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Trabalho de Conclusão de Curso
ANÁLISE DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA):
SITUAÇÃO DE POBREZA E DIREITOS HUMANOS VIOLADOS
Jacqueline de Campos Rojas 1
Fabrício Santiago 2
RESUMO
Este projeto foi baseado em uma pesquisa quantitativa de indivíduos da Educação de Jovens e
Adultos que evadiram da escola ainda na fase da infância ou adolescência e que retomou os
estudos, posteriormente já na fase adulta. A instituição escolhida foi o Centro de Apoio
Infanto Juvenil situado em um bairro do município de Corumbá. Existem inúmeros motivos
pelos quais uma criança ou adolescente deixou de frequentar à escola e só retomou os estudos
após, inserindo-se na EJA – Educação de Jovens e Adultos. Considerando que há um tempo
programas de transferência de renda como o Bolsa Família não existiam, o trabalho infantil
era propagado como algo naturalizado, os Direitos Humanos pouco falados, a evasão escolar
era muito maior e aceitável socialmente, sendo vista pelas famílias como uma alternativa
viável para se manter economicamente. Esta pesquisa contribuirá para que profissionais da
educação compreendam a realidade desse grupo diferenciado e aprimorem as políticas
públicas voltadas à realidade dos mesmos.
Palavras Chaves: Educação; Pobreza; Direitos Humanos; EJA.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo buscar os aspectos sociais, econômicos e culturais que
influenciaram no percurso do processo de evasão escolar de um indivíduo em idade precoce e
que retornou à escola anos após como aluno da EJA- Educação de Jovens e Adultos. Visa
ainda obter dados através de questionários quantitativos, sobre os principais fatores
responsáveis pela evasão escolar considerando a pobreza, os Direitos Humanos infringidos,
como trabalho infantil, por exemplo, e questões pessoais, familiares e sociais pertinentes.
“A EDUCAÇÃO SOZINHA NÃO MUDA. ELA SE
FAZ NA VERDADEIRA PRÁXIS.”
(PAULO FREIRE)
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Justifica-se este estudo, pois existem inúmeros motivos pelos quais uma criança ou
adolescente deixou de frequentar a escola, e só retomou os estudos após, inserindo-se na EJA
– Educação de Jovens e Adultos. Considerando que há um tempo programas de transferência
de renda como o Bolsa Família não existiam, o trabalho infantil era propagado como algo
naturalizado, os Direitos Humanos pouco falados, a evasão escolar era muito maior e
aceitável socialmente, sendo vista pelas famílias como uma alternativa viável para se
manterem economicamente.
A violência em suas alternadas formas, por exemplo, comumente está presente, o que
é uma violação dos Direitos Humanos e do ECA. Foi um longo percurso que essa criança ou
adolescente percorreu até que deixasse de frequentar a escola.
A análise das respostas desses indivíduos às perguntas estruturadas possibilitou uma
ampla compreensão dos diversos aspectos envolvidos em um caso de evasão escolar.
Situação esta, vista por muitos com preconceito e discriminação, culpabilizando-os por
questões que também são de ordem social.
De acordo com SPÍNDOLA e SANTOS (2003), por mais particulares que sejam as
histórias de vida, são sempre relatos de práticas sociais, da forma como o indivíduo atua no
mundo e a maneira que se insere no grupo do qual faz parte.
A metodologia seguida será baseada em uma pesquisa quanti-qualitativa de individuos
da Educação de Jovens e Adultos que evadiram da escola ainda na fase da infância ou
adolescência, e que retomou os estudos posteriormente, já na fase adulta.
A instituição escolhida foi o Centro de Apoio Infanto Juvenil situada em um bairro do
município de Corumbá. Com o aval da coordenação, os dados serão coletados, através de
entrevistas estruturadas feitas a partir do consentimento expresso e assinado dos indivíduos.
Após esse levantamento, foram analisados à luz das teorias que abordam os principais
aspectos encontrados.
Os nomes dos envolvidos serão mantidos em sigilo e todos os dados coletados serão
cuidadosamente preservados de exposição indevida.
Neste artigo pretende-se tornar claros os Direitos Humanos e legislações que foram
violados na trajetória desses indivíduos, sejam elas no âmbito pessoal, coletivo ou
institucional.
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2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A EJA
A EJA é uma modalidade de ensino voltada para a Educação de Jovens e Adultos. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é reafirmada pela EJA, pois a
educação constitui direito fundamental do cidadão, e mais do que isso, faz-se necessário criar
e oferecer possibilidades de esses direitos serem cumpridos. A prioridade política assumida
por todos os Estados-nação que assinaram a referida declaração vem norteando os rumos e
filosofias dos sistemas nacionais de educação desde o final da primeira metade do século XX.
No Brasil, somente em 1988 o direito à educação para todos voltou à Constituição Federal,
portanto, a oferta de atendimento não é uma questão de “chance” ou “oportunidade”, mas um
direito constitucional. A EJA, como direito é inquestionável e deve estar disponível para
todos. (Constituição Federal, 1988)
A concepção de educação de jovens e adultos é ampla, e compreende a educação não
apenas como um processo de se escolarizar, mas como um direito de aprender e ampliar
conhecimentos no decorrer da vida. A EJA é um espaço de aprendizado e tensão em
diferentes ambientes de vivência que facilitam a formação de indivíduos como sujeitos da
história. O planejamento e execução de diferentes propostas e encaminhamentos para a EJA
devem considerar as múltiplas formas de ser brasileiro: indígenas, brancos, negros, mestiços,
amarelos; mulheres, homens; adultos, idosos, jovens; pantaneiros, quilombolas, ribeirinhos,
agricultores, pescadores; trabalhadores ou desempregados; de classes sociais diversas; origem
rural ou urbana; vivendo no campo, cidade pequena ou metrópole; livre ou em privação de
liberdade por estar em conflito com a lei ou pessoas com necessidades educacionais
especiais. (BRASIL, 2000)
Segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE), a marca da diversidade em nosso
país tem sido a desigualdade. Conforme demonstrado em estudos estatísticos, 49,5% da
população é constituído por pretos e pardos e 0,3% de indígenas, que encabeçando lutas e
movimentos sociais fazem valer seus direitos na prática. A EJA surge como ação
potencializadora da diversidade na educação contribuindo para a transformação social e para
a implantação de propostas educativas que centralizem os sujeitos com suas necessidades,
desejos e expectativas de educação, estimulando a criatividade, energia e imaginação dos
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mesmos, como um processo humanizador. Considerando a sociedade de classe, autoritária e
hierárquica, é imprescindível políticas de Estado a fim de superar a desigualdade.
Uma série de episódios nacionais e estaduais sobre a Educação de Jovens e Adultos na
última década vem consolidando essa modalidade de ensino e desencadeando inúmeras
reflexões pedagógicas. A história da Educação de Adultos no Brasil acompanha a educação
como um todo, e tem relação direta com a história dos modelos políticos e econômico, e
consequentemente a história das relações de poder, dos grupos da elite e da classe popular
(GENTIL, 2010).
Apesar dos muitos avanços na Legislação, nas Políticas e Programas difundidos
periodicamente e avançadas discussões de amplo envolvimento social como entidades
educacionais, representantes dos órgãos normativos, associações profissionais e científicas,
universidades dentre outros, o Brasil ainda apresenta altos índices de analfabetismo entre a
população maior de 15 anos de idade. E mesmo considerando alguns resultados de queda no
percentual de analfabetismo em determinadas regiões do país ou faixas populacionais, é
necessário prudência e análise sobre quem são esses indivíduos considerados alfabetizados.
Estatísticas oficiais confirmam que o maior número de analfabetos é formado por
pessoas de regiões pobres e do interior, com maior idade e que provêm de grupos afro-
brasileiros. O extenso número de mulheres também endossa esse rol, que durante muito
tempo, distante da vida pública e restringidas ao ambiente doméstico, ficaram distantes das
escolas (SOARES, 2003).
Para Paulo Freire (1995), a Educação de Adultos é mais bem compreendida quando se
situa como Educação Popular, pois se torna abrangente.
A Educação de Adultos, virando Educação Popular, torna-se mais
abrangente. Certos programas como alfabetização, educação de base em
profissionalização ou em saúde primária são apenas uma parte de trabalho
mais amplo que se sugere quando se fala em Educação Popular (1995, p. 13-
14).
Dessa forma, na atuação pedagógica da EJA não há espaço para uma neutralidade
política. Pode-se dizer que enquanto Educação Popular a EJA se constitui principalmente em
um processo de permanente reflexão, numa prática educativa e política, na conscientização, e
em uma ação em que o indivíduo não está em busca somente da leitura da palavra, mas do
mundo, e que almeja além do que puramente uma certificação. Sabe-se que a educação
sozinha não é capaz de reparar este débito social, porém é no ambiente democrático que o
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espaço escolar oferece – ou deveria oferecer –condições para se poder formar uma sociedade
com menos desigualdades, através de uma escola com qualidade, antes negada para muitos
jovens e adultos (RODRIGUES, 2011).
Conhecer a realidade desses alunos da EJA é muito importante para que
compreendendo os motivos de sua evasão escolar, a educação possa ajudá-los a alterar a
própria realidade e que as crianças de hoje percorram trajetórias de garantias de direitos para
que se obtenham resultados diferentes.
3. ANÁLISE DOS DADOS
3.1- DADOS GERAIS DOS PARTICIPANTES
Tabela 1
Nome
Sexo Idade Fase da EJA Idade em que
parou de estudar
R.L.S. Masculino 19 anos 1ª Fase 7 anos
C.H.O. Masculino 22 anos 2ª Fase 9 anos
L.C.P. Masculino 26 anos 3ª Fase 12 anos
G.D.S Feminino 34 anos 3ª Fase 14 anos
V.D.M. Feminino 51 anos 3ª Fase 16 anos
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.
Como se observa na tabela acima, dos entrevistados foram três homens e duas
mulheres, sendo estas as de maior idade se comparado aos outros. Outro fator a ser pontuado
é que as duas mulheres pararam de estudar mais tarde que os homens, já na adolescência e
ambas estão concluindo a 3ª fase da EJA (Educação de Jovens e Adultos), ou seja, o Ensino
Médio. Ao mesmo tempo essas mulheres retornaram aos estudos muito mais tarde, talvez por
questões culturais e sociais, já que comumente para a crença machista dominante se espera do
sexo feminino os cuidados do lar e dos filhos.
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3.2 – IDADE DE ALFABETIZAÇÃO
Gráfico 1
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.
O Gráfico 1 demonstra que 80% por cento dos sujeitos pesquisados foram
alfabetizados ainda na infância, na idade considerada adequada para a escola, contudo, apesar
de esse ser um ponto positivo, houveram fatores posteriores que determinaram a saída ou
desistências desses alunos, que serão descritos nos tópicos seguintes. Vale ressaltar que as
mulheres perduraram por mais tempo na escola, com saída aos quatorze e dezesseis anos
como já descrito na Tabela 1. O indivíduo alfabetizado tardiamente aos 14 anos, relatou que
não havia frequentado a escola na infância e aprendeu a ler quando foi para uma instituição
de reabilitação à crianças e adolescentes dependentes químicos.
80%
20%
Alfabetização
Alfabetizados na Infância (entre 7 e8 anos)
Alfabetizado na Adolescência (com14 anos)
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3.3 – MOTIVOS DA EVASÃO ESCOLAR PRECOCE E TRABALHO INFANTIL
Gráfico 2
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.
Das várias opções que havia para assinalar no questionário sobre os motivos que
favoreceram esses indivíduos ainda na infância ou adolescência a abandonarem a escola, uma
mulher disse que foi devido a escola se situar muito distante, já que morava com a família na
zona rural. E 3 homens e 1 mulher assinalaram que foi por precisarem trabalhar na
infância/adolescência para ajudar a família e/ou se sustentar sozinho.
Como se observa no Gráfico acima, 80% dos sujeitos pesquisados vivenciaram o
trabalho infantil ainda na infância e adolescência o que influenciou na evasão escolar dos
mesmos.
O trabalho infantil é protegido por medidas protecionistas e restritivas constantes na
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,
em consonância com os tratados internacionais a Constituição da República Federativa do
Brasil –CRFB.
Percebemos então, que esses estudantes tiveram um longo histórico de trabalho
infantil, interferindo e privando-os assim de que continuassem na escola do dia, fato que em
Evasão Escolar Precoce e Trabalho Infantil
Não havia escola na minha comunidade/bairro ou era muito longe
Precisaram trabalhar na infância/adolescência para ajudar a família e/ou se sustentar sozinho
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nenhuma hipótese poderia ocorrer, pois no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em
seu Artigo 3º, na lei 8.069 está explícito que o adolescente tem direito a proteção e ao ensino,
sendo proibido assim o impedimento de acesso a essa educação por motivo de trabalho:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Nesta pesquisa observou-se que os Direitos Humanos foram violados, pois como os
indivíduos assinalaram, deixaram de ir à escola porque tiveram que trabalhar para ajudar a
família ou se sustentar sozinhos, ainda na infância.
De acordo com LIBERATI (2006), os direitos fundamentais da criança e do
adolescente garantidos constitucionalmente são os mesmos de qualquer ser humano, tais
como: o direito à vida e à liberdade, à educação, à saúde, a dignidade e ao respeito; assim
como a convivência comunitária e familiar, ao lazer e a cultura, ao esporte, à
profissionalização e a proteção no trabalho.
É dever do Estado e da família que assegurem a efetividade dos direitos da criança e
do adolescente, tendo o papel de zelar para que estes não se exponham à riscos de vida e de
saúde.
3.3 USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NA INFÂNCIA/ADOLESCÊNCIA
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Gráfico 3
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.
Na amostra deste estudo, pode-se observar que dos cinco sujeitos, 40%, ou seja, dois
deles do sexo masculino, com idades de 22 e 26 anos utilizaram alguma substância psicoativa
ainda na adolescência especificamente como assinalado por eles com 13 e 14 anos, sendo que
o mais velho foi paciente de um Centro de Reabilitação para adolescentes dependentes
químicos, local em que também pode ser alfabetizado.
Frequentemente, as primeiras experiências com drogas ocorrem na adolescência. A
faixa etária do início do uso de drogas dentro da adolescência tem sido cada vez mais precoce
de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
De acordo com CARPENEDO (2005), é na adolescência que as regras costumam ser
contestadas, aspecto este necessário ao desenvolvimento da identidade juvenil. Somado a este
fato de curiosidade e experimentações as influências do contexto social pode levar ao
aparecimento de comportamentos de riscos como o uso de substâncias psicoativas.
A dependência química é uma doença de causa multideterminada, para tentar
compreendê-la deve-se considerar muitos fatores tais como questões biológicas, sociais e
psicológicas. (SCIVOLETTO e MORIHISA, 2001)
Uso de álcool, inalantes, maconha, pasta base ou outras drogas psicoativas na adolescência (13 e 14
anos)40%
Não utilizaram nenhuma droga na infância/adolescên
cia
Uso de Substâncias Psicoativas
Uso de álcool, inalantes, maconha, pasta base ou outras drogas psicoativas na adolescência (13 e 14anos)
Não utilizaram nenhuma droga na infância/adolescência
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A dependência química pode estar associada a repetências e evasões escolares. De
acordo com um estudo realizado por TAVARES et.al. (2001), alunos que tiveram três ou
mais reprovações, ou que faltaram nove ou mais dias durante o mês, apresentaram riscos duas
vezes maiores a serem usuários de alguma substância psicoativa. Contudo, não foi possível
estabelecer relação causal, pois tanto dificuldades escolares podem ser fatores de risco para o
uso de drogas quanto o uso dessas substâncias podem interferir no bom desempenho do
aluno.
O uso abusivo de certas drogas afetam diretamente o sistema nervoso, podendo
desencadear distúrbios neurológicos e reduzindo a capacidade de aprendizagem e
memorização. (KOLB e WHISHAW, 2002)
3.4 – A ESCOLHA DA EJA PELA JUNÇÃO DE TRABALHO E ESTUDO
Gráfico 4
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social.
80%
20%
TRABALHAM E ESTUDAM APENAS ESTUDAM
Trabalho e Estudo
Trabalho e Estudo
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Ficou evidente nesta pesquisa que a escolha pela EJA, foi uma alternativa encontrada
para esses indivíduos que trabalham durante o dia e estudam no período noturno. Dos
indivíduos pesquisados, uma senhora de 51 anos, apenas estuda.
Observa-se que mesmo após muitos anos sem frequentar a escola, e em sua maioria
tiveram que abandonar os estudos por ter que trabalhar, ainda na realidade atual, não possuem
condições financeiras satisfatórias para apenas estudar e conciliam ambos, o que provoca
cansaço físico e mental, podendo desencadear desmotivação para os estudos e novamente a
evasão escolar.
3.5 – PRETENSÕES DE CONTINUIDADE DOS ESTUDOS
Gráfico 5
Fonte: ROJAS (2016) / Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social
Todos os indivíduos desta pesquisa pretendem continuar os estudos, sejam cursando
faculdade ou ensino Técnico. Dentre eles, dois homens assinalaram a opção por curso
técnico. Já a faculdade é a opção das duas mulheres desta pesquisa e um homem.
Observou-se nesses indivíduos, que retornaram os estudos através da EJA, para se
especializarem em algum tipo de conhecimento e assim poder alcançar um sonho que foi
Curso Técnico40%
Faculdade60%
Estudos Continuados
Curso Técnico
Faculdade
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impossibilitado de ser concretizado pela realidade em que estavam inseridos, seja pelo
trabalho infantil, abuso de substâncias psicoativas, situação de pobreza extrema, dentre
outros.
É interessante refletir e perceber que há uma conscientização da importância do
estudo para que possam estar inseridos no mundo de trabalho e tenham mais oportunidades
na vida. Todavia, OLIVEIRA (1991) faz uma problematização acerca das pessoas que tem
acesso a escola, e também do futuro que elas terão depois que passaram ou saírem da escola,
e faz algumas indagações e apontamentos:
Como a escola tem respondido a essa luta? Os números nos dão uma
resposta desanimadora. No Brasil a escola tem sido concluída apenas por
uma minoria. A maioria, de baixa renda, não consegue terminá-la. Na
verdade, a escola tem funcionado como uma instituição confirmadora da
distribuição de renda e de classe social: aos de maior renda, maior número
de anos de estudo e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a evasão e a
repetência somam-se ao trabalho precoce, delineando um quadro já antigo:
uns para pensar, outros para trabalhar (OLIVEIRA, 1991, p.2)
Infelizmente ainda vivemos em um tempo de desigualdades, onde o estudante em sua
escolarização regular não tem acesso a um ensino de qualidade e transformador, que propicie
a ele um futuro melhor e digno. A sociedade ainda vive em regime de exclusão dos mais
pobres, oportunizando qualidade de vida em seu amplo sentido, incluindo a educação,
somente aos mais favorecidos, separando assim os que irão deter o poder daqueles que
obedecerão as regras sem participar de sua construção; uma minoria que exerce o trabalho
intelectual da grande maioria que sobrevive da exploração do seu trabalho manual.
Portanto, o aluno da EJA tem uma trajetória de exclusão social e pobreza que
desencadearam outros fatores culminando na evasão escolar.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa possibilitou conhecer um pouco mais a realidade do público que
compõe a EJA e os motivos que levaram-nos a se evadirem precocemente da escola
retomando os estudos já na fase adulta.
Observou-se que 80% dos sujeitos pesquisados foram alfabetizados ainda na infância,
porém esse fator não foi suficiente para que permanecessem na escola.
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O trabalho infantil foi um dos fatores determinantes para o abandono do percurso
escolar desses indivíduos, pois como assinalaram nas questões, tiveram que trabalhar na
infância/adolescência para ajudar a família e/ou se sustentar sozinho, deixando claro essa
violação dos Direitos Humanos na realidade desses sujeitos ainda no período da
infância/adolescência.
Outro aspecto importante a ser considerado foi que 40% dos pesquisados fizeram uso
de alguma substância psicoativa na adolescência, dado este que vem sendo um problema
complexo que tem afetado jovens de todo o mundo, causando grande impacto na vida escolar,
familiar e social dos mesmos, tornando-os vulneráveis a comportamentos de riscos que
afetam a saúde física e mental.
Sobre a escolha da EJA, ressalta-se que foi a opção da maioria dos entrevistados por
conseguirem a junção de trabalho durante o dia e estudo à noite.
Entretanto, todos os sujeitos deste estudo, após anos sem frequentar a escola,
retornaram com o objetivo de não apenas concluir o ensino médio, mas também ingressarem
em um curso técnico ou faculdade, sendo esta uma das formas de ascensão no mercado de
trabalho e transformação social.
Portanto, esta pesquisa possibilitou uma compreensão mais ampla deste público para
auxiliar os profissionais que lidam com o mesmo bem como a estimular futuras pesquisas
sobre os dados encontrados.
5 REFERÊNCIAS
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Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, maio 2000.
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Declaração Universal dos Direitos Humanos
Trabalho de Conclusão de Curso
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