Após fala dura, Mandetta ameniza tom, e Planalto vê sinais de … · O ministro ainda citou ter...

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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política - Página: A4 a5 A6 - Publicação: 08/04/20 URL Original: Após fala dura, Mandetta ameniza tom, e Planalto vê sinais de alinhamento Após fala dura, Mandetta ameniza tom, e Planalto vê sinais de alinhamento Titular da Saúde prega 'união' e adota discurso conciliador; auxiliares, porém, dizem que demissão não está descartada Fortalecido após vencer a queda de braço com Jair Bolsonaro e permanecer no cargo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, adotou nesta terça-feira (7) um tom mais conciliador , o que foi interpretado por integrantes do Palácio do Planalto como um sinal de busca de alinhamento. Principal nome do governo federal na condução das políticas de enfrentamento do novo coronavírus, Mandetta tem robusto apoio popular, mas vinha sendo criticado abertamente pelo presidente da República , defensor de medidas menos restritivas e que contrariam a quase totalidade do que é praticado no mundo. A tensão entre ambos chegou ao ápice na segunda-feira (6), quando Bolsonaro avaliou demitir o auxiliar , mas recebeu pressão contrária da ala militar do governo, de setores do Congresso e de sua própria base de apoiadores nas redes sociais. Apesar dos movimentos de alinhamento e da pressão interna e externa, auxiliares mantêm o discurso de que a demissão não está descartada, que Bolsonaro é imprevisível e continua insatisfeito com Mandetta. Os dois têm uma reunião às 9h desta quarta (8) no Palácio do Planalto. De acordo com relatos de aliados do ministro da Saúde, Mandetta adotou um tom duro na reunião ministerial de segunda , defendendo a sua linha de atuação pautada nos atuais consensos científicos, o que é seguido pela maioria dos países. Depois, o ministro seguiu para o ministério e replicou a fala dura em entrevista coletiva . ?Integrantes da ala militar avaliaram que Mandetta exagerou no tom da entrevista, ocasião em que, mesmo sem se referir diretamente a Bolsonaro, repetiu diversas vezes que iria se pautar exclusivamente pela ciência. O ministro ainda citou ter lido o "mito da caverna", de Platão , gesto interpretado por aliados de Bolsonaro como uma provocação para que o mandatário se livre das falsas interpretações que tem da realidade. Por isso, esses integrantes do governo pediram ao ministro que ele baixasse o tom. A solicitação surtiu efeito, na avaliação de aliados de Bolsonaro. Mandetta manteve na entrevista desta terça seu discurso de que a pasta não recomendará a ingestão de cloroquina —medicamento tratado por Bolsonaro como uma solução para a atual pandemia— de maneira ampla para pacientes com coronavírus. Mas afirmou não se opor a que os médicos receitem o remédio se assim acharem adequado. De todo modo, o ministro ainda afirma que não há estudos o suficiente que comprovam a eficácia do medicamento. Além disso, também informou que o ministério estuda o tratamento com outras nove substâncias. "Para que possamos assinar que o Ministério da Saúde recomenda que se tome esta medida logo, nós precisamos de um pouco mais de tempo para saber se isso pode se configurar uma coisa boa ou pode ter algum efeito colateral. Não é questão de gostar de A, de B, de C. É simplesmente a gente analisar com um pouco mais de luz." Diferentemente da véspera, Mandetta enfatizou nesta terça o tom conciliatório. "Tudo o que estamos precisando agora é união. Tudo que estamos precisando agora é participação de todos, foco. É normal, ninguém consegue numa situação dessas ter um olhar só de um ângulo. No Ministério da Saúde, a gente tem dúvidas", afirmou. "Às vezes as pessoas têm opiniões divergentes, é normal que tenham. Acho que é um conjunto de cabeças muito qualificado que pensam juntas e ontem [segunda-feira] fez um exercício coletivo", completou o ministro. Ainda segundo ele, a hora é de mirar o futuro. "A gente tem que andar para frente, olhar para frente. Isso é uma experiência que a gente tem que olhar pelo para-brisa, para frente, usar pouco o retrovisor. Vamos tocar este barco nosso chamado Brasil, juntos." Presente na entrevista, o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) também enfatizou o discurso de união. Além da fala desta terça, integrantes do Planalto viram outros sinais de tentativa de alinhamento. Na segunda, em meio aos rumores de demissão, a Saúde divulgou um documento com diretrizes para possível flexibilização do isolamento social a partir da próxima segunda-feira (13). Já dentro do ministério, a divulgação foi vista como uma forma de fixar critérios técnicos e parâmetros diante de uma mudança

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Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política -Página: A4 a5 A6 - Publicação: 08/04/20URL Original:

Após fala dura, Mandetta ameniza tom, e Planalto vêsinais de alinhamentoApós fala dura, Mandetta ameniza tom, e Planalto vêsinais de alinhamentoTitular da Saúde prega 'união' e adota discurso conciliador; auxiliares,porém, dizem que demissão não está descartadaFortalecido após vencer a queda de braço com Jair Bolsonaro e permanecer no cargo, o ministro da Saúde, Luiz HenriqueMandetta, adotou nesta terça-feira (7) um tom mais conciliador, o que foi interpretado por integrantes do Palácio do Planaltocomo um sinal de busca de alinhamento.Principal nome do governo federal na condução das políticas de enfrentamento do novo coronavírus, Mandetta tem robustoapoio popular, mas vinha sendo criticado abertamente pelo presidente da República, defensor de medidas menos restritivas eque contrariam a quase totalidade do que é praticado no mundo.A tensão entre ambos chegou ao ápice na segunda-feira (6), quando Bolsonaro avaliou demitir o auxiliar, mas recebeu pressãocontrária da ala militar do governo, de setores do Congresso e de sua própria base de apoiadores nas redes sociais.Apesar dos movimentos de alinhamento e da pressão interna e externa, auxiliares mantêm o discurso de que a demissão nãoestá descartada, que Bolsonaro é imprevisível e continua insatisfeito com Mandetta. Os dois têm uma reunião às 9h destaquarta (8) no Palácio do Planalto.De acordo com relatos de aliados do ministro da Saúde, Mandetta adotou um tom duro na reunião ministerial de segunda,defendendo a sua linha de atuação pautada nos atuais consensos científicos, o que é seguido pela maioria dos países. Depois, oministro seguiu para o ministério e replicou a fala dura em entrevista coletiva.?Integrantes da ala militar avaliaram que Mandetta exagerou no tom da entrevista, ocasião em que, mesmo sem se referirdiretamente a Bolsonaro, repetiu diversas vezes que iria se pautar exclusivamente pela ciência.O ministro ainda citou ter lido o "mito da caverna", de Platão, gesto interpretado por aliados de Bolsonaro como uma provocaçãopara que o mandatário se livre das falsas interpretações que tem da realidade. Por isso, esses integrantes do governo pediramao ministro que ele baixasse o tom.A solicitação surtiu efeito, na avaliação de aliados de Bolsonaro. Mandetta manteve na entrevista desta terça seu discurso deque a pasta não recomendará a ingestão de cloroquina —medicamento tratado por Bolsonaro como uma solução para a atualpandemia— de maneira ampla para pacientes com coronavírus. Mas afirmou não se opor a que os médicos receitem o remédiose assim acharem adequado.De todo modo, o ministro ainda afirma que não há estudos o suficiente que comprovam a eficácia do medicamento. Além disso,também informou que o ministério estuda o tratamento com outras nove substâncias."Para que possamos assinar que o Ministério da Saúde recomenda que se tome esta medida logo, nós precisamos de um poucomais de tempo para saber se isso pode se configurar uma coisa boa ou pode ter algum efeito colateral. Não é questão de gostarde A, de B, de C. É simplesmente a gente analisar com um pouco mais de luz."Diferentemente da véspera, Mandetta enfatizou nesta terça o tom conciliatório."Tudo o que estamos precisando agora é união. Tudo que estamos precisando agora é participação de todos, foco. É normal,ninguém consegue numa situação dessas ter um olhar só de um ângulo. No Ministério da Saúde, a gente tem dúvidas", afirmou."Às vezes as pessoas têm opiniões divergentes, é normal que tenham. Acho que é um conjunto de cabeças muito qualificadoque pensam juntas e ontem [segunda-feira] fez um exercício coletivo", completou o ministro.Ainda segundo ele, a hora é de mirar o futuro. "A gente tem que andar para frente, olhar para frente. Isso é uma experiência quea gente tem que olhar pelo para-brisa, para frente, usar pouco o retrovisor. Vamos tocar este barco nosso chamado Brasil,juntos."Presente na entrevista, o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) também enfatizou o discurso de união.Além da fala desta terça, integrantes do Planalto viram outros sinais de tentativa de alinhamento.Na segunda, em meio aos rumores de demissão, a Saúde divulgou um documento com diretrizes para possível flexibilização doisolamento social a partir da próxima segunda-feira (13).Já dentro do ministério, a divulgação foi vista como uma forma de fixar critérios técnicos e parâmetros diante de uma mudança

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na condução da pasta —evitando, assim, que uma eventual troca no ministério por um nome alinhado a Bolsonaro levasse auma flexibilização total e repentina do isolamento e, assim, ao aumento de casos da doença.Outro gesto foi a decisão, na semana passada, de avalizar a hidroxicloroquina em tratamentos de pacientes graves, não apenasaqueles em estado crítico.Bolsonaro é um entusiasta do medicamento e quer que ele seja administrado inclusive em estágios menos avançados dadoença. Segundo auxiliares, ele pediu a Mandetta uma mudança de rumo na sua resistência à hidroxicloroquina até o final deabril.?A relação entre o ministro da Saúde e o presidente da República vinha num crescente tensionamento há vários dias. Além dadivergência sobre a hidroxicloroquina, Bolsonaro já não escondia sua irritação com o auxiliar por defender um isolamento socialmais forte que o desejado por ele, que quer reabrir o comércio no Brasil.No sábado, de acordo com assessores, Bolsonaro ficou contrariado com um vídeo gravado por Mandetta que foi transmitido emapresentações ao vivo pela internet de artistas sertanejos, como a dupla Jorge & Mateus, que reuniu mais de 3 milhões deespectadores.No dia seguinte, a um grupo de religiosos, Bolsonaro disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora delesvai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta".Apesar da aparente tentativa de alinhamento desta terça, a rede bolsonarista que atua na internet segue atacando o ministropedindo sua demissão. Diante do cenário e da avaliação de que Mandetta não se dobrará a medidas extremas de Bolsonaro, suapermanência na pasta segue incerta.Segundo pesquisa do Datafolha, o Ministério da Saúde tem aprovação positiva por parte de 76% da população, mais que o dobroda do presidente (33%).Deputados do DEM reuniram-se na segunda por vídeoconferência e traçaram uma estratégia de reunir todos os prefeitos egovernadores da sigla, além dos parlamentares, para um pronunciamento conjunto caso o ministro fosse mesmo demitido.?Somou-se a isso a pressão do Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), falou ao menos com trêsministros —Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Onyx Lorenzoni (Cidadania), que também é do DEM.O recado foi o mesmo: se Mandetta fosse exonerado, não apenas o combate ao coronavírus ficaria prejudicado, mas também arelação com o Congresso.Nesta terça-feira, Bolsonaro não compareceu a dois eventos em que sua presença havia sido anunciada.Em uma atualização da agenda feita somente à noite, o governo informou que o presidente teve dois encontros com AntônioBarra Torres, diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e um dos citados como possível substitutode Mandetta, com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e com a médica Nise Yamaguchi?, defensora do uso dahidroxicloroquina.Na extensa agenda de terça, que começou às 8h50 e foi ao menos até as 19h, não houve nenhum encontro com o ministro daSaúde.

Respeitar ciência é melhor que fritar ministro, diz MaiaO presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusou nesta terça-feira (7) o presidente Jair Bolsonaro (sempartido) de usar uma estrutura paralela para tentar desqualificar aqueles que avalia serem seus inimigos.A estrutura paralela seria o chamado gabinete do ódio, formado por integrantes da ala ideológica do governo que atuam noPalácio do Planalto.As declarações de Maia foram feitas durante uma videoconferência da Necton Investimentos. Ele falou sobre as tensões geradaspelo rumor de demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) nesta segunda (6).Maia disse que, em conversa com auxiliares de Bolsonaro, assegurou que o presidente não demitiria o ministro da Saúde. “Eufalei: ‘Fica tranquilo. Conheço já há um ano e ele não vai demitir um ministro popular’”, afirmou. “Ele vai organizar a relaçãodele, vai construir um discurso com o Mandetta, vai manter o Mandetta, não tenho dúvida nenhuma disso”.Isso porque, segundo o deputado, Bolsonaro teria percebido que Mandetta tem apoio e confiança da sociedade.“O presidente trabalha com popularidade, pena que popularidade de rede social. É assim na relação dele com o [ministro daJustiça, Sérgio] Moro e tem sido agora assim na relação dele com o Mandetta”, criticou. “E sempre usando essa estruturaparalela para tentar desqualificar quem ele considera, vamos dizer assim, inimigo dele, que possa ser adversário dele”.Maia também ironizou e disse que Bolsonaro ficou com “raiva” por Mandetta ter aparecido na live da dupla sertaneja Jorge eMateus. “Mas ele não tinha condições, e ele sabe disso (...), de trocar o ministro nesse momento”, afirmou.O presidente da Câmara criticou ainda o desgaste gerado pelo rumor e disse que, no momento, é melhor “respeitar a ciência doque fritar o ministro da Saúde”.Integrantes do chamado núcleo moderado do governo, que inclui militares, conversaram com Bolsonaro desde a manhã desegunda para tentar demovê-lo da ideia de exonerar Mandetta no curto prazo. Em conversas reservadas, o presidente chegou adizer que a situação estava insustentável.Apesar de não ter dado sinais de que vai demitir o ministro, aliados de Bolsonaro o consideram imprevisível e, por isso, buscamalternativas para o cargo.Na videoconferência, Maia afirmou ainda que a crise é um momento de construir pontes entre os Poderes para focar em

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agendas permanentes. No entanto, criticou a postura de integrantes do governo por criarem atritos desnecessários que podemcomprometer a recuperação brasileira.Em especial, citou o ministro Abraham Weintraub (Educação), que usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, parafazer chacota da China."Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quemsão os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?",escreveu o membro do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, trocando a letra "r" por "l", assim como na criação de Mauricio deSousa.Maia qualificou de “besteira” e “erro” a postura do ministro e lembrou que a China é um importante parceiro comercial do Brasil.“Eu, de fato, não entendo como é que um governo num momento desse de crise, pega um parente do presidente [em referênciaao deputado federal Eduardo Bolsonaro], pega ministro para desqualificar um país que poderia estar ajudando o Brasil muitomais”, criticou.

Com Mandetta, Bolsonaro repete tática de reafirmar asua própria autoridade; relembre outros casosEm reunião, Bolsonaro disse que a palavra final sobre medidas de combateà pandemia será deleCada vez mais escanteado na crise de saúde causada pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lançoumão de seu velho recurso de reafirmação da própria autoridade na reunião ministerial desta segunda-feira (6).Segundo relatos, o chefe do executivo frisou que a palavra final sobre as medidas de combate à pandemia será dele. Bolsonarodisse aos auxiiares que, no passado, deixou a equipe muito livre para tomar decisões e agora quer ser informado em detalhessobre o que cada pasta planeja.Após cogitar demitir o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta —que, ao contrário do presidente, defende o isolamentosocial—, Bolsonaro foi convencido pela ala moderada do governo, que inclui militares, a desistir da ideia.Segundo psicanalistas entrevistados para reportagem da Folha publicada neste sábado (4), esse comportamento mostrainsegurança."Ter que ficar reafirmando que quem decide é ele, é, em parte, a sinalização de certa fragilidade de quem sabe que não podedecidir. Porque, na hora das decisões reais, não será ele. Como aconteceu no processo da crise de saúde. Será o ministro daSaúde", afirmou o psicanalista Tales Ab'Sáber, professor da Universidade Federal de São Paulo.Relembre, a seguir, outras situações em que Bolsonaro teve de reafirmar a sua própria autoridade.SOU EU? (27.ABR.2019)“Quem indica e nomeou o presidente do Banco do Brasil? Sou eu? Não preciso falar mais nada, então."Ao comentar censura de campanha publicitária do Banco do BrasilCOM A CANETA (28.MAI.2019)"Eu disse para o Rodrigo Maia. Com a caneta eu tenho muito mais poder do que você. Apesar de você, na verdade, fazer as leis,né? Eu tenho o poder de fazer decreto. Logicamente, decretos com fundamento."No lançamento da Frente Parlamentar Mista da Marinha Mercante Brasileira, ao defender a revogação do decreto que criou aEstação Ecológica de TamoiosEU SOU O PRESIDENTE (20.JUN.2019)“Quem demarca terra indígena sou eu! Não é ministro. Quem manda sou eu. Nessa questão, entre tantas outras. Eu sou umpresidente que assume ônus e bônus.”Ao comentar medida provisória que devolvia demarcação de terras indígenas ao Ministério da Agricultura, revertendo decisão doCongressoEU MANDO (4.AGO.2019)“Eu não peço [a demissão], certas coisas eu mando.”Ao responder se havia pedido a exoneração do diretor do Inpe, Ricardo Galvão, após ser contrariado com dados sobre odesmatamento da AmazôniaEU GANHEI (5.AGO.2019)"A campanha acabou para a imprensa. Eu ganhei. A imprensa tem que entender que eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou,porra!"Em inauguração de usina em Sobradinho (BA)QUEM MANDA SOU EU (16.AGO.2019)"Quem manda sou eu, vou deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu."Ao ser questionado sobre a trocas no comando da Polícia Federal, em meio a embate com Sérgio Moro (Justiça)PRESIDENTE BANANA (16.AGO.2019)"Quando vão nomear alguém, falam comigo. Eu tenho poder de veto, ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o

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que bem entende e tudo bem?"Também quando foi questionado sobre a trocas no comando da Polícia FederalCARTÃO VERMELHO (6.FEV.2020)"[O caso de Onyx] é um ponto a ser estudado, tá ok? Qualquer ministro que, porventura, queira aí usar o ministério [para], emvez de atender ao Brasil, atender ao seu estado ou ao seu município está fadado a levar um cartão vermelho. Eu não vouconfirmar o que você falou aí, mas, em havendo…"Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, sobre situação do então ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni, acusado defavorecer reduto eleitoralPODER DE VETO (4.MAR.2020)"Regina, todos os meus ministros também receberam seu ministério de porteira fechada. Por isso, tem liberdade de escolher seutime. Obviamente, em alguns momentos, eu exerço o poder de veto de alguns nomes. Eu já fiz em todos os ministérios. Atéporque, para proteger a autoridade. Isso não é perseguir."Ao responder Regina Duarte, que falou em carta branca em sua cerimônia de posse na Secretaria de CulturaSOU EU, PÔ (26.MAR.2020)“O presidente sou eu, pô. O presidente sou eu.”Ao ser questionado sobre a defesa do isolamento social pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB)EU SOU O PRESIDENTE (31.MAR.2020)"Não se esqueça que eu sou o presidente."Quando foi questionado sobre a defesa de isolamento social pelo seu ministro da Saúde, Luiz Henrique MandettaMINHA CANETA FUNCIONA (5.abr.2020)"[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, derepente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles,porque a minha caneta funciona."Ao falar com grupos de religiosos aglomerados em frente ao Palácio da Alvorada

Entenda um a um os recados de Mandetta a Bolsonarono anúncio do 'fico' no governoMinistro afirmou que orientações dos governadores devem ser seguidas eque Brasil não está preparado para a pandemiaApós um dia inteiro de indefinição, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse na noite desta segunda-feira (6) quecontinuaria à frente da pasta em meio à pandemia do novo coronavírus.Mandetta fez um discurso cheio de recados ao presidente, após ter sua demissão avaliada pelo presidente Jair Bolsonaro (sempartido).Em sua fala, o ministro afirmou que orientações dos governadores devem ser seguidas, que o Brasil não está preparado para apandemia e que interromper o isolamento pode levar o vírus para as camadas mais vulneráveis da sociedade.Leia, a seguir, trechos comentados da fala de Mandetta.

"Não temos nenhum receio da crítica. A crítica construtiva, ela enobrece e nos faz rever e dar passos à frente.Gostamos da crítica construtiva. O que nós temos muita dificuldade é quando, em determinadas situações, pordeterminadas impressões, as críticas não vêm no sentido de construir, mas vem para trazer dificuldade noambiente de trabalho."

A mensagem foi lida pela equipe do ministério como um recado direto às interferências do Palácio do Planalto. Na última quinta-feira (2), Bolsonaro admitiu que havia um descompasso entre ele e Mandetta. Em entrevista à rádio Jovem Pan, disse que"faltava humildade" a seu ministro."O Mandetta já sabe que ele não está se bicando comigo. Já sabe disso. Eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Nãopretendo. Agora, ele é uma pessoa que, em algum momento, extrapolou”, afirmou. Procurado pela Folha, o ministro respondeu:"Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha".As críticas se estenderam pelo fim de semana. No domingo (5), Bolsonaro ameaçou ministros de demissão, sem citar nomes."[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, derepente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles,porque a minha caneta funciona", afirmou a um grupo de religiosos que se aglomerava em frente ao Palácio da Alvorada.

"Isso eu não preciso traduzir, vocês todos sabem que tem sido uma constante. O Ministério da Saúde determinaruma determinada linha, adotar uma determinada situação e termos, muitas vezes, que voltar, fazerdeterminados contrapontos, para podermos reorganizar a equipe."

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Mais uma mensagem direcionada ao Planalto. Enquanto o presidente defendia a volta à normalidade, o ministro, emconsonância com os protocolos internacionais de saúde pública, pedia que as pessoas não participassem de aglomerações e queadotassem medidas de precaução.O contraponto incomodou Bolsonaro, que encarava o tom do ministro como um provocador da "histeria" na sociedade. Asituação levou o presidente a cobrar apoio no discurso de Mandetta, o que foi parcialmente atendido na época.A participação de Bolsonaro em um protesto, no dia 15 de março, também causou uma saia justa com o ministro. O presidenteainda faria um segundo teste para saber se estava infectado com o novo coronavírus. Questionado sobre a recomendação deevitar aglomerações, Mandetta respondeu que a orientação era para não ir. "E continua sendo não para todo mundo”, afirmou,na ocasião, o que mais uma vez desagradou Bolsonaro.

"Enquanto não tivermos as condições de mudarmos as recomendações, nós reforçamos que devem serseguidas as orientações dos senhores governadores de estado."

Mandetta reforça seu apoio aos governadores, que em sua maioria adotaram políticas de isolamento social e contrariaramBolsonaro. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), por exemplo, antigo aliado de primeira hora do presidente, teceucríticas a Bolsonaro e afirmou que não respeitaria suas decisões sobre saúde.Em um de seus pronunciamentos, Bolsonaro atacou governadores e disse que eles precisavam "abandonar o conceito de terraarrasada" com a proibição de transporte e o fechamento de comércio.Uma das cenas mais emblemáticas foi a briga entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e Bolsonaro, durante reunião.Doria cobrou "serenidade, calma e equilíbrio", e ameaçou ir à Justiça se o governo federal confiscasse respiradores mecânicospara doentes graves com Covid-19. Em resposta, Bolsonaro pediu para o tucano sair "do palanque".“Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente do Brasil. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar ogoverno federal”, afirmou. Antes disso, Bolsonaro já havia reclamado sobre a participação de Mandetta em uma entrevista àimprensa ao lado de Doria.

"A sociedade precisa entender que a movimentação social é tudo o que esse vírus, que é o nosso inimigo, quer.Essa movimentação vai levar esse vírus para as camadas mais frágeis da nossa sociedade e mais numerosas,para os moradores de rua, vão levar para as comunidades, para as favelas, vai levar para as grandesconcentrações urbanas."

O trecho contraria tudo o que Bolsonaro tem falado até aqui sobre a pandemia. Até mesmo uma campanha que pede a volta aotrabalho foi elaborada pelo governo, mas terminou barrada pelo Supremo Tribunal Federal. Em pronuncimento, o presidentechegou a perguntar o porquê de fechar escolas se o grupo de risco é o de pessoas com mais de 60 anos.Em outra declaração, Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia afirmando que nada acontece com o brasileiro. "Eu acho que nãovai chegar a esse ponto [dos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o carapulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele."No final de março, Mandetta reafirmou a política de distanciamento social e disse que idosos não vivem em cápsulas. "Essaspessoas moram com vocês, essas pessoas têm netos, filhos, trabalham, pegam ônibus, são ambulantes. São eles que podem ser[as maiores vítimas], os próprios ambulantes que a gente quer acelerar e cuidar da economia informal."

"Nós não estamos preparados. Nós não estamos prontos para uma escalada de casos nas nossas grandesmetrópoles. Ainda temos muito o que fazer."

Mandetta tem elevado o tom quando o assunto é o possível impacto da pandemia sobre o sistema de saúde, que pode colapsar.Quando o ministro mencionou essa possibilidade em abril, foi repreendido por Bolsonaro."Num primeiro momento eu estava achando que ele [Mandetta] estava exagerando, tá certo? Tanto é que ele foi bastantequestionado ontem quando falou uma palavra que não era adequada para aquele momento, falou 'colapso', e ele explicouperfeitamente. É isso apenas que tenho conversado com ele, acertando ponteiros em algumas coisas", disse o presidente ementrevista à CNN Brasil.Bolsonaro costuma minimizar a possível sobrecarga no sistema de saúde. “Não acredito [que vá ter colapso]. Estamos alargandoa curva de infecção e eu estou confiando no remédio que está sendo testado aqui e fora do Brasil", afirmou na mesmaentrevista.

"Este final de semana foi um final de semana de muita reflexão para todos. (...) Eu fui ler O Mito da Caverna,que é um dos diálogos de Platão que eu tinha lido aos 14 anos pela primeira vez e já li umas 20 vezes até e atéhoje não consigo entender. Continuei sem entender."

Mandetta escolheu citar um texto frequentemente usado para ilustrar o conflito entre a ignorância e o conhecimento. O diálogoentre Sócrates e Glauco está no livro "A República", escrito por Platão no século 4º a.C.

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No mito, pessoas que vivem acorrentadas em uma caverna veem apenas sombras projetadas —o que seria, para os prisioneiros,a verdade. Sócrates imagina, então, como seria se um deles pudesse sair da caverna e, com a luz, enxergar os objetosnitidamente.A defesa por Mandetta dos protocolos da OMS (Organização Mundial da Saúde), em contraponto aos discursos de Bolsonaropouco respaldados na ciência, fez a citação do livro ganhar ares de recado.

"Cada um voltou no domingo à noite com as suas baterias todas focadas para essa semana de trabalho.Infelizmente começamos com mais um solavanco a semana de trabalho. Esperamos que a gente possa terpaz para poder conduzir."

Ao dizer que continuaria no ministério, Mandetta afirmou que a inconstância estaria atrapalhando o trabalho. “Hoje foi um diaque rendeu muito pouco o trabalho do ministério. Teve gente limpando gaveta, pegando as coisas. Até as minhas gavetas",afirmou.

"Depois da reunião lá me levaram numa sala com dois médicos que queriam fazer um protocolo dehidroxicloroquina por decreto. Eu disse para eles que é super bem-vinda, que estudos são ótimos (...). A gentetem feito isso constantemente, tudo o que chega. (...) Há indícios? A tese é boa? É boa. Mas primeiro convençaos pares técnicos. E aí vamos fazer pela ciência. Ciência."

Bolsonaro tem defendido que a hidroxicloroquina e derivados sejam ofertados a mais pacientes da Covid-19, mas por enquantoo Ministério da Saúde criou protocolo apenas para uso em pacientes com quadros críticos e graves internados, comacompanhamento médico. Mandetta tem reforçado que remédio não é panaceia e evidências da sua eficácia são frágeis.Desde março, o presidente já mandou o Exército ampliar a produção da substância e deixou à mostra uma caixa de remédiofeito com hidroxicloroquina em reunião do G20. Bolsonaro chegou a se reunir com médicos para buscar informações sobre omedicamento sem a presença do ministro da Saúde.

"Vamos fazer pela ciência. Não vamos perder o foco: ciência, disciplina, planejamento, foco. Esses barulhosque vêm ao lado, fulano falou isso, beltrano falou aquilo, esquece."

Mais uma mensagem de Mandetta em apoio ao trabalho científico.

"Vamos continuar, porque continuamos a enfrentar o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome, o covid-19.Temos uma sociedade para lutar e proteger, médico não abandona paciente e não vou abandonar."

O ministro retoma uma expressão que vem usando nos últimos dias na qual compara o Brasil a um paciente seu. Uma eventualsaída do cargo, e seu ônus em meio à pandemia, seria inteiramente de Bolsonaro.

"Sabemos da importância de permanecer, de ajudar. Sei de tudo isso. Todo mundo está fazendo sua dose desacrifício, todo mundo dando seu quinhão a mais de colaboração. Nós também daremos o nosso sacrifício, nossoquinhão a mais de colaboração até quando formos importantes, nominados, fizermos alguma diferença, ou atéquando o presidente entender que outra equipe, para outro lado, que não queira esse tipo detrabalho, que fale o caminho não é por aqui, é por ali, que encontre as pessoas certas, substitua. Agente está aqui para ajudar. Mesmo que venha outra equipe, nós vamos ajudar porque nós temos compromissocom a vida das pessoas."

Novamente, Mandetta envia o recado de que apenas deixará o posto se for demitido por Bolsonaro.

Direita vê Mandetta como golpista e chegou acomemorar sua quedaAnálise da Folha mostra que centro apoia o ministro; esquerda elogia ecritica auxiliar de BolsonaroAmplo apoio no centro, apoio moderado na esquerda e ataque pesado mais à direita foi como os usuários do Twitter reagiram àpossibilidade de demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Sua saída chegou a ser cogitada na segunda (6), masele acabou mantido no cargo por enquanto pelo presidente Jair Bolsonaro.No espectro conservador, os tuítes mais populares falaram em golpe de Mandetta e de seu partido (DEM) contra o presidente. Echegou a haver comemoração pela queda do ministro, saída que depois não se confirmou.A Folha analisou 270 mil mensagens no Twitter relacionadas ao ministro entre as 15h da segunda e 13h do dia seguinte(período que compreende o momento que começou a surgir a informação da possível demissão e horas após a entrevista do

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ministro dizendo que ficaria).O post mais retuitado na direita é de um influenciador da direita, Leandro Ruschel, que questiona se o ministro trabalha paraBolsonaro ou para o centrão (Mandetta recebeu apoio dos colegas de partido Rodrigo Maia e David Alcolumbre, presidentes daCâmara e do Senado, respectivamente, e integrantes do DEM, que integra o centrão).

Alcolumbre e Maia estão defendendo Mandetta de forma veemente?Aí fica difícil.Ele trabalha para o presidente ou para o Centrão?— leandroruschel (@leandroruschel) April 6, 2020

O terceiro tuíte mais popular na direita, do perfil isentoes2, comemorava a saída de Mandetta, chamando de “grande dia”.Bolsonaro e Mandetta vêm discordando de como combater o coronavírus. O ministro defende o isolamento de toda a população,para evitar que a Covid-19 se espalhe rapidamente. Já Bolsonaro ressalta o prejuízo econômico que as pessoas estão sofrendocom comércio, empresas e escolas fechadas. E defende o isolamento apenas das populações mais vulneráveis.Até a semana passada, a tensão ocorria apenas nos bastidores. Os usuários de direita no Twitter seguiam a linha de que era amídia quem fabricava a crise.A situação mudou na quinta (2), quando Bolsonaro cobrou, publicamente, mais humildade de seu auxiliar.As mensagens mais populares na direita passaram a se dividir entre ataque ao ministro e elogio a Mandetta.Nesta semana, o humor nesse espectro ficou mais contrário a Mandetta. Dos dez tuîtes mais populares, apenas um defendia oministro.Outros afirmam que o ministro está se posicionando para disputar a eleição para presidente, contra o atual chefe.Na esquerda, o cenário é mais favorável ao titular da Saúde. O tuíte mais popular nesse espectro foi do youtuber Felipe Neto,dizendo “se o Bolsonaro demitir Mandetta pra colocar um olavista lunático (Osmar Terra) no lugar, remover o Presidente dopoder será questão de saúde pública emergencial. Algo terá que acontecer”.Mas nem tudo foi apoio ao ministro. O sexto e sétimo tuítes mais populares na esquerda foram críticos ao ministro, dizendo queele minou o programa Mais Médicos e chamou-o de privatista.

Mandetta:-Destruiu o Mais Médicos pq os médicos eram cubanos- foi contra as políticas de apoio aos soros positivos- Desmontou o farmácia popular-Defendeu o desmonte do SUSSem tempo p ter dó de fascista,irmão.Q seja devorado pela política liberal q sempre promoveu— Laura Sabino (@mylaura_m) April 6, 2020

No centro, as dez mensagens mais populares foram positivas ao ministro. Mas esse campo se manifestou pouco na discussão.No levantamento da reportagem, foram 17 mil usuários no debate, contra 30 mil da direita e 46 mil na esquerda.A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita aomais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.Para esta análise, os quase 2 milhões de perfis foram divididos em três grupos: 33% mais à direita, 33% mais ao centro e 33%mais à esquerda

Supremo teme enxurrada de ações sobre coronavírus emeventual demissão de MandettaEm crise pública com ministro, Bolsonaro discorda do rigor das medidasdefendidas pela SaúdeIntegrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) temem que uma eventual demissão do ministro da Saúde, Luiz HenriqueMandetta, provoque uma enxurrada de processos e traga a Corte para o centro da crise.A previsão de ministros é que uma possível troca de diretriz no ministério no combate ao coronavírus leve entidades de classe,partidos políticos, governos estaduais e municipais ao tribunal para garantir a adoção de medidas técnicas no enfrentamento àpandemia.Em crise pública com Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro, que discorda do rigor das medidas defendidas pelo seu ministro,avalia demiti-lo, mas tem sido pressionado por aliados a não fazê-lo.A flexibilização do isolamento social na contramão das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), caso ocorra,por exemplo, deve ser questionada no tribunal e obrigaria o Supremo a intervir, o que desgastaria a relação entre os poderes,segundo avaliação de ministros.

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O mesmo pode ocorrer com o avanço da hidroxicloroquina como arma do governo no combate à doença antes dascomprovações científicas devidas.Mandetta vem adotando um discurso de cautela ao uso do medicamento, enquanto Bolsonaro defende sua utilização. No desejode trocar o ministro, presidente tem buscado nos bastidores um nome que se alinhe ao seu pensamento pró-hidroxicloroquina?.Os ministros do STF vêm dando sinais públicos de que não hesitarão em impor limites às ações de Bolsonaro, e a saída deMandetta poderia deixar isso mais claro. O ministro Gilmar Mendes tem dito em entrevistas que não tem dúvidas de que umapolítica pública contra orientações da OMS “não lograria apoio no STF”.Na mesma linha, outros ministros fizeram elogios a Mandetta e mandaram recados ao Palácio do Planalto. O ministro LuísRoberto Barroso exaltou, na segunda-feira (6), em entrevista ao UOL, o desempenho de Mandetta.“Justiça seja feita, você tem um ministro da Saúde que tem conduzido com grande eficiência, dedicação e com base na melhorciência que existe. E acho que apesar de tudo, o Brasil está reagindo razoavelmente bem à pandemia dentro das nossascircunstâncias” afirmou.O presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, é outro defensor de Mandetta. Ele costuma manter diálogo permanente com oschefes dos outros poderes, inclusive Bolsonaro, e com integrantes do governo e tem ressaltado a importância de manter oministro no cargo.Foi por uma reunião convocada por Toffoli, aliás, que a relação entre Mandetta e Bolsonaro começou a estremecer.Na semana em que o chefe do Executivo foi às manifestações e cumprimentou apoiadores, o presidente do Supremo resolveuconvocar uma reunião com o procurador-geral da República, Augusto Aras, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado,Davi Alcolumbre, e de todos os tribunais superiores e não convidou Bolsonaro.Mandetta não só foi à reunião como sentou na ponta da mesa, ao lado dos chefes dos poderes, o que irritou o chefe doExecutivo. Na ocasião, Toffoli foi claro ao afirmar que o ministro não pode ser substituído em meio à crise.Outro temor de integrantes do STF é em relação a um agravamento da crise política que a saída de Mandetta poderiadesencadear. Como o mundo político já deixou claro que é favorável à permanência do ministro, há uma preocupação sobrecomo ficaria a governabilidade do atual governo.Os ministros têm estudado com profundidade a doença e seus impactos porque sabem que irão julgar ações relacionadas aotema por um bom tempo. Desde o começo da crise, já foram protocolados 761 processos que discutem o covid-19. Do total, 255deles tratam de questões administrativas, a maioria na esfera federal, e 103 decisões já foram tomadas.A evolução das ideias de Bolsonaro podem aumentar ainda mais esse número, na visão dos ministros. Mudanças em relaçãoisolamento social antes de recomendações da OMS e o avanço da hidroxicloroquina antes da comprovações científicas devidas,por exemplo, seriam contestados e obrigariam a Corte a se posicionar sobre temas caros para Bolsonaro.Como os auxiliares de Bolsonaro se posicionam no combate ao coronavírusApoiam publicamente o isolamento totalHenrique Mandetta (Saúde)Paulo Guedes (Economia)Sergio Moro (Justiça)Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)Tereza Cristina (Agricultura)Apoiam publicamente Bolsonaro e a reabertura do comércioAbraham Weitraub (Educação)Ricardo Salles (Meio Ambiente)Arthur Weintraub (assessor especial da Presidência)Onyx Lorenzoni (Cidadania)Ernesto Araújo (Relações Exteriores)Augusto Heleno (GSI)Regina Duarte (Secretária Especial da Cultura)Publicamente afirmam uma coisa e, nos bastidores, defendem outraDamares Alves (Mulher, Direitos Humanos e Família)Jorge Oliveira (Secretaria-Geral)Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional)André Mendonça (Advocacia-Geral da União)?

Juiz bloqueia recursos do fundo eleitoral e libera usopara combate ao coronavírusOrçamento tem R$ 3 bi em 2020 para legendas; liminar diz que verba emmeio à crise vai contra a moralidade públicaO juiz titular da 4ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, Itagiba Catta Preta, bloqueou os recursos dos fundos eleitoral e

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partidário para destiná-los ao combate do novo coronavírus.Em 2020, cerca de R$ 3 bilhões do Orçamento federal foram separados para o financiamento das legendas. Cabe recurso contraa decisão de primeira instância.Catta Preta concedeu uma liminar (decisão provisória) nesta terça-feira (7) após um pedido feito em uma ação popularapresentada pelo advogado Felipe Torello.Na decisão, o juiz afirma que destinar verba para partidos políticos em meio à crise da Covid-19 vai contra a moralidade pública.No dia 27 de março, a juíza Andrea Peixoto, da 26ª Vara Federal do Rio de Janeiro, havia tomado decisão parecida. O escopo dasentença, no entanto, era restrito ao fundo eleitoral.Quatro dias depois, no entanto, o desembargador Reis Friede, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), anulou adecisão da magistrada de primeira instância.O uso de recursos dos fundos para o enfrentamento da doença tem sido uma das bandeiras de aliados de Jair Bolsonaro durantea crise.A maioria do Congresso e dos partidos, porém, é contrária. Eles argumentam que a verba é fundamental para o funcionamentoda democracia representativa.Catta Preta, porém, concordou com o autor da ação. Ele disse que neste momento da crise sanitária "se exigem sacrifícios detoda a nação"."Não podem ser poupados apenas alguns, justamente os mais poderosos, que controlam, inclusive, o Orçamento da União",escreve o magistrado.O juiz determina que os recursos dos fundos sejam bloqueados pelo Tesouro Nacional e não fiquem mais à disposição do TSE(Tribunal Superior Eleitoral). A corte é responsável por distribuir a verba.De acordo com Catta Preta, caberá ao presidente Jair Bolsonaro a definição sobre como usar o dinheiro."Os valores podem, contudo, a critério do chefe do Poder Executivo, ser usados em favor de campanhas para o combate àpandemia de coronavírus-Covid-19, ou a amenizar suas consequências econômicas", escreveu.?Os Poderes Executivo e Legislativo podem recorrer à segunda instância —no caso, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ªRegião).Outra possibilidade é algum partido apresentar um pedido de suspensão de liminar ao STF (Supremo Tribunal Federal).Catta Preta foi o magistrado responsável, em 2016, por suspender a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)para ser chefe da Casa Civil da então presidente Dilma Rousseff.A decisão gerou polêmica porque meses antes o magistrado havia publicado fotos em manifestações contra o PT.Além deste caso, o juiz ganhou visibilidade quando mandou a Caixa Econômica Federal pagar uma indenização de R$ 500 mil aocaseiro Francenildo Costa.Na ocasião, Catta Preta entendeu que Francenildo deveria ser indenizado porque teve o sigilo bancário violado em 2006 apósacusar o então ministro Antonio Palocci de frequentar de frequentar uma mansão em Brasília durante a crise do mensalão.Como Palocci negava a informação, as declarações do caseiro ganharam o noticiário da época.

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