Anestesicos Dissociativos-cavidade Oral

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Bittencourt, R.H.F.P.M., Silva, M.C., Moreira, V.M.T.S. et al. Diazepam, acepromazina e quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). PUBVET, Londrina, V. 3, N. 8, Art#520, Mar1, 2009. PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=520>. Diazepam, acepromazina e quetamina nas afecções periodontais de cães (Canis familiares, Lin.). Ruth Helena Falesi Palha de Moraes Bittencourt 1 , Moacir Cerqueira Silva 1 , Vania Maria Trajano da Silva Moreira 1 , Fernando Elias Rodrigues Silva 1 , Paulo Henrique Sá Maia 2 , Ingride de Sousa Costa 3 1 Professores na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) – Belém – Pará. 2 Médico Veterinário – Clínica Veterinária OdontoPet 3 Acadêmica de Medicina Veterinária - UFRA RESUMO A doença periodontal acomete cães e gatos, sendo necessária a utilização de anestesia para que o tratamento desta afecção seja realizado. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia da utilização do diazepam na dose de 0,5 mg/kg, precedendo a associação de maleato de acepromazina na dose de 1mg/kg e quetamina na dose de 10mg/kg em 49 cães de várias raças e com idade variando entre 12 e 180 meses submetidos a tratamentos de afecções periodontal. A anestesia em dois animais foi complementada com a anestesia do

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PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=520>.

Diazepam, acepromazina e quetamina nas afecções periodontais de cães

(Canis familiares, Lin.).

Ruth Helena Falesi Palha de Moraes Bittencourt1, Moacir Cerqueira Silva1, Vania

Maria Trajano da Silva Moreira1, Fernando Elias Rodrigues Silva1, Paulo Henrique

Sá Maia2, Ingride de Sousa Costa3

1 Professores na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) – Belém – Pará. 2 Médico Veterinário – Clínica Veterinária OdontoPet 3 Acadêmica de Medicina Veterinária - UFRA

RESUMO

A doença periodontal acomete cães e gatos, sendo necessária a utilização de

anestesia para que o tratamento desta afecção seja realizado. O presente

trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia da utilização do diazepam na dose

de 0,5 mg/kg, precedendo a associação de maleato de acepromazina na dose de

1mg/kg e quetamina na dose de 10mg/kg em 49 cães de várias raças e com

idade variando entre 12 e 180 meses submetidos a tratamentos de afecções

periodontal. A anestesia em dois animais foi complementada com a anestesia do

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nervo infraorbitário e do mentoniano. A anestesia com diazepam, acepromazina e

quetamina, nas doses utilizadas, promoveu anestesia eficaz para a realização de

intervenções dentárias em cães, por aproximadamente 42,78 ± 15,36 minutos,

sem que tenha sido observada alterações significativas sobre a freqüência

cardíaca, entretanto deve-se considerar o aparecimento de tremores, vocalização

e deambulação durante o período de recuperação dos animais. A associação não

promove analgesia suficiente para extrações dentárias, devendo ser empregada

anestesia regional complementar.

Palavras-chave: diazepam+acepromazina+quetamina; afecções periodontais;

cães.

Diazepam, acepromazine and ketamine in the periodontal disease of dogs

(Canis familiares, Lin.).

ABSTRACT

The disease periodontal attacks dogs and cats and so that the treatment of this

disease is accomplished becomes necessary the anesthesia use. The present work

had as objective evaluates the effectiveness of the use of the diazepam in the

dose of 0,5 mg/kg, preceding the association of acepromazine maleato in the

dose of 1mg/kg and ketamine in the dose of 10mg/kg in 49 dogs of several races

and with age varying between 12 and 180 months submitted to treatments of

periodontal disease. The anesthesia in two animals was complemented with the

anesthesia of the nerve infraorbitario and of the mentoniano. The anesthesia with

diazepam, acepromazine and ketamine, in the used doses, promoted effective

anesthesia for the accomplishment of dental interventions in dogs, for

approximately 42,78 ± 15,36 minutes, without it has been observed significant

alterations on the heart frequency, however he/she should be considered the

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emergence of tremors, vocalization and to have been staggering during the

period of recovery of the animals. The association does not promote enough

analgesia for dental extractions, should be used complemental regional

anesthesia.

Keyword: diazepam+acepromazine+ketamine; periodontal disease; dogs.

1 INTRODUÇÃO

Procedimentos odontológicos em cães e gatos tornaram-se rotina na

clínica-cirúrgica de pequenos animais, entretanto, o tratamento das periodontites

ou doenças periodontais como endodontia e exodontia requer analgesia, sendo o

uso de agentes com ação analgésica requisitado, associado ou não a anestesia

regional.

Para que o médico veterinário possa intervir na cavidade oral dos

animais domésticos, se faz necessário que os pacientes estejam anestesiados,

possibilitando uma ação segura do profissional, que para isso, devem utilizar

protocolos anestésicos que permitam a manipulação da cavidade bucal dos cães

sem que eles manifestem reações ao estímulo doloroso.

A anestesiologia veterinária desde o fim do século passado se

desenvolveu de forma célere, tanto na utilização de anestesia geral quanto

dissociativa em suas diversas associações, tornando essas anestesias mais

técnicas e éticas e ainda uma opção à anestesia geral. O emprego de associações

anestésicas visa acentuar os efeitos favoráveis, abolindo ou atenuando os

desfavoráveis produzidos por seus componentes isoladamente, resultando em

recurso anestésico seguro.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a utilização da associação do

maleato de acepromazina e quetamina em cães pré-anestesiados com o

diazepam, complementada ou não por técnicas anestésicas regionais do nervo

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infra-orbitário e mentoniano nos tratamentos de afecções periodontais que

acometem cães, considerando tempo hábil anestésico, comportamento da

freqüência cardíaca e aparecimento de efeitos adversos promovidos pelos

fármacos utilizados.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 DOENÇAS PERIODONTAIS

Alterações mórbidas da cavidade oral dos animais têm sido abordadas

visando à melhoria da qualidade e aumento da expectativa de vida dos animais

de companhia e trabalho, bem como a eliminação do incômodo que tais

patologias ocasionam a eles e seus proprietários 38.

O tratamento da doença periodontal (tartarectomia) seguro e bem feito

necessita de apoio anestésico, mesmo os cães acometidos de problemas

cardíacos têm sido submetidos a esta remoção mediante anestesia volátil, após

serem devidamente medicados por seus veterinários cardiologistas, pois o risco

de ficarem à mercê das bactérias orais é maior do que se submeterem a

anestesia 42.

A doença periodontal se caracteriza pela destruição do sistema de

sustentação do dente levando à perda do mesmo, infecção local ou ainda à lesões

de órgãos internos, onde bactérias presentes em lesões na cavidade oral podem

penetrar à corrente sangüínea e se acumular em outros órgãos, principalmente

nos rins, fígado e coração, causando lesões (anacorese – Figura 1) 12; 27.

Como síndrome clínica, a doença periodontal parece ser uma progressão

dos processos denominados gengivite (processo inflamatório que acomete a

gengiva) e periodontite (quando envolve a unidade gengival e se estende, após

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invadir a junção dento gengival, os ligamentos periodontais, osso alveolar e

cemento) (Figura 2) 3; 5; 9; 10; 14; 16; 27.

2.2 ANESTESIA

Os procedimentos dentários somente serão seguros se realizados sob

anestesia geral, uma vez que na utilização dessa técnica os movimentos

voluntários ou involuntários da mandíbula serão abolidos 13.

Desde os primórdios da anestesiologia, tem-se tentado associar

diversos fármacos para se obter anestesia adequada ao procedimento cirúrgico

proposto, aliada à segurança e praticidade em seu emprego. Com o advento de

novas técnicas e a introdução de agentes anestésicos dotados de diferentes

características, o arsenal de que o profissional dispõe oferece ao anestesista uma

ampla gama de opções 25.

Fig. 2 – Evolução da doença periodontal

Fonte: Ramos28

Fig. 1 – Anacorese

Fonte: Odontologia42

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2.2.1 Diazepam

O diazepam é o benzodiazepínico mais amplamente utilizado na

medicina canina, que abranda o medo e a ansiedade sem causar sedação 15. Esse

agente pouco altera os parâmetros, sendo indicado por agir no sistema límbico,

causando miorrelaxamento e discreta analgesia 21.

Apresenta efeitos aditivos ou sinérgicos com outros fármacos usados

para produzir anestesia geral 24. De acordo com Roza31 os benzodiazepínicos

podem ser usados para reduzir os efeitos psicodislépticos produzidos pela

quetamina. O diazepam é considerado como um sedativo pré-operatório

relativamente seguro em pacientes com comprometimentos cardíacos ou doenças

metabólicas devido seus efeitos cardiopulmonares mínimos 8.

Thurmon, Tranquilli e Benson40, recomendaram, para cães sadios,

doses de diazepam, como medicação pré-anestésica entre 0,1 e 0,5mg/kg, já

Muir e Hubbell24 e Greene13 indicaram doses variando de 0,2mg/kg a 0,4mg/kg,

enquanto Massone21 indicou doses de 1 a 2mg/kg. Roza31 relatou doses de

diazepam variando de 0,2 a 1mg/kg para minimizar os efeitos indesejáveis da

quetamina.

2.2.2 Acepromazina

O maleato de acepromazina é o agente fenotiazínico mais comumente

utilizado na medicação pré-anestésica Veterinária, promovendo tranquilização

leve, sem que ocorra “desligamento” do meio ambiente 7, produz sonolência e

hipotonia muscular com diminuição dos reflexos motores 30, além de potencializar

a ação de agentes anestésicos dentre os quais os dissociativos 33.

Sobre a atividade cardiovascular, os agentes fenotiazínicos determinam

bloqueio α-adrenérgico, dependente da dose, com diminuição da regulação

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vasomotora, levando a hipotensão 26 e taquicardia reflexa, possuindo, entretanto,

características arrítmicas 33. Segundo Gleed11, o débito e a freqüência cardíaca

não se alteram significativamente após doses clínicas do maleato de

acepromazina, entretanto, Stepiens et al.37, observaram redução no débito

cardíaco e volume sistólico sem alteração da freqüência cardíaca em cães.

Archibald1 citou doses de 0,10 mg/kg a 0,25 mg/kg IM, até a dose total

de 7,5 mg/kg para utilização em cães, enquanto que Short32 recomendou doses

de 0,5 mg/kg IV e de 1,0 mg/kg pela via IM, já Soma34 referiu que para cães,

doses do maleato de acepromazina de 0,05 mg/kg quando administrado através

da via venosa (IV).

Hall15 citou a dose de 0,025 a 0,1 mg/kg de acepromazina como sendo

adequada para a pré-medicação além de ressaltar que uma dose de 0,05 mg/kg é

adequada para todos os propósitos práticos. Segundo Fantoni e Cortopassi7 a

dose de acepromazina normalmente empregada em pequenos animais, varia de

0,05 a 0,1 mg/kg quando administrada pela via IV, não sendo recomendado

ultrapassar a dose total de 3 mg nos cães.

Thibaut, Rivera e Ahumada39 referiram doses de acepromazina variando

entre 0,5 e 1,5 mg/kg para serem administradas tanto pela via intravenosa como

intramuscular e oral. Massone21 recomendou a utilização de acepromazina na

concentração de 0,2% para cães nas doses de 0,1 a 0,2 mg/kg administradas

pelas vias IV, IM e SC, já Roza31 referiu doses desse fármaco, nesta espécie,

variando de 0,03 a 0,1 mg/kg, sendo a dose máxima de 3 mg independente do

peso do paciente e Greene13 recomendou doses de 0,02 a 0,1 mg/kg IM para

serem utilizadas em cães.

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2.2.3 Quetamina

O cloridrato de quetamina é um derivado do cloridrato de fenciclidina

(phencyclidine hydrochloride – PCP) 22, sintetizado por Stevens em 1965, tendo

como principal uso a anestesia em humanos e animais 40. É referido na literatura

como anestésico dissociativo, devido à perda sensorial marcante e analgesia,

assim como amnésia e paralisia do movimento, sem perda real da consciência,

ocorrendo intensa sensação de dissociação do meio 23; 29.

Fantoni e Cortopassi7 relataram a duração da anestesia com quetamina

administrada através da via intravenosa sendo de aproximadamente 30 a 40

minutos, dependendo do tipo de medicação pré-anestésica empregada.

Massone21 referiu o tempo hábil anestésico promovido pela quetamina, por

injeção intravenosa, entre 30 a 45 minutos e Thurmon, Tranquilli e Benson40

referiram a anestesia perdurando entre 10 a 20 minutos após administração do

agente por essa via de administração.

De acordo com Beck4 a quetamina produz anestesia cataleptóide, de

efeito rápido e profunda analgesia. De acordo com Souza et al.35, a quetamina é o

agente dissociativo mais comumente usado para anestesia em cães.

No contexto geral, tem-se que a quetamina eleva a freqüência cardíaca,

aumenta a pressão arterial, e a pressão na artéria pulmonar, da mesma forma

que aumenta a resistência vascular periférica e as pressões intracraniana e intra-

ocular6; 17; 18; 19; 36. Em relação ao sistema cardiovascular, a quetamina provoca

elevação na pressão arterial, freqüência cardíaca e débito cardíaco6; 35.

A principal desvantagem desse agente é a ocorrência de delírios e

comportamentos irracionais durante a recuperação, por isso seu uso é indicado

em conjunção com um benzodiazepínico2.

Thurmon, Tranquilli e Benson40 indicaram doses de quetamina variando

entre 2mg/kg a 10mg/kg IV ou IM para uso em cães, entretanto, ressaltaram,

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que o agente não deve ser utilizado isoladamente nessa espécie e sugeriram

associações com diazepam na dose de 0,28 mg/kg IV com 5,5 mg/kg IV de

quetamina ou de acepromazina na dose de 0,2 mg/kg com 10 mg/kg de

quetamina IV.

Muir e Hubbell24 sugeriram a associação 0,2 mg/kg IV de diazepam com

5 mg/kg IV de quetamina para anestesiar cães. Fantoni e Cortopassi7 citaram,

para utilização em cães, associações de acepromazina na dose de 0,5 mg/kg IM e

10 mg/kg IV de quetamina ou 0,25 a 0,75 mg/kg IV de diazepam com 2,5 a 7,5

mg/kg IV de quetamina para indução da anestesia e Massone21 recomendou para

utilização em cães, doses de 10 a 15mg/kg administradas através da via

intramuscular e de 2 a 6mg/kg quando administrada por via intravenosa.

3 METODOLOGIA

Quarenta e nove cães (Canis familiaris), de raças, idades variadas e

ambos os sexos, foram anestesiados no setor cirúrgico da Clínica Veterinária

Odonto Pet para tratamento de doenças periodontais.

Os animais foram anestesiados com a associação de acepromazina e

cloridrato de quetamina precedido pelo diazepam. Nos casos em que maior

analgesia foi requerida, anestesia regional dos nervos infra-orbitário e

mentoniano foi realizada.

Os animais após anamnese, avaliação clínica e restrição hídrica e

alimentar de 6 horas, foram pesados e pré-anestesiados com diazepam nas doses

de 0,5 mg/kg, após aproximadamente um minuto receberam o maleato de

acepromazina nas doses de 0,1 mg/kg associado ao cloridrato de quetamina na

dose de 10 mg/kg. Os medicamentos foram administrados através da via venosa,

na veia cefálica, a qual foi mantida com solução salina de cloreto de sódio a 0,9%

na dose de 4 mL/kg/h. Quando se fez necessário aprofundar o plano anestésico

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administrou-se cloridrato de quetamina associado ao maleato de acepromazina

nas doses de 5 mg/kg e 0,05 mg/kg, respectivamente.

Para promoção dos bloqueios anestésicos regionais dos nervos

infraorbitário e mentoniano, utilizou-se o cloridrato de lidocaína a 2% na dose de

0,5mL. O nervo infraorbitário foi bloqueado, conforme descrito por Fantoni e

Cortopassi7, enquanto que o nervo mentoniano foi anestesiado através da técnica

do botão anestésico, onde o anestésico era depositado sobre o nervo,

rostralmente ao meio do forame mentoniano ao nível do segundo dente pré-

molar.

As freqüências cardíacas (FC) dos animais foram aferidas antes da

administração dos fármacos (tempo zero) e a cada 10 minutos após a anestesia.

O período hábil anestésico foi avaliado como iniciando no momento em que os

animais apresentaram relaxamento mandibular e muscular e “desligamento” e

encerrado no momento em que os animais manifestavam resposta ao reflexo

interdigital em um dos membros posteriores.

Os resultados foram analisados estatisticamente através da Análise

Descritiva, considerando o nível de confiabilidade para a média de 95%.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias das FCs avaliadas no tempo zero (0), sem medicação, e a

cada 10 minutos da administração do Diazepam+Acepromazina+Quetamina,

encontram-se referidas na Tabela 1.

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Tabela 1 – Apresentação das médias e desvios-padrão (DP) das

freqüências cardíacas (FCs) nos tempos avaliados.

TEMPOS AVALIADOS

NÚMERO DE

ANIMAIS

MÉDIAS ± DP

FCs (bpm)

Tempo Zero (sem medicação) 49 126 ± 21

Durante os 10 minutos

iniciais

49 141 ± 20

Aos 20 minutos 49 132 ± 20

Aos 30 minutos 47 131 ± 19

Aos 40 minutos 40 132 ± 19

Aos 50 minutos 32 129 ± 16

Aos 60 minutos 23 127 ± 31

Aos 70 minutos 19 133 ± 18

Aos 80 minutos 9 122 ± 16

Aos 90 minutos 6 118 ± 14

Aos 100 minutos 4 126 ± 25

Aos 110 minutos 1 128

Aos 120 minutos 1 132

Pode-se observar na Tabela 1 que após 10 minutos da anestesia, a FC

se mostrou elevada quando comparada aquela no tempo zero onde os animais

ainda não tinham sido submetidos a qualquer procedimento anestésico,

mantendo-se elevada até, aproximadamente, 40 minutos de anestesia. Doenicke,

Kugler e Mayer6 e Souza35, referiram a quetamina promovendo elevação na FC e,

considerando que a duração da anestesia com quetamina é de aproximadamente

30 a 40 minutos, dependendo do tipo de medicação pré-anestésica utilizada,

como referido por Fantoni e Cortopassi7, pode-se inferir à quetamina o aumento

na FC.

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A Tabela 2 mostra os períodos anestésicos hábeis obtidos com a

associação anestésica utilizada, considerando que doses complementares foram

realizadas em alguns casos. O período hábil anestésico avaliado foi aquele

iniciado com a observação de relaxamento mandibular e muscular e o

“desligamento” dos animais, e encerrando-se no momento em que os pacientes

apresentavam resposta ao reflexo interdigital em um dos membros posteriores.

Tabela 2 – Demonstrativo das médias e respectivos desvios-padrão do

período anestésico

Período

Anestésico

Sem reforço

(minutos)

Média ± DP

Período

Anestésico

Após a 1ª dose

de reforço

(minutos)

Média ± DP

Período

anestésico

Após a 2ª dose

de reforço

(minutos)

Média ± DP

Período Anestésico

Após a 3ª dose

de reforço

(minutos)

Média ± DP

42,78 ± 15,36

24,56 ± 9,55

46,82 ± 14,71

75,0 ± 42,43

Como pode ser observado na Tabela 2, o período hábil anestésico, sem

doses complementares, foi em média de 42,78 ± 15,36 minutos, período

anestésico semelhante aqueles descritos por Fantoni e Cortopassi7 que relataram

que a anestesia com quetamina pode perdurar por aproximadamente 30 a 40

minutos dependendo do tipo de medicação pré-anestésica empregada, e

Massone21 que referiu o tempo hábil anestésico promovido pela quetamina

atingindo de 30 a 45 minutos. Sendo contrário, entretanto ao aludido por

Thurmon, Tranquilli e Benson40 que referiram a duração da anestesia promovida

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pela quetamina entre 10 e 20 minutos após administração do agente através da

via intravenosa.

Anestesias regionais no nervo infraorbitário e no nervo mentoniano,

complementaram a anestesia com quetamina+acepromazina e diazepam em dois

animais, visto que extrações dentárias se fizeram necessárias e por ora da

tentativa do procedimento, verificou-se que os animais sentiam dor.

Tremores musculares, deambulação e vocalização foram observados

durante o período de recuperação dos animais, o que pode ser explicado pela

ativação simpática causada pela quetamina, conforme referiram Luna et al.20 ao

observarem animais anestesiados com esse agente anestésico que apresentaram

as mesmas manifestações.

5 CONCLUSÕES

A utilização de 0,5mg/kg de diazepam com 0,1 mg/kg de acepromazina

e 10mg/kg de quetamina promovem anestesia eficaz para a realização de

intervenções para o tratamento de doenças periodontais em cães, por

aproximadamente 42,78 ± 15,36 minutos, sem que seja observada alterações

significativas sobre a freqüência cardíaca, entretanto deve-se considerar o

aparecimento de tremores, vocalização e deambulação durante o período de

recuperação dos animais;

A associação não promove analgesia suficiente para extrações

dentárias, devendo ser empregado anestesia regional complementar.

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