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ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA 15/09/2017
Centro de Estudos
CONSTELAÇÕES FAMILIARES
40ª PALESTRA DO PROJETO HORIZONTES DO
CONHECIMENTO
CONSTELAÇÕES FAMILIARES APLICADAS AO
JUDICIÁRIO
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Bom-dia a todos. Daremos
início a mais uma reunião do Centro de Estudos, do Projeto Horizontes do
Conhecimento.
No encontro de hoje, vamos abordar um tema de Direito de
Família. Eu passo a coordenação do evento ao Des. Luiz Felipe Brasil Santos,
que também é Coordenador do Centro de Estudos, na área do Direito Privado,
em especial na área do Direito de Família, que é a sua especialidade, tanto na
área de estudos, como professor, palestrante e Desembargador que atua na
Câmara de Família.
Nós temos três palestrantes convidadas, e o Des. Luiz Felipe
fará a apresentação, que tratarão deste tema novo no Poder Judiciário, que
diz respeito às Constelações Familiares, uma metodologia de solução de
conflitos familiares que ora se apresenta.
Neste evento haverá uma parte inicial de apresentação
teórica, de exposição, pelas três palestrantes convidadas, sobre como isso
funciona. Depois, está prevista uma parte prática, um exercício, uma
demonstração da metodologia. E também pretendemos, se o tempo permitir,
ao final, em uma terceira parte, abrir espaço para questionamentos, para
perguntas, para as contribuições do auditório.
Agradeço pelo comparecimento de todos, agradeço às nossas
palestrantes, que vieram de longe, que viajaram para estar aqui hoje conosco.
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É uma honra recebê-las. Agradeço ao Des. Luiz Felipe, a quem passo a
palavra para o prosseguimento do evento.
DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS – Bom-dia a todos!
Minha saudação especial às nossas palestrantes.
Vamos direto ao assunto, fazendo uma apresentação breve.
Da direita para esquerda, temos a Juíza de Direito de Parobé, Dr.ª Lizandra
dos Passos, que é a idealizadora do Projeto Justiça Sistêmica naquela
Comarca. E, não por acaso, ou talvez em parte por acaso, ontem tivemos aqui
em Porto Alegre a instalação de um projeto idêntico que vai começar também
na Comarca de Porto Alegre.
Pois bem, a segunda palestrante, a Sr.ª Cristiane Pan Nys, é
psicóloga, especialista em Psicologia Clínica, Terapia Sistêmica de Família e
Consteladora; é também co-criadora do Projeto Justiça Sistêmica.
E, à minha direita, temos a Sr.ª Cândice Cristina Schmidt,
psicóloga, especialista em Psicologia Organizacional e Terapia Sistêmica,
Consteladora e co-criadora do Projeto Justiça Sistêmica.
Então, como é para isso que vocês estão aqui, vamos passar
direto ao nosso tema. O Colega Ney e eu vamos nos retirar e deixar o palco à
disposição das três.
Bom trabalho!
DR.ª LIZANDRA DOS PASSOS (JUÍZA DE DIREITO) – Bom-
dia a todos. Eu me chamo Lizandra dos Passos, filha de Dirceu Augusto dos
Passos e de Fátima Marisa Oriki dos Passos.
SR.ª. CRISTIANE PAN NYS (PSICÓLOGA) – Bom-dia. Eu sou
Cristiane Pan Nys, sou filha de Wilfred Nys e de Carmen Maria Pan Nys.
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SR.ª. CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) – Eu me
chamo Cândice Cristina Schmidt, filha de Valdir Gastão Schmidt e de Maria
Inês da Silva Schmidt.
Esse é o jeito que, geralmente, temos nos apresentado para
poder mostrar para vocês o nosso sistema familiar, e é sobre o nosso sistema
familiar que tratam as Constelações Familiares.
DR.ª LIZANDRA DOS PASSOS (JUÍZA DE DIREITO) – É uma
grande honra estar aqui no Pleno deste Tribunal de Justiça, no qual trabalhei
por quase dez anos na condição de estagiária, Assessora de Desembargador
e Secretária de Desembargador, e hoje volto como Juíza para poder falar um
pouquinho para todos os senhores sobre a Constelação Familiar.
É uma grande honra ter recebido o convite do Des. Ney
Wiedemann e do Des. Luiz Felipe para falar um pouco, e digo também que é
uma grande responsabilidade, porque estamos falando, talvez, para as
maiores referências em Direito de Família do Estado. Nosso Tribunal de
Justiça é conhecido como um Tribunal de vanguarda no Direito de Família, por
isso toda essa honra de poder estar aqui, também compartilhando um pouco
do trabalho que vem sendo feito. Começamos na Comarca de Capão da
Canoa, e agora em Parobé e em Porto Alegre.
Quero fazer um agradecimento especial ao Dr. Antônio
Fonseca, que também fez essa intermediação, e às Promotoras de Justiça da
Comarca de Parobé, Dr.ª Daniela Fistarol, que está aqui presente, e Dr.ª
Dorani Medeiros, que também têm apoiado esse projeto e nos dado toda a
confiança e todo o apoio para que ele possa se desenvolver de uma maneira
mais plena na nossa Comarca.
Vou falar brevemente para os senhores. Eu gosto de falar em
pé, porque já vou acompanhando os slides. Não vou ficar passando muitos
slides, mas vou falar brevemente sobre como esse projeto aconteceu, de
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como surgiu a ideia desse projeto e sobre como hoje ele vem sendo aplicado
nas Comarcas de Parobé e de Porto Alegre.
Hoje está aqui presente também o Dr. Fábio, do CEJUSC de
Porto Alegre, que também oportunizou que esse trabalho tivesse início aqui
em Porto Alegre.
Primeiro, vou falar um pouquinho para vocês como eu,
particularmente, conheci a Constelação. Conheci a Constelação há oito anos,
em uma experiência pessoal em consultório, e, desde então, comecei a
frequentar alguns grupos de Constelação. Talvez ainda vocês não possam
entender exatamente o que é uma Constelação, e talvez hoje isso sirva
apenas como um impulso para que vocês procurem conhecer um pouco mais
sobre a Constelação. Não é algo que se aprende em uma palestra, mas é algo
que desperta o interesse de conhecimento em uma palestra. Essa é a nossa
ideia hoje: colocar pulgas atrás das orelhas de todos os senhores aqui para
que busquem esse conhecimento.
O projeto começou a partir dessa minha experiência pessoal e
evoluiu então para quando eu assumi a Magistratura, na Comarca de Capão
da Canoa, e assumi a Magistratura em uma Vara da Infância e Juventude.
Entendo que não foi por acaso que fui parar em uma Vara da Infância. Eu não
tinha, até então, experiência na área da Infância, e foi algo que me tocou
profundamente. Creio que a maioria das pessoas que estão aqui talvez
trabalhe com Direito de Família e possa corroborar isso que estou dizendo.
Trabalhar com crianças aguça a sensibilidade de qualquer ser humano: é algo
que realmente nos move e nos faz buscar algo novo, buscar uma nova
possibilidade.
Então, na Vara de Infância, em Capão da Canoa, eu tinha dois
abrigos, duas casas de acolhimento: uma casa de acolhimento em Capão da
Canoa e uma casa de acolhimento em Xangrilá. Eu tinha dois casos muito
parecidos nas duas casas, duas meninas com histórico de abuso sexual,
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famílias absolutamente desestruturadas, e sobre uma delas, inclusive, a mãe
já havia me comentado, já havia expressamente dito em audiência: “Eu não
quero mais saber dessa menina. A senhora faça o que quiser com ela”. Nesse
mesmo dia, eu sabia que a menina estava com as malas prontas para voltar
para casa. A psicóloga do Município já havia me dito: “Eu não dou mais conta,
eu não tenho mais condições”.
Comecei a buscar algo que eu pudesse fazer por essa
menina. Juridicamente seria destituição do poder familiar, adoção. Só que
essa menina tinha doze anos e apresentava problemas psiquiátricos. Apesar
de todas as campanhas que existem para adoção de difícil colocação,
sabíamos que isso era algo bastante difícil, e que essa menina ficaria,
possivelmente, até os dezoito anos no abrigo, e depois então a entregaríamos
para a sociedade e veríamos o que aconteceria.
Isso mexeu muito comigo, porque era uma menina que,
quando eu chegava ao abrigo, se agarrava nas minhas pernas e dizia para
mim: “Tia, quando eu vou voltar para a minha casa?” E isso me fez refletir
exatamente sobre o que eu estava fazendo em uma jurisdição de Família, em
uma jurisdição de Infância. Eu tinha jurisdições de Família e de Infância.
Então busquei o contato dessa minha terapeuta, que é
Consteladora - na verdade ela está hoje na Inglaterra, por isso não está aqui
conosco -, e também já havia trabalhado em Capão da Canoa. Perguntei para
ela: “Tens alguma psicóloga para me indicar que possa atender a esses dois
casos?” Os casos eram bem semelhantes. E essa terapeuta me disse: “Até
tenho alguma psicóloga, posso verificar para ti. Mas por que tu não trabalhas
com as Constelações no Judiciário?” Eu já conhecia o trabalho do Sami
Storch, que é um colega da Bahia e estava aplicando as Constelações no
Judiciário. Eu disse para ela: “É o meu sonho poder oferecer esse trabalho, no
qual tanto acredito e confio, para essas pessoas que realmente precisam de
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um novo olhar, precisam de uma nova possibilidade, só que eu não sei por
onde começar”. E ela me disse: “Deixa que a equipe eu consiga para ti”.
E aí ela colocou um anúncio em um grupo privado do
Facebook perguntando quem gostaria de fazer serviço voluntário em Capão
da Canoa, só isso, sem mencionar o que seria. A Cristiane e a Cândice se
manifestaram, e outras duas psicólogas mais; eu selecionei as duas, fizemos
uma reunião e começamos a trabalhar nas casas de acolhimento. O trabalho
foi tão lindo, e imediatamente deu algum tipo de resultado, um tipo de
movimento. Essa mãe voltou a me procurar e pediu uma audiência, porque ela
gostaria muito, depois que fizéssemos o trabalho com essa menina, de
retomar esse vínculo. Eu impus diversas condições para que pudesse retomar
essa visitação, e ela cumpriu todas as condições. Dentro dessas condições,
ela deveria participar de todos os encontros de Constelação que faríamos no
Foro de Capão da Canoa. E ela compareceu a todos os encontros. Ela tinha
problema de drogadição também e compareceu regularmente aos grupos do
CAPS, a todos os atendimentos da equipe técnica da casa de acolhimento, e,
quando eu saí de Capão da Canoa, a menina estava em casa.
Esse é um caso que sempre cito, desculpem aqueles que já
assistiram a alguma palestra nossa, porque é um caso que nos moveu ainda
mais para continuar esse trabalho. Então pudemos verificar com mais clareza
e mais concretude o potencial que essa técnica tem dentro do Judiciário, e
expandimos. Expandimos para ato infracional, em Capão da Canoa,
expandimos para a área da Família e expandimos para a área Cível
empresarial.
E Capão da Canoa acolheu com um amor tão grande esse
projeto que chegamos a atender quase 1.500 pessoas em Capão da Canoa,
durante um ano. Nós tínhamos em média 80 pessoas em cada encontro, e os
encontros eram quinzenais. Fazíamos três grupos, um grupo de adolescente
infrator e os outros dois grupos de família e cível, fora os atendimentos na
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casa de acolhimento, e depois as cuidadoras das casas de acolhimento
pediram para que fizéssemos um grupo em separado com elas, e aí fizemos
também um grupo em separado com as cuidadoras.
Esse trabalho foi expandido, e começamos a ver o que
mudava no clima do Foro, o quanto os advogados também começaram a
acolher esse trabalho e começaram a verificar como os seus clientes saíam
satisfeitos. E aí eu digo que talvez esse trabalho tenha ganhado tanta força no
Judiciário porque vem do Judiciário, porque é um trabalho do Judiciário, é um
olhar do Judiciário para o seu jurisdicionado. Poder estar acompanhando esse
trabalho como estou acompanhando - estive em Capão da Canoa, e agora em
Parobé - tem me trazido grande satisfação profissional, bem como ver o olhar
de cada uma daquelas pessoas que saem dali. Isso é o que tem nos movido,
e os resultados são mera consequência. Temos dito que os resultados são
mera consequência, embora eles sejam bem positivos e importantes para nós,
mas, mais importante ainda, é poder ver que o Judiciário está trabalhando na
pacificação social, está trabalhando para a paz. E hoje todo o nosso Código
de Processo Civil, com todo o aval também do CNJ, ainda antes do novo
Código, tem sido no sentido de buscar uma maior colaboração e a
possibilidade de autocomposição.
Hoje sabemos que a mediação é algo bastante forte e já está
no Código, positivada, e o CNJ e o Código de Processo Civil dizem: “O
Judiciário, o Estado, buscará o tratamento adequado para os conflitos”. E o
que é adequado em Direito de Família? Adequado é o profissional que está
tratando do Direito de Família entender as relações pessoais. Isso é
imprescindível. Nós precisamos conhecer as leis? Precisamos, mas
precisamos conhecer as relações, precisamos entender o que passa dentro
das famílias. Isso faz todo o diferencial; esse é o diferencial do profissional do
Direito de Família.
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E por que o nosso Tribunal de Justiça é um Tribunal de
vanguarda em Direito de Família? É porque é um Tribunal que busca
conhecer as relações e busca estar se atualizando.
Então, o que é a Constelação Familiar? A Constelação
Familiar é uma ciência dos relacionamentos criada por Bert Hellinger, um
alemão, terapeuta, filósofo, que desenvolveu uma técnica de pôr luz sobre os
conflitos na busca de uma solução. E a Constelação Familiar é uma expansão
daquilo que Jung falou sobre inconsciente coletivo, mas como uma
consciência superior, que Bert Hellinger observou. Observou com a sua vasta
experiência em terapia de casal e terapia de família e observou com seus 16
anos trabalhando junto com as tribos zulus, na África do Sul. E Bert Hellinger
evoluiu nessa concepção de inconsciente coletivo para um inconsciente
superior, um inconsciente que rege todas as relações, um inconsciente que
rege a relação familiar e tudo o que está vinculado de alguma forma com essa
interação familiar. Todos aqui temos pai, mãe, avós, bisavós, tataravós, que,
de alguma forma, nos influenciaram a ser quem somos hoje. Essa é a base da
teoria do Bert Hellinger.
Estou falando de uma forma bem direta e simples para que
aqueles que não têm a mínima ideia do que seja uma Constelação possam ter
uma ideia do que seja uma Constelação. E aí então Bert Hellinger, a partir
dessa concepção, observou que existem leis, ordens que regem as relações
dentro de uma família, dentro de sistemas: sistemas familiares, sistemas
empresariais, sistemas institucionais, e essas ordens são o pertencimento.
Aquele que nasceu em uma família pertence àquela família,
independentemente de se um dia essa pessoa acaba saindo dessa família de
alguma forma, talvez por adoção, biologicamente a ela ainda pertence. E a
nossa própria legislação prevê que essa pessoa tem direito à sua origem
biológica.
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E então há a lei da hierarquia, que é uma lei que diz que
aquele que veio antes, que chegou antes, precede aos demais. E assim é nas
nossas relações. Nossas relações institucionais, como são? Como é verificada
uma remoção por antiguidade? É feita com base na lei da hierarquia. Então,
observando todas as relações, Bert Hellinger criou, objetivou, na verdade, deu
nome às leis que regem as nossas relações.
Por fim, há a lei do equilíbrio, que é o que permite que uma
relação não tenha conflito. Permite a observância a essas leis, e
principalmente à lei do equilíbrio, nas relações de casal. Aquele parceiro que
só dá e não recebe do outro cria uma distância do outro. E essa distância é
que acaba culminando com algum tipo de conflito. Bert Hellinger fala que são
os emaranhamentos familiares. Os emaranhamentos familiares surgem
quando algumas dessas ordens são quebradas, quando não há observância
dessas ordens, quando há a exclusão daquele pai que aquela família diz que
a ela não pertence mais, porque ele é alcoólatra, porque ele não presta.
Quando esse pai é excluído, o que filho faz, o que o neto faz? Possivelmente
seguem o mesmo padrão. São as repetições de padrão.
Claro, não são leis, os fatos que estou colocando aqui que
absolutamente não têm que acontecer; são coisas que muitas vezes
acontecem, mas não que sempre tenham que acontecer. Às vezes há um
alcoolista na família, e a outra geração consegue superar isso. Talvez a
próxima não consiga, talvez consiga, mas é algo que acaba acontecendo.
Então, Bert Hellinger fala isso.
Como é que se dá essa visão sistêmica aplicada ao
Judiciário? Não é só com uma Constelação. Depois teremos a oportunidade
de mostrar como uma Constelação acontece, por isso vou ser bem breve aqui
na minha fala, para que vocês possam ver aqui como uma Constelação
acontece. E essa visão sistêmica, não só com a Constelação, mas com a
observância de algumas dessas regras e com a utilização de frases
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curadoras, que nós chamamos, essa visão de Bert Hellinger tem sido aplicada
no Judiciário. E tem sido aplicada em que áreas? No Juizado da Infância e
Juventude, em casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, em
presídios, no Instituto Psiquiátrico Forense - com utilização de frases e
bonecos em audiência, vou explicar para vocês -, em exercícios rápidos, em
escolas, na visão sistêmica na pedagogia, na mediação, na Justiça
Restaurativa, nas áreas de Família e criminal, em demandas empresariais e
em demandas gerenciais e institucionais.
Temos no País diversos tribunais aplicando a Constelação
Familiar, e ela vem sendo aplicada principalmente nessas áreas. Como tem
sido aplicado aqui no Rio Grande do Sul, em Parobé, especificamente? Hoje,
em Parobé, temos a Constelação Familiar sendo aplicada na área da violência
doméstica, na área da Infância, na casa de acolhimento, no infracional e em
alguns casos de Direito de Família, não só com Constelação, mas com visão
sistêmica aplicada em audiência.
Em Parobé, quando tenho uma audiência, procuro perceber
além do que o conflito jurídico me apresenta. Vou dar um exemplo. Eu tive um
caso de uma reintegração de posse, em que a filha litigava contra a mãe.
Marquei uma audiência de conciliação, verificando que a filha litigava contra a
mãe. A primeira coisa que eu disse: “Bom dia a todos! Marquei essa audiência
porque vi que eram mãe e filha as partes envolvidas aqui, e entendo que essa
reintegração de posse não diz exatamente o que as trouxe aqui”. A filha
imediatamente começou a chorar e me disse: “A minha mãe me abandonou
quando eu tinha três anos”. Eu comecei a propor frases para elas, que são
frases que Bert Hellinger também traz - chamamos de frases curadoras -, que
permitem uma paz entre essas pessoas que se apresentam ali com conflito. E
comecei a propor: “Diga para a tua mãe, olha no olho dela e diga...”. As
pessoas não se olham mais, também temos isso, ninguém olha mais para
ninguém, as pessoas estão no automático. Pedi para que ela olhasse para a
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mãe dela: “Olha para a tua mãe e diz: ‘Senti muito a tua falta’”. E a mãe,
quando ela falou isso, imediatamente também se emocionou. E aí a mãe, sem
que eu precisasse propor a frase que iria propor, disse: “Eu não pude cuidar
de ti”. Por que uma mãe não cuida de um filho? Às vezes ficamos julgando
essas pessoas. Nós, Juízes, estamos aqui para isso, mas julgamos a vida
pessoal delas. Julgamos por que essa mãe não pode cuidar de um filho: não
pode porque não quer, não pode porque é sem-vergonha. Será? Será que
uma mãe não pode cuidar porque não quer, porque é sem- vergonha?
Essa mãe falou isso, e os advogados quase começaram a
chorar. No final, elas fizeram uma conciliação, se abraçaram; eu propus um
abraço, claro, mas se abraçaram, choraram. Os advogados quase choraram, a
Juíza quase chorou, mas foi lindo. Foi lindo poder ver que as duas saíram dali
aliviadas e saíram combinando como é que iam fazer. Porque a mãe disse:
“Não, essa parte da casa é tua, eu nunca me opus que tu pegasse. Pode ir lá,
eu mando fazer a cerca pra ti. Pode ir lá, que eu vou mandar fazer a cerca pra
ti; se tu quer vender essa parte, pode vender, eu te ajudo!” E saíram dali
assim.
Então é algo que realmente tem funcionado, talvez porque
qualquer um de nós seja capaz de desenvolver essa habilidade, basta estar
aberto a essa sensibilidade de poder olhar para as pessoas como pessoas. Os
conflitos familiares, eu costumo dizer, são iguais em todas as famílias. Todos
temos conflitos familiares, não só aquelas pessoas que estão ali, litigando. Eu
posso ver aqui, nós temos talvez uma centena de pessoas, não sei, tenho
certeza de que todos vocês têm algum problema, algum conflito, por menor
que seja, familiar. Porque a família é a nossa essência, então poder
reconhecer isso, dar um lugar para isso, é importante para aqueles que atuam
na área jurídica, familiar
Em Parobé temos atuado nessas áreas. Eu até vou
mencionar, já que falamos aqui um pouquinho de adoção, também na adoção
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às vezes uma mãe que entrega o filho para outro casal cuidar, e aí, quando o
casal entra com o processo de adoção, a mãe se manifesta e diz: “Não, agora
eu quero”. Pedi, em uma audiência, para que o casal adotivo dissesse à mãe:
“A senhora perdeu o filho para que eu pudesse ganhar. Para que pudesse ter
esse convívio, a senhora perdeu. Muito obrigada”. Poder a mãe adotiva dizer
isso para a mãe biológica gera automaticamente alívio, porque ela está sendo
reconhecida, está tendo a sua dor reconhecida, a dor da perda de um filho. E
poder, essa mãe biológica, dizer para a mãe adotiva: “Muito obrigada por ter
cuidado, até agora, com tanto amor, do meu filho”. Poder fazer as pessoas se
olharem realmente e reconhecerem aquilo que uma tem feito pela outra.
Em Parobé, temos aplicado essa forma em audiência e
também com a própria Constelação. Aí, como é feito na própria Constelação,
verifico os casos, aqueles casos que entendo que realmente têm um potencial
a ser desenvolvido com a Constelação, e encaminho para o projeto; fazemos
uma listagem de todos os casos que estão no projeto, e aí eles vão para o
encontro. Antes, estávamos fazendo grupos de gênero; agora, estamos
fazendo grupos mistos, porque entendemos que o grupo de gênero, nesse
caso específico, estava criando uma exclusão do feminino ou do masculino
em determinado grupo, e aí, quando pudemos juntar o feminino com o
masculino, o trabalho se mostrou mais profícuo ainda, e aí encaminhamos
para os grupos.
Para quem é constelado, fazemos uma ficha, um instrumento
de avaliação e de acompanhamento, vamos monitorando esses casos que
estão sendo constelados, e eles recebem uma ficha de avaliação de reação
para fazer uma avaliação do encontro; cada uma das pessoas que participa
preenche um formulário de confidencialidade e autorização de uso de imagem
para fins pedagógicos, e aí verificamos, no final, a satisfação de todas essas
pessoas.
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Ainda, quando há um grupo ou outro que, às vezes, não está
muito a fim - vemos que, às vezes, há algumas pessoas que não estão muito
a fim, isso é perceptível -, isso, na avaliação, é desmanchado, porque na
avaliação vem: “Gostei muito, me fez perceber meu conflito de forma
diferente”. Então, apesar de ali, na hora, a pessoa se mostrar, às vezes, não
tão receptiva, ao final consegue perceber que aquele encontro, de alguma
forma, mexeu alguma coisa dentro dela, fez alguma diferença.
Com esses instrumentos de acompanhamento, conseguimos,
atualmente, ter alguns dados sobre o que a Constelação, no Judiciário, tem
mostrado para nós. Aqui, há um mapa do Judiciário. O mapa não foi feito por
nós, é o Instituto Olhar Sistêmico que construiu esse mapa. É um mapa que
foi construído duas semanas atrás, mas já está desatualizado, porque os
Estados do Rio de Janeiro e Amazonas, pelo menos, já estão desenvolvendo
o trabalho com as Constelações Familiares. Todos esses Estados, de alguma
forma, já vêm aplicando a técnica.
Sobre os resultados, como eu havia comentado com os
senhores: em Capão da Canoa, podemos colher o resultado. No
acompanhamento, durante sete meses, 93% dos adolescentes que se
envolveram, adolescentes infratores que participaram do projeto, não voltaram
a se envolver com novos atos infracionais no período de sete meses. É um
dado bastante significativo. Há uma pesquisa realizada pela Revista Veja que
diz que os adolescentes infratores voltam a praticar algum outro ato três
meses após a repreensão aplicada. Então, durante sete meses, tivemos 93%
de não reincidência. Não reincidência não no sentido técnico; não reincidência
no sentido de que não há registro de ocorrência com relação a eles nesse
período.
Dados coletados, por meio da avaliação de reação, que é a
pesquisa de satisfação, mostram que 98,2% dos participantes responderam
que o encontro possibilitou uma percepção um pouco diferente sobre o seu
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conflito, e o encontro aumentou o conhecimento sobre si. Mostra que 99,1%
dos participantes responderam que o encontro desenvolveu melhorias em
seus relacionamentos e aumentou a sua motivação na busca de uma solução
pacífica e que 100% dos participantes responderam que o encontro facilitou a
troca de experiências.
Há uma pesquisa de reação entregue ao final do encontro. As
pesquisas anteriores foram na Comarca de Capão da Canoa; em Parobé,
conseguimos apurar a medição durante seis meses. O projeto está
funcionando lá desde novembro do ano passado, e 93,8% dos homens que
participaram dos encontros de violência doméstica não voltaram a se envolver
em novos episódios de violência doméstica. Também é um dado bastante
significativo. Parobé tem uma média de, pelo menos, 60 a 65 casos de
violência doméstica por mês. Isso significa mais de dois casos por dia de
violência doméstica, e conseguimos já esse percentual. Em Parobé,
começamos com grupos de gênero. Hoje, como havia dito, estamos
trabalhando com grupos mistos, e temos o grupo de apoio da Prefeitura, que
trabalha com grupos de gênero, que também participa do projeto. É um
trabalho em conjunto, mas o trabalho da Prefeitura começou apenas há dois
meses, então ainda estamos alinhando os trabalhos.
Trago algumas fotos para que vocês possam ter ideia de
como é que isso funciona. Essa aqui é a instalação do projeto em Capão da
Canoa. Um trabalho realizado na casa de acolhimento de Xangrilá, um
trabalho realizado na casa de acolhimento de Capão da Canoa. Aqui, o grupo
de gênero homens, quando ainda estávamos trabalhando com grupo de
gênero. Não trabalhamos só com Constelação no grupo, trabalhamos com
alguns exercícios, com conceitos também. Geralmente, faço uma abertura,
explicando por que eles estão ali, os homens, e por que as mulheres estão ali.
Geralmente é à tarde, e eu digo: “Nesta tarde, vocês vão poder ter
oportunidade de entender por que chegaram ao ponto de ter que estar dentro
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do Judiciário e compreender qual é a parcela de cada um nesse processo de
violência”. Desse modo, geralmente eles têm trabalhado, e o trabalho tem sido
muito bonito.
Aqui é o grupo institucional. Nós temos feito um grupo após às
18h, um grupo em que participam advogados, Promotores, Defensores,
pessoal da Brigada Militar, Diretor do Presídio, Prefeitos, rede de proteção,
Conselheiros Tutelares.
Essa aqui é uma visão sistêmica aplicada em audiência. A
colega do Mato Grosso que me cedeu essa foto é Juíza da área de Família;
ela tem essas frases. Agora já está desatualizada, mas já atualizou com
algumas frases de Hellinger também que ela tem na sala de audiências, então
as pessoas chegam ali com algumas dessas frases. E aí tem: “A paz começa
onde cada um pode ser aquilo que é”.
Meu objetivo não era esgotar o tema da Constelação Familiar,
até porque não temos tempo para isso, mas, depois, vamos nos colocar à
disposição para perguntas. É só para que vocês possam ter uma ideia de
como esse trabalho vem sendo desenvolvido.
Agora, as meninas vão continuar o encontro para que vocês
possam conhecer a Constelação Familiar.
Obrigada.
SR.ª CRISTIANE PAN NYS (PSICÓLOGA) – Antes de darmos
seguimento à parte prática desse trabalho, me ocorre que é muito importante
dividir com vocês sobre a minha inserção neste trabalho, porque acredito que
isso pode trazer algum esclarecimento. A minha trajetória começou na área
organizacional, e, durante muito tempo, eu fui contaminada por resultados.
Depois de muito tempo trabalhando nessa área, também percebi que as
ferramentas que existiam disponíveis começaram a ficar limitadas para
algumas questões importantes que precisariam ser resolvidas, então resolvi
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voltar a estudar. Mas eu queria estudar alguma coisa que pudesse dar conta
disso e aí comecei a procurar o que era novo, e me chegou, por intermédio de
uma colega, a informação desse nome esquisito: Constelações Familiares. O
que será isso? Mas me chamou a atenção. Fui olhar. O primeiro convite é
para que possamos assistir ao trabalho, para que possamos vivenciar esse
trabalho, por isso vamos fazer uma vivência aqui.
Quando fui, pela primeira vez, assistir a esse trabalho, gente,
a sensação era muito clara: abriram a porta do hospício. Agora
enlouqueceram de vez. Saí de lá com essa impressão, mas saí de lá com algo
que moveu dentro de mim, que, talvez, com outra teoria, outra abordagem,
pudesse haver mais dificuldade. E tive a oportunidade de me incluir no grupo
de formação, em Porto Alegre. Não precisa nem viajar, ai que bênção!
Mas o que aconteceu na minha trajetória? É isso que eu
queria contar para vocês, porque são trajetórias diferentes nesse grupo, e
venho, então, em uma luta insana de querer resultado. Mas quantos acordos?
Quem é que já veio aqui dizer que vai resolver essa questão, depois da
Constelação? “Não, semana que vem já tem que vir aqui!”, e vem, em uma
luta muito grande. E elas me aguentam, e eu, querendo saber do resultado. E
tenho que contar para vocês: acabou. Isso não me pertence, esse resultado
não vai ser dado desse jeito, e aprendi muito com essa Juíza, porque eu
perguntava para ela: “Tá, mas tu não quer saber o que é o índice de baixa de
processo na tua comarca?” “Não.” “Não?” “Não.” Ela tem a capacidade, a
generosidade, de olhar o sutil, e o sutil foi que ela viu o grupo de empregados,
de funcionários e de servidores mudando as relações. E posso dizer para
vocês, já acompanhando desde 2015: agora eu solto.
O que acontece em uma Constelação? Se esperarmos
entender tudo o que acontece, não vai dar certo. Ela é muito maior do que
nós. Esse trabalho é muito maior do que a nossa compreensão. Eu tentava
pegar tudo e botar dentro da minha cabeça, que não tem tamanho suficiente
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para absorver tudo isso. Então, é um exercício de entrega para o
desconhecido. Mas por que, gente? Porque precisamos fazer um passo novo.
Os passos que temos dado, às vezes, estão conectados com o nosso
passado, então temos que nos entregar para algo que não conhecemos. E é
disso que trata a Constelação Familiar: é um resgate daquilo que realmente é
o mais importante, que é o amor na nossa vida.
Então, vamos fazer um centramento, que é o que temos de
estrutura para podermos esvaziar esse ser falante que temos e abrirmos
espaço para algo novo.
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) - A mim
cabe, neste momento, trazer para vocês esse exercício de centramento, e a
nossa ideia é trabalhar como trabalhamos dentro do Judiciário. Exatamente
como trabalhamos no Judiciário desde que nós iniciamos.
É claro que estamos falando de algo que é novo para a
maioria. É uma alegria ver tantas pessoas interessadas nesse assunto.
Particularmente, sou uma pessoa muito curiosa, e me agrada conhecer mais,
eu sinto o que existe e o que acontece.
Como terapeuta clínica, com 33 anos de experiência de
psicologia de consultório, de psicologia clínica, aprendi a confiar nos
processos que são maiores do que eu e do que posso fazer. Aprendi a confiar
na capacidade do ser humano de se transformar e sei que isso não depende
da minha vontade. Simplesmente preciso saber o que estudar e conhecer e
coloco à disposição todo o meu conhecimento para que seja usado da forma
que for necessário. Há muitos anos, aprendi com um professor, quando fazia
ainda especialização em psicodrama, que cada terapeuta tem um baú de mil e
uma utilidades. E, com cada pessoa, vamos usar algo que seja necessário
naquele momento.
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A Constelação Familiar nos ensina que realmente há uma
força que move tudo, que cada ser humano tem uma consciência superior,
uma consciência maior que o guia. Inclusive, nos processos de cura, existem
algumas linhas de terapia que falam no curador interno de cada um. Ou seja,
temos um sábio interior, temos um curador interior, e, quando queremos,
colocamos isso em prática. Temos uma criança interior, um pai interior, um
adulto, enfim.
Quando trabalhamos com a Constelação, não importa em que
contexto, sempre pedimos para que todos possamos fazer um centramento. O
que é esse centramento? Em primeiro lugar, é a possibilidade de nos
conectarmos com este sábio interno que está dentro de nós; com esse lugar
de paz, de harmonia, de tranquilidade e de sabedoria que existe em cada um.
E isso é muito simples, não requer prática nem habilidade. É simplesmente se
deixar conduzir, por isso que está dentro de nós. Geralmente, pedimos que as
pessoas fechem os olhos, mas isso não é obrigatório. Então, se alguém se
sente desconfortável e acha que é melhor ficar de olhos abertos, permaneça
de olhos abertos.
(FOI CONDUZIDO UM EXERCÍCIO DE CENTRAMENTO)
(DEMONSTRAÇÃO DA TÉCNICA DE CONSTELAÇÃO
FAMILIAR).
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Nós estamos retomando a
condução deste trabalho, deste encontro de hoje, do Centro de Estudos. O
Des. Luiz Felipe Brasil Santos, devido ao horário, pois praticamente
esgotamos o horário regulamentar, precisou se retirar, porque já havia
assumido outro compromisso. Pediu desculpas às nossas palestrantes, uma
vez que ele precisou se retirar para outra reunião, na qual se encontra agora.
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Então, a mim cabe retomar a condução do trabalho para fazer o encerramento
do encontro.
De início, gostaria de renovar o agradecimento às nossas
palestrantes, à Juíza, às psicólogas, e agradecer especialmente ao auditório,
que se mostrou sempre muito respeitoso e colaborativo, pois essa técnica,
essa situação que vivenciamos, exigiu a contribuição, o esforço de todos, e
todas as pessoas do auditório mantiveram uma atitude serena, de respeito, de
silêncio e de acompanhamento. Quero agradecer especialmente àqueles que
cederam a sua energia, o seu momento de se fazer presente e contribuir para
que isso acontecesse.
Como o Des. Luiz Felipe já havia inclusive antecipado às
palestrantes, não estava familiarizado com esse tema, com este assunto, nem
na teoria, nem na prática. Tudo isso é muito diferente, é muito novo, e o que
se apresentou aqui nos mostra o quanto podemos ainda avançar, como isso
pode ser útil, como isso pode ser importante para ajudar as pessoas a
encontrar a paz, a pacificar os seus conflitos.
Conforme a Dr.ª Lizandra revelou, às vezes os conflitos que
chegam ao Judiciário através de um processo são só a ponta de um iceberg,
às vezes os conflitos são muito maiores do que eles mostram e se
materializam, como no exemplo que ela deu de um conflito pela disputa da
posse de um terreno. Há muito mais por trás disso.
Não sei exatamente quais são os nossos limites, as nossas
possibilidades de uma intervenção, que vão além do que é puramente
material, que diz respeito ao processo judicial. Mas que bom, que maravilhoso
quando há pessoas que se dispõem e que têm condições e estrutura, inclusive
emocional, para ir além e ajudar as pessoas a pacificar os seus conflitos.
Vamos abrir espaço para algumas manifestações do auditório,
porque acredito que é importante. Se tantos ficaram até agora aqui, e passa
do meio-dia, é porque isso é importante. Peço apenas que não sejam
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perguntas pessoais, consultas psicológicas, mas que digam respeito a essa
técnica. Isso é muito novo e diferente.
Temos uma pessoa com microfone, é importante usar o
microfone para falar, até para que se ouça e para que a Taquigrafia registre.
Temos a nossa primeira contribuição.
PLATEIA – Bom dia! Meu nome é Isabel, sou psicóloga,
trabalho com famílias também, mas sou absolutamente desconhecedora da
Constelação Familiar. Eu achei super importante, muito interessante o que
aconteceu aqui, mas fiquei com uma dúvida: como é resolvida a questão da
subjetividade, ou seja, daquele que vai com toda a sua carga? Eu, por
exemplo, se vou aí para frente, vou com a minha carga e passo, então, a
perceber e sentir o que está envolvido ali. Há alguma mediação de vocês,
interna, no sentido de discernir isso, ou não? Não sei se me fiz entender.
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) - Estou
tentando entender, Isabel.
Na verdade, é impossível nos separarmos da nossa própria
subjetividade; isso não existe, assim como não existe neutralidade na
psicoterapia. Não podemos deixar de ser quem somos, em qualquer situação,
e, mesmo quando somos representantes, quando nos colocamos à disposição
para representar alguém do sistema de outra pessoa, vamos com a nossa
subjetividade.
O que percebemos, depois de tantos anos - a Constelação
Familiar tem mais de 50 anos no mundo; no Brasil, já tem uns 20 anos -, o que
sabemos, o que vemos, é que é evidente que, quando uma pessoa se sente
chamada para representar, porque vocês perceberam que várias pessoas
levantaram, é claro que tem a ver com a sintonia que existe, da própria
subjetividade, com aquele papel que ela vai representar. Não significa, se
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alguém é chamado, por exemplo, para representar o papel de um assassino,
que essa pessoa necessariamente seja uma assassina. Não é isso, mas
carregamos, todos nós, umas 51 trilhões de células, e, em cada uma dessas
células existe o nosso código genético. E hoje sabemos que o nosso código
genético carrega a história de todos os nossos antepassados, e não existe
uma família, por exemplo, um sistema, e desafio vocês a procurarem um
sistema, em que não haja assassinato, roubo, suicídio, abuso ou abusadores,
assassinos, ladrões.
Essa subjetividade que carregamos está inserida na nossa
memória celular, para resumir. Creio que podemos ir adiante. Esse é um
fenômeno que um estudioso, um pesquisador inglês que se chama Rupert
Sheldrake definiu, pesquisou e pesquisa, há muitos anos, com a sua equipe,
o que se denomina de Campos Morfogenéticos. Nós fazemos parte de
Campos Morfogenéticos, ou seja, campos formados por consciências. Eles
existem, embora não tenhamos equipamento suficiente para comprovar
completamente a existência dos Campos. Eles já são comprovados, são
estudados. Eles carregam as memórias do sistema, e elas estão aí, como a
nuvem dos computadores, gente! Vivemos uma espécie de dicotomia da
realidade, vivemos separados da realidade, acreditamos que a realidade é só
o que enxergamos, porém trabalhamos diariamente com sistemas de
caixinhas, que chamamos de celulares, televisões, computadores. Nós
trabalhamos com sistemas de caixinhas, e aqui há várias caixinhas, neste
recinto, as que vocês têm no bolso ou na bolsa, fora as que estão aqui, que
recebem informações sem fio e que podem passar informações para qualquer
parte do planeta, bastando para isso apertarmos algumas teclas ou
escrevermos algumas palavras.
Então, nós aceitamos que podemos acessar uma rede de
informações virtuais através de caixinhas, e está na hora de entendermos e de
aceitarmos, começarmos a perceber que todas essas informações nós
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também podemos acessar sem caixinhas, principalmente as informações dos
Mórficos. Cada sistema familiar é um Campo Mórfico, que é pleno de
informações, e esses Campos atuam sobre nós. Isso é difícil, porque temos a
necessidade de controlar.
Não sei se respondi a sua pergunta, Isabel. Faz sentido? Até,
se quiser, daremos informações para pesquisar. Mais alguma pergunta?
PLATEIA - Eu sou mediadora de família, área cível, e me
identifico muito com a família. Tenho algum conhecimento, inclusive já
participei de algumas constelações, e admiro muito este trabalho. Acredito que
isso passa por um trabalho para o qual o Judiciário está buscando abrir as
portas, além daquilo que está na lei, na literalidade da lei, e penso que é muito
importante. Como mediadores, passamos por situações que percebemos que
é necessário, além dos princípios e dos objetivos da mediação, se ter uma
sensibilidade, outro olhar, e penso que a Constelação contempla isso.
Mas a minha pergunta para a Dr.ª Lizandra é mais em termos
de implementação. A Constelação, no meu olhar, complementaria, seria muito
útil aos mediadores. A mediação, por exemplo, hoje, é regulamentada, e, pela
exposição da Dr.ª Lizandra, a Constelação estaria sendo abordada como uma
determinação do Juiz a casos específicos. Como essa Constelação poderia vir
para o Judiciário: como complementação, ou paralela à mediação? Eu queria
saber da sua visão sobre isso, doutora.
DR.ª LIZANDRA DOS PASSOS (JUÍZA DE DIREITO) -
Obrigada, Ângela, pela pergunta.
Hoje, o colega Sami Storch está na Bahia e está aplicando:
ele recebe a inicial, despacha o processo e imediatamente encaminha para
Constelação. Ele atua somente em uma Vara especializada de família. Ele
começou o trabalho em uma Vara Judicial e hoje ele está em uma
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especializada de família. Agora, na especializada em família, ele alterou um
pouco a sistemática: ele recebe a inicial, concede ou indefere a liminar, se for
guarda, alimentos, enfim, e já encaminha para um encontro que ele tem,
periódico, de Constelação. Após o encontro de Constelação, ele marca
audiência de conciliação, e aí ele consegue potencializar essas conciliações.
Ele tem um percentual de mais de 90% de índice de acordos na Vara dele
fazendo dessa forma.
Mas a Constelação não é, como eu disse, só a Constelação
acontecendo aqui. Já fizemos duas edições de um curso na PUC, um curso de
extensão, e hoje estamos com um curso na AJURIS, no qual estamos dando
aula para mediadores também. E o que temos dito aos mediadores? Muitos
mediadores têm nos procurado com essa mesma questão: como a
Constelação pode me ajudar na mediação?
Ela pode ajudar como algo antecedente à mediação? A visão
sistêmica pode ajudar o mediador? Vai fazer diferença ao mediador poder ter
todo esse conhecimento para levar? Ele não leva somente as técnicas da
mediação; ele leva essa ampliação de conhecimento para dentro da
mediação, e aí ele consegue conduzir uma sessão de mediação sabendo o
que está acontecendo, sabendo o que está por trás daquele conflito que as
partes às vezes trazem, e às vezes demoram a trazer, à mediação.
Realmente, qual é a essência do conflito? Às vezes levam
duas, três, quatro sessões de mediação para se conseguir chegar ao ponto,
no cerne daquele conflito. Claro que em determinadas situações vai se levar
esse mesmo tempo trabalhando com as técnicas da mediação, mas facilita ao
mediador a possibilidade de acessar esse conhecimento. Então ela pode ser
utilizada antecedente, e entendo também que pode ser utilizada
posteriormente a uma mediação se tentar a mediação e não foi possível com a
mediação.
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Claro que na mediação o interesse é restabelecer o diálogo, e
não uma conciliação no processo judicial; e, se não for possível com a
mediação, então se encaminha para a Constelação.
DES. NEY WIEDEMANN NETO - Eu gostaria de informar que
vamos oportunizar uma última pergunta - já há uma pessoa inscrita - e vamos
fazer o encerramento devido ao adiantado do horário. Só que, antes de
ouvirmos essa última pergunta, e já está ali o colega com o microfone, eu
havia combinado de podermos oportunizar um momento de um comentário, se
houver possibilidade, sobre aquele artigo da Zero Hora de hoje.
Houve a publicação de um artigo, isso foi uma coincidência, foi
uma visão cósmica do inconsciente coletivo. O Des. Luiz Felipe Brasil Santos
me mandou por WHATSAPP o artigo que foi publicado na Zero Hora de hoje,
que se chama “Desmonte da Lei Maria da Penha”, publicado por uma jurista,
que não vou citar o nome, até por uma questão ética, porque não se está aqui
criticando pessoas. Mas esse artigo “Desmonte da Lei da Maria da Penha”,
publicado na Zero Hora de hoje, faz uma crítica a essa técnica das
Constelações Familiares. A articulista diz que isso não é algo bem-vindo, que
é algo que não empodera, que não protege as mulheres, que, em vez de as
mulheres serem protegidas pela Lei Maria da Penha, os Juízes deveriam
incrementar mais as ações da Vara de Proteção da Mulher; que o Poder
Judiciário estaria desviando seu foco para essa técnica, que ela entende que
seria bem-vinda, que não teria um resultado útil, e faz algumas críticas.
É melhor, é claro, que leiamos o artigo para tentar
compreendê-lo, mas encaminhamos esse artigo, dentro do tempo que foi
possível, antes do início do encontro, para oportunizar aos nossos
palestrantes algum comentário, alguma coisa assim; se as críticas são, ou
não, procedentes, ou se isso pode ser uma visão um pouquinho equivocada e
distorcida do que realmente vem a ser a Constelação Familiar.
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DR.ª LIZANDRA DOS PASSOS (JUÍZA DE DIREITO) - Eu li o
artigo hoje pela manhã, enquanto eu me arrumava para vir para a palestra e
recebi também pelo WHATSAPP - as informações hoje são muito rápidas -, e
a impressão que fiquei da leitura do artigo com relação ao que foi dito é de
que, na verdade, há uma compreensão equivocada do que está acontecendo,
porque a articulista comenta que a Constelação seria um desmanche da Lei
Maria da Penha na medida em que afirma o que Hellinger diz que o homem
precede a mulher.
Ela pinçou essa informação e entendeu então que a
Constelação Familiar acredita que o homem é melhor do que a mulher, ou
precede, ou é o chefe, essa ideia patriarcal, enfim.
Na verdade, creio que quem conhece um pouco mais de
Constelação aqui vai entender que não é essa a ideia da Constelação. Hoje
eu comentei aqui que trabalhávamos com um grupo de gênero, tentando
empoderar essas mulheres e retirá-las da condição de vítima, que é o mais
difícil. A condição de vítima é - pode ser que seja provocativa essa informação
-, de certa forma, cômoda, então tentamos, trabalhando com o grupo de
gênero, empoderar essas mulheres e retirá-las da condição de vítima.
E esse trabalho estava se mostrando, de certa forma, custoso
para nós, trabalhar com homens e mulheres separados. Aí tivemos essa
percepção, conversamos e decidimos que íamos mesclar os grupos. Por quê?
Porque Hellinger trabalha o tempo inteiro com a conciliação do feminino e do
masculino. Esse é o trabalho do Hellinger. Em todas as nossas famílias há
guerra entre o feminino e o masculino, e é isso que Hellinger traz. Ele fala da
questão do Yang e do Ying, que vai dizer que o homem ocupa um lugar, e a
mulher ocupa outro, e isso é natural, é da nossa essência que o masculino vá
ocupar o lugar do masculino e o feminino vá ocupar o lugar do feminino.
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Algumas mulheres têm o masculino bem desenvolvido, outras
mulheres, não. Tendo as características do masculino, não quer dizer que seja
o masculino. E todos têm masculino e feminino dentro de si,
independentemente da opção sexual, enfim.
Então é isso que Hellinger fala. Eu imagino que essa pessoa
não tenha ido a Parobé, não me lembro de tê-la recebido em Parobé para os
encontros lá, mas imagino que ela tenha pinçado uma informação e escrito
sobre exatamente isso.
Estamos indo para um seminário na Alemanha, do Hellinger,
que terá seminário para homens e seminário para mulheres. Hellinger vai
trabalhar questões do masculino e do feminino, e essas são as nossas
grandes questões: por que os casais brigam? Por que o filho tem que escolher
ficar com o pai ou ficar com a mãe?
É engraçado até, eu li o artigo e comentei ainda com o meu
esposo. Disse para ele: “Engraçado, nós, mulheres, absolutamente
independentes, estarmos defendendo...” Trabalho com a Lei Maria da Penha e
sou aguerrida com relação a essas questões de violência de gênero. Cheguei
em Parobé com toda essa preocupação, e conseguimos implementar a rede
municipal de proteção à mulher lá. Mas trabalhamos com a realidade.
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) - Posso
dar um aparte? Na verdade, são três frases, ideias, que me ocorrem juntas:
quando Hellinger fala da relação entre masculino e feminino, ele diz: “O
homem serve, a mulher segue”. Quando o homem serve à mulher, à família, a
mulher o segue. Isso é um movimento natural do feminino, e é real. Bom, isso
é para outra palestra, porque sei, e estou vendo cabeças aqui fazendo:
“Humm, como é que é? Por quê?” E isso era uma das coisas que eu dizia no
grupo de homens. Quando fazíamos o grupo só com homens, eu dizia: “As
mulheres servem o marido, né”? E eles: “Ah, sim!” E eu dizia: “E se eu disser
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para vocês que é o contrário: os homens servem?” Quando os homens
servem à família, eles cuidam da família, eles fazem o que eles sabem fazer
melhor. E nós meio que nos perdemos desses papéis. E não significa que
definamos que tem que ser assim, porque as mulheres servem, sim, mas é
uma fala de Hellinger: “Quando o homem serve, a mulher o segue”.
Bom, a outra questão é que há uma responsabilidade entre
vítimas e algozes. Os homens se sentem muito vítimas. Muito, muito, muito
vítimas. E todos aqueles que se sentem vítimas têm dificuldade de sair desse
lugar.
No fundo, em uma briga entre vítimas e algozes, todos são
vítimas. E, quando fazemos esse trabalho, enxergamos que todos os
perpetradores, os assassinos, os abusadores, os violentos, no fundo, eles
representam pessoas do sistema que foram vítimas; eles estão servindo a
vítimas e compensando algo muito difícil que aconteceu. Então, no fundo,
todos são vítimas seguindo um destino. E o destino é coletivo, o destino
familiar é coletivo. Embora as responsabilidades pelas escolhas das ações
sejam individuais, cada um responde por aquilo que escolhe fazer, aquilo que
elegeu fazer dentro desse destino familiar.
PLATEIA – Bom dia, meu nome é Michelle. Eu trabalho no
Ministério Público, na área de Família. A minha pergunta seria mais para as
psicólogas: eu gostaria de saber se uma pessoa que participa de uma
Constelação, depois de tocar em questões tão delicadas assim, como o
suicídio, a dependência química, se ela tem um acompanhamento psicológico,
porque é muito difícil curar essas questões em uma sessão.
Eu sei disso por experiência pessoal, faço terapia há muitos
anos, e isso é impossível. Não se curam essas coisas em uma sessão. Então,
como é que ficam essas pessoas depois? Seria isso.
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SR.ª CRISTIANE PAN NYS (PSICÓLOGA) - O mais
importante neste trabalho é como olhamos para tudo isso. Quando olhamos
com respeito a tudo isso, isso toma um lugar diferente.
Então, claro que a pessoa também pode buscar contato, isso
não fica predeterminado. Mas sentimos que o que realmente faz a diferença
de poder tocar em algo tão profundo e em uma dor tão grande é podermos
aprender junto a olhar isso com muito respeito. É simplesmente isso.
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) – E,
geralmente, depois de uma Constelação, há esse alívio que é sentido aqui
durante o processo. Não significa que todas as Constelações levam a esse
alívio, é importante isso. Às vezes nos deparamos com intrincações que levam
muitos anos, realmente, para serem revistas. Mas quem faz terapia
sistemática, ao se submeter a uma Constelação para trabalhar um tema que já
foi trabalhado incessantemente na terapia individual ou de grupo, sente que
avança anos de terapia. E há um resultado, pois muitos sintomas
desaparecem após uma Constelação.
PLATEIA - (...).
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) - Não é
feita. Colocamos-nos à disposição da pessoa que constela, sempre. Nós,
como consteladoras, assumimos essa responsabilidade e nos colocamos
sempre à disposição. Mas vou dizer para vocês que, em todos esses dois
anos que estamos trabalhando no Judiciário com Constelações, em grupo,
desde 2010; individual, desde 2007/2008, uma pessoa nos procurou depois da
Constelação, na verdade querendo continuar o processo, porque sentiu que
foi tão importante que queria dar sequência.
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DES. NEY WIEDEMANN NETO – Entendo oportuno ainda,
antes de encerrar formalmente a nossa reunião, só acrescentar um dado - de
tantas dúvidas que ficaram, até a Dr.ª Lizandra falou que elas vieram aqui
plantar inquietude, botar sementes para que possamos pesquisar e nos
interessar mais, porque nós não podemos esgotar -, só mais um último
aspecto, porque me parece que isso que vimos, que foi apresentado, não está
vinculado a um sistema religioso.
Só para ficar claro, porque ninguém falou aqui em Deus,
também não falou em espírito, mas se falou em memórias, em registros da
nossa história que reverberam a história dos nossos antepassados. Mas não
que esse sistema que vocês estão aplicando, que foi concebido por este
pesquisador alemão, seja um desdobramento de um sistema religioso. Penso
que é importante pontuar isso também, porque, às vezes, pode mexer com os
nossos preconceitos, com as nossas bagagens.
SR.ª CÂNDICE CRISTINA SCHMIDT (PSICÓLOGA) - De
forma alguma, não tem nenhuma vinculação religiosa, senão não estaria
dentro do Judiciário, com tanta força, em tantos Estados da Federação.
DES. NEY WIEDEMANN NETO - Até porque somos um
Estado laico.
Então, renovando mais uma vez o agradecimento, tanto aos
senhores, que se dispuseram a passar essa manhã aqui tendo esse
aprendizado, mas principalmente às palestrantes, dou por encerrada essa
reunião do Centro de Estudos. No mesmo mês que tem mais.
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(DEGRAVADO E REVISADO PELO DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA
E ESTENOTIPIA DO TJ/RS.)
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