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Holos Environment, v.5 n.1, 2005 ISSN: 1519-8421 APRESENTAÇÃO CONSELHO EDITORIAL CORPO EDITORIAL EDITORIAL NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ÍNDICE DE TRABALHOS HOLOS Environment Av.24-A, 1515 - Bela Vista - 13506-900 - Rio Claro/SP - Brasil Fone/Fax:(0xx19) 3534-0122 E-mail: [email protected] URL: www.rc.unesp.br/ib/cea/holos

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Holos Environment, v.5 n.1, 2005 ISSN: 1519-8421

APRESENTAÇÃO

CONSELHO EDITORIAL

CORPO EDITORIAL

EDITORIAL

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

ÍNDICE DE TRABALHOS

HOLOS Environment

Av.24-A, 1515 - Bela Vista - 13506-900 - Rio Claro/SP - Brasil

Fone/Fax:(0xx19) 3534-0122

E-mail: [email protected] URL: www.rc.unesp.br/ib/cea/holos

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APRESENTAÇÃO Universidade Estadual Paulista - UNESP

Reitor: Marcos Macari Vice-Reitor: Herman Jacobus Cornelis Voorwald

Centro de Estudos Ambientais - CEA

Diretor Executivo: Roberto Naves Domingos Vice-Diretora Executiva: Ana Luiza Brossi Garcia

Holos Environment

Editores: Deisy Piedade Munhoz Lopes Nivar Gobbi

Editoração Eletrônica

Jorbson Antonio Giovanni Reginaldo César Bortolin

Apoio Editorial

Sara Cristina Galvão Edério D. Bidóia

Secretaria Executiva

Maria Gleide Lopes Rodrigues Palatin Isabel Marisilvia Vicente

APRESENTAÇÃO

A Holos Environment é aberta a qualquer publicação original que contribua para o desenvolvimento das ciências ambientais e nela podem ser publicados artigos científicos, notas prévias, "short communications", revisões e "book reviews", nos idiomas, português, inglês ou espanhol (short communications, apenas em inglês). A revista Holos Environment destaca-se por possuir carácter interdisciplinar e visa abranger a temática ambiental sob uma dimensão holística. Sendo assim seu público-alvo deve ser constituído por autores que de alguma forma, estejam envolvidos com as ciências ambientais, tais como, biólogos, ecólogos, geólogos, geógrafos, físicos, químicos, agrônomos, e demais pesquisadores que trabalham na área de educação ambiental, direito ambiental, ou engenharia ambiental.

A Holos Environment possui periodicidade semestral e as edições saem em junho e dezembro de cada ano. Como norma de seleção de qualidade dos artigos, os mesmos são submetidos ao exame de referees especializados, pertencentes a um abalizado corpo editorial, onde se incluem vários representantes da ciência internacional.

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A Holos Environment é editada em padrão eletrônico, gravada em CD-ROM, compatível com ambiente Windows 95 ou superior. No formato on-line a Holos Environment ficará disponibilizada no site http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos.

PRESENTATION

Holos Environment is a scientific publication from UNESP - Center of Environmental Studies (CEA), which accepts articles in Portuguese, English and Spanish, related to Environmental Sciences, presented as complete articles, short communications (only in English) , and book reviews.

With a interdisciplinary view, Holos Environment aims to involve environmental issues by a holistic dimension, joining authors from different fields of knowledge, as: biologists, ecologists, geologists, geographers, physicists, chemisters, agronomists, educators, environmental lawyers, environmental engineers, and any other scientists related with environmental research.

All manuscripts submitted to Holos Environment are sent to at least two referees from our selected Editorial Board, in which are included international representatives.

Holos Environment is published on a semestrial bases, in CD-ROM and On-line formats, Win9x compatible. http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos.

PRESENTACIÓN

La revista Holos Environment está abierta a cualquier publicación original que contribuya con el desarrollo de las ciencias ambientales; en ella pueden ser publicados artículos científicos, notas previas (short communications), revisiones y book reviews, utilizando los idiomas portugués, inglés o castellano. La revista Holos Environment se destaca por su carácter interdiciplinario y porque busca abordar la temática ambiental desde una dimensión holística. De este modo, el público a que se dirige debe ser constituido por autores que, de alguna forma, estén preocupados con las ciencias ambientales, entre los que se pueden contar biólogos, ecólogos, geólogos, geógrafos, físicos químicos, agrónomos y otros investigadores que trabajen en las áreas de educación ambiental, derecho ambiental o ingeniería ambiental.

La Holos Environment es una publicación semestral y los números son editados en los meses de junio y diciembre de cada año. Como norma de selección de calidad de los trabajos, ellos son sometidos a la apreciación de referees especializados, pertenecientes a un prestigiado cuerpo editorial, en el que se incluyen varios representantes internacionales de esta ciencia.

Respecto a la forma de publicación, la Holos Environment es editada en padrón electrónico, gravada en CD-ROM, compatible con el sistema Windows 95 o

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superiores. En el formato on fine, la Holos Environment está a disposición de los usuarios en el sitio http://www.rc.unesp.br/ib/cea/holos Agradecimentos

Os Editores agradecem à Diretoria Executiva do Centro de Estudos Ambientais da Universidade Estadual Paulista, aos Funcionários Técnicos Administrativos e Técnicos em Informática do CEA, assim como aos autores pelo envio dos artigos; aos referees pela revisão dos mesmos e a todos que vêm colaborando com a Revista Holos Environment. Agradecimento especial ao Prof. Dr. Manoel Rolando Berrios Godoy pela versão da apresentação da revista para o Espanhol.

Codificação: IBICT/ISSN 1519-8421 (CD-ROM) e 1519-8634 (ON-LINE) Classificação: Qualis da CAPES - Internacional

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CONSELHO EDITORIAL

Antenor Pasqual (FCA/UNESP - Botucatu)

Carlos Henrique Silva Penteado (CEA/UNESP – Rio Claro)

Evôneo Berti Filho (ESALQ/USP - Piracicaba)

Flávio Henrique Mingante Schlitler (IB/UNESP - Rio Claro)

Jorge de Lucas Jr. (FCAV/UNESP - Jaboticabal)

José Chaud Netto (IB/UNESP - Rio Claro)

José Luis Timoni (Inst. Florestal - São Paulo)

Mário Benincasa (FCAV/UNESP - Jaboticabal)

Paulo Milton B. Landim (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Peter Grandsden Crawshaw Jr. (CENAP/IBAMA - Iperó)

Sâmia Maria Tauk-Tornisielo (CEA/UNESP - Rio Claro)

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CORPO EDITORIAL

Adalberto Farache Filho (FCF/UNESP - Araraquara - SP)

Adayr Mafuz Saliba (FPZSP - São Paulo - SP)

Alberto J. Aristarain (LEGGAN - Mendoza - Argentina)

Alcides Lopes Leão (FCA/UNESP - Botucatu - SP)

Álvaro Penteado Crosta (IG/UNICAMP – Campinas - SP)

Amauri Antonio Menegário (CEA/UNESP - Rio Claro - SP)

Amilton Amorin – FCT/UNESP – Presidente Prudente, SP

Ana Luiza Brossi-Garcia (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Ana Tereza Cáceres Cortez (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Antonio Carlos Sarti (UNIMEP - Piracicaba - SP)

Antonio Cezar Leal (FCT/UNESP - P.Prudente - SP)

Antonio Evaldo Klar (FCA/UNESP - Botucatu - SP)

Antonio Fernando M. Camargo (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Carla Ferrati Instituto de Botânica – São Paulo, SP

Carlos Roberto Bueno (INPA - Manaus - AM)

Celso Aita (UFSM - Santa Maria - RS)

Daniel José da Silva (UFSC - Florianópolis - SC)

Dejanira de Franceschi de Angelis (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Dib Gebara (FE/UNESP - Ilha Solteira - SP)

Edério D. Bidóia (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Edison Augusto Luciano – IGCE/UNESP – Rio Claro, SP

Elizabete Gabriela C. Campos (EESC /USP - São Carlos - SP)

Elizabeth C. Urbinati (CAUNESP/UNESP - Jaboticabal - SP)

Emília Falcão Pires (FAAC/UNESP - Bauru - SP)

Fernando B. Noll (FFCL/USP - Ribeirão Preto - SP)

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Fernando Carlos Pagnocca (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Flávio Henrique Caetano (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Flávio Moscardi (EMBRAPA - Londrina - PR)

Francisco Tadeu Rantim (UFSCAR - São Carlos - SP)

Gilberto Garcia (CEAPLA/UNESP - Rio Claro - SP)

Gina Maria de Palma Silva – CEA/UNESP – Rio Claro, SP

Godofredo Cesar Vitti (ESALQ/USP-Piracicaba - SP)

Harold Gordon Fowler (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Helita Barreiro Custódio (Consultora Independente - São Paulo - SP)

Herbe Xavier (PUC/MG - Belo Horizonte - MG)

Jaime de Oliveira Campos (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Jairo Rueda – IGCE/UNESP – Rio Claro, SP

Jefferson Libório (FE/USP - São Carlos - SP)

Joachim U. Adis (INPA/Max Planck, Plön - Germany)

João Antonio de Paula (UFMG - Belo Horizonte - MG)

João Antonio Galbiatti (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

João Carlos Cury Saad - FCA/UNESP – Botucatu, SP

João Vasconcelos Neto (Ecologia/UNICAMP - Campinas - SP)

Jorge Jim (IB/UNESP - Botucatu - SP)

José Carlos Motta Jr. (IB/USP - São Paulo - SP)

José Chaud Netto – IB/UNESP – Rio Claro

José Manoel Balthazar (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

José Roberto Ferreira – CENA/USP – Piracicaba, SP

José Roberto Postali Parra (ESALQ/USP - Piracicaba - SP)

Juan José Neiffe (CONICET/CECOAL - Corrientes - Argentina)

Laércio Leonel Leite (UNB - Brasília - DF)

Lineu Bley (UFPR - Curitiba - PR)

Lúcia da Costa Ferreira (NEPA/UNICAMP - Campinas - SP)

Luis Carlos Pavani (FCA/UNESP - Jaboticabal - SP)

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Luis Santos Pereira (ISA/UTL - Lisboa - Portugal)

Luiz Augusto do Amaral ( FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

Luiz Marcelo de Carvalho (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Luiz Vitor Silva Sacramento – FCF/UNESP – Araraquara, SP

Márcio Roberto C.Martins (IB/USP - São Paulo - SP)

Marcos Ap. Pizano – IB/UNESP – Rio Claro, SP

Marcos Simão Figueiras (FHDSS/UNESP - Franca - SP)

Margarida M. P. Orellana (IGCE / UNESP - Rio Claro - SP) - (Aposentada)

Maria do Carmo Calijuri (EESC/USP - São Carlos - SP)

Maria E. S. P. Demattê (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

Maria Inês Pagani (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Maria Jacyra S.Simões (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

Marie Luise Dindo (IE - Universitá di Bologna - Itália)

Mary Rosa R. M. S. Silva (IQ/UNESP - Araraquara - SP)

Mercedes Bustamante (ICB/UNB - Brasília - DF)

Miguel Petrere Jr. (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

Mirian Cláudia L.Simonetti (FFC/UNESP - Marília - SP)

Never Bonino (INTA - Curitiba - PR)

Normando Perazzo Barbosa (UFPB - João Pessoa - PB)

Odeibler Santo Guidugli (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Pascual J. Soriano (FC/Univ.de los Andes - Mérida, Venezuela)

Paulo Chogi Kitamura (EMBRAPA - Jaguariuna - SP)

Paulo E. de Toledo Salgado (FCF/UNESP - Araraquara - SP)

Paulo Milton B. Landim (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Paulo Nogueira Neto(IB/USP - São Paulo - SP)

Pedro Leão de Souza (ISA/UTL - Lisboa - Portugal)

Pedro Magalhães Sobrinho (FE/UNESP - Guaratinguetá - SP)

Pompeu Figueiredo de Carvalho (IGCE/UNESP - Rio Claro - SP)

Reinaldo Monteiro (IB/UNESP - Rio Claro - SP)

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Ricardo Vedovello (IG/ SA/ESP - São Paulo - SP)

Sâmia Maria Tauk Tornisielo (CEA/UNESP – Rio Claro - SP)

Sandra Regina Ceccatto Antonini (UFSCar – Araras- SP)

Sérgio Antonio Röhm (UFSCar – São Carlos- SP)

Sérgio Valiengo Valeri (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

Sulene Moriko Shima – IB/UNESP – Rio Claro, SP

Tereza Cristina T.Pissarra (FCAV/UNESP - Jaboticabal - SP)

Ubirajara R. Martins de Souza – USP – São Paulo, SP

Wagner C. Valente (CAUNESP/UNESP - Jaboticabal - SP)

William H. McDowell (CLSA/New Hampshire University - USA)

William Leslie Overal (Museu Goeldi - Belém - PA)

Wlamir do Amaral - (Consultor Independente - Piracicaba - SP)

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EDITORIAL

OBRIGADO PROFESSOR CARLOS HENRIQUE!

Conheci o Professor Doutor Carlos Henrique Silva Penteado em meados dos

anos 60, como aluno do Curso de História Natural da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro. Fui seu professor nessa ocasião, no início de minha carreira, e pude acompanhar, após a sua formatura em 1965, toda a sua carreira como docente e pesquisador.

Iniciou suas atividades no então Departamento de Fisiologia e Ecologia Animal e depois, com a criação do Instituto de Biociências do campus da UNESP em Rio Claro ficou lotado no Departamento de Zoologia, onde se aposentou. Desde 1998 tornou-se Pesquisador Voluntário junto ao Centro de Estudos Ambientais deste mesmo campus, atuando na área “Fisiologia de Diplópodos tropicais. Ação de fatores intrínsecos e extrínsecos (ambientais)”.

Freqüentou diversos estágios e cursos necessários a complementação de sua formação profissional, recebeu diversas bolsas e auxílios para desenvolver suas pesquisas, tendo obtido seu título de Doutor em 1972.

Participou de diversas reuniões científicas e visitou centros de pesquisas e laboratórios no exterior.

Com extensa atividade didática, tanto em nível de graduação como de pós-graduação, foi orientador de estágios, iniciação científica, mestrado e doutorado. Publicou mais de 50 trabalhos e manteve atividades administrativas como Chefia de Departamento e Coordenadoria de Curso de Pós-Graduação.

Em que pese toda essa atividade como professor universitário, que considero, significativa, quero destacar a de Editor-Chefe da Revista Eletrônica “HOLOS Environment”, que exerceu de 2000 a 2005.

A “HOLOS Environment”, órgão de divulgação científica do CEA-UNESP, tem periodicidade semestral e é editada em CD-ROM (ISSN 1519-8421) e On-Line (ISSN 1519-8634), desde junho de 2001. O último lançamento foi o volume 4, n.2, 2004, em novo software padrão PDF. A Revista consta na relação Qualis da CAPES como nível “B”, nas áreas de Geografia e de Engenharia, ora aparecendo como de divulgação internacional, ora como nacional, dependendo do comitê de avaliação. O periódico visa uma penetração internacional, uma vez que aceita artigos em Português, Espanhol e Inglês, sendo a sua apresentação feita nessas três línguas.

A revista HOLOS Environment consta da base de dados da maioria das bibliotecas universitárias nacionais, como dos Institutos de Biociências e Geociências da USP/São Paulo, ESALQ/USP/Piracicaba, EESC/USP/São Carlos, UFSCar/São Carlos, USP/Ribeirão Preto, Institutos de Biociências e Geociências da UNICAMP, UFRJ, UFMG, UFRS, UNB, UFPR, UFSC, e várias outras bibliotecas federais, estaduais e particulares do país e de outras entidades, como da área de Educação do

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MEC – Brasília e de Centros de Pesquisas da EMBRAPA, sem esquecer que está na base central de dados de todas as bibliotecas da UNESP e da RENEX – Reitoria. Referência à HOLOS Environment consta também do Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas – CCN, mediante o código SPS – 097557-5.

Desde o seu lançamento já publicou 58 artigos. No momento, na fila de espera para publicação, acham-se cadastrados mais de 15 artigos, cujos originais já foram distribuídos para os relatores para emissão dos respectivos pareceres.

Deve ser esclarecido que do aporte de artigos cadastrados, nem todos são publicados pois, boa parte deles (cerca de 30%), ou são rejeitados pelos relatores ou pelos próprios editores quando os artigos não preenchem os requisitos mínimos necessários, ou ainda, por falha dos interessados que deixam de devolver os artigos corrigidos à Editora da Revista. Esta é, portanto, a situação em que se encontra a Revista HOLOS Environment. Em termos nacionais é uma posição de destaque e para atingir tal condição deve ser ressaltados a atuação, o empenho e a dedicação do Professor Carlos Henrique, que acaba de encerrar o seu mandato como Editor-Chefe.

A ele somos todos, editores, relatores e autores, gratos pelo excelente trabalho desenvolvido.

Rio Claro, novembro de 2005.

Prof. Dr. Paulo Milton Barbosa Landim Reitor da UNESP, período de 1989 a 1993.

Professor Voluntário do Departamento de Geologia Aplicada –IGCE UNESP/Rio Claro

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INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÕES NA HOLOS

Environment

A HOLOS Environment publicará trabalhos originais referentes à área de meio ambiente, focalizando as diferentes abordagens da visão ecológica, apresentadas sob a forma de artigos científicos redigidos em português, inglês ou espanhol, short communications (somente em inglês), revisões e "book reviews". As publicações serão editadas em padrão eletrônico, gravadas em CD-ROM, além de disponibilizadas na Internet.

Normas para publicação:

Os originais deverão ser apresentados, em três vias impressas em papel e uma

cópia em disquete de 3½ com as seguintes especificações: Microsoft Word, fonte Times New Roman 12, espaçamento duplo, tamanho de papel A4. Os encaminhamentos deverão ser feitos com exclusividade ao Editor, via ofício, assinado por todos os autores.

Os artigos deverão conter, obrigatoriamente, Resumo em português, Abstract em inglês (máximo de 20 linhas cada); 5 Palavras-chave e Key-words, além de um subtítulo do trabalho em inglês.

Serão aceitos trabalhos com no máximo 20 páginas de texto. O Corpo Editorial não se responsabiliza pela correção gramatical e/ou ortográfica dos trabalhos, devendo os mesmos serem revisados anteriormente, assim como também não se responsabiliza pelo conteúdo dos trabalhos publicados, que é de total responsabilidade dos autores.

Ilustrações (mapas, fotografias, esquemas, desenhos, gráficos, etc) deverão ser escaneadas, e inseridas no texto como "Figuras" com as respectivas informações (legendas, escalas, etc). A revista aceitará um máximo de 7 Figuras e 5 Tabelas. Referências devidamente citadas no final do texto, de acordo com as normas da NBR-6023/ago.2002 da ABNT.

Os Editores Editoração: CEA/UNESP Av. 24-A, 1515 - Bela Vista - CEP: 13506-900 - Rio Claro/SP Fone/Fax: [55] (0xx)19-3534-0122 - e-mail: [email protected] / URL: www.rc.unesp.br/ib/cea/holos Códigos de ISSN: Formato CD: 1519-8421 / On line: 1519-8634 Classificação Qualis da CAPES: Internacional.

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ÍNDICE DOS TRABALHOS

ESTUDO ESPACIAL DO GRADIENTE DE VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO, SP, BRASIL. P. 01 - 22

SPATIAL STUDY OF THE VEGETATION GRADIENT FROM CARDOSO ISLAND

STATE PARK, SP, BRAZIL

Bernardi, J. V. E., Landim, P.M.B., Barreto, C.L.; Monteiro, R.C.

MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA PELA IMPLANTAÇÃO DE UM NOVO SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL NA REFINARIA

REPLAN/PETROBRAS. P. 23 - 36

IMPROVEMENTS ON WATER QUALITY BY A NEW WASTEWATER TREATMENT SYSTEM IN REPLAN/PETROBRAS OIL REFINARY

Wieczorek, A., Angelis, D. F., Furlan, L. T. ; Corrêa Jr., B.

ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES:

HISTÓRICO E PROPOSTA DE PROCEDIMENTOS PARA O SEU PLANEJAMENTO E CONTROLE OPERACIONAL. P. 37 - 51

DOMICILIARY SOLID WASTE TRANSFER STATIONS: BACKGROUND AND

PROPOSAL OF PROCEDURES FOR ITS PLANNING AND OPERATIONAL CONTROL

Costa, H.S.

INFLUÊNCIA DE DIFERENTES DOSES DE TORTA DE FILTRO NO SOLO SOBRE A MIGRAÇÃO E PERSISTÊNCIA DE STEINERNEMA GLASERI (STEINER, 1929)

(NEMATODA: RHABDITIDA). P. 52 - 64

INFLUENCE OF DIFFERENTIAL DOSES OF FILTERCAKE ADDED TO SOIL ON THE MIGRATION AND PERSISTENCE OF STEINERNEMA GLASERI (STEINER, 1929)

(NEMATODA: RHABDITIDA)

Rodrigues, R.C.D., Aguillera, M.M., Gobbi, N.; Pizano, M.A.

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ILHA DO MARAJÓ: REVISÃO HISTÓRICA, HIDROCLIMATOLOGIA, BACIAS

HIDROGRÁFICAS E PROPOSTAS DE GESTÃO. P. 65 - 80

THE MARAJÓ ISLAND: HISTORICAL REVISION, HYDROCLIMATOLOGY, HYDROGRAPHICAL BASINS AND MANAGEMENT PROPOSALS

Lima, A. M. M.; Oliveira, L. L., Fontinhas, R. L.; Lima, R. J. S.

QUALIDADE DA ÁGUA NAS ÁREAS ATERRADAS COM ENTULHO EM UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRASIL. P. 81 - 93

WATER QUALITY IN THE AREAS COVERED BY WASTE MATERIAL AT

UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRAZIL.

Rocha, A.L., Nishiyama, L.; Bellingieri, P. H.

OBSERVAÇÃO: O conteúdo dos trabalhos publicados em HOLOS Environment é de total responsabilidade dos autores.

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Recebido em: 10/12/2003 HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. Liberado para Publicação em: 12/10/2005 ISSN: 1519-8421

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ESTUDO ESPACIAL DO GRADIENTE DE VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO, SP,

BRASIL

SPATIAL STUDY OF THE VEGETATION GRADIENT FROM CARDOSO ISLAND STATE PARK, SP, BRAZIL

Bernardi, J. V. E.1, Landim, P.M.B.2, Barreto, C.L.3; Monteiro, R.C.4

1Universidade Federal de Rondônia/Porto Velho, RO, e-mail: [email protected]

2, 4Universidade Estadual Paulista/Rio Claro, SP. 3Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/IBAMA-

FLONA, Humaitá, AM.

RESUMO

O enfoque deste trabalho é a utilização de técnicas de sensoriamento remoto na obtenção de um mapa temático da vegetação, em escala do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, situado no litoral sul paulista, com vistas a um estudo espacial dos tipos de vegetação presentes e sua distribuição em área. A partir da análise conjunta do mapa temático com os tipos de vegetação, das composições coloridas e do índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN), pode-se concluir que os tipos de vegetação existentes encontram-se em um franco estado de sucessão ecológica com vários mosaicos desde a planície costeira até a região serrana. O gradiente de vegetação encontrado está relacionado com os diferentes tipos de substratos, com limites dos tipos de vegetação coincidentes, indicando uma dependência pedológica espacial. Os tipos de vegetação na planície costeira correspondem à pioneira de dunas e restinga de scrub em Neossolos Quatzarênicos Hidromórficos típicos e vegetação arbórea de restinga em Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos. No sopé da região montanhosa, encontra-se floresta pluvial tropical de planície litorânea em Neossolos Flúvicos Distróficos típicos. Para a área montanhosa ocorre floresta pluvial tropical de encosta em Argilossolos Amarelos Distróficos câmbicos, Argilossolos Vermelho-Amarelos Distróficos abrúpticos, Cambissolos Hísticos Distróficos típicos e vegetação arbustiva em Neossolos Litólicos Hísticos típicos. Apesar da vegetação de mangue ter sido evidenciada nas imagens digitais, não foi possível um acompanhamento detalhado de campo. Palavras chaves: Gradiente de vegetação, sensoriamento remoto, modelagem tri-dimensional, Ilha do Cardoso.

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Recebido em: 10/12/2003 HOLOS Environment, v.5 n.1, 2005 - P. Liberado para Publicação em: 12/10/2005 ISSN: 1519-8421

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ABSTRACT

The focus of this work is the application of remote sensing techniques to thematic map making of the Cardoso Island State Park, located in the southern coast of São Paulo State, regarding a spatial study of vegetation types. It can be concluded, from the thematic map, color compositions and NDVI (normalized difference of vegetation index), that the existent vegetation types are in a ecological sequence with several mosaics from the coastal plain to the mountainous area. The vegetation gradient found is related with the different substratum types indicating pedological space dependence. In the coastal plain the corresponding vegetation are pioneering in dunes and scrub sandbank over typical Neossolos Quatzarênicos Hidromórficos and sandbank arboreal vegetation over Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos. In the foothill area the vegetation is tropical pluvial forest of coastal plain over typical Neossolos Flúvicos Distróficos. For the mountain area occurs tropical pluvial forest of hillside over Argilossolos Amarelos Distróficos Câmbicos, Argilossolos Vermelho-Amarelos Distróficos Abrúpticos and typical Cambissolos Hísticos Distróficos and shrubby vegetation in typical Neossolos Litólicos Hístico”. In spite of the swamp vegetation evidenced in the digital images, it was not possible a detailed checking in field works.

Key-words: Vegetation gradient, remote sensing, 3D modelling, Cardoso Island.

1. INTRODUÇÃO

O enfoque principal deste trabalho é a utilização de técnicas de sensoriamento remoto na obtenção de um mapa temático da vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, situado no litoral sul paulista, com vistas a um estudo espacial dos tipos de vegetação presentes na área. Bernardi (2001) estudou quantitativamente a estrutura da vegetação do Parque e apresentam em seu trabalho detalhes sobre a área.

O estudo espacial em três dimensões permite a visualização e a interpretação mais acurada de características do terreno e a construção de Modelos Digitais de Elevação (MDE), a partir de dados altimétricos. Estas superfícies tridimensionais geradas reproduzem características do relevo possibilitando maior clareza à respectiva percepção geomorfológica. Desse modo a integração dos MDE a outras informações, tais como mapas temáticos elaborados a partir de imagens de sensoriamento remoto, oferece melhores possibilidades de a avaliação de influências recíprocas.

A vegetação é o primeiro alvo a interagir com a radiação eletromagnética, exibindo um comportamento espectral característico facilitando, desse modo, a sua identificação. As reflectâncias das coberturas vegetais, segundo Goyot (1995), depende das propriedades ópticas das plantas e do arranjo destas no espaço. Estudos

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feitos por Campbell (1987) mostraram que os vários tipos de comunidades vegetais respondem de forma diferente quanto às suas reflectâncias.

Assim, a aplicação de técnicas de sensoriamento remoto permite identificar nitidamente a diferença de textura e de estrutura da vegetação como árvores, arbustos e herbáceos. Para interpretar dados de sensoriamento remoto de dosséis de florestas é necessário, portanto, o conhecimento dos fatores que afetam suas propriedades óticas, que podem ser externos ou internos ao dossel (GOEL, 1988; GOYOT et al.1989). Estes autores citam os seguintes fatores externos como sendo os mais importantes: ângulos azimutais e zenitais de iluminação da cena; tamanho da área imageada e ângulo de visada do sensor; condições atmosféricas. Entre os fatores internos mencionam a arquitetura do dossel e as propriedades espectrais da superfície do terreno.

A classificação de imagens multiespectrais de sensoriamento remoto associa cada pixel da imagem a um rótulo, descrevendo um objeto real (vegetação, solo, etc.). Dessa forma, os valores numéricos (VNs) associados a cada pixel, definidos pela reflectância dos materiais que compõem esse pixel, são identificados em termos de um tipo de cobertura da superfície terrestre obtido pela imagem (água, tipos de vegetação, de solo, de rocha, etc.), chamadas então de tema (CRÓSTA, 1993). Quando esse tipo de operação é efetuado para todos os pixels de uma determinada área, o resultado é um mapa temático, mostrando a distribuição geográfica de um tema, como vegetação ou solo. Neste caso, denota-se que, uma imagem de sensoriamento remoto classificada é uma forma de mapa temático digital. Deve ser enfatizado, porém, que a utilização da classificação supervisionada implica que o usuário conheça parte da área a ser classificada, antes de iniciar o processo de classificação. Este conhecimento específico chama-se verdade terrestre e quando uma área é identificada pelo usuário, representando uma classe, denomina-se área de treinamento. Os valores numéricos (VNs) dos pixels do conjunto de treinamento em cada uma das bandas espectrais são então comparados com os VNs de cada pixel da imagem, decidindo à qual classe estes pertencem.

Índices de vegetação (IV) são medidas quantitativas, relacionadas aos valores digitais, que indicam a biomassa ou o vigor vegetativo das plantas (CAMPBELL, 1987). São obtidos a partir de medidas radiométricas de vegetação, utilizadas para avaliar variações temporais e espaciais de dados biofísicos. A base física para obtenção dos índices de vegetação está relacionada à absorção pela clorofila da planta, da porção de radiação eletromagnética na região espectral do vermelho e ao espalhamento pelas folhas das plantas da radiação na região espectral do infravermelho próximo. Desta forma, cada banda é um indicador do total de vegetação presente em uma área, porém contribuições do solo e da atmosfera fazem com que ocorra uma incerteza na estimativa dos parâmetros biofísicos da vegetação (LIU e HUETE, 1995). Os índices de vegetação podem ser calculados a partir de dados de saída de voltagem, valores de radiância, valores de reflectância e números digitais de imagens de satélites, sendo todos corretos, mas cada um produzirá um valor diferente do índice de vegetação para as mesmas condições de superfície (XAVIER, 1998).

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O índice de vegetação proposto por Tucker (1979), denominado de índice de vegetação de diferença normalizada (NDVI ou IVDN), mede o vigor e abundância da vegetação. Este índice é avaliado pelas medidas de reflectância na faixa espectral do verde e do vermelho (G/R) ou infravermelho próximo e vermelho (IR/R) que é mais funcional (CAMPBELL, 1987). OS Ivs têm grande aplicabilidade na separação de diferentes tipos de vegetação por sensoriamento remoto e muitos autores têm se utilizado desta técnica, o que a torna mais confiável. Porém, para que estes índices sejam interpretados com precisão são necessários o conhecimento de campo e a experiência no tratamento e interpretação das imagens.

No presente trabalho são enfatizadas as técnicas aplicadas para a obtenção de um mapa de vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso e os resultados obtidos em termos de identificação dos diferentes tipos de vegetação existentes na Ilha. São discutidas também, as relações espaciais entre os tipos de vegetação identificados e os demais componentes fisiográficos (solos, relevo e rochas).

2. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), administrado pelo Instituto Florestal da Secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, localiza-se no litoral sul do Estado de São Paulo na divisa com o Estado do Paraná, abrangendo uma área aproximada de 151km2, situando-se entre as coordenadas 48o05’42” W, 25o03’05” S e 48o53’48” W, 25o18’18” S, separado do continente pelo canal de Trapandé. A localização e vias de acesso ao Parque têm como referência os municípios de Cananéia e de Ilha Comprida (Figura 1).

Figura 1 - Localização do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (modificado de WEBER, 1998).

A topografia da Ilha é predominantemente montanhosa, com a parte central dominada por elevações acima de 814m. O clima é megatérmico superúmido, sem

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estação seca definida e com nível de precipitação anual de 3.000mm (FUNARI et al., 1987). 2.1. Caracterização geológica

A geologia da ilha do Cardoso é constituída principalmente por um complexo ígneo alcalino caracterizado, por Weber (1998), como Sienito Três Irmãos (STI) aflorante na porção central da ilha, ocupando sua maior parte, e Granito Cambriú (GC) na porção leste da Ilha. As litologias encontradas são quartzo-monzonito, quartzo-sienito, monzonito, sienito sienogranito e monzogranito, os quais em geral, apresentam estruturas fluidal e xenomórfica.

Na porção setentrional encontra-se uma faixa de rochas metas sedimentares fácies xisto verde correlacionadas por Weber (1998) às rochas da Formação Rio das Cobras. Essas rochas metassedimentares do sub-domínio Iguape, anteriormente correlacionados à seqüência Turvo-Cajatí, são chamadas Metassedimentos Iguape. Ocorrem também na Ilha, rochas cenozóicas da Formação Cananéia, representadas por arenito grosso, mal selecionado com estratificações cruzadas intensamente bioperturbadas, com bandas ricas em minerais pesados. Em geral as porções marginais norte, leste e sul da ilha, são cobertas por sedimentos quaternários de baixos terraços marinhos, flúvio-lagunares e mangues.

2.2. Caracterização Geomorfológica

A Ilha do Cardoso apresenta basicamente cinco compartimentos geomorfológicos distintos, distribuídos em três domínios geomorfológicos, relacionados diretamente com os tipos litológicos (WEBER,1998; KARMANN et al., 1999).

No primeiro domínio o compartimento é montanhoso, desenvolvido em rochas sienito-monzoníticas, formando topos angulosos com vertentes retilíneo-convexas, ocupando uma área de 68km2, estendendo-se da região oriental até o oceano a leste, formando costões rochosos, onde ocorrem terraços de abrasão marinha além de grandes matacões, conforme descrito por Petri e Fulfaro (1970). As cristas elevadas podem atingir cotas altimétricas superiores a 814m. A rede de drenagem é muito densa e encaixada no conjunto de fraturas de direção preferencial NE-SW, NW-SE e W-E, em calhas retilíneas e com alto gradiente de inclinação em torno de 86o a praticamente 90o formando diversas cachoeiras, com quedas superiores a 40m.

O segundo domínio é representado principalmente pelo compartimento de morros baixos arredondados, com inclinação média aproximada de 45o a 60o, associado às rochas metamórficas da ilha. As vertentes destes morros são côncavas e sua rede de drenagem obedece ao fraturamento com as mesmas direções do primeiro compartimento. Este compartimento ocupa uma parte da porção setentrional da Ilha, com afloramentos de rochas metamórficas de baixo grau representadas por metarritmitos, xistos e filitos, intercalados por lentes de quartzitos.

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O terceiro domínio é representado pela planície costeira, que pode ser subdividido em três compartimentos: áreas de mangue; praias; e cordões arenosos. As áreas de mangue ficam localizadas a oeste da Ilha, entre os canais fluviais e a planície de maré. As praias geralmente são recortadas por costões rochosos do domínio montanhoso, e localizam-se a leste e sudeste da área. Os cordões litorâneos quartzo-arenosos formam localmente pequenas dunas por ação do retrabalhamento eólico, no sul da ilha, destacando-se a formação de uma restinga arenosa com extensão aproximada de 18km por 500m de largura, com altitudes em torno de 3 a 10m. A drenagem da planície costeira é de baixo gradiente, com canais meandrantes e localmente entrelaçados por influência da maré.

2.3. Caracterização Pedológica

Adotando a classificação proposta pela “Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA” (1999), são reconhecidas na Ilha 7 unidades taxonômicas: Cambissolos Hísticos Distróficos típicos, encontrados acima da cota topográfica de 500 metros com profundidades variando entre 50 a 80 centímetros; Argilossolos Amarelos Distróficos câmbicos encontrados na região serrana acima da cota topográfica de 350 metros e com profundidades superiores a 2 metros para o horizonte B; Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos abrúpticos encontrados nos morros associados aos metarritimitos e com profundidade superior a 2,5 metros para o horizonte B; Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos encontrados na planície costeira onde se localiza a Floresta Pluvial Tropical da Planície Costeira, cujo horizonte orgânico ultrapassa em média 25 centímetros de profundidade; Neossolos Flúvicos Distróficos típicos, encontrados nos sopés dos morros associados aos metarritimitos; Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos típicos, encontrados nas proximidades das regiões de Dunas na planície costeira; e Neossolos Litólicos Hísticos típicos encontrados, nas regiões escarpadas associadas à ocorrência de afloramentos rochosos da região serrana. Ocorrem ainda duas classes, mangue e duna, que podem ser consideradas como depósitos sedimentares não pedogeneizados.

2.4. Caracterização da Vegetação

Os dados florísticos disponíveis para a Ilha do Cardoso são bastante escassos, ainda hoje, apesar do número relativamente grande de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos em locais específicos, próximos a Base do Parque Estadual. No entanto, é importante salientar, a valiosa contribuição do grupo de pesquisadores do Instituto de Botânica e do Instituto Florestal, pelos estudos efetuados das famílias vegetais fanerogâmicas, que ocorrem nas diversas formações vegetais presentes na Ilha. As listas de espécies publicadas pelos dois Institutos contribuíram para a identificação das fisiografias da vegetação e de sua distribuição, durante a confecção do mapa temático dos tipos de vegetação realizado no presente estudo.

Na Ilha são identificados sete tipos de vegetação descritos, a seguir, a partir da linha de praia até os topos da região montanhosa.

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2.4.1. Vegetação Pioneira de Dunas A vegetação que fixa as elevações de areias nas praias litorâneas brasileiras

tem sido geralmente denominada vegetação pioneira de dunas. Na Ilha do Cardoso esta formação florestal distribui-se principalmente a nordeste, nas praias entre a Barra de Cananéia e a Ponta do Itacuruçá, e a sul-sudeste, entre a Vila de Marujá e a Barra do Ararapira (NOFFS e BAPTISTA-NOFFS, 1982). Barros et al.(1991) as classifica como plantas psamófitas e halófitas, caracterizando-se por serem estoloníferas e rizomatosas. Outra característica presente nestas plantas refere-se ao sistema radicular extenso. Estas espécies pioneiras suportam condições extremas resistentes de insolação e salinidade, sendo bem adaptadas a estas condições. Afastando-se da linha de praia, a vegetação torna-se mais densa e diversificada em conseqüência da diminuição da salinidade e maior consolidação do substrato. Entre as espécies mais significativas destacam-se Spartina ciliata (Graminia), Iponea pes-caprea (Convolvulaceae), Hydrocotyle bonariensis (Umbelliferae), Acicarpha spathulata (Calyceraceae), Diodia teres e Diodia radula (Rubiaceae).

2.4.2. Vegetação de Restinga

A vegetação de restinga cobre a maior parte da planície arenosa da Ilha do Cardoso, principalmente a região norte-nordeste (Restinga do Pereirinha) e também a porção sul-sudeste. Apresenta-se como um complexo de diferentes comunidades vegetais que se interpenetram (DE GRANDE e LOPES, 1981).

A Restinga do Pereirinha é caracterizada por uma vegetação predominantemente florestal, que inclui desde formações arbóreas bastante abertas e baixas, com 4-5m de altura, até formações arbóreas fechadas, sombreadas no interior, com mais de 15m de altura, onde a camada de húmus e serrapilheira é bastante espessa. Barros et al. (1991), descreveram uma formação mais arbustiva na porção baixa do pós-praia dominada por Dalbergia ecastaphyllum, Sophora tomentosa e Tibouchina holosericea. Trata-se de uma vegetação baixa (1,0 a 1,5 m de altura) com indivíduos espaçados ou não entre si, sobre um substrato arenoso. Este tipo de vegetação de restinga pode ser denominado de “scrub” ou arbustiva.

As áreas de restinga mais aberta são bem iluminadas no interior apresentando árvores com altura média de 5 metros, bem ramificadas a partir da base, o que proporciona um estrato herbáceo bastante conspícuo, onde predominam pteridófitas e algumas bromélias. O solo é arenoso, com fina camada de húmus (2cm), e sua drenagem é geralmente mais lenta, devido à baixa declividade, principalmente no verão onde permanece por longo tempo encharcado. Já na área de restinga com vegetação de floresta mais fechada, observa-se a presença de árvores mais altas, com altura média de 9 metros, chegando por vezes ao intervalo 12-15 metros. O dossel é mais contínuo em relação à restinga aberta, existindo maior quantidade de epífitas (bromeliáceas, orquidáceas e gesneriáceas), e com estrato herbáceo predominantemente constituído de bromeliáceas e orquídeas.

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Na Vegetação de Restinga a família Myrtaceae é a que apresenta maior número de espécies onde se destacam: Myrcia bicarinata, Eugenia umbelliflora, entre outras. Entretanto, as famílias Guttiferae, Bromeliaceae e Ericaceae são também representativas. A família Bromeliaceae ocorre tanto nas áreas mais abertas, como nas áreas mais sombreadas onde o dossel apresenta-se contínuo. Já as famílias Guttiferae e Ericaceae apresentam-se principalmente nas áreas mais abertas, sendo que na família Guttiferae a presença de Clusia criuva, sobressai na fisionomia da área como uma das espécies mais importantes na comunidade vegetal.

As características fisionômicas da comunidade que compõe a vegetação de restinga estão relacionadas com as condições ambientais da área, notadamente as edáficas. As condições limitantes do solo refletem-se na vegetação, que apresenta escleromorfismo, nanismo e sistema radicular superficial. O componente arbóreo apresenta pequena complexidade estrutural e diversidade específica baixa, com um número pequeno de espécies representado por muitos indivíduos (Figura 2).

Figura 2 – Vegetação de Restinga Arbórea. (foto - J.V.E.Bernardi)

2.4.3. Floresta Pluvial Tropical da Planície Litorânea A Floresta Pluvial Tropical da Planície Litorânea é um tipo de formação

florestal relacionado a uma vegetação “intermediária” em termos fisionômicos, condicionada pelo estágio de desenvolvimento do solo. Ocorre em uma zona de transição restinga-floresta e apresenta a vegetação arbórea composta por espécies típicas, tanto da restinga como da floresta de encosta.

De Grande e Lopes, (1981) assinalam que a transição da restinga para a floresta é gradativa e caracterizada pelo desaparecimento da vegetação de cobertura do solo, ao mesmo tempo em que a camada de serrapilheira torna-se mais espessa e há uma regressão das características xerofíticas.

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A Floresta de Planície é composta de dois estratos arbóreos mais ou menos contínuos, com dossel fechado, grande quantidade de epífitas e lianas e estrato arbustivo-herbáceo denso.

Nas faixas de transição é freqüente a presença de Podocarpus sellowii e Clletha scabra. No estrato arbustivo e arbóreo pode-se encontrar Heliconia velloziana e Calathea longibracteata. O estrato arbóreo superior pode atingir até 20 metros.

2.4.4. Floresta Pluvial Tropical de Encosta

A Floresta Pluvial Tropical de encosta, segundo Camargo et al. (1972) é constituído de por três estratos: o superior com 25-30 metros de altura, o médio com 10-12 metros e o inferior (sub-bosque), com menos de 2 metros.

Estudos realizados por Melo e Mantovani (1994) indicam a ocorrência de três estratos arbóreos mais ou menos contínuos: o inferior com 5-10 metros de altura, o médio com 15-21 metros, e o superior com 24-28 metros. Além desses, três estratos, ocorrem árvores emergentes com mais de 30 metros e um estrato arbustivo-herbáceo de porte baixo. O Schizolobium parahyba, Macherium nictitans, Cariniana estrellensis e Virola oleifera são algumas das espécies emergentes. No estrato superior (dossel) ocorrem com freqüência, Cryptocaria moschata, Rapanea umbellata, Casearia obliqua e Sloanea guianensis. No estrato médio aparecem, por exemplo, Gomidesia spectabilis, Cabralea canjerana e Ilex theezans. O estrato inferior é constituído por arvoredos representados principalmente por Rudgea jasminioides e Psychotria nuda. Na Floresta de Encosta a presença de Euterpe edulis é freqüente e chega em alguns pontos a representar cerca de 20% dos indivíduos identificados em estudos fitossociológicos (MELO e MANTOVANI, 1994).

Na área de estudo, a Floresta Pluvial Tropical (Figura 3) cobre as encostas e topos mais baixos do maciço montanhoso central bem como os morros isolados, sendo a formação vegetal que ocupa a maior extensão da Ilha, cerca de 74% da área total (MELO e MANTOVANI, 1994). De acordo com Giulietti et al. (1983) não ocorre uma uniformidade na cobertura florestal do maciço montanhoso central da Ilha. Esta variação na composição das espécies e na estrutura da cobertura florestal das encostas é devida às variações de umidade, dos tipos de solo e, em especial, à variação na temperatura, ao longo do gradiente de altitude.

A formação de floresta de encosta é caracterizada por apresentar variações estruturais muito grandes, pois este tipo de vegetação pode ser dependente de vários fatores como a cota de altitude em que se encontram, relacionadas à temperatura, os tipos de solos; a umidade vinda do oceano. A declividade do terreno não permite que o dossel filtre completamente a luz solar, favorecendo a presença de muitas epífitas e espécies características do estrato sub-bosque (MANTOVANI et. al., 1990).

A floresta não é muito densa, sendo formada por indivíduos de diferentes classes de altura e diâmetro. O componente arbustivo-herbáceo não é denso e o número de epífitos vascular é elevado. A distribuição vertical das alturas das copas

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das árvores é contínua, com maior densidade até 10m, que diminui gradativamente até as emergentes que alcançam até 35m.

Figura 3 – Florestal Pluvial Tropical de Encosta (foto – J.V.E.Bernardi).

2.4.5. Formação Arbustiva dos Topos Montanhosos Nos picos dos morros na Ilha ocorrem mudanças na composição florística e

fisionômica drástica em relação à floresta Pluvial Tropical de Encosta, com diminuição acentuada da altura dos indivíduos e no número de epífitas. Pode-se observar que algumas espécies ocorrem preferencialmente nos pontos mais altos da encosta como Leandra quinquedentata, Nidularia bilbergioides e Fuchsia regia. O aspecto geral é de uma vegetação de região mais seca, devido aos ventos fortes que diminuem a umidade e por receberem água somente das chuvas que caem diretamente nessas porções de topo.

A formação arbórea presente é sempre mais baixa, apresentando um estrato inferior bem desenvolvido, as epífitas diminuem consideravelmente e a vegetação herbácea é dominante. Ainda, observa-se em locais onde a ação do vento é parcialmente interrompida, um maior número das espécies que alcançam cerca de 2 metros de altura, composta de elementos florísticos típicos da restinga.

2.4.6. Vegetação Secundária A vegetação secundária encontrada na Ilha do Cardoso deve-se principalmente a atividades agrícolas desenvolvidas desde o século XVIII. Com a transformação da Ilha, na última década de 60 século XX, em Parque Estadual, ocorreu um abandono das áreas de cultivo, desencadeando nestas áreas um processo de auto-regeneração e sucessão florestal. Segundo Noffs e Baptista-Noffs (1982) na evolução sucessional da vegetação secundária existe uma nítida tendência de aumento no número árvores em relação a vegetação de restinga. As espécies Cecropia pachystachia e Senna multijuga são

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espécies características destas áreas de vegetação secundária. Algumas espécies ligadas às atividades antrópicas, também são encontradas como Anacardium occidentalis (cajueiro) e Coffea arábica (cafeeiro). A vegetação secundária pode ser encontrada ainda, em regiões de encostas afetadas por deslizamentos. Nessas áreas, encontram-se manchas de taquaras, com espécies que atingem até 30m de altura entre as quais se pode citar: Schizolobium parahyba e Euterpe edulis. Este tipo de vegetação atualmente apresenta um alto grau de desenvolvimento e complexidade, o que torna difícil a sua separação em relação às florestas pluviais tropicais típicas das encostas. 2.4.7. Vegetação de Mangue Na Ilha do Cardoso a vegetação de mangue cobre os sedimentos finos e lodosos da planície litorânea encontrados na foz dos rios e ao longo do canal de Ararapira, constituindo os manguesais. Segundo Schaeffer-Novelli (1987) os mangues da Ilha do Cardoso apresentam padrão idêntico aos demais mangues da costa brasileira. Em termos ecológicos, os mangues caracterizam-se pela presença de substrato constituído por sedimentos não consolidados, permanentemente inundado, pobre em oxigênio e rico em matéria orgânica. As espécies vegetais adaptadas a essas condições extremas são poucas, e se repetem por todo o litoral brasileiro. Na Ilha são encontradas as espécies Rhizophora mangle (Rhizophoraceae), com suas características raízes escora, Laguncularia racenosa (Combretaceae) e Avicennia schaueriana (Verbenaceae). Nas bordas dos manguezais, por sua vez ocorrem comumente Hibiscos pernambucensis (Malvaceae) e Spartina ciliata (Graminea).

3. PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS EMPREGADAS

3.1. Marcação dos pontos de amostragem com auxílio do GPS Para a marcação dos transectos e pontos de coleta de dados, utilizou-se, neste

trabalho, três cartas altimétricas para formar o mapa base, imagens de satélite LANDSAT-TM e fotografias aéreas na escala 1:35.000. As cartas altimétricas adotadas foram: Cartas do Ministério do Exercíto-Departamento de Engenharia e Comunicação – Folha Cananéia (SG-23-V-GI-1 – MI-2845/1); Folha Barra do Ararapira (SG-23-V-GI-1 – MI-2844/4) e carta do IBGE – Folha Ariri (X-D-III-2 – MI2844/2), na escala 1:50.000, digitalizada em AutoCAD R14 (AUTODESK, Inc.1997). Devido às distorções desta carta tornou-se necessário nova digitalização e uma correção no georreferenciamento, feito com auxilio do GPS.

O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é um sistema multipropósitos, que permite ao usuário determinar sua posição expressa em latitude, longitude, altura geométrica ou elipsoidal, velocidade e o tempo em relação a um sistema de referência definido para qualquer ponto sobre ou próximo da superfície terrestre. A grande

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vantagem deste sistema é a sua capacidade de integração com outros sistemas, ressaltando sua integração com o Sistema de Informação Geográfica (SIG), capaz de produzir mapas digitais em tempo real com alta precisão.

O GPS utilizado foi o modelo GARMIM 48, que opera em módulo diferencial, permitindo assim uma precisão com um erro que pode variar de 1 a 5m. Desta forma, foram medidos dois pontos com marcos testemunhos conhecidos da Marinha Brasileira, sendo o primeiro no Morro do Pereirinha, localizado junto a Base do Parque (marco no 81091) e o segundo no marco do Tratado de Tordesilhas, localizado na Ponta de Itacuruçá, à leste da Ilha. A partir destes dois pontos conhecidos foram realizadas 12 horas de medições para cada ponto com GPS, sendo armazenadas as leituras a cada 30 minutos para as correções. Internamente este GPS possui um sistema de armazenamento que permite ao equipamento armazenar as medidas a cada 15 segundos, fornecendo assim durante os 30 minutos o valor médio das leituras. Foi usado também, de modo auxiliar, um sensor DGPS diferencial, modelo GBR21, consistindo resumidamente em captar sinais do satélite e de uma estação de rádio conhecida (neste caso os sinais de rádio da Ilha da Moela, próxima de Santos). Assim o receptor de GPS fez a correção automaticamente com um erro aproximado de 15 metros e o sensor corrigiu a leitura com um erro que varia de 1 a 5 metros. As comparações feitas das leituras do GPS corrigidas com as dos marcos permitiram um ajuste em torno de 2 metros para a ponta do Itacuruçá e 3 metros para o Morro do Pereirinha. Para o restante dos pontos levantados, a precisão média foi de 2 metros com um desvio padrão médio de 1,5 metros. 3.2. Obtenção de modelo 3D para a área de estudo.

Para a confecção da representação do mapa topográfico tridimensional, a partir de um bidimensional, foi gerado o Modelo Digital de Elevação (MDE), utilizando-se dos seguintes programas: AutoCAD R14, com algumas rotinas no formato “LSP”; “DXF2DAT”; SURFER 8; COREL 9.0.(COREL DRAW, 1999). Com o auxílio do programa AutoCAD R14, para a entrada dos dados, digitalizou-se em mesa apropriada as curvas de nível extraídas das cartas topográficas mencionadas no item anterior. Criou-se, então, um mapa bidimensional com as cotas de elevação em escala 1:50.000. Com o objetivo de evitar os exageros verticais do MDE, trabalhando-se ainda com o mesmo programa, utilizou-se o comando “change” para alterar a altitude das cotas altimétricas, dividindo por 1000 o valor de todas as cotas. Os valores das cotas podem também ser obtidos pelo uso da rotina “topo.lsp”.

Transformou-se o arquivo de extensão “dxf” em extensão “dat” com o auxilio do programa “DXF2DAT”, dentro do ambiente DOS. Com auxílio do programa SURFER gerou-se uma superfície 3D, tendo sido criada uma malha 3D do mapa topográfico. Para esta finalidade o primeiro passo foi gerar um arquivo com extensão “grd”. Para tanto se escolheu o algoritmo “Inverso da Distância ao Quadrado (IQD)” como método de interpolação. A partir daí, gerou-se um mapa de contorno (isolinhas) da altitude para sobreposição com a superfície 3D. Com as duas janelas abertas, a da

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malha “grd” e a do mapa de contorno, editou-se o “overlay” para sobreposição e escolha do ângulo de visada.

Para edição final do modelo 3D resultante, utilizou-se o programa COREL que permitiu a realização de uma série de ajustes gráficos, além da possibilidade de retoques com finalidades estéticas.

3.3 Aquisição e tratamento digital das imagens de satélite 3.3.1. Seleção das imagens

Foi utilizada uma imagem orbital do satélite Landsat 5, órbita 220 e ponto 77, quadrante D, em duas passagens, datadas de 18/07/94 e 08/06/97, adquirida junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com bandas 1,2,3,4,5,6 e 7, corrigidas radiométrica e geometricamente em nível 5.

3.3.2. Tratamento das imagens

Como técnicas de pré-processamento da imagem foram realizadas correções geométricas, uma vez que o formato “tiff” não as oferece, e técnicas de realce pelo emprego de contraste. As distorções geométricas sistemáticas, em um Nível 5 de correção, são realizadas pelo INPE pelo método de Reamostragem pelo Vizinho mais Próximo. Já as correções geométricas não sistemáticas, foram corrigidas pelo georreferenciamento da imagem “tiff”. Para iniciar o tratamento das imagens orbitais, foi necessário realizar a conversão do formato “dat”, originalmente atribuído pelo INPE, para um formato que possibilitasse interface com os software” utilizados no estudo. A utilização do programa 2LTIFF, fornecido pelo INPE para a conversão da imagem ao formato “tiff”, permitiu a compatibilização necessária.

Para o georreferenciamento da imagem foram selecionados alguns pontos de fácil identificação. A seguir obteve-se as coordenadas geográficas de tais pontos por meio de sua identificação na carta topográfica correspondente ou no campo. Os pontos coletados em campo (pontos de controle) tiveram suas coordenadas obtidas pelo uso de GPS e foram então registrados na imagem. Para tanto, se utilizou o módulo RESAMPLE do programa IDRISI 2.0 (THE IDRISI PROJECT, 1999), depois da conversão da imagem para o formato “img”, no módulo de importação TIFIDRISI. Foi criado um arquivo de correspondência entre pontos de coordenadas conhecidas e os respectivos pixels que os representavam na imagem digital.

3.3.3. Composição colorida e Análise das Componentes Principais A análise das componentes principais foi feita com o objetivo de determinar quais bandas apresentariam a maior percentagem de variação para a composição colorida. Para isso, realizou-se o seguinte procedimento: foi gerada uma matriz padronizada de variâncias-covariâncias no modulo “Analysis/Image Processing/Transformations, comando PCA”. A partir desta matriz foi realizada a

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análise das componentes principais, para posterior escolha das bandas com maior porcentagem de correlação, referente à formação da imagem. 3.3.4. Tratamento do realce por contraste

O realce da imagem foi feito com o objetivo de melhorar o contraste das bandas escolhidas através da analise das componentes principais. Para tanto, utilizou-se o software IDRISI, módulo “Analysis/Image Processing/Enhancement, comando Stretch”, aplicando a técnica de contraste Linear com Saturação de 5% para as três bandas escolhidas, significando um corte de 2,5% de cada lado do histograma dos tons de cinza (0 a 255), permitindo assim a exclusão dos tons muito escuros e dos muito claros das bandas.

3.3.5. Índices de vegetação

Para evidenciar características da vegetação foi utilizado o Índice de Vegetação (IV) proposto por Campbell (1987), que é o mais utilizado e denominado índice de vegetação de diferença normalizada (NDVI), conforme a seguinte equação:

3TM4TM3TM4TM

REDIRREDIRNDVI

+−

=+−

=

Onde: IR é o comprimento de onda da reflectância no infravermelho; RED o comprimento no vermelho; TM 3 corresponde à banda de freqüência 3 e a TM 4 corresponde à banda 4. Outro método utilizado com as imagens para a obtenção da densidade de vegetação é o de tons de cinza do pixel. Estes tons que apresentam valores 0 a 255 são utilizados para designar a reflectância que por sua vez indica a densidade de vegetação. O modulo utilizado na obtenção do índice de vegetação foi o “Analysis/Image Processing/Restoration, comando NDVI”, usando para a composição as bandas 4 e 3. 3.4. Emprego da classificação digital da imagem

Para a elaboração do mapa temático da vegetação da Ilha realizou-se a Classificação Supervisionada da imagem orbital. Adotou-se para esta finalidade a composição colorida feita anteriormente após a correção do contraste.

A Classificação Supervisionada consiste no processo de se usar amostras de pixels da imagem, de identidade conhecida, com o intuito de classificar os pixels de identidade desconhecida. Uma vez que o trabalho em campo possibilitou o conhecimento da composição da vegetação e sua correlação com a imagem de satélite em grande parte da Ilha, foi possível realizar a classificação supervisionada. Foram delimitadas na imagem amostras de áreas homogêneas e de identidade conhecida, chamadas de áreas de treinamento. Dentre os diversos classificadores existentes, utilizou-se o método da Máxima Verossimilhança. Este classificador avalia a variância e a covariância dos padrões de

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resposta espectral, de cada pixel desconhecido, classificando-o para um padrão estabelecido. De acordo com Lillesand e Kiefer (1994), deve-se assumir a distribuição normal dos dados das amostras de treinamento para cada categoria. Assumindo então esta condição os padrões espectrais podem ser descritos pelo vetor de médias e matriz de covariância. Desta forma podemos computar a probabilidade estatística da classe do pixel, estabelecendo a qual classe o pixel deve pertencer, escolhendo para tal a classe de maior probabilidade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A topografia em uma representação tridimensional pode ser visualizada na Figura 4. O Modelo Digital de Elevação gerado adequou-se fielmente às características geomorfológicas verificadas em campo. O algoritmo IQD, usado na interpolação da superfície 3D, apresentou resultados satisfatórios, permitindo separar de forma bem evidente os três domínios geomorfológicos da Ilha. O angulo de rotação adotado foi de 23o para oeste, destacando a porção sudeste. O contorno da planície costeira, em amarelo, em torno da região montanhosa, em vermelho-alaranjado, mostrou-se fidedigno. As três interrupções nesse contorno, na área dos cordões arenosos no sul, podem ser observadas com a mesma disposição representada. Também para a área montanhosa o método mostrou-se acertado, uma vez que não se verificou exagero vertical na representação dos picos dos morros. Além disso, ficou evidenciado claramente o primeiro compartimento geomorfológico da Ilha, denominado de domínio montanhoso, desenvolvido em rochas sienito-monzoníticas, formando topos angulosos com vertentes retilíneo-convexas encaixadas no conjunto de fraturas de direção preferencial NE-SW, NW-SE e W-E de sudeste/noroeste. No ângulo de rotação adotado para a visualização, destacam-se as vertentes de NW-SE. Observa-se que a rede de drenagem está encaixada no fraturamento e é muito densa, formando calhas retilíneas com alto gradiente de inclinação. A representação topográfica em três dimensões permitiu ainda analisar as áreas sombreadas do terreno, onde os pixels correspondentes apresentaram valores numéricos digitais (DNs) muito baixos. Os dados de radiação obtidos em campo comprovam que estas vertentes de SE são mais sombreadas e mais úmidas, quando comparadas com as vertentes de NW/NE.

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Figura 4 - Superfície 3D do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.

Para a obtenção do mapa temático resultante da classificação da imagem de sensoriamento remoto, as datas de passagem do satélite (18/07/94 e 08/06/97) foram determinadas pela ausência de nuvens, pois segundo levantamento do INPE estas eram as únicas datas disponíveis sem cobertura de nuvens. Para se determinar as bandas que ofereciam maior número de informações sobre a reflectância do terreno, foi aplicada a análise das componentes principais. Esta técnica ordenou as bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7 por ordem de importância a partir da percentagem de variação dos pixels de cada uma. As componentes principais mostraram que as bandas 4 e 5 foram as mais importantes com cargas 0,9787 e 0,9623 sucessivamente para a primeira componente. Para a segunda componente a banda 3 apresentou a maior carga, da ordem de 0,9067. A primeira componente explica 85,83 % da formação da imagem e a segunda componente explica apenas 8,89 %. A partir da análise das componentes principais que definiu as bandas 4, 5 e 3 como as mais importantes, iniciou-se o tratamento de realce da imagem. O tratamento de realce da imagem fez-se necessário para melhorar o contraste de cada imagem, optando-se pela técnica linear. A redução de 5% no histograma de freqüências pelo método linear de saturação, melhorou o contraste das bandas, com as quais iniciou-se a composição colorida. A escolha das bandas para a composição colorida foi realizada com base na análise das componentes principais, que indicou as bandas 3, 4 e 5 como as mais importantes para a formação a imagem colorida (Figura 5). O resultado obtido permitiu diferenciar pelo menos seis tipos de vegetação. Estes tipos são: vegetação pioneira de dunas, em cor rósea; em cor verde escuro à floresta pluvial tropical de

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planície costeira; floresta pluvial tropical de encosta em cor verde limão, correspondendo a maior área de ocorrência; em verde claro a vegetação de restinga; vegetação de restinga de scrub e vegetação arbustiva dos topos montanhosos, cor verde-amarelada; e a cor marrom-esverdeada, corresponde às áreas com vegetação de mangue. A vegetação secundária não pode ser diferenciada pela composição colorida, motivo este relacionado ao grau de desenvolvimento florestal destas áreas, o qual é muito semelhante ao da floresta pluvial de planície litorânea. Também na imagem correspondente ao Índice de Vegetação (NDVI), são bem realçadas as formações vegetais encontradas na Ilha confirmando a imagem em composição colorida, que indicou seis tipos de vegetação (Figura 6). Apesar das cores das duas imagens apresentarem diferenças para os mesmos tipos de vegetação, houve correlação espacial entre as mesmas formações florestais.

Figura 5 – Composição colorida RGB (543) georreferenciada.

A partir da definição espacial dos seis tipos de vegetação e com base no

conhecimento de campo sobre a vegetação e sua posição geográfica foi possível realizar a classificação supervisionada pelo método da Máxima Verosimilhança.

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Figura 6 – Composição NDVI (bandas 4 e 3).

O mapa temático criado a partir da classificação supervisionada (Figura 7),

mostra a fisiografia da vegetação de forma coerente com os dados observados em campo. A imagem formada pela classificação confirma espacialmente os tipos florestais encontrados nas imagens digitais, oriundas das composições coloridas e NDVI.

Figura 7 – Mapa temático dos tipos de vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas de sensoriamento remoto utilizadas neste trabalho permitiram a obtenção do mapa temático das composições colorida e NDVI. Os tipos de vegetação existentes encontram-se em um gradiente de vegetação com vários mosaicos desde a planície costeira até a região serrana. Nas áreas de mosaicos a vegetação está em franco estado de sucessão ecológica, provavelmente provocada por deslizamentos de solo ou ainda podendo tratar-se de áreas com afloramento rochoso, onde a vegetação aparece na forma de arbustos. O gradiente de vegetação encontrado está relacionado com os diferentes tipos de substrato (rocha/solo), pois os limites são coincidentes com os das vegetações, indicando assim, uma dependência espacial. Nos Neossolos Quatzarênicos Hidromórficos típicos a vegetação corresponde à pioneira de dunas e restinga de scrub e nos Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos hísticos encontra-se a vegetação de restinga (arbórea). No sopé da região montanhosa, encontra-se o solo Neossolos Flúvicos Distróficos típico com a floresta pluvial tropical de planície litorânea. Para a área montanhosa os solos correspondentes são Argilossolos Amarelos Distróficos câmbicos, Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos abrúpticos, Cambissolos Hísticos Distróficos típicos e Neossolos Litólicos Hísticos típicos. Com exceção do ultimo tipo, que possui uma vegetação arbustiva, os outros tipos de solos apresentam a floresta pluvial tropical de encosta. Apesar da vegetação de mangue ter sido evidenciada nas imagens digitais, não foi possível um acompanhamento detalhado de campo.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP pelo apoio financeiro (Processo 97/06545-5) e bolsa de doutorado (Processo 97/06546-0), ao Instituto Florestal do Estado de São Paulo pela permissão de efetuar a pesquisa na Ilha do Cardoso e aos funcionários do Parque Estadual da Ilha do Cardoso pela ajuda. Agradecimentos também são prestados aos três relatores, os quais com suas críticas construtivas em muito contribuíram para a melhoria do texto.

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MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA PELA IMPLANTAÇÃO DE UM NOVO SISTEMA DE

TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL NA REFINARIA REPLAN/PETROBRAS

IMPROVEMENTS ON WATER QUALITY BY A NEW

WASTEWATER TREATMENT SYSTEM IN REPLAN/PETROBRAS OIL REFINARY

Wieczorek, A.¹, Angelis, D. F.², Furlan, L. T. ³; Corrêa Jr., B.³

¹ Departamento de Geologia Aplicada da UNESP/Rio Claro – [email protected]

² Departamento de Bioquímica e Microbiologia da UNESP/Rio Claro – [email protected]

³PETROBRAS, Refinaria de Paulínia – REPLAN. [email protected], [email protected]

RESUMO

As refinarias de petróleo utilizam diariamente grande quantidade de água nos processos de refino de óleo. Durante estes processos são geradas complexas misturas de substâncias químicas potencialmente poluidoras dos corpos hídricos. Para minimizar o efeito poluidor do efluente, em setembro de 2002, a Refinaria de Paulínia- REPLAN/PETROBRAS, implantou um novo sistema de tratamento baseado em processos biológicos de lodos ativados. Neste trabalho avaliou-se a qualidade do efluente gerado pela REPLAN/PETROBRAS e da água do Rio Atibaia, receptor do efluente, nas fases pré e pós implantação do novo sistema. Foram coletadas amostras de água quinzenalmente, acima e abaixo do ponto de entrada do efluente no rio, no período de julho de 2001 a março de 2003. Foram quantificados Oxigênio Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Amônia (NH3), assim como os parâmetros para o cálculo do Índice de Qualidade da Água (IQA), adotado pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental - CETESB (1987), para classificação desse ecossistema. Foi realizado um teste t para verificar a influência do novo sistema de tratamento sobre os parâmetros analisados do efluente, comparando-se os períodos pré e pós-implantação. Os resultados demonstraram que o novo sistema de tratamento alterou os parâmetros analisados no sentido de melhoria da qualidade da água do efluente. Os valores médios de OD passaram de 5,0 para 8,0 mg.L-1, DBO de 30,0 para 5,0 mg.L-1 de O2, NH3 de 29,7 para 0,47 mg.L-1, o IQA de 29 para 44, classificação ruim para regular, da fase pré para a fase pós-implantação

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do novo sistema. Este estudo demonstrou que este sistema, baseado no tratamento biológico por lodos ativados, é mais eficiente que aquele anteriormente usado pela refinaria. Palavras-Chave: Refinaria de petróleo; efluente industrial; qualidade da água; tratamento de efluentes; índice de qualidade da água.

ABSTRACT

Oil refineries use day-to-day large amounts of water in their processes. During those processes complexes chemical mixtures are generated with potential to pollute water bodies. To minimize the pollution effect of wastewater, the refinery of Paulínia- REPLAN/PETROBRAS (Refinaria de Paulinia/Petrobras) introduced a new system of treatment in September 2002, based on biological process of activated sludge. This investigation evaluated the quality of wastewater and water of Atibaia River, the receiving of wastewater, in periods before and after the introduction of the new system. Water samples were collected every two weeks between July 2001 and March 2003, both upstream and downstream from the refinery. The parameters analyzed were Dissolved Oxygen (DO), Biochemical Oxygen Demand (BOD), Ammonia Water (NH3), and the parameters used on computation of Water Quality Index (WQI), accepted by CETESB (1987), to classify this ecosystem. The t-test was used to verify the influence of the new wastewater treatment system on the parameters of wastewater, confronting the periods before and after the new system. The results demonstrated that the new wastewater treatment system significantly improved wastewater quality. Averages values of DO changed from 5,0 to 8,0 mg.L-

1, BOD from 30,0 to 5,0 mg.L-1, NH3 from 29,7 to 0,47 mg.L-1, WQI from 29 to 44, classification from “bad” to “regular”, from the period before to after introduction of the new system. This study has proven that the new system, based on biological treatment by activated sludge, is more efficient than the previous system used by the oil refinery. Key words: Oil refinery, wastewater, water quality, wastewater treatment, water quality index.

1. INTRODUÇÃO

O número de produtos químicos disponíveis e utilizados pelo homem está na ordem de centenas de milhares, grande parte deles possuindo potencial para persistir no meio ambiente. Dentre os ecossistemas, os aquáticos acabam de uma forma ou de

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outra constituindo os receptáculos temporários ou finais de grande variedade e quantidade de poluentes, sejam estes dispersos no ar, no solo, ou diretamente nos corpos de água (GOLDSTEIN, 1988).

O crescente comprometimento da qualidade dos ecossistemas aquáticos tem sido causado não só pelo excesso de esgotos domésticos lançados sem tratamento nos corpos hídricos, como pela variedade de resíduos químicos e orgânicos provenientes de descartes industriais e agrícolas que perfazem extensa gama de substâncias potencialmente tóxicas (LANDIS e YU, 1985).

Nesse contexto, as refinarias de petróleo, nos processos de lavagem do óleo cru, refino do petróleo bruto, resfriamento das torres de destilação e produção de vapor em caldeiras utilizam grande volume de água. Contudo, nessas unidades, empregam-se os tratamentos químicos e biológicos destas águas, gerando-se o efluente final. Cada etapa do processo pode acrescentar ao efluente complexas misturas de substâncias químicas. Estima-se que para cada metro cúbico de óleo refinado, dois metros cúbicos de água são utilizados nas diversas fases do processo. Na Refinaria de Paulínia, após a implementação de inúmeras ações de reuso de água em suas unidades de processo, passou-se a utilizar 0,67 metros cúbicos de água para cada metro cúbico de petróleo processado.

Brito (1996), destaca que as substâncias encontradas com mais freqüência nos efluentes das refinarias de petróleo são as soluções cáusticas residuais, sulfídricas, fenólicas, amoniacais e de hidrocarbonetos. A autora destacou que a amônia presente no efluente das refinarias petrolíferas tem origem principalmente durante a quebra dos compostos orgânicos nitrogenados nos processos de conversão, e na adição da substância diretamente na linha de processo para controlar a corrosão.

Wieczorek et al, (2003), após avaliação do efluente da refinaria no período de julho a dezembro de 2001, observaram que o mesmo apresentava problemas no tocante aos compostos orgânicos, principalmente quanto a DBO e a NH3, sendo necessário à melhoria da qualidade do tratamento para diminuição destes parâmetros.

Em maio de 2002 a refinaria iniciou a implantação de um novo processo biológico na sua estação de tratamento de efluentes, constituído por sistemas biológicos de lodos ativados, com o objetivo de realizar o tratamento para diminuição de nitrogênio total, especialmente a NH3, sendo que a implantação foi considerada encerrada quando os valores de NH3 atingiram valores próximos de zero (setembro de 2003).

Os sistemas de lodos ativados estão sendo amplamente utilizados em nível mundial, para o tratamento de despejos domésticos e industriais. Estes processos aplicam-se em situações que sejam necessárias elevadas qualidades dos efluentes a serem descartados nos corpos receptores (CONEGLIAN, 2001).

Segundo Von Sperling (1997), o sistema de lodos ativados é um processo de tratamento biológico onde a alta concentração de microrganismos é mantida em suspensão no reator, e o oxigênio é introduzido por meio de aeradores mecânicos ou

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difusores de ar. No tratamento biológico aeróbio, o oxigênio deve ser fornecido para satisfazer às seguintes demandas: oxidação da matéria orgânica e nitrificação.

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar a eficiência deste novo processo implantado no sistema de tratamento mediante o monitoramento da qualidade do efluente e da água do Rio Atibaia à montante e à jusante da refinaria.

2. METODOLOGIA

A refinaria de petróleo REPLAN/PETROBRAS localiza-se na cidade de Paulínia e faz parte do Pólo Petroquímico de Paulínia. Capta água do Rio Jaguarí e descarta seu efluente no Rio Atibaia (Fig 1). Estes dois rios, em confluência, formam o Rio Piracicaba. O Rio Atibaia recebe nesta região grande aporte de esgoto urbano vindo das cidades de Campinas, Sumaré e Paulínia, fazendo com que a qualidade da água deste corpo hídrico seja deteriorada neste ponto (CETESB, 2002).

A Refinaria de Paulínia possui na sua Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos um tratamento primário baseado em processo físico-químico para separação e remoção do óleo da água, seguido de tratamento secundário biológico em reatores anóxicos e reatores aeróbios (processo de desnitrificação e nitrificação baseado na tecnologia de lodos ativados).

Em conjunto com os sistemas de tratamento de efluentes, desenvolveu-se um programa de monitoramento da qualidade do efluente e da água do Rio Atibaia à montante e à jusante do ponto descarte do efluente no rio. O objetivo deste monitoramento foi acompanhar a qualidade da água do efluente e sua influência sobre as águas do Rio Atibaia. Para o desenvolvimento deste estudo foram analisadas amostras superficiais de água do Rio Atibaia e do efluente da refinaria, coletadas quinzenalmente no período de julho de 2001 a março de 2003, com exceção do período de janeiro a junho de 2002.

As amostras de água do Rio Atibaia foram colhidas 200 metros à montante (ponto 1) e 600 metros à jusante (ponto 3) do descarte do efluente da indústria no Rio Atibaia, e amostras do efluente colhidas no ponto de saída da indústria localizado no final do tratamento biológico (ponto 2). Foram realizadas análises químicas e físicas das amostras, e calculados os respectivos índices de qualidade da água (IQA), proposto pela CETESB (2002). Os resultados do IQA foram comparados com o índice divulgado pela CETESB (2002, 2003, 2004), para um ponto de análise no Rio Atibaia distante aproximadamente dois quilômetros à jusante da indústria (ponto 4, Figura 1). Para avaliação da vazão do Rio Atibaia no período, e sua influência sobre os parâmetros analisados, foram utilizados dados de vazão média mensal divulgado por CETESB, (2002, 2003, 2004) do mesmo ponto utilizado no índice de qualidade da água. Figura 7.

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Figura 1 – Localização da REPLAN – Refinaria de Paulínia, e dos pontos de coleta das amostras de

água. Fonte: modificado de EMBRAPA (2004). 2.1. Análises Químicas e Físicas.

Os seguintes parâmetros foram analisados e suas respectivas metodologias: oxigênio dissolvido (OD) utilizando-se leituras diretas das amostras com auxílio de oxímetro e expresso em mg.L-1 de O2; DBO em mg.L-1 de O2 a 20ºC, expressa em 5 dias, segundo (CLESCERI et. al. 1998); NH3 em mg.L-1, medido através de eletrodo íon seletivo. 2.2. Índices de Qualidade da Água (IQA)

O índice de qualidade da água proposto pela CETESB (2002), considera um conjunto de nove parâmetros para seu cálculo. Estes parâmetros são: coliformes fecais, pH, DBO, nitrogênio total, fósforo total, temperatura, turbidez, resíduo total e oxigênio dissolvido. Coliformes fecais foram determinados utilizando Substrato Cromogênico segundo Clesceri et. al. (1998). O pH foi determinado utilizando-se potenciômetro. Nitrogênio, fósforo e resíduos totais foram determinados segundo

Legenda

1- Montante 200m 2- Saída da Lagoa de Estabilização 3- Jusante 600m 4- Cetesb 2000m

Km Escala – 1 : 50.000

0 1,5 0,5 1,0 2,0 2,5

47° 15’ W 47° 07’ 30’’ W 47° W 22° 37’ 30’’

22° 45’ W

REPLAN – Refinaria de Paulínia

Rio Jaguari

Rio Atibaia

Descarte do Efluente 1 2

3

4

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Clesceri et. al. (1998). A temperatura foi determinada in situ, a turbidez foi quantificada segundo o método de HACH, mediante leituras diretas em turbidímetro, e expressa em Unidade Nefelométrica de Turbidez (NTU).

O IQA foi calculado com base no valor de cada parâmetro dado por uma curva de variação média e por um peso atribuído a cada um.

IQA=∏=

=

9n

1i

wi

iq

Onde: qi é o valor atribuído para cada parâmetro com relação a sua curva de

variação média e wi é o peso atribuído a cada valor. A partir do valor calculado pelo índice pode-se atribuir uma gradação de qualidade. Onde:

0<IQA≤19 qualidade péssima 19<IQA≤36 qualidade ruim 36<IQA≤51 qualidade regular 51<IQA≤79 qualidade boa 79<IQA≤100 qualidade ótima

2.3. Análise Estatística.

Para verificar a eficiência do sistema de tratamento de efluentes gerados na refinaria, foi preciso comparar os valores dos parâmetros de qualidade do efluente antes e após a implantação do mesmo. Para isso, se aplicou o teste t para comparação das médias dos parâmetros pré e pós-instalação (ZAR, 1996). Desta maneira foi realizada uma comparação dos valores médios dos parâmetros IQA, OD, DBO e NH3, no período de julho a dezembro de 2001(pré-instalação), com a média dos valores dos parâmetros no período de setembro de 2002 a março de 2003 (pós-instalação).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tratamento do efluente implementado na refinaria implica, principalmente, na biodegradação mediante a oxidação biológica ou fotoquímica da matéria orgânica. Portanto, para que o processo de tratamento seja eficaz, os níveis de OD precisam ser suficientes para que os microrganismos aeróbios degradem os compostos presentes no efluente. Além disso, a ausência de oxigênio no processo de oxidação faz com que os microrganismos anaeróbios e ou facultativos realizem degradação, muitas vezes transformando-os em substâncias indesejadas como metano, gás sulfídrico e amônia, dependendo do substrato a ser degradado (DUFFUS, 1983).

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Figura 2 – Variação do oxigênio dissolvido (em mg.L-1 de O2) no período de julho de 2001 a março de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.

Verificando-se a Figura 2, no período de julho a novembro de 2001, o OD medido na saída da lagoa de estabilização, apresentou valores médios abaixo daqueles da água do Rio Atibaia (montante e jusante). Em novembro de 2001 o valor de OD do efluente foi aproximadamente zero, o que pode ter acarretado a inibição do processo de nitrificação, visto que este exige um consumo de aproximadamente 4,6 mg.L-1 de O2 para cada litro de nitrogênio amoniacal oxidado, Ferreira (2000). Esta diminuição dos valores de OD provavelmente induziu o aumento dos valores de NH3 neste mesmo período, chegando a 75 mg.L-1 (Figura 4).

No período de julho de 2002 a março de 2003, os valores de OD do efluente na saída da lagoa de estabilização foram acima ou iguais àqueles medidos na água do Rio Atibaia (montante e jusante), e superiores àqueles medidos no período de julho a dezembro de 2001, sugerindo uma recuperação, provavelmente ocorrida em função da implantação do novo sistema de tratamento de efluentes.

Comparando-se os dados de OD com a vazão média mensal do Rio Atibaia (Figura 6), não se observou influência direta da vazão sobre os valores de OD medidos à montante e à jusante da refinaria. Esses valores, em média sempre próximos de 7,0 mg.L-1, sugerem uma boa qualidade deste corpo hídrico – segundo este parâmetro - nestes pontos de análise.

Oxigênio Dissolvido

0123456789

10

jul-0

1

ago-

01

set-

01

out-

01

nov-

01

dez-

01

jan-

02

fev-

02

mar

-02

abr-

02

mai

-02

jun-

02

jul-0

2

ago-

02

set-

02

out-

02

nov-

02

dez-

02

jan-

03

fev-

03

mar

-03

OD

(ppm

)

Saída da Lagoa de Estabilização Montante Jusante

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Figura 3 – Variação da demanda bioquímica de oxigênio expressa em mg.L-1 de O2 (5 dias) no

período de julho de 2001 a março de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.

A DBO do efluente demonstrou valores mais altos no período pré-instalação do

novo sistema de tratamento, comparativamente ao período pós-instalação. Este fato está associado à melhora do sistema de oxigenação do tratamento. Como a DBO expressa a quantidade de matéria orgânica biodegradável oxidativamente, sem oxigênio este processo não ocorre, (FELLENBERG, 1980).

O maior valor de DBO do efluente da refinaria observado no período foi em outubro de 2001, comparando-se o valor de OD do mesmo período (3,3 mg.L-1), contatou-se a diminuição da biodegradação da matéria orgânica do efluente em função da falta de OD. No entanto, o mesmo aumento da DBO não foi verificado em novembro de 2001, quando o valor de OD foi próximo de zero, pelo contrário, os valores de DBO diminuíram neste período. Este fato pode estar relacionado com a degradação anaeróbia da matéria orgânica, considerando-se que o OD no efluente era escasso. Como um dos produtos da degradação anaeróbia pode ser a NH3, este fato pode explicar a grande produção deste composto no mesmo período (Figura 4). Verificou-se que os valores de DBO diminuíram na lagoa de estabilização, e também à montante e à jusante do Rio Atibaia, no período de junho de 2002 a março de 2003, comparativamente a 2001, demonstrando melhora deste parâmetro na água do rio. No entanto, este fato parece não estar associado à melhora nas condições do efluente, visto que os valores de DBO diminuíram também à montante e à jusante do descarte do efluente no rio. A melhora das condições do efluente na saída da lagoa de estabilização foi claramente observada após a implantação do novo sistema de tratamento.

Demanda Bioquímica de Oxigênio

0

10

20

3040

50

60

70

80

jul-0

1

ago-

01

set-

01

out-

01

nov-

01

dez-

01

jan-

02

fev-

02

mar

-02

abr-

02

mai

-02

jun-

02

jul-0

2

ago-

02

set-

02

out-

02

nov-

02

dez-

02

jan-

03

fev-

03

mar

-03

DBO

Saída da Lagoa de Estabilização Montante Jusante

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Figura 4 – Variação da amônia expressa em mg.L-1 de NH3, no período de julho de 2001 a março

de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.

A amônia, substância tóxica para os organismos aquáticos (METTING, 1992), constituía um problema no processo de tratamento do efluente da Refinaria de Paulínia. No entanto, após a implantação do novo processo, e principalmente quando o mesmo foi encerrado, houve uma significativa diminuição nos valores deste parâmetro. As quantidades de NH3 ficaram próximas de zero, sendo menores que os valores encontrados no próprio Rio Atibaia. A semelhança do que foi verificado para a DBO, este fato é derivado da melhora do sistema de oxigenação do processo de tratamento, fato este que induz a nitrificação (FERREIRA, 2000).

Quanto aos pontos de coleta à montante e à jusante da refinaria não foram verificadas alterações no período, sendo que os valores apresentam-se abaixo de 5 mg.L-1 de NH3, sugerindo que, quanto a este parâmetro, a NH3 oriunda do efluente da refinaria não exercia influência na água do Rio Atibaia. Porém, a presença desta substância acima dos valores exigidos pela Legislação Brasileira (Resolução CONAMA 20/86), que é de 5 mg.L-1 é perigosa para a vida aquática.

Amônia

0

10

20

30

40

50

60

70

80

jul-0

1

ago-

01

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01

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01

nov-

01

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01

jan-

02

fev-

02

mar

-02

abr-

02

mai

-02

jun-

02

jul-0

2

ago-

02

set-

02

out-

02

nov-

02

dez-

02

jan-

03

fev-

03

mar

-03

NH

3 (p

pm)

Saída da Lagoa de Estabilização Montante Jusante

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Figura 5 – Variação do índice de qualidade da água (IQA), no período de julho de 2001 a março de 2003. A seta vermelha indica o início do novo sistema de tratamento e a seta preta indica o término da implantação do sistema de efluentes da indústria.

A variação dos índices de qualidade da água (Figura 5), mostra que a água do Rio Atibaia nos dois pontos analisados recebeu classificação regular no período de julho a dezembro de 2001, assim como os valores indicados pela CETESB (2002). No período de junho de 2002 a março de 2003 o IQA apresentou uma ligeira queda, nos pontos à montante e à jusante da refinaria, recebendo classificação ruim para estes períodos. No ponto de coleta da CETESB (ponto 4, Figura 1), o IQA apresentou valores mais altos com relação aos pontos à montante e à jusante da refinaria (pontos 1 e 3), porém com a classificação - regular.

O IQA com classificação regular indica que o Rio Atibaia recebe aporte de poluentes neste trecho, e a classificação ruim indica que nestes períodos a qualidade da água do rio foi comprometida. O IQA calculado para o efluente da refinaria obteve classificação ruim, no período de julho a dezembro de 2001, e regular de junho de 2002 a março de 2003, indicando a melhoria da qualidade do efluente neste período, resultado da melhoria no sistema de tratamento. De maneira geral, o IQA apresentou valores semelhantes à jusante e à montante da refinaria, sugerindo que quanto a esse parâmetro não houve influência do descarte do efluente da refinaria sobre este parâmetro no Rio Atibaia. Segundo CETESB (2002), o IQA apresenta algumas limitações, como a possibilidade de superestimar a qualidade da condição real do recurso hídrico (tendo em vista que contempla somente 9 parâmetros) e restringir-se a uma avaliação limitada somente utilizada para fins de abastecimento público. Não é possível

Índice de Qualidade da Água

0

10

20

30

40

50

60

jul-0

1

ago-

01

set-0

1

out-0

1

nov-

01

dez-

01

jan-

02

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02

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-02

abr-

02

mai

-02

jun-

02

jul-0

2

ago-

02

set-0

2

out-0

2

nov-

02

dez-

02

jan-

03

fev-

03

mar

-03

IQA

Saída da Lagoa de Estabilização Montante Jusante Jusante - Cetesb

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estabelecer, por exemplo, indicação de qualidade ou toxicidade para a vida aquática utilizando este índice.

Os resultados demonstram que o sistema de tratamento implantado melhorou os parâmetros analisados. No entanto, isso não significa um tratamento ideal, que seria evidenciado, por exemplo, com índice de qualidade da água do efluente com classificação ótima.

Vazão Média Mensal do Rio Atibaia

0

10

20

30

40

50

60

jul/01 set/01 nov/01 jan/02 mar/02 mai/02 jul/02 set/02 nov/02 jan/03 mar/03

m3 /

s

Figura 6 – Variação da vazão média mensal do rio Atibaia m3/s, no ponto 4, no período de julho de 2001 a março de 2003.

3.1. Análise Estatística A Figura 5 indica que, o IQA aumentou pós-instalação do novo processo no

sistema de tratamento da refinaria, passando do valor médio de 29 para 44. Ou seja, alterou sua classificação de ruim para regular. O teste t realizado para este parâmetro indicou aumento significativo no IQA, com valor de (p < 0,05). Isso demonstra que o sistema de tratamento apresentou melhora segundo este parâmetro. O valor médio de OD apresentou aumento de 5 para 8 mg.L-1 de O2 após a instalação do novo processo. O teste mostrou diferença significativa com (p < 0,05). Quanto a DBO, houve diminuição dos valores médios de 30 para 5 mg.L-1 de O2/L, com diferença significativa, sendo o valor de (p < 0,05). O mesmo ocorreu para NH3, onde houve diminuição dos valores médios de 29,7 para 0,47 mg.L-1

, após a implantação do novo sistema de tratamento. O teste mostrou diferença significativa nos valores de NH3, sendo (p < 0,05).

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Figura 7 - Valores médios dos parâmetros do efluente da lagoa de estabilização calculados pré-

instalação e pós-instalação. As barras verticais indicam o desvio padrão e os retângulos indicam o erro padrão.

4. CONCLUSÃO

A análise das características químicas, físicas e do Índice de Qualidade da Água (IQA) do efluente da refinaria de petróleo REPLAN/PETROBRAS mostrou que o novo processo no sistema de tratamento da refinaria melhorou os parâmetros analisados. Os resultados mostraram que a melhoria da oxigenação do sistema contribuiu para a diminuição de NH3 para valores próximos de zero, além de minimizar os valores de DBO, conseqüentemente melhorando o Índice de Qualidade da Água do efluente.

O Sistema de Tratamento implementado pela REPLAN melhorou as condições de tratamento biológico do efluente. No entanto, isso não significa um sistema ideal, ou seja, a melhoria do sistema de tratamento deve, e está sendo efetuada no sentido de melhorar constantemente os parâmetros de qualidade da água.

IQ A

22

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30

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38

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46

50

Pré instalação Pós instalação

±Std. Dev.±Std. Err.Mean

Oxigênio Dissolvido (ppm)

2

3

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5

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Pré instalação Pós instalação

DBO (mgO2/L) 5 dias

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

Amônia (ppm)

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

IQ A

22

26

30

34

38

42

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50

Pré instalação Pós instalação

±Std. Dev.±Std. Err.Mean

IQ A

22

26

30

34

38

42

46

50

Pré instalação Pós instalação

±Std. Dev.±Std. Err.Mean

Oxigênio Dissolvido (ppm)

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pré instalação Pós instalação

Oxigênio Dissolvido (ppm)

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pré instalação Pós instalação

DBO (mgO2/L) 5 dias

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

DBO (mgO2/L) 5 dias

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

Amônia (ppm)

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

Amônia (ppm)

0

10

20

30

40

50

Pré instalação Pós instalação

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5. AGRADECIMENTOS

À refinaria de Paulínia REPLAN/PETROBRAS, que por meio dos projetos de pesquisa 270.2.061.01.8 e 270.4.097.03.0 colaborou com este estudo. À equipe do Departamento de Bioquímica e Microbiologia da UNESP-Rio Claro que participou dos projetos de pesquisa. Ao Programa de Formação de Recursos Humanos (PRH) da Agência Nacional do Petróleo (ANP), pelo auxílio concedido através do Programa de Formação de Recursos Humanos da UNESP-Campus de Rio Claro - PRH-05. Aos revisores, pelas sugestões conferidas ao trabalho.

6. REFERÊNCIAS

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ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES: HISTÓRICO E PROPOSTA

DE PROCEDIMENTOS PARA O SEU PLANEJAMENTO E CONTROLE OPERACIONAL

DOMICILIARY SOLID WASTE TRANSFER STATIONS:

BACKGROUND AND PROPOSAL OF PROCEDURES FOR ITS PLANNING AND OPERATIONAL CONTROL

Costa, H.S.

Instituto de Recursos Naturais - Universidade Federal de Itajubá

Av. BPS, 1303 – Pinheirinho – Itajubá – MG – CEP: 37500-903

Tel.: +55 35 3629.1157 – Fax.: +55 35 3629.1265 - E-mail: [email protected]

RESUMO

As estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares no Brasil vêm adquirindo importância desde a década de 50, principalmente devido ao crescimento das cidades e ao distanciamento dos locais de disposição de resíduos sólidos em relação ao centro urbano. Todavia, a concepção dessas instalações mudou bastante ao longo dos anos e tende a sofrer grandes transformações em futuro próximo, uma vez que os recursos financeiros são escassos e a preocupação com a preservação do meio ambiente é crescente. Este trabalho relata o histórico das estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares no Brasil e propõe procedimentos para o planejamento e o controle operacional destes empreendimentos. Palavras-chave: estações de transferência, resíduos sólidos, planejamento, indicadores de desempenho, controle operacional.

ABSTRACT

In Brazil, the domiciliary solid waste transfer stations are acquiring importance since the decade of 50, mainly due to the growth of the cities and the disposal places

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of solid waste very distant in relation to the urban center. However, the conception of these installations changed enough long of the years and it will to suffer great transformations in next future, a time that the financial resources are scarce and the concern with the preservation of the environment is increasing. This work shows the background of the domiciliary solid waste transfer stations in Brazil and considers procedures for the planning and the operational control of these enterprises.

Key-words: solid waste, transfer stations, planning, performance pointers, operational control.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Costa (1998), “estação de transferência de resíduos sólidos domiciliares é uma instalação que possibilita a remoção ou o transbordo dos resíduos sólidos domiciliares recolhidos por veículos ou equipamentos de coleta relativamente pequenos (triciclos, veículos de tração animal, veículos motorizados, etc.) para outro meio de transporte de maior capacidade de carga (normalmente carretas, mas barcaças e vagões ferroviários são também opções de transporte), capaz de transportar o resíduo por longas distâncias para centrais de reciclagem de material ou para locais de processamento ou disposição de resíduos, com reduzida utilização de mão-de-obra”.

Resíduos sólidos domiciliares são considerados resíduos de classe II e III, segundo a classificação da ABNT (1987), ou seja, os resíduos provenientes da varrição regular e de serviços oriundos de feira livre, construção e demolição, poda e capinação, comércio, limpeza de parques e jardins.

Para garantir um nível satisfatório de qualidade de vida urbana, precisa-se remover os resíduos para locais longínquos, afastados de áreas residenciais e comerciais. Isso implica no aumento dos custos da limpeza pública, favorecendo a utilização de estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares, pois a principal vantagem atribuída a elas é a possibilidade de redução nos custos do transporte.

Todavia, essas unidades podem oferecer inúmeras outras vantagens ao gerenciamento de resíduos sólidos, como por exemplo: ampliar o número de locais de processamento ou disposição de resíduos sólidos, aumentar a eficiência dos veículos de coleta e melhorar a operação no local de disposição. Além disso, tornam-se potencialmente mais vantajosas quando a coleta é seletiva, pois a quantidade de resíduos transferida é menor. As estações de transferência influenciam de modo significativo a coleta e o transporte de resíduos. De acordo com Aguiar (1993), essas etapas envolvem a maior parte dos recursos alocados pelas municipalidades nos serviços de limpeza pública.

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Como pode ser observada na Figura 1, as estações de transferência fazem parte de um processo cíclico contínuo e têm função muito similar à dos depósitos de materiais, exceto que não existe custo de inventário, nem carga unitária numa estação e o fluxo de materiais é reverso, isto é, as matérias-primas são transportadas para as fábricas (pontos de produção), em seguida os produtos escoam para os depósitos (pontos de distribuição) e dos depósitos para os consumidores (produtores de resíduos); os resíduos são removidos dos domicílios para os pontos de transferência (estações de transferência ou estações de transferência e recuperação de materiais) e dos pontos de transferência para os locais de destino final (centrais de tratamento e recuperação de materiais ou aterros sanitários). Se houver reciclagem de resíduos, estes tornar-se-ão matérias-primas para a fabricação de produtos.

Figura 1. – Esquema das estações de transferência de resíduos sólidos como um canal de

distribuição reverso. (COSTA, 1998, p.36)

Segundo Ballou (1993), a ínfima atenção dedicada aos canais de distribuição reversos explica, em parte, a pouca importância atribuída aos resíduos sólidos como fonte de matéria-prima. Não obstante, verifica-se uma tendência para realizar reciclagem nas estações de transferência mais modernas; logo, a utilização de resíduos como matéria-prima tende a ser mais valorizada.

No gerenciamento moderno de resíduos, de acordo com Diaz et al. (1993), a estação de transferência deve ser um local de processamento inicial, normalmente na forma de separação de componentes potencialmente utilizáveis. Isso é feito com o objetivo de reduzir a quantidade de resíduo destinado a ser aterrado. Segundo Tchobanoglous et al. (1993), a estação de transferência deve, portanto ser planejada e operada de modo integrado com os outros elementos funcionais do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos (coleta, reciclagem, tratamento, disposição, etc.), mantendo a continuidade do sistema. Vale lembrar que a redução, a reutilização ou recuperação, o tratamento e a reciclagem podem fazer parte de uma estação de transferência.

Matér ias -Pr imas

Pontos de Produç ão = Fábr ic as

Pontos de Dis tr ibu iç ão = Depós itos

Pontos de Cons umo e Geraç ão deRes íduosPontos de Trans f erênc ia

Des tino Fina l de Res íduos

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2. HISTÓRICO DE ESTAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS

SÓLIDOS NO BRASIL

Com base nos arquivos da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro – COMLURB, pode-se constatar que o sistema de transferência de resíduos é bem antigo no Brasil.

As primeiras estações de transferência ou rampas de transbordo (como eram conhecidas) foram construídas na década de 50, no Rio de Janeiro. Eram pequenas rampas nas quais os caminhões de coleta subiam de ré e vazavam seus resíduos diretamente em caminhões maiores ou nos bondes elétricos especiais para transportar o lixo.

Com o aumento das distâncias aos aterros sanitários e com o aparecimento de modernos caminhões compactadores, que transportavam uma quantidade de lixo três vezes maior que os caminhões tipo baú ou prefeitura, era necessário projetar-se estações de transferência cujas carretas transportassem também uma quantidade de lixo pelo menos três vezes superior às carretas utilizadas na época. Construíram-se então as estações de transferência com compactação, cujo sistema se resumia em transferir os resíduos dos caminhões de coleta para carretas de 50 m3, através de grandes prensas estacionárias.

Foram construídas na década de 1970, no Rio de Janeiro duas dessas estações: a Estação de Transferência Sul e a Estação de Transferência Norte. O sistema de operação de ambas as estações era o seguinte: os caminhões de coleta tinham acesso à plataforma de descarga por meio de uma rampa. Na plataforma de descarga, existiam dois fossos receptores (push-pit) de 90 m3 de capacidade cada um (9 m2 de seção por 10 m de comprimento). Os resíduos, depois de descarregados nos fossos, eram empurrados por um sistema de placa hidráulica para os compactadores (cada fosso possuía um compactador) que, por sua vez, compactavam o lixo diretamente nas carretas. Cada carreta de 50 m3 transportava cerca de 30 t de lixo e possuía um sistema de placa hidráulica (semelhante ao dos fossos) para o vazamento do lixo. Não somente no Rio de Janeiro, mas também em São Paulo, foram construídas estações com compactação: Ponte Pequena e Vergueiro.

Na mesma década, segundo ConsulteC/Saniplan (1979), em complementação ao Plano de Destino Final de Lixo do Distrito Federal, foram previstas, para a Capital Federal, quatro estações de transferência: duas no Plano Piloto, uma em Sobradinho e a quarta no Gama. Todas as estações seriam do tipo descarga direta. Os anteprojetos das estações eram praticamente iguais, com diferenças apenas na localização. A estação central ficaria localizada em terreno próximo à oficina do Serviço de Limpeza Urbana, no Setor de Garagens Oficiais. Foi dimensionada para receber inicialmente 110 t de resíduos sólidos domiciliares, prevendo-se uma expansão a médio prazo para 220 t/dia. Os resíduos seriam transferidos diretamente para carretas de 30 m3. A estação consistia de uma rampa em aterro, pavimentada, a qual daria acesso a um pátio elevado, para descarga dos caminhões de coleta. O pátio superior

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seria coberto. Uma balança rodoviária tipo plataforma, uma guarita e um pequeno escritório complementariam o projeto.

Os investimentos necessários às obras civis e à aquisição de equipamentos (prensas, placas e cavalos) do sistema de compactação foram bastante elevados, por isso a equipe técnica da COMLURB, Rio de Janeiro, passou a estudar um projeto de estação para operar com um tipo de carreta que transportasse a mesma quantidade de lixo e cujos investimentos globais fossem inferiores. Chegou-se a um tipo de carreta composta de dois módulos (caixas): a traseira com volume de 40 m3 e basculamento traseiro e a central com volume de 30 m3 e basculamento bilateral.

Foram construídas no Rio de Janeiro, as estações de transferência de Bangu e Nova Iguaçu, dentro dessa concepção. O sistema de operação dessas estações era basicamente o seguinte: os caminhões de coleta tinham acesso à plataforma de descarga através de uma rampa. Na plataforma de descarga, os caminhões vazavam os resíduos diretamente nas carretas, através de defletores metálicos cuja função era dirigir o lixo para dentro delas.

As empresas públicas brasileiras responsáveis por estações de transferência buscaram, a partir da década de 1980, a terceirização de suas operações seguindo a tendência de países como os Estados Unidos de acordo com Scozzafava (2004), e a substituição gradativa do sistema com compactação pelo sistema sem compactação, visando a reduzir os custos de manutenção e operação, diferentemente do que vem ocorrendo em países desenvolvidos como relata Carleton (2004).

A partir de meados dos anos 90, para reduzir a formação de filas de espera dos veículos coletores, reduzir custos e melhorar o aspecto estético das estações, tem-se preferido: (1) a utilização de carretas abertas, sem compactação, com capacidade para 21 toneladas de resíduos, por apresentarem menores custos de investimento e manutenção, (2) fossos de acumulação temporária de resíduos e pás mecânicas para auxiliar a transferência, para possibilitar a esse tipo de estação a volta rápida do coletor para o setor de coleta, (3) e unidades semi-enclausuradas para impedir a visibilidade das operações.

Atualmente, conforme levantamento realizado pela autora, estão em funcionamento no Brasil dezesseis estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares, além de seis estações que se encontram desativadas devido, principalmente, à localização e às condições de operação não serem adequadas. Planeja-se reformar uma unidade e construir mais sete. As estações de transferência atuais possuem as seguintes características:

• Estão localizadas em municípios com mais de um milhão de habitantes e nas regiões mais desenvolvidas do país.

• São empreendimentos de médio e grande portes, em contraste com o que vem ocorrendo nos Estados Unidos da América, como relatou Brockway (1995).

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• A maioria funciona 24 horas por dia, aproveitando o máximo de tempo disponível para a transferência. No entanto, em zona residencial o horário noturno produz transtorno para a vizinhança.

• Apenas em uma estação de transferência, à distância de transporte (ida e volta) é menor que 40 km, as distâncias de transporte de mais da metade das estações variam de 41 a 80 km e somente em uma estação à distância percorrida pelos veículos de transferência é superior a 81 km.

• O tempo gasto no percurso de ida e volta da estação de transferência ao aterro sanitário, para a maioria das estações, varia entre 60 e 90 min.

• As estações de transferência brasileiras não incorporam a reciclagem ou a recuperação de resíduos à sua operação, não são construções enclausuradas e nem realizam compactação. As estações de transferência que realizam outras operações em suas dependências além da transferência de resíduos, de acordo com King (2003), são chamadas estações de transferência “verdes”, que é a mais forte tendência mundial.

• A capacidade de carga dos veículos de transferência é adequada à capacidade de carga dos coletores empregados, pois a relação número de coletores por veículos de transferência é superior a 1:2. Gerando uma redução no número de veículos, na rota de transporte, na faixa de 55 a 73%.

• Apenas duas estações de transferência executam o manejo dos resíduos ao ar livre, o que é absolutamente inadequado, pois, em períodos de chuvas, há carreamento dos resíduos e formação de chorume, além de os resíduos ficarem saturados de água, ocasionando aumento nos custos de transporte nesses períodos. Todas as estações de transferência enlonam os veículos na própria estação, antes de seguirem viagem para o aterro sanitário, fato que é extremamente positivo.

• Realizam o controle da operação de transferência de resíduos por meio de pesagem dos veículos de coleta e transferência em balanças eletrônicas, o que garante uma qualidade mais apurada das informações sobre o fluxo de carga.

As estações brasileiras de transferência de resíduos sólidos em operação apresentam-se rudimentares e pouco integradas à comunidade, exatamente por não possuírem programas de controle ambiental e mostrarem baixa eficácia, embora desempenhem elevada eficiência operacional.

O sistema de transferência adotado no país evoluiu muito desde a sua implantação. Não obstante, ainda precisa ser aprimorado para tornar-se adequado à realidade dos municípios brasileiros.

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3. PLANEJAMENTO DE ESTAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RESÍDUOS

SÓLIDOS

Aqui, propõem-se procedimentos a serem seguidos na etapa de planejamento, visando a auxiliar na escolha racional de estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares. A Figura 2 traz as etapas da análise de planejamento para uma estação de transferência de resíduos sólidos domiciliares.

A primeira etapa consiste na obtenção de dados e informações gerais que permitam a caracterização da cidade em estudo e a estimativa dos custos de projeto da estação. Coletados todos os dados necessários, eles devem ser analisados e corrigidos os eventuais desvios. Por exemplo, dados como: (a) mapas da cidade; (b) população atual e dos últimos dez anos; (c) densidade demográfica; (d) localização da garagem e dos setores de coleta; (e) localização e capacidade do local de destino dos resíduos; (f) método de destino usado; (g) número de componentes e jornada de trabalho da guarnição; (h) costumes da população; (i) zoneamento, topografia, tipos de calçamento e principais vias da região; (j) horários e freqüência das coletas; (k) quantidade, tipo e capacidade dos veículos coletores; (l) distância e tempo gastos na coleta; (m) capacidade máxima de transporte permitida por lei; (n) meios de transporte que poderão ser utilizados; (o) planilha de custos do transporte direto.

Figura 2. – Etapas da análise de planejamento para uma estação de transferência de resíduos

sólidos domiciliares.

Dimensionamento Localização

Operação

Implantação

Projeto Final

Análise e Seleção das Alternativas

É Viável!

Encerrara Análise

Não é Viável!

Análise Econômicade Viabilidade de Implantação

Projeção de Demanda para o Horizonte de Projeto(População e Produção de Resíduos Sólidos)

Levantamento de Dados e Informações

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A etapa seguinte é a de previsão de população e de geração de resíduo para o horizonte de projeto (recomenda-se 10 a 20 anos como vida útil para uma estação de transferência). A partir dos dados históricos de população e produção de resíduo dos últimos dez anos, conhece-se a taxa provável de crescimento da população e da produção de resíduo domiciliar, o que permite estimar a capacidade da estação no horizonte de projeto. Recomenda-se que se projete a estação de transferência em módulos, prevendo expansões ao longo de sua vida útil em função do incremento da produção de resíduos.

A terceira etapa é a determinação dos locais mais adequados para implantar a estação de transferência, a qual deve ser realizada em conjunto com a quarta etapa: o dimensionamento das estações.

O estudo de localização de estações de transferência pode ser subdividido nas seguintes etapas:

1. Seleção de critérios, considerando: as restrições ambientais, urbanas e sociais; o uso e a ocupação do solo; a malha viária existente; a área necessária para a instalação; os tempos e as distâncias de remoção dos resíduos; a densidade populacional e a produção de resíduos.

2. Definição da importância relativa de cada critério. 3. Aplicação de algum método ou modelo matemático já consagrado na

localização de empreendimentos, de forma a maximizar os benefícios da transferência; melhorar a organização desse serviço; contribuir para o bem estar e conforto da população; facilitar a circulação.

4. Análise das alternativas resultantes. O dimensionamento de cada estação pode ser realizado utilizando as

expressões apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. – Expressões para dimensionar estações de transferência de resíduos sólidos

Variável Unidade Expressão Matemática Conceito Tempo total de ciclo (t)

min t = tc + tp + td em que tc é o tempo de carregamento do veículo de transferência, tp é o tempo gasto no percurso (ida e volta) da estação ao destino final dos resíduos e td é o tempo de descarregamento do veículo de transferência. Dados em minutos

É o tempo total gasto por um veículo de transferência para remover os resíduos para o destino final e voltar à estação de transferência

Número de viagens por dia (Nvd)

Viagem/dia Nvd = q/Cvt em que q* é a quantidade média de resíduos recebida pela estação (tonelada/dia) e Cvt é a capacidade média de carga do veículo de transferência (tonelada/viagem)

É a quantidade total de viagens necessárias para remover os resíduos que chegam à estação ao longo de um dia

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Variável Unidade Expressão Matemática Conceito

Número de veículos de transferência em operação (Nvo)

Veículo de transferência em operação

Nvo = (Nvd . t)/j em que Nvd é o número de viagens por dia, t é o tempo de ciclo e j é a jornada de trabalho da estação de transferência, partindo-se do pressuposto de que a jornada de trabalho da estação é a mesma dos veículos de transferência

É a quantidade de veículos de transferência necessária para remover os resíduos recebidos ao longo de um dia

Número de veículos-reserva de transferência (Nvr)**

Veículos-reserva de transferência

Nvr = 0,10.Nvo em que Nvo é o número de veículos de transferência em operação

É a quantidade de veículos adicionais para substituir reparos e manutenção de veículos em caso de emergência

Número total de veículos de transferência (Nvt)

Veículos de transferência

Nvt = Nvo + Nvr em que Nvo é o número de veículos em operação e Nvr é o número de veículos reserva

É o somatório entre o número de veículos em operação e o número de veículos reserva

Número de viagens por veículo (Nvv)

Viagem/veículo Nvv = Nvd/Nvo em que Nvd é o número de viagens por dia e Nvo é o número de veículos de transferência em operação

É a quantidade máxima de viagens que um veículo de transferência poderá realizar

Capacidade de estocagem (Ce)

t Ce = (Nf.Cf) + (Nvt.Cv) + (Nc.Cc) em que Nf é o número de fossos de acumulação de resíduos, Cf é a capacidade de armazenamento do fosso em tonelada, Nvt é o número de veículos de transferência, Cv é a capacidade de carga do veículo de transferência em tonelada. Caso haja sistema de compactação, adiciona-se o produto entre Nc, que é o número de compactadores, e Cc, que é a capacidade de acumulação de carga no compactador em tonelada***

É a quantidade de resíduo que a estação de transferência pode armazenar

Capacidade operacional da estação de transferência (Co)

t/dia Co = Ct + Ce em que Ct é a capacidade média de transferência da estação (tonelada/dia) e Ce é a capacidade de estocagem (tonelada/dia)

É a quantidade de toneladas que a estação de transferência pode manipular

Número de sistemas (Ns)

Sistemas de transferência

Ns =q/Co em que q é a quantidade média de resíduos recebida pela estação (tonelada/dia) e Co é a capacidade operacional da estação de transferência (tonelada/dia)

É a quantidade de sistemas de transferência necessários

Observações referentes à Tabela 1:

*Phillipi Jr. (1979) considera q como sendo a quantidade média de resíduos recebida pela estação, acrescida de uma sobrecarga de 10%. É fundamental conhecer não somente a quantidade diária média e de pico a ser recebida pela estação, como também a quantidade horária de pico. A estação tem de ser capaz de transferir ou armazenar os resíduos que chegam no horário de pico. No entanto, projetar uma estação para esse volume de pico pode se tornar muito caro. Então, para contornar

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essa situação, o ideal é que o fluxo de veículos coletores que chegam à estação seja ajustado e distribuído ao longo de todo o dia, reduzindo assim os picos de carga, o que na prática nem sempre é viável. A análise dos períodos de pico de carga é importante também para evitar a formação de filas dos coletores e tempo de espera muito longo. Para Brockway (1997), o comprimento de fila e o tempo de espera é estimado, geralmente, assumindo a teoria convencional de filas e a distribuição de Poisson, válidos para os veículos coletores que chegam à estação de transferência.

**De acordo com Schaper (1986), deve-se considerar o número de veículos de transferência reserva igual a 10% do número de veículos de transferência em operação.

***No dimensionamento dos fossos de acumulação de resíduos, Jardim e Wells (1995) lembram que os resíduos podem sofrer, após serem descarregados pelos coletores compactadores, um aumento de volume de 20 a 25 %. Brockway (1997) recomenda que, nos locais em que o nível do lençol freático está próximo à superfície, o fosso ou o pátio de descarga de resíduos seja construído 4 a 6 m acima do nível do solo.

É importante salientar que uma estação de transferência terá um aproveitamento total do investimento realizado, se render o máximo de sua capacidade, ou seja, se seus equipamentos funcionarem na máxima capacidade efetiva. O que equivale dizer que a estação só terá um aproveitamento máximo de sua capacidade se funcionar 24 horas por dia.

Em estações de transferência do tipo descarga direta, a rampa de transbordo deve ser de material que evite derrapagens e deve ter uma inclinação de até 10 %, segundo Phillipi Jr. (1979), terminando na parte superior em uma plataforma horizontal para nivelar os coletores antes da descarga de resíduos.

Na etapa de dimensionamento é importante levar em conta: • O tipo de resíduo que chegará à estação. Características como: peso

específico, umidade, composição física e compressibilidade devem ser analisadas para escolher os equipamentos e os veículos de transferência adequados.

• A quantidade dos resíduos que chegará à estação ao longo do dia, o tempo gasto no percurso de ida e volta da estação ao destino final e as condições de tráfego da região influenciam na quantidade e no tipo de veículo de transferência e, também, na formação de filas para os veículos coletores.

• O tipo de equipamento de coleta. O tempo de descarga dos coletores influencia no dimensionamento das frentes de carregamento dos veículos de transferência, por exemplo: coletores com descarga rápida de resíduos aumentam a rotatividade nas frentes de carregamento.

• O método de destino final dos resíduos influi na escolha do processo de descarga dos veículos de transferência e da realização de outras operações na estação, além da transferência propriamente dita.

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• A topografia do local escolhido. Terrenos acidentados facilitam a construção de rampas, já que uma estação normalmente tem dois níveis de operação.

• O tipo de vizinhança da estação influenciará no projeto arquitetônico e no controle de poluição que deverá ser providenciado.

• A economicidade do sistema, pois a maior parcela do custo do transporte indireto é o custo da estação de transferência.

A última etapa é a análise econômica de viabilidade de implantação de estações de transferência para cada unidade determinada nas etapas anteriores. Portanto, o anteprojeto e a localização de cada unidade potencial já devem estar devidamente elaborados.

Nesta etapa, dever-se-á comparar os custos do transporte direto com os custos do transporte indireto, determinando o ponto de equilíbrio entre os dois sistemas. Dever-se-á também verificar a viabilidade financeira do empreendimento, ou seja, verificar se o município é capaz de arcar (por meio de financiamentos ou recursos próprios) com os custos do período de transição, período em que o transporte direto estará sendo executado, a estação estará sendo construída, os equipamentos e os veículos de transferência estarão sendo adquiridos, tudo isso ocorrendo concomitantemente.

Se for constatada a inviabilidade econômica do empreendimento, encerra-se a análise. Caso contrário, os resultados deverão ser analisados no que se refere a gastos de capital, interferências no sistema de coleta e transporte, disponibilidade de locais adequados, restrições urbanas e ambientais e, também, custos operacionais. Só então serão selecionadas as alternativas que se mostrarem viáveis economicamente e compatíveis com a realidade local.

Após todo esse processo descrito anteriormente, dever-se-á elaborar o projeto final e executar as etapas de implantação e operação das unidades de transferência determinadas pela análise realizada.

Uma vez a estação de transferência estando em pleno funcionamento, poder-se-á utilizar os indicadores propostos pela autora apresentados nas Tabelas 2 e 3 para avaliar a produtividade, a eficiência operacional, a qualidade e a segurança da operação na estação. Esses indicadores e seus conceitos e intervalos foram elaborados com base em revisão de literatura, pesquisas de campo e questionários recebidos de municípios brasileiros. Tabela 2. – Indicadores de produtividade e eficiência operacional.

Indicador Unidade Expressão Matemática Conceito e Intervalo Disposição dos componentes da estação

- - Adequada: há proximidade dos componentes da estação, respeitando a seqüência do fluxo de carga; Inadequada: quando os componentes da estação não são dispostos de acordo com o fluxo de carga

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Tempo de permanência de resíduo no fosso

h - Adequado: menor que 2 horas;Inadequado: superior a 2 horas

Grau de utilização da estação de transferência (EU)

- EU = Ct/Cn em que Ct é a quantidade total de resíduo transferida por dia (t/dia) e Cn é a capacidade nominal da estação em t/dia

Utilização adequada: 0,90 a 1,00; Boa utilização: 0,80 a 0,90; Estação sub-utilizada: menor que 0,80

Grau de utilização das carretas de transferência quanto a carga transferida (Ucc)

- Ucc = Cvt/Cnv = Ct/(Nvd.Cnv) em que Cvt é a carga média transportada por carreta em tonelada, Cnv é a capacidade nominal da carreta de transferência em tonelada, Ct é a quantidade total de resíduo transportada por dia (t/dia) e Nvd é o número total de viagens da estação ao destino final dos resíduos

Utilização adequada: maior que 0,90 da capacidade de carga das veículos de transferência; Boa utilização: 0,80 a 0,90; Baixa utilização: menor que 0,80

Grau de utilização das carretas de transferência quanto a quilometragem rodada (Ucq)

- Ucq = Nvd.d/(Nvo.de) em que Nvd é o número de viagens, d é a distância de transporte em km, Nvo é o número de veículos de transferência utilizados por dia e de é a quilometragem média diária especificada pelos fabricantes dos veículos de transferência

Utilização elevada: superior a 1,00; Utilização adequada: 0,90 a 1,00; Baixa utilização: menor que 0,90

Grau de utilização do fosso de acumulação temporária ou do pátio de descarga de resíduos (UF)

- UF = Nf.Cf/Ct em que Nf é o número de fossos ou pátios, Cf é a capacidade do fosso ou pátio em tonelada e Ct é a quantidade de resíduos transferida pela estação em t/dia

Adequado: 2/3; Subdimensionado: menor que 2/3; Superdimensionado: superior a 2/3

Grau de utilização da mão-de-obra (UMDO)

- UMDO = MDOd/MDOi em que MDOd é a quantidade de mão-de-obra direta e MDOi é a quantidade de mão-de-obra indireta

Adequada: 0,10; Insuficiente: menor que 0,10; Excesso de mão-de-obra indireta: maior que 0,10

Grau de mecanização da estação (M)

MDO/t/d M = MDOd/Ct em que MDOd é a quantidade de mão-de-obra direta total e Ct é a quantidade de resíduo transferida em tonelada

Muito mecanizada: menor que 0,02 MDO/t/dia; Mecanizada: 0,02 a 0,04 MDO/t/dia; Pouco mecanizada: maior que 0,04 MDO/t/dia

Dimensão da estação (D)

m2/t/d D = A/Ct em que A é a área total da estação em m2 e Ct é a quantidade de resíduo transferida em t/dia

Tamanho adequado: 6 m2/t/dia; Compacta: menor que 6 m2/t/dia; Ampla: maior que 6 m2/t/dia

Velocidade média de transporte (V)

Km/h V = d/t em que d é a distância de transporte em km e t é o tempo total de viagem em hora

Adequada: 30 a 60 km/h; Elevada: maior que 60 km/h; Baixa: menor que 30 km/h

Quantidade de coletores necessários para carregar uma carreta (VC/C)

- VC/C = Cv/Cvc em que Cv é a capacidade do veículo de transferência e Cvc é a capacidade do coletor

Adequado: maior que 1:2; Inadequado: menor que 1:2

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Tabela 3. – Indicadores de qualidade e segurança. Indicador Unidade Conceito e Intervalo

Localização da estação - Adequada: zona industrial ou agrícola; Inadequada: zona residencial ou comercial

Idade da frota de carretas ano Adequada: menor que 5 anos; Inadequada: superior a 5 anos

Tipo de manutenção realizada

- Adequada: há manutenção preventiva, corretiva e emergencial; Inadequada: ausência de manutenção preventiva

Sistema de pesagem - Ótimo: há balança eletrônica; Adequado: há algum tipo de balança; Inadequado: não existe balança

Programa de treinamento permanente dos operários

- Adequado: há treinamento permanente; Inadequado: não há treinamento permanente

Freqüência de limpeza da estação

- Adequada: diária; Inadequada: ocasional

Freqüência de limpeza das carretas

- Adequada: diária; Inadequada: ocasional

Freqüência de limpeza do fosso

- Adequada: diária; Inadequada: ocasional

Controle de poluição - Adequado: utilização de equipamentos próprios para mitigar a poluição gerada; Inadequado: não há medidas preventivas e mitigadoras contra os impactos negativos da estação

Enlonamento das carretas - Adequado: utilização de lonas plásticas ou telas após carregamento; Inadequado: o não enlonamento das carretas antes de partirem para o aterro sanitário

Utilização de equipamentos de segurança

- Adequada: utilização constante de equipamentos de segurança por todos os operários; Inadequada: não utilização ou utilização parcial de equipamentos de segurança

Outras operações dentro da estação

- Alta utilidade: existência de trituração, triagem, enfardamento, etc.; Adequada: somente a operação de transferência

Terreno murado - Adequado: há muros altos ou cercas; Inadequado: muros ou cercas que não impeçam sua transposição

Áreas verdes ao redor da estação

- Adequado: se promover isolamento da estação; Inadequado: se não isolar e melhorar a estética da estação

Horário de funcionamento da estação

h Adequado: de 6 às 22 horas; Inadequado: de 22 às 6 horas

Tipos de via de transporte - Adequado: vias expressas e preferenciais; Inadequado: vias secundárias e locais

A idéia de propor esses conceitos e intervalos é na verdade para proporcionar uma reflexão sobre as condições operacionais das estações de transferência e assim melhorar o desempenho das mesmas.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira vista, pode parecer que o Brasil está marchando na contramão do desenvolvimento tecnológico da transferência de resíduos sólidos, pois em países desenvolvidos como os EUA e a Inglaterra buscam-se intensificar a utilização de sistemas de transferência com compactação, enquanto no Brasil o contrário vem ocorrendo: as estações que possuíam sistemas com compactação foram remodeladas para funcionarem sem compactação. Contudo, se olharmos mais atentamente para a questão, constataremos, na verdade, que o Brasil está buscando sua própria identidade, desvinculando-se assim do que é considerado apropriado pelos países desenvolvidos e procurando o tipo de estação mais adequado para a sua realidade. Ou seja, embora o Brasil não tenha desenvolvido uma tecnologia própria, o governo brasileiro utiliza-se da tecnologia e da experiência estrangeira para alcançar suas próprias metas, não sendo um mero imitador; o que é extremamente positivo, pois se economiza tempo e dinheiro, além de demonstrar que o conceito de estação de transferência deve ser específico para cada localidade. No entanto, esse conceito deve respeitar o meio-ambiente e os costumes da sociedade, não se esquecendo de atender aos requisitos técnicos. Mas, por falta de investimentos substanciais no setor, as mudanças vêm ocorrendo de maneira lenta e gradativa.

Tendo como objetivo de provocar uma reflexão sobre as tecnologias hoje empregadas e a adoção de alternativas compatíveis com as condições nacionais e peculiaridades regionais, foram propostos procedimentos que auxiliem no planejamento de estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares e, também, indicadores de produtividade, eficiência operacional, qualidade e segurança que auxiliem na avaliação do desempenho destas estações. No entanto, os conceitos e intervalos dos indicadores propostos precisam ser aperfeiçoados através de novas pesquisas e da experiência dos técnicos que trabalham em estações de transferência.

A prática na utilização desses indicadores poderá levar ao aperfeiçoamento dos conceitos e intervalos propostos, além de gerar parâmetros de projeto e controle de estações de transferência.

5. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 10004: Resíduos sólidos: classificação, Rio de Janeiro, 1987. AGUIAR, E.M. Racionalização da operação de sistemas de coleta e transporte de resíduos sólidos domiciliares para cidades de pequeno e médio porte. 1993.216f.Tese Doutorado em Engenharia de Transportes - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993. BALLOU, R.H. Logística Empresarial. São Paulo: Ed. Atlas S.A., 1993.

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BROCKWAY, R.C. Small transfer stations prove large in purpose. World Wastes, Atlanta, v. 38, n. 4, Apr., p. 62-6, 1995. ______. Critical factors to consider when designing a transfer station. Waste Age, Atlanta, abr., p. 78-89, 1997. CARLETON, M. Building consensus. Waste age, Atlanta, v. 35, n. 2, p. 56-63, fev., 2004. CONSULTEC/SANIPLAN. Plano de Destino Final de Lixo do Distrito Federal. Brasília, 1979. Relatório Técnico. COSTA, H.S. Aspectos operacionais das estações de transferência de resíduos sólidos domiciliares no Brasil. 1998.204f. Dissertação Mestrado em Hidráulica e Saneamento - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1998. DIAZ, L.F.; SAVAGE, G.M.; EGGERTH, L.L.; GOLUEKE, C.G. Composting and recycling municipal solid waste. New York, Lewis. 1993. cap. 2, p. 7-31 (Storage and Collection). JARDIM, N.S.; WELLS, C. (Coord.). Lixo Municipal - Manual de gerenciamento integrado. São Paulo, IPT/CEMPRE, 1995. KING, R. It’s easier to be green. Waste age, Atlanta, v. 34, n. 11, p. 38-10, nov.,

2003. PHILLIPI Jr., A. (Coord.). Estação de transferência. São Paulo, 1979. Trabalho apresentado à disciplina HSA-912 Fundamentos de Controle da Poluição do Meio I da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. SCHAPER, L.T. Transfer of municipal solid waste. In: ROBINSON, W.D. (Editor). The solid waste handbook - a practical guide. New York: John Wiley, 1986 cap. 9, p. 195-214. SCOZZAFAVA, L. The American City & county. Waste age, Atlanta, v. 119, n. 2, p. 34-37, Fev., 2004. TCHOBANOGLOUS, G.; THEISEN, H.; VIGIL, S.A. Integrated Solid Waste Management: engineering principles and management issues. New York: McGraw-Hill, 1993.

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INFLUÊNCIA DE DIFERENTES DOSES DE TORTA DE FILTRO NO SOLO SOBRE A MIGRAÇÃO E

PERSISTÊNCIA DE STEINERNEMA GLASERI (STEINER, 1929) (NEMATODA:RHABDITIDA)

INFLUENCE OF DIFFERENTIAL DOSES OF

FILTERCAKE ADDED TO SOIL ON THE MIGRATION AND PERSISTENCE OF STEINERNEMA GLASERI

(STEINER, 1929) (NEMATODA:RHABDITIDA)

Rodrigues, R.C.D.1, Aguillera, M.M.1, Gobbi, N.2; Pizano, M.A.2

1Departamento de Biotecnologia Vegetal, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Centro de Ciências Agrárias (CCA), Caixa Postal:153, CEP 13600-

970,Araras, SP E-Mail: [email protected], [email protected], 2Departamento de Ecologia, Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências,

Caixa Postal: 199, CEP 13506-900, Rio Claro, SP E-mail: [email protected], [email protected]

RESUMO

Nematóides entomopatogênicos são usados no controle biológico de vários insetos/praga. Ocorrem naturalmente, e há grande interesse em conhecer as condições do ambiente que possam favorecer suas atividades no solo para localizar hospedeiros potenciais e sua sobrevivência. O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da torta de filtro (T.F.) adicionada ao solo (SO) sobre a migração e persistência de Steinernema glaseri. Os tratamentos consistiram de 0, 25, 50, 75 e 100% de T.F. adicionados em solo esterilizado: arenoso e argiloso. Galleria mellonella (Lepidoptera:Pyralidae) foi usada como hospedeiro indicador para a atividade dos juvenis infectivos do nematóide. No solo arenoso, a adição de T.F. em proporção de até 50% não influenciou a migração de nematóides em direção ao hospedeiro, enquanto em solo argiloso a proporção máxima onde ocorreu a migração foi de 25% T.F. Os juvenis infectivos moveram-se mais para a superfície do que para o fundo da coluna quando o substrato continha solo arenoso. Em solo argiloso, a movimentação foi semelhante nas duas direções em todos os teores de T.F. A persistência do nematóide foi mais elevada em substratos com solo argiloso, nos tratamentos com maior proporção de solo em relação à torta de filtro.

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Palavras-chave: nematóides entomopatogênicos, matéria orgânica, migração, persistência, Steinernema glaseri.

ABSTRACT

Entomopathogenic nematodes are commonly used for the biological control of many insects/pests. Besides their natural occurrence, there is a great interest in the study of environmental conditions, which can favor their activities in the soil in order to find potential hosts and survivors. The objective of this research was to determine the effects of filtercake added to soil on migration and persistence of Steinernema glaseri. The treatments were: 0; 25; 50; 75; and 100% filtercake added to two types of sterilized soil: sandy and clay. Galleria mellonella (Lepidoptera: Pyralidae) was used as an indicator host for the nematode activity. In the sandy soil, additions of up to 50% filtercake have no influence on nematode migration towards the host, while in clay soil the maximum proportion in which migration occurred with 25% filtercake. Infective juveniles moved more to the top than to the bottom column, in sandy soil. In clay soil the migration was similar in both directions at all filtercake levels. The nematode persistence was higher in clay soil substrates, in the treatments with higher proportion of soil in relation to filtercake.

Key words: entomopathogenic nematodes, organic matter, migration, persistence, Steinernema glaseri.

1. INTRODUÇÃO

Nematóides entomopatogênicos do gênero Steinernema Travassos, 1927 (Rhabditida: Steinernematidae) são importantes agentes de controle biológico de insetos e têm mostrado, através de experimentos de laboratório e casas de vegetação, grande habilidade em localizar, invadir o corpo e matar hospedeiros pertencentes a diversas ordens (POINAR, 1979). Podem ser produzidos em larga escala tanto “in vivo” como “in vitro” e não apresentam os inconvenientes dos produtos químicos (GAUGLER, 1988). Em diversas pragas de importância econômica no Brasil, apresentam-se como candidatos potenciais para o controle biológico. De fato, desde 1985, nematóides do gênero Steinernema têm sido isolados de solos no estado de São Paulo (PIZANO et al.,1985).

Embora testes de patogenicidade tenham mostrado a suscetibilidade de hospedeiros, tais como Migdolus fryanus (Coleoptera: Cerambycidae), o nível de incidência desta praga é alto em local de ocorrência do nematóide. Torna-se necessário, portanto, estudar os efeitos de medidas que possam interferir nas

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atividades dos nematóides, visando o manejo adequado para propiciar o aumento de populações nativas, bem como o estabelecimento de nematóides introduzidos em novos locais.

Sabe-se que os teores de umidade e de matéria orgânica no solo podem limitar a atividade desses nematóides (KAYA, 1990). A adição de compostos orgânicos e inorgânicos para melhorar a fertilidade do solo e o crescimento das plantas está entre as práticas freqüentemente usadas na agricultura, e muitos destes melhoramentos podem interferir no desenvolvimento de nematóides benéficos no solo (MULLER e GOOCH, 1982; RODRIGUEZ-KÁBANA, 1986; BEDNAREK e GAUGLER, 1997).

A torta de filtro é um resíduo proveniente da filtração a vácuo da mistura de lodo dos decantadores com bagacinho, no processo de produção de açúcar. O resíduo é um material rico em matéria orgânica, cálcio, fósforo e nitrogênio; dos micronutrientes, o ferro aparece com destaque. Este subproduto é largamente utilizado em áreas cultivadas com cana de açúcar, principalmente em solos arenosos, onde, coincidentemente, as pragas de solo são mais prejudiciais (ORLANDO FILHO et al., 1983). Desta forma, considerando a hipótese de a matéria orgânica se constituir em importante fator para a migração e sobrevivência de nematóides entomopatogênicos, objetivou-se neste trabalho estudar os efeitos da torta de filtro adicionada ao solo sobre a dispersão e persistência de Steinernema glaseri.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos em condições de laboratório, no Departamento de Biotecnologia Vegetal, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos, utilizando-se o nematóide entomopatogênico Steinernema glaseri strain Sta Rosa. Este foi multiplicado em lagartas de 7º instar (estádio larval) (ORLANDO FILHO et al, 1983) de Galleria mellonella L. (Lepidoptera, Pyralidae), de acordo com metodologia desenvolvida por Dutky et al. (1964). Juvenis infectivos foram coletados em armadilha de White (POINAR, 1979) (constituída por placa de petri com 15 cm de diâmetro contendo uma tampa invertida de placa de petri de 9 cm de diâmetro, e sobre esta, papel filtro de 12 cm de diâmetro moldado de forma que os bordos fiquem em contato com água destilada colocada na placa maior) e, posteriormente, mantidos na forma de suspensão, à temperatura de aproximadamente 4ºC. Os experimentos foram conduzidos em dois tipos de solo, um arenoso e outro argiloso, cada um contendo cinco tratamentos, representando diferentes combinações solo/torta de filtro. As análises granulométricas dos solos bem como as análises químicas da torta de filtro foram realizadas no laboratório de Análises Físicas do Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental, do Centro de Ciências Agrárias.

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Foram conduzidos dois experimentos: o primeiro para o estudo da migração de S. glaseri o segundo para o estudo da persistência deste mesmo nematóide. 2.1. Migração de Steinernema glaseri

Este experimento foi conduzido em recipientes plásticos de 17,5 cm de altura e 9,5 cm de diâmetro, com temperatura 28 ± 5º C e luz ambiente, com os seguintes tratamentos: Tratamento A -100% Torta de Filtro (TF), Tratamento B - 75% TF + 25% solo (SO), Tratamento C - 50% TF + 50% SO, Tratamento D - 25% TF + 75% SO, Tratamento E - 100% SO. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso com 5 tratamentos e 6 repetições, com 6 lagartas de G. mellonella por repetição. Os substratos (torta + solo) foram colocados até completar 14 cm de altura nos referidos recipientes.

No fundo e na superfície da coluna do substrato foram acondicionadas três lagartas de G. mellonella. No centro da coluna, ou seja, na altura de 7 cm, foi pipetado o inóculo que constou de 10.000 juvenis infectivos (J3) de S. glaseri, contidos em 5,0 mL de suspensão aquosa para assegurar alto nível de infestação no solo.

O nível inicial de umidade foi ajustado, para melhor sobrevivência dos nematóides, em cada tratamento de acordo com avaliação preliminar feita em laboratório (24% para o solo e 12% para a torta de filtro), pelo método gravimétrico (KRAMER, 1969).

Para determinar a migração de nematóides foram utilizados dois parâmetros: número de lagartas infectadas e número de adultos de 1ª geração desenvolvidos no interior destas lagartas (EPSKY e CAPINERA, 1993). Este número representa a quantidade de juvenis infectivos que migraram em direção ao hospedeiro, o invadiram e se tornaram adultos. O número de lagartas infectadas foi determinado coletando-às 96 horas após terem sido expostas ao ataque dos nematóides e dissecando-as, em seguida, para determinar o número de adultos desenvolvidos.

2.2. Persistência de Steinernema glaseri

Foram utilizados os mesmos recipientes e substratos já inoculados para determinação da migração. No solo arenoso foram feitas avaliações aos 7; 10; 13; 16; 26; 36; 46; 56; 66; 76 dias após a inoculação. No solo argiloso as avaliações foram feitas de 3 em 3 dias, começando aos 7 e terminando em 79 dias após a inoculação. Foram colocadas três lagartas de G. mellonella por repetição distribuídas no fundo, no centro e na superfície da coluna. Assim, as lagartas permaneciam 72 horas expostas em cada época de avaliação e eram submetidas às mesmas observações do experimento anterior. A determinação de maior período após as primeiras avaliações no solo arenoso foi devida a significativa redução no número de nematóides adultos nas lagartas. A sobrevivência dos nematóides foi determinada pela habilidade dos juvenis infectivos de alcançar, infectar e se desenvolver em adultos nas lagartas de G.

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mellonella colocadas na superfície, no meio e no fundo dos recipientes contendo os substratos. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso com 5 tratamentos, 6 repetições e 3 lagartas por repetição. Em ambos os experimentos, a análise estatística dos dados foi feita utilizando-se o Software SAS - Statistical Analysis System, versão 6.11, e as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados foram

transformados método arcsen da .100

% .

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Migração de Steinernema glaseri Nos substratos com solo arenoso, houve diferença significativa entre os

tratamentos quanto ao número de lagartas infectadas, sendo que o tratamento contendo apenas solo apresentou o maior número e os tratamentos apenas com torta de filtro e com 75% deste material mostraram os menores valores em relação a este parâmetro (Tabela 1). A porcentagem de lagartas infectadas pelo nematóide variou de 61 a 100% na superfície e, de 50 a 94% no fundo da coluna, sendo geralmente mais alta nos substratos onde a proporção de solo era igual ou mais elevada que a torta de filtro.

Estes dados demonstram que os nematóides tendem a migrar mais intensamente em substratos com menores teores de torta de filtro, em ambas as direções, superfície e fundo da coluna. Quanto ao direcionamento dos nematóides para a superfície ou para o fundo da coluna, observou-se que não houve diferença significativa, ao nível de 5% de probabilidade.

No solo arenoso, o número de nematóides adultos encontrados dentro das lagartas de G. mellonella variou significativamente e seguiu a mesma tendência indicada pelo número de lagartas infectadas, ou seja, foi maior nos substratos com menor teor de torta de filtro. No tratamento constituído apenas por torta de filtro, bem como naquele que recebeu 75% deste material observou-se o menor número de adultos, enquanto que no tratamento onde foi utilizado o solo nas proporções de 100, 75 e 50%, o número de nematóides adultos por lagarta foi significativamente maior (Tabela 2).

Independentemente do substrato (torta /solo), foi obtido número significativamente mais elevado de nematóides na superfície da coluna em relação ao fundo (Tabela 2). Este comportamento está em concordância com o que foi observado por (SCHROEDER e BEAVERS, 1987), os quais verificaram que S. glaseri, diferentemente de outras espécies de Steinernema e Heterorhabditis, migra mais em direção à superfície.

Nos substratos com solo argiloso o número de lagartas infectadas não variou entre os tratamentos. Quanto ao parasitismo das lagartas na superfície ou fundo da coluna, independentemente dos tratamentos, houve diferença significativa, entre as

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médias das duas posições, indicando maior migração dos nematóides para a superfície (Tabela 3).

Da mesma forma que o número de lagartas infectadas, a variação no número médio de nematóides que infectaram as lagartas no solo argiloso não foi significativa, entre os diferentes tratamentos e posições na coluna de substrato (Tabela 4). Independentemente dos tratamentos utilizados, comparando-se os dados médios totais do número de nematóides nas lagartas infectadas, neste solo, com os dados obtidos em solo arenoso, observou-se neste último maior movimentação, em ambas as direções (Figura1).

Esta observação está de acordo com o que é conhecido sobre movimentação de nematóides em relação a tamanho de partículas de solo. A porosidade afeta a movimentação dos nematóides e, desta forma, ocorre menor migração com o aumento da porcentagem de silte e argila no solo. O nematóide não pode mover-se entre as partículas de solo quando o diâmetro for menor do que o comprimento do nematóide (GEORGIS e POINAR, 1983). Juvenis infectivos de S. glaseri, utilizados nesta pesquisa, medem de 864 a 1448µm. Poinar (1986) considera que estes nematóides estão classificados entre os maiores do gênero Steinernema. Desta forma, a sua movimentação é favorecida em solo arenoso, o qual possui partículas maiores (0,02 a 2 mm) do que solo argiloso (< 0,002 mm). Kaya (1990) também considera que a textura do solo afeta a habilidade dos nematóides de infectarem o hospedeiro, bem como sua habilidade de dispersão vertical.

3.2. Persistência de Steinernema glaseri

Analisando os efeitos da torta de filtro sobre a persistência de S. glaseri, em substratos com solo arenoso, a análise estatística realizada com o número de lagartas infectadas, apresentada na Tabela 5, mostrou que não houve diferenças significativas. Mesmo assim, continuou-se observando as lagartas no período de 76 dias. No entanto, no final deste período houve recuperação de lagartas infectadas nos tratamentos com 100 e 75% de TF, demonstrando assim sua persistência até este período. Apesar de não haver diferença estatística, observou-se maior quantidade de lagartas infectadas pelo nematóide no tratamento 100% solo.

Para o número médio de nematóides adultos de S .glaseri em G. mellonella neste solo, também foi feita análise estatística até os 16 primeiros dias como observa-se na Tabela 6.

A persistência dos nematóides foi afetada pelo tipo de substrato e a maior persistência ocorreu quando a quantidade de solo arenoso era maior do que a de torta de filtro (TF). Avaliações feitas aos 66 e 76 dias, mostraram que havia nematóides vivos, embora em pequenas quantidades.

Quando foi utilizado o solo argiloso, observou-se que o número de lagartas infectadas foi maior onde a proporção de solo era maior e persistiu até o final das avaliações com 79 dias, apesar da análise estatística ter sido feita até os 16 dias, como no solo arenoso (Tabela 7).

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Para o número de nematóides, a persistência foi significativamente mais elevada nos tratamentos com 50% ou mais de solo no substrato. Quando comparado com solo arenoso o número de nematóides foi menor (Tabela 8).

4. CONCLUSÕES

O nematóide entomopatogênico S. glaseri apresenta a habilidade de migrar verticalmente e infectar lagartas de G. mellonella em substratos com diferentes teores de torta de filtro, mesmo naqueles com alto teor (100%) deste composto.

A textura do solo influencia a movimentação dos nematóides, sendo esta movimentação mais intensa em solo arenoso do que em solo argiloso.

Em solo arenoso, a migração é maior em direção à superfície do que em direção ao fundo da coluna. Já em solo argiloso, a migração ocorre igualmente nos dois sentidos.

Os nematóides podem persistir por um período de 76 dias em solo arenoso e 79 dias em solo argiloso.

As proporções de até 25 e 50% de torta de filtro em solo arenoso e de até 25% em solo argiloso, não apresentam efeitos negativos à S. glaseri. Acima dessas proporções a torta de filtro atuou de forma negativa do desenvolvimento do nematóide.

5. AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Norberto Antonio Lavorenti, do Departamento de Tecnologia Agroindustrial e Sócio Economia Rural da Universidade Federal de São Carlos – campus de Araras (CCA), pela orientação quanto às análises estatísticas e valiosas sugestões. Às Biólogas Regina Helena de Carvalho Assumpção e Lauricema Barbosa Lozada Marchetti, do Departamento de Biotecnologia Vegetal da UFSCar, campus de Araras (CCA), pela amizade, incentivo e colaboração na parte prática do trabalho.

6. REFERÊNCIAS

BEDNAREK, A.; GAUGLER, R. Compatibility of soil amendments with entomopathogenic nematodes. Journal of Nematology, v. 2, n. 29, p. 220-227, 1997. DUTKY, S.R.; THOMPSON, J.V.; CANTWELL, G.E. A technique for the mass propagation of the DD-136 nematode. Journal Insect Pathology, n.6, p. 417-422, 1964.

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EPSKY, N.D.; CAPINERA, J.L. Quantification of invasion of two strains of Steinernema carpocapsae (Weiser) into three lepidopteran larvae. Journal of Nematology, v.2, n. 25, p. 173-180, 1993. GAUGLER, R. Ecological consideration in the biological control of soil inhabiting insects with entomopathogenic nematodes. Agriculture Ecosystem Environmental, n.24, p. 351-360, 1988. GEORGIS, R.; POINAR JR., G.O. Effect of soil texture on the distribution and infectivity of Neoaplectana glaseri (Nematoda: Steinernematidae). Journal of Nematology, n.15, p. 329-332, 1983. KAYA, H.K. Soil ecology. In: GLAUGLER, R., KAYA, H.K. (eds.). Entomopathogenic nematodes in biological control. Boca Raton: CRC Press, 1990. p. 93-115. KRAMER, P.J. Plant and soil water relationships: a modern synthesis. New York, Mcgraw-Hill, 1969. 482p. MULLER, R.; GOOCH, P.S. Organic amendments in nematode control. An examination of the literature. Nematropica, n. 12, p. 319-326, 1982. ORLANDO FILHO, J.; SILVA, G. M.A.; LEME, E.J.A. Utilização agrícola dos resíduos da agroindústria canavieira. In: ORLANDO FILHO, J. (Coord.). Nutrição e adubação da cana-de-açúcar no Brasil. Piracicaba: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1983. p.229-264. PIZANO, M.A.; AGUILLERA, M.M.; MONTEIRO, A.R.; FERRAZ, L.C.C.B. Incidência de Neoaplectana glaseri parasitando ovo de Migdolus fryanus (Coleoptera: Cerambycidae). Nematologia Brasileira, n. 9, p. 9-10, 1985. POINAR, JR., G.O. Nematodes for biological control of insects. Boca Raton: CRC Press, 1979. 277 p. POINAR, JR., G.O. Recognition of the Neoaplectana species. Proceedings of the Helminthological Society of Washington, v. 1, n. 53, p. 121-129, 1986. RODRIGUEZ-KABANA, R. Organic and inorganic nitrogen amendments to soil as nematode suppressants. Journal of Nematology, n. 18, p. 129-135, 1986. SCHROEDER, W.J.; BEAVERS, J.B. Movement of the entomogenous nematodes of the families Heterorhabditidae and Steinernematidae in soil. Journal of Nematology, Flórida, v. 2, n. 19, p. 257-259, 1987.

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Tabela 1. Número total e porcentagem de lagartas de Galleria mellonella infectadas por Steinernema glaseri, em substratos compostos por solo (SO) arenoso e/ou torta de filtro (TF) após migração para a superfície ou para o fundo da coluna.

Superf. da coluna Fundo da coluna Total Médias

transform.* Tratamentos

Nº % Nº % Nº %

100%TF 14 77,78 9 50,0 23 63,89 1,92b

75%TF+25%SO 11 61,11 11 61,11 22 61,11 1,83b

50%TF+50%SO 14 77,78 17 94,44 31 86,11 2,58ab

25%TF+75% SO 16 88,89 15 83,33 31 86,11 2,58ab

100%SO 18 100,0 17 94,44 35 97,22 2,92a

Médias transform.* 2,43 a 2,30 a

*Médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Tabela 2. Números médios de nematóides adultos de Steinernema glaseri em lagartas de Galleria mellonella em duas diferentes posições na coluna de substrato, em solo (SO) arenoso.

Tratamentos Superfície da

coluna Fundo da coluna Médias originais

Médias

transform.*

100%TF 36,17 61,67 48,92 3,09c

75%TF + 25%SO 92,67 62,83 77,75 3,47bc

50%TF + 50%SO 328,0 63,50 195,75 4,77ab

25%TF + 75% SO 354,67 73,17 213,92 4,92ab

100%SO 361,83 244,17 303,00 5,55a

Médias transform.* 4,72a 3,99b

*Médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

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Tabela 3. Número e porcentagem de lagartas de Galleria mellonella infectadas por Steinernema glaseri, em substratos compostos por solo (SO) argiloso e/ou torta de filtro (TF) após migração para a superfície ou para o fundo da coluna.

Superfície

da coluna Fundo da coluna Total

Tratamentos

Nº % Nº % Nº %

Médias

Transform.*

100%TF 17 94,44 18 100,00 35 97,22 2,92a

75%TF+25%SO 13 72,22 12 66,67 25 69,44 2,08a

50%TF+50%SO 15 83,33 13 72,22 28 77,78 2,33a

25%TF+75%SO 15 83,33 11 61,11 26 72,22 2,17a

100%SO 16 88,89 12 66,67 28 77,78 2,33a

Médias transform.* 2,53a 2,20b

* Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Tabela 4. Números médios de nematóides adultos de Steinernema glaseri em lagartas de Galleria

mellonella em duas diferentes posições na coluna de substrato, em solo (SO) argiloso.

Tratamentos Superfície da

coluna Fundo da coluna

Médias

originais

Médias

transform.*

100%TF 14,17 14,17 14,17 2,34 a

75%TF + 25%SO 11,00 16,17 13,59 2,18 a

50%TF + 50%SO 18,00 17,00 17,50 2,56 a

25%TF + 75% SO 56,17 31,17 43,67 3,22 a

100%SO 52,83 38,67 45,75 3,47 a

Médias transform.* 2,95 a 2,56 a

*Médias seguidas por letras iguais que não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey

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Tabela 5. Médias originais dos efeitos principais e da interação, para lagartas infectadas em experimento de persistência, para o solo (SO) arenoso.

Épocas/Dias

Tratamentos 7 10 13 16

Médias de Tratamentos*

100% TF 1,51 1,50 1,51 1,40 1,48a

75%TF+25%SO 1,45 1,38 1,57 1,35 1,44a

50%TF+50%SO 1,57 1,35 1,38 1,25 1,39a

25%TF+75%SO 1,57 1,51 1,42 1,36 1,47a

100%SO 1,77 1,61 1,53 1,52 1,61a

Médias Épocas* 1,57a 1,47a 1,48a 1,38a

* Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Tabela 6. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação para o número de nematóides, em experimento de persistência, para o solo (SO) arenoso.

Épocas/Dias

Tratamentos 7 10 13 16

Médias de

Tratamentos*

100% TF 3,93 2,38 2,93 1,82 2,77ab

75%TF+25%SO 3,35 1,81 2,71 1,36 2,31b

50%TF+50%SO 3,29 2,40 1,88 1,43 2,25b

25%TF+75%SO 3,42 2,86 2,24 1,44 2,49ab

100%SO 4,74 2,96 3,27 2,85 3,46a

Médias Épocas* 3,74a 2,48b 2,61b 1,78c

*Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5%de probabilidade, pelo teste de Tukey.

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Tabela 7. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação, para o número de lagartas infectadas em experimento de persistência, para o solo (SO) argiloso.

Épocas/Dias

Tratamentos 7 10 13 16

Médias dos

Tratamentos*

100% TF 1,08 0,96 0,79 0,71 0,89c

75%TF+25%SO 1,40 1,45 0,88 0,96 1,17b

50%TF+50%SO 1,48 1,31 1,57 0,94 1,32ab

25%TF+75%SO 1,72 1,28 1,62 1,20 1,46a

100%SO 1,45 1,42 1,67 1,38 1,48a

Médias Épocas* 1,43a 1,28a 1,31a 1,04b

* Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. Tabela 8. Médias transformadas dos efeitos principais e da interação, para o número de nematóides

em experimento de persistência, para o solo(SO) argiloso.

Épocas/Dias Tratamentos

7 10 13 16

Médias dos

tratamentos*

100% TF 1,01 0,71 0,80 0,00 0,63c

75%TF+25%SO 2,19 1,78 0,23 1,05 1,31bc

50%TF+50%SO 2,86 1,91 2,91 0,48 2,04ab

25%TF+75%SO 3,54 1,76 2,42 1,82 2,39a

100%SO 3,14 1,95 3,07 1,79 2,49a

Médias Épocas* 2,55a 1,62b 1,89ab 1,03c

*Médias seguidas por letras iguais não diferem estatisticamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

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0

50

100

150

200

250

Núm

ero

de n

emat

óide

s

Solo arenoso Solo argiloso

Tipos de solo no substrato

���Superfície

���Fundo

Figura 1. Número de nematóides adultos de S. glaseri em lagartas de G. mellonella em diferentes posições nas colunas de solo arenoso e argiloso.

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ILHA DO MARAJÓ: REVISÃO HISTÓRICA, HIDROCLIMATOLOGIA, BACIAS HIDROGRÁFICAS E

PROPOSTAS DE GESTÃO

THE MARAJÓ ISLAND: HISTORICAL REVISION, HYDROCLIMATOLOGY, HYDROGRAPHICAL BASINS

AND MANAGEMENT PROPOSALS

Lima, A. M. M.1; Oliveira, L. L.2, Fontinhas, R. L.3; Lima, R. J. S.4

1 Geóloga, Doutoranda em Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade Federal

do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (UFPA/NAEA). [email protected]

2 Metereologista, Universidade Federal do Pará. [email protected] 3 Eng. Agrônomo, Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –

Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM). [email protected] 4 Geólogo, Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –

Coordenador do Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM). [email protected]

Relatório Técnico. Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente –

Núcleo de Hidrometereologia (SECTAM/NHM). Belém. 2004.

RESUMO

A Ilha do Marajó no Estado do Pará é apresentada neste trabalho, através de suas condições hidroclimatológicas e ambientais, gerando um informe atualizado dos principais problemas que ocorrem e podem ser agravados, pelo manejo incorreto de seus recursos, devido às suas particularidades naturais e à sua importância como um ecossistema único na bacia Amazônica. Palavras chaves: Ilha do Marajó, hidroclimatologia, condições ambientais, manejo, bacia Amazônica.

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ABSTRACT

This work was performed in the Island of Marajó city State of Para – Brazil. The hydroclimatological and environmental conditions are summarized and argumentation is made on possible problems related to the incorrect management of island resources. This action can changes the island natural and specific conditions, which are fundamental to support this important ecosystem in the Amazonian basin.

Key words: Marajó island, hydroclimatological, environmental conditions, resources handling, Amazonian basin.

1. INTRODUÇÃO

O Arquipélago do Marajó localiza-se na foz do rio Amazonas, recebendo uma descarga média de 209 000 m3/s valor medido próximo ao município de Afuá (ANA/ANEEL, 1998); tal característica imprime a este conjunto uma geomorfologia própria e paisagens naturais heterogêneas, que o fazem de grande interesse para a pesquisa de ecossistemas e para o aproveitamento turístico. Embora com fortes atributos naturais, seus municípios componentes, demandam por atividades econômicas que sustentem a população ali residente.

A relevância ecológica da Ilha do Marajó, atualmente, não é contemplada com planos de gestão ambiental e hídrica que minimizem as intervenções sofridas. Seu potencial natural tem sido duplamente empregado, se por um lado desenvolveu-se a pesca e o extrativismo vegetal, por outro a atividade madeireira constitui a principal fonte de renda de diversos municípios. Tal atividade, executada sem manejo, tem sido responsável por um quadro de degradação progressivo ao longo dos anos. A pecuária extensiva (em especial a bubalina) é outra fonte de renda significativa.

Um dos fatores de maior contribuição à adequada gestão é a estruturação de um sistema de informações, que possibilite o ordenamento e a análise conjugada em função de um dado objetivo. Para tanto é fundamental: o resgate de trabalhos anteriormente realizados, sua atualização e definição de critérios metodológicos.

Neste contexto, este trabalho tem por objetivos: o resgate dos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP), realizados entre 1970 e 1980, que até hoje se constituem do mais completo acervo de informações desta região; reavaliar tais informações, de acordo com as mudanças da paisagem que ocorridas e que podem ter ocasionado modificações microclimáticas; e propor uma divisão de bacias hidrográficas para a Ilha, de acordo com os critérios atuais vigentes nas Políticas Estadual e Nacional de Recursos Hídricos.

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2. LOCALIZAÇÃO

A Ilha do Marajó pertence à Região Portel-Marajó, mais precisamente à Sub-Região do Arquipélago do Marajó. Localizada no extremo norte do Estado do Pará, apresenta como limites: ao norte o Estado do Amapá e o Oceano Atlântico; ao sul o rio Pará; a leste a Baía do Marajó; e a oeste o estado do Amapá (Figura 1). Com uma área total de 59.308,40 km2 (tomando como base somatória da área de seus municípios componentes), corresponde à cerca de 4,7 % do Estado.

Compõe a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó - APA Marajó (Artigo 13, Inciso VI î2º da Constituição do Estado do Pará, promulgada em 05/10/89), pertencendo ao Governo Estadual e controlada pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM. Nesta também se encontra a Reserva Ecológica da Mata do Bacurizal e do Lago Caraparú (Lei nº 109 de 19/06/87), que pertence à prefeitura de Salvaterra, localizada a nordeste da Ilha do Marajó, neste município.

3. ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS

3.1. Metodologia de tratamento empregada Em uma análise da literatura disponível, identificam-se duas abordagens que

procuram formalizar a integração do dado geográfico: uma com base em modelos matemáticos (CÂMARA, 1995) e outra em trabalhos que procuram caracterizar os principais operadores sobre dados geográficos, mas sem formalismo matemático (BARBOSA, 1997). Na confecção dos mapas temáticos climáticos foi empregado o processo de conversão entre representações geométricas de uma variável espacial, sem formalismo matemático, incluindo a interpolação espacial procurando-se recuperar a continuidade espacial da variável a partir de sua representação discreta (KEMP, 1992; BARBOSA, 1997).

Figura 1. Localização no Estado e no país.

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Semelhante procedimento metodológico já havia sido empregado desde 1970, por técnicos da Organização dos Estados Americanos (OEA), quando prestavam colaboração técnica ao Governo do Estado do Pará, através do Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP, 1990), resultando nos primeiros documentos produzidos ainda durante a vigência do projeto Estudo Hidroclimatológico da bacia do rio Ararí - Ilha do Marajó.

As informações altimétricas e o mapa da rede de drenagem foram elaborados a partir das informações extraídas das cartas de elevação do terreno, produzidas a partir de imageamento de radar acoplado a um satélite, fornecidas pala National Geospatial-Intelligence Agency (NGA) e pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), disponibilizadas a partir de junho de 2003; empregando os softwares Arq View e Global Mapper.

3.2. Configuração do sistema de informações

Com base nas informações tabulares, das estações climatológicas (médias anuais tomando o período de 10 anos), foram estabelecidos campos numéricos, para cada parâmetro analisado (precipitação, evaporação, temperatura, direção do vento e umidade), permitindo a interpolação de valores. As isolinhas definidas representam campos estimados a partir de valores reais, possibilitando a espacialização da informação (Figura 2).

Figura 2. Sistema de isolinhas (a); Interpolação de valores de geo-campo (b).

3.3. Resultados Obtidos Os mapas climatológicos produzidos foram elaborados a partir das informações

coletadas em três categorias de estações: Estações Pluviométricas do Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP); Estações Climatológicas do Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP); e Estações Climatológicas do Instituto Nacional de Metereologia (INMET). O conjunto possibilitou o recobrimento praticamente total da Ilha, facilitando assim o tratamento dos dados monitorados (Tabela 1). O período de cobertura varia de 10 a 15 anos, tendo sido considerados para este trabalho, os dados coletados entre 1970 e 1985.

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Tabela 1. Estações de coleta de dados metereológicos.

Localidade Tipo Localidade Tipo Estação/Pluviômetro IDESP INMET Estação/Pluviômetro IDESP INMET

1. Breves X 12. Fazenda Tapera X 2. Curralinho X 13. Fazenda

Livramento X

3. São Sebastião da Boa Vista X 14. Fazenda Cajueiro X 4. Muaná X 15. Arapixi X 5. Ponta de Pedras X 16. Chaves X 6. Santana do Ararí X 17. Cururu X 7. Camará X 18. Chaves X 8. Cachoeira do Ararí X 19. Afuá X 9. Soure X 20. Jupatí X 10. Tuiuiú X 21. São Miguel dos

Macacos X

11. Santa Cruz do Ararí X

22. Anajás X

3.3.1. Pluviometria

A pluviometria na Ilha de Marajó varia de 3100 mm na estação de Soure, na costa leste da Ilha a 2500 mm na região central representada pelas estações de Cachoeira do Ararí e Santa Cruz. Logo depois sobe novamente para oeste, na área correspondente á região de mata, a cerca de 4000 mm. As chuvas são persistentes, registrando-se em praticamente todos os dias no período de janeiro a junho.

Chama-se de estação mais chuvosa os meses compreendidos de dezembro a maio, regionalmente chamado de inverno, com os maiores índices entre fevereiro e abril; ou a menos chuvosa que vai de junho a novembro, regionalmente chamada de verão; com os menores índices entre setembro e novembro. Apresentando entre as duas estações um período de transição, em que pode haver antecipação ou retardo das chuvas, com maior ou menor intensidade, o que é um fato normal em termos de variação atmosférica.

O Mapa de Precipitação Pluviométrica (Figura 3a) mostra que à medida que há deslocamento de norte para sul, assim como de leste para oeste, a precipitação pluviométrica em média anual, vai ficando mais elevada, chegando a amplitudes que variam de 2300mm a 4000mm, no norte da Ilha (município de Afuá). Isto acontece tanto no período mais chuvoso (dezembro a maio), quanto no menos chuvoso (junho a novembro). Este aumento progressivo das chuvas ocorre em direção à linha do Equador, e condiciona a transição das áreas de campos naturais para floresta (Figura 3b, c). 3.3.2. Temperatura do Ar

A média geral é de 27ºC. Apresenta muito pouca variação mensal e anual, pode-se julgar que os valores limites médios mensais estão entre 25ºC e 29ºC, sendo que a temperatura é levemente mais baixa na zona de mata do que na de campos. As variações diárias são mais importantes, pois se produz apreciável queda da temperatura durante a noite.

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(a)

(b)

(c) Figura 3. (a) Mapa de precipitação pluviométrica; (b) Mapa do período mais chuvoso; (c) Mapa do

período menos chuvoso.

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Esta característica se repete, com pequenas variações, em toda as estações e em todos os meses. As mínimas absolutas são de cerca de 18°C e as máximas de 38°C. O Mapa de Temperatura do Ar (Figura 4a) ilustra de forma distinta duas regiões. A região Oriental, onde ocorrem os campos naturais, que sendo mais elevada topograficamente, apresenta temperaturas médias anuais em torno de 27,3°C; esta varia em direção a região Ocidental, onde predominam as florestas, atingindo valores de 25,7ºC. Desta forma, evidencia-se que a vegetação exerce forte influencia na variação deste parâmetro. 3.3.3. Evaporação e evapotranspiração

O Mapa Evaporimétrico (Figura 4b) mostra que existe uma Faixa de Transição, com valores entre de 1800 a 1900 mm (média anual), que separa a região de mata (ocidental) da região de campo (oriental). Nesta faixa encontram-se os maiores valores de evaporação, que decrescem tanto para área de campo quanto para a de mata, sendo que, com valores um pouco menores em direção a esta última. A diferença de vegetação é o principal fator condicionante deste parâmetro, chegando a variar de 1900 mm a 1100 mm, em direção ao oeste da Ilha (Furo de Breves).

3.3.4. Vento

Em função da sua especial localização, banhada pela foz do rio Amazonas e pelo Oceano Atlântico, a Ilha do Marajó apresenta velocidade do vento de superfície mais forte na região oriental (de campos), atingindo a marca de 2,5 m/s. Na região ocidental (de mata) a velocidade cai chegando a 1,0 m/s a altura do município de Breves (Figura 4c). Desta forma supõem-se que os ventos de superfície litorânea, procedentes do nordeste mais fortes, encontram como barreira natural a vegetação de floresta (com árvores de grande porte), gerando uma queda de velocidade de 2,6 m/s para 1 m/s tomando a direção leste-oeste da Ilha.

(a)

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(b)

(c) Figura 4. (a) Mapa de temperatura do ar; (b) Mapa evaporimétrico; (c) Mapa de linhas de corrente.

3.3.5. Umidade Relativa

A umidade relativa é muito alta o ano todo e matem-se acima dos 80%. Em Cachoeira do Ararí, a zona de campo, o máximo ocorre em janeiro com 90% e o mínimo em dezembro, com 81%. Em Anajás, zona de mata, o máximo ocorre em março, media de 92%, e o mínimo em setembro, com 81%. Nota-se a influência da vegetação, pela maior precipitação na zona de mata. O Mapa de Umidade do Ar (Figura 5a) mostra que, na faixa de transição (divisão entre campo e mata) encontram-se os menores valores de umidade relativa do ar (em torno de 90%), crescendo tanto leste quando para oeste. Sendo que para a região de mata este crescimento vai até 94% (Furo de Breves), considera-se este condicionado pela vegetação, enquanto que o menor aumento em direção a região oriental, é influenciado pelos ventos litorâneos presentes na região.

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3.3.4. Classificação climática segundo: “KOPPEN” e “THORNTHWAITE” A classificação de KOPPEN classifica o clima a partir da temperatura anual, da

precipitação anual e da temperatura média do mês mais frio (Figura 5b). As sub-classificações climáticas que determinam o regime de umidade, verificadas na Ilha do Marajó são: Af – Clima tropical úmido, com o mês mais seco tendo uma precipitação média maior ou igual a 60mm; e Am – Clima tropical úmido de monção, com precipitação excessiva durante alguns meses o que compensa a ocorrência de um ou dois meses com precipitações inferiores a 60mm, e compreende a maior parte da Amazônia.

A classificação de THORNTHWAITE considera em sua classificação os índices representativos de umidade, aridez e eficiência térmica, que são observados diretamente da precipitação e da temperatura (Figura 5c). Os tipos climáticos encontrados foram: B2rA´a´; B3rA´a; e B4rA´a´. Estes representam clima úmido, com pequena ou nenhuma deficiência de água, megatérmico com concentração de verão sempre inferior a 48%.

(a)

(b)

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(c) Figura 5. (a) Mapa de umidade do ar; (b) Classificação climática segundo “KOPPEN”; (c)

Classificação climática segundo “THORNTHWAITE”.

4. RECURSOS HÍDRICOS DO MARAJÓ

4.1. Bacias hidrográficas: proposta de divisão Para esta proposta de divisão foram considerados elementos da hidrografia

local como furos e paranás, além do lago Ararí, por isso alguns limites traçados só serão válidos na época de seca ou águas baixas, pois durante as cheias, vários destes ficam interligados. A Tabela 2 apresenta a classificação adotada para a Ilha do Marajó, considerando a rede de drenagem até a 4º ordem (Figura 6). Esta segue as normas estabelecidas pelo sistema de codificação de Bacias Hidrográficas (Resolução nº 30 de 11/12/2002, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos) e pela proposta de divisão em regiões hidrográficas definida no Núcleo de Hidrometereologia da SECTAM – PA (Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente). 4.2. Bacias do Marajó Ocidental

A região Ocidental apresenta uma hidrografia representada por um emaranhado de furos, paranás e igarapés (Figura 6). As topografias variáveis (Figura 7), porém baixas, associadas, possibilitam a completa integração destes durante as cheias, o que é uma marca característica deste período.

Entre os sistemas mais importantes destaca-se o conjunto Aramã – Anajás, que com a implantação da Hidrovia do Marajó, que o interliga ao rio Atuá, uniria as duas porções, ocidental e oriental da Ilha, possibilitando uma alternativa de navegação, atualmente realizada pelos furos de Breves, rio Jacaré Grande e Baía do Vieira Grande.

Como esta região apresenta uma densidade muito grande de feições fluviais, que se interligam dificultando a definição morfológica de bacias hidrográficas, optou-

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se por considerar apenas 3 bacias como componentes: a Bacia do rio Anajás (a maior englobando um número significativo de ilhas, furos, igarapés e canais), e as Bacias dos rios Pracuúba e Canaticú. Tabela 2. Classificação adotada para hidrografia do Marajó.

Região Hidrográfica

Sub -Região Hidrográfica Bacias Bacias Área em km2 Municípios

Rio Anajás 24082,5 Afuá, Chaves, Anajás e Breves

Rio Pracuúba 930,08 São Sebastião da Boa Vista M

araj

ó O

cide

ntal

Rio Canaticú 1538,35 Curralinho

Rio Ararí 7221,33 Santa Cruz do Ararí; Cachoeira do Ararí

Rio Paracauarí 1211,13 Soure Rio Camará 1018,23 Salvaterra

Porte

l –M

araj

ó

Rio

Am

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do

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ajó

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Rio Atuá 3971,72 Muaná e Ponta de Pedras

4.2.1. Bacias do Marajó Oriental

Na região oriental as drenagens mais importantes são: os rios Ararí, Paracauarí, Camará e o Atuá. A Bacia do rio Ararí é interligada a vários cursos d´água, tendo como feição central o Lago Ararí (Figura 6). Com cerca de 110 km2 de superfície no seu nível inferior, este lago pode ser considerado como a maior depressão da Ilha. A bacia toda apresenta desta forma cursos que drenam em direção ao Atlântico e em direção à Foz do Amazonas. O maior efluente do lago Ararí é o rio Ararí, que tem sua desembocadura na porção sul da ilha. O rio Paracauarí desemboca diretamente no Oceano Atlântico, porém as águas não são totalmente salobras devido à dissolução causada pelo grande volume de água trazida pela baia e pelo rio Amazonas. Rios menores, alguns com estuários importantes, completam a drenagem a oeste desta zona.

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Figura 6. Rede de drenagem e divisão hidrográfica.

Figura 7. Variação altimétrica total da Ilha. 4.3. Hidrogeologia

Segundo Tancredi (1986) os aqüíferos da parte superior da Ilha, são constituídos pelos depósitos sedimentares das Formações Tucunaré e Pirarucu (Grupo Pará) e pela Formação Marajó. As demais unidades hidrogeológicas situam-se em

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profundidades que se tornam onerosas em termos de pesquisa e explotação. A recarga destes sistemas é pela água das chuvas, por meio de infiltração direta e/ou diferencial. A flutuação do nível hidrostático ou piezométrico apresenta valores de até 4 metros de amplitude, estando seus valores, durante o final da estação seca a apenas 6 metros de profundidade, em relação à superfície do terreno. O gradiente hidráulico e a velocidade de escoamento das águas subterrâneas são pequenos e estão subordinados ao relevo plano, de pequenas amplitudes e a baixa permeabilidade dos terrenos argilosos, com grande distribuição na ilha.

5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO 5.1. Resgate histórico

O levantamento das informações realizado para elaboração deste trabalho observou que o monitoramento climatológico realizado entre 1970 e 1990 foi interrompido e repassado a prefeituras e a órgãos governamentais estaduais e federais para a sua continuidade, o que não se concretizou. A base disponível permitiu estruturar um conjunto de informações cartográficas referentes a: precipitação pluviométrica, temperatura, umidade relativa, direção dos ventos, evaporação e classificação climática.

As informações referentes à topografia e a hidrografia foram obtidas a partir do modelo de terreno utilizando Imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission – geradas pela NASA).

Estas conjugadas ainda compõem o acervo mais completo sobre o meio físico do Marajó, devendo ser ampliado e atualizado pelos órgãos competentes em função de sua importância ecológica, uma vez que o conflito entre a manutenção de seus ecossistemas naturais e à necessidade do desenvolvimento socioeconômico local tem produzido Índices de Desenvolvimento Humano Municipais baixos (Tabela 3), com variações, entre os anos de 1991 a 2000, na maioria dos municípios, inferiores a 0,1, mostrando um descompasso entre a exploração dos recursos naturais e o retorno social local. Tabela 3. IDH dos municípios do Marajó.

Município IDHM, 1991 IDHM, 2000 Variação de 1991 à 2000 Afuá 0.511 0.612 0.101

Anajás 0.474 0.595 0.121 Breves 0.534 0.63 0.096

Cachoeira do Arari 0.601 0.68 0.079 Chaves 0.526 0.581 0.055

São Sebastião da Boa Vista 0.597 0.666 0.069 Curralinho 0.517 0.596 0.079

Muaná 0.584 0.653 0.069 Ponta de Pedras 0.609 0.652 0.043

Salvaterra 0.654 0.715 0.061 Santa Cruz do Arari 0.595 0.63 0.035

Soure 0.676 0.723 0.047 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD/IPEA. 2003.

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5.2. Reavaliação segundo as mudanças da paisagem A floresta Amazônica, com característica tropical úmida e de grande extensão,

tem sido objeto de estudos por vários cientistas que, visando prever o impacto do desmatamento sobre o clima local e global, e estudar com mais profundidade as influências, do microclima regional e no clima do planeta, causadas pela intervenção humana no ecossistema nos últimos anos, vêm se utilizando modelos de circulação geral da atmosfera (MCGAs) para se avaliar o efeito das trocas de energia entre a superfície e a atmosfera.

Dentre os estudos numéricos, alguns tratam da simulação do clima em situações de floresta e desmatamento (substituição de superfícies vegetadas de florestas por pastagens). Esses trabalhos, de modo geral, indicam que a substituição em larga escala de floresta por área de pastagem tem efeitos consideráveis no clima regional e do mundo como, por exemplo, os resultados encontrados por Nobre et al. (1991) que observaram uma redução na evapotranspiração de 30%, um decréscimo de 20 a 30% na precipitação e um aumento de 1° a 3°C na temperatura do ar. Tomando como base o mapa de Temperatura do Ar (Figura 4a) observa-se que o aumento de um grau tornaria cada vez mais a região ocidental semelhante a oriental, em termos de seus ecossistemas dependentes componentes.

Em recentes pesquisas realizadas na Amazônia observou-se que a substituição continua da vegetação natural da floresta úmida por pastagens afeta também o balanço radiativo à superfície (Bastable et al.,1993) pois, em média as florestas absorvem 11% do saldo de radiação a mais do que nas pastagens, sendo que no período menos chuvoso, essas diferenças de intensidade de fluxo de radiação solar entre florestas e pastagens podem estar relacionadas ao aumento de nebulosidade sobre a pastagem ou então à influência dos aerossóis presentes na atmosfera, associando desmatamento e queimadas, com possíveis impactos no clima, causados pelas modificações nos balanços de radiação e energia. O Mapa Evaporimétrico (Figura 4b) mostra uma variação mais significativa na região ocidental do que na oriental, o que a torna mais vulnerável as variações locais de balanço hídrico.

O divisor topográfico (Figura 7) da porção central da Ilha é também refletido no Mapa de Umidade do Ar (Figura 5a), configurando quadros distintos para as porções ocidental e oriental; semelhante ao que ocorre no evaporimétrico.

Um número maior de queimadas ocorre no período menos chuvoso (meses mais secos: setembro a novembro); estas se dão para renovação de pastagens com a correção da acidez ou nivelamento do solo, abertura de novas áreas de pastagens e de plantações de culturas. O período mais chuvoso varia de sul para norte (Figura 3b), enquanto que o menos chuvoso varia de leste para oeste, semelhante ao resultado do mapa de linhas de corrente (Figura 4c), desta forma os municípios de Afuá e Chaves, no extremo noroeste da Ilha, conservam os maiores índices pluviométricos durante todo o ano (Figura 3a).

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A precipitação pluviométrica local influencia também os sistemas aqüíferos locais pois segundo Tancredi (1986), .a recarga destes sistemas pela infiltração direta e/ou diferencial das águas superficiais, especialmente das chuvas. 5.3. Divisão de bacias hidrográficas

Com base na análise da hidrografia (Figura 6a) e da climatologia da Ilha, é possível distinguir duas regiões distintas: o Marajó Ocidental e o Marajó Oriental. O primeiro representado pelas bacias dos rios Anajás, Pracuúba e Canaticú, além de um complexo recorte de furos e igarapés. Concentra precipitações pluviométricas que variam de 2500 a 3500 mm (média anual), chegando a valores superiores a 4000 mm no extremo noroeste; as temperaturas são inferiores a 26°C (média anual); com umidade relativa do ar superior a 94% (média anual); a evaporação varia de 1400 a 1000 mm (média anual); e o período menos chuvoso apresenta valores superiores a 800 mm (média anual); tais características mostram uma região com um aporte hídrico que garante a manutenção do sistema durante todo o ano.

O Marajó Oriental é representado pelas bacias dos rios Ararí, Paracauarí, Camará e Atuá. Concentra precipitações pluviométricas que variam de 2500 a 3000 mm (média anual), chegando a valores inferiores a 2500 mm no extremo oriental; as temperaturas são maiores que 27°C (média anual); com umidade relativa do ar inferior a 90% (média anual) na região mais central e em torno de 93 a 94% (média anual) no extremo oriental; a evaporação varia de 1500 a 1800 mm (média anual); e o período menos chuvoso apresenta valores inferiores a 500 mm (média anual) no extremo oriental; tais características mostram uma região com um aporte hídrico variável, do extremo oriental até a porção central, apresentando em períodos bem definidos, situações de estiagem, que se tornam significativas à manutenção dos sistemas locais, principalmente na porção mais central, próxima a divisa com o Marajó Ocidental. 5.4. Considerações Finais

De forma significativa, a climatologia e a hidrografia, mostram que existem 2 regiões distintas: O Marajó Ocidental e o Marajó Oriental.

O Marajó Ocidental apresenta uma situação de maior disponibilidade hídrica no sistema e diversidade de sub–ambientes: insular, de furos, de igarapés, estuarino e marinho. Seus municípios componentes são: Anajás, Afuá, Chaves, Breves, Curralinho e São Sebastião da Boa Vista.

O Marajó Oriental apresenta uma disponibilidade hídrica variável, sendo composto pelos municípios de: Muanã, Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras, Cachoeira do Ararí e Santa Cruz do Ararí; concentrando a maior parte da base econômica da Ilha, em termos de turismo e atividade extrativista.

Como discussão principal propõe-se que:

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sejam definidos critérios que compatibilizem a sustentabilidade local e a conservação/preservação da APA, em programas específicos para as duas regiões definidas Ocidental e Oriental;

a rede de monitoramento anteriormente instalada deve ser reativada para que a grande quantidade de informações disponíveis possa ser comparada, em função das mudanças na paisagem ocorridas nos últimos 20 anos. Estas se mostraram significativas, e devem ser quantificadas em função das componentes climatológicas e hidrológicas de seus principais rios;

as bacias hidrográficas do Marajó devem ganhar um contexto de classificação individualizado para a Ilha, considerando as feições fluviais presentes, assim como os volumes de água envolvidos. Uma rede para avaliar a qualidade e a quantidade destas águas deve ser implementada, principalmente nas principais bacias que banham sedes municipais e atravessam as áreas destinadas à criação de gado, para avaliar a contaminação por efluentes (esgotos e resíduos urbanos) e as variações de altura do nível das águas, como subsídio ao controle das cheias naturais.

REFERÊNCIAS

ANA/ANEEL – Atlas Hidrológico do Brasil. CD-ROM. MME-MMA/SRH. IBAMA. 1998. BARBOSA, C. C. F. Álgebra de mapas e suas aplicações em sensoriamento remoto e geoprocessamento. 1997. 150 f. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos. 1997. BASTABLE, H.G.; SHUTTLEWORTH, W.J.; DALLAROSA, R.L.G.; FISCH, G.; NOBRE C.A. Observations of climate, albedo and surface radiation over cleared and undisturbed Amazonian forest. Journal of. Climatology, Chichester, v. 13, p. 783-796, 1993. CÂMARA, G. Modelos, linguagens e arquiteturas para banco de dados geográficos. 1995. Tese (Doutorado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos. 1995. IDESP. Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará. Estudos integrados da Ilha do Marajó. Belém: IDESP, 1990. NOBRE, C.; SELLERS, P.; SHUKLA, J. Amazonian deforestation and regional climate change. Journal of Climatology, Chichester, v. 4, p. 957-988. 1991. KEMP, K. Environmental Modelling with GIS: A Strategy for Dealing with Spatial Continuity. NCGIA Technical Report. 1992. TANCREDI, A.C. Hidrogeologia da região oriental da Ilha do Marajó. Belém: IDESP. 1986.

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QUALIDADE DA ÁGUA NAS ÁREAS ATERRADAS COM ENTULHO EM UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRASIL.

WATER QUALITY IN THE AREAS COVERED BY

WASTE MATERIAL AT UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, BRAZIL.

Rocha, A. L.¹, Nishiyama, L.²; Bellingieri, P. H.³

¹ Bióloga e Mestre em Geografia, pela Universidade Federal de Uberlândia. ² Geólogo e Prof. Dr. do Instituto de Geografia, da Universidade Federal de

Uberlândia. ³ Engenheiro Civil e Mestrando em Engenharia, pela UNICAMP.

RESUMO

Nos dias atuais o reaparecimento de várias doenças nas áreas urbanas evidencia a pouca atenção dispensada ao saneamento básico e ao manejo correto e eficiente dos resíduos sólidos, incluindo-se o entulho. Dessa forma, foram coletadas amostras de água em três pontos diferentes da cidade de Uberlândia-MG, aterrados com entulho e outros resíduos sólidos associados. Este estudo demonstrou através da análise química, que há realmente sinais de contaminação das águas subterrâneas e o monitoramento precisa ser ampliado, tanto em relação aos parâmetros analisados quanto ao número de pontos de amostragem. Também, deve-se destacar que os níveis de contaminação detectados confrontam às leis ambientais brasileiras e alertam que o aterro não é o melhor destino para este dejeto.

Palavras-chave: qualidade da água, entulho, impacto ambiental, manejo de resíduos.

ABSTRACT

Nowadays the reappearing of several diseases at urban areas gives evidence of a negligence for the basic sanitation and the correct (efficient) waste management, including the waste material. In such case, it was collected water samples at three different places at Uberlândia-MG, (Brazil), from areas covered by debris, waste material and other solid residues landfill. So, this study has shown by the chemical analysis that there are signs of subterranean water contamination and it is necessary

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to extend the research with more parameters to be analyzed and, also to increase the number of samples. Thus, the contamination signs are not following the Brazilian environmental regulations and the landfill at Uberlândia is not best place for the debris. Key words: water quality, waste material, environmental impact, waste management.

1. INTRODUÇÃO

A preocupação em preservar a saúde já aparece na sociedade humana, desde os períodos mais remotos. Na Idade Antiga, a relação das pessoas com o ambiente pode ser notada pela escolha dos locais para a construção das vilas e cidades. Elas eram sempre instaladas nos lugares considerados mais seguros e saudáveis, bem arejados e iluminados. Roma, capital do Império Romano, e Atenas, principal cidade grega, foram edificadas em locais onde o clima era agradável e os mananciais hídricos abundantes. Partindo-se dos primeiros estudos do sanitarismo, realizados por Hipócrates (Pai da Medicina), essas idéias ficam evidenciadas na demonstração de uma correlação direta entre a higienização do corpo individual e do ambiente físico e social (SILVA et al., 1997). Com o desenvolvimento das ciências relacionadas à saúde, esses conceitos, defendidos na Idade Antiga, resgatam seu “status” no pensamento dos séculos XVIII e XIX; as pessoas passaram a dispor de mais informações sobre o que é bom e o que é nocivo a sua saúde. Um resultado da transformação sócio-econômica gerada, especialmente, pela Revolução Industrial (COSTA, 1987; SILVA et al., 1997).

Movidos pelas mudanças sociais, políticas e econômicas, além das grandes epidemias (por elas impulsionadas); sanitaristas, políticos e filósofos, tais como Engels, Chadwick, Snow, Hobsbawn, debateram sobre essas idéias, a fim de se estabelecer normas e padrões de conduta, inclusive sanitária. E a teoria miasmática do século XIX – “as febres epidêmicas tinham origem na matéria animal e vegetal em putrefação, nas águas estagnadas e na má circulação de ar” – sendo difundida na aplicação dos programas de prevenção e reestruturação do ambiente urbano (COSTA, 1987; SILVA et al., 1997).

Segundo Costa (1987), todos esses esforços, na verdade, não tiveram cunho estritamente social; as leis sanitárias objetivaram extinguir as epidemias que ameaçavam o progresso e os interesses da sociedade burguesa e legitimar a expulsão das populações pobres para os entornos urbanos e/ou cortiços. De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2001), a intensa urbanização e industrialização, com suas repercussões nas condições de vida e trabalho das pessoas, acompanhadas das ações de controle das doenças infecto-contagiosas e do aumento da expectativa de vida, fizeram com que o quadro de morbi-mortalidade passasse por mudanças significativas ao longo do último século,

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embora de forma mais tardia e complexa nos países de industrialização recente e economia periférica.

Minc (1997) definiu a situação das grandes cidades da seguinte maneira: “A grande cidade agoniza: asfixiada por monóxido de carbono, cercada de lixo químico, sitiada pelos guetos que a desigualdade criou, vitimada pela leptospirose de ratos e picada pelos mosquitos da Dengue”.

Assim, a poluição afeta a todos, ricos e pobres, mas em especial aqueles expostos ao contato direto com o agente poluidor.

Nos dias atuais, o reaparecimento de várias doenças nas áreas urbanas evidência a pouca atenção dispensada ao saneamento básico e ao manejo correto e eficiente do lixo, incluindo-se o entulho. Há muito o Brasil é exemplo desse problema, pois, segundo o último levantamento realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em 1993, 80% das consultas e 65% das internações realizadas no país, no ano de 1992, tiveram como causas principais à falta de água potável e de saneamento básico. Mais alarmante ainda, os dados mostraram que, 925 dos municípios brasileiros não possuíam tratamento de esgotos, 59% não possuíam destinação final para o lixo e em 58% não havia água tratada segundo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais, (CREA-MG, 1998).

Em “tempos de Dengue”, deve-se ressaltar que a proliferação de seu vetor – Aedes aegypti – está mais diretamente relacionada com o acúmulo de lixo e a limpeza urbana. Em lotes vagos, ferros-velhos e borracharias, o mosquito encontra ambiente propício, já que eles servem como reservatórios de água parada. Isto é mais bem exemplificado pela descoberta do Aedes albopictus, um vetor menos exigente que o Aedes aegypti, capaz de se reproduzir em água suja e poluída (CREA-MG, 1998).

Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar quimicamente (qualitativa e quantitativamente) o grau de contaminação, ocorrido na cidade de Uberlândia, Minas Gerais (Brasil), em áreas aterradas com entulho e outros resíduos sólidos: pois, o entulho da construção civil, misturado a outros tipos de resíduos sólidos, é passível de contaminar o solo e as águas superficiais e subterrâneas, se utilizado para fins de aterramento em áreas de erosão (voçorocas) (ROCHA, 2000).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O conhecimento prévio advindo do estudo desenvolvido entre 1999 e 2000 (ROCHA, 2000), das áreas do município de Uberlândia em seu perímetro urbano aterradas com entulho, resultou na escolha de três locais para avaliação da qualidade da água:

Aterro do bairro Aclimação (ponto 01) - Originalmente era uma grande erosão, desenvolvida há cerca de 40 anos, junto à nascente do Córrego Perpétua, provavelmente em decorrência da ação antrópica (exploração de

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saibro). A partir de 1.999 esta área foi aterrada pela Prefeitura Municipal de Uberlândia com resíduos da construção civil associados a outros tipos de resíduos sólidos, aos quais se incluem resíduos domiciliares e comerciais (ROCHA, 2000). A água da nascente existente no interior da erosão foi drenada à jusante do aterro. Dessa forma, a coleta de amostras de água foi realizada na saída do dreno.

Aterro do bairro Santa Rosa (Ponto 02) - A grande erosão desenvolvida em decorrência da ação antrópica foi, a partir de 1996, aterrada com entulho da construção civil e outros tipos de resíduos sólidos. Em procedimento semelhante ao aterro do bairro Aclimação, o curso d’água existente no interior da erosão foi drenado e canalizado para a porção jusante do aterro. A coleta da água foi realizada na saída do dreno.

Aterro do bairro Morumbi (ponto 03) - Em 2.001 foram dispostos e aterrados resíduos de construção civil e outros tipos de resíduos sólidos em cavas existentes às margens da BR365. Em razão do não exposição da água subterrânea fez-se necessária à perfuração de um poço até o nível do lençol freático para coleta e monitoramento. A perfuração do poço foi realizada sob orientação do Prof. Dr. Luiz Nishiyama (UFU) e do Eng. Civil Franklin Moreira (Secretaria Municipal de Obras), por seu profundo conhecimento da área em questão, utilizando-se um trado manual até a profundidade de 10 metros, cerca de 2 metros abaixo do limite entre a zona insaturada e saturada (superfície piezométrica) do solo. O poço foi, então, revestido internamente por um tubo de PVC de 75 mm de diâmetro perfurado ao longo de sua extensão para permitir a entrada da água e revestida com manta geotextil (Bidim), para impedir a entrada de materiais finos do solo carreados pela água para o interior do poço. Cerca de 1 m do tubo de PVC ficou acima do solo e foi fechado com uma tampa confeccionada com o mesmo material.

Definiu-se também um ponto de referência para as análises físico-químicas. Considerou-se, como critério para a escolha deste ponto, um local relativamente próximo (dentro do mesmo bairro) e isento de influência dos resíduos dispostos. O local escolhido foi um poço domiciliar, tipo cisterna, localizado à montante do aterro, à Rua Antônio Francisco Rosa nº 65.

As coletas foram feitas de acordo com a sazonalidade climática da região, caracterizada por duas estações bem definidas: uma estação chuvosa que corresponde aos meses de outubro a março e, a outra, seca que compreende o período que se estende de abril a setembro. A adoção deste critério para as amostragens deve-se a sazonalidade climática que, por sua vez, influencia na maior ou menor quantidade de água percolada através da superfície do aterro e, conseqüentemente, a quantidade e o transporte de contaminantes.

As amostras referentes ao período de seca foram coletadas no dia 26 de setembro de 2002, portanto, no auge da seca, no período da manhã, com temperatura

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ambiente em torno de 20° C e, a quantidade de água amostrada para cada ponto foi em média, 1,5 L. Nos pontos 01 (aterro do bairro Aclimação), 02 (aterro do bairro Santa Rosa) as amostragens foram realizadas em locais de surgência. O recipiente coletor foi apoiado pela base e submerso até uma profundidade de 20 cm da superfície, de modo que, a boca do recipiente ficasse voltada contra o da corrente. Em seguida, com o auxílio de um funil, o conteúdo foi transferido a um recipiente de vidro de coloração âmbar, previamente etiquetado com as seguintes informações Companhia Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB, 1974):

Nome do coletor; N. º do ponto de coleta; Data; Horário; Temperatura da água; Temperatura ambiente; e, Quantidade de água coletada.

Também, no dia 26/09/02, no ponto 03 (aterro do bairro Morumbi) a coleta foi realizada, no poço de monitoramento, utilizando um recipiente coletor construído com um tubo de PVC de uma polegada e munido de um retentor de água na extremidade inferior, com capacidade de 100 ml e preso na outra extremidade a um cordão de comprimento suficiente para atingir o NA (9 m). Durante a amostragem procurou-se descer o coletor através do poço sem tocar nas suas laterais e submergir completamente na água, contudo sem tocar no fundo para não colocar em suspensão os materiais finos (argila) ali depositados. Uma vez cheio, ele era recolhido à superfície onde imediatamente se procedia à medição da temperatura e, em seguida, o seu conteúdo era cuidadosamente repassado a um recipiente de coleta, previamente etiquetado, como descrito acima. Este procedimento de coleta de água foi repetido 10 vezes para se obter o volume de 1 litro.

As coletas no período chuvoso aconteceram em 2 etapas: I. No dia 29 de novembro de 2002, no ponto 02; já que, nos outros locais o atraso

das chuvas interferiu radicalmente no volume de água para coleta; e, II. No dia 10 de janeiro de 2003, nos pontos 01 e 03. Entretanto, o ponto 03 teve

toda a sua faixa institucional de 30 m, onde estava localizado o poço de monitoramento, aterrada com entulho e outros tipos de resíduos sólidos pelo município. Assim, a coleta foi impossibilitada. Quanto aos pontos 01 e 02, os procedimentos aconteceram no período da tarde;

em razão de chuvas intensas que aconteceram no período da manhã. A temperatura ambiente estava em torno de 31° C e, a quantidade média amostrada para cada ponto foi de 1,5 L.

Todas as amostras tão logo coletadas foram encaminhadas ao Instituto de Química/Diretoria de Assessoramento Técnico e Análise Química (DIAAQ)/Universidade Federal de Uberlândia.

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O material foi analisado de acordo com as exigências previstas nas Normas Brasileiras (NBRs) e da Legislação Ambiental Brasileira para os Recursos Hídricos – Resolução nº 20, de 18 de junho de 1986, do CONAMA.

O quadro 01, a seguir, apresenta os aspectos metodológicos empregados pelo referido laboratório para esta etapa do estudo.

QUADRO 01 – Aspectos metodológicos empregados para análise das amostras de água, pela

DIAAQ/IQ/UFU. PARÂMETROS NBR APARELHAGEM MARCA OBJETIVO DA

ANÁLISE

pH

9251

phmetro

Digimed

Determinação do pH em amostras de corpos d’água em geral, águas de abastecimento, águas salinas, residuárias, domésticas e industriais.

TEMPERATURA - Termômetro (de 10° C a 50° C)

- -

DBO

12614

Digestor para DBO

Tecnal

Determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em amostras de coleções líquidas em geral, efluentes domésticos e industriais, lodos e água do mar.

DQO1

10357

Digestor para DQO

Marconi

Determinação da demanda química de oxigênio (DQO) em águas superficiais e residuárias.

DUREZA2 TOTAL

5760

Aparelhagem convencional de química analítica

-

Determinação de cálcio em águas naturais, tratadas e de caldeiras, empregando-se o sal dissódico de ácido etileno diamino tetracético (EDTA).

DUREZA DE CÁLCIO

5760

Aparelhagem convencional de química analítica

-

Determinação de cálcio em águas naturais, tratadas e de caldeiras, empregando-se o sal dissódico de ácido etileno diamino tetracético (EDTA).

ALUMÍNIO

15814

Espectrofotômetro de absorção

atômica

CG.AA.905

Determinação de alumínio em águas minerais e de mesa, por espectrofotometria de absorção atômica.

CÁDMIO

11014

MB – 3156

Espectrofotômetro de absorção

atômica

CG.AA.905

Determinação de cádmio em águas minerais e de mesa, por espectrofotometria de absorção atômica.

CHUMBO

11016

MB – 3157

Espectrofotômetro de absorção

atômica

CG.AA.905

Determinação de chumbo em águas minerais e de mesa, por espectrofotometria de absorção atômica.

FONTE: DIAAQ/IQ/UFU, 2003. 1 DQO (DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO). Trata-se da medida da quantidade de agente oxidante químico energético necessário para oxidar a matéria orgânica de uma amostra, expressa em unidades equivalentes à mg de O2 por litro. Segundo a NBR 10357, um valor aceitável seria em torno de160 mg O2 / L; ou seja, uma média entre os três métodos possíveis de análise (Refluxo Aberto, Refluxo Fechado Titulométrico e Refluxo Fechado Colorimétrico) (CETESB, 1974). 2 Dureza da água. Quase toda ela provém do cálcio e do magnésio, que contribuem para a incrustação que se produz quando a água passa por mudanças de temperatura e de pressão. A dureza total pode ser dividida em duas partes: a dureza de carbonato – é a da porção do cálcio e do magnésio suscetível de se combinar com o bicarbonato e a pequena quantidade de carbonato presente -; e, a dureza de não carbonato – que é a diferença entre a dureza total e a dureza de carbonato. É causada pelo cálcio e magnésio que se combinam com íons sulfato, cloreto e nitratos presentes. Uma dureza de 50 a 150 ppm não é objetável para a maioria dos usos da água. Acima de 150 ppm ela é decididamente perceptível (CETESB, 1974).

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para uma melhor compreensão dos resultados, é preciso conhecer os princípios normativos que regem o assunto. A qualidade de uma determinada água está relacionada à sua função de uso e da ocupação do solo na bacia hidrográfica. Desse modo a Resolução n. º 20/86 do CONAMA diz respeito á corpos d’água superficiais e os classifica em 8 classes diferentes:

CLASSES I, II, III, IV – ÁGUAS DOCES = Águas com salinidade igual ou inferior a 0,50%;

CLASSES V e VI – ÁGUAS SALOBRAS = Águas com salinidade igual ou inferior a 0,50% e 30%; e,

CLASSES VII e VIII – ÁGUAS SALINAS = Águas com salinidade igual ou superior a 30%. Entretanto, no caso de um estudo como este em que houve amostra coletada

num poço de monitoramento, se faz uma comparação de valores a partir desta Resolução, observando-se que as águas analisadas poderiam ser enquadradas na Classe III com base nos parâmetros analisados; desde que se considerassem outros parâmetros como o oxigênio dissolvido (OD), coliformes totais e fecais etc.

Vale ressaltar, que os parâmetros acima descritos não contemplam a todos aqueles analisados pelo DIAAQ para este estudo. Por essa razão, foi necessária uma consulta à literatura científica especializada para esclarecer os limites aceitos, quanto a DQO e a Dureza da água (CETESB, 1974).

Mediante tais informações, é possível realizar a análise dos resultados (TABELAS 01 e 02).

TABELA 01 – Resultados da análise das amostras coletadas no período seco (Setembro/2002).

Parâmetros analisados Ponto 01 Ponto 02 Ponto 03 Ponto Referencial

pH 6,01 7,30 7,44 4,76

Temp. °C (in situ) 20 22 25 20

DBO (mg. L-1) 106 9,0 235 2,0

DQO (mg. L-1) 207 16 412 3,84

Dureza total (mg. L-1) 33,8 115 52 5,0

Dureza cálcica (mg. L-1) 23,8 81,4 37,7 3,57

Alumínio (mg. L-1) Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1

Cádmio (mg. L-1) Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1

Chumbo (mg. L-1) Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Inferior a 0,1

Fonte: DIAAQ/IQ/UFU, 2002.

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TABELA 02 - Resultados da análise das amostras coletadas no período chuvoso (Novembro/2002 – ponto 02, Janeiro/2003 – ponto 01).

Parâmetros analisados Ponto 01 Ponto 02 Ponto 03 Ponto Referencial

pH 6,76 7,02 Sem dados 4,76

Temp. °C (in situ) 28 25 Sem dados 20

DBO (mg. L-1) 237 6,0 Sem dados 2,0

DQO (mg. L-1) 440 11,0 Sem dados 3,84

Dureza total (mg. L-1) 126 208,5 Sem dados 5,0

Dureza cálcica (mg. L-1) 93 145,0 Sem dados 3,57

Alumínio (mg. L-1) Inferior a 0,1 0,5 Sem dados Inferior a 0,1

Cádmio (mg. L-1) Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Sem dados Inferior a 0,1

Chumbo (mg. L-1) Inferior a 0,1 Inferior a 0,1 Sem dados Inferior a 0,1

Fonte: DIAAQ/IQ/UFU, 2002 e 2003.

Com relação ao potencial hidrogeniônico (pH), observou-se que os valores estão dentro dos padrões do CONAMA – 6,0 a 9,0 -, tanto no período seco (Ponto 01 – 6,01; Ponto 02 – 7,30; Ponto 03 – 7,44) quanto no chuvoso (Ponto 01 – 6,76; Ponto 02 – 7,02; Ponto 03 – sem dados). Este parâmetro está relacionado com a capacidade de corrosão e incrustação de sistemas. A concentração relativa de íons hidrogênio na água indica se essa atua como um ácido fraco ou como uma solução alcalina. Assim, quando a quantidade de hidrogênio é excessiva em relação aos outros íons, resulta uma reação ácida e, águas com esse comportamento tendem a atacar os metais. A escala de pH é expressa da seguinte forma: um pH igual a 7,0 indica uma solução neutra, menor do que 7,0 uma condição ácida e maior do que 7,0 uma solução alcalina (CETESB, 1974). A única exceção foi o Ponto Referencial, cujo valor de pH encontrado foi 4,76. Embora seja considerada uma água ácida, a acidez mineral – aquela proveniente de uma fonte estranha, que não simplesmente do gás carbônico (BRANCO, 1972) – só se verifica com pH inferior a 4,5 (CETESB, 1974).

Quanto a DBO e a DQO, antes de qualquer comentário dos resultados, é preciso relembrar a dinâmica do oxigênio para a sobrevivência dos organismos vivos. O oxigênio necessário à vida é encontrado em estado gasoso na atmosfera, onde sua proporção é de 21% aproximadamente. A água livre de poluição e em contato com o ar atmosférico é capaz de dissolver o oxigênio até uma certa quantidade máxima, definida pelo ponto de saturação que depende da pressão e da temperatura. Por exemplo, ao nível do mar (1 atm ou 760 mm Hg de pressão), o ponto de saturação do oxigênio na água é de 14,6 mg.L-1 a 0°C e de 10,2 mg.L-1 a 15°C. Disposta no terreno uma massa de matéria orgânica sofrerá decomposição na presença de oxigênio (aeróbia) apenas na superfície exposta. Em seu interior, onde o oxigênio do ar não

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tem acesso, ocorrerá à decomposição anaeróbia. Entretanto, se a mesma for diluída em grande volume de água contendo oxigênio dissolvido, o processo pode ser totalmente aeróbio, já que essas condições propiciam uma perfeita interação entre as substâncias orgânicas, o oxigênio e as bactérias aeróbias do solo (DACACH, 1979).

Então, a DBO e a DQO mostraram-se alteradas para os pontos 01 e 03. Dessa forma, pode-se dizer que quanto maior a DBO e a DQO, mais elevado é o teor de matéria orgânica presente no material. Esses resultados podem ser atribuídos a seguintes situações. O Ponto 01 recebeu, além de resíduos da construção civil, outros tipos de resíduos sólidos, inclusive orgânicos, até o ano de 2000; por isso, a matéria orgânica ali presente encontra-se em franco processo de decomposição. Como existe dificuldade na depuração, por causa do volume e profundidade do aterro, ocasionando deficiência em luz e oxigênio, os efluentes gerados são carreados em concentrações elevadas para a água subterrânea. Assim, verificou-se na amostra coletada no período de chuvas valor ainda superior do que os do período de seca; já que, a parte percolada da água da chuva contribuiu para o carreamento do material em decomposição. No Ponto 03, apesar da ausência dos dados do período chuvoso, a presença da matéria orgânica é bem expressiva; pois, o local ainda vem sendo utilizado para o descarte e aterro do entulho e outros resíduos. Por fim, o Ponto 02, que teve a disposição encerrada em 1997, o que possivelmente contribuiu para a completa degradação da matéria orgânica, situação sugerida pelos valores destes parâmetros encontrados nas análises físico-químicas dentro dos limites da legislação ambiental brasileira (Resolução nº 20/86, do CONAMA). A dureza total e cálcica apresentaram valores elevados no período seco para o ponto 02 (115 mg.L¯¹e 81,4 mg.L¯¹). Já no período chuvoso os valores aumentaram tanto no ponto 01 (126 mg.L¯¹e 93 mg.L¯¹) quanto no ponto 02 (208,5 mg.L¯¹ e 145 mg.L¯¹). Pode-se atribuir esses resultados ao fato de que os íons cálcio e magnésio presente na água resultam da dissolução de carbonatos de cálcio (CaCO3) ou de magnésio (MgCO3), ou de qualquer outra substância que contenha cálcio (revestimento para cabos, adubo químico, gesso hospitalar, cimento e/ou concreto, material de carga para papel e tinta, por exemplo) ou magnésio (flash fotográfico, tijolo refratário, pigmentos, rodas de liga leve, por exemplo) (PERUZZO e CANTO, 1996). Dessa forma são liberados íons cálcio e magnésio, causadores da dureza (CETESB, 1974). Quanto aos metais analisados, os resultados fornecidos pela DIAAQ, no período seco, todos os pontos apresentaram níveis inferiores a 0,1 mg.L¯¹ para o alumínio, estando em plena concordância com a Resolução nº 20/86 do CONAMA. No período chuvoso, apenas o ponto 02 apresentou valor superior ao limite (0,5 mg.L¯¹Al). O alumínio é um elemento encontrado em portas, janelas, iluminação e cimento (PERUZZO e CANTO, 1996). Sua presença vem alterar a turbidez da água, que é uma característica decorrente da presença de substâncias em suspensão, ou seja,

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sólidos suspensos finamente divididos em estado coloidal e organismos microscópicos (OLIVEIRA, 1978).

Para o cádmio, em todos os pontos e nas duas medições (seca e chuvosa) o resultado foi sempre inferior a 0,1 mg.L¯¹. Entretanto, pelo CONAMA, o limite aceito para este metal é 0,01 mg.L¯¹. Nesse caso, não é possível afirmar se há traços de cádmio uma vez que, o limite de precisão do equipamento utilizado é 0,1 mg.L¯¹. O cádmio esta presente em baterias recarregáveis, filamentos de lâmpadas incandescentes, proteção anticorrosiva e pigmento vermelho-amarelo (PERUZZO e CANTO, 1996).

Segundo Pereira (1998), o cádmio existe também na fumaça resultante da queima do carvão de pedra e na fumaça do cigarro (um fumante de 20 cigarros por dia absorve 1 mg de cádmio por ano). Ele é absorvido pelas vias digestivas (10% do ingerido) e respiratória (40% do inalado). A intoxicação aguda se faz geralmente pela inalação de fumaças ou de pó contendo o metal. Seus principais efeitos são irritação das vias aéreas, podendo ocorrer edema pulmonar grave. Na exposição crônica, pode haver fibrose peribrônquica e enfisema pulmonar. Nos rins, as lesões aparecem quando as concentrações atingem 200 µg/g; nessa situação, surgem lesões do epitélio tubular e proteinúria (DE PAOLA, 1977; PEREIRA, 1998).

Quanto ao chumbo, em todos os pontos e nas duas medições (seca e chuvosa) teve seu resultado inferior a 0,1 mg.L¯¹. Segundo a Resolução n. º 20/86 do CONAMA, o valor permitido é 0,05 mg.L¯¹. De forma análoga ao cádmio, o limite de precisão do equipamento utilizado é de 0,1 mg.L¯¹, torna difícil afirmar se esse resultado inferior a 0,1 mg.L¯¹ indica concordância ou não com a legislação. O chumbo está presente em acumuladores de eletricidade, soldas, tubulações antigas, gasolina com alta octanagem e secante para tintas (PERUZZO e CANTO, 1996). Ele é absorvido pelas vias digestiva e respiratória, cai na circulação e se distribui nos tecidos moles, sendo posteriormente levado aos ossos (85%), onde se deposita e de onde volta lentamente à circulação e aos tecidos moles. As principais lesões e manifestações de intoxicação pelo chumbo são denominadas de Plumbismo ou Saturnismo. Uma vez ingerido, o chumbo é fagocitado pelos macrófagos e transportado através dos vasos linfáticos aos linfonodos regionais e seu acúmulo progressivo produz uma coloração azulada das partes afetadas, como por exemplo, pulmões e rins, sob a forma de manchas irregulares no parênquima do órgão (DE PAOLA, 1977; PEREIRA, 1998).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Importantes questões foram diagnosticadas através da análise química da água, em três pontos da cidade de Uberlândia aterrados com entulho e outros resíduos sólidos associados. Vale ressaltar, que a escolha dos pontos de amostragem deveu-se

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especialmente pela facilidade de coleta e pela indicação precisa do aterro, por parte do poder público municipal; já que, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos da Prefeitura Municipal de Uberlândia, responsável por este serviço, não dispõe de um banco de dados com informações precisas sobre todas as áreas já aterradas.

Apesar das análises terem sido realizadas em número restrito, com prazo exíguo de realização e somado às dificuldades orçamentárias (que restringiram à amplitude das análises laboratoriais a serem realizadas, ou seja, além das análises físico-químicas, realizar-se-ia também as análises bacteriológicas), a ausência de informações por parte dos órgãos públicos responsáveis, e ao fato de alguns aterros ainda estarem em atividade (a exemplo do bairro Morumbi), os resultados constataram indícios de contaminação das águas subterrâneas. Por isso, o monitoramento precisa ser ampliado, tanto em relação aos parâmetros analisados quanto ao número de pontos de amostragem, para que o município passe a dispor de um banco de dados com informações mais definidas da qualidade das águas; bem como, possa traçar seu planejamento de saúde pública com vistas a minimizar as possíveis doenças a serem veiculadas através dos recursos hídricos.

Os resultados, também, demonstraram que é preciso repensar a questão da disposição do entulho no meio ambiente; pois, embora a legislação ambiental brasileira conceitue o entulho como material inerte, os sinais de contaminação apresentados neste estudo, confrontam às leis ambientais brasileira, alertam que o aterro não é o melhor destino para este tipo de resíduo.

Não obstante do ponto de vista ambiental, a cada dia mais, as cidades convivem com a dificuldade de disponibilizar áreas para aterros, devido ao crescimento urbano desordenado – áreas de aterro ficam impossibilitadas de se tornarem áreas de expansão imobiliária, por serem áreas que não apresentam condições estáveis para a ocupação humana uma vez que, o terreno, além da instabilidade natural caracterizada pela erosão, gera a acomodação (recalque) e facilita a percolação de efluentes. Outros inconvenientes podem ocorrer, tais como: excesso de umidade, falta de cobertura vegetal, exposição direta aos ventos e às chuvas e formação de gases por causa da decomposição anaeróbia da fração orgânica. Por todas essas razões, o aterramento com entulho não é uma boa estratégia dentro do planejamento urbano.

Assim, este estudo não é conclusivo, apenas contribui para propor solução deste problema e abre novas perspectivas para estudos futuros.

5. REFERÊNCIAS

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