Apostila 2012 Cadeia A Groin Dust Rial de Vegetais

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APOSTILA CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAIS

Prof. Dra. Cristiane Miranda Martins

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins

2012REA: Cincias Agrrias CURSO: Agroindstria Subseqente Semestre/Srie: 2012-1 Mdulo II Componente/Disciplina: Cadeia Agroindustrial de Vegetais Professora: Cristiane Miranda Martins Carga horria: 40 horas Turno: Matutino PLANO DE ENSINO 1. Competncias: Interpretar, luz dos sistemas agroindustriais, a composio das cadeias agroindustriais; Interpretar os dados relativos produo agrcola nacional e mundial no que tange a produo de frutas e hortalias; Orientar o planejamento das atividades de produo dentro de uma cadeia agroindustrial; Relacionar os entes que compem as cadeias agroindustriais de vegetais; Interpretar a legislao pertinente s matrias-primas agroindustriais, especificamente vegetais. 2. Habilidades: Aplicar as teorias pertinentes s cadeias de produo aos sistemas agroindustriais, especificamente em relao produo vegetal; Caracterizar um sistema agroindustrial, complexo agroindustrial, cadeia agroindustrial e clusters; Conhecer os segmentos dos sistemas agroindustriais: antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira; Estudar as principais cadeias agroindustriais de vegetais; Cumprir legislao pertinente. 3. Bases Tecnolgicas/Contedos: Orientaes Pedaggicas e introduo disciplina; Agronegcio: conceitos e dimenses; Sistemas Agroindustriais; Viso sistmica do agronegcio; Cadeias produtivas e cadeias de valor; Clusters e arranjos produtivos locais; Segmentos dos sistemas agroindustriais: antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira; Verticalizaes e integraes agroindustriais; Estudo das principais cadeias agroindustriais de vegetais; Legislao.

4.Metodologia: 4.1. Estratgia para ao Aulas tericas - Os temas das aulas tericas sero preferencialmente expostos atravs de apresentaes de slides e utilizao de quadro branco. Sempre que oportuno ser projetado em aula filmes de curta durao especializados. 4.2. Recursos Didticos Quadro branco e pincel; Computador; Data show; Apostilas disponibilizadas no site da instituio e ao representante de turma; Textos para estudo dirigido;

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5.Avaliao: 5.1 Formas de Avaliao A cada bimestre ser disponibilizado um exame escrito sobre toda a matria at o momento lecionada; Avaliao contnua atravs de trabalhos efetuados em sala de aula, ora em grupo e ora individualmente; Participao em sala de aula. 5.2. Formas de Recuperao paralela A recuperao ser efetuada fora do horrio de aula (no horrio de atendimento ao aluno), sendo disponibilizados novos materiais para reforo de contedo e exerccios. 6. Observaes Para facilitar a comunicao com os alunos, todo o material e avisos relevantes sero disponibilizados no site da instituio; Haver acompanhamento dos alunos fora dos tempos letivos em horrio de atendimento disponibilizados aos discentes no primeiro dia de aula e fixado no mural da sala de aula e na porta do meu armrio na sala dos professores.

7. Bibliografia: ARAJO, M.J. Fundamentos de agronegcios. So Paulo: Editora Atlas. 2007. 160 p. BATALHA, M.O. Gesto Agroindustrial. So Paulo: Atlas. 2007. 770 p. BRITTO, W.S.F. Gesto e Controle do agronegcio. AEVSF/FACAPE. 2008. (Apostila) CARVALHO, F.C.de; MARQUES, S.A.; MAIA, M.L.; YOSHII, R.J. Estudo da integrao vertical na agroindstria sucroalcooleira no Estado de So Paulo, 1970-92. Agricultura em So Paulo, v.40, n.1, p.157-182, 1993. GONALVES, J.E.Contextualizao do complexo agroindustrial brasileiro.Campo Belo:Minas Gerais. 10 p. PADILHA JUNIOR, J.B. Agronegcios. Paran: UFP/Departamento de Economia Rural e Extenso.12 p. (Apostila). SILVA, L.C.da. Cadeia Produtiva de Produtos Agrcolas. Esprito Santo: UFES/Departamento de Engenharia Rural. 2005. 10 p. (Boletim Tcnico). ZUIN, L.F.S.; QUEIROZ, T.R. Agronegcios: gesto e inovao. So Paulo: Saraiva. 2006. 436 p. Paraso TO, 08 de fevereiro de 2011 DIAS E HORRIOS IMPORTANTES Aulas Horrio de atendimento estudantil Primeira avaliao Segunda avaliao Recuperao AGORA PRESTEM ATENO! Cada professor possui um horrio de atendimento para sua disciplina. direito seu! Contudo, a presena no horrio de atendimento facultada ao aluno. Lembre-se: sua presena importante, pois nesse momento suas dvidas podem ser sanadas individualmente. Durante o horrio de atendimento, haver uma lista de presena, embora no seja contabilizada como aula. Essa lista utilizada pelo professor apenas como uma forma de registro. As avaliaes so marcadas no primeiro dia de aula. Portanto, no falte! Apenas so faltas justificveis por esta instituio para solicitao de segunda chamada: 1. Atestado mdico; 2. Atestado de bito de parente direto (pai, me, av, av, etc.); 3. Acompanhamento por motivo de sade de parente prximo; 4. Alistamento em servio militar; 5. Atendimento a solicitaes jurdicas oficiais; 6. Documento de participao em congressos, campeonatos, jogos, representando a instituio. Em porte desses documentos, protocolar na Coordenao de Registros Escolares (CORES) no prazo de 72 horas, a contar do dia da falta. Caso esses trmites no sejam cumpridos, a avaliao de segunda chamada no ser aplicada, ficando o estudante com ZERO. Testes surpresas e outras formas de avaliao em sala de aula (trabalhos em grupo, questionrios, etc.) tambm s podero ser ministradas em carter de segunda chamada seguindo os tramites listados acima.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsApresentao A informao sempre foi um insumo importante para o agronegcio, tanto na produo quanto na comercializao. Com o crescimento do porte, da competitividade e, por conseqncia, da complexidade da agricultura brasileira nos ltimos anos, o conhecimento virou uma ferramenta ainda mais essencial. O estudo das cadeias produtivas possibilita o acompanhamento de cada produto desde dentro da porteira, durante todo o seu trnsito por meio da cadeia, at se converter em commodity de exportao ou produto de consumo final no mercado interno. Conhecer os principais entraves e desafios do agronegcio de maneira sria, oportuna e sistmica permitir elevar a qualidade de insumos essenciais para a tomada de decises e a formulao de polticas pblicas mais eficientes. Compreender o agronegcio brasileiro uma experincia que abrir novas portas para os interessados nos setores institucional e acadmico que procuram um conhecimento mais detalhado, objetivo e oportuno da agricultura e do mundo rural no Pas. Tpico: Introduo ao estudo de cadeias agroindustriais INTRODUO No incio das civilizaes, os homens viviam em bandos, nmades de acordo com a disponibilidade de alimentos que a natureza espontaneamente lhes oferecia. Dependiam da coleta de alimentos silvestres, da caa e da pesca. No havia cultivos, criaes domsticas, armazenagem e tampouco trocas de mercadorias entre bandos. Assim, passavam por perodos de fartura ou de carestia. Em cada local em que um bando se instalava a coleta, a caa e a pesca, fceis no incio, ficavam cada vez mais difceis e distantes, at um momento em que as dificuldades para a obteno de alimentos se tornavam to grandes que os obrigavam a mudar sempre de lugar, sem fixao de longo prazo. Com o passar dos tempos, descobriram que as sementes das plantas, devidamente lanadas ao solo, podiam germinar, crescer e frutificar e que animais podiam ser domesticados e criados em cativeiro. o comeo da agropecuria e tambm o incio da fixao do homem a lugares predefinidos. Durante milhares de anos, as atividades agropecurias sobreviveram de forma muito extrativa, retirando o que a natureza espontaneamente lhes oferecia. Os avanos tecnolgicos eram muito lentos, at mesmo de tcnicas muitos simples, como as adubaes com materiais orgnicos (esterco e outros compostos) e o preparo de solos. Com a fixao do homem a terra, formando comunidades, surge organizaes as mais diferenciadas no que se refere ao modo de produo, tendendo formao de propriedades diversificadas quanto agricultura e pecuria. Os trabalhadores eram versteis, aprendendo empiricamente e executando mltiplas tarefas, de acordo com a poca e a necessidade. Alguns fatores socioeconmicos histricos condicionaram por muito tempo as propriedades rurais, ou mesmo pequenas comunidades, a sobreviver praticamente isoladas ou ser auto-suficientes. Esses fatores foram basicamente: -a distribuio espacial da populao - a populao era predominantemente rurcola, com mais de 80% do total de habitantes vivendo no meio rural; -a carncia de infra-estrutura - as estradas, quando existiam, eram muito precrias; -a pouca evoluo da tecnologia de conservao de produtos - os meios de transporte eram muito escassos e os armazns insuficientes. Os produtos obtidos tinham sua perecibilidade acelerada por insuficincia de tcnicas de conservao; -as dificuldades de comunicao - os meios de comunicao eram muito lentos. As propriedades rurais eram muito diversificadas, com vrias culturas e criaes diferentes, necessrias sobrevivncia de todos que ali viviam. Eram comuns as propriedades que integravam suas atividades primrias com atividades industriais (agroindustriais). No Brasil, por exemplo, no Estado de Minas Gerais, cada propriedade rural podia produzir ao mesmo tempo: arroz, feijo, milho, algodo, caf, cana-de-acar, fumo, mandioca, frutas, hortalias e outras, alm de criaes de bovinos e ovinos, sunos, aves e eqinos. E mais, nessas propriedades o algodo era tecido e transformado em confeces; o leite era beneficiado e transformado em queijos, requeijes e manteiga; da cana-deacar faziam a rapadura, o melado, o acar mascavo e a cachaa; da mandioca fabricavam a farinha, o polvilho e biscoitos diversos; o milho era usado diretamente como rao e/ou destinado ao moinho para transformao em fub, que era usado para fabricao de produtos diversos; e assim por diante. Na regio sul do pas, o modelo de colnias transformava cada uma delas em um complexo de atividades de produo e de consumo, com pouca gerao de excedentes e pouca entrada de outros produtos. Assim extraam a madeira, tinham suas prprias serrarias e marcenarias, produziam os produtos de subsistncia alimentar (arroz, trigo,

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsmilho, feijo e outros), inclusive algumas transformaes, e compravam poucos produtos. Nas fazendas de produo de acar, durante o perodo da escravatura, o sustento dos trabalhadores era obtido em pequenas reas, concedido aos escravos para produo de alimentos. Esses acontecimentos no se referem a passados muito longnquos. Esse modelo geralmente continha uma atividade comercial (como fumo, trigo, acar ou outras), em escalas de produo diferenciadas, com objetivo de gerar receita para compra de alguns bens no produzidos no local, como sal, querosene para iluminao e outros produtos e, para gerar riquezas para poucos. Ou seja, as propriedades praticamente produziam e industrializavam tudo de que necessitavam. Assim, eram quase auto-suficientes. Por isso, qualquer referncia agricultura relacionava-se a todo o conjunto de atividades desenvolvidas no meio rural, das mais simples s mais complexas, quase todas dentro das prprias fazendas. A evoluo scio-econmica, sobretudo com os avanos tecnolgicos, mudou totalmente a fisionomia das propriedades rurais. A populao comeou a sair do meio rural e dirigir-se para as cidades, passando, nesse perodo, de 20% para 70% a taxa de pessoas residentes no meio urbano (caso do Brasil). O avano tecnolgico foi intenso, provocando saltos nos ndices de produtividade agropecuria (Revoluo Verde). Com isso, menor nmero de pessoas cada dia obrigado a sustentar mais gente. Assim, as propriedades rurais cada dia mais: -perdem sua auto-suficincia; -passam a depender sempre mais de insumos e servios que no so seus; -especializam-se somente em determinadas atividades; -geram excedentes de consumo e abastecem mercados, s vezes, muito distantes; -recebem informaes externas; -necessitam de estradas, armazns, portos, aeroportos, softwares, bolsas de mercadorias, pesquisas, fertilizantes, novas tcnicas, tudo de fora da propriedade rural; -conquistam mercado; -enfrentam a globalizao e a internacionalizao da economia. Ento, a agricultura de antes passa a depender de muitos servios, mquinas e insumos que vm de fora. Depende tambm do que ocorre depois da produo, como armazns, infra-estruturas diversas (portos, estradas, e outras), agroindstrias, mercados atacadistas e varejistas, exportao. Cada um desses segmentos assume funes prprias, cada dia mais especializadas, mas compondo um elo importante em todo o processo produtivo e comercial de cada produto agropecurio. Por isso, surgiu a necessidade de uma concepo diferente de agricultura. J no se trata de propriedades auto-suficientes, mas de todo um complexo de bens, servios e infra-estrutura que envolve agentes diversos e interdependentes. Foi analisando esse processo complexo que dois autores (John Davis e Ray Goldberg), professores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da Amrica, em 1957, lanaram um conceito para entender a nova realidade da agricultura, criando o termo agribusiness, e definindo-o como: ...o conjunto de todas as operaes e transaes envolvidas desde a fabricao dos insumos agropecurios, das operaes de produo nas unidades agropecurias, at o processamento e distribuio e consumo dos produtos agropecurios in natura ou industrializados. Atualmente, no mundo, podem-se relatar trs tendncias transformadoras que esto ocorrendo na economia, sendo: a globalizao, o desenvolvimento da sociedade da informao; e o ritmo acelerado de processo na base do conhecimento cientfico. A primeira tendncia, a da globalizao da economia, parece irreversvel, constituindo em si um processo de transio de mudanas profundas, conduzindo ao surgimento de novas identidades culturais, a novas formas de organizao do trabalho, ruptura de reservas de mercado, ao acirramento da concorrncia (interna e externa aos pases), estruturao de blocos econmicos (MERCOSUL, Unio Europia e ALCA) e excluso social de setores ou segmentos sem condies de competir no mercado. VISO HISTRICA DO DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGCIO BRASILEIRO 1. Ciclo do pau-brasil A floresta mida costeira, descoberta pelos portugueses, cobria uma faixa relativamente estreita desde o Rio Grande do Norte at o Rio Grande do Sul, com ocorrncia freqente do pau-brasil (Caesalpinia echinata). Desta espcie arbrea era extrado material corante vermelho, extremamente apreciado no mercado europeu que, j no sculo XII, importava o verzino ou brasil, empregado em Florena para tingir tecidos.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsA explorao, considerada monoplio da Coroa, foi arrendada, de incio, por mercadores ricos, que recebiam da casa real um quinto do valor real da madeira. Nos primeiros anos do sculo XVI (1500-1532), estima-se a exportao de cerca de 300 toneladas anuais, ou seja, a carga de trs a cinco anos daquele tempo. possvel que, em algumas fases do perodo, tenha sido maior a exportao, mas havia grandes dificuldades decorrentes da presena de corsrios franceses que forneciam a D. Joo III, em 1530, elevados prejuzos, j que o produto no representava 5% da receita do errio portugus, no dando para cobrir as despesas com a defesa das novas terras e do comrcio lusitano. Continuaram as exportaes, porm at o incio do sculo XIX, contribuindo para com a fazenda real, mas em quantidades e valores pouco significantes. Em poucas dcadas, esgotaram-se as disponibilidades da madeira preciosa em locais acessveis e o negcio foi perdendo o interesse, necessitando ento a Coroa achar novas fontes de recursos para conseguir assegurar a defesa e a posse da colnia, ameaada pela presena dos franceses que chegaram a fundar duas colnias na costa brasileira denominada Frana Antrtica e Frana Equinocial. A Frana Antrtica foi a colnia tentada pelos franceses no Rio de Janeiro. Existiu de 1555 a 1560, ano em que os restantes franceses foram, definitivamente, derrotados pelos portugueses. Denomina-se Frana Equinocial aos esforos franceses de colonizao da Amrica do Sul, em torno da Linha do Equador (antigamente denominada de linha Equinocial), no sculo XVII. Os franceses se dirigiram costa norte do atual estado do Maranho, onde fundaram a cidade de So Lus. Contudo, operaes militares portuguesas culminaram com a capitulao francesa em 4 de novembro de 1615. 2. Ciclo do acar Portugal contava, na poca do incio do povoamento do Brasil, com pouco mais de um milho de habitantes, e o lucrativo comrcio do Oriente dominava, certamente, os seus interesses, devendo, pois, ser-lhe muito difcil o problema de promover a colonizao das novas terras. Procurou a Coroa, ento, atrair interessados em colonizar o Brasil, concedendo poderes soberanos e vastas reas de terras aos 12 nomes da nobreza e comrcio, que constituram os donatrios das capitais hereditrias. O plano, em sntese, constitua em dividir a costa brasileira em 12 setores lineares at a linha de Tordesilhas, com extenses variveis entre 180 e 600 quilmetros de costa, e tinha por motivao econmica principal a explorao da cana-de-acar, alm do pau-brasil, do algodo e outros produtos. Contudo, o acar seria o responsvel principal pela fixao dos povoadores, desenvolvendo-se, amplamente, durante o perodo colonial e continuando, at hoje, a representar uma das maiores fontes de divisas de exportaes. Nesse perodo, o acar era vendido na Europa como produto medicinal e, o infante Dom Henrique, voltado sempre para a idia da intensificao do comrcio, introduziu na Ilha da Madeira e outras ilhas portuguesas a explorao da cultura. Tornou-se o principal artigo do comrcio internacional, dominando Portugal o mercado mundial desde meados do sculo XV. Segundo os estudiosos de nossa histria econmica, h dvidas sobre a data exata de chegada da cana-deacar no Brasil. Sabe-se que a lavoura se iniciou e floresceu em reas litorneas ao sul, onde haviam sido criadas as capitanias de Martim Afonso de Souza, e tambm ao norte, Pernambuco, onde se estabeleceu Duarte Coelho. Os primeiros trs engenhos teriam sido construdos em terra da capitania de So Vicente. Ao norte, o primeiro engenho foi construdo, possivelmente, em 1534, por Martim Afonso de Souza, nas colinas de Olinda. Em 1536, surgiram na Paraba do Sul e Bahia e mais tarde no Rio de Janeiro, aps a expulso dos franceses. O trabalho dos engenhos primitivos era extremamente pesado e difcil, razo por que, desde o incio, utilizou-se mo-de-obra escrava e procurou-se instal-los nas baixadas prximas costa pela facilidade de transporte martimo. As terras de plantio, de excelente fertilidade, resultavam de derrubada e queima das florestas, abandonando-se simplesmente as reas depauperadas. Os processos de cultivo eram dos mais primitivos. As matas foram tambm amplamente utilizadas para fornecimento de lenha necessria ao preparo do acar e confeco das caixas em que era exportado o produto. Pode-se dizer que, em grande parte, o acar foi responsvel pelas caractersticas sociais, polticas e econmicas do Brasil atual. A fbrica de acar e a plantao do canavial eram dispendiosas e demandavam considerveis investimentos. Com isso, surgiram as grandes propriedades (monoculturas) e, conseqentemente, a figura do senhor de engenho e a necessidade de mo-de-obra escrava. As estatsticas disponveis mostram que, em 1570 havia 60 engenhos, com exportaes totais da ordem de 2.700 toneladas; em 1710, 528 engenhos, com 19.500 toneladas. Em 1831, 78.000 toneladas. O maior nmero de engenhos localizava-se ao norte do rio So Francisco e nas capitanias de Porto Seguro, Ilhus, Bahia e Sergipe. A partir

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsda metade do sculo XVI, a produo portuguesa de acar tem muito em comum com os interesses flamengos da Anturpia e Amsterd, que recolhiam o produto bruto em Lisboa, refinavam-no e o distribuam pela Europa. Excelentes comerciantes foram eles os responsveis, em grande parte, pela colocao da grande produo brasileira, a preos firmes. Capitais de grupos financeiros holandeses teriam infludo, grandemente, na instalao e expanso dos engenhos. Controlando praticamente o comrcio dos pases europeus realizados em princpios do sculo XVII, os holandeses moviam guerra sem quartel contra a Espanha, por causa do controle do comrcio do acar. Nessa poca, a Companhia Holandesa das ndias Ocidentais procurou apossar-se da parte mais rica em acar do Brasil, ocupando, de 1630 a 1650, as capitanias de Pernambuco, Itamarac, Paraba, Sergipe e Rio Grande do Norte, de onde seriam expulsos em famosos episdios consagrados pela histria do Brasil. Ao fim do domnio espanhol, em 1640, e expulso os holandeses, todo o litoral j estava de posse dos portugueses e seguindo-se a explorao e o lento povoamento do interior do pas, atravs da corrida do ouro nos sculos XVII e XVIII e da expanso lenta, mas segura, das criaes de gado. Crescia rapidamente o consumo de acar e tambm a produo em outras colnias tropicais, entrando no mercado o produto das Antilhas. Em fins do sculo XVII, baixaram as cotaes em ouro, chegando, em princpios do sculo XVIII, a nveis prevalecentes em 1540. Assim, aps um perodo de cerca de 150 anos de destaque mpar no cenrio das exportaes mundiais, pode-se dizer que termina o chamado ciclo do acar no Brasil, que foi de grande importncia para o desenvolvimento inicial do pas. Nota-se que, no decurso do perodo colonial, de um total das exportaes avaliado em 530 milhes de libras, o acar concorreu com, aproximadamente, 300 milhes. 3. Ciclo do ouro e diamantes Aps vrias tentativas de encontrar ouro e pedras preciosas, que resultaram os dois primeiros sculos quase exclusivamente no apresamento de ndios e na penetrao das reas que mais tarde iriam ser incorporadas ao pas, devia os portugueses ainda mais ansiar pelas riquezas minerais que fizeram a opulncia da Espanha. Na segunda metade do sculo XVII, com o incio da concorrncia das Antilhas, desorganizara o mercado de acar, reduzindo-se os preos a metade. Caracterizou-se um perodo de crise, principalmente nas regies mais pobres, como Piratininga, dadas as repetidas desvalorizaes cambiais, que traziam algum alvio regio exportadora de acar. Por outro lado, agrava-se a situao das zonas que pouco ou nada exportavam, mas tinham que importar artigos imprescindveis. Aps vrias expedies, que visavam freqentemente, busca de escravos ndios, as bandeiras aceleram as entradas pelo serto de 1670 a 1680, com vistas descoberta de metais preciosos. As primeiras descobertas de jazidas aurferas realmente importantes se deram em 1968 1699, em Minas Gerais. Multiplicaram-se, depois, os achados, sem interrupo at meados de sculo XVIII, quando a minerao do ouro atinge o seu auge, ocorrendo, nesse perodo, grande afluxo de migrantes de Portugal, de Piratininga e de outras reas do pas para as regies aurferas. O ouro encontrado, por ser de origem aluvial, depositado no fundo e nas margens dos rios, oferecia possibilidade ao grande nmero de pessoas. Esse fato, conquanto positivo no sentido de propiciar um povoamento mais rpido, iria trazer reflexos negativos produo agropecuria ainda incipiente. Houve grande abandono das lavouras em virtude do atrativo de explorao mineira, havendo dificuldade em manter-se o suprimento adequado de alimentao populao das cidades que se desenvolviam nas novas regies aurferas. Como as regies minerais localizavam-se em reas imprprias para a agricultura, a situao se tornava mais grave, pois os produtos agrcolas tinham de se importados de regies distantes, utilizando-se tropas de animais para o transporte extremamente difcil. Em princpio, pode-se dizer que nessa poca se inicia, efetivamente, o comrcio inter-regional de produtos agrcolas no Brasil. A produo de ouro no Brasil, que iria causar sensvel impacto na economia europia e um perodo de grande prosperidade em Portugal, deve ter atingido cerca de 160 milhes de libras esterlinas no perodo colonial, segundo alguns autores. Outros consideram que, de 1500 a 1800, o valor total do ouro exportado pelas colnias espanholas e portuguesas atingiu 350 milhes de libras esterlinas, sendo 194 milhes correspondentes participao brasileira. As descobertas de jazidas diamantferas ocorreram em 1729, tambm na zona do ouro, ocasionando nos mercados internacionais uma baixa de cerca de 75% no valor do quilate, o que resultou na interveno da Coroa, limitando a produo. O diamante surgia juntamente com o ouro nos cascalhos de alguns rios, sendo a produo, em 70 anos de minerao, calculada em cerca de trs milhes de quilates, avaliada em 10 milhes de libras esterlinas. A transferncia da capital do pas, de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro, deu-se em 1763, deslocando-se o centro de atividade econmica nacional para a nova sede de governo, em grande parte, em razo da influncia da proximidade da regio da influncia da proximidade da regio aurfera.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins4. Desenvolvimento do algodo, fumo e pecuria Ao esgotamento dos depsitos aurferos sucederam-se pequenos surtos de desenvolvimento da produo agrcola e pecuria, caracterizados, por alguns autores, como o renascimento da agricultura. O incremento das atividades econmicas e das relaes comerciais internacionais, em virtude da revoluo industrial e do crescente aumento populacional europeu, favorecia a procura de produtos coloniais. O algodo, nativo da Amrica e mesmo do Brasil, sendo utilizado j pelos indgenas, era cultivado h muito tempo, mas sem importncia como produto de exportao. Utilizado apenas na fiao e tecelagem de panos grosseiros, em fins do sculo XVII torna-se a principal matria-prima industrial, acompanhando a evoluo da mecanizao da indstria txtil na Europa. Admite-se que o consumo de algodo na Inglaterra, o centro da indstria txtil da poca, tenha aumentado de 4,76 milhes de libra-peso, no qinqnio 1771-1775, para 26 milhes, em 1791-1795, logo depois da introduo do tear mecnico. Tornou-se produto importante de exportao a partir de 1760, com a cultura se disseminando amplamente pelo territrio brasileiro, principalmente na Bahia, Pernambuco e Maranho, chegando a estender-se at a encosta da serra no Rio Grande do Sul e para o interior de Gois. Caracterizou-se, mesmo, um perodo de boom, o que justificou a denominao de ciclo secundrio do algodo, algumas vezes lembrado. A competio dos Estados Unidos viria restringir, drasticamente, a produo, dado o declnio de preos verificados desde o incio do sculo XIX. Ainda assim, continuaria a representar fonte de receitas de exportao constante neste sculo, superando, em alguns perodos, a receita do acar. Originrio da Amrica, o tabaco constituiu importante produto de exportao a partir de meados do sculo XVII. Amplamente produzido em diversas reas do pas, particularmente na Bahia e no sul de Minas, dadas as caractersticas do produto, podia ser produzido tambm por pequenos produtores. Avalia-se em cerca de 12 milhes de libras esterlinas o total exportado no perodo colonial, soma essa idntica estimativa das exportaes de algodo no mesmo perodo. A ocorrncia de outras reas produtivas viria tambm ocasionar a rpida perda dos mercados europeus. O desenvolvimento da pecuria processou-se gradativamente, j que as atividades econmicas eram marcadamente voltadas para a exportao. Ainda assim, a carne bovina tinha grande importncia na alimentao, destacando-se o papel exercido como poderoso agente de colonizao do interior e, particularmente, no extremo sul do pas. Dado o aproveitamento das reas prximas ao litoral para a produo das mercadorias de exportao e dadas as disponibilidades de amplas pastagens nativas no interior, alm da inexistncia de arames que separassem o gado das culturas, orientou-se a criao para os setores afastados e imprprios para agricultura, ocupando os sertes da Bahia, Pernambuco e mesmo o Piau, os campos gerais do Paran, a parte meridional de Minas Gerais e os campos do Rio Grande do Sul. Cumpre tambm ressaltar a importncia do gado como fora motriz, sendo grande o nmero de bois para mover os engenhos de acar e transportar cana e lenha. Muares e cavalos eram tambm largamente utilizados no transporte, particularmente na poca da minerao. A pecuria, introduzida no pas desde a poca de Martim Afonso de Souza (1533), atingia, no incio do sculo XVII, mais de 1,5 milhes de cabeas, calculadas em 500 mil na Bahia, 800 mil em Pernambuco e 60 mil no Rio de Janeiro, sem contar o gado em So Paulo, campos de Curitiba e o gado bravo dos campos de Sacramento. 5. Ciclo da borracha O chamado ciclo da borracha surgiu com a extrao do produto em fins do sculo XIX e alcanou o auge no primeiro decnio do sculo XX. Proporcionou apreciveis recursos ao pas e, em 1910, o produto chegou a representar cerca de 42% do valor total das exportaes brasileiras. A espcie predominante no Brasil a Hevea brasiliensis, nome popular seringueira, e tem por habitat natural a Amaznia, sendo conhecida desde meados do sculo XVIII. Porm, o seu uso em maior escala iniciou-se a partir da descoberta dos processos de vulcanizao por volta de 1888, evoluindo, enormemente, a partir da era do automvel com rodas pneumticas em 1895. No Brasil, grandes plantaes foram instaladas pela Ford, inicialmente em concesso de 1.211.700 ha no local chamado Fordlndia, s margens do Tapaj, onde foram plantados cerca de quatro mil hectares. Outra concesso perto de Santarm, denominada Belterra, foi plantada com 2,5 milhes de rvores em 1940, mais tarde vendidas ao governo brasileiro, constituindo reas do Ministrio da Agricultura para fins de experimentao e produo. As exportaes mundiais da goma silvestre atingiram seu mximo em 1910, com 84.328 toneladas, representando 90% do consumo mundial, sendo que o Brasil exportaria, em 1912, o mximo de 42.000 toneladas. Em 1937, a borracha, de exportao silvestre, caa para 2% do consumo internacional, dada a produo em reas plantadas. J a produo da borracha artificial ou sinttica desenvolveu-se, em grande escala, a partir do perodo da Segunda Guerra, na Alemanha e nos Estados Unidos. O colapso da produo da borracha no Brasil deu-se por volta de

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins1914 em decorrncia da queda drstica de preos ante a concorrncia internacional. O mercado, j iniciante para as exportaes brasileiras, viu-se ao sabor de flutuaes de preos internacionais, encerrando o curto perodo que deixou como saldo um considervel aumento populacional e o impulso inicial para desenvolvimento de Manaus e Belm, na regio Norte. 6. Ciclo do caf Segundo algumas fontes, o caf originou-se da frica Oriental, entre Etipia e a regio dos Grandes Lagos. Da, teria sido levado ao Imen, onde se iniciou a cultura em meados do sculo XV. Por volta de 1690, o caf (arbica) foi levado da Arbia para o Jardim Botnico de Amsterd. Desta planta se originaram os primeiros cafeeiros cultivados nos pases americanos. Em 1713, mandaram um descendente do cafeeiro de Amsterd para o Jardim de Plantas de Paris. Os franceses logo enviaram sementes para a Martinica, de onde o caf passou para os pases da Amrica Central e Colmbia. Em 1714, os holandeses enviaram sementes de planta de Amsterd para a Guiana Holandesa, de onde passou, em 1718, para a Guiana Francesa e, da, para o Brasil. A planta foi introduzida no Brasil em 1727 pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta, que recebera do governador do Par-Maranho a incumbncia de chefiar a misso oficial a Caiena, relacionada com incidentes ocorridos na linha democrtica entre a Guiana Francesa e o Brasil. Por recomendao escrita, deveria tambm tentar trazer material de reproduo do caf, o que conseguiu, trazendo um pouco mais de mil sementes e cinco mudas, que foram plantadas no Par. Por volta de 1760, algumas mudas foram plantadas no Rio de Janeiro, onde a cultura desenvolveu de tal maneira que, em 1826, a exportao do caf brasileiro representava 20% das exportaes mundiais do produto. A produo de So Paulo sobrepujava a do Rio de Janeiro, em 1894, e seria suplantada pela do Par, em 1960. Hoje, Minas Gerais o maior produtor. A expanso da cultura cafeeira ocorreu quando o Brasil, que se caracterizava como um pas exportador de produtos primrios, especialmente algodo e acar, achou-se em sries dificuldades com relao aos preos e mercados desses produtos, dada a competio de outras reas; a renda per capita da populao livre diminuiu de 50 para 43 dlares (de 1953), de 1800 a 1850. Em meados do sculo passado, inicia-se uma fase de real prosperidade em razo da contribuio das exportaes de caf, que, a partir dessa poca, tomam vulto. A balana comercial do pas, que vinha registrando saldos comerciais negativos desde a sua independncia, passa a apresentar supervits a partir de 1860. Dotado de clima e solo excepcionalmente adequados produo de caf e sendo, praticamente, o nico produtor mundial de expresso, somente o problema de mo-de-obra poderia constituir um bice expanso acelerada da produo. Com efeito, tendo trafico de escravos sido eliminado em 1850, o desenvolvimento das plantaes via-se comprometido pelo fato de os escravos existentes estarem sendo amplamente utilizados nas plantaes de cana-de-acar ou nas atividades domsticas. A imigrao veio solucionar a questo. As estatsticas revelam terem entrado no estado de So Paulo, principalmente centro de imigraes, 928.445 pessoas, de 1879 a 1899. Evoluram, ento, as exportaes e, rapidamente, aumentaram de 2.734 mil sacas em mdia, no decnio 1851 a 1860, para 12.979 mil, de 1900 a 1909. Os preos de caf apresentam, inicialmente, marcante comportamento cclico. As flutuaes de preos refletiam, fundamentalmente, o comportamento irregular da produo cafeeira, resultado das presses baixistas de excedentes de produo ou expectativas de alta depois de geadas severas e outras limitaes de oferta. Dada a abundncia de terras virgens, timas do ponto de vista ecolgico, no havia limitaes de espao ao aumento de produo e os incentivos resultantes da elevao de preos, aos quais os fazendeiros respondiam, eram plenamente aproveitados. As terras da regio no s produziam muito caf, mas criavam uma expectativa de ganhos raramente superada na agricultura, no havendo alternativas de investimentos comparveis no pas, tradicionalmente voltado aos cultivos tropicais de produtos de exportao. A estrutura agrria favorecia tambm o surto cafeeiro, pois havia, de incio, mo-de-obra escrava disponvel, dada fase depressiva por que passavam as culturas canavieiras e algodoeiro. A imagem do senhor do engenho no encontrou dificuldades em se transformar na personalidade do desbravados dos sertes , o bares do caf. Durante quase 100 anos, o Rio de Janeiro manteve a liderana como maior produtor do pas, at a safra de 1894-1895, quando de uma produo exportvel total da ordem de 6.695.000 sacas, So Paulo foi responsvel por cerca de 60%, cabendo o restante ao Rio de Janeiro. A cultura penetra nas terras paulistas do Vale da Paraba a partir da dcada de 1830, expandindo-se, primeiramente, at a Zona da Mata mineira e alcanando o sul do Esprito Santo. As terras acidentadas do territrio fluminense apresentavam sinais de exausto, quando o planalto paulista passou a

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsapresentar melhores possibilidades de expanso, para o que contribuiriam as estradas de ferro, a partir da segunda metade do sculo XIX, passando So Paulo a contar com o Porto de Santos para escoamento das safras para o exterior, aps atravessar a grande barreira representada pela serra do Mar. J por volta de 1850, Campinas era a grande produtora e, nas duas primeiras dcadas do sculo XX, o centro de So Paulo e a regio de Ribeiro Preto, com suas famosas terras roxas, trazia tambm os recursos necessrios para o incio da grande expanso industrial que se verificaria nas dcadas subseqentes. Posteriormente, a despeito do risco de geadas, o norte do Paran ira ajudar a ampliar, drasticamente, os domnios da cultura cafeeira. Deslocara-se, assim, o plo econmico para So Paulo e Paran, acompanhando esse processo o grande aumento populacional advindo das imigraes estrangeiras, que exerciam importantssimo papel no processo de industrializao do pas. Na verdade, trazidos inicialmente para os trabalhos agrcolas, os seus imigrantes e seus descendentes iriam construir, mais tarde, grande parte da mo-de-obra industrial. A medida das riquezas advindas do caf pode ser dada pelo percentual representado pelo produto sobre o total do valor das exportaes. A partir de 1831, o caf passa a ocupar o primeiro lugar na pauta das exportaes, posio que persistiu por vrias dcadas. A produo exportvel do Brasil, que atingira a mdia anual de 6,5milhes de sacas, na dcada de 1881-1890, e 7,2 milhes, na dcada de 1890-1900, chegaria, na safra 1901-1902, a um nvel de cerca de 15 milhes de sacas, esboando-se a primeira crise de superproduo, que iria originar o movimento em favor da interveno estatal. Essas crises, que se repetiriam vrias vezes, iriam provocar a interveno permanente a partir de 1924, caracterizando-se uma fase de ingentes esforos governamentais para valorizao do produto, mas de contnua e acentuada perda de mercado internacional. A fase ascendente do ciclo, em termos de participao no mercado internacional, passou a sofrer acentuada reduo. 7. Fase do desenvolvimento industrial Graas prosperidade excepcional advinda do caf, So Paulo logo passaria a ser o maior centro industrial do pas. Diversas razes explicam porque somente o ciclo do caf iria permitir o desenvolvimento auto-sustentado, despeito das diversas crises que motivaram as primeiras intervenes espordicas no mercado cafeeiro e, finalmente, a interveno permanente a partir de 1924. Antes do advento da expanso cafeeira no havia condies favorveis ao desenvolvimento industrial. A poltica portuguesa no perodo colonial no se diferenciava da adotados pelos demais pases europeus. Em 1785, a rainha Maria decretou um mandado que abolia as indstrias e fbricas, para no distrair os braos da lavoura e para assegurar uma diferenciao na produo entre a Metrpole e a Colnia, a qual permitisse o fermento do comrcio e o aumento dos produtos industrializados da Metrpole. Lembra ainda, o ttulo de comparao, que tambm a Inglaterra no consentiria, em seu regime colonial, que nos Estados Unidos se fabricassem simples pregos. A abertura dos portos por D. Joo VI ao livre comrcio exterior, em 1808, praticamente paralisava as dbeis manufaturas brasileiras ante a competio de mercadoria estrangeira. Explicita-se, tambm, a inexistncia do carvo-depedra, fonte energtica fundamental da poca, e o difcil acesso s reservas de ferro, que permitiriam o desenvolvimento da siderurgia. Alm disso, o mercado consumidor, esparso ao longo de extenso litoral e pelo vasto interior e dadas s vias de comunicao extremamente precrias, no se mostrava favorvel ao desenvolvimento do comrcio interno. Somente a partir dos meados do sculo XIX, So Paulo iria, pouco a pouco, se afirmando como grande produtor de caf, graas grande disponibilidade de terras frteis e clima propcio, s ferrovias que se estendiam pelo interior do planalto e ao desenvolvimento de uma infra-estrutura slida, inclusive com a instalao da primeira usina eltrica, o que ocorreu em 1901. A poltica de favorecimento imigrao estrangeira iria trazer grande quantidade de mo-de-obra indispensvel expanso da cafeicultura. Somada ao grande nmero de imigrantes de outras reas do pas, aquela mo-de-obra representava um acrscimo constante no contingente de recursos humanos, fato que iria exercer fundamental papel no desenvolvimento econmico, no s por seu nmero, como tambm por sua melhor qualificao. de fundamental importncia observar a contribuio de pessoal imigrante melhor qualificado para suprir as necessidades iniciais de capacidade empresarial e tcnica, exigida pela produo de bens e servios, na fase incipiente do processo de substituio de importaes. Alm disso, o caf, graas elevada rentabilidade das exportaes e abundncia de terras novas e frteis, ensejava oportunidades a grande nmero de fazendeiros, sitiantes e assalariados. Isso no ocorria, de modo geral, com a cana-de-acar, pois o elevado investimento necessrio explorao aucareira deu origem a nmero relativamente pequeno de fazendeiros e usineiros. Vale ressaltar tambm que a cultura cafeeira, ao permitir o cultivo intercalar de cereais, favorecia, grandemente, a produo subsidiria de alimentos a baixo preo, ao contrrio do que ocorria com a cana-de-acar ou algodo.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsEsse elevado nmero de pessoas envolvidas direta ou indiretamente no prspero setor cafeeiro exigia crescente quantidade de bens de consumo, o que propiciou um florescente e variado comrcio de mercadorias, que a indstria local ia aos poucos produzindo, em substituio aos produtos estrangeiros, at, h pouco tempo, eram os nicos disponveis. Os dficits contnuos de nosso comrcio exterior at meados do sculo XIX, provenientes da incapacidade das exploraes fornecem recursos para cobrir as crescentes necessidades de importao, resultam em constante desvalorizao cambial, provocando o encarecimento das mercadorias de importao, o que constituir, por sua vez, um dos estmulos produo interna. As tarifas alfandegrias, progressivamente elevadas a partir de 1844, constituram tambm outra fonte de incentivos produo nacional, a despeito das presses dos consumidores, que preferiam, naturalmente, importar bens de consumo a baixos preos. A poltica de proteo a indstria nacional iria mostrar-se intensa nas dcadas mais recentes, culminando com os controles estritos observados a partir das dcadas de 60 e 70. A produo industrial evoluiu, lentamente, a partir de 200 estabelecimentos, em 1881, para 600, em 1889, no ltimo ano da monarquia, sendo o capital distribudo entre a indstria txtil (60%), de alimentao (15%), indstria qumica (10%) e o restante na de madeira, vesturio, objetos de toucador e manteiga. Em 1907, primeiro censo geral das indstrias computou 3.258 estabelecimentos, em que 26,7% representavam a produo de alimentos, e 20,6%, a de txtil. A Guerra de 1914 veio impulsionar, grandemente a produo industrial, evoluindo para 13.336 o nmero de estabelecimentos em 1920. De modo geral, os fatores descritos, favorveis industrializao, tm seus efeitos acentuados, visto que se desenvolveu slida infra-estrutura nas regies mais prsperas, concentrando-se a populao em ritmo mais acelerado nos centros urbanos industriais e, assim, demandando mais servios e bens de consumo, que iam, paulatinamente, tendo sua produo nacionalizada. No se pode deixar de assinalar a contribuio indireta dos conflitos na Europa, os quais dificultavam as importaes. Em 1920, predominava a indstria de alimentao, que passa a representar 40,2% da produo, graas, especialmente, ao aparecimento das indstrias de frigorificao de carne bovina, instaladas por filiais de empresas estrangeiras, e a Segunda Grande Guerra, que iria ensejar a expanso ainda maior da indstria brasileira, multiplicandose as grandes empresas nacionais e as filiais das grandes empresas estrangeiras. A partir da, o governo tomou posio em favor da poltica de substituio de importaes. 8. Avanos recentes do agronegcio brasileiro Quando se debate a poltica regional, depreende-se que a preocupao com este tema engloba no s pases ou regies subdesenvolvidas, mas so enfatizados aspectos como a globalizao, construo de novos paradigmas tcnicoeconmicos, reestruturao produtiva, eficincia e eficcia das instituies e instrumentos existentes para sua implementao, alm da necessidade de insero no mbito de polticas de carter geral e especifico. Como se pde ser depreendido das notas anteriores referentes ao processo de formao do complexo agroindustrial brasileiro, o desdobramento da produo, exportao, polticas do imprio e da repblica produziu uma estrutura social, econmica e poltica que reduziu por diversas dcadas num regime de concentrao de renda e terra que at hoje se fazem notar. As polticas regionais dos dias de hoje, ao inserirem-se no contexto da economia globalizada, visam equacionar e solucionar problemas de natureza estrutural nos diversos setores. O Brasil tem se destacado pela criao de instituies especificamente voltadas para reduzir as disparidades regionais. Dentre essas iniciativas, mencionam-se os empreendimentos no campo de potencialidades, criao de empregos e aumento de produtividade, com repercusses marcantes. Na dcada de 70, a questo da concentrao industrial no eixo Rio/So Paulo foi tambm objeto de aes governamentais, quando foram feitos investimentos nos sistemas de transporte, energia e telecomunicaes, que trouxeram benefcios e criou oportunidades industriais nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Alm disso, foram criados incentivos fiscais para SUDENE, SUDAM e SUFRAMA, que contriburam, substancialmente, para o processo de desconcentrao espacial das atividades produtivas do pas. Entretanto, se no perodo dos anos 50 e fins da dcada de 70 o Estado foi prdigo na concentrao de benefcios/iseno fiscais e realizaes de investimentos diretos que favoreceram o crescimento daquelas regies, o mesmo no se pode dizer do perodo subseqente a 1979, quando o planejamento regional deixou de ser prioridade nacional, em face do quadro de instabilidade macroeconmica do pas. A crise fiscal e financeira, ao impossibilitar a implantao de polticas regionais por mais de 20 anos, contribuiu, grandemente, para a manuteno dos ndices de disparidade regionais preexistentes (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTFICO E TECNOLGICO CNPq, 1998). Entretanto esse processo de descontrao

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsespacial da atividade econmica do pas, a partir da segunda metade dos anos 70 at a primeira metade da dcada seguinte, tem sido um tema que tem exercido bastante atrao sobre os estudiosos em economia regional. Na verdade, de meados do sculo passado at a atualidade, muito se fez para o crescimento do agronegcio brasileiro. O governo priorizou a agricultura de exportao, nos moldes que sempre foi feito neste pas; foram criadas linhas de financiamentos a juros subsidiados e programas de incentivos a produtos estratgicos; e o aparato de pesquisa e extenso rural foi modernizado, ampliado e prestigiado. Assim, novos produtos passaram a ocupar papel importante em nossa pauta de exportao, dentre os quais a soja, a laranja, o cacau, a celulose, as carnes em geral, dentre outras. Nas ltimas dcadas do sculo passado, entretanto, o comrcio agrcola mundial passa por um crescimento da produo superior ao consumo, fato que gerou acumulao de estoque e, conseqentemente, persistente baixa dos preos internacionais. A poltica macroeconmica do pas, caracterizadas por altas taxas de juros e progressivas redues dos financiamentos oficiais, aliada a uma poltica comercial que taxava explicita e implicitamente as exportaes, e uma poltica cambial que no compensava as elevadas taxas de inflao foram os viles que redirecionaram a agricultura brasileira para um novo padro de crescimento. O que se observa no perodo recente da nossa histria do agronegcio, uma reduo generalizada de crescimento das exportaes, especialmente no que se refere aos produtos tradicionais. Esses produtos tradicionais perderam espao no mercado internacional, embora no passado tenham ocupado posies confortveis, como o caso do algodo bruto, cacau cru, caf em gro e acar bruto, que, agregadamente, em 1980, representaram 50% da participao nas exportaes agroindustriais brasileiras, passando para, aproximadamente, 17%, em 1995. Alm de se perseguir uma busca de competitividade do mercado internacional, o agronegcio brasileiro avanou, profundamente, para satisfazer s demandas de consumo domstico. necessrio compreender que o mercado brasileiro possui um potencial muito grande, que, com aumento e distribuio da renda, passar a demandar produtos com mais agregao de servios, que j sentida nos mercados internacionais e, de certa forma, j internalizada pelo empresariado brasileiro. Esta situao de muita contemporaneidade e razo de se estudar e pesquisar o agronegcio brasileiro. Agora a sua vez! Responda as questes abaixo e pesquise nos livros da biblioteca ou na internet. Procure o professor para tirar suas dvidas. Boa Sorte! QUESTIONRIO 1- O que voc entende por excedente? Discuta a relao desse conceito com a forma de produzir do incio das civilizaes e ao longo da histria da agricultura. 2- Indique e comente brevemente as principais etapas do desenvolvimento histrico da agricultura brasileira. Tpico: Agronegcios: conceitos e dimenses AGRONEGCIO Conhecendo o processo de evoluo da agricultura brasileira, este dinmico setor da economia, que, em 2004, foi responsvel por um PIB em torno de R$ 524,46 bilhes (praticamente 1/3 do nacional), exportaes da ordem de US$ 36,038 bilhes (cerca de 35% das vendas externas), que resultaram em um saldo comercial de US$ 31,578 bilhes e responde por, aproximadamente, 37% dos postos de trabalho, podemos entender a necessidade de se estabelecer um conceito mais amplo para agricultura, mediante o uso do termo agronegcio. O termo agronegcio decorre do vocbulo agribusiness, idealizado por dois norte-americanos, John Davis e Ray Goldberg, professores da Universidade de Harvard, que, em 1957, assim o definiram: (...) o conjunto de todas as operaes e transaes envolvidas desde a fabricao dos insumos agropecurios, das operaes de produo nas unidades agropecurias, at o processamento, distribuio e consumo dos produtos agropecurios in natura ou industrializados... Assim, a agricultura assume a dimenso de agronegcio, onde esto contidos, no s os setores intrinsecamente ligados produo primria e industrial, mas, tambm, os segmentos de servios (financeiros, logstica,

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsclassificao, marketing, pesquisa, extenso rural, defesa agropecuria), pblicos ou privados. SEGMENTOS DO AGRONEGCIO BRASILEIRO Indstria de insumos 1. Gentica animal e vegetal mais alta relao produtividade / custo viabiliza outras tecnologias animal - busca produtividade - atender nichos de mercado (ex.: chester da perdigo) - setores mais avanados: avicultura e suinocultura - empresas: Ross Breeders/agroceres (aves); PIC/agroceres (suinos) vegetais - milho hbrido no BR, 1947 - questo dos "trangnicos" - empresas: Monsanto, AgrEvo (Hoescht+Schering), DuPont, Novartis - associao: Abrasem (Ass. Bras. dos Produtores de Sementes) Fertilizantes e calcrios PNFCA (Programa Nacional de Fertilizantes e Calcrios Agrcolas), 1974 Efeitos reduo do crdito rural Empresas: Manah, Serrana; Solorrico, Fertibras; Heringer, Copas Associao: Anda (Ass. Nacion. de Difuso de Adubos) Faturamento: 2,5 bi R$ Calcrio: 266 unidades Faturamentos: 0,178 bi R$ Mquinas e equipamentos dcada de 60s programa de substituio de importao incentivo atravs do crdito rural superestimao do mercado 1979 capacidade instalada: 110 mil tratores / ano vendas: - 70s: 50 mil/ano - 80s: 40 mil/ano - 90s: 25 mil/ano Frota atual sucateada

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Finame rural: novo incentivo Programa de Sustentao do Investimento financia a aquisio de mquinas e equipamentos novos, includos tratores, colheitadeiras e implementos agrcolas de forma isolada.Empresas: Valtra Valmet, John Deere, Case IH, New Holland, AGCO (Massey), Ursus Equipamentos: - Tipos: tratores leves, arados, semeadeiras, pulverizadores, distribuidores de adubo, forrageiras, irrigao. - Empresas: Marchezan, Jacto, Nogueira, Carborundun Plantio direto Agricultura de preciso

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Defensivos: animal e vegetal evita queda na produtividade animal - produtos: antiparasitrios, suplementos nutricionais, biolgicos - empresas: Tortuga (16% mercado), Merial (14), Pfizer (11), FordDodge (7) , Coopers (6), Bayer (6) - faturamento: 0,8 bi - setores: bovinos (56% faturamento), aves (19), suinos (10), pequenos (6), equinos (4), ovinos (3) vegetal - questo ambiental - empresas: Novartis (10,3%), DuPont (8,2), Zneca (7,7), Cyanamid (7), Monsanto (6,5) - faturamento 2,2 bi - associao: Andef (Ass. Nac. de Defensivos Agrcolas) Raes e suprimentos 70s crdito para instalao de fbricas avicultura: 70% do consumo - Integrao - Tendncia de crescimento do consumo Bovinocultura - Empresas: Purina, Guabi, Anhanguera, Effem, Cargil. Mercado Pet - Promissor - Ces: 23 milhes / 0,7 bi - Gatos: 10 milhes / 0,1 bi Associao: Anfar (Associao Nacional de Fabricantes de Rao) 6.Servios assistncia tcnica imprensa informtica Empresas Rurais Indstria de Processamento a) armazenamento estacionalidade da produo perecibilidade dos produtos capacidade (gros): 88 milhes de ton. Em 14,5 mil ud. (1998) frigorificao refrigerao congelamento associao: Abiaf: (Associao da Indstria de Armazenagem a Frio)

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b) Transportemodais: rodovirio, ferrovirio, aquavirio (cabotagem entre portos do mesmo pas sem perder de vista a costa e hidrovirio), areo e dutovirio BR: priorizao do sistema rodovirio precariedade das estradas BR x EUA (soja)

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins- hidrovirio: 5% x 61% - ferrovirio: 28% x 23% - rodovirio: 67% x 16%

c) Transformao crescimento do faturamento: 1978 25,6 bi, 1998 70 bi 70 bi = 60 bi (alimentos) + 10 bi (bebidas) elevado nmero de fuses e compras entrada de empresas estrangeiras empresas: Sadia, Perdigo, Nestl, Parmalat, Fleischman Royal, ADM (Archer Daniel Midland), Refinaes de Milho Brasil, Brahma, Ceval

d) Embalagem faturamento: 12 bi (65% produtos alimentcios) fatores: engenharia, logstica e marketing Distribuio orientao para marketing diferenciao de produtos 1. atacado - perda de espao em muitos segmentos. 2. varejo - tipos: loja de convenincias, loja de sortimentos, supermercado convencional, supermercado compacto, superloja, hipermercado, supercenter - aumento do processo de fuso e aquisies = concentrao do mercado - crescimento: 3 a 5% a.a. - faturamento: 55 bi - empresas: carrefour (6,9 bi), Po de Aucar (5,2), Bom Preo (2,4), Sendas (1,8), Sonae (1), Paes Mendona (0,88) Consumidor necessidades, desejos, demandas, produtos, troca, transaes comportamento do consumidor (aspectos) - culturais, social, pessoal, psicolgico deciso de compra no pto. de venda: BR 85%, EUA 75% tempo nas lojas: BR: 77 min. EUA 54, FR 53, UK 48, NL 23 70% deciso nas mos femininas CORRENTES METODOLGICAS PARA O ESTUDO DO AGRONEGCIO A primeira corrente metodolgica de estudo do agronegcio teve origem nos Estados Unidos, mais precisamente na Universidade de Harvard, atravs dos trabalhos de Davis e Goldberg. Coube a esses dois pesquisadores a criao do conceito de agronegcios como uma atividade diferenciada, com conceitos e caractersticas prprias. Todo o trabalho de Davis e Goldberg est centrado na noo de viso sistmica que vai desde o produtor rural at chegar distribuio de produtos acabados. importante destacar que o conceito de agribusiness traz consigo uma importante caracterstica: a de considerar a atividade rural como de carter residual e, principalmente, de considerar o papel da indstria. Vrias atividades vo sendo transferidas para "fora da porteira" da fazenda. Segundo Graziano da Silva (1996), da primeira definio de agribusiness derivaram-se vrias outras para explicar sempre o mesmo fenmeno observado j na economia norte-americana: a crescente inter-relao setorial entre agricultura, indstria e servios. O fazendeiro moderno, diziam Davis e Goldberg em 1957, um especialista que teve suas operaes reduzidas a cultivar plantas e

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinscriar animais. As demais atividades tm sido transferidas em larga medida para fora da porteira da fazenda. A economia do agribusiness rene hoje essencialmente as funes que eram devotadas ao termo agricultura h 150 anos. Pode-se dizer que existem basicamente duas grandes correntes metodolgicas mundiais que marcaram o incio das preocupaes com o estudo agroindustrial, mais precisamente com a coordenao do agribusiness: a Commodity System Approach e a Anlise de Filire.

- Commodity System Approach A base terica do Commodity System Approach (CSA) derivada da economia industrial. Em 1968, Davis e Goldberg estudaram os sistemas de produo da laranja, trigo e soja na Flrida, atravs da metodologia de estudos de casos. Tal enfoque deu base introduo da questo de dependncia intersetorial. A metodologia serviu para promover uma viso sistmica do agribusiness norte-americano, sendo muito bem aceita devido exatido das previses feitas nos estudos de caso, atravs do paradigma clssico estrutura-conduta-desempenho, em especial o CSA, pois serviu para mostrar o quanto o agribusiness contribui para a formao do produto nacional.

Figura 1. Paradigma estrutura-conduta-desempenho da Economia Industrial Assim, Goldberg (1968), citado por Batalha (2001) e Zylberstajn (2000), define Commodity System Approach (CSA) como: Um sistema de commodities que engloba todos os atores envolvidos com a produo, processamento e distribuio de um produto. Tal sistema inclui o mercado de insumos agrcolas, a produo, operaes de estocagem, processamento, atacado e varejo, demarcando um fluxo que vai dos insumos at o consumidor final. O conceito engloba tambm todas as instituies que afetam a coordenao dos estgios sucessivos do fluxo de produtos, tais como as instituies governamentais, mercados futuros e associaes de comrcio. A abordagem proposta por Goldberg baseada em um produto, em um determinado local geogrfico bem definido, como o caso da laranja na Flrida. Ele ainda ressalta as caractersticas diferentes entre os sistemas do agribusiness e outros sistemas industriais. Outra grande contribuio de Goldberg a utilizao de um enfoque sistmico ao agribusiness. O carter dinmico do CSA dado pelas mudanas tecnolgicas que ocorrem ao longo do tempo. Os estudos obedecem a seqncia das transformaes pelas quais passam os produtos at chegarem ao consumidor final, reforando a lgica de encadeamento de atividades e seu carter sistmico, tendo, porm, como ponto de partida a matria-prima. - Anlise de Filires (ou Cadeias de Produo) Paralelamente metodologia de Harvard, surge na Escola Francesa de Economia Industrial, o conceito de Filire. Segundo Morvan (apud Zylbersztajn, 1995), cadeia (filire) uma seqncia de operaes que conduzem produo de bens. Sua articulao amplamente influenciada pela fronteira de possibilidades ditadas pela tecnologia e definida pelas estratgias dos agentes que buscam a maximizao dos seus lucros. As relaes entre os agentes so de interdependncia ou complementariedade, sendo determinadas por foras hierrquicas. Em diferentes nveis de anlise a cadeia um sistema, mais ou menos capaz de assegurar sua prpria transformao. Embora o conceito de filire no tenha sido desenvolvido especificamente para estudar a problemtica agroindustrial, foi entre os economistas agrcolas e pesquisadores ligados aos setores rural e agroindustrial que ele encontrou seus defensores. Com o sacrifcio de algumas nuances semntica, a palavra filire ser traduzida para o portugus pela expresso cadeia de produo e, no caso do setor agroindustrial, cadeia de produo agroindustrial ou simplesmente cadeia agroindustrial (CPA). Podemos enumerar trs sries de elementos que estariam implicitamente ligados a uma viso em termos de cadeia de produo: 1. a cadeia de produo uma sucesso de operaes de transformao dissociveis, capazes de ser separadas e ligadas

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsentre si por um encadeamento tcnico; 2. a cadeia de produo tambm um conjunto de relaes comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformao, um fluxo de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes; 3. a cadeia de produo um conjunto de aes econmicas que presidem a valorao dos meios de produo e asseguram a articulao das operaes.

Figura 2. Fluxos em uma cadeia de produo A anlise de Filire e a Commodity System Approach guardam muitas semelhanas entre si, principalmente em relao ao papel da tecnologia e ao tratamento sistmico da cadeia. Porm, a anlise de Filire utiliza-se de um ponto de partida diferente daquele utilizado pelo CSA. Enquanto a anlise de Filire parte de um produto final nico e especfico no final da cadeia, o CSA tem como ponto de partida o estudo de um produto no incio da cadeia, ou seja, a partir do produtor rural. De maneira geral, uma cadeia de produo agroindustrial pode ser segmentada de antes da porteira (insumos) at depois da porteira (comercializao), em trs macrosegmentos: a) Comercializao representa as empresas que esto em contato com o cliente final da cadeia de produo e que viabilizam o consumo e o comrcio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas, etc.). Podem ser includas neste macrossegmento as empresas responsveis somente pela logstica de distribuio. b) Industrializao representa as firmas responsveis pela transformao das matrias-primas em produtos finais destinados ao consumidor. O consumidor pode ser uma unidade familiar ou outra agroindstria. c) Produo de matrias-primas rene as firmas que fornecem as matrias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produo do produto final (agricultura, pecuria, pesca, piscicultura, etc.). A lgica de encadeamento das operaes como forma de definir a estrutura de uma CPA, deve situar-se sempre de jusante a montante, ou seja, do fim da cadeia para o comeo da cadeia. Esta lgica assume implicitamente que as condicionantes impostas pelo consumidor final so os principais indutores de mudanas no status quo do sistema. Evidentemente, esta uma viso simplificadora e de carter geral, visto que as unidades produtivas do sistema tambm so responsveis, por exemplo, pela introduo de inovaes tecnolgicas que eventualmente aportam mudanas considerveis na dinmica de funcionamento das cadeias agroindustriais. No entanto, estas mudanas somente so sustentveis quando reconhecidas pelo consumidor como portadoras de alguma diferenciao em relao situao de equilbrio anterior. DEFINIES IMPORTANTES Voc tem de saber diferenciar: complexo agroindustrial, sistema agroindustrial e cadeia agroindustrial. Para tanto, as definies encontram-se abaixo: *Sistema agroindustrial corresponde a um conjunto de atividades que concorrem para a produo de produtos agroindustriais, desde a produo de insumos at a chegada do produto final ao consumidor. Ele no est associado, portanto, a nenhuma matria-prima agropecuria ou produto final especfico. *Complexo agroindustrial tem como ponto de partida determinada matria-prima de base. Portanto, o sistema agroindustrial formado por vrios complexos agroindustriais (complexo soja, complexo sucroalcooleiro, etc.). Em conseqncia, so estudados os diferentes processos industriais e comerciais que essa matriaprima pode sofrer at se transformar em diferentes produtos finais. *Cadeia de produo a cadeia de produo definida a partir de um determinado produto final. Aps essa identificao, devem-se ir encadeando, de jusante e montante, as vrias operaes comerciais e logsticas, necessrias

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinssua produo (exemplo, dentro do complexo sucro-alcoleiro duas cadeias podero ser facilmente estudadas: a de produo de acar e a de produo de lcool). A formao de um complexo agroindustrial exige a participao de um conjunto de cadeias de produo, cada uma delas associada a um produto ou a uma famlia de produtos.

Vamos l! Responda as questes propostas e tire suas dvidas com o professor. Lembre-se de estudar sempre e manter a matria em dia. QUESTIONRIO 1- Explique os conceitos abaixo: - agribusiness - Complexo agroindustrial - Cadeia de produo agroindustrial 2- Considerando que os sistemas agroindustriais (agricultura, pecuria, agroindstria e as instituies) cumprem importantes funes no processo de desenvolvimento econmico nacional: (Pesquise na internet ou na biblioteca e anexe o documento Xerox ou impresso ao seu trabalho) a) Escolha um produto agropecurio que contribui para a exportao brasileira: - In natura - Alimento pronto para consumo b) Explique as principais contribuies desempenhadas por cada produto agropecurio escolhido. Tpico: Sistemas Agroindustriais O Sistema Agroindustrial (SAI) pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a produo de produtos agroindustriais, desde a produo de insumos (sementes, adubos, mquinas agrcolas, etc.) at a chegada do produto final (queijo, biscoito, massas, etc.) ao consumidor. Ele no est associado a nenhuma matria-prima agropecuria ou produto final especfico. O SAI pode ser visto como sendo composto por seis conjuntos de atores (Figura 1): 1.agricultura, pecuria e pesca; 2.indstrias agroalimentares; 3.distribuio agrcola e alimentar; 4.comrcio internacional; 5.consumidor; 6.indstrias e servios de apoio (transportes, combustveis, indstria qumica, indstria mecnica, embalagens, etc.).

Figura 1.Organizao do Sistema Agroindustrial Conforme citado anteriormente, o Sistema Agroindustrial pode ser dividido nos seguintes elementos que so visualizados na Figura 2.

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Figura 2. Elementos que fazem parte o Sistema Agroindustrial Especificidade da produo agropecuria Para alcanar os objetivos, necessrio o correto gerenciamento de processos e especificidades dos sistemas agroindustriais de produo. Podemos citar como especificidades: * Sazonalidade da produo A produo agropecuria dependente das condies climticas de cada regio, apresentando perodos de safra e de entressafra, ou seja, perodos de abundncia de produtos alternados com perodos de falta de produo, salvo raras excees. Com isso surgem algumas implicaes: -variaes de preos: mais elevados na entressafra e mais baixos nos perodos de safra; -necessidade de infra-estrutura de estocagem e conservao; -perodos de maior utilizao de insumos e fatores de produo; -caractersticas prprias de processamento e transformao das matrias-primas; -logstica mais exigente e mais bem definida. * Sazonalidade do consumo A grosso modo, no h grande variao ao longo do ano nas quantidades procuradas de produtos agropecurios pelos consumidores, que permanecem mais ou menos constantes. No entanto, algumas demandas aumentam em datas especficas (pscoa ou rveillon) ou de acordo com variaes climticas nas estaes do ano (alternncia de perodos de seca ou chuva). O impacto dessas variaes de demanda compromete diretamente o planejamento e o controle da produo, afetando o abastecimento dos produtos para o varejo e o atacado. * Variaes de qualidade do produto agropecurio A qualidade do produto final se encontra intimamente ligada a sua matria-prima, proveniente da empresa rural. Portanto, a qualidade do produto est sujeita s variaes climticas, tcnicas de cultivo, e aos manejos empregados. No desenvolvimento dos produtos na propriedade rural, a matria-prima proveniente do campo afeta positiva ou negativamente a qualidade dos produtos que sero manufaturados. Padres tecnolgicos cada vez mais rgidos devero ser adotados na propriedade rural, por meio de selos de garantia de qualidade e sistemas de rastreabilidade. * Influncia de fatores biolgicos: doenas e pragas Tanto no campo como aps a colheita, os produtos agropecurios esto sujeitos ao ataque de pragas e doenas que diminuem a quantidade produzida e a qualidade dos produtos, ou podem at mesmo levar perda total da produo. A ocorrncia de pragas ou doenas assume importncia com relao no somente s perdas diretas dos produtos nos locais onde so produzidos ou comercializados, mas tambm, possibilidade de levar as pragas ou as doenas para outros locais, onde podero provocar perdas. Da, a grande importncia dada atualmente s pragas e s doenas dos produtos agropecurios nas relaes comerciais entre regies e entre pases, chegando ao ponto de excluso comercial de pases onde elas ocorrem. A partir do momento em que as pragas ou doenas provocam danos econmicos, h a necessidade de combatlas, sob pena de perda da produo. Conseqentemente, o combate s mesmas implica o uso de insumos (inseticidas, fungicidas e outros), predominantemente qumicos, cuja aplicao resulta em: -elevao dos custos de produo e, conseqentemente, reduo dos lucros da atividade;

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins-riscos para os operadores e para o ambiente; -possibilidade de resduos txicos nos produtos, que sero levados at os consumidores. Obviamente, nenhuma regio ou pas tem interesse na entrada de pragas ou doenas originrias de outras regies. Portanto, surgem outras demandas como: -pesquisas especficas; -desenvolvimento e produo de produtos para control-las ou combat-las, e de mquinas, equipamentos e implementos apropriados; -servios especializados. * Perecibilidade rpida da matria-prima Mesmo aps a colheita, a atividade biolgica dos produtos agropecurios continua em ao. Com isso, a vida til desses produtos tende a ser diminuda de forma acelerada. Grandes partes dos produtos processados no podem ser estocados por prazos longos, devendo ser manufaturados rapidamente aps a colheita e distribudos ao mercado. O estoque desses produtos pode ser realizado, porm aumenta os custos de produo, podendo ser invivel essa prtica. Sem cuidados especficos, esses produtos, depois de colhidos, podem durar poucas horas, dias ou poucas semanas. *Perecibilidade dos bens especiais agroalimentares A maioria dos produtos processados apresenta alto grau de perecibilidade. Geralmente a qualidade desse tipo de produto encontra-se intimamente associada velocidade com a qual ele posto disposio do consumidor final. Nesses casos, questes ligadas logstica de distribuio assumem importncia vital para o sucesso do negcio. *Qualidade e vigilncia sanitria O consumidor final exige qualidade e quantidade dos alimentos que sejam seguros ao seu consumo. Essa posio faz com que os agentes que compem esse sistema agroalimentar sejam objetos de intensa vigilncia do ambiente institucional. Os mais diversos critrios relacionados segurana dos alimentos devem ser respeitados pelo produtor rural, por meio da adoo de padres de qualidade institucionais e/ou privados. No caso do processo de desenvolvimento de produto na propriedade rural, o produtor ter de atender legislao sanitria vigente, empregando ferramentas ligadas segurana do alimento como APPCC (Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle), BPF (Boas Prticas de Fabricao), BPH (Boas Prticas de Higiene) e sistemas de rastreabilidade. * Aspectos sociolgicos dos alimentos Est ligado noo de que ns somos o que comemos. uma linha de pesquisa que est sendo atualmente estudada e possui o objetivo de explicar as rpidas mudanas sociais e culturais que vem atravessando a sociedade, e a qual ponto influencia de maneira incisiva a produo dos alimentos. Devido a essas especificidades, o agronegcio passa a envolver outros segmentos da economia, tornando-se muito mais complexo que a produo agropecuria propriamente dita e passando a necessitar de uma compreenso muito mais ampla, envolvendo desde o desenvolvimento de tecnologia, colheita cuidadosa, classificao e tratamento dos produtos, estruturas apropriadas para armazenagem e conservao, embalagens mais adequadas, logstica especfica para distribuio, etc. Tpico: Viso sistmica do Agronegcio A compreenso do agronegcio, em todos os seus componentes e inter-relaes, uma ferramenta indispensvel a todos os tomadores de deciso, sejam autoridades pblicas ou agentes econmicos privados, para que formulem polticas e estratgias com maior previso e mxima eficincia. Por isso, fundamental compreender o agronegcio dentro de uma viso de sistemas que engloba os setores denominados antes da porteira, durante a porteira e aps a porteira, ou ainda, significando a mesma a montante da produo agropecuria, produo agropecuria propriamente dita e a jusante da produo agropecuria. Os setores antes da porteira ou a montante da produo agropecuria so compostos basicamente pelos fornecedores de insumos e servios, mquinas, implementos, defensivos, fertilizantes, corretivos, sementes, tecnologia, financiamento. Dentro da porteira ou produo agropecuria o conjunto de atividades desenvolvidas dentro das unidades produtivas agropecurias que envolvem o preparo e manejo solos, tratos culturais, irrigao, colheita, criaes e outras. Aps a porteira ou a jusante da produo agropecuria refere-se a atividades de armazenamento, beneficiamento, industrializao, embalagens, distribuio, consumo de produtos alimentares, fibras e produtos energticos provenientes da biomassa. Visto assim, o agronegcio envolve as funes seguintes: - Suprimentos produo agropecuria;

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins- Produo agropecuria propriamente dita; - Transformao; - Acondicionamento; - Armazenamento; - Distribuio; - Consumo; - Servios complementares (publicidade, bolsas de mercadorias, polticas, etc). Commodity System Approach todos os participantes envolvidos na produo, processamento e marketing de um produto especfico. Inclui o suprimento das fazendas, as fazendas, operaes de estocagens, processamento, atacado e varejo envolvidos em um fluxo desde a produo de insumos at o consumidor final. Inclui as instituies que afetam e coordenam os estgios sucessivos do fluxo do produto, tais como governo, associaes e mercados futuros. A concepo de sistemas agroindustriais foi evoluindo. Em 1991, Shelman props um fluxograma (Figura 1), objetivando melhor visualizar o assunto. Mais recentemente, em 1993, a Associao Brasileira da Indstria da Alimentao (ABIA, 1993) j concebe diferenas entre Sistema Agroalimentar (SAA) e Sistema Agroindustrial No Alimentar, concebendo-os da maneira seguinte: - Sistema Agroalimentar o conjunto das atividades que concorrem formao e distribuio dos produtos alimentares e, em conseqncia, o cumprimento da funo alimentao. - Sistema Agroindustrial No Alimentar o conjunto das atividades que concorrem obteno de produtos oriundos da agropecuria, florestas e pesca, no destinados alimentao, mas aos sistemas energticos madeireiro, couro, calados, papel, papelo e txtil.

Figura 1: Esquematizao de um sistema agroindustrial. Fonte: Adaptado de Shelman (1991). Logo, podemos distinguir os seguintes agentes: -Fornecedores de insumos referem-se s empresas que tm por finalidade ofertar produtos tais como: sementes, calcrio, adubos, herbicidas, fungicidas, mquinas, implementos agrcolas e tecnologias. -Agricultores so os agentes cuja funo proceder ao uso da terra para produo de commodities tipo: madeira, cereais e oleaginosas. Estas produes so realizadas em sistemas produtivos tipo fazendas, stios ou granjas. -Processadores so agroindstrias que podem pr-beneficiar, beneficiar ou transformar os produtos in natura. Exemplos:

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martins=pr-beneficiamento so as agroindstrias encarregadas da limpeza, secagem e armazenagem de gros. =beneficiamento so as agroindstrias que padronizam e empacotam produtos como: arroz, amendoim, feijo e milho de pipoca. =transformao so as agroindstrias que processam uma determinada matria-prima e a transforma em produto acabado, tipo: leo de soja, cereal matinal, polvilho, farinhas, lcool e acar. -Comerciantes so os atacadistas os grandes distribuidores que possuem por funo abastecer redes de supermercados, postos de vendas e mercados exteriores. Os varejistas constituem os pontos cuja funo comercializar os produtos junto aos consumidores finais. - Mercado consumidor o ponto final da comercializao constitudo por grupos de consumidores. Este mercado pode ser domstico, se localizado no pas, ou externo quando em outras naes. Vantagens da viso sistmica A compreenso do agronegcio como sistema apresenta as seguintes vantagens: Compreenso melhor do funcionamento da atividade agropecuria; Aplicao imediata para formulao de estratgias corporativas, vez que a operacionalizao simples e pode resultar em utilizao imediata pelas corporaes e governos; Preciso com que as tendncias so antecipadas; Importncia significativa e crescente do agronegcio, enquanto h declnio da participao relativa do produto agrcola comparado ao produto total (Tabela 1). Tabela 1. Dimenses do agronegcio e participao de cada setor.

Fonte: Ray Goldberg, 1996. Assim, vale repetir a afirmao feita por Rufino (1999): Esta viso sistmica do negcio agrcola e seu conseqente tratamento como conjunto potencializa grandes benefcios para um desenvolvimento mais intenso e harmnico da sociedade brasileira. Para tanto, existem problemas e desafios a vencer. Dentre estes, destaca-se o conhecimento das inter-relaes das cadeias produtivas para que sejam indicados os requisitos para melhorar sua competitividade, sustentabilidade e eqidade. VAMOS TRABALHAR! RESPONDA AS QUESTES PROPOSTAS. 1.O que um sistema agroindustrial? 2.Quais so os atores do sistema agroindustrial? Faa um esquema, interligando cada ator do sistema. Abaixo, explique as interligaes realizadas. 3.Quais as vantagens de se ter uma viso sistmica do agronegcio? Explique. Tpico: Complexo Agroindustrial O Complexo Agroindustrial tem como ponto de partida a matria-prima de base. Desta forma, poder-se-ia, por exemplo, fazer aluso ao complexo soja, complexo cana-de-acar, complexo caf, etc. A arquitetura deste complexo agroindustrial seria ditada pela exploso da matria-prima principal que o originou, segundo os diferentes processos

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsindustriais e comerciais que ela pode sofrer at se transformar em diferentes produtos finais. Assim, a formao de um complexo agroindustrial exige a participao de um conjunto de cadeias de produo, cada uma delas associada a um produto ou famlia de produtos. Portanto, o sistema agroindustrial formado por vrios complexos agroindustriais (complexo soja, complexo sucro-alcooleiro, etc.). Em conseqncia, so estudados os diferentes processos industriais e comerciais que essa matria-prima pode sofrer at se transformar em diferentes produtos finais. Abaixo, mostramos, atravs de fluxogramas, os diferentes processos industriais por que passa a matria-prima cana-de-acar para obteno de diferentes produtos (Figura 1).

Figura 1. Processos industriais da cana-de-acar Tpico: Cadeias produtivas e cadeias de valor Na dcada de 1960, surge na Frana, mais precisamente na Escola Francesa de Organizao Industrial, o conceito de filire (filire = cadeia) aplicado ao agronegcio. Como uma caracterstica de escola voltada para processos industriais, a concepo francesa embute muitos princpios de processos, de interdependncia e de mtodos. Em 1985, Morvan define filire como: uma seqncia de operaes que conduzem produo de bens, cuja articulao amplamente influenciada pelas possibilidades tecnolgicas e definida pelas estratgias dos agentes. Estes possuem relaes interdependentes e complementares, determinados pelas foras hierrquicas Ou ainda, segundo Montigaud: filires so sucesses de atividades ligadas verticalmente, necessrias produo de um ou mais produtos correlacionados.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsPortanto, cadeia produtiva uma expresso que no possui um nico conceito capaz de abranger todos os aspectos relacionados s suas principais caractersticas. De acordo com alguns pesquisadores, as cadeias de produo podem ser representadas a partir de trs perspectivas alternativas: Cadeia de operaes uma sucesso de operaes de processamento e transformao plenamente identificveis isoladamente, mas encadeadas a partir de aspectos tcnicos; Cadeia de comrcio um conjunto de atividades comerciais e financeiras estabelecidas ao longo de todas as etapas que um produto percorre, desde o fornecedor de insumos at a venda do produto final aos clientes; Cadeia de valor um arranjo de atividades econmicas nas quais o valor dos meios de produo pode ser efetivamente mensurado e registrado. Independente do enfoque escolhido, uma cadeia de produo representa uma seqncia de atividades necessrias para a transformao de um insumo bsico em um produto final destinado aos consumidores. Ou seja, podemos dizer que uma cadeia de produo agroindustrial pode ser segmentada, a jusante e a montante, em trs macros segmentos: comercializao, industrializao e produo de matrias-primas (Figura 1).

Figura 1. Cadeias de produo

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsA anlise da cadeia produtiva de cada produto agropecurio permite visualizar as aes e inter-relaes entre todos os agentes que a compem e dela participam. Assim mais fcil: Efetuar descrio de toda a cadeia da produo; Reconhecer o papel da tecnologia na estruturao da cadeia produtiva; Organizar estudos de integrao; Analisar as polticas voltadas para todo o agronegcio; Compreender a matriz de insumo-produto para cada produto agropecurio; Analisar as estratgias das firmas e das associaes. As principais caractersticas de cadeias produtivas so as seguintes: Refere-se a conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vo sendo transformados e transferidos os diversos insumos, em ciclos de produo, distribuio e comercializao de bens e servios. Implica em diviso de trabalho, no qual cada agente ou conjunto de agentes realiza etapas distintas do processo produtivo; No se restringe, necessariamente, a uma mesma regio ou localidade; No contempla necessariamente outros atores, alm das empresas, tais como instituies de ensino, pesquisa e desenvolvimento, apoio tcnico, financiamento, promoo, entre outros. As anlises efetuadas para cada produto dentro de uma viso de cadeia produtiva, como concebida, levam possibilidade de no incluir, nas inter-relaes, todos os segmentos econmicos, aps a produo. Como o prprio nome diz: cadeia produtiva. Ento, h necessidade de um conceito mais amplo, que englobe todos os segmentos at o produto chegar ao consumidor e que inclua as agregaes de valores, as fases de comercializao, a distribuio, etc. Da surgir, muito recentemente, a idia de cadeia de valor, como sendo um conceito mais abrangente, que inclua esses segmentos. O conceito de cadeia de valor abrange as atividades de agregao de valor desde a extrao da matria prima at o descarte do produto pelo consumidor final. Christopher (1999) afirma que a cadeia de valor representa todas as atividades que acontecem dentro da empresa com a finalidade de criar valor para os clientes. A noo espacial da cadeia de valor externa a empresa, sendo esta apenas uma parte do todo. Os resultados podem ser obtidos por meio da estreita relao entre os integrantes da cadeia, com a otimizao global dos custos e de desempenho, tornando-os mais significativos do que a soma dos possveis ganhos individuais de cada integrante, quando atuam separadamente. Nesse contexto, evidencia-se a necessidade de gerenciar a cadeia de valor com viso holstica e no apenas dentro dos limites de cada empresa. O gerenciamento da cadeia de valor reconhece que a integrao interna de uma empresa no suficiente, pois fazem parte do seu contexto as interaes da empresa com seus parceiros, concorrentes, fornecedores e clientes. Tpico: Clusters e Arranjos produtivos locais CLUSTERS Entre as diversas definies de cluster, a que mais se aproxima do sentido que aqui se quer entender a seguinte: um grupo econmico constitudo por empresas instaladas em determinada regio, lderes em seus ramos, apoiado por outras que fornecem produtos e servios, ambas sustentadas por organizaes que oferecem profissionais qualificados, tecnologias de ponta, recursos financeiros, ambiente propcio para negcios e infra-estrutura fsica. Todas estas organizaes interagem, ao proporcionarem umas s outras os produtos e servios de que necessitam, estabelecendo, deste modo, relaes que permitem produzir mais e melhor, a um custo menor. O processo torna as empresas mais competitivas. Os estudos dos agronegcios efetuados sob a ptica de sistemas agroindustriais, da escola de Harvard, ou de filire (cadeia), da escola francesa, visualizam o conjunto de participantes e de operaes para a produo, processamento e mercadologia de um produto especfico, incluindo as possibilidades tecnolgicas e as estratgias adotadas pelos agentes envolvidos. Porm, em ambas as concepes, no ficam claras as inter-relaes entre sistemas e

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda Martinsentre cadeias produtivas diferentes, mas complementares. Como por exemplo, em se estudando a cadeia produtiva do milho no fica clara as inter-relaes com o sistema agroindustrial da soja, da suinocultura, da avicultura, das indstrias de leo ou de amido ou de farinhas, nem delimitam espaos regionais especficos.

Figura 1. Integrao entre sistemas agroindustriais Cluster significa aglomerado e o estudo dos clusters agroindustriais procura mostrar as integraes e interrelaes entre sistemas (ou cadeias) do agronegcio, em um espao delimitado. Por exemplo, os sistemas agroindustriais da soja e do milho tm vinculaes diretas montante e jusante de outros sistemas agroindustriais. Ento, quando esses sistemas agroindustriais encontram-se integrados entre si, em determinada regio, possvel denomin-los como um cluster. Assim, ao analisar o agronegcio do milho e da soja, observa-se que a produo agrcola desses produtos est diretamente integrada e inter-relacionada a montante com a produo de insumos e prestao de servios e a jusante com as agroindstrias e com a produo animal (aves, sunos, bovinos e outros). Essas indstrias por sua vez produzem farelo, leo e outros derivados. Estes dois ltimos produtos destinam-se a outras agroindstrias ou seguem para a distribuio, que os destina ao mercado consumidor. O farelo obtido segue para fbricas de rao. Estas produziro os insumos bsicos para a produo animal, como aves, sunos, peixes, bovinos e outros. Por sua vez, os resduos gerados nas granjas de aves e de sunos tambm podero ser utilizados como insumos (alimentos) para bovinos e peixes ou como insumos (adubos) para a soja e o milho. Os animais obtidos so destinados aos frigorficos para abate, gerando carnes e processados e farinhas diversas (carne, ossos e sangue), que iro para as fbricas de rao, retornando ao ciclo produtivo dos sistemas agroindustriais. As carnes e processados seguem para os segmentos de distribuio, que os destinam ao mercado consumidor. Ento, quaisquer empreendimentos econmicos ou anlises em situaes semelhantes no podem restringir-se a determinado sistema agroindustrial isoladamente, porque existem interdependncias entre sistemas, dentro de determinados espaos. As vantagens dos clusters, em relao a sistema isolado, esto exatamente na integrao com outros sistemas, de modo que h possibilidade de sinergismos entre as diversas atividades, aproveitamento de produtos, subprodutos e resduos de um sistema para outro, bem como possibilidade de utilizao de estruturas fsicas para mltiplos sistemas, permitindo economias de escala, trocas de informaes, menor dependncia a segmentos externos, diminuio de custos, etc., enfim, como maior competitividade das empresas isoladamente e do conjunto.

CADEIA AGROINDUSTRIAL DE VEGETAISProf. Dra. Cristiane Miranda MartinsARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS Os arranjos produtivos locais (APLs) significam a maneira como todos os agentes de determinadas cadeias produtivas se organizam e se inter-relacionam, inclusive com outras cadeias produtivas, em determinado espao e territrio. Com objetivo de tornar o conceito mais abrangente, de modo a incluir todas as variveis, so considerados tambm os sistemas correlacionados, de modo que se deve tratar de uma abordagem no mais de APL, mas de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais (ASPLs). Esse tipo de abordagem para anlise regional tem sido utilizado mais recentemente, j no sculo XXI, sobretudo nos estudos para projetos de desenvolvimento regional. O resultado final uma rede de inter-relaes, envolvendo todos os segmentos direta ou indiretamente relacionados a determinado produto. Um APL deve ter a seguinte segmentao: 1. Ter um nmero significativo de empreendimentos no territrio e de indivduos que atuam em torno de uma atividade produtiva predominante, 2. Que compartilhem formas percebidas de cooperao e algum mecanismo de governana. Pode incluir pequena, mdias e grandes empresas. A viso APL e de ASPL resulta da necessidade de melhor entender e desenvolver determinada localidade e um aprofundamento da viso de clusters. Normalmente, quando se analisa uma cadeia produtiva, so enfatizadas somente as relaes e inter-relaes econmicas e tcnicas como os nicos elementos necessrios para a competitividade dos agentes envolvidos. No entanto, outros aspectos tm de ser considerados, como as relaes polticas e sociais e o espao onde elas se realizam, por isso a necessidade de constituio de APL, ou mais precisamente, de ASPL. Essa constituio permite efetiva implementao de polticas e de propostas de desenvolvimento, com a participao local de todos os agentes interessados, como empresrios, trabalhadores, polticos, instituies prestadoras de servios e entidades representativas, de modo a buscar as solues mais viveis. A evoluo de um APL segue aproximadamente um padro, que pode ser dividido em quatro fases: embrionria no h ainda uma atrao de firmas correlatas e a cooperao baseada, principalmente, em relaes familiares; crescimento do mercado iniciam-se inovaes para consolidar economias de escala e h uma preocupao maior com qualidade, com a competio se concentrando nos preos; maturidade a competio acirra-se em torno de qualidade, flexibilidade, design ou marca e a cooperao aparece entre os diversos segmentos da cadeia de valor, tanto a jusante como entre as firmas em um mesmo nvel, e as economias de escala no tm mais papel de destaque; ps-maturidade a proximidade geog