apostila - economia de mercado.pdf

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    APOSTILA

    ECONOMIA DE MERCADO

    Professora Ianara Teixeira

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    Economia de Mercado

    Mdulo 1 INTRODUO ECONOMIA DE MERCADO

    Apresentao

    Algumas revistas, como a Veja So Paulo carinhosamente chamada Vejinha possuem uma seo especial, cujo objetivo remeter o leitor a uma volta no tempo. Trata-se de uma seo que rene olhares curiosos sobre pessoas, paisagens, monumentos, viadutos e pontes, veculos dos mais diversos tipos, dentre outros. E quantos de ns apreciamos uma olhada atenta num velho lbum de fotografias, com comentrios irnicos, como: J no se faz mais mquina de fotografar como antigamente! Assim, transferimos tecnologia a ao do tempo sobre o estado aparente das pessoas, que nos pareciam, muito mais bonitas antigamente do que nos dias de hoje. Simplesmente porque eram mais jovens, claro!

    E, se pudssemos voltar ao passado, qual o tipo de sociedade econmica que encontraramos, conciliando as relaes entre os diversos agentes econmicos? Qual seria, poca, a forma predominante de relacionamento entre os quatro plos dos movimentos de demanda e oferta de bens e servios, configurados pelos indivduos, pelas empresas, pelo governo e pelo setor externo?

    A disciplina Economia de Mercado pretende resgatar uma viso histrica das relaes econmicas entre esses agentes econmicos, como parte fundamental da compreenso da estrutura de mercado prevalecente nos dias de hoje. Dessa forma, com um olho no passado e outro no presente, vamos apropriar-nos, a cada tema, dos conceitos que contribuem para uma ampla viso dos modos de produo e das foras produtivas que contriburam para a formao da sociedade econmica. E permanecem interagindo para a definio do que seremos num futuro prximo!

    Modos de produo constituem as diversas formas de trabalho que j existiram nas sociedades econmicas: a forma artesanal, a industrializao ou a manufatura. Constituem um modo de produo o objeto de trabalho e os meios necessrios produo, como, por exemplo, os instrumentos ou ferramentas, as mquinas, as oficinas, as fbricas, entre outros. Em sntese, o modo de produo configura a maneira de conseguir os meios de vida materiais, necessrios para a sobrevivncia dos homens e o desenvolvimento da sociedade.

    Foras produtivas expressam a posio do homem com relao s coisas e s foras da natureza utilizadas para a criao dos bens materiais.

    A produo e a distribuio dos bens e servios destinados ao suprimento das necessidades dos indivduos requerem uma viso atenta estrutura do mercado. E tambm anlise dos custos e despesas envolvidos nessa produo e distribuio, em suas diversas configuraes, evidenciando o ponto de equilbrio da firma, quando a sua receita total iguala-se a seus custos totais.

    A formao do preo de venda, aqui focada com base nas diversas possibilidades de valorizao dos produtos e servios, tambm parte integrante de uma economia de mercado. Os fundamentos microeconmicos so relevantes para a eficincia desse sistema no processo de administrao dos recursos escassos e gerao dos indispensveis bens e servios de que a sociedade tanto necessita.

    Pindyck & Rubinfeld consideram que a microeconomia um ramo da economia que trata do comportamento das unidades econmicas individuais consumidores, empresas, trabalhadores e investidores , assim como dos mercados formados por essas unidades.

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    Por sua vez, a macroeconomia um ramo da economia que trata das variveis econmicas agregadas, como o nvel e a taxa de crescimento do produto nacional, a taxa de juros, o nvel de desemprego e a inflao.

    Veremos de que maneira interagem as foras de mercado, consubstanciadas na oferta e na procura desses bens e servios, com nfase sobre o excedente do consumidor e o excedente do produtor, como resposta a seus correspondentes anseios de realizao da venda e, conseqentemente, da aquisio. Evidenciamos, tambm, de que maneira as variaes dos preos dos produtos afetam a quantidade demandada dos mesmos. E, por extenso, como a poltica de preos pode influenciar a receita da firma.

    Por ltimo, indagamos sobre a eficincia da economia de mercado em certos campos das necessidades humanas e incitamos o leitor prospeco de novos desafios para a sociedade de mercado.

    O plano de ensino da disciplina Economia de Mercado fundamenta-se nos seguintes tpicos:

    A ementa, ou seja, um breve resumo do que se pretende estudar:

    O problema econmico. A sociedade de mercado. A estrutura de mercado. A oferta, a demanda e o mercado. Os desafios da sociedade de mercado.

    Objetivos gerais da disciplina

    A disciplina Economia de Mercado contribui para o desenvolvimento das competncias e habilidades requeridas dos administradores formados pelas nossas Instituies de ensino. Enfatiza-se o desenvolvimento do senso crtico e contextual, a capacidade analtica da situao da organizao no mercado de atuao e na tomada de deciso com base em critrios lgicos e analticos das diversas situaes.

    Essas competncias e habilidades sero desenvolvidas em todos os processos de aprendizagem a partir dos conhecimentos especficos adquiridos no estudo dos diversos conceitos da disciplina. Tambm as sistemticas integradas de auto-avaliao e avaliao formal do aprendizado que se processam em todos os momentos da vivncia acadmica, na interao entre facilitador do processo de aprendizado e aluno e as estratgias de aprendizado, sero oportunidades para o desenvolvimento das competncias e habilidades requeridas do futuro administrador. A execuo e apresentao de trabalhos, em grupo ou individualmente, alm de respostas a questes para reviso do contedo ministrado, versando sobre os diversos temas focalizados pela disciplina, sero instrumentos e oportunidade para o aprender-a-aprender, fonte primeira do conhecimento.

    Objetivos especficos

    A disciplina Economia de Mercado insere-se na formao do administrador como importante ferramenta para o entendimento, a compreenso e a anlise crtica da evoluo do capitalismo: modo de produo por excelncia de uma economia orientada pelo mercado no tocante oferta e procura de bens e servios. A disciplina visa possibilitar, ao futuro administrador, a apreenso dos diversos conceitos que caracterizam a organizao da atividade econmica, da natureza mobilizao dos fatores de produo vitais para a gerao de bens e servios. Aborda, ainda, o funcionamento do sistema econmico e a anlise das diversas estruturas de mercado, no qual se inserem as organizaes, alm dos aspectos vinculados teoria da demanda e da oferta de bens e servios.

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    Consideradas as premissas que norteiam a razo de ser da disciplina, so seus objetivos:

    Contribuir para que o objetivo maior dos cursos voltados para a administrao oferecidos pela nossa Instituio seja atingido;

    Contribuir para que os alunos possam desenvolver o conjunto de habilidades que deles ser exigido, como profissionais na rea de administrao das organizaes;

    Facilitar a compreenso das ameaas e oportunidades para as organizaes, advindas das decises de poltica econmica;

    Promover um adequado estmulo s decises de poltica econmica, em todos os fori de deciso, com amplo aproveitamento das oportunidades que se apresentarem, pela compreenso dos caminhos econmicos adequados sobrevivncia das organizaes e seu crescimento auto sustentado.

    Mdulo 2 A NATUREZA ECONNICA DO PROBLEMA

    OBJETIVO:

    Entender os mistrios da economia compreender de que maneira as necessidades de bens materiais e servios, que todos os seres humanos apresentam, sero satisfeitas. Os agentes econmicos valem-se de recursos escassos para atender a essas necessidades. Este tema tem como foco a compreenso da natureza do problema econmico, ou seja, a essncia da atividade econmica e de que maneira ela se manifesta no conjunto da sociedade.

    INTRODUO:

    A Economia, como cincia que trata das relaes do ser humano com um mundo dotado de recursos escassos, apresenta-se de forma extremamente simples: cada um de ns participa do sistema econmico do pas e tambm do resto do mundo consumindo produtos e servios bsicos, como: alimentos e bebidas, roupas, pagando aluguel ou prestao de um imvel. Tambm participamos do sistema econmico quando poupamos parte de nossos rendimentos para consumo futuro ou como precauo frente a um futuro incerto. Ainda, como forma de aplicao em outras atividades reais uma sociedade em um empreendimento imobilirio, por exemplo, que apresenta grandes possibilidades de valorizao ao longo de determinado tempo ou em ativos financeiros, uma aplicao em aes de empresas com projeo de crescimento, dentre tantas outras possibilidades, com o objetivo especfico de ganhar mais dinheiro com o dinheiro poupado.

    No mundo dos negcios sobrevivem aqueles que aprenderam a economizar certos fatores utilizados na produo, melhorando sua competitividade e usufruindo dos benefcios do aumento da produtividade. assim que se obtm maior produo com o uso de quantidades menores de fatores: o tempo de trabalho, a quantidade de matria-prima, o consumo de materiais auxiliares no processo produtivo, dentre outros.

    Produtividade a utilizao cada vez mais racional dos diversos fatores de produo em prol do aumento da quantidade produzida.

    Custos so como as unhas: preciso cortar sistematicamente, de tempos em tempos, sob o risco de, se isso no for feito, impedir o uso eficiente dos dedos. Na organizao, o risco pode representar a ineficincia no uso dos fatores de produo.

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    Para explicar esses fenmenos, ns, economistas, devotamos especial predileo por mtodos quantitativos, em que predominam equaes diferenciais e modelos algbricos, explorando os aspectos considerados exatos, ou seja: aqueles que podem ser quantificados e explicados pelos nmeros envolvidos em certas sries histricas e, por isso, figurar em um modelo matemtico. Efetivamente, grande parte da atividade humana consiste, sim, de atividades mensurveis: a jornada diria de trabalho, o tempo de execuo de determinada tarefa, a quantificao e a representao monetria do bem ou servio, seja insumo ou produto final.

    Os insumos de produo compreendem a mo-de-obra direta e indireta, os materiais auxiliares, a matria-prima, energia eltrica, combustveis e lubrificantes, dentre outros.

    Mas, de forma geral, os problemas econmicos no podem ser reduzidos a frmulas matemticas. Envolvem questes relacionadas sociedade, s instituies, histria, cultura no seu sentido mais amplo. Dizem respeito prpria ideologia dos agentes econmicos e, portanto, referem-se ao povo, conceito que compreende o conjunto das classes e grupos sociais: os patres, os empregados, os profissionais liberais, os assalariados, empenhados na soluo objetiva das tarefas de crescimento da atividade econmica e do desenvolvimento sustentvel. Esta tarefa compete a todos, sem distino de raa, credo, cor, religio, etnia e, principalmente, partido poltico.

    Nesse contexto que se integra o progresso tecnolgico (que inclui a educao), tambm denominado fator humano. O interesse pelo fator humano tem contribudo para o surgimento e avano de novas reas de estudo, como a Economia da Educao, a Economia do Trabalho, a Economia da Sade, a Economia dos Recursos Humanos, dentre outras.

    De forma geral, afirma-se que a Economia a cincia que trata da administrao eficiente de recursos escassos com vista satisfao dos ilimitados desejos e necessidades humanas. Esse conceito compreende trs partes: os recursos escassos, desejos e necessidades humanas ilimitadas e, congregando-os, a administrao eficiente.

    SNTESE DO CAPTULO:

    Ao final deste captulo, voc j estar familiarizado com alguns conceitos fundamentais da Economia, com o significado do problema econmico, agente das iniciativas de transformao da sociedade, e as formas de organizao da sociedade para a soluo das questes relacionadas produo e distribuio dos bens destinados satisfao das necessidades humanas.

    Fontes adicionais de leitura:

    Amaury Patrick Gremaud [et alli] organizadores: Diva Benevides Pinho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de Economia 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2003 Cap. 1

    PASSOS, Carlos Roberto M. & NOGAMI, Otto. Princpios de Economia. So Paulo: Pioneira, 1998 Caps. I e II

    VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro. So Paulo: Atlas, 2001 Cap. 1

    Mdulo 3 RECURSOS ESCASSOS

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    A natureza do problema econmico reside na constatao de que os recursos de que a coletividade dispe, para a produo dos bens e servios que satisfazem as necessidades dos seus membros, so limitados em relao ao volume dessas exigncias. Os indivduos necessitam de certos bens roupas, alimentos, um lugar para morar, um veculo para locomover-se e tambm de servios educao, lazer, sade que so escassos, isto : existem em quantidades limitadas. Em contrapartida, as aspiraes humanas so relativamente ilimitadas, superando o volume de bens e servios disponveis para a satisfao desses desejos. Caracteriza-se, dessa forma, o problema fundamental da Economia: a escassez. Se no podemos ter tudo o que desejamos, j que os recursos ou os fatores de produo capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial so escassos, preciso escolher entre os bens produzidos e oferecidos coletividade. Esta, portanto, uma das primeiras decises dos empreendedores.

    A seguir, cada um dos fatores de produo, para melhor compreenso do processo de gerao de riqueza por que passou a humanidade.

    O capital

    Todo bem destinado produo de outro um recurso de capital. Por capital, entende-se, portanto, a infra estrutura produtiva, por exemplo, os edifcios industriais: mquinas e equipamentos; tornos, furadeiras, fresas, dentre outros; as ferramentas: chaves, alicates, moldes industriais; os computadores: aplicados administrao ou linha de produo.

    O capital compreende o prprio fluxo de remunerao (os salrios, por exemplo) e os pagamentos (de bens e servios adquiridos das empresas). Incorpora, portanto, a renda empregada para gerar algum lucro. Atualmente, predomina o conceito de capital como um conjunto de recursos de natureza econmica, distintos e passveis de reproduo, o que possibilita a obteno de um rendimento em perodos determinados. Vrias ramificaes do origem classificao do capital: humano, tcnico, jurdico, contbil. Mais recentemente, o conceito de capital humano impe-se nas organizaes, especificamente na gesto dos recursos ou talentos humanos da empresa. O capital tcnico refere-se ao conjunto de bens materiais utilizados no processo de produo; o capital jurdico representa a relao entre os titulares de direito, capital privado e capital pblico, por exemplo. O capital contbil compreende: capital de giro, capital de emprstimo, capital de participao, capital nacional, capital estrangeiro, dentre outros.

    O lucro definido como a diferena entre a receita total e os custos totais da firma.

    A formao de capital decorre da acumulao de riqueza destinada obteno de novas riquezas. Essa capacidade de gerao de riqueza, consubstanciada nos investimentos, isto , na capacidade de aumentar os meios de produo, determinar o ritmo de desenvolvimento econmico de uma nao. De fato, o emprego eficiente de bens de capital possibilita a elevao do rendimento do trabalho humano e da produtividade real do sistema econmico.

    Os recursos necessrios formao de capital podem ser de origem interna ou externa, isto , procedentes de outros pases. Os recursos internos compreendem a poupana, a parcela da renda que no destinada ao consumo imediato. Essa poupana nem sempre espontnea, ou seja, nem sempre resultado do desejo das pessoas. Em sistemas econmicos afetados por uma inflao persistente, acontece, por vezes, a formao de poupana compulsria ou obrigatria, forada para fazer frente necessidade tanto de investimento como de reduo da demanda e, portanto, como elemento de combate inflao.

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    Para uma idia do que sejam meios de produo, considere que sejam os meios de trabalho e os objetos de trabalho. Os meios de trabalho compreendem os instrumentos de produo (mquinas, ferramentas), as instalaes (edifcios, armazns, silos, dentre outros), as fontes de energia utilizadas na produo (eltrica, elica, nuclear, hidrulica, dentre outras) e os meios de transporte. Os objetos de trabalho so os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matrias-primas, solo e outros).

    A poupana pode ser proveniente de indivduos, das empresas e do setor pblico. Os recursos externos a que nos referimos anteriormente, vm suprir uma carncia de recursos internos: se a poupana interna no suficiente para atender s necessidades de investimento, so contrados emprstimos ou atrados investimentos estrangeiros, ajudas governamentais de outros pases e demais formas de ingresso de capitais estrangeiros.

    O fator terra ou recursos naturais

    Do ponto de vista econmico, os recursos naturais compreendem a base de um sistema sobre a qual se assentar o capital tcnico. So os recursos naturais, tanto os renovveis (de natureza biolgica: vegetais ou animais), como os no renovveis (certas riquezas minerais, como o petrleo) que proporcionaro a obteno dos bens materiais destinados satisfao de certas necessidades do ser humano, transformados e/ou in natura.

    Em uma construo civil, por exemplo, os materiais intermedirios compreendem o ferro, o ao, a cal, o cimento, o alumnio, dentre outros.

    Durante muito tempo prevaleceu a idia, entre os precursores da anlise econmica, de que a verdadeira riqueza de uma nao seria resultante da utilizao indireta do fator terra: a produo agrcola. Os outros bens, derivados da transformao dos produtos primrios, no acrescentariam, portanto, mais riqueza. Esse conceito modificou-se substancialmente com o avano das tecnologias de processo e de produto, objeto de nossa anlise um pouco mais frente.

    O fator trabalho

    O trabalho humano, quando aplicado aos instrumentos o fator capital , num dado espao fsico o fator terra , promove a transformao do meio e a produo de bens segundo as prprias necessidades. O sistema econmico depende da qualidade do trabalho humano, eminentemente criador. O ser humano procura criar, desenvolver e enriquecer novos meios de produo, com vista ao progresso e evoluo da tcnica. Para os economistas da escola clssica, o trabalho o determinante do valor econmico. Segundo essa linha de pensamento, todos os fatores de produo, resumem-se num s: o trabalho, fonte nica de todo o progresso humano. No entanto, para outros economistas clssicos, menos radicais, o valor advm da colaborao entre o capital e o trabalho.

    A tecnologia

    Tecnologia o estudo das tcnicas, a maneira correta de executar qualquer tarefa. o que se conhece em ingls por know-how (saber como), definindo formas, instrumentos, equipamentos, mtodos, caractersticas fsicas de materiais intermedirios e outros insumos para a obteno de um bem econmico.

    A tecnologia pode ser definida como o conhecimento humano aplicado produo. Assim, alguns autores consideram a tecnologia uma mercadoria, com todas as suas caractersticas: tem um preo, pode ser adquirida e tambm se torna obsoleta, isto , pode torna-se ultrapassada com o advento de outra tecnologia. As naes em desenvolvimento so potencialmente compradoras de tecnologia originria de naes desenvolvidas. Nesse

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    contexto, as empresas estrangeiras assumem papel preponderante na transferncia de tecnologia, como resultado de uma licena de produo por firmas nacionais, por exemplo, mediante o pagamento de royalties.

    Os royalties compreendem um determinado montante de dinheiro a ttulo de licena, para utilizao do design do produto, de moldes de fabricao, de especificao de materiais utilizados e outras especificaes que caracterizam o produto.

    Por meio de descoberta de novas matrias-primas, por uma mudana nos mtodos de produo, pela criao de novos produtos ou pela substituio de equipamentos, uma inovao tcnica modifica a prpria diviso social do trabalho e as tcnicas de produo, elevando a produtividade do trabalho. As inovaes, geralmente de grande impacto na economia, manifestam-se como inovao de processo (tecnologia de processo) e inovao de produto (tecnologia de produto). Uma tecnologia de produto caracteriza uma inovao que leva a um produto novo, isto , apresenta peculiaridades com que se qualifica um produto diferente daquele anteriormente oferecido. J a evoluo tecnolgica de processo atinge to somente o processo de fabricao, sem mudanas nas caractersticas do produto. Refere-se, nesse caso, a diminuies no tempo de obteno do produto, a redues no nmero de operaes, racionalizao no uso de matrias-primas, dentre outras.

    A capacidade empresarial

    A funo empresarial vital para a conduo da ordem capitalista. Nas economias de livre iniciativa, compete aos empresrios explorar uma inveno ou introduzir uma inovao de produto ou de processo. Tambm cabe aos empreendedores abrir nova frente de oferta de bens e servios, novos usos para produtos conhecidos, reativao e reorganizao de indstrias, entre outras atividades.

    O empresrio rene aptides que poucos possuem e levam descoberta de oportunidades de investimento, ao financiamento da operao idealizada, obteno e utilizao adequada dos fatores de produo e organizao e coordenao das operaes de forma eficiente. Trata se, portanto, da aglutinao de um conjunto de fatores e funes, ou seja, da obteno e da ao conjunta de capital, terra, trabalho e tecnologia. Esses fatores, organizados em funes industriais, comerciais, administrativas, financeiras e de pesquisa & desenvolvimento, sero vitais para a execuo fsica de um projeto e sua transformao em uma realidade duradoura em prol da gerao de bens e servios que satisfaam alguma necessidade humana.

    A capacidade empresarial resume-se, portanto, em conseguir que as coisas sejam feitas.

    SUMRIO DO TEMA:

    Capital, terra e trabalho, ao lado do conhecimento tecnolgico e capacidade empresarial, constituem recursos de produo escassos. Deles resultam os bens e servios oferecidos sociedade para a soluo de suas necessidades e desejos ilimitados.

    Mdulo 4 NECESSIDADES ILIMITADAS

    Este aspecto requer uma anlise detalhada e sistematizada, dada sua importncia e vinculao com o equacionamento do problema econmico.

    Uma primeira questo diz respeito ao volume de nossas necessidades. Evidentemente, um ser humano que vive numa comunidade moderna, tem necessidades diversas e em maior

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    quantidade das de algum na Idade Mdia. Andar por uma das alas comerciais de um shopping center das grandes metrpoles ou meia hora de televiso comprovam facilmente essa afirmao. Alm do aspecto cronolgico hoje o mundo completamente diferente do de tempos passados h que se considerar que, alm do volume, tambm a composio das necessidades varia entre habitantes de uma metrpole e de uma pequena cidade do interior do Estado.

    Em que pese a diversidade entre volume e composio das necessidades humanas, possvel detectar vrias caractersticas comuns: elas podem ser coletivas ou individuais e, dentre estas, absolutas ou relativas. Vejamos cada uma dessas caractersticas com mais detalhes:

    a) necessidades coletivas

    Nestas se enquadram as necessidades que todo grupo sente: de segurana, de defesa, de educao, de saneamento bsico, de cuidado com a sade, entre outras. Essas necessidades so supridas em parte ou totalmente pela ao do Estado.

    b) necessidades individuais

    Compreendem basicamente dois grupos: o das necessidades absolutas do ser humano, isto , relacionadas s exigncias de natureza biolgica, como: dormir, respirar, comer, habitar, procriar, vestir-se... Veja que essas necessidades absolutas ou tambm chamadas de necessidades biolgicas nem sempre tm sua satisfao associada imediatamente a uma soluo econmica. A necessidade de respirar, por exemplo. Em muitas comunidades, a preservao das reas verdes e o controle da poluio do ar podem requerer grandes esforos econmicos.

    O segundo grupo das necessidades individuais compreende as relativas ou sociais. Relativas porque no so idnticas para todos os indivduos. Compreendem o conjunto de hbitos, normas, costumes e valores (uso de talheres e pratos, cama para dormir, o hbito da leitura, audincia de uma sinfonia e outros).

    Quadro 1 - TIPOS DE NECESSIDADES

    COLETIVAS INDIVIDUAIS

    Absolutas Relativas

    Segurana, defesa, educao, saneamento bsico, sade, entre outras.

    Dormir, respirar, comer, habitar, procriar, vestir-se entre outras.

    Hbitos, normas, costumes e valores.

    As necessidades dos indivduos modificam-se a cada novo dia, sejam absolutas, sejam relativas. Alguns estudos a esse respeito, em especial o de Abraham Maslow, um psiclogo norte-americano que viveu entre 1908 e 1970, revelam que as necessidades so hierarquizadas, isto , um indivduo procura satisfazer suas necessidades em certo momento ou perodo de sua vida, por etapas consecutivas, uma aps outra. Imaginemos uma escada, para dispor tal hierarquizao. O primeiro degrau reservado para as necessidades biolgicas ou bsicas. Satisfeitas estas, o indivduo busca a segurana em seu mais amplo sentido: segurana no lar, na comunidade, no emprego. A etapa seguinte refere-se necessidade que o indivduo sente de viver em comunidade, de ser aceito pelo grupo, de relacionar-se. Na prxima etapa, para satisfazer seu ego, busca:reconhecimento,

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    status, poder. E, nessa evoluo motivacional, a ltima etapa refere-se auto-realizao: o indivduo abre-se a novos desafios, procura a experimentao de forma decidida, como alguns cientistas que injetam certo tipo de vrus no prprio organismo, para testar, em seguida, determinada teoria ou vacina por ele desenvolvida.

    Segundo esses estudos, uma necessidade superior no poder ser suprida sem a satisfao da necessidade imediatamente anterior. Outro aspecto revela que a posio do indivduo, na sua hierarquia de necessidades, mutvel ao longo do tempo, ou seja: o indivduo ter projetadas novas hierarquias introduzidas pelas transformaes do meio principalmente.

    Aps estudar os recursos escassos de produo e as necessidades humanas ilimitadas, vamos organizar nosso aprendizado com relao ao conhecimento das diversas formas de satisfao das necessidades humanas: os bens.

    SUMRIO DO TEMA:

    Identificadas como coletivas e individuais, esse tema investigou a classificao da contrapartida de recursos escassos: as necessidades humanas.

    1.3 Bens

    A satisfao de uma necessidade, no sentido aqui tratado, requer um bem. Mesmo as mais elementares necessidades so satisfeitas por certo tipo de bem. O ar, por exemplo, satisfaz a necessidade de respirar. Em circunstncias normais, quando se caracteriza a abundncia, este e outros bens, como a gua do mar e a luz do sol, so bens livres. No constituem, portanto, um problema, cuja soluo esteja no mbito da anlise econmica. Ocorre, no entanto, que a maioria das necessidades dos indivduos ser satisfeita por bens escassos, cuja obteno requer certa quantidade de trabalho e, muito provavelmente, de outros fatores de produo. Estes so os bens econmicos e compreendem duas categorias: os bens tangveis, isto , que se podem apalpar, portanto, materiais, e os bens intangveis, os no de natureza fsica, so os servios.

    Na tentativa de melhor compreenso do fato econmico, a classificao dos bens completa-se com o enquadramento dos bens econmicos tangveis nas seguintes categorias:

    a) bens finais

    So os bens de consumo, os produtos que se destinam ao consumo. Subdividem-se em bens de consumo no durveis, porque possuem existncia muito limitada no tempo e geralmente desaparecem ao satisfazer necessidade, como os alimentos, e bens de consumo durveis, cuja utilizao substancialmente prolongada, como, por exemplo, eletrodomsticos, automveis, entre outros. Estes produtos promovem a atividade

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    econmica, porque na sua produo so utilizados produtos intermedirios: mquinas, fornecimentos de terceiros e um contingente considervel de pessoas direta ou indiretamente ocupadas que, auferindo rendimento, podero adquirir bens econmicos, realimentando o processo de produo agregada de toda a sociedade.

    Tambm fazem parte do grupo de bens finais os bens de capital, destinados produo de novos bens e tambm conhecidos por bens de produo. So as mquinas industriais, ferramentas...

    Nota-se, ademais, que um mesmo bem pode ser classificado em grupo distinto, segundo a categoria uso. Assim, um automvel pode ser um bem de consumo durvel e, para aquele que o utiliza como forma de prestao de um servio txi, por exemplo, esse bem um bem de capital ou bem de produo.

    b) bens intermedirios

    Certos bens, como o ao, o cimento, a cal e uma infinidade de outras mercadorias, requerem transformaes antes de converterem-se num bem de consumo ou bem de capital. So, portanto, os bens intermedirios.

    Quadro 2 - CLASSIFICAO GERAL DOS BENS

    Bens Econmicos Bens Livres (gua do mar, luz do sol, entre outros)

    Bens Tangveis Bens Intangveis (servios)

    Bens Finais Bens Intermedirios (a cal, o cimento, o ferro, o ao, alumnio, entre outros)

    Bens de Consumo Bens de Capital mquinas, ferramentas, entre outras

    Bens de Consumo No-durveis (alimentos, artigos de vesturio, entre outros)

    Bens de Consumo Durveis (eletrodomsticos, automveis, entre outros)

    SUMRIO DO TEMA:

    As necessidades coletivas e as individuais so supridas pelos bens ou servios. Este tema tratou da identificao dos bens livres e dos bens econmicos.

    1.4 Fluxos fundamentais

    O funcionamento do sistema econmico caracteriza-se, de um lado, pela atividade de obteno de recursos ou fatores de produo em si e, de outro, pela obteno de meios financeiros e sua utilizao. Caracterizam-se, portanto, dois mercados: o primeiro, de fatores de produo; o segundo, de bens e servios finais.

    A obteno dos fatores de produo e a produo e distribuio dos bens e servios constituem a atividade real da economia. Os indivduos proprietrios dos fatores de produo fornecem s empresas produtoras de bens e servios finais os recursos de que elas necessitam para a produo de bens e servios finais que satisfaro suas necessidades. Como contrapartida, as empresas remuneram os indivduos sob a forma de

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    salrios (quando o fator fornecido a mo-de-obra), juros (quando se fornece capital de emprstimo para as empresas), lucros (quando o capital cedido sob a forma de participao no empreendimento) e aluguis (quando se cede imvel, terreno ou mesmo mquinas para o exerccio da atividade empresarial). Com esses recursos, os indivduos pagam s empresas pelos bens e servios finais adquiridos. Esse processo de remunerao e pagamento caracteriza o lado monetrio da economia.

    Combinamos, na Figura 1, os fluxos real e monetrio; pode se nela visualizar a interdependncia e a caracterizao dos dois grandes mercados em que se fundamenta a organizao econmica: o mercado de fatores ou recursos de produo e o mercado de bens e servios, nas partes superior e inferior dos fluxos respectivamente.

    Figura 3 - OS FLUXOS REAL E MONETRIO E OS MERCADOS DE FATORES DE PRODUO E DE BENS E SERVIO FINAIS

    A linha cheia, indicando o fornecimento de fatores de produo e o suprimento de bens e servios finais, identifica o fluxo real. A linha pontilhada, pela qual d a passagem da remunerao pelos fatores e o pagamento dos bens e servios adquiridos, constitui o fluxo monetrio.

    Vazamentos e injees no fluxo circular da renda a dois plos

    Nem todo o rendimento auferido pelos indivduos ao fornecerem fatores de produo constitui base para o pagamento pelos bens e servios adquiridos. Uma parte desses rendimentos pode ficar retida sob a forma de poupana identificada pela letra S, do ingls saving, na maioria dos trabalhos acadmicos que focalizam essa importante varivel econmica. Esse ato representa um vazamento de recursos financeiros do sistema, j que haver produo que no ser adquirida. Nesse fluxo circular da renda a dois plos empresas e indivduos , as empresas tambm so poupadoras, na medida em que no utilizam todo o lucro para a aquisio de novos fatores de produo, juntando se aos indivduos poupadores.

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    Por outro lado, nem toda a produo de bens e servios finais destinada aos indivduos. Uma parcela considervel adquirida pelas prprias empresas, para constiturem seu ativo permanente, ou seja: a parcela dos ativos totais da empresa que compreendem o ativo imobilizado e os investimentos sob diversas formas, dentre outras rubricas. Esses dispndios das empresas, com aquisio de bens e servios finais que iro ampliar seus ativos, so os investimentos no sentido econmico e no financeiro, caracterizando, portanto, uma injeo, ou seja, uma entrada de recursos no fluxo circular da renda.

    Afirma-se que o sistema econmico equilibra-se quando os vazamentos so de mesma magnitude que as injees, ou seja: quando a poupana S igual ao investimento I, tal que

    I = S

    Reproduzimos a Figura 3, incorporando os vazamentos e a injeo, isto : a poupana dos indivduos e das empresas e os seus investimentos em ativos, conforme apontado na Figura 4.

    Figura 4 - OS FLUXOS REAL E MONETRIO E OS MERCADOS DE FATORES DE PRODUO E DE BENS E SERVIOS FINAIS, COM INCORPORAO DA POUPANA (S) E DOS INVESTIMENTOS (I)

    SUMRIO DO TEMA:

    Este tema abordou o fluxo circular da renda em sua mais simples verso: a de dois plos, em que se situam as empresas e os indivduos, como agentes econmicos que interagem na produo e distribuio de fatores de produo e bens e servios finais.

    Mdulo 5 QUESTES CENTRAIS DA ECONOMIA

    O dilema traduzido pelo confronto entre recursos de produo escassos e necessidades humanas ilimitadas implica a existncia de trs questes fundamentais para a Economia:

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    Que e quanto produzir? Como produzir?

    Para quem produzir?

    Compete cincia econmica, como sua mais importante funo, reunir o mximo de informaes que possibilitem completo diagnstico da relevncia de cada um destes problemas e suas diversas formas de soluo. Essa , na realidade, a prpria razo de ser desse conhecimento.

    Mas, se Economia compete a elucidao ou o equacionamento dos problemas, a aplicao das recomendaes para a soluo compete comunidade, dado que, na maioria das vezes, intervm fatores de natureza social, poltica, histrica, fsica, tecnolgica, entre outros, de influncia decisiva sobre o resultado.

    Examinemos mais detalhadamente cada uma das questes:

    Que e quanto produzir?

    Dada a escassez dos fatores de produo, considera-se que, ao mesmo tempo em que se decide pela produo de determinado bem, decide-se pela no-produo de outro bem. Assim, a terra destinada ao plantio da cana-de-acar no poder ser utilizada para a produo de alimentos. Ento, a produo de lcool derivada da cana-de-acar implica a no-produo de alimentos naquela poro de terra utilizada para o cultivo da cana-de-acar. A contribuio da anlise econmica questo que e quanto produzir localiza-se no conhecimento das mximas possibilidades econmicas de produo estabelecidas pelas curvas de possibilidades de produo. Vejamos esse conceito.

    Imagine que, em dada regio ou pas, a utilizao dos recursos disponveis capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial para a produo de dois bens, que chamaremos de alfa e beta, possibilitaria as seguintes quantidades:

    Tabela 1 - POSSIBILIDADES DE PRODUO, CONHECIDOS OS FATORES

    Alternativa Quando a produo do bem alfa ...

    ...a produo do bem beta ...

    A 0 20 B 1 19 C 2 17 D 3 13 E 4 8 F 5 0

    A cincia econmica, como tantas outras, considera tcnicas desenvolvidas por outras reas do conhecimento cientfico, para auxiliar na demonstrao de certos fatos econmicos. Assim, a representao grfica em duas dimenses: um eixo dos x, considerada a primeira varivel, e um eixo dos y, a segunda varivel , utilizando dados econmicos observados ou idealizados, ser um instrumento de apoio de fundamental importncia na apresentao das questes econmicas. Assim, se dispusermos os dados da Tabela 1 numa representao grfica de duas dimenses, as quantidades do bem beta ficam demonstradas no eixo dos y e as quantidades do bem alfa, no eixo dos x.

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    Vamos, pois, juntar as informaes dessa tabela num grfico composto por uma abscissa o eixo dos x e uma ordenada o eixo dos y , ou seja: as quantidades do bem alfa no eixo horizontal (abscissa) e quantidades do bem beta no eixo vertical (ordenada). Portanto, utilizando esse sistema de coordenadas cartesianas1, poderemos posicionar as alternativas A, B, C, D, E e F num plano:

    Grfico 1 - DISPOSIO DOS DADOS

    Ao unir os pontos A a F, que representam as alternativas constantes da Tabela 1, obtm-se a Curva de Possibilidades de Produo (CPP). uma construo extremamente simples, que revela as escolhas oferecidas sociedade em funo da limitao dos recursos. O exame atento dos pontos A a F no grfico permite a constatao de um decrscimo na produo do bem beta, na medida em que aumenta a produo do bem alfa. No ponto A, todos os fatores so utilizados para a produo do bem beta. No outro extremo, quando todos os fatores so alocados para a produo do bem alfa, nenhuma unidade de beta pode ser produzida. Entre esses dois extremos existem pontos intermedirios que revelam a escassez dos recursos e, como conseqncia, a necessidade de sacrificar unidades de produo de um bem quando se aumenta a produo de outro bem.

    Grfico 2 - TRAADO DA CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUO

    A CPP uma demonstrao dos limites mximos de produo possvel de dois bens. Na realidade, a produo pode ficar aqum dessa fronteira. o que se demonstrou no ponto U do Grfico 3. Nesse ponto, no esto sendo empregados todos os recursos disponveis, havendo, portanto, desemprego de fatores. Por conseguinte, o pleno-emprego d-se sobre a CPP, que indica a fronteira das possibilidades de produo, com os recursos conhecidos.

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    Assim, os pontos localizados dentro da curva representam situaes em que os recursos no esto sendo administrados de forma eficiente. Observa-se, no Grfico 3, que, se a economia estiver operando no ponto U e, portanto, com ociosidade de fatores, ou seja, com fatores indevidamente aproveitados possvel expandir a produo do bem beta, ou do bem alfa, ou, ainda, uma combinao de ambos, at os limites das possibilidades de produo, indicado pela CPP.

    Grfico 3 - CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUO E O DESEMPREGO DE FATORES

    Se a CPP uma indicao das fronteiras, isto , da produo mxima de dois bens com dado volume de recursos, no se admitem pontos fora da curva. Mas, o que se observa, na realidade, um deslocamento da CPP para cima e para a direita, denotando crescimento da produo decorrente de alteraes positivas na composio e no volume dos fatores de produo. Essas alteraes geralmente decorrem de um aumento na quantidade do fator capital, uma melhoria qualitativa na fora de trabalho e, ainda, do progresso tecnolgico, responsvel por novos mtodos de produo. Esse deslocamento demonstrado no Grfico 4. Evidentemente, uma diminuio de fatores de produo pode levar a um deslocamento da CPP para a esquerda, o que constitui uma anormalidade no funcionamento de todo o sistema econmico. Uma guerra ou uma epidemia, por exemplo, pode causar grande reduo na quantidade e qualidade do fator mo-de-obra.

    Grfico 4 - DESLOCAMENTO DA CPP EM FUNO DE ALTERAES NOS FATORES DE PRODUO

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    A anlise da CPP conduz a duas importantes constataes: a primeira ao oportunidade, isto , renncia ou ao sacrifcio de um bem em prol da obteno de outro. Assim, o custo de oportunidade para a obteno da primeira unidade do bem alfa uma unidade do bem beta, conforme se pode deduzir da Tabela 2. A obteno da segunda unidade de alfa sacrificar mais duas unidades de beta; a terceira unidade de alfa exige um custo de oportunidade de mais quatro unidades de beta e assim por diante. Ao final, para a produo da quinta unidade de alfa, sacrificar-se-o mais oito unidades de beta. Esse custo de oportunidade, quando de opes entre cada alternativa de produo de alfa e beta, est demonstrado no Grfico 5.

    O custo de oportunidade um importante conceito em Economia. Tambm conhecido por custo do economista. Isto : em dadas circunstncias, como, por exemplo, ao montar um escritrio de representao em um imvel prprio, existir um custo de oportunidade retratado pela possibilidade de alugar o imvel. Assim, a renda a ser auferida pelo empreendimento dever considerar o que se receberia como aluguel como determinante do retorno mnimo idealizado pelo negcio.

    Voltaremos a esse conceito quanto tratarmos dos custos de produo e/ou comercializao.

    Tabela 2 - CUSTO DE OPORTUNIDADE

    Alternativa Quando a produo do bem alfa ... ...a produo do bem beta ...

    ...e o custo de oportunidade (em unidades de beta) ...

    A 0 20 B 1 19 1 C 2 17 2 D 3 13 4 E 4 8 5 F 5 0 8

    Grfico 5 - CUSTO DE OPORTUNIDADE

    A segunda constatao leva lei dos rendimentos decrescentes. Conforme visto, uma expanso dos fatores de produo leva a deslocamentos positivos da CPP. Se, no entanto, permanecer constante um ou mais recursos fsicos, os aumentos nas possibilidades de produo sero menos que proporcionais, tornando-se decrescentes ou mesmo nulos a partir de certo nvel. Ou seja: a lei dos rendimentos decrescentes baseia-se na impossibilidade de uma expanso de todos os fatores de produo na mesma intensidade. Se, apenas um dos fatores permanecer constante, aumentando-se os demais, a produo

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    apresentar menor taxa de crescimento a cada estgio. Suponhamos, num primeiro momento, que, como resultado da utilizao de: 100 unidades do fator terra 300 unidades do fator capital 50 unidades do fator trabalho

    obtm-se:

    30 unidades do bem alfa e 40 unidades do bem beta.

    Num segundo momento, mantendo-se constante a quantidade do fator terra e incrementando-se o capital e a mo-de-obra para 360 e 60 unidades, respectivamente, a possibilidade de produo passa para 35 e 45 unidades de alfa e beta. Observa-se que, para um aumento de 20% nos fatores, a possibilidade de produo cresce aproximadamente 17%. Num terceiro momento, utilizando-se:

    100 unidades do fator terra 430 unidades do fator capital 70 unidades do fator trabalho

    a possibilidade de produo atinge:

    38 unidades do bem alfa e 48 unidades do bem beta.

    Nessa simulao, a um novo aumento de 20% nos fatores capital e trabalho, mantendo-se constante o fator terra, as possibilidades de produo aumentam em menos de 9%.

    A seguir, a segunda das questes centrais da Economia:

    Como produzir?

    Essa questo est relacionada s possibilidades tecnolgicas de produo. Competir sociedade a adoo de tcnicas de produo que procurem combinar, da forma mais adequada possvel, seus recursos humanos e patrimoniais. Ateno especial deve ser dedicada absoro da tecnologia, de forma que a penetrao da tcnica no aparelho produtivo no implique desperdcio do potencial humano; por outro lado, a sociedade no dever recusar o emprego de tcnicas que signifiquem aumento da eficincia produtiva.

    Para quem produzir?

    A terceira questo fundamental que a Economia busca responder, a que merece maior ateno da poltica econmica. Consiste em decidir de que forma ser distribuda, por toda a sociedade, a produo obtida e como solucionar a distribuio da renda. A participao da sociedade na determinao do produto deve estender-se igualmente determinao da distribuio mais justa dos bens, superando o desnvel verificado em muitas regies do planeta: o contraste entre escassez e acmulo de bens. importante destacar que foi esse desnvel a causa que promoveu as lutas de classes sociais consubstanciadas nos acontecimentos mais importantes dos ltimos tempos.

    Conlcui-se que, do ponto de vista da Economia, o ideal seria a adequada combinao entre uma estrutura produtiva eficiente obtida por meio de uma soluo adequada s questes que e quanto produzir e como produzir e a justa e efetiva distribuio da produo,

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    solucionando, de forma eficaz, o problema para quem produzir. A Figura 2 ilustra essa viso.

    Mdulo 6 QUESTES CENTRAIS DA ECONOMIA (continuao)

    A economia de mercado e as questes centrais da Economia

    Numa economia de mercado impera a propriedade privada dos meios de produo, ao lado de decises sobre que e quanto produzir fundamentadas no mercado e nos preos. As empresas oferecem seus produtos, medida que h possibilidades efetivas de obteno de lucros, um dos grandes determinantes de uma filosofia liberal.

    A perspectiva de lucro resume-se, portanto, oferta de bens no mercado, orientada pela demanda de bens que suprem as necessidades dos indivduos. Supe-se, ento, que o livre jogo da oferta e da procura fundamental para a operao da atividade econmica. Nessas circunstncias, a interveno do Estado perturbadora e prejudicial, pois a ele compete competiria zelar pelo livre funcionamento do mecanismo dos preos e do mercado, sem interferir em nenhum aspecto da produo.

    Nesse sistema, a deciso sobre que e quanto produzir deve ser dos consumidores e produtores; a deciso sobre o como produzir, determinada pela competio entre os produtores, em busca de maior produtividade e reduo dos custos; a questo sobre para quem produzir, solucionada pela capacidade de aquisio dos bens produzidos, isto , cada indivduo apossa se da quantidade de bens e servios conforme seus recursos financeiros.

    Figura 2 - COMBINAO IDEAL ENTRE PRODUO E DISTRIBUIO

    SUMRIO DO TEMA

    O tema focalizou as questes centrais da Economia que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir e a forma como a economia de mercado responde a cada uma delas. De passagem, abordou a curva de possibilidades de produo e a lei dos rendimentos decrescentes, dois conceitos fundamentais no estabelecimento e na compreenso de uma poltica econmica.

    1.6 Sistemas econmicos

    Segundo Heilbroner2: se uma sociedade quiser assegurar seu constante reaprovisionamento material, dever distribuir sua produo de modo a manter no s a capacidade, mas tambm a disposio de continuar trabalhando. E assim reencontramos o foco da investigao econmica dirigido para o estudo das instituies humanas. Pois uma

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    sociedade econmica vivel [...] deve no s superar a estreiteza de recursos da natureza, mas tambm conter e controlar a intransigncia da natureza humana.

    2 HEILBRONER, Robert L. A Formao da Sociedade Econmica Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987, traduo da 6. edio do original americano publicado em 1982.

    A tradio

    Para assegurar que as tarefas indispensveis produo fossem realizadas, as sociedades baseadas na tradio procuravam transmitir, de pai a filho, os diversos ofcios necessrios ao desenvolvimento da atividade econmica. Conforme Heilbroner, uma cadeia de hereditariedade garante que as qualificaes sero transmitidas e as ocupaes desempenhadas de gerao a gerao. E acrescenta que Adam Smith, em sua obra The Wealth of Nations [conhecida por A Riqueza das Naes], todo homem estava obrigado, por um princpio religioso, a seguir a ocupao de seu pai e estaria cometendo o mais nefando sacrilgio se mudasse para outra. Essa afirmao complementada pela observao de que no foi s na Antiguidade que a tradio preservou uma ordem produtiva no seio da sociedade. Em nossa cultura ocidental, at os sculos XV e XVI, a alocao hereditria de tarefas tambm foi a principal fora estabilizadora na sociedade. Embora ocorresse certo movimento do campo cidade e de profisso a profisso, o nascimento determinava usualmente o papel de cada um na vida. Um indivduo nascia para cultivar a terra ou para um ofcio; e, na terra ou no ofcio, cada indivduo seguia os passos dos antepassados.

    Durante muito tempo, as economias baseadas na tradio desempenhavam suas necessidades de produo e distribuio, porque o costume pde efetivamente fornecer um importante mecanismo para resolver o problema econmico. Heilbroner destaca que a soluo oferecida pela tradio para os problemas de produo e distribuio esttica. Para ele, uma sociedade que adota o caminho da tradio em sua regulao dos assuntos econmicos o faz em detrimento da mudana social e econmica rpida e em larga escala. Por isso, a tradio resolve o problema econmico, mas o faz em detrimento do progresso econmico.

    O mando

    Trata-se igualmente de um mtodo antigo. Diferente da tradio perpetuao de um sistema vivel pela reproduo imutvel de seus mtodos , o mando constitui a organizao de um sistema de acordo com as ordens estabelecidas por um comandante-em-chefe econmico, segundo Heilbroner. Esse mtodo no se limitou s antigas sociedades, tambm se fez presente nas determinaes das autoridades econmicas comunistas. A cobrana de impostos, por exemplo, pressupe o direito de preempo de tomar posse primeiro de parte de nossa renda pelas autoridades pblicas. No exerccio do mando, no ocorre a reduo do ritmo da mudana econmica, como destacado por Heilbroner no caso da tradio. Para ele, o exerccio da autoridade o mais poderoso instrumento de que a sociedade dispe, para impor a mudana econmica. Assim, o Governo pode, por exemplo, utilizar suas receitas fiscais para criar uma rede de estradas que coloque uma comunidade estagnada no fluxo da vida econmica ativa. E, ainda, pode elaborar um sistema de irrigao que mudar radicalmente a vida econmica de uma vasta regio. Alm disso, pode alterar deliberadamente a distribuio de renda entre classes sociais.

    Mas, atento s implicaes de ordem social, especialmente quanto justia social, esse autor ressalta que a nova ordem imposta pelas autoridades pode ofender ou agradar nosso senso de justia social, pode tambm melhorar ou piorar a eficincia econmica da sociedade. Para ele, o mando pode, claro, ser um instrumento de vontade tanto

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    democrtica quanto totalitria. Assim, no existe julgamento moral implcito a ser emitido acerca desse segundo dos grandes mecanismos de controle econmico, voltados para a produo e distribuio de bens e servios. Para Heilbroner, se a tradio o grande freio mudana social e econmica, o mando econmico pode ser o grande incentivo para a mudana. Mas, tanto o mecanismo da tradio quanto o mecanismo do mando contriburam para a soluo bem-sucedida dos problemas econmicos: ambos servem a seus objetivos, ambos tm seus usos e inconvenientes.

    O mercado

    A terceira soluo para o problema econmico, ou seja, uma terceira forma de manter padres socialmente viveis de produo e distribuio a organizao de mercado da sociedade. Trata-se, na viso de Heilbroner, de uma organizao que, de modo verdadeiramente notvel, permite sociedade assegurar o prprio aprovisionamento, com um mnimo de recurso tradio ou ao mando. Para ele, o conhecimento da cincia econmica de vital importncia para a compreenso dos mecanismos que norteiam a produo e a distribuio numa sociedade de mercado. Por esse sistema, os mais simples problemas de produo e distribuio so resolvidos pela livre interao de indivduos, sem orientao da tradio ou do mando. E muitos problemas em que as sociedades contemporneas debatem-se, relacionam-se com o bom ou mau funcionamento do sistema de mercado. Da a necessidade de estudar a prpria economia.

    Para evidenciar certos aspectos da soluo de mercado, Heilbroner sugere o seguinte dilogo entre conselheiros econmicos de uma sociedade que ainda no tivesse escolhido o modo de organizao da atividade econmica:

    Suponha-se, por exemplo, que fssemos convidados a atuar como consultores de uma das novas naes emergentes no continente africano ou asitico.

    Poderemos imaginar os lderes de uma dessas naes dizendo:

    Sempre tivemos um modo de vida altamente preso tradio. Nossos homens caam e cultivam os campos e executam suas tarefas, como foram ensinados a fazer pela fora do exemplo e pelas instrues de seus ancios. Tambm sabemos algo sobre o que pode ser feito pelo mando econmico. Estamos preparados, se necessrio, para assinar um decreto, tornando compulsrio, para muitos de nossos homens, trabalhar em projetos comunitrios com vista ao nosso desenvolvimento nacional. Digam-nos se existe qualquer outra maneira em que possamos organizar nossa sociedade, para que ela funcione com xito ou, melhor ainda, com mais xito.

    Suponha-se, ainda, que respondamos:

    Sim, h outra maneira. Organizem a sociedade, segundo as diretrizes de uma economia de mercado.

    Muito bem, dizem os lderes. E que diremos s pessoas que faam? Como as encaminhar s vrias tarefas?

    Eis o aspecto fundamental responderamos. Numa economia de mercado, ningum designado para qualquer tarefa. De fato, a principal idia de uma sociedade de mercado que se permite a cada pessoa decidir por si mesma o que fazer.

    Espalha-se a consternao entre os lderes.

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    Voc quer dizer que no se designam alguns homens para a minerao e outros para a criao de gado? No h um jeito de mandar alguns cuidar dos transportes e outros responsabilizarem-se pela tecelagem? Voc deixa as pessoas decidirem isso por si mesmas mas o que acontece se elas no decidirem corretamente? O que acontece se ningum se apresentar voluntariamente para trabalhar nas minas ou se ningum se oferecer como maquinista para a estrada de ferro?

    Podem ficar tranqilos dizemos aos lderes. Nada disso acontecer. Numa sociedade de mercado, todos os empregos sero preenchidos porque ser vantajoso para as pessoas preench-los.

    Nossos interlocutores aceitam isso com expresses relutantes. Finalmente, um deles diz:

    Muito bem. Vamos supor que aceitemos seu conselho e permitamos a nosso povo fazer o que lhe apetea. Falemos de algo especfico, como a produo de vesturio. Como fixaremos o nvel certo de produo de roupa nessa sua sociedade de mercado?

    Mas no se fixa coisa alguma. replicamos.

    No se fixa! Ento, como vamos saber se haver uma quantidade suficiente de roupa produzida?

    Haver. O mercado cuidar disso.

    Ento, como saberemos que no se produzir roupa demais? indaga ele, com ar triunfante.

    Ah! O mercado tambm cuidar disso!

    Mas, o que , afinal, esse mercado que far essas maravilhas? Quem o dirige?

    Oh, ningum dirige o mercado. Ele se dirige a si mesmo. De fato, no existe realmente tal coisa a que se possa chamar o mercado. apenas uma palavra que usamos para descrever o modo como as pessoas se comportam.

    Mas, eu pensei que as pessoas se comportavam da maneira que queriam!

    E assim fazem dizemos. Mas no tenham medo. Elas desejaro comportar-se do modo em que vocs querem que elas se comportem.

    Receio diz o chefe da delegao estarmos perdendo nosso tempo. Pensvamos que voc tinha em mente uma proposta sria. O que sugere inconcebvel. Bomdia, Senhor.

    SUMRIO DO TEMA:

    Este tema foi destinado identificao dos sistemas econmicos baseados na tradio, no mando e no mercado, como pano de fundo para o estudo da sociedade de mercado.

    Mdulo 7 A SOCIEDADE DE MERCADO

    OBJETIVO:

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    As experincias histricas auxiliam o processo de entendimento das transformaes por que passaram as formas de organizao da atividade econmica, e que ainda se manifestam, conduzindo a novos mecanismos de produo e distribuio.

    Este tema dedicado a uma anlise da evoluo que se processou de forma variada, confusa e irregular, sucedendo a poca medieval, no longo perodo que vai do sculo X ao sculo XIX.

    INTRODUO:

    Recuemos no tempo, at a poca das grandes conquistas romanas. Visualizemos o que nos ensina a Histria, por meio de livros e filmes que retratam o convvio social: nas sociedades antigas, o aspecto econmico da vida est subordinado ao aspecto poltico. Ou seja: o sacerdote, o guerreiro e o estadista eram superiores ao mercador ou negociante. Segundo Heilbroner, a riqueza acompanhava o poder, no o inverso, como nas sociedades de mercado que viro depois e sero alvo de nossa anlise neste tema.

    Com o declnio da lei e da ordem romanas, surge a vida econmica medieval. Imperava uma forma nica de organizao da atividade econmica, denominada sistema Senhorial, em que os Senhores locais eram o centro do poder poltico, militar, econmico e social. A maioria dos camponeses estava vinculada a determinado Senhor, para quem era obrigada a trabalhar e a quem devia impostos ou tributos. Em troca, os Senhores possibilitavam uma relativa segurana fsica e tambm certa segurana econmica em pocas de crise. Assim, como no sistema de tradio, imperava um sistema econmico esttico, no qual os pagamentos monetrios desempenhavam papel apenas secundrio. O principal objetivo, portanto, consistia na auto-suficincia, principal caracterstica do senhorio.

    Seriam necessrias profundas e generalizadas mudanas para converter a sociedade medieval numa sociedade de mercado: a primeira delas, representada por uma nova atitude em relao ao ganho de dinheiro como atividade legtima, substituindo a suspeita medieval em relao busca de lucro; a segunda, relacionada monetarizao da economia, que precisou expandir-se para alm de seus estreitos confins, evidenciando a compra e a venda, como forma de controle da produo de todas as mercadorias e o desempenho de quase todas as tarefas; a terceira, igualmente importante e abrangente, vinculada necessidade de que o fluxo de demanda e oferta conceitos que sero aprofundados nos temas subseqentes direcionasse a atividade econmica, desvinculando-a das prescries dos Senhores feudais e dos usos e costumes.

    Este tema tratar da evidenciao desses aspectos no conjunto das relaes econmicas voltadas para a produo e distribuio dos bens e servios.

    SNTESE DO CAPTULO:

    Este captulo remete-nos a uma anlise histrica do processo de transformao da sociedade econmica. Descobrimos como, aos poucos, a sociedade transformou-se em busca permanente de sobrevivncia econmica, ou seja, a aquisio de rendimento tornou-se um aspecto fundamental da vida dos agentes econmicos, at mesmo o detentor de posses. Esta, uma das evidncias da sociedade de mercado.

    Fonte adicional de leitura: Amaury Patrick Gremaud [et alli] organizadores: Diva Benevides Pinho, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. Manual de Economia 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2003 Caps. 2 e 3

    2.1 As mudanas

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    Vejamos que fatores precederam as grandes mudanas responsveis pelo surgimento da sociedade de mercado. A primeira delas diz respeito figura do mercador itinerante, a quem o ingls do sculo XII chamava de pie-powders, do francs pieds poudreux, ps empoeirados, como aponta Heilbroner. Percorriam grandes distncias por estradas to ruins que, muitas vezes, se confundiam com o prprio campo a ser arado. Ocupavam os mais baixos nveis da hierarquia social. Eram amados pelos habitantes em geral e odiados pelos nobres por representarem um elemento perturbador do padro normal das coisas. Sua presena no cenrio do suprimento de bens e servios foi assinalada, pela primeira vez, nos sculos VIII e IX, avanando at os sculos XIV e XV. A essa poca, o comrcio j estava suficientemente organizado para no necessitar mais desses infatigveis viajantes.

    Um outro fator, subproduto da ascenso do mercador itinerante, foi a lenta urbanizao da vida medieval, a criao de novas cidades e vilas. Os mercadores itinerantes procuravam locais protegidos de um castelo ou de uma igreja. Crescem, em torno das muralhas de castelos bem situados os chamados foris burgis, da eubourg, a palavra francesa para subrbio , lugares mais ou menos permanentes de comrcio, que vo transformar-se no ncleo de pequenas cidades. E surgem os burgueses, ou bourgeois, os habitantes do burgo, que mantinham uma relao anmala e insegura com o mundo senhorial do lado de dentro das muralhas. Para Heilbroner, o crescimento espontneo e lento do estilo urbano foi importante fator na introduo de um ar de mercado na vida econmica europia.

    Alm da ascenso do mercador itinerante e da expanso da cidade, um terceiro fator contribui para a lenta evoluo de uma sociedade de mercado: as Cruzadas. parte o impulso religioso, se considerarmos as Cruzadas como grandes expedies de explorao e colonizao, fcil compreender seu impacto econmico. Elas contriburam para a aproximao de dois mundos diferentes: a sociedade ainda entorpecida, sonolenta, do Feudalismo europeu, com toda a sua inrcia rural [no sentido de um continusmo inarredvel], sua averso ao comrcio e suas concepes ingnuas de negcios, e, do outro lado, a brilhante sociedade de Bizncio e Veneza, com sua vitalidade urbana, sua volpia sem peias do lucro e seus refinados mtodos de negociar, conforme relata Heilbroner. Ainda segundo esse autor, os cruzados, vindos de seus ventosos castelos e de suas enfadonhas rotinas senhoriais, pensavam encontrar no Leste apenas selvagens pagos e incultos. Mas, ficaram atnitos ao se depararem com povos muito mais civilizados, infinitamente mais requintados e pomposos, e muito mais orientados para o dinheiro do que eles. Ento, a velha base fundiria da riqueza entrou em contato com a nova base monetarizada que provou ser muito mais poderosa. E assim, como meio de sacudir uma sociedade letrgica a sair de sua rotina, as Cruzadas desempenharam importante papel como fator de acelerao da transformao econmica na Europa, como nos relata Heilbroner.

    O quarto fator que contribuiu para a lenta comercializao da vida econmica, foi a aglutinao das fragmentadas entidades econmicas e polticas da Europa em conjuntos maiores. Isto : quando a Europa poltica iniciou seu lento processo de reunificao, seu ritmo econmico uma vez mais comeou a se elevar, conforme nos aponta Heilbroner. E, no bojo dessa unificao, o crescente poder nacional propiciou novo estmulo: esquadras tinham de ser construdas, Exrcitos tinham de ser equipados, e essas novas foras armadas nacionais, muitas delas integradas por mercenrios, tinham de ser pagas, o que imprimiu um movimento mais rpido aos mecanismos da circulao monetria.

    Heilbroner relata-nos que uma das mais impressionantes caractersticas da Idade Mdia, e um dos obstculos mais perniciosos ao desenvolvimento econmico, foi a colcha de retalhos de reas de governo isoladas e compartimentadas na era medieval. Numa viagem de uma centena de milhas, um mercador itinerante podia cair sob a jurisdio de uma dzia de soberanias diferentes, cada uma com diferentes leis, regulamentos, pesos, medidas e moeda. Pior ainda, em cada fronteira havia um posto de pedgio. Na passagem do sculo

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    XIII ao XIV, havia mais de 20 barreiras de pedgio ao longo do rio Weser e, pelo menos, 35 ao longo do Elba; um sculo depois, ao longo do Reno, havia mais de 60 dessas barreiras, em sua maioria pertencentes a prncipes eclesisticos locais. Thomas Wykes, cronista ingls, descreveu o sistema, como: a loucura desvairada dos teutes. Mas, no era apenas uma doena alem. Havia tantas barreiras de pedgio ao longo do Sena, na Frana, em finais do sculo XV, que custava metade do seu preo final de venda embarcar cereal para um percurso de 200 milhas rio abaixo.

    Heilbroner relata-nos que uma das mais impressionantes caractersticas da Idade Mdia, e um dos obstculos mais perniciosos ao desenvolvimento econmico, foi a colcha de retalhos de reas de governo isoladas e compartimentadas na era medieval. Numa viagem de uma centena de milhas, um mercador itinerante podia cair sob a jurisdio de uma dzia de soberanias diferentes, cada uma com diferentes leis, regulamentos, pesos, medidas e moeda. Pior ainda, em cada fronteira havia um posto de pedgio. Na passagem do sculo XIII ao XIV, havia mais de 20 barreiras de pedgio ao longo do rio Weser e, pelo menos, 35 ao longo do Elba; um sculo depois, ao longo do Reno, havia mais de 60 dessas barreiras, em sua maioria pertencentes a prncipes eclesisticos locais. Thomas Wykes, cronista ingls, descreveu o sistema, como: a loucura desvairada dos teutes. Mas, no era apenas uma doena alem. Havia tantas barreiras de pedgio ao longo do Sena, na Frana, em finais do sculo XV, que custava metade do seu preo final de venda embarcar cereal para um percurso de 200 milhas rio abaixo.

    As grandes exploraes que floresceram nos sculos XIV e XV, constituram outro fator que promoveu o impulso econmico rumo a uma sociedade de mercado. Essas assombrosas aventuras inauguraram um revigorante fluxo de metais preciosos para a Europa. Ouro e prata, provenientes das grandes minas espanholas do Mxico e do Peru, eram lentamente redistribudos por outras naes, uma vez que a Espanha pagava em ouro as mercadorias que comprava a terceiros. E, segue Heilbroner em seu relato, por conseguinte, os preos subiram em toda a Europa s entre 1520 e 1650, estima-se que tiveram uma elevao entre 200% e 400%, provocando tanto estmulo quanto presso sobre a indstria, mas desencadeando grande onda de especulao e comrcio.

    Heilbroner, citando Beard, no seu A History of the Business Man [Uma histria do homem de negcios], relata que uma divertida histria da poca resume muito bem a posio da Igreja. Humbertus de Romanis, um monge, fala de algum que encontrou um demnio em cada fresta e recesso de um claustro florentino, ao passo que descobriu apenas um na praa do mercado. A razo, explica Humbertus, que bastava um para corromper o mercado, onde cada homem abrigava um demnio no prprio corao. Em tal clima de reprovao, era difcil que o lado comercial da vida prosperasse.

    Mas, se fato que se podiam presenciar, com os prprios olhos, certas foras de mudana aqui resumidas, como: os mercadores itinerantes, a expanso das cidades, as Cruzadas, provas evidentes de um poder nacional crescente, outras poderosas e invisveis correntes de mudana afetaram a atmosfera intelectual, as crenas e atitudes da Europa. E Heilbroner cita a mudana no clima religioso da poca, como uma dessas foras invisveis de especial importncia.

    Sabemos que a Igreja alcanou, com o tempo, uma posio de dominante importncia econmica, amealhando fortunas, alm de seus dzimos e benefcios, como coletor e distribuidor de dinheiro em toda a Europa. Era a depositria de muitas fortunas feudais. Mas, havia uma arraigada convico teolgica, uma firme crena na natureza transitria da vida na Terra e na importncia da preparao para a Eternidade, segundo Heilbroner, para quem a Igreja erguia os olhos, e procurava erguer os olhos dos outros, acima da luta cotidiana pela existncia. Esforava-se por minimizar a importncia da vida terrena e por denegrir as atividades mundanas a que a carne, demasiado fraca, sucumbia. O reformador

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    protestante Joo Calvino, nascido em 1509 e falecido em 1564, promoveu uma profunda reforma, com os seus ensinamentos, sobre uma nova perspectiva teolgica. O ncleo de sua severa filosofia religiosa residia na crena na predestinao, a idia de que, desde o comeo, Deus tinha escolhido os salvos e os condenados, e de que nada que o homem pudesse fazer na Terra, alteraria essa determinao sagrada e inviolvel, conforme relata Heilbroner, para quem os calvinistas santificavam e aprovavam o esforo humano como uma espcie de indicador de valor espiritual. E cresceu entre os calvinistas a idia de um homem dedicado a seu trabalho: vocacionado para ele. Ainda para Heilbroner, a fervorosa entrega de cada um prpria vocao, ao invs de evidenciar um afastamento dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidncia da dedicao vida religiosa. E segue esse autor em seu relato: o comerciante enrgico e empreendedor era, aos olhos calvinistas, um homem piedoso, no um mpio; e da identificao entre trabalho e virtude no foi necessrio mais que um passo para desenvolver-se a noo de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais virtuoso e mais valor ele tinha. Assim, o calvinismo propiciou uma atmosfera religiosa que, em contraste com o catolicismo, encoraja a busca de riqueza e a tmpera indispensvel a um mundo de negcios. E ser ainda a tica protestante, em seu trao puritano de trabalho e parcimnia, isto , de dedicao a uma atividade geradora de riqueza (fruto de um ideal de luta, de aperfeioamento e progresso material, de crescimento econmico), com abstinncia consciente do usufruto da renda e, por isso, uma virtude, um fator de ascenso de uma nova filosofia mundana centrada no ganho. Isso se justifica, medida que os pases protestantes tomam a dianteira na corrida econmica.

    O sexto fator nessa relao de eventos que culminaram com o surgimento da sociedade de mercado, representado pela gradual monetarizao das obrigaes feudais. Os pagamentos feudais em espcie dias de trabalho, ou galinhas e ovos que o Senhor recebia de seus arrendatrios , so substitudos por pagamentos de tributos e rendas da terra em dinheiro. Isso explicado por um fenmeno que se observa nos dias de hoje, com maior ou menor freqncia, em vrias regies do pas e do prprio continente: a crescente demanda urbana de alimentos, quando a populao de cidades e vilas comea a expandir-se. O dinheiro, escoado para o campo, simultaneamente aumenta a capacidade do setor rural para comprar bens urbanos e agua seu desejo de faz-lo. E a nobreza rural, para fazer frente a gastos com bens de consumo, v com crescente favoritivismo o recebimento de suas rendas da terra e tributos em dinheiro, e no em espcie. Indiferente aos tempos de inflao, quando esses pagamentos monetrios comeam a suscitar apertos. Ao receber o dinheiro, ao final de uma colheita, por exemplo, o seu poder de compra j no era o mesmo da poca do plantio. E assim a nobreza rural perde seu poder econmico, evidenciando a incompatibilidade entre o sistema senhorial e a economia monetria. Heilbroner conclui que, enquanto a nobreza via-se espremida entre, por um lado, preos e custos crescentes e, por outro, rendas estticas, as classes mercantis, em torno das quais o dinheiro naturalmente gravitava, aumentavam constantemente seu poder.

    SNTESE DO TEMA:

    Este tema focalizou as grandes mudanas que ocorrem nas sociedades econmicas a partir do sculo X, como base para o surgimento da sociedade de mercado.

    Mdulo 8 A CONFIGURAO DOS FATORES DE PRODUO: TRABALHO, TERRA E CAPITAL

    A monetarizao provocou profundas transformaes nas relaes sociais e, em especial, no modo de produo a que nos referimos anteriormente. O trabalho, por exemplo, j no significava meramente uma relao social explcita em que um homem (servo ou aprendiz) trabalhava para outro (Senhor feudal ou Mestre de corporao) em troca de, pelo menos, uma garantia de subsistncia. Agora, o trabalho era, meramente, certa quantidade de

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    esforo. Era, portanto, uma mercadoria a ser oferecida no mercado pelo melhor preo que se pudesse obter, inteiramente desprovida de quaisquer responsabilidades recprocas do comprador, alm do pagamento de salrios. E, como o trabalho, tambm o fator terra passa a ser visto em seu aspecto econmico como algo a ser comprado ou arrendado pelo retorno econmico que produzia. V-se, ento, a transformao, segundo Heilbroner: os tributos, os pagamentos em espcie, a intangibilidade do prestgio e do poder que outrora decorriam da propriedade de terras, deram lugar a uma nica remunerao sob a forma de renda da terra, ou seja: a um retorno monetrio derivado do uso lucrativo da terra. E tambm ocorre a mesma transformao com a propriedade. Se, na Antiguidade e durante a maior parte da Idade Mdia, propriedade era a soma de riqueza tangvel, um tesouro de jias e barras de prata ou de ouro, com a monetarizao e a transformao da sociedade, a propriedade passou a ser expressa em seu equivalente monetrio: um homem valia agora tantos livres, cus, libras ou que outra moeda fosse. A prosperidade tornou-se capital, no manifesta em objetos especficos, mas como soma abstrata, de uso infinitamente flexvel, cujo valor era sua capacidade de gerar juros ou lucros.

    A delimitao das terras para criao de carneiros retratada por Heilbroner, quando aldeias inteiras foram assim varridas da face da Terra. Sir Thomas More descreveu-o cruelmente no Livro I de sua Utopia: Esses animais [os carneiros], to dceis e to sbrios em qualquer outra parte, so entre vs de tal modo vorazes e ferozes, que devoram mesmo os homens e despovoam os campos, as casas, as aldeias. De fato, a todos os pontos do reino onde se recolhe a l mais fina e mais preciosa, acodem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e at os santos abades. Essa gente no se satisfaz com as rendas, os benefcios e os rendimentos de suas terras; no est satisfeita por viver em meio ociosidade e aos prazeres, a expensas do pblico e sem proveito para o Estado. Eles subtraem vastos tratos de terra da agricultura e convertem-nos em pastagens; derrubam as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estbulo para os carneiros [...].

    A par dessas transformaes, os campos passam a representar fontes potenciais de receita monetria. Se, antes, os pastos eram considerados terra comum, cada vez mais so reclamados para benefcio exclusivo do Senhor. A crescente demanda de tecidos de l fazia da criao de ovinos uma profisso altamente lucrativa. Ento, nada mais natural do que se tomar posse efetiva da terra, com o levantamento de cercas e delimitao das fronteiras de cada rea pertencente a Senhores diferentes ou arrendada para criadores diversos. Para Heilbroner, do ponto de vista estritamente econmico, o movimento de cercar os campos foi indiscutivelmente salutar, medida que deu emprego produtivo a terras que, at ento, apenas produziam uma bagatela. O lado cruel desse processo de delimitao dos campos foi a expulso dos camponeses da lavoura.

    Ao despojar o campons, criou nova espcie de fora de trabalho: sem terra, sem as fontes tradicionais de rendimentos ainda que magros , impelida a buscar trabalho a troco de salrio, onde quer que o encontrasse, conforme relata Heilbroner.

    Surge, assim, o proletariado urbano. Dentre os aspectos que contriburam para essa nova realidade, destaca-se a transformao gradual das corporaes em firmas mais empresariais. Esse fato conseqncia, em parte, da imigrao para as cidades de alguns contingentes do novo campesinato sem terra e ao crescimento da populao atribuvel ao aumento da produo de alimentos resultante da delimitao das terras por cercas.

    O processo de expanso econmica, desintegrando as rotinas estabelecidas no passado, reagrupando o poder e o prestgio de todas as classes sociais, prosseguiu implacvel em seu curso histrico e distribuiu imparcialmente seus prmios e sacrifcios histricos, no como uma evoluo, mas como uma lenta revoluo que tomou de surpresa a sociedade econmica europia. E nos relata Heilbroner: somente quando essa sociedade j havia

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    passado por seu longo corredor polons, aps sofrer uma das mais violentas perturbaes da Histria, que o mundo das transaes adquiriu uma aparncia natural e normal, e as categorias terra, trabalho e capital tornaram-se to corriqueiras, que seria difcil acreditar que no tivessem existido sempre. E Heilbroner chama a ateno para as criaes da grande transformao de uma sociedade pr-mercantil numa sociedade de mercado: o trabalho livre, contratual, assalariado; a terra arrendvel, geradora de lucro; o capital fluido, em busca de investimento. Para ele, terra, trabalho e capital no existem como categorias eternas da organizao social, mas como categorias de natureza e aspectos eternos do processo produtivo o solo, o esforo humano e os artefatos que podem ser aplicados produo e que no assumem, em todas as sociedades, a separao especfica que os distingue numa sociedade de mercado. Nas economias pr mercantis, terra, trabalho e capital esto inextricavelmente misturados nas figuras de escravo e servo, Senhor e Mestre de corporao nenhum dos quais entra no processo de produo como a encarnao de uma funo econmica especfica oferecida por um preo. E, na seqncia, o escravo no trabalhador, o Mestre de corporao no capitalista nem o Senhor proprietrio. S quando se estabelece um sistema social em que o trabalho vendido, a terra arrendada e o capital livremente investido, desse modo encontraremos as categorias da economia emergindo do fluxo de vida. Chega-se, ento, moderna sociedade comercial, em que a pessoa tem propriedade sobre si mesma. Agora, um trabalhador que se tornou fator de produo, dono do prprio trabalho, que ele tem liberdade de vender do modo mais vantajoso possvel, algo que o escravo ou o servo no podia fazer. Ao mesmo tempo, o trabalhador livre, que no propriedade de ningum, tambm no obrigao para ningum. O empregador compra o trabalho de seus empregados, e, no, suas vidas. Toda a responsabilidade pelo trabalhador termina quando ele deixa o escritrio ou a fbrica de seu empregador, escritrio ou fbrica que propriedade do dono.

    A par das novas relaes entre os homens no mercado, surgiu uma nova forma de controle social para assumir a orientao da Economia, retirando-a da antiga gide da tradio e do mando.

    SUMRIO DO TEMA:

    O tema propiciou o conhecimento das transformaes dos conceitos de terra, trabalho e capital, como fatores de produo, pertencentes a indivduos desejosos de seu usufruto, e a apreenso de uma nova forma de controle social: a economia de mercado.

    Mdulo 9 ASCENSO DO MOTIVO DE LUCRO, A FILOSOFIA DO COMRCIO E O MECANISMO DE MERCADO

    Qual seria, ento, essa nova forma de controle social? Para Heilbroner, um padro de comportamento social, de ao normal e cotidiana, imposto sociedade pelo novo ambiente de mercado. E o que era esse padro de comportamento? Na linguagem do economista, era o impulso de cada indivduo para maximizar a prpria renda (ou minimizar os prprios dispndios [gastos]), mediante a concluso das melhores transaes possveis no mercado. Em linguagem comum, era o impulso para comprar barato e vender caro, ou em terminologia comercial, o motivo de lucro. Isso no foi inveno da sociedade de mercado, mas ela o intensificou, tornando-o um aspecto fundamental e obrigatrio do comportamento social. Para um homem que vendia seu trabalho no mercado, numa sociedade que no assumia qualquer responsabilidade por sua manuteno, o preo a que ele conclusse sua transao, era de suprema importncia. E, prossegue Heilbroner, o mesmo fato ocorria com o proprietrio de terras e com o capitalista incipiente. Para cada um deles, uma boa transao significava riqueza e um mau negcio, runa. Assim, o padro de maximizao econmica generalizou-se a toda a sociedade e adquiriu uma urgncia espontnea que fez dele poderosa fora para modelar o prprio comportamento humano.

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    H vrias correntes de pensadores sobre o funcionamento de um mundo em que indivduos, em busca de lucro, j no se sentiam mais coagidos a seguir os caminhos percorridos pelos antepassados, nem a moldar suas atividades econmicas sob a gide de um Senhor ou um rei dominante. Assim, na Inglaterra, preconizava-se a importncia do ouro e louvava-se o papel do mercador, cujas atividades tinham maior probabilidade de carrear o tesouro para o Estado, vendendo mercadorias aos estrangeiros, conforme enfatiza Heilbroner. Na Frana, os fisiocratas sustentavam idias diferentes. Para eles, a riqueza provm, em ltima instncia, da cornucpia da natureza. Eles rejeitavam os mercadores e valorizavam as virtudes do lavrador. At mesmo os fabricantes eram membros de uma classe estril, que nada acrescentava riqueza produzida pelo lavrador. E Heilbroner indaga: A concorrncia devia ser regulamentada ou entregue a si mesma? A exportao de ouro devia ser proibida, ou deveria permitir-se que o tesouro entrasse ou sasse do reino, segundo as correntes de comrcio ditassem-no? O produtor agrcola deveria ser tributado por constituir a fonte original de toda a riqueza, ou deveriam os impostos recair sobre a prspera classe mercantil?

    As respostas a essas questes vieram com a obra A Riqueza das Naes, qual j nos referimos anteriormente, escrita por Adam Smith, o patrono da cincia econmica, que viveu no perodo de 1723 a 1790. Sua obra foi publicada em 1778, mesmo ano em que se deu a revoluo norte-americana. claro que, poca, o mundo era completamente diferente do atual. As empresas eram pequenas (veja box que contm a descrio de Smith de uma fbrica de alfinetes). Para Smith, uma sociedade de liberdade perfeita tem uma tendncia ao crescimento, dada sua preocupao com um constante aumento na produtividade de seu trabalho, de modo que, com o tempo, um mesmo nmero de trabalhadores possa realizar uma produo cada vez maior. Esse aumento de produtividade seria decorrncia de uma diviso de trabalho cada vez mais apurada.

    Para Smith, um dos pilares fundamentais da concepo da natureza humana era o que ele chamava de desejo de melhoria de vida aquilo que j foi aqui descrito como motivo de lucro. esse desejo de melhoria que leva o empreendedor a expandir seu negcio, cujo objetivo aumentar seus lucros.

    E como o empreendedor obtm cada vez mais produtividade? Por meio da acumulao, nas palavras de Adam Smith, o que, nos dias de hoje, se chamaria de investimento de capital. Como os capitalistas querem mais dinheiro, eles investem cada vez mais em mquinas e nos equipamentos. Com base nas mquinas e equipamentos, os trabalhadores conseguem produzir mais e melhor. Por produzirem mais, o produto da sociedade cresce.

    Um homem extrai o fio metlico, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto agua a extremidade, um quinto prepara a extremidade superior para receber a cabea; para fazer a cabea, so necessrias duas ou trs operaes distintas; coloc-la tambm constitui tarefa especfica, branquear o alfinete, outra; colocar os alfinetes sobre o papel de embalagem tambm uma tarefa independente [...]. Tive ocasio de ver uma pequena fbrica desse tipo, em que s estavam empregados dez homens, e onde alguns deles, por conseguinte, realizavam duas ou trs operaes diferentes. Mas, apesar de serem muito pobres e possurem apenas a maquinaria estritamente necessria, conseguiam, quando se esforavam, fabricar cerca de 12 libras de alfinetes por dia. Cada libra corresponde a mais de 4 mil alfinetes de tamanho mdio. Essas dez pessoas, portanto, conseguiam produzir mais de 48 mil alfinetes por dia. [...]. Mas, se trabalhassem todos separada e independentemente [...], por certo, no conseguiriam produzir 20 alfinetes nem talvez mesmo um nico alfinete por dia.

    Mas, o que leva a sociedade a um crescimento contnuo e duradouro? E Heilbroner salienta que a parte mais engenhosa do modelo Smith [...] a explicao que ele oferece para isso. primeira vista, poderia parecer que o impulso para aumentar investimentos de capital

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    seria contraproducente, dado que o constante aumento da demanda de trabalhadores para operar as novas mquinas empurraria seus salrios para cima. E, com isso, haveria uma reduo dos lucros do fabricante. E, por seu turno, uma queda de lucros faria reduzir a prpria fonte de novos investimentos, e a curva de crescimento tornar-se-ia uma linha horizontal. Para Smith, no entanto, a demanda de trabalhadores faria aumentar os seus salrios. E, por outro lado, o aumento dos salrios tende a aumentar a oferta de mo-de obra no mercado de trabalho, porque melhores salrios implicam melhores condies de vida para toda a populao, com reflexos positivos nos ndices de mortalidade infantil, um dos maiores problemas poca, em que A Riqueza das Naes foi escrita. E importante salientar que, nessa poca, a idade para trabalhar situava-se em dez anos ou menos!

    A contribuio de Adam Smith, sobre o entendimento de como um sistema de mercado fornecia uma soluo ordenada aos problemas de produo e distribuio, reside no mecanismo de mercado por ele descrito. Segundo Smith, no da benevolncia do aougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que podemos esperar nosso jantar, mas da considerao deles a interesses pessoais. No nos dirigimos sua humanidade, mas a seu egosmo, e nunca se fale a eles de suas necessidades, mas da vantagem deles. E ele se pergunta: Como uma sociedade de mercado impede que homens egostas, vidos de lucro, seqestrem seus semelhantes3 para obter resgate? Como pode surgir um arranjo socialmente vivel a partir desse conjunto de motivaes socialmente perigosas?. Para Smith, a resposta est no mecanismo central de uma sociedade de mercado, o mecanismo da concorrncia.

    Se um produtor de alfinetes quisesse vender seu produto por um preo maior que os seus concorrentes, estes acabariam por tir-lo do negcio; se um trabalhador pedisse mais que o salrio vigente, no poderia encontrar trabalho; se um proprietrio de terras pretendesse exigir uma renda superior de um outro com terras de mesma qualidade, no encontraria arrendatrios, conforme nos relata Heilbroner sobre esse particular e fundamental aspecto de uma sociedade de mercado. Existir, portanto, o que Smith cunhou, em famosa expresso: uma mo invisvel, direcionando os interesses em oferta e procura de bens e servios, conduzindo, assim, ao bem-estar social. E, na esteira dos ensinamentos de Heilbroner, vimos como o motivo egosmo fornece o necessrio mpeto para fazer o mecanismo funcionar. Em seguida, Smith mostrou-nos como a concorrncia impede qualquer indivduo de exigir um preo superior ao estabelecido pelo mercado. Em terceiro lugar, deixou claro como os desejos variveis da sociedade levam os produtores a aumentar a produo dos bens desejados e a reduzir a dos bens que deixaram de ser to altamente solicitados. Smith mostrou que o sistema de mercado um processo auto-regulador. Preos, lucros e salrios no se afastam da linha, porque as foras de mercado recolocam-nos nos eixos. E Heilbroner chama a ateno para um fato extremamente curioso e paradoxal: o mercado competitivo, o apogeu da liberdade econmica individual, simultaneamente o mais estrito e rigoroso supervisor econmico. E, mais adiante, finaliza, ressaltando que voc pode fazer o que lhe agrade, mas, se lhe agrada fazer aquilo que o mercado desaprova, o preo da liberdade ser a runa.

    3 O nico episdio conhecido da infncia de Smith que aos quatro anos foi raptado por

    ciganos, e por uma intensa busca organizada, foi abandonado por eles e recolhido a salvo.

    SNTESE DO TEMA:

    Este tema aborda a aceitao do motivo de lucro pela sociedade e o estabelecimento de uma filosofia do comrcio e o aparecimento do mecanismo de mercado.

    Mdulo 10 A ESTRUTURA DO MERCADO

    OBJETIVO:

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    Desde o surgimento de uma sociedade de mercado, o sistema econmico caracterizava-se por um grande nmero de pequenas empresas. No entanto, outros sistemas despontavam, concentrando a produo cada vez mais em mos de poucas unidades, mas poderosas.

    Examinemos mais d