APOSTILA DE TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR

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1 TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR Introdução Até recentemente, falava-se apenas em administração (escolar), que, na taxiomia largamente difundida, compreende as atividades de planejamento, organização, direção, coordenaç4áo e controle. A gestão envolve necessariamente estas atividades, mas, em suas formas mais radicais, parece ir além, incorporando também certa dose de filosofia e política, que, no entender de um autor clássico como Querino Ribeiro, vem antes e acima da administração. Ultimamente, a teoria da administração entrou em crise, quer por fatores endógenos, quer exógenos. Os estudos de administração jamais foram capazes de conduzir a uma teoria satisfatória, que explique consistentemente o que é administrar. Pior que isto, os teóricos tomaram consciência de um fato bastante simples, mas perturbador: em geral, ninguém gosta de obedecer a ordens. Ou, para usar a expressão de Grifflths: ninguém pode estar a um só tempo submisso e satisfeito. Para complicar as coisas, a teoria da administração passou a sofrer ataques de fora. Por questões ideológicas, foi posto em xeque o conceito de autoridade, basilar em administração e, como consequência, começaram a surgir soluções alternativas para a condução dos empreendimentos humanos. Com isto, surgiu também a necessidade de um PROFº RIBAMAR CAMPOS

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TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR

TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR

Introdução

Até recentemente, falava-se apenas em administração (escolar), que,

na taxiomia largamente difundida, compreende as atividades de planejamento,

organização, direção, coordenaç4áo e controle. A gestão envolve

necessariamente estas atividades, mas, em suas formas mais radicais, parece

ir além, incorporando também certa dose de filosofia e política, que, no

entender de um autor clássico como Querino Ribeiro, vem antes e acima da

administração.

Ultimamente, a teoria da administração entrou em crise, quer por

fatores endógenos, quer exógenos. Os estudos de administração jamais foram

capazes de conduzir a uma teoria satisfatória, que explique consistentemente o

que é administrar. Pior que isto, os teóricos tomaram consciência de um fato

bastante simples, mas perturbador: em geral, ninguém gosta de obedecer a

ordens. Ou, para usar a expressão de Grifflths: ninguém pode estar a um só

tempo submisso e satisfeito. Para complicar as coisas, a teoria da

administração passou a sofrer ataques de fora. Por questões ideológicas, foi

posto em xeque o conceito de autoridade, basilar em administração e, como

consequência, começaram a surgir soluções alternativas para a condução dos

empreendimentos humanos. Com isto, surgiu também a necessidade de um

conceito mais abrangente que descrevesse a administração e suas

alternativas. Daí o conceito de gestão.

Os estudos de administração tem sua atenção voltada para a atuação

do administrador ou líder, considerando o principal responsável pelo êxito das

ações do grupo sob seu comando. Em certas formas de gestão, a figura do

administrador tende a ser enfraquecida ou até mesmo eliminada, surgindo com

maior destaque os colegiadas, as decisões grupais, o consenso.

A gestão é, pois, tomada aqui como expressão mais ampla que

administração, que é uma de suas formas. Consiste na condução dos destinos

de um empreendimento, levando-o a alcançar seus objetivos. As formas mais

conhecidas de gestão são a administração, a cogestão, a autogestão.

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Administração: O ponto de partida dos estudos de administração foi a

preocupação com a eficiência: como obter o máximo de resultados com o

menor dispêndio de energia. Com o tempo, foi-se impondo o conceito de

eficácia: como alcançar os objetivos propostos. Simon tem uma imagem feliz

para esclarecer o significado dos dois conceitos.

Diz ele:

“ metralhadora é uma arma bastante eficiente - é capaz de disparar

muitos tiros por segundo. No entanto, ela somente será eficaz se

atingir o alvo".

Ultimamente, a atenção dos administradores tem sido deslocada para o

conceito de qualidade. Expressões como qualidade total, ISSO 9000 e outras

incorporaram-se ao vocabulário dos administradores de empresas e, embora

ainda incipientemente, estão chegando às escolas.

As teorias de administração, quaisquer que sejam, repousam sempre

sobre o princípio da autoridade e têm como pressuposto básico a existência do

binômio superior-subordinado. Os pioneiros dos estudos de administração são

bastante explícitos em firmar a posição de mando do administrador. Fayol, por

exemplo, propõe como fundamentais, dentre outros, os princípios da

autoridade, hierarquia, ordem, unidade de comando. Taylor4 expõe com

bastante clareza a ideia de que ao subordinado compete obedecer sem

discussões as determinações de seus superiores - o operário não deve ter

iniciativa, mas realizar o trabalho da maneira indicada pelos chefes.

Evidentemente, a teoria da administração evoluiu e assumiu uma fisionomia

mais humana, a partir da contribuição de autores como Barnard, Mary Parker

Follett, Elton Mayo e outros. Contudo, jamais abdicou do princípio da

autoridade.

Co-gestão: Baseia-se no princípio da participação. E ainda uma forma

de administração, em que permanece a figura do administrador, mas com

autoridade mais limitada. O administrador já não é o único responsável pelas

decisões, pois estas somente são consideradas legítimas quando tomadas com

a colaboração dos demais elementos sob seu comando.

Autogestão: A ideia de autogestão é fascinante. Consiste na anarquia,

em seu sentido legítimo de ausência de autoridade, sem que isto signifique

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ausência de ordem. Embora persista a necessidade de coordenação dos

esforços, desaparece a hierarquização. Em um regime de autogestão, as

pessoas ou os grupos atuam com autonomia e procuram contribuir para o bom

andamento dos trabalhos. Agem, não por obediência a alguma autoridade, que

não reconhecem, mas por convicção. O problema de autogestão é que não

pode ser um ponto de partida, mas exige uma lenta e cuidadosa preparação.

Até o presente não se conhece uma experiência bem-sucedida e duradoura de

autogestão.

Apesar das alternativas propostas, a administração prevalece na

generalidade dos empreendimentos humanos. A cogestão é ainda

administração, conquanto nela o administrador tenha que repartir seu poder

com os demais participantes. A autogestão, que seria uma alternativa

completa, jamais conseguiu sair do discurso ideológico para firmar-se na

prática como uma forma consciente de gerir o trabalho cooperativo.

Com tudo isto, as escolas continuam a contar com um diretor (administrador

escolar). E dele que estará tratando o restante desta apostila.

O Diretor de Escola

A Escola

Antes, porém, de voltarmos nossa atenção para a figura do diretor,

dediquemos alguns parágrafos à análise de seu ambiente de trabalho. A escola

é organizada com a finalidade de atingir certos objetivos, os quais dão sentido

à organização escolar e orientam, consequentemente, a tomada de decisões

no que se refere à natureza dos currículos e programas, ao tipo de edifício

escolar, à quantidade e qualidade do equipamento, ao número e qualificação

do pessoal escolar. Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar em uma

escola precisa procurar informar-se sobre seus objetivos e, na medida do

possível, dar sua própria contribuição para o aperfeiçoamento dos mesmos.

Esta necessidade é particularmente relevante para o diretor e os

professores, que desempenham na escola função da mais alta

responsabilidade. A falta de atenção aos objetivos pode levar a atividades

inúteis e até mesmo contraproducentes. Um professor de "educação musical"

que se limite, na maior parte do tempo, a insistir com seus alunos para que

aprendam a solfejar, pode não só estar perdendo tempo, porque os alunos

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esquecerão esse aprendizado tão logo se vejam livres do professor, como

também pode estar ensinando-os a detestar a música, o que é um resultado

completamente contrário aos objetivos da disciplina.

Estrutura da escola

Dependendo do ponto de vista em que nos coloquemos - o

administrativo ou o sociológico, podemos distinguir na escola a estrutura

administrativa (ou organização formal) ou a estrutura total (isto é, a

organização formal mais a organização informal).

ESTRUTURA ADMINISTRATIVA

A estrutura administrativa, ou organização-formal, é constituída de

elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente dispostos

de forma a conduzir à consecução dos objetivos da escola. Na estrutura formal,

podemos apontar quatro grandes áreas, a saber:

Corpo discente, programação, pessoal escolar e recursos materiais.

a) corpo discente

O corpo discente define a natureza do estabelecimento: escola de educação

infantil, escola para excepcionais, escola de ensino fundamental e assim por

diante. De acordo com o progresso alcançado nos estudos, o corpo discente

costuma ser classificado em séries didáticas. São mais comuns as séries

anuais e, em alguns casos, as séries semestrais. O problema da repetência

tem inspirado outras soluções, como é o caso dos ciclos didáticos, abrangendo

mais de um ano letivo, a matrícula por disciplina e o ensino por módulos.

E em função do corpo discente que são definidos os objetivos da escola.

b) programação

A programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem

realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam

ser alcançados. Portanto, a programação é função dos objetivos. As suas

diretrizes estão contidas na legislação, geral e escolar, e no regimento da

escola.

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Constam da programação: o mecanismo administrativo, o plano

didático e os planos de trabalho.

O mecanismo administrativo nada mais é que o conjunto de órgãos e

posições existentes na escola, os quais estão dispostos de acordo com certa

hierarquia, são interdependentes, comunicam-se entre si de acordo com

normas preestabelecidas e desempenham funções definidas. Á representação

gráfica do mecanismo administrativo dá-se o nome de organograma.

O plano didático é composto de currículos e programas e estabelece as

atividades-fim da escola. Os currículos e programas são, em geral, organizados

de acordo com uma seriação, que acompanha o desenvolvimento dos alunos

em seus vários aspectos (físico, intelectual, emocional, etc.).

Os planos de trabalho são, de certa forma, o mecanismo administrativo

e o plano didático postos em ação ou seja, o resultado do planejamento do

trabalho escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo

e as metas estabelecidas no plano didático. Os planos de trabalho podem ser a

longo, médio ou curto prazo; podem referir-se ao trabalho global da escola, ou

de certos setores, ou até mesmo ao trabalho de um só professor.

c) pessoal escolar

O pessoal escolar pode ser assim classificado:

Administração: diretor, auxiliares de direção.

Corpo docente: professores.

Pessoal técnico: orientador educacional, orientador pedagógico, bibliotecário

e outros.

Pessoal de serviços auxiliares: secretário, escriturários, inspetores de

alunos, auxiliar de serviços diversos, merendeira e outros.

d) recursos materiais

Os recursos materiais, que devem ser a expressão física da

programação, compreendem: prédio escolar, instalações, mobiliário,

equipamento didático, material permanente, material de consumo, verbas. Eles

são função da programação; assim, por exemplo, antes de construir-se um

prédio escolar, precisa-se examinar quais as atividades a que ele se destina. A

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compra de equipamentos, como computadores, não deve ser feita antes de

uma ideia clara das atividades a serem realizadas.

Estrutura total

Procurando estabelecer qual a contribuição que pode ser dada pela

Sociologia para o esclarecimento da Administração Escolar, Antônio Cândido

diz:

"A estrutura administrativa de uma escola exprime a sua organização

no plano consciente, e corresponde a uma ordenação racional

deliberada pelo poder público. A estrutura total de uma escola é,

todavia algo mais amplo, compreendendo não apenas as relações

ordenadas conscientemente, mas ainda todas as que derivam da sua

existência enquanto grupo social. Isto vale dizer que, ao lado das

relações oficialmente previstas (que o legislador toma em

consideração para estabelecer as normas administrativas), há outras

que escapam à sua previsão, pois nascem da própria dinâmica do

grupo social escolar. Deste modo, se há uma organização

administrativa igual para todas as escolas de determinados tipos,

pode-se dizer que cada uma delas é diferente da outra, por

apresentar características devidas à sua sociabilidade própria."

Esta maneira de perceber a realidade não é estranha aos estudiosos

da administração. Barnard, por exemplo, discute com bastante propriedade o

que denomina "organização informal", atribuindo-lhe influência decisiva no

desempenho da administração. Outros estudos demonstram de que maneira

fatores não previstos no organograma atuam no sentido de alterar, às vezes de

maneira profunda, as linhas de comando formalmente estabelecidas.

Assim, somente o conhecimento da estrutura total (estrutura formal +

estrutura informal) pode dar ao diretor a possibilidade de compreender melhor

sua escola. Por esta razão, é necessário que procure estudar a literatura a

respeito, de modo especial o excelente ensaio de Antônio Cândido.

A Direção

Conceito de Diretor de Escola

O diretor de escola exerce uma função bastante complexa, em que se podem

distinguir pelo menos três aspectos:

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a) o de autoridade escolar;

b) o de educador;

c) o de administrador.

O diretor como autoridade escolar:

O diretor enfeixa em suas mãos uma grande soma de

responsabilidades - na verdade, é responsável por tudo o que se passa na

escola. Em ocasiões especiais representa a própria escola; por exemplo,

quando comparece a uma solenidade a que é convidado por sua qualidade de

diretor, quando preside a uma reunião na própria escola, quando confere

certificados e diplomas, quando se dirige a outras entidades para tratar de

assuntos de interesse da escola. Nessas ocasiões, ele não está agindo como

simples administrador, mas como uma autoridade escolar, como alguém que

personifica a instituição a que pertence.

O diretor como educador:

Todo administrador precisa ter certa dose de conhecimento da

atividade técnica realizada pelo grupo sob seu comando, sem que isto

signifique que ele tenha de desempenhá-las pessoalmente. Na escola, em que

a atividade técnica (ensino) implica necessariamente em algo mais abrangente,

que é a educação, a situação é outra. Um diretor de escola é, antes de tudo,

um educador, isto é, ele também participa, nem que não queira, das atividades-

fim de seu estabelecimento de ensino. Sua forma de conduzir a vida escolar

tem repercussões profundas, se bem que nem sempre aparentes, na formação

dos alunos. Tudo seria mais simples se a influência da escola na personalidade

dos educandos se fizesse sentir apenas através da atuação dos professores.

Mas, na realidade, não é isto o que acontece. Numa escola em que vigore um

clima ditatorial, os alunos podem ser induzidos a uma postura de submissão,

incompatível com os objetivos de uma educação democrática. A administração

não é um processo desligado da atividade educacional, mas, ao contrário,

acha-se inexplicavelmente envolvido nela, de tal forma que o diretor precisa

estar sempre atento às consequências educativas de suas decisões e atos.

Quando desempenha sua função, ou decide alguma coisa, o diretor é antes de

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tudo um educador, preocupado com o bem-estar dos alunos, e não apenas um

administrador em busca de eficiência.

O diretor como administrador: A escola tem objetivos a atingir e

compete ao diretor assumir a liderança para assegurar a consecução desses

objetivos. O planejamento, a organização do trabalho, a coordenação dos

esforços, a avaliação de resultados fazem parte do seu dia-a-dia de trabalho;

enquanto ele se envolve com estas atividades, está desempenhando sua

função de administrador.

Importância da Direção para a Vida da Escola

Observemos o funcionamento de uma escola bem integrada em seu

programa de trabalho: os funcionários são assíduos e cumprem de boa

vontade suas obrigações, os professores são entusiastas e se dedicam com

alma às suas tarefas docentes, os alunos são interessados e revelam bom

aproveitamento escolar. Há um clima de confiança no trabalho realizado, há a

certeza de estar desenvolvendo algo de bom e genuinamente útil à

comunidade, há a segurança de reconhecimento dos resultados obtidos. Uma

situação assim resulta, naturalmente, da conjugação de uma série de fatores

favoráveis: apoio da comunidade, existência de bom corpo docente, condições

materiais favoráveis, alunos motivados, direção competente. E possível

imaginar-se a existência de falhas em alguns desses fatores, sem que isto

signifique, necessariamente, o desequilíbrio da situação: uma comunidade

indiferente pode ser conquistada com um bom programa de melhoria do

relacionamento escola-comunidade; um professor mal adaptado pode ser

ajudado a aperfeiçoar seu padrão de desempenho; as deficiências materiais

podem ser diminuídas ou eliminadas mediante campanhas e atividades

comunitárias. O que, porém, dificilmente pode ser corrigido é o mau efeito de

uma direção inadequada. Quando o diretor é dedicado e capaz, ele encontra

sempre os meios para remediar as eventuais deficiências de sua escola.

Quando, porém, ele não se mostra à altura de suas delicadas atribuições, de

pouco valerá a existência de outros fatores favoráveis.

A boa direção integra-se tão completamente na atividade da escola que

quase não é percebida isoladamente. Muitas vezes, as pessoas que convivem

com um diretor competente admiram-no como pessoa, louvam suas contínuas

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demonstrações de discernimento, reconhecem com agrado seus traços

positivos de personalidade; mas quanto ao seu trabalho em si, podem não ter

uma percepção clara do que seja. Pode parecer-lhes que a principal função do

diretor é comandar, isto é, fazer com que os outros trabalhem, enquanto ele

mesmo se limita a observar. Pode parecer-lhes até que a direção é supérflua,

pois aparentemente o diretor nada tem a fazer numa escola em que todos

cumprem suas obrigações. Porém, coloque-se em seu lugar uma pessoa

incompetente. Em pouco tempo as dificuldades serão tais que se desmantelará

fatalmente a estrutura cuidadosamente montada dia-a-dia pelo diretor diligente.

É então que aparece, por contraste, o real mérito do diretor. O que antes

parecia um adorno dispensável mostra-se então como uma peça fundamental

para o bom funcionamento da escola.

O Professor e a Direção da Escola

A educação é claramente um trabalho de equipe, de que participam

não só os professores, mas também o diretor e demais funcionários da escola.

Um trabalho conjunto, que se torna tanto mais produtivo quanto mais a equipe

for capaz de trabalhar entrosadamente. O entrosamento do trabalho

(coordenação) é basicamente uma questão administrativa, mas não é

necessariamente um problema apenas do administrador; todos podem e

devem participar do esforço de coordenação. Nenhum professor pode

pretender realizar bem sua tarefa ignorando o que fazem os outros

professores. O ensino de uma disciplina não tem sentido isoladamente, mas

sim na medida em que contribui, em harmonia com as demais disciplinas, para

a formação que o aluno recebe. Portanto, participar da coordenação do

trabalho (que é, em princípio, uma questão administrativa) é uma

responsabilidade irrecusável de todo professor.

A responsabilidade do professor com relação à administração da escola

aparece também claramente quando ele participa de atividades tais como:

a) planejamento dos trabalhos escolares;

b) reuniões para tomada de decisões que afetam a vida da escola;

c) verificação da aprendizagem e participação em decisões que afetam o

progresso escolar dos alunos;

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d) contato com pais de alunos e demais elementos da comunidade.

O Diretor como Líder da Escola

Há pelo menos duas razões fundamentais para que a posição do

diretor de escola não seja meramente a de administrador, mas a de líder: a

natureza peculiar da atividade escolar, que exige um tratamento mais refinado

que o que pode ser observado em outros ambientes de trabalho, e as

atribuições do diretor, que incluem outros aspectos além do de simples

administrador.

O que é um líder?

Não há uma resposta simples para esta questão. A evolução dos

estudos de liderança mostra um deslocamento da atenção, que vai da pessoa

do líder, para o grupo e para a situação vivida pelo grupo. Os estudos que têm

por foco de atenção a pessoa do líder costumam destacar os traços que o

distinguem: perspicácia, inteligência, autoconfiança, coerência, firmeza,

sinceridade, consideração e outros. Entretanto, estes estudos não têm

mostrado consistência, pois, muitas vezes, há lideres que alcançam êxito,

mesmo sem terem todas as qualidades esperadas, enquanto outros, mesmo

tendo todas as qualidades exigíveis, não conseguem resultados

correspondentes às expectativas. Procurando superar estas limitações e por

influência dos estudos de dinâmica de grupo, o foco de atenção voltou-se para

o grupo, mostrando sua força na determinação do comportamento das

pessoas. Sob esta perspectiva, o líder alcança bons resultados, não em razão

de suas qualidades pessoais, mas na medida em que seja reconhecido e

aceito pelo grupo. Os estudos de dinâmica de grupo são pródigos em

demonstrar a força da coerção grupal. A teoria da contingência, por sua vez,

sugere que mais importante que a pessoa do líder ou do grupo é a situação em

que as pessoas estejam envolvidas. Segundo esta teoria, somente poderemos

compreender a liderança se levarmos em consideração os fatores ambientais

que operam sobre as pessoas.

Há um pouco de verdade em todas estas posições, mas nenhuma

delas é completa. Para bem compreendermos o que é liderança, precisamos

levar em consideração a pessoa do líder, o grupo com que ele trabalha e a

situação em que estão colocados líder e liderados. Dado certo grupo, em

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determinada situação, assume a liderança a pessoa que for percebida pelo

grupo como capaz de levá4o a alcançar seus objetivos.

Origem da autoridade do líder

Estudando a liderança do ponto de vista da origem da autoridade, Max Weber

apontou três situações: autoridade tradicional, autoridade formal-legal e

autoridade carismática.

1- A autoridade tradicional é aquela em que predomina o paternalismo e

o poder é transmitido em função do arbítrio de seu detentor, ou de

acordo com a tradição. Assim, o dono de uma escola particular que

coloca um parente na posição de diretor está lhe transmitindo uma

autoridade do tipo tradicional.

2- A autoridade carismática advém das qualidades do líder, que é visto

como possuidor de poderes especiais, de virtudes fora do comum,

enfim, de carisma.

3- Weber considera mais adequada a autoridade formal-legal, em que as

pessoas são investidas em função do mérito, devidamente comprovado.

Neste caso, a escolha do líder é feita por critérios racionais,

preestabelecidos, para realização de uma carreira com regras definidas.

Esta costuma ser a situação da maioria dos diretores de escola.

Estilo de liderança

Pesquisas realizadas por Kurt Lewin e associados levaram à definição de três

estilos de liderança: liderança autocrática, liderança democrática e liderança

Laissez-faire.

1- O líder autocrático centraliza as decisões e impõe seus pontos de

vista, preferindo errar sozinho a acertar com ajuda dos outros.

2- O líder democrático, ao contrário, sem renunciar a sua posição de

principal responsável, valoriza a participação dos liderados na tomada

de decisões, procurando apreender as aspirações do grupo e dando4he

oportunidade de expressar-se livremente.

3- A liderança Laissez-faire abre mão de qualquer tipo de controle sobre

o grupo, deixando-o à vontade para decidir por conta própria sobre os

assuntos de seu interesse.

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Como se pode perceber, o estilo de liderança é uma linha contínua que

tem em um extremo a liderança autocrática e no outro a liderança Laissez-faire,

ficando a liderança democrática numa posição de equilíbrio entre os dois

extremos.

Como regra geral, a liderança democrática é a mais adequada para a

condução das atividades de uma escola. O bom diretor tem sempre a

preocupação de auscultar os demais participantes, colhendo suas sugestões,

ideias, contribuições espontâneas. Não põe em execução uma decisão, sem

antes certificar-se de que foi bem compreendida e aceita por todos. A

participação do grupo na tomada de decisões é a garantia de maior

identificação de todos com o trabalho a ser realizado. Fica mais fácil conseguir

a adesão e o entusiasmo de professores, funcionários e alunos para um

programa de inovação adotado pela escola, quando todos sentem que se trata

de um projeto em que cada um pode dar alguma coisa de si.

Há situações excepcionais em que a liderança democrática pode não

ser a melhor saída. Em uma situação de emergência, com perigo de vida, por

exemplo, o diretor pode não ter tempo de ser democrático. Se uma situação

repentina ameaça a segurança dos alunos, não tem sentido pensar em reunir

os professores para deliberar sobre o que fazer. Nesta hora, o diretor tem de

assumir plena responsabilidade pelas decisões e impô-las com firmeza.

Passada a emergência, porém, o estilo democrático volta a ser o mais

consentâneo com o trabalho da escola.

Haverá situações também em que o estilo Laissez-faire pode mostrar-

se vantajoso. Uma comissão nomeada para determinado fim pode, no calor do

entusiasmo pelo trabalho, extrapolar suas atribuições e tomar rumos além do

previsto. Se esses rumos não são prejudiciais em qualquer sentido, o melhor é

deixar fazer. Obrigar a comissão a limitar-se a suas atribuições específicas

pode ser uma forma de esfriar o entusiasmo e pôr tudo a perder.

A Escola e a Comunidade

Houve época em que a escola podia fechar-se para a comunidade e,

ainda assim, continuar funcionando com razoável grau de aceitação. Era uma

época em que a escola constituía, na expressão de Anísio Teixeira, um clube

fechado, em que os professores recusavam o diálogo com os pais de alunos,

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por entenderem que a presença deles na escola apenas servia para tumultuar

os trabalhos, sem nada trazer de positivo.

Essa atitude de completo distanciamento entre escola e ambiente vem

sendo substituída ultimamente por uma nova maneira de entender o

relacionamento que deve ser mantido entre a escola e a comunidade. Diversos

fatores têm contribuído para esta mudança de postura tanto por parte da

escola, quanto da comunidade a que ela serve. Entre estes fatores destaca-se

a compreensão de que os objetivos buscados pela instituição escolar não se

esgotam dentro de suas paredes, mas advêm de uma realidade mais ampla,

em que se incluem não só a comunidade, mas também a sociedade como um

todo. Se for da sociedade e da comunidade que provêm as ideias que dão

sentido ao trabalho realizado pela escola, não há como pretender mantê-las

alheias às atividades desenvolvidas no ambiente escolar.

De diversas maneiras a escola vem procurando manter uma

convivência mais harmônica e produtiva com seu ambiente mais próximo, tais

como: o desenvolvimento de um programa de relações com a comunidade, a

utilização dos recursos do Conselho de Escola e o incremento das atividades

da Associação de Pais e Mestres (APM).

A escola tem hoje, com justa razão, a preocupação de conquistar o

apoio da comunidade, considerando-o relevante para uma atuação eficaz. Para

tanto, a primeira preocupação deve ser a de construir uma imagem adequada.

Como é a escola vista por todos os que convivem com ela? E considerada um

estabelecimento bem organizado, realizando um trabalho competente, ou, ao

contrário, é vista como uma instituição de poucos méritos, cumprindo

rotineiramente e sem brilho suas obrigações? A imagem da escola tem um

duplo efeito, ou seja, age tanto externa, quanto internamente. Se for positiva, a

imagem da escola desperta boa vontade e desejo de cooperação na

comunidade, tornando-se, assim, mais fácil o desenvolvimento de seu trabalho.

Por outro lado, a própria escola também se beneficia de uma imagem

favorável: alunos, professores e funcionários sentem maior satisfação por

pertencerem a uma instituição tida como modelar e, consequentemente, agem

no sentido de preservar a imagem da escola. Assim, o efeito interno da imagem

positiva da escola é a criação de um clima favorável ao bom desempenho de

alunos e professores. Imagem e clima influenciam-se mutuamente.

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O diretor precisa, pois, estar atento a todas as oportunidades para a melhoria

da imagem da escola. Contribuem positivamente para isto:

* Desenvolver um programa de melhoria do desempenho escolar. A primeira

condição para que a escola tenha uma boa imagem é a de que seja realmente

uma boa escola, com desempenho acima da média.

* Descobrir ocasiões especiais, alegres e festivas, para trazer os pais em visita

à escola, evitando que o contato com eles se restrinja aos encontros para

discussão de problemas com os alunos.

* Esclarecer professores e funcionários sobre a importância de tratar com

urbanidade todas as pessoas que procuram a escola. Até mesmo a maneira de

atender ao telefone deve refletir uma atitude de respeito e cordialidade.

* Cuidar dos aspectos materiais. A aparência física da escola também faz parte

de sua imagem. Um prédio bem cuidado, limpo, agradável, acolhedor constitui

a primeira impressão que a pessoa tem ao chegar à escola. E claro que isto

não basta, mas não deixa de ter um efeito poderoso na imagem da escola.

Importância do Trabalho Inovador

A rotina tem um efeito paralisante no trabalho escolar. A escola que se

contenta com a realização, ano a ano, dos mesmos procedimentos, das

mesmas práticas, sem qualquer preocupação com seu aperfeiçoamento, acaba

por perder terreno, realizando um trabalho medíocre e cada vez mais

inadequado.

Apesar de todas as dificuldades com que notoriamente se defrontam os

trabalhadores em educação, frequentemente se tem notícia de escolas que se

destacam como realizadoras de um trabalho excepcional. A primeira

constatação em relação a estas escolas é a de que conseguiram romper com a

rotina e estão introduzindo algum tipo de inovação, quer no trabalho em sala de

aula, que na forma de gestão, quer ainda em relação à participação da

comunidade na vida da escola. As escolas que conseguem alcançar este nível

de desempenho inovador passam por uma sadia transformação, com sensível

melhora de sua imagem e de seu clima organizacional. Passa a vigorar um

clima de entusiasmo e confiança, cada qual procurando dar o melhor de si para

que o programa proposto seja alcançado com êxito. A escola deixa de ser um

lugar de compadecimento obrigatório, em que se realiza um trabalho rotineiro,

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para transformar-se em ponto de encontro para troca de ideias e realização de

projetos em benefício da aprendizagem. Do ponto de vista do professor, a

escola já não é apenas o emprego que lhe garante um mínimo de rendimento,

mas o ambiente em que alcança auto-realização. Do ponto de vista do aluno, o

que era antes um exercício maçante de rotinas de aprendizagem passa a ser

uma oportunidade de realização de atividades vivas e interessantes. Não são

raros os casos em que professores e alunos passam na escola muito mais

horas do que as previstas no horário de aulas, para a discussão de projetos,

para ensaios e para preparação de materiais especiais.

O que foi dito acima não é mera fantasia, mas uma realidade que pode

ser observada. É claro que a grande maioria das escolas ainda não alcançou

este ponto, mas o que umas poucas têm conseguido está ao alcance de todas

aquelas que se disponham a dar o grande salto em busca da qualidade.

PROFº RIBAMAR CAMPOS

Page 16: APOSTILA DE TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR

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TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR

CONCLUSÃO

Esta apostila teve por objetivo mostrar as diversas formas de gestão da

escola, dando especial atenção à figura do diretor, por entender ser ele, ainda,

de vital relevância para o bom êxito do empreendimento escolar. Destacou a

importância da gestão democrática, que, além de seu valor intrínseco, tem

agora o apoio da legislação vigente. Realmente, a Lei nº 9394/96, Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelece, no inciso VIII do Artigo

3Q, o princípio da "gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e

da legislação dos sistemas de ensino". Mais adiante, no Artigo 14, volta a

insistir no assunto, estabelecendo princípios que devem nortear a gestão

democrática do ensino público na educação básica. Estes princípios destacam

a necessidade de participação de todos - profissionais da educação,

comunidade escolar e local - na elaboração e desenvolvimento do projeto

pedagógico da escola.

Estamos vivendo um novo tempo da educação brasileira, com imensos

desafios a serem enfrentados com determinação, espírito crítico e clarividência.

Somente a gestão democrática, que garanta a participação de todos, tem

condições de levar a escola brasileira a encontrar seu verdadeiro caminho.

Grato pela atenção!

Profº Ribamar Campos

PROFº RIBAMAR CAMPOS