Apontamentos de Filosofia2010_2011

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► O que é Filosofia Introdução Um dos melhores modos de responder à pergunta “o que é filosofia?” É mostrar como os filósofos, ou as correntes filosóficas principais da filosofia, fizeram filosofia e/ou dissertaram sobre suas concepções de filosofia. Neste trabalho procuro reproduzir o significado de “Filosofia” e o que ela representa na sociedade atual, a apresentação de alguns filósofos com suas teorias e o que eles pensavam e como suas idéias se repercutiram e influenciaram até os dias de hoje muitos estudiosos. O que é filosofia? 1. Da definição de Filosofia A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras: "philia" (φιλία), que significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico) e respeito entre os iguais e "sophia" (σοφία), que significa "sabedoria", "conhecimento". De "sophia" decorre a palavra "sophos" (σοφός), que significa "sábio", "instruído". Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Assim, o "filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a criação da palavra. Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a

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► O que é Filosofia

Introdução

Um dos melhores modos de responder à pergunta “o que é filosofia?” É mostrar como os filósofos, ou as correntes filosóficas principais da filosofia, fizeram filosofia e/ou dissertaram sobre suas concepções de filosofia. Neste trabalho procuro reproduzir o significado de “Filosofia” e o que ela representa na sociedade atual, a apresentação de alguns filósofos com suas teorias e o que eles pensavam e como suas idéias se repercutiram e influenciaram até os dias de hoje muitos estudiosos. 

O que é filosofia?

1. Da definição de Filosofia

A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras: "philia" (φιλία), que significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico) e respeito entre os iguais e "sophia" (σοφία), que significa "sabedoria", "conhecimento". De "sophia" decorre a palavra "sophos" (σοφός), que significa "sábio", "instruído". Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Assim, o "filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a criação da palavra. Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente.

Se dermos crédito a Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3].

Cabe perguntar o que haveria de filosófico na proposição de Tales. Muitos ensaiaram uma resposta a esta questão. Hegel, por exemplo, afirma: "com ela a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é a nossa percepção sensível". Segundo Hegel, o filosófico aqui é o encontro do universal, a água, ou seja, um único como verdadeiro.

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A Filosofia representa, nessa perspectiva, a passagem do mito para o logos. No pensamento mítico, a natureza é possuída por forças anímicas. O homem, para dominar a natureza, apela a rituais apaziguadores. O homem, portanto, é uma vítima do processo, buscando dominar a natureza por um modo que não depende dele, já que esta é concebida como portadora de vontade. Por isso, essa passagem do mito à razão representa um passo emancipador, na medida em que libera o homem desse mundo mágico.

Portanto, em seu início, a Filosofia pode ser considerada como uma espécie de saber geral, oniabrangente. Um tal saber, hoje, haja vista o desenvolvimento da ciência, é impossível de ser atingido pelo filósofo.

2. Método da Filosofia

A ciência moderna, caracterizada pelo método experimental, foi tornando-se independente da Filosofia, dividindo-se em vários ramos de conhecimento, tendo em comum o método experimental. Esse fenômeno, típico da modernidade, restringiu os temas tratados pela Filosofia. Restaram aqueles cujo tratamento não poderia ser dado pela empiria, ao menos não com a pretensão de esclarecimento que a Filosofia pretenderia.

A característica destes temas, determina um modo adequado de tratá-los, já que eles não têm uma significação empírica. Em razão disso, o tratamento empírico de tais questões não atinge o conhecimento próprio da Filosofia, ficando, em assim procedendo, adstrita ao domínio das ciências.

Ora, o tratamento dos assuntos filosóficos não se pode dar de maneira empírica, porque, desta forma, confundir-se-ia com o tratamento científico da questão. Por isso, no dizer de Kant "o conhecimento filosófico é o conhecimento racional a partir de conceitos". Ou seja, "as definições filosóficas são unicamente exposições de conceitos dados [...] obtidas analiticamente através de um trabalho de desmembramento". Portanto, a Filosofia é um conhecimento racional mediante conceitos, ela constitui-se num esclarecimento de conceitos, cuja significação não pode ser ofertada de forma empírica, tais como o conceito de justiça, beleza, bem, verdade, etc.

Apesar de não termos uma clara noção destes conceitos, nem mesmo uma significação unívoca, eles são operantes na nossa linguagem e determinam aspectos importantes da vida humana, como as leis, os juízos de beleza, etc. Didaticamente, a Filosofia divide-se em:

Lógica: trata da preservação da verdade e dos modos de se evitar a inferência e raciocínio inválidos.

Metafísica ou ontologia: trata da realidade, do ser e do nada.

Epistemologia ou teoria do conhecimento: trata da crença, da justificação e do conhecimento.

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Ética: trata do certo e do errado, do bem e do mal.

Filosofia da Arte ou Estética: trata do belo.

3. Função da Filosofia

Em razão da impossibilidade de abarcar, hodiernamente, todo o âmbito do conhecimento humano, parece mais plausível pensar numa restrição temática à Filosofia, deixando-a tratar de certos temas, como os mencionados acima. Nesse sentido, a filosofia teria um âmbito de problemas específicos sobre os quais trataria. No entanto, o tratamento desse âmbito específico continua a manter ao menos uma função geral, a qual pode ser considerada de forma extremada ou de forma mais modesta. Assim, a lógica, a ética, a teoria do conhecimento, a estética, a epistemologia são disciplinas filosóficas, tendo uma função geral para o conhecimento em geral, seja para as ciências, a partir da lógica, teoria do conhecimento, epistemologia, seja para os sistemas morais, a partir da ética filosófica, seja para as artes, a partir dos conhecimentos estéticos. Por exemplo, no que concerne à lógica, ao menos como a concebeu Aristóteles, ela pode apresentar uma refutação do ceticismo e, portanto, estabelecer a possibilidade da verdade, determinando a obediência necessária ao princípio de não contradição. De forma menos modesta, mas não sem o mesmo efeito, podemos dizer que as outras disciplinas pretendem o mesmo, determinando, portanto, a possibilidade de conhecimentos morais, estéticos, etc. No caso da moral, ela pode mostrar que questões controversas podem ser resolvidas racionalmente, bem como apontar para critérios de resolução racional de problemas.

O que eles pensavam

1. Admiração e desbanalização: Platão e Aristóteles

Platão e Aristóteles deram à filosofia uma de suas melhores definições. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e/ou espantado com o mundo.

Nessa linha de raciocínio, dizemos que quando falamos sobre o mundo e colocamos questões do tipo "o que é um raio?" e "como acontece um raio?", estamos propensos a adentrar no campo da ciência, enquanto que quando fazemos perguntas do tipo "o que é o que é?" estamos assumindo já, um tipo de discurso filosófico.

As perguntas da filosofia mostram uma atitude de máxima admiração, pois demonstram inquietude com aquilo que até então era o mais banal. Se alguém pergunta "o que é que é?", este alguém está criando a desbanalização de algo bastante corriqueiro, que é a condição de ser, o que até então não havia preocupado ninguém.

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2. O Saber Ignorante: Sócrates

Se fosse perguntado a Sócrates "o que é a filosofia?", é possível dizer que ele não responderia como Platão, ainda que não o desmentisse. Sócrates esteve mais disposto a fazer filosofia do que erigir uma discussão meta-filosófica, isto é, uma discussão sobre a definição e os métodos da filosofia.

Estava disposto a fazer da filosofia um trabalho com conseqüências mais drásticas - para a vida prática cotidiana - que as assumidas por Platão. Ele não estava interessado na admiração ou no espanto com o que é banal no mundo, mas motivado a ver a desbanalização do que poderia ser tomado como banal para si mesmo e para outros homens: a condição de cada um a respeito do que sabe sobre o mundo e sobre si mesmo em relação à conduta na vida prática, na vida moral. No jogo de perguntas e respostas para cada transeunte de Atenas, Sócrates não tinha respostas para nada, ainda que tivesse um bom número de perguntas cujo objetivo era levar seus interlocutores a perceber que o que sabiam do mundo e de si mesmos (especialmente no campo das verdades morais) era muito pouco, e que a condição de sábio, aquele que poderia se auto-conhecer, talvez fosse justificável para os que sabiam que nada sabiam.

3. O Cogito como fundamento último.

Descartes não desmentiu Sócrates, Platão ou Aristóteles. Ele, como bom filósofo, realmente se espantava com o que os outros acreditavam como banal. Para sua época, não deveria ser banal encontrar tantos povos diferentes com tantos modos de pensar e de falar distintos uns dos outros e que, no entanto, poderem ser tomados como “humanos e inteligentes”. Mas, na verdade, o contato dos povos europeus com outros, como se deu no período das grandes navegações, se tornou algo rapidamente banal. Ainda que houvesse estranhamento e guerras – inclusive guerras de religião e de todo tipo de intolerância – o estranhamento foi menor que a aceitação da tese de que cada povo tem sua vida e, enfim, logo surgiu no cenário o ditador popular “cada cabeça uma sentença”. Era uma forma de legitimação da relativização das conclusões que cada um poderia chegar.

4. A Critica da Razão e da Racionalidade: Kant, Hegel e Marx

Descartes colocou em dúvida tudo, mas não colocou em dúvida a própria capacidade de pensar de modo consciente, racional. “Penso, logo sou” é uma certeza, mas só consigo dizer isso na medida em que estou de posse da razão. Qualquer um de nós, que refaz a meditação cartesiana, chega ao “penso, logo sou” por conta de ser racional. Não acreditamos que algum ser não racional chegaria a tal certeza. Mas se a razão como capacidade de julgar se tornou banal, cabe ao filósofo desbanalizá-la. Um dos méritos da filosofia pós-cartesiana foi o de tentar questionar até mesmo aquilo que não havia sido questionado por Descartes. Esse foi um dos méritos de Kant. Essa acepção de como fazer filosofia ficou conhecida como reflexão e

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discurso da razão que faz a crítica da razão.

Kant perguntou sobre as condições do conhecimento e da liberdade de agir e, assim, elaborou a crítica da razão; tanto da razão teórica - a que conhece - quanto da razão prática - a que julga e que é responsável pela conduta moral -, sendo que também esboçou algo semelhante em relação ao aparato capaz de fazer juízos estéticos. Mas Kant fez essa crítica, em grande medida, sem levar suficientemente a sério a história.

Marx, por sua vez, tendo lido Hegel - o filósofo que racionalizou a história e historicizou a razão - levou adiante a ideia da filosofia de Kant como uma busca pela crítica da razão, mas uma razão banhada na racionalidade dos homens no mundo histórico. Daí que a crítica de Marx não era somente uma crítica da razão, tomada em um sentido epistemológico restrito, mas a crítica da racionalidade da vida humana enquanto vida social e económica. Não à toa, portanto, a obra máxima de Marx, O Capital, vinha com o subtítulo de "crítica da Economia Política". A racionalidade humana enquanto impregnada no âmbito sócio-histórico havia sido descrita pelos teóricos da "Economia Política", mas Marx achava que eles não haviam levado em conta um estudo crítico, ou seja, um estudo capaz de revelar limites, condições e pressupostos de suas próprias conclusões. O conhecimento da vida económica e social dos homens deveria passar por uma actividade que, hoje, podermos chamar de epistemologia social crítica.

5. A Terapia da Linguagem: Nietzsche, os positivistas lógicos e os filósofos analíticos

Nietzsche e os filósofos analíticos, dentre estes últimos os positivistas lógicos do Círculo de Viena, fizeram uma revolução na filosofia. Eles se espantaram com a própria filosofia. Acharam que fazer filosofia é que havia se tornado banal. Então, eles tentaram desbanalizar a própria filosofia.

Para eles, as actividades de adquirir o saber ignorante ou de encontrar certezas e, enfim, a actividade crítica, só tinham algum sentido se fosse levado em conta que tudo isso estava impregnado da ideia de que a filosofia, desde sempre, procurou por algo que, talvez, não fosse lá muito coreto de se procurar: um ponto arquimediano, ou seja, uma âncora que ligasse pensamento ou linguagem ao mundo. Mas tal âncora seria feita de pensamento ou de mundo?

Em outras palavras, a filosofia teria sido, desde sempre, uma metafísica, e a metafísica seria apenas um grosseiro erro provocado por uma linguagem excessivamente rebuscada – para alguns analíticos – ou uma linguagem já na origem maculada pela “doença”, “fraqueza”, “moral escrava” e outros males da decadência – como Nietzsche os qualificou.

6. A Redescrição de Nós Mesmos e a Liberdade: Richard Rorty

Rorty, como Hegel, gosta de ver a história como caminhando em direcção à liberdade, ainda que diferentemente de Hegel ele não acredite que a história tenha um caminho. Mais

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liberdade, para Rorty, é algo que só pode ser alcançado se sobrepusermos imagens sobre nós mesmos que nos convençam que podemos ser mais do que somos: mais plurais, leves, soltos, audaciosos, diferentes e livres, enfim, capazes de usar dessa liberdade para a construção de sociedades democráticas onde sejamos mais diferentes, mais livres, mais plurais, mais leves, mais soltos e mais audaciosos. Todavia, diferente de toda e qualquer outra filosofia ou doutrina, esta não seria uma doutrina sobre o que é o mundo, capaz então de nos dizer que nossa acção está fundamentada, mas sim uma teoria sobre nós e o mundo que funcionaria ad hoc. Assim sendo, como teoria ad hoc, ela não poderia ser desvincada com a acusação de querer fundamentar qualquer saber, reivindicando para si a pseudo-legitimidade de um saber de segunda ordem, eleito por si mesmo - o eterno círculo denunciado pelos filósofos da Escola de Frankfurt, que faz da filosofia não instância de saber mas, os fazer, o conjunto dos objectivos postos por cada uma dessas acepções. Isso nos levaria a cair em contradições e, enfim, deixarmos de agir filosoficamente? Se não tomarmos cuidado, sim, mas se formos inteligentes, não.

Lista de alguns filósofos e suas teorias

Tales de Mileto (624 – 550 ªC.), grego. Expoente do “monismo”; é considerado o primeiro filósofo ocidental.

Heráclito de Éfeso (533-475 ªC.), grego. Opôs-se ao conceito de uma realidade única e dizia que a única coisa permanente é a mudança.

Parmênides de Eléia (c. 495 ªC.), grego. Membro da escola eleática, e formulou a doutrina básica do “idealismo”.

Antístenes (c. 450-c. – 360 ªC.), grego. Líder do grupo conhecido como “Cínicos”, ressaltava a disciplina e o trabalho como um bem essencial.

Platão (c.428 – 347 ªC.), grego. Fundador da Academia de Atenas, desenvolveu o “idealismo de Sócrates”e foi professor de “Aristóteles”.

Boécio (c.480 – 524), estadista romano. Em “A Consolação da Filosofia”, Boécio propôs que apenas a virtude é constante.

Idade Média

Avicena (980 – 1037). Discípulo árabe de “Aristóteles” e do neoplatonismo cujos trabalhos despertaram interesse por Aristóteles na Europa do séc.XIII.

Santo Anselmo (1033 – 1109). Agostiniano e realista italiano famoso por sua prova da existência de “Deus”.

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Abelardo (1079 – 1142). Teólogo e filósofo francês cujo nominalismo antagonizou a Igreja.

Maimônides (1135 – 1204). Judeu, estudioso de Aristóteles que tentou combinar o ensinamento “aristotélico com o bíblico”.

- Período Moderno 

Desidério Erasmo (1466 – 1536), holandês. O maior dos humanistas, ajudou a difundir ideias renascentistas no norte da Europa.

Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), italiano. Maquiavel colocava o Estado como o poder supremo nos assuntos humanos. Seu livro “O Príncipe” trouxe-lhe reputação pelo cinismo amoral.

Francis Bacon (1561 – 1626). Estadista e filósofo da ciência inglesa. Em seu principal trabalho, “Novum Organum”, Bacon buscou renovar o sistema indutivo de lógica na interpretação da natureza.

René Descartes (1596 – 1650). Dualista, racionalista e teísta francês cujo sistema “cartesiano” é a base de grande parte da filosofia moderna. Desenvolveu uma teoria de conhecimento que fundamenta a ciência e a filosofia modernas, com base na certeza da proposição “Penso, logo existo”.

Johann Gottlied Fichte (1762 1814), alemão. Formulou uma filosofia do “idealismo absoluto”, baseada nos conceitos “éticos de Kant”.

· Século XIX

George Wihelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), alemão. Seu sistema metafísico era racionalista, historicista e absolutista, baseado na doutrina de que “o pensamento e o ser são o mesmo”, e que a natureza é a manifestação de um “Espírito Absoluto”.

Arthur Schopenhauer (1788 –1860). Idealista alemão que atribuiu à vontade um lugar de destaque em sua metafísica. Principal expoente do pessimismo, e rejeitava o idealismo absoluto e pregava que a única atitude sustentável está na completa indiferença a um mundo irracional. Afirmava que o ideal maior era a negação do querer-viver.

Auguste Comte (1798 - 1857), francês, fundador do positivismo, um sistema que negava a metafísica transcendente e afirmava que a “Divindade e o homem eram um só”; que o altruísmo é o dever maior do homem e que os princípios científicos explicam todos os fenómenos.

Ludwing Feuerbach (1804 –1872), alemão. Argumentava que a religião era uma projecção da natureza humana. Influenciou Marx.

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Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900). Alemão. Ele afirmava que a “vontade de poder” é básica na vida e, que o espontâneo é preferível ao metódico. Atacou o “Cristianismo”, principalmente, por ser um sistema que apoiava os fracos, enquanto o valor maior pertence ao “além-do-homem”.

Nietzsche – Foi um extraordinário poeta e romancista e um dos mais influentes filósofos modernos. Por motivos de saúde, renunciou a um cargo em uma Universidade na Suíça em 1879 e passou a década seguinte escrevendo suas principais obras, no ritmo de um livro por ano. Sua existência criativa terminou num colapso mental em 1889. Após sua morte, em 1900, sua irmã Elizabeth Foerster deliberadamente desvirtuou seus pensamentos com objectivos nacionalistas e anti-semitas.

· Século XX

Gottlob Frege (1848 – 1925). Matemático alemão que revolucionou a lógica formal e abriu caminho para a filosofia analítica.

George Edward Moore (1873 – 1958). Filósofo moral britânico, que desenvolveu a doutrina do “utilitarismo ideal”.

Gabriel Marcel (1889 – 1973), francês. Inicialmente aluno de idealistas de língua inglesa, Marcel preocupava-se com o problema cartesiano da relação entre mente e matéria.

Juergen Habermas (nasc.; em 1929), alemão. Crítico marxista com fortes tendências Kantianas e liberais.

Donald Davidson (nasc.; em 1917), norte-americano. Filósofo da linguagem e seguidor de Quine.

Conclusão

Existem questões que não são tratados pelas ciências específicas (física, ética, cosmologia, etc.), a filosofia as estuda e procura encontrar respostas. Ela funciona como uma alternativa científica à religião, pois ambas tratam de questões que envolvem origens e razões de existência do ser humano. Ela possui um carácter de classe (social) e pode ser dividida em duas linhas básicas, materialismo e idealismo. A filosofia, dependendo da linha pela qual você venha a optar, possibilita visualizar a realidade de uma maneira mais abrangente e considerando todo o processo histórico do conhecimento humano acumulado até então. Possibilita também considerar a sua inserção neste processo. A grande contribuição que a filosofia pode proporcionar em nossas vidas é a opinião que teremos sobre a realidade, opinião que nos pertencerá individualmente e não mais "trabalhada" pelos ditos senhores da informação. O julgamento caberá a nós próprios e isto nos proporciona autonomia, condição para nos tornarmos humanos.

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Concluindo, Filosofia é a ciências geral dos princípios e causas, ou sistemas de noções gerais sobre o conjunto das coisas; esforço para generalizar, aprofundar, reflectir e explicar; força moral e elevação de espírito com que o homem se coloca acima dos preconceitos; sabedoria.

Bibliografia

http://www.filosofia.pro.br/

http://www.filosofiavirtual.pro.br/

http://www.edicoesgil.com.br/educador/filosofia/oqueefilosofia.html

http://www.paijulioesteio.kit.net/os_filosofos_e_suas_teorias_8.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia

http://www.sobresites.com/filosofia/

http://www.odialetico.hpg.ig.com.br/filosofia/livros/oqfilos.htm

► O Nascimento da Filosofia

Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e inicio do século VI antes de Cristo, nas colónias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jónia), na cidade de Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto.

Alem de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras, cosmos que significa mundo ordenado e organizado; e logia que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, donde cosmologia.

Os padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental.

No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”. E muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar n filosofia como sendo o “milagre grego”.

Com a palavra “milagre” queriam dizer varias coisas:

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• Que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse;

• Que a filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio de um milagre;

• Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a filosofia, como foram os únicos a criar as ciências de dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes nem depois deles.

O que perguntavam os primeiros filósofos

Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer à noite, o inverno parece fazer surgir à primavera, um objecto escuro clareia com o passar do tempo, um objecto claro escurece com o passar do tempo?

Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no Outono, até ressacar-se e retorcer-se no inverno.

Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da musica que antes me embalava, agora que estou doente, parece um ruído insuportável?

Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? Á água do copo, tão transparente e de boa temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser líquida e transparente para tornar-se sólida e acinzentada.

Mas, também, por que tudo parece repetir-se? Depois do dia, à noite; depois da noite, o dia. Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o verão, depois deste, o Outono e depois deste, novamente o inverno. De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranquilo e propicio á navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas para o céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou velho, mas sempre criança, que se torna adulto e velho.

Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.

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► Organização do sentido e do pensamento

Exemplos de nossas vidas nos põem diante de situações nas quais não cabe uma única resposta. O que vemos, o que presenciamos e o que percebemos não oferecem em sentido imediato e levamos tempo para organizar uma explicação.

Há sem dúvida , uma série de situações que desequilibram nossa capacidade de interpretação, e para ela , buscamos soluções que nos acalmem os ânimos, devolvendo a ideia de ordem que possuímos antes.

Exemplo: Um menino esta em um sábado na rua a tarde bem tranquilo andando na rua ,quando ele menos espera, se depara acertado na cabeça, por uma bala partida, e tem logo alguns minutos de morte cerebral.Provavelmente uma distracção que ele tivesse minutos atrás, poderia evitar uma morte. Esse tipo de coisa se aplica ao nosso dia-a-dia.

E nós sempre ficamos sem resposta.

Ou talvez um simples gesto que fazemos pode ter significado, que não sabemos assim se é verdade ou não. Mas mesmo assim continuamos a fazer.

Exemplo: o sinal da cruz, bater três vezes na madeira após falarmos algo indesejado.

Qual seria a explicação para isso?

Poderíamos dizer, que é superstições, crença ou simpatia

Por que precisamos dar uma resposta para tudo que vemos ou pensamos e nem sempre encontramos uma resposta.

Como também ficamos sem resposta quando pessoas têm ideias diferentes morando no mesmo lugar e convivendo com os mesmos problemas. O que precisamos perceber é que necessitamos de explicação. Por isso tentamos achar respostas para nossas perguntas.

Conclusão

A organização do sentido e do pensamento

São situações que acontecem em nossas vidas em nosso dia -a -dia e fazemos varias perguntas sobre o que houve e não encontramos uma resposta.

Nós necessitamos de explicação e com isso tentamos achar respostas para nossas perguntas. Muitas vezes nos deparamos em situações nas quais não conseguimos achar soluções para elas e com isso fazemos perguntas que muitas vezes não conseguimos achar as respostas.

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Os simples gestos que fazemos como o sinal da cruz, bater três vezes na madeira após falarmos algo indesejado são simples gestos que fazemos que podem ter significado mas não sabemos qual e a explicação para isso poderíamos dizer que são superstições.

Nós necessitamos de explicação e com isso tentamos achar respostas para nossas perguntas. Muitas vezes nos deparamos em situações nas quais não conseguimos achar soluções para elas e com isso fazemos perguntas que muitas vezes não conseguimos achar as respostas.

Senso comum e conhecimento científico

O conhecimento do mundo é marcado pela forma que vemos e compreendemos o mundo. O que nos leva a querer conhecer as coisas é a necessidade de nos informar sobre os fatos que ocorrem.

Senso comum: é algo não muito confiável.

Conhecimento científico: É certo ou não.

Muitas vezes nos deparamos em situações que existem duas respostas pelo fato acontecido.

Exemplo: Um menino passou foi atropelado...

Bibliografia

Apostila positivo 2005 pág. 7 a 12

► Os pré-socráticos

Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia Antiga e nas suas colónias. Assim são chamados pois são os que vieram antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas obras está disponível, restando apenas fragmentos. O primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e com livros completos é Platão, depois Aristóteles. São chamados de filósofos da natureza, pois investigaram questões pertinentes a esta, como de que é feito o mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adoptando uma forma científica de pensar. Alguns se propuseram a explicar as transformações da natureza. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do século VII a.C., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos como Nietzsche, que nos iluminou com a sua

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obra A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia.

Tales de Mileto: Tales de Mileto (+ ou- 640-548 a. C) Tales é considerado o pai da filosofia grega, o primeiro homem sábio. Foi um homem que viajou muito. Os pensadores de Mileto iniciaram uma física e uma cosmologia. O universo era considerado um campo com pares opostos das qualidades sensíveis. É de Tales a frase de que á água é a origem de todas as coisas. Tudo seria alteração da água, em diversos graus. O alimento de toda a coisa é húmido. Aristóteles afirmou que ele foi o primeiro a atribuir uma causa material para a origem do universo. Também era matemático, geómetra e físico. Aparece nas listas dos Sete Sábios da Grécia. Outra frase que pode ser dele é a de que tudo está cheio de deuses, ou seja, a matéria é viva. Dizem que previu um eclipse solar e calculou a altura de uma pirâmide. Em Aristóteles há um trecho dizendo que era sabido ser uma afirmação de Tales que a alma é algo que se move. Teve como discípulo Anaximandro Para Tales, tal princípio era a água. Portanto, não aceitava-se mais representações extraídas da imaginação, nem figurações fantástico-poéticas: passou-se agora do mito ao lógos, acarretando naturalmente no nascimento da Filosofia.

A afirmação de Tales de que tudo se origina da água pode parecer ingénua, mas a sua intuição é coerente com o fato de que a vida surgiu na água (teoria unanimemente aceita nos dias de hoje).

Anaximandro: Anaximandro (+ ou - 610-547 a. C) é um filósofo da escola jónica, natural de Mileto e discípulo de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrónomo e político. Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. É considerado autor de um mapa do mundo habitado e iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o apeíron, o infinito. O mundo se dissolveria nele também. É apenas um mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu à génese um carácter material. O apeíron é eterno e indivisível, infinita e indestrutível. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio. Teve como discípulo Anaxímenes. Foi Anaximandro quem introduziu o termo Arché para designar a realidade primeira e última de todas as coisas. Ele foi mais profundo do que Tales ao afirmar que tal princípio era o Ápeiron (sem “peras”, limites ou determinações, tanto externas como internas), o infinito, ilimitado ou indeterminado, ao invés da água de Tales, relembrando o filósofo oriental Lao Tsé, anterior a Anaximandro, que o designou por o Inominável, na colectânea de seus fragmentos conhecida por Tao Te King.

Anaxímenes: Anaxímenes (+ ou - 588-524 a.C.) foi um filósofo da escola jónica, que tem como característica básica explicar a origem do universo ou arché a partir de uma substância única fundamental. Refutando a teoria da água de Tales, e do apeíron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que essa substância era o ar infinito, pneuma apeíron. O universo resultaria das transformações do ar, da sua rarefacção, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. Esse era o processo por qual passava uma substância primordial, e resultava na multiplicidade, os quatro elementos. O ar tinha o eterno elemento. Escreveu uma obra, como Anaximandro: Sobre a natureza. Dedicou-se à meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do sol. Era companheiro de Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém unidos, assim um espírito e o ar mantém

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unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa. A substância da origem volta a ser uma coisa determinada como em Tales. Anaxímenes identificou o ar talvez porque tenha visto seu movimento incessante, e que a vida e o ar andam juntos, na maioria dos casos. A respiração é um processo vivificante, dependemos dela durante toda a nossa vida. Ele via que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez..

Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha".

Ele via que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez. Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha". Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, corrige a teoria do mestre em alguns pontos, principalmente no que diz respeito ao princípio, e em como as coisas são geradas a partir dele. Ele afirma que o princípio é determinado, e que é o Ar, ar infinito.

As razões que levaram Anaxímenes a modificar o princípio do seu mestre seria por não se compreender bem de que modo os contrários gerariam as várias coisas. Ele então buscou uma outra solução, colocando o ar como Arché, porque o ar, melhor que qualquer outra coisa, se presta a variações, e também devido a necessidade vital deste para os seres vivos.

Pitágoras: Pitágoras (século VI a.C.) Conhece-se muito pouco sobre a vida desse filósofo, pois foi uma figura legendária, e é difícil distinguir o que é verdade e o que é mentira. Nasceu em Samos, em uma época em que na Grécia estava instituído o culto ao deus Dionísio. Os órficos (de Orfeu) acreditavam na imortalidade da alma e em reencarnação (metempsicose), e para se livrar desse ciclo, necessitavam da ajuda de Dionísio, deus libertador. Pitágoras postulou como via de salvação em vez desse deus, a matemática. Acreditava na divindade do número. O um é o ponto, o dois determina a linha, o três gera a superfície e o quatro produz o volume. Os pitagóricos concebem todo o universo como um campo em que se contrapõe o mesmo e o outro. É de Pitágoras o teorema do triângulo rectângulo. Fundou uma seita, em que a salvação dependia de um esforço humano subjectivo, e que tinha iniciação secreta. Os números constituem a essência de todas as coisas segundo sua doutrina, e são a verdade eterna. O número perfeito é o dez, por causa do triângulo místico. Os astros são harmónicos. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia - (amizade ao saber).

A escola de Pitágoras gerou os pitagóricos, que procuraram aperfeiçoar o sistema filosófico original. Eles floresceram em uma colónia grega na Itália. Pregavam o ideal da salvação do homem, tinham um carácter místico e espiritualista, e davam à matemática um carácter matemático.

Muitos filósofos foram também matemáticos, que atribuem ao universo a lógica dos números e em muitos pontos de sua doutrina buscam a matemática para fundamentar a sua lógica. É uma visão mecanicista, que identifica no mundo o raciocínio matemático. Platão exaltava a geometria, por essa ter um carácter abstracto. Outros filósofos matemáticos importantes foram Descartes, Leibniz e Bertrand Russel. Spinoza escreveu um livro chamado A ética demonstrada pelo método geométrico, que é o método euclidiano de expor.

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Heraclito: Heráclito (+ ou - 540-470 a. C) nasceu em Éfeso, cidade da Jónia, descendente do fundador da cidade. É considerado o mais importante dos pré-socráticos. É dele a frase de que tudo flui. Não entramos no mesmo rio duas vezes e o sol é novo a cada dia. É o filósofo do devir, a lei do universo, tudo nasce se transforma e se dissolve, e todo o juízo seria falso, ultrapassado. Desprezava a plebe, não participou da política e desprezou a religião, os antigos poetas e os filósofos de seu tempo. É o primeiro pré-socrático com um número razoável de pensamentos, que são um tanto confusos, e por isso tem o nome de Heráclito, o obscuro. São aforismos. Foi muito crítico. Chama a atenção, além da pluralidade, para os opostos. Tanto o bem como o mal são necessários ao todo. Deus se manifesta na natureza, abrange o todo e é crivado de opostos. O logos é o princípio cósmico, elemento primordial, e a razão do real, a inteligência. A verdade se encontra no devir, não no ser. Com sentidos poderosos, poderíamos vê-lo. O pensamento humano participa e é parte do pensamento universal. O fogo é eterno, um dia tudo se tornará fogo. O sol seria da largura de um pé humano. A felicidade não está nos prazeres do corpo. A morte é tudo que vemos despertos, e tudo o que vemos dormindo é sono. Existe a harmonia visível e a invisível. A alma não tem limites, pois seu logos é profundo e aumenta gradativamente. O pensar é comum a todos. A terra cria tudo, e tudo volta para ela.

Hegel identifica em Heráclito a dialéctica: Heráclito concebe o absoluto como processo, com a dialéctica, exterior, um raciocinar de cá para lá e não a alma da coisa da coisa dissolvendo-se a si mesma, a dialéctica imanente do objecto, situando-se na contemplação do sujeito, objectividade de Heráclito, compreendendo a dialéctica como princípio. O ser não é mais que o não ser. O fogo condensa-se, e apagado vira água. Encontramos em Heráclito algo comum entre os sábios: o desprezo pelo populacho, (como era comum Nietzsche dizer) e instituições dominantes. Teria sua experiência lhe dado base para isso?

Ele pode ter contemplado com os seus próprios olhos o devir, movimento inteligente do universo e maravilhoso. Encontrou fogo na alma humana, comparou-a com uma chama que se apaga na morte. Identificou o infinito na natureza, não apenas o matemático, mas o que constitui a essência das coisas. Pois todas as coisas têm uma essência, e o fluxo da alma é tão fundo que não tem fim.

Parmênides: Parmênides (+ ou - 544-450 a. C) filósofo da escola eleática, da região de Eléia, hoje Vília, Itália. Foi discípulo de Amínisas. Conheceu a filosofia de sua época. Escreveu um poema, cujo preâmbulo tem duas partes, a primeira trata da verdade, a segunda da opinião. Suas conclusões são contrárias às de Heráclito, seu contemporâneo. Na primeira parte do poema proclama a razão absoluta, que é o discurso de uma deusa. Para se chegar à verdade não podemos confiar nos dados empíricos, temos de recorrer à razão. Desta forma nada pode mudar, só existe o ser, imutável, eterno e único, em oposição ao não ser. Teve como discípulo Zenão, também de Eléia.

Segundo Nietzsche, foi em um estado de espírito que Parmênides encontrou a teoria do ser, considerando o vir a ser. Pensou: algo que não é e pode vir a ser? Não. - Temos de ignorar os sentidos e examinar as coisas com a força do pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é nada, o ser é um.

Ao colocar como “imperativo categórico” o ser, e com ele a verdade que se chega na razão, Parmênides inaugura uma manifestação humana de consequências funestas. A

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refutação dos dados empíricos, em favor do que pode ser comprovado com a razão age sobre o resultado final dos mesmos. Assim, com o possível de ser explicado em primeiro plano, deixamos de lado um aspecto da percepção: a mudança, pois mudar é deixar de ser. O devir, nesses parâmetros é uma ilusão, o fluxo da natureza também e o que é confiável é aquilo que é assimilado e compreendido. Põe se barreiras na percepção pura, que provêm da mente aberta, para usar um termo de Aldous Huxley. O continuador de Parmênides foi Zenão, autor dos famosos argumentos contra o movimento. Um desses argumentos é o seguinte: imagine uma tartaruga posta para correr ao lado de Aquiles, o herói grego, considerado invencível na corrida. Como a tartaruga é menor e mais frágil, Aquiles lhe dá 10 metros de vantagem. Num primeiro instante, Aquiles percorre esses 10 metros - mas a tartaruga também percorre alguns centímetros.

Novamente Aquiles está atrás, e precisa cobrir a distânica. Porém ao fazê-lo dará tempo para que a tartaruga avance mais. E sempre haverá um espaço entre a tartaruga e Aquiles, acabando num absurdo que comprovaria a inexistência daquilo que chamamos movimento. Por trás destes argumentos lúdicos, Zenão professava a mesma crença do seu mestre: a mudança é uma ilusão.

Bibliografia:

.http://www.consciencia.org/antiga/presocr.shtml

.http://www.ime.usp.br/~rudini/filos.jonicos.htm

► Pensamento mítico e pensamento filosófico

Historicamente, a filosofia, tal como a conhecemos, inicia com Tales de Mileto. Tales foi o primeiro dos filósofos pré-socráticos, aqueles que buscavam explicar todas as coisas através de um ou poucos princípios.

Ao apresentarem explicações fundamentadas em princípios para o comportamento da natureza, os pré-socráticos chegam ao que pode ser considerado uma importante diferença em relação ao pensamento mítico. Nas explicações míticas, o explicador é tão desconhecido quanto a coisa explicada. Por exemplo, se a causa de uma doença é a ira divina, explicar a doença pela ira divina não nos ajuda muito a entender porque há doença. As explicações por princípios definidos e observáveis por todos os que tem razão (e não apenas por sacerdotes, como ocorre no pensamento mítico), tais como as apresentadas pelos pré-socráticos, permitem que apresentemos explicadores que de fato aumentam a compreensão sobre aquilo que é explicado.

Talvez seja na diferença em relação ao pensamento mítico que vejamos como a filosofia de origem europeia, na sua meta de buscar explicadores menos misteriosos do que as coisas explicadas, tenha levado ao desenvolvimento da ciência contemporânea. Desde o ínicio, isto é, desde os pré-socráticos vemos a semente da meta cartesiana de controlar a natureza.

A Necessidade do Estudo do Mito Para a Filosofia 

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Um longo período de tempo medeia entre o gradual aparecimento do homem na Terra e o gradual aparecimento do homem utilizador da razão abstracta. Podemos dar por fixa a data de há 70 000 anos para o definitivo estabelecimento do Homo-Sapiens nas planícies europeias. Também podemos dar por fixa a data de há 3000 a 2800 anos para o estabelecimento definitivo, na civilização grega clássica, do uso preferencial do discurso racional como instrumento de conhecimento do homem sobre a realidade.

Entre estas duas datas, o homem aprendeu a modelar a pedra, o barro, a madeira, o ferro, levantou diversíssimas casas em função dos materiais que tinha à mão, estabeleceu regras de casamento e de linhagem familiar, distinguiu as plantas e os animais bons dos nefastos, descobriu o fogo, a agricultura, a arte da pesca, da caça colectiva, etc.

No plano estritamente filosófico, interessa-nos, sobretudo, a descoberta (ou invenção) de um instrumento que lhe iria permitir acelerar o desenvolvimento do processo de conhecimento da realidade por via da conservação das descobertas transmitidas de geração em geração: a palavra, a linguagem.

É pela palavra que se vai condensar a experiência que as mãos e os olhos vão adquirindo ao longo de gerações. A palavra surge, assim, como dotada de uma força espiritual (sai de dentro do homem como a respiração, não se toca, não se vê) que se conserva para além do ciclo da vida e da morte, capaz de por si própria reevocar acontecimentos passados, que se estabelecem como modelos de acção para o presente, e igualmente capaz de prefigurar o futuro, forçando-o a ser conforme aos desejos humanos.

É assim em torno do uso majestático da palavra que o homem primitivo (de épocas remotas ou actuais) vai desenvolver e sintetizar toda a sua capacidade de apreensão de conhecimentos da realidade que o cerca. Ora, o que actualmente chamamos Mito Clássico (também existe o mito moderno) é o repositório de narrativas, longas ou breves, que as sociedades antigas (anteriores à Grécia clássica) ou as sociedades primitivas actuais nos deixaram, nelas condensando a sua secular experiência de vida, o modo como encaravam a vida e a morte, os ciclos de renascimento da natureza, o modo como analisavam e escolhia a flora e a fauna da sua região, como viam e interpretavam os astros no céu, o processo cíclico do dia e da noite, os actos de nascimento, de reprodução e de casamento, bem como tudo o que dizia respeito à sua vida quotidiana e às regras por que se relacionavam entre si.

► Sócrates

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Filosofo grego, Sócrates nasceu em Atenas no ano de 470 a.C. . De origem modesta, era filho de Sofronisco, escultor, e de Fenarete, parteira, com quem dizia Ter aprendido a arte de obstetra de pensamentos.

Era casado com Xantipa, cujo nome se tornou provérbio.

Abandonando a arte de seu pai dedicou-se inteiramente a missão de despertar e educar as consciências, tendo como influência a filosofia de Anaxágoras. Sempre entre jovens, sempre em discussões, especialmente com os sofistas, nada escreveu. Por isso, o seu pensamento tem que ser reconstituído sobre testemunhos, nem sempre concordes, de Xenofonte, de Platão e de Aristóteles.

Viveu sempre em Atenas, tendo participado das batalhas de Potidea  (onde salvou a vida de Alcibíades) de Delion e de Anfipolis.

Em 399 a.C., a sua actividade e a sua vida foram finalizadas pela condenação à morte, sob a acusação de corromper os jovens contra a religião e as leis da pátria. Ao se dirigir aos atenienses que o julgavam, Sócrates disse que lhes era grato e que os amava, mas que obedeceria antes ao deus do que a eles, pois enquanto tivesse um sopro de vida, poderiam estar seguros de que não deixaria de filosofar, tendo como sua única preocupação andar pelas ruas, a fim de persuadir seus concidadãos, moços e velhos, a não se preocupar nem com o corpo nem com a fortuna, tão apaixonadamente quanto a alma, a fim de torná-la tão boa quanto possível.

Denunciado, então, como subversivo, foi condenado à morte ignominiosa, tendo de beber a cicuta na prisão de Atenas em Fevereiro de 399 a.C. .

Segundo Sócrates, a Ciência fala de ser justo em relação ao cosmos, fala da modificação da alma, purificando o espírito em sua unidade e totalidade, o qual não é mais capaz de erro e de pecado.

CIÊNCIA = VIRTUDE = FELICIDADE

Esta é a equação Socrática, que quer dizer que o bem é igual ao útil. Ou seja, as pessoas fazem o bem por interesse próprio, porque é o que vai levá-las a felicidade. Ele achava que as pessoas deveriam agir correctamente, pois estando no caminho certo, a tendência será essa pessoa ser feliz. Mesmo assim, eventos externos podem modificar o resultado dos eventos.

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Sócrates queria que as pessoas se desenvolvessem na Virtude. A virtude é  um agir óptimo, é procurar fazer o bem, que é o coreto, o ideal. Ser virtuoso é o máximo que se pode ser. O ato virtuoso depende do fim que se colocar para ele. As coisas são virtuosas a medida que elas fazem bem as coisas para as quais elas foram feitas. O caminho para a virtude não é só o intelecto, razão, é o conhecimento místico também. Para Platão, as principais virtudes são: força, coragem, justiça e piedade. A virtude abrange, também, criar riquezas.

A virtude da alma é a sabedoria, que é o que a aproxima de Deus

A sabedoria tem a ver com humildade intelectual e não com a quantidade de saber. O ignorante é arrogante porque pensa que sabe. Não descobrindo em si mesmo espécie alguma de sabedoria, onde quer que estivesse, interrogava seus interlocutores a respeito de coisas que, por hipótese, deveriam saber. Ao interrogá-los, verificou que não sabem o que julgam saber, e o que é mais grave, não sabem que não sabem. Assim, Sócrates se achava mais sábio porque pelo menos sabia que nada sabia, ao passo que as outras pessoas pensavam que sabiam. O importante para a sabedoria é o que você faz, não é o que você sabe. A sabedoria modifica o ser e purifica a alma de forma que seus objectivos fiquem mais fáceis de serem atingidos.

Ou seja, o que há de comum entre todas as virtudes é a sabedoria, que, segundo Sócrates, é o poder da alma sobre o corpo, a temperança ou o domínio de si mesmo. Permitindo o domínio do corpo, a temperança permite que a alma realize as actividades que lhe são próprias, chegando a ciência do bem. Para fazer o bem, basta, portando, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, quer dizer, o bem, e o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal voluntariamente.

Para Sócrates, a filosofia vem de dentro para fora e sua função é despertar o conhecimento, ou seja, o Auto-conhecimento, pois a verdade está dentro de cada um. Para conhecer a si mesmo é preciso conhecer o outro. A alma do outro é como se fosse o espelho da própria alma. Por meio da comparação com o olho, Platão utiliza o método indirecto da auto-observação (método da introspecção.

O “conhecer-te a ti mesmo”, que era, na inscrição de Delfos (onde Sócrates foi proclamado o mais sábio), uma advertência ao homem para que reconhecesse os limites da natureza humana,  tem dois significados : Ter a consciência da condição humana, não tentar ser mais do que é para os homens serem, não tentar ser Deus, não ser arrogante, devendo os limites do homem serem respeitados para que se viva bem, ou seja, a consciência da seriedade e gravidade dos problemas, que impede toda presunção de fácil saber e se afirma como consciência inicial da própria ignorância; E, o conhecimento interior, para o grego, é conhecer o que permanece oculto, isto é, as coisas divinas eternas, o que as pessoas nem sabem que podem ser.  Ou seja, é necessário conhecer o mundo para conhecer a si mesmo.

O conhecimento da própria ignorância não é a conclusão final do filosofar, mas o seu momento inicial e preparatório.

É preciso um caminho indirecto, como a ironia (método de ensino de Sócrates), porque o caminho para o conhecimento interior é individual a cada um.

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A Ironia possui duplo aspecto: a refutação e a maiêutica. Através da refutação, Sócrates faz uma cadeia de raciocínio para provar que a base do que o outro está pensando está errada. Levava ao ridículo homens considerados sábios. O emprego da refutação para libertação do espírito é de origem eleática. Sócrates tira-a de Zenão, que é o criador. Procurava na filosofia o melhor caminho da libertação das almas do erro, do pecado e da condenação ao ciclo de nascimento.

A refutação faz parte da maiêutica, que é a arte de Sócrates projectar ideias, fazer nascer a verdade. Através da  maiêutica, Sócrates fingia ser capaz unicamente de interrogar, mas não de ensinar alguma coisa, mas levava o interlocutor, mediante uma série de perguntas habilmente formuladas, a tomar consciência da própria ignorância e a confessá-la. Reconhecido isto em relação ao que se julgava e presumia saber, procura-se extrair da sua alma o conceito que nela permanecia oculto, desenvolvendo seu próprio pensamento, ou seja, reencontrando, por si mesmos, conhecimentos que já possuíam sem o saber. O exemplo clássico da aplicação da maiêutica é encontrado no diálogo platónico intitulado Mênon, no qual Sócrates leva um escravo ignorante a descobrir e formular vários teoremas de geometria.

“A sabedoria plena é buscada através do auto-conhecimento, que tem como método indirecto a ironia.”

► Sócrates e os Sofistas

Questões sobre Sócrates e os sofistas

a) Quem foi Sócrates? Qual sua opinião sobre os Sofistas? Quais suas ideias fundamentais?

É relativamente pouco o que sabemos sobre Sócrates, o homem. Nascido em 470 a.C., foi executado em 399 a.C., quando Atenas perdeu a Guerra do Peloponeso contra Esparta.

Sócrates ensinou que o sistema filosófico é o valor do conhecimento humano. Antes de Sócrates questionava-se a natureza, depois de Sócrates, questiona-se o homem. O valor do conhecimento humano (Humanismo).

“CONHEÇA-TE A TI MESMO”, frase escrita no portal do templo de Apolo; cuja frase era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.

Sócrates percebeu que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância: “SÓ SEI QUE NADA SEI”; é, para Sócrates, o princípio da sabedoria.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos Sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objectivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber.

Usava dois métodos: IRONIA e MAIÊUTICA.

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MAIÊUTICA: Dava alternativas, perguntas e respostas, ajudava a buscar a verdade. O nome Maiêutica foi uma homenagem a sua mãe que era parteira. Ele dava luz às ideias.

IRONIA: A ironia socrática tinha um carácter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências, perguntas e respostas, destruía o falso saber. Os discípulos, libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias ideias. Com isso, Sócrates acreditava num só Deus (Monoteísmo); a época era de Politeísmo. Por vários motivos ele foi perseguido. Foi condenado à morte em 399 a.C. por não aceitar mudar suas ideias (tomou Cicuta, um tipo de bebida que o carrasco deu-lhe para beber).

Para Sócrates o homem deveria conhecer a si mesmo, chegar à virtude através do conhecer a si mesmo. È a sabedoria que nos dá a virtude.

Ao trabalhar com Os Sofistas, Sócrates observa e questiona:

a) Os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as pessoas como consegui-lo; Sócrates busca a verdade e incita seus discípulos a descobri-la.

b) Os Sofista é necessário fazer carreiras, Sócrates quer chegar à verdade, desapegando dos prazeres e dos bens materiais.

c) Os Sofistas gabam-se de saberem tudo e fazer tudo; Sócrates tem a convicção de que ninguém pode ser mestre dos outros.

d) Para os Sofistas, aprender é coisa passiva e facílima, afirmam isso e tudo por um preço módico.

Sócrates defendia que a opinião é individual, mas a sabedoria é universal. A questão da felicidade e honestidade está na prática do agir. As riquezas não interessam aos homens.

A doutrina socrática identifica o sábio e o homem virtuoso. Derivam daí diversas consequências para a educação, como: o conhecimento tem por fim tornar possível a vida moral; o processo para adquirir o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dogmaticamente, mas como condição para desenvolver a capacidade de pensar; toda a educação é essencialmente activa, e por ser auto-educação leva ao conhecimento de si mesmo; a análise radical do conteúdo das discussões, retirado do quotidiano, leva ao questionamento do modo de vida de cada um e, em última instância, da própria cidade.

b) Quem foram os sofistas?

Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão.

Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloquência e sagacidade mental, ou seja, tinham fácil oratória e eram astuciosos. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados.

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As lições sofísticas tinham como objectivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade de discursos primorosos, porém, vazios de conteúdo. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de actividade praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembleias democráticas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembleias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.

Entre os sofistas, destacamos Protágoras e Górgias, que pareciam mais preocupados com a distinção entre natureza e convenção, de uma forma geral. Por essa razão, tinham como um de seus principais objectivos depreciar o estudo da natureza e, desta maneira, toda a linha filosófica existente até essa época.

Protágoras alegou que o homem é a medida de todas as coisas, tanto das coisas que são o que são como das coisas que não são, o que não são. Isto significa que tudo é como parece ao homem – não apenas aos homens em geral, mas a cada indivíduo em particular. Esta tese, leva a um relativismo total, sem possibilidade alguma de verdade absoluta.

Górgias foi ainda, mais radicalmente oposto à natureza e a seu estudo. Escreveu um livro no qual formulou uma tripla alegação: 1) nada há; 2) mesmo que houvesse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; e 3) mesmo que pudéssemos conhecê-la não poderíamos comunicá-la aos demais. Poderíamos descrever isto como um argumento mediante “retirada estratégica”: caso a posição mais radical não seja julgada convincente, volta-se para outra, menos radical. Mas até mesmo esta última elimina a possibilidade de estudo da natureza.

Górgias ensinava retórica, enquanto Pródico, especializava-se em linguagem e gramática em geral, ao passo que Hípias ensinava o treino da memória. Todas estas aquisições eram úteis em uma sociedade que tanto dependia da capacidade de influenciar a opinião pública na assembleia.

De qualquer modo, na opinião de Sócrates, eles fracassaram em ensinar excelência moral ou virtude. A alegação deles de ensinar arete (excelência) não apenas, na opinião de Sócrates, induzia em erro, mas corrompia também, porque sugeria que podiam produzir excelência moral, ao passo que nada faziam neste particular.

Diferenças entre Sócrates e os sofistas:

- O sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos de sua cidade;

- O sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua vida e essa confunde-se com a vida filosófica: “ Filosofar não é profissão, é actividade do homem livre”

- O sofista “sabe tudo” e transmite um saber pronto, sem crítica ( que Platão identifica com uma mercadoria, que o sofista exibe e vende). Sócrates diz nada saber e,

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colocando-se no nível de seu interlocutor, dirige uma aventura dialéctica em busca da verdade, que está no interior de cada um.

- O sofista faz retórica (discurso de forma primorosa, porém vazio de conteúdo). Sócrates faz dialéctica (bons argumentos). Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, persuadem sem transmitir conhecimento algum. Na dialéctica, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás.

- O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância.

Referências bibliográficas:

• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. SãoPaulo: Ed. Moderna, 1992;• CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SãoPaulo: Ed. Ática, 1995;• COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997;• Enciclopédia Abril/2004, Multimédia.

► Platão

Vida e Obras de Platão

Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre família. Temperamento artístico e dialéctico - manifestação característica e suma do génio grego - deu, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas obras não têm verdadeira importância e valor filosófico.

Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e teve oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da

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morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara.

Visitou o Egipto, a Itália meridional, a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.

Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Mais para levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade colectiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milénio, até o tempo do imperador Justiniano.

Platão interessou-se vivamente pela política e pela filosofia política. Dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redacção de suas obras, actividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Morreu o grande Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. A actividade literária de Platão abrange mais de cinquenta anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da actividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do pensamento platónico, do socratismo ao aristotelismo.

O Pensamento de Platão: A Gnosiologia

Em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.

Este carácter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir à ser, nascer e perecer de todas as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Platão considera o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Pensava que este deve transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor nostálgico, pelo Eros platónico.

Segundo Platão, o conhecimento humano divide-se em dois graus: o conhecimento sensível, e o conhecimento intelectual, que parte do primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre eles, está nisto: o conhecimento sensível não sabe que o é, de onde pode passar o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído, erróneo.

Platão parte do conhecimento empírico, sensível, para chegar ao conhecimento intelectual. A gnosiologia platónica, tem o carácter científico, filosófico. O

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conhecimento sensível deve ser superado pelo conhecimento conceptual. O conhecimento sensível não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efectivamente presentes no espírito humano, e se distinguem totalmente da fealdade, erro e má-posição.

Platão não admite que da sensação se possa de algum modo tirar o conceito universal; diz que os conceitos são a priori, donde têm de ser tirados, e sustenta que as sensações correspondentes aos conceitos lhes constituem a ocasião para fazê-los reviver.

Teoria das Ideias de Platão

Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.

A ciência é objectiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Pensa que deve existir um outro mundo de realidades, objectivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjectivos que as representam. Estas realidades chamam-se Ideias. As ideias são realidades objectivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas. Assim a ideia de homem é que o homem abstracto perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Todas as ideias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objectivo dos nossos conhecimentos. Tal a célebre teoria das ideias, alma de toda filosofia platónica.

A Metafísica de Platão

O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das ideias; e estas contrapõem-se à matéria obscura e incriada. Entre as ideias e a matéria estão o Demiurgo e o mundo, através de que desce das ideias à matéria aquilo de racionalidade que nesta matéria aparece.

O divino platónico é representado pela ideia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objecto adequado ao conhecimento conceptual, que se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efectiva realidade.

E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.

Visto serem as ideias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à ontológica, terão consequentemente as características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as ideias terão aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a ideia do Bem, que é papel da lógica real, ontológica, esclarecer.

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Como a multiplicidade dos indivíduos é unificada nas ideias respectivas, assim a multiplicidade das ideias é unificada na ideia do Bem. Logo, a ideia do Bem, no sistema platónico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais ideias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir a ser.

O Mundo

O mundo material, o cosmos platónico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as ideias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das ideias eternas. O mundo, pois, está entre o ser (ideia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira.

Da ideia - ser, verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir a ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.

Consoante a astronomia platónica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rolantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.

No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina também a grande concepção platónica.

Obras Utilizadas:

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Ideias dos Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nacional, 1926.

FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.

PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia. 10 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1974.

VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos. 4 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1980.

Colecção Os Pensadores, Diálogos / Platão. 5 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

Colecção Os Pensadores, Defesa de Sócrates / Platão. Vol. II. São Paulo: Abril Cultural, Agosto 1972.

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► Platão X Aristóteles

Comparativo entre Platão e Aristóteles

O objectivo desse trabalho é comparar duas formas diferentes de explicar a origem das ideias, a primeira forma de explicar a origem das ideias foi elaborada por Platão, o Inatismo; a segunda forma foi elaborada por Aristóteles, o Realismo que mais tarde seus princípios serviram de base para o Empirismo.

Platão defendia o Inatismo, nascemos como princípios racionais e ideias inatas. A origem das ideias segundo Platão é dado por dois mundos que são o mundo inteligível, que é o mundo que nós, antes de nascer, passamos para ter as ideias assimiladas em nossas mentes.

Quando nós nascemos no mundo conhecidos por todos, o mundo em que vivemos, denominado por Platão como mundo sensível nós já temos as ideias formuladas em nossas mentes mas muito guardadas que para serem utilizadas  é necessário “relembrar” as ideias já conhecidas através do mundo inteligível.

Para Platão existem quatro formas ou graus de conhecimento que são a crença, opinião, raciocínio e indução. Para ele as duas primeiras podem ser descartadas da filosofia pois não são concretas, sendo as duas últimas são as formas de fazer filosofia. Para Platão tudo se justifica através da matemática e através dessa que nós chegamos a verdadeira realidade.

Para Platão o conhecimento sensível ( crença e opinião ) é apenas uma da realidade, como se fosse uma visão dos homens da caverna do texto “Alegoria da Caverna” e o conhecimento intelectual  (raciocínio e indução) alcança a essência das coisas, as ideias.

Já Aristóteles era um filósofo que defendia o Empirismo, as ideias são adquiridas  através de experiência, na realidade o Empirismo não era concreto na época de Aristóteles, muitos filósofos como eu defendo que Aristóteles foi um dos criadores das principais ideias do Empirismo e para outros filósofos ele é apenas um realista, um filósofo que dá muita importância para o mundo exterior e para os sentidos, como a única fonte do conhecimento e aprimoramento do intelecto.

Ao contrário de Platão, Aristóteles defendia que a origem das ideias é através da observação de objectos para após a formulação da ideia dos mesmos. Para Aristóteles o único mundo é o sensível e que também é o inteligível.

Aristóteles diz que existem seis formas ou grau de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele o conhecimento é formado e enriquecido por informações trazidas de todos os graus citados e não há diferença entre o conhecimento sensível e intelectual, um é continuação do outro, a única separação existente é entre as seis primeiras formas e a última forma pois a intuição é puramente intelectual, mas isso não quer dizer que as outras formas não sejam verdadeiras mas sim formas de conhecimento diferentes que utilizam coisas concretas.

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Podemos defender Aristóteles, dizendo os problemas sobre a teoria das ideias apresentada por Platão, como por exemplo sua teoria diz que você vem ao mundo com suas ideias já formuladas e que essas ideias são intemporais, e como Platão explica diferentes ideias sobre o que é justiça? Ideia que segundo ele é inata e todos tem a mesma fonte do que seria a justiça.

Já a tese formulada por Aristóteles permite essa diferença, pois as ideias não são assimiladas por todas as pessoas na mesma fonte, pois a fonte é a experiência e nem todos tem as mesmas experiências.

A teoria Platónica não permite a introdução de novas ideias no mundo inteligível, já através da observação, princípio Aristotélico, a introdução de novas ideias é perfeitamente possível. Com isso podemos concluir, ser a teoria Aristotélica mais defensável.

► Os Sofistas

Os sofistas foram reputados como grandes mestres, eram procurados por jovens bem-nascidos, dispostos a pagar muito dinheiro para aprender o que os filósofos tinham a lhes ensinar. O jovem buscava junto ao sofista a arete, qualidade indispensável para se tornar um cidadão bem-sucedido.

No regime democrático que vigorava em Atenas, o exercício da função política dependia do bom uso da palavra. E os sofistas foram mestres na arte de bem falar.

Os sofistas negam a existência da verdade, ou pelo menos a possibilidade de acesso a ela. Para os sofistas, o que existe são opiniões: boas e más, melhores e piores, mas jamais falsas e verdadeiras. Na formulação clássica de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”.

Sócrates desenvolveu um método de pesquisa, chamado dialéctica, que procedia por questões e respostas.

Sócrates é, para Platão, o único verdadeiro educador, capaz de levar à arete.

Platão estabelece oposições entre Sócrates e os sofistas:

O sofista cobra para ensinar, Sócrates não; O sofista “sabe tudo”. Sócrates diz nada saber; O sofista faz retórica, Sócrates faz dialéctica; O sofista refuta para ganhar a disputa verbal, Sócrates refuta para purificar a

alma de sua ignorância.

Resumo: Os sofistas

O período clássico da história da Grécia Antiga, séculos Vá. C.C.C. ao IV a.C. Foi nesse período, que viveram: os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles.

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Esse período é caracterizado pelo auge da cultura grega, o desenvolvimento da polis grega, pela consolidação da democracia grega e pelo fato da Atenas ter se tornado o principal centro político, económico, artístico e filosófico, do mundo helénico. Esse período é marcado pelo início da fase antropológica, ou seja, uma reflexão filosófica voltada às questões humanas, seus precursores foram os sofistas.

Entre os sofistas, destacam-se: Protágoras, Hípias, Górgias, Isócrates, etc.

Os sofistas foram sábios que actuavam como professores ambulantes de filosofia, ensinando, a um preço estipulado, a arte da política, garantindo o sucesso dos jovens na vida política. Eles ensinavam a arte da retórica.

Os escritos dos sofistas se perderam no tempo, os conhecemos a partir de comentários de Platão, que nos deixa uma visão estereotipada dos sofistas, denominados de charlatães, pois convencem os ignorantes de um saber que, na verdade não possuem.

Para Platão, os sofistas não eram filósofos. Apesar disso, eles deixaram importantes contribuições à filosofia. Foram os primeiros a fazer uma distinção entre a physis (ordem natural) e o nomos (ordem humana). Afirmavam não haver uma verdade absoluta, diziam que o que existia eram opiniões. Protágoras “o homem é a medida de todas as coisas”, significa que, para ele cada homem seria a medida de sua própria verdade.

Eram considerados como portadores de polimatia, ou seja, se posicionavam sobre qualquer assunto. Organizaram um currículo: gramática, retórica, dialéctica, aritmética, geometria, astronomia e música.

► Os conteúdos do Saber Geográfico produzido durante a antiguidade Clássica

A Geografia surgiu, enquanto saber oficial, no início do século XIX, quando vêm a público as obras dos alemães (prussianos) Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859).

Afirmar que a Geografia Científica surgiu no século XIX, em território alemão,  não significa negar um saber geográfico anteriormente produzido.

Moreira (1994, p.15), assevera que “a geografia é um saber tão antigo quanto a própria história dos homens”. Desde os primórdios da história humana, os povos já eram dotados de uma mobilidade espacial, decorrente tanto do exercício da curiosidade como da necessidade de reprodução da própria sociedade, que levou ao conhecimento de regiões diferentes daquelas da habitação inicial.

Essas migrações permitiram a ampliação do conhecimento da superfície terrestre e propiciaram o registo e a transmissão desse saber geográfico.

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Os gregos foram os precursores na produção de um saber geográfico de forma sistematizada. Esse pioneirismo grego explica-se, pelo desenvolvimento do comércio. O comércio é a fonte principal de contacto com o “desconhecido”, ele estimula a curiosidade e obriga à sistematização das informações e conhecimentos geográficos.

As descrições dos lugares (aspectos sociais, culturais, políticos, económicos, bem como características físico-naturais), tornam-se uma necessidade prática, juntamente com a produção de mapas. Esse saber geográfico era produzido principalmente, principalmente, por mercadores, navegantes, militares, historiadores, filósofos e matemáticos. A Geografia, encontrava-se diluída na filosofia grega.

A produção do saber geográfico na Antiguidade deu-se, por duas formas de expressão: vertente histórico-descritiva (narrativas de viagens e descrições regionais); vertente ma temático-cartografico (estudos referentes à forma e à dimensão da Terra e representações cartográficas).

Na vertente histórico-descritiva, destacam-se as contribuições de Heródoto, Hipócrates e Estrabão.

HERÓDOTO foi o primeiro pensador a apresentar aspectos geográficos em suas obras. Conheceu, praticamente, todo o território dominado pela Grécia na época. Descreveu os lugares por ele conhecidos, sempre enfatizando seus aspectos geográficos. Foi um dos primeiros a estabelecer uma relação entre o meio e as características dos homens.

HIPÓCRATES “Dos ares, dos mares e dos lugares”, estabelece uma associação entre o meio geográfico e a formação psicológica e fisiológica dos povos.

ESTRABÃO nome mais importante da vertente histórico-descritiva. É atribuído a ele a primeira grande obra de sistematização da  Geografia.

Na vertente matemático-geográfica destacam-se: Erastótenes, Hiparco e Ptolomeu.

HERASTÓTENES realiza estudos sobre a medição da Terra. Dividiu a circunferência da Terra em meridianos e paralelos.

HIPARCO dividiu a circunferência da Terra em 360 graus.

PTOLOMEU sua obra foi composta de cosmografia e geografia, agrupou um conjunto de mapas e comentários sobre a forma e a dimensão da Terra, alem de informações sobre localização precisa de fenómenos.

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A Palavra Filosofia

Etimologia 

A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.

Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filosofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim a filosofia indica um estado de espírito o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. Pitágoras de Samos teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. “Quem quiser ser filósofo necessitara infantilizar-se, transformar-se em menino”. (M. Garcia Morente).

Filosofia     

Filosofia (do grego Φιλοσοφία: philia - amor, amizade + sophia - sabedoria) modernamente é uma disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflexão de ideias (ou visões de mundo) em uma situação geral, abstracta ou fundamental. Originou-se da inquietação gerada pela curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comummente aceitas sobre a sua própria realidade. As interpretações comummente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento.

Estas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Ocorreram inicialmente através da observação dos fenómenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, isto em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por um determinado grupo ou determinada relação humana.

A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das ideias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade. Assim a partir da inquietação, o homem através de instrumentos e procedimentos equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão. São organizados os padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhecimento humano. Contudo o conhecimento científico por sua própria natureza torna-se susceptível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que aprimoraram o campo da sua observação e manipulação, o que em última análise, implica tanto na ampliação, quanto no questionamento de tais conhecimentos.

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Neste contexto a filosofia surge como "a mãe de todas as ciências". Didacticamente, a Filosofia divide-se em:

* Lógica: trata da preservação da verdade e dos modos de se evitar a inferência e raciocínio inválidos.

* Metafísica ou ontologia: trata da realidade, do ser e do nada.

* Epistemologia ou teoria do conhecimento: trata da crença, da justificação e do conhecimento.

* Ética: trata do certo e do errado, do bem e do mal.

* Filosofia da Arte ou Estética: trata do belo.

A Filosofia

Todos nós somos filósofos, uma vez que pensamos, indagamos, criticamos, tentamos respostas e soluções e esbarramos em dúvidas e incertezas, buscando a sabedoria e a verdade.

A filosofia é imprescindível na formação do cidadão pois todos precisam de uma reflexão filosófica para o aumento da consciência crítica e para a participação na comunidade em que pertence.

Definição

A Filosofia é o princípio de todo o saber, o fundamento de qualquer conhecimento. É através dela que as Ciências e as Artes garantem sua fundamentação e confiabilidade. Então, o trabalho da das ciências e das artes pressupõem, como condição, o trabalho da filosofia, mesmo que os cientistas e artistas não sejam filósofos.

A Filosofia não é  uma construção arbitrária de um pensador isolado. É um somatório lento e progressivo de todas as civilizações e culturas, do que elas têm de mais apurado, de mais escolhido, de mais selecto, nos domínios das do pensamento abstracto e nos campos de todas as ciências e artes.

Ela tem a tarefa criadora de nos levar a uma posição esclarecida perante a vida e o mundo e a um relacionamento compreensivo com o homem e a sociedade.

Filosofia é a busca incessante da sabedoria, baseada na verdade e na consciência do respeito por si mesmo e pelos outros. É um projecto de transformação pessoal, movido pelo sendo crítico do homem.

A busca da sabedoria e da verdade é também a busca da perfeição, do equilíbrio e da harmonia.

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A sabedoria é contínua e individual e tem como princípio uma virtude rara e difícil, a humildade, que levará a verdade e nos libertará.

Contexto histórico

A Filosofia não só tem uma história, mas consiste nesta própria história.

Se pretendesse defini-la, se verificaria que a definição jamais poderia compreender ou abranger todo o definido, que por ser um processo que transcorre no tempo, mostra-se refractário a qualquer tentativa de imobilização no seu conceito.

A filosofia apresenta características particulares que corresponde às estruturas económicas, políticas e sociais do momento histórico.

A filosofia é histórica não só porque os problemas pelos quais reflecte lhe são apresentados pela história, mas porque  essa própria reflexão exerce dentro do topo e sobre ele exerce influência. O filósofo pensa no interior da própria história quando conclui a construção do seu sistema ou elaboração de sua doutrina.

As diversas doutrinas constituem momentos sucessivos e abrangentes de um processo único: com todas as conquistas filosóficas o homem não pára de abordar temas e problemas que sempre preocuparam o espírito humano. As diversas filosofias nas diferentes épocas apresentam características comuns do pensamento humano. É uma sequência inexorável de um processo que implica os momentos anteriores e torna possível pensar os momentos subsequentes.

Atitudes Filosóficas

"Não se pode aprender filosofia. O que se pode aprender é pensar filosoficamente."

A indagação e a atitude filosófica são inerentes à natureza humana.

Por sua natureza intrínseca, induzido e conduzido por razões imanentes, como a dúvida, a incerteza e o desespero, o homem não consegue eximir-se de atitudes filosóficas, ou seja, interroga-se sobre si mesmo e sobre o sentido de sua existência.

Em crise existencial ou na euforia da vida, alguém que comece a indagar sobre o porquê da própria vida, estaria começando a filosofar, isto é, tendo uma atitude filosófica.

A atitude filosófica nos mergulha num mundo espectacular, terrível e fantástico ao mesmo tempo: a busca da sabedoria e da verdade.

Uma iniciação à Filosofia visa despertar uma atitude crítica e de avaliação, para chegar a uma consciência mais clara e respeitável quando tiver que optar entre uma multidão de possibilidades.

Aquele que começa a iniciar-se na filosofia já não pode encarar os problemas do homem e seu mundo com uma atitude simplista de aceitação ou negação. Ele assume a responsabilidade de ir além das aparências, a fim descobrir as intenções que levam ao questionamento e mudar a realidade pelo fato de interpretá-la.

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A atitude filosófica empenha-se em conhecer o mundo para transformá-lo a fim de restaurar a harmonia e a unidade no pensamento e na própria realidade da existência humana.

Quando acompanhamos todas as reflexões com a própria razão, accionamos as potencialidades do entender, do assimilar e do integrar em nós mesmos tudo o que emanou da dúvida, admiração, certeza, estamos diante de uma atitude filosófica.

Ter uma atitude filosófica quer dizer que estamos utilizando o raciocínio fundamentado e lógico, tendo uma visão crítica e adulta da realidade e convicções sustentadas.

Essência e abrangência da Filosofia

A filosofia busca o saber absoluto, as causas últimas de todas as coisas, a essência do ser, a realidade total e absoluta.

Em todos os tempos a filosofia tenta interpretar o mundo e entender e transformar o homem

(a procura da verdade) , isto significa que todo tema importante é assunto de preocupação filosófica.

A filosofia estuda tudo e é o fundamento de qualquer conhecimento. Ela estuda o valor do conhecimento, quer como pesquisa sobre o fim do homem, quer como estudo da linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da política, da ética, etc. Representa o esforço da razão teórica em conhecer o real (o ser), e a razão prática em transformá-lo.

Procurando a verdade, ela engloba todas as coisas como objecto de indagação filosófica: o homem, os animais, o mundo, o universo, o desporto, a religião, Deus.

A filosofia estudará sempre tudo e não se esgotará jamais, pois é um processo em desenvolvimento.

Os filósofos estudam por duas razões:

* Porque todas as coisas podem ser examinadas no nível científico e no filosófico.

* Porque a filosofia estuda o todo, a totalidade, o universo formado globalmente. Ela se atém ao princípio da validade universal. Sendo fruto dos princípios filosóficos, todas as definições de qualquer ciência, de qualquer conhecimento.

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A Filosofia Grega

A filosofia grega, que é a própria filosofia em si, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das acções humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.

Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, o hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América, não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensar e as formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres e acções contrárias ou opostos, que formam a realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a humidade; Yang é o princípio masculino activo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da actividade masculina e da passividade feminina.

Já na filosofia grega, por exemplo, o próprio Pitágoras. Ele diz que a Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da unidade (o numero um e o ponto), da oposição entre os números pares e ímpares, e da combinação entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrárias: quente-frio, grande-pequeno, seco-húmido, áspero-liso, claro-escuro, duro-mole, etc. para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática enquanto nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como à estrutura matemática da Natureza aparece para nós, Isto é, sob a forma de qualidades opostas.

A filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razoes históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

Através da filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. Alias, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia, física, zoológico, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebemos a influência decisiva e predominante da

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filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades europeias ocidentais.

O legado da filosofia grega para o ocidente europeu

Por causa da colonização europeia das Américas, nós também fazemos parte – ainda que de modo inferiorizado e colonizado – do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a filosofia grega deixou para pensamento ocidental europeu.

Desse legado, podemos destacar como principais contribuições as seguintes:

• A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmos em toda parte e em todos os tempos. A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a acção de um outro, produz uma reacção igual e contraria que pode ser calculada usando elementos do cálculo a massa do corpo afectado, a velocidade e o tempo com que à acção e a reacção se deram. Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal, isto é, é valida por todos os corpos em todos os tempos e lugares.

• A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar.

• A ideia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso.

• A ideia de que as praticas humanas, isto é, a acção moral, a política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis de serem conhecidas.

• A ideia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.

Um dos legados mais importantes da filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo – “tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar” –, mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extra natural ou sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos conhecer e nem tudo é possível, por mais que o queiramos.

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• A ideia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, á felicidade, á justiça, Isto é, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores pelos quais dão sentido às suas vidas e às suas acções.

A filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as acções humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Em suma, a filosofia grega surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso coreto da razão ou do pensamento e que, alem de a verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida.

Mitologia Grega

Antes de a primeira filosofia evoluir na Grécia antiga, o retrato predominante do mundo era mitológico. Esse retrato ganhou corpo ao longo de séculos. a mitologia grega se desenvolveu plenamente por volta de 700 a.C., quando Homero e Hesíodo registaram compilações de mitos. As mais célebres são os poemas Ilíada e Odisseia, de Homero.

Há pelo menos duas explicações possíveis para o surgimento da mitologia grega: os deuses representam fenómenos naturais, como o sol e a lua, ou eram heróis de um passado remoto, que foram glorificados ao longo do tempo.

Os Deuses gregos se assemelharam fisicamente aos humanos e revelava sentimentos humanos, com frequência se comportando de uma maneira tão egoísta quanto qualquer mortal.

As histórias desses deuses falam de uma época heróica, de homens e mulheres com poderes extraordinários e a exemplo do que ocorreu em outras culturas, há também mitos que narram a criação do mundo e da humanidade.

Os mitos são crenças e observações dos antigos rituais gregos, o primeiro povo ocidental, surgindo por volta de 2000 a.C.. Consiste principalmente de um grupo de relatos e lendas diversos sobre uma variedade de deuses.

A mitologia grega tem várias características particulares. Os deuses gregos eram retratados como semelhantes aos humanos em forma e sentimentos. Ao contrário de antigas religiões, como o Hinduísmo ou o Judaísmo, a mitologia grega não envolvia revelações especiais ou ensinamentos espirituais.

Também variava largamente na sua prática e crença, com nenhuma estrutura formal, tal como um governo religioso, a exemplo da igreja de nossos dias, e nenhum código

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escrito, como um livro sagrado.

Séculos antes do nascimento de Cristo e do advento do cristianismo, os gregos adoravam um certo número de deuses e deusas que, segundo eles acreditavam, viviam no Monte Olimpo, no sul da Macedónia, na Grécia.

As antigas histórias desses deuses inspiraram poetas, pintores e escultores durante vários séculos. Algumas das pinturas e esculturas mais conhecidas e preciosas do mundo representam os deuses do Olimpo e suas aventuras.

Os gregos antigos acreditavam que a terra era de forma achatada e circular, seu ponto central o Monte Olimpo ou Delfos. A terra era dividida em duas partes iguais pelo Mar, como era chamado então o Mediterrâneo (medi = meio, terrâneo = terra). Ao redor da terra corria o Rio Oceano, cujo curso regular alimentava o Mar e os rios.

Naqueles tempos remotos, os gregos pouco sabiam sobre a existência de outros povos além deles mesmos, a não ser dos povos vizinhos as suas terras. Imaginavam que ao norte vivia uma raça de povo feliz, os Hiperbórios, que viviam numa eterna felicidade.

Seu território não podia ser alcançado nem por terra nem por mar. Eles nunca envelheciam nem adoeciam, não trabalhavam, nem guerreavam. Ao sul vivia um outro povo feliz que se chamava Aethiopios.

Eram amados pelos deuses que costumavam visitá-los e compartilhar seus banquetes. Ao oeste encontrava-se o lugar o mais feliz de todos, os Campos Elísios, onde as pessoas que tinham o favor dos deuses eram levadas para viver para sempre sem nunca morrer.

A mitologia grega é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu. Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de Divindades Principais e Secundárias. Amantes da ordem, instauraram uma precisa categoria intermediária para os Semideuses e Heróis.

A mitologia grega apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria. A religião grega teve uma influência tão duradoura, ampla e incisiva, que vigorou da pré-história ao século IV e muitos dos seus elementos sobreviveram nos Cultos Cristãos e nas tradições locais.

A civilização grega era constituída de pequenas cidades-estado. Os gregos amavam a vida e a viviam com entusiasmo. Eles tinham pouco interesse na vida após a morte, a qual, mesmo para os grandes homens daquele tempo, era acreditada como sendo incómoda.

Na Odisseia, a morte de Aquiles retrata que ele preferia ser um escravo em vida a um rei morto. O melhor que um homem podia esperar seria procurar realizar grandes façanhas que seriam relembradas depois de sua morte.

Os gregos acreditavam no individualismo e apreciavam as diferentes personalidades e caracteres. Eles eram fascinados pela contradição que muitas virtudes podem levar um

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homem exemplar à ruína ou à felicidade. Tinham uma forma de pensamento muito subtil.

Seus mitos e religião reflectiam estas características. Seus deuses eram personalizados com poder e imperfeições individuais, deuses que cometiam erros e eram logrados enganando seus cônjuges. Mas também eram deuses heróicos, hábeis, amáveis e desenvolviam artes e habilidades essenciais de diversas maneiras, como música, tecelagem, ferragem etc.

Os heróis mortais também tinham um papel importante na mitologia. Houve tempos em que os deuses precisavam de um herói mortal para vencer batalhas por eles. Mas muito raramente faziam com que um herói viesse a se tornar um deus.

Muitos dos mais famosos contos heróicos apresentam, vez ou outra, relatos de alguém sendo trazido de volta do mundo subterrâneo. Esta característica apresenta um forte contraste às religiões que consagram que a ida ao mundo além da vida é o caminho coreto para objectivo principal da existência.

Deuses

Nos primórdios da história da Grécia, houve muitos deuses locais. Cada deus matinha um vínculo com um lugar sagrado. Podia ser um recanto misterioso de uma floresta ou um lago tranquilo. Aos poucos doze deuses tomarem os mais importantes, sobressaindo-se aos demais. No ano 750 a.C., Hesíodo escreveu a história desses doze deuses do Monte Olimpo. Cada deus tinha o seu símbolo.

Zeus - o sábio, governava os deuses no Olimpo e protegia a Grécia.

Hera - terceira mulher de Zeus. Protegia as mulheres e as mães.

Atena - era a deusa da sabedoria.

Apolo - era o deus da luz, saúde e da morte repentina.

Ártemis - irmã gêmea de Apolo, era deusa da luz.

Hermes - era o mensageiro dos deuses.

Ares - era odiado pelos deuses, era o deus da guerra.

Hefesto - era o ferreiro aleijado dos deuses

Afrodite – a mais bela das deusas, deusa do amor.

Posêidon – deus dos mares

Héstia – era a tranquila deusa do fogo

Deméter – era a deusa da fertilidade da terra

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Heróis

    * Aquiles    * Hércules    * Jasão    * Perseu    * Teseu    * Ulisses

Animais e Monstros Mitológicos

    * Centauro    * Ciclopes    * Harpias    * Medusa    * Minotauro    * Pégaso    * Quimera 

Lendas Mitológicas

    * Agamenon    * Ariadne    * Medéia    * Narciso    * Sísifo 

Histórias Mitológicas

    * Hesíodo    * Homero    * Ilíada    * Odisseia    * Tróia

Relação entre a Mitologia Grega e a Romana

NOME GREGO NOME ROMANO PAPEL NA MITOLOGIAAfrodite Vénus Deusa da beleza e do desejo sexual (na

mitologia romana, deusa dos campos e jardins)

Apolo Febo Deus da profecia, da medicina e da arte do arco e flecha (mitologia greco romana posterior: deus do Sol)

Ares Marte Deus da guerraÁrtemis Diana Deusa da caça (mitologia greco romana

posterior: deusa da Lua)Asclépio Esculápio Deus da medicinaAtena Minerva Deusa das artes e ofícios, e da guerra;

auxiliadora dos heróis (mitologia greco romana posterior: deusa da razão e da sabedoria)

Crono Saturno Deus do céu; soberano dos Titãs (mitologia romana: deus da agricultura)

Deméter Ceres Deusa dos cereaisDionísio Baco Deus do vinho e da vegetaçãoEros Cupido Deus do amor

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Géia Terra Mãe TerraHefesto Vulcano Deus do fogo; ferreiro dos deusesHera Juno Deusa do matrimónio e da fertilidade;

protectora das mulheres casadas; rainha dos deuses

Hermes Mercúrio Mensageiro dos deuses; protector dos viajantes, ladrões e mercadores

Héstia Vesta Guardiã do larHipnos Sonho Deus do sonhoHades Plutão Deus dos mundos subterrâneos; senhor

dos mortosPosêidon Neptuno Deus dos mares e dos terramotosRéia Cibele Esposa de Crono/Saturno; Deusa mãeÚrano Úrano Deus dos céus; pai dos TitãsZeus Júpiter Soberano dos deuses olímpico

A Ética da Diversidade

Ética: parte da filosofia que estuda os valores morais da conduta humana.

Diversidade: diferença; contradição.

A explosão demográfica é uma das principais causas de um desastre planetário, mas existem outras, como o fim dos recursos naturais, como combustíveis fosseis, a destruição da camada de ozónio, que acarretará no derretimento das calotas polares.

Essa falta de preocupação se deu através de uma característica de que o universo e a natureza fossem considerados um poço de riqueza sem fim. A forma achada para reverter esse quadro para o autor é de que haja uma mudança radical em todos os níveis do saber e do fazer. Devemos procura uma transformação radicas de nossos modelos de desenvolvimento, de educação e de civilização. Outra coisa sugerida pelo autor é que devemos nos unir para atingirmos uma única sociedade, com o mesmo pensamento, as mesmas ideias, e diversificar o modelo socioeconómico e devemos nos respeitar acima de tudo.

É necessário facilitar o aparecimento de uma nova consciência acima de tudo, para que possa haver um respeito mútuo de todos, não pessoas, mas como seres vivos.

Para que o planeta possa sobreviver, é necessário que nós nos unamos contra o inimigo comum, que é qualquer coisa que ameace o equilíbrio do nosso ambiente, ou que reduza a herança do passado e do presente para as gerações futuras.

O nosso planeta é uma máquina térmica em constante transformação, o efeito mais visível dessa transformação é o crescimento da população, e com o aumento da população aumenta a poluição e a diminuição dos recursos naturais e a destruição do habitat de vida da população, que prejudica a todos.

O ser humano começou a questionar a visão que ele tem do mundo, ou seja, ele via o mundo de uma forma mecânica, de que tudo ocorre como uma engrenagem, uma coisa sugere a outra.

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Para se atingir um resultado positivo, é necessário que a ciência e a cultura se reintegrem, essa reintegração fará com que todos pensem no bem da humanidade e não em competir entre si.

Para que isto não ocorra, é sugerido a ética da diversidade, que como foi dito seria uma união de culturas, de ideias, tudo em prol da humanidade, para que possamos sobreviver a um colapso de nossas fontes, e possamos restaurar nosso habitat, para não prejudicar nossa vida.

A Filosofia no Mundo

Sempre que fazemos, pensamos, vemos ou vivemos momentos em nossas vidas, a filosofia está sempre presente, sendo parte integrante dela, analisando profundamente o passado em sua fonte, ou descrevendo como deveria ser em seu futuro. O homem é o principal objecto da filosofia.

Ignorada a sua importância, a filosofia sofre o preconceito quanto a sua utilidade e seu objectivo, sendo marginalizada dentre as demais ciências do conhecimento, pois não sendo uma ciência de exactas ou técnicas, ela é desprezada. Sua intenção é estimular consciência, o pensamento e alimentar sempre uma posição questionadora do homem, que consequentemente não é do interesse da classe dominante da sociedade, que poderá ser perigosa ter a essência da verdade á mostra.

A filosofia traz ao homem o desejo do conhecimento de si próprio, faz reflectir sobre a sua posição no universo, sempre buscando a verdade e almejando uma utopia, está disponível para todos, mas poucos a usufruem, como é definido entre o sábio e as massas.

Se o homem começa a pensar filosoficamente, teria que mudar toda a sua vida radicalmente, pois seus conceitos mudariam, entretanto o medo do novo, do desconhecido e o comodismo da vida, acostumados aos problemas sociais e económicos do dia-a-dia, não o fazem buscar a filosofia, vivendo assim em uma antifilosofia.

Entretanto, a antifilosofia também é um tipo de filosofia, se o homem em busca da sua verdade adopta a filosofia, passará a interrogar sempre sobre tudo em seu universo, prevendo assim tendências neste mesmo universo, criando uma fusão entre a verdade actual e a revelação de seu futuro.

É conveniente para o homem moderno afastar-se da filosofia, pois, em meio de uma falsa democracia a qual vivemos, além de corrupta, tem seu domínio não mãos de poucos que determinam a linha de vida política, económica e social de muitos, objectivando só e exclusivamente o poder, ficando cegos para o que realmente acontece em seu meio.

Assim, cria-se uma tranquilidade infinita, do pressuposto que o seu amanha será igual ao seu hoje, só com visões de melhoria socioeconómicas, não vendo que a nossa verdade hodierna tende a uma consequente extinção de toda a vida terrena, já que fingindo não ver, seguidas construções de maquinas para aniquilações, bombas,

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conflitos, poluições, armas e doenças químicas, terrorismo com actos cada dia mais hediondo, manipulação da radioactividade, violência e mortes nas cidades e estradas mundiais, alterações na natureza modificando irresponsavelmente o meio ambiente e afitando seu ciclo natural e seu equilíbrio, escassez de viveres, violência entre os semelhantes, e tudo isso se passa por despercebido como normal e quotidiano sem a preocupação de onde nos levará.

Embora desprezada e vítima de preconceito, a filosofia iria abrir a mente das civilizações, não se deixando iludir por uma falsa sensação de confiança e considerar a hipótese de uma inevitável catástrofe letal, que poderá extinguir a vida na terra.

► A Vida dos Filósofos

A filosofia é um assunto (perdão, uma actividade) que tem uma história; e como progride tão pouco, se é que progride realmente alguma coisa, a sua história é, consequentemente, mais importante do que a história de outras disciplinas. O especialista instantâneo bem sucedido tem de se equipar com um conhecimento prático desta história, se quiser singrar na charlatanice.

Para os propósitos deste livro, confinar-nos-emos quase exclusivamente à filosofia ocidental, essa admirável tradição que começou na Grécia no século VII a.C. Há uma boa razão para esta opção. A filosofia da tradição ocidental é um tipo de projecto muito diferente da filosofia oriental. Numa próxima secção daremos alguns conselhos sobre como ser apropriadamente evasivo acerca de temas como a Meditação, o Budismo, a Religião Indiana, as Pessoas com Cabeças Rapadas e Túnicas Amarelas Imundas, e outras ameaças sociais do género.

Portanto, esta secção contém factos mais ou menos interessantes sobre alguns filósofos mais ou menos famosos, factos esses de natureza tanto biográfica como filosófica, dispostos de maneira mais ou menos cronológica.

Os primeiros filósofos gregos são geralmente conhecidos por pré-socráticos, apesar de isto ser enganador: nem todos viveram antes de Sócrates, e, em qualquer caso, não constituíram uma escola coerente; na verdade, a maioria deles não constituíram sequer indivíduos coerentes.

Ninguém sabe por que começou a filosofia quando começou; o especialista instantâneo ambicioso com inclinações marxistas pode tentar oferecer uma explicação em termos de uma dialéctica inexorável de forças históricas, mas nós não o recomendamos. Uma característica notável de muitos pré-socráticos é a sua tentativa de reduzir os constituintes materiais do Universo a uma ou mais Substâncias básicas, tais como a Terra, o Ar, o Fogo, as Sardinhas, os Gorros de Lã Velhos, etc.

Tales de Mileto (c. 620-550 a.C.) foi o primeiro filósofo reconhecido. Poderão ter existido outros antes dele, mas ninguém sabe quem foram. Ele ficou conhecido principalmente por defender duas coisas:

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1) Tudo é feito de Água; e

2) Os ímanes têm alma.

O leitor poderá pensar que não foi um princípio muito prometedor.

Anaximandro (c. 610-550) pensava que tudo era feito do Ápeiron, uma concepção que tem um certo encanto espúrio, até percebermos que não quer realmente dizer coisa alguma.

Anaxímenes (c. 570-510) aventurou-se corajosamente numa direcção completamente nova, apesar de não menos arbitrária, ao afirmar que na realidade tudo era feito de Ar, uma perspectiva talvez mais plausível na Grécia do que, por exemplo, no Barreiro.

Heraclito (c. 540-490) discordou, defendendo antes que tudo era feito de Fogo. Mas ele avançou um passo mais, afirmando que tudo estava num estado de fluxo e que tudo era idêntico ao seu oposto, acrescentando que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, e que não existe qualquer diferença entre o Caminho a Subir e o Caminho a Descer, o que mostra que nunca foi ao Bairro Alto numa sexta-feira à noite. Vale por vezes a pena referir de passagem (o que constitui sempre a melhor maneira de nos referirmos ao que quer que seja em filosofia) a «Metafísica de Heraclito», para falar da sua doutrina do fluxo, desde que não tenhamos de explicar seja o que for. Heraclito era muito admirado por Hegel (q.v.), o que nos diz talvez mais sobre Hegel do que sobre Heraclito. Pitágoras (c. 570-10), como qualquer aluno da primária sabe, inventou o triângulo rectângulo; na verdade foi mais longe, ao acreditar que tudo era feito de números. Acreditava também numa forma extrema de reincarnação, defendendo que uma larga gama de coisas improváveis, incluindo os arbustos e os feijões, têm alma, o que tornava a sua dieta bastante problemática, acabando por ser indirectamente responsável pela sua bizarra morte (q.v.).

Empédocles (c. 500-430), um notável médico e político siciliano do século V, completamente doido (veja-se Mortes para mais detalhes), pensava que tudo era feito de Terra, Ar, Fogo e Água, misturando-se ou separando-se tudo através do Amor e da Discórdia, ganhando cada um, à vez, a proeminência no ciclo do eterno retorno, espelhando assim o cosmos, em grande escala, o casamento suburbano típico.

Depois vêm os eleatas, Parménides (520-430) e Melisso (480-420), que foram ainda mais além. Em vez de afirmarem que tudo era na realidade feito de uma substância, defenderam antes que na realidade só havia uma única Coisa, grande, esférica, infinita, imóvel e imutável. Toda a aparência de variedade, movimento, separação entre objectos, etc., era uma Ilusão. Esta teoria extraordinariamente contra-intuitiva (por vezes conhecida por Monismo, da palavra grega «mono», que quer dizer «dispositivo antiquado de gravação») revelou-se surpreendentemente popular, sem dúvida por estar de acordo com a experiência que as pessoas têm com algumas instituições, como os Correios e a EDP.

O seu sucessor, Zenão (500-440), avançou um conjunto de argumentos paradoxais para mostrar que nada pode mover-se. Aquiles e a Tartaruga são ainda discutidos, tal como a

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Flecha: argumentou ele que esta não podia realmente mover-se, o que, a ser verdade, teria sido uma boa notícia para S. Sebastião. Os argumentos tratam de saber em grande parte se o Espaço e o Tempo são infinitamente divisíveis, ou se um deles, ou ambos, é feito, ou são feitos, de quanta indivisíveis — mencione isto para dar a Zenão um ar moderno; se lhe pedirem explicações, mude de assunto.

Os últimos dos pré-socráticos são os atomistas Demócrito (c. 450-360) e Leucipo (450-390). Diz-se por vezes que eles anteciparam a teoria atómica moderna. Isto é completamente falso, e o especialista instantâneo ganha alguns pontos ao dizê-lo, pela simples razão que o que há de crucial nos átomos democritianos é a sua indivisibilidade, ao passo que o que há de crucial nos átomos modernos é o facto de não serem indivisíveis. O leitor pode também fazer notar que Demócrito não gostava de sexo, apesar de não se saber se tal se devia a razões teóricas ou a algum infeliz revés pessoal.

É tudo quanto aos pré-socráticos; vamos agora ao próprio homem que lhes deu o nome, Sócrates (469-399). Sócrates não escreveu coisa alguma: dependemos de Platão no que respeita a qualquer informação sobre ele, e é uma vexata quaestio (uma boa expressão) saber até que ponto Platão reproduziu as ideias de Sócrates, ou se limitou unicamente a usar o seu nome. Não se deixe enredar nesta questão: uma boa manobra é afirmar, com um certo desdém arrogante, que o que conta é o conteúdo filosófico, e não a sua origem histórica.

Platão (427-347) acreditava que os objectos comuns do quotidiano, como as mesas e as cadeiras, eram meras cópias «fenoménicas» imperfeitas de Originais perfeitos que existiam no Céu para serem apreciados pelo intelecto, as chamadas Formas. Também há formas de itens abstractos tais como a Verdade, a Beleza, o Bem, o Amor, os Cheques Carecas, etc. Esta posição trouxe algumas dificuldades a Platão: se tudo o que vemos, sentimos, tocamos, etc., deve a sua existência a uma Forma Perfeitamente Boa, têm de haver Formas Perfeitamente Boas de Coisas Perfeitamente Horríveis. O próprio Platão menciona o cabelo, a lama e a sujidade; mas nós podemos pensar em exemplos muito melhores, tais como peúgas brancas com sapatos pretos, caramelos de Badajoz e galos de Barcelos.

Platão parece ser imensamente sobrestimado como filósofo; se não acredita em mim, veja o seguinte argumento tipicamente platónico, tirado do Livro II da República:

1) Aquele que distingue as coisas com base no conhecimento (presumivelmente, em vez de ser com base no mero preconceito) é um filósofo;

2) Os cães de guarda distinguem as coisas (neste caso, os visitantes) consoante os conhecem ou não (esta é uma verdade cara aos carteiros); ergo

3) Todos os cães de guarda são filósofos.

Experimente usar de vez em quando este argumento, para ver como se sai.

Outra manobra útil de aproximação a Platão é argumentar uma das duas ideias seguintes:

1) que ele era um feminista;

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2) que não era.

Ambas as afirmações podem ser sustentadas e acabar por revelar-se úteis (em ocasiões diferentes, claro). O indício para 1) é o facto de Platão afirmar no Livro 3 da República que as mulheres não devem ser discriminadas em questões de emprego unicamente por serem mulheres. A favor de 2) é o facto de, imediatamente a seguir, Platão comentar que uma vez que as mulheres são por natureza muito menos talentosas do que os homens, esta «liberalização» não faz de qualquer maneira diferença alguma.

Depois de Platão vem Aristóteles (382-322), por vezes conhecido como o Estagirita, que ao contrário do que pode parecer não é o embrião de um estagiário, mas um nativo de Estagira, na Macedónia. Foi aluno de Platão e esperava suceder-lhe como director da Academia. Sentiu-se, por isso, ultrapassado quando Espeusipo (não é necessário saber seja o que for sobre ele) ficou com o lugar, abandonando ofendido a Academia para fundar a sua própria escola, o Liceu — que não deve ser confundido com o lugar misterioso onde os nossos pais perderam a inocência.

Aristóteles era estupidamente brilhante. Desenvolveu a Lógica (na verdade, inventou-a), a Filosofia da Ciência (que também inventou), a Taxonomia Biológica (sim, também foi inventada por ele), a Ética, a Filosofia Política, a Semântica, a Estética, a Teoria da Retórica, a Cosmologia, a Meteorologia, a Dinâmica, a Hidrostática, a Teoria da Matemática e a Economia Doméstica. Não é aconselhável dizer seja o que for que não seja elogioso em relação a ele, mas o especialista instantâneo atrevido pode aventurar-se a lamentar a inclinação excessivamente Teleológica da sua Biologia, ou comentar que apesar de a sua teoria lógica ser um feito notável, ela foi no entanto, como é óbvio, ultrapassada pelos desenvolvimentos modernos devidos a Frege e Russell (q.v.). Mas tenha cuidado com estas afirmações, e nunca as produza se estiver a falar com um matemático, mesmo que este seja muito novo. Uma linha de abordagem muito mais segura consiste em depreciar moderadamente os aspectos mais caricatos da Biologia de Aristóteles, dos quais o seguinte argumento sobre a estrutura dos genitais das cobras é um exemplo:

As cobras não têm pénis porque não têm pernas; e não têm testículos por serem tão compridas. (De Generatione Animalum)

Aristóteles não oferece qualquer argumento para sustentar a sua primeira alegação, a não ser a suposição geral a que somos conduzidos de que caso contrário o órgão em causa seria penosamente arrastado pelo chão; mas a segunda deriva da sua teoria da reprodução. Para Aristóteles, o sémen não é produzido nos testículos, mas na espinal medula (os testículos funcionam aparentemente como uma espécie de sala de espera do esperma vagabundo); além disso, o sémen frio é estéril, e quanto mais tiver de viajar, mais arrefece (daí o facto conhecido, comenta ele, de os homens com pénis compridos serem estéreis). Assim, uma vez que as cobras são tão compridas, se o sémen parasse algures no caminho, as cobras seriam estéreis; mas as cobras não são estéreis; logo, não têm testículos. Este esplêndido argumento é um exemplo de Teleologia Excessiva, ou de uma explicação em termos de fins e objectivos, que neste caso põe na verdade tudo de pernas para o ar.

Depois de Aristóteles a filosofia fragmentou-se cada vez mais. Fundaram-se várias

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escolas rivais para complementar, e desancar, as já existentes Academia e Liceu. As grandes novidades do princípio do século III a.C. são os estóicos, os epicuristas e os cépticos.

Os estóicos acreditavam perversamente numa Providência Divina que tudo abarcava, apesar de todos os dados em contrário, tais como a ocorrência de desastres naturais, o triunfo das injustiças e a existência de hemorróidas. Crisipo, talvez o mais proeminente, e sem dúvida o mais palavroso dos estóicos, argumentou que as pulgas tinham sido criadas por um Providente Benevolente para não deixar as pessoas dormir de mais. Os estóicos contribuíram também com alguns desenvolvimentos importantes na teoria da lógica, o que lhes permitiu formular alguns tipos de argumentos que tinham escapado a Aristóteles. Mas o especialista instantâneo não deve preocupar-se muito com isso.

Os epicuristas, assim chamados em nome do seu fundador, Epicuro (342-270) defendiam que o nosso Fim era o prazer, consistindo este na satisfação dos desejos, o que era um bom começo. Mas depois deram a volta às coisas, afirmando que isto não significava que ter muito prazer era uma coisa boa; pelo contrário, uma pessoa devia limitar o número dos seus desejos, para que assim não acabasse por ficar com muitos desejos por satisfazer — um projecto que tem como consequência uma vida miseravelmente chata (e que, a ser cumprido, implicaria a completa reestruturação das fantasias do adolescente típico). Este ponto de vista é lógico, e ainda mais divertido, e, é claro, completamente oposto àquela ideia da filosofia como a procura do Inefável e do Inatingível — a União Mística com o Criador, a Empatia Total com o Cosmos, ou uma Noite com a Cláudia Schiffer. Assim:

Por prazer entendemos a ausência de dor física e mental. Não se trata de beber, nem de festas orgiásticas, nem da satisfação com mulheres, rapazes ou peixe. (Extraído de Carta a Menécio)

Não sabemos aonde foi ele buscar a ideia do peixe, mas asseguramos-lhe que está no texto. A outra característica importante do epicurismo era a sua versão da Teoria Atómica, que era como a de Demócrito, excepto que, para preservar o Livre Arbítrio, os epicuristas defendiam que de vez em quando os átomos davam uma guinada imprevisível, causando colisões, mais ou menos como os motociclistas acelerados das cidades. Defendiam também que apesar de os deuses existirem, se estão nas tintas para os homens porque têm mais que fazer.

A outra grande escola deste período, os cépticos, não acreditavam em nada. O seu fundador, Pirro de Elis (c. 360-270), não escreveu quaisquer livros (presumivelmente porque não acreditava que alguém os leria, se acaso os escrevesse), apesar de alguns cépticos posteriores — inutilmente, poderemos pensar — o terem feito, sendo de notar Tímon, que escreveu um livro de sátiras chamado Silloi, Enesidemo e Sexto Empírico. A linha de argumento principal consistia em afirmar que nenhum dado dos sentidos era digno de confiança, apesar de poder ser agradável, e que, consequentemente, ninguém podia ter a certeza fosse do que fosse. Na verdade, ninguém podia ter a certeza que não se podia ter a certeza fosse do que fosse. Para sustentar esta ideia, ofereceram algumas versões do Argumento da Ilusão, que Descartes iria usar mais tarde.

Diz-se que o cepticismo de Pirro era tal que os amigos tinham de o impedir, repetidamente, de cair nos precipícios e nos rios e de caminhar de encontro a carros em

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andamento, o que não devia dar-lhes qualquer descanso, apesar terem sido aparentemente muito eficientes, pois morreu com uma idade bastante avançada. Diz-se que visitou os gimno-sofistas indianos, ou «filósofos nus», assim chamados devido ao hábito de fazerem seminários em pêlo. Uma vez ficou tão irritado com as perguntas insistentes que lhe dirigiam em público que se despiu completamente (talvez por influência dos gimno-sofistas), mergulhou no ilusório Rio Alfeu, e nadou vigorosamente para longe, uma táctica que o especialista instantâneo fortemente pressionado pode considerar imitar.

Havia mais algumas escolas menores que tentavam alcançar a ribalta, nomeadamente os cínicos, que eram os mestres do comentário sarcástico, e uma desgraça se apareciam para jantar. Um deles, Crates, era conhecido por irromper nas casas das pessoas para as insultar. O cínico mais famoso foi Diógenes, que vivia numa barrica para fugir aos impostos, e que ficou conhecido por ter uma vez dito a Alexandre Magno, com uma certa aspereza, para lhe sair da frente para não lhe tapar o sol. Costumava também escandalizar as pessoas por comer, fazer amor e masturbar-se em locais públicos, quando e onde lhe dava vontade.

Pode ser útil fingir um certo afecto pelos cínicos: estavam-se completamente nas tintas para o que as outras pessoas pensavam deles, sendo por isso modelos da Temperança Filosófica, ou idiotas chapados, dependendo do seu ponto de vista. É irrelevante o ponto de vista adoptado, mas certifique-se de que adopta um qualquer.

A filosofia vagueou no mundo greco-romano sob da protecção imprevisível dos imperadores romanos, cujas atitudes para com os filósofos variavam consideravelmente. Marco Aurélio, por exemplo, foi ele próprio um filósofo; Nero, por outro lado, matava-os. A influência do cristianismo começou a fazer-se sentir neste período, e a filosofia sofreu com isso.

Agostinho, que por qualquer razão bizarra se tornou um santo, apesar da sua pródiga vida sexual e da sua famosa oração a Deus («faz-me casto — mas ainda não») teve algumas ideias interessantes: antecipou o Cogito de Descartes (penso, logo existo; refira-se sempre a isto como «o Cogito»), e desenvolveu uma teoria do tempo segundo a qual Deus está fora da corrente temporal de acontecimentos (sendo Eterno e Imutável, não tinha outra saída), o que quer dizer que o Todo-Poderoso nunca sabe a que horas são as coisas, mais ou menos como os maquinistas da CP.

Havia também os neoplatónicos, alguns dos quais eram cristãos, enquanto outros não, mas cujos nomes parecem todos começar por P. Os que eram cristãos dedicavam-se a mostrar que Platão tinha na realidade sido cristão, uma ideia que exige uma reorganização temporal surpreendente, para não dizer implausível. Os neoplatónicos tinham a tendência para falar de Coisas Abstractas com Letras Maiúsculas, tais como o Uno e o Ser, de uma maneira que ninguém percebia. Isto não é um problema exclusivo deles: Heidegger fez o mesmo, mas é claro que ele era alemão, e isso é o tipo de coisa que se espera de um alemão. Encontrará talvez pessoas que cultivam alguma admiração por esta gente; não hesite em afastá-los sumariamente, especialmente Plotino, Porfírio e Proclo, apesar de poder admitir relutantemente que o último tinha umas ideias interessantes sobre Causas.

Depois disso veio a Idade das Trevas, e a chama da filosofia, como os historiadores

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palavrosos gostam de dizer, foi mantida no mundo árabe, e em mosteiros que ou eram tão remotos ou tão pobres que não valia a pena saquear. A pouca filosofia que existia na Europa sofreu uma viragem depressivamente teológica, centrando-se sobre disputas tais como se Deus era Uma pessoa em Três ou Três pessoas Numa, a natureza exacta da Substância do Espírito Santo e quantos anjos podem dançar na cabeça de um alfinete (no caso improvável de desejarem realmente fazê-lo).

Vale talvez a pena chamar a atenção para Córdova, no sul de Espanha, que estava ocupada pelos árabes, e que era o país natal do maior filósofo judeu, Maimónides, e do grande filósofo árabe, Averróis. Algumas pessoas dirão que o maior filósofo árabe foi Avicena, e não Averróis — mas não se renda (o dogmatismo compensa). Durante várias centenas de anos, os judeus, os árabes e os cristãos conseguiram viver todos juntos. A intolerância religiosa, apesar de ser perene, não tem sido um facto invariável da vida.

Na Europa, a filosofia começou a renascer no século XI com Anselmo, outro dos santos filosóficos, que ficou famoso por ter inventado o enganadoramente chamado Argumento Ontológico da existência de Deus, que é notável pela sua implausibilidade, pela sua longevidade, e pela dificuldade em ser refutado. É assim: pense numa coisa maior do que a qual nada pode existir; mas a existência é ela própria uma propriedade que torna uma coisa melhor. (Esta alegação, implausível quando aplicada à halitose e aos bebés, torna-se mais persuasiva se a entidade em questão for boa em todos os outros aspectos.) Logo, se esta coisa maior do que a qual nada pode ser pensado (i.e., Deus) não existisse, poderíamos imaginar a existência de outra coisa ainda maior, nomeadamente, um Deus existente, que teria todas as propriedades do primeiro, mais a existência como bónus. Mas nós podemos conceber este último. Logo, Deus tem de existir. O próprio Anselmo afirma que foi Deus que lhe enviou uma visão com o argumento pouco depois do pequeno-almoço, no dia 13 de Julho de 1087, numa altura em que ele estava a passar um mau bocado com a sua fé. Este é assim o único grande argumento da história da filosofia cuja descoberta pode ser datada com precisão. A não ser, claro, que Anselmo estivesse a contar lérias.

O próximo santo filosoficamente importante foi Tomás de Aquino (1225-74), que foi responsável em grande parte pela reintrodução de Aristóteles no mundo ocidental. (Aristóteles foi delicadamente ignorado durante séculos por académicos que não gostavam de admitir que não sabiam grego.) São Tomás é também o único filósofo oficialmente reconhecido pela Igreja Católica. Tornou-se conhecido por propor as Cinco Vias para provar a existência de Deus — não tinha ficado muito impressionado com Anselmo. Não precisa de saber quais são essas Cinco Vias, mas pode talvez fazer notar que não existe qualquer diferença significativa entre as primeiras três, de maneira que Tomás de Aquino estava a exagerar um bocado.

Ele é também o autor de dois argumentos interessantes contra o incesto. Em primeiro lugar, o incesto tornaria a vida familiar ainda mais infernalmente complexa do que já é; em segundo lugar, o incesto entre irmãos devia ser proibido porque se ao amor típico dos casais se juntasse o amor típico dos irmãos, o vínculo resultante seria de tal maneira poderoso que resultaria em relações sexuais anormalmente frequentes. É uma infelicidade que São Tomás não defina este último conceito intrigante. Podemos também duvidar seriamente se teve realmente irmãos ou irmãs.

Quanto ao resto dos escolásticos medievais, como são conhecidos devido à sua

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predilecção pedagógica para o intenso pedantismo, a maioria dos mais importantes parecem ter sido franciscanos. Deve afastar-se decididamente deles, ou pelo menos dos pormenores. Poderá recordar que Duns Escoto (1270-1308) era na verdade irlandês, e que era além disso, segundo Gerard Manley Hopkins, «o mais dotado decifrador do real», seja o que for que isso queira dizer. Outro nome que vale a pena usar é o de Guilherme de Ockham (c. 1290-1349), considerado universalmente o maior lógico medieval, e conhecido sobretudo pela «Navalha de Ockham», com a qual pôs fim a séculos de filosofia hirsuta. A Navalha é usualmente citada segundo a fórmula «As Entidades não devem ser Multiplicadas sem Necessidade», ou, melhor ainda, em latim: «Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem» (i.e., Não Inventes). O especialista instantâneo ganha alguns pontos extra se comentar que esta formulação não se encontra, na verdade, em parte alguma da oeuvre extraordinariamente logorreica de Ockham.

A idade moderna da filosofia começa efectivamente com a descoberta, na renascença, do cepticismo grego; foi traduzido por Lorenzo Valla e usado por Michel de Montaigne. Depois de ascender de Valla para Montaigne, a epistemologia céptica formou a base a partir da qual Descartes iria reconstruir uma filosofia positiva.

René Descartes, (1596-1650), como quase todos os ensaios dos caloiros de filosofia lhe dirão, foi o Pai da Filosofia Moderna. Descartes foi em muitos aspectos uma personagem apaixonante: tinha muita dificuldade em levantar-se de manhã, e inventou o Cogito (lembre-se de o chamar sempre assim) enquanto estava escondido num quarto aquecido da Baviera, em 1620, para ver se escapava à tropa. Nunca casou, mas teve uma filha ilegítima. É aconselhável decorar o famoso slogan filosófico de Descartes em pelo menos três línguas, pois em português rende muito pouco. O próprio Descartes publicou-o em latim e em francês: Cogito, ergo sum; «Je pense, donc je suis» (a versão do Discours de la Méthode, que é menos conhecida do que a das Meditações latinas, constituindo portanto um material melhor para o especialista instantâneo). Os especialistas instantâneos mais experientes podem divertir-se oferecendo versões em alemão, servo-croata, hindustani, etc. Descartes chegou à conclusão que pelo menos isso era certo, depois de tentar sistematicamente duvidar de tudo o resto, tendo começado com coisas comparativamente simples, como as laranjas, o queijo e os números reais, avançando depois gradualmente para as verdadeiramente difíceis, como Deus e a sua senhoria.

Descartes descobriu que podia duvidar da existência de tudo, excepto da realidade dos seus próprios pensamentos. (Ele tinha mesmo algumas dúvidas quanto ao seu próprio corpo, e com razão, a acreditar nos retratos que nos chegaram.) Partindo desta certeza inabalável, Descartes passou à «reconstrução de uma ponte metafísica» (use esta expressão: soa bem) para chegar à realidade comum, por meio da demonstração da existência de Deus (exactamente como fez ele tal coisa não deve preocupar-nos: basta saber que o fez), acabando assim por deixar tudo mais ou menos como estava antes. Mas a filosofia é mesmo assim, como mais tarde diria Wittgenstein. O leitor pode legitimamente perguntar-se no seu íntimo se valeu a pena o esforço: mas não deixe jamais transparecê-lo.

A partir desta altura a filosofia começa a mostrar sinais de se dividir em duas tradições, a britânica e a continental. Este tipo de comentário enfurece os franceses e os alemães que, não sem alguma razão, gostam de pensar que têm tradições independentes — por isso vem mesmo a jeito quando falamos com eles.

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Os britânicos tendem a ser agrupados como empiristas, o que quer dizer que, tal como o nome sugere, constroem os seus sistemas com base no que pode ser sentido, observado, ou objecto de experiência. As personagens mais importantes parecem uma anedota racista: era uma vez inglês (Locke), um irlandês (Berkeley) e um escocês (Hume). Mas quem gosta de anedotas ficará desapontado ao descobrir que, apesar dos estereótipos, Berkeley era muito esperto e Hume muito generoso.

Mas comecemos com John Locke (1632-1704), que pensava que os objectos tinham dois tipos de atributos:

1.Qualidades Primárias, como a Extensão, a Solidez e o Número, tidas como inseparáveis e inerentes aos próprios objectos, e

2.Qualidades Secundárias, tais como a Cor, o Sabor e o Cheiro, que parecem estar nos objectos, mas que estão na verdade em quem percepciona. (Qualquer pessoa que tenha passado há pouco tempo por um campo recentemente adubado com estrume de cavalo pode sentir-se na disposição de duvidar disto.)

Que há-de fazer-se ao certo com atributos como a Extrema Maldade, que parece simultaneamente estar espalhada e ser objectiva, ninguém sabe: mas ele defendia que o Feio, tal como o Belo, são relativos, o que significa que ainda podemos ter esperança.

Locke pensava também que não tínhamos Ideias Inatas (sendo assim, a mente de um recém-nascido seria uma tabula rasa, uma ardósia limpinha: tal como muitas mentes de adultos, a julgar pelas aparências) e que todo o nosso conhecimento do mundo exterior ou foi directamente derivado do mundo exterior, ou indirectamente extrapolado a partir dele. Isto deu-lhe alguns problemas para conseguir dar conta de conceitos altamente abstractos, como o Número, o Infinito e a Cantina Universitária. Locke defendeu ideias interessantes sobre a Identidade Pessoal — como me distingo das outras mentes? Qual é o Conteúdo da Continuidade da minha Personalidade? Serei eu a mesma Pessoa que casou com a minha mulher há cinco anos? Se sou, ainda estou a tempo de fazer alguma coisa? etc. —, sustentando que nem todos os Homens eram Pessoas, pois para se ser uma Pessoa exige-se um certo nível de auto-consciência, e que nem todas as Pessoas eram Homens. A razão pela qual ele acreditava nesta última ideia devia-se unicamente à sua crédula aceitação de uma história de um viajante latino-americano que afirmava ter conhecido no Rio de Janeiro uma arara inteligente que falava português.

George Berkeley (1685-1753), apesar das desvantagens de ser simultaneamente irlandês e bispo, era mais radical. Defendia que as coisas só existiam se fossem percepcionadas («Esse est percipi»: não se esqueça desta), e a razão pela qual ele acreditava nesta ideia extraordinária, que ao que parece ele pensava ser no entanto simples senso comum, é que era impossível pensar numa coisa impercepcionada, pois no momento em que tentamos pensar nela como coisa impercepcionada já estamos, por pensar nela, a percepcioná-la.

A filosofia de Berkeley esteve fortemente em voga, e teve a virtude de irritar imenso o Dr. Johnson, que afirmou tê-lo refutado ao dar um pontapé numa pedra — uma forma particularmente pouco filosófica de refutação que falhou completamente o ponto de Berkeley. As pessoas que defendem estas ideias chamam-se idealistas (ver Glossário).

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Tal como a maior parte das coisas em filosofia, os idealistas são mais ou menos lunáticos; G. E. Moore comentou uma vez que os idealistas só acreditam que os comboios têm rodas quando estão nas estações, uma vez que não as podem ver quando viajam. Segue-se também, o que é muito interessante, que as pessoas não têm corpos a não ser quando estão nuas, um facto que, a verificar-se, tornaria completamente inútil grande parte da especulação quotidiana.

O sucessor natural deste género de ideias é uma forma de cepticismo: e é aqui que entra Hume (1711-76). Hume publicou o seu primeiro livro, o Treatise of Human Nature, em 1739, e ficou um bocado ofendido porque ninguém lhe ligou nenhuma. Sem se deixar abater, no entanto, limitou-se a reescrevê-lo e a publicá-lo com outro título (Enquiry Into Human Understanding), e as pessoas deram-lhe imediatamente importância e atenção.

A perspectiva geral é que a Enquiry é muito inferior ao Treatise: o especialista instantâneo pode tentar opor-se a esta perspectiva (a Enquiry tem pelo menos a virtude de ser muito mais pequena). Entre as coisas que é útil saber sobre Hume contam-se o facto de ele ter oferecido um tratamento original das causas, de acordo com o qual as causas e os efeitos são unicamente os nomes que damos aos acontecimentos ou itens que foram repetidamente observados juntos: a «Conjunção Constante». Tente notar que, na Enquiry, as três formulações de Hume deste princípio não são equivalentes: uma faz das causas condições necessárias dos seus efeitos; uma segunda fá-las condições suficientes; e a terceira parece ser ambígua. E o leitor pode comentar que este princípio não consegue distinguir as causas dos efeitos colaterais. Hume pensava também que o Livre Arbítrio e o Determinismo podiam ser compatíveis: duvide disto delicadamente.

Entretanto, de volta ao continente, temos de dar conta de indivíduos como Espinosa (1634-77), um polidor de lentes de Amesterdão. Foi muito admirado (mas não, aparentemente, pelos seus contemporâneos, que primeiro o excomungaram publicamente, tendo depois tentado assassiná-lo, quando isso não deu resultado) pelo seu Sistema Ético, que pôs de pé como um conjunto de deduções formais em geometria. Não é surpreendente, devido ao seu método, que ele tivesse sido um forte Determinista, tendo acreditado ainda numa Necessidade Lógica inabalável. A melhor aproximação a Espinosa é equilibrar uma certa admiração pelo homem, com um leve sentido de desapontamento por ter usado um sistema tão impróprio para um tema como a ética. A ética, pode dizer-se sentenciosamente (como na realidade o fez Aristóteles), não é apropriada para ser exibida num sistema formal axiomático.

Leibniz (1646-1716) é popularmente conhecido através da caricatura de Pangloss, no Cândido de Voltaire, o parvo optimista que pensa que estamos no melhor dos mundos possíveis, o que é um completo disparate. Contudo, Leibniz só escreveu coisas desse género para reconfortar os monarcas. Podia pensar-se que eles já tinham conforto suficiente, mas não. Leibniz escreveu também muito sobre assuntos Lógicos e Metafísicos, mas estas especulações não foram publicadas durante a sua vida, porque não eram muito reconfortantes para os monarcas. No caso improvável de este nome vir a lume, reflicta tristemente na diferença entre a qualidade do pensamento privado de Leibniz, e a pobreza das suas afirmações públicas.

O espaço não nos permite dizer muito sobre os filósofos franceses do século XVIII, cujas figuras de proa foram Voltaire, Rousseau e Diderot. Eles são notáveis por terem

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sido todos presos ou exilados, ou ambas as coisas. Está cada vez mais na moda exaltar a originalidade, o instinto, a humanidade e a excelente prosa erótica de Diderot, desprezando os outros, acrescendo ainda que vale a pena cultivá-lo mais que não seja porque pouco do que ele escreveu, excluindo La Réligieuse, está correntemente disponível em português. Experimente introduzir na conversa La Reve de d’Alembert ou Jacques Le Fataliste — e nunca se esqueça de mencionar que ele vivia da escrita de textos porno.

O Marquês de Sade é um bom investimento, parcialmente por ser um exemplo de um aristocrata maluco com um comportamento extravagantemente desviante, mas também devido ao seu tipo particularmente louco de filosofia do estado de natureza: o seu mote poderia ter sido qualquer coisa como «se sabe bem, não hesites». Sabia bem, ele não hesitou e acabou preso por causa disso. Pode mencionar a Philosophie dans le Boudoir, uma mistura extraordinária de filosofia política, moral e sócio-biológica com muito sexo sadomasoquista imaginativamente coreografado. Pode perguntar-se suspeitosamente se a sua filosofia terá sido levada suficientemente a sério (na verdade foi: mas não precisa de o mencionar).

O que nos conduz aos alemães do século XIX. O nosso conselho é este: evite-os a todo o custo. Tudo o que precisa de saber do seu precursor, Kant, pode encontrar-se noutra secção (ver Ética). Tudo o que todas as pessoas sabem sobre Hegel pode escrever-se num postal ilustrado, e mesmo assim seria ininteligível. Ele possuía, de forma muito avançada, esse talento comum aos advogados, entusiastas de computadores e filósofos alemães, que consiste em tornar o basicamente simples fantasticamente complexo.

Começou por usar a palavra «dialéctica» para referir as inter-relações das forças históricas opostas, sendo assim importante para a pré-história do marxismo. Para além disso, a terminologia filosófica alemã pode impressionar bastante, quando usada convenientemente (v. glossário). O mesmo se pode dizer, mais ou menos, de Schopenhauer.

Nietzsche (1844-1900) era um excêntrico, sendo por isso o assunto ideal para as vernissages. As opiniões contemporâneas têm tendência para o classificar juntamente com Wagner como um protofascista; ele era sem dúvida alguma anti-semita, mas na Prússia do século XIX toda a gente o era. Ele achava que Deus estava morto, ou pelos menos de férias, e odiava fanaticamente as mulheres, apesar de ser duvidoso se ele chegou realmente a conhecer alguma.

Avançou também a doutrina do Eterno Retorno, de acordo com o qual tudo acontece repetidamente, uma e outra vez, exactamente da mesma maneira. Ele achava que isto era reconfortante, mas na verdade condena-nos a uma eternidade de um tédio repetitivo, ou, alternativamente, se cada retorno for precisamente igual a todos os outros de maneira a que nenhum contenha memórias de nenhum outro, não faz qualquer diferença. Nietzsche ficou definitivamente louco em 1888 (algumas pessoas diriam que já estava louco há muito mais tempo) e começou a escrever livros com capítulos intitulados Por Que Sou Tão Esperto, e Por Que Escrevo Livros Tão Bons.

Entre os não alemães do século XIX, deve mencionar Kierkegaard, mais que não seja para mostrar que sabe pronunciar o nome: «Quírquegôr». O filósofo francês mais notável deste período foi Henri Bergson. Era um Vitalista, acreditando portanto que o

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que distinguia a matéria animada da inanimada era a presença na primeira de um misterioso Élan Vital, uma força misteriosa e indefinível que por alguma razão desaparece do corpo humano na adolescência. Conseguiu também, o que é notável, escrever um longo livro sobre o riso que não contém uma única boa piada. O que nos conduz aos americanos.

A contribuição originalmente americana para a filosofia foi o pragmatismo, que não é, como na política, uma designação alternativa para uma rejeição esfarrapada e indulgente de quaisquer princípios, mas antes a crença de que a verdade e a falsidade não são absolutas mas sim uma questão de convenção, ou que, como alguns filósofos modernos gostam de dizer, «estão em aberto.» Pensando melhor, talvez o pragmatismo tenha afinal qualquer coisa a ver com a política. Esta ideia foi defendida por William James e John Dewey. Se citar estes nomes, não se esqueça que James era irmão do romancista Henry James.

Isto conduz-nos ao fim da secção histórica desta exposição: os filósofos do século XX serão tratados numa outra secção (e com um bocado mais de cuidado, uma vez que muitos deles ainda estão vivos, podendo portanto vir a processar-me). 

AS MORTES DOS FILÓSOFOS

Acabámos portanto a vida dos filósofos. Segundo os epicuristas, a morte nada é para nós — mas apesar da opinião deles, incluímos a seguinte lista de mortes filosóficas bizarras, para efeitos de completude.

Há duas tradições no que respeita à morte de Empédocles. De acordo com uma delas, ele morreu de uma perna partida; mas a outra defende que ele saltou para a cratera do Monte Etna para provar assim que era um deus. Não se sabe como poderia isto constituir tal prova.

Heraclito, contudo, contraiu hidropisia em resultado de viver de erva e de outras plantas numa encosta de uma montanha, numa veneta misantrópica. Ao ser informado pelos médicos que o seu estado não tinha cura, tomou o tratamento a seu cargo, obrigando-se a ser coberto da cabeça aos pés com estrume, sendo depois deixado na rua (ou talvez tivesse acontecido apenas que ninguém o queria em casa). Segundo o historiador Diógenes Laércio, «ele não conseguiu tirar o estrume, e, estando assim irreconhecível, foi devorado pelos cães». Talvez os cães não o tivessem devorado se soubessem quem era.

Nunca mencione a morte de Sócrates com cicuta numa cela ateniense; mas se tiver a infelicidade de alguém lho mencionar, tente fazer notar que a descrição da sua morte no Fédon de Platão é completamente inconsistente com os efeitos conhecidos da cicuta: por isso, alguém estava a mentir.

Pitágoras foi uma vítima do seu próprio vegetarianismo extremo. Ao ser perseguido por vários clientes insatisfeitos, chegou a um campo de feijão, e, para não o pisar, ficou onde estava, acabando assim por ser morto.

Crínis, o estóico (uma escola famosa pela sua atitude imperturbável e indiferente em

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relação aos aspectos terrenos) morreu de medo com um guincho de um rato. A filosofia estóica nunca conseguiu recuperar completamente deste revés.

Crisipo, o estóico, por outro lado, morreu a rir de uma das suas terríveis anedotas. Um macaco de uma velha, assim reza a história, comeu uma vez uma grande quantidade dos figos de Crisipo, após o que este lhe ofereceu o seu odre, dizendo «É melhor ele dar um golo para acompanhar os figos», após o que desatou às gargalhadas. Depois morreu. Com um sentido de humor assim, não temos de nos sentir culpados se pensarmos que foi uma sorte nenhum dos seus 700 livros ter sobrevivido.

Diógenes terá morrido de uma das seguintes três maneiras:

1) Porque não se deu ao trabalho de respirar.

2) Devido a uma grave indigestão em resultado de comer polvo cru.

3) Por ter sido mordido no pé ao dar polvo cru aos seus cães.

Depois do período antigo a qualidade das mortes filosóficas decaiu consideravelmente, apesar de valer talvez a pena registar que Tomás de Aquino morreu na retrete, tal como já tinha acontecido a Epicuro. Francis Bacon morreu em resultado de uma pneumonia que apanhou quando tentava congelar uma galinha na neve, em Hampstead Heath. É talvez o único homem que morreu em resultado de uma investigação relacionada com a comida, e não por a ter efectivamente comido.

Finalmente, Descartes teve a pouca sorte de morrer por se levantar demasiado cedo. Atraído pela corte da Rainha Cristina da Suécia, descobriu para seu horror que ela queria ter explicações diárias e que a única hora que tinha livre era às cinco da manhã. O choque matou-o.

► A Visão de Sociedade e o Positivismo

"Embaçado numa concepção biológica, vê a sociedade como um organismo cujas partes constitutivas são heterogéneas, mas solidárias, pois se orientam para a conservação do conjunto. como num organismo, também sociedade é dividida em funções especiais, onde se nota a presença da espontaneidade, da necessidade, da imanência e da subordinação de todas as suas partes a um poder central e superior"(68).

A sociedade evolui e esta evolução, é incompatível com a evolução violenta. Por isso a sociedade para Comte deve ser sempre harmónica.

A sociedade se estrutura de dois modos: dinâmica e estética. O dinâmico, seria esta evolução da sociedade e o estético a ordem social, que se preocupa em estudar a consenso (solidariedade) ou organismo social em suas relações com as condições de existência, traçando a teoria da ordem. A dinâmica parte do conjunto para as particularidades, e determina o progresso geral da humanidade.

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Impacto e continuidade do Positivismo:

As ideias de Comte nunca foram aceitas no todo, mesmo por seus seguidores. Os que utilizaram-se do pensamento o fizeram por parte, como por exemplo Pierre Labutai que é um dos mais fiéis seguidores aceitando inclusive a religião.

Outros como Littré e Taine, fundaram a escola francesa e os Ingleses Spencer e Stuart Mill. No Brasil aparece Benjamin Constant que alia os conceitos, aos ideais republicanos, juntamente com Luiz Pereira Barreto, Miguel Lemos e Teixeira Mendes.

O que mais perdurou porém, do positivismo de Comte foi a proposta de uma filosofia e uma metodologia da ciência.

Taine (1828-1893) tornou-se conhecido pelas leis da sociologia, segundo as quais toda vida humana se explica por 3 factores: a raça, o meio e o momento. A raça que traz os caracteres hereditários, o meio onde o indivíduo é submetido a factores geográficos e o momento que é a época em que se vive. Ou seja, o homem não é livre, mas determinado por factores, aos quais não pode escapar. Esta teoria se estende ao direito com Lombroso, que com ela pretendia encontrar o criminoso nato. Na literatura surge a preocupação de ver o comportamento humano, sem a possibilidade de transcendência, como por exemplo Émile Zola, romancista francês, onde se pretende substituir o homem abstracto e metafísico, pelo homem natural, submetido as leis físico-químicas determinada pelas influências do meio. No Brasil Aloísio Azevedo enquadra-se nesta linha com as obras: O mulato, o cortiço e casa de Pensão.

Em nosso século após a 1º guerra houve um ressurgimento do positivismo através do movimento neopositivista, do círculo de Viena e o positivismo lógico e perduram até hoje, quando se despreza a metafísica e se super valoriza a experiência e a prova, a confiança sem reservas a ciência, o esforço pela forma científica a fenómenos sociais, com uma sociedade planejada, organizada, prevista e controlada em todos os seus níveis.

Herbert Spencer um agnóstico detalha a descrição histórica das instituições sociais e os princípios do evolucionismo social. Advoga um individualismo extremo, que ir florescer plenamente na obra "O homem contra o Estado" (tida como a obra mais positiva). Classificou Kant como idiota ao saber que este considerava o tempo e o espaço como percepção dos sentidos. Nega a lei dos 3 estados de Comte, mas afirma o princípio evolutivo.

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O POSITIVISMO NO BRASIL

Contexto de Surgimento do Positivismo no Brasil

Os primeiros aspectos do positivismo no Brasil são de 1850, em teses de doutoramento da escola de medicina e da escola militar, mas a partir de 1870 a questão positiva tem nuances na política. Surgem as primeiras divisões especialmente no calendário filosófico-religioso, onde um grupo chamado de religiosos ou ortodoxos, seguidores fiéis da doutrina como um todo, mas especialmente da Religião da humanidade e crentes no GRANDE SER, tendo como expoentes Miguel Lemos e Teixeira Mendes (fundadores da primeira Igreja positiva no Brasil no RJ), e o heterodoxos ou dissidentes que aceitavam apenas parte da questão filosófica-cientifíca, representados por:

a) Luís Pereira Barreto, que é médico. Suas obras que eram para serem em três tomos (só saiu 2, devido as divergências com os ortodoxos) são o "documento mais importante do positivismo brasileiro, por seu sentido filosófico e pela originalidade de aplicar a lei dos três estados à realidade brasileira, afirmando que o Brasil havia ultrapassado o estado teológico, achava-se no metafísico e caminhava para o positivo" (69).

b) Alberto Sales, Não chegou a criar uma filosofia, mas foi um dos grandes ideólogos da República, fundamentando sua acção em Comte e depois Spencer. Em sua obra aparece pela primeira vez formulada a ideia de que a Republica exigia uma mudança no regime de vida do país, como também posicionava-se favor vel a uma doutrina sobre o homem e a sociedade a fim de que com isto pudéssemos ter um guia à política para as novas gerações.

Podemos destacar ainda como grandes expoentes do positivismo, Benjamin Constant, Pedro Lessa e Vicente Licínio Cardoso, etc.

O positivismo também teve erradicações políticas, especialmente no Rio Grande do Sul, com Júlio de Castilhos, que orientou a ação política de setores militares e civis da pequena burguesia em outros pontos do país.

Tiveram os positivista participação marcante na proclamação da República de 1889 e na constituição de 1891, além do lema na bandeira brasileira "ordem e Progresso". O

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positivismo vinha expor de maneira sistem tica a confiança da burguesia em seu impulso transformador da estrutura.

"Na Europa o positivismo servia para justificar as novas atitudes da burguesia em sua fé no progresso retilínio da humanidade, nas Américas se apresenta de maneira diversa daquela como era compreendido no continente europeu, trazendo em seu bojo um acentuado car ter político (...) No Brasil preenche as aspirações revolucion rias da classe média urbana, que assenta suas bases nas cidades e sobretudo nas academias de Direito, na pretensão de se criar e definir uma nova consciência da realidade nacional, frente a ordem política social dominante" (70).

A realidade X pensamento nacional

A realidade nacional, fez com que os cafeicultores, ou oligarcas rurais, alcançassem a hegemonia própria acima do Estado.

"O império cumpria sua missão histórica, mantendo a unidade nacional, assentado no num romantismo político, cujo fundamento ideológico vinha das doutrinas políticas do escritor francês Benjamin Constant (...). (Porém), Constant era partid rio da soberania popular e considerava a vontade geral superior à vontade individual do monarca; contudo, repudiava a autoridade absoluta e ilimitada do povo. Para ele os ministros constituem poder executivo, e são respons veis perante o rei, que representa um poder neutro - o poder moderador, tendo a seu cargo a defesa do equilíbrio governamental"(71).

O romantismo traduzia as alterações de uma sociedade em que novos fatores surgiam e velhos fatores mudavam de sentido e força. Os intelectuais (pertencentes a aristocracia dominante), ligavam literatura e política, sem separação das mesmas. No fundo negligenciavam o real, caraterizando-se por uma atividade criadora do espírito, numa reação contra a razão iluminista, impregnando espiritualismo, ontologismo e idealismo todo o pensamento europeu e brasileiro. Com o findar do século XIX é abalada esta visão pelo naturalismo cientificista e com ela todas as instituições baseada sobre este pensamento.

Na década de 1850 o Brasil sofre uma grande crise provocada pelas restrições as exportações, gerando uma elevação dos gêneros de 1@ necessidade. A economia nacional sofre um grande abalo até 1864. A mão de obra é escassa e as epidemias de varíola e de cólera, flagelavam as províncias.

"No ambiente político, alternavam-se no poder o Partido Liberal e o Conservador, face ao sistema de governo criado pela constituição imperial de 1824. Tanto um como outro não tinham nenhuma significação ideológica, caracterizando-se pela ausência de fixações doutrin rias. O conservador defendia a ordem constitucional vigente, o liberal a abolição do poder pessoal e a descentralização, mas aceitavam ambos a concepção liberal do Estado, cujo princípio axiom tico era: o mínimo de governo e o m ximo de iniciativa.(72).

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A mentalidade conservadora convertia todos os problemas políticos em questões administrativas, obtendo um monopólio em matéria de decisão. Em concomitância com a realidade política econ"mica e social, surge o ecletismo que domina o pensamento teórico, explicando a realidade e empolgando a inteligência brasileira do segundo reinado. O ambiente histórico era propício para tal. As idéias de Cousin admitia no conhecimento percepções sensíveis a concepções racionais. Reduzindo a quatro todos os sistemas filosóficos: sensualismo, idealismo, ceticismo e misticismo, acolhendo destes o que julgou aproveit vel. Os conservadores encontraram no ecletismo o equilíbrio para a estabilidade imperial.

"Ao lado desta corrente dominante, havia um grupo de `reação católica' identificado no tradicionalismo, Krausismo, romantismo, além de neotomismo, que traduziam os anseios de uma elite espiritualistas que se opunha a cultura oficial, então empirista e liberal, senão mesmo espiritualista, mas de um espiritualismo racionalista, indiferente ao cristianismo" (73).

Na década de 1868 à 1878 o romantismo começa a se romper. Surge a ilustração brasileira que ataca Victor Cousin, tendo como base o positivismo. O pensamento de Cousin é banido, mas sua herança eclética permanece.

O início do positivismo no Brasil

Por volta de 1870, o movimento do espírito humano se voltam para a Europa, especialmente pelo not vel progresso do espírito científico. Segundo Sílvio Romero, surge um bando de idéias novas. "É a coexistência de orientação, muitas vezes antag"nicas. Mas o grande ponto de adesão da intelectualidade é o positivismo de Comte e o evolucionismo social de Spencer. Todas as leituras da intelectualidade redundaria numa reflexão sobre o social, na busca de uma ideologia política adequada as lutas pelo poder da oligarquia rural. O que se transfere de imediato são as normas, as instituições e os valores sociais, que irão orientar o comportamento das classes dominantes do ajustamento de seus interesses sócio-econ"mico imediato.

Inicialmente o positivismo foi trivial criando uma mentalidade científica generalizadora, alheia as particularidades sul-americanas. Aos poucos, frutificou como instrumento teórico a ser utilizados na transformação da realidade concreta.

Antes mesmo da morte de Comte j existiam positivistas no Brasil, porém, "A primeira manifestação do positivismo no Brasil verificou-se em 1844, quando o Dr. Justiniano da Silva Gomes apresentou a faculdade de medicina na Bahia uma tese; Plano e método de um curso de filosofia. Com tudo a primeira manifestação social do positivismo data de 1865, com a publicação da obras de Francisco Antonio Brandão Junior sobre a escravidão no Brasil. A escravatura no Brasil. Precedida de um artigo sobre a agricultura e colonização no Maranhão" (74).

O positivismo brasileiro, j surge dividido entre o grupo de Pierre Laffitte, com a ortodoxia dogm tica da religião da humanidade, mostrando seu papel unificador e o de Paul-Émile Littré que buscava a emancipação do espírito, considerando o ateísmo como

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a única possibilidade que caminha a um autêntico positivismo, desprezando a religião da humanidade proposta por Comte.

"Grande pontífice do positivismo no Rio de Janeiro foi Benjamin Constant Botelho de Magalhães (formado em ciências físicas e matem tica) na escola normal da qual é fundador, e na Escola Militar, onde ensina à juventude as bases do positivismo. Seu prestígio maior se d entre os jovens oficiais, chegando com estes a república. "O positivismo dava-lhe a justificativa para rechaçar a cultura política imperial baseada sobre os estudos jurídicos e não sobre as novas ciências naturais e sociais, como também descobriam os instrumentos adequados para formular as exigências de um novo tipo de autoritarismo em defesa dos seus interesses corporativos" (75).

Tobias Barreto em Pernambuco, foi um opositor do positivismo, vindo a resultar a Escola de Recife, donde surgiram grande expoentes como Silvio Romero, Clóvis Bevilaqua, Artur Orlando, Martins Jr, Fausto Cardoso, Tito Livio de Castro.

No Rio de Janeiro Luiz Pereira Barreto, tenta um ressurgir do positivismo, buscando seus aspectos morais, um despotismo da sociedade sobre o indivíduo.

Miguel Lemos e Teixeira Mendes organizam um positivismo integral com método e religião, espalhando-se pelas províncias. O grande objetivo é a insaturação do culto ao GRANDE SER sem se envolverem politicamente nos movimentos republicanos pois acreditam que o progresso acontecia fatalmente.

Estes positivistas, chamados de positivistas de apostolado proclamam que o governo da república devia ser exclusivamente tempor rio. Eram adeptos de uma república ditatorial para se efetuar a "ordem e o progresso" sem perturbações sociais.

O poder deve concentrar-se nas mãos de uma pessoas só, o ditador ou presidente da república, onde o sucessor, seria por ele indicado. O conceito de ditadura é diferente, não é uma tirania, não é autocracia, pois é república. "Ditadura (...) significa governo em que se concilia o predomínio político da força material que desconhece a livre supremacia de uma autoridade espiritual independente com a preocupação exclusiva do bem público" (76).

A reação ao positivismo, gerou o chamado grupo dissidente tendo como inspirador Littré com seu desprezo as abstrações metafísicas do subjetivismo centrado sobre o "eu" pessoal, esposando o evolucionismo liberal de Herbert Spencer, buscando melhor o ideal de democracia, de evolução sem saltos, de constitucionalismo.

Para alguns, o positivismo seria simples rótulo para a conduta ideal de oposição à monarquia. Esta visão formou-se na "Faculdade de Direito de São Paulo com acentuado criticismo no plano lógico e um republicanismo de aspectos nitidamente revolucion rio no plano das realidade político-sociais (77).

"O positivismo ofereceu os ingredientes ideológicos à classe média urbana, onde lavrava maior descontentamento com regimes, e que tinha meios para a "liberalização" do país para coloc -lo ao nível do século, mostrando a contradição entre os modelos ideais e as formas reais de organização social que exprimiu o conceito de democracia

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liberal que concretizava também os ideais políticos da elite dirigente, dentro de um esquema lógico da evolução liberal-democr tica, segundo o critério de Spencer" (78).

O positivismo e o evolucionismo no Brasil, não são simplesmente um gosto pelas coisas européias, mas um tentativa de adaptar esse idéias ao pensamento racional, opondo-se ao romantismo, ao idealismo e ao ecletismo que tem por base o império. Portanto surgem como uma contribuição para o advento de uma nova concepção de valores ao lado da remodernização do império. Esta idéias tem duas conseqüências: Se por um lado representam a renovação do sistema dando esteio aos intelectuais na construção da ideologia, por outro, nada contribuíram para o progressos que pregavam, pois faltava-lhes o respaldo popular e enfeudamento olig rquico cafeeiro que mantinha o prestígio e o poder, mantendo o sistema político.

CIENTIFICISMO OU POSITIVISMO CIENTÍFICO

O positivismo é o fen"meno mais significativo durante a república, chegando a ser num primeiro momento quase uma religião. reformou-se o ensino para adequa-lo a hipótese comtiana de que o real se esgotaria na série hier rquica das ciências, e como Comte havia condenado as universidades, não se cuidou da sua estruturação. Posteriormente os estudiosos contentavam-se em distinguir, no movimento positivista a corrente ORTODOXA da vertente dissidente. O modelo era o pensamento francês, mas não atendia a circunstância brasileira. Os estudos realizados no pós guerra no Brasil buscavam entende sua ascensão e não tanto a divisão cl ssica ortodoxos X dissidentes.

"O sucesso do comtismo decorre do fato de inserir-se numa tradição da cultura brasileira que passamos a denominar de cientificismo (...). Além disto a predominância no ciclo cientificista da primeira república advém (...) do autoritarismo doutrin rio representado pelo castilhismo" (79).

Toda a reação cientificista poderia se colocar nas reformas acontecidas após a condenação de Galileu, que serviu apenas como pretexto para este eclodir. Porém à medida que os cientistas também lutaram pela autonomia e sua institucionalização, recusando os rumos que tomou ao dissociar-se em dois momentos a propaganda da ciência e a pr tica científica. A busca do reconhecimento da ciência pela sociedade, uma vez atingida, não desaparece de cena para que a ciência ocupe o seu lugar, mas começa a se contrapor com a própria ciência. E esse ide rio que se introduziu na cultura brasileira na segunda metade do século XVIII e não propriamente o interesse real pela ciência. É este no fundo o grande movimento pombalino de 1772.

A geração pombalina evoluiria no sentido de afirmar a competância da ciência em matéria de reforma social (...) A difusão do cientificismo no Brasil seria obra do Semin rio de Olinda, organizado em 1800 por Azevedo Coutinha e da Real Academia Militar. Os padres saídos de Olinda evoluíram para o liberalismo radical derrotado nas fraticidas que desemcadeou por todo o país na fase da Independência. A Real Academia Militar teria ação mais duradoura e maiores conseqüências no curso histórico do país" (80).

A Real Academia não se limitava apenas a promover os estudos militares, mas empreendeu algumas das s bias diretrizes da política cultural de D. João VI.

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Sistematizou o estudo da matem tica e das ciências físicas, acompanhando a evolução que ocorria na Europa. No fundo logrou manter o espírito da reforma de 1772, elaborada sob a égide da suposição de que o núcleo do saber encontra-se nas ciências experimentais. É por meio da real academia que os intelectuais basileiros tomam contato com o positivismo. O primeiro contato foi com a obra matem tica de Comte, como também as ciências naturais, com isso dispondo os espíritos para mais tarde, sob o influxo do esforço de ilustração também aceitarem sua sociologia.

"O cientificismo preservado na real academia militar adquire forma acabada em mãos de Benjamin Constant (1836-1891), que se torna professor da escola em 1873 e viria a ser o chefe militar do movimento republicano vitorioso. A partir deste tem lugar o ciclo de predomínio do positivismo, abrangendo toda a república velar" (81).

Este movimento cientificista é de cunho religioso mantido pela Igreja positiva, tendo como figura centrais Miguel Lemos (1854-1916) e Teixeira Mendes (1855-1927), sendo este último um dos principais argumentadores, discutindo horas a fio e escrito em favor desta doutrina, da qual jurava fidelidade em muitos casos porém, também abusava da dedução. O positivismo como ciência possuía dois aspectos: o primeiro a filosofia como síntese das ciências; o segundo é o entendimento da própria ciências, que Comte considerava esgotada com a construção da mecânica celeste, termo de sua evolução normal. Os positivistas brasileiros deram costas as ciências, para manter-se fiéis a doutrina de Comte.

A reação a concepção de ciências não tardou a ocorrer, um dos opositores, foi Otto de Alencar, que deu-se conta que as contradições de sua obra, eram refutadas pela evolução da matem tica. Sob a coordenação de Otto de Alencar, funda-se a academia de ciências que ser uma grande opositora a concepção comtista.

A vinda de Alberto Einstein ao Brasil em 1925 (06 de maio), serviu para mostrar o isolamento do positivismo no mundo científico. E foi pela ciência que o positivismo adquiriu prestígio. Sua maior derrota, porém deve-se ao cultivo da ciência e a criação da universidade na década de 30. A difusão do comtismo em terras brasileiras, ocorreu por meio da corrente denominada: positivismo ilustrado que tinha como seus maiores destaques: Luís Pereira Barreto, Alberto Sales, Pedro Lessa e contemporaneamente Ivan Lins (1904-1975). Esta corrente apostou no aspecto pedagógico do comtismo, apostando na reforma dos espíritos.

A filosofia positiva é contemporânea do comtismo brasileiros, teve porém adesão da parcela substancial da elite, no período republicano. Sua concepção baseava que no advento da política científica implicava o término do sistema representativo e o começo do regime dilaterial a ser exercido por quem houvesse assimilado seu espírito (...) A versão mais importante da filosofia política de inspiração positiva é o denominado castilhismo, obra de Julio de Castilhos (1860-1903) e da liderança rio grandense por ele formada: Borges de Medeiros (1864-1961), Pinheiro Machado (1851-1915) e Getúlio Vargas (1883-1954).

O CASTILHISMO

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"Julio de Castilhos empolgaria a liderança das facções republicanas riograndense graças a prolongada guerra civil ocorrida no Estado, em seguida a proclamação da república. Assumiu o poder em 1893 e pode, então dar início a aplicação da doutrina que havia inserido na constituição estadual, inspirando-se em Comte. Segundo esta, não existe poder legislativo aut"nomo. A assembléia reúne-se apenas para votar o orçamento e aprovar a prestação de contas do governante. A leis são elaboradas pelo executivo (...) o poder executivo centraliza-se em torno da presidência, sendo substituto eventual de sua livre nomeação. Dispõe da faculdade de intervir nos executivos municipais. Assegura-se a sua reeleição (...) A constituição gaúcha nada tinha a ver com a carta Magna de 1891 (...) Castilho manteve o poder até 1898, transmitindo-o a Borges de Medeiros que governou até 1928" (82).

O castilhismo só terminou com a intervenção federal. Getúlio com a revolução de 1930 o difundiu a nível nacional.

"O castilhismo é, pois, uma doutrina política, que guiando-se pelos ensinamentos da Comte, afirma ser o governo questão de competência (...) No castilhismo a origem do poder esta no saber. Interesse vigente no império é a base da representação - passa a condição da imobilidade. Só h um interesse, o bem comum, que o castilhismo identifica prontamente, prescindindo-se da política em seu sentido próprio , isto é, como campo da disputa, da barganha e do compromisso. Essa doutrina revelou-se de uma consistência inusitada, tendo sido vão os esforços de Francisco Campos (1891-1968) para dar, sob o estado novo, uma fundamentação contemporânea a plataforma do executivo forte" (83).

"Como conclusão, vê-se que "o positivismo abrange toda a república velha, caracterizando-se pela: 1) Emergência do autoritarismo republicano que repudia e abandona a tradição liberal do império-estribado basicamente na pregação dos partid rios da Augusto Comte; 2) Sucessivas reformas do ensino prim rio e secund rio sobre a égide da hipótese comtiana de que o real se esgota na ciência, a qual também incumbe o estabelecimento de política e moral científicas; 3) aceitação pela elite dirigente da interdição positivista à universidade, para introduzir, no país, a investigação científica sem objetivos pr ticos, conservando-se o ensino superior restrito a formação profissional, 4) Adesão do professorado de ciências ao entendimento comtiano da ciência como algo de concluso, e, 5) Transferência do magistério moral, tradicionalmente exercido pelo Igreja católica, para a Igreja positiva" (84). "Tudo nos leva a crer que o ciclo positivista esteja esgotado com a república velha(...). "A exaustão do comtismo não serviu entretanto para erradicar o cientificismo de nosso panorama cultural, paulatinamente esse lugar passa a ser ocupado pelos marxistas" (85).

"São estas as principais teses dessa compreensão do marxismo: 1) a economia é disciplinada fundamentalmente, porquanto a atividade produtiva de bens materiais condiciona toda a elaboração teórica, tanto a filosofia, a história, a genética (a formação da família) a estética, a arte, a religião, a moral o direito ( como a política); 2) a filosofia é apenas a classificação das ciências como queria Comte; 3) pode-se adquirir conhecimento rigorosamente científico da sociedade e do curso histórico, inclusive prevendo-se a evolução dos acontecimentos; 4) os marcos fundamentais no processo de constituição das ciências sociais são as obras de Comte e Marx; 5) Existe plena identidade entre Comte e Marx, inclusive no que respeita a ditadura do proletariado como culminância da evolução social" (86).

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► Aristóteles

Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles (384 – 322 a. C.) foi um dos mais importantes filósofos gregos da Antigüidade. Há informações de que teria escrito mais de uma centena de obras sobre os mais variados temas, das quais restaram 47, embora nem todas de autenticidade comprovada. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe sua genial contribuição, que influenciou, decisivamente, a história do pensamento ocidental.

Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, provavelmente herdou do pai o interesse pelas ciências naturais, que se revelaria posteriormente em sua obra. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de vinte anos, tendo uma atuação crescentemente expressiva. Com a morte de Platão, a destacada competência de Aristóteles o qualificava para assumir a direção da Academia. Seu nome, entretanto, foi preterido por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.

Decepcionado com o episódio, deixou a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345 a. C. Pouco tempo depois foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho Alexandre. O relacionamento de Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império Macedônico, em 340 a. C.

Por volta de 335 a. C., Aristóteles regressou a Atenas, fundado sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lúcio. Nesse local permaneceu ensinando durante aproximadamente doze anos.

Em 323 a. C., após a morte de Alexandre, os sentimentos anti-macedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação com a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido. Foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” (a primeira vez teria sido com Sócrates).

Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio.

► Ciência, Mito e Filosofia

1.0 Introdução

Falaremos a seguir sobre ciência, mito e filosofia; mostrando as suas diferenças e características próprias e como cada uma das funções trabalham juntas proporcionado o

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mesmo objetivo. sendo mencionado uma diferença entre o pensamento de filósofos e cientistas: Sartes escreveu que a essência vem após a existência sendo está condenada por Heidegger. A idéia de totalidade onde a filosofia abandonou a investigação de um dos elementos que constituíam até então a sua essência, o que foi o momento de Hegel onde a idéia de estabilidade foi substituída pela idéia de movimento universal. O hegelianismo comete o erro de querer explicar todas as coisas. As coisas não devem ser explicadas mais vividas. Não pode existir sistema da existência. A verdade objetiva tal como Hegel é a  morte da existência. Nas especializações do saber cientifico serão descritos: A especialização que visa incrementar a produtividade científica, as vantagens da especialização e suas conseqüências nefastas. Faremos um comentário geral sobre a ciência e mito e as características da ciência, onde para a ciência o universo é ordenado com leis acessíveis à razão; a ciência é menos ambiciosa que o pensamento mítico, onde mito e ciência obedecem o mesmo princípio. Relacionados também os textos que tratam do papel da teoria, da imaginação na actividade cientifica; a experiência determina a validade dos mundos possíveis; a ciência pretende que as suas explicações sejam objetivas. Ciências ou ciência? Vamos pois tentar, em primeiro lugar, compreender o que é o conhecimento científico, tendo em conta que a ciência é hoje uma realidade complexa e multifacetada onde dificilmente se descobre uma unidade. Citadas serão conseqüências as características da ciência suas unidades e diversidade. A ciência pode ser descrita como um jogo a dois parceiros: trata-se de adivinhações sobre o comportamento de uma unidade distinta de nós. No texto ‘ciência e reflexão filosófica’ serão destacados os texto sobre: ciência e sociedade, ciência e cultura, os limites de uma cultura científico-tecnológica, a ciência e política, ética e ciência o para encerar será descritos valor do espirito científico.

2.0 Na origem da filosofia

2.1. Os primeiros filósofos

Os gregos são os primeiros a colocar a questão da realidade numa perspectiva não mítica. Embora revelando influências do pensamento mítico anterior e contemporâneo, as explicações produzidas pelos primeiros filósofos, por volta do século VI a. C., na colônia grega de Mileto, na Ásia Menor, são consideradas por muitos o embrião da ciência e da filosofia, ou seja, do pensamento racional (cf. texto de F. M. Cornford, A cosmogonia jônica).

2.1.1. Tales, Anaximandro, Pitágoras

mais antigo filósofo de que se tem conhecimento que terá encontrado uma resposta para esta questão foi Tales. Pensou ele que o princípio único de todas as coisas era a água. Pela mesma época outros filósofos tomaram posições mais ou menos parecidas com a de Tales. Foi o caso de Anaximandro e de Pitágoras que fizeram do indefinido e do número respectivamente o princípio originário a partir do qual tudo proveio (cf. Fragmentos dos Pré-Socráticos).

2.1.2. Heraclito e Parménides

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As respostas irão progressivamente tornando-se mais elaboradas, embora sempre centradas no problema da unidade ou da multiplicidade, da mudança ou da permanência das coisas. Nesse sentido, Heraclito (cf. texto de J. Brun, Uma filosofia do devir?) e Parménides (cf. texto do próprio, A unidade e imutabilidade do Ser) representam, historicamente, um radicalizar de posições: o primeiro, aparece como o defensor da mudança: não se pode penetrar duas vezes no mesmo rio; o segundo, como partidário radical da unidade fundamental de todas as coisas. Esta oposição não resiste, todavia, a um estudo aprofundado das posições dos dois pensadores.

Ficaram célebres os argumentos ou paradoxos inventados por Zenão de Eleia, discípulo de Parménides, com o objetivo de mostrar o caráter contraditório do movimento, e assim defender as teses do mestre sobre a imutabilidade do real (cf. texto de Kirk & Raven, Paradoxos de Zenão). Para além de uma reflexão sobre a natureza do espaço, do tempo, do conhecimento e da realidade, os paradoxos de Zenão desencadearam uma crise na matemática da Antigüidade, que só viria a ser resolvida nos séculos XVII e XVIII d. C., com a criação da teoria das séries infinitas.

2.1.3. Sócrates

Finalmente, com Sócrates (cf. texto de Platão, Sócrates e os pré-socráticos) verifica-se uma assinalável ruptura em relação aos antecessores. Explicar a origem e a verdade das coisas através de objectos e realidades materiais torna-se absurdo. Só no interior do homem se pode encontrar a verdade e Sócrates passa toda uma vida a ridicularizar aqueles que pensam saber qualquer coisa que não seja de natureza espiritual. A ontologia, ou ciência do ser, entra aqui numa fase completamente nova, mas para isso remetemos para o capítulo relativo às respostas dos filósofos, mais especificamente as respostas de Platão, discípulo directo de Sócrates, e Aristóteles, discípulo de Platão.

3.0 As filosofias da existência

3.1 Vejamos agora a que se opõem as filosofias da existência.

Podemos dizer que estas filosofias se opõem às concepções clássicas da filosofia, tais como as encontramos quer em Platão, quer em Espinosa, quer em Hegel; opõem-se de fato a toda a tradição da filosofia clássica desde Platão.

A filosofia platônica, tal como a concebemos vulgarmente, é a investigação da idéia, na medida em que a idéia é imutável. Espinosa quer ter acesso a uma vida eterna que é beatitude. O filósofo em geral quer encontrar uma verdade universal válida para todos os tempos, quer elevar-se acima da corrente dos eventos, e opera ou pensa operar só com a sua razão. Seria necessário reescrever toda a história da filosofia para explicar contra o que se insurgem as filosofias da existência.

A filosofia era concebida como o estudo das essências. A maneira pela qual os filósofos da existência concebem a formação da teoria das idéias em Platão é a seguinte: um escultor para esculpir uma estátua, um operário para construir uma mesa, consultam idéias que estão perante o seu espírito; qualquer coisa feita pelo homem é feita porque ele contempla uma certa essência. Ora, é a partir da ação do operário ou do artista que

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se conceberá qualquer ação. A propriedade essencial destas essências ou destas idéias é essencialmente serem estáveis. Segundo Heidegger, este pensamento encontra-se fortalecido pela idéia de criação tal como a concebemos na Idade Média. Tudo foi imaginado como por um grande artista, a partir de idéias.

3.2 A essência do homem está na sua existência

Os filósofos da existência serão levados a opor-se à idéia de essência considerada neste sentido. Heidegger diria: os objectos, os instrumentos, têm talvez essências, as mesas e as estátuas de que há pouco falamos têm mais essências, mas o criador da mesa ou da estátua, isto é, o homem, não tem uma tal essência. Posso perguntar-me o que é a estátua. É que ela tem uma essência. Mas, em relação ao homem, não posso perguntar-me: o que é, só posso perguntar-me: quem é? E neste sentido ele não tem essência, tem uma existência. Ou então dizemos - é a fórmula de Heidegger -: a sua essência está na sua existência.

Haveria aqui que mencionar uma diferença entre o pensamento de Sartre e o pensamento de Heidegger. Sartre escreveu: "A essência vem após a existência". Heidegger condena esta fórmula, porque, na sua opinião, Sartre toma nesta fórmula a palavra "existência" e a palavra "essência" no seu sentido clássico, inverte a sua ordem, mas essa inversão não faz que ele não permaneça no interior da esfera do pensamento clássico. Ele não deu devida conta do que, para Heidegger, constitui um dos elementos fundamentais da sua própria teoria. Esse elemento fundamental é que a existência para ele deve ser considerada como sinônima de "ser no mundo": ex-sistere, "ser fora de si". Se vemos que a existência é isso, e não a simples realidade empírica, chegamos a uma fórmula que não é a de Sartre: a essência vem após a existência, mas que é esta que Heidegger adota: a essência do homem é a existência, a essência do homem é ser fora de si. A luta contra a essência, contra a idéia, contra Platão, continua-se por uma luta contra Descartes. Kierkegaard disse que a fórmula de Descartes: "Penso, portanto existo", não corresponde à realidade do homem existente, dado que quanto menos penso, mais sou, e inversamente.

É necessário recordar, sem dúvida, que ele próprio recorre ao que chama um pensamento existencial, ou seja um pensamento que está simultaneamente em luta com a existência e de acordo com ela. Em qualquer caso, é muito diferente do pensamento tal como o concebe Descartes, isto é, tão universal e tão objectivo quanto possível.

Falamos de oposição a Platão, de oposição a Descartes; num e noutro, a filosofia é a investigação do que é estável e universal.

3.3 A idéia de totalidade

Parece que houve um momento na história da filosofia em que a filosofia abandonou a investigação de um dos elementos que constituíam até então a sua essência; foi o momento de Hegel, no qual a idéia de estabilidade foi substituída pela idéia de movimento universal. Mas Hegel conserva as idéias de objetividade, de necessidade, de universalidade, de totalidade, dos filósofos clássicos: só é necessário mudar a idéia, também ela fundamental, de estabilidade. E sucede que pelo seu gênio Hegel consegue manter simultaneamente a idéia de movimento e as idéias de objetividade, de necessidade, de universalidade, e fortalecer a idéia de totalidade. A meditação sobre o

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movimento como essência, introduzida por Nicolau de Cusa e Giordano Bruno no domínio do pensamento, foi introduzida por Leibniz no próprio domínio de uma filosofia racional. A obra de Hegel foi unir ainda mais estreitamente movimento e razão. Foi principalmente por oposição a Hegel que se formou, no espírito de Kierkegaard, a filosofia da existência. Ele vê naquela o final da tradição filosófica que começa com Platão e talvez com Pitágoras.

Que censura Kierkegaard em Hegel? Censura, em primeiro lugar, que tenha feito um sistema, dado que não há, diz Kierkegaard, sistema possível da existência. Kierkegaard recusa-se a ser considerado como um momento no desenvolvimento da realidade. Para Hegel, só há uma realidade verdadeira e plena, é a totalidade, a totalidade racional, porque tudo o que é real é racional e tudo o que é racional é real. Esta totalidade é a Idéia. Tudo o que existe só existe pela sua relação com uma totalidade e finalmente com a totalidade. Consideremos o mais fugidio dos nossos sentimentos. Só tem existência porque faz parte dessa totalidade que é a minha vida. Mas a minha própria vida, o meu próprio espírito, só existe, dirá Hegel, porque está em relação com a cultura de que sou uma parte, com a nação de que sou um cidadão, com a minha função e a minha profissão. Estou profundamente unido ao Estado de que sou membro, mas esse próprio Estado é apenas uma parte do vasto desenvolvimento da história, isto é, da Idéia única que se explicita em todo o curso deste desenvolvimento. E chegamos à idéia de um universal concreto que compreende todas as coisas. Do mais fugidio sentimento, vamos à idéia universal de que todos os universais concretos, como as obras de arte, as pessoas, os Estados, são apenas partes. E esta idéia universal existe no início das coisas tanto como no fim, dado que, sendo a única realidade, ela é a realidade eterna (...)

3.4 As coisas não devem ser explicadas, mas vividas

O hegelianismo comete o erro de querer explicar todas as coisas. As coisas não devem ser explicadas, mas vividas. Assim, em vez de querer apreender uma verdade objetiva, universal, necessária e total, Kierkegaard dirá que a verdade é subjetiva, particular e parcial. Não pode existir sistema da existência; as duas palavras "existência" e "sistema", são contraditórias. Se escolhermos a existência, devemos abandonar qualquer idéia de um sistema do gênero do de Hegel. O pensamento nunca pode atingir senão a existência passada ou a existência possível; mas a existência passada ou a existência possível são radicalmente diferentes da existência real. Se sabemos tão poucas coisas a respeito de Sócrates é precisamente porque Sócrates é um existente; a nossa ignorância a seu respeito é a prova de que existia em Sócrates algo que deve necessariamente escapar à ciência histórica, uma espécie de lacuna na história da filosofia, pela qual se manifesta que onde há existência não pode haver realmente conhecimento. Sócrates é o incomensurável, é sem relação predicado. Ora há mais verdade na ignorância socrática que em todo o sistema hegeliano. Existir objectivamente, ou, melhor, ser na categoria do objectivo, já não é existir, é ser distraído da existência. A verdade objetiva tal como a concebe Hegel é a morte da existência.

A oposição de Kierkegaard e Hegel continuará em todos os planos. Por exemplo, para Hegel, o exterior e o interior são idênticos. O segredo não tem lugar no mundo hegeliano. Mas Kierkegaard sabe que há coisas nele que não podem ser exteriorizadas, que não podem exprimir-se.

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Além disso, o sentimento de pecado far-nos-á ultrapassar, segundo Kierkegaard, todas as categorias filosóficas para entrar na vida religiosa. O filósofo hegeliano dirá, sem dúvida, que ele também chega à religião e mesmo àquilo a que chama a religião absoluta, que se identifica com a filosofia no seu mais alto nível. Mas também aqui se verifica uma oposição entre Hegel e Kierkegaard. Dado que Hegel vê no Cristo o símbolo da humanidade em geral, da própria razão: o cristianismo é a religião absoluta, porque nele se exprime da maneira mais válida esta identificação de um indivíduo com a humanidade considerada no seu conjunto. Mas, para Kierkegaard, o Cristo é um indivíduo particular, não simboliza o que quer que seja, e é este indivíduo particular que é o infinito e o absoluto. O sistema de Hegel é um sistema de mediação universal, mas há qualquer coisa que a filosofia não pode mediatizar, é o absoluto, absoluto cristão, o Deus cristão para Kierkegaard, e, por outro lado, o indivíduo como absoluto. Nos momentos verdadeiramente religiosos, nós apreendemos uma relação entre estes dois absolutos, o indivíduo e Deus, mas uma relação completamente diferente das relações que o hegelianismo pode conceber pela mediação.

Deste modo, existe uma oposição entre o mediador concebido no sentido cristão e a mediação hegeliana.

3.5 Contra a idéia de sistema

Podemos agora regressar à idéia de sistema. Dissemos que a idéia de sistema não pode satisfazer o pensamento apaixonado e decidido de Kierkegaard. Kierkegaard pode tomar a ofensiva e mostrar que na realidade o sistema não pode ser. Não só não há sistema da existência, mas o sistema não pode constituir-se realmente; porque se põe o problema de como o começar? E foi esse, efetivamente, um dos problemas que se puseram ao próprio Hegel: como começar um sistema? Além disso, o sistema de Hegel em rigor não conclui, visto que não poderia concluir sem que Hegel nos desse uma ética, e ele não a formulou. E não só o sistema não começa e não conclui, mas nada pode existir no meio deste começo ausente e desta conclusão ausente, visto que este meio é fornecido pela idéia de mediação que não pode dar-nos acesso à realidade.

Mas o que é que existe atrás do sistema de Hegel? Um indivíduo que quer constituir um sistema. Atrás do sistema, há Hegel, há o homem Hegel, que é um indivíduo que refuta pela sua própria existência, pela sua própria vontade de sistema, todo o seu sistema.

A luta de Kierkegaard contra Hegel é por ele concebida como a luta contra toda a filosofia. Hegel é o símbolo de toda a filosofia, tanto mais que a filosofia hegeliana era a filosofia dominante nessa época, e mesmo dominante no interior da igreja luterana, à qual pertencia Kierkegaard.

4.0 A especialização do saber científico

4.1 A especialização visa incrementar a produtividade científica

O fenômeno da especialização das ciências tinha - desde o início do século XIX - um caráter histórico inelutável. Com efeito, não se tratava senão da reprodução, no domínio da organização das investigações, de uma das mais típicas situações que se vinham

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impondo nos meios industriais nascentes, por óbvias razões econômicas: a subdivisão do trabalho. Assim como esta visava incrementar a produção de mercadorias, também se tornava necessária para incrementar a produtividade científica.

4.2 Vantagens da especialização

A primeira vantagem da especialização é que uma delimitação precisa dos campos de pesquisa - não só os das ciências fundamentais, como pretendia Comte, mas também os dos seus, "capítulos" e "subcapítulos" - dá a cada investigador a possibilidade de uma aprendizagem rápida das técnicas aplicadas habitualmente no seu campo e, portanto, permite que se tire imediatamente partido das investigações, sem dispersão de energias por mil direções possíveis. Mas há ainda um outro aspecto, não menos importante. Com as investigações especializadas nascem também as linguagens expressamente construídas por cada ciência em ordem a denotar todas (e só as propriedades dos fenômenos) que ela tenciona tomar em consideração: linguagens que facilitam, de uma maneira espantosa, a exatidão das expressões, o rigor dos raciocínios, a clarificação dos princípios que fundamentam cada uma das teorias. Estas especialização e tecnicização das linguagens de cada ciência foram justamente dois dos caracteres que mais diferenciaram as investigações do século XIX relativamente às do século precedente, permitindo a superação de muitos obstáculos que antes pareciam inultrapassáveis.

4.3 Conseqüências nefastas da especialização

A especialização e a tecnicização das linguagens científicas tiveram, porém, uma outra conseqüência bastante menos positiva: foram elas também responsáveis pelo fechamento do cientista especialista na sua disciplina, sem sequer se interrogar sobre a conveniência ou não de uma eventual integração, ou de uma coordenação com o trabalho dos investigadores de outros campos; e isto por causa da efetiva dificuldade de controlar o autêntico rigor de argumentação desenvolvida por uma linguagem diferente da sua.

Aconteceu, assim, uma pulverização da ciência em tantas ciências particulares, dando origem a um mosaico de resultados concretos onde não se verá, com facilidade, um projeto fornecido da mínima coerência. Trata-se da situação que, em 1900, David Hilbert pensava estar irremediavelmente vitoriosa em todas as ciências da natureza e da qual pretendia ver salva, pelo menos, a matemática: situação que conduz cada cientista (ou cada grupo de cientistas) a um isolamento cada vez maior porquanto lhe dá uma linguagem, uma problemática e uma metodologia totalmente incompreensíveis para quem não cultiva a mesma especialidade.

(...) É possível um desenvolvimento da especialização sem contrapartida de um fechamento no especialismo? Trata-se de um quesito da máxima importância, não só para a filosofia da ciência, como também para os destinos da cultura e da civilização.

(...) A ciência afastou-se da cultura (esta, com efeito, quer queira quer não, teve sempre como eixo condutor a própria filosofia). Daqui nasceu a famosa separação das "duas culturas" (a científica e a humanística) ou, mais precisamente, a formação de uma cultura de caráter velho, insensível às exigências do nosso tempo.

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Vale a pena referir, neste ponto, uma aguda observação de Elio Vittorini: em sua opinião, "a cultura é sempre baseada na ciência; contém sempre a ciência", a menos que aquela, hoje, habitualmente chamada "cultura humanística", seja, em rigor, "uma cultura velho-científica", isto é, uma cultura irremediavelmente velha e por isso inadequada à nossa época.

Mas como poderá surgir uma cultura nova, adequada à nossa época, se os cientistas, fechados no seu especialismo, continuarem a recusar assumir um vínculo sério com os problemas gerais?

5.0 Ciência e mito: características da ciência

5.1 Para a ciência, o universo é ordenado, com leis acessíveis à razão

Foi, sem dúvida, a estrutura do mito judaico-cristão que tornou possível a ciência moderna. Porque a ciência ocidental funda-se na doutrina monástica dum universo ordenado, criado por um Deus que está fora da natureza e a governa por leis acessíveis à razão humana.

É provavelmente uma exigência do espírito humano ter uma representação do mundo que seja unificada e coerente. Na sua falta aparecem a ansiedade e a esquizofrenia. E é preciso reconhecer que, em matéria de unidade e de coerência, a explicação mítica é muito superior à científica. Porque a ciência não tem como objectivo imediato uma explicação completa e definitiva do universo. Ela só opera localmente. Ela procede através duma experimentação pormenorizada sobre fenômenos que consegue circunscrever e definir. Contenta-se com respostas parciais e provisórias. Pelo contrário, os outros sistemas de explicação, quer sejam mágicos, quer míticos, quer religiosos, englobam tudo. Aplicam-se a todos os domínios. Respondem a todas as questões. Explicam a origem, o presente e mesmo o futuro do universo. Pode recusar-se o tipo de explicação oferecido pelos mitos ou pela magia. Mas não se lhes pode negar unidade e coerência.

5.2 A ciência é menos ambiciosa que o pensamento mítico

(...) À primeira vista, pelas perguntas que faz e as respostas que procura, a ciência parece menos ambiciosa que o mito. De fato, o início da ciência moderna data do momento em que as questões gerais foram substituídas por questões limitadas; em que, em vez de se perguntar: "Como foi criado o universo? De que é feita a matéria? Qual é a essência da vida?", começou a perguntar-se: "Como cai uma pedra? Como corre a água num cano? Qual é o percurso do sangue no corpo?" Esta mudança teve um resultado surpreendente. Enquanto as questões gerais apenas recebiam respostas limitadas, as questões limitadas conduziram a respostas cada vez mais gerais. Isto ainda se aplica à ciência de hoje.

5.3 Mito e ciência obedecem ao mesmo princípio

(...) No esforço de cumprir a sua missão e encontrar uma ordem no caos do mundo, mitos e teorias científicas operam segundo o mesmo princípio. Trata-se sempre de

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explicar o mundo visível por forças invisíveis, de articular o que se observa com o que se imagina. Pode considerar-se o relâmpago como a cólera de Zeus ou como um fenômeno electrostático. Pode ver-se numa doença o efeito da má sorte ou duma infecção microbiana. Mas, de qualquer modo, explicar o fenômeno é sempre considerá-lo o efeito visível duma causa escondida, ligada ao conjunto de forças invisíveis que se julga regerem o mundo.

5.4 Papel da teoria, da imaginação na actividade científica

Mítica ou científica, a representação do mundo que o homem constrói tem sempre grande parte da sua imaginação. Porque, a pesquisa científica, contrariamente ao que muitas vezes se julga, não consiste em observar ou acumular dados experimentais para deles deduzir uma teoria. Pode perfeitamente examinar-se um objeto durante anos sem daí tirar jamais a menor observação de interesse científico. Para se obter uma observação com algum valor, é preciso, ter já, à partida, uma certa idéia do que há a observar. É preciso ter já decidido o que é possível. Se a ciência evolui, é muitas vezes porque um aspecto ainda desconhecido das coisas se revela subitamente; nem sempre em conseqüência do surgir de aparelhagem nova, mas graças a uma maneira diferente de examinar os objectos, que passam a ser vistos sob um novo ângulo. Esta observação é necessariamente guiada por uma certa idéia do que pode bem ser a "realidade". Implica sempre uma certa concepção do desconhecido, dessa zona situada precisamente para além daquilo em que a lógica e a experiência nos levam a acreditar. Segundo os termos de Peter Medawar, a investigação científica começa sempre pela invenção dum mundo possível, ou dum fragmento de mundo possível.

5.5 A experiência determina a validade dos mundos possíveis

(...) Para o pensamento científico, a imaginação não é mais do que um dos elementos do jogo. O pensamento científico tem de se expor, em cada etapa, à crítica e à experiência para delimitar a parte de sonho na imagem que elabora do mundo. Para a ciência há muitos mundos possíveis, mas o único que lhe interessa é aquele que existe e que já há muito tempo prestou as suas provas. O método científico confronta sem descanso o que poderia ser e o que é. É esse o meio de construir uma representação do mundo sempre mais próxima daquilo que chamamos "a realidade".

5.6 A ciência pretende que as suas explicações sejam objetivas

(...) O processo científico representa um esforço para libertar de toda a emoção a pesquisa e o conhecimento. O cientista procura subtrair-se ele próprio ao mundo que tenta compreender. Procura pôr-se de fora, colocar-se na posição dum espectador que não faça parte do mundo a estudar. Por este estratagema, o cientista espera analisar o que considera ser "o mundo real à sua volta". Esse pretenso "mundo objectivo" torna-se assim esvaziado de espírito e de alma, de alegria e de tristeza, de desejo e de esperança. Em suma, este mundo científico ou "objectivo" torna-se completamente dissociado do mundo familiar da nossa experiência quotidiana. Esta atitude está na base de toda a rede de conhecimentos desenvolvida desde a Renascença pela ciência ocidental. Foi somente com o advento da microfísica que a fronteira entre observador e observado se esfumou um pouco. O mundo objectivo já não é tão objectivo como parecia pouco tempo antes.

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6.0  Ciência ou ciências?

No vasto domínio da experiência humana, a ciência ocupa incontestavelmente um lugar de destaque. É apontada como a responsável pelo prodigioso progresso das sociedades mais desenvolvidas e cada vez mais ocupa um lugar mítico no imaginário das pessoas. E se atendermos ao progressivo afastamento da prática científica da vida quotidiana e à auréola de mistério que envolve os seus praticantes, então podemos dizer que a ciência cada vez mais ocupa na nossa sociedade o lugar dos feiticeiros nas sociedades primitivas: confiamos cegamente nas suas práticas sem contudo as compreender adequadamente. Ela povoa cada vez mais o nosso quotidiano, cada vez nos tornamos mais dependentes das suas descobertas e cada vez mais difícil se torna a compreensão dos seus procedimentos. Utilizamos transistores e lasers sem percebermos o que é a mecânica quântica, utilizamos os satélites nas comunicações audiovisuais sem sabermos que é devido à teoria da relatividade que eles se mantém em órbitas geoestacionárias.

Vamos pois tentar, em primeiro lugar, compreender o que é o conhecimento científico, tendo em conta que a ciência é hoje uma realidade complexa e multifacetada, onde dificilmente se descobre uma unidade.

6.1 Características da ciência

Existem, no entanto, um certo número de atributos ou características que normalmente associamos à ciência: ela parte da crença num universo ordenado, sujeito a leis acessíveis à razão; pretende encontrar as causas ocultas dos fenômenos visíveis, através de teorias que são submetidas ao crivo da experiência; as suas explicações procuram ser objetivas, isentas de emoções, visando o real tal como ele é. Habituámo-nos a aceitar como naturais e credíveis as suas explicações para os mais variados problemas (mesmo que não compreendamos o alcance dessas explicações) e, naturalmente, consideramos desprovidas de rigor e menos legítimas as respostas dadas pela feitiçaria, pelas religiões, pelos misticismos (embora a atitude que temos para com a ciência, muito tenha de mítico-religioso). Todavia, a importância que hoje damos à ciência e aquilo que hoje se considera como sendo ciência, é o resultado de um longo processo evolutivo que tem as suas raízes históricas no pensamento mítico-religioso, e que traduz o modo como o homem ocidental se relaciona com o mundo à sua volta. Em certo sentido, podemos mesmo dizer que as características da ciência acabam por se clarificar no confronto com essas atitudes mitico-religiosas e face ao contexto cultural em que ela se foi afirmando historicamente (cf. texto de F. Jacob, Ciência e mito: características da ciência).

6.2 Unidade e diversidade das ciências

Nos séculos anteriores era relativamente fácil aos homens do saber dominar todas as áreas do conhecimento. Platão ou Aristóteles eram detentores de um saber tão diversificado que englobava os conhecimentos da época sobre a Matemática, a Física, a Psicologia, a Metafísica, a Literatura, etc. O mesmo acontecia, sem grandes alterações, na Idade Moderna. Só a partir sobretudo do séc. XIX, e sob o impulso da industrialização, assiste-se a uma progressiva fragmentação do saber: na constante busca da novidade e da descoberta, vai-se especializando a tal ponto que dentro da mesma área pode haver tantas especializações que tornam impossível uma visão de conjunto dos problemas em questão. Porém os riscos que daí advêm são grandes e cada

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vez mais se sente hoje a necessidade de grandes sínteses integradoras destes saberes dispersos (cf. texto de L. Geymonat, A especialização do saber científico).

6.3 Ciências "humanas" e ciências "exactas"

Essas sínteses deveriam aproximar não só os saberes da mesma área, mas também e sobretudo os saberes mais voltados para as aplicações técnicas dos saberes que constituem habitualmente a chamada "cultura humanística". Em suma, é necessário o diálogo entre os engenheiros e os filósofos, entre os economistas e os sociólogos, entre os matemáticos e os psicólogos, na compreensão da especificidade de cada saber, aliando o tratamento especializado das chamadas "ciências exactas" com a visão globalizante dos problemas caraterístico das "ciências humanas" (cf. texto de Isabelle Stengers,

A ciência pode ser descrita como um jogo a dois parceiros: trata-se de adivinhar o comportamento duma realidade distinta de nós, insubmissa tanto às nossas crenças e ambições como às nossas esperanças.

Prigogine e Stengers

7.0 Ciência e reflexão filosófica

A filosofia tem desempenhado um papel determinante na clarificação de alguns problemas que surgem no decurso da prática científica. É a própria ciência que recorre à filosofia na tentativa de encontrar pela via da reflexão e do debate, resposta para os seus problemas. Mas o saber científico enquanto atitude e enquanto mentalidade caracterizada da cultura ocidental, implica da parte de toda a sociedade uma tomada de consciência daquilo que é a própria ciência e do que são as conseqüências dos seus procedimentos e aplicações práticas. E sendo verdade que cada vez mais o cidadão comum tem mais dificuldade em compreender o que é o domínio da ciência, quer devido à sua progressiva especialização quer devido à abstração crescente das suas abordagens, por isso mesmo se impõe a necessidade de pensar sobre os seus limites e as suas práticas.

7.1 Ciência e sociedade

Sendo a nossa sociedade tão fortemente dependente das descobertas científicas, torna-se pois necessário formular perguntas que equacionem a relação da ciência com a sociedade, e mais concretamente sobre o papel que essa ciência desempenha na vida das pessoas. É que apesar de vermos constantemente o nosso quotidiano invadido por produtos derivados das descobertas científicas, não é menos certo que a ciência não pode resolver todos os problemas que se colocam ao Homem. Não nos podemos pois iludir relativamente às potencialidades da ciência; devemos ter consciência dos seus limites, daquilo que ela pode ou não pode dar à sociedade (cf. texto de B. Sousa Santos, Um discurso sobre as ciências).

7.2 Ciência e cultura

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Embora a dependência da nossa cultura face à ciência seja cada vez maior, não deixa porém de ser também verdade que o conhecimento que dela temos diminui na mesma proporção. É certo que o mundo do cientista se afasta cada vez mais do nosso quotidiano, e a progressiva especialização dos saberes implica abordagens progressivamente mais elaboradas, só acessíveis a uma minoria. (cf. texto de Alexandre Magro, O estranho mundo da ciência). Porém não podemos esquecer que a ciência é um produto cultural, sendo portanto necessário um crescente trabalho de divulgação científica, que assegure ao grande público um conjunto de referências científicas gerais, permitindo que ele se possa orientar melhor no mundo contemporâneo, protegendo-se de possíveis abusos ideológicos (cf. texto de J. Bronowski, Referências científicas e referências culturais).

7.3 Os limites de uma cultura científico-tecnológica

Fruto de um desconhecimento do que constitui a prática e as possibilidades da ciência, usualmente ela tem sido vista como a solução para todos os males, à semelhança de um deus que age de forma misteriosa. Ao longo do nosso século esta firme crença nas suas potencialidades não parou de aumentar e ela foi associada aos grandes sucessos da energia barata, do aumento da produção alimentar, da longevidade e do aumento da qualidade de vida resultantes dos grandes sucessos da medicina. Mas esta imagem risonha cedo mostrou o seu reverso e hoje, cada vez mais, a ciência tem sido associada a tudo que contribui para destruir a harmonia que existia entre o homem e a natureza (cf. texto de Rui Cardoso, Ciência: da esperança à desilusão).

Vários fatores contribuíram para esta alteração de atitude. O mais evidente, talvez, é a crescente degradação do ambiente devido à aplicação tecnológica e industrial dos produtos da investigação científica (cf. texto de H. Reeves, Desenvolvimento tecnológico e preocupações ecológicas). Todavia, o problema não seria apenas uma questão de aplicação da ciência por parte dos detentores do poder econômico: na própria ciência, certos pensadores vislumbram uma indisfarçavel vontade de domínio sobre a natureza (cf. texto de I. Prigogine e I. Stengers, Ciência: a vontade de poder disfarçada de vontade de saber). Esta questão não pode ser dissociada do problema das relações entre ciência, ética e política.

7.4 Ciência e política

Se por um lado as recentes investigações no campo da ciência fazem-nos temer o pior, existindo uma certa tendência para fazer do cientista o bode expiatório de todos os males da humanidade (cf. texto de Bronowski, O cientista acusado), por outro lado, felizmente, a opinião pública tem-se tornado progressivamente mais consciente e tem cada vez mais uma voz ativa nas decisões sobre a aplicação dos conhecimentos. Porém não podemos apenas pensar na ciência como uma propriedade e privilégio da cultura ocidental e, pelos vistos, as grandes descobertas da ciência não se têm traduzido numa melhoria global da qualidade de vida da humanidade em geral. A grande lição a tirar dos progressivos avanços científicos e tecnológicos deve-se traduzir numa profunda humildade e espírito crítico perante esses domínios. Estas questões merecem a atenção de responsáveis políticos como, por exemplo, o presidente da UNESCO (cf. entrevista de Federico Mayor Zaragoza, Ciência e desenvolvimento).

7.5 Ética e Ciência

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Parece-nos claro também que é urgente um amplo debate sobre os limites éticos que devemos colocar à ciência. Com efeito, não cabe apenas aos cientistas ou aos políticos estabelecer as normas orientadoras da prática científica. Cabe a todos nós, cidadãos que terão que conviver com o produto das aplicações científicas, o papel de participar ativamente na definição do que consideramos bem ou mal do ponto de vista ético. E no campo das biotecnologias e da engenharia genética, muitos são os campos onde a polêmica se instala. Como por vezes a fronteira entre o que é eticamente aceitável ou condenável nem sempre é fácil de traçar, resta-nos apelar para a responsabilidade das pessoas envolvidas na tomada de decisões, convictos de que estas só serão acertadas se houver uma consciência clara dos riscos envolvidos, e uma preocupação em ouvir toda a comunidade interessada na definição do melhor caminho para todos (cf. texto de Jacques Delors, O primado da ética). Neste debate, as opiniões dos próprios cientistas merecem particular atenção, pois elas representam o pensamento daqueles que mais de perto lidam com os problemas inerentes à investigação científica (cf. texto: Os cientistas perante a ética).

7.6 Valor do espírito científico

Se são evidentes os riscos mais ou menos diretamente relacionados com a ciência e os seus produtos, não podemos deixar de acentuar também os seus aspectos positivos. Mais uma vez, o mal da poluição, do subdesenvolvimento, do esbanjamento de recursos naturais, do aumento do fosso entre ricos e pobres pode não estar na ciência e na técnica mas na sua aplicação. Se formos a ver bem, para começar, num mundo dominado por paixões políticas, por fundamentalismos, racismos e xenofobias, um pouco mais de frieza e objetividade científicas viriam a calhar (cf. texto de François Jacob, Espírito científico e fanatismo).

8.0 Conclusão

Estamos agora em condições de ter da actividade científica uma visão mais esclarecida. Podemos agora mais facilmente compreender as potencialidades da ciência e os seus limites, aquilo que ela pode ou não pode, deve ou não deve fazer. E se ela pode definir-se como a "organização do nosso conhecimento de tal modo que se apodera de uma parte cada vez mais considerável do potencial oculto da natureza", tal só é possível através da elaboração cuidadosa de teorias que pacientemente terão que ser submetidas à experimentação, na convicção porém de que as verdades conseguidas não passam de conjecturas cuja validade depende do acordo que mantêm com a realidade (cf. O estatuto do conhecimento científico). Por isso resta-nos acreditar nas possibilidades da ciência, convictos de que ela é um produto humano, e como tal, falível. Os modelos teóricos que os cientistas vão elaborando terão então que ser vistos como uma das formas possíveis de descrever a realidade e não a única (cf. Os grandes mitos, As respostas dos filósofos e Ontologias da contemporaneidade), pois mesmo que esses modelos se tornem progressivamente mais completos, não deixam porém de ser provisórios e falíveis e o progresso científico encarregar-se-á de o provar: as leis da gravitação universal de Newton mostraram-se válidas durante duzentos anos, mas a teoria da relatividade de Einstein mostrou as suas limitações e falibilidade (cf. texto de Bronowski, Ciência e realidade).

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A ciência não pode responder a todas as interrogações que se colocam à Humanidade. A satisfação das necessidades de paz, de Justiça, de felicidade releva de escolhas e não do conhecimento científico.

Evry Schatzman

9.0 Referências bibliográficas

J. Wahl, As Filosofias da Existência, Lisboa, Europa - América, p. 20-29.

Ludovico Geymonat, Elementos de Filosofia da Ciência, pp. 50-53.

François Jacob, O Jogo dos Possíveis, pp. 25-31.

► Conceito e Natureza do Pensar Filosófico

Introdução

A Filosofia não só tem história, mas consiste nesta própria história. Se pretendêssemos defini-la, verificaríamos que a definição jamais poderia compreender ou abranger todo o definido, que por ser um processo que transcorre no tempo, mostra-se refratário a qualquer tentativa de imobilização no seu conceito. O filósofo pensa, situa-se no interior da própria história quando conclui a construção do sistema ou elaboração de sua doutrina.

As diversas doutrinas filosóficas constituem momentos sucessivos e abrangentes de um processo único: com todas as conquistas filosóficas o homem não pára de abordar temas e problemas que sempre preocuparam o espírito humano. As diversas filosofias nas diferentes épocas apresentam características comuns do pensamento humano.  É uma seqüência inexorável de um processo que implica os momentos anteriores e torna possível pensar os momentos subseqüentes.

Antes de falarmos da Filosofia propriamente dita, cabe meditar um pouco no sentido popular da filosofia como um princípio orientador dos indivíduos que lhes permite unidade nas ações e na conduta.  A priori, a Filosofia se debruça sobre a necessidade humana de compreender melhor a vida, meditar a própria vida para melhor poder viver.

Por sua natureza intrínseca, induzido e conduzido por razões imanentes, como a dúvida, a incerteza e o desespero o homem não consegue eximir-se de atitudes filosóficas, ou seja, interroga-se sobre si mesmo e sobre o sentido de sua existência, sua razão de ser.

Em crise existencial ou na euforia da vida, alguém que começa a indagar sobre o porquê da própria vida, está começando a filosofar, isto é, tendo uma atitude filosófica.  A

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atitude filosófica nos mergulha num mundo espetacular, terrível e fantástico ao mesmo tempo: a busca da sabedoria e da verdade.

Uma iniciação à Filosofia visa despertar uma atitude crítica e de avaliação, para chegar a uma consciência mais clara e respeitável quando tiver que optar entre uma infinidade de possibilidades.  Quem inicia-se na Filosofia já não pode encarar os problemas do homem e seu mundo com uma atitude simplista de aceitação ou negação.  Ele assume a responsabilidade de descobrir as intenções que levam ao questionamento e mudar a realidade pelo fato de interpretá-lo.

A atitude filosófica empenha-se em conhecer o mundo para transformá-lo a fim de restaurar a harmonia e a unidade no pensamento e na própria realidade da existência humana.  Ter uma atitude filosófica quer dizer que estamos utilizando o raciocínio fundamentado e lógico, tendo uma visão crítica e adulta da realidade e convicções sustentadas.

Em todos os tempos a Filosofia tenta interpretar o mundo e entender e transformar o homem, isto é, todo tema importante é assunto de preocupação filosófica à procura da verdade.               Conceituação A Filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais nada, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além de sua pura aparência. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana.

A Filosofia tem, de início, um caráter negativo, na medida em que começa colocando em questão tudo o que sabemos (ou que pensávamos saber). Por outro lado, tem também um caráter positivo que se revela na possibilidade de transformar os valores e as idéias predominantes que, a partir do momento em que são questionados, podem ser modificados. O lado positivo da postura crítica da Filosofia consiste na possibilidade de construir novos valores e idéias. Mas não resta dúvida de que essas novas formas de pensar, num segundo momento, serão também colocadas em dúvida e questionadas.

Compreendida como pensamento crítico, a Filosofia é uma atividade constante, um caminho a ser percorrido, constituído, sobretudo por perguntas que são mais essenciais do que as suas possíveis respostas. Por sua própria natureza, a filosofia transforma cada resposta em uma nova pergunta, na medida em que o seu papel é questionar e investigar tudo o que é pressuposto ou simplesmente dado. Por isso, costuma-se dizer que as perguntas, para o filósofo, são mais importantes do que as respostas. Essas características são:

- perguntar ‘o que’ a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A filosofia pergunta qual é a realidade ou a natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importando qual;

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- perguntar ‘como’ a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um valor;

- Perguntar ‘por que’ a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor.

As perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento. Ela torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Com essa volta do pensamento sobre si mesmo, a Filosofia realiza-se como reflexão.

Para Marilena Chauí a reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo para conhecer-se, para indagar como é possível o próprio pensamento.

A Filosofia é mais do que um refletir. Ela é refletir sobre o refletir. A Filosofia surge quando a própria capacidade de refletir é posta em questão, quer dizer, refletimos sobre o refletir, quando queremos saber como adquirimos conhecimentos, ou se sabemos realmente aquilo que supomos saber. Por isso que, para Sócrates, o ponto de partida do filosofar é o reconhecimento da própria ignorância.  A afirmação “só sei que nada sei” só pode ser feita por alguém que já exerceu uma autocrítica, que já se debruçou sobre as bases de seus conhecimentos e os avaliou de modo adequado.

A reflexão filosófica questiona:

- os motivos, as razões e as causas de pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos e fazermos o que fazemos; - o conteúdo ou o sentido do que pensamos, do que dizemos ou fazemos;- a intenção e a finalidade do que pensamos, dizemos ou fazemos. Marilena Chauí: “A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e montar uma propaganda”.

A Filosofia trabalha com enunciados preciosos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidas por procedimentos de demonstração e prova, exige fundamentação racional do que é enunciado e pensado.

Ao contrário do saber científico, a Filosofia dirige um olhar crítico a qualquer hipótese ou princípio (inclusive sobre si mesma). Não aceita nenhuma afirmação ‘porque sim’, mas porque revisa e discute, em cada caso, as razões que pretendem justificá-las. Em filosofia, qualquer afirmação é suscetível de reflexão e revisão. Em cada caso será preciso explicitar e debater hipóteses, conseqüências, implicações. É assim que se manifesta seu caráter essencialmente crítico

O filósofo não tem respostas prontas, elaboradas para os questionamentos.  Ao contrário, quem filosofa questiona, duvida, indaga, suspeita, abre novos caminhos, interroga, levanta suspeita para provocar reflexões, à procura de uma melhor forma de viver e em busca da vida feliz.

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O olhar crítico da Filosofia torna visível o que está oculto nos modos de agir e pensar em meio aos quais estamos desde sempre inseridos e, por conseguinte, possibilita que eles sejam questionados, avaliados e transformados. Nossos modos de pensar e agir só podem ser modificados se forem antes questionados, se tiverem sua legitimidade e seus limites de validade postos em questão, isto é, se forem criticados.

A Filosofia ocupa-se cada vez mais com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com a transformação histórica dos conceitos, das idéias e dos valores; volta-se, também, para o estudo da consciência em suas modalidades de percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, comportamento, reflexão, vontade, desejo e paixões, procurando descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo.

O caminho aberto pela Filosofia, portanto, é marcado, sobretudo por debates e controvérsias, e não por unanimidades e certezas. O método é a discussão das teorias propostas para resolver os problemas, a formulação de argumentos e a análise dos argumentos apresentados para atacar e defender essas teorias. Agora podemos ver com clareza por que filósofos diferentes podem oferecer definições tão diferentes da Filosofia, e também por que as investigações filosóficas são freqüentemente inconclusivas: o problema de definir a si própria, assim como o fato das suas investigações não chegarem a resultados universalmente aceitos, indica algo da própria essência da Filosofia – seu caráter crítico.

A verdade do mundo e dos humanos pode ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos.  A Natureza segue leis necessárias que podemos conhecer, mas nem tudo é possível por mais que queiramos. Tais conhecimentos dependem do uso correto da razão ou do pensamento.

“A mente é o homem, e o conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que sabe”. (Francis Bacon). O homem é o senhor da natureza à medida que, conhecendo suas leis, pode adaptá-las às suas necessidades. Podemos transformar a natureza, porém nunca conseguiremos modificar suas leis, por esta razão, não é possível comanda-la sem obedecer suas referidas leis.

O conceito de filosofia foi muito bem definido por Gerd A Bornheim no livro “Os Filósofos Pré-socráticos: Se compreendermos a Filosofia em um sentido amplo – como concepção da vida e do mundo - podemos dizer que sempre houve filosofia. De fato, ela responde a uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vive a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de sua existência.”

A Filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama e deseja o conhecimento. Podemos entendê-la como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade, da origem e causas das ações e pensamentos humanos. O filósofo por amar e respeitar o saber, deseja, procura e respeita o conhecimento, identifica-se com a verdade.  A verdade está diante de nós para ser vista e contemplada.  

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 Conclusão

Dizer que a Filosofia não se caracteriza em função de um setor determinado de objetos não significa que ela não tenha objetos no sentido de temas com os quais ela se ocupa. Os conceitos fundamentais utilizados nas diferentes ciências, nas artes, e até mesmo na nossa vida cotidiana são estudados pela Filosofia. Por isso, costuma-se dizer que a Filosofia é o estudo dos primeiros princípios, isto é, princípios a partir dos quais outros saberes são fundamentados ou justificados.

Pretender esvaziar a importância da reflexão filosófica porque depois de 2500 anos os filósofos não chegaram ainda a conclusões definitivas é desconhecer a natureza dos problemas com os quais a filosofia lida. O fato de não se ter até hoje um conceito definitivo de justiça, por exemplo, não pode nem tornar dispensável a busca por tal conceito nem diminuir a importância desse problema. É verdade que muitos dos problemas debatidos hoje são os mesmos que eram discutidos na antiga Grécia. Mas é um erro pensar que tais problemas estão, hoje, no mesmo ponto em que estavam no primeiro momento em que foram colocados. Afirmar que não é possível saber o que é a Filosofia porque os filósofos não apresentam uma única definição do seu próprio objeto de estudo é desconhecer a característica comum que costura toda a investigação filosófica, desde a Antigüidade grega – o caráter crítico.

Não há dúvida de que o homem comum possa passar a vida inteira sem se preocupar com os problemas que rondam os filósofos. Mas ele, conscientemente ou não, está se valendo de motivos para tomar as tantas decisões que a vida o obriga a tomar. Se olharmos mais de perto, veremos que esses motivos estão calcados em princípios ou regras morais, ou em informações às vezes genuínas, ou verdadeiras, às vezes equivocadas, ou falsas. Ou seja, o homem comum não pára de refletir, de especular. A reflexão, quer ele se dê conta disso ou não, faz parte de sua vida do mesmo modo que faz parte da vida dos intelectuais, sejam eles cientistas ou filósofos.

Para Epicuro, como se expressa na Carta a Meneceu, o objetivo da filosofia é a felicidade do homem:

“Nenhum jovem deve demorar a filosofar, e nenhum velho deve parar de filosofar, pois nunca é cedo demais nem tarde demais para a saúde da alma. Afirmar que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou é a mesma coisa que dizer que a hora da felicidade ainda não chegou ou já passou; devemos, portanto, filosofar na juventude e na velhice para que enquanto envelhecemos continuemos a ser jovens nas boas coisas mediante a agradável recordação do passado, e para que ainda jovens sejamos ao mesmo tempo velhos, graças ao destemor diante do porvir. Devemos então meditar sobre tudo que possa proporcionar a felicidade para que, se a temos, tenhamos tudo, e se não a temos, façamos tudo para tê-la”. (Epicuro - Carta de Epicuro a Menoiceus)

A Filosofia estudará sempre tudo e não se esgotará, pois é um processo em constante desenvolvimento e aprimoramento. Procurando a verdade, ela engloba todas as coisas como objeto de indagação filosófica: o homem, os animais, o mundo, o universo, o esporte, a religião, Deus.

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“Quem é capaz de ver o todo, é filósofo; quem não é capaz, não o é”. (Platão / 427-347 a.C).

Todos nós somos filósofos, uma vez que pensamos, indagamos, criticamos, tentamos respostas e soluções e esbarramos em dúvidas, buscando sabedoria e a verdade.

Filosofar é buscar incessantemente a sabedoria, com base na verdade e na consciência do respeito pos si mesmo e pelos outros. A busca da sabedoria e da verdade é também a busca da perfeição, do equilíbrio e da harmonia.  BIBLIOGRAFIA

http://www.filosofiavirtual.pro.br/filosofia.htm, Profª Cristina G. Machado de Oliveira – 09.03.2005. http://www.cfh.ufsc.br/wfil/filosofia.htm, Marco Antonio Frangiotti - 05.03.2005.CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, São Paulo: Ática, 1999. SILVA NETO, José Leite da. (matéria ministrada em sala de aula pelo Professor LEITE)

► Conhecimento Científico

Podemos dizer que o homem detém vários tipos de conhecimento científico, desde aquele mais simples, comum a todas pessoas e que nos passa despercebido, até aquele mais profundo e complexo não comum a todos indivíduos.

Primeiramente analisemos o conhecimento de senso comum, o qual é estendido a todos indivíduos, mesmo que não o percebamos, e nos vem como herança genética de geração em geração. Usamos este conhecimento diariamente, muitas vezes sem nos dar conta, em atividades corriqueiras sem questionarmos se está certo ou errado. Um exemplo disto é o uso secular que fizemos de ervas para confecção de vários tipos de chás para a cura de toda sorte de moléstias. Nunca paramos para pesar como elas funcionam em nosso organismo, confiamos em sua eficácia porque todas pessoas usam e principalmente porque nos é indicado pelos mais velhos.

Outro tipo de conhecimento é o científico. Surgiu da necessidade do ser humano querer saber como as coisas funcionam ao invés de apenas aceitá-las passivamente. Com este tipo de conhecimento o homem começou a entender o porquê de vários fenômenos naturais e com isso vir a intervir cada vez mais nos acontecimento ao nosso redor. Este conhecimento se bem usado é muito útil para humanidade, porém se usado incorretamente pode vir a gerar enormes catástrofes para o ser humano e tudo mais ao seu redor. Usamos como exemplo a descoberta pela ciência da cura de uma moléstia que assola uma cidade inteira salvando várias pessoas da morte, mas também, destruir esta mesma cidade em um piscar de olhos com uma arma de destruição em massa criada com este mesmo conhecimento.

CIÊNCIA & MÉTODO – VISÃO HISTÓRICA

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Tivemos no século passado dois momentos marcantes para a humanidade. O primeiro ocorreu no início do século quando cientistas conseguiram provar teorias através de observações astronômicas, que muitos consideravam incoerentes, pois contrariavam princípios já há muito tempo enraizado sobre nosso espaço exterior. O segundo aconteceu em meados da década de quarenta quando, infelizmente, descobrimos o real poder de uma bomba nuclear. O que foi um enorme avanço em nossa ciência, que se não usado para meios pacíficos, pode destruir totalmente o mundo que conhecemos.

O homem usa a ciência para tentar explicar suas perguntas de como as coisas acontecem ao seu redor. Com isto tenta-se criar novas tecnologias para termos um mundo melhor em que vivamos. Existem campos da ciência que trazem benefícios incalculáveis para o homem com o as comunicações, medicina, informática e muitos outros. Usa-se isto para a tomada de ações e decisões o que nos faz viver em uma sociedade baseada no conhecimento. Uma nação que quer ser forte não basta sê-la belicamente e monetariamente, necessita ter também um grande controle do conhecimento científico. Porém se temos um grande conhecimento e não usarmo-lo corretamente poderemos estar indo para o caminho errado.

CIÊNCIA & MÉTODO

Existem várias concepções de ciência divididas em períodos históricos cada uma com sua peculiaridade, podemos relacioná-las da seguinte maneira:

Ciência Grega - Século VII AC até final do século XVI. Ciência Moderna - Século XVII até final do século XIX. Ciência Contemporânea - Início do século XX até os dias de hoje.

1 - CIÊNCIA GREGA

Conhecida como filosofia da natureza tinha como preocupação a busca do saber a compreensão da natureza das coisas e do homem. Conhecimento este desenvolvido pela filosofia que hoje é distinta da ciência.

Os pré-socráticos deixaram de lado a mitologia, que na sua concepção, os fenômenos ocorriam devido a forças espirituais e sobrenaturais (Deuses) e inseriram a idéia de que existe uma ordem natural no universo não influenciado pelos “Deuses”.

No modelo platônico o real não está na experiência adquirida nos fatos e fenômenos adquiridos pelos sentidos. Para eles o verdadeiro mundo é o que está nas idéias, o que nos fornece o que são as coisas é a inteligência conseguida através da busca da verdade com o diálogo, ou lógica desenvolvida por teses.

Já para Aristóteles a conhecimento deve-se ter uma justificativa lógica, devem-se apresentar argumentos verdadeiros para sustentarem os princípios, pois nenhum efeito ou atributo poderia existir se não estivesse ligado a alguma causa. Dessa forma este modelo propõem uma ciência que produza conhecimento fiel à realidade por estar amparado no observável e pela sua característica de necessidade.

2 - CIÊNCIA MODERNA

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Durante o renascimento onde se introduziu a experimentação científica modificou-se radicalmente a compreensão e concepção teórica de mundo, ciência, conhecimento e método. Conforme Bacon a natureza é mestra do homem e para dominá-la era preciso obedecê-la. Para isto era necessária a indução experimental cuidando de várias coisas que ainda não aconteceram e depois de posse das informações concluir a respeito dos casos positivos. Isto passou a ser conhecido como método científico e deveria seguir os seguintes passos:

Experimentação Formulação de hipóteses Repetição da experimentação por outros cientistas Repetição do experimento para testagem das hipóteses Formulação das generalizações e leis

A revolução científica moderna foi idealizada por Galileu Galilei ao introduzir a matemática e a geometria como linguagens da ciência e o teste quantitativo experimental e com isto estipular a chamada verdade científica. A visão do universo por Galileu era de um mundo aberto, unificados, deterministas, geométricos e quantitativos diferente daquela concepção aritostélica, impregnada pelos resquícios das crenças míticas e religiosas. Com isto Galileu estabeleceu o domínio do diálogo científico, o diálogo experimental, que era o diálogo entre o homem e a natureza. O homem deveria, com sua razão e inteligência teorizar e construir a interpretação matemática do real e à natureza caberia responder se concordava ou não com o modelo sugerido.

Newton, dando uma interpretação diferente da de Galileu, afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos fatos, sem interferência da especulação hipotética. Esse seria o método ideal, através do qual se poderia submeter à prova, uma a uma, as hipóteses científicas. Assim criou-se o método científico Indutivo-Confirmável, com pequenas variações, no seguinte formato:

Observação dos elementos que compõem o fenômeno. Análise da relação quantitativa existente entre os elementos que compõem o

fenômeno. Introdução de hipóteses quantitativas. Teste experimental das hipóteses para verificação confirmabilista. Generalização dos resultados em lei.

O sucesso das aplicações de Newton no decorrer de três séculos gerou uma confiabilidade cega neste tipo de ciência que fez com que, não apenas as ciências naturais, mas também as sociais e humanas, procurassem esse ideal científico e o aplicassem para ter os mesmos resultados.

3 - CIÊNCIA CONTEMPORÂNEA

No início do século XX as idéias de Einstein e Popper revolucionaram a concepção de ciência e método científico. Os princípios tidos com incontestáveis no século passado foram cedendo seu lugar à atitude crítica. A partir deles desmistificou-se a concepção de que método científico é um procedimento regulado por normas rígidas que o investigador deve seguir para a produção do conhecimento científico. Sendo assim, há tantos métodos quantos forem os problemas analisados e os investigadores existentes.

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Na ciência contemporânea, a pesquisa é resultado decorrente da identificação de dúvidas e da necessidade de elaborar e construir respostas para esclarecê-las. A investigação científica desenvolve-se porque há necessidade de construir uma possível resposta ou solução para um problema, decorrente de algum fato ou conjunto de conhecimentos teóricos.

A ciência atual reconhece que não existem regras para uma descoberta, assim como não há para as artes. A atividade do cientista é semelhante a do artista. Os pesquisadores podem seguir caminhos diversos para chegar a uma conclusão.

Analisando a história da ciência, constata-se que muito de seus princípios básicos foram modificados ou substituídos em função de novas conjeturas ou de novos padrões. Aconteceu quando Galileu modificou parte da mecânica de Aristóteles e Einstein fez o mesmo com Newton.

A concepção contemporânea da ciência está muito distante das visões aristotélica e moderna, nas quais o conhecimento era aceito como científico quando justificado como verdadeiro. O objetivo da ciência ainda é o de criar um mundo cada vez melhor para vivermos e atingir um conhecimento científico sistemático e seguro de toda realidade.

A ciência demonstra ser uma busca, uma investigação, contínua e incessante de soluções e explicações pra os problemas propostos.

► Conhecimento Científico e Senso Comum

O conhecimento científico é uma conquista relativamente recente da humanidade. A revolução científica do século XVII marca a autonomia da ciência, a partir do momento que ela busca seu próprio método desligado da reflexão filosófica.

O exemplo clássico de procedimento científico das ciências experimentais nos mostra o seguinte: inicialmente há um problema que desafia a inteligência humana, o cientista elabora uma hipótese e estabelece as condições para seu controle, a fim de confirmá-la ou não, porém nem sempre a conclusão é imediata sendo necessário repetir as experiências ou alterar inúmeras vezes às hipóteses. A conclusão é então generalizada, ou seja, considerada válida não só para aquela situação, mas para outras similares. Assim, a ciência, de acordo com o pensamento do senso comum, busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, conseqüentemente também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo.

Nos primórdios da civilização os gregos foram os primeiros a desenvolver um tipo de conhecimento racional mais desligado do mito, porém, foi o pensamento laico, não religioso, que logo se tornou rigoroso e conceitual fazendo nascer a filosofia no século VI a.C.

Nas colônias gregas da Jônia e Magna Grécia, surgiu os primeiros filósofos, e sua principal preocupação era a cosmologia, ou estudo da natureza. Buscavam o principio explicativo de todas as coisas (arché), cuja unidade resumiria a extrema multiplicidade

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da natureza. As respostas eram as mais variadas, mas a teoria que permaneceu por mais tempo foi a de Empédocles, para quem o mundo físico é constituído de quatro elementos: terra, água, ar e fogo.

Muitos desses filósofos, tais como Tales e Pitágoras no século VI a.C. e Euclides no século III a.C. ocupavam-se com astronomia e geometria, mas, diferentemente dos egípcios e babilônios, desligavam-se de preocupações religiosas e práticas, voltando-se para questões mais teóricas.

Alguns princípios fundamentais da mecânica foram estabelecidos por Arquimedes no século III a.C. visto por Galileu como único cientista grego no sentido moderno da palavra devido à utilização de medidas e enunciação do resultado sob a forma de lei geral. Dentre os filósofos antigos, Arquimedes constitui uma exceção, já que a ciência grega era mais voltada para a especulação racional e desligada da técnica e das preocupações práticas.

O auge do pensamento grego se deu nos séculos V e IV a.C. período em que viveram Sócrates, Platão e Aristóteles.

Platão opõe de maneira vigorosa os sentidos e a razão, e considera que os primeiros levam a opinião (doxa), forma imprecisa, subjetiva e mutável de conhecer. Por isso é preciso buscar a ciência (episteme), que consiste no conhecimento racional das essências, das idéias imutáveis, objetivas e universais. As ciências como a matemática, a geometria, a astronomia são passos necessários a serem percorridos pelo pensador, até atingir as culminâncias da reflexão filosófica.

Aristóteles atenua o idealismo platônico, e seu olhar é sem duvida mais realista, não desvalorizando tanto os sentidos. Filho de médico herdou o gosto pela observação e deu grande contribuição a biologia, mas, como todo grego, Aristóteles também procura apenas conhecer, estando suas reflexões desligadas da técnica e das preocupações utilitárias. Além disso, persiste a concepção estática do mundo, pela quais os gregos costumam associar a perfeição ao repouso, a ausência de movimento.

Embora Aristarco de Samos tenha proposto um modelo heliocêntrico, a tradição que recebemos dos gregos a partir de Eudoxo, confirmada por Aristóteles e mais tarde por Ptolomeu, baseia-se no modelo geocêntrico: a Terra se acha imóvel no centro do universo e em torno dela giram as esferas onde estão cravadas a Lua, os cinco planetas e o Sol.

Nesse sentido, para Aristóteles, a física é a parte da filosofia que busca compreender a essência das coisas naturais constituídas pelos quatros elementos e que se encontra em constante movimento retilíneo em direção ao centro da Terra ou em sentido contrário a ele. Isso porque os corpos pesados como a terra e a água tendem para baixo, pois este é o seu lugar natural. Já os corpos leves como o ar e o fogo tendem para cima. O movimento então compreendido como a transição do corpo que busca o estado de repouso, no seu lugar natural. A física aristotélica parte, portanto, das definições das essências e da análise das qualidades intrínsecas dos corpos.

A partir deste breve esboço, podemos conferir a ciência grega as seguintes características:

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1) Encontra-se ligada à filosofia, cujo método orienta o tipo de abordagem dos problemas;

2) é qualitativa, porque a argumentação se baseia na análise das propriedades intrínsecas dos corpos;

3) não é experimental, e se acha desligada da técnica;

4) é contemplativa, porque busca o saber pelo saber, e não a aplicação prática do conhecimento;

5) baseia-se em uma concepção estática do mundo.

A Idade Média, período compreendido do século V até o século XV, recebe a herança grego-latina e mantém a mesma concepção de ciência. Apesar das diferenças evidentes, é possível compreender essa continuidade, devido ao fato de o sistema de servidão também se caracterizar pelo desprezo a técnica e a qualquer atividade manual.

Fora algumas exceções – como as experimentações de Roger Bacon e a fecunda contribuição dos árabes -, a ciência herdada da tradição grega se vincula aos interesses religiosos e se subordina aos critérios da revelação, pois, na Idade média, a razão humana devia se submeter ao testemunho da fé.

A partir do século XIV, a Escolástica – principal escola filosófica e teológica medieval – entra em decadência. Esse período foi muito prejudicial ao desenvolvimento da ciência porque novas idéias fermentavam nas cidades, mas os guardiões da velha ordem resistiam às mudanças de forma dogmática. Esterilizados pelo princípio da autoridade, aferravam-se às verdades dos velhos livros, fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou Ptolomeu.

Tais resistências não se restringiam apenas ao campo intelectual, mas resultavam muitas vezes em processos e perseguições. O Santo oficio, ou Inquisição, ao controlar toda produção, fazia a censura prévia das idéias que podiam ser divulgadas ou não. Giordano Bruno foi queimado vivo no século XVI porque sua teoria do cosmos infinito era considerada panteísta, uma vez que a infinitude era atributo exclusivo de Deus.

O método científico, como nós o conhecemos hoje, surge na Idade Moderna, no século XVII. O Renascimento Científico não constituiu uma simples evolução do pensamento científico, mas verdadeira ruptura que supõe nova concepção de saber.

É preciso examinar o contexto histórico onde ocorreram transformações tão radicais, a fim de perceber que elas não se desligam de outros acontecimentos igualmente marcantes: emergência da nova classe dos burgueses, desenvolvimento da economia capitalista, revolução comercial, renascimento das artes, as letras e da filosofia. Tudo isso indica o surgimento de um novo homem, confiante na razão e no poder de transformar o mundo.

Os novos tempos foram marcados pelo racionalismo, que se caracterizou pela valorização da razão enquanto instrumento de conhecimento que dispensa o critério da autoridade e da revelação. Chamamos de secularização ou laicizarão do pensamento a

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preocupação em se desligar das justificativas feitas pela religião, que exigem adesão pela crença, para só aceitar as verdades resultantes da investigação da razão mediante demonstração. Daí a intensa preocupação com o método, ponto de partida para a reflexão de inúmeros pensadores do século XVII: Descartes, Spinoza, Francis Bacon, Galileu, entre outros.

Outra característica dos novos tempos é o saber ativo, em oposição ao saber contemplativo. Não só o saber visa à transformação da realidade, como também passa ele próprio a ser adquirido pela experiência, devido à aliança entre a ciência e a técnica.

Uma explicação possível para justificar a mudança é que a classe comerciante, constituída pelos burgueses, se impôs pela valorização do trabalho, em oposição ao ócio da aristocracia. Além disso, os inventos e descobertas tornam-se necessários para o desenvolvimento da indústria e do comércio.

O novo método científico mostrou-se fecundo, não cessando de ampliar sua aplicação. Os resultados obtidos por Galileu na física e na astronomia, bem como as leis de Kepler e as conclusões de Tycho-Brahe, possibilitaram a Newton a elaboração da teoria da gravitação universal. Ao longo desse processo surgem as academias científicas onde os cientistas se associam para troca de experiências e publicações.

Aos poucos o novo método é adaptado a outros campos de pesquisa, fazendo surgir diversas ciências particulares. No século XVIII Lavoisier torna a química uma ciência de medidas precisas; o século XIX foi o do desenvolvimento das ciências biológicas e da medicina, destacando-se o trabalho de Claude Bernard com a fisiologia e o de Darwin com a teoria da evolução das espécies.

O método científico inicialmente ocorre do seguinte modo: há um problema que desafia a inteligência; o cientista elabora uma hipótese estabelece as condições para seu controle, a fim de confirmá-la ou não. A conclusão é então generalizada, ou seja, considerada válida não só para aquela situação, mas para outras similares. Além disso, quase nunca se trata de um trabalho solitário do cientista, pois, hoje em dia, cada vez mais as pesquisas são objeto de atenção de grupos especializados ligados, às universidades, as empresas ou ao Estado. De qualquer forma, a objetividade da ciência resulta do julgamento feito pelos membros da comunidade científica que avaliam criticamente os procedimentos utilizados e as conclusões, divulgadas em revistas especializadas e congressos.

Assim, dentro da visão do senso comum (isto é, um vasto conjunto de concepções geralmente aceita como verdadeiras num determinado meio social. Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas dessas noções escondem idéias falsas, parciais ou preconceituosas. É uma falta de fundamentação, tratando-se de um conhecimento adquirido sem base crítica, precisa, coerente e sistemática), a ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever os acontecimentos e, conseqüentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo. Entretanto, apesar do rigor do método, não é conveniente pensar que a ciência é um conhecimento certo e definitivo, pois ela avança em contínuo processo de investigação que supõe alterações à medida que surgem fatos novos, ou quando são inventados novos instrumentos. Por exemplo, nos

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séculos XVIII e XIX, as leis de Newton foram reformuladas por diversos matemáticos que desenvolveram técnicas para aplicá-las de maneira mais precisa. No século XX, a teoria da relatividade de Einstein desmentiu a concepção clássica que a luz se propaga em linha reta. Isso serve para mostrar o caráter provisório do conhecimento científico sem, no entanto, desmerecer a seriedade e o rigor do método e dos resultados. Ou seja, as leis e as teorias continuam sendo de fato hipóteses com diversos graus de confirmação e verifica a habilidade, podendo ser aperfeiçoadas ou superadas.

A partir da explanação feita acima será que podemos afirmar que existe um método universal? Será que os métodos universais devem ser considerados válidos para situações diversas? E tendo situações diferentes podemos qualificá-las como universais? Como descrever relações universais através de métodos “individuais”? Será que esse tipo de método é realmente válido universalmente? Será que podemos nomear o método como sendo universal?

Segundo Alan Chalmers, em sua obra A Fabricação da ciência, “a generalidade e o grau de aplicabilidade de leis e teorias estão sujeitos a um constante aperfeiçoamento”. A partir dessa afirmação podemos concluir que o método universal, na realidade, não é tão genérico assim, ou melhor, não é tão absoluto, pois está sujeito a uma substituição constante. Para Chalmers não existe nenhum método universal ou conjunto de padrão universal, entretanto, permanecem modelos a - históricos ocasionais subentendidos nas atividades bem-sucedidas, porém, isso não significa que vale tudo na área epistemológica.

A questão da substituição constante das teorias ficou bem explícita na sucinta explanação da história da ciência realizada anteriormente, onde tivemos a clara mudança de uma teoria, método ou hipótese por outra mais coerente dentro de sua época histórica e/ou científica.

Diante disso tudo que foi visto, do conhecimento científico e senso comum, podemos, pelo menos, fundamentar que aciência tem por objetivo estabelecer generalizações aplicáveis ao mundo, poisdesde a época da revolução estamos em posição de saber que essas generalizaçõescientíficas não podem ser estabelecidas a priori; temos que aceitar que aexigência de certeza é mera utopia. Entretanto, a exigência de que nossoconhecimento esteja sempre sendo transformado, aperfeiçoado e ampliado é purarealidade.

► Teoria do Conhecimento

A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe um sentido e descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem, que tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião, quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência. E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que hoje lhe damos. É também sobretudo a partir desta época que as

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implicações da atividade científica na nossa vida quotidiana se têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes. O que é o conhecimento científico, como se adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe entre o conhecimento científico e o mundo real, quais as conseqüências práticas e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos deparamos frequentemente. Diante desses questionamentos, este trabalho pretende fazer um apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, suas correntes e representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.

Conceito

A teoria do conhecimento, se interessa pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio cético? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna – é que ela tem ocupado um plano central na filosofia. Basicamente é conceituada como o estudo de assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam explica-las: I - O conhecimento como problema, II - Origem do Conhecimento e III - Essência do Conhecimento e IV - Possibilidade do Conhecimento.

Principais correntes e seus representantes

A) O Conhecimento Quanto à Origem

A polêmica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais persistentes ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje em diversas posições de epistemólogos ou filósofos da ciência. Abundam, ao longo da linha constituída nos seus extremos pelo racionalismo e pelo empirismo radicais, as posições intermédias, as tentativas de conciliação e de superação, como veremos a seguir.

• Empirismo

“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).

Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do conhecimento.

Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes. Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a essência do empirismo e a qual, todos os autores

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conservam, que é a tese de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na experiência e só é válido quando verificado por fatos metodicamente observados, ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora, sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.

Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a científica.

O empirismo integral reduz todos os conhecimentos – inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de contato direto e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos os conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo exceção as verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados da experiência. Ele apresenta a indução como único método científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas matemáticos.

O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser não-empiricamente valido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações são ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as idéias são elaborações de elementos que os sentidos recebem em contato com a realidade.

Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente validas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos matemáticos.

Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o conhecimento oriundo da experiência ou verificado experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas no domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade cientifica”.

• Racionalismo

É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”.

Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried Leibniz, afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, que nem todas as verdades são verdades de fato; ao lado delas, existem as verdades de razão, que são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (como por exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de fato são contingentes e particulares, implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas dentro de limites determinados.

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Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios evidentes, idéias natas, que servem de fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou seja, para ele, o racionalismo se preocupa com a idéia fundante que a razão por si mesma logra atingir.

Esses dois pensadores podem ser classificados como representantes do racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura explicação da realidade.

Existe também uma outra linha racionalista, originada de Aristóteles, denominada intelectualismo, que reconhece a existência de “verdades de razão” e, além disso, atribui à inteligência função positiva no ato de conhecer, ou seja, a razão não contém em si mesma, verdades universais como idéias natas, mas as atinge à vista dos fatos particulares que o intelecto coordena. Concluindo: o intelecto extrai os conceitos ínsitos no real, operando sobre as imagens que o real oferece.

Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há nele uma concepção metafísica da realidade como condição de sua gnoseologia, que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no particularismo contingente de seus elementos, as verdades universais que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.

Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que alguns autores consideram autônoma, que é o Criticismo.

O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento.

Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire validade universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.

Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida do humano.

Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico.

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B) O Conhecimento Quanto à Essência

Nessa parte do estudo, analisaremos o ponto da Teoria do Conhecimento em que há mais divergências, sendo estas fundamentais pra o pleno conhecimento do assunto, que é o realismo e o idealismo.

• Realismo

Sabendo que a palavra realismo vem do latim res (coisa), podemos conceituar essa corrente como a orientação ou atitude espiritual que implica uma preeminência do objeto, dada a sua afirmação fundamental de que nós conhecemos coisas. Em outras palavras, é a independência ontológica da realidade, ou seja, o sujeito em função do objeto.

O realismo é subdividido em três espécies. O realismo ingênuo, o tradicional e o crítico.

O realismo ingênuo, também conhecido como pré-filosófico, é aquele em que o homem aceita a identidade de seu conhecimento com as coisas que sua mente menciona, sem formular qualquer questionamento a respeito de tal coisa. É a atitude do homem comum, que conhece as coisas e as concebem tais e quais aparecem.

Já o realismo tradicional é aquele em que há uma indagação a respeito dos fundamentos, há uma procura em demonstrar se as teses são verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente filosófica, seguindo a linha aristotélica.

Por último, podemos citar o realismo cientifico, que é a linha do realismo que acentua a verificação de seus pressupostos concluindo pela funcionalidade sujeito-objeto e distinguindo as camadas conhecíveis do real como a participação - não apenas criadora -  do espírito no processo gnosiológico. Para os seguidores desse pensamento, conhecer é sempre conhecer algo posto fora de nós, mas que, se há conhecimento de algo, não nos é possível verificar se o objeto - que nossa subjetividade compreende - corresponde ou não ao objeto tal qual é em si mesmo.

Há portanto, no realismo, uma tese ou doutrina fundamental de que existe uma correlação ou uma adequação da inteligência a “algo” como objeto do conhecimento, de maneira que nós conhecemos quando a nossa sensibilidade e inteligência se conformam a algo de exterior a nós. De acordo com o modo de compreender-se essa “referibilidade a algo”, bifurca-se o realismo em tradicional e o crítico, que são as duas linhas pertinentes à filosofia.

• Idealismo

Surgiu na Grécia Antiga com Platão, denominado de idealismo transcendente, onde as idéias ou arquétipos ideais representam a realidade verdadeira, da qual seriam as realidades sensíveis, meras copias imperfeitas, sem validade em si mesmas, mas sim enquanto participam do ser essencial. O idealismo de Platão reduz o real ao ideal,

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resolvendo o ser em idéia, pois como ele já dizia, as idéias são o sol que ilumina e torna visíveis as coisas.

Alguns autores entendem que a doutrina platônica poderia ser vista como uma forma de realismo, pois para eles, o idealismo “verdadeiro” é aquele desenvolvido a partir de Descartes.

O que interessa à Teoria do Conhecimento, é o idealismo imanentista, que afirma que as coisas não existem por si mesmas, mas na medida e enquanto são representadas ou pensadas, de maneira que só se conhece aquilo que se insere no domínio de nosso espírito e não as coisas como tais, ou seja, há uma tendência a subordinar tudo à formas espirituais ou esquemas. No idealismo, que é a compreensão do real como idealidade (o que equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um objeto com os elementos de sua subjetividade, sem que algo preexista ao objeto (no sentindo gnosiológico).

Sintetizando, o idealismo é a doutrina ou corrente de pensamento que subordina ou reduz o conhecimento à representação ou ao processo do pensamento mesmo, por entender que a verdade das coisas está menos nelas do que em nós, em nossa consciência ou em nossa mente, no fato de serem “percebidas” ou “pensadas”.

Dentro dessa concepção existem duas orientações idealistas. Uma é a do idealismo psicológico ou conscienciológico, onde o que se conhece não são as coisas e sim a imagem delas. Podemos conceituá-lo como aquele em que a realidade é cognoscível se e enquanto se projeta no plano da consciência, revelando-se como momento ou conteúdo de nossa vida interior. Também chamado de idealismo subjetivo, este diz que o homem não conhece as coisas, e sim a representação que a nossa consciência forma em razão delas. Seus representantes são Hume, Locke e Berkeley.

A outra é a orientação idealista de natureza lógica, que parte da afirmação de que só conhecemos o que se converte em pensamento, ou é conteúdo de pensamento. Ou seja, o ser não é outra coisa senão idéia.

Seu maior representante, Hegel, diz em uma de suas obras que nós só conhecemos aquilo que elevamos ao plano do pensamento, de maneira que só há realidade como realidade espiritual.

Resumindo: na atitude psicológica, ser é ser percebido e na atitude lógica, ser é ser pensado.

C) Possibilidade do Conhecimento

Essa parte da teoria do conhecimento é responsável por solucionar a seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?

Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem a duas importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos abaixo.

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• Dogmatismo

É a corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à conduta, transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites impostos a priori à razão.

Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial.

O primeiro é aquele em que a afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade ultima é feita tanto no plano da especulação, quanto no da vida pratica ou da Ética. Esse dogmatismo intransigente, quase não é adotado, devido à rigorosidade de adequação do pensamento. Porém, encontramos em Hegel a expressão máxima desse tipo de dogmatismo, pois, existe em suas obras uma identificação absoluta entre pensamento e realidade. Como o próprio autor diz “o pensamento, na medida em que é, é a coisa em si, e a coisa em si, na medida em que é, é o pensamento puro”.

Já o parcial, adotado em maior extensão, tem um sentido mais atenuado, na intenção de afirmar-se a possibilidade de se atingir o absoluto em dadas circunstâncias e modos quando não sob certo prisma. Ou seja, é a crença no poder da razão ou da intuição como instrumentos de acesso ao real em si.

Alguns dogmáticos parciais se julgam aptos para afirmar a verdade absoluta no plano da ação. Entretanto, outros somente admitem tais verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.

O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que duvidavam da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir, estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.

Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico, Blaise Pascal, que não duvidava de seus cálculos matemáticos e da exatidão das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por duvidas no plano do agir ou da conduta humana.

• Ceticismo

Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo, mesmo quando são enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação à luz de sucessivos testes.

Ou seja, o ceticismo se distingue das outras correntes por causa de sua posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas.

Há no ceticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção entre absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido nesse trabalho.

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O ceticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a impossibilidade de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto as verdades metafísicas (da realidade em si mesma), quanto as relativas ao fundo dos fenômenos. Segundo essa corrente, o homem não pode pretender nenhum conhecimento por não haver adequação possível entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. Ou seja, para os céticos absolutos, não há outra solução para o homem senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal de todas as respostas.

Um dos representantes do ceticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.

Conclusão

Esse trabalho buscou de forma concisa reunir informações gerais acerca da Teoria do Conhecimento, baseando-se na visão de Miguel Reale, reunindo conceitos e origem de algumas correntes, seus objetivos e representantes.

BIBLIOGRAFIA

Reale, Miguel, Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 65-76;85-89; 119-123.

► Conhecimento empírico, científico, filosófico e teológico

A realidade é tão complexa que o homem, para apropriar-se dela, teve de aceitar diferentes tipos de conhecimento.

Desde a Antiguidade, até os dias de hoje, um lavrador, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, tipo de solo adequado para diferentes culturas. Todos são exemplos do conhecimento que é acumulado pelo homem, na sua interação com a natureza.

O Conhecimento faz do ser humano um ser diverso dos demais, na medida em que lhe possibilita fugir da submissão à natureza. A ação dos animais na natureza é biologicamente determinada, por mais sofisticadas que possam ser, por exemplo, a casa do joão-de-barro ou a organização de uma colméia, isso leva em conta apenas a sobrevivência da espécie.

O homem atua na natureza não somente em relação às necessidades de sobrevivência, (ou apenas de forma biologicamente determinada) mas se dá principalmente pela incorporação de experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração, através da educação e da cultura, isso permite que a nova geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu. Ao atuar o homem imprime sua marca na natureza, torna-a humanizada. E à medida que a domina e transforma, também amplia ou desenvolve suas próprias necessidades. Um dos melhores exemplos desta atuação são as cidades.

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O Conhecimento só é perceptível através da existência de três elementos: o sujeito cognoscente (que conhece) o objeto (conhecido) e a imagem. O sujeito é quem irá deter o conhecimento o objeto é aquilo que será conhecido, e a imagem é a interpretação do objeto pelo sujeito. Neste momento, o sujeito apropria-se, de certo modo do objeto. “O conhecimento apresenta-se como uma transferência das propriedades do objeto para o sujeito”. (Ruiz, João. Metodologia científica).

O conhecimento leva o homem a apropriar-se da realidade e, ao mesmo tempo a penetrar nela, essa posse confere-nos a grande vantagem de nos tornar mais aptos para a ação consciente. A ignorância tolhe as possibilidades de avanço para melhor, mantém-nos prisioneiros das circunstâncias. O conhecimento tem o poder de transformar a opacidade da realidade em caminho iluminada, de tal forma que nos permite agir com certeza, segurança e precisão, com menos riscos e menos perigos.

Mas a realidade não se deixa revelar facilmente. Ela é constituída de numerosos níveis e estruturas, de um mesmo objeto podemos obter conhecimento da realidade em diversos níveis distintos. Utilizando-se do exemplo de Cervo & Bervian no livro Metodologia Científica, “com relação ao homem”, pode-se considerá-lo em seu aspecto eterno e aparente e dizer uma série de coisas que o bom senso dita ou a experiência cotidiana ensinou; pode-se, também, estudá-lo com espírito mais sério, investigando experimentalmente as relações existentes entre certos órgãos e suas funções; pode-se, ainda, questioná-lo quanto à sua origem, sua realidade e destino e, finalmente, investigar o que dele foi dito por Deus através dos profetas e de seu Enviado Jesus Cristo.

Em outras palavras, a realidade é tão complexa que o homem, para apropriar-se dela, teve de aceitar diferentes tipos de conhecimento.

Tem-se, então, conforme o caso citado:

Conhecimento Empírico. Conhecimento Científico. Conhecimento Filosófico. Conhecimento Teológico.

Conhecimento Empírico

Popular ou vulgar é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos, as informações são assimiladas por tradição, experiências causais, ingênuas, é caracterizado pela aceitação passiva, sendo mais sujeito ao erro nas deduções e prognósticos. “é o saber que preenche nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado, sem aplicação de método e sem se haver refletido sobre algo”(Babini, 1957:21).O homem, ciente de suas ações e do seu contexto, apropria-se de experiências próprias e alheias acumuladas no decorrer do tempo, obtendo conclusões sobre a “ razão de ser das coisas”. É, portanto superficial, sensitivo, subjetivo, Assis temático e acrítico.

Conhecimento Científico

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O conhecimento científico vai além da visão empírica, preocupa-se não só com os efeitos, mas principalmente com as causas e leis que o motivaram, esta nova percepção do conhecimento se deu de forma lenta e gradual, evoluindo de um conceito que era entendido como um sistema de proposições rigorosamente demonstradas e imutáveis, para um processo contínuo de construção, onde não existe o pronto e o definitivo, “é uma busca constante de explicações e soluções e a reavaliação de seus resultados”. Este conceito ganhou força a partir do século XVI com Copérnico, Bacon, Galileu, Descartes e outros.

No seu conceito teórico, é tratado como um saber ordenado e lógico que possibilita a formação de idéias, num processo complexo de pesquisa, análise e síntese, de maneira que as afirmações que não podem ser comprovadas são descartadas do âmbito da ciência. Este conhecimento é privilégio de especialistas das diversas áreas das ciências.

Conhecimento Filosófico

É o conhecimento que se baseia no filosofar, na interrogação como instrumento para decifrar elementos imperceptíveis aos sentidos, é uma busca partindo do material para o universal, exige um método racional, diferente do método experimental (científico), levando em conta os diferentes objetos de estudo.

Emergente da experiência, “suas hipóteses assim como seus postulados, não poderão ser submetidos ao decisivo teste da observação”. O objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos), como a que é exigida pelo conhecimento científico. Hoje, os filósofos, além das questões metafísicas tradicionais, formulam novas questões: A maquina substituirá quase totalmente o homem? A clonagem humana será uma prática aceita universalmente? O conhecimento tecnológico é um benefício para o homem? Quando chegará a vez do combate à fome e à miséria? Etc.

Conhecimento Teológico

Conhecimento adquirido a partir da aceitação de axiomas da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por meio de indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que permeiam a mente humana, “pode ser dados da vida futura, da natureza e da existência do absoluto”.

“A incumbência do Teólogo é provar a existência de Deus e que os textos Bíblicos foram escritos mediante inspiração Divina, devendo por isso ser realmente aceitos como verdades absolutas e incontestáveis.” Hoje diferentemente do passado histórico, a ciência não se permite ser subjugada a influências de doutrinas da fé: e quem está procurando rever seus dogmas e reformulá-los para não se opor a mentalidade científica do homem contemporâneo é a Teologia”. (João Ruiz) Isso, porém é discutível, pois não há nada mais perfeito que a harmonia e o equilíbrio do UNIVERSO, que de qualquer modo está no conhecimento da humanidade, embora esta não tenham mãos que possa apalpá-lo ou olhos que possam divisar seu horizonte infinito... A fé não é cega baseia-se em experiências espirituais, históricas, arqueológicas e coletivas que lhes dá

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sustentação. O conhecimento pode Ter função de libertação ou de opressão. O conhecimento pode ser libertador não só de indivíduos como de grupos humanos. Nos dias atuais, a detenção do conhecimento é um tipo de poder disputado entre as nações. Contudo o conhecimento pode ser usado como mecanismo de opressão. Quantas pessoas e nações se utilizam do conhecimento que detêm para oprimir?

Para discutir estas questões recém citadas, vê-se a necessidade de instituirmos um novo paradigma para discussão do conhecimento, o conhecimento moderno, entende-se por conhecimento moderno, a discussão em torno do conhecimento. É a capacidade de questionar, avaliar parâmetros de toda a história e reconstruir, inovar e intervir. É válido, que além de discutir os paradigmas do conhecimento, é necessário avaliar o problema específico do questionamento científico, fonte imorredoura da inovação, tornada hoje obsessiva. No entanto, a competência inovadora sem precedentes, pode estar muito mais a serviço da exclusão, do que da cidadania solidária e da emancipação humana. O fato de o mercado neo-liberal estar se dando muito bem com o conhecimento, tem afastado a escola e a universidade das coisas concretas da vida.

O questionamento sempre foi à alavanca crucial do conhecimento, sendo que para mudar alguma coisa é imprescindível desfazê-la em parte ou, com parâmetros, desfazê-la totalmente. A lógica do questionar leva a uma coerência temerária de a tudo desfazer para inovar. Como exemplo a informática, onde cada computador novo é feito para ser jogado fora, literalmente morre de véspera e não sendo possível imaginar um computador final, eterno. E é neste foco que se nos apegarmos á instagnação, também iremos para o lixo. Podemos então afirmar a reconstrução provisória dentro do ponto de vista desconstrutivo, pois tudo que existe hoje será objeto de questionamento, e quem sabe mudanças. O questionamento é assim passível de ser questionado, quando cria um ambiente desfavorável ao homem e à natureza.

É importante conciliarmos o conhecimento com outras virtudes essenciais para o saber humano, como a sensibilidade popular, bom senso, sabedoria, experiência de vida, ética etc. Conhecer é comunicar-se, interagir com diferentes perspectivas e modos de compreensão, inovando e modificando a realidade.

A relação entre conhecimento e democracia, modernamente, caracteriza-se como uma relação intrínseca, o poder do conhecimento se impõe através de varias formas de dominação: econômica, política, social etc. A diferença entre pobres e ricos, é determinada pelo fato de se deter ou não conhecimento, já que o acesso à renda define as chances das pessoas e sociedades, cada vez mais, estas chances serão definidas pelo acesso ao conhecimento. Convencionou-se que em liderança política é indispensável nível superior. E no topo da pirâmide social encontramos o conhecimento como o fator diferencial.

É inimaginável o progresso técnico que o conhecimento pode nos proporcionar, como é facilmente imaginável o risco da destruição total. Para equalizar esta distorção, o preço maior é a dificuldade de arrumar a felicidade que, parceira da sabedoria e do bom senso é muitas vezes desestabilizada pela soberba do conhecimento.

De forma geral podemos dizer que o conhecimento é o distintivo principal do ser humano, são virtude e método central de análise e intervenção da realidade. Também é ideologia com base científica a serviço da elite e/ ou da corporação dos cientistas,

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quando isenta de valores. E finalmente pode ser a perversidade do ser humano, quando é feito e usado para fins de destruição.

► Crenças e Idéias Religiosas

Introdução

A religião sempre foi e ainda é o palco para as grande discussões de muitas pessoas. A maior polêmica, se prende ao surgimento da origem do homem como um ser.

Existem vários autores de livros que analisam esta questão em destaque. Aqui analisaremos dois autores, Mircea Eliade e Eduard Mac Burns, a título de nota para a disciplina História Antiga em pós-graduação.

O inesquecível milagre:” Primeira vez”

Egito, uma terra abundante em lendas  e mitos na qual os historiadores se maravilham . A arte de construir, o surgimento da escrita que urge no começo da primeira dinastia . A geografia da região impunha um desenvolvimento peculiar às culturas sumério-acadianas.

Mas foram a religião , e sobretudo o dogma da divindade do Faraó, eu contribuíram, desde o início, para modelar a estrutura   da civilização egípcia.

A tendência designada pelos eruditos europeus como “imobilismo” esforçava-se por manter intacta a primeira criação, pois era perfeita sob os pontos de vista - cosmológico, religioso social, ético. As fases sucessivas da cosmologia são evocadas nas diferentes tradições mitológicas.

Os mitos tiveram de buscar no fabulosos tempo das origens, época denominada Tep Zepi, “A Primeira Vez”, durou desde o aparecimento do deus criador sobre as Águas Primordiais até a entronização de Horus.

A ”Primeira Vez” constitui a Idade de Ouro da perfeição absoluta, “antes que a raiva, ou o barulho, a luta ou a desordem fizessem o seu aparecimento”. Não havia nem morte, nem doença durante essa era maravilhosa denominada “o tempo de Ré”, ou de Osíris, ou de Horus.

Teogonias e Cosmogonias

Como em todas as religiões tradicionais, a cosmogonia e os mitos das origens constituíram o essencial da ciência sagrada. Existiram vários mitos cosmogânicos, onde  os temas alinhavam-se entre os mais arcaicos: emergência de outeiro, de um lótus ou de um ovo sobre as Águas Primordiais.

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A cosmogonia egípcia começa com a emergência de uma colina nas Águas Primordiais. O aparecimento desse “Primeiro lugar” sobre a imensidão aquática significa a emergência da terra, e também da luz, da vida ,  e da consciência.

Cada cidade e cada santuário eram considerados um “Centro do Mundo”, o lugar onde havia começado a criação.

O outeiro inicial- Montanha Cósmica, Ovo Primordial- “Pássaro de Luz”, Lótus original - Sol criança, e finalmente a serpente primitiva - imagem do deus Atum. Ingenuamente as divindades nascem da própria substância do deus supremo.

Em suma, a teologia e a cosmogonia são efetuadas através do poder do criador do pensamento e da palavra de um único deus.

As Responsabilidades de um deus-encarnado

As mudanças do mundo implicadas nos ritmos da vida cósmicas possuem significação. Os momentos sucessivos articulados em diferentes ciclos e que lhes garantem a periodicidade: os movimentos dos astros, as fases da lua, o fluxo e o refluxo do Nilo, etc...

Essa periodicidade dos ritmos cósmicos que constituem a perfeição instituída nos tempos da “Primeira Vez”.

Se existe ordem cósmicas, julga-se que a realeza existe desde o começo do mundo. O Criador foi o primeiro Rei, ele transmite essa função ao seu filho e sucessor, o primeiro Faraó.

O Faraó é a encarnação da maät, termo que traduz por “verdade”, mas cuja significação geral é a “boa ordem” e, consequentemente, “o direito “, “a justiça”.  A ma”at pertence à Criação original; ela reflete a perfeição da idade de ouro. O Faraó constitui o modelo exemplar para todos os seus súditos.

Ascensão do Faraó ao Céu

As antigas crenças post-mortem assemelhavam-se ás duas tradições mais amplamente atestadas no mundo: a morada dos mortos era ou subterrânea ou celeste, mais exatamente estelar. A morte eqüivalia a um novo nascimento, a um renascimento no mundo sideral.

Imaginava-se as mais variadas formas da ascensão do Faraó, onde deveria passar por certas provas. Se acaso cumprisse com todas as purificações rituais e interrogatórios, o Faraó seria triunfalmente recebido pelo deus-sol, e mensageiros são enviados para anunciar sua vitória sobre a morte.

Osíris, o deus assassinado

Osíris, um Rei lendário, célebre pelo vigor e justiça com que governava o Egito. Mas seu irmão Seth preparou-lhe uma armadilha e conseguiu assassiná-lo. Íris, sua esposa,

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consegue ser fecundada por Osíris morto. Dá a luz a um filho, Horus. Este pede que seus direitos sejam reconhecidos perante os deuses da Enéade. Na luta com Seth, Horus triunfa. Desce ao país dos mortos e dá a boa notícia: reconhecido como sucessor legítimo do pai, é coroado Rei. Horus ressuscita Osíris. É ele quem vai assegurar a fertilidade vegetal e todas as forças de reprodução. É descrito como sendo a Terra inteira ou comparado ao Oceano que circunda o mundo. Osíris simbolizava as fontes de fecundidade e do crescimento. Osíris, o Rei assassinado, garante a prosperidade do reino regido por seu filho Horus.

A síncope: anarquia, desespero e “democratização” da vida de além-túmulo.

Na Dinastia de Pepi II, o Egito foi sacudido pela guerra civil, a anarquia assolou o país. O país foi dividido em dois reinos, o do Norte capital Heracleópolis, e o do Sul capital Tebas. A guerra civil terminar com a vitória dos tebanos e os últimos reis da XI Dinastia conseguiram reunificar o país.

Foi durante o Período Intermediário que se produziu a “democratização” da existência post mortem: os nobres recopiavam sobre os seus sarcófagos os Textos das Pirâmides, redigidos exclusivamente para os Faraós. Os textos mais importantes : Intruções para o Rei Meri-Ka-ré. As Advertências do Profeta Ipu-wer; O Canto do Harpista; A Disputa entre um Homem Cansado e a sua Alma. Os seus autores evocam os desastres provocados pelos desmoronamento da autoridade tradicional, e sobre tudo as injustiças e os crimes que induzem ao cepticismo e ao desespero, ou até ao suicídio.

A ruína de todas as instituições tradicionais traduz ao mesmo tempo pelo agnosticismo e pelo pessimismo, e por uma exaltação do prazer que não chega a esconder o profundo desespero. A sincope da Realeza-divina leva fatalmente à  desvalorização religiosa da morte. Se o Faraó não se comporta mais como um deus-encarnado, tudo volta a ser questionado; em primeiro lugar, a significação da vida e a realidade da pós-existência de além-túmulo.

Teologia e Política da ”Solarização”.

O Egito conheceu uma época de expansão econômica, com os soberanos da XII Dinastia.

Amon alcançou a categoria suprema, sob o título de Amon-Ré. O deus “oculto” foi identificado ao sol, deus “manifesto” por excelência. E graças a “solarização” que Amon se torna o deus universal do Novo Império.

Esse Império sofre uma segunda crise. Um grande numero de soberanos sucede-se rapidamente até a invasão dos hicsos. Depois das vitórias, os conquistadores instalam-se no Delta. Os hicsos importaram alguns deuses sírios como Baal e Teshup.

Para os Egípcios, a invasão dos hicsos representava uma catástrofe de se compreender. Mas um século depois um Faraó da XVII Dinastia deflagrou a guerra de libertação.

A libertação traduziu-se pela ascensão do nacionalismo e da Xenofobia. Depois de um século o sentimento de insegurança começa a desaparecer. Tutmósis III procedeu uma série de conquistas que redundaram no Império, e que mostrou-se generoso com os

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vencidos. Era o fim do isolacionismo egípcio, mas também o declínio da cultura egípcia. O Egito volta-se para uma cultura cosmopolita. Numerosas divindades estrangeiras eram não só tolerados, mas assimilados às divindades nacionais.

A Solarização de Amos facilitara ao mesmo tempo o sincretismo religioso e a restauração do deus solar na primeira categoria, pois o sol era o único deus universalmente acessível.

Akhenaton ou Reforma Fracassada

A “Revolução de Amarna”, a promoção de Aton, explica-se em parte pela vontade do Faraó Amenhotep IV de libertar-se do domínio do sumo sacerdote. O Faraó trocou o seu nome para Akh-en-Aton(“Aquele que serve Aton”).Abandonou a “cidade de Amon” e constituiu uma outra Akhetaton onde ergueu os palácios e os templos de Aton. Os templos não eram cobertos e podia-se adorar o sol em toda a sua glória. Nas artes estimulou o “naturalismo” de Amarna; a linguagem popular foi introduzida nas inscrições reais e nos decretos oficiais.

O essencial da teologia de Akhenaton encontra-se em hinos endereçados a Aton.

Durante o reinado de Akhenaton, o Egito perdeu o império asiático. O seu sucessor, Tut-Ankh-Amon, restabeleceu as relações com o sumo sacerdote de Amon e retornou a Tebas.

Os traços da “reforma atonista” foram apagados em quase-totalidade. Pouco depois, morria o último Faraó da longa e gloriosa XVIII Dinastia.

Síntese final: a associação Ré-Osíris

Os teólogos do novo Império insistem na complementaridade dos deuses opostos, ou até antagônicos.

Osíris é penetrado na alma de Ré . A identificação entre os dois deuses efetua-se na pessoa do Faraó morto: após o processo de osirificação, o rei ressuscita como jovem Ré.

Numerosas alusões mitológicas enfatizam o duplo aspecto de Ré-solar e osiriano. Ao descer no mundo do Além, o rei torna-se o equivalente do binômio Osíris-Ré.

CONCLUSÃO

A civilização egípcia com seus mitos e lendas influenciaram toda uma geração de pesquisadores. Os historiadores procuram respostas à muitas perguntas nos registros desta civilização . É difícil fazer uma análise ou uma comparação no que se refere as idéias de religião e política do Egito. Pois, o que se tem são os registros nas pirâmides, em hieróglifos, mais sobre a vida dos Faraós e muito pouco sobre o povo que o servia.

Percebe-se neste texto muitas semelhanças dos mitos e lendas com narrações do livro da Sagrada Escrituras.

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ANÁLISE

Analisando os dois textos referente a religião foi muito importante para o Egito. “Deixando sua marca em  quase todos os setores da vida egípcia “:arte, literatura, filosofia, etc.

A figura do “Faraó era o representante vivo da fé na terra e, através de sua lei, mantinha-se a lei do deus”. E que a “mumificação do corpo do Faraó e sua conservação num túmulo eterno contribuíra para a existência eterna da nação”.

De inocente , a religião passou, a perversa. Pois o homem a tornou assim. Através de um pensamento imposto no qual Deus castiga se você não fazer isso ou aquilo. Passou a comercializar as “fórmulas e feitiços que abafariam a consciência e enganariam os deuses, levando-os a conceder a salvação eterna”. E como ”a  filosofia, a arte  e o governo estavam tão nitidamente ligados à religião, que todos eles socobiaram ao mesmo tempo”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1  ELIADE, Mircea. História das Crenças e das Idéias Religiosas. 2º ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. Tomo I vol. I 284 p.

2  BURNS, Eduard Mac Nall. História da Civilização Ocidental. 21º ed. Editora Globo, Porto Alegre: 1977. Vol.

► Dogmatismo

Posição assumida por vários filósofos ao longo da história da filosofia, em geral relacionada à questão do conhecimento. Seu nome vem do termo grego dógma, que significa opinião. Esta não deve ser entendida em seu sentido comum, como uma afirmação impensada; podemos compreender a opinião de um filósofo como sua doutrina, como aquelas afirmações que se referem aos princípios através dos quais é possível alcançar verdade e conhecimento.

Deste modo, o termo dogmático (dogmatikós) pode ser compreendido como relativo a uma doutrina, fundado em princípos. Este termo foi cunhado pela escola de Pirro (ver céticos), nos séculos IV e III a.C., para servir de contraponto à filosofia cética. Enquanto esta limita sua atividade à observação dos fenômenos, por acreditar não ser possível formar conhecimentos acerca da realidade, é considerado dogmático todo filósofo que admite qualquer certeza, para além das sensações. Ainda dentro da diretiva cética, Sexto Empírico escreveu, no século II d.C., a obra intitulada Contra Dogmáticos, onde refuta as principais teorias acerca dos princípios presentes na filosofia grega, incluindo na lista dos filósofos dogmáticos Platão e Aristóteles. Ao longo da história da filosofia, a posição dogmática aparece várias vezes, bem como teorias que pretendem subtrair-se a esta atitude. Na Idade Moderna, Descartes pretende, com a instituição da dúvida metódica, evitar incorrer no dogmatismo. Kant, por seu turno, opõe o dogmatismo ao criticismo, e o define como o procedimento da razão pura sem uma crítica preliminar de seu próprio poder. Segundo Augusto Comte, o dogmatismo é o estado normal

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do intelecto humano, uma vez que o homem necessita confiar em pressupostos para viver, estando sempre imerso em uma determinada crença. Para este pensador, o ceticismo só se poderia instalar em um momento de crise, onde uma posição antiga deve ser refutada, de modo que se possa efetuar a passagem de uma crença a outra.

O dogmatismo deve ser em geral compreendido, filosoficamente, em relação ao problema do conhecimento e dos critérios de verdade que o podem validar. Assim, podemos tomá-lo em dois sentidos principais, que se encontram, no entanto, entrelaçados: como a afirmação da possibilidade de alcançar a realidade em si mesma e como a confiança nos órgãos humanos, mais especialmente na razão, como modos seguros de acesso à verdade. Teoricamente, as posturas que, de maneira mais radical, lhe fazem frente são o ceticismo, representado pela escola de Pirro e seus seguidores, e o criticismo, instaurado a partir do pensamento de Kant.

► Filósofos Pré-socráticos

Relatório sobre os filósofos pré-socráticos, ou seja, que antecederam Sócrates, filósofo que aperfeiçoou a arte de filosofar.

Segue adiante a história dos filósofos pré-socráticos, citando nomes dos principais filósofos, data de nascimento, falecimento, e teorias.

Período pré-socrático (séc. VII-V a.C.)

Período Naturalista: pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza.

O primeiro período do pensamento grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento grego. Esse primeiro período tem início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois, mais ou menos, nos fins do século V.

Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase exclusivamente com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele floresceram em quatro escolas: Escola Jônica; Escola Itálica; Escola Eleática; Escola Atomística.

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Os filósofos

Tales de Mileto (624-548 a.C.) "Água"

Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito, mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; A água é a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão cheias de deuses. O imã possui vida, pois atrai o ferro.

Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.) "Ápeiron"

Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron (ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada. Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens. Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na direção da independência do "princípio" em relação às coisas particulares. Para ele, o princípio da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado). Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto. Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) "Ar"

Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar. As diversas coisas

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que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o ar.

Heráclito de Éfeso

Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais (descendentes do fundador da cidade). Seu caráter altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial em toda a Antigüidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Floresceu em 504-500 a.C. - Heráclito é por muitos considerados o mais eminente pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, harmonia feita de tensões, "como a do arco e da lira".

Suas filosofias eram:

A. Dialética exterior, um raciocinar de cá para lá e não a alma da coisa dissolvendo-se a si mesma;

B. Dialética imanente do objeto, situando-se, porém, na contemplação do sujeito;

C. Objetividade de Heráclito, isto é, compreender a própria dialética como princípio.

Pitágoras de Samos

Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.

Segundo o pitagorismo, a essência, o princípio essencial de que são compostas todas as coisas, é o número, ou seja, as relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo ainda bem forma, lei e matéria, substância das coisas, consideraram o número como sendo a união de um e outro elemento. Da racional concepção de que tudo é regulado segundo relações numéricas, passa-se à visão fantástica de que o número seja a essência das coisas.

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A doutrina e a vida de Pitágoras, desde os tempos da antiguidade, jaz envolta num véu de mistério.

A força mística do grande filósofo e reformador religioso, há 2.600 anos vem, poderosamente, influindo no pensamento Ocidental. Dentre as religiões de mistérios, de caráter iniciático, a doutrina pitagórica foi a que mais se difundiu na antiguidade.

Não consideramos apenas lenda o que se escreveu sobre essa vida maravilhosa, porque há, nessas descrições, sem dúvida, muito de histórico do que é fruto da imaginação e da cooperação ficcional dos que se dedicaram a descrever a vida do famoso filósofo de Samos.

O fato de negar-se, peremptoriamente, a historicidade de Pitágoras (como alguns o fazem), por não se ter às mãos documentação bastante, não impede que seja o pitagorismo uma realidade empolgante na história da filosofia, cuja influência atravessa os séculos até nossos dias.

Zenão de Eléia

Zenão floresceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em Eléia (Itália). Ao contrário de Heráclito, interveio na política, dando leis à sua pátria. Tendo conspirado contra a tirania e o tirano (Nearco?), acabou preso, torturado e, por não revelar o nome dos comparsas, perdeu a vida. - Escreveu várias obras em prosa: Discussões, Contra os Físicos, Sobre a Natureza, Explicação Crítica de Empédocles. - Considerado criador da dialética (entendida como argumentação combativa ou erística), Zenão erigiu-se em defensor de seu mestre, Parmênides, contra as críticas dos adversários, principalmente os pitagóricos. Defendeu o ser uno, contínuo e indivisível de Parmênides contra o ser múltiplo, descontínuo e divisível dos pitagóricos.

A característica de Zenão é a dialética. Ele é o mestre da Escola Eleática; nela seu puro pensamento torna-se o movimento do conceito em si mesmo, a alma pura da ciência - é o iniciador da dialética. ?

Demócrito de Abdera

De sua vida sabemos poucas coisas seguras, mas muitas lendas. Viagens extraordinárias, a ruína material, as honras que recebeu de seus concidadãos, sua solidão, seu grande poder de trabalho. Uma tradição tardia afirma que ele ria de tudo. . .

Demócrito e Leucipo partem do eleatismo. Mas o ponto de partida de Demócrito é acreditar na realidade do movimento porque o pensamento é um movimento. Esse é seu ponto de ataque: o movimento existe porque eu penso e o pensamento tem realidade. Mas se há movimento deve haver um espaço vazio, o que equivale a dizer que o não-ser é tão real quanto o ser. Se o espaço é absolutamente pleno, não pode haver movimento.

São características de seu pensamento:

- Gosto pela ciência. Aitíai. Viagens.

- Clareza. Aversão ao bizarro.

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- Simplicidade do método.

- Arrojo poético (poesia do atomismo).

- Sentimento de um progresso poderoso.

- Fé absoluta em seu sistema.

- O Mal excluído de seu sistema.

- Paz de espírito, resultado do estudo cientifico. Pitágoras.

- Inquietações míticas: racionalismo.

- Inquietações morais: ascetismo.

- Inquietações políticas: quietismo.

- Inquietações conjugais: adoção de filhos.

Conclusão

Após termos estudado o tema abordado neste trabalho, vimos que os filósofos pré-socráticos foram de extrema importância para o desenvolvimento do pensamento ao longo dos anos. Foram esses que iniciaram o estudo de uma das ciências mais importantes, a ciência das ciências: a Matemática.

Esperamos ter atingido o objetivo do trabalho e queremos agradecer ao professor Josimar a oportunidade de podermos aprofundar nossos conhecimentos em relação à história da Filosofia, que é a ciência do saber.

Pedimos desculpas se talvez não tenhamos conseguido introduzir aqui todos os tópicos relacionados ao tema do nosso trabalho, mas temos conosco que fizemos o máximo para atingir o objetivo confinado pelo professor.

► Moral e Ética: Dois Conceitos de Uma Mesma Realidade

A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existem há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.

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Já a palavra Ética, Motta (1984) defini como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas. Mas a função fundamental é a mesma de toda teoria: explorar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.

A Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um empreendimento social. E esses atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceitas, voluntariamente.

Pois assim determina Vasquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. Ambos significam "respeitar e venerar a vida". O homem, com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele apóia a natureza e suas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, e assim ele mesmo se torna no bem ou no mal deste planeta. Deste modo, Ética e a Moral se formam numa mesma realidade.

Autoria: THIAGO FIRMINO SILVANO - Acadêmico do Curso de Direito da UNISUL

REFERÊNCIA

1 SILVA, José Cândido da; SUNG, Jung Mo. Conversando sobre ética e sociedade. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

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2 CAMARGO, Marculino. Fundamentos da ética geral e profissional. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

3 VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

4 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à Ciência do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1972.

5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2004.

6 MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1984.

► Ética, Moral e Direito

Ética: conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.

Moral: conjunto de regras que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres do homem em sociedade e perante os de sua classe.

Direito: o que é justo e conforme com a lei e a justiça.

A ética, a moral e o direito estão interligados. A ética consiste num conjunto de princípios morais, a moral consiste em conjunto de regras, só que a moral atua de uma forma interna, ou seja, só tem um alto valor dentro das pessoas, ela se diferencia de uma pessoa para outra e o direito tem vários significados, ele pode ser aquilo que é justo perante a lei e a justiça, aquilo que você pode reclamar que é seu.

A ética tem uma relação maior com as profissões. Ela seria como uma regra a ser seguida, um dever que profissional tem com aquele que contrata o seu serviço. A partir do momento em que se começa a exercer uma profissão, deve-se começar a praticar a ética.

A moral e o direito tem a seguinte base: a moral tem efeito dentro da pessoa, ela atua como um valor, aquilo que se aprendeu como certo e o direito tem uma relação com a sociedade, o direito é aquilo que a pessoa pode exigir perante seus semelhantes, desde que esteja de acordo com a lei, aquilo imposto pela sociedade.

► Ética e Ciência

1. INTRODUÇÃO

Os avanços, nas últimas décadas, da genética, da bioquímica e da microbiologia, ou seja, da biologia molecular, resultaram em uma nova tecnologia voltada para a solução de problemas em benefício da sociedade. A biotecnologia vem contribuindo significativamente em áreas necessárias à sobrevivência humana, como produção de

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alimentos, controle de pragas, sanidade animal, diagnóstico de doenças hereditárias ou não, produção de hormônios e, ainda em seu início, a terapia gênica.

De tempos em tempos, e cada vez mais freqüentemente, a divulgação de novos avanços científicos e tecnológicos nesta área causam impactos na opinião pública e reacendem a polêmica sobre as precauções que se fazem desejáveis no ordenamento e no balizamento dos limites que a sociedade deseja impor à capacidade humana em avançar no desconhecido e a velocidade com que se deve incorporar as novas técnicas daí resultantes. Especialmente na biotecnologia, que rompeu barreiras naturais da limitação entre espécies e possibilitou a manipulação de um patrimônio que se originou nos primórdios da vida em nosso planeta, incluindo-se neste a criação de seqüências genéticas que nunca existiram, ou pelo menos nunca foram detectadas nos seres que conhecemos. É este avançar no desconhecido que faz com que cientistas e não-cientistas sejam cautelosos nos passos a serem dados.

Novas tecnologias muitas vezes assustam aqueles que não acompanham seu contínuo crescimento e inovação, particularmente quando recebem informações pela mídia em momentos particulares, quando algo espetacular ou de conseqüências inesperadas é divulgado.

Este trabalho de pesquisa tem como objetivo trazer alguns dos aspectos mais relevantes sobre a questão da ética x ciência, e seus principais dilemas.

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2. CONCEITO DE ÉTICA

A seguir são apresentados alguns conceitos sobre o que é Ética e as suas definições mais usuais.

Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. A primeira é a palavra grega éthos, com e curto, que pode ser traduzida por costume, a segunda também se escreve éthos, porém com e longo, que significa propriedade do caráter. A primeira é a que serviu de base para a tradução latina Moral, enquanto que a segunda é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra Ética. Ética é a investigação geral sobre aquilo que é bom.

A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano chegue a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. A Ética se ocupa e pretende a perfeição do ser humano.

3. A ÉTICA E A RESPONSABILIZAÇÃO

Para Hegel, a eticidade pergunta pela "autodeterminação" da vontade. Pelos propósitos e intenções que movem o sujeito agente. A responsabilização, do ponto de vista subjetivo, portanto, exige a presença destas duas condições: o saber e o querer (o reconhecimento e a vontade). Na exteriorização a vontade reconhece como seu o que ela soube e quis fazer. Só um ato livre pode ser responsabilizado. É o direito de saber que cada indivíduo tem.

Se a preocupação principal de Kant é estabelecer o princípio supremo do agir, a de Hegel, na moralidade, é determinar as condições de responsabilidade subjetiva e, na eticidade, mostrar o desdobramento objetivo das vontades livres. O primeiro está mais preocupado com os princípios do agir; o segundo mais com os desdobramentos, circunstâncias e conseqüências do mesmo. As conseqüências e os resultados não são ignorados por Kant. O que não podem é servir de fundamento do princípio supremo da moralidade.

É claro que toda ação, ao concretizar-se, pode ter inúmeras conseqüências. Não se pode, portanto, ser responsabilizado por algo do qual não se tinha conhecimento. Só me pode ser imputado o que eu sabia acerca das circunstâncias de uma ação. No entanto, é preciso considerar que há conseqüências necessárias diretamente ligadas às ações e que nem sempre poder ser previstas. Um incêndio deliberado pode estender-se além do que o seu autor havia previsto.

Diferentemente de Kant, o qual elabora uma ética das intenções, Apel (Karl-Otto Apel) pensa uma ética da responsabilidade, isto é, uma ética que leva em conta as conseqüências e efeitos colaterais dos atos dos sujeitos agentes. O meio pelo qual se chega a normas consensuais na moral e no direito é o discurso argumentativo, exercido por todos os indivíduos. Isso os tornará co-responsáveis pelas conseqüências de suas ações.

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Numa perspectiva hegeliana, a insuficiência de Kant está no fato de ele ter permanecido no plano da moralidade subjetiva, quando da fixação do princípio supremo do agir moral. É claro que Kant, ao enfatizar que o valor moral de uma ação está na intenção ou no respeito à lei, não está afirmando que os sujeitos agentes devem ignorar os resultados e as conseqüências. Está dizendo que elas não podem ser o fundamento determinante de uma ação que pretende ter valor moral. Não se pode julgar uma ação como boa ou má, certa ou errada, pensa o autor, pelo fato de nos agradarem ou não as conseqüências. O problema está em que o valor moral é tão-somente determinado pela subjetividade (propósitos e intenções). Kant dirá que o homem bom  (moralmente bom) é aquele que obedece à lei pela lei, e não por causa das conseqüências.

4. O QUE É CIÊNCIA?

A ciência pode ser definida como um conjunto de conhecimentos sistematicamente organizados, com um objeto de estudo determinado. Este conhecimento, entretanto, não pode ser considerado como verdade absoluta. Podemos verificar, ao longo da história, que verdades científicas sofrem transformações, muitas vezes radicais em curto espaço de tempo.

Tanto a Ciência como a Tecnologia se modificam a partir de imposições da própria sociedade, estando intimamente relacionadas à transformação desta mesma sociedade.

A Ciência, enquanto tentativa de explicar a realidade, se caracteriza por ser uma atividade metódica.

4.1 A CIÊNCIA E A BIOÉTICA

A genética é uma ciência do século XX, as Leis de Mendel foram redescobertas e começaram a ser aplicadas em 1900. Nos primeiros três quartos deste século, a genética mendeliana contribuiu significativamente para a sustentação do crescimento populacional de nosso planeta, produzindo maiores safras de alimentos de origem vegetal, aumentando a produtividade dos animais domésticos e contribuindo para uma maior longevidade humana. Com a decifração do código genético e a manipulação do DNA neste último quarto de século, aceleraram-se as descobertas científicas e suas aplicações biotecnológicas. Abriram-se novas perspectivas econômicas nos campos da saúde humana, sanidade animal, produção de alimentos e novos termos e conceitos foram incorporados ao cotidiano como plantas e animais transgênicos, clonagem de mamíferos, produção de proteínas humanas em microrganismos, em plantas e em animais, mapeamento do genoma humano e terapia gênica.

Junto a tantas biotecnologias, surgem algumas que despertam, mesmo entre os pesquisadores de engenharia genética, dúvidas, discussões e preocupações de caráter especulativo sobre futuras aplicações que possam ferir os princípios éticos de nossa sociedade. Os efeitos sinergísticos de algumas técnicas biológicas, como a manipulação de DNA versus a produção de embriões humanos em laboratório, a clonagem com a tecnologia dos transplantes, a terapia gênica junto com a manipulação de células

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germinativas, a seleção de características genéticas (eugenia) nas primeiras divisões celulares no processamento da fecundação assistida, o diagnóstico precoce de doenças hereditárias tardias e cálculos atuariais nas empresas de seguro ou de emprego etc. estão atingindo uma sociedade despreparada para entender e mesmo normatizar o novo paradigma das inúmeras aplicações da biotecnologia e seus impactos no novo milênio que se aproxima. Por outro lado, as “banalizações” das técnicas da biologia moleculares e da manipulação e conservações de embriões ampliam as possibilidades da realização de experimentos em laboratórios pouco sofisticados e com baixos recursos financeiros. As ovelhas Dolly e Polly são produtos da associação de um pequeno grupo de pesquisadores com uma pequena empresa biotecnológica. Mais recentemente foi amplamente divulgado pela imprensa o resultado de experimentos para a obtenção de girinos sem cabeça, desenvolvidos por Jonathan Slack, da Universidade de Bath, na Inglaterra. Imediatamente surgiram especulações de que esta seria uma nova técnica de obtenção de órgãos para transplante, a técnica seria aplicável em humanos, um feto humano sem cabeça e sem vida própria não seria considerado um novo ser, portanto não lhe seriam aplicadas as normas éticas ou legais vigentes. O girino alterado geneticamente foi eliminado no quinto dia de seu desenvolvimento para não ferir a legislação britânica de biossegurança e proteção de animais utilizados em experimentos. Um tecnicismo legal justificaria este tipo de experimento? Por outro lado, leis ou normas restritivas devem ou podem impedir o avanço do conhecimento?

Somente a ética e, no caso particular, a bioética darão respostas satisfatórias para a sociedade e para o indivíduo, dando-lhes o balizamento necessário para suas ações. A bioética, dentro da definição dada por W.T. Reich, na Encyclopedia of Bioethics (1978), tem como princípios básicos a Autonomia (respeito ao autogoverno), a Beneficência (atendimento aos interesses do indivíduo) e a Justiça (entendida como a eqüidade na distribuição dos bens e serviços). Para que a sociedade se manifeste eticamente sobre os novos tempos biotecnológicos deste novo milênio que se aproxima, faz-se necessário o apoio a estes estudos.

4.2 DILEMAS ÉTICOS E A CIÊNCIA

A seguir serão apresentados alguns dos dilemas éticos enfrentados pelos profissionais da medicina:

·        O Aborto

Atualmente, no Brasil, o aborto é considerado crime, exceto em duas situações: de estupro e de risco de vida materno. A proposta de um Anteprojeto de Lei, que está tramitando no Congresso Nacional, alterando o Código Penal, inclui uma terceira possibilidade quando da constatação anomalias fetais.

Esta situação já vem sendo considerada pela Justiça brasileira, apesar de não estar ainda legislada. Desde 1993, foram concedidos mais de 350 alvarás  para realização de aborto em crianças mal formadas, especialmente anencéfalos. Os juízes inicialmente solicitavam que o médico fornecesse um atestado com o diagnóstico da má formação, além de outros três laudos para confirmação, um outro laudo psiquiátrico sobre o risco potencial da continuidade da gestação e um para a cirurgia. Ao longo deste período

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estas exigências foram sendo abrandadas.Em algumas solicitações os juízes não aceitaram a justificativa, e não concederam o alvará tendo em vista a falta de amparo legal para a medida. Em 2000 um advogado entrou com uma solicitação de medida liminar para impedir uma autorização de aborto de bebe anencéfalo no Rio de Janeiro. A mesma foi concedida.

Este tema tem sido discutido desde inúmeras perspectivas, variando desde a sua condenação até a sua liberação inclusive descaracterizando-o como aborto, mas denominando o procedimento de antecipação terapêutica de parto.

·        O suicídio assistido

O suicídio assistido ocorre quando uma pessoa, que não consegue concretizar sozinha sua intenção de morrer, e solicita o auxílio de um outro indivíduo.

A assistência ao suicídio de outra pessoa pode ser feita por atos (prescrição de doses altas de medicação e indicação de uso) ou, de forma mais passiva, através de persuasão ou de encorajamento. Em ambas as formas, a pessoa que contribui para a ocorrência da morte da outra, compactua com a intenção de morrer através da utilização de um agente causal.

O suicídio assistido ganhou notoriedade através do Dr. Jack Kevorkian, que nos Estados Unidos, já o praticou várias vezes em diferentes pontos do país, por solicitação de pacientes de diferentes patologias.

Existe uma instituição, denominada de Hemlock Society (ou Sociedade Cicuta), numa clara alusão ao suicídio de Sócrates. Esta Sociedade publicou, em 1991, um livro, A Solução Final, que apresentava inúmeras maneiras de um paciente terminal ou com doenças degenerativas cometer suicídio. Este livro vendeu mais de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos. No Brasil, onde foi também traduzido, não causou maior impacto.

Por outro lado, associações como Not Dead Yet (ainda não mortos), de pessoas portadoras de deficiencias físicas, caracterizam esta possibilidade como sendo um padrão duplo (duplo standard) que os discrimina frente ao restante da sociedade.

Em 08 de janeiro de 1997 a Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos, julgando o caso Quill, declarou não haver diferenças morais ou legais entre não implantar ou retirar um tratamento e auxiliar um paciente a suicidar-se. Posteriormente, em 26 de junho de 1997, a Suprema Corte Norte Americana alterou este raciocínio, voltando a admitir que existem diferenças marcantes entre estes procedimentos.

Ramon SanPedro, um espanhol tetraplégico que havia solicitado na Justiça várias vezes que lhe fosse permitida a eutanásia, acabou morrendo após 29 anos de solicitações, através de um suicídio assistido. Este ato final foi gravado em vídeo como forma de documentar a sua ação pessoal na administração da medicação em dose letal.

Desde 1997 o estado norte-americano de Oregon tem uma Lei vigente que possibilita aos seus residentes solicitarem o auxílio para se suicidarem. No ano de 1999, foram registrados oficialmente 33 casos de suicídio assistido.

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A Suíça também permite a realização do suicídio assistido, inclusive podendo ser realizado sem a participação de um médico e o a pessoa que deseja morrer não necessita estar em fase terminal. A base legal é o Código Penal de 1918, que afirma que o suicídio não é crime. O único impedimento é quando o motivo for egoísta, por parte de quem auxilia. A Eutanásia não está prevista na legislação suíça.

·        Transfusão de sangue em pacientes de certas religiões

Alegar um impedimento religioso para a realização de um ato médico é bastante mais freqüente do que se imagina. Muitas vezes os pacientes ou seus familiares ficam constrangidos de utilizarem um referencial religioso para orientar a sua tomada de decisão. Algumas denominações religiosas, como, por exemplo, Ciência Cristã e Testemunhas de Jeová, são conhecidas por seus seguidores imporem restrições desta ordem a algumas formas de tratamento.

A questão que envolve a indicação médica de transfusão de sangue em pacientes Testemunha de Jeová é das mais polêmicas e conhecidas. Esta situação envolve um confronto entre um dado objetivo com uma crença, entre um benefício médico e o exercício da autonomia do paciente.

A base religiosa que os Testemunhas de Jeová alegam para não permitirem ser transfundidos é obtida em alguns textos contidos na Bíblia.

No livro do Gênesis (9:3-4) está escrito:

"Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com sua alma - seu sangue - não deveis comer."

No Levítico (17:10) existe outra restrição semelhante:

"Quanto qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo.”

Existe mais uma citação, ainda neste mesmo sentido nos Atos dos Apóstolos (15:19-21).

Já existe uma farta bibliografia a respeito desta questão. A maioria divide-a em duas abordagens básicas: o paciente capaz de decidir moral e legalmente e o paciente incapaz.

O paciente reconhecidamente capaz deve poder exercer a sua autonomia plenamente. Este posicionamento foi utilizado pelo Prof. Diego Gracia, da Universidade Complutense de Madrid/Espanha. O Prof. Gracia utiliza esta situação como paradigmática no exercício da autonomia do indivíduo frente a pressões sociais. O Prof. Dunn ressalta que esta é uma posição corajosa, mesmo que questionável por outras pessoas que não compartilham desta crença.

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Para alguns autores, como Genival Veloso de França este posicionamento só é válido enquanto não houver risco de morte iminente associado ao estado do paciente. Nesta situação o médico estaria autorizado a transfundir o paciente, mesmo contra a sua vontade, com base no princípio da Beneficência. O argumento utilizado é o de que a vida é um bem maior, tornando a realização do ato médico um dever prima facie, sobrepujando-se ao anterior que era o de respeitar a autonomia. Este posicionamento tem respaldo, inclusive no Código de Ética Médica.

A restrição à realização de transfusões de sangue pode gerar no médico uma dificuldade em manter o vínculo adequado com o seu paciente. Ambos tem diferentes perspectivas sobre qual a melhor decisão a ser tomada, caracterizando um conflito entre a autonomia do médico e a do paciente. Uma possível alternativa de resolução deste conflito moral é a de transferir o cuidado do paciente para um médico que respeite esta restrição de procedimento.

Os seguidores desta denominação religiosa - Testemunhas de Jeová - estão muito bem organizados para auxiliarem as equipes de saúde no processo de tomada de decisão. Existem Comissões de Ligação com Hospitais, que são constituídas por pessoas que se dispõem a ir ao hospital prestar assessoria visando o melhor encaminhamento possível ao caso. A Comissão de Ligação de Hospitais dispõe de um cadastro de médicos que pode ser útil em tais situações.

Estes são apenas alguns dos dilemas éticos dos que praticam a ciência, e que estão longe de ter pontos pacíficos.

5. ASPECTOS BIOLÓGICOS DA CLONAGEM

A palavra clone, para identificar indivíduos idênticos geneticamente foi introduzida na língua inglesa no início do século XX. A sua origem etimológica é da palavra grega klon, que quer dizer broto de um vegetal.

A clonagem é uma forma de reprodução assexuada que existe naturalmente em organismos unicelulares e em plantas. Este processo reprodutivo se baseia apenas em um único patrimônio genético. Nos animais ocorre naturalmente quando surgem gêmeos univitelinos. Neste caso ambos novos indivíduos gerados tem o mesmo patrimônio genético. A geração de um novo animal a partir de um outro pré-existente ocorre apenas artificialmente em laboratório  Os indivíduos resultantes deste processo terão as mesmas características genéticas cromossômicas do indivíduo doador, ou também denominado de original.

A clonagem em laboratório pode ser feita, basicamente, de duas formas: separando-se as células de um embrião em seu estágio inicial de multiplicação celular, ou pela substituição do núcleo de um óvulo por outro proveniente de uma célula de um indivíduo já existente.

Para muitos cientistas a clonagem de seres humanos ainda não é possível, embora em 1979 um pesquisador norte-americano, L.B. Shettles, da Universidade de Colúmbia/EUA, tenha publicado uma comunicação sobre uma substituição de núcleo de

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um ovócito humano com sucesso. Este pesquisador utilizou uma espermatogônia humana. A publicação incluía fotos que demonstravam que o autor levou o processo até a forma de mórula. Este artigo é a primeira publicação na história sobre a clonagem humana.

A questão ética em torno dos clones humanos retornou com a entrevista do físico Richard Seed (Chicago/EUA), feita através da imprensa internacional, no início de 1998. Este físico, sem vínculo acadêmico e que já realizou pesquisas em biologia, afirmou que poderia produzir clones humanos até a metade do ano de 1999. Chegou a estimar poderia produzir até 500 destes indivíduos por ano. Suas colocações reacenderam as discussões a este respeito em várias partes do mundo (Estados Unidos, Austrália, Europa).

A Dra. Brigitte Boisselier anunciou no dia 27 de dezembro de 2002 que havia nascido  o primeiro bebe humano clonado. Este bebe, uma menina, que recebeu o nome de Eve, nasceu com cerca de 3 Kg de peso em um local não informado. Os seus pais contrataram a CLONAID, dirigida pela Dra. Boisselier, para gerarem um filho, pois o pai era infértil. A mãe, cuja células da pele foram utilizadas para produzir o clone, tem 31 anos. A CLONAID, que é vinculada ao Movimento Raeliana, contratou o jornalista Michael Guillen, que foi o editor científico da rede norte-americana ABC, para atestar a veracidade do clone produzido. Houve a denúncia de que este jornalista teria oferecido a exclusividade da divulgação a inúmeros órgãos de imprensa. Devido a falta de provas e de credibilidade não houve a compra dos direitos. Com a entrada da Justiça Norte-Americana no caso houve uma retração dos autores e não foram feitos quaisquer testes que atestassem a veracidade deste episódio nem a apresentação do próprio bebe.  A CLONAID anunciou que outros bebês clonados estão para nascer em diferentes países do mundo.

5.1 ASPECTOS ÉTICOS NA CLONAGEM

A preocupação com a abordagem das questões éticas dos processos de clonagem não é recente. Desde a década de 1970 vários autores tem discutido diferentes questionamentos a respeito dos aspectos éticos envolvidos. Paul Ramsey, em 1970, propôs a importante discussão sobre a questão da possibilidade da clonagem substituir a reprodução pela duplicação. Esta possibilidade reduziria a diversidade entre os indivíduos, com o objetivo de selecionar características específicas de indivíduos já existentes. Isto teria como conseqüência a perda da individualidade, com a possível despersonalização destas pessoas.

Em 1970 Alvin Toffler, em seu livro Choque do Futuro, já abordou a questão da clonagem. Foi um dos textos precursores sobre este tema. Em  duas páginas Toffler fez algumas considerações do impacto futuro deste processo reprodutivo. A sua previsão era de que a clonagem de seres humanos já seria possível em 1985.

O experimento realizado na Escócia (ovelha Dolly) despertou novamente o debate sobre a adequação da pesquisa em genética. Muitas fantasias cercam o tema da produção de clones, valorizando apenas as características genéticas contidas no núcleo substituído, desqualificando a influência dos fatores histórico-ambientais e de herança genética

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citoplasmática (mitocôndrias). O portavoz da Human Cloning Foundation, dos Estados Unidos, Randolfe Wicker, por exemplo, difunde a idéia de que a clonagem é sinônimo de imortalidade, pois acredita que o novo ser clonado é o mesmo que o que o originou. Assim, morrendo o ser original a cópia sobreviveria mantendo viva a pessoa. Esta é uma visão totalmente equivocada do processo de clonagem, pois ela nada mais é uma forma de reprodução assexuada, desta forma o novo organismo é uma nova pessoa e não um anexo da que o originou, a exemplo dos pais e filhos na reprodução sexuada convencional.

Nos Estados Unidos, os estados da Califórnia, Louisiana, Michigan, Rhode Island e Texas tem leis que proíbem a clonagem em seus territórios. No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, talvez extrapolando a sua competência legal, baixou uma Instrução Normativa 08/97, de 9 de julho de 1997, proibindo a manipulação genética de células germinativas ou totipotentes humanas, assim como os experimentos de clonagem em seres humanos. Vale ressaltar que já tramitaram quatro projetos de lei no Congresso Nacional sobre a questão da clonagem de seres humanos. Todos estes projetos proibiam este procedimento, baseando-se principalmente em aspectos religiosos ou de temor frente a este tipo de procedimento.

O Prof. Joaquim Clotet, em 1997, referindo-se a  questão da proibição da clonagem, afirmou: "a pesquisa não deve ser banida, apenas deve ser orientada para o bem geral da humanidade". Esta é a posição que reconhece que este conhecimento é um "conhecimento perigoso", mas não um conhecimento que deva ser banido. O que deve ser reforçado é a noção de que a clonagem é um procedimento que tem riscos associados.  A questão da clonagem é um excelente exemplo de aplicação para o Princípio da Precaução, tão atual, mas pouco discutido na Bioética.

6. A QUESTÃO DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Uma das questões que mais polêmica tem levantado ultimamente é a questão dos alimentos transgênicos (geneticamente modificados). Os países que aprovam a utilização são os mesmos que aceitam moralmente os alimentos transgênicos. Os que negam a sua utilização são os que reprovam moralmente. A questão do conhecimento e relevância é secundária. O reconhecimento de riscos e especialmente de benefícios é um fator importante na tomada de opinião a este respeito.

Algumas questões ficam pendentes:

·        na área da saúde:

- toxicidade em grande populações e a dificuldade de execução de estudos de monitoramento;

- alergenicidade, que não será resolvida pela simples rotulagem;

·        na área ecológica:

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- hibridação de espécies nativas com plantas transgênicas, repassando a característica para uma outra espécie, ao acaso. O principal risco envolvido é a transmissão de resistência a substâncias químicas, tipo herbicidas, podendo gerar nova pragas resistentes;

·        na área econômica:

- dependência dos produtores, e por conseqüência, da própria sociedade, de um pequeno número de empresas que produzem sementes patenteadas, com replantio impedido por contrato ou por geração de pagamento de royalties.

Enfim, o que fica como certo nesta questão é que a cautela e a busca por uma solução sejam compartilhadas por toda a sociedade e não de cima para baixo como costumam ser a solução de polêmicas como esta.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cabe à sociedade como um todo discutir o enquadramento ético na ciência, mais especificamente, das manipulações biológicas decorrentes da engenharia genética, sem cerceamento da liberdade científica que leva à submissão tecnológica a grupos ou nações, porém discutindo ampla e democraticamente todos os aspectos que lhe são inerentes, devendo os cientistas e as sociedades que os congregam esclarecerem os setores não-científicos da sociedade e em conjunto apreciarem eticamente os objetivos a serem alcançados no benefício do cidadão e da própria sociedade.

REFERÊNCIAS

- Bernard, Jean. A Bioética - Serie Domínio. Ática: São Paulo, 2004.

- Bioética: página web bioetica.ufrgs.br/textos.htm#conceito [31/10/2004]

► O Nascimento da Filosofia

Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e inicio do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o primeiro filosofo foi Tales de Mileto.

Alem de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras, cosmos que significa mundo ordenado e organizado; e logia que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, donde cosmologia.

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Os padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental.

No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”. E muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar n filosofia como sendo o “milagre grego”.

Com a palavra “milagre” queriam dizer varias coisas:

• Que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse;

• Que a filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio de um milagre;

• Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a filosofia, como foram os únicos a criar as ciências de dar ás artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes nem depois deles.

O que perguntavam os primeiros filósofos

Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer à noite, o inverno parece fazer surgir à primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo?

Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar-se e retorcer-se no inverno.

Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da musica que antes me embalava, agora que estou doente, parece um ruído insuportável?

Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? Á água do copo, tão transparente e de boa temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser liquida e transparente para tornar-se sólida e acinzentada.

Mas, também, por que tudo parece repetir-se? Depois do dia, à noite; depois da noite, o dia. Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o verão, depois deste, o outono e depois

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deste, novamente o inverno. De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranqüilo e propicio á navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas para o céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou velho, mas sempre criança, que se torna adulto e velho.

Sem duvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.