ANÁLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS DO MUSEU CASA DE SANTOS DUMONT – PETRÓPOLIS/RJ.

66
1 Casa de Oswaldo Cruz Fiocruz Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde Curso de Extensão/ Aperfeiçoamento Disciplina: Plano e Metodologia de Conservação Preventiva TRABALHO FINAL ANÁLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS DO MUSEU CASA DE SANTOS DUMONT PETRÓPOLIS/RJ. Autores: Ana Carolina Vieira Museóloga/ Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis Andrea Matias Maria Aluna de Arquivologia/Centro de Pesquisas de Energia Elétrica Jéssica Soares Arquivista/ Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis Mariah Martins Historiadora / Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 04/11/2014

description

O presente trabalho busca apontar as contribuições e vantagens da adoção de um plano e metodologias de conservação preventiva como meio de operacionalizar as estratégias necessárias para a melhoria das condições de preservação das coleções e edifícios de modo integrado. (Trabalho final da disciplina "Plano e Metodologia de Conservação Preventiva" do curso de Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz).

Transcript of ANÁLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS DO MUSEU CASA DE SANTOS DUMONT – PETRÓPOLIS/RJ.

  • 1

    Casa de Oswaldo Cruz Fiocruz

    Especializao em Preservao e Gesto do Patrimnio Cultural das Cincias e da Sade

    Curso de Extenso/ Aperfeioamento

    Disciplina: Plano e Metodologia de Conservao Preventiva

    TRABALHO FINAL

    ANLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS DO MUSEU

    CASA DE SANTOS DUMONT PETRPOLIS/RJ.

    Autores:

    Ana Carolina Vieira Museloga/ Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis

    Andrea Matias Maria Aluna de Arquivologia/Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    Jssica Soares Arquivista/ Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis

    Mariah Martins Historiadora / Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Rio de Janeiro

    04/11/2014

  • 2

    SUMRIO

    1. INTRODUO

    03

    2. APRESENTAO DO OBJETO DE ESTUDO

    05

    3. DIAGNSTICO DE SIGNIFICNCIA

    36

    4. AGENTES DE DETERIORAO

    40

    5. PROPOSTA DE TRATAMENTO

    58

    6. CONSIDERAES FINAIS

    62

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    65

  • 3

    1. INTRODUO

    A partir do momento que conhecemos conscientemente e

    tecnicamente nossos problemas que poderemos encontrar

    solues compatveis com a nossa realidade. Caminhar na

    direo do ideal um passo a mais para tentar alcanar as

    condies mais adequadas.

    (Yacy-Ara Froner, 2007)

    O presente trabalho busca apontar as contribuies e vantagens da adoo de

    um plano e metodologias de conservao preventiva como meio de operacionalizar

    as estratgias necessrias para a melhoria das condies de preservao das colees

    e edifcios de modo integrado.

    Por muito tempo as atividades de conservao/ restaurao eram as mais

    praticadas nas instituies museolgicas como forma de diminuir o ritmo de

    deteriorao e a prolongar a expectativa de vida dos objetos, atravs da interveno

    direta na sua estrutura fsica e qumica. Recentemente, para seu lugar desloca-se a

    atividade de conservao, no sentido no mais de recompor, ou mesmo remediar, mas a

    ideia de prevenir. Cada vez mais, a complexidade de materiais que compunham as

    colees exige uma multiplicidade de solues, deslocando assim o foco: do individual

    para o coletivo. A nfase est em aes no interventivas: prevenir, planejar, evitar;

    pensar na conservao no somente de determinados documentos, mas desenvolver

    estratgias de preservao para as colees e acervos como um todo.

    Para a elaborao de normas e procedimentos de conservao preventiva,

    devem-se levar em considerao as condies do edifcio, do pblico, as caractersticas

    materiais e a realidade existente aos bens culturais. Nesse caso essencial promover

    anlise/gerenciamento de riscos, pois auxiliaro na melhora do meio ambiente e

    sistemas de armazenagem; no monitoramento das condies ambientais e

    consequentemente nas aes de manuseio, segurana e acesso; alm do estabelecimento

    de programa integrado de pragas e planos de preveno e resposta a emergncias; e por

    fim, na capacitao profissional de equipes interdisciplinares de trabalho.

  • 4

    A partir de um estudo de caso, no qual escolhemos como lcus da pesquisa o Museu

    Casa de Santos Dumont, localizado em Petrpolis, regio serrana do Estado do Rio de

    Janeiro, iremos comear a desenhar os primeiros passos para a elaborao de um Plano

    Institucional de Preservao.

    Passo 1. Conhecimento do universo que queremos transformar;

    Passo 2. Determinao do valor das colees;

    Passo 3. Conhecimento das causas de deteriorao dos bens culturais;

    Passo 4. Avaliao e gerenciamento do risco (previso para o futuro);

    O trabalho final analisar o edifcio e o acervo salvaguardado pelo Museu Casa

    de Santos Dumont, identificando os pontos positivos e negativos da realidade local. Tal

    anlise se basear em bibliografias especficas sobre diagnsticos e aes de

    conservao preventiva, considerando os fatores de temperatura e umidade relativa

    incorretos como os principais agentes de deteriorao do acervo institucional. Atravs

    de tal estudo, objetiva-se conhecer a realidade Institucional e apontar melhorias,

    buscando manter a estabilidade dos materiais, bem como apontar aes para que se

    diminuam os riscos de danos ou perdas das colees, afinal, estes so nicos e tem a

    misso de manter viva a histria e memria de uma comunidade.

  • 5

    2. APRESENTAO DO OBJETO DE ESTUDO

    Com base em dados documentais, este tpico descreve o histrico e contexto do

    lcus da pesquisa, apresentando informaes bsicas sobre a instituio analisada, o

    Museu Casa de Santos Dumont. Apresentam-se ainda informaes acerca do ilustre

    proprietrio do imvel e o processo de construo da casa, e posteriormente, seu uso

    como instituio museolgica responsvel pela preservao da memria de Alberto

    Santos Dumont, bem como da histria da aviao brasileira de um modo geral.

    Importa ressaltar que os Museus so espaos privilegiados para a produo e

    reproduo do conhecimento, tendo a cultura material (vestgios do passado) como

    instrumento de trabalho. Para isso, seu acervo representa o ncleo vital de todo

    museu, e em torno do qual giram todas as suas outras atividades.

    2.1. Localizao

    A sede do Museu Casa de Santos Dumont est localizada na Rua do Encanto, n

    22, bairro Centro, na cidade de Petrpolis, regio serrana do Estado do Rio de Janeiro,

    onde se encontra instalada em anexo, no n 138, denominado Centro Cultural 14 Bis,

    sua administrao central, reas expositivas, reserva tcnica, arquivo histrico,

    biblioteca e demais dependncias.

    Figura 01: Diviso Distrital do Municpio de

    Petrpolis. O Museu est localizado no 1 distrito

    (sede), distrito mais povoado do municpio. Fonte:

    Plano Diretor de Petrpolis. Prefeitura Municipal

    de Petrpolis.

  • 6

    Figura 02: Petrpolis no possui abairramentos com limites formalmente estabelecidos, contudo,

    costuma-se definir os bairros pelo sentimento de pertencimento territorial: Alto da Serra; Araras; Bingen;

    Bonsucesso; Carangola; Cascatinha; Centro; Itaipava; Quitandinha; Retiro; So Sebastio; Simria; Valparaso; Samambaia, dentre outros. O Museu est localizado no Centro Histrico da cidade. Fonte:

    Plano Diretor de Petrpolis. Prefeitura Municipal de Petrpolis. Dados do mapa Google 2014.

    CENTRO HISTRICO

  • 7

    2.2. Informaes bsicas sobre o Museu Casa de Santos Dumont

    O Museu Casa de Santos Dumont foi criado em 25 de setembro de 1956, pelo

    Decreto n 350 do Chefe do Executivo Municipal e regulamentado pelo Ato Normativo

    n 1.790 de 28 de novembro de 1957. Atualmente chama-se Complexo Museu Casa de

    Santos Dumont (MCSD) e Centro Cultural 14 Bis (CC14BIS) A Encantada, de

    carter multidisciplinar e constitui organismo complementar da Fundao de Cultura e

    Turismo de Petrpolis FCTP, rgo da administrao indireta da Prefeitura Municipal

    de Petrpolis, encarregado de elaborar e executar os programas culturais na Cidade.

    Atualmente regido pelo Estatuto Social, aprovado pelo Decreto Municipal n 502 de

    03 de janeiro de 2003, bem como pela Lei Municipal n 6.769 de 20 de julho de 2010,

    que dispe sobre a reorganizao administrativa dos cargos e funes da Fundao de

    Cultura e Turismo de Petrpolis.

    O Complexo MCSD e CC14 BIS tem como uma das suas finalidades primordiais

    promover o conhecimento da vida e da obra de Alberto Santos Dumont, pai da navegao

    area, por meio da guarda, preservao, pesquisa e divulgao dos bens que lhe

    pertenceram - residncia, mobilirio, documentos e objetos pessoais. E, neste sentido o

    Museu-Casa, o edifcio histrico e a coleo que abriga, deve ser preservado no seu carter

    de unidade. A casa, construo idealizada pelo prprio Santos Dumont e ao seu gosto,

    data de 1918. Local onde escolheu para aterrissar ao fim de suas incessantes viagens

    dentro e fora do Brasil, na aprazvel e sossegada Petrpolis, para onde subiam veranistas

    do Rio de Janeiro desde o sculo XIX.

    Nesse caso, o museu tem a misso essencialmente educativa, pois muito

    importante que toda sociedade tenha a possibilidade de conhecer melhor a vida e obra

    deste grande homem, Santos Dumont, discernir os impactos de seus inventos e entender

    um pouco da cincia e do entorno tecnolgico que possibilitou seu sucesso. Inspirado

    em seu exemplo, o Museu busca estimular a curiosidade, valoriza a criatividade e

    promove a inovao em todos os setores da vida social. Alm do mais, pelo seu carter

    social, busca potencializar a interao da sociedade com a sua produo tcnica,

    cientfica e cultural, alm dos testemunhos histricos da instituio, promovendo a

    transformao do patrimnio integral em herana cultural, decorrente da apropriao e

    da noo de pertencimento dos cidados e da sociedade.

  • 8

    2.3. Biografia de Santos Dumont: ilustre proprietrio

    Alberto Santos Dumont, inventor brasileiro, nasceu em 20 de julho de 1873 na

    Fazenda Cabangu, municpio de Palmira, atual cidade de Santos Dumont em Minas

    Gerais, e faleceu em 23 de julho de 1932, no Guaruj, litoral de So Paulo, aps ver So

    Paulo ser bombardeada por avies na Revoluo Constitucionalista de 1932. Depressivo

    e com a sade debilitada, suicidou-se aos 59 anos de idade. Filho de Henrique Dumont,

    de ascendncia francesa, engenheiro de obras pblicas e grande fazendeiro de caf, e de

    Francisca Santos Dumont, filha de uma tradicional famlia portuguesa. Mudou-se ainda

    pequeno para Ribeiro Preto, interior de So Paulo, onde passou toda a sua infncia e

    adolescncia. Ali, o pai de Alberto logo percebeu o fascnio do filho pelas mquinas da

    fazenda e direcionou os estudos do rapaz para a mecnica, a fsica, a qumica e a

    eletricidade. Em 1891, Alberto, ento com 18 anos se emancipou e foi para Paris/Frana

    completar os estudos e perseguir o seu sonho de voar.

    Figura 03: Santos Dumont jovem.

    Fonte: Acervo Fundao Casa de Cabangu.

    Figura 04: Santos Dumont, foto de 1922.

    Fonte: Acervo Bibliothque Nationale de France.

  • 9

    O trabalho do mineiro Alberto Santos Dumont no campo da aeronutica de

    impressionante criatividade e relevncia histrica. Inventor do primeiro motor a

    exploso til na aerostao e do motor de cilindros opostos, inovador no uso de

    materiais at ento ignorados, do uso do relgio de pulso prtico (modelo desenvolvido

    especialmente para ele pelo relojoeiro Louis Cartier, denominado Cartier Santos), entre

    outras contribuies.

    Figura 05 e 06: Invenes de Santos Dumont.

    Fonte: Acervo Fundao Casa de Cabangu.

    Santos Dumont foi o primeiro a resolver de fato a questo da dirigibilidade dos

    Bales. Esse mrito lhe garantido internacionalmente pela conquista do Prmio

    Deutsch em 1901, quando em um vo contornou a Torre Eiffel com o seu dirigvel N 6,

    transformando-se em uma das pessoas mais famosas do mundo durante o sculo XX. O

    curioso desse fato que o brasileiro recebeu de prmio o valor de 129.000 francos.

  • 10

    Contudo, o aviador no quis ficar com o dinheiro e repartiu o montante entre os seus

    mecnicos que o ajudaram na construo do dirigvel, o restante doou aos

    desempregados de Paris, muitos com ferramentas retidas em casas de penhor. Santos

    Dumont nunca patenteou seus inventos, acreditando que o conhecimento no se vende.

    (NOEL, F.; LIMA, P, 2010, p.60).

    Figura 07: Reportagem de jornal sobre a faanha de Santos Dumont, que conseguiu provar ser possvel

    pilotar um balo dirigvel, criando rotas de vo. Decolando de Saint Cloud, Santos Dumont seguiu rumo

    Torre Eiffel, contornando-a e voltou ao ponto de partida, sob aplausos da multido que assistia. Fonte:

    Jornal do Brasil, 19 de outubro de 1901.

  • 11

    Apesar disso, sua carreira culminou em 1906, ao apresentar o primeiro avio, o

    14 Bis, capaz de realizar um vo completo propriamente dito (decolar pelos seus

    prprios meios e aterrissar com segurana) na presena de uma comisso de

    especialistas e do pblico, e ao inventar, pouco tempo depois, em 1909, o primeiro

    avio na categoria ultraleve, o diminuto Demoiselle. Os vos que realizou com seus

    bales, seus dirigveis e seus avies forneceram elementos importantes para o

    desenvolvimento subsequente da aeronutica.

    Figura 08: Compndio de imagens do voo do avio 14 Bis (decolagem, voo e aterrissagem).

    Fonte: Acervo Fundao Casa de Cabangu.

  • 12

    Figura: 09: Imagens do ultraleve Demoiselle.

    Fonte: Acervo Fundao Casa de Cabangu.

    Quando encerrou a carreira em 1910, escolheu a aprazvel Petrpolis, para onde

    subiam veranistas do Rio de Janeiro desde o sculo XIX, para aterrissar ao fim de suas

    incessantes viagens mundo a fora, em busca de repouso e sossego.

  • 13

    Figura 10: Jornais de Petrpolis: Correio de Petrpolis e Tribuna de Petrpolis, de 06 e 05 de janeiro de

    1914 (respectivamente), relatando a chegada do ilustre Santos Dumont cidade no dia anterior, o qual foi

    recebido com muita festa por mais de mil pessoas. Fonte: Jornais podem ser encontrados no Arquivo Histrico da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral. Fundao de Cultura e Turismo de

    Petrpolis.

  • 14

    2.4. A inveno arquitetnica de Santos Dumont: a casa de veraneio em

    Petrpolis.

    Construda no antigo morro do Encanto, Santos Dumont no perdia a mania das

    alturas. O terreno era de propriedade do joalheiro e relojoeiro Henrique Rittmeyer desde

    maio de 1894, dono do primeiro estabelecimento desse tipo na regio. Foi em 18 de

    abril de 1918 que efetuou a compra do terreno. Para tal empreitada, Santos Dumont

    contratou seu colega do Tennis Club, o engenheiro Eduardo Pederneiras1 para dar corpo

    ao projeto da casa e na parte artstica contou com o apoio do arquiteto Armando Telles2.

    O chal de estilo Alpino buscou associar aconchego serrano forma arquitetnica dos

    balnerios como Deauville, na Frana, recebendo o toque criativo de Santos Dumont

    nos mnimos detalhes. Cada canto da pitoresca residncia revela seu gosto, sua

    personalidade prtica, multifuncional e inventiva. Alm da casa, a disposio do

    mobilirio tambm foi concebida imagem e semelhana da criatividade e do senso

    prtico de seu morador. Devido a sua localizao foi carinhosamente apelidada de A

    Encantada. Concebida como refgio e local de descanso para uma s pessoa, ou seja,

    sua funo foi idealizada para ser uma residncia de veraneio (NOEL, F.; LIMA, P,

    2010).

    O Chal foi erguido em poucos meses por uma turma de operrios do construtor

    Francisco Moreira Gomes, que tirava do papel os empreendimentos petropolitanos de

    Pederneiras. Segundo documentos requeridos Prefeitura como o habite-se na

    Inspetoria de Hygiene e solicitaes de vistorias, pode-se constatar que em agosto de

    1918 a construo j estava acabada.

    1 A Encantada est entre as primeiras obras do engenheiro-construtor, assim como a sede do Tennis Club de Petrpolis e o Colgio Estadual dom Pedro II localizado na avenida principal da cidade, atual Av.

    do Imperador. O edifcio Paissandu no Flamengo, smbolo da art-dec no Rio, datado de 1929 tambm

    uma das muitas obras de Pederneiras.

    2 Filiado a vertente francesa da arquitetura ecltica, participou na concepo do Palcio Eduardo Guinle,

    atual Palcio das Laranjeiras, concludo em 1913.

  • 15

    Figura 12: Habite-se em agosto,

    pedido de vistoria da casa para

    entrega das chaves. Acervo do

    Arquivo Histrico da Biblioteca

    Central Municipal Gabriela Mistral.

    Fundao de Cultura e Turismo de

    Petrpolis.

    Figura 11: Retrato de Eduardo Pederneiras, engenheiro construtor da Encantada e da turma de operrios do construtor Francisco Moreira Gomes que trabalhava em todos os empreendimentos de Pederneiras. Fonte: NOEL;

    LIMA, 2010, p. 31.

  • 16

  • 17

    Considerada uma construo muito original e nica no Brasil, com detalhes

    curiosos, todos frutos da inventividade e do talento de Santos Dumont, totalmente fora

    de qualquer padro das casas da poca. (Figura 13 Desenho do Projeto Arquitetnico

    do Chal de Santos Dumont). Por fora, encaixava-se no molde usado e reusado em

    incontveis chals na Europa e em outras partes do mundo. Por dentro, contudo, o

    cmodo nico de mltiplas funes, sem divisrias e os mveis embutidos

    antecipavam-se ao modernismo arquitetnico, indo alm das concepes de moradia da

    poca. Os modernistas j ensaiavam seus passos no fim nos anos de 1910, mas a

    arquitetura brasileira ainda desdobrava-se hegemonia do ecletismo, misturando traos

    do neoclssico aos recursos tcnicos que a indstria tornara possvel, com o uso do ferro

    e outros materiais.

    Santos Dumont foi diferente, em vez de fachadas e sales dos palacetes que

    conhecia e frequentava, fez do interior da Encantada um marco de ruptura,

    sintonizado com tendncias que evoluram o sculo XX afora. Pela funcionalidade do

    ambiente com vistas vida cotidiana, podemos dizer que a casa de Santos Dumont

    pronunciava o que os arquitetos viriam a designar de loft3. (NOEL, F.; LIMA, P, 2010).

    3 O nome loft se refere a gua furtada, mezanino, mansarda, sto, depsito ou espao semelhante

    (geralmente usado para armazenagem) sem reparties/ divises, situado abaixo do teto de uma casa,

    fbrica, celeiro, galpo ou armazm. Seu uso na arquitetura tem origens rurais desde o sculo XIII, como

    depsito de feno situado em mezanino de celeiros, sendo tambm usado como alojamento de empregados

    da fazenda. Contudo, os lofts contemporneos tm projetos arquitetnicos inspirados no estilo de morar

    que nasceu em Nova York na dcada de 1970. L, velhos galpes e armazns de edifcios foram

    reformados para servir de moradia para profissionais liberais, artistas, publicitrios e executivos. Os lofts

    de Nova York eram conhecidos por no terem paredes dividindo os ambientes, pelos mezaninos de

    madeira ou ferro e seus grandes elevadores de carga, alm de ps-direitos altos e grandes janelas. Os

    espaos foram concebidos com inspirao nos lofts criados pelo arquiteto francs Le Corbusier, na dcada

    de 1920.

  • 18

    Prtica e Funcional: caractersticas da casa

    1. Telhado:

    Em vez de telhas de cermica,

    pouco aconselhadas para cobertura

    to inclinada, Santos Dumont

    optou por telhados de folhas de

    flandres. As chapas galvanizadas

    desse material vinham sendo

    difundidas mundo afora desde o

    sculo XIX, como das muitas

    novidades tecnolgicas da

    Revoluo Industrial.

    2. Primeiro Pavimento:

    Na base da construo, o inventor

    fez uma espcie de poro para

    usar de oficina e laboratrio de

    fotografia, fechado por slidas

    paredes de pedra com funo

    estrutural e revestido com piso de

    azulejos hidrulicos. Atualmente

    a bilheteria do museu.

  • 19

    3. Escadas:

    Colocou a imaginao a servio da

    economia de espao, uso de

    escadas quase verticais. Por serem

    ngremes demais, os degraus

    foram recortados em forma de

    raquete para que no se batesse a

    canela ao subir. Construdas em

    madeira, guarnecidas por

    corrimes tambm de madeira4.

    4. Segundo pavimento:

    Sobre o cmodo/base em paredes

    de pedras, Santos Dumont assentou

    o espao central da moradia, em

    pea nica, no possui paredes/

    divisrias entre os cmodos

    diversos. Piso assoalhado em

    madeira e nico cmodo dedicado

    a vrios usos domsticos sala de

    estar, refeies, biblioteca e

    escritrio.

    4 Na escada externa, de acesso a entrada principal da residncia, Santos Dumont destinou o primeiro

    degrau ao p direito, numa escolha que deu asas sua fama de supersticioso. Contudo, ao analisarmos a

    escada interna, de acesso ao mezanino, o primeiro degrau foi reservado ao p esquerdo, o que desmente a

    crendice de supersticioso. A explicao est no apoio ao subir as escadas, sendo que o primeiro p est

    sempre ligado ao sentido do corrimo. Ou seja, a primeira escada comea com o p direito porque o

    corrimo para apoiar a subida com segurana est do lado direito e essa mesma explicao serve para a

    escada interna da casa.

  • 20

    5. Terceiro pavimento ou

    Mezanino:

    Com acesso por uma escada quase

    vertical e tambm com degraus

    recortados, sobe-se ao mezanino

    que foi projeto para ser o quarto de

    dormir com um banheiro. bem

    iluminado e ventilado pelas janelas

    de uma mansarda (pequena

    elevao de duas guas incrustada

    no telhado). Ao minsculo

    ambiente ntimo, o inventou anexo

    o banheiro, abrindo tambm uma

    porta para os fundos do terreno,

    alcanado por um passadio

    (ponte) sobre o vo entre a

    edificao e o barranco. (tirar outra

    fotografia dos fundos, mudar as

    duas ltimas). Por fora da casa,

    uma ponte conduzia a um posto de

    observao astronmica instalado

    num nicho aberto no telhado.

  • 21

    As curiosidades da construo:

    a) Mveis sob medida

    A disposio do mobilirio da Encantada tambm foi concebida imagem e

    semelhana da criatividade e senso prtico do morador. Na sua maioria, os mveis so

    fixo, aprateleirados nas paredes e em seus vrtices, todos em madeira. Com o passar do

    tempo, Santos Dumont agregou um mobilirio de vime tranado - mesa cadeiras e sof -

    , para comodidade na vida diria e conforto dos poucos visitantes que recebia.

    Na sala, direita da porta principal de entrada, encontramos no vrtice das

    paredes uma mesa triangular de madeira, para ler e escrever, encimada por prateleiras,

    otimizando o aproveitamento do espao sem deixar quinas pelo caminho. A mesa tem

    uma caracterstica peculiar, com tampo de bordas em formato de hlice e Santos

    Dumont a idealizou para fazer seus escritos em p, pois sua altura maior dos padres

    de mesas em geral.

    Figura 14: Mvel fixo no vrtice das paredes da casa.

  • 22

    Caminhando pelo nico cmodo da casa, no seu lado esquerdo no sentido de

    quem entra, perto da janela, Santos Dumont afixou na parede uma mesa de refeies,

    retangular e estreita, para manter livre o centro do cmodo. Tambm apresenta

    caraterstica peculiar, no lado direito do tampo, apresenta um recorte. Alguns dizem tal

    recorte do tampo servia para lembrar o garom que sempre o servia suas refeies sobre

    o lado certo de servir, contudo so informaes um pouco contraditrias, visto que tanto

    o servio francesa como inglesa, considerados os mais formais e requintados em

    matria de etiqueta mesa, exigem que o correto que os pratos sejam servidos e

    retirados pelo lado esquerdo, mas somente na troca de pratos, retira-se o prato pela

    esquerda e coloca-se o novo prato pela direita. No entanto, mais de uma das histrias

    que o povo conta sobre a personalidade curiosa de Santos Dumont.

    Santos Dumont tambm idealizou uma estante para dispor os seus livros, espao

    denominado de biblioteca, e a casa tinha uma lareira para os dias frios de inverno, alm

    de muitas prateleiras, tudo em madeira.

    Figura 15: 1- mesa recortada para refeies; 2- mveis de vime tranado; 3- biblioteca; 4 - lareira.

    1

    2

    3

    4

  • 23

    Para o mezanino, Santos Dumont projetou uma cmoda baixa, em formato de

    L, fixada numa vrtice de parede junto janela com vista para o hotel em frente, o

    Palace Hotel (hoje Universidade Catlica de Petrpolis). Como era de estatura pequena

    e esguio, com 1,52 metro e no mais de 50 quilos, ele dormia num colcho arrumado as

    noites sobre o mvel. Durante o dia, a cama era desfeita e o colcho era guardado atrs

    da porta que dava acesso aos fundos do terreno, espcie de um armrio. Com muitas

    gavetas, a cmoda servia para a guarda de objetos pessoais, bem como servia tambm

    de apoio para o uso do telefone um modelo de parede, americano, da Western Eletric.

    Santos Dumont estava entre os poucos moradores de Petrpolis que tinham uma linha

    telefnica, sinnimo do que havia de mais avanado em matria de telecomunicaes na

    entrada dos anos de 1920. No dia a dia, o aparelho facilitava a encomenda de refeies

    no Palece e no Majestic Hotel, j que o inventor abrira mo de cozinha na casa, outro

    fato curioso: a casa no tem cozinha.

    Figura 16 e 17: Quarto de Santos Dumont, cama e armrio.

  • 24

    Outra comodidade e inveno de Santos Dumont era o chuveiro a lcool,

    novidade num tempo em que a gua para banho era aquecida a lenha. O equipamento

    consistia num balde perfurado no fundo e dividido ao meio. Enquanto um dos

    compartimentos guardava a gua fria, o outro recebia a gua quente, que passava por

    um aquecedor a lcool preso parede e abastecido por um pequeno reservatrio do

    combustvel. Por meio de duas alavancas, ele controlava a vazo de cada parte do balde

    e dosava a temperatura do banho. Alm do mais, a maioria das residncias na poca

    possuam banheiras ao invs de chuveiros.

    Figura 18: Chuveiro com aquecimento a lcool, inveno de Santos Dumont.

    b) O acervo museolgico, arquivstico e bibliogrfico.

    O acervo do Museu Casa de Santos Dumont formado pela casa de arquitetura

    peculiar e histrica, pelo mobilirio fixo feito sob medida para a casa, por objetos de

    uso pessoal, como manuscritos, prmios e presentes, e outros itens pertencentes ao

    antigo proprietrio, alm de condecoraes e homenagens (in memoriam).

  • 25

    Na sua maioria so doaes dos familiares de Santos Dumont e presentes em sua

    homenagem, ofertados pela Fora Area Brasileira e outras instituies ligada

    aviao. J o acervo arquivstico e bibliogrfico composto por documentos

    administrativos do Museu, os quais descrevem informaes sobre suas aes, atividades

    e trajetria, e uma pequena biblioteca com livros sobre Santos Dumont, aviao de um

    modo geral, museus e museologia. Ao reunirmos os trs conjuntos de acervos,

    totalizamos mais de 300 itens.

    2.5. O sonho de se criar um museu

    Santos Dumont deixou em testamento a recomendao de que seus herdeiros

    devolvessem a moradia de Cabangu ao governo brasileiro e que destinassem o chal de

    Petrpolis, por doao, finalidades educativas e culturais. Em dezembro de 1936,

    Jorge de Toledo Dodsworth, sobrinho de Santos Dumont, assina a escritura de doao

    da Encantada para a Prefeitura Municipal de Petrpolis, na qual uma das condies

    fixadas para a entrega da propriedade foi a que a donatria, a Prefeitura, obriga-se a

    manter no referido imvel uma escola ou qualquer outra instituio que perpetue o

    nome do insigne inventor brasileiro Alberto Santos Dumont. Outra condicionante,

    explicitada na escritura, foi o compromisso de que a municipalidade assumissa a

    responsabilidade por todos os tributos referentes ao imvel5.

    Interessados em cuidar do imvel, jovens que integravam a Associao

    Petropolitana de Planadores Areos tambm manifestaram a vontade de assumir a casa e

    transform-la num museu aeronutico. Insistentes, entre 1938 a 1940, a casa foi aberta a

    visitao pelos Planadores Areos, como espcie de um museu sobre aviao em geral,

    contudo sem dispor de pertences do antigo morador, doados ao Museu Paulista6, na

    5 Dados retirados da Cpia da certido da escritura de doao, Acervo Lavenre-Wanderley no Centro de

    Documentao e Histrico da Aeronutica (Cendoc). Av. Marechal Fontenelle, 1.200 - Campo dos

    Afonsos - Rio de Janeiro.

    6 Santos Dumont tambm deixou em inventrio que seus herdeiros destinassem seu acervo de invenes e

    projetos ao Museu Paulista. A instituio foi depositria de grande quantidade de pertences que Santos

    Dumont mantinha no casaro de Virgnia (sua irm), no nmero 105 da Avenida Paulista, no corao da

    cidade. As preciosidades entregues pela famlia ao museu incluram inventos como o transformador

    marciano, o canho salva-vidas e o maquinismo para adestrar cachorros (ltimos inventos de Santos

    Dumont), um sextante, raquetes de tnis, maquetes de bales, luvas de mecnico e de montaria,

    fotografias e uma infinidade de livros.

  • 26

    cidade de So Paulo. Na tentativa de fazer do lugar um ponto de atrao, a Associao

    expunha miniaturas de avies, fotografias e promovia palestras sobre Santos Dumont.

    Figura 19: Fotografia de 1938 que ilustra como era o Museu sobre a Aviao administrado pela

    Associao Petropolitana de Planadores Areos. Fonte: Acervo Arquivo Histrico da Biblioteca Central

    Municipal Gabriela Mistral. Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis.

    Figura 20: Solenidade do ato de instalao da Associao Petropolitana de Planadores na Casa de Santos

    Dumont em 1937. Fonte: Foto retirada da Revista A Noite Ilustrada de 27 de abril de 1937. Acervo

    Arquivo Histrico da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral. Fundao de Cultura e Turismo de

    Petrpolis.

  • 27

    Figura 21: Documento 224 de 1937 Solicitao da APPA Associao Petropolitana de Planadores Areos, fundada em 1934, solicitando Prefeitura de Petrpolis a utilizao da Casa de Santos Dumont

    como um museu da aviao. Fonte: Arquivo Histrico da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral.

    Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis.

    Em agosto de 1937, nos fundo da Encantada, onde morava a governanta de

    Santos Dumont, Dona Eullia, criou-se a Escola Santos-Dumont, nica a oferecer

    ensino pblico nas redondezas, acolhendo 30 crianas pela manh e mais 30 pela tarde.

  • 28

    J em 21 de maro de 1943, o imvel foi transformado em um Memorial Casa

    de Santos Dumont, no qual possua, por emprstimo, a coleo particular do professor

    Alexandre Brigole, bigrafo do inventor brasileiro, composta na sua maioria por

    fotografias. A casa, pouco possua aspecto de museu, aos poucos Jos Kopke Fres, que

    cuidou da casa durante 10 anos (1947-1987), informou que adquiriu alguns objetos e

    peas preciosas referente ao Pai da Aviao em antiqurios, bem como a moblia da

    poca mandou fazer idntica usada por ele. O esforo do professor Fres, sua

    maneira, no o impediu de reconhecer que a Encantada era pobre como um museu,

    porque embora procurasse objetos de real interesse para compor seu acervo, na verdade,

    o museu s possua algumas fotografias e peas da sua imaginao, confessa em carta

    enviada ao sobrinho de Santos Dumont, Henrique Dumont Vilares. (NOEL, F.; LIMA,

    P, 2010, p.120).

    Figura 22: Inaugurao do Memorial Casa de Santos Dumont, em 1943, com a presena do ministro

    Salgado Filho (terno branco sorrindo). Fonte: Acervo Arquivo Histrico da Biblioteca Central Municipal

    Gabriela Mistral. Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis.

  • 29

    Em 1952 a Encantada foi reconhecida com Patrimnio Nacional pelo seu valor

    histrico-arquitetnico, ganhando inscrio no Livro de Tombo Histrico do IPHAN

    (Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional) em 14 de julho, sob o nmero

    293. A partir desse momento, o tombamento passaria a resguard-la de

    descaracterizaes, abrindo caminho para o apoio federal a sua conservao.

    Curiosamente o tombamento ocorreu dois anos depois que a Casa de Cabangu ter sido

    tombada em 1950. Na poca o governo brasileiro guindava Santos Dumont ao panteo

    dos heris da nacionalidade.

    Figura 23: Documento redigido por Carlos Drummond de Andrade, na poca chefe da Seo de Histria

    do Departamento do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (atual IPHAN), no qual sugere a inscrio

    da Casa de Santos Dumont no livro de Tombo Histrico. Fonte: Acervo do Arquivo Noronha Santos

    Iphan Ministrio da Cultura.

  • 30

    A casa de Santos Dumont somente vira um espao museolgico legalmente em

    1956, a partir de um Decreto Municipal. Em sintonia com a apropriao da imagem do

    inventor pela Aeronutica, o prefeito de Petrpolis na poca, Flvio Castrioto nomeia o

    major brigadeiro Godofredo Vidal como diretor da instituio recm-criada (Figura 22).

    Godofredo Vidal era um aficionado pela histria da aviao e principiou por dotar o

    Museu Santos Dumont de regulamento e estrutura administrativa, criando tambm as

    sees histrica, educativa e bibliogrfica para o museu e estreitando ainda mais os

    laos com a Aeronutica por meio de documento legal. Tal regulamento foi sancionado

    pelo prefeito em novembro de 1957. O brigadeiro correu atrs de doaes como tambm

    doou livros e peas do seu acervo particular ao museu, no se limitando ao legado de

    Santos Dumont como foco do museu, buscando conservar e expor tambm documentos

    e objetos de valor histrico sobre a Aeronutica e seus percursores. Seu plano era

    ampliar o museu para um terreno vizinho, cobiado na Prefeitura a mais de 30 anos e

    declarado de utilidade pblica para fins de desapropriao, contudo nunca adquirido

    pela municipalidade. Por esse motivo, Vidal acreditava que somente o governo federal

    teria condies de tornar o museu num grandioso museu aeronutico abrangendo a

    Encantada e uma nova edificao, a soluo para ele era transferi-la para a nascente

    rede de museus do Ministrio da Educao e Cultura. Vidal ficou no comando do

    Museu Santos Dumont at a sua morte em 1958.

    No vero de 1960 uma enxurrada provocou a queda de uma barreira nos fundos

    do museu, levando a Prefeitura a suspender a visitao, por temor de novos

    deslizamentos. Parte do acervo foi guardado no Palcio de Cristal, ficando fechado at

    quase a dcada seguinte. O Museu s voltou cena turstica-cultural em 1968 ao fim de

    uma reforma executada pela Prefeitura que tambm remodelou a Escola Municipal

    Santos Dumont. O ponto alto da reinaugurao foram os festejos da Semana da Asa, em

    outubro, poca em que se comemora o voo do 14 Bis, em 23 de outubro e

    consequentemente o Dia do Aviador. A repaginao do lugar coube a um novo diretor,

    o historiador petropolitano Joaquim Eloy Duarte dos Santos, o qual ficou na

    administrao do Museu at 1975. J o vis pedaggico do Museu somente foi

    reforado no incio dos anos 1980.

  • 31

    Figura 24: Fotografia da posse do brigadeiro Godofredo Vidal como diretor do Museu Santos Dumont,

    criado pelo Prefeito Flavio Castrioto, frente de culos. Fonte: Acervo Arquivo Histrico da Biblioteca

    Central Municipal Gabriela Mistral. Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis.

    Figura 25: Espao expositivo do Museu no incio da dcada de 1970. Fonte: NOEL, F.; LIMA, P, 2010,

    p.124.

  • 32

    Em julho de 1992, a Encantada foi reaberta em novo estilo, depois de uma

    restaurao e uma revalorizao histrica que durou dez meses. A revitalizao

    devolveu Encantada o ambiente original de moradia, precedida de minuciosa pesquisa

    histrica sobre os hbitos de Santos Dumont em suas temporadas em Petrpolis.

    Trabalho desenvolvido pela historiadora Helena Niemeyer Teixeira e a museloga

    Sandra Mara Gullo Cherminaro que tomaram por base depoimentos de parentes para

    reconstruir com a maior fidelidade possvel o ambiente original da Encantada. Bem

    como, as consultas e entrevistas na famlia de Santos Dumont renderam vrias doaes

    de pertences do inventor. Antes com raros pertences do inventor e diversos objetos sem

    relao com a vida domstica de Santos Dumont, assim a Encantada ganhava em

    definitivo a feio de museu-casa, na moderna acepo do conceito definido pelo

    Conselho Internacional de Museus (ICOM), que mantm um comit dedicado s casas-

    museus, o DEMHIST 7, o qual na gnese de sua criao est o conceito de residncia

    histrica. As obras tambm incluram reforo estrutural e eliminao de trincas nas

    paredes, causadas pela instabilidade do solo de talus; incluindo tambm revestimentos,

    pintura, assoalho, forro, telhado e calhas foram totalmente refeitos, assim como o

    sistema de drenagem e o jardim. Projeto assinado pelo arquiteto Srgio Bencio Whatley

    Dias da Secretaria de Planejamento da Prefeitura, a obra contou com o apoio do

    Ministrio da Aeronutica e Banco Real, alm da superviso do Instituto Brasileiro de

    Patrimnio Cultural (IBPC)8.

    As consultas na famlia de Santos Dumont renderam vrias doaes de pertences

    do inventor. A sobrinha-neta Sophia Helena Dodsworth Wanderley, viva do brigadeiro

    Lavenre-Wanderley doou a coleo de oito volumes, em francs, a obra do escritor

    7 O DEMHIST, Comit Internacional para Museus e Casas Histricas / International Committee for

    Historic House Museums.

    8 Em 1990 o novo governo reorganizou os rgos de preservao, antes unificados (IPHAN, PCH,

    CNRC) constituindo a Fundao Nacional Pr-Memria, extinguiu o IPHAN e a Pr-Memria, criando o

    Instituto Brasileiro do Patrimnio Cultural IBPC. Em 1995 o IPHAN readquire sua antiga denominao, mantendo, contudo, a mesma estrutura do IBPC.

    Com relao as obras de restaurao do Museu Casa de Santos Dumont muitas informaes foram

    retirados de Processos Administrativos presente no Arquivo do Museu, bem como o Projeto de Recuperao da Casa de Santos Dumont. Secretaria de Planejamento e Controle, Prefeitura de Petrpolis,

    1991, cpia conservada no Instituto Histrico Cultural da Aeronutica (Incaer).

  • 33

    Victor Hugo, um colarinho alto para traje a rigor, um carto de visita da moradia

    petropolitana e um mao de cigarros Santos-Dumont, alegando que pertencia ao

    inventor. J o lustra de opalina branca com as insgnias do Imprio, que iluminava a sala

    da casa, foi doada pelo sobrinho-neto Jorge Henrique Dumont Dodsworth, que tambm

    doou anos depois o chapu de Santos Dumont. Esse acervo de bens ligados diretamente

    vida de Santos Dumont incorporou novos documentos como cartas dos anos de 1920,

    entre outros objetos. Essa feio expositiva encontra-se at os dias de hoje, salvo

    pequenas modificaes de alguns bens. A casa passou por mais uma reforma em 1999

    para instalao de nova iluminao interna, com patrocnio da Embraer, a fabricante

    brasileira de avies.

    O crescimento da visitao, ano a ano, indica que esse perfil museolgico vai ao

    encontro das expectativas dos turistas nacionais e estrangeiro, sendo o segundo atrativo

    turstico mais visitado da cidade (o 1 o Museu Imperial), totalizando mais de 100 mil

    visitantes por ano. Fator que d muito orgulho ao Museu, contudo traz tambm

    bastantes problemas. Concebida como refgio e local de descanso para uma s pessoa,

    atualmente, como atrativo turstico, nesse ponto, as visitas tursticas por milhares de

    pessoas ao longo dos anos tm acelerado de forma imprevista o desgaste geral da

    residncia, expressamente visveis nos seus componentes arquitetnicos como os

    degraus, guarda-corpos, passarelas, pinturas, mobilirio, bem como seu acervo.

    Ao analisarmos os Processos Administrativos guardados no Arquivo do Museu,

    encontramos que em dezembro de 2012 foi realizado um processo de descupinizao

    em uma das mesas do acervo, no forro duplo da edificao, no madeiramento de

    sustentao da edificao e do forro do banheiro. Bem como, encontramos documentos

    de solicitao para a proteo dos vidros das janelas do Museu contra incidncia de

    raios ultravioleta e infravermelho por meio de pelcula protetora (insulfilm), contudo

    no conseguimos afirmar a poca do servio com preciso (2009 a 2012). Outro dado

    que a escada interna encontra-se interditada por orientaes do IBRAM (Instituto

    Brasileiro de Museus) e IPHAN (Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional)

    como forma de preservao, j desgastada pelo excesso do uso indiscriminado, sem

    aes de conservao em longo prazo.

    Por fim, no dia 30 de maro de 2012 foi inaugurado o Anexo do Museu Casa de

    Santos Dumont, denominado de Centro Cultural 14 Bis, tendo como foco a

    universalizao do acesso aos museus, bem como proporcionar maior infraestrutura ao

  • 34

    Museu e melhoria nos servios prestados, como dependncias administrativas,

    banheiros e bebedouros adaptados, reserva tcnica para o acervo que no est em

    exposio etc. O Centro Cultural 14 Bis apresenta um projeto pioneiro e indito em todo

    o Estado do Rio de Janeiro, idealizado pela turismloga e antiga coordenadora do

    museu, Marisa Guadalupe Plum, que busca dar acessibilidade aos portadores de

    necessidades especiais nos museus. Localizado no prdio que era da antiga casa da

    governanta de Santos Dumont, dona Eullia e onde funcionava a Escola Municipal

    Santos Dumont, transferida para um outro prdio no centro da cidade. O espao conta

    com uma rampa e uma plataforma eletrnica que possibilita os cadeirantes, idosos e

    portadores de necessidades especiais visitarem todo o museu. O Centro Cultural 14 Bis

    ainda tem uma maquete ttil com os ambientes internos e externos da casa, para atender

    aos deficientes visuais, DVD em Libras, catlogo em braile, rplicas e totem com visita

    virtual das dependncias do museu, para que qualquer pessoa possa conhecer a histria

    do Pai da Aviao e sua inveno arquitetnica de veraneio A Encantada. O projeto

    idealizou ainda uma Sala Educativa para oficinas pedaggicas, caf temtico, lojinha de

    souvenir, sala multimdia e de exposies, sala de convivncia, capacitao de

    monitores para visitas orientadas e implantao de um site interativo. No entanto a falta

    de continuidade na administrao pblica devido a mudanas de governo fez com que

    um lindo projeto morresse por falta de manuteno.

    Figura 26: Entrada pelos fundos do Museu Casa de Santos Dumont que d acesso ao Anexo Centro

    Cultural 14 Bis.

  • 35

    Figura 27: Imagem do material de divulgao quando da inaugurao do Centro Cultural 14 Bis. Arquivo

    Histrico do Museu Casa de Santos Dumont. Fundao de Cultura e Turismo de Petrpolis.

  • 36

    3. DIAGNSTICO DE SIGNIFICNCIA

    Aps reunirmos todas as informaes sobre o Museu Casa de Santos Dumont e

    seu ilustre proprietrio Alberto Santos Dumont - pai da aviao, incluindo imagens,

    referncias a itens semelhantes e materiais de referncias do perodo. No presente item,

    Diagnstico de Significncia, buscaremos sintetizar toda a histria do Museu Casa

    de Santos Dumont e seu acervo como importantes bens culturais a serem preservados

    em um resumo legvel, denominado Declarao de Significncia. Para isso, utilizamos

    os critrios de avaliao como um quadro de ideias de refino sobre os valores, o

    significado e a importncia edifcio e coleo do Museu, ambos parte do seu acervo

    patrimonial.

    Declarao de Significncia do Museu Casa de Santos Dumont

    Casa projetada pelo inventor Alberto Santos Dumont, e construda pelo

    engenheiro Eduardo Pederneiras e o arquiteto Armando Telles, em 1918 para servir de

    casa de veraneio para o aviador.

    Bem localizada, no centro da cidade de Petrpolis, em meio a reas arborizadas

    e com excelentes pontos de encontro para a sociedade intelectual da poca, como,

    Palace Hotel (hoje Universidade Catlica de Petrpolis), Praa da Liberdade e Tennis

    Club (hoje atual Clube Petropolitano).

    Construda em terreno ngreme e pouco malevel, desafiando a natureza e a

    crena dos presentes, Santos Dumont projeta uma casa totalmente funcional e original.

    Com pouco espao, so construdos trs andares e um telhado com mirante, onde Santos

    Dumont consegue, com a utilizao de mveis e instrumentos feitos sobre medida criar

    espaos mistos e sair da ideia de construo padro tradicional utilizada na poca, e por

    que no, at os dias de hoje.

    Aps seu triste falecimento o inventor deixa em testamento seu pedido de que a

    casa se torne um bem com finalidades educativas, ento em 1936, seu sobrinho, Jorge

    Toledo Dodsworth o responsvel por doa-la Prefeitura Municipal de Petrpolis.

    Nos anos entre 1938 e 1940 a casa aberta j como museu, porm como um

    museu de aviao, administrada pela Associao Petropolitana de Planadores Areos. E

  • 37

    a partir de 1943 o imvel se transforma em memorial, contando com colees

    emprestadas, do bigrafo do inventor brasileiro, Alexandre Brigole. durante esse

    perodo que o administrador da casa Jos Kopke Fres, comea sua caada, em

    antiqurios, por mveis e objetos originais de Santos Dumont, para reintegrar o aspecto

    original da casa. Alguns mveis ele manda fazer exatamente igual aos que o aviador

    costumava usar.

    Tombada pelo IPHAN em 14 de julho de 1952, a casa passa a ser reconhecida

    como Patrimnio Nacional pelo seu valor histrico-arquitetnico, atravs da escritura

    no Livro de Tombo Histrico nmero 293.

    Somente em 25 de setembro de 1956, comemorando o cinquentenrio do

    primeiro voo do 14 Bis, que o museu criado legalmente, atravs do Decreto 350.

    Ainda com poucas peas o museu comea a integrar sua coleo a partir de doaes

    recolhidas pelo ento administrador do museu, o brigadeiro Godofredo Vidal, falecido

    em 1958. O reconhecimento do papel de Alberto Santos Dumont, pode-se dizer, foi

    mais forte e duradouro inclusive com a criao de fato do Museu de Santos Dumont

    (MCSD). Destinado a homenagear o ilustre brasileiro, o conjunto de bens passou a

    constituir um valiosa instituio cultural voltada para a preservao e divulgao da

    memria e histria do inventor e da Aviao Nacional de um modo geral.

    O museu continua seus trabalhos at o vero de 1960, quando uma queda de

    barreira destri parte dos fundos da casa e as visitaes precisam ser interrompidas.

    Com obras de conteno e melhorias na estrutura da casa l se foram oito anos para uma

    reinaugurao do museu na Semana da Asa em 19 de outubro de 1968.

    Com nova administrao, corpo de funcionrios, e com novas doaes, o museu

    retomou as visitaes e em 1970 j fechava o ano com mais de 37 mil pessoas. Com o

    grande nmero de visitantes e com problemas administrativos relativos manuteno da

    casa, na segunda metade da dcada de 80 os ingressos para a visitao passam a ser

    cobrados como forma de arrecadao para o museu.

    O desgaste do tempo no conseguiu ser impedido pelos administradores do

    museu e em 1991 a casa passou por uma segunda reforma, desta vez completa,

    contemplando todos as partes da casa, do assoalho ao telhado. Neste momento a Casa

    de Santos Dumont assumiu sua forma original com base em pesquisas e depoimentos,

    historiadores reconstruram toda a histria de Santos Dumont e caracterizaram a casa de

    acordo com o que era usado pelo inventor nos seus veraneios vividos na casa. Contando

  • 38

    com inmeras doaes feitas pela famlia do inventor, foram adquiridos para o novo

    museu muitos pertences do aviador, como, oito volumes do escritos Victor Hugo,

    colarinho alto para traje a rigor (uma das marcas de Santos Dumont), carto de visita da

    moradia petropolitana e um mao de cigarros Santos Dumont, lustre de opalina com

    insgnias do Imprio (presente da princesa Isabel), um dos chapus do inventor (outra

    marca caracterstica dele) e documentos, principalmente cartas trocadas entre Santos

    Dumont amigos e sobrinhos, na sua maioria escritas e remetidas de Petrpolis. Um

    tempo depois, passou por uma pequena reforma de iluminao interna em 1999 com

    patrocnio da Embraer, assim a Encantada assumiu de fato a configurao de um

    museu-casa. Os museus-casas propriamente ditos so aqueles edifcios histricos que

    foram residncias e como tal, reconstituem o modo de vida do ocupante ilustre e esto

    abertos ao pblico para exibir mobilirio e colees originais de interesse histrico,

    cultural e etnogrfico, preservando o esprito dos antigos donos e a memria da

    comunidade. Para isso, mantm um acervo ligado figura musealizada e esto

    comprometidos com a sua divulgao. Logo, uma das caractersticas principais de um

    museu casa histrica a manuteno dos ambientes respeitando a organizao de seus

    interiores como poca do patrono ou em determinado perodo histrico.

    Um Museu Casa, por meio dos seus testemunhos preservados e

    pesquisados/documentados, pode comunicar com bastante eficincia e desenvolver o

    seu imenso potencial pedaggico, porque estes testemunhos refletem, com muita

    particularidade, a organizao social, poltica, econmica e cultural de um segmento da

    sociedade, em determinada poca, e permitem a extrapolao para o restante da

    sociedade. Por esse motivo, o Museu Casa de Santos Dumont o segundo museu mais

    visitado da cidade, com mais de 100 mil visitantes por ano, principalmente por visitas

    escolares.

    Em maro de 2012 foi instalado no terreno atrs do museu o Centro Cultural 14

    Bis, em obra desde novembro de 2009, contando com um espao de cultura com

    trabalhos educacionais e primando pela acessibilidade, como rplicas perfeitas em

    maquetes ttil de cada espao da casa, DVD em libras, catlogos em braile, visando o

    acesso para pessoas com todos os tipos de deficincias e maior estrutura para receber os

    visitantes, como banheiros, bebedouros, loja de presentes e salas educativas e de

    multimdia.

  • 39

    O Museu Casa de Santos Dumont e o Centro Cultural 14 Bis integrados, atingem

    um pblico grandioso, que vai de crianas ao idosos, bem como busca tambm atingir

    pessoas com todos os tipos de deficincias. O museu foge do padro de museus rgidos

    e srios, o que prevalece a curiosidade, a engenhosidade pioneira de Santos Dumont, a

    diverso que todos sentem em conhecer uma casa totalmente fora dos padres, com

    cmodos e moblias muito inovadoras e multifuncionais, com uma arquitetura

    completamente peculiar e com uma bela vista da cidade de Petrpolis devido a sua

    localizao.

    Do primeiro passo direito na escada recortada, passando pela moblia da casa,

    pelo incrvel banheiro com seu chuveiro de balde perfurado, passando pela ponte ao

    telhado e alcanando o centro cultural com diversas tecnologias atuais e meios de

    acessibilidades pioneiros no Estado do Rio de Janeiro, podemos conhecer um pouco da

    vida de um homem, um inventor genial com grandes sonhos, e podemos agradecer por

    constituir uma importante parte da nossa histria nacional.

  • 40

    4. AGENTES DE DETERIORAO

    Como um museu-casa preciso preservar a constituio original do edifcio e

    seu acervo, bem como incentivar a pesquisa histrica sobre a autenticidade dos objetos

    que compem suas colees para sua conservao e divulgao cientfica. No entanto,

    quando se faz um diagnstico de conservao necessrio observar e identificar as

    situaes que podem colocar o acervo em risco. O Canadian Conservation Institute

    desenvolveu a metodologia de gerenciamento de riscos atravs da Ferramenta

    Conceitual dos 10 Agentes de Deteriorao, com a qual possvel identificar os riscos

    que atingem as colees. Os 10 agentes so especificados como foras fsicas, atos

    criminosos, fogo, gua, pragas, poluentes, luz e radiaes ultravioleta e infravermelho,

    temperatura incorreta, umidade relativa incorreta e dissociao9.

    A ao desses 10 agentes constitui-se na causa da degradao e resultam em

    grandes danos aos acervos. A identificao de quais agentes esto colocando em risco

    um determinado acervo exige um estudo criterioso e por vezes demorado. Para

    construo deste estudo foi proposto a anlise de risco referente a dois tipos de agentes

    de deteriorao: temperatura incorreta e a umidade relativa do ar incorreta.

    Conforme conceituado pelo Canadian Conservation Institute, tanto a

    temperatura quanto a umidade relativa no podem ser considerados agentes de

    deteriorao, pois no podem ser evitados. O que deve ser considerado para a

    conservao preventiva a temperatura incorreta e umidade relativa incorreta.

    Inicialmente apresentaremos o agente temperatura incorreta. Este pode ser

    dividido em trs categorias, levando em considerao que os diferentes materiais

    possuem distintas sensibilidades. So estas: a temperatura muito alta; temperatura muito

    baixa, e a oscilao de temperatura. A separao deste agente nas categorias auxilia a

    anlise de avaliao dos riscos.

    A temperatura muito alta produz fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos. Os

    fenmenos qumicos so considerados um dos mais prejudiciais s colees de museus

    e arquivos formadas por materiais com imagens, textos e sons. Geralmente so estas

    9 Para maiores informaes sobre os 10 agentes de deteriorao acessar: http://www.cci-

  • 41

    colees que devero ter maior cuidado com as condies de temperatura incorreta,

    conforme ressalta a Canadian Conservation Institute10.

    As temperaturas muito baixas geralmente so benficas a grande parte dos

    materiais. Apenas materiais polimricos necessitam de controle para esta categoria de

    temperatura incorreta. Dentre eles esto alguns plsticos, borrachas, e papis.

    A oscilao de temperatura tem sido uma das principais questes para os

    espaos detentores de colees solicitarem o controle da temperatura incorreta. Esta

    necessita estar relacionada variao da umidade relativa do ar. Desta forma efeitos da

    temperatura muito alta ou muito baixa e da oscilao devem ser considerados com a

    umidade relativa do ar, que pode influenciar significativamente sobre os efeitos de

    deteriorao de bens.

    A umidade relativa a medida para o que popularmente conhecida como

    umidade e se refere qualidade do ar, que pode estar seco ou mido. Esta medida

    de difcil percepo em si, geralmente observamos por meio de outros objetos ou

    mesmo sensaes corporais se o ar est mais seco ou mido. Assim, a avalio da

    umidade relativa do ar em determinado espao deve ocorre com o auxlio de aparelhos.

    Como na temperatura, tambm so definidos 4 tipos de umidade relativa do ar

    que devem ser evitados em virtude de possveis deterioraes: umidade, acima de 75%

    da umidade relativa (UR); UR acima ou abaixo de valor crtico para determinado

    objeto; UR superior a 0%; e oscilao da UR.

    H certa dificuldade em estabelecer valor exato para umidade relativa correta,

    pois que cada material possui uma sensibilidade diferente que pode corresponder a um

    ou mais dos tipos de UR incorretas destacadas acima. Desta forma o que se intenciona

    buscar a melhor maneira de manter as colees ou o edifcio em boas condies, com a

    menor porcentagem de danos. Atualmente j se compreende que a UR incorreta produz

    danos bem menores e seu valor ideal j est muito mais flexibilizado do que foi

    anteriormente.

    Minerais, bronze e ferro arqueolgico, e vidro instveis, so exemplos de

    materiais que possuem valores determinados de UR onde se modificam e deterioram

    determinado objeto. Minerais como o cloreto de sdio, cloreto de clcio e cloreto de

    10 Disponvel em: . Acessado em: 8 de outubro de 2014.

  • 42

    magnsio deliquescem (Propriedade de absorver a umidade do ar e de se liquefazer11),

    cada qual a um determinado valor de UR. O bronze e o ferro corroem, e o vidro instvel

    possui componentes em sua formao que deliquescem, assim como tambm podem

    rachar com a baixa UR.

    Materiais como fita magntica, filmes de nitrato (rolo antigo), e papeis que

    tenham sua formao em meio cido, so exemplos de materiais que possuem

    considervel deteriorao em ambiente com qualquer porcentagem de vapor, acima de

    0% UR. A partir da diminuio de qualquer % UR possvel que os materiais tenham

    tambm seu perodo de deteriorao diminudo.

    A oscilao da UR um dos tipos de UR incorretos mais encontrados em

    museus e espaos de guarda de bens. As pesquisas que tem sido executadas nos ltimos

    anos j auxiliam bastante esta questo tendo alterado o panorama inicial a respeito dos

    valores de UR. A principal questo acerca da oscilao est na expanso e compresso

    dos objetos, alterando sua forma fsica, sendo s vezes uma alterao mais significativa

    do que outra. Assim quando o objeto em questo passa por uma oscilao, caso esteja se

    expandindo, poder ser obrigado a se comprimir, e se estiver em compresso poder se

    expandir, causando rachaduras.

    Questo primordial acerca destes agentes sua relao. Basicamente a

    temperatura e a umidade devem ser levadas em considerao conjuntamente pois sua

    relao ocasiona a mudana da outra medida, muitas vezes levando a uma situao pior

    para a conservao. Assim, quando a temperatura est muito alta e busca-se baix-la

    este processo ocasiona um aumento da UR, assim como o oposto. Num ambiente de

    baixa temperatura seu aumento baixa a UR. Desta forma seus controles necessitam estar

    relacionados.

    Foi estabelecido o valor limite de 75% UR para grande parte dos materiais,

    entretanto considerado que um aumento abrupto da UR pode causar danos

    irreversveis. As deterioraes mais comuns so o mofo, a corroso e danos mecnicos.

    Faremos uma anlise dos possveis danos que o edifcio do Museu Casa de

    Santos Dumont, bem escolhido como objeto de anlise deste trabalho, pode sofrer a

    partir dos dois agentes de deteriorao definidos.

    11 "deliquescncia", in Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008-

    2013, http://www.priberam.pt/dlpo/deliquesc%C3%AAncia [consultado em 27-10-2014].

  • 43

    Inicialmente necessitamos identificar em que contexto espacial se instala o

    edifcio, seguindo o padro da anlise das camadas de invlucro12.

    Figura 28: Camadas de invlucro da Casa de Santos Dumont. Fonte: www.google.com.br/maps

    A) Regio:

    O Museu Casa de Santos Dumont est situada na cidade de Petrpolis, na regio

    serrana do estado do Rio de Janiero. Esta regio tem como caracterstica climtica o alto

    indice pluviomtrico (medida que mensura a precipitao de gua em um espao), com

    uma mdia anual que pode chegar a 2.500mm. O ms mais seco Julho e tem 56 mm

    de precipitao. O ms de maior precipitao Dezembro, com uma mdia de 307 mm.

    12 CARVALHO, Claudia S. Rodrigues de. O gerenciamento de riscos para o patrimnio cultural da

    Fundao Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Fundao Casa de Rui Barbosa. Disponvel em:

    http://www.casaruibarbosa.gov.br/conservacaopreventiva/arquivos/file/Downloads/Gerenciamento%20de

    %20Riscos%20para%20o%20patrimonio%20cultural%20FCRB.pdf. Acesso em 22 de outubro de 2014.

    Regio Stio Edifcio

  • 44

    Figura 29: Grfico climtico com eestatstica pluviomtrica. Mdia de temperatura e pluviosidade Fonte:

    Clima Data. Org. Disponvel em:

    De acordo com o Plano Diretor do Municpio, a temperatura no Municpio

    amena, com mdia anual em torno dos 18 e 19C. No ms mais quente, a

    temperatura mdia pode atingir os 23C e a mdia do ms mais frio de 15C. J a

    umidade relativa do ar de cerca de 83% ao longo do ano. A regio tambm possui alto

    nmero de movimento de massas, como corridas de detritos, terra ou de lama e

    deslizamentos, vinculadas s caractersticas das chuvas e das bacias hidrogrficas. No

    ltimo grande desastre ocorrido na regio serrana, no ano de 2011, a cidade de

    Petrpolis somente foi atingida no distrito de Itaipava. A maior parte do territrio de

    Petrpolis est sobre a bacia hidrogrfica do Rio Piabanha, uma das grandes sub-bacias

    do Rio Paraba do Sul13.

    O clima da regio tropical de altitude, bastante mido, e a regio

    caracterizada por topografia acidentado, possuindo um dos mais altos picos da Serra do

    Mar. As caractersticas topogrficas em conjunto com as geogrficas levam esta regio

    tropical a ser espao de intensas mudanas climticas e muitas chuvas, principalmente

    13 DOURADO, F. ARRAES, T. SILVA, M. O Megadesastre da Regio Serrana do Rio de Janeiro - as

    causas do evento, os mecanismos dos movimentos de massa e a distribuio espacial dos investimentos

    de reconstruo no ps-desastre. Anu. Inst. Geocienc. vol.35 no.2 Rio de Janeiro dez. 2012. Disponvel

  • 45

    no vero. Com a grande urbanizao que atinge a cidade de Petrpolis, construo de

    imveis inclusive em reas imprprias, constantemente se tem visto deslizamentos de

    terra na rea. A regio conhecida por seu turismo advindo do clima de temperatura

    mais baixa no inverno e principalmente por seu valor histrico, tendo sido regio de

    veraneio da Coroa Portuguesa durante o Imprio no Brasil, desde esta poca

    conhecida como a cidade Imperial.

    B) Stio:

    O Museu Casa de Santos Dumont est localizado no centro de Petrpolis, na rua

    do Encanto. No incio da formao da cidade o que hoje denominamos de centro de

    Petrpolis era a cidade completa, nesta regio eram encontrados o Palcio Imperial,

    prdios pblicos, servios, e comrcios. A rua do Encanto localizada em uma elevao

    e a casa, construda por Santos Dumont, se localiza no que anteriormente era chamado

    de morro do Encanto, em terreno bastante ngreme. Segundo Francisco Noel e Patrcia

    Lima (2010, p.30) o propsito de levantar a casa no sop do Morro do Encanto tomara

    ares de desafio para Santos Dumont. A forte declividade do terreno desaconselhava a

    construo, sobretudo pelas caractersticas do solo, chamado tlus. Composto por

    fragmentos de rochas, argila e outros materiais sedimentados ao p das encostas por

    intempries desabadas desde tempos remotos, os tlus tpico de regies montanhosas.

    Formao geolgica dessa natureza esto associadas a deslizamentos na estao

    chuvosa.14 Da casinha que ocupava a poro plana do terreno, Santos Dumont nem quis

    saber, sua ateno estava voltada para a parte em declive do terreno, coberta na poca

    por bambuzal.

    14 Como o Municpio de Petrpolis faz parte da Regio das Escarpas e Reversos da Serra do Mar, inserida na Unidade Geomorfolgica da Serra dos rgos, as rochas encontradas na regio so

    predominantemente pertencentes ao complexo granticognissicomagmattico de idade Pr-Cambriana. Nessas rochas encontramse frequentes fraturas e falhas de extenso regional, com forte consequncia na topografia. Em decorrncia desse fato, as caractersticas gerais do seu relevo so determinadas por um

    mesmo padro de fraturamento e posio em relao escarpa principal (limite meridional do domnio

    serrano). Essas estruturas geolgicas regionais desempenham um importante papel na organizao da

    rede de drenagem e na formao do relevo Municipal. Dessas caractersticas resultaram solos objetos

    de sucessivas fases erosionais, com intensa remobilizao de blocos granticos, agravadas pela presena

    de vales alongados, segmentos de drenagem retilneos, macios granticos circundados por camadas de

    solo, relativamente pouco espessas. Por conta do descrito, as encostas de toda a regio so afeitas a

    movimentos de massa, especialmente escorregamentos, o que recomenda especial ateno aos processos

    de ocupao antrpica, desmatamento e localizao de culturas agrrias. Fonte: Plano Diretor de

    Petrpolis. Prefeitura Municipal de Petrpolis.

  • 46

    No momento de construo da casa havia poucas construes no seu entorno.

    sua frente se localizava o Palace Hotel (atual Universidade Catlica de Petrpolis). Hoje

    j existem construes mais prximas, incluindo o prdio anexo, que faz parte do

    complexo do MCSD. Ainda h bastante vegetao no entorno do edifcio, observando

    percebe-se o quanto o terreno ngreme. A construo ao lado esquerdo da Casa fica

    bem abaixo de seu nvel. Conforme foi exposto a rea em que se situa a Casa de Santos

    Dumont foi a regio inicialmente urbanizada de Petrpolis, a rea que possui o maior

    tempo de urbanizao, sendo tambm o distrito com o maior ndice populacional. Nesta

    regio se localiza a bacia do Quitandinha. A cidade de Petrpolis foi projetada pelo

    engenheiro Major Frederico Koeler, visando que a urbanizao no comprometesse o

    cenrio paisagstico, entretanto a ocupao massiva se expande ao longo do curso dos

    rios. Esta regio passa por constantes eventos de enchentes, agravada pelo difcil

    escoamento da rea intensamente urbanizada, e do assoreamento dos rios (GONZALEZ,

    2014).

    Figura 30: Acima imagem de satlite do entorno do

    Museu e abaixo, terreno onde se encontra a Casa de

    Santos Dumont. Fonte: Google Map, 2014.

  • 47

    C) Edifcio:

    A Casa de Santos Dumont foi um projeto elaborado por Alberto Santos Dumont,

    inventor brasileiro. Em estilo alpino o chal foi inspirado pelos tempos em que Santos

    Dumont viveu na Frana. Pelo terreno ngreme a casa possui trs pavimentos, e escadas

    tambm em alto grau de inclinao, estas foram um dos projetos de criatividade do

    inventor, talvez sejam o objeto mais famoso do edifcio. No primeiro nvel do chal

    foi construdo um poro, que serviu de espao para oficina e laboratrio, com uma pia.

    A porta para entrada neste pavimento de altura de 1,70m, feita sob medida para o

    inventor, que tinha baixa estatura. Existe uma pequena janela para frente da rua, paredes

    de pedra com revestimento de azulejos hidrulicos. Atualmente este espao utilizado

    como bilheteria do museu. A partir da planta original da casa (Figura 13), parte do

    acervo em exposio no MCSD, possvel observar as metragens do primeiro

    pavimento, 3,20 e 3,40m entre as paredes, num formato quase quadrado, com paredes

    de 0,40 e 0,15m de espessura, e 2,00m de altura.

    importante ressaltar que a casa feita com espaos necessrios para os

    costumes de Santos Dumont que viveu sozinho na casa. Do primeiro pavimento se

    alcana o segundo pavimento por meio da famosa escada da casa que possui em seus

    degraus cortes para que fosse mais confortvel avana-los, por conta da inclinao

    necessria. Em torno de 12 degraus para se alcanar 2,00m de altura, em uma distncia

    de menos de 2,00m. Os degraus e o corrimo so feitos de madeira, e cada degrau

    possui um acabamento em metal pintado. O segundo pavimento guarda um nico

    cmodo de diversos usos, sala de desenho e biblioteca, conforme nomeado no projeto

    original, de 2,50m de altura at o terceiro pavimento (mezanino), 4,00m entre as

    paredes da frente e dos fundos e 6,00m entre as paredes laterais. Alm disto, h ainda do

    lado externo ( direita) rea aberta para circulao, toda em madeira, 4 x 2m, entre

    parede e corrimos.

    O segundo pavimento possui porta de entrada pela lateral esquerda, e duas

    janelas, uma pequena e uma maior para a frente da casa. possvel acessar o 3

    pavimento pela escada que segue o mesmo padro da escada externa, posicionada na

    parede dos fundos, seus degraus tambm possuem recortes.

  • 48

    O 3 pavimento, nomeado de Galeria pelos projetistas, um mezanino que

    possuiu mobilirio de dupla funo, cama e bancada de trabalho. Existe tambm o

    banheiro, mais um exemplo da criatividade de Santos Dumont, com a criao de um

    chuveiro com gua aquecida por meio de uma inveno que utiliza o lcool para o

    aquecimento. O espao permanece com 4,00m entre as paredes da frente e de fundos,

    2,75m de altura. O banheiro possui 2,00 de profundidade, e 3,40m de altura. No

    banheiro tambm existe uma pequena pia, janela logo acima, e vaso sanitrio. No 3

    pavimento h uma janela grande na parede da frente, duas janelas pequenas bem

    elevadas na parede lateral do lado esquerdo (mansardas), e tambm existe uma porta

    que liga o 3 pavimento h rea externa pelos fundos. Desta porta acessa-se uma ponte

    de madeira que permite chegar ao nvel mais alto do terreno. Dali possvel acessar a

    escada que chega a um nicho aberto instalado no alto do telhado para observaes

    astronmicas, bem como ao Anexo do Museu, o Centro Cultural 14 Bis.

    O telhado do chal feito com folhas de flandres, material resistente corroso.

    No telhado ainda h chamin e janelas, para a frente e para os fundos, contudo com

    sistema de calhas para vaso da gua das chuvas. Grande parte da casa composta de

    madeira, como as esquadrias, portas, pisos, escadas e mobilirio embutido.

    POSSIVEIS DANOS

    Temperatura incorreta

    Alta temperatura

    Neste quesito de agente de deteriorao no h grande possibilidade de danos

    para o edifcio j que os materiais que compem a edificao se encontram fora do

    grupo de altos riscos: registros eletrnicos modernos com mdia magntica e fitas de

    vdeo, borracha, plstico, papel, material fotogrfico, principalmente em nvel de

    deteriorao qumica. No entanto, alguns itens do acervo museolgico encontram-se

    nesse grupo de risco, como o telefone magneto, cuja composio de plstico e metal,

    bem como algumas cartas e livros, cuja matria prima o papel. Nesse caso faz-se

    necessrio o monitoramento ambiental do espao expositivo tanto da casa quanto das

  • 49

    vitrines para observar em que nveis de temperatura o acervo est acostumado a ficar,

    bem como, aps essa observao sugerir nveis mais adequados conservao desse

    acervo. Como um fator negativo, o Museu no dispe de equipamentos para

    monitoramento ambiental.

    importante ressaltar que a temperatura da cidade se mantm em mdia de 18,4

    e 19C, e por meio da anlise dos grficos de janeiro a maro de 2014 e de abril a

    outubro de 2014, respectivamente abaixo, (Figura 31 e 32) verificam-se que no h

    grande variao da temperatura, no vero a mais alta foi prxima aos 30C. Segundo o

    Plano Diretor do Municpio a maior temperatura registrada na regio foi 36,6C, no dia

    6 de novembro de 2009. Materiais como a madeira, bastante encontrado na edificao,

    so de baixa sensibilidade qumica para altas temperaturas. Em uma mdia de 20C

    elementos como este duram entre 1000 anos ou mais, conforme tabela 01 do Canadian

    Conservation Institute. Contudo, estes dados consideram a UR em 50%. Deformaes

    fsicas podem ocorrer em alguns materiais como a madeira em temperatura acima de

    30C. Os danos biolgicos podem ocorrer a partir de 4C quando o mofo pode aparecer,

    j insetos, a partir de 10C o ambiente propcio.

  • 50

    Figura 31 e 32: Grficos de temperatura da cidade de Petrpolis durante os meses de janeiro a outubro de 2014. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) - Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, site oficial.

    Quadro 01: vidas aproximadas15 dos materiais a diferentes temperaturas.

    Canadian Conservation Institute.

    Temperatura Baixa

    sensibilidade

    Sensibilidade

    Mdio

    Alta

    sensibilidade

    Muito alta

    sensibilidade

    Tratamento trmico,

    sol ~ 60 C

    ~ 4 + ~ 1 ~ 6 meses 2 meses

    Quarto Hot ~ 30 C ~ 250 yr + 75 ~ yr 25 ~ yr ~ 7 yr

    Sala quente ~ 25 C ~ 500 yr + 150 ~ yr ~ 50m 15 ~ yr

    Quarto normal ~ 20 Milnios Alguns sculos ~ Uma vida Uma gerao

    15 O tempo de vida definida aqui em termos de efeitos ou utilida descritas para cada material listado na

    linha superior. Considerando que as vidas expressas em cada linha tem uma incerteza considervel, a

    melhoria relativa de cima para linhas de fundo certa.

  • 51

    Quadro 01: vidas aproximadas15 dos materiais a diferentes temperaturas.

    Canadian Conservation Institute.

    Temperatura Baixa

    sensibilidade

    Sensibilidade

    Mdio

    Alta

    sensibilidade

    Muito alta

    sensibilidade

    C ~ 1000 yr + 300 anos humana

    ~ 100 anos

    humana

    ~ 30 anos

    Loja legal ~ 10 C ~ 5000 yr + ~ 1.500 anos 500 ~ yr 150 ~ yr

    Armazm frigorfico

    ~ 0 C

    20.000 yr + ~ 6.000 anos ~ 2.000 anos 600 ~ yr

    Fonte: Instituto Canadense de Conservao. Site oficial. Disponvel em: .

    Temperatura muito baixa

    Poucos so os danos h materiais para temperaturas muito baixas. Objetos

    produzidos com polmeros, podem sofrer danos pela rigidez que formam. Entretanto,

    so poucos os episdios de temperaturas muito baixas na regio, e as possveis

    deterioraes que as temperaturas muito baixas podem causar geralmente so bem

    menores do que os danos de pragas e mofos das altas temperaturas.

    Flutuao da temperatura

    Existem duas situaes de danos diretos pela oscilao da temperatura, quando

    os componentes de um objeto possuem coeficientes de dilatao, e quando um material

    submetido a uma flutuao de temperatura mais rpida do que consegue responder de

    maneira ideal. A flutuao para materiais resistentes como madeira e a maioria das

    tintas possui limite consideravelmente extenso, e considerando que no encontramos

    grandes oscilaes de temperatura na regio, este no parece ser um dano recorrente.

  • 52

    Fontes de temperatura incorreta

    A luz solar uma das principais causas para a temperatura incorreta. Seu contato

    direto bastante danoso visto que constantemente ocorre aumento de 40C, em relao

    a temperatura ambiente, no objeto que sofre o contato. O Museu Casa de Santos

    Dumont possui bastantes janelas, contudo todas possuem pelcula de proteo contra

    raios UV e IV. No entanto preciso salientar para o perodo de validade dessas

    pelculas protetoras.

    O clima uma fonte de temperatura incorreta menos danosa, principalmente no

    caso da cidade de Petrpolis, que no possui variao de temperatura em espaos to

    curtos de tempo.

    A luz eltrica outra fonte expressiva de deteriorao por temperatura incorreta.

    Lmpadas incandescentes possuem altos ndices de radiao infravermelha, que

    compem outro agente de deteriorao, mais altos que a luz solar.

    Os sistemas de controle de temperatura dos edifcios tambm podem causar

    flutuaes de temperatura pois nem sempre os prprios aparelhos possuem sua

    climatizao, e as paredes, tetos e pisos mantm temperaturas distintas que a

    climatizao no consegue afetar integralmente.

    Umidade relativa incorreta

    Umidade acima de 75%

    Um dos principais danos da umidade est no aparecimento do mofo. Alguns

    tipos de madeiras possuem alta sensibilidade para os graus de UR a partir de 75 e 100%,

    podendo gerar o desenvolvimento generalizado do mofo em poucos dias.

    A corroso de metais outro dano causado pela umidade acima de 75%. Ligas

    de ferro e cobre so muito sensveis a este grau de UR. H variao no tempo de efeito

    dos danos dependendo dos materiais que mantm contato.

  • 53

    A cidade de Petrpolis possui variao constante de UR. No vero ela

    permanece mais alta, mas nas outras estaes, principalmente na primavera possuiu as

    maiores oscilaes. Entretanto necessrio ressaltar que a oscilao para baixo na UR

    geralmente benfica, pois que ao decair ela retoma os graus normais de deteriorao,

    sendo necessrio uma maior durao dos elevados ndices de UR para que a

    deteriorao ocorra, como apresenta o grfico abaixo, entre o tempo, em dias e a

    umidade relativa para desenvolvimento do mofo.

    Figura 33: Grficos das condies ideais de temperatura e umidade relativa para aparecimento de mofo.

    Fonte: Instituto Canadense de Conservao. Site oficial. Disponvel em:

    Segundo o Plano Diretor do Municpio, a cidade de Petrpolis permanece a

    maior parte do ano sob o domnio da Massa Tropical Atlntica, originada do

    Anticiclone Semifixo do Atlntico. Essa massa possui como caractersticas

    temperatura e umidades elevadas, e aspectos de homogeneidade e estabilidade em

    consequncia de sua constante subsidncia e inverso de temperatura. Sua atuao

    constante por todo o ano. J a distribuio das precipitaes ao longo do ano, cerca de

    2.200 mm anuais, sendo o perodo chuvoso de novembro a maro. Bem como,

    verificase que o ms mais seco julho e as chuvas tm incio no ms de agosto.

  • 54

    Como o clima da regio tropical de altitude, bastante mido, tais condies favorece

    que a cidade fique ao longo do ano com umidade relativa do ar na faixa dos 83%, ou

    seja, considerada alta, bem como a variao constante, como demonstra o grfico

    abaixo (40 a 85%), muito fora dos padres indicados como ideais pelos Manuais de

    Conservao em geral, os quais indicam UR de 50% e temperatura por volta dos 21C.

    Figura 34: Grfico de UR da cidade de Petrpolis durante os meses de janeiro a novembro de 2014. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) - Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, site oficial.

    UR acima ou abaixo de valor crtico para determinado objeto

    Alguns sais provoco corroso de metais ao se manterem em contato dentre

    alguns graus de UR, como o cloreto de sdio a 75% UR, de clcio a 33%, e o de

    magnsio a 35%. Assim como vidros instveis, que possuem compostos que

    deliquescem acima de determinada porcentagem de UR e podem sofrer fraturas abaixo

    do outro nvel.

  • 55

    No caso de objetos em cermica no revestida e couro, quando expostos em

    umidade baixa os materiais ressecam. No acervo do Museu temos uma maleta de

    ferramentas de Santos Dumont, cujo material couro. O couro torna-se quebradio e a

    cermica tende a desintegrar-se. Se os objetos estiverem com acmulo de poeira e

    sujidades como excrementos de insetos, podem ocorrer reaes qumicas causando

    manchas e at corroso dos materiais quando a umidade for absorvida. Desta forma

    possvel afirmar que a umidade associada com a temperatura, so agentes importantes

    nas alteraes dimensionais dos objetos, causando danos estruturais e estticos nos

    materiais.

    Por ltimo, um dos danos mais problemticos ao acervo e decorrentes da

    umidade e temperatura incorreta, o surgimento de pragas. A temperatura alta propicia

    o aparecimento de insetos e micro-organismos que se desenvolvem em ambientes com

    umidade tambm alta. Pode-se dizer que um dos danos mais problemtico, pois

    dependendo da gravidade do ataque, pode acarretar at a perda total do objeto.

    UR superior a 0%

    Muitos materiais de colees, como papel, mdias magnticas e filmes de nitrato

    dentre qualquer medida de vapor, acima de 0% UR, passam por deterioraes.

    Oscilao da UR

    A oscilao da UR pode causar danos a vrios materiais, principalmente pela

    alterao de massa que ocorre. Desta forma se o objeto, e/ou seus compostos, no

    conseguirem acompanhar a expanso ou contrao provocada pela flutuao da UR

    podem ocorrer fraturas entre outros danos fsicos ao material. Madeira, tinta, cola, papel

    entre outros sofrem esses danos. Isto , principais componentes materiais do acervo do

    Museu Casa de Santos Dumont. Faz-se necessrio para isso o monitoramento ambiental.

  • 56

    Fontes de umidade relativa incorreta

    O clima uma das formas de gerar UR incorreta. O clima mido ocasionar em

    alta UR e seus danos. Entretanto o clima seco no necessariamente acarretar em baixa

    UR, isto poder ser impulsionado por utilizao de calefao.

    A geografia dos espaos e o micro-clima de edificaes constituem fontes de UR

    incorretas. Pores geralmente so mais midos assim com stos tendem a UR baixa,

    pelo contato direto com a luz solar e agravado pela falta de circulao do ar. No caso

    dos pores a alta UR pode ocorrer pela umidade ascendente advinda do terreno ou pela

    possvel condensao do clima quente e mido que este tipo de espao pode ter. Assim,

    locais prximos das janelas, paredes que no so atingidas por sol, telhados mal

    colocados, entre outros espaos do edifcio podem estar sucetveis aos danos da UR

    incorreta. Os micro-climas tambm atuam quando h armrios em contato com a parede

    externa, havendo troca de clima e possveis aumentos de UR em clima frio. Pisos frios

    tambm podem agravar o problema da umidade j que o ar frio tende a descer. No caso

    da cidade de Petrpolis, os perodos chuvosos contribuem e muito para os problemas de

    UR incorretos com relao a infiltraes e mofo no MCSD, principalmente os materiais

    de origem orgnica devido sua caracterstica higroscpica16, entre estes materiais

    podemos citar a madeira com um exemplo, logo ela reage com relao umidade do

    ambiente, dilatando e contraindo, por isso a variao de UR pode causar deformaes e

    rachaduras na madeira.

    Alguns dos danos causados pela umidade e temperatura foram abordados por

    Alarco (2007, p.25), a qual afirma que a umidade incorreta pode causar o

    envelhecimento dos materiais atravs dos efeitos de dilatao e contrao alterando as

    propriedades fsicas dos materiais, diminuindo sua resistncia estrutural e conferindo

    rigidez aos materiais. O enfraquecimento dos materiais podem causar rachaduras e

    empenamentos no caso de objetos em madeira, desprendimento da camada pictrica e

    craquels em objetos com pintura e ruptura das fibras em caso de papis.

    16 a propriedade que certos materiais possuem de absorver gua.

  • 57

    Figura 35: Imagens de deteriorao por umidade proveniente de chuvas. Revestimento interno (pintura) danificados, bem

    como infiltraes em alguns pontos da casa.

    A conservao preventiva busca uma temperatura e UR de menor dano possvel,

    isso deve considerar os diversos materiais existentes na edificao e tambm em seu

    acervo. Ainda assim urgente o monitoramento ambiental para conhecimento da

    realidade como se comportam os ambientes onde se encontram os acervos- e posterior

    avaliao sobre as medidas necessrias para o controle maior da temperatura e umidade

    relativa do ar. Segundo as normas de conservao preventiva a temperatura e a UR

    devem ser cotidianamente medidas, tanto no interior como no exterior das edificaes e

    reas de acervo para manuteno das mesmas. Ideal = Medio contnua, o que

    infelizmente o museu no dispe de equipamentos adequados para tal atividade.

  • 58

    5. PROPOSTA DE TRATAMENTO

    Diante da complexidade da anlise realizada em apenas dois agentes de

    deteriorao e dos esforos que devero ser empreendidos para propor o tratamento dos

    riscos no complexo do MCSD, entendemos que somente a pesquisa com equipes

    multidisciplinares focada no monitoramento ambiental interno e externo, por meio de

    equipamentos, apontar como dever ser estruturada a proposta de tratamento.

    De acordo com a anlise acima e considerando a definio de gesto de risco

    como atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organizao no que se refere a

    riscos. [ABNT ISO GUIA 73:2009, definio 2.1], a proposta partir do

    monitoramento climtico e em campo, dentro de um determinado perodo para obteno

    do processamento estatstico desses dados, sua identificao e quantificao. Depois

    disso, eles sero comparados juntamente com mtricas de preservao, o que

    possibilitar a anlise e o estabelecimento do gerenciamento de riscos. Posteriormente a

    essas etapas sequenciais, o tratamento dos riscos ser estruturado ...de forma

    sistemtica considerando-se cinco possveis estgios de controle de riscos (evitar,

    bloquear, detectar, responder ao agente e recuperar o dano causado pelo agente) para

    cada um dos seis nveis de envoltrios (HOLLOS; PEDERSOLI JR.,p.78, 2009):

  • 59

    Regio Stio Edifcio

    1. Evitar Evitar o desmatamento para no influenciar o clima da regio.

    Evitar o assoreamento dos rios da regio desimpedindo o fluxo da gua no seu curso natural, atravs de desassoreamentos pontuais e limpeza urbana.

    Evitar construes irregulares em reas consideradas de risco.

    Evitar construes indevidas nas reas de riscos que possam destruir a pouca vegetao existente no local que responsvel pelo controle da temperatura e da umidade.

    Evitar cursos ou massas de gua prximas ao edifcio precavendo contra inundaes.

    2. Bloquear

    Bloquear o assoreamento atravs da construo de conteno de encostas no leito dos rios preventivamente.

    Bloquear ampliaes ou modificaes de construes j existentes em reas consideradas de risco.

    Bloquear o desmatamento da pouca rea arborizada ainda existente.

    Bloquear o acumulo de gua no solo canalizando-a para uma possvel drenagem do terreno

    Bloquear possveis espaos de entrada de guas pluviais e guas subterrneas.

    3. Detectar

    Monitorar o volume de chuva da regio, e as condies climticas frequentes.

    Detectar possveis mudanas no solo como a eroso.

    Detectar pontos de infiltrao no terreno.

    Observar alteraes na vegetao nativa.

    Fazer uso de equipamento de monitoramento da temperatura e da umidade relativa no edifcio. Tanto nos espaos internos quando externos.

    Ateno especial as coberturas, paredes, janelas, portas, esgoto e calhas quanto existncia de infiltraes.

    Analisar a drenagem do solo.

    Detectar pontos de infiltrao e indcios de micro-organismos, visto que grande parte do edifcio e do seu acervo composto por madeira.

    4. Responder

    A partir do monitoramento ser possvel avaliar as medidas que sero tomadas em relao as condies climticas apontadas.

    A partir do monitoramento ser possvel criar medidas preventivas de drenagem livrando o terreno do acumulo excessivo de guas pluviais, descartando-as em unidades coletoras adequadas.

    Planejar alteraes no edifcio somente depois do monitoramento ambiental, pois o conhecimento concreto de cada situao permite maior eficcia na adequao das solues.

    A partir do resultado das medies ser possvel identificar se necessrio o

    CAMADAS

    ESTGIOS

  • 60

    investimento em climatizao, inexistente no edifcio.

    Limpeza de c