Apostila de Eletromagnetismo - Versão 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA Eletromagnetismo Alex Reis Ivan Nunes Santos Uberlândia 2013

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Eletromagnetismo

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA ELTRICA

    Eletromagnetismo

    Alex Reis

    Ivan Nunes Santos

    Uberlndia

    2013

  • Universidade Federal de Uberlndia

    Faculdade de Engenharia Eltrica

    Eletromagnetismo

    Prof. Ivan Nunes Santos

    2

    SUMRIO GERAL

    Captulo Contedo Pgina

    1 Anlise Vetorial 03

    2 Lei de Coulomb e Intensidade de Campo Eltrico 20

    3 Densidade de Fluxo Eltrico, Lei de Gauss e Divergncia 35

    4 Energia Potencial e Potencial Eltrico 51

    5 Condutores, Dieltricos e Capacitncia 71

    6 Equaes de Poisson e de Laplace 96

    7 Campo Magntico Estacionrio 107

    8 Foras Magnticas, Materiais e Indutncia 132

    9 Campos Variantes no Tempo e Equaes de Maxwell 157

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    3

    1 ANLISE VETORIAL

    1.1 Escalares e Vetores

    O termo escalar se refere a uma grandeza cujo valor pode ser representado por um nico

    nmero real (positivo ou negativo). Exemplo de grandezas escalares: temperatura, tempo, massa,

    densidade, volume, tenso (voltagem), etc.

    Uma grandeza vetorial tem magnitude, direo e sentido no espao. Exemplo de grandezas

    vetoriais: fora, velocidade, acelerao, etc.

    Um campo tambm pode ser definido como escalar ou vetorial. Um exemplo de campo

    escalar a temperatura em uma tigela de sopa, por outro lado, temos que o campo gravitacional e o

    magntico so exemplos de campo vetorial.

    1.2 lgebra Vetorial

    A lgebra vetorial possui seu conjunto prprio de regras, do qual destacaremos algumas.

    A adio vetorial segue a regra do paralelogramo, conforme figura abaixo.

    A adio vetorial obedece propriedade comutativa, ou seja, A B B A+ = +r rr r

    . A adio

    tambm obedece propriedade associativa, ou seja, ( ) ( )A B C A B C+ + = + +r r r rr r . A regra para a subtrao de vetores decorre facilmente da regra para a adio, pois sempre

    podemos expressa A Br r

    como ( )A B+ r r ; o sinal, ou sentido, do segundo vetor invertido, e este vetor somado ao primeiro pela regra da adio vetorial.

    Vetores podem ser multiplicados por escalares. O mdulo do vetor se modifica, mas sua

    direo e sentido no, quando o escalar positivo, embora ele inverta de sentido quando

    multiplicado por um escalar negativo. A multiplicao de um vetor por um escalar tambm obedece

    s propriedades associativa e distributiva da lgebra, levado a

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    ( )( ) ( ) ( )r s A B r A B s A BrA rB sA sB

    + + = + + +

    = + + +

    r r rr r r

    r rr r

    A diviso de um vetor por um escalar meramente a multiplicao do vetor pelo inverso do

    escalar.

    A multiplicao de um vetor por outro vetor ser discutida mais adiante ainda neste captulo.

    1.3 Sistema de Coordenadas Cartesianas

    Para podermos descrever rigorosamente um vetor, alguns comprimentos, direes, ngulos,

    projees ou componentes especficos devem ser dados. H trs mtodos simples de faz-lo, os

    quais sero esmiuados neste captulo. O mais simples destes o sistema de coordenadas

    cartesianas ou retangulares. Neste sistema estabelecem-se trs eixos coordenados que formam

    ngulos retos entre si, denominados de eixos x, y e z.

    Na figura abaixo (a) tem-se um sistema de coordenadas cartesianas do tipo triedro direito,

    em que se usando a mo direita, ento o polegar, o indicador e o dedo mdio podem ser

    identificados, respectivamente, como os eixos x , y e z . Nesta mesma figura podemos identificar os planos 0x = , 0y = e 0z = .

    Tomando-se os ponto ( )1,2,3P e ( )2, 2,1Q como exemplo, poderemos identific-los no sistema de coordenadas cartesianas conforme figura (b) a seguir. P est, portanto, localizado no ponto comum da interseo dos planos 1x = , 2y = e 3z = , enquanto que o ponto Q est localizado na interseo dos planos 2x = , 2y = e 1z = .

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    Podemos, conforme a figura (c) acima, deslocar um ponto ( ), ,P x y z levemente para um ponto ( )' , ,P x dx y dy z dz+ + + adicionando-se diferenciais de comprimento. O dois pontos P e

    'P formam 6 planos, conforme j falado, os quais definem um paraleleppedo retngulo cujo o diferencial de volume dv dx dy dz= ; as superfcies possuem reas diferenciais dS de dx dy , dydz e dz dx . E finalmente, a distncia dL de P a 'P a diagonal do paraleleppedo e possui um

    comprimento de ( ) ( ) ( )2 2 2dx dy dz+ + .

    1.4 Componentes Vetoriais e Vetores Unitrios

    Para descrever um vetor no sistema de coordenadas cartesianas, consideremos primeiro um

    vetor rr

    partindo da origem at um ponto P qualquer. Se as componentes vetoriais de rr so xr , yr e zr

    , ento r x y z= + +r r r r , conforme mostrado na figura (a) abaixo.

    Observao importante: na figura a seguir, extrada do livro de Eletromagnetismo de Jr. W.

    H. Hayt e J. A. Buck, a notao de vetor dada por meio da letra em negrito, enquanto que em nosso

    curso usaremos a seta sobre a letra para designao de vetor.

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    Contudo, o uso das componentes vetoriais da forma que foram apresentadas no

    comumente empregado. A figura (b) acima apresenta os vetores unitrios fundamentais xa , ya e za

    representativos dos eixos cartesianos x, y e z, respectivamente. Considerando um vetor Prr

    apontando da origem ao ponto ( )1,2,3P , o mesmo pode ser escrito tendo por base os vetores unitrios dos eixos cartesianos: 2 3P x y zr a a a= + +

    r. Considerando-se um vetor Qr

    r apontando da

    origem ao ponto ( )2, 2,1Q , tem-se 2 2Q x y zr a a a= +r . Um vetor PQRr de origem no ponto ( )1,2,3P e apontando para ( )2, 2,1Q seria:

    ( ) ( ) ( ) 2 1 2 2 1 3 4 2

    PQ Q P x y z

    x y z

    R r r a a a

    a a a

    = = + +

    =

    r r r

    Os vetores em questo podem ser vistos na figura (c) anterior.

    Ento, qualquer vetor Br

    , pode ser escrito como x x y y z zB B a B a B a= + +r

    . E o mdulo de Br

    ,

    escrito como Br

    , ou simplesmente B , dado por

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    2 2 2x y zB B B B= + +

    r

    Cada um dos trs sistemas de coordenadas a serem discutidos tem seus trs vetores

    unitrios fundamentais e mutuamente independentes que so usados para analisar qualquer vetor

    em suas componentes vetoriais. Contudo, os vetores unitrios no so limitados a esta aplicao,

    todo vetor tem seu vetor unitrio que facilmente encontrado dividindo o vetor por seu mdulo.

    Ento o vetor unitrio de Br

    2 2 2B

    x y z

    B Ba

    B B B B= =

    + +

    r r

    r

    A notao empregada para todo vetor unitrio neste curso ser o acento circunflexo sobre a

    letra do vetor, j no livro usa-se a letra a para identificar o mesmo.

    Exemplo 01: Especifique o vetor unitrio, em coordenadas cartesianas, dirigido da origem ao ponto

    ( )2, 2, 1P . Exemplo 02:

    Dados os pontos ( )1,2,1M , ( )3, 3,0N e ( )2, 3, 4P , determine: a) MNR

    r;

    b) MN MPR R+r r

    ;

    c) Mrr

    ;

    d) MPa ;

    e) 2 3P Nr r+r r

    .

    1.5 Introduo aos Campos

    Um campo (escalar ou vetorial) pode ser definido matematicamente como funo de um

    vetor que liga uma origem arbitrria a um ponto genrico no espao. Note que o conceito de campo

    invariavelmente est relacionado a uma regio.

    Em geral para o campo vetorial, o mdulo e a direo da funo iro variar medida que nos

    movemos atravs da regio, e o valor da funo vetorial deve ser determinado utilizando-se os

    valores das coordenadas do ponto em questo. Como consideramos apenas o sistema de

    coordenadas cartesianas, devemos esperar que o vetor seja funo das variveis x, y e z.

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    Se, novamente, representarmos o vetor posio por rr

    , ento o campo vetorial Gr

    pode ser

    expresso, em notao funcional, como ( )G rr r ; o campo escalar T escrito como ( )T rr havendo variao apenas do mdulo da funo.

    Pode-se citar como exemplos de campo escalar o campo da temperatura de um lquido no

    interior de um prato de sopa em funo do vetor posio, ou ainda, o campo potencial eltrico de

    uma carga pontual. Por outro lado, so exemplos de campo vetorial a velocidade da corrente de gua

    de um rio em funo do vetor posio, o campo eltrico de uma esfera carregada e o campo

    magntico de um fio conduzindo corrente contnua.

    Exemplo 03:

    Um campo vetorial Sr

    expresso em coordenadas cartesianas como

    ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2125

    1 2 11 2 1 x y z

    S x a y a z ax y z

    = + + + + + +

    r.

    a) Calcule Sr

    no ponto ( )2,4,3P ; b) Determine o vetor unitrio que fornece a direo de S

    r em P ;

    c) Especifique a superfcie ( ), ,f x y z na qual 1S =r .

    1.6 Produto Escalar

    Dados dois vetores Ar

    e Br

    , o produto escalar, ou produto interno, definido como o

    produto entre o mdulo de Ar

    , o mdulo de Br

    e o cosseno do menor ngulo entre eles. Assim,

    cos ABA B A B =r rr r

    O ponto aparece entre os dois vetores e deve ser forte para dar mais nfase, l-se Aescalar B. O produto escalar tem como resultado um escalar, como o prprio nome indica, e obedece propriedade comutativa, pois o sinal do ngulo no afeta o termo cosseno.

    A B B A = r rr r

    A determinao do ngulo entre dois vetores no espao tridimensional muitas vezes um

    trabalho que se prefere evitar. Por essa razo, a definio de produto escalar normalmente no

    usada em sua forma bsica. Um resultado mais til obtido considerando-se dois vetores cujas

    componentes cartesianas so dadas por x x y y z zA A a A a A a= + +r

    e x x y y z zB B a B a B a= + +r

    . O

    produto escalar tambm obedece propriedade distributiva, portanto, A Br r

    fornece uma soma de

    nove termos escalares, cada um envolvendo o produto escalar de dois vetores unitrios. Ento,

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    ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )

    x x x x x y x y x z x z

    y x y x y y y y y z y z

    z x z x z y z y z z z z

    A B A B a a A B a a A B a a

    A B a a A B a a A B a a

    A B a a A B a a A B a a

    = + +

    + + +

    + + +

    r r

    como o ngulo entre dois vetores unitrios diferentes no sistema de coordenadas cartesianas 90,

    temos

    0x y y x x z z x y z z ya a a a a a a a a a a a = = = = = =

    Os trs termos restantes envolvem o produto escalar de um vetor unitrio por ele mesmo, o

    que igual unidade, finalmente obtendo-se

    x x y y z zA B A B A B A B = + +r r

    que uma expresso que no envolve ngulos.

    O produto escalar de um vetor por ele mesmo o quadrado de seu mdulo, ou

    2 2A A A A = =r r r

    e o produto escalar de qualquer vetor unitrio por ele mesmo igual unidade, ou seja, 1A Aa a = .

    Uma das aplicaes mais importantes do produto escalar o clculo da componente de um

    vetor dada uma certa direo. Podemos obter a componente (escalar) de Br

    na direo especificada

    pelo vetor unitrio ar

    como

    cos cosBa BaB a B a B = =r r rr r

    Neste caso usado o termo projeo. Assim, B ar r

    projeo de Br

    na direo ar

    , conforme

    pode ser observado na figura a seguir.

    Para obtermos a componente vetorial de Br

    na direo de ar

    , multiplicamos a componente

    (escalar) por ar

    , como ilustrado na figura que se segue, ficando ( )B a ar r r .

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    Exemplo 04:

    Considere um campo vetorial 2,5 3x y zG ya xa a= +r

    e o ponto ( )4,5,2Q . Deseja-se encontrar: a) O vetor G

    r no ponto Q ;

    b) A componente escalar de Gr

    no ponto Q na direo de ( )13 2 2N x y za a a a= + ; c) A componente vetorial de G

    r no ponto Q na direo de Na ;

    d) O ngulo Ga entre ( )QG rr r e Na . Exemplo 05:

    Os trs vrtices de um tringulo esto localizados em ( )6, 1,2A , ( )2,3, 4B e ( )3,1,5C . Determine:

    a) ABRr

    ;

    b) ACRr

    ;

    c) O ngulo BAC no vtice A ; d) A projeo de ABR

    r em ACR

    r;

    e) O vetor projeo de ABRr

    em ACRr

    .

    1.7 Produto Vetorial

    Dados dois vetores Ar

    e Br

    , definiremos agora o produto vetorial, ou produto cruzado, de Ar

    e Br

    , escrito com uma cruz entre os dois vetores, como A Br r

    , e lido A vetorial B.

    O produto vetorial A Br r

    um vetor; o mdulo de A Br r

    igual ao produto dos mdulos de

    Ar

    , Br

    e o seno do menor ngulo entre Ar

    e Br

    ; a direo de A Br r

    perpendicular ao plano que

    contm Ar

    e Br

    e est ao longo de duas possveis perpendiculares, todavia escolhe-se aquela que

    est no sentido do avano de um parafuso direito medida que Ar

    girado para Br

    , conforme figura

    a seguir.

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    Na forma de equao, podemos escrever

    N ABA B a A B sen =r rr r

    Outra forma de determinar o sentido do vetor Na por meio da regra da mo direita. O

    produto vetorial no comutativo, j que ( )A B B A = r rr r . Se a definio de produto vetorial aplicada aos vetores unitrios xa e ya , encontramos

    x y za a a = , onde cada vetor possui mdulo unitrio, os dois vetores so perpendiculares e a

    rotao de xa para ya indica a direo positiva de z pela definio do sistema de coordenadas do

    tipo triedro direito. De maneira semelhante, y z xa a a = e z x ya a a = .

    O clculo do produto vetorial por meio de sua definio exige mais trabalho do que o clculo

    do produto escalar, porm este trabalho pode ser evitado usando-se as componentes cartesianas

    para os dois vetores Ar

    e Br

    e expandindo-se o produto vetorial como a soma de nove produtos

    vetoriais, cada um envolvendo dois vetores unitrios.

    ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )

    x x x x x y x y x z x z

    y x y x y y y y y z y z

    z x z x z y z y z z z z

    A B A B a a A B a a A B a a

    A B a a A B a a A B a a

    A B a a A B a a A B a a

    = + +

    + + +

    + + +

    r r

    J vimos que x y za a a = , y z xa a a = e z x ya a a = . Os trs termos remanescentes so

    iguais a zero, pois o produto vetorial de qualquer vetor por ele mesmo igual a zero, j que o seno

    do ngulo envolvido nulo. Estes resultados podem ser combinados para se obter

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    ( ) ( ) ( ) y z z y x z x x z y x y y x zA B A B A B a A B A B a A B A B a = + + r r que, escrita como um determinante, numa forma mais fcil de ser lembrada fica

    x y z

    x y z

    x y z

    a a a

    A B A A AB B B

    =r r

    Usando-se o clculo do produto vetorial por meio desta matriz no h necessidade da

    aplicao de qualquer regra adicional para se encontrar o vetor normal, uma vez que o mesmo j

    ser determinado pela resoluo desta.

    Exemplo 06:

    Os trs vrtices de um tringulo esto localizados em ( )6, 1,2A , ( )2,3, 4B e ( )3,1,5C . Determine:

    a) AB ACR Rr r

    ;

    b) A rea do tringulo; c) O vetor unitrio perpenticular ao plano no qual o tringulo est localizado.

    1.8 Sistema de Coordenadas Cilndricas Circulares

    O sistema de coordenadas cartesianas , em geral, o preferido dos estudantes, contudo

    existem vrios problemas onde a simetria pede um tratamento mais adequado para sua resoluo.

    O sistema de coordenadas cilndricas (com o objetivo de facilitar, no usaremos o termo

    circulares, apesar de existirem outros tipos de sistemas de coordenadas cilndricas) uma verso

    tridimensional das coordenadas polares da geometria analtica. No sistema de coordenadas polares

    bidimensional, um ponto localizado em um plano dando-se a sua distncia da origem e o ngulo entre a linha do ponto origem e uma linha radial arbitrria, tomada como 0 = . Um sistema de coordenadas tridimensionais cilndricas circulares obtido especificando-se a distncia z do ponto a

    um plano arbitrrio 0z = , perpendicular reta 0 = .

    No sistema de coordenadas cilndricas no mais consideraremos os trs eixos como nas

    coordenada cartesianas, todavia o ponto continua sendo definido pela interseo de trs superfcies

    mutuamente perpendiculares. Estas superfcies so: uma cilndrica circular ( = constante), uma plana ( =constante) e uma outra tambm plana ( z = constante), conforme pode ser visto na figura (a) abaixo.

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    Os vetores unitrios apontam na direo crescente dos valores das coordenadas e so

    perpendiculares superfcie na qual esta coordenada constante, sendo os trs vetores

    especificados como: a , a e za . A figura (b) anterior mostra estes trs vetores.

    Os vetores unitrios so novamente mutuamente perpendiculares, pois cada um normal a

    uma das trs superfcies mutuamente perpendiculares, definindo-se, um sistema de coordenadas

    cilndricas do tipo triedro direito, no qual za a a = ou um sistema no qual o polegar, o indicador

    e o dedo mdio da mo direita apontam, respectivamente, na direo crescente de , e z . Um elemento diferencial de volume em coordenadas cilndricas pode ser obtido

    aumentando-se , e z de incrementos diferenciais d , d e dz . Os dois cilindros de raios e d + , os dois planos radiais nos ngulos e d + e os dois planos horizontais nas

    elevaes z e z dz+ limitam um pequeno volume, como mostrado na figura (c) anterior. Note que d e dz tm dimenses de comprimento, mas d no tem; d o comprimento. O volume aproximado da figura ser dado por d d dz , pois a forma do elemento de volume, por ser muito pequeno, aproxima-se de um paraleleppedo.

    As variveis dos sistemas de coordenadas retangular e cilndrico so facilmente relacionadas

    umas com as outras. Temos que

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    cosx

    y senz z

    =

    =

    =

    Do outro ponto de vista, podemos expressar as variveis cilndricas em temos de x , y e z

    ( )2 2 0arctan

    x yyx

    z z

    = +

    =

    =

    O valor adequado do ngulo determinado por inspeo dos sinais de x e y , para encontrar o quadrante do ngulo.

    Dado o vetor cartesiano

    x x y y z zA A a A a A a= + +

    r

    desejamos encontrar o mesmo vetor, porm em coordenadas cilndricas, do tipo

    z zA A a A a A a = + +

    r

    Para determinar qualquer componente de um vetor em uma direo desejada basta fazer o

    produto escalar entre o vetor e o vetor unitrio na direo desejada. Assim,

    z z

    A A a

    A A a

    A A a

    =

    =

    =

    r

    r

    r

    desenvolvendo-se as equaes, tem-se

    x x y y

    x x y y

    z z

    A A a a A a aA A a a A a aA A

    = +

    = +

    =

    Analisando-se a figura abaixo, podemos identificar o ngulo entre x

    a e a como sendo , e assim, cosxa a = ; j o ngulo entre ya e a como sendo 90 e assim, ya a sen = . Os produtos escalares entre os vetores unitrios esto resumidos na tabela abaixo.

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    Produtos escalares entre os vetores unitrios dos sistemas de coordenadas retangular e cilndrico

    a a za

    xa cos sen 0

    ya sen cos 0

    za 0 0 1

    A transformao de campos vetoriais de coordenadas cartesianas para cilndricas ou vice-

    versa efetuada usando-se as equaes de transformao de escalares, mostradas anteriormente, e

    os produtos escalares entre os vetores unitrios dados na tabela

    Exemplo 07:

    Transforme o vetor (ou campo vetorial) x y zB ya xa za= +r

    para coordenadas cilndricas.

    Exemplo 08: Pede-se:

    a) D as coordenadas cartesianas do ponto ( 4,4; 115; 2)C z = = = ; b) D as coordenadas clndricas do ponto ( 3,1; 2,6; 3)D x y z= = = ; c) Determine a distncia entre C e D .

    Exemplo 09: Pede-se:

    a) Expresse o campo vetorial 2 2

    x yxa yaDx y

    +=

    +

    r em coordenadas cilndricas e variveis

    cilndricas;

    b) Calcule Dr

    no ponto ( )2; 0,2 ; 5z pi= = = .

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    Exemplo 10: Tranforme para coordenadas cilndricas:

    a) O vetor

    10 8 6x y zF a a a= +r

    no ponto ( )10, 8,6P ; b) O campo vetorial

    ( ) ( ) 2 4x yG x y a y x a= + r ;

    c) Determine as componentes cartesianas do vetor 20 10 3 zH a a a = +r

    em

    ( )5, 2, 1P x y z= = = .

    1.9 Sistema de Coordenadas Esfricas

    A figura (a) abaixo mostra o sistema de coordenadas esfricas sobre os trs eixos cartesianos.

    Inicialmente, definimos a distncia da origem a qualquer ponto como r . A superfcie r = constante

    uma esfera.

    A segunda coordenada o ngulo entre o eixo z e a linha desenhada da origem ao ponto em questo. A superfcie = constante um cone.

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    A terceira coordenada o ngulo , exatamente o mesmo ngulo das coordenadas cilndricas. Ele o ngulo entre o eixo x e a projeo no plano 0z = da linha desenhada da origem ao ponto. A superfcie =constante um plano que passa pelo eixo z .

    Podemos novamente considerar qualquer ponto como a interseo de trs superfcies

    mutuamente perpendiculares uma esfera, um cone e um plano cada uma orientada na maneira

    descrita anteriormente e mostrada na figura (b) acima.

    Os trs vetores unitrios so r

    a , a e a . Os mesmos encontram-se mutuamente

    perpendiculares e definem um sistema de coordenadas esfricas do tipo triedro direito, em que

    ra a a = . Pela regra da mo direita o polegar, o indicador e o dedo mdio indicam,

    respectivamente, r , e , conforme pode ser visualizado na figura (c) acima. Note que a componente , diferentemente do que foi verificado nas coordenadas cilndricas, o 3 termo e no o 2.

    Um elemento diferencial de volume pode ser construdo em coordenadas esfricas

    aumentando-se r , e por dr , d e d , como mostra a figura (d) anterior. A distncia entre as duas superfcies de raios r e r dr+ dr ; a distncia entre os cones com ngulos de gerao e

    d + r d e a distncia entre os dois planos radiais de ngulos e d + calculado como sendo r sen d . O volume aproximado do elemento ser 2r sen dr d d .

    A transformao de escalares do sistema de coordenadas esfricas para cartesianas pode ser

    feita usando-se

    cos

    cos

    x r sen

    y r sen senz r

    =

    =

    =

    A transformao no sentido inverso realizada com a ajuda de

    ( )( )

    2 2 2

    2 2 2

    0

    arccos 0 180

    arctan

    r x y z rz

    x y zyx

    = + +

    = + +

    =

    A transformao dos vetores requer a determinao dos produtos vetoriais entre os vetores

    unitrios das coordenadas cartesianas e esfricas. Os produtos so obtidos de maneira anloga ao

    exposto para as coordenadas cilndricas. Os mesmos podem ser observados na tabela a seguir.

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    Produtos escalares entre os vetores unitrios dos sistemas de coordenadas retangular e esfrico

    r

    a a a

    xa sen cos cos cos sen

    ya sen sen cos sen cos

    za cos sen 0

    Pode-se, tambm, transformar os escalares do sistema de coordenadas esfricas para

    cilndricas, para tanto, deve-se usar

    cos

    r sen

    z r

    =

    =

    =

    A transformao no sentido inverso ser

    ( )( )

    2 2 0

    arccos 0 180

    r z r

    z

    = +

    =

    =

    J a transformao dos vetores requer novamente a determinao dos produtos vetoriais

    entre os vetores unitrios das coordenadas cilndricas e esfricas. Estes podem ser observados na

    tabela a seguir.

    Produtos escalares entre os vetores unitrios dos sistemas de coordenadas cilndrico e esfrico

    r

    a a a

    a sen cos 0 a 0 0 1

    za cos sen 0

    Exemplo 11:

    Converta o campo vetorial x

    xzG ay

    =

    r (variveis e componentes) para coordenadas esfricas.

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    19

    Exemplo 12:

    Dados dois pontos, ( )3,2,1A e ( )5,20 , 70B , determine: a) As coordenadas esfricas de A ; b) As coordenadas cartesianas de B ; c) A distncia entre A e .B

    Exemplo 13: Transforme os seguintes vetores para suas coordenadas esfricas nos pontos dados:

    a) 10 xa em ( )3,2,4P ; b) 10 ya em ( )5,30,4Q ; c) 10 za em ( )4,110 ,120M .

    Exemplo 14: Transforme os seguintes vetores para suas coordenads esfricas nos pontos dados:

    a) 15a em ( )1, 3,5P ; b) 15a em ( )2, 10 , 3Q ; c) 15 za em ( )3,45 ,60M .

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    20

    2 LEI DE COULOMB E INTENSIDADE DE CAMPO ELTRICO

    2.1 Lei de Coulomb

    Lei de Coulomb: a fora eltrica aplicada por um corpo carregado em outro, depende

    diretamente do produto das intensidades das duas cargas e inversamente do quadrado de suas

    distncias, ou ainda,

    1 22

    Q QF kR

    = [N]

    Onde k chamada de constante de Coulomb. Esta equao aplicada para objetos carregados cujo tamanho muito menor que a distncia entre estes, ou seja, somente para cargas

    pontuais.

    A constante k dada por

    0

    14

    kpi

    =

    onde 0 chamada de constante eltrica ou constante de permissividade do ar, sendo seu valor, no

    SI (Sistema Internacional), igual a

    12 2 20 8,85418781762 10 /C N m

    =

    9 2 28,99 10 /k N m C=

    A lei de Coulomb agora

    1 22

    04Q QF

    Rpi=

    Para podermos representa o vetor fora da lei de Coulomb, precisamos saber se a fora que

    atua sobre as cargas de repulso ou atrao. Pois, como sabido, cargas de mesmos sinais se

    repelem e cargas de sinais contrrios se atraem.

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    Na figura acima, temos o vetor 1rr

    localizando 1Q enquanto 2rr

    localiza 2Q . Ento o vetor

    12 2 1R r r= r r r

    representa o segmento de reta orientado de 1Q para 2Q , como mostrado. O vetor 2Fr

    a fora em 2Q e mostrado para o caso em que 1Q e 2Q possuem o mesmo sinal. A forma vetorial da lei de Coulomb

    1 22 122

    0 12

    4Q QF a

    Rpi=

    r

    onde 12a = vetor unitrio na direo de 12Rr

    . Esta equao pode ser considerada uma equao

    genrica, uma vez que a mesma pode ser aplicadas a qualquer tipo interao (atrao ou repulso).

    Exemplo 01:

    Seja uma carga pontual 41 3.10Q C= localizada em ( )1,2,3M e outra 42 10Q C= em ( )2,0,5N ambas no vcuo. Encontrar a fora exercida por 1Q em 2Q .

    Exemplo 02:

    Uma carga 20AQ C= est localizada em ( )6,4,7A e uma carga 50BQ C= est em ( )5,8, 2B no espao livre. Se as distncias so dadas em metros, determine o vetor fora exercida

    em AQ por BQ .

    2.2 Intensidade de Campo Eltrico

    Se considerarmos uma carga fixa numa posio 1Q , e lentamente movermos uma segunda carga, chamada de carga de teste tQ , em torno da primeira, notaremos que existe por toda parte uma fora nesta segunda carga; em outras palavras, esta segunda carga est mostrando a existncia

    de um campo de fora. A fora sobre ela dada por

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    22

    112

    0 1

    4t

    t tt

    Q QF aRpi

    =

    r

    A intensidade de campo eltrico definida pela razo da fora observada nesta carga teste

    tFr

    pela unidade da carga teste tQ . Usando a letra maiscula E para a intensidade do campo eltrico, temos

    112

    0 1

    4t

    tt t

    F QE aQ Rpi= =r

    r

    A intensidade do campo eltrico deve ser medida em unidades de Newton por Coulomb, ou

    ainda, volts por metro conforme ser visto posteriormente. Dispensando-se os ndices, podemos

    reescrever a equao anterior como

    20

    4 RQE a

    Rpi=

    r

    Relembrando que R a magnitude do vetor Rr

    , segmento de reta orientado do ponto no

    qual a carga pontual Q est localizada ao ponto no qual Er desejado, e que Ra um vetor unitrio na direo de R

    r.

    Se localizarmos Q no centro do sistema de coordenadas esfricas, o vetor unitrio Ra ento se torna o vetor unitrio radial

    ra , e R r . Assim,

    20

    4 rQE a

    rpi=

    r

    J se escrevermos esta expresso em coordenadas cartesianas para a carga na origem, temos

    x y zR r xa ya za= = + +

    r r e

    2 2 2

    x y zR

    xa ya zaa

    x y z

    + +=

    + +; portanto,

    ( )2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 20 4 x y zQ x y zE a a a

    x y z x y z x y z x y zpi

    = + + + + + + + + + +

    r

    Ento, pode-se notar que o sistema de coordenadas esfricas, devido simetria do problema

    em questo, o mais adequado.

    Se considerarmos a carga deslocada da origem do sistema, o campo no mais possuir

    simetria esfrica, e teremos que usar coordenadas cartesianas. Para uma carga Q localizada no

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    ponto ' ' ' 'x y zr x a y a z a= + +r

    , como mostrada na figura abaixo, encontramos o campo num ponto

    genrico x y zr xa ya za= + +

    r, expressando R

    r como 'r r

    r r, e ento

    ( ) 20

    '

    '4 'Q r rE r

    r rr rpi

    =

    r rr r

    r rr r

    ( ) ( ) 30

    '

    4 'Q r r

    E rr rpi

    =

    r rr r

    r r

    ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) 3/22 2 20

    ' ' '

    4 ' ' '

    x y zQ x x a y y a z z aE rx x y y z zpi

    + + =

    + +

    r r

    Para o caso em que se pretende encontrar a intensidade de campo eltrico proveniente de

    vrias cargas pontuais, basta somar vetorialmente o campo devido a cada uma destas cargas, ou

    seja,

    ( ) 1 21 22 2 20 1 0 2 0

    4 4 4n

    n

    n

    QQ QE r a a ar r r r r rpi pi pi

    = + + +

    r rLr r r r r r

    A figura a seguir apresenta um exemplo da soma vetorial da intensidade de campo eltrico

    total em um ponto P devido a duas cargas pontuais 1Q e 2Q .

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    24

    Exemplo 03:

    Determinar o campo eltrico em ( )1,1,1P causado por quatro cargas idnticas de 3nC localizadas em ( )1 1,1,0P , ( )2 1,1,0P , ( )3 1, 1,0P e ( )4 1, 1,0P , conforme mostrado na figura abaixo.

    Exemplo 04:

    Uma carga de 3 C est localizada em ( )25, 30,15A (em cm ) e uma segunda carga de 0,5 C est em ( )10,8,12B cm . Determine o campo eltrico Er :

    a) Na origem;

    b) Em ( )15,20,50P cm . Exemplo 05:

    Uma carga pontual de 100 nC est localizada em ( )1,1,3A no espao livre. Pede-se: a) Encontre o lugar dos pontos ( ), ,P x y z em que 500 /xE V m= ; b) Determine 1y se ( )12, ,3A y pertencer a este lugar.

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    25

    2.3 Campo Devido a uma Distribuio Volumtrica Contnua de

    Cargas

    Caso tenhamos uma distribuio de carga ao longo de um volume qualquer, podemos

    representar a densidade volumtrica de carga por v , tendo a unidade de Coulomb por metro cbico (C/m3).

    Uma pequena quantidade de carga Q em um pequeno volume v

    vQ v =

    A carga total dentro de um volume finito obtida pela integrao atravs deste volume,

    v

    vol

    Q dv=

    Normalmente apenas um sinal de integrao indicado, mas o diferencial dv significa integrao atravs de um volume, portanto, uma integrao tripla.

    Exemplo 06:

    Determine a carga total contida no feixe de eltrons de 2 cm de comprimento da figura abaixo.

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    26

    Exemplo 07: Calcule a carga total dentro de cada um dos volumes indicados:

    a) 1 , , 2x y z e 3 3 31

    vx y z

    = ;

    b) 0,1;0 ;2 4o z pi e ( )2 2sen 0,6v z = ; c) Universo e

    2

    2

    r

    v

    e

    r

    = .

    2.4 Campo de uma Linha de Cargas

    Caso tenhamos uma distribuio de cargas ao longo de uma linha qualquer, podemos

    representar a densidade linear de carga por L , tendo a unidade de Coulomb por metro (C/m).

    Consideremos uma linha reta de cargas ao longo do eixo z no sistema de coordenadas

    cilndricas (devido simetria existente) de a , como mostra a figura a seguir. Desejamos a

    intensidade do campo eltrico Er

    em todo e qualquer ponto resultante desta linha de cargas de

    densidade uniforme L .

    Escolhemos um ponto ( )0, ,0P y no eixo y no qual determinaremos o campo. Aplicando-se a equao da intensidade de campo de cargas pontuais para determinar o campo incremental em P devido carga incremental 'LdQ dz= , temos

    ( )3

    0

    '

    4 'Q r r

    Er rpi

    =

    r rr

    r r (para carga pontual)

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    27

    ( )3

    0

    ' '

    4 'L dz r rdE

    r r

    pi

    =

    r rr

    r r (para carga incremental numa linha de cargas)

    onde

    ' '

    y

    z

    r ya a

    r z a

    = ==

    r

    r

    e

    ' ' zr r a z a = r r

    Portanto,

    ( )( )3/22 20

    ' '

    4 'L zdz a z adE

    z

    pi

    =

    +

    r

    Pode-se observar, por meio da figura, que a componente zEr

    ser nula devido a simetria,

    restando to somente Er

    , ento

    ( )3/22 20'

    4 'L dzdE

    z

    pi

    =

    +

    e

    ( )3/22 20'

    4 'L dzE

    z

    pi

    =

    +

    Integrando a expresso, temos

    2 2 20

    1 '4 '

    L zEz

    pi

    = +

    e

    02LE

    pi

    =

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    28

    ou, de forma vetorial:

    0

    2LE a

    pi

    =

    r

    Esta a resposta desejada, mas h muitas outras maneiras de obt-la.

    Devemos tambm examinar o fato de que nem todas as linhas de carga esto localizadas ao

    longo do eixo z . Como exemplo, consideremos uma linha de cargas infinita paralela ao eixo z em

    6x = , 8y = , como mostrada na figura abaixo. Desejamos determinar Er

    em um ponto genrico

    ( ), ,P x y z .

    Na equao da intensidade de campo encontrada para a linha de carga infinita, substitui-se

    pela distncia radial entre a linha de cargas e o ponto P , ( ) ( )2 26 8R x y= + e consideramos a como sendo Ra . Assim,

    ( ) ( )2 20

    2 6 8L

    RE ax y

    pi

    =

    +

    r

    onde

    ( ) ( )( ) ( )2 2

    6 8

    6 8x y

    R

    x a y aa

    x y

    + =

    +

    Portanto,

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    29

    ( ) ( )( ) ( )2 20

    6 82 6 8

    x yLx a y a

    Ex y

    pi

    + =

    +

    r

    Nota-se, novamente, que o campo no uma funo de z . De forma genrica, pode-se

    escrever:

    0

    2L

    RE aR

    pi=

    r

    Exemplo 08:

    Uma linha de cargas uniforme de 16 /nC m est localizada ao longo da linha definida por 2y = , 5z = . Determine o campo eltrico em ( )1,2,3P .

    Exemplo 09:

    Duas linhas de cargas uniformes e infinitas de 5 /nC m esto situadas ao longo dos eixos x e y no espao livre. Determine o campo eltricos em:

    a) ( )0,0,4AP ; b) ( )0,3,4BP .

    2.5 Campo de uma Lmina de Cargas

    Outra configurao bsica a lmina infinita de cargas tendo uma densidade uniforme S dada em 2/C m . Esta densidade conhecida como densidade superficial de cargas.

    Coloquemos uma lmina de cargas no plano yz , conforme figura a seguir.

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    30

    Utilizaremos o campo de uma linha de cargas, para tanto, dividiremos a lmina infinita em

    faixas de larguras diferenciais, cada faixa equivaler a uma linha de cargas, de acordo com a figura

    anterior. A densidade linear de carga de cada faixa 'L S dy = . Aplicando-se a equao da intensidade de campo de linha de cargas, temos

    0

    2L

    RE aR

    pi=

    r

    (para linha de cargas)

    0

    '

    2S

    RdydE a

    Rpi

    =

    r

    (para linha de cargas incremental numa lmina infinita de cargas)

    sendo

    ' '

    x

    y

    r xa

    r y a=

    =

    r

    r

    ' 'x yR r r xa y a= = r r r

    2 2'R R x y= = +

    r

    2 2

    '

    '

    x yR

    xa y aRa

    R x y

    = =

    +

    r

    r

    Portanto,

    ( )( )2 20

    ' '

    2 'S x ydy xa y adE

    x y

    pi

    =

    +

    r

    Analisando-se a simetria, tem-se que a componente yEr

    ser nula, restando to somente a

    componente xEr

    , ento

    ( )2 20'

    2 'S

    x

    x dydEx y

    pi

    =

    +

    e

    ( )2 20'

    2 'S

    x

    x dyEx y

    pi

    =

    +

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    31

    Integrando pela tabela de integrais, temos

    0

    '

    2S

    x

    yE arctgx

    pi

    =

    e

    02S

    xE

    =

    Se o ponto P tivesse sido escolhido no semi-eixo x negativo, ento

    02S

    xE

    =

    pois o campo est sempre dirigido para fora, no caso de uma superfcie positivamente carregada.

    Esta dificuldade no sinal usualmente contornada especificando-se um vetor unitrio Na , o qual

    normal lmina e direcionado para fora da mesma. Ento,

    0

    2S

    NE a

    =

    r

    Se uma segunda lmina de cargas, tendo uma densidade de carga negativa S , estivesse localizada no plano x a= , poderamos determinar o campo total adicionando as contribuies de

    cada lmina. Na regio x a> ,

    0 0

    02 2

    S Sx xE E E a a

    +

    = + = =r r r r r

    e para 0x < ,

    ( ) ( )0 0

    02 2

    S Sx xE E E a a

    +

    = + = =r r r r r

    e quando 0 x a< < ,

    ( )0 0 02 2

    S S Sx x xE E E a a a

    +

    = + = =r r r r r r

    Este um resultado importante na prtica, pois o campo entre as placas paralelas de um

    capacitor separadas por ar, contanto que as dimenses lineares das placas sejam bem menores que a

    sua separao e tambm que estejamos considerando um ponto bem distante das bordas.

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    32

    Exemplo 10: Trs lminas de cargas infinitas e uniformes esto localizadas no espao livre como se segue:

    23 /nC m em 4z = ; 26 /nC m em 1z = e 28 /nC m em 4z = . Determine o campo eltrico resultante nos pontos:

    a) ( )2,5, 5AP ; b) ( )4,2, 3BP ; c) ( )1, 5,2CP ; d) ( )2,4,5DP .

    2.6 Linhas de Fora e Esboo de Campos

    As linhas de fora so linhas imaginrias em cada ponto do espao sob influncia de um

    campo eltrico. Elas so empregadas no sentido de visualizar melhor a atuao do campo eltrico.

    Por conveno, so propriedades destas linhas:

    As linhas de fora comeam nas cargas positivas e terminam nas cargas negativas.

    A tangente linha de fora passando por qualquer ponto no espao fornece a

    direo do campo eltrico naquele ponto.

    A intensidade do campo eltrico em qualquer ponto proporcional ao nmero de

    linhas por unidade de rea transversal perpendicular s mesmas.

    Contudo, se tentssemos esboar o campo de uma carga pontual, a variao do campo para

    dentro e para fora da pgina poderia essencialmente causar dificuldades, por esta razo, o esboo

    habitualmente limitado a campos bidimensionais, conforme exemplos abaixo.

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    33

    No caso de um campo bidimensional, vamos arbitrariamente considerar 0zE = . As linhas de fora esto assim confinadas aos planos nos quais z constante. Na figura abaixo, linhas de fora

    so mostradas, e as componentes xE e yE so indicadas em um ponto genrico.

    As equaes das linhas de fora podem ser obtidas por meio da evidente constatao que

    y

    x

    E dyE dx

    =

    Como ilustrao deste mtodo considere o campo de uma linha de cargas uniforme com

    distribuio linear 02L pi= ,

    1E a

    =

    r

    Em coordenadas cartesianas,

    2 2 2 2 x yx yE a a

    x y x y= +

    + +

    r

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    34

    Assim, formamos a equao diferencial

    y

    x

    Edy ydx E x

    = = ou dy dxy x

    =

    Portanto,

    ln lny x C= + ou ln ln lny x C= +

    ou ainda,

    y Cx=

    Se desejssemos encontrar a equao de uma linha de fora em particular, meramente

    substituiramos as coordenadas deste ponto em nossa equao e calcularamos C.

    Exemplo 11:

    Determine a equao da linha de fora que passa pelo ponto ( )1,4, 2P no campo eltrico: a)

    2

    28 4

    x y

    x xE a ay y

    = +r

    ;

    b) ( )5 2 5 1x x yE e y x a xa = + + r

    .

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    35

    3 DENSIDADE DE FLUXO ELTRICO, LEI DE GAUSS E

    DIVERGNCIA

    3.1 Densidade de Fluxo Eltrico

    A figura a seguir ilustra um experimento de Faraday em que se tm duas esferas condutoras

    concntricas separadas entre si por um material dieltrico. A esfera interna previamente carregada

    com carga Q+ , posteriormente, coloca-se a esfera externa descarregada e conecta-a momentaneamente a terra. Com isto Faraday observou que a esfera externa, que a princpio estava

    descarregada, ficava carregada com carga igual em magnitude carga da esfera interna e que isto

    era verdade independente do material dieltrico que separava as duas esferas.

    Ele concluiu que da esfera interna para a externa havia um certo tipo de deslocamento que

    era independente do meio, e agora nos referimos a este deslocamento ou fluxo como fluxo

    eltrico. O mesmo ser representado por (psi) e dado, conforme experimento, por

    Q =

    O fluxo eltrico ento medido em Coulomb. Podemos observar, por meio da figura

    anterior, que as trajetrias do fluxo eltrico se estendem da esfera interna para a externa e so

    indicadas por linhas de fora simetricamente distribudas, desenhadas de uma esfera a outra.

    A densidade de fluxo eltrico a razo entre o fluxo eltrico e a rea da superfcie que o

    mesmo cruza. Trata-se de uma grandeza vetorial e representada pela letra Dr

    . A direo de Dr

    em

    um ponto a direo das linhas de fluxo naquele ponto, e sua magnitude dada pelo nmero de

    linhas de fluxo que cruzam a superfcie normal a elas dividido pela rea da superfcie. A unidade de

    Dr

    , naturalmente, Coulomb por metro quadrado (algumas vezes descrita como linhas por metro

    quadrado, pois cada linha est relacionada quantidade de carga).

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    36

    Novamente, nos referindo figura anterior, a densidade de fluxo eltrico est na direo

    radial e tem um valor de

    2 4 rr aQD aapi=

    =

    r (esfera interna)

    2 4 rr bQD abpi=

    =

    r (esfera externa)

    e para a distncia radial r , onde a r b ,

    2 4 rQD a

    rpi=

    r

    Se substitussemos a esfera interna por uma carga pontual carregada com a mesma carga Q, a densidade de fluxo eltrico no ponto distando r metros desta carga pontual ainda dada pela

    equao anterior.

    Como a intensidade de campo eltrico radial de uma carga pontual no espao livre

    20

    4 rQE a

    rpi=

    r

    podemos escrever que, no espao livre,

    0D E=r r

    Embora esta expresso seja aplicvel somente ao vcuo, ela no se restringe somente ao

    campo de uma carga pontual, a mesma verdadeira para qualquer configurao no espao livre, seja

    ela uma distribuio volumtrica, superficial ou linear.

    Exemplo 01:

    Encontrar a densidade de fluxo eltrico Dr

    na regio ao redor de uma linha de cargas uniforme de

    8 /nC m situada sobre o eixo z no espao livre.

    Exemplo 02:

    Calcule a densidade de fluxo eltrico Dr

    em coordenadas retangulares no ponto ( )2, 3,6P produzido por:

    a) uma carga pontual 55Q mC= em ( )2,3, 6M ; b) uma linha de cargas uniforme de 20 /L mC m = no eixo x ; c) uma densidade superficial de carga de 2120 /S C m = no plano 5z = .

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    37

    3.2 Lei de Gauss

    Imaginemos uma distribuio de carga, conforme mostrada na figura abaixo, como uma

    nuvem de cargas pontuais, envolvidas por uma superfcie fechada com uma forma qualquer. Se a

    carga total Q+ Coulomb, ento Q Coulomb de fluxo eltrico iro atravessar a superfcie, o vetor densidade de fluxo eltrico D

    r ter algum valor SD

    r, onde o ndice S meramente nos lembra que D

    r

    deve ser calculado na superfcie, e SDr

    ir em geral variar em magnitude e direo de um ponto da

    superfcie para outro.

    Especificando o elemento incremental da superfcie, tal como ilustrado na figura anterior,

    como sendo o vetor Sr

    normal superfcie e apontando para fora da mesma, podemos ento

    escrever que o incremento de fluxo eltrico ( ) neste elemento incremental de superfcie ser:

    S normal SD S D S = = rr

    O fluxo total que atravessa a superfcie fechada obtido adicionando-se as contribuies

    diferenciais que atravessam cada elemento de superfcie Sr

    ,

    SSD dS =

    rr

    (superfcie fechada)

    Esta integral resultante uma integral de superfcie fechado, ou seja, uma integral dupla da

    superfcie total. Tal superfcie freqentemente chamada de superfcie gaussiana. Temos, ento, a

    formulao matemtica de Gauss, que afirma

    carga envolvidaSS D dS Q = = =rr

    A carga envolvida pode ser um conjunto de vrias cargas pontuais, ou uma linha de cargas,

    ou uma superfcie de cargas, ou ainda, uma distribuio volumtrica de cargas. Como a equao da

    distribuio volumtrica uma generalizao das outras expresses, podemos escrever a Lei de

    Gauss em termos desta

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    38

    S vS volD dS dv =

    rr

    uma afirmativa matemtica significando simplesmente que o fluxo eltrico total atravs de qualquer

    superfcie fechada igual carga envolvida.

    Para ilustrar a aplicao da lei de Gauss, vamos conferir os resultados do experimento de

    Faraday colocando uma carga pontual Q na origem do sistema de coordenadas esfricas e escolhendo uma superfcie fechada como uma esfera de raio r . Temos ento

    ( )0 0 20

    22 2 2

    4

    44 4 4

    S rS S S

    rS S

    QD dS E dS a dSr

    Q Q Qa dS dS r Q

    r r r

    pi

    pipi pi pi

    = =

    = = = =

    r r rr r

    r

    e obtm um resultado que mostra que Q Coulomb de fluxo eltrico est atravessando a superfcie, como deveria ser, j que a carga envolvida de Q Coulomb. A figura abaixo ilustra o fato de que os vetores SD

    r e dS

    r, neste exemplo, esto sempre na mesma direo

    J a integral de rea da superfcie fechada esfrica

    2 2 2

    0 04esferaS r sen d d r

    pi pi pi

    = =

    = =

    = =

    contudo, por ser a rea de uma superfcie esfrica uma equao conhecida, no h necessidade de

    se calcular a mesma em todos os exemplos que esta aparecer.

    Vale ressaltar que para o clculo do fluxo eltrico em uma superfcie aberta pode-se usar

    SSD dS =

    rr (superfcie aberta)

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    39

    Exemplo 03:

    Dada uma carga pontual de 60 C localizada na origem, determine o fluxo eltrico total que passa atravs:

    a) da poro de uma esfera de 26r cm= limitada por 0 /2 pi< < e 0 /2 pi< < ; b) da superfcie fechada definida por 26 cm = e 26z cm= ; c) do plano 26z cm= .

    Exemplo 04:

    Dada a densidade de fluxo eltrico 2 20,3 /

    rD r a nC m=r

    no espao livre, determine:

    a) o campo eltrico Er

    no ponto ( )2,25 ,90P . b) a carga total dentro da esfera 3r = . c) o fluxo eltrico total que deixa a esfera 4r = .

    Exemplo 05:

    Calcule o fluxo eltrico total que deixa uma superfcie cbica formada pelos seis planos , , 5x y z = se a distribuio de carga :

    a) duas cargas pontuais, uma de 0,1 C em ( )1, 2,3 e outra de 17 C em ( )1,2, 2 ; b) uma linha de cargas uniforme de /C mpi em 2x = e 3y = ; c) uma superfcie de cargas uniforme de 20,1 /C m no plano 3y x= .

    3.3 Aplicaes da Lei de Gauss: Algumas Distribuies Simtricas

    de Cargas

    A soluo da equao de Gauss fcil se formos capazes de escolher uma superfcie fechada

    que satisfaa duas condies:

    1. SDr

    deve ser normal ou tangente superfcie fechada em qualquer ponto, de modo que

    SD dSrr

    se torna SD dS ou zero, respectivamente.

    2. Na parte da superfcie fechada para a qual SD dSrr

    no zero, SD dever ser constante.

    Isto nos permite substituir o produto escalar pelo produto dos escalares SD e dS e depois levar SD para fora da integral. A integral remanescente , ento, sobre aquela poro da superfcie

    fechada em que SDr

    cruza normalmente, o que simplesmente a rea desta superfcie.

    Vamos considerar uma carga pontual Q na origem de um sistema de coordenadas esfricas e decidir por uma superfcie fechada adequada que ir satisfazer os dois requisitos listados acima. A

    superfcie em questo obviamente uma superfcie esfrica, centrada na origem e de raio r

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    40

    qualquer. SDr

    normal superfcie em qualquer ponto; SD possui o mesmo valor em todos os pontos na superfcie.

    Temos, ento,

    2 2

    0 0

    24

    S SS esfera

    S Sesfera

    S

    Q D dS D dS

    D dS D r sen d d

    r D

    pi pi

    pi

    = =

    = =

    = =

    = =

    =

    rr

    e assim 24SQD

    rpi=

    Como r pode ter qualquer valor e como SDr

    est dirigido radialmente para fora,

    2 4 rQD a

    rpi=

    r 2

    0

    4 rQE a

    rpi=

    r

    que concorda com os resultados advindos da lei de Coulomb.

    Como um segundo exemplo, consideremos uma distribuio uniforme e linear de carga

    situada no eixo z se estendendo de a + .

    Neste exemplo em questo, a superfcie cilndrica a nica superfcie em que Dr

    normal

    em qualquer ponto e pode ser fechada por superfcies planas normais ao eixo z . A figura abaixo

    mostra um cilindro circular reto fechado de raio se estendendo de 0z = at z L= .

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    Aplicando-se a lei de Gauss

    2

    0 00 0 2

    S S S S SS cilindro lateral topo base

    z L

    S S Slateral z

    Q D dS D dS D dS D dS D dS

    D dS D d dz D L pi

    pi= =

    = =

    = = = + +

    = + + = =

    r r r r rr r r r r

    e obtemos 2S

    QDLpi

    =

    Em termos da densidade de carga: 2 2

    L LS

    LDL

    pi pi

    = = . Resultando nos vetores,

    2LD a

    pi

    =

    r

    0

    2LE a

    pi

    =

    r

    Em conformidade com o resultado obtido anteriormente pela lei de Coulomb.

    Um terceiro exemplo o problema de um cabo coaxial. Suponhamos que temos dois

    condutores cilndricos coaxiais, o interno de raio a e o externo de raio b , cada um de extenso infinita, como mostra a figura a seguir. Consideremos uma distribuio de carga S na superfcie externa do condutor interno. As cargas dos dois cilindros so iguais em mdulos e opostas em sinais.

    Um cilindro circular reto de comprimento L e raio , onde a b< < , necessariamente escolhido como a superfcie gaussiana, e rapidamente temos

    2SQ D Lpi=

    e obtemos 2S

    QDLpi

    =

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    42

    Em termos da densidade de carga: 2

    2S S

    SaL aDL

    pi pi

    = = . Passando para densidade linear,

    mais comumente usada para cabos coaxiais, temos que LQ L= , ento, 2 2L L

    SLDL

    pi pi

    = = . Em

    termos vetoriais,tem-se

    2LD a

    pi

    =

    r

    0

    2LE a

    pi

    =

    r

    e a soluo possui uma forma idntica quela da linha infinita de cargas.

    Caso usssemos um cilindro de raio b > para a superfcie gaussiana, a carga total envolvida seria ento zero, j que o resultado da soma das cargas dos dois cilindros nulo. Um

    resultado idntico seria obtido para a < , pois a carga do cilindro interno s existir na superfcie do mesmo, conforme veremos em breve para o caso de materiais condutores.

    Exemplo 06:

    Considere um cabo coaxial de 50 cm de comprimento com raio interno de 1 mm e raio externo de 4 mm , o espao entre os condutores preenchido por ar. A carga total no condutor interno 30 nC . Calcule a densidade de carga em cada condutor e, usando a lei de Gauss, a densidade de fluxo eltrico e o campo eltrico, em toda regio.

    Exemplo 07:

    Uma carga pontual de 0,25 C est localizada na origem, e duas densidades superficiais de carga uniformes esto localizadas como segue: uma de 22 /mC m em 1r cm= e outra de 20,6 /mC m em 1,8r cm= . Calcule o vetor densidade de fluxo eltrico em:

    a) 0,5r cm= ; b) 1,5r cm= ; c) 2,5r cm= ; d) Que densidade superficial de carga uniforme deve ser estabelecida em 3r cm= para

    causar um densidade de fluxo de carga nula em 3,5r cm= ?

    3.4 Aplicaes da Lei de Gauss: Elemento Diferencial de Volume

    Agora aplicaremos os mtodos da lei de Gauss para um tipo de problema ligeiramente

    diferente um que no possui qualquer simetria. Para se contornar a problemtica da ausncia de

    simetria, que imprescindvel para aplicao da lei de Gauss, ser necessrio escolher uma superfcie

    fechada muito pequena em que Dr

    seja praticamente constante sobre ela e, que uma pequena

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    43

    variao de Dr

    possa ser adequadamente representada pelos dois primeiros termos da expanso de

    Dr

    em srie de Taylor.

    Consideremos um ponto P qualquer, mostrado na figura seguinte, localizado pelo sistema de coordenadas cartesianas. O valor de D

    r neste ponto pode ser expresso em componentes

    cartesianos, 0 0 0 0 x x y y z zD D a D a D a= + +r

    .

    Escolhemos como nossa superfcie fechada uma pequena caixa retangular, centrada em P , tendo lados de comprimentos x , y e z , e apliquemos a lei de Gauss,

    SS frente atrs esquerda direita topo baseD dS Q = + + + + + =

    rr

    onde, dividimos a integral sobre a superfcie fechada em seis integrais, uma para cada face.

    Consideremos a primeira destas integrais detalhadamente,

    ,

    frente frentefrente

    frente x

    x frente

    D S

    D y z a

    D y z

    =

    = =

    rr

    r

    onde devemos aproximar somente o valor de xD nesta face frontal. A face frontal est a uma distncia de / 2x de P , e assim

    , 0

    0

    taxa de variao de com 2

    2

    x frente x x

    xx

    xD D D x

    DxDx

    = +

    = +

    Temos, agora

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    44

    0 2x

    xfrenteDxD y zx

    = +

    Consideremos agora a integral sobre a superfcie posterior,

    ( ),

    atrs atrsatrs

    atrs x

    x atrs

    D S

    D y z aD y z

    =

    = =

    rr

    r

    e, fazendo-se novamente uma aproximao,

    , 0 2x

    x atrs xDxD Dx

    =

    resultando em 0 2x

    xatrs

    DxD y zx

    = +

    Se combinarmos estas duas integrais, temos

    x

    frente atrsD

    x y zx

    + =

    Usando-se exatamente este mesmo procedimento, encontramos que

    y

    direita esquerda

    Dx y z

    y

    + =

    z

    topo base

    Dx y z

    z

    + =

    Sendo x y z v = , podemos escrever:

    yx zSS

    DD DD dS Q vx y z

    = = + + rr

    A expresso uma aproximao que se torna melhor medida que v se torna menor.

    Exemplo 08:

    Determine um valor aproximado para a carga total contida em um volume incremental de 9 310 m localizado na origem, se ( ) ( ) 2 sen cos 2 /x xx y zD e y a e y a za C m = +r . Exemplo 09:

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    No espao livre, 4 2 4 2 3 2 8 4 16 /x y zD xyz a x z a x yz a pC m= + +r

    . Determinar:

    a) o fluxo eltrico total que atravessa a superfcie retangular 2z = , 0 2x< < , 1 3y< < na direo za ;

    b) o campo eltrico em ( )2, 1,3P ; c) um valor aproximado para a carga total contida em uma esfera incremental localizada em

    ( )2, 1,3P e tendo um volume de 12 310 m .

    3.5 Divergncia

    No subitem anterior, encontramos que

    yx zSS

    DD DD dS Q vx y z

    = = + + rr

    Obteremos agora a relao exata desta equao, permitindo que o elemento de volume v tenda a zero. Escreveremos esta equao como

    Syx SzD dSDD D Q

    x y z v v

    + + = =

    rr

    Pode-se, assim, fazer um limite tal qual

    0 0lim limSyx Szv v

    D dSDD D Qx y z v v

    + + = =

    rr

    sendo que este ltimo termo representa a densidade volumtrica de carga v , portanto

    0lim Syx Sz vv

    D dSDD Dx y z v

    + + = =

    rr

    Por enquanto, trabalhemos unicamente com a primeira igualdade da expresso, ou seja,

    0lim Syx Szv

    D dSDD Dx y z v

    + + =

    rr

    pois a equao que relaciona a densidade volumtrica ser tratada na prxima seo.

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    46

    A expresso anterior envolve a densidade de fluxo eltrico Dr

    , porm a mesma poderia ser

    representativa de qualquer outro campo vetorial genericamente representado pela letra Ar

    (velocidade, acelerao, fora, etc.). Podendo-se reescrev-la como

    0limyx Szv

    A dSAA Ax y z v

    + + =

    r r

    Esta operao apareceu tantas vezes em investigaes fsicas passadas que recebeu um

    nome descritivo, divergncia. A divergncia de Ar

    definida como

    0Divergncia de div lim S

    v

    A dSA A

    v

    = =

    r r

    r r

    e usualmente abreviada por div Ar

    . Este vetor Ar

    membro da famlia dos vetores densidade de

    fluxo. A seguinte interpretao fsica vlida:

    A divergncia do vetor densidade de fluxo Ar

    a descarga de fluxo em uma pequena

    superfcie fechada por unidade de volume medida que o volume tende a zero.

    Por exemplo, consideremos a divergncia da velocidade da gua em uma banheira aps

    termos aberto o dreno. O fluxo lquido de gua atravs de qualquer superfcie fechada situada

    inteiramente dentro da gua deve ser igual a zero, pois a gua essencialmente incompressvel e,

    conseqentemente, a gua que entra e sai de diferentes regies da superfcie fechada deve ser igual.

    Portanto a divergncia desta velocidade zero.

    Entretanto, se considerarmos agora a velocidade do ar em um pneu que acabou de ser

    furado por um prego, percebemos que o ar se expande medida que a presso cai e que,

    conseqentemente, h um fluxo lquido em qualquer superfcie fechada situada dentro do pneu. A

    divergncia desta velocidade , portanto, maior que zero. J na operao de enchimento do pneu, o

    fluxo lquido em qualquer superfcie fechada situada dentro do mesmo ter de sentido oposto ao do

    procedimento anterior.

    Uma divergncia positiva de qualquer grandeza vetorial indica uma fonte desta grandeza

    vetorial naquele ponto. De forma semelhante, uma divergncia negativa indica um sorvedouro

    (sumidouro). Como a divergncia da velocidade da gua acima zero, no existe fonte nem

    sorvedouro.

    A divergncia para o nosso caso especfico da densidade de fluxo eltrico ser

    div yx zDD DD

    x y z

    = + + r

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    47

    Esta expresso est representada em coordenadas cartesianas. Caso desejssemos escrev-

    la em coordenadas cilndricas ou esfricas, as mesmas ficariam como se segue.

    ( )1 1div zD DD Dz

    = + +

    r

    coordenadas cilndricas

    ( ) ( )221 1 1div r DD r D sen Dr r r sen r sen

    = + +

    r

    coordenadas esfricas

    A divergncia uma operao que resulta em um escalar, ou seja, a divergncia meramente

    nos diz quanto fluxo est deixando um pequeno volume em termos de por unidade de volume,

    nenhuma direo est associada a ela.

    Exemplo 10:

    Determine a divergncia div Dr

    em um ponto situado na origem se o vetor densidade de fluxo

    ( ) ( ) 2 sen cos 2 /x xx y zD e y a e y a za C m = +r . Exemplo 11:

    Determinar o valor numrico para div Dr

    no ponto especificado para cada um dos seguintes itens

    abaixo:

    a) ( ) ( )2 2 2 2 2 2 /x y zD xyz y a x z xy a x ya C m= +r em ( )2,3, 1P ; b) ( ) ( ) ( )2 2 2 2 2 2 2 sen sen 2 2 sen /zD z a z a z a C m = +r em ( )2,110 , 1P ; c) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 2 sen cos cos cos sen /rD r a r a r a C m = + r em ( )1,5;30;50P .

    3.6 Primeira Equao de Maxwell (Eletrosttica)

    As expresses desenvolvidas para a divergncia so as seguintes

    0div lim SS

    v

    D dSD

    v

    =

    rr

    r

    div yx zDD DD

    x y z

    = + +

    r

    div vD =r

    A primeira equao a definio da divergncia; a segunda o resultado da aplicao da

    definio a um elemento diferencial de volume em coordenadas cartesianas, e a terceira

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    48

    meramente escrita usando-se de desenvolvimento matemtico. Esta ltima equao um resultado

    do seguinte desenvolvimento

    ( ) Lei de GaussSS D dS Q =rr

    SSD dS Q

    v v

    =

    rr

    0 0lim limSSv v

    D dS Qv v

    ==

    rr

    div vD =r

    Esta a primeira das quatro equaes de Maxwell. Ela estabelece que o fluxo eltrico por

    unidade de volume que deixa uma unidade de volume infinitesimal exatamente igual sua

    densidade volumtrica de carga. A primeira equao de Maxwell tambm descrita como a forma

    diferencial da lei de Gauss. De modo recproco, a lei de Gauss reconhecida como a forma integral

    da primeira equao de Maxwell.

    A operao divergncia no limitada densidade de fluxo eltrico; ela pode ser aplicada a

    qualquer campo vetorial.

    Exemplo 12: Determine uma expresso para a densidade volumtrica de carga associada com cada campo densidade de fluxo eltrico a seguir:

    a) 2 2

    22

    4 2 2 /

    x y zxy x x yD a a a C mz z z

    = + +r

    ;

    b) ( ) ( ) ( ) 2 sen cos sen /zD z a z a a C m = + +r ; c) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 sen sen cos sen cos /rD a a a C m = + +r .

    3.7 O Operador Vetorial r

    (Nabla) e o Teorema da Divergncia

    Definimos o operador nabla r

    como sendo um operador vetorial, representado pela

    expresso:

    x y za a a

    x y z = + +

    r

    Consideremos o produto escalar dos vetores r

    e Dr

    ,

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    49

    ( ) x y z x x y y z zD a a a D a D a D ax y z

    = + + + + r r

    yx zDD DD

    x y z = + +

    r r

    Isto reconhecido como a divergncia de Dr

    , de forma que temos

    div yx zDD DD D

    x y z

    = = + +

    r r r

    O uso de Dr r

    muito mais comum que o de div Dr

    . A partir de agora, usaremos a notao

    Dr r

    para indicar a operao de divergncia.

    O operador r

    no possui uma forma especfica em outros sistemas de coordenadas. Se

    considerarmos Dr

    em coordenadas cilndricas ou esfricas, ento Dr r

    ainda indica a divergncia de

    Dr

    , conforme as expresses j definidas anteriormente, porm no temos uma frmula para r

    em

    si nestes sistemas de coordenadas.

    Iremos agora desenvolver o teorema da divergncia. Este teorema se aplica a qualquer

    campo vetorial para o qual existe a derivada parcial apropriada. Partindo da lei de Gauss,

    SD dS Q =

    rr

    e considerando

    vvol

    Q dv=

    e ento substituindo v por sua igualdade,

    vD =r r

    temos vS vol volD dS Q dv Ddv = = =

    rr r r

    A primeira e a ltima expresso constituem o teorema da divergncia,

    S volD dS Ddv =

    rr r r

    que pode ser escrito como se segue:

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    50

    A integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma superfcie

    fechada igual integral da divergncia deste campo vetorial atravs do volume limitado

    por esta superfcie fechada.

    Novamente, enfatizamos que o teorema da divergncia verdadeiro para qualquer campo

    vetorial. Sua vantagem advm do fato de que ele relaciona uma tripla integrao atravs de algum

    volume com uma dupla integrao sobre a superfcie daquele volume.

    O teorema da divergncia se torna bvio fisicamente se considerarmos o volume, tal qual

    apresentado na figura acima, dividido em inmeros pequenos compartimentos de tamanho

    diferencial. A considerao de uma dessas clulas mostra que o fluxo que diverge desta clula entra,

    ou converge, para as clulas adjacentes, a menos que estas contenham uma poro de superfcie

    externa. Em resumo, a divergncia da densidade de fluxo atravs de um volume leva, ento, ao

    mesmo resultado que o determinado pelo fluxo lquido que atravessa a superfcie fechada.

    Exemplo 13:

    Calcule ambos os lados do teorema da divergncia para o campo 2 2 2 /x yD xya x a C m= +r

    e a a

    regio fechada de um paraleleppedo formado pelos planos 0 1x e= , 0 2y e= e 0 3z e= .

    Exemplo 14:

    Dado o campo ( ) ( ) 21 12 2 6 sen 1,5 cos /D a a C m = +r calcule ambos os lados do teorema da divergncia para a regio limitada por 2 = , 0 e pi= e 0 5z e= .

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    51

    4 ENERGIA POTENCIAL E POTENCIAL ELTRICO

    4.1 Trabalho Empregado no Movimento de uma Carga no Interior

    de um Campo Eltrico

    Se tentarmos movimentar uma carga de teste contra o campo eltrico, deveremos exercer

    uma fora de igual mdulo e sentido contrrio quela exercida pela fora proveniente do campo, e

    isto requer dispndio de energia ou trabalho. J se tentarmos movimentar a carga na direo do

    campo, nosso dispndio de energia torna-se- negativo; no realizaremos trabalho, o campo que

    realizar.

    A fora aplicada carga Q devido a existncia de um campo eltrico Er

    EF QE=r r

    A componente desta fora numa direo dLr

    qualquer

    EL E L LF F a QE a= = r r

    onde La o vetor unitrio da direo de dLr

    .

    A fora que deve ser aplicada por um agente externo para deslocar a carga de mdulo igual

    e sentido oposto, ou seja,

    aplicada LF QE a=

    r

    J o dispndio de energia ser dado pelo produto da fora aplicada pela distncia de

    deslocamento. Pode-se ento escrever que o trabalho diferencial realizado por um agente externo

    deslocando Q ao longo da direo La

    ( ) L LdW QE a dL QE a dL QE dL= = = r r r r onde substitumos La dL pela expresso mais simples dL

    r.

    O trabalho necessrio para deslocar a carga de uma distncia finita deve ser determinado

    pela integrao

    final

    inicialW Q E dL=

    r r

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    52

    onde o caminho deve ser especificado antes que a integral seja calculada. Considera-se, para tanto,

    que a carga est parada nas posies inicial e final.

    Exemplo 01:

    Dado o campo eltrico ( ) ( )2 221 8 4 4 /x y zE xyza za x ya V mz= + r

    , determine a quantidade

    diferencial de trabalho realizado ao deslocarmos uma carga de 6nC de uma distncia de 2 m , partindo de ( )2, 2,3P e caminhando na direo:

    a) 6 3 2

    7 7 7L x y za a a a= + + ;

    b) 6 3 2

    7 7 7L x y za a a a= .

    4.2 Integral de Linha

    A expresso da integral para o trabalho um exemplo de integral de linha, a qual, sempre

    assume a forma da integral ao longo de um caminho prescrito do produto escalar entre o campo

    vetorial e o vetor comprimento diferencial. Sem a utilizao da anlise vetorial, deveramos escrever

    finalLinicial

    W Q E dL=

    onde LE = componente de Er

    ao longo de dLr

    .

    O procedimento da integral de linha est indicado na figura abaixo, onde foi escolhido um

    caminho a partir da posio inicial B at a posio final A e selecionado um campo eltrico uniforme. O caminho est dividido em seis segmentos.

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    53

    O trabalho envolvido no deslocamento da carga Q de B para A , ento, aproximadamente

    ( )1 1 2 2 6 6L L LW Q E L E L E L= + + + K ou, usando notao vetorial,

    ( )1 1 2 2 6 6W Q E L E L E L= + + + r r r r r rK e, como admitimos um campo uniforme

    ( )1 2 6W QE L L L= + + + r r r rK A soma dos segmentos dos vetores pode ser realizada pela regra do paralelogramo,

    resultando justamente em um vetor dirigido do ponto inicial para o ponto final, BALr

    . Portanto,

    ( ) uniformeBAW QE L E= r r r Para este caso especial de uma intensidade de campo eltrico uniforme, devemos notar que

    o trabalho envolvido no deslocamento da carga depende somente de Q, Er e BALr

    . Ele no depende

    do caminho escolhido para deslocar a carga, ou seja, pode-se ir de B para A em uma linha reta ou por um caminho tortuoso que a resposta ser a mesma.

    Note que a expresso de dLr

    utiliza dos vetores de comprimentos diferenciais, os quais

    encontram-se destacado a seguir.

    (coordenadas cartesianas)

    (coordenadas cilndricas)

    (coordenadas esfricas)

    x y z

    z

    r

    dL dxa dya dza

    dL d a d a dza

    dL dra rd a r sen d a

    = + +

    = + +

    = + +

    r

    r

    r

    Para ilustrar o clculo da integral de linha, investigaremos os diversos caminhos que devemos

    considerar prximos a uma linha infinita de cargas, conforme figura a seguir.

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    O campo j foi obtido anteriormente e inteiramente na direo radial,

    0

    2LE E a a

    pi

    = =

    r

    Deslocando-se uma carga positiva em torno de um caminho circular de raio 1 , conforme figura (a), tem-se 1 dL d a =

    r, o trabalho ser:

    2

    100 1

    2

    00

    2

    0

    2

    final

    inicial

    L

    L

    W Q E dL

    Q a d a

    Q d a a

    pi

    pi

    pi pi

    =

    =

    = =

    r r

    Considerando-se agora um deslocamento da carga de a = para b = ao longo do caminho radial, de acordo com figura (b) acima. Aqui, dL d a=

    r e

    0

    0

    0

    2

    2

    ln2

    b

    a

    b

    a

    L

    L

    bL

    a

    W Q a d a

    dQ

    Q

    pi pi

    pi

    =

    =

    =

    Como b maior do que a , percebe-se que o trabalho realizado negativo, indicando que a fonte externa, que est deslocando a carga, recebe energia. J se o deslocamento fosse de b para

    a , teramos,

    0

    ln2

    bL

    a

    QW pi

    =

    Neste caso o trabalho positivo, o que significa que a fonte externa (ou agente externo)

    que est fornecendo energia.

    Exemplo 02:

    Dado o campo eltrico no-uniforme 2x y zE ya xa a= + +r

    , determine o trabalho realizado para

    levar uma carga de 2C de ( )1,0,1B at ( )0,8;0,6;1A ao longo do arco mais curto do crculo 2 2 1x y+ = e 1z = .

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    Exemplo 03:

    Calcule o trabalho ralizado ao deslocarmos uma carga de 4C de ( )1,0,0B at ( )0,2,0A ao lonho do caminho 2 2 , 0y x z= = no campo:

    a) 5 /xE a V m=r

    ;

    b) 5 /xE xa V m=r

    ;

    c) 5 5 /x yE xa ya V m= +r

    .

    Exemplo 04:

    (exemplo de campo no-conservativo) Considerando ( )5 /xE xa V m=r , calcule o trabalho necessrio para deslocar uma carga de 3C de ( )1,3,5B at ( )2,0,3A ao longo dos segmentos de linhas retas unindo:

    a) ( )1,3,5B a ( )2,3,5 a ( )2,0,5 a ( )2,0,3A ; b) ( )1,3,5B a ( )1,3,3 a ( )1,0,3 a ( )2,0,3A .

    4.3 Definio de Diferena de Potencial e Potencial Eltrico

    Define-se a diferena de potencial V como o trabalho realizado (por um agente externo) ao

    deslocar uma unidade de carga positiva ( )1Q = de um ponto a outro em um campo eltrico, Diferena de Potencial

    final

    inicialV E dL= =

    r r

    A diferena de potencia ABV significa a diferena de potencial entre os pontos A e B , e o trabalho realizado ao deslocarmos uma unidade de carga de B at A. Assim,

    ( ) VAAB BV E dL= r r

    onde a unidade de medida volts que freqentemente abreviado por V, trata-se, conforme

    observado, de uma grandeza escalar.

    No exemplo da linha de carga da ltima seo, encontramos que o trabalho realizado ao

    levarmos a carga Q de b para a

    0

    ln2

    bL

    a

    QW pi

    =

    Assim, a diferena de potencial entre os pontos b e a

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    56

    0

    ln2

    bLab

    a

    WV Q

    pi = =

    J para o caso de uma carga pontual Q, a diferena de potencial entre os pontos A e B nas distncias radiais Ar

    r e Brr

    da mesma, escolhendo-se a origem em Q, ser

    20

    4r r rQE E a a

    rpi= =

    r

    e rdL dr a=r

    temos

    20 0

    1 14 4

    A

    B

    A r

    AB B rA B

    Q QV E dL drr r rpi pi

    = = =

    r r

    Se B Ar r> , a diferena de potencial ABV positiva, indicando que a energia despendida pelo agente externo ao trazer a carga positiva de Br para Ar . Isto concorda com o modelo fsico que

    mostra que duas cargas iguais se repelem.

    Muitas vezes conveniente falarmos em potencial, ou potencial absoluto, de um ponto em

    vez de diferena de potencial entre dois pontos, mas isto significa somente que concordamos em

    medir toda diferena de potencial em relao a um ponto referencial especfico, o qual consideramos

    ter potencial igual a zero.

    O ponto de referncia de zero mais universal para medidas fsicas ou experimentais de

    potencia a terra, entendida como sendo o potencial da regio da superfcie da Terra. Outro

    ponto de referncia amplamente utilizado o infinito. Este normalmente aparece em problemas

    tericos. Mais uma considerao de referencial pode ser feita para o caso de um cabo coaxial, no

    qual o condutor externo escolhido como o zero de referncia para o potencial. Nota-se, portanto,

    que o ponto de referncia de zero pode assumir inmeras denominaes distintas dependendo da

    aplicao especfica em que est sendo usado.

    Se o potencial num ponto A AV e num ponto B BV , ento

    AB A BV V V=

    onde necessariamente concordamos que AV e BV devem possuir o mesmo ponto de zero de referncia. Observa-se que esta notao de ABV diferente da empregada na anlise vetorial onde

    AB B Ar r r= r r r

    .

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    Exemplo 05:

    Um campo eltrico expresso por ( )2 6 6 4 /x y zE x a ya a V m= + +r . Determine: a) MNV se ( )2,6, 1M e ( )3, 3,2N ; b) MV se 0V = em ( )4, 2, 35Q ; c) NV se 2V = em ( )1,2, 4P .

    4.4 Campo Potencial de uma Carga Pontual

    Na seo anterior, encontramos uma expresso para a diferena de potencial entre dois

    pontos localizados em Ar r= e Br r= , imersos no campo de uma carga pontual Q localizada na origem.

    0

    1 14AB A BA B

    QV V Vr rpi

    = =

    Considerou-se que os dois pontos pertenciam mesma linha radial. Agora, consideraremos

    dois pontos A e B com deslocamentos tambm nas coordenadas e , conforme figura abaixo.

    O comprimento diferencial do caminho dLr

    possui as componentes r , e , e o campo eltrico possui somente a componente radial. Tomando, ento, o produto escalar, temos apenas

    20 0

    1 14 4

    A A

    B B

    A r r

    AB rB r rA B

    Q QV E dL E dr drr r rpi pi

    = = = =

    r r

    Obtemos a mesma resposta e conclumos, portanto, que a diferena de potencial entre dois

    pontos em um campo de uma carga pontual depende somente da distncia de cada ponto carga e

    no do caminho particular usado para deslocar uma unidade de carga de um ponto para outro.

    Agora, se considerarmos 0V = no infinito, o potencial em Ar torna-se

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    58

    04A

    A

    QVrpi

    =

    ou, como no h motivo para identificar este ponto com o ndice A,

    04QV

    rpi=

    Podemos tambm definir uma superfcie equipotencial como sendo uma superfcie

    composta por todos aqueles pontos que possuem o mesmo valor de potencial. Nenhum trabalho

    est envolvido no deslocamento de uma unidade de carga sobre uma superfcie equipotencial, pois,

    por definio, no h diferena de potencial entre dois pontos quaisquer desta superfcie.

    Observao: pode-se escrever, genericamente, que o trabalho para se movimentar uma

    carga de um ponto inicia B at um ponto final A

    abW QV=

    Exemplo 06:

    Uma carga pontual de 15nC est localizada na origem do espao livre. Calcule 1V em ( )1 2,3, 1P se:

    a) 0V = em ( )6,5,4 ; b) 0V = no infinito; c) 5V V= em ( )2,0,4 .

    4.5 Campo Potencial de um Sistema de Cargas e Propriedade

    Conservativa dos Campos Potenciais

    O potencial de uma carga pontual simples, identificada por 1Q e localizada em 1rr

    , envolve

    somente a distncia da carga ao ponto rr

    onde se procura estabelecer o valor do potencial. Para um

    zero de referncia no infinito, temos

    ( ) 10 14QV r

    r rpi=

    rr r

    O potencial devido a duas cargas, 1Q em 1rr

    e 2Q em 2rr

    , funo somente das distncias de

    cada uma das cargas ao ponto do campo, ou ainda,

    ( ) 1 20 1 0 24 4Q QV r

    r r r rpi pi= +

    rr r r r

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    59

    Continuando a adicionar cargas, encontramos que o potencial devido a n cargas pontuais

    ( ) 1 20 1 0 2 04 4 4

    n

    n

    QQ QV rr r r r r rpi pi pi

    = + + +

    rKr r r r r r

    Se agora cada carga pontual for representada como um pequeno elemento com uma

    distribuio volumtrica contnua de carga igual a v v , ento

    ( ) ( ) ( ) ( )1 1 2 20 1 0 2 04 4 4

    v v v n n

    n

    r v r v r vV r

    r r r r r r

    pi pi pi

    = + + +

    r r rr

    Kr r r r r r

    Fazendo o nmero de elementos tornar infinito, podemos obter a expresso do potencial por

    meio da integral:

    ( ) ( )0

    ' '

    4 'v

    vol

    r dvV r

    r r

    pi

    =

    r

    rr r

    Esta expresso vlida para uma distribuio volumtrica de cargas. Para o caso de uma

    distribuio linear ou superficial de cargas, tem-se, respectivamente,

    ( ) ( )0

    ' '

    4 'L r dLV r

    r r

    pi

    =

    r

    rr r

    ( ) ( )0

    ' '

    4 'S

    S

    r dSV r

    r r

    pi

    =

    r

    rr r

    Com estas trs ltimas equaes pode-se calcular o potencial de qualquer distribuio de

    cargas. Para ilustrar o uso de uma destas integrais vamos determinar V no eixo z para uma linha de cargas uniforme L na forma de um anel com a = localizado no plano 0z = , como mostra a figura a seguir.

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    Temos, para tal exemplo:

    ' 'dL d a d = = ; zr z a=r ; 'r a a=r

    Ento,

    2 2'r r a z = +

    r r

    e

    2

    2 2 2 200 0

    '

    4 2L La d aV

    a z a z

    pi pi

    = =

    + +

    Para um zero de referncia no infinito, podemos concluir que:

    1. O potencial devido a uma nica carga pontual o trabalho realizado no

    deslocamento de uma unidade de carga positiva do infinito ao ponto no qual

    desejamos conhecer o potencial, sendo o trabalho independente do caminho

    escolhido entre estes dois pontos.

    2. O campo potencial na presena de um certo nmero de cargas pontuais a soma

    dos campos potenciais individuais originados de cada carga.

    3. O potencial devido a um certo nmero de cargas pontuais ou a quaisquer

    distribuies contnuas de cargas pode ser encontrado ao deslocarmos uma unidade

    de carga do infinito ao ponto em questo ao longo de qualquer caminho escolhido.

    Reconhecendo-se, portanto, que nenhum trabalho realizado no deslocamento de uma

    unidade de carga ao longo de qualquer caminho fechado, tem-se

    0E dL =r r

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    Lembrando-se que a diferena de potencial dada por: A

    AB BV E dL=

    r r.

    A integral para um caminho fechado representada por um pequeno crculo sobre o smbolo

    de integral. Este smbolo o mesmo usado para designar a superfcie fechada da lei de Gauss e, aqui,

    chamada integral de linha fechada.

    A equao em questo somente verdadeira para campos estticos, ou seja, onde Er

    no

    varia com o tempo.

    Qualquer campo que satisfaa uma equao da forma apresentada (isto , onde a integral de

    linha fechada do campo seja zero), dito um campo conservativo. O nome surge do fato de que

    nenhum trabalho realizado (ou que a energia conservada) em torno do caminho fechado. Um

    exemplo de campo conservativo o campo gravitacional, pois qualquer energia gasta na

    moviment