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1: Eng. Amb., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 2, 6: Geol., Dr., Universidade Estadual Paulista, Departamento de Geologia Aplicada, 19-35269313, [email protected], [email protected] 3: Eng. Amb., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 4: Geogr., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 5: Eng. Amb., Dr., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE TERRENO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO ROQUE (SP) Flávio Henrique Rodrigues 1 ; José Eduardo Zaine 2 ; Tales de Diniz 3 , Juliano Oliveira Martins Coelho 4 ; Lucilia do Carmo Giordano 5 ; Fábio Augusto Gomes Vieira Reis 6 Resumo – A área do presente estudo corresponde à bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, afluente do Rio Mogi Guaçu, na região centro-leste de São Paulo, onde está localizado um trecho do Oleoduto São Paulo-Brasília (OSBRA), o qual corta diferentes terrenos, sujeitos à ocorrência de processos geológicos exógenos. Foram mapeadas dez unidades de terreno, podendo-se distinguir planícies e terraços fluviais, colinas e morros sobre rochas areníticas, diques e soleiras de diabásio sustentando morros alongados em relevo assimétrico com depósitos de talus associados, rochas pelíticas em relevo aplainado e plateaus sustentados por derrames basálticos. O método adotado baseou-se na análise integrada do meio físico, onde foram associadas informações sobre o relevo, litologia, tipos de solos e processos geológicos superficiais. Em seguida procedeu-se a análise geomorfológica relacionando os compartimentos mapeados às características morfológicas, litológicas e os processos morfogenéticos. Conclui-se que que a grande diversidade de formas de relevo da bacia do Ribeirão do Roque se deve a variedade de litotipos, os quais estão associados a superfícies em níveis altimétricos distintos, revelando o caráter espacial e cronológico dos processos de desnudação, em diferentes formas de relevo e de tipos de rochas e em uma variedade de estruturas geológicas. Abstract The area of this study corresponds to the watershed of Roque Stream, a tributary of the Mogi Guaçu River, in the central-eastern region of the State of São Paulo, where is located a section of Pipeline São Paulo-Brasília (OSBRA), which cuts different terrains, subjects to the occurrence of exogenous geological processes. Have been mapped ten terrain units, identifying plains and river terraces, mound and hills on sandstone rocks, diabase dikes and sills sustaining elongated hills in asymmetrical relief with deposits of talus associated, pelitic rocks in flattened relief and plateaus supported by basaltic flows. The method adopted was based on the integrated analysis of the physical environment, where were associated information about the relief, lithology, soils and exogenous.geological processes. Then a geomorphology analysis was performed, relating compartments mapped to morphological characteristics, lithologic and morphogenetic processes. It was concluded that the great diversity of landforms of watershed of Roque Stream is due to the variety of rock types, which are associated with surfaces at different altimetric levels, revealing the chronological nature of denudation processes in different forms of relief and of rock types and in a variety of geological structures. Palavras-Chave – Análise Geomorfológica, Depressão Periférica Paulista, Zona do Mogi Guaçu, Ribeirão do Roque, Oleoduto São Paulo-Brasília

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1: Eng. Amb., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected]

2, 6: Geol., Dr., Universidade Estadual Paulista, Departamento de Geologia Aplicada, 19-35269313, [email protected], [email protected]

3: Eng. Amb., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 4: Geogr., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected]

5: Eng. Amb., Dr., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected]

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES

DE TERRENO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO ROQUE

(SP)

Flávio Henrique Rodrigues1; José Eduardo Zaine2; Tales de Diniz3, Juliano Oliveira Martins Coelho4; Lucilia do Carmo Giordano5; Fábio Augusto Gomes Vieira Reis 6

Resumo – A área do presente estudo corresponde à bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, afluente do Rio Mogi Guaçu, na região centro-leste de São Paulo, onde está localizado um trecho do Oleoduto São Paulo-Brasília (OSBRA), o qual corta diferentes terrenos, sujeitos à ocorrência de processos geológicos exógenos. Foram mapeadas dez unidades de terreno, podendo-se distinguir planícies e terraços fluviais, colinas e morros sobre rochas areníticas, diques e soleiras de diabásio sustentando morros alongados em relevo assimétrico com depósitos de talus associados, rochas pelíticas em relevo aplainado e plateaus sustentados por derrames basálticos. O método adotado baseou-se na análise integrada do meio físico, onde foram associadas informações sobre o relevo, litologia, tipos de solos e processos geológicos superficiais. Em seguida procedeu-se a análise geomorfológica relacionando os compartimentos mapeados às características morfológicas, litológicas e os processos morfogenéticos. Conclui-se que que a grande diversidade de formas de relevo da bacia do Ribeirão do Roque se deve a variedade de litotipos, os quais estão associados a superfícies em níveis altimétricos distintos, revelando o caráter espacial e cronológico dos processos de desnudação, em diferentes formas de relevo e de tipos de rochas e em uma variedade de estruturas geológicas.

Abstract – The area of this study corresponds to the watershed of Roque Stream, a tributary of the Mogi Guaçu River, in the central-eastern region of the State of São Paulo, where is located a section of Pipeline São Paulo-Brasília (OSBRA), which cuts different terrains, subjects to the occurrence of exogenous geological processes. Have been mapped ten terrain units, identifying plains and river terraces, mound and hills on sandstone rocks, diabase dikes and sills sustaining elongated hills in asymmetrical relief with deposits of talus associated, pelitic rocks in flattened relief and plateaus supported by basaltic flows. The method adopted was based on the integrated analysis of the physical environment, where were associated information about the relief, lithology, soils and exogenous.geological processes. Then a geomorphology analysis was performed, relating compartments mapped to morphological characteristics, lithologic and morphogenetic processes. It was concluded that the great diversity of landforms of watershed of Roque Stream is due to the variety of rock types, which are associated with surfaces at different altimetric levels, revealing the chronological nature of denudation processes in different forms of relief and of rock types and in a variety of geological structures.

Palavras-Chave – Análise Geomorfológica, Depressão Periférica Paulista, Zona do Mogi Guaçu, Ribeirão do Roque, Oleoduto São Paulo-Brasília

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1. INTRODUÇÃO

Os resultados aqui apresentados fazem parte da etapa de compartimentação fisiográfica e

caracterização geológico-geotécnica preliminar, do projeto intitulado “Metodologia para Avaliação

de Áreas Sujeitas à Ocorrência de Ondas de Cheia e Corridas de Massa/Detritos: Estudo Piloto

no Duto OSBRA no Estado de São Paulo” (REIS; CERRI, 2014). Trata-se da parceria entre a

Petrobras e a Universidade Estadual Paulista, com a finalidade de avaliar as áreas potenciais a

ocorrência dos processos de ondas de cheia e corridas de massa/detritos em dutovias, tendo

como área de estudo o trecho paulista do Oleoduto São Paulo-Brasília (OSBRA).

No presente artigo, a área de estudo restringiu-se à bacia hidrográfica do Ribeirão do

Roque, um afluente da margem esquerda do Rio Mogi Guaçu, localizada entre os municípios

Leme, Pirassununga e Analândia, na porção centro-leste de São Paulo (Figura 01). Essa sub-

bacia foi escolhida como uma das áreas-alvo por apresentar grande diversidade geológica e

geomorfológica, com setores de relevo de morros sustentados por diques de diabásio, escarpas

arenito-basálticas, terraços aluviais e vales encaixados além de outras características favoráveis

ao desenvolvimento de processos de movimentos de massa e ondas de cheia, sendo a mesma

interceptada a jusante pelo OSBRA.

Juntamente com as informações depreendidas do projeto supracitado, objetiva-se

apresentar uma análise geomorfológica da bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, relacionando

os compartimentos mapeados às características morfológicas regionais e locais, bem como aos

diferentes processos geológicos superficiais que podem afetar o OSBRA.

2. MÉTODO E ETAPAS DE TRABALHO

Em termos teórico-metodológicos, a presente pesquisa baseou-se no conceito de

Sistemas de Terrenos (LOLLO, 1995), a fim de avaliar sistemicamente o meio físico, com vistas à

análise morfogenética.

Para o mapeamento das unidades de terreno da bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque,

foram reunidas informações dos mapas de declividade e altimetria, fotografias aéreas e

levantamentos de campo, integrando-as aos dados do mapa fisiográfico preliminar, quadro de

análise fotogeológica, contendo inferências geológicas, geomorfológicas, perfis típicos de solo e

comportamentos geotécnicos fotointerpretados, conforme metodologia proposta por Zaine (2011).

Em seguida, as unidades de terrenos foram caracterizadas considerando os fatores

morfogenético, associados ao contexto da província geomorfológica da Depressão Periférica

Paulista e Cuestas Basálticas. Para tanto, foram levantados trabalhos clássicos em geomorfologia

sobre o compartimento geomorfológico citado, destacando Almeida (1964), Ab’Saber (1969),

Penteado (1976), Fúlfaro (1979); Ponçano (1981) e Vieira (1982), além de Silva (2009), a qual

apresenta um revisão teórico-conceitual sobre as superfícies geomorfológicas do planalto sudeste

brasileiro.

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3. CONTEXTO GEOMORFOLÓGICO REGIONAL

A bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque possui um relevo típico de setores da Província

Geomorfológica da Depressão Periférica Paulista, com a Zona do Mogi Guaçu, e a Província das

Cuestas Basálticas, com feições tanto da cuesta interna como externa.

A Depressão Periférica Paulista consiste em um compartimento morfo-escultural em forma

de um corredor arqueado, com aproximadamente 450 km de extensão, e uma largura média de

100 km, nitidamente embutido entre as escarpas e festões mais avançados da zona de cuestas

que delimitam a borda oriental dos derrames basálticos, e o Planalto Atlântico, formado por

rochas pré-Cambrianas em áreas serranas e acidentadas. Além do predomínio de relevo pouco

acidentado, ocorrem também áreas superficiais descontínuas de corpos intrusivos magmáticos

geralmente em soleiras e diques de diabásio que desempenham papel importante na topografia.

Os principais sistemas de relevo da província são as colinas médias e amplas e os morrotes

alongados e espigões (AB’SABER, 1969; PENTEADO, 1976, PONÇANO, 1981).

Esta província geomorfológica resulta da grande escavação erosiva em rochas dos

Períodos Carbonífero, Permiano e Triássico, induzida pelo contínuo processo de peneplanização

e resposta isostática de alívio de pressão pela remoção dos sedimentos citados. O levantamento

vertical Meso-Cenozóico ocorrido na zona costeira do sudeste e sul do Brasil, cuja dinâmica não

se deu de maneira contínua, com um forte impulso no Oligoceno (39 Ma), propiciou no nas áreas

continentais adjacentes um arcabouço estrutural da Depressão Periférica. A partir do Mioceno (23

Ma), com a região novamente soerguida, uma nova fase de entalhe erosivo foi reativada,

atribuindo tal idade à atual esculturação do relevo da província, o qual reflete complexos

fenômenos denudacionais intertropicais e pediplanação extensiva (AB’SABER, 1969; FÚLFARO,

1979; VIEIRA, 1982; SILVA, 2009).

Almeida (1964) estabelece a divisão tríplice da Província da Depressão Periférica Paulista

nos seguintes compartimentos: Zona do Paranapanema ao sul, Zona do Médio Tiete na porção

central e Zona do Mogi Guaçu ao norte, cujos níveis topográficos variam de 530 a 720 m,

delimitados por regiões adjacentes em que as altitudes excedem 900 m, o que a caracteriza como

uma depressão topográfica típica. A Zona do Mogi Guaçu representa 16% da província e difere-se

relação às demais, e difere-se das demais pelo fato da Fm. Corumbataí só se mostrar em áreas

restritas de sua borda ocidental (como observado na área de estudo). As expressivas intrusões de

diabásio são características marcantes desta zona, existentes às bordas meridional e ocidental,

com dezenas de metros de espessura, formando degraus topográficos suavizados, que separa a

área sedimentar, de relevo baixo e uniforme, das altas escarpas do elevo residual da cuesta

basáltica externa (ALMEIDA, 1964).

O Rio Mogi Guaçu, ao se aproximar das estruturas basálticas, intrusivas ou efusivas, são

por elas claramente desviados, atravessando saltos e pequenas quedas em soleiras (leito

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rochoso) e sobre falhas, manifestando o condicionante estrutural na organização da rede hídrica.

Já seus afluentes, como o Ribeirão do Roque, que em seu conjunto mostra traçado dendrítico,

possuem maior adaptação às estruturas, seja por se dirigirem no sentido aproximadamente NNE

das camadas, ou por se adaptarem às direções NE e NW dos sistemas predominantes de fratura.

(ALMEIDA, 1964; AB’SABER, 1969).

Em termos de composição litológica, a Província das Cuestas Basálticas é formada por

derrames superpostos de rochas eruptivas, com mais de 100 km de extensão e com espessuras

de várias dezenas de metros. Geralmente, estes derrames recobrem arenitos das formações

Pirambóia e Botucatu, com lentes arenosas entre-cortantes e, nas partes mais elevadas, sobre os

basaltos, ocorrem arenitos do Grupo Bauru e mais jovens, como as coberturas cenozoicas

(PONÇANO, 1981).

Quanto a morfologia deste compartimento, observam-se frontes escarpados com perfis

escalonados cortados por plataformas estruturais. Os sistemas de relevo típicos são morros

amplos e arredondados e relevos residuais de mesas basálticas, além de colinas médias no

reverso da cuesta. Ocorrem também em algumas áreas pequenos platôs basálticos delimitados

por relevos do tipo encostas sulcadas por vales subparalelos, ou com cânions locais (PONÇANO,

1981, PENTEADO, 1976).

Apesar de não ser estabelecida sua subdivisão em zonas geomorfológicas, este

compartimento pode ser caracterizado em duas linhas de cuestas, denominadas cuestas externas

e internas. Enquanto que esta é contínua em todo território paulista, desenvolvendo-se desde o

Rio Grande até o Rio Paranapanema, a cuesta externa ocorre desde Minas Gerais de forma

menos contínua, perdendo sua altura junto ao vale do Rio Pardo, até descaracterizar-se por

completo a SW do Rio Mogi Guaçu, configurando-se apenas como um degrau topográfico.

A ocorrência da Província das Cuestas Basálticas na bacia do Ribeirão do Roque é

observada à margem esquerda do rio Mogi Guaçu, onde a continuidade da cuesta externa é

comprometida pelo crescimento da espessura dos arenitos infrabasálticos e interrupções do

conjunto inferior (ALMEIDA, 1964). Os basaltos prosseguem de forma descontínua e sustentam

um nítido degrau entalhado pelo Rio Descaroçador, seguindo para SW, derrames baixos,

intercalados no pacote de arenito Botucatu, apresentando-se na superfície de maneira isolada.

A partir da travessia do Rio Mogi Guaçu pela cuesta interna, e seguindo em direção ao sul,

observa-se um relevo basáltico muito festonado, devido às intercalações de arenitos entre os

derrames basálticos. Esta forma de relevo residual encontra-se restrita a dois setores na porção

oriental da bacia do Ribeirão do Roque, representados pela Serra do Cuscuzeiro (NW) e Morro

Grande (WNW), sendo este, um alto testemunho isolado da cuesta interna, avançado no espigão

divisor de águas do Rio Mogi Guaçu e o Rio Tietê (ALMEIDA, 1964; PENTEADO, 1976).

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4. UNIDADES DE TERRENO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO ROQUE

A bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque possui uma área de aproximadamente 500 km2,

localizada na porção central da Depressão Periférica Paulista, na Zona do Mogi-Guaçu

(ALMEIDA, 1964). O meio físico analisado caracteriza-se pela grande diversidade de formas de

relevo e litotipos, correlatos às rochas paleozoicas e mesozoicas da Bacia Sedimentar do Paraná,

distribuídos em dez unidades de terreno, conforme observado na Figura 01.

Figura 01: Mapa de Unidades de Terreno da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque (SP)

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A travessia do OSBRA (Figura 02) é feita em uma planície aluvionar do Ribeirão do

Roque, na Unidade I, com presença de um pequeno meandro abandonado, sobre uma soleira de

diabásio da Unidade VI. O local apresenta certa estabilidade geotécnica com presença de rachão

de rocha para controle do processo erosivo nas margens e a travessia é feita em cavalete

diretamente na rocha (diabásio), o que propicia uma proteção adicional.

Figura 02: Perfil topográfico e material de subsuperfície na travessia do OSBRA no Ribeirão do Roque

O Quadro 01 traz a síntese das características geológicas, geomorfológicas e de materiais

inconsolidados, além da classificação das unidades segundo os critérios de fotoanálise e

fotointerpretação (propriedades e atributos geotécnicos interpretados), e informações de campo.

Quadro 1 – Análise integrada do meio físico da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque

(Parte 1) Unidades de Terreno

I II III IV Va

Subsuperfície (geologia)

Planície Aluvial Terraços Fluviais Coberturas cenozóicas

Arenitos da Fm. Itaqueri

Arenitos da Fm. Botucatu e Basaltos da Fm. Serra Geral

Denominação (litologia/materiais e relevo)

Areias, cascalhos e argilas em

planícies fluviais

Materiais dominantemente

arenosos em terraço fluvial

Colúvios e coberturas com

solos lateríticos em relevos colinosos

Arenitos em topos de Cuestas

Arenitos e Basaltos em relevos de

escarpas

Fo

toanális

e

Drenagem e relevo

Densidade textural

Baixa Baixa Baixa Baixa Média a alta

Formas de relevo

Amplitude local

Baixa Baixa Baixa Baixa a média Alta

Declividade Baixa (plana)

Baixa Baixa Baixa Alta

Formas de topo e vale

Vales Abertos e superfícies plainas

Vales Abertos e superfícies planas

Vales Abertos e superfícies planas

Vales abertos e topos arredondados

Vales fechados

Formas de encosta

Superfícies planas Superfícies planas Convexas Côncavas Retilíneas

Estrutura Tropia Não orientada Não orientada Não orientada Não orientada Não orientada

Feições particulares Meandros e depósitos de

assoreamento - - Voçorocas

Escorregamento blocos

Fo

toin

terp

reta

ção

Drenagem e relevo Alta Alta Alta Média Baixa a média

Espessura do manto de alteração

Média Alta Alta a Média Média Baixa

Resistência à erosão natural (dureza)

Baixa Baixa Baixa Baixa Alta a Média

Potencialidade a movimentos

gravitacionais Baixa Baixa Baixa Baixa a média Alta a Média

Composição e estrutura Homogênea Homogênea Homogênea Homogênea Homogênea

Afloramentos e blocos rochosos

Ausentes Ausentes Ausentes Ausentes Presentes

Observa-ções de campo

Processos geológicos

Erosão fluvial e assoreamento

Erosão Erosão Erosão Rastejo,

Escorregamento e queda de blocos

Uso da terra Mata ciliar Pasto e Cana Pasto e Cana Agricultura Vegetação Nativa

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Quadro 1 (continuação) – Análise integrada do meio físico da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque

(Parte 2) Unidades de Terreno

Vb VI VII VIII IX X

Subsuperfície (geologia)

Depósito de Talus

Diabásio – diques e soleiras

correlatas a Fm. Serra Geral

Arenitos das Fm. Pirambóia e

Botucatu

Arenitos da Fm. Pirambóia

Siltitos e argilitos da Fm.

Corumbataí

Folhelhos, calcários e sílex

da Fm. Irati e siltitos e

arenitos da Fm Tatui

Denominação (litologia/materiais e relevo)

Material inconsolidado proveniente de intemperismo e

ação da gravidade no

sopé de Cuestas

Diabásio em relevo de morrotes

alinhados e encostas

íngremes Talus e colúvios

associados

Arenitos e solos arenosos em

relevo de encostas suaves

Arenitos e solos arenosos em

relevo de meia encosta

Siltitos e argilitos em relevo de meia encosta

Folhelhos, calcários e sílex

da Fm Irati e siltitos e

arenitos da Fm Tatui em relevo de meia encosta

Fo

toanális

e

Drenagem e relevo

Densidade textural

Média Média Baixa Média Média a alta Média a alta

Formas de relevo

Amplitude local

Média Alta Baixa Média Baixa Baixa

Declividade Baixa Alta Baixa Baixa a Média Baixa a Média Baixa a Média

Formas de topo e vale

Vales abertos e topos

arredondados

Vales Abertos e topos angulosos a arredondados

Vales abertos e topos

arredondados

Vales Fechados e topos

arredondados

Vales abertos e topos

arredondados

Vales abertos e topos

arredondados

Formas de encosta

Convexas Côncavas e

retilíneas Convexas

Côncavas e retilíneas

Convexas e Côncavas

Convexas e Côncavas

Estrutura Tropia Não orientado Orientada (diques)

Não orientada Não orientada Não orientada Não orientada

Feições particulares Ravinas Cristas

orientadas Escorregamento

Ravinas e Voçorocas

Ravinas - -

Fo

toin

terp

reta

ção

Drenagem e relevo Média Média Alta Alta a média Baixa Baixa

Espessura do manto de alteração

Média a Baixa Baixa a alta Alta Média a Baixa Baixa Baixa a média

Resistência à erosão natural (dureza)

Baixa Alta Baixa Média a Baixa Média Média

Potencialidade a movimentos

gravitacionais Alta a Média Alta a Média Baixa Baixa Baixa Baixa

Composição e estrutura Homogênea Homogênea a Heterogênea

Homogênea Heterogênea Heterogênea Heterogênea

Afloramentos e blocos rochosos

Raros Presentes Ausentes

(raros) Ausentes Ausentes Ausentes

Observa-ções de campo

Processos geológicos

Erosão

Rastejo e Escorregamento

e queda de blocos

Erosão Erosão Empastilha-

mento Empastilha-

mento

Uso da terra Pasto e Cana Pasto Pasto e Cana Pasto e Cana Pasto e Cana Pasto e Cana

As unidades representadas pelas planícies fluviais (I), terraços (II) e coberturas

coluvionares (III) compõem as formas de relevo mais suaves a leste da área. Na porção central, o

relevo colinoso está associado às rochas paleozoicas (unidades IX e X), enquanto que as formas

mais dissecadas são compostas por rochas mesozoicas e paleozoicas (unidades de VI a VIII).

São observadas a oeste rochas areníticas sobre os relevos cuestiformes das unidades IV e V.

A unidade I, formada por sedimentos quaternários, caracteriza-se por superfícies planas

junto às drenagens principais da bacia, com desenvolvimento de planícies aluviais, entreposta em

colinas e morros amplos, principalmente ao longo dos Ribeirões do Moquém, do Descaroçador,

do Arouca e do Roque. Nesta unidade é encontrada a travessia do OSBRA (Fig. 02), estrutura

esta sujeita aos processos erosivos fluviais bem como ondas de cheias. A unidade II ocorre

próximo à foz da bacia, identificada pelo terraço fluvial entre o Ribeirão do Roque e o Rio Mogi

Guaçu, em uma superfície plana e irregular, onde é observada a surgência da água subterrânea

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formando lagoas de topo que alimenta pequenos cursos d’água. Esta unidade caracteriza-se pela

erosão hídrica linear, mobilizando sedimentos flúvio-lacustres cenozoicos inconsolidados. As

coberturas cenozoicas da unidade III caracteriza-se por sedimentos indiferenciados retrabalhados

de outras rochas (colúvios), associadas à superfície erosivas e estendem-se sobre os topos

aplainados em colinas amplas e suaves.

A centro-leste da área ocorrem as rochas paleozoicas, dominantemente pelíticas, das

formações Corumbataí, Irati e Tatuí, definidas respectivamente como unidades IX e X, em setores

de meia e baixa encosta, em um terreno sujeito aos processos de empastilhamento. A unidade IX

diferencia-se da unidade X por apresentar maior densidade textural, o que está relacionada ao

maior aporte hídrico e erosão linear mais intensa.

Os diques e soleiras de diabásio formam os morrotes alongados e espigões da unidade

VI, com encostas íngremes e topos anguloso, susceptíveis aos processos de rastejo,

escorregamento e queda de blocos. Os arenitos das formações Pirambóia e Botucatu

caracterizam-se pelos degraus estruturais a oeste da área e rebordos erosivos típicos do relevo

de morros amplos de encostas suaves da unidade VII. Já unidade VIII, formada por rochas da

Fm. Pirambóia, é definida por um relevo formado por colinas amplas com interflúvios

arredondados, vales fechados e encostas dissecadas, resultantes pela menor resistência ao

entalhe erosivo da drenagem.

Caracterizada pelo relevo do tipo platô, a sub-unidade Va é formada por encostas verticais

com feições de instabilidade como ravinamento e fraturas com quedas de blocos rochosos. Os

materiais inconsolidados da sub-unidade Vb, caracterizam-se por sedimentos quaternários

provenientes do intemperismo das cuestas e movimentos gravitacionais de queda de blocos e

escorregamentos de solo e rocha, com a deposição deste material no sopé do relevo escarpado.

Sobre este relevo, a unidade IV ocorre de forma localizada formando um relevo suave com topos

arredondados e vales abertos. A seguir, as Figuras 03 e 04 apresentam os perfis topográficos e

seções geológicas indicados no mapa da Figura 01, ilustrando as rochas/materiais de

subsuperfície e formas de relevos das dez unidades de terrenos da bacia do Ribeirão do Roque.

Legenda

Figura 03: Perfil topográfico DE e material de subsuperfície da bacia hidrográfica Ribeirão do Roque

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Legenda

Figura 04: Perfil topográfico ABC e material de subsuperfície da bacia hidrográfica Ribeirão do Roque

Page 10: ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E CARACTERIZAÇÃO DAS …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/336.pdf · Em seguida procedeu-se a análise geomorfológica relacionando os compartimentos

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da paisagem a partir de uma sequencia evolutiva de processos de

desnudação com a progressiva mudança da forma do relevo encontra-se impressa nas unidades

de terreno mapeadas. Na bacia do Ribeirão do Roque, como em toda a Depressão Periférica

Paulista e Cuestas Basálticas, estes eventos resultaram no gradual rebaixamento de topos e

interflúvios com a suavização da inclinação das vertentes e escalonamento topográfico.

A grande diversidade de formas de relevo da área estudada se deve a variedade de

litotipos, os quais estão associados a superfícies em níveis altimétricos distintos (Figuras 03 e 04),

revelando o caráter espacial e cronológico dos processos de desnudação (intemperismo, erosão

e movimentos de massa) sobre tipos de rochas e em uma variedade de estruturas geológicas.

A definição da bacia hidrográfica como unidade de análise dos elementos do meio físico

corrobora para compreensão integrada dos condicionantes de estabilidade de obras de

infraestrutura, como no caso do OSBRA. Conclui-se, portanto, que o mapeamento das unidades

de terreno numa escala de semi-detalhe, acompanhado pela contextualização geomorfológica

regional e análise morfogenética, permitirá a avaliação sistêmica do comportamento geotécnico e

dos processos geológicos exógenos que podem afetar direta e indiretamente o referido duto.

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