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Aplicação de Lean Manufacturing numa empresa industrial Melhoria do Sistema de alimentação à linha de montagem Bruno Miguel Teixeira Costa Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador: Prof. Paulo Miguel Nogueira Peças Júri Presidente: Prof. Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista Orientador: Prof. Paulo Miguel Nogueira Peças Vogais: Prof. Inês Esteves Ribeiro Prof. Artur Jorge da Cunha Barreiros Novembro 2017

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Aplicação de Lean Manufacturing numa empresa

industrial – Melhoria do Sistema de alimentação à linha

de montagem

Bruno Miguel Teixeira Costa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientador: Prof. Paulo Miguel Nogueira Peças

Júri

Presidente: Prof. Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista

Orientador: Prof. Paulo Miguel Nogueira Peças

Vogais: Prof. Inês Esteves Ribeiro

Prof. Artur Jorge da Cunha Barreiros

Novembro 2017

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Agradecimentos

Com a elaboração desta dissertação termina o meu percurso académico. Quero começar por

agradecer a todos aqueles que de diversas formas me ajudaram a percorrê-lo.

Inicialmente, e como não poderia deixar de ser, aos meus pais e irmã que sempre demonstraram

todo o apoio e compreensão, estando assim ao meu lado durante este longo caminho, sem eles

esta tese não teria sido possível.

Assim como à restante família, amigos e colegas por todo o apoio demonstrado.

Quero também agradecer ao Professor Paulo Peças pela sua orientação, apoio, e motivação

demonstrada na elaboração deste trabalho.

Tenho ainda a agradecer à empresa Benteler por me ter acolhido, possibilitando a oportunidade

de desenvolver este trabalho nas suas instalações, contribuindo para uma aprendizagem e

crescimento pessoal.

Por fim, agradeço ao Engenheiro Pedro Alves por toda a orientação e auxilio durante este projeto,

bem como a todos os colegas que sempre se mostraram disponíveis a para me ajudar neste

projeto. Sem eles a sua realização seria muito mais difícil.

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Resumo

A era atual é marcada por uma elevada competitividade industrial e empresarial. Devido ao

mercado cada vez mais globalizado, a variedade dos produtos e a concorrência é cada vez

maior, levando as empresas a procurar soluções para se tornarem mais competitivas. O Lean

Manufacturing, é uma forma de pensar, com metodologias e ferramentas que visam eliminar

desperdícios e consequentemente aumentar a competitividade das empresas.

Esta tese foi desenvolvida numa empresa do sector automóvel, marcado por uma elevada

concorrência e competitividade. O objetivo era a aplicação das ferramentas Lean, na linha de

montagem visando a melhoria através da redução dos desperdícios.

O diagnóstico efetuado à linha permitiu concluir que grande parte dos desperdícios, deviam-se à

inexistência de um sistema de alimentação à linha eficaz. Assim foi criado um sistema de

abastecimento de raiz. Para tal, foi criada uma área de supermercado, dividida em duas zonas,

uma para picking de carros dedicados e outra de caixas. O sistema funcionaria em pull, através

de um sistema kanban, sendo os componentes transportados para a linha através do

mizusumachi. O layout do bordo de linha também teve que ser reformulado, apresentando

melhorias em termos operacionais e reduzindo desperdícios.

A implementação deste projeto permitiu à empresa não só uma melhoria geral do processo, mas

também uma poupança significativa em termos de custos.

Palavras-chave: Lean Manufacturing, Supermercado, Kanban, Mizusumachi

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Abstract

The current era is defined by high industrial and business competitiveness. Due to the

increasingly globalized market, the variety of products and competitors is increasing, leading

companies to look for solutions to become more competitive. Lean Manufacturing is a way of

thinking, with methodologies and tools that aim to eliminate waste and increase the

competitiveness.

This thesis was developed in a company of the automotive sector. The goal was to apply the Lean

tools, to reduce waste on the assembly line.

The initial diagnosis made to the line led to the conclusion that a large part of the waste was due

to the inexistence of an effective line feeding system. So, a new system was created. To this end,

was created a supermarket area, divided into two zones, one for picking of dedicated cars and

another for boxes. The system would work in pull, using a kanban system. The components would

be transported to the line by the mizusumachi. The layout of the border of line also had to be

redesigned, presenting improvements in the operation and reducing waste.

The implementation of this project allowed the company, not only an overall improvement of the

process, but also a significant cost reduction.

Keywords: Lean Manufacturing, Supermarket, Kanban, Mizusumachi

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Índice

Agradecimentos.............................................................................................................................. i

Resumo .......................................................................................................................................... ii

Abstract ......................................................................................................................................... iii

Lista de figuras ............................................................................................................................. vii

Lista de abreviações ..................................................................................................................... x

1. Introdução .............................................................................................................................. 1

2. Revisão Bibliográfica .............................................................................................................. 2

2.1 Lean Manufacturing ....................................................................................................... 2

2.1.1 Os princípios do lean ................................................................................................. 2

2.1.2 7 Mudas ..................................................................................................................... 2

2.1.3 5S .............................................................................................................................. 3

2.1.4 Just-in-Time (JIT) ...................................................................................................... 3

2.2 Ferramentas Lean ......................................................................................................... 4

2.2.1 Kanban ...................................................................................................................... 4

2.2.2 Calculo do número de Kanbans ................................................................................ 4

2.2.3 Junjo .......................................................................................................................... 5

2.2.4 Mizusumachi .............................................................................................................. 6

2.2.5 Comparação entre empilhador e Mizusumachi ......................................................... 6

2.3 Supermercados ............................................................................................................. 7

2.3.1 Armazenamento tradicional vs em fluxo ................................................................... 8

2.3.2 Tipos de supermercado ............................................................................................. 9

3. Caso de estudo e diagnóstico .............................................................................................. 11

3.1 Caso de estudo ........................................................................................................... 11

3.2 Metodologia utilizada ................................................................................................... 12

3.3 Diagnóstico .................................................................................................................. 12

3.3.1 Deslocações ............................................................................................................ 15

3.3.2 Tarefas Frequênciais ............................................................................................... 16

3.3.3 Eficiência da linha .................................................................................................... 16

3.3.4 Sistema de abastecimento atual ............................................................................. 17

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3.4 Conclusão .................................................................................................................... 17

4. Dimensionamento do sistema de abastecimento à linha .................................................... 18

4.1 Levantamento logístico ............................................................................................... 18

4.2 Definição do ciclo do mizusumashi ............................................................................. 18

4.3 Definição da forma de abastecimento Kanban VS Junjo ............................................ 19

4.4 Escolha da unidade de transporte............................................................................... 19

4.5 Quantidade por caixa .................................................................................................. 20

4.6 Metodologia para calculo da quantidade de componentes necessários no bordo de

linha 20

4.7 Dimensionamento do supermercado .......................................................................... 21

4.8 Metodologia para alocação dos componentes nas estantes ...................................... 26

4.8.1 Estante tradicional ................................................................................................... 26

4.8.2 Estante gravítica ...................................................................................................... 26

4.9 Funcionamento do supermercado ............................................................................... 27

4.10 Cálculo do número de Kanbans .................................................................................. 31

4.11 Conceção dos carros dedicados ................................................................................. 32

4.11.1 Carros dos cubos ................................................................................................ 33

4.11.2 Carro das pinças ................................................................................................. 35

4.11.3 Carro dos discos .................................................................................................. 36

4.11.4 Carros das barras estabilizadoras ....................................................................... 38

4.11.5 Carro de sequenciação de chassis ..................................................................... 41

4.12 Outros carros dedicados ............................................................................................. 45

4.12.1 Carro dos Boomerangs ....................................................................................... 45

4.12.2 Carro caixas KLT ................................................................................................. 46

4.13 Outras soluções de abastecimento ............................................................................. 46

4.14 Dimensionamento das estantes gravíticas do bordo de linha .................................... 47

4.14.1 Metodologia utilizada ........................................................................................... 47

4.14.2 OP50/OP310/OP850 ........................................................................................... 48

4.14.3 OP100.................................................................................................................. 49

4.14.4 OP450.................................................................................................................. 50

4.15 Definição do layout do bordo de linha ......................................................................... 51

4.15.1 OP50.................................................................................................................... 51

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4.15.2 OP100.................................................................................................................. 54

4.15.3 OP300/310 .......................................................................................................... 55

4.15.4 OP450.................................................................................................................. 56

4.15.5 OP850.................................................................................................................. 56

5. Impacto das Soluções Desenvolvidas ................................................................................. 58

5.1 5S e gestão visual ....................................................................................................... 58

5.2 Redução dos desperdícios (Mudas)............................................................................ 59

5.3 Outras melhorias ......................................................................................................... 60

5.4 Impacto na linha .......................................................................................................... 60

5.5 Rebalanceamento da linha .......................................................................................... 61

6. Conclusão ............................................................................................................................ 63

7. Trabalho Futuro .................................................................................................................... 64

8. Referências .......................................................................................................................... 64

Anexo A – Layout da Linha ......................................................................................................... 66

Anexo B – Layout do supermercado ........................................................................................... 67

Anexo C – Desenhos dos Carros Dedicados .............................................................................. 69

Anexo D – Desenhos das Estantes Gravíticas do Bordo de Linha ............................................. 76

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Lista de figuras

Figura 1 – Requisitos JIT [10] ....................................................................................................... 3

Figura 2 – Exemplo de cartão kanban [8] ..................................................................................... 4

Figura 3 - Mizusumachi [19] .......................................................................................................... 6

Figura 4 – Transporte por empilhador [8] ...................................................................................... 6

Figura 5 – Transporte por mizusumachi [8] .................................................................................. 7

Figura 6 – Armazenamento tradicional [8] .................................................................................... 8

Figura 7 – Armazenamento em fluxo [8] ....................................................................................... 8

Figura 8 – Estante gravítica [20] ................................................................................................... 9

Figura 9 – Armazenamento com rodas [8] .................................................................................... 9

Figura 10 – Supermercado de kitting [8] ..................................................................................... 10

Figura 11 – Componentes produzidos na Benteler Palmela ...................................................... 11

Figura 12 - Representação esquemática da linha ...................................................................... 13

Figura 13 – Percentagem dos tempos por estação de montagem ............................................. 14

Figura 14 – TVA vs TVNA ........................................................................................................... 15

Figura 15 – Diagrama de spaghetti ............................................................................................. 15

Figura 16 – Caixas KLT ............................................................................................................... 20

Figura 17 – Supermercado de picking tradicional na Amazon [17] ............................................ 21

Figura 18 – Supermercado de fluxo na Volvo [18] ...................................................................... 22

Figura 19 – Layout supermercado versão 1 ............................................................................... 23

Figura 20 - Layout supermercado versão 2 ................................................................................ 23

Figura 21 - Layout supermercado versão 3 ................................................................................ 24

Figura 22 - Layout supermercado versão 4 ................................................................................ 24

Figura 23 – Visão geral do projecto do supermercado ............................................................... 25

Figura 24 - Projecto da zona de carros dedicados ..................................................................... 25

Figura 25 - Projecto da zona de picking dinâmico ...................................................................... 25

Figura 26 – Alocação de componentes na estante ..................................................................... 26

Figura 27 – Alocação de componentes na estante gravítica ...................................................... 26

Figura 28 – Zona 1 do supermercado ......................................................................................... 27

Figura 29 - Zona 2 do supermercado .......................................................................................... 27

Figura 30 - Estante gravítica vista da zona 2 do supermercado ................................................. 27

Figura 31 – Carro cheio e vazio na respectiva posição .............................................................. 28

Figura 32 – Retirada da caixa cheia da estante gravítica ........................................................... 28

Figura 33 – Colocação da caixa vazia na estante gravítica ........................................................ 28

Figura 34 - Horário de saída do mizusumachi ............................................................................ 29

Figura 35 – Abastecimento de carro dedicado ........................................................................... 29

Figura 36 - Saída do tow-train do supermercado ........................................................................ 29

Figura 37 - Retirada da caixa vazia da estante gravítica ............................................................ 30

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Figura 38 - Abastecimento das caixas ........................................................................................ 30

Figura 39 - Retirada dos componentes da estante ..................................................................... 30

Figura 40 - Colocação da caixa cheia na estante gravítica ........................................................ 31

Figura 41 - Cubo.......................................................................................................................... 33

Figura 42 - Inlet com cubos ......................................................................................................... 33

Figura 43 – Projecto do carro em tubo trilogiq ............................................................................ 34

Figura 44 – Projeto do carro dos cubos ...................................................................................... 34

Figura 45 – Carro dos cubos ....................................................................................................... 34

Figura 46 – Pinças de travão no inlet .......................................................................................... 35

Figura 47 –Carro das pinças ....................................................................................................... 35

Figura 48 – Projeto do carro das pinças ..................................................................................... 35

Figura 49 – Discos no suporte .................................................................................................... 36

Figura 50 – Ranhuras com disco ................................................................................................ 37

Figura 51 – Projecto do carro dos discos .................................................................................... 37

Figura 52 – Carro dos discos ...................................................................................................... 37

Figura 53 – Barras estabilizadoras na estante ............................................................................ 38

Figura 54 – Barras estabilizadoras na vertical ............................................................................ 39

Figura 55 – Colocação das barras estabilizadoras no carro ....................................................... 39

Figura 56 – Projecto do carro das barras estabilizadoras .......................................................... 40

Figura 57 – Carro das barras estabilizadoras ............................................................................. 40

Figura 58 – Projecto de carro para transporte de chassis na vertical ......................................... 41

Figura 59 – Carro de transporte de chassis 4x4 ......................................................................... 42

Figura 60 – Suporte em L ............................................................................................................ 43

Figura 61 – Suportes do chassis ................................................................................................. 43

Figura 62 - Base do carro dos chassis ........................................................................................ 44

Figura 63 - Projeto do carro do chassis ...................................................................................... 44

Figura 64 – Protótipo do carro dos chassis ................................................................................. 45

Figura 65 - Carro dos Boomerangs ............................................................................................. 45

Figura 66 - Carro das caixas KLT ............................................................................................... 46

Figura 67 – Tabuleiro com peças ................................................................................................ 46

Figura 68 – Metodologia 4lean [11] ............................................................................................. 47

Figura 69 – Metodologia para dimensionamento da estante ...................................................... 47

Figura 70 – Projeto da estante gravítica da OP850 .................................................................... 48

Figura 71 – Projeto da estante gravítica da OP300/310 ............................................................. 48

Figura 72 – Projeto da estante gravítica da OP50 ...................................................................... 48

Figura 73 – Estante gravítica da OP300/310 .............................................................................. 48

Figura 74 – Projeto da estante gravítica da OP100 .................................................................... 49

Figura 75 – Estante gravítica da OP100 ..................................................................................... 49

Figura 76 – Projeto da estante gravítica da OP450A.................................................................. 50

Figura 77 – Projeto da estante gravítica da OP450B.................................................................. 50

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Figura 78 – Layout OP50 versão 1 ............................................................................................. 51

Figura 79- Layout OP50 versão 2 ............................................................................................... 52

Figura 80 - Layout OP50 versão 3 .............................................................................................. 53

Figura 81 - Layout OP50 versão 4 .............................................................................................. 53

Figura 82 – Metros percorridos por hora para cada versão ........................................................ 54

Figura 83 - Layout OP100 ........................................................................................................... 55

Figura 84 - Layout OP300/310 .................................................................................................... 55

Figura 85 - Layout OP450 ........................................................................................................... 56

Figura 86 - Layout OP850 versão 2 ............................................................................................ 57

Figura 87 - Layout OP850 versão 1 ............................................................................................ 57

Figura 88 – Carros no bordo de linha ......................................................................................... 58

Figura 89 - Carros dedicados na sua posição ............................................................................ 58

Figura 90 - Etiquetas padrão ....................................................................................................... 59

Figura 91 - Percentagem dos tempos por estação de montagem após implementação do projeto

..................................................................................................................................................... 60

Figura 92 - Percentagem dos tempos por estação de montagem após rebalanceamento ........ 62

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Lista de abreviações

JIT – Just in time

WIP – Work in process

FIFO – First in first out

TVA – Tempo valor acrescentado

TVNA – Tempo valor não acrescentado

BOL – Border of line

QTD - Quantidade

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1. Introdução

Vivemos numa era de grande evolução tecnológica, onde os ciclos dos produtos são cada vez

mais curtos, devido ao consumismo cada vez mais imperante. Para sobreviver neste mundo cada

vez mais globalizado e competitivo, as empresas têm que primar pela diferença, seja do ponto

de vista tecnológico, do preço ou da qualidade.

Esta situação é particularmente relevante na indústria automóvel, onde a competição é feroz,

com produtos cada vez mais complexos e personalizáveis, que vão evoluindo ao longo do ciclo

de vida, criando mais variantes. Para ser competitivo neste sector, é necessário ter um sistema

produtivo que seja flexível, para produzir uma grande diversidade, com mínimo de recursos

possível, para se obter um preço competitivo.

Neste sentido as empresas procuram inovar, com processos mais eficientes, de modo a reduzir

desperdício e custos. É neste âmbito que as empresas procuram as metodologias e ferramentas

Lean.

Foi exatamente neste ponto que surge esta dissertação, na necessidade de aplicação do Lean,

a uma linha de montagem, com o objectivo de reduzir desperdícios, melhorar a eficiência do

processo e consequentemente reduzir custos. Para concretizar isso, foi criado um novo sistema

de abastecimento à linha, aplicando conceitos como o de supermercado, kanban ou

mizusumachi.

No capítulo 2 é feita uma revisão bibliográfica, apresentando conceitos e ferramentas Lean,

relevantes para o desenvolvimento desta dissertação.

No capítulo 3 é apresentado o caso de estudo e realizado um diagnóstico à linha de montagem,

identificando quais os principais problemas do processo.

No capítulo 4 é realizado o dimensionamento do sistema de abastecimento, incluindo o

dimensionamento do supermercado, dos carros dedicados e das estantes gravíticas.

No capítulo 5 são estimados os impactos das soluções implementadas.

No capítulo 6 são retiradas as conclusões relativamente ao trabalho realizado.

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2. Revisão Bibliográfica

No presente capitulo é efetuada uma breve explicação de alguns conceitos utilizados na

elaboração deste trabalho.

2.1 Lean Manufacturing

O conceito lean surge por Womack, Jones e Roos, no seu livro “The Machine That Changed The

World” [1]. Este livro, descrevia o Toyota Production System, apresentando os seus conceitos e

métodos laborais, que inspiraram o Lean Manufacturing.

2.1.1 Os princípios do lean

No seu livro Lean Thinking [2], Womack e Jones, estalecem os cinco princípios da filosofia lean:

Valor – É um ponto crítico para o pensamento lean. O valor é algo que só pode ser definido pelo

cliente, sendo expresso em algo que cumpre as necessidades do cliente, com o tempo e preço

especificado.

A cadeia de valor – Identificar a cadeia de valor, mapeando todas as operações necessárias é

fundamental para identificar os desperdícios.

Fluxo – Depois de eliminados os desperdícios, o próximo passo é criar um fluxo continuo entre

todas as operações.

Produção puxada (Pull) – Deixa os clientes puxaram valor, produzindo apenas o que o cliente

pretende, quando pretende.

Perfeição – Após seguidos os princípios anteriores, torna-se mais fácil identificar desperdícios e

elimina-los através da melhoria contínua, procurando assim a perfeição.

2.1.2 7 Mudas

A filosofia lean tem como base criar valor eliminando os desperdícios. Taiichi Ohno [3] definiu

sete categorias de desperdício (Muda em japonês):

• Sobreprodução – Produzir mais do que é necessário ou mais cedo do que é necessário.

• Esperas – Tempo que os operadores ou máquinas se encontram paradas à espera de

algo.

• Transportes – Todos os transportes ou manuseamentos desnecessários.

• Próprio processo – Operações que não acrescentam valor ao produto.

• Inventário – Produtos fabricados em excesso ou material à espera de ser processado.

• Movimentações – Movimentos desnecessários de pessoas ou máquinas.

• Defeitos – Produtos defeituosos, originando retrabalho.

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Eliminar estes desperdícios pode aumentar bastante a eficiência operacional, fazendo apenas a

quantidade necessária, libertando assim mão de obra. [3]

2.1.3 5S

Os 5S são uma metodologia que tem como objectivo a organização do posto de trabalho, de

modo a garantir o fluxo, eliminar desperdícios e melhorar o desempenho. A metodologia tem este

nome devido a cinco palavras japonesas [4] [5]:

Seiri – Organização – Eliminar todo o que não é necessário ao trabalho;

Seiton – Ordenação – Arrumar todas as ferramentas e materiais necessários ao trabalho, de

forma intuitiva e fácil de utilizar;

Seiso – Limpeza – Garantir que o posto de trabalho e tudo o que é necessário à actividade está

limpo;

Seiketsu – Padronização – Padronizar os procedimentos e tarefas, representando-as de forma

simples;

Shitsuke - Disciplina - Garantir que os procedimentos e normas implementadas são cumpridos.

2.1.4 Just-in-Time (JIT)

JIT significa produzir o que é preciso quando é preciso e nada mais. Qualquer coisa acima do

mínimo necessário é visto como desperdício, porque o esforço e material despendido para algo

que não é necessário agora não podem ser utilizados agora. Os requisitos e premissas

necessárias ao JIT, encontram-se na figura 1. [6]

• Ambiente estável • Participação dos empregados

• Engenharia industrial/básica

• Melhoria contínua

• Controlo da qualidade total

• Lotes de pequenas dimensões

O que necessita O que pressupõe

• Combate o desperdício (tempo, stocks,

sucata)

• Expõe problemas e estrangulamentos

O que é O que faz

• Consegue uma produção linear

• Sistema de "Pull" através da fábrica

• Filosofia de gestão

Figura 1 – Requisitos JIT [10]

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2.2 Ferramentas Lean

2.2.1 Kanban

Kanban é um termo japonês que significa etiqueta, cartão. Este método, criado por Ohno, procura

reduzir o excesso de produção, produzindo:

• Apenas o produto pretendido pelo cliente;

• Apenas no momento em que é pedido;

• Apenas na quantidade encomendada. [7]

Neste sistema as próprias caixas podem funcionar como kanban, sendo as caixas a funcionar

como pull do sistema kanban. [6]

O kanban funciona como ordem de abastecimento ou de produção, ou seja, o material reposto é

igual ao consumido, eliminando assim o excesso de material.

A informação presente num cartão kanban (figura 2) varia de acordo com as necessidades, mas

contém informação básica como identificação do material, identificação do cliente, identificação

do fornecedor e quantidade. [8]

2.2.2 Calculo do número de Kanbans

Para implementar um sistema kanban é necessário determinar o número de kanbans (cartões,

caixas ou carros) necessário. O número de kanbans representa o número de unidades de

transporte que circulam entre o fornecedor e a área de consumo. Cada unidade de transporte

representa o lote mínimo de produção a ser fornecido, logo o número de unidades de transporte

controla diretamente o WIP no sistema. [6]

Para determinar o número de kanbans, não existe uma fórmula mágica. As empresas funcionam,

em geral, empiricamente, começando com um número de kanbans elevado e diminuindo

progressivamente. [7]

Figura 2 – Exemplo de cartão kanban [8]

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No entanto, alguns autores propõem algumas fórmulas para este cálculo. Chase, Aquilano e

Jacobs [6], propõem a seguinte fórmula:

𝑘 =𝐷𝐿(1 + 𝑆)

𝐶 (1)

Onde,

k = Número de kanbans;

D = Procura média num determinado período de tempo;

L = Lead time para reposição de encomenda (expresso nas mesmas unidades que a procura);

S = Stock de segurança expresso em percentagem;

C = Unidades por caixa.

O Kaizen Institute [9] propõe uma fórmula alternativa:

𝑘 =𝑁𝑅 + 𝐿𝑆 + 𝐷𝑇 + 𝑆𝑆

𝑁𝑃𝐾 (2 )

Onde,

k = Número de kanbans;

NR = Nível de reposição (Procura média x Lead time);

LS = Tamanho do Lote;

DT = Stock pela diferença de turnos ( D x (turnos do fornecedor – turnos do cliente);

SS = Stock de segurança;

NPK = Número de peças por kanban.

2.2.3 Junjo

Junjo é a palavra japonesa para sequência. [8] No junjo as peças são fornecidas de acordo com

uma sequência, sendo que o mesmo carro transporta um lote de peças de mais do que uma

referência. As peças são fornecidas pela sequência com que vão ser consumidas na linha,

tornando este sistema mais complexo que o kanban.

A grande vantagem deste sistema é que reduz o espaço necessário no bordo de linha e diminui

os movimentos do operador da linha. Quando as peças apresentam grandes dimensões ou existe

uma grande variedade, este é o único método de abastecimento viável. [8]

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2.2.4 Mizusumachi

Mizusumachi é a palavra japonesa para aranha de água. O mizusumachi é o operador que faz o

transporte interno de material, usando um ciclo e rota fixa. O mizusumachi é um elemento

fundamental para a criação de um fluxo na logística interna, movendo a informação relacionada

com as encomendas, assim como os produtos. O mizusumachi transporta o material entre o

supermercado e o bordo de linha, num ciclo fixo. Durante este ciclo o operador pára nas estações

ao longo da sua rota, abastecendo e verificando as necessidades de material. O mizusumashi

usa um pequeno comboio para transportar os componentes. [8]

2.2.5 Comparação entre empilhador e Mizusumachi

Empilhador:

• Trabalha como um “Táxi” (é necessário chamá-lo);

• Se a empresa tiver 10 empilhadores e eles tiverem ocupados 90% do tempo, a probabilidade de, quando for necessário um, todos estarem ocupados é de 90%^10 = 35% => 1/3 do tempo que o “cliente” terá de esperar;

• Equipamento de custo elevado e de manuseamento difícil;

• Baixa produtividade e sujeito a acidentes.

Figura 3 - Mizusumachi [19]

Figura 4 – Transporte por empilhador [8]

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7

Mizusumachi:

• Trabalha como um “Metro”;

• Chega a cada estação no tempo previsto

• Envolve um custo inferior e é de fácil manuseamento;

• Alta produtividade e permite a execução de trabalho normalizado;

• Permite que o Mizusumashi movimente também toda a informação necessária (Kanban e Junjo).

2.3 Supermercados

Um supermercado é uma área de armazenamento que segue as seguintes regras:

• Posição fixa para cada referência;

• Fácil acesso para picking;

• Permite gestão visual;

• Mantém o principio FIFO;

Um supermercado é uma infraestrutura que permite o fluxo da logística interna, permitindo um

acesso fácil às peças e aumentando a produtividade. [8]

Figura 5 – Transporte por mizusumachi [8]

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8

2.3.1 Armazenamento tradicional vs em fluxo

O armazenamento tradicional usa estantes, para colocar paletes ou contentores, minimizando a

área utilizada. No entanto tem algumas desvantagens:

• FIFO difícil de aplicar;

• Acesso difícil às peças;

• Armazenamento da mesma peça em locais diferentes;

• Risco de quedas de componentes [8].

O armazenamento em fluxo permite um picking bastante fácil, já que as caixas se encontram em

estante gravíticas ou no chão. Este tipo de armazenamento apresenta as seguintes vantagens:

• FIFO fácil;

• Fácil acesso às peças;

• Localização única para a mesma peça;

• Risco reduzido de queda de peças [8].

Figura 6 – Armazenamento tradicional [8]

Figura 7 – Armazenamento em fluxo [8]

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2.3.2 Tipos de supermercado

Existem vários tipos de supermercados com diferentes características consoante as

necessidades:

• Estantes gravíticas - Este tipo de supermercado é utilizado para armazenar caixas

plásticas de pequena dimensão, facilmente movidas à mão.

• Armazenamento no chão com rodas - Este tipo de supermercado é utilizado para

armazenar contentores de média e grande dimensão, sendo colocados numa plataforma

com rodas.

Figura 8 – Estante gravítica [20]

Figura 9 – Armazenamento com rodas [8]

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• Kitting - Este tipo de supermercado é utilizado para a formação de kits. Um kit é uma

unidade de transporte (carro, caixa ou outro), que contém peças necessárias para o

fabrico de um produto.

Figura 10 – Supermercado de kitting [8]

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11

3. Caso de estudo e diagnóstico

Este capitulo está dividido em duas partes. Na primeira é apresentado o caso de estudo, onde

se descreve a empresa, os produtos que fabrica e os objetivos deste trabalho. Na segunda parte

é feito um diagnostico ao sistema produtivo, identificando os principais problemas e

oportunidades de melhoria.

3.1 Caso de estudo

Para a realização deste trabalho foi efetuado um estágio na empresa Benteler, em Palmela.

A Benteler Internacional AG está dividida em três grupos:

• Benteler Automotive;

• Benteler Steel/Tube;

• Benteler Distribution.

Estes três grupos representam 81 fabricas em 40 países. A maior parte do volume de negócio

centra-se no grupo Automotive, onde se enquadra a Benteler Palmela, tendo mais de 20000

funcionários.

A Benteler Palmela fabrica componentes para a VW Autoeuropa,

encontrando-se localizada no parque industrial da Autoeuropa.

Está dividida em duas naves de produção, onde são produzidos os

seguintes componentes:

• Eixo dianteiro;

• Suspensão dianteira;

• Eixo traseiro;

• Front end module;

• Para-choques dianteiro e traseiro;

• Suporte do cockpit;

• Pilar B.

Para fabricar estes componentes a fábrica dispõe de 6 linhas de soldadura e 5 linhas de

montagem JIT.

Figura 11 – Componentes produzidos na Benteler Palmela

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12

Este estágio realizou-se numa altura de grandes mudanças para a empresa, com a introdução

de novos produtos e um aumento significativo de produção. Tudo isto se deve ao inicio de

produção de um novo modelo na Autoeuropa, o T-ROC, do qual se prevê elevados volumes de

vendas, e consequentemente de produção, elevando a produção anual da Autoeuropa para mais

de 200 mil carros.

Com a introdução deste novo modelo, foram identificadas algumas alterações e melhorias que

teriam que ser efetuadas. Uma delas foi o sistema de abastecimento da linha do eixo traseiro. É

neste âmbito que surge o presente trabalho, com o objetivo de identificar quais os problemas

com o atual sistema e criar um novo sistema, que seja adequado não só às necessidades atuais,

como às futuras.

3.2 Metodologia utilizada

Para a elaboração deste trabalho foi utilizada a seguinte metodologia:

• Diagnóstico

• Levantamento logístico

• Definição do ciclo do mizusumashi

• Definição da forma de abastecimento Kanban VS Junjo

• Escolha da unidade de transporte

• Calculo da quantidade de componentes necessários no bordo de linha

• Dimensionamento do supermercado

• Conceção dos carros dedicados

• Dimensionamento das estantes gravíticas do bordo de linha

• Definição do layout do bordo de linha

3.3 Diagnóstico

O primeiro passo na realização deste trabalho foi a realização de um diagnóstico à linha do eixo

traseiro. Esta linha trabalha em JIT, montando todos os eixos traseiros, de todos os modelos

produzidos na Autoeuropa. À data de inicio deste trabalho, esta linha montava três tipos de

chassis diferentes, tendo sete estações de trabalho manual e sete automáticas, num total de oito

operadores.

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13

A linha inicia na OP 50 e termina na OP 900. As estações representadas com são

automáticas.

Inicialmente foi analisada a linha para perceber como todo o sistema produtivo funcionava, como

era feito o abastecimento à linha, o que era montado e como era montado em cada estação, para

além de uma perspetiva geral de disposição e organização de todo layout da linha.

Destas observações tiraram-se as seguintes conclusões:

• Bordo de linha muito cheio e desorganizado;

• Componentes muito distantes do operador;

• Alguns componentes são abastecidos à linha pelo próprio operador;

• Maioria dos componentes colocados no bordo de linha nos contentores de transporte;

• Inexistência de um abastecimento à linha eficiente, sendo este abastecimento feito por

um empilhador por via de comunicação oral.

Auto

Figura 12 - Representação esquemática da linha

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Para verificar e quantificar o impacto destas observações na linha foram efetuadas medições e

obtidos os seguintes resultados:

T. Operação – Tempo despendido pelo operador a efectuar a operação de montagem;

T. Deslocação – Tempo despendido pelo operador em deslocações;

Frenquêncial – Tempo despendido pelo operador em tarefas frequênciais, ou seja, tarefas que

só são efectuadas a cada x peças. Por exemplo, fechar contentores;

T. Espera – Tempo despendido pelo operador em esperas;

T. t. ciclo – Tempo despendido pelo operador à espera do tempo de ciclo, ou seja, à espera que

a palet avance.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

OP50 OP100 OP300 OP310 OP400 OP450 OP850

T. Operação T. Deslocação Frequêncial T. Espera T. controles T. t ciclo

Figura 13 – Percentagem dos tempos por estação de montagem

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Separando os resultados em trabalho de valor acrescentado e não acrescentado obtemos:

Destes resultados podemos observar que mais de trinta por cento do tempo total das operações

é despendido em tarefas de valor não acrescentado, como deslocações e trabalhos frequênciais.

Assim foi feita uma análise para perceber porque isso acontecia.

3.3.1 Deslocações

Verificou-se que os operadores despendiam muito tempo em deslocações. Para perceber porque

isso acontecia, foi efetuando um diagrama de spaghetti:

Figura 15 – Diagrama de spaghetti

69%

31%

TVA

TVNA

Figura 14 – TVA vs TVNA

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16

Neste diagrama foi possível verificar que os operadores deslocam-se demasiado para ir buscar

peças necessárias à operação. Isto acontece porque as peças não se encontram na zona nobre

do operador, levando a deslocações desnecessárias, pois as mesmas são fornecidas em

contentores de transporte, que são demasiado grandes e que ocupam muito espaço.

São utilizados os contentores de transporte porque não existe uma zona de supermercado de

abastecimento à linha, sendo os contentores fornecidos diretamente do stock em armazém para

a linha.

Para além do tempo perdido em deslocações, as distâncias percorridas pelo operador durante o

dia, também são um fator a ter em conta. Este fator contribui para o desgaste do operador e

consequentemente afetará o desempenho do mesmo, podendo levar ao aumento do tempo das

operações.

3.3.2 Tarefas Frequênciais

As tarefas frequênciais são tarefas que não são efetuadas em todos os ciclos, apenas de x em

x peças.

Parte destas tarefas frequênciais devem-se à abertura e fecho de contentores, e à retirada de

separadores de cartão e de plástico dos mesmos, sendo que estes têm que ser colocados nos

locais respetivos.

Outra parte deve-se ao abastecimento de alguns componentes à linha ser feito por parte do

próprio operador, que vai buscar as peças que necessita e as traz até à linha.

Por fim, as restantes tarefas frenquênciais devem-se a tarefas de pré-montagem de

componentes que são opcionais, que se efetuam porque alguns operadores têm muito tempo

livre.

3.3.3 Eficiência da linha

Para obter uma melhor perspetiva geral da linha, decidiu-se calcular a eficiência da linha. A

formula para o calcular a eficiência da linha é dada por:

𝐸𝑓 =∑ 𝑡𝑖

𝑁𝐿×𝑡𝑐 (3)

Numa primeira instancia, calculou-se a eficiência da linha tendo em consideração o tempo de

ciclo total para cada estação, obtendo-se uma eficiência de 87,5%

No entanto, esta eficiência não corresponde à real eficiência da linha, já que estamos a

considerar deslocações e tarefas frequênciais como trabalho produtivo.

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Assim calculou-se a eficiência da linha tendo em conta apenas o tempo de operação e o tempo

de controles, ou seja, apenas as operações de valor acrescentado. Tendo isto em conta obteve-

se uma eficiência de 70,8 %.

Por esta eficiência, percebemos que há muito a melhorar. Este valor indica claramente que existe

muito tempo, em que os operadores estão à espera ou a efetuar tarefas de valor não

acrescentado.

3.3.4 Sistema de abastecimento atual

À data do inicio deste trabalho, o abastecimento à linha era feito por empilhadores. Este sistema

é ineficiente, obriga os operadores a trabalho frequêncial e em certos casos pode parar a linha.

Neste sistema os contentores eram abastecidos quando o operador do empilhador, ao passar

pela linha, verificava que um determinado componente estava a acabar e tomava a iniciativa de

ir buscar um novo contentor ao stock ou, quando o operador da linha ou o team leader chamava

o empilhador para trocar o contentor, sendo o próprio operador da linha a fechar o contentor. O

problema deste sistema, para além de obrigar o operador de linha a trabalho frequêncial e sem

valor acrescentado, é que se o operador do empilhador, por alguma razão não abastecer

imediatamente o componente, pode parar a linha.

3.4 Conclusão

Com base nestes dados, verifica-se que se tem que reformular a forma como a linha é abastecida

de modo a reduzir o máximo possível o trabalho de valor não acrescentado, podendo assim

rebalancear a linha, retirar operadores da linha, melhorar a eficiência, reduzir o throughput time

e o work-in-progress.

Para além disto com a introdução de novos produtos, e consequentemente novas variantes, com

o sistema de abastecimento utilizado, seria impossível ter espaço no bordo de linha para todos

os componentes necessários.

Assim decidiu-se criar uma zona de supermercado para abastecer a linha.

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4. Dimensionamento do sistema de abastecimento

à linha

Após o diagnóstico, foi decidido criar um sistema de abastecimento à linha. Em seguida

apresenta-se todos os passos efetuados para concretizar esse objetivo.

4.1 Levantamento logístico

O primeiro passo para o dimensionamento de todo o sistema foi um levantamento de todos os componentes que tinham de ser fornecidos à linha. Este levantamento incluiu:

• Quais os componentes a ser abastecidos a cada estação de montagem;

• Diferentes variantes de cada componente e respetivo mix;

• Que tipo de embalagem (contentor ou cartão) era recebido do fornecedor e quais as quantidades;

• E qual a procura para cada componente.

Deste levantamento resultou que teriam que ser fornecidos 61 componentes, a 7 estações de

montagem.

4.2 Definição do ciclo do mizusumashi

Para o dimensionamento de todo o sistema de alimentação à linha, começou-se por definir a

frequência com que o mizusumachi efetuaria o ciclo. Para tal, identificou-se qual o componente

que seria o botleneck e com que frequência teria que ser abastecido. Neste caso concreto,

tínhamos um componente de grandes dimensões e que ocupava muito espaço no bordo de linha,

logo era necessário que a quantidade deste componente no bordo de linha fosse o mínimo

possível.

Este componente tinha um procura média de 10 peças/hora. Por razões logísticas, cada unidade

de transporte (UT), neste caso um carro dedicado, teria capacidade para 6 peças. Assim, de

modo a garantir que existissem sempre peças disponíveis para o operador e manter a quantidade

de componentes no bordo de linha o mínimo possível, e consequentemente, o WIP, decidiu-se

que o ciclo do mizusumachi seria de 20 minutos.

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4.3 Definição da forma de abastecimento Kanban VS Junjo

Para cada componente foi necessário decidir como o iriamos fornecer à linha, se em kanban ou

sequenciado (junjo).

Num sistema kanban, cada unidade de transporte leva apenas referência, enquanto que num

sistema junjo a unidade de transporte leva várias referências, do mesmo componente na

sequência em que vão ser consumidos na linha.

Num sistema kanban a reposição é despoletada pelo consumo. O operador do mizusumachi

efetua o ciclo, recolhe as caixas ou carros vazios e no ciclo seguinte leva essas mesmas

referencias cheias. Só reabastece o que recolheu vazio no ciclo anterior.

Num sistema junjo, são fornecidos à linha, na mesma unidade de transporte, um número fixo do

mesmo componente, mas referências diferentes, na sequência em que vão ser consumidos na

linha. A reposição é efetuada a cada x tempo, independentemente do consumo e levando sempre

o mesmo número de sequencias.

Em termos práticos o sistema junjo é melhor para o operador da linha, pois recebe os

componentes necessários na sequencia em que vão ser consumidos. No entanto, é mais

complexo e exige mais recursos, pelo que só se justifica quando existem muitas variantes de um

determinado componente e seria impraticável colocar todas no bordo de linha.

No nosso caso concreto, existiam poucas variantes a abastecer a cada estação, pelo que a

sequenciação não se justificava, por isso optou-se por um sistema kanban, para todos os

componentes, com exceção dos chassis, que tinham 5 variantes e seria impossível coloca-los

na linha em kanban. Neste caso concreto, os chassis seriam sequenciados numa zona

especifica, fora do supermercado, pelo que todo o supermercado funcionaria em kanban.

4.4 Escolha da unidade de transporte

Para cada componente foi necessário decidir como iria ser abastecido à linha, se em caixas

plásticas KLT se em carros dedicados e construídos especificamente para esses componentes.

A melhor solução é fornecer os componentes em caixas. São mais fáceis de manusear e

transportar, mais económicas e contribuem para um bordo de linha mais organizado, já que

podem ser colocadas em estantes dinâmicas no bordo de linha. No entanto, alguns componentes

são demasiado grandes, pesados ou necessitam de suportes específicos para o seu transporte

por questões de qualidade. Assim apenas para esses componentes foram criados carros

dedicados para o seu transporte.

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4.5 Quantidade por caixa

Para obtermos a quantidade por caixa de cada componente, efetuaram-se testes de modo a

verificar a quantidade que conseguíamos colocar em cada caixa. No entanto, tivemos que ter em

conta os seguintes constrangimentos:

• O peso de cada caixa não poderia ser superior a 15 kg;

• A quantidade por caixa deve ser o máximo possível para minimizar o número de caixas

no bordo de linha;

• A forma como os componentes eram colocados nas caixas de modo a evitar problemas

de qualidade e a facilitar a recolha por parte do operador de montagem.

Assim, foram escolhidos 5 tamanhos de caixas diferentes para transportar os diferentes

componentes.

Figura 16 – Caixas KLT

4.6 Metodologia para calculo da quantidade de componentes

necessários no bordo de linha

Para calculo das quantidades necessárias para assegurar o funcionamento ininterrupto da linha,

foi seguida uma metodologia do Kaizen Institute. Segundo esta metodologia, a quantidade de

Uts no bordo deve seguir a seguinte fórmula:

𝑄𝑡𝑑 𝑈𝑡𝑠 𝐵𝑂𝐿 =2 × 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑢𝑟𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜

𝑄𝑡𝑑 𝑑𝑒 𝑝𝑒ç𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑈𝑡+ 1 𝑈𝑡 (4)

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Ou seja, a quantidade de unidades de transporte no bordo de linha deve ser igual a duas vezes

a procura desse componente por ciclo do mizusumachi, a dividir pela quantidade de peças na

unidade de transporte, mais uma unidade de transporte.

Esta fórmula, é uma simplificação da fórmula 1, em que se considera que o lead time é 2 ciclos

e que o stock de segurança é 1 unidade de transporte. Em termos práticos, com esta

simplificação, estamos certos que nunca faltará componentes em linha, pois o lead time nunca

chega a ser 2 ciclos. Além disso, temos o stock de segurança de uma unidade de transporte, que

na maioria dos casos, corresponde a uma quantidade de peças superior ao que seria necessário,

para manter um funcionamento ininterrupto do sistema.

4.7 Dimensionamento do supermercado

Após fazer-se um levantamento de todos os componentes que teriam de ser fornecidos, tentou

obter-se qual a embalagem em que esses componentes eram fornecidos. Após ter as dimensões

das embalagens desses componentes, foi possível estimar a área necessária para implementar

um supermercado para picking de todos os componentes. Para além da área que ocupam os

contentores, é também necessário ter em conta a área necessária, para corredores para aceder

a esses componentes e para fazer a troca de contentores.

Assim, foram equacionadas várias soluções:

A primeira solução equacionada é uma solução de picking tradicional (figura 17), em que os

contentores se encontram no chão e o operador faz o picking dos contentores para caixas ou

carros. No entanto para esta solução, idealmente, requer que exista um corredor para o picking

Figura 17 – Supermercado de picking tradicional na Amazon [17]

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outro para troca de contentores, completamente separados, de modo a que o empilhador e o

operador de picking não se cruzem.

Uma outra opção seria utilizar um supermercado de fluxo (figura 18), em que os componentes já

em caixas, prontas a levar para a linha, estariam numa estante gravítica, onde o mizusumachi

apenas trocaria caixa vazia por cheia, não fazendo picking. Esta solução permite ter os

componentes armazenados numa estante, em vez de no chão, sendo só baixados quando é

necessário encher um lote de caixas, poupando assim área de chão, já que o armazenamento é

feito em altura.

Para este projeto existia uma área de cerca de 150 m2. Inicialmente, tentou-se optar pela via

tradicional e mais económica, criando uma zona de picking tradicional com os contentores

dispostos em fila, com corredores para picking e corredores para troca de contentores por parte

dos empilhadores, nunca havendo cruzamento entre o operador de picking e o empilhador. Nesta

fase foram experimentadas várias soluções de possíveis layout, no entanto não foi possível

encontrar nenhuma solução que satisfizesse todas as condições necessárias, tanto de área para

colocar todos os contentores das referencias necessárias, como de área de paragem do

mizusumashi e de estacionamento de carros vazios.

Assim teve que ser procurada uma solução alternativa. Dado que estávamos limitados em termos

de área, a solução encontrada foi armazenar os contentores numa estante, ganhando assim

área, já que o armazenamento seria feito em altura. Para além da estante para armazenamento

dos contentores, no nível inferior teríamos uma estante gravítica, onde seriam colocadas as

caixas KLT com os componentes a abastecer à linha. Para este sistema funcionar teríamos um

operador com um empilhador, que baixaria o contentor da estante, quando fosse necessário e

encheria um lote de caixas de uma determinada referência. Com esta solução ganharíamos

ainda espaço para colocar uma área de picking para os carros dedicados e respetivo

parqueamento. Para a esta solução foram considerados vários layouts:

Figura 18 – Supermercado de fluxo na Volvo [18]

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• O primeiro layout equacionado, considerava uma zona para picking dos componentes

para carros dedicados e estacionamento dos mesmos, uma estante normal e outra

em que o último nível seria uma estante gravítica. Este layout compre todos os

critérios estabelecidos, mas não faz uma utilização eficiente do espaço disponível,

deixando muito espaço vazio, como se verifica na figura 19.

• O segundo layout considerado, apresentava a zona do picking dos carros inalterada,

mas um layout em L para a colocação das estantes. Este layout é interessante do

ponto de visto do fluxo do misuzumachi, mas devido ao seu layout em L, deixa muito

espaço vazio, que devido à forma como o layout foi concebido, dificilmente seria

aproveitado.

Figura 20 - Layout supermercado versão 2

Figura 19 – Layout supermercado versão 1

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• O terceiro layout considerado, contemplava as duas estantes lado a lado. Este layout

apresentava uma fraca utilização do espaço, com muito espaço morto, para além do

fluxo de abastecimento da estante gravítica também ser fraco.

• O quarto layout considerado e aquele que foi implementado, é uma junção da

primeira e da terceira opção. Dado o espaço que tínhamos disponível, se

colocássemos duas estantes, teríamos capacidade para cerca de 100 posições.

Assim teríamos capacidade não só para todos os componentes do eixo traseiro,

como para todos os parafusos, porcas e anilhas de todas as linhas e para os

pequenos componentes de três processos satélite.

Figura 22 - Layout supermercado versão 4

Figura 21 - Layout supermercado versão 3

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Nas figuras seguintes é possível obter uma imagem mais concreta do projeto do supermercado,

com a zona para picking de caixas na estante gravítica e a zona para carros dedicados. No

corredor, entre as duas zonas circularia o misuzumachi

Figura 23 – Visão geral do projecto do supermercado

Figura 25 - Projecto da zona de picking dinâmico Figura 24 - Projecto da zona de carros dedicados

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4.8 Metodologia para alocação dos componentes nas estantes

4.8.1 Estante tradicional

Foi necessário criar uma metodologia para alocar os componentes na estante. Dado que os

componentes seriam retirados da estante, para encher as caixas que ficariam na estante

gravítica, a metodologia escolhida foi colocar os componentes com maior consumo nas posições

inferiores das estantes e as com menor consumo em cima. Para a alocação na horizontal, a

metodologia escolhida foi colocar os componentes o mais próximo possível do ponto da estante

gravítica a que seriam abastecidos.

Figura 26 – Alocação de componentes na estante

4.8.2 Estante gravítica

Na estante gravítica, o peso das caixas era uma questão mais critica que o consumo. Por

questões de ergonomia optou-se por colocar as caixas mais pesadas em baixo e as mais leves

em cima. Na horizontal optou-se por colocar os componentes por estação de abastecimento, da

direita para a esquerda.

Figura 27 – Alocação de componentes na estante gravítica

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4.9 Funcionamento do supermercado

O supermercado funcionaria de modo híbrido, tendo uma zona de picking para os carros

dedicados e uma zona de supermercado de fluxo, onde o operador só trocaria caixa vazia por

caixa cheia. Para o funcionamento do supermercado seriam necessários dois operadores, o

operador do mizusumachi e um segundo operador que abasteceria as caixas para a estante

gravítica. Assim cada operador trabalharia em zonas diferentes do supermercado, zona 1 e zona

2.

Figura 28 – Zona 1 do supermercado

Figura 29 - Zona 2 do supermercado

Figura 30 - Estante gravítica vista da zona 2 do supermercado

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A zona 1 funciona do seguinte modo:

• O operador do mizusumashi chega ao supermercado e pára o tow-train na zona

indicada. Posteriormente, coloca os carros vazios na posição “vazio” e retira os carros

cheios, colocando-os atrelados ao tow-train, prontos a sair.

• Em seguida, o operador deixa as caixas vazias na posição superior da estante

gravítica e recolhe as caixas cheias, colocando-as no carro de transporte.

Figura 31 – Carro cheio e vazio na respectiva posição

Figura 33 – Colocação da caixa vazia na estante gravítica

Figura 32 – Retirada da caixa cheia da estante gravítica

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• No tempo restante até à hora de saída, o operador enche os carros vazios, deixando-

os prontos a utilizar quando forem necessários.

• À hora indicada no horário, o mizusumachi sai do supermercado

Figura 35 – Abastecimento de carro dedicado Figura 34 - Horário de saída do

mizusumachi

Figura 36 - Saída do tow-train do supermercado

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O outro operador do supermercado, está dedicado ao abastecimento da estante gravítica,

operando do seguinte modo:

• Quando apenas existir uma caixa ou uma fila (nos componentes com mais do que uma

fila de stock) de uma determinada referência, o operador recolhe as caixas vazias dessa

referência e verifica em que posição da estante o componente se encontra armazenado.

• Em seguida, o operador com o auxilio do empilhador, retira o componente da estante e

abastece as caixas vazias.

Figura 37 - Retirada da caixa vazia da estante gravítica

Figura 39 - Retirada dos componentes da estante Figura 38 - Abastecimento das caixas

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• Por fim, coloca as caixas abastecidas na posição respetiva da estante gravítica.

4.10 Cálculo do número de Kanbans

Para o cálculo do número de kanbans foi utilizada a seguinte metodologia:

• No caso dos carros dedicados, o total de carros (kanbans) para cada referência foi

calculado tendo em conta a quantidade necessária no bordo de linha, mais um carro no

supermercado, ou seja,

𝑄𝑡𝑑 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑐𝑎𝑟𝑟𝑜𝑠 = 𝑄𝑡𝑑 𝐵𝑂𝐿 + 1 (5)

• No caso das caixas, o total de caixas (kanbans) para cada referência, foi calculo de forma

semelhante, sendo a quantidade necessária no bordo de linha, mais a quantidade no

supermercado. No entanto, a quantidade no supermercado, foi calculada de forma

diferente. Dado que o operador no supermercado teria que retirar os componentes

armazenados na estante, para abastecer as caixas, era conveniente que esta operação

fosse efetuada o mínimo de vezes possível por referência. Assim definiu-se que cada

vez que fosse necessário abastecer caixas, não se abasteceria uma caixa, mas sim um

lote de caixas, que teria uma duração mínima de 4 horas. Assim calculou-se o número

de caixas necessárias para 4 horas de consumo, para cada referência, somando-se esse

número ao número de caixas necessárias no bordo de linha, obtendo-se o número de

Figura 40 - Colocação da caixa cheia na estante gravítica

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caixas necessárias. Nos casos em que a quantidade por caixa era elevada e uma ou

duas caixas eram suficientes para garantir as 4 horas de consumo, considerou-se o

número de caixas necessário para encher a estante gravítica.

4.11 Conceção dos carros dedicados

Para transportar os restantes componentes, foram criados carros dedicados. Estes carros tinham

que respeitar os seguintes constrangimentos:

• Serem o mais pequenos possível, sem comprometer a estabilidade, pois o espaço no

bordo de linha é reduzido;

• Terem suportes específicos para transportar os componentes sem os danificar;

• Serem ergonómicos para os operadores, devendo os componentes estarem

posicionados entre 0.6 m e 1.4 m.

Na conceção dos carros foram equacionadas várias opções (como explicado em seguida), sendo

essas opções discutidas com a produção e a engenharia, com as versões finais a ser validadas

pelas mesmas. Após finalizada a conceção, foram solicitados orçamentos a diversas empresas,

apresentando os desenhos em anexo, para a construção dos carros em aço, sendo escolhida a

proposta que apresentava as melhores condições não só de preço, como de tempo de entrega.

Os carros fabricados em tubo trilogiq, foram construídos internamente e a sua construção

supervisionada por mim. No caso dos carros das barras estabilizadoras e dos chassis, foram

efetuados protótipos, que foram testados pela produção e só após a sua aprovação foram

contruídos os carros. Nos restantes carros, por serem mais simples, não se considerou

necessária a construção de protótipos.

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33

4.11.1 Carros dos cubos

Este carro dedicava-se ao transporte de cubos. Estes componentes são pesados, têm um

consumo elevado e tinham que ser acondicionados com suportes específicos, para evitar

problemas de qualidade.

Inicialmente começou-se por definir como iriam ser acondicionados os cubos para o transporte

até à linha. Teria que ser um suporte especifico, que não danificasse os cubos, num material

resistente ao uso e em que fosse fácil para o operador de linha retirá-los do suporte.

Assim tínhamos duas opções. Ou se desenvolvia e construía um suporte especifico ou se

utilizava os inlets de transporte. A escolha recaí-o na segunda opção.

Esta opção foi escolhida por estes inlets serem utilizados no transporte dos cubos, logo

preenchem os requisitos estabelecidos previamente. Para além disso, desenvolver um novo

suporte iria ser muito mais dispendioso, tanto em termos de tempo, como em termos financeiros,

já que os inlets são praticamente grátis.

Figura 41 - Cubo

Figura 42 - Inlet com cubos

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Após a escolha do suporte foi necessário conceber a estrutura do carro. Inicialmente, optou-se

por uma metodologia já utilizada na empresa. Esta metodologia passava por construir a estrutura

em tubo trilogiq, uma pratica comum em fabricas lean, pois é um produto muito versátil e fácil de

construir. O carro apresenta uma estrutura retangular com reforços transversais, em tudo trilogiq,

sendo a base do carro feita em perfil bosch, com os RFE, que ligam os rodízios à calha bosch e

à estrutura em tubo, feitos em aço.

No entanto, apesar de ser uma metodologia utilizada pela empresa, verificou-se que as

experiencias anteriores com estes carros, não têm sido as melhores, no que diz respeito a

questões de durabilidade. Por isso, decidiu-se mandar fabricar os carros em tubo de aço

quadrado 30x30 mm, seguindo a mesma estrutura. Esta solução, apesar de mais dispendiosa,

garante uma durabilidade superior.

Figura 44 – Projeto do carro dos cubos Figura 45 – Carro dos cubos

Figura 43 – Projecto do carro em tubo trilogiq

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4.11.2 Carro das pinças

Este carro dedicava-se ao transporte de pinças de travão. Estes componentes, tal como os

cubos, são pesados, têm consumo elevado e dado o seu formato, tinham que ter um suporte

especifico.

A metodologia seguida para este carro foi muito semelhante à seguida para o carro dos cubos.

Inicialmente foi escolhido o suporte que iria ser utilizado para acondicionar as pinças. Tal como

no carro dos cubos a escolha recaí-o na utilização de inlets, pelas mesmas razões.

Para a estrutura também foi seguida a mesma metodologia, sendo feita em tubo trilogiq e

posteriormente alterada para tubo de aço quadrado 30x30 mm. A estrutura em si é retangular,

com reforços transversais.

Figura 47 –Carro das pinças Figura 48 – Projeto do carro das pinças

Figura 46 – Pinças de travão no inlet

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4.11.3 Carro dos discos

Este carro dedicava-se ao transporte de discos de travão. Estes componentes, são pesados, têm

consumo elevado e tinham que ter um suporte especifico para não se danificarem durante o

transporte.

Tal como nos outros carros, começou-se por definir como iriam ser acondicionados os discos

para o transporte. Neste caso, não havia possibilidade de usar inlets logo foi necessário conceber

um suporte de raiz. Para além dos constrangimentos gerais dos carros, também era necessário

tentar colocar o máximo de peças possíveis no carro, para minimizar o número de vezes que o

carro era trocado e o número de carros no bordo de linha.

Foram consideradas várias opções:

• Inicialmente foi considerada aquela que seria a melhor opção em termos de

acondicionamento e de qualidade, fabricar um suporte semelhante ao inlet dos cubos,

em que os discos ficariam encaixados de forma semelhante aos cubos. No entanto, este

suporte teria que ser fabricado num material polimérico, que não danificasse as peças e

que fosse resistente ao desgaste. O material normalmente usado nestas aplicações é o

POM. O problema com esta opção é que o custo deste material é elevado, para além

dos elevados custos de maquinação. Por isso esta solução tornou-se inviável.

• A segunda opção considerada foi a que se encontra na figura 49. Esta solução passava

por utilizar duas barras de POM com uma separação entre si, onde teria um suporte que

encaixaria o disco. No entanto, esta solução foi descartada, pois não garantia um carro

suficientemente compacto, para além dos custos de construção serem mais elevados.

Figura 49 – Discos no suporte

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• A última opção considerada foi usar uma chapa de aço com ranhuras onde os discos

iriam encaixar. Para não danificar os discos, em cima da chapa de aço, seria colocada

uma chapa de POM, com as ranhuras mais pequenas, de modo ao disco ficar justo,

formando uma moldura em volta das ranhuras da chapa de aço. Com esta solução, a

parte central do disco fica apoiado na chapa e o resto do disco encaixado na ranhura.

A opção escolhida foi a última, pois é a mais económica, garante um carro com um número

bastante satisfatório de peças e compacto.

Para a estrutura também foi seguida a mesma metodologia, sendo feita em tubo trilogiq e

posteriormente alterada para tubo de aço quadrado 30x30 mm. A estrutura em si é retangular,

com reforços transversais.

Figura 50 – Ranhuras com disco

Figura 51 – Projecto do carro dos discos Figura 52 – Carro dos discos

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4.11.4 Carros das barras estabilizadoras

Este carro dedicava-se ao transporte de barras estabilizadoras. Estes componentes têm grandes

dimensões e uma forma invulgar, que dificulta o seu transporte. Para além disso, por serem

componentes pintados, teria que se conceber uma forma para que não entrassem em contacto

uns com os outros, de modo a não danificar a pintura.

Foram consideradas várias opções:

• A primeira opção considerada foi transportar as barras na horizontal. Esta solução seria

mais pratica para o operador de linha, mas tornaria o carro muito grande e dado as

limitações de espaço, não seria viável.

• Outra solução seria uma variante da primeira em que as barras seriam transportadas na

horizontal, mas iriam alimentar uma estante gravítica no bordo de linha. Basicamente, o

carro seria uma extensão da estante e os operadores consumiriam as barras diretamente

da estante em vez do carro. No entanto, esta solução também ocuparia muito espaço

em linha, para além de apresentar outros problemas, como as barras na estante,

poderem bater umas nas outras e a dificuldade do operador em retirar as barras da

estante.

• A solução passava por transportar as barras na vertical. A solução inicialmente estudada

seria semelhante à que se encontra na figura 54. As barras iriam na vertical, tendo um

suporte especifico, que garantiria que não tocavam umas nas outras. No entanto, esta

solução apresentava alguns problemas. Em primeiro lugar, o facto de as barras terem

Figura 53 – Barras estabilizadoras na estante

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comprimentos diferentes, tornava esta solução bastante complexa. Em segundo, com

está solução, o carro ficaria pouco compacto e a quantidade por carro seria reduzida.

• Por fim, a ultima solução considerada foi transportar as barras na vertical, encostadas

umas às outras, suportadas por dois tubos em cima e dois em baixo, para garantir que

as barras não balançavam durante o transporte. Esta solução permitia ter um carro muito

mais estreito e compacto, assim como uma maior quantidade por carro. No entanto, tinha

que se garantir que as barras não batessem umas nas outras durante o transporte, assim

concebeu-se uma forma para colocar as barras no carro, em que as barras iriam viradas

para lados opostos, evitando assim possíveis danos na pintura. Esta foi a solução

escolhida.

Figura 55 – Colocação das barras estabilizadoras no carro

Figura 54 – Barras estabilizadoras na vertical

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40

Ao contrário dos outros carros, foi decidido fabricar estes carros em tubo trilogiq. Esta decisão

deveu-se a dois fatores:

• O primeiro fator, foi o facto de este carro só ter sido aprovado já numa altura tardia do

projeto e seria mais rápido fazer os carros internamente, do que fabricá-los fora.

• O segundo fator, foi que dada a especificidade deste carro, poderiam ser necessários

ajustes no posicionamento dos suportes, para facilitar a sua utilização pelo operador,

algo que é facilmente conseguido com este sistema e impossível com uma estrutura em

aço.

De salientar ainda que foram concebidas duas versões deste carro, muito semelhantes, apenas

variando a distância entre suportes, pois tínhamos dois tamanhos de barras.

Figura 56 – Projecto do carro

das barras estabilizadoras

Figura 57 – Carro das barras estabilizadoras

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4.11.5 Carro de sequenciação de chassis

Este carro dedicava-se ao transporte de chassis traseiros, que seriam fornecidos à linha já

sequenciados. Este carro apresentava alguns desafios. Os chassis são componentes de grandes

dimensões e o espaço no bordo de linha era reduzido, logo era necessário que o carro fosse o

mais compacto possível. Para além disso, havia questões de ergonomia a ter em conta e tinha-

se que garantir que os componentes ficavam entre 0,6m e 1,4m do chão.

Tínhamos três tipos de chassis diferentes, num total de cinco variantes.

A primeira questão prendia-se com quantos chassis iriamos colocar por carro. Dado que na linha,

a sequência era invertida a cada cinco peças, o número ideal para colocar no carro seria cinco

chassis.

O próximo passo foi decidir como colocar cinco chassis no carro, de modo a ser

ergonomicamente viável, ser o mais compacto possível e garantir que não existiam problemas

de qualidade.

A primeira solução pensada foi colocar os chassis na vertical. Esta solução garantia um carro

muito compacto, havendo ainda a possibilidade de colocar os chassis em dois níveis para um

carro ainda mais compacto. No entanto, esta solução foi descartada por duas razões:

• A primeira é que os chassis na linha são montados na horizontal, o que iria obrigar a

uma manipulação por parte do operador;

• A segunda é que os chassis 4x4, não podiam ser inclinados mais que x graus.

Figura 58 – Projecto de carro para transporte de chassis na vertical

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A segunda solução pensada, foi uma adaptação de uma solução já existente na empresa. Esta

solução passa por colocar os chassis na horizontal, uns em cima dos outros, simplesmente

apoiados nos suportes. Para o carro em questão, teria de ser adicionado mais um nível, em

relação aos existentes, perfazendo cinco níveis. Para esta solução, também seria necessário

alterar os suportes dos carros para que coubessem todos os chassis, dado que o VL é muito

diferente dos restantes. Esta solução foi descartada, porque ter o carro com cinco chassis de

altura, seria ergonomicamente impossível, pois o primeiro chassis ficaria demasiado alto e o

ultimo demasiado baixo.

A terceira solução pensada e aquela que foi adotada, passa por colocar os chassis em duas filas,

com três à frente e dois atrás. Esta solução, permite garantir uma boa ergonomia para o

operador, apesar de o carro ficar maior do que seria desejado.

Após definir-se a solução a utilizar, concebeu-se o carro. Este tinha que ser bastante robusto,

pois os chassis podem ser pesados. Assim decidiu-se que o carro seria fabricado em tubo de

aço 40x40 mm.

O principal desafio deste carro era conceber um suporte que permitisse colocar, qualquer um

dos chassis, de modo a ele ficar devidamente acondicionado, pois apesar de dois dos chassis

serem semelhantes, o terceiro é um tipo de chassis completamente diferente, o que dificulta a

conceção de um suporte comum.

O primeiro aspeto a considerar é que, como os chassis vão ficar dispostos por níveis, se os

suportes fossem fixos, seria muito difícil retirar os chassis do nível inferior. Assim optou-se por

suportes móveis para facilitar a colocação e retirada dos chassis.

Para a construção destes suportes móveis, optou-se por uma estrutura em duplo U. O primeiro

fica fixo à estrutura, suportando o segundo U, que é móvel e servindo de batente. Para reduzir a

flexão nos suportes foram adicionados reforços na parte inferior.

Para além da estrutura do suporte, foi preciso conceber a parte do suporte onde iria assentar o

chassis. A primeira solução idealizada, era semelhante a uma solução já adotada na empresa

Figura 59 – Carro de transporte de chassis 4x4

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43

para outras aplicações. Basicamente consistia numa espécie de caixa, aberta de um dos lados,

onde o chassis assentaria. No entanto, esta solução foi descartada pois não era compatível com

um dos chassis.

A segunda solução idealizada, era semelhante à da figura 60, tratando-se um suporte com a uma

parede em L, onde o chassis seria simplesmente apoiado. O problema desta solução, é que

como tínhamos um chassis muito diferente dos outros, teríamos que ter uns suportes bastante

largos para conseguir colocar todos os chassis. Para além disto, como um dos chassis era

bastante maior que os outros, para tentar fazer o carro o mais compacto possível, os outros

chassis ficariam apoiados muito perto da ponta do suporte, correndo o risco de caírem durante

o transporte.

A terceira solução idealizada, visava resolver os problemas identificados anteriormente.

Concebeu-se um suporte com encaixes específicos para cada chassis, sendo a base em POM

e os encaixes em aço, como mostra a figura 61. Com este suporte, cada chassis encaixa num

sitio especifico, não havendo o risco de cair durante o transporte.

Figura 60 – Suporte em L

Figura 61 – Suportes do chassis

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Depois dos suportes, concebeu-se a estrutura. Começou-se por desenvolver a base do carro,

que tinha que ser robusta, pois o carro seria aberto num dos lados para o operador poder aceder,

perdendo assim rigidez estrutural. Para facilitar o acesso do operador aos chassis que ficam na

parte de trás do carro, a estrutura foi concebida tendo uma abertura na parte da frente. Também

por questões de ergonomia, as rodas foram colocadas no interior do carro, rebaixando assim o

mesmo e facilitando o acesso e a retirada e colocação dos chassis. Estas questões podem ser

visualizadas na figura 62.

O resto da estrutura é composta por tubos verticais e horizontais, onde são soldados os suportes,

para além de conferirem rigidez à estrutura. Também para conferir rigidez e garantir a

verticalidade dos tubos, foram colocados reforços a ligar os tubos verticais à base do carro.

Figura 62 - Base do carro dos chassis

Figura 63 - Projeto do carro do chassis

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4.12 Outros carros dedicados

Foram ainda necessários outros carros dedicados que, no entanto, não foram projetados de raiz.

Foi o caso do carro dos boomerangs e do carro para transporte das caixas KLT.

4.12.1 Carro dos Boomerangs

Este carro destinava-se ao transporte de boomerangs. Estes componentes eram pesados e

tinham elevado consumo. No entanto, não requeriam um suporte especifico, podendo ser

transportados numa caixa a “granel”. Apesar disso, se transportados numa caixa com a

quantidade desejada, a caixa ficaria demasiado pesada para ser manipulada pelo operador de

picking, assim decidiu-se adaptar um modelo de carro já existente na empresa, para transportar

uma caixa de boomerangs até à linha.

Figura 65 - Carro dos Boomerangs

Figura 64 – Protótipo do carro dos chassis

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4.12.2 Carro caixas KLT

Este carro destinava-se ao transporte de todos os componentes que seriam transportados em

caixas. Como a caixas que iriamos utilizar são de tamanho standard e muito utilizadas pela

industria, existia carros para transporte destas caixas, disponíveis comercialmente. Então, em

vez de projetar um carro de raiz, decidiu-se adquirir um carro desses.

4.13 Outras soluções de abastecimento

Existiam duas estações da linha em que o abastecimento era particularmente complicado. Estas

estações situavam-se no interior da linha, sendo muito limitadas em termos de espaço, o que

dificultava o abastecimento. Dada a dificuldade em abastecer estas duas das estações, criou-se

uma solução alternativa aos carros e às caixas. Esta solução passava pela criação de um kit com

as peças a ser utilizadas nestas duas estações. Este kit era fornecido num tabuleiro, que seria

colocado na palete de montagem, numa estação anterior.

Figura 66 - Carro das caixas KLT

Figura 67 – Tabuleiro com peças

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4.14 Dimensionamento das estantes gravíticas do bordo de linha

Para abastecer os componentes que seriam fornecidos em caixas à linha, foi necessário

dimensionar estantes gravíticas para colocar no bordo de linha, de onde o operador da linha

consumiria diretamente as peças ou de onde retiraria as peças para as colocar numa posição

mais favorável.

Estas estantes tinham que obedecer aos seguintes requisitos:

• Serem o mais pequenas possíveis;

• Os níveis da estante deveriam estar entre 0,6m e 1,4m

4.14.1 Metodologia utilizada

Para o dimensionamento das estantes dinâmicas, foi inicialmente considerado utilizar tubo

trilogiq, por ser mais barato e fácil de construir. No entanto, por questões de durabilidade e

robustez, foi decidido contruir a estrutura em perfil bosch, com os tubos transversais em tubo

alumínio de 30 mm.

Quanto a folgas entre caixas e entre caixas e o perfil, foi usada a metodologia representada na

figura 68, fornecida por uma empresa especializada.

Por uma questão de facilidade de utilização, principalmente se os componentes foram

consumidos diretamente da estante, decidiu-se dimensionar as estantes em escada, de acordo

com a figura 69.

Figura 68 – Metodologia 4lean [11] Figura 69 – Metodologia para dimensionamento da estante

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4.14.2 OP50/OP310/OP850

As estantes para estas estações são bastante semelhantes entre si. Todas têm três níveis de

stock e um de para devolução de caixas vazias, dispostos em escada, com cerca de 0,5 m de

largura e 1,1 m de comprimento, sendo utilizadas em cada nível uma caixa de 30x40 cm ou duas

de 30x20 cm. De salientar, que a estante da OP310 tem o nível inferior mais alto que as restantes,

pois nesse nível está destinado utilizar-se uma caixa com 28 cm de altura em vez de 14 cm,

como nos restantes níveis.

Figura 72 – Projeto da estante gravítica da OP50

Figura 71 – Projeto da estante

gravítica da OP300/310

Figura 70 – Projeto da estante gravítica da OP850

Figura 73 – Estante gravítica da OP300/310

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4.14.3 OP100

Esta estante era a maior da linha, contendo 9 referências diferentes e tendo uma dimensão total

de 1,955x1,350 m. A secção principal da estante, no nível inferior, continha três alvéolos para a

colocação de três carros, um de cada referência. No nível superior tinha capacidade para três

referências, em caixas com 40 cm de lado. O último nível destina-se à devolução de caixas

vazias.

A secção secundária, tinha uma configuração em escada, com três níveis de stock, com

capacidade para caixas com 40 cm de lado.

Figura 74 – Projeto da estante gravítica da OP100

Figura 75 – Estante gravítica da OP100

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4.14.4 OP450

Na OP450, por constrangimentos operacionais e de espaço, decidiu-se dividir a estante em duas,

a A e a B.

Na OP450A, foi dimensionada uma estante para três referências, dispostas em dois níveis de

stock, com um nível superior para devolução de caixas vazias. Esta estante tem uma disposição

em L, com uma dimensão de 1,455 x 0,735 m.

Na OP450B, foi dimensionada uma estante para quatro referências, dispostas em dois níveis de

stock, com um nível superior para devolução de caixas vazias. Esta estante tem uma disposição

em L, com uma dimensão de 1,655 x 1,140 m. Esta estante também tinha a particularidade de

ter um suporte para uma operação de pré-montagem.

Em ambas as estantes, no primeiro nível é mais comprido que os restantes, pois os operadores

iram consumir os componentes directamente da estante, ficando esta adjacente à linha.

Figura 76 – Projeto da estante gravítica da OP450A

Figura 77 – Projeto da estante gravítica da OP450B

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4.15 Definição do layout do bordo de linha

4.15.1 OP50

A definição do layout nesta estação era particularmente complexa. Era necessário colocar no

bordo de linha carros de duas referências, assim como o carro de sequenciação de chassis, cujo

a dimensão era elevada, e ainda uma estante gravítica. Não existia uma maneira obvia de colocar

tudo isto no bordo de linha, de forma a garantir que os componentes ficavam o mais próximo

possível do operador, que existia um corredor para devolução dos carros vazios e um fácil

abastecimento dos carros cheios. Assim foram criadas quatro versões de possíveis layouts,

apresentados em seguida.

Versão 1 – A primeira versão considerada foi a que se encontra na figura 78. Neste layout os

carros ficariam nas costas do operador e a estante gravítica ao seu lado. O layout comtempla

ainda um corredor para devolução dos carros vazios.

Um aspeto ainda a ter em conta é bom fluxo que este layout apresenta, sendo que as distâncias

e as manipulações que o operador tem que realizar, para retirar os carros vazios da sua posição

de consumo, e colocá-los na posição de vazios são reduzidas.

Figura 78 – Layout OP50 versão 1

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Versão 2 - A segunda versão considerada foi a que se encontra na figura 79. Neste layout dois

dos carros ficariam atrás do operador, juntamente com a estante gravítica, enquanto que os

chassis ficariam ao lado. Esta versão também apresenta um bom fluxo, sendo as distâncias e

manipulações reduzidas.

No entanto, o facto de os chassis, que é um componente com um mix de 100%, ficarem mais

distantes, iria obrigar o operador a deslocar-se mais, perdendo mais tempo.

Versão 3 - A terceira versão considerada foi a que se encontra na figura 80. Neste layout os

chassis ficariam atrás do operador e os restantes componentes ao seu lado. No entanto do ponto

de vista do fluxo, não é tão bom como os anteriores. Do ponto de vista do operador da linha, não

há qualquer problema no que diz respeito à devolução dos carros vazios, mas do ponto de vista

de abastecimento aos carros e à estante, é complicado de abastecer pois ficam juntos a outra

estação de montagem e o seu abastecimento pode interferir com o trabalho do operador dessa

outra estação.

Figura 79- Layout OP50 versão 2

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Versão 4 - A quarta versão considerada foi a que se encontra na figura 81. Neste layout dois dos

carros ficariam atrás do operador, a estante ao seu lado e os chassis simultaneamente ao lado

e atrás. Do ponto de vista do fluxo, este layout é fraco, pois apresenta vários problemas,

nomeadamente do ponto de vista da devolução dos carros vazios, não existindo uma zona obvia

para o fazer, mas também do ponto de vista do abastecimento. Um outro problema com este

layout era a distância que o operador teria que percorrer para ir buscar os chassis.

Figura 80 - Layout OP50 versão 3

Figura 81 - Layout OP50 versão 4

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54

Para verificar qual das versões seria a melhor, foi efetuado um estudo para verificar quanto o

operador iria mover-se por hora. Para tal, foram medidas as distâncias entre os carros e o ponto

de consumo, tendo em conta o mix dos componentes, para saber quantas vezes por hora o

operador iria buscar cada componente. Os resultados encontram-se no gráfico em baixo:

Com base nos resultados, podemos verificar que a versão 1 é a melhor, pois é aquela em que o

operador percorre menor distância, ou seja, é aquela em que ele perde menos tempo em

deslocações. Foi esta a versão escolhida, não só porque é a que tem a menor distância

percorrida, mas também porque cumpre todos os requisitos e é a que tem melhor fluxo.

4.15.2 OP100

Na OP100 o único elemento que era necessário colocar no bordo de linha, era a estante gravítica.

Assim, não havia muitas possibilidades de layout. Ou colocávamos a estante ao lado do operador

ou nas costas. Colocá-la ao lado do operador era inviável, pois de um lado havia uma mesa de

pré-montagem e no outro havia material da estação adjacente, o que iria dificultar ou mesmo

impossibilitar o abastecimento da estante. Logo a única possibilidade viável era colocá-la nas

costas do operador.

0

50

100

150

200

250

300

Met

ros

po

r h

ora

Versão 1 Versão 2 Versão 3 Versão 4

Figura 82 – Metros percorridos por hora para cada versão

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4.15.3 OP300/310

Nestas duas estações tinham que ser colocados 6 carros diferentes e uma estante gravítica.

Novamente a única solução viável era colocar os carros e a estante gravítica nas costas dos

operadores. Neste caso a estante gravítica era comum às duas estações, logo ficaria colocada

entre as duas estações. No caso dos carros, ficariam ao lado uns dos outros, tendo um corredor

vazio no meio para devolução dos carros vazios. De modo a reduzir as deslocações os carros

com maior consumo seriam colocados nas posições mais perto do operador.

Figura 83 - Layout OP100

Figura 84 - Layout OP300/310

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56

4.15.4 OP450

O layout para esta estação já estava definido à partida, dado a solução de abastecimento

encontrada. Como mencionado anteriormente, o abastecimento a esta estação era complicado

dado o número de componentes a abastecer e o pouco espaço disponível. Colocar uma estante

gravítica com todos os componentes era impossível em termos de espaço. Assim colocaram-se

parte dos componentes a serem a abastecidos através do tabuleiro, mencionado anteriormente

na figura 67, e os restantes componentes divididos por duas estantes gravíticas, de forma a

maximizar o espaço disponível.

4.15.5 OP850

Na OP850 tínhamos uma situação semelhante à da OP100. Apenas havia uma estante gravítica

a colocar no bordo de linha. Assim, tínhamos duas opções, ou colocar a estante nas costas do

operador (figura 86) ou ao seu lado (figura 87). A solução adotada foi a segunda pois era

ergonomicamente melhor para o operador, já que teria as peças ao seu lado e não teria que se

virar para trás.

Figura 85 - Layout OP450

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57

Figura 87 - Layout OP850 versão 1 Figura 86 - Layout OP850 versão 2

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5. Impacto das Soluções Desenvolvidas

Este capitulo apresenta os impactos das soluções desenvolvidas anteriormente.

5.1 5S e gestão visual

O primeiro impacto das soluções desenvolvidas é visual. As alterações implementadas tiveram

um grande impacto nos 5S, melhorando a organização e ordenação na fabrica. Começando pelo

bordo de linha, que como foi possível perceber pelos layouts apresentados no capitulo anterior,

está agora mais organizado e ordenado, com posições fixas para os componentes e marcações

claras de onde deve estar cada componente (figura 88), contribuindo para um ambiente

visualmente mais apelativo, para além dos benefícios operacionais.

No supermercado, também se verifica uma melhoria relativamente aos padrões da empresa, na

organização e ordenação dos materiais, com marcações e identificações claras de onde tudo

deve estar, como mostra a figura 89.

Figura 88 – Carros no bordo de linha

Figura 89 - Carros dedicados na sua posição

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No que diz respeito a identificações de material, foram criadas novas etiquetas padrão (figura

90), com toda informação necessária e uma faixa de cor, correspondente ao modelo a que se

destina a peça, para uma gestão visual mais fácil. Estas etiquetas irão o ser adotadas por toda

a fábrica.

5.2 Redução dos desperdícios (Mudas)

Este projeto visava, entre outras coisas, a eliminação dos desperdícios. Pretendia sobretudo

eliminar ou reduzir, três desperdícios:

• Deslocações dos operadores de linha;

• Tarefas frequênciais dos operadores de linha relacionadas com o abastecimento;

• Transportes de material para o bordo de linha.

Com a implementação do novo sistema de abastecimento e dos novos layouts do bordo de linha,

as deslocações dos operadores da linha foram reduzidas, em média, para um terço do valor

inicial, contribuindo para uma redução do tempo perdido em deslocações e consequentemente

uma redução do tempo despendido em tarefas de valor não acrescentado. Para alem disso, a

redução das deslocações, também contribui para uma redução do desgaste do operador e uma

melhoria da performance.

Em relação às tarefas frequênciais relacionadas com o abastecimento, como fechar contentores,

retirar inlets ou cartão e ir buscar peças necessárias, foram completamente eliminadas.

Agora os componentes chegam ao operador, prontos a utilizar, tendo apenas o operador que

colocar o carro ou caixa vazia, na posição de devolução quando necessário. Assim é eliminado

tempo perdido numa tarefa de valor não acrescentado.

Figura 90 - Etiquetas padrão

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60

No que diz respeito aos transportes de material, como explicado anteriormente, com a utilização

de um mizusumashi, o transporte fica bastante mais eficiente, pois é possível levar várias

referências de uma só vez, enquanto que o empilhador só leva uma de cada vez, tendo que

efetuar várias viagens, para fornecer diferentes componentes, dependendo mais tempo e

combustível.

5.3 Outras melhorias

Para além das melhorias já mencionadas este sistema de abastecimento, permitiu melhorar o

fluxo de materiais entre a receção dos materiais e o abastecimento à linha, o FIFO e o WIP.

5.4 Impacto na linha

Como analisado no diagnóstico, os operadores perdiam muito tempo em deslocações e tarefas

frequênciais. Agora que esses desperdícios foram reduzidos, pode-se reanalisar a linha para ver

as melhorias. Na figura em baixo, são apresentados os tempos em percentagens relativamente

ao tempo de ciclo, para cada estação de montagem.

Como podemos observar na figura 91, com a redução das deslocações e tarefas frequênciais, o

tempo de ciclo para cada estação baixou. Podia pensar-se que assim poderíamos baixar o tempo

de ciclo da linha e consequentemente aumentar a cadência, mas isso não é possível nem faz

Figura 91 - Percentagem dos tempos por estação de montagem após implementação do projeto

Page 73: Aplicação de Lean Manufacturing numa empresa industrial ... · de um sistema kanban, sendo os componentes transportados para a linha através do mizusumachi. O layout do bordo de

61

sentindo. Não é possível porque o bottleneck da linha não é nenhuma das estações

mencionadas, mas sim uma estação automática e como a linha trabalha em JIT, o takt time da

linha está anexado, ao takt time do cliente, logo não faz sentido reduzir o tempo de ciclo.

O que se ganha com esta melhoria é uma redução da variabilidade na linha, com a redução das

tarefas frequênciais, e flexibilidade.

5.5 Rebalanceamento da linha

Apesar de termos reduzido a variabilidade e aumentado a flexibilidade na linha, podemos ir mais

longe. Com a redução do tempo de ciclo, os operadores passam bastante tem à espera do tempo

de ciclo, o que é um desperdício. A solução passa por rebalancear a linha, de modo a que o

tempo de ciclo de cada estação seja o mais próximo possível do tempo de ciclo da linha. Para

fazer isso teríamos de eliminar estações de montagem, e consequentemente operadores,

dividindo as operações efetuadas nessas estações pelas restantes, respeitando sempre as

precedências.

Olhando para a figura 91, a OP50 é a estação que apresenta o menor tempo de ciclo. Assim é,

teoricamente, a mais fácil de eliminar e sendo a primeira, não tem precedências. Analisando a

OP50, verifica-se que cerca de 2/3 do tempo da operação, é gasto a ir buscar o chassis e a

coloca-lo na linha. Ora isto é uma operação sem valor acrescentado, que pode ser feita por um

robot. Robot esse que nem seria preciso comprar, pois poderia adaptar-se o robot da OP900 (ao

lado da OP50) para fazer esse trabalho. O restante trabalho da OP50 poderia passar, na

totalidade, para a OP100, eliminando assim OP50.

Com esta solução, apenas a OP100 aumentou o seu tempo de ciclo, ficando as restantes iguais.

Por isso poderíamos eliminar mais uma estação. A OP450 é a que tem menor tempo de ciclo

das restantes, no entanto por questões de processo, seria complicado eliminá-la. Então a opção

seguinte seria eliminar a OP310, distribuindo o trabalho pela OP300, OP400 e OP450. Nesta

estação eram montados 2 componentes, num total de 5 tarefas de montagem. As primeiras 2

tarefas de montagem, correspondentes a 40 % do tempo de ciclo da estação, foram alocadas à

OP300, 1 tarefa, correspondentes a 13 % do tempo de ciclo da estação foram alocadas à OP400

e as restantes à OP450. Neste balanceamento foi sempre tido em conta as precedências, assim

como incompatibilidades resultantes do próprio processo. Assim ficaríamos com o seguinte

balanceamento:

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Figura 92 - Percentagem dos tempos por estação de montagem após rebalanceamento

Como podemos observar, com esta solução ficaríamos com os tempos de ciclo mais perto do

tempo de ciclo da linha, melhorando a eficiência de linha para 93,7 % e reduzindo dois

operadores à linha.

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6. Conclusão

Este trabalho tinha como objetivo a aplicação dos conceitos Lean Manufacturing, para melhoria

da linha do eixo traseiro, através da criação de um novo sistema de abastecimento.

O primeiro passo foi efetuar um diagnóstico à linha, com o objetivo de conhecer o processo e

perceber onde estavam as oportunidades de melhoria. Das observações preliminares tiraram-se

as seguintes conclusões:

• Bordo de linha muito cheio e desorganizado;

• Componentes muito distantes do operador;

• Alguns componentes são abastecidos à linha pelo próprio operador;

• Maioria dos componentes colocados no bordo de linha nos contentores de transporte;

• Inexistência de um abastecimento à linha eficiente, sendo este abastecimento feito por

um empilhador por via de comunicação oral.

Após uma análise mais profunda, percebeu-se que os operadores gastavam muito tempo em

atividades de valor não acrescentado, como deslocações e tarefas frequênciais. Em última

analise isto devia-se à inexistência de um sistema de abastecimento adequado, por isso decidiu-

se criar um.

Assim o passo seguinte foi dimensionar o sistema de abastecimento. Para tal começou-se por

fazer um levantamento logístico, de modo a identificar todos os componentes que teriam que ser

abastecidos à linha e onde teriam que ser abastecidos. Em seguida definiu-se o ciclo do

mizusumachi, a partir das necessidades de abastecimento do componente que seria o bottleneck

do sistema.

Para abastecer a linha teve que se definir se iriamos utilizar um sistema kanban ou junjo. O

sistema kanban baseia-se na circulação de etiquetas, que indicam o que é necessário repor. No

sistema junjo, os componentes são fornecidos à linha em sequência.

Foi necessário escolher como íamos transportar cada componente, se em caixas ou em carros,

e a quantidade de cada componente que iriamos necessitar de ter no bordo de linha.

Após efetuado tudo isto, concebeu-se o supermercado, tendo este uma zona para picking de

carros dedicados e outra para caixas. As caixas estão armazenadas numa estante gravítica,

sendo que na parte superior e traseira, tem o stock dos componentes a fornecer. Nesta estante

estão armazenados os componentes do eixo traseiro, de três processos satélite, assim como as

porcas e parafusos de três linhas.

Foram criados carros dedicados para fornecer os componentes, que por diversas razões não

poderiam ser transportados em caixas, assim como estantes gravíticas para colocar as caixas

no bordo de linha.

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Para acomodar todas estas alterações, foi redesenhado todo o layout do bordo de linha.

Finalmente, foram analisados os impactos do sistema criado no processo. Desta analise resultou

que existiu uma melhoria evidente nos 5S, na redução das deslocações dos operadores para um

terço dos valores originais, assim como uma eliminação das tarefas frequênciais devido ao

abastecimento. Devido a estas melhoria é possível fazer um rebalanceamento da linha retirando

dois operadores, melhorando a eficiência e reduzindo os custos.

7. Trabalho Futuro

Um projeto na área lean nunca está concluído, pois está sempre em melhoria continua. Com

este trabalho foi dando um primeiro passo, mas irão existir sempre coisas a afinar e a aperfeiçoar,

de modo a tornar o processo mais robusto e a melhorar o mesmo.

Uma das potencias melhorias identificadas ainda na fase de projeto, tem a ver com as

embalagens em que são recebidos os componentes dos fornecedores. Alguns componentes

(poucos), são recebidos dos fornecedores já em caixas KLT. Ora isso é o ideal para o nosso

sistema de abastecimento, pois nesses casos o operador não tem que encher caixas, apenas

tem que colocar a etiqueta kanban nas caixas e colocá-las na estante gravítica. O objetivo é

conseguir com que cada vez mais componentes sejam fornecidos desta forma.

8. Referências

[1] J. P. Womack, D. T. Jones e D. Roos, The Machine that Changed the World, Simon and

Schuster, 1990.

[2] J. P. Womack e D. T. Jones, Lean Thinking, Free Press, 2003.

[3] T. Ohno, Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production, CRC Press, 1988.

[4] 5straining.com. [Online]. Available: https://www.5straining.com/. [Acedido em 15 08 2017].

[5] C. Intrieri, “What is 5S? An Explanation of the Elements of 5S for a Lean Culture,” [Online].

Available: http://cerasis.com/2013/09/30/what-is-5s/. [Acedido em 15 08 2017].

Page 77: Aplicação de Lean Manufacturing numa empresa industrial ... · de um sistema kanban, sendo os componentes transportados para a linha através do mizusumachi. O layout do bordo de

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[6] R. B. Chase, N. J. Aquilano e F. R. Jacobs, Prodution and Operations Management,

McGraw-Hill, 1998.

[7] A. Courtois, M. Pillet e C. Martin-Bonnefous, Gestão da Produção, Lidel, 2007.

[8] E. A. Coimbra, Kaizen in Logistics and Supply Chains, McGraw-Hill Education, 2013.

[9] “Kaizen Institute”.

[10] R. B. Chase e N. J. Aquilano, Gestão da produção e das operações, Monitor, 1995.

[11] Catálogo 4Lean Vol. III.

[12] D. P. Jorge, “Desenvolvimento de Soluções Lean Manufacturing Aplicadas num Sistema

Produtivo de Moldes,” 2016.

[13] M. S. Barroso, “Aplicação dos princípios de Lean Manufacturing a uma empresa da indústria

da injeção de plástico,” 2017.

[14] T. L. P. Nero, “COSM – Mapeamento do Fluxo de Troca de ferramenta: uma proposta de

integração do VSM no método SMED,” 2017.

[15] M. Rother e J. Shook, Learning to see - value stream mapping to add value and eliminate

muda, The Lean Enterprise Institute, 1999.

[16] E. Henriques e P. Peças, Gestão da Produção, 2008-2009.

[17] twistedsifter.com, “Inside Amazon’s ‘Chaotic Storage’ Warehouses,” [Online]. Available:

http://twistedsifter.com/2012/12/inside-amazons-chaotic-storage-warehouses/. [Acedido

em 10 09 2017].

[18] dexion.com, “Volvo PV, Göteborg Sweden,” [Online]. Available:

http://www.dexion.com/Special-Solutions/Automotive/Automotive-References/Volvo-PV-

Sweden/. [Acedido em 03 09 2017].

[19] budnet.pl, “Mizushumachi,” [Online]. Available:

http://www.budnet.pl/zdjecia/zestawy%20transportowe%20still_2_small.jpg. [Acedido em

27 08 2017].

[20] interack.mx, “Flow rack,” [Online]. Available: http://www.interack.mx/venta-racks/wp-

content/uploads/2017/01/carton-flow-rack3.jpg. [Acedido em 01 09 2017].

Page 78: Aplicação de Lean Manufacturing numa empresa industrial ... · de um sistema kanban, sendo os componentes transportados para a linha através do mizusumachi. O layout do bordo de

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Anexo A – Layout da Linha

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Anexo B – Layout do supermercado

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820

680

B

A

600

95 205 205 165

150 1

50

65

DETAIL BSCALE 1 : 2

5

DETAIL ASCALE 1 : 2

Nota: Tubo 30x30 mm

CARRO CUBOS

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610

210 175 175

150 1

50

230

690

940 A

B

5

DETAIL ASCALE 1 : 2

60

DETAIL BSCALE 1 : 2

Nota: Tubo 30X30 mm

CARRO PINÇAS

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690

855

A

B

660

150

150

135 200 200 170

8

DETAIL ASCALE 1 : 2

5

DETAIL BSCALE 1 : 2

Nota: Tubo 30x30 mm

CARROS DISCOS

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795

600

20

25

225

15

15

187

,50

100

BASE DISCOS

Nota: Chapa Aço 5 mm

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600

27,

50

220

10

795

105

190

20 22,50

BASE DISCOS POM

Nota: Chapa POM 3 mm

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890

14 15

16

550

6

1718

20

495

605

A

1

2

34

21

28,

10

DETAIL ASCALE 1 : 2

Carro Barras 276

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990

1

14

15 16

580

5

17

19

20

595

495

A

2

3

4

21

28,

10

DETAIL ASCALE 1 : 2

Carro Barras 428

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500

3

00

300

3

00

100

400

2

77,5

7

77,5

1015

835

655

150

0

300

3

00

500

320

OP50

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425 435 435 435

100

0 1

00

127

0

300

5

50

300

1395

100

300

1

00

570

3

00

300

162

0

1260

1060

860

OP100

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520

4

00

700

1060

860

660

162

0

500

1

00

400

2

50

350

OP300-310

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620

710 610

450

5

00

157

0

425

645

600

4

50

500

100

OP450A

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157

0,00

600

4

50

500

580 425

530

100

810 710

620

4

50

500

OP450B

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445

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0

500

3

00

300

5

00

100

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3

00

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1000

800

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OP850

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