
9.1.5 Metropolitana
A regional, mesmo tendo apresentado um aumento no número de
procedimentos básicos no período, apresentou a pior relação de evolução dos
índices de cobertura do Estado. Apresentou, através do desempenho na produção
de seus municípios, o pior desempenho do Estado em relação à oferta de
procedimentos básicos, não só na quantidade proporcional de municípios com
diminuição do número de consultas, como também nos índices de cobertura,
apresentando uma quantidade muito grande de índices abaixo dos parâmetros de
programação mínimos, não só ao longo do período, como, principalmente, ao final
deste.
Quando analisados os procedimentos especiais, verificou-se que a regional
apresentou a maior produção de procedimentos especiais, quando comparada às
demais regionais. Contudo, não demonstrou reflexo deste desempenho em seus
índices ao longo do período, apresentando em 2003 resultados finais muito
discretos; naturalmente, por ser a regional de maior concentração populacional, terá,
119
em relação às demais regionais, o permanente desafio de procurar aumentar, a
oferta de procedimentos, melhorando a cobertura de sua população.
A regional apresentou uma oferta claramente insuficiente de procedimentos
de prótese e ortodontia, tendo estas especialidades participação percentual muito
reduzida na oferta geral da regional, fato que se agrava se considerarmos a enorme
demanda da regional, nestes procedimentos, em decorrência do grande número de
habitantes.
Os municípios de Nilópolis, pelo índice de consulta/habitante/ano
apresentados ao final do período (1,10), e ao longo do período estudado, poderia vir
a ser considerados como pólos de referência para a regional no atendimento de
endodontia.
Como exemplo da importância da utilização, de uma forma conjunta de todas
as informações recuperadas, na avaliação e planejamento das ações em
odontologia no Estado podemos citar os municípios de Seropédica e Rio de Janeiro.
Seropédica apresentou ao longo do período, altos índices de cobertura, tanto
básicos como especiais e uma excelente relação produtividade/capacidade
instalada, contudo não demonstrou equilíbrio na oferta dos procedimentos e
especializados, pecando no planejamento desta oferta.
Já o município do Rio de Janeiro, mesmo tendo a maior capacidade instalada
do Estado e os números mais elevados na oferta de procedimentos, não apresentou
índices satisfatórios na cobertura especializada, mesmo tendo apresentado uma
relação produção/ capacidade instalada, muito boa ao final do período,
demonstrando, da mesma forma, a necessidade de um melhor planejamento no
equilíbrio da oferta de procedimentos à sua população.
120
9.1.6 Noroeste Fluminense
A regional apresentou, quando analisados os procedimentos básicos, o
melhor resultado do Estado. Mesmo não demonstrando os melhores porcentuais de
aumento de procedimentos em seus municípios, quando comparada às demais
regionais. Por outro lado, mostrou valores surpreendentes em seus índices de
cobertura, com índices iniciais, intermediários e finais muito melhores que os das
demais regionais do Estado.
Quando analisados os procedimentos especiais, verificou-se que a regional
apresentou a maior evolução no número de procedimentos especiais médios,
quando comparada às demais. Contudo não demonstrou equilíbrio deste aumento
entre seus municípios, onde cinco (Bom Jesus do itabapoana, Itaocara, Itaperuna,
Laje de Muriaé e Miracema) apresentaram altas porcentagens de aumento,
enquanto os demais apresentaram aumentos pequenos, muito discretos, redução,
ou simplesmente não apresentaram produção no período. Da mesma forma, o
desequilíbrio se demonstra nos índices de cobertura dos procedimentos especiais,
dos municípios citados acima, apenas quatro (Bom Jesus do Itabapoana, Itaperuna,
Laje de Muriaé e Miracema) alcançaram, ao final do período, índices de cobertura
consideráveis.
A regional, mesmo tendo apresentado a melhor evolução das relações entre a
produção e capacidade instalada, demonstrou, em muitos de seus municípios, uma
oferta claramente insuficiente de procedimentos especiais, principalmente os de
prótese e ortodontia, tendo estas especialidades participação percentual muito
reduzida na oferta geral da regional, tendo condições de melhoria de sua cobertura,
caso a produtividade dos mesmos fosse estimulada.
121
Os municípios de Bom Jesus de Itabapoana e Itaperuna, pelos índices de
consulta/habitante/ano e pela produção de procedimentos especiais apresentados
ao final do período, poderiam vir a ser considerados como pólos de referência para a
regional no atendimento de periodontia e endodontia, radiologia e cirurgia,
respectivamente. Estes municípios poderiam vir a suprir as necessidades da
população dos municípios que não apresentaram produção ou esta se demonstrou
insuficiente no nível de cobertura.
9.1.7 Norte Fluminense
A regional apresentou, quando analisados os procedimentos básicos, o
segundo melhor resultado do Estado, tanto na porcentagem de municípios que
obtiveram aumento no número de procedimentos como nos que alcançaram
elevação em seus índices de consulta/habitante/ano.
Quando analisados os procedimentos especiais, verificou-se que a regional
apresentou o segundo melhor resultado no número de municípios que apresentaram
evolução na quantidade de procedimentos realizados, muito embora estes não
tenham sido oferecidos de forma equilibrada entre os municípios da regional.
Este desequilíbrio também se refletiu sobre os índices municipais de
cobertura, com metade dos municípios alcançando índices acima dos parâmetros e
os demais abaixo ou não apresentando produção relevante no período.
A regional, mesmo tendo alcançado o terceiro melhor resultado na relação
produção/capacidade instalada, alguns de seus municípios demonstraram
diferenças no equilíbrio entre esta relação e seus índices de cobertura, tanto básicos
como especiais, como, por exemplo, Campos de Goytacazes que, mesmo possuindo
a maior capacidade instalada da regional, apresentou índices de cobertura básica
122
baixos, em relação a sua capacidade de atendimento, e índices especiais que o
credenciariam a pólo de atendimento. Outro exemplo foi São Fidélis, que apresenta
uma boa relação produção/capacidade instalada, mas não apresenta equilíbrio entre
a oferta de procedimentos básicos e especiais, com um alto índice básico (2,2 em
2003) e um resultado pouco expressivo na cobertura especial (0,04 em 2003),
naturalmente, por se tratar de um município pequeno com uma população, também
pequena, estes resultados podem ser considerados, como bons resultados.
Campos de Goytacazes e Quissamã, pelos índices de consulta/habitante/ano
especiais apresentados ao longo e ao final do período, poderiam vir a ser
considerados como pólos de referência para a regional no atendimento de
procedimentos especiais, principalmente em radiologia e dentística. Levando-se em
conta que Campos é o município com a maior concentração populacional da
regional e por se localizar geograficamente, em uma posição central na regional,
municípios próximos, como Carapebus, Macaé e Quissamã, poderiam vir a ser
estimulados a produzir, já que apresentaram bons índices de cobertura especiais,
procedimentos pouco oferecidos em Campos, como por exemplo: endodontia,
periodontia e prótese.
9.1.8 Serrana
A regional apresentou, no Estado, quando analisados os procedimentos
básicos, a terceira pior posição em porcentagem de municípios que obtiveram
aumento na quantidade de procedimentos e nos dos índices de consultas por
habitante/ano básicos. Contudo mostrou ao longo do período índices de cobertura
de procedimentos básicos muito bons.
123
Quando analisados os procedimentos especiais, a regional ocupou a quarta
posição em porcentagem de municípios que obtiveram aumento na quantidade de
procedimentos e o terceiro pior resultado do Estado em relação à elevação dos
índices de consultas por habitante/ano, tendo seus municípios apresentado índices
muito baixos em 1998, e outros apenas razoáveis ao final do período.
Devido aos índices de atendimento especiais apresentados por parte dos
municípios da regional e pelo fato de que três municípios não apresentaram
qualquer tipo de produção especial, se faz necessário um fomento de recursos
humanos, visando um maior aproveitamento da capacidade física instalada,
melhorando, assim, a cobertura da população. Um bom exemplo foi Nova Friburgo,
que possuía a maior capacidade instalada da regional, contudo apresentou, ao longo
do período, índices básicos e especiais de cobertura muito discretos, se comparados
a outros municípios com menor capacidade instalada, como por exemplo,
Sumidouro.
Três municípios da regional (Sumidouro, Duas Barras e Cordeiro),
apresentaram ao final do período, bons índices de cobertura especializada, contudo
a quantidade de procedimentos realizados, foi proporcionalmente bem menor que
outros municípios como Friburgo e Petrópolis, que por sua vez, não apresentaram
índices tão expressivos, este fato se deve, naturalmente, à população residente,
muito menor nos três primeiros municípios.
Friburgo e Petrópolis se destacaram na oferta de procedimentos de prótese e
dentística (Friburgo), e radiologia, periodontia e dentística (Petrópolis).
124
9.2 Discussão Geral
De uma forma geral, todas as regionais apresentaram um desempenho
satisfatório se comparado aos parâmetros de programação estabelecidos pelo MS,
no que diz respeito à oferta de procedimentos básicos em odontologia, destacando-
se a regional da Baía da Ilha Grande e Norte Fluminense, que registraram os
maiores aumentos percentuais no número de procedimentos, e as regionais, Norte
Fluminense, Centro-Sul Fluminense e Noroeste Fluminense com os melhores
índices de consulta/habitante/ano.
Os piores resultados ficaram por conta das regionais Metropolitana e Baixada
Litorânea. A primeira demonstrou no período, os piores resultados no conjunto dos
municípios, dos índices de cobertura, mesmo tendo apresentado um razoável
aumento médio do número de consultas básicas. O segundo, além de ter
apresentado a pior porcentagem de aumento médio no número de consultas, seus
municípios apresentaram, no conjunto, o segundo pior resultado nos índices de
cobertura municipais. Se considerarmos o baixo desempenho apresentado pela
regional do Médio Paraíba (atrás das duas citadas anteriormente), verificamos que a
alta concentração populacional, e, conseqüentemente, a demanda por atendimento
nestas três regionais (as três primeiras no Estado em número de habitantes,
respectivamente) exigiria, por parte de seus gestores de saúde, um maior esforço
em relação ao aumento da produtividade.
Quando analisados os resultados das séries de produção e de cobertura por
municípios, a regional do Centro-Sul Fluminense, apresentou o maior número de
unidades municipais com aumento no número de consultas e também o maior
número de municípios com evolução dos índices de cobertura. A regional do
Noroeste Fluminense apresentou o melhor desempenho no que diz respeito à
125
cobertura de sua população, com o conjunto de melhores índices ao longo do
período, com destaque para Bom Jesus de Itabapoana com os melhores índices
finais, tanto básico como especializado.
Cabe destacar que um aumento do número de procedimentos não significa
obrigatoriamente um reflexo direto sobre os índices de cobertura por habitante/ano
de forma correspondente, como por exemplo, o que ocorreu na regional do Noroeste
Fluminense, que apresentou os melhores índices iniciais e finais durante o período e
registrou apenas a quarta melhor porcentagem de aumento no número de consultas.
Parece correto supor que, pelo fato de praticamente todas as regionais terem
apresentado índices de cobertura dentro ou acima dos parâmetros de cobertura
recomendados ao longo do período, e os municípios que delas façam parte e que
tenham demonstrado índices muito acima da faixa recomendada, não poderiam ser
considerados pólos de atendimento básico, já que não haveria por parte dos demais
municípios da regional uma forte carência deste atendimento, e , também, pelo fato
de boa parte das regionais possuem municípios que apresentaram produção muito
abaixo da capacidade instalada. A exceção ficou por conta das regionais
Metropolitana e Baixada Litorânea, as únicas que ao final do período, apresentaram
municípios com índices de cobertura abaixo dos parâmetros recomendados.
Quando passamos a analisar a situação das regionais em relação aos
procedimentos especiais, o quadro sofre uma mudança. De uma forma geral, boa
parte das regionais e seus municípios, apresentaram um desempenho bastante
insatisfatório em relação à oferta destes procedimentos.
Entre as regionais com melhor desempenho, temos as regionais do Médio
Paraíba, Centro-Sul Fluminense e Norte Fluminense. A primeira com o maior
número de municípios com registro de aumento do número de consultas e com
126
índices de cobertura especiais surpreendentes ao longo de todo o período, a
segunda apresentando o segundo maior percentual de aumento médio de consultas,
a segunda melhor evolução dos índices de cobertura ao longo do período, muito
embora, esta tenha se dado de forma desequilibrada entre seus municípios. A
terceira demonstrou o segundo maior número de municípios com registro de
aumento no número de consultas e o segundo melhor resultado nos índices
municipais ao longo do período.
Dentre estas regionais, destaca-se o município de Engenheiro Paulo de
Frontin, com o melhor resultado do Estado.
Cabe observar que a regional Noroeste Fluminense, mesmo tendo
apresentado altíssimos aumentos médios de consultas e de seus índices, estes
ocorreram de forma desequilibrada entre seus municípios.
Os piores resultados foram apresentados pelas regionais da Baía da Ilha
Grande e Baixada Litorânea. A primeira, se considerarmos seus índices de cobertura
baixíssimos, onde, praticamente não houve oferta de procedimentos especiais à sua
população e a segunda com exceção de Rio Bonito e Rio das Ostras, apresentou
municípios que além de pouco evoluírem na produção de procedimentos, obtiveram
índices de cobertura nulos ou abaixo dos parâmetros de cobertura recomendados.
O que ficou bem claro na análise dos dados é o desequilíbrio apresentado por
algumas regionais do estado, entre a oferta de procedimentos básicos e especiais,
onde, uma boa oferta de procedimentos básicos veio acompanhada de uma
performance deficiente em relação aos procedimentos especiais. Como por
exemplo, a regional do Noroeste Fluminense e da Baía de Ilha Grande. A regional
do Noroeste Fluminense, mesmo tendo apresentado a maior porcentagem de
aumento de procedimentos especiais no Estado ao longo do período estudado,
127
apresentou mais da metade de seus municípios com uma oferta muito baixa ou
inexistente de procedimentos especiais.
As regionais do Médio Paraíba (melhor desempenho em procedimentos
especiais do Estado) e a Centro-Sul Fluminense, demonstraram resultados muito
bons em relação à cobertura de procedimentos especiais, acompanhando o
desempenho apresentado por ambas quando da análise dos procedimentos básicos.
As regiões Metropolitana e Baixada Litorânea (a segunda com o pior
resultado do estado) confirmaram seu baixo desempenho na cobertura de
atendimentos odontológicos, através dos índices de cobertura especiais
demonstrados ao longo do período; 40% dos municípios da primeira e 84% da
segunda apresentaram oferta de cobertura muito baixa ou totalmente inexistente.
Diferentemente do observado nos procedimentos básicos, os municípios que
apresentaram índices de cobertura especializados acima dos parâmetros
recomendados no início, ao longo e ao final do período estudado, poderiam vir a ser
considerados pólos de referência no atendimento especializado para estas
regionais. Como exemplo: Rio das Ostras (Baixada Litorânea), Nilópolis
(Metropolitana) e Bom Jesus de Itabapoana (Noroeste Fluminense).
Quando comparados os mapas da distribuição dos índices de procedimentos
básicos (Anexo V) com o de procedimentos especializados (Anexo IV) podemos
observar uma nítida diferença no equilíbrio geográfico de oferta entre ambos, e uma
maior acessibilidade da população aos procedimentos básicos em relação aos
especiais, já que os municípios que apresentaram os melhores índices especiais, e
poderiam dar suporte aos municípios com menor produtividade, não estão
estrategicamente localizados de forma a permitir o acesso da população próxima,
que não receberia assistência.
128
Quando analisada a distribuição da oferta de especialidades no estado como
um todo, verificamos um desequilíbrio. Prótese, por exemplo, uma especialidade tão
importante na reconstituição da função mastigatória e por muitas vezes estética do
indivíduo, tem o quarto menor índice de oferta, enquanto especialidades como
implantodontia, ortodontia e prótese extra-oral (mesmo tendo menor impacto sobre
as necessidades da população) praticamente não foram oferecidas, enquanto
radiologia, especialidade diretamente ligada ao diagnóstico e não a terapêutica do
paciente, apresentou os maiores índices de oferta (Tabela 33 Anexo VI). Este
quadro se reflete sofre as regionais, contudo em alguns casos, apresentando
desequilíbrios, ainda mais altos. Como por exemplo, temos as regionais Baía da Ilha
Grande e Baixada Litorânea que apresentaram os piores resultados do Estado, com
mais da metade da oferta de procedimentos em radiologia, e percentuais muito
baixos de oferta em endodontia, prótese, cirurgia e ortodontia.
Cabe destacar que no Estado, ocorreu, na maioria das especialidades, um
grande aumento no número de procedimentos, e estes quando analisados em
relação à proporção de oferta com o total de procedimentos especiais oferecidos no
período, verificamos uma possível mudança no perfil de atendimento no estado, já
que as especialidades de dentística, periodontia e endodontia (especialidades
eminentemente conservadoras de elementos dentários na cavidade oral), foram
oferecidas com mais freqüência que cirurgia (especialidade mais ligada à perda de
elementos dentários), demonstrando uma tendência mais conservadora do
atendimento.
Ainda nesta linha de análise, verificamos que a regional do Médio Paraíba,
mesmo tendo apresentado o melhor desempenho do Estado em relação aos
procedimentos especiais (evolução de índices), demonstrou também, um
129
desequilíbrio na oferta dos mesmos, com praticamente a metade dos procedimentos
em radiologia e uma baixa oferta em prótese, ortodontia e dentística.
Quando analisada a produção de procedimentos em relação à capacidade
instalada nos 92 municípios do Estado, observamos que mesmo tendo sido
verificada uma evolução nesta relação em 50 municípios, apenas 21 destes,
conseguiram ao final do período estudado, apresentar uma produtividade acima da
capacidade instalada, o que se apresenta como uma das possíveis causas da baixa
oferta de procedimentos básicos em alguns municípios e principalmente da baixa
oferta de procedimentos especiais em tantos outros.
Esta análise é válida tanto para aqueles municípios que apresentam baixos
índices de cobertura, como para aqueles que apresentaram índices mais
satisfatórios, já que aqueles com resultados ruins poderiam reverter este quadro
aumentando sua produtividade através do aproveitamento mais eficiente de sua
capacidade instalada. Aqueles que por ventura tenham apresentado resultados
melhores, poderiam não só estar elevando ainda mais a cobertura de sua
população, através da oferta de especialidades, que tenham sido pouco ou não
tenham sido oferecidas, podendo tornar-se referência de atendimento para outros
municípios mais carentes dentro de suas respectivas regionais.
Como exemplo desta avaliação, poderíamos citar a regional do Médio Paraíba
que obteve os melhores resultados em relação aos procedimentos especiais no
Estado, demonstrando um desequilíbrio na oferta das diversas especialidades, como
também o pior resultado do Estado na relação produtividade/capacidade instalada.
Da mesma forma a regional do Noroeste Fluminense que apresentou um
desequilíbrio muito grande entre a oferta de procedimentos básicos e especiais, com
quatro municípios sem produção especial no período, e três com produtividade muito
130
baixa, mostrou a melhor evolução da relação produtividade/capacidade instalada no
Estado, o que denota uma clara ineficiência no planejamento da oferta de
procedimentos em seus municípios.
Nova Friburgo, Campos de Goytacazes e Itaperuna se encontram dentro do
grupo de municípios que apresentam os maiores números de capacidade instalada
do Estado, no entanto demonstraram diminuição na relação produção/capacidade
instalada, com conseqüente sub utilização de seus recursos de atendimento. Esta
produção reprimida poderia ser, nestes e em outros municípios que apresentem a
mesma situação, direcionada para procedimentos especiais de pouca ocorrência,
como os de prótese, ortodontia, cirurgia etc...
Quanto à utilização do Sistema de Informações Ambulatoriais SIA-SUS, como
base de informação para análise e planejamento das ações em saúde bucal,
algumas considerações se fazem necessárias:
Poderíamos identificar como principal complicador, a baixa confiabilidade das
fontes de dados utilizadas para o estudo, provenientes do sistema, principalmente
quando verificamos no Anexo III, a disparidade entre os números da produtividade
apresentada e aprovada, com 42% dos municípios apresentando, ao longo do
período estudado, percentuais de glosa muito elevados.
O Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) permite a consulta da
quantidade de procedimentos apresentados pelo município ou a quantidade
aprovada pelo SUS. Cabe destacar que, quando comparados os números
representativos dos procedimentos apresentados e aprovados, ao longo da série
histórica proposta neste estudo, pôde-se verificar uma grande variação numérica e
percentual entre ambos (Anexo III), tendo estes percentuais sofrido oscilações
importantes, ano a ano, ao longo do período estudado.
131
Soma-se a estes fatos a fragmentação das informações dos sistemas
disponíveis, tanto à nível de utilização desvinculada de outros sistemas de
informação, como pelo fato destas, principalmente o SIA-SUS, não nos permitir o
acesso a informações referentes ao indivíduo, alvo do atendimento, no que diz
respeito a sua idade, sexo, local de moradia, diagnóstico, ou mesmo se um mesmo
indivíduo foi atendido em mais de uma oportunidade pelo sistema durante um
determinado espaço de tempo.
Contudo, em sua dissertação de mestrado, Terreri (1999) avalia os subsídios
que as fontes de dados ADHB (Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil), IBGE
e SIA-SUS trouxeram às atividades de reorganização do setor saúde bucal nos
municípios, utilizando o município de Araçatuba - SP como objeto de estudo,
concluindo que era possível formular diagnóstico de saúde para o município, de
modo a subsidiar o poder público (nas 3 esferas do governo), na implantação de
políticas e programas de saúde e que, através do SIA-SUS, era possível
acompanhar a programação da produção ambulatorial odontológica e construir
alguns indicadores quantitativos das ações de saúde bucal.
Autores, como Barros (2003), também destacam a validade da utilização do
SIA-SUS como instrumento orientador nas ações programáticas em saúde bucal:
Além disso, o SIA-SUS foi implantado para fins de pagamentosdos procedimentos realizados, o que pode interferir no registro dedados, uma vez que quanto maior a produção de serviços, maior orepasse, podendo-se supor que houve sobre-registro de procedimentosnos primeiros anos da série histórica. Contudo, o advento do Piso deAtenção Básica (PAB) estabeleceu um valor per capita para o custeiodas ações e serviços de Atenção Básica e, presumivelmente, umamaior confiabilidade dos dados, visto que o registro da produçãoambulatorial não mais interfere no repasse de recursos.
O estudo pôde constatar que a alimentação da base de dadosdos procedimentos ambulatoriais da produção odontológica,considerados de maior tradição na área como consultas, exodontiase restaurações, apresentam uma certa constância e confiabilidade noregistro. (p. 48)
132
Ainda segundo Barros (p.50): As informações só podem contribuir para o
desenvolvimento de modelos de atenção à saúde mediante a análise dos seus
dados, se há um adequado preenchimento dos instrumentos, registros e
armazenamento seguros, fluxos de dados até o processamento no tempo
estabelecido, sua consolidação, análise e difusão. Faz-se necessário o treinamento
dos profissionais de saúde para o correto preenchimento dos instrumentos de
registro de dados de saúde, sua sensibilização sobre a importância dos sistemas de
informação e de como utilizar esses dados na análise e difusão das informações; e
finalmente, a capacitação dos gestores dos serviços, profissionais de saúde e
usuários para a tomada de decisões.
Segundo Inácio (2003, p.60), o SIA-SUS possui informações que extrapolam
a esfera financeira, constituindo-se em importante instrumento para o planejamento,
o controle e a avaliação dos serviços de saúde, como por exemplo, relatórios de
procedimentos odontológicos realizados por prestadores de serviços de atenção
básica (extrações, restaurações, etc...).
10. CONCLUSÕES
Nos parece lícito afirmar, pelos resultados observados, que os preceitos da
universalidade e da integralidade na prestação dos serviços de odontologia no
Estado do Rio de Janeiro, principalmente quando analisados os procedimentos
odontológicos de maior complexidade, ainda são questões utópicas, pela alta
demanda reprimida existente na grande maioria dos municípios do Estado, tanto no
que diz respeito ao volume de procedimentos apresentados como na cobertura
oferecida. Este quadro sofreria um agravamento de resultados, se considerássemos,
133
neste trabalho, os dados referentes aos procedimentos aprovados e não os
apresentados, via de regra, em menor número, que gerariam índices muito mais
baixos e, conseqüentemente resultados finais inferiores ao encontrados com os
procedimentos apresentados.
Faz-se necessária incluir, nesta análise de integralidade do atendimento, o
desequilíbrio da oferta das especialidades nos diversos municípios do estado
(decorrente de um planejamento inadequado ou do baixo aproveitamento da
capacidade instalada de atendimento), já que não se pode considerar, como bom,
um índice de cobertura muito acima dos parâmetros recomendados, sem que este
esteja representado ou acompanhado por uma oferta equilibrada e constante, ao
longo dos anos, de todos os procedimentos, sejam eles preventivos, curativos ou
reabilitadores.
Em relação à distribuição geográfica da cobertura dos procedimentos básicos
e especiais, diretamente ligados ao acesso mais fácil ou mais difícil da população
aos procedimentos odontológicos, fica clara, a necessidade, através da coordenação
conjunta das esferas de gestão estadual e municipais, procurar equilibrar a oferta,
principalmente dos procedimentos especiais, para que o acesso da população seja
facilitado, evitando-se grandes deslocamentos para municípios mais distantes, com
maiores recursos ou com produção excedente.
O aumento da oferta dos procedimentos, tecnicamente mais conservadores
relacionados à manutenção de elementos dentários na cavidade oral, tais como,
endodontia, periodontia e dentística, demonstrou uma mudança no perfil de
atendimento odontológico no Estado. Contudo, cabe destacar, a importância do
estímulo ao aumento das ações ligadas à prótese dentária, quando comparada às
demais especialidades, já que seria incoerente, pensarmos em manter um elemento
134
dentário através de um tratamento endodôntico, sem que este, posteriormente, fosse
restaurado adequadamente à nível protético, com um pino intracanal e uma coroa
total ou um bloco, podendo assim, o elemento dentário permanecer na cavidade oral
dentro de uma condição satisfatória, tanto no caráter estético como funcional.
Fica demonstrada, portanto, a importância de uma análise conjunta dos
diversos fatores direta ou indiretamente relacionados ao planejamento e
programação das ações em odontologia, já que um município pode apresentar altos
índices de cobertura e, no entanto, estar desrespeitando os princípios de
integralidade e universalidade na oferta destes serviços.
No que diz respeito, aos sistemas de informação em saúde bucal, em
especial o Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA-
SUS), pode-se constatar a validade de sua utilização, para o planejamento e
programação em saúde bucal, onde, mesmo apresentando limitações, demonstrou
ser uma ferramenta de grande valia para os gestores de todos os níveis.
135
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Anexo I
Ações Básicas em Odontologia:Código Procedimento
0301101 Procedimentos coletivos (paciente/mês)0302101 Consulta odontológica (1ª consulta)0302201 Aplicação terapêutica intensiva c/fluor-por sessão0302202 Aplicação de cariostático por dente0302203 Aplicação de selante por dente0302204 Controle da placa bacteriana0302205 Escariação por dente0302206 Rap-raspagem/alisam./polimento por hemi-arcada0302207 Curetagem.sub-gengival/polimento dentário p/hemi-arcada0302208 Selam.cavidades c/cimento provisório por dente0303101 Capeamento pulpar direto dente permanente0303102 Pulpotomia dente decíduo/permanente. Selamento provisório0303103 Restauração a pino0303104 Restauração c/amalgama duas/mais faces0303105 Restauração com amalgama uma face0303106 Restauração c/compósito duas/mais faces0303107 Restauração com compósito uma face0303108 Restauração.c/compósito com envolvimento de ângulo incisal0303109 Restauração com silicato duas/mais faces0303110 Restauração com silicato uma face0303111 Restauração fotopolimerizável 2/mais faces0303112 Restauração fotopolimerizável uma face0304101 Exodontia de dente decíduo0304102 Exodontia de dente permanente0304103 Remoção de resto radicular0304105 Tratamento de alveolite0304106 Trata.hemorragia/pequenos procedimentos de emergência0304107 Ulotomia
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Anexo IIAções Especializadas em Odontologia:
Código Procedimento1001101 Restauração.c/ionômero de vidro duas/mais faces1001102 Restauração com ionômero de vidro uma face1002101 Cirurgia periodontal por hemi-arcada1002102 Enxerto gengival1002103 Gengivectomia1002105 Gengivoplastia por hemi-arcada1002106 Raspagem corono-radicular por hemi-arcada1002107 Tratamento Periodontal em situação emergência1002108 Curetagem subgengival por individuo1003101 Colocação de mantenedor de espaço1003102 Colocação de aparelho.fixo bilat.p/fecham.diástema1003103 Colocação de aparelhos removível1003104 Colocação de placa de mordida1003105 Colocação de plano inclinado1003106 Manutenção/conserto aparelhos ortodônticos1004101 Necropulpectomia dente decíduo/permanente1004102 Retratamento endodôntico dente permanente. Uni-radicular1004103 Tratamento endodôntico dente decíduo uni-radicular1004104 Retratamento endodôntico dente deciduo uni-radicular1004105 Tratamento endodôntico dente permanente uni-radicular1004201 Retratamento endodôntico dente permanente bi-radicular1004202 Tratamento endodôntico dente permanente bi-radicular1004301 Retratamento endodôntico dente permanente tri-radicular1004302 Tratamento de perfuração radicular1004303 Tratamento endodôntico dente permanente tri-radicular1004401 Tratamento endodôntico dente decíduo multi-radicular1004402 Retratamento endodôntico dente decícuo multi-radicular1005101 Apicectomia com/sem obturação retrógrada1005102 Aprofundamento de vestibulo p/ hemi-arcada1005103 Aveolotomia por arcada1005104 Cirurgia com finalidade ortodôntica1005105 Correção de bridas musculares1005106 Correção de hipertrofia de rebordo alveolar1005107 Correção de tuberosidade1005108 Curetagem periapical1005109 Enxerto ósseo1005110 Excisão cálculo de glândula salivar1005111 Excisão de fenômenos de retenção salivar1005112 Excisão de glândula submaxilar1005114 Exodontia múltipla com alveoloplastia p/hemi-arcada1005115 Glossorrafia1005116 Marsupialização de cistos1005117 Marsupialização de lesões1005118 Reconstrução de sulco gengivo-labial1005119 Reconstrução parcial do lábio traumatizado1005120 Redução incruenta de luxação da articulação têmpero-mandibular1005121 Reimplante/transplante dental por elemento1005122 Remoção de cisto1005123 Remoção de corpo estranho na região buco-maxilo-facial1005124 Remoção dente retido (incluso/impactado)1005125 Remoção de tórus e exostoses1005126 Remoção do foco residual1005127 Retirada de material de síntese (fios/pinos/arcos/placa)1005128 Selamento fístula cutânea odontogênica
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1005129 Sinusotomia maxilar unilateral1005131 Tratamento cirúrgico fístula buco-nasal1005132 Tratamento cirúrgico fístula extra-oral1005133 Tratamento cirúrgico fístula intra-oral1005134 Tratamento clínico das nevralgias faciais1005135 Trat. de emergência de fraturas alvéolo-dentárias redução cruenta1005136 Ulectomia1005137 Apicetomia com obturação retrógada1005138 Tunelização1006101 Contenção (splintagem)1006102 Redução cruenta fratura alvéolo-dentária1006103 Redução incruenta fratura alvéolo-dentária1007101 Implante osteo-integrado (por elemento)1007102 Implante dentario osteo integrado (1 unid)1007103 Implante dentario osteo integrado (2 unid)1007104 Implante dentario osteo integrado (3 unid)1007105 Implante dentario osteo integrado(4/6 unid)1007106 Implante dentario osteo integrado(6/+ unid1008101 Coroa provisória1008102 Manutenção periódica de prótese buco-maxilo-facial1008103 Recolocação de incrustação ou coroa1008104 Reembasamento de prótese1008105 Remoção de prótese fixa1008106 Retirada e troca aparelho gessado/similar1008201 Aparelho para bloqueio maxilo-mandibular1008202 Automobilizadores1008203 Coroas policarboxilato (dente decíduo)1008204 Coroas protéticas1008205 Goteiras dentais1008206 Guia sagital1008207 Placas de contenção1008208 Placas oclusais1008209 Prótese parcial temporária1008210 Prótese total mandibular1008211 Prótese total maxilar1008212 Próteses para grandes perdas maxilares1008302 Próteses parciais removíveis. Maxilar/mandibula1008401 Coroa de aço1008402 Coroas com encaixes1008403 Coroas dentárias isoladas1008404 Incrustação metálica fundida1008405 Núcleo metálico para reconstrução parcial de coroa dentária1008406 Próteses parciais fixas - por elemento1008407 Prótese adesiva metalo-cerâmica p/ elemento1008408 Prótese adesiva metalo-plástica p/ elemento1009101 Prótese auricular1009102 Prótese nasal1009103 Prótese óculo-palpebral1009104 Prótese extensas ou combinadas1009105 Prótese labial1009106 próteses zigomáticas1009201 Prótese infra-orbitária1009202 Prótese mandibular1010101 Radiografia oclusal1010102 Radiografia periapical/interproximal (bite-wing)1010201 Radiografia de arcada dentária1010202 Telerradiografia com/sem traçados
Distribuição geográfica dos índices de cobertura - procedimentos especiais - 2003
Anexo IV
146
Parâmetro MS:0,04 0,06 C/H/A
Parâmetro MS:0,4 0,16 C/H/A
Anexo V
147 Distribuição geográfica dos índices de cobertura - procedimentos básicos - 2003