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Florianópolis, 2007

ARQUIDIOCESE DE FLORIANÓPOLIS

CENTENÁRIO DA DIOCESE DE FLORIANÓPOLIS

1908-2008

Texto-base

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Centenário da Diocese de Florianópolis1908-2008

Texto-baseOrganização

Pe. Vitor Galdino FellerRevisão

Ir. Clea Fuck e Pe. Ney Brasil PereiraCapa e editoração eletrônica

Atta

Arquidiocese de FlorianópolisRua Esteves Júnior, 447 Centro

88015-130 Florianópolis, SCFone: (48) 3224-4799www.arquifln.org.br

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3Texto-base do Centenário da Diocese de Florianópolis

Índice

ÍNDICE

APRESENTAÇÃODom Murilo S.R. Krieger, SCJ ...................................................... 5

TEMA, LEMA E OBJETIVOS DO CENTENÁRIO ................. 7

ORAÇÃO DO CENTENÁRIO .................................................. 8

HINO DO CENTENÁRIOPe. Ney Brasil Pereira .................................................................... 9

LOGOMARCA DO CENTENÁRIOCláudio Pastro ............................................................................... 11

PROJETO DO CENTENÁRIOPe. Sérgio Maykot .......................................................................... 13

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA: DE GRAÇA RECEBESTESPe. Ney Brasil Pereira .................................................................... 19

1 De Graça Recebestes ........................................................ 202 Discípulos e Missionários ................................................ 223 Ele está no meio de nós .................................................... 244 As obras que o Senhor preparou .................................... 275 À escuta do Espírito ......................................................... 28Conclusão ................................................................................ 29

FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICAPe. Vitor Galdino Feller .......................................................................... 30

Situação histórica ................................................................... 30Motivações evangélicas ......................................................... 31Memória do passado ............................................................. 32Consciência do presente ....................................................... 35Esperança no futuro .............................................................. 39Conclusão ................................................................................ 41

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4 Texto-base do Centenário da Diocese de Florianópolis

CENTENÁRIO DE CRIAÇÃO DA DIOCESE DE FLORIANÓPOLIS: SUA HISTÓRIA, SEU POVO E SEUS PASTORESPe. José Artulino Besen .................................................................. 45

1 Antecedentes da Criação da Diocese de Florianópolis ... 452 O Povo Catarinense – Um Mosaico de Culturas ......... 533 O Clero Catarinense em 1908 ......................................... 574 Monsenhor Francisco Xavier Topp ................................ 605 Os Seminários e a Formação dos Presbíteros ............... 686 Evolução territorial do bispado de Florianópolis (1908-2007) ........................................... 727 O Governo Central (1908-2007) ...................................... 768 Dom João Becker – Primeiro Bispo de Florianópolis .... 799 Dom Joaquim Domingues de Oliveira, o zelo pela Igreja ............................................................... 8310 Dom Afonso Niehues e a renovação conciliar ............. 8911 Dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ e o Grande Jubileu .... 9612 Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ ................. 98

SÃO PIO X – O PAPA CATEQUISTAPe. José Artulino Besen .............................................................................. 100

O CENTENÁRIO EM PERGUNTAS E RESPOSTAS Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ ..................................................... 103

Índice

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5Texto-base do Centenário da Diocese de Florianópolis

APRESENTAÇÃO

Uma longa história para celebrar

O livro do Levítico reproduz uma ordem dada pelo Senhor a Moisés, no alto do monte Sinai: “Fala aos israelitas e dize-lhes: Quando entrardes na terra que vos dou (...) contareis sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos, o que dará quarenta e nove anos. Então fareis soar a trombeta... Declarareis santo o qüinquagésimo ano... Será para vós um jubileu” (Lv 25,2.8 e 10). Jubileu lembrava “júbilo”, alegria. Nessas ocasiões, ouvia-se, como mandara o Senhor, o toque da trombeta, convocando todos para uma grande celebração festiva. Como essa trombeta era feita de chifre de carneiro – “yôbel” –, a celebração pas-sou a ser identificada com o nome de “jubileu”.

Os jubileus eram, pois, celebrações que aconteciam de cinqüen-ta em cinqüenta anos e serviam para recordar, de maneira especial, que Deus é o Senhor de tudo; que os bens deste mundo são para todos, e não apenas para alguns; e que é preciso converter-se, para vi-ver em plenitude o plano de Deus. Dessa tradição bíblica nasceram os jubileus da era cristã, celebrados desde o ano 1300. A partir de 1470, porém, eles passaram a ser celebrados de 25 em 25 anos.

Mantemos o costume de fazer celebrações depois de 25, 50, 75 ou 100 anos de um acontecimento. Quando se trata de um centená-rio, então, maior é a festa. Se é uma diocese que celebra seu cente-nário de criação, consideramos estar diante de um jubileu especial – isto é, de uma ocasião para recordar que Deus é o Senhor de tudo e que é preciso nos convertermos, para vivermos em plenitude o plano de Deus.

Apresentação

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É nessa situação que nos encontramos, nós, da Arquidiocese de Florianópolis: diante de um jubileu especial. No dia 19 de março de 1908, pela bula Quum Sanctissimus Dominus Noster, o Papa Pio X criou a Diocese de Florianópolis, desmembrando-a da então Dioce-se de Curitiba e dando-lhe jurisdição sobre todo o Estado de Santa Catarina. (Dezenove anos mais tarde, a 17 de janeiro de 1927, pela bula Inter praecipuas, do Papa Pio XI, a Diocese foi elevada à catego-ria de Arquidiocese.)

Foi Pio X, também, que nomeou os primeiros bispos de Floria-nópolis: Dom João Becker (1908-1912) e Dom Joaquim Domingues de Oliveira, no dia 26/03/1914. Vale lembrar que Pio X faleceu no dia 20 de agosto de 1914, poucos dias antes da chegada de Dom Joaquim a Florianópolis, ocorrida no dia 07 de setembro. Conheci-do como o Papa da Eucaristia, foi canonizado em 1954, sendo sua memória celebrada no dia 21 de agosto.

Este texto-base do Centenário da Diocese de Florianópolis quer preparar nossas comunidades para as ações de graças, os atos de louvor e as comemorações que podem e devem ser elevadas aos céus pelos dons que recebemos nesses cem anos. Será, também, uma maneira de nos prepararmos para ouvir as advertências do Senhor, dadas por ocasião da instituição do ano jubilar: “Teme a teu Deus. Pois eu, o Senhor, sou vosso Deus. Cumpri minhas leis e observai meus decretos. Ponde-os em prática e vivereis seguros na terra” (Lv 25,17-18).

Dom Murilo S. R. Krieger SCJArcebispo de Florianópolis

Apresentação

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TEMA, LEMA E OBJETIVOS DO CENTENÁRIO

TEMA: Discípulos e missionários de Jesus Cristo.

LEMA: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10,8).

OBJETIVOS:

Geral:

– Celebrar o centenário da diocese de Florianópolis.

Específicos:

– Fazer memória do passado, recebendo-o como dom de Deus.

– Tomar consciência do presente, com a oferta de nossa res-posta de fé.

– Cultivar a esperança no futuro, através de práticas pasto-rais renovadoras.

Tema, Lema e Objetivos

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ORAÇÃO DO CENTENÁRIO

Bendito sejais, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,porque em vossa infinita bondade nos dais a graça de celebrar o centenário de criação de nossa Diocese.

Somos agradecidos pela fidelidade dos que nos antecederam,pelos bispos que aqui trabalharam,pelos padres e diáconos que vos serviram,pelos leigos e leigas que aqui viveram sua fé, e pelos religiosos e religiosas que testemunharam o Reino futuro.Os dons recebidos nos fazem lembrar a advertência de vosso Filho: “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8)

Como discípulos e missionários de Jesus Cristo,desejamos reconhecer sua presença na Palavra e na Fração do Pão e, com alegria, continuar proclamando:Ele está no meio de nós!

Queremos, Pai, fazer vossa vontade,sendo Povo Santo, Igreja diocesana,sinal do vosso amor na comunhão e na missão.

Na caminhada para vós, anima-nos a intercessão da Mãe do vosso Filho, Nossa Senhora do Desterro.

A vós, Pai, com o Filho e o Espírito Santo,honra e glória, louvor e gratidão, pelos séculos sem fim. Amém.

Oração

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HINO DO CENTENÁRIO

Hino do Centenário

Refrão: De graça recebestes, de graça dai! (bis)

1. Discípulos e missionários de Jesus Cristo, fiéis ao Evangelho, seguindo sua Cruz! Cem anos já foram passados que a diocese, criada por Pio Décimo, foi dom de Deus!

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2. Em Santa Catarina a Igreja cresceu, deu frutos: de uma só diocese, agora são dez! Com júbilo nós celebramos o centenário, regado pelo suor, pela fé, pelo amor!

3. Aos bispos que aqui trabalharam, padres, diáconos, a eles nosso preito de amor, gratidão. Aos religiosos, religiosas, leigos e leigas, a todos a memória do imenso labor!

4. O bem que nós realizamos foi pura graça, são obras que o Senhor preparou para nós! (Ef 2,8-10) Queremos acolher a todos em torno à Mesa e continuar clamando: “Ele está entre nós!”

5. Maria, Mãe de Deus e nossa, Mãe do Desterro, conosco ela caminhe e nos mostre Jesus! E Catarina, a Padroeira, Virgem e Mártir, alcance-nos coragem, firmeza na fé!

6. Queremos, Pai, ser vosso povo, Igreja santa, Sinal do vosso amor, comunhão e missão! O nosso ouvido está atento à voz do Espírito, O Espírito que fala às Igrejas nos diz (Ap 2,7): De graça recebestes, de graça dai!

Hino do Centenário

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LOGOMARCA DO CENTENÁRIO

Cláudio Pastro

Logomarca do Centenário

A logomarca do Centená-rio, do mesmo autor da logo-marca do 15º Congresso Eu-carístico Nacional, o artista plástico Cláudio Pastro, nos ajuda a refletir sobre temas im-portantes de nossa centenária caminhada eclesial.

Eis a explicação dada pelo próprio autor da logomarca:

• A mancha de cor vinho apon-ta para três realidades: o mistério de nossa Redenção, o Sangue Eucarístico e o testemunho da Igreja local nos cem anos de sua história (testemunho de milhares de batizados e batizadas, leigos e leigas, religiosos e religiosas, diáconos, presbíteros, bispos).

• A cruz é o sinal do cristão, também sinal do mistério da Redenção, e, por isso, só pode estar ao centro da logomarca e de nossa história. Tem o braço vertical na forma de bácu-lo: alusão aos bispos que estiveram e estão conosco nesses cem anos. Como apóstolos, são representantes de Cristo Pastor entre nós.

• O Evangelho, o Pão e o Cálice são clara representação do Mistério da Eucaristia, através da qual nossa diocese vive

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sua unidade e sua missão. Nela se concentram todas as pre-senças do Senhor: “Ele está no meio de nós!”. O Evangelho é, também, alusão ao programa de vida da Arquidiocese: “Evangelizar!”

• O peixe, desde o início do cristianismo, é símbolo do cris-tão. Os peixes da logomarca correspondem aos cristãos da Arquidiocese, o que fica mais explícito numa Igreja, como a nossa, localizada à beira-mar. Mas ganha um sentido es-pecial à luz do Evangelho da multiplicação dos pães que, na prática da Caridade, dá continuidade ao milagre do Se-nhor em favor da vida para todos.

• As datas 1908-2008 estão unidas, através do número 8, pela cruz do Cristo. De fato, é somente no mistério de Cristo que nossa história encontra seu verdadeiro sentido. O número 8 colocado na horizontal representa também o infinito. Em nosso tempo histórico se revela a eternidade de Deus.

• Os três traços inferiores, na forma de água, lembram a ação do tempo e do Espírito agindo (movimentando-se) na Igre-ja local. Lembram, também, o Batismo e a missão de cada um de nós e de todos que fizeram a sua parte na constru-ção da história de nossa igreja diocesana.

Enfim, a partir de agora, essa logomarca poderá estar presente na vida de nossa Arquidiocese, de nossas comunidades, de nossas pastorais e movimentos, colaborando para que possamos, aos pou-cos, ir entrando no espírito que nos motivará e conduzirá durante o ano de 2008: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10,8).

Logomarca do Centenário

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PROJETO DO CENTENÁRIO

Pe. Sérgio Maykot

Um sonho de cem anos

No dia 19 de março de 2008 celebraremos os cem anos de cria-ção da Diocese de Florianópolis. Depois de termos vivido os dias movimentados e apaixonantes do 15º Congresso Eucarístico Nacio-nal, ocorreu a muita gente que celebrar não é apenas motivo para fazer festa. Com o espírito do Congresso Eucarístico, deu-se logo início aos preparativos para a celebração do Centenário. Viu-se que celebrar também é motivo de encontrar amigos, de lutar ombro a ombro na preparação do evento, de reviver e sublinhar os valores da nossa família de fé. A idéia começou a ser trabalhada, e pensa-mos não apenas em uma celebração, mas em muitas celebrações, já que centenário é um ano inteiro.

A gente fica sonhando com esses cem anos de diocese. Quan-tas pessoas estiveram à nossa frente na caminhada! Quanta gente deixou um pouco do seu suor e do seu sangue na construção desta Igreja abençoada! Como é bom rever, como é bom celebrar, como é bom sonhar para o futuro!

Uma história rica e desconhecida

Quando nos propusemos olhar para trás e rever nossa história, não pensamos apenas em conhecer curiosidades sobre o passado. A história de nossa Diocese não é como um romance qualquer, que não tem nada a ver com nossa vida pessoal. Na história da Diocese vamos conhecer as pessoas que moldaram nossa Igreja, que cons-

Projeto do Centenário

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truíram prédios, fundaram grupos, atenderam pobres, ensinaram nas escolas, concretizaram o Reino de Deus entre nós. E é conhecen-do nossa história que entenderemos melhor porque nossa religião é assim, porque nossa fé é desse jeito. Vai ser bonito lembrar os velhos açorianos, participantes de uma Igreja oficial, mas também cheia de tradições e de gestos de fé. Alemães e italianos que vão chegando com sua Igreja mais organizada, mas mais formal. E também a in-fluência de outras minorias, como os negros, poloneses, ucranianos, os libaneses, os índios e os brasileiros de outros cantos que iam des-cobrindo as maravilhas da terra catarinense. Tudo é história, tudo é raiz da realidade que hoje vivemos.

Gostaríamos muito de que o centenário fosse uma oportuni-dade para aprendermos a cultivar entre nós a história. Tem muito neto que não sabe o nome de seu avô. Tem muita dona de casa ze-losa que joga aquelas velhas fotos amareladas no lixo, sem saber o tesouro que tem nas mãos. Tem muito padre que nunca leu o Livro de Tombo deixado por seus antecessores. Vocês já imaginaram se, no ano do centenário, nossa Paróquia resolvesse fazer uma exposi-ção de velhas fotos e de textos antigos dos nossos arquivos? Talvez alguém encontre no baú alguma velha roupa que os bisavós trouxe-ram da Alemanha. Talvez alguém encontre um missal dos antigos, ainda escrito em latim.

Fico imaginando as crianças do Colégio entrevistando seus avós ou seus velhos tios. A escola vai crescer, porque o material re-colhido vai ser arquivado pela professora, que sabe que também está fazendo história. Vai ser uma festa, se entrarmos dentro do es-pírito do centenário.

Quem aprende verdadeiramente com a história, evita erros que foram cometidos no passado. Não é apenas uma questão de saudosismo e nem mesmo de voltar a coisas ultrapassadas. É apren-der a dar respostas novas para os novos problemas, como fizeram nossos antepassados. E aprender também que somos parte da his-tória, que cada ação nossa deve ser feita com responsabilidade, por-que, juntos, estamos construindo um mundo novo, um mundo do tamanho dos nossos sonhos.

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É tempo de celebrar

Celebrar é tornar célebre. É sublinhar o significado do mo-mento. Na nossa vida de cada dia é um pouco assim: celebramos o nascimento da criança, a primeira comunhão do menino, os quinze anos da menina-moça, o casamento, as bodas. Celebramos até coi-sas mais simples, como a inauguração da casa, a compra do carro novo ou a vitória do nosso time.

Quando falamos em celebrar o centenário, logo nos vem à mente a celebração do 15º Congresso Eucarístico Nacional. Foram quatro dias de celebrações. Aí logo começam as diferenças: o cen-tenário é um ano inteiro. Ficamos pensando numa celebração no Estádio, bonita e bem preparada. Mas pensamos também que nossa Arquidiocese tem hoje 1,4 milhões de habitantes. Precisamos, então, celebrar em diversos níveis e em diversos momentos do ano-cente-nário, para atingirmos mais gente.

A idéia seria que cada paróquia criasse sua equipe do centená-rio. Ela dinamizaria na comunidade a idéia da celebração. De posse do material do texto-base e dos folders preparados pela comissão central, a comissão paroquial tentaria “vender” a idéia do centená-rio nos Grupos Bíblicos em Família, nas pastorais, nos movimentos e em todos os grupos das nossas comunidades.

Além das celebrações em paróquias, pensamos que cada co-marca poderia ter também o seu dia de celebração, possivelmente em agosto ou setembro. Serviria para unir e organizar ainda mais nossas lideranças em nível de comarca. Daí a importância de que cada pastoral e movimento estejam representados na sua comarca.

E haverá o grande momento da celebração arquidiocesana. Ela fechará o ano litúrgico e o ano do centenário: dia 23 de novem-bro de 2008. Esperamos que seja um momento muito particular de entusiasmo e unidade da nossa família arquidiocesana, até com participação das outras dioceses que nasceram de Florianópolis.

Em nível de arquidiocese, as celebrações não precisariam re-sumir-se apenas ao domingo de Cristo Rei. Poderíamos trazer um cantor nacional para animar um dos nossos finais de semana? Po-deríamos provocar uma grande exposição de fotografias e, sobre-

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tudo, de documentos antigos? Alguém poderia pensar em oferecer uma grande refeição popular? Pintores, músicos, artistas, poderiam aparecer com alguma outra idéia diferente? Os senhores deputados gostariam de marcar a data com uma sessão especial? Aceitam-se idéias, desde que sejam realizáveis.

Discípulos e missionários de Jesus Cristo

Se todos os grupos, pastorais e movimentos forem atingidos, teríamos cumprido nossa missão? Mas em de longe. Se você con-tar pelos dedos quantas pessoas vão à missa ou freqüentam a Igre-ja, verá que nem dez por cento dos nossos católicos se reúnem na comunidade. Precisamos atingir os outros noventa por cento. Em muitas paróquias, os ministros da visitação e da bênção mostraram, durante a preparação do Congresso, que é possível e gostoso visitar as famílias e as pessoas em geral. Aliás, nossos irmãos evangélicos já fazem isso há tempo, e com muito sucesso.

Gostaríamos de que o centenário mexesse com nossos dons e nossos brios missionários. A V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, reunida em maio de 2007, veio reafirmar mais uma vez o nosso compromisso de transbordarmos nossa fé para o mundo de hoje. E o próprio Jesus deixou dito que ser discípulo é também ser missionário. No ano do Centenário, nossa celebração também se traduz em missão. Todas as paróquias e comunidades pre-cisam pegar junto. Para facilitar o trabalho, vamos formar uma rede de missionários. Cada comarca, com a ajuda da Comissão de Pastoral do Centenário, vai preparar um grupo de palestrantes. Esses, por sua vez, vão marcar encontro com as lideranças das paróquias, e vão pre-pará-las para o Ministério da Visitação e da Bênção.

Quando? A preparação começará no segundo semestre de 2007. Na quaresma de 2008, os ministros recebem os últimos con-teúdos e a parte prática de sua formação. E partem para a missão durante o tempo da Páscoa. Dois a dois, dividem-se as ruas ou as comunidades, arregaçam as mangas e começam seu trabalho.

Há uma diferença em relação ao trabalho do Congresso. Não se vai apenas entregar um programa de celebração. A idéia é de parar um pouco mais para escutar, sobretudo os pobres, os idosos,

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as famílias e todos os necessitados. A idéia também é de dar infor-mações sobre nossa paróquia: horários, organização, maneiras de participar.

Havendo necessidade e gente, cada paróquia poderia ter dois grupos distintos: os que programam as celebrações e os que fazem um trabalho missionário.

Colocando um pouco de ordem no entusiasmo

A abertura do Ano do Centenário se dará em Itajaí. Será na quarta-feira santa, no Colégio São José. Padres e Bispos concelebra-rão a missa do Crisma, com a participação de peregrinações de to-das as paróquias. Ao final, numa cerimônia simples, mas bonita, o Senhor Arcebispo dará abertura às comemorações.

Uma sugestão seria de que cada paróquia fizesse o envio de seus missionários na abertura do tempo pascal. Casas e famílias se-riam visitadas até o dia de Pentecostes. A partir daí, cada paróquia faria sua celebração. A Comissão de Liturgia do Centenário fará su-gestões, mas cada paróquia poderá usar de sua criatividade.

Em agosto-setembro, as comarcas farão seu momento de cele-bração. A equipe que preparou os ministros também se encarregará de provocar este momento, não só como uma lembrança da história do centenário, mas também como agradecimento pelo trabalho dos missionários que estará se encerrando.

No dia 23 de novembro será a grande concentração de encer-ramento. O local, o Estádio Orlando Scarpelli, amplo e cômodo para facilitar os louvores que queremos fazer subir ao Senhor por tantas graças que recebemos nestes cem anos.

Pensando no futuro

E depois que a celebração final acabar? A vida continua, a Igreja continua. Mas queremos que o Centenário seja celebrado de tal forma que o futuro seja ainda melhor. Precisamos nos perguntar que Igreja responde melhor aos questionamentos do nosso tempo. Há muitos desafios no ar, pedindo-nos respostas. Nossa Arquidio-cese cresce explosivamente. Um urbanismo sem o necessário plane-

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jamento dificulta a vida dos nossos irmãos e irmãs e os faz muitas vezes tomar caminhos errados de vida. Como vamos ser instrumen-tos de transformação numa realidade tão cheia de problemas? Há um número muito grande de questões a serem repensadas, em bus-ca de um espaço de aprofundamento. Depende sempre do nosso entusiasmo e do nosso amor pela Mãe Igreja.

E poderia nos ajudar se pensássemos também num levanta-mento mais cientifico da nossa realidade social e religiosa. Um le-vantamento que nos mostrasse não apenas números, mas, sobretu-do, a situação da nossa Igreja e da nossa fé.

O que queremos com tudo isso?

Como objetivo maior da celebração do centenário, pensamos, em primeiro lugar, em criar uma consciência mais profunda de Igreja. Já sabemos que ela não é apenas uma construção ou uma or-ganização, mas uma grande família de fé. Nosso ser cristão vai além da nossa família, do nosso movimento ou da nossa paróquia. Somos parte de uma diocese, de uma família de fé que se organiza.

Conhecendo nossas origens, sabemos melhor porque somos assim, e como poderemos planejar o nosso futuro, atendo-nos à es-sência do que nos ensinou Jesus, e inculturando sua mensagem no nosso meio e no nosso tempo.

De graça recebestes, de graça dai!

Nossa missão continua. E temos a certeza de que não estamos sozinhos. Ele, Jesus, nos prometeu que estaria conosco nesta cami-nhada. Como fez com os discípulos de Emaús, “Ele está no meio de nós”. Nós o reconhecemos no partir do pão, e voltamos para a Je-rusalém confusa e medrosa, para dizer: Nós o vimos, nós fizemos a experiência da sua presença. De graça recebemos, de graça damos.

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FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA: DE GRAÇA RECEBESTES

Pe. Ney Brasil Pereira

O lema escolhido para a celebração do centenário de criação da diocese de Florianópolis é a palavra do Senhor Jesus a seus discípu-los, no chamado “discurso da Missão”, em Mt 10: De graça recebestes, de graça dai! (Mt 10,8). O tema, coincidindo com o da V Conferência do episcopado latino-americano e caribenho, realizada em Apareci-da, quer levar-nos a tirar as conseqüências do fato de que, por nosso batismo, somos discípulos e missionários de Jesus Cristo, “discípulos e missionários” como os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). A Oração do Centenário nos convida a continuar proclamando, como o fize-mos insistentemente no 15º Congresso Eucarístico Nacional: Ele está no meio de nós! (cf Ex 17,7). O Hino do Centenário nos lembra que “o bem que realizamos foi pura graça: são obras que o Senhor preparou para nós”, como nos ensina Paulo na carta aos efésios (Ef 2,8-10). Por último, nesta comemoração, que envolve especialmente nossa igreja particular, “a igreja que está em Florianópolis” (cf Ap 2,1), sentimo-nos mais que nunca motivados a pôr-nos à escuta do que o Espírito diz às igrejas (Ap 2,7), portanto, o que Ele diz a nós agora, à nossa igreja particular, aqui.

O objetivo do artigo é simplesmente ajudar a aprofundar o sentido destas passagens bíblicas inspiradoras. Mesmo sem esmiu-çar-lhes a análise exegética, o autor espera contribuir para a sua melhor compreensão, em vista do seu melhor aproveitamento na celebração do Centenário.

Fundamentação Bíblica

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1 De graça recebestes

Esta palavra de Jesus – de graça recebestes, de graça dai – encon-tra-se somente em Mateus, no conjunto das instruções dadas aos “doze apóstolos”, no chamado “discurso da missão” (Mt 10,5-42). Mateus, como sempre, reúne num conjunto, mais completo, as ins-truções que se encontram sintetizadas nas passagens paralelas de Lucas (Lc 9,1-6: a missão dos Doze e 10,1-16: a missão dos Setenta e dois) e de Marcos (Mc 6,7-13). Como nosso interesse aqui se con-centra na palavra como tal, vejamos seu sentido em seu contexto. O contexto, portanto, é o do mencionado “discurso da missão”. Ma-teus refere que Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermida-des (10,1). A seguir, depois de mencionar os Doze, os “doze apósto-los”, pelo nome (10,2-4), o evangelista recorda a recomendação que lhes é feita de se dirigirem antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel (10,6), deixando para um segundo tempo a missão entre os gentios e, também, entre os samaritanos (cf 10,5). A missão, agora, é dupla: proclamar que o Reino dos céus está próximo (10,7) e curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os demônios (10,8). Portanto, evangelizar e, paralelamente, curar. A propósito, apesar de o ministério da cura estar profissionalizado na medicina e na en-fermagem, não estaremos simplesmente deixando-o de lado? Não seria o caso de valorizar mais a pastoral da saúde e o próprio minis-tério da cura?

É nesta altura que Jesus, mesmo reconhecendo que o operário é digno do seu sustento (10,10), ordena aos discípulos darem de graça o que de graça receberam (10,8). O que é que “receberam de graça”? Exatamente a autoridade, o poder, de expulsar os demônios e curar os enfermos (cf 10,1). Não podem, portanto, mercadejar com esse poder, ou seja, praticar a simonia, como Simão o mago quis indu-zir Pedro a fazer (cf At 8,18-20). Não podem servir-se do ministério para benefício próprio, tirar vantagens econômicas, enriquecer-se, cedendo à tentação na qual tantos têm caído e ainda hoje caem. Por outro lado, não podem reter ociosa e mesquinhamente esse dom, mas dele devem fazer uso abundante e generoso: por isso e para isso é que o receberam de graça.

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A propósito, indo mais a fundo na expressão “de graça”, é interessante notar que o termo grego correspondente, em Mt 10,8, é o advérbio dôreán, que literalmente se refere mais a “dom”, “presen-te” (gr. dôron), que a “graça” (cháris). Assim, a tradução literal seria: “de presente recebestes, de presente dai”, embora praticamente todas as edições da Bíblia em português prefiram a expressão tradicional “de graça”1. Em mais outras quatro passagens do Novo Testamento encontramos o mesmo advérbio, com idêntico sentido, embora tra-duzido “gratuitamente”: em Rm 3,24, 2Cor 11,7 e Ap 21,6 e 22,17. Na carta aos romanos, depois de ter lembrado que “todos pecamos e estamos privados da glória da Deus”, Paulo afirma que “só pode-mos ser justificados gratuitamente (gr. dôreán), pela sua graça (gr. tê autou cháriti), em virtude da redenção no Cristo Jesus” (Rm 3,24). Na segunda carta aos coríntios, o mesmo Paulo, defendendo-se dos que o caluniavam, faz-lhes esta pergunta: “Acaso cometi algum pecado, pelo fato de vos ter anunciado gratuitamente (dôreán) o evangelho de Deus, tendo-me para isso humilhado a fim de que fôsseis exal-tados?” (2Cor 11,7). No penúltimo capítulo do Apocalipse, entre os passos da renovação de todas as coisas, ouvimos a magnífica pro-messa do próprio Deus, confirmando o profeta Isaías (Is 55,1): “A quem tiver sede eu darei, gratuitamente (gr. dôreán), da fonte da água da vida” (Ap 21,6). A mesma promessa o próprio vidente a repete, quase no final do livro: “Quem tem sede, venha, e quem quiser, re-ceba gratuitamente (dôreán) da água da vida” (Ap 22,17).

Quanto ao motivo de ter-se escolhido como lema das come-morações do Centenário exatamente esta palavra de Jesus – de graça recebestes, de graça dai –, a razão parece óbvia. Tantos dons de Deus, tantos esforços humanos, tanta generosidade, tanto empenho, tanta dedicação, tanta perseverança, messe tão abundante de tão laborio-sa sementeira, ao longo destes cem anos... tudo isso, que constitui a Igreja hoje, em Santa Catarina, tudo isso recebemos de graça, gratui-tamente, de presente! É justo, portanto, que agora nos empenhemos nós, tão generosamente e tão gratuitamente como os que nos prece-deram. De graça recebemos tanto – de graça, agora, devemos dar!

1 Única exceção, parece-me, é a da “Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje” (Ed. Paulinas, 2005): Vocês receberam sem pagar; portanto, dêem sem cobrar.

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Um detalhe importante, porém, não pode ser esquecido no comentário ao nosso lema. É a participação daqueles, tantos, que, ao longo destes cem anos e mesmo agora, no contexto de nossas co-memorações, foram e continuam sendo excluídos dos benefícios que nós agradecemos. Como fazer com que eles participem do nosso agradecimento e da nossa gratuidade, senão redobrando o esfor-ço, em cada uma de nossas paróquias e em cada comunidade, para que os excluídos sejam afinal incluídos e, assim, conosco, possam ter motivos concretos para dar de graça o que de graça também eles tenham recebido?

2 Discípulos e missionários

É sabido que a V Conferência do Episcopado latino-americano e caribenho em Aparecida, em maio de 2007, teve como tema: Discí-pulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham Vida. Por isso, uma vez que a realização desse grande acontecimento eclesial coincidiu com a preparação imediata das comemorações do nosso Centenário, parece realmente oportuno que se retome, aqui entre nós, o mesmo tema, embora sintetizado: Discípulos e missioná-rios de Jesus Cristo.

É uma fórmula sintética, que resume em duas palavras o que distingue o cristão: ser discípulo de Jesus Cristo e, ipso facto, ser seu evangelizador, anunciador, missionário. O Hino do Centenário assim interpreta o tema: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, fiéis ao Evangelho, seguindo sua Cruz!” Ora, o discipulado, ser discípu-lo, remete ao Mestre, Cristo, idêntico com Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. E o ser missionário, atuar na missão, implícita e explicita-mente cristã, é “continuar a obra de Jesus na história – justamente o anúncio e a instauração do Reino – sob o dinamismo do Espírito de Pentecostes”.2 O discipulado, portanto, brota espontâneo da leitu-ra dos quatro evangelhos, que nos põem em contacto direto com a pessoa e o ensinamento do Mestre, que se apresenta a nós como “o Caminho” (cf Jo 14,6), e que exige de seus discípulos a renúncia de

2 Cf BRIGHENTI, Agenor, “Algumas coordenadas teológicas em torno ao discipulado e à missão na América Latina hoje”, in Encontros Teoló-gicos n. 45 (2006/3), p. 22.

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si mesmos e o seguimento até a Cruz (cf Lc 14,26-27.33). A missão, por sua vez, inspira-se nos Atos dos Apóstolos, que nos descrevem a realização, passo a passo, do mandato missionário do Senhor: Re-cebereis o poder do Espírito Santo, que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e a Samaria, e até os confins da terra (At 1,8). Missionários, portanto, que não poderão sê-lo se-não como “testemunhas” e, mesmo, sendo o caso, como mártires.

Vejamos, porém, entre tantos outros textos que nos ajudam, em nossa igreja particular centenária, a vivenciar o discipulado e a missão, a página em que Lucas apresenta a bela experiência pascal dos “discípulos de Emaús” (Lc 24,13-35). Apesar de a conhecermos bem, porque anualmente a ouvimos no tempo da Páscoa, interessa-nos relê-la, e ressaltar este ou aquele detalhe. São “dois” os discípu-los, lembrando a instrução que encontramos em Mc 6,7: Chamou a si os Doze, e começou a enviá-los dois a dois (cf também Lc 10,1). Estes “dois”, um dos quais tem nome, Cléofas, estão deixando Jerusalém e dirigem-se a Emaús, provavelmente seu povoado de origem. Seu objetivo, porém, agora, não é a missão. Pelo contrário, é a desistên-cia, o desencanto. Porque “já fazia três dias” que tinha acontecido a tragédia (cf v. 21). E eles, que “haviam esperado” fosse Jesus o li-bertador de Israel, estavam desistindo, “escandalizados” com a sua Paixão. É aí que o próprio Ressuscitado se manifesta a eles. Corpo-ralmente, mas numa corporeidade diferente, que eles, desanima-dos, não conseguem reconhecer. Contudo, pelo fato de aceitarem o desconhecido como companheiro de viagem e de diálogo, as coisas começam a ficar claras.

A pergunta de Cléofas, estranhando que o “forasteiro” nada soubesse do acontecido em Jerusalém (cf v.18), parece uma ironia: de fato, são eles, os dois discípulos, que não se deram conta do que realmente aconteceu.3 O desconhecido, no entanto, aceita ser infor-mado. É o momento em que, provocados por ele, verbalizam o que pensam e sentem a respeito de Jesus, “um profeta poderoso em obras e palavras”, no entanto rejeitado pelos chefes, condenado e crucifica-do (vv. 19-20). Informam também que “algumas mulheres do nosso

3 Cf ALONSO SCHÖKEL, Luís, Bíblia do Peregrino, São Paulo, Paulus, 2002, pp. 2539-2541.

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grupo”, indo ao túmulo, não encontraram o corpo, tiveram uma vi-são de anjos, mas ninguém o viu... (vv. 22-24). É então que começa, da parte do forasteiro, a grande aula pascal de exegese da Escritura (vv. 25-27). Os discípulos, empolgados com as passagens referen-tes ao Messias triunfante, haviam-se esquecido do retrato isaiano do Servo Sofredor, da paixão de Jeremias, dos orantes sofredores dos Salmos. No entanto, Jesus viera para assumir toda a Escritura, a qual doravante só poderá ser entendida à luz da sua Páscoa: a sua morte e ressurreição.

Nesse meio tempo, haviam chegado a Emaús. Conquistados pela sabedoria e bondade do forasteiro, os dois o convidam a pernoitar com eles: Fica conosco, pois é tarde e o dia está terminando! (v. 29). O desconhe-cido, agora já amado, põe-se à mesa, e recebe – ou assume – a honra de presidir. Seguem-se os gestos eucarísticos: bênção, fração, partilha do pão (v. 30). É então que se lhes abrem os olhos: e eles, antes chamados de “sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram” (v. 25), reconhecem agora no caminheiro, já seu hóspede, o Mestre ressus-citado. A revelação acontece, portanto, na partilha: começa na partilha da vida, continua na partilha da casa, consuma-se na partilha do pão. Uma vez reconhecido, sua presença física não é mais necessária. Eles, porém, “com o coração abrasado” (v. 37), retomam imediatamente o impulso da missão. Não conseguem guardar para si a descoberta. Sem levar em conta os quilômetros de distância e o adiantado da hora, vol-tam para Jerusalém, retornando à comunidade. Lá encontram os Onze, com os outros discípulos, excitados porque “o Senhor aparecera a Si-mão” (v.34), e lhes contam o que acontecera com eles no caminho, e como o haviam reconhecido ao partir o pão (35). A seguir, agora reinseridos na comunidade, os dois têm a oportunidade de rever Jesus, junto com os companheiros, na última aparição descrita por Lucas (24 36-49). Foi quando, depois de mostrar-lhes as mãos e os pés e comer à vista de todos, o Ressuscitado confirmou-os na missão. Que Ele nos confirme, a nós também, como discípulos e missionários, fiéis ao Evangelho e seguindo sua Cruz, para partilharmos da sua Ressurreição.

3 Ele está no meio de nós

No Hino do 15º Congresso Eucarístico Nacional, depois de serem recordadas as várias presenças do Senhor – na Eucaristia, na

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comunidade reunida, na Palavra, nos necessitados, nos sucessores dos Apóstolos – a quinta estrofe assim as resumia: “Tantas são as ma-neiras da presença / da presença daquele que é o Senhor: / a presença real no Sacramento / é sinal, é penhor do seu Amor!” A certeza desta Presença, especialmente na comunidade reunida, é a que nos faz proclamar, várias vezes, durante as nossas celebrações: Ele está no meio de nós! Ora, se realmente vivêssemos conscientes dessa multiforme e cons-tante Presença, a vida da nossa igreja particular centenária, a nossa vida cristã, seria ainda melhor! Vale, pois, a pena, o esforço de cres-cer nessa consciência.

Nesse sentido, sem pretender ser exaustivo, e sem ultrapassar os limites deste artigo, vamos examinar as passagens bíblicas onde encontramos essa expressão. O primeiro caso em que ela ocorre, li-teralmente, está no livro do Êxodo. É a passagem intrigante em que o povo, revoltado com a falta de água no deserto, provocou Moisés, questionando: Afinal, o Senhor está, ou não está, no meio de nós? (Ex 17,7). No livro dos Números, também no contexto das murmura-ções contra Deus, Moisés interpela o povo, dizendo: Vós rejeitastes o Senhor, que está no meio de vós, e vos lamentastes diante d’Ele, dizen-do: Por que saímos do Egito? (Nm 11,20) No início do livro do Deu-teronômio, o próprio Deus, através de Moisés, ameaça o povo de abandoná-los, de “não estar com eles”, caso se metam numa batalha temerária: Não tenteis subir a montanha e não combatais, porque eu não estarei no meio de vós (Dt 1,42). No final do Deuteronômio, ouvimos os próprios israelitas confessarem, ao serem atingidos pelos casti-gos divinos: Não nos alcançaram estes males, exatamente porque o nosso Deus não está mais no meio de nós? (Dt 31,17) No livro de Josué, reco-nhecendo a fidelidade das tribos de Rubem, de Gad e de Manassés, o sacerdote Finéias declara: Hoje sabemos que o Senhor está no meio de nós, porque não cometestes infidelidade contra Ele (Js 22,31).

Ao interceder pelo povo, numa grande seca, depois de ousa-damente acusar a Deus de parecer “um valente incapaz de salvar”, Jeremias confia: Tu, no entanto, estás no meio de nós, Senhor! Fomos con-sagrados ao teu nome, não nos abandones! (Jr 14,9). No final do livro de Ezequiel, o profeta ouve do próprio Deus a promessa de voltar a ha-bitar no meio do seu povo, em Jerusalém: Este é o lugar do meu trono, o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel

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para sempre (Ez 43,7). Entretanto, no contexto das denúncias contra os chefes do povo, os sacerdotes, e os falsos profetas, Miquéias lhes lança em rosto a desfaçatez de ainda quererem apoiar-se no Senhor, dizendo o que em seus lábios é uma blasfêmia: Não está o Senhor no meio de nós? (Mq 3,11) No contexto da restauração pós-exílica, Ageu convoca à ação Zorobabel, Josedec e todo o povo, assegurando-lhes, em nome de Deus: Porque eu estou convosco, diz o Senhor dos exércitos, segundo a palavra da Aliança que fiz convosco, quando saístes do Egito. O meu Espírito habita no meio de vós, não temais (Ag 2,4-5). No perío-do pós-exílico e posteriormente, no ensinamento rabínico, começou a empregar-se o termo shekînâ, do verbo shâkân, habitar, designati-vo da Presença de Deus, ao mesmo tempo que não se esquecia sua transcendência. A shekînâ se manifestava especialmente no Templo e em determinadas circunstâncias. A propósito, o targum de Ônkelos, redigido na era cristã, assim traduz Ex 25,8: “Farei habitar minha Shekînâ no meio deles.4

No Novo Testamento, o evangelho segundo Mateus vê realiza-da em Jesus a profecia do Emanuel (Is 7,14): Ele é o Deus-conosco (Mt 1,23); onde dois ou mais se reunirem em Seu nome, Ele está no meio deles (Mt 18,20); finalmente, Ressuscitado, Ele se despede de seus dis-cípulos com esta solene promessa: Eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28,20). Em Lucas, ao insistir com seus discípulos na atitude do serviço, Jesus assim se caracteriza: Eu estou no meio de vós como quem serve (Lc 22,27). Em João, o Precursor adverte aos emis-sários de Jerusalém e, neles, também a nós: No meio de vós está Aquele que vós não conheceis (Jo 1,26). Escrevendo aos coríntios, ao aconselhar-lhes ordem nas assembléias, e contrapondo os carismas da glossolalia e da profecia, Paulo afirma que a profecia arguirá o descrente, o qual, tocado em seu coração, se prostrará por terra e proclamará: Verdadei-ramente, Deus está no meio de vós! (cf 1Cor 14,24-25)

Concluindo: esta presença de Deus, de seu Filho e de seu Es-pírito, no meio de nós, é ao mesmo tempo uma bênção, presença pro-tetora, se formos fiéis, ou uma não-bênção, se não a respeitarmos ou dela não formos dignos.

4 Cf JENNI,E., e WESTERMANN,C., Diccionario Teologico Manual del An-tiguo Testamento, vol. II, Madrid, Ed. Cristiandad, col. 1141.

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4 As obras que o Senhor preparou

Faz parte das comemorações do Centenário recordar as obras realizadas, os resultados, seus autores, as grandes e pequenas figu-ras que contribuíram, cada uma a seu modo, para que se chegasse a criar a Diocese, em 1908, e para que, ao longo destes 100 anos, se chegasse à Província Eclesiástica de Florianópolis e ao Regional Sul IV da CNBB com as 10 Dioceses que agora o constituem. É justo recordar, apreciar, exaltar. No entanto, aos olhos da fé, como nos lembra uma das estrofes do Hino do Centenário, inspirando-nos na carta aos efésios (Ef 2, 8-10), não podemos esquecer que “o bem que realizamos / foi pura graça: / são obras que o Senhor preparou para nós! ” Isto é, as boas obras que realizamos, excelentes, pequenas ou grandes, foi Ele quem no-las inspirou e fez com que as realizásse-mos. A Ele, pois, em primeiro lugar, toda a honra e toda a glória.

Mas vejamos, na carta aos efésios, o contexto em que Paulo nos dá esse ensinamento. Depois de ter afirmado que “em nós, por sua bondade para conosco no Cristo Jesus, Deus quis mostrar, para os sé-culos futuros, a incomparável riqueza de sua graça” (Ef 2,7), o Apóstolo sintetiza, em três versículos, a sua doutrina sobre a graça de Deus. É a doutrina longamente desenvolvida nas cartas aos gálatas e aos romanos, no contexto da sua luta contra os judaizantes, que insis-tiam no valor salvífico das obras rituais da Lei. Eis o que ele ensina: “É pela graça (gr. cháris) que fostes salvos, mediante a fé. E isso não vem de vós: é dom (gr. dôron) de Deus! Não vem das obras, de modo que nin-guém pode gloriar-se. Pois foi Deus quem nos fez, criando-nos no Cristo Jesus, em vista das boas obras que Ele preparou de antemão, para que nós as praticássemos ” (Ef 2,8-10). Assim, num paradoxo tipicamente paulino, não foram as nossas obras que nos salvaram, mas, pelo contrário, salvos pela fé, Deus nos salvou em vista das boas obras que Ele preparou de antemão para nós. Isto é, as obras que fizemos, e as que estamos realizando, são todas “preparadas por Deus” para nós, de graça, para que as pratiquemos. Desse modo, nenhum de nós se glorie, ninguém queira gloriar-se (Ef 2,9) do que fez ou esteja fazendo. Se foi de graça que Deus preparou essas obras para nós, então devemos praticá-las de graça, como nos lembra o nosso lema: De graça recebestes, de graça dai!

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5 À escuta do Espírito

É conhecido, nos evangelhos sinóticos, o apelo de Jesus à aten-ção, à reflexão sobre o que ele disse ou vai dizer, com as palavras: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Assim, em Mc 4,9 e 4,23 e em Lc 8,8 e 14,35. Em Mateus, a fórmula é mais breve: Quem tem ouvi-dos, ouça! (Mt 11,15; 13,9; 13,43). A mesma fórmula, com pequena variante, é empregada também pelo autor do Apocalipse, mais ou menos pela metade do livro: Se alguém tem ouvidos, ouça (Ap 13,9). No mesmo livro do Apocalipse, porém, nos capítulos 2 e 3, no final de cada uma das cartas às sete igrejas, o autor desdobra a fórmula, escrevendo: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22). É, pois, inspirando-se nessa passagem, que a última estrofe do Hino do Centenário termina assim: “O nosso ou-vido está atento / à voz do Espírito. O Espírito que fala às Igrejas nos diz: “De graça recebestes, de graça dai!”

Para entendermos o sentido desse insistente apelo à escuta da voz do Espírito, é preciso examinar o seu contexto. Esse apelo encontra-se, como já foi dito, nos capítulos 2 e 3 do livro do Apo-calipse, capítulos que se distinguem do restante do livro. A partir do capítulo 4º começa a parte propriamente apocalíptica, na qual o Cordeiro Imolado descerra os sete selos do livro da história (Ap 6-7), seguindo-se a secção das trombetas (Ap 8-11), a dos sinais (Ap 12-17), o julgamento da Prostituta, Babilônia (Ap 17-18) e o triunfo da Esposa, Jerusalém, e a nova criação (Ap 19-22). Na parte inicial (Ap 1-3), após a visão inaugural do Filho do Homem, que manda João escrever “às sete igrejas” da Ásia (Ap 1,11), temos, nos capítu-los 2 e 3, o teor de cada uma das cartas “ao anjo”, provavelmente o bispo, de cada igreja. Se no final do livro a Esposa designa a Igreja no seu conjunto, nestes dois capítulos o autor privilegia a visão da “igreja particular”, hoje dizemos, a diocese. O fato de serem “sete” designa, simbolicamente, a totalidade das igrejas, ou seja, a Igreja, mas sem perder a característica da particularidade que as constitui: são aquelas sete igrejas determinadas, identificadas pelo nome, na então província romana da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia. Naturalmente, hoje, entre nós, as igre-jas são, em ordem cronológica: Florianópolis, Joinville, Lages, Tuba-rão, Chapecó, Caçador, Rio do Sul, Joaçaba, Criciúma, Blumenau.

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Quem é que fala nas cartas? É o próprio Cristo ressuscitado, que em cada uma das cartas se apresenta com um dos traços que o marcam na visão inaugural. Cada carta faz um juízo sobre a igreja respectiva: o que ela tem de bom, o que ela deve corrigir, inclusive com nomes de pessoas e situações específicas. Assim, também, cada uma de nossas igrejas, hoje, deve constantemente rever-se, exami-nar-se, deixar-se julgar pelo Senhor, e empenhar-se na luta, para po-der cantar vitória. A propósito, cada carta fala da recompensa que cabe ao “vencedor”, aquele que venceu por ter lutado.

Quanto ao Espírito, que em cada carta é apresentado como o porta-voz do Cristo, nós o reencontraremos, pela metade do livro, como o Espírito consolador na perseguição: Sim, diz o Espírito, que eles – os mártires – descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompa-nham (Ap 14,13b). E vamos reencontrá-lo também no final do livro, quando o veremos unido à Igreja, clamando pela volta do Senhor: O Espírito e a Esposa dizem: Vem! (Ap 22,17)

Conclusão

Ouçamos, pois, a voz do Espírito. O que é que o Cristo, através dele, diz à nossa igreja particular neste início do terceiro Milênio, nas comemorações do centenário da Diocese? Que iniciativas nos fará tomar, que novos passos nos inspirará? A escuta de sua voz por certo nos levará a não deixar passar em vão este “tempo favorável” (2Cor 6,2), ensinando-nos a “dar de graça, o que de graça recebemos”, sem esquecer aqueles que, entre nós, por se encontrarem excluídos, têm dificuldade de fazê-lo. Ensinar-nos-á, ao mesmo tempo, a ser “discípulos e missionários de Jesus Cristo”, conscientes de que “Ele está no meio de nós” e que é dom do Pai, por Ele, todo o bem, todas as obras até agora realizadas.

Sejam elas, sempre por dom do Pai, sementeira de novas obras, que Ele preparou para nós, ainda mais generosas e abundantes.

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FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA

Pe. Vitor Galdino Feller

Situação histórica

A celebração do centenário de nossa Igreja Particular, a dio-cese, hoje Arquidiocese de Florianópolis, é uma oportunidade para nos situarmos na história. Temos um passado, um presente e um futuro. Como nos colocamos diante de cada uma dessas coordena-das históricas?

Qual a memória que temos do passado? Conhecemos a his-tória de nossos pais, daqueles que nos transmitiram a fé? Assumimos o passado como um dom, uma graça? O cen-tenário de criação da diocese de Florianópolis é ocasião para conhecer nossa história e tirar lições práticas para a realidade atual. Não é possível voltar atrás. Mas é preciso estudar o passado, para compreender o presente. Recor-dar não é, para nós, um ato de saudosismo, mas um ato de ousadia, de purificação da memória, de revisão de nos-sas práticas atuais.

Que consciência temos de nosso presente? Conhecemos os desafios da Igreja de nosso tempo, as luzes e sombras de nossa Igreja diocesana? Assumimos o presente como res-posta aos dons de Deus e aos desafios da história? O cen-tenário de criação da diocese de Florianópolis é ocasião para tomarmos consciência e adquirirmos conhecimento a respeito da teologia da Igreja particular. Somos a Igre-ja de Cristo situada neste espaço geográfico-demográfico, histórico-religioso, sócio-cultural e político-econômico. A

Fundamentação Teológica

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nós cabe encarnar e enraizar o Evangelho de Jesus nos co-rações e instituições deste contexto em que se situa nossa diocese.

Que esperança temos para o futuro? Que herança deixare-mos para as novas gerações? Assumimos o futuro com o compromisso de transmitir a fé às crianças, adolescentes e jovens? O centenário de criação da diocese de Florianópo-lis é oportunidade para retomarmos as grandes linhas da ação pastoral e evangelizadora que garantirão a novidade de nosso futuro, a conversão das pessoas, a renovação das comunidades e a transformação da sociedade.

Motivações Evangélicas

Queremos celebrar o centenário de criação da diocese de Flo-rianópolis com as seguintes motivações evangélicas:

Fazer de nossa Igreja particular, em todas as suas forças vivas – paróquias e comunidades, pastorais e movimentos, organismos e serviços –, uma escola de santidade e de ora-ção, de modo a vivermos a espiritualidade de comunhão, própria dos discípulos de Cristo, segundo as indicações da Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, de João Paulo II.

Anunciar, pela palavra e pelo testemunho, a alegria de ser amado/a por Deus-Pai e de ser chamado/a a participar da comunhão divina das três pessoas, fazendo dessa experi-ência a fonte e o fundamento de toda ação pastoral, segun-do as linhas da Encíclica Deus Caritas Est, de Bento XVI.

Viver a espiritualidade eucarística, de acordo com as gran-des linhas propostas pela Carta Eucarística de Florianópo-lis, conclusiva do 15º Congresso Eucarístico Nacional, e pela Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de Bento XVI.

Ser discípulos e missionários de Jesus Cristo, conforme in-dica nosso tema, em vista da santidade pessoal, da reno-vação de nossa Igreja particular e de um grande mutirão de evangelização, conforme as indicações do Documento de Aparecida.

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Ser agradecidos e responsáveis, conforme indica nosso lema, transmitindo às novas gerações e a todas as pessoas que vivem em nossa Igreja particular os dons recebidos de Deus nestes cem anos.

Memória do passado

Os cem anos de nossa Arquidiocese coincidem, na sua qua-se totalidade, com o século XX. Um século de muitos contrastes. De um lado, temos: duas guerras mundiais, a interminável guerra fria, ideologias totalitárias (nazismo, fascismo, comunismo, entre outras), colonialismo (na África e na Ásia, sobretudo), ditaduras militares (na América Latina, por ex.), corrida armamentista, depre-dação do meio ambiente, alienação das drogas, narcotráfico, cultura da morte, fortalecimento do individualismo, descrédito dos grandes valores da ética e da justiça social, etc. De outro lado, temos: avan-ços científicos e tecnológicos, progresso nos meios de locomoção e de comunicação, movimentos ecológicos e pacifistas, etc.

No campo da Igreja, aconteceu a grande mudança proposta pelo Concílio Vaticano II. De uma Igreja configurada a partir da instituição, como sociedade perfeita e centrada na hierarquia, para uma Igreja configurada como comunhão, ícone terreno da Trindade divina, centrada no sacerdócio batismal de todo o povo de Deus e chamada ao diálogo com outras igrejas, com outras religiões, com o mundo.

A criação da diocese de Florianópolis, que no início se compu-nha de todo o Estado de Santa Catarina, só é entendida no contex-to de alguns fatores de caráter histórico, social, político e cultural. Lembramos que desde a metade do século XIX houve uma grande onda migratória, que fez crescer significativamente a população do Estado. Às populações precedentes – indígenas, portugueses, aço-rianos e negros –, acrescentaram-se os imigrantes alemães, italia-nos, poloneses e ucranianos, entre outros. Uma população crescente demandava preocupação com melhor atendimento pastoral. Ainda que muitos desses grupos de imigrantes trouxessem consigo padres que os acompanhavam na onda migratória, era preciso uma orga-nização que garantisse uma caminhada de unidade pastoral. Lem-bramos também que no final do século XIX havia sido proclamada

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a República e, com ela, a separação entre Igreja e Estado. Era preciso que a própria Igreja se organizasse para fazer frente às dificuldades que lhe advieram com essa separação. Não cabia mais ao Estado a criação de paróquias, o sustento do clero e das frentes de evangeli-zação. A própria Igreja deveria sustentar-se por si. Um peso inicial, que com o tempo se reverteria em maior liberdade de expressão e de anúncio do Evangelho. Libertada das amarras do padroado colonial e imperial, a Igreja do Brasil podia fortalecer suas próprias estruturas, a catequese, a promoção vocacional e a formação de um clero autóctone.

Após a criação da diocese, em 1908, a Igreja de Santa Cata-rina, identificada com a população do próprio estado catarinense, foi constituída de uma só diocese no decorrer de quase vinte anos. Com efeito, em 1927, com a criação das dioceses de Joinville e de Lages, foi criada simultaneamente a Província Eclesiástica de Santa Catarina, com sede em Florianópolis, que foi, então, elevada à con-dição de Arquidiocese. As novas dioceses de Joinville e de Lages passaram a compreender, respectivamente, o norte e o oeste cata-rinenses, ficando a Arquidiocese de Florianópolis com o litoral e o sul. O crescimento econômico, primeiramente embasado na agricul-tura e, posteriormente, na indústria, favoreceu o crescimento demo-gráfico, até chegar, em nossos tempos, à atual explosão demográfica que caracteriza o litoral catarinense e as grandes cidades do interior. Esse processo de urbanização e de litoralização que marca a demo-grafia do Estado foi exigindo a criação das outras dioceses: Tubarão (1954), Chapecó (1958), Caçador e Rio do Sul (1968), Joaçaba (1975), Criciúma (1998) e Blumenau (2000).

No decorrer desses cem anos, a Igreja de Florianópolis rece-beu muitas graças de Deus. Formou-se um clero autóctone numero-so e ativo. A Arquidiocese de Florianópolis conta, atualmente, com uma centena de presbíteros diocesanos, um clero razoavelmente jovem, uma vez que a metade deles tem idade inferior a 50 anos. É de se ressaltar que, enquanto nas primeiras oito décadas da histó-ria da Arquidiocese, o clero diocesano proveio de famílias da zona rural e de descendência das imigrações européias (alemães e italia-nos), nas duas últimas décadas a origem de nosso clero diocesano se desloca para as periferias urbanas e para famílias de ascendência

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portuguesa, açoriana e africana. Ainda no campo da formação do clero, recorde-se o grande impulso dado ao diaconato permanente. A Arquidiocese de Florianópolis, com sua centena de diáconos per-manentes, é a diocese brasileira com o maior número deles.

Nesses cem anos, a Igreja de Florianópolis viu um forte cres-cimento da vida religiosa. É grande o número de religiosos/as em nossa Arquidiocese. São mais de 70 padres e de 20 irmãos, de 13 dife-rentes congregações. São mais de 400 irmãs, de 20 diferentes ordens, congregações e institutos. Atuam no campo da pastoral paroquial, da catequese, da educação infantil e juvenil, da saúde hospitalar, do atendimento a idosos, etc. No território da Arquidiocese surgiu a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada por Santa Paulina, aos 12 de julho de 1890, em Vígolo, Nova Trento. Foi a primeira congregação religiosa nascida no sul do Brasil. Hoje está presente em todo o território nacional e nos seguintes continen-tes: América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile e Colômbia), Améri-ca Central (Guatemala e Nicarágua), África (Moçambique, Tchad e Camarões) e Europa (Itália). Quando todo o Estado catarinense era ainda uma só diocese, surgiu também, em Rodeio, em 1915, a Con-gregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, fundada por Amábile Avosani, Maria Avosani e Liduína Venturi. Está presente em todo o Brasil e nos seguintes continentes: América do Sul (Argentina, Bolí-via, Chile, Paraguai, Peru), América Central (Guatemala e Repúbli-ca Dominicana), África (Angola) e Europa (Alemanha). Convém re-gistrar ainda que da Congregação das Irmãs da Divina Providência, presentes e espalhadas no território catarinense 13 anos antes da criação da diocese de Florianópólis, um grupo de irmãs se desligou e fundou, em 1978, a Fraternidade Esperança, que atua com grande empenho e dedicação em várias obras sociais e missionárias.

Não se pode esquecer que nesses cem anos da Diocese de Flo-rianópolis foi grande a presença e atuação do laicato católico. Tanto no passado como no presente são muitíssimas as lideranças leigas atuantes nos mais diversos campos da ação pastoral e evangeliza-dora: comunidades e paróquias, pastorais e movimentos, serviços e ministérios, colégios e meios de comunicação. São esses leigos e leigas que dão à nossa Igreja diocesana um rosto vivaz e alegre, uma

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dinâmica participativa e criativa. Diante de toda a história passada, devemos ter a consciência do dom recebido e da resposta exigida.

Nossa história é rica não apenas na tradição da fé, mas tam-bém da cultura. Podemos dizer que o Evangelho foi inculturado em nossas terras. De modo que não se pode contar a história civil do Estado sem referir-se à fé e às suas obras: igrejas e colégios e obras assistenciais, etc. De graça recebemos, de graça devemos dar!

Consciência do presente

O Concílio Vaticano II (1962-1965) pôs a Igreja Particular no centro das atenções. A Igreja tem uma dimensão universal: ela é ca-tólica (do grego katholikós, de kata-hólos = segundo o todo, aberto ao todo), está presente em todo o mundo, envolve pessoas de qualquer etnia ou cultura, transmite todos os elementos da fé cristã. A Igreja Católica é a Igreja universal, é uma rede de igrejas, constituída pela comunhão de todas as igrejas particulares. Não é a soma, mas a comunhão de igrejas. Em eclesiologia, um mais um é sempre um. Uma Igreja Particular (diocese) não é uma parte, mas uma porção do todo. De modo que em cada Igreja Particular está toda a Igreja de Jesus Cristo.

Podemos usar diversos nomes para falar dessa realidade: Igreja que está em Florianópolis, Igreja de Florianópolis, Igreja Particular de Florianópolis, Igreja católica de Florianópolis, Igreja diocesana de Florianópolis, Diocese ou Arquidiocese de Florianó-polis. Nos primeiros tempos do cristianismo se usava dizer: Igreja de Jerusalém (At, 11,22), Igreja de Antioquia (At 13,1; 15,3), Igreja de Cencréia (Rm 16,1), Igreja de Laodicéia (Cl 4,16), ou Igreja que está em Corinto (2Cor 1,1). Com o refrão “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22), os capítulos 2 e 3 do Apocalipse fazem referência às sete igrejas da Ásia Menor – Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia – e aos elogios ou advertências que o Senhor Ressuscitado faz a cada uma delas. Também hoje podemos chamar as nossas dioceses ou arquidioceses de Igreja de Florianópolis, Igreja de Joinville, de Curi-tiba, de Nova York, de Roma, etc. Desde que esteja em comunhão com as outras, cada uma delas é a Igreja de Cristo. Uma arquidio-cese é a diocese principal de um conjunto de dioceses que formam

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uma Província Eclesiástica. Como em Santa Catarina, temos uma só província eclesiástica, a arquidiocese metropolitana coincide com a capital do Estado.

Como a diocese não é uma parte, uma divisão ou fração da Igreja, mas uma porção da Igreja universal, em cada uma delas está toda a Igreja de Jesus Cristo. O Concílio Vaticano II (1962-1965), no decreto Christus Dominus sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja (n. 11), traz a seguinte definição de diocese: “Diocese é a por-ção do Povo de Deus confiada a um Bispo para que a pastoreie em cooperação com o presbitério. Assim esta porção – aderindo ao seu pastor e por ele congregada no Espírito Santo mediante o Evange-lho e a Eucaristia – constitui uma Igreja particular. Nela verdadei-ramente reside e opera a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo”. Podemos, então, dizer que cada Igreja Particular é constitu-ída de cinco elementos:

– O espaço geográfico, territorial, com suas características pró-prias; o povo com suas etnias, culturas, tradições, profis-sões; os desafios sociais, políticos, econômicos, ecológicos; as marcas históricas. Esse é o elemento que mais caracteriza uma diocese. Em nosso caso, é aqui que devemos deter-nos para conhecer nossa Arquidiocese de Florianópolis: nossa história, nossa cultura, nossa terra, nosso povo. O cente-nário de nossa Igreja como diocese é oportunidade para perguntar-nos: conseguimos fazer com que o Evangelho de Cristo se enraíze em nossas terras e marque os critérios de julgar, os valores, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida de nosso povo (cf. EN 19)?

– O bispo, sucessor dos apóstolos. Ele garante a unidade da Igreja Particular com todas as outras Igrejas Particulares e, sobretudo, com a Igreja de Roma, na comunhão da Igreja Universal, na fidelidade à Tradição Apostólica. Esse ele-mento também é característico em cada diocese. Em nosso caso, numa história de cem anos, estamos no quinto bispo. Cada um deles marcou nossa Igreja com seu estilo, com suas opções teológicas e pastorais. Ao redor do bispo gira toda a vida da diocese, que passa a ser a unidade-mãe de

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todo planejamento pastoral. O centenário da diocese nos leva a perguntar sobre nossa unidade nos grandes proje-tos pastorais, sobre nossa fidelidade às opções pastorais, às prioridades assumidas, à pastoral orgânica. Devemos perguntar-nos: temos conseguido salientar e viver nossas particularidades, na comunhão com a universalidade da Igreja?

– O Espírito Santo, Amor ao mesmo tempo unitivo e distin-tivo do Pai e do Filho. É o mesmo Espírito que une numa só caminhada a variedade de vocações e ministérios, de comunidades e paróquias, de pastorais e movimentos. É ele quem garante unidade na diversidade. O centenário da diocese nos faz perguntar sobre a valorização dos dons e carismas que ele distribui às pessoas e grupos. Somos ca-pazes de integrar, numa única caminhada, toda a diversi-dade de riquezas que o Espírito Santo faz surgir entre nós? É ocasião para perguntar-nos o que o Espírito Santo diz à nossa Igreja de Florianópolis (cf. Ap 2,7).

– A Eucaristia, a memória do mistério pascal, da morte e ressurreição do Senhor Jesus. A Igreja é, por excelência, a comunhão dos fiéis ao redor do bispo e do colégio presbi-teral para celebrar o mistério de nossa salvação. É por esse elemento que todas as Igrejas Particulares se unem numa só Igreja. O centenário da diocese nos faz perguntar: con-seguimos reunir todo o nosso povo numa só comunhão? Conseguimos fazer com que nossa comunhão eucarística transborde para além de nossas preocupações pessoais e eclesiais, e se torne força para nosso empenho em favor de vida digna para todos, sobretudo os pobres e sofredores?

– O Evangelho, a Palavra reveladora e salvadora de Deus-Pai. É a palavra formadora das consciências e dos valores do povo unido na fé em Cristo. Como estamos lendo, ouvin-do, praticando e anunciando a Palavra de Deus em nossas terras?

Em cada diocese ou Igreja Particular temos tudo o que conta na fé cristã: a Palavra; os sacramentos, sobretudo a Eucaristia; a ca-

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ridade e todas as virtudes cristãs. As dioceses são entre si irmãs e, como tais, formam uma comunhão, uma rede, uma comunidade de igrejas. A Igreja de Roma, da qual o Papa é bispo, é a primeira entre as iguais (em latim: prima inter pares). As dioceses não são agências de uma matriz, e os bispos não são gerentes de um diretor. Cada bispo é, por si, sucessor dos apóstolos, sem que haja definição de um apóstolo em particular. Como sucessor dos apóstolos, ele é o vigário de Cristo em sua Igreja diocesana; é o mestre da fé, o mi-nistro da unidade, o líder da comunhão, a testemunha maior do amor cristão. Cada bispo está unido ao Colégio Apostólico, do qual é membro. Só do bispo de Roma se pode dizer que é sucessor de um apóstolo em particular, o Apóstolo Pedro. Por isso, cabe ao bispo de Roma, como cabeça do Colégio Episcopal e da comunhão das igre-jas particulares, o governo da Igreja Universal.

A Igreja é, na terra, o ícone, a imagem terrena da Trindade divina. A Igreja é a comunhão dos fiéis em Cristo. Para garantir essa comunhão, é preciso uma correlação entre unidade e diversidade, entre monarquia e sinodalidade ou colegialidade. Temos assim, na Igreja, um tipo de governo específico, que se caracteriza por essas duas vertentes: a unidade e a diversidade. Na comunhão das três pessoas divinas, na Santíssima Trindade, a unidade é garantida pela monarquia (do grego monê-archê = um princípio) do Pai, e a diversidade é garantida pela distinção das três pessoas. Assim tam-bém na Igreja Universal temos o ministério petrino do Papa, que é o ministro da unidade, a serviço da colegialidade dos bispos. Estes representam, na sinodalidade (do grego syn-ódos = caminho conjun-to), a diversidade e a pluralidade das igrejas particulares. No nível diocesano, essa correlação entre unidade e diversidade se reflete na relação entre o ministério do bispo e a colegialidade presbiteral e diaconal, que, por sua vez, se expande na realização de diversos conselhos – presbiteral, pastoral, administrativo, formativo, etc.

Essa correlação entre unidade e diversidade se faz presente em todas as demais associações de fiéis: na paróquia, na comuni-dade, no movimento, no grupo bíblico, no grupo de catequese, na equipe de pastoral, etc. Há sempre alguém que puxa para o pólo da unidade, da comunhão: é o pároco, o coordenador, o animador. Há sempre um grupo de pessoas de diferentes carismas, vocações,

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ministérios, etc., que puxam para o pólo da diversidade. Saber arti-cular unidade e diversidade, monarquia e colegialidade, eis o jeito de os cristãos se organizarem na Igreja. Essa é a marca comunional e trinitária da Igreja.

Neste centenário da Igreja diocesana de Florianópolis, é pre-ciso que tomemos consciência sobre o nosso modo de ser Igreja. As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja de Florianópolis, com seu objetivo e seus desafios pastorais, nos oferecem muitas luzes para a caminhada. Em que medida conseguimos articular os mi-nistérios da unidade (dos bispos, dos párocos, dos coordenadores, etc.) com a diversidade de carismas, de ministérios, de pastorais, de movimentos? Conseguimos valorizar todas as diferenças sociais, culturais e étnicas numa só comunhão? Conseguimos atingir todas as situações e desafios que caracterizam nossa Igreja – o crescimen-to urbano, o turismo, a ecologia, as universidades, a juventude, o funcionalismo público, o mundo dos pescadores e o mundo rural, etc.? Percebemos a urgência de ampliarmos o número de ministros e de ministérios, para podermos atender a toda essa diversidade que nos caracteriza? Garantimos que sejam as mesas da Palavra e da Eucaristia o centro de vida e de vitalidade dos cristãos batizados em nossa Igreja católica? Temos o coração aberto para as grandes causas do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, dos movimen-tos pacifistas e ecológicos, da luta pela justiça social?

Esperança no futuro

A memória do passado e a consciência do presente devem fortalecer em nós a esperança no futuro. Podemos aplicar para a Arquidiocese de Florianópolis um verso do Hino do Seminário de Azambuja: “se o passado já foi sonho lindo, o futuro promete ainda mais”. O futuro a Deus pertence, diz o povo. É dom de Deus. Mas é claro que ele depende também de nós. O que deixaremos para as novas gerações? Podemos aplicar para o nosso caso a pergunta de Jesus: “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé no terri-tório da Arquidiocese de Florianópolis?” (cf. Lc 18,8).

A esperança no futuro não pode se fundamentar no passivis-mo e na preguiça, nem num ativismo desenfreado, nem na sobre-carga de tarefas, nem na dispersão de compromissos e frentes de

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ação. Temos de reconhecer que a época da cristandade acabou-se. A Igreja é, hoje, uma voz entre outras. Para sermos ouvidos em nossa mensagem, temos que ser “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16b). Por isso, é preciso planejamento. A meto-dologia ver-iluminar-agir-avaliar-celebrar, consagrada na caminhada pastoral da América Latina, é de grande utilidade para o planeja-mento pastoral das comunidades e paróquias e de nossa diocese. Toda a nossa ação evangelizadora poderia concentrar-se nos cha-mados três múnus de Cristo, da Igreja e de cada fiel: o múnus da Palavra, o múnus da Liturgia e o múnus da Caridade.

Sem o anúncio e a prática da Palavra, não há futuro para o cris-tianismo. A Palavra é universal, é dirigida a todos. Como a semen-te da parábola, ela se dispõe a cair em qualquer terreno. É preciso anunciar o Evangelho, oportuna e inoportunamente. É um proble-ma sério de nossa Igreja diocesana, que se percebe mais claramen-te nas famílias e nas paróquias, a dificuldade de transmitir a fé às novas gerações, às crianças, adolescentes e jovens. Se é verdade que muitos pais são verdadeiros catequistas e educadores de seus filhos, também é verdade que, de um modo geral, se está rompendo o elo da transmissão da fé. São muitíssimos os pais que não conseguem mais, não sabem ou, mesmo, não querem transmitir a fé a seus fi-lhos. Não ensinam nem testemunham a fé que haviam recebido no batismo. É urgente valorizar a catequese familiar, a catequese com adultos, o catecumenato, de modo que a recepção dos sacramentos não aconteça por motivos exteriores à fé, como costume e tradição, mas por verdadeiras e santas razões: a fé assumida pessoal e inte-riormente, a santidade de vida, vivência cristã na família e na co-munidade. Vale especialmente para os pais e mães de nossa Arqui-diocese centenária a palavra de Jesus: “De graça recebestes, de graça dai”. No múnus da Palavra, é possível valorizar a busca de união entre as igrejas cristãs, pois o ecumenismo é essencial à evangeliza-ção. No campo da Palavra, é ainda urgente: a) assumir a evangeli-zação da juventude, segundo as orientações oferecidas ultimamente pela CNBB; b) qualificar agentes e liberar recursos financeiros para a pastoral da comunicação; c) valorizar a leitura orante da Bíblia; d) levar a sério a prioridade pastoral da Arquidiocese: os Grupos Bíblicos em Família.

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Sem Eucaristia não há comunhão. É preciso que assumamos a espiritualidade eucarística. A Eucaristia pertence à intimidade da união dos fiéis, diz respeito à comunhão da Igreja. A Igreja de Flo-rianópolis teve a graça de acolher o 15º Congresso Eucarístico Na-cional: esse dom precisa tornar-se responsabilidade. Nossa diocese, nossas paróquias e comunidades, devem tornar-se casa e escola da espiritualidade da comunhão. O campo é bastante amplo: celebra-ções litúrgicas que respeitem a santidade e a sobriedade do misté-rio, oferta de mais horários para celebrações da Eucaristia ou da Palavra, dos demais sacramentos, da recitação dos salmos, de visita e de adoração ao Santíssimo Sacramento, melhor atendimento aos doentes, às famílias enlutadas, etc. É bom lembrar que os santos nunca falharam em sua ação pastoral e evangelizadora!

O campo da Caridade é imenso. A começar com uma séria Pas-toral do Dízimo, que seja trabalhada não com o objetivo apenas de angariar fundos, mas como caminho de conversão pessoal, de par-tilha comunitária, de rejeição da idolatria do deus-dinheiro e, mes-mo, de libertação – espiritual e material – da nossa Igreja diocesana (em cada um dos seus níveis: comunidades, paróquias e diocese).

Outro problema sério, próprio de nossa Arquidiocese, na li-nha do múnus da Caridade, é o crescimento demográfico. Temos conseguido incluir todos os novos moradores na comunhão ecle-sial? Temos investido na compra de terrenos, para a criação de no-vas comunidades e a construção de novas igrejas?

Ainda no campo da Caridade, é preciso ter em conta que o Evangelho foi dirigido aos pobres. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa-Nova aos pobres”, disse Jesus (Lc 418). Como temos amparado e socorrido os pobres de nossos morros e periferias?

Conclusão

Nesta fundamentação teológica do centenário de criação da diocese de Florianópolis, não pode faltar uma referência a nossas duas padroeiras e a duas mulheres que se tornaram modelo de san-tidade para o povo catarinense.

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Nossa Senhora do Desterro é padroeira da Catedral e do Mu-nicípio sede da Arquidiocese. Santa Catarina é padroeira da Arqui-diocese. O que podem nos ensinar nossas padroeiras?

Juntamente com seu esposo São José e com o Menino Jesus, Maria de Nazaré viveu boa parte de sua vida no exílio. A impressio-nante imagem em madeira da Fuga para o Egito, entalhada à mão em peça única, pelo artista tirolês Demetz Groeden, trazida para a Catedral Metropolitana em 1902, nos mostra ao mesmo tempo sua angústia e sua alegria. Na imagem e na pessoa de Maria se refletem as angústias e esperanças, as tristezas e alegrias de nosso povo que, vivendo na caminhada deste mundo, busca ser e permanecer fiel aos projetos do Pai e de seu Reino. O centenário de nossa Igreja dio-cesana nos confirme no exemplo de Maria, para que nos empenhe-mos totalmente, nas angústias e alegrias, a seguir Jesus de Nazaré e colaborar com o advento de seu Reino.

A virgem e mártir Santa Catarina de Alexandria seja para nós, membros da diocese que a tem por padroeira, um modelo de fé e de santidade. Continua valendo para nós, cristãos do século XXI, o chamado à pureza e ao martírio que tanto fascinaram os cristãos dos primeiros séculos. Diante dos ídolos do mundo moderno – o dinhei-ro, o poder e o prazer, entre tantos outros – somos interpelados a dar testemunho de nossa fé. Ainda que isso nos custe incompreensões, fadigas, conflitos, perseguições. A graça da fé em Cristo que chegou até nós tem o seu preço. A história da fé de nossos antepassados é car-regada de sofrimentos. Cabe a nós dar-lhe continuidade; tendo, po-rém, a certeza de que as dificuldades no empenho pela evangelização não se comparam com a graça da fé recebida, mantida e transmitida. De graça recebemos, devemos dar de graça! (cf. Mt 10,18).

No território da Igreja de Santa Catarina, quando todo o Esta-do constituía ainda a única diocese de Florianópolis, viveram duas mulheres que a Igreja Universal reconhece como modelos de santi-dade: Santa Paulina e Beata Albertina.

Santa Paulina nasceu em 1865, em Vígolo Vattaro, Trento, nor-te da Itália. Recebeu o nome de Amábile Lúcia Visintainer. Emigrou para o Brasil, com 9 anos de idade, juntamente com seus pais e ir-mãos e outras famílias da região trentina, no ano de 1875, estabele-

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cendo-se na localidade de Vígolo, em Nova Trento. Desde pequena ajudava na Paróquia de Nova Trento, especificamente na Capela de Vígolo, como paroquiana engajada na vida pastoral e social. Aos 12 de julho de 1890, deu início à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, cuidando de Lúcia Angela Viviani, portadora de câncer, em fase terminal. Viveu em Nova Trento, em São Paulo e em Bragança Paulista. Juntamente com as irmãs de sua Congrega-ção cuidou de ex-escravos idosos e crianças órfãs. Sua Congrega-ção assumiu a missão evangelizadora na educação, na catequese, no cuidado de pessoas idosas, doentes e crianças órfãs, e na missão junto a povos indígenas. Tendo retornado para a Casa Geral, em São Paulo, em 1918, morre aos 77 anos, no dia 9 de julho de 1942, com fama de santidade. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 18 de Outubro de 1991, em Florianópolis, e canonizada pelo mesmo papa, no dia 19 de maio de 2002, em Roma. O Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento, tornou-se lugar de romaria de milhares de fiéis, sobretudo por ocasião da festa litúrgica de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, celebrada no dia 09 de julho.

A Beata Albertina Berkenbrock nasceu a 11 de abril de 1919, na vila de São Luís, no município de Imaruí, no sul do Estado, hoje diocese de Tubarão. Seus pais e familiares a educaram desde cedo na fé e na prática das virtudes cristãs. Ela aprendeu logo as orações, era perseverante em fazê-las e muito recolhida ao rezar. Participava com freqüência da vida religiosa da comunidade. Ajudava os pais nos trabalhos da casa e da roça. Também fora de casa Albertina se apresentava como modelo para os colegas e motivo de admiração para os adultos. Gozava de grande estima na escolinha local, par-ticularmente por parte de seu professor, que a elogiava por suas condições espirituais e morais superiores à sua idade, que a distin-guiam entre as colegas de escola. Ela se aplicou ao estudo, aprendeu bem o catecismo, conhecia os mandamentos de Deus e seu signifi-cado. Todas essas atitudes cristãs mostram que Albertina, apesar de sua pouca idade, era pessoa impregnada de Evangelho. Não é de estranhar, portanto, a fortaleza cristã com que enfrentou seu as-sassino no momento da morte, com o fim de defender sua pureza e virgindade. No dia 15 de junho de 1931, com apenas 12 anos de idade, resiste decidida às investidas de Maneco, empregado de seu pai, que se propunha possuí-la sexualmente. Ela sabe que isso é pe-

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cado e o recusa peremptoriamente. Aos pontapés, quase derruba o assassino. Maneco, derrotado moralmente pela menina, vinga-se, agarra-a pelos cabelos e afunda o canivete no pescoço e a degola. Já no dia de sua morte começou a formar-se entre o povo a convicção de que Albertina morrera mártir em defesa de sua virgindade. Foi indiscutível a intenção pecaminosa do assassino – violar a pureza de Albertina, deflorar sua virgindade. Foi também decidida a rea-ção dela diante do pecado. Esse duplo testemunho, ouvido da boca do assassino por colegas de prisão, tornou-se fundamental para de-terminar a existência de verdadeiro martírio. Sua beatificação, como virgem e mártir, no dia 20 de outubro de 2007, em Tubarão, a coloca como modelo de santidade para as crianças, adolescentes e jovens de nossa Igreja catarinense.

Queremos concluir a preparação e a celebração do centenário da criação da diocese de Florianópolis, afirmando o compromisso de sermos, como foram os nossos pais na fé (pais e mães, bispos e padres e catequistas, etc.), discípulos e missionários de Jesus. Com-prometemo-nos a levar adiante a fé que recebemos. De graça recebe-mos, queremos dar de graça! (cf. Mt 10,18).

Fundamentação Teológica

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CENTENÁRIO DE CRIAÇÃO DA DIOCESE DE FLORIANÓPOLIS SUA HISTÓRIA, SEU POVO E SEUS PASTORES

Pe. José Artulino Besen

1 Antecedentes da criação da Diocese de Florianópolis

Quem hoje se debruça sobre o mapa do Estado de Santa Ca-tarina e nele procura encontrar os limites da Arquidiocese de Flo-rianópolis, terá uma surpresa: dos 95.346,181 km2 de sua área, a Arquidiocese ocupa apenas 7.862,1 km². Dos 293 Municípios, ape-nas 30 ficam sob sua jurisdição eclesiástica, com uma população de aproximadamente 1.367.326 hab (IBGE 2004), com uma densidade de 173,91 hab/km2. Mas, não foi sempre assim. A história caminha e opera mudanças, e se adapta sempre às novas circunstâncias.

Este artigo tem como objetivo dar uma idéia evolutiva de como caminhou nossa história religiosa até chegar-se ao atual terri-tório da Arquidiocese. Historicamente, nosso território eclesiástico já pertenceu a Portugal, à Ilha da Madeira, à Bahia, ao Rio de Ja-neiro, a São Paulo, a Curitiba. Vejamos como isso se processou, em linhas muito gerais, ao longo de 500 anos de história brasileira.

Os inícios

Oficialmente o Brasil passou a pertencer a Portugal em 21 de abril de 1500, quando o Rei D. Manuel se apossou destas terras, cujos donos eram os índios. Infelizmente, eles não sabiam escrever e, por isso, não nos deixaram recordações do grande roubo que lhes foi feito, de seu extermínio, de sua escravidão. Na escola, a gente

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aprende que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, mas os índios já o tinham descoberto e povoado milhares de anos antes. E, se não fossem eles os donos, já Cristóvão Colombo teria “descoberto” a América em 1492, dentro da qual fica nossa terra. A história é as-sim mesmo: ela sempre dá razão para o mais forte, para aquele que pode explicar, mesmo mentindo, o que está fazendo.

A 1º de maio de 1500, Frei Henrique de Coimbra celebrou aqui a Primeira Missa, e plantou o Cruzeiro. Chegava a estas terras o Si-nal da Salvação; lançava-se, aqui, pela primeira vez, a mensagem de um Deus que é Pai de todos, sem distinção de raça, cor, sexo, status. Iniciava-se a missão cristã em terras brasileiras.

As missões e a organização da Igreja ficavam a cargo do rei de Portugal. E isso até a independência, em 1822. Depois, a autoridade religiosa foi transferida para o Imperador do Brasil, até a Proclama-ção da República, em 15 de novembro de 1889.

Alguém pode perguntar: – Mas, no que mandava o Rei? Em tudo: ele escolhia os Bispos (que depois o Papa aprovava automa-ticamente), criava dioceses, nomeava vigários, construía igrejas, seminários, nomeava os professores, pagava os padres, controlava os missionários, e tudo o mais. Quem recolhia o Dízimo (imposto religioso) era o Rei, e dele fazia o que bem entendia, dando parte muito pequena para a Igreja. Exercia como que a função de “Papa” entre nós. Nenhum documento do Papa entrava ou era publicado e obedecido no Brasil sem aprovação do rei. Ou do Imperador. E isto, até 1889. Quer dizer que o Papa tem autoridade efetiva aqui há pouco mais de 100 anos.

Como isto foi possível?

Havia em Portugal uma Ordem religiosa chamada “Ordem da Milícia de Jesus Cristo”, ou, mais popularmente, “Ordem de Cristo” (constituída com os espólios da Ordem dos Templários). Foi apro-vada pelo Papa João XXII a 14 de março de 1319. Com o tempo, o Rei de Portugal tornou-se seu Mestre, dispondo de seus membros e de seus bens. Em 7 de Junho de 1454, o Rei Dom Afonso entregou a essa Ordem a jurisdição espiritual nas terras que Portugal conquis-

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tara ou conquistasse. O Papa Calisto III confirmou esta disposição a 13 de março de 1455.

Este tipo de jurisdição chama-se “Padroado”. Em poucas pa-lavras: a Ordem de Cristo era responsável pela vida religiosa das terras pertencentes a Portugal. Sendo o Rei seu Grão-Mestre, será ele o “Papa”, se assim se pode dizer, da Igreja, nas terras de seus domínios.

Quando o Brasil foi conquistado, ficou sob o governo da Vi-gararia de Tomar, Sede da Ordem de Cristo. Essa Vigararia foi su-primida e, a 12 de junho de 1514, foi criada a Diocese de Funchal, na Ilha da Madeira. Permaneceu o Brasil sujeito a essa Diocese (Arquidiocese em 1533) até 25 de agosto de 1536, retornando ao Governo da Vigararia de Tomar. O Rei de Portugal, muito esperto, conseguiu suprimir essa Vigararia, incorporou a Ordem de Cristo à Coroa Portuguesa e, oficialmente, a 30 de dezembro de 1551, o Papa Júlio III entregava à Ordem de Cristo – o que significa, ao Rei de Portugal – todas as terras portuguesas. Um pouco antes, o Rei Dom João III tinha solicitado ao Papa a criação de uma Diocese em terras brasileiras.

A Diocese de São Salvador da Bahia

O pedido do Rei foi aceito pelo Papa Júlio III em 25 de feverei-ro de 1551: criava-se a primeira Diocese brasileira, com um território muito vasto: todo o país. O primeiro Bispo foi Dom Pero Fernandes Sardinha (1496-1556), Doutor em Cânones, que aqui chegou em ju-nho do ano seguinte. Mas, não se deu bem: não entendeu a situação, entrou em conflito com os missionários jesuítas, não gostava dos índios e acabou dirigindo-se a Portugal a fim de apresentar queixas ao Rei. Na viagem de volta, o navio naufragou e D. Pero e outros passageiros conseguiram alcançar a praia, onde foram trucidados pelos indígenas caetés em 16 de julho de 1556.

O novo Bispo, Dom Pedro Leitão (1519-1573) chegou três anos e meio mais tarde. Aliás, este era um grande problema. Muitos es-paços entre a saída e a chegada de um Bispo. No mínimo, dois anos. Casos houve em que levou 11 anos para a escolha de um novo. Um dos motivos era a dificuldade de comunicação. Depois, ao processo

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de escolha. O Rei fazia a sua escolha. Comunicava ao Papa. Que co-municava ao Rei. Que comunicava ao candidato eleito. Que podia aceitar ou não. Que devia ter tempo para se preparar. Que devia viajar. E assim os anos se passavam...

Mas, como estava Santa Catarina nessa hora? Apenas come-çando! Era o grande Sertão dos Patos, nome dado aos índios carijós (guaranis). Os primeiros missionários chegam aqui por acaso: dois franciscanos, o padre Frei Bernardo de Armenta e o irmão religio-so Frei Alonso Lebrón, vítimas de um naufrágio. Missionaram por aqui em 1537, retornando nos anos seguintes. Instituíram florescen-tes missões nos atuais territórios de São Francisco do Sul, Ilha de Santa Catarina e Laguna.

Os jesuítas, entre eles o Pe. Leonardo Nunes chegou em 1549. São, porém missões esporádicas. Não podem produzir muitos fru-tos porque os portugueses querem índios para escravizá-los. Gos-tam do missionário enquanto ele “amansa o índio”, tornando-o um bom escravo para as fazendas.

A Diocese do Rio de Janeiro

O território era grande demais para um Bispo só. Por isso, a pedido do Infante Dom Henrique, o Papa Gregório XIII criou a Prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro, a 19 de Julho de 1575. Prelazia é um território administrado por um Bispo ou Padre, mas sem a organização de uma diocese. É como que uma Diocese em preparação. A prelazia do Rio de Janeiro administrava todo o Sul do Brasil. Foi elevada a Diocese cem anos depois, em 22 de novembro de 1676.

O povoamento de Santa Catarina era muito lento. A primeira Paróquia foi a de São Francisco do Sul, em 1665. A segunda Paróquia foi a de Santo Antônio dos Anjos de Laguna, em 1697. No século se-guinte em 1714, a Ilha de Santa Catarina tinha apenas 147 brancos, e nela foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Desterro.

A situação demográfica se alterou com a chegada de “casais açorianos” entre 1748-1753, período em que aqui aportaram 6 mil pessoas. Vinham das Ilhas dos Açores. Sempre em casais. Famílias bem constituídas e profundamente religiosas. Os açorianos, cujas

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fundações deram origem a diversas paróquias na Ilha e no Conti-nente, mantiveram viva a tradição da fé, com suas devoções da Se-mana Santa, do Divino, dos Ternos de Reis, as mesmas já cultivadas pelos bandeirantes paulistas fundadores do Desterro, Laguna, São Francisco e Lages.

Com os açorianos vieram alguns padres, num gesto solidário de acompanhar seus paroquianos. Outros vinham de Portugal e ou-tros eram daqui mesmo. Às vezes, acontece que algumas Paróquias não tem vigários, nem sempre por falta de padre. Ou era a situação de penúria que afastava possíveis candidatos ou era o processo de escolha.

Quando uma Paróquia vagava, abria-se concurso. Os habili-tados prestavam exames e recebiam o cargo de “Vigário Encomen-dado” por um ano, podendo ser renovado. Após um novo exame, poderia ser promovido a “Vigário Colado”, isto é, vitalício. Outros ficavam Vigários Coadjutores. Outros, sem cargo nenhum. O Rei pagava muito mal os padres: tinham de construir sua casa, man-ter-se com uns miseráveis e atrasados soldos. Como diversos não tinham muita formação ou base espiritual, empregavam-se no go-verno, compravam fazendas, recolhiam-se à vida particular, de vez em quando reaparecendo. Contudo, apesar desse pouco caso do Rei pela Igreja, pela demora em construir e reformar matrizes, a fé se mantinha, muito mais em tradições do que num verdadeiro espírito eclesial. Mas, como poderiam fazer diferente, se não havia quem pregasse a Palavra?

O Bispo do Rio de Janeiro estava muito distante para ver as coisas in loco. Mandava um “Missionário Apostólico”. A primeira visita Pastoral à Província de Santa Catarina foi em 1815, a segunda em 1845 e a terceira, em 1895! Para solucionar de certa forma o pro-blema, foi criado o Arciprestado de Santa Catarina, a 2 de abril de 1824. O Arcipreste tinha poderes extraordinários de governo: podia nomear vigários, dar dispensas, resolver problemas que requere-riam muito tempo, caso fosse esperar por uma resposta do Rio de Janeiro.

É bom não esquecer que o Estado durante três anos (1746-1749) pertenceu à Diocese de São Paulo (criada em 1709), depois

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retornando à administração do Rio de Janeiro. A região do Planalto por mais tempo dependeu de São Paulo, pois Lages foi fundação bandeirante e era caminho entre Sorocaba e os campos de Viamão.

A Diocese de Curitiba

Com a Proclamação da República (1889) e o fim do Padroado (separação entre Igreja e Estado em 1890), os Bispos brasileiros vi-ram que era urgente a criação de novas Dioceses. Em 1890, pediram ao Papa Leão XIII a criação da Diocese de Curitiba. Assim, em 27 de abril de 1892, Leão XIII criava a Diocese de Curitiba, com o território do Paraná, desmembrado o Bispado de São Paulo, e o de Santa Ca-tarina, desmembrado do Bispado do Rio de Janeiro, agora elevado a Arcebispado.

O primeiro Bispo foi Dom José de Camargo Barros (1856-1908), que tomou posse em 30 de setembro de 1894. Um grande Bispo. Já em 1895 visitava as Paróquias do nosso Estado, vendo a situação de penúria e desorganização em que se encontravam. Com pulso firme e caridoso procurou reorganizar a vida religiosa. Sua grande preo-cupação foi a criação de Escolas Paroquiais, que se multiplicaram rapidamente em todo o Estado. Eram Escolas Católicas, financiadas pelos próprios fiéis, que construíam o edifício e pagavam o profes-sor. Garantia-se, assim, a educação religiosa das crianças, pois a Re-pública tinha suprimido o ensino religioso das escolas oficiais.

Dom José também enfrentou o desafio de organizar a vida religiosa dos imigrantes alemães, italianos, ucranianos e polone-ses, que se esqueciam bastante que estavam no Brasil. Seu sucessor, Dom Duarte Leopoldo e Silva, teve o mesmo trabalho. Obrigou os padres estrangeiros a aprenderem o português. Também procurou sistematizar os “padres casados”, que não eram raros: a melhor so-lução que encontrou foi aposentá-los com uma pensão paga pela Diocese.

Grande amigo e conselheiro nesse trabalho inicial foi o Pe. Francisco Topp, de Münster, o verdadeiro organizador da Igreja ca-tarinense. Sobre ele falaremos mais tarde. Ficava ainda o problema: a Diocese era imensa. Era urgente a criação da Diocese de Florianó-

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polis. A idéia, aliás, não era nova: tanto em 1801 como em 1819 fala-va-se no assunto. Mas, ficou em projetos. Agora, era tempo de agir.

A Diocese de Florianópolis

O primeiro passo oficial foi dado por Dom José de Camargo Barros. Em 28 de fevereiro de 1900, escrevia ao Pe. Francisco Topp, Vigário de Florianópolis (atual Catedral), para que desse os primei-ros passos, começando a organizar o patrimônio, exigência muito salientada pela Santa Sé. Nomeou a Comissão Organizadora: Hercílio Pedro da Luz, José Roberto Viana Guillon, Germano Wendhausen e Virgílio Vilella. Pessoas de alto prestígio social e político, como era costume naquele tempo. O povo não tinha tanto poder de impres-sionar...

Pe. Topp assumiu o trabalho. Visitou todas as Paróquias do Estado, quase de casa em casa, pedindo esmolas. Precisava de um patrimônio de 100 contos de réis, uma fábula. A pobreza dos cata-rinenses dificilmente poderia preencher este pré-requisito do Va-ticano. Em 1905, tinha reunido 50 contos! Faltava a outra metade. O novo Bispo, Dom Duarte Leopoldo e Silva (1904-1907) deu uma sugestão, já adotada em outros Estados: pedir ao Congresso do Es-tado um auxílio. Este veio, completando os 100 contos, já com ou-tra Comissão: Antero de Assis, José Boiteux, Henrique Valga, André Wendhausen, Gustavo Silveira.

Pe. Francisco Topp, exultante com o progresso na caminhada, encaminhou ao Santo Padre Pio X um requerimento, assinado pelas principais autoridades do Estado, em 9 de janeiro de 1906, por in-termédio do Núncio Apostólico, Mons. Tonti. Acompanhava-o uma carta de Dom Duarte.

O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Merry del Val, encaminhou as correspondências à Congregação dos Negócios Ex-traordinários, a fim de dar seu parecer a respeito. Em agosto do mesmo ano, Pe. Topp viajou a Roma, para tratar pessoalmente do caso. Foi recomendado por cartas do Senhor Núncio e do Barão do Rio Branco. Em contatos com o Cardeal Steinhuber, membro da Congregação, e de seu Secretário, Mons. Bisleti, conseguiu o Pe.

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Topp um parecer unânime para a breve criação da Diocese de Flo-rianópolis.

E, finalmente, em 19 de março de 1908, a Bula “Quum Sanc-tissimus Dominus Noster”, de Pio X, erigia o Estado de Santa Catari-na em Diocese, com o nome de “Florianópolis”, sendo a Matriz de Nossa Senhora do Desterro elevada a Catedral. O Bispo de Curitiba, Dom João Francisco Braga, foi nomeado Administrador Apostólico até a nomeação do 1º Bispo Diocesano, o que ocorreu a 13 de agosto do mesmo ano, recaindo a escolha na pessoa de Dom João Becker, que aqui permaneceu até 1912. Sucedeu-o Dom Joaquim Domin-gues de Oliveira, eleito a 2 de abril de 1914, tomando posse a 7 de setembro. Dom Joaquim permaneceu à frente da Diocese, que em 1927 se tornou Arquidiocese, até 1967, ano de sua morte.

Retrato da Nova Diocese

Abrangia o território correspondente ao Estado. Mas isto não era muito pacífico, pois havia a região do “Contestado”, isto é, terras à esquerda do Rio do Peixe (à altura do atual Município de Campos Novos). Somava, a área “Contestada”, 28.700 km². O Paraná reclamava sua posse. Após muitas lutas, o acordo final foi assinado em 1916, chegando Santa Catarina à sua superfície atual. Esta área “Contestada” foi administrada pela Paróquia de Palmas – PR, depois prelazia, até 1958, quando foi criada a Diocese de Cha-pecó. Antes disto, alguns territórios passaram a pertencer à Diocese de Lages.

A Diocese de Florianópolis incluía 42 Paróquias, 7 Curatos e duas Capelas Curadas, distribuídas por 10 Comarcas Eclesiásticas. O Recenseamento de 1900 dera ao Estado a cifra de 321.294 habitan-tes. Alcançaria, em 1908, uns 350.000 habitantes. O Clero era cons-tituído por 87 sacerdotes: 22 seculares, 36 franciscanos, 11 da Con-gregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus e 18 Jesuítas. O movimento religioso, naquele ano de 1908: 14.442 batizados, 2.369 casamentos, 228.595 comunhões, 2.442 visitas a enfermos, 2.868 pri-meiras comunhões.

Trabalho não faltou a Dom João Becker. Especialmente notada a carência de sacerdotes. E poucas vocações. Foi seu sucessor, Dom

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Joaquim, que procurou minorar o problema, buscando padres no exterior e criando o Seminário de Azambuja, em 1927.

2 O povo catarinense – um mosaico de culturas

Santa Catarina é um Estado pequeno e de grande riqueza cris-tã, tanto pela intensidade de vida quanto pela variedade de formas. Numa primeira fase, confluíram no cristianismo catarinense a extre-ma religiosidade do carijó/guarani, do xokleng, do negro, do bandeiran-te paulista (São Francisco, Desterro, Laguna e Lages) e do imigrante açoriano (entre 1748-1756, no litoral). Estas vertentes de fé abrangem sua história até o século XVIII.

Os índios são religiosos, de uma religiosidade não sacerdotal, não possuindo templos nem culto, que penetra todas as coisas, a ponto de ser chamado de animista: em tudo há alma, Deus está em tudo e em cada coisa, é sagrada a realidade. Os primeiros missio-nários – franciscanos e jesuítas – ficaram impressionados com o in-teresse e o fervor religiosos do habitante do então chamado Sertão dos Patos. Os bandeirantes paulistas trouxeram a religiosidade por-tuguesa medieval, marcada pelas procissões, devoções, de modo especial pela devoção à Paixão do Senhor e à Nossa Senhora e pelo Espírito Santo (as Bandeiras do Divino). A comunidade religiosa, como em todo o Brasil, se formou dentro das Irmandades leigas.

As fundações açorianas do século XVIII

O litoral catarinense, com a Ilha de Santa Catarina, eram fun-damentais para a defesa das possessões portuguesas ao sul contra os ataques dos espanhóis que demandavam o Rio da Prata. Inclusi-ve, em 1777 os espanhóis conquistaram a Ilha, devolvendo-a pouco depois.

As fundações bandeirantes não cresceram o suficiente: faltava morador para ocupar o litoral. Neste contexto, entre 1748 e 1756 foram trazidos das Ilhas do Açores perto de 5000 imigrantes, os “ca-sais açorianos” e madeirenses. A seleção local era feita pelo vigário, deveriam ser casados e de bom comportamento. Alguns sacerdo-tes acompanharam seu rebanho nessa epopéia migratória que deu origem aos seguintes núcleos: Trindade, Ribeirão, Lagoa, Ratones,

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Santo Antônio, Canasvieiras, Rio Vermelho, Rio Tavares (na Ilha de SC) e São Miguel, Enseada de Brito, São José, Paulo Lopes, Garopa-ba e Vila Nova (no continente).

Além de suas tradições culturais e religiosas, os açorianos marcaram as novas fundações com seu forte espírito religioso e profundo respeito pela instituição familiar. Os outros núcleos do litoral catarinense (como Tubarão, Araranguá, Tijucas, São João Ba-tista, Porto Belo, Camboriú, Itajaí, Barra Velha, Penha) surgem pelo deslocamento de populações portuguesas, bandeirantes e açorianas que buscavam melhores condições de vida.

Os negros

Os negros trazidos da África como escravos, eram monoteístas. A maior percentagem de negros em território catarinense chegou a 23,7% da população em 1810, a maioria do grupo bantu, havendo também do grupo sudanês. Mergulhados na religiosidade católica de santos, cantos e devoções, foram capazes de recriar um rico cris-tianismo onde os orixás/santos, cantos/danças, ritos/devoções pu-deram conviver ordenada e alternadamente. Num espírito incom-preensível à lógica católica oficial, tornaram possível ser ao mesmo tempo católico e africano, alternando respeitosa e frutuosamente as duas vivências.

O movimento migratório dos séculos XIX e XX

Apesar de todas essas fundações, o território catarinense ressentia-se de carência populacional. Teve início, então, a grande transmigração de populações européias para o Brasil em geral e para Santa Catarina em particular. Foram duas as categorias dos novos imigrantes: de São Paulo para cima, vieram para substituir a mão-de-obra escrava e tornaram-se “bóias-frias” nas fazendas de cana-de-açúcar e de café; do Paraná para o sul, cada família recebeu um pedaço de terra e tornaram-se pequenos proprietários.

Os primeiros a chegarem foram os alemães, em 1829, fundan-do a Colônia Santa Bárbara e, em seguida, São Pedro de Alcântara. Novas levas, a partir da década de 1850, ocuparam o sul e o norte da Província, fundando, como exemplo, Teresópolis, Braço do Norte,

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São Ludgero, Blumenau, Joinville, Brusque, Jaraguá. Os que pro-vieram de regiões agrícolas dedicaram-se à lavoura; os de áreas in-dustriais deram início ao parque industrial catarinense. A imigração alemã lançou sólidas raízes da Igreja luterana em solo catarinense.

Em 1875, chegaram os primeiros imigrantes italianos, em Nova Trento (entre eles encontrava-se a futura Santa Paulina). Aos tren-tinos acrescentaram-se os vênetos, bergamascos, fundando vilas no sul e interior, como Ascurra, Rodeio, Criciúma. Atraídos por em-presas de colonização, italianos e alemães ocuparam o vale dos rios Itajaí, do Itapocú e Braço do Norte, fundando prósperas colônias, hoje municípios.

A imigração em massa de ucranianos teve início em 1895-1896. Neste primeiro lote vieram da Galícia cerca de 5.500 ucranianos. Desembarcaram em Paranaguá e daí seguiram para o planalto pa-ranaense, sendo que 200 famílias se fixaram em Iracema, na Linha Xavier, no atual município de Itaiópolis. Eram católicos e ortodoxos do rito ucraíno-bizantino, às vezes em conflito religioso entre si e com os católicos romanos.

Importante a imigração polonesa a partir de 1871, com famílias se estabelecendo no vale do Itajaí, do Tijucas e no sul (Cocal, Grão Pará), integrantes da “febre polonesa” que no período trouxe ao Brasil 29.226 pessoas, fugitivas da quase escravidão em que viviam no Império russo. O mesmo vale para os ucranianos.

Todo esse movimento de transmigração populacional atingiu o litoral, o norte e o planalto catarinenses. Com o estímulo do go-verno ocupou-se o vale do rio do Peixe e foi-se sempre mais para o Oeste, na divisa com a Argentina. A partir da década de 20 do século passado, Companhias de Colonização gaúchas organizaram o loteamento do Oeste catarinense, fundando cidades e povoados com gaúchos de origem italiana e alemã, católicos ou evangélicos. Uma dessas colônias, Itapiranga (ex-Porto Novo), era aberta apenas a descendentes de alemães e católicos. O Oeste, de terras férteis e vastas, transformou-se em área de conflitos entre índios, caboclos e imigrantes. A partir de 1970, sob a liderança de Dom José Gomes, viveu a experiência de uma Igreja comprometida com a causa da justiça, formando líderes populares que hoje estão à frente do Mo-

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vimento dos Sem Terra (MST) e outros: a partir da fé, o pobre tem voz e vez.

Onde se instalavam os imigrantes, encontravam um povo: o índio, que continua a ser destruído. Contratavam-se “bugreiros” para exterminá-los, sendo pagos por “cabeça”. São pobres comba-tendo pobres por um pedaço de chão.

Deve-se aqui lembrar a fundação de pequeno núcleo grego e libanês na Ilha de Santa Catarina, trazendo consigo a fé ortodoxa.

Este é o povo que ocupa os 94.000 km2 do território catarinen-se, povo que continua a migrar do campo para a cidade, povo que chega de outros Estados movidos por interesses comerciais, profis-sionais ou tangidos pela miséria.

Uma nova religiosidade: migrantes, turistas, profissionais liberais

As décadas de 60 e 70 do século XX alteraram profundamente a vida catarinense: as grandes estatais criadas pelo regime militar, as universidades e o turismo trouxeram para um Estado tradicio-nal os problemas da modernidade, do confronto de pensamento, do enfraquecimento da cultura popular. O turismo praticado no litoral tornou quase invisíveis as colônias de pescadores, os agricultores de subsistência, a religiosidade ibero-açoriana. A casa de família é substituída pelo edifício das indiferenças, a vizinhança solidária pela justaposição de moradores.

Além disso, houve de um lado o crescimento de pólos in-dustriais e comerciais como Blumenau, Joinville, Jaraguá, Brusque, Chapecó, Joaçaba, Criciúma, Itajaí, que demandaram trabalhadores qualificados, levando do campo as melhores lideranças; de outro, a sedução da cidade e a crise rural forçaram as migrações para as periferias urbanas do Oeste, planalto, litoral e cidades industriais.

O encontro de povos e culturas sempre é positivo, pois obri-ga a se aprender algo fundamental na fé cristã: a abertura ao ou-tro, ao diferente. Trazendo suas vivências religiosas de origem, agitaram a vida eclesial local, oferecem lideranças novas, outras experiências paroquiais e de movimentos eclesiais. O litoral mui-

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to deve aos católicos que, vindos do interior, se prontificam a formar comunidades cristãs.

Bem mais difícil o encontro com o migrante pobre, humilha-do e esquecido nas periferias, cujos filhos sofrem a tentação do álcool, do tráfico, da violência e onde o desemprego é o destino freqüente. Nesse ambiente firmaram-se mais as igrejas pentecos-tais, cuja pregação de rigidez moral recorda a rigidez moral da vida católica do interior donde provieram. Também podem aca-bar vítimas do embuste religioso que transforma a religião em artigo de mercado. No seu íntimo, porém, conservam pura a fé que trouxeram de seus mundos anteriores. Nas próximas gera-ções terão mais condições de compartilhar suas riquezas huma-nas e espirituais.

Num bosque, o fanático vê apenas uma árvore: é incapaz de enxergar as outras. Assim também no mundo religioso: o fa-nático se acha portador único de mensagem divina. O cristão amadurecido pela experiência de fé, porém, sabe compartilhá-la, respeitar o diferente.

3 O clero catarinense em 1908

Por ocasião da criação da Diocese de Florianópolis eram pou-cos os presbíteros de nacionalidade brasileira.

As imigrações alemã, italiana e polonesa foram acompanha-das do envio, por parte de suas igrejas de origem, de ótimos sacer-dotes. O clero religioso foi enriquecido com a chegada dos Padres Franciscanos alemães da Província de Santa Cruz da Saxônia (1894) e dos Padres do Sagrado Coração de Jesus – Dehonianos (1903). Os Jesuítas também eram alemães, vindos de São Leopoldo, RS para atender à Paróquia de Nova Trento, às missões populares e refun-dar o Colégio Catarinense em Florianópolis, em 1905.

A seguir, os nomes dos padres que em 1908 atendiam à Igreja em todo o território catarinense.

01. Pe. Francisco Xavier Topp (alemão) – Pároco de Florianó-polis e Vigário Encarregado de Lagoa da Conceição, Trin-dade e Ribeirão da Ilha.

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02. Pe. Francisco Xavier Giesberts (alemão) – Vigário Coope-rador de Florianópolis, Lagoa da Conceição, Trindade e Ribeirão da Ilha.

03. Pe. Arcângelo Ganarini (italiano) – Capelão do Hospital de Caridade de Florianópolis.

04. Pe. José Fabriciano Pereira Serpa (brasileiro) – Pároco de Santo Antônio de Lisboa e Vigário Encarregado de Canas-vieiras e Rio Vermelho.

05. Pe. Domingos Bonavero (italiano) – Pároco de São Miguel.

06. Pe. Huberto Ohters (alemão) – Pároco de São Pedro de Alcântara.

07. Pe. Rafael Faraco (italiano, naturalizado, com família) – Vigário Colado de Garopaba.

08. Pe. Manoel João Luiz da Silva (brasileiro, com família) – Vigário Colado de Laguna.

09. Pe. Dr. José Francisco Bertero (italiano) – Pároco de Vila Nova e Vigário Encarregado de Mirim.

10. Pe. Bernardo Freise (alemão) – Pároco de Tubarão e Vigá-rio Encarregado de Azambuja do Sul e Orleães.

11. Pe. Francisco Chylinski (polonês) – Vigário Cooperador de Tubarão, Azambuja do Sul de Orleães.

12. Pe. João Batista Steiner (alemão) – Pároco de Imaruí e Vi-gário Encarregado de Pescaria Brava.

13. Pe. Luiz Marzano (italiano) – Pároco de Urussanga.

14. Pe. Luiz Gilli (italiano) – Vigário Cooperador de Urussanga.

15. Pe. Frederico Tombrock (alemão) – Pároco de São Ludgero.

16. Pe. João Batista Klöcker (alemão) – Vigário Cooperador de São Ludgero.

17. Pe. Miguel Pizzio (italiano) – Pároco de Jaguaruna e Vigá-rio Encarregado de Araranguá.

18. Pe. Ludovico Coccolo (italiano) – Pároco de Tijucas e Vi-gário Encarregado de Porto Belo e São João Batista.

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19. Pe. Antônio Francisco da Nóbrega (brasileiro, com famí-lia) – Vigário Colado de São Francisco do Sul.

20. Pe. Manoel Miranda Cruz (português, com família) – Sus-penso de Ordens, vivia amancebado em Florianópolis. Em 1916 reconciliou-se com a Igreja.

21. Pe. Inácio Bernardo Rückert (alemão) – Punido pelas Leis Canônicas, residia em Florianópolis com Uso de Ordens.

22. Pe. João Canônico (italiano) – Cura de Criciúma.

23. Pe. José Sundrup (alemão) – Pároco de Joinville.

24. Pe. Augusto Schwirling (alemão) – Vigário Cooperador de Joinville.

Clero religioso:

25. Pe. Dr. Carlos Norberto Ploes, SJ – Diretor do Ginásio Santa Catarina (Colégio Catarinense) e mais 9 Padres Jesuítas.

26. Frei Domingos Schmitz, OFM – Vigário de São José e mais 2 Coadjutores.

27. Frei Celso Dreiling, OFM e Frei Cleto Espey, OFM – Pro-vincial e Secretário da Província Franciscana da Imacula-da Conceição do Brasil residentes em São José.

28. Frei Osvaldo Schlenger, OFM– Vigário de Santo Amaro e Encarregado de Enseada de Brito e Teresópolis.

29. Pe. Henrique Meller SCJ – Superior da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus e Vigário de Brusque, com 2 Coadjutores.

30. Pe. Gabriel Lux, SCJ – Administrador de Azambuja e Cura do Santuário Episcopal.

31. Frei Marcelo Baumeister, OFM – Vigário de Blumenau e 2 Coadjutores. No Convento de Blumenau residem mais 6 Sacerdotes.

32. Frei Herculano Limpinsel, OFM – Vigário de Gaspar com 2 Coadjutores. Pouco depois, Frei Herculano abandonou o ministério.

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33. Pe. José Foxius, SCJ – Vigário de Itajaí e encarregado de Camboriú e Penha, com 2 Coadjutores.

34. Pe. Henrique Lindgens, SCJ – Vigário de Araquari e En-carregado de Barra Velha, com Coadjutor.

35. Pe. João Stolte, SCJ – Vigário de São Bento, com 1 Coadjutor.

36. Frei Libório Grewe, OFM – Vigário de Lages e Encarregado de São Joaquim da Costa da Serra, com 5 Coadjutores.

37. Frei Rogério Neuhaus, OFM – Vigário de Curitibanos e Encarregado de Campos Novos, com 2 Coadjutores.

38. Pe. João Maria Cybeo, SJ (italiano) – Cura de Nova Trento, com 2 Coadjutores.

39. Frei Lucínio Korte, OFM – Cura de Rodeio, com 3 Coad-jutores.

Total: 24 Padres Diocesanos, 36 Franciscanos, 13 Jesuítas e 11 da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.

Proveniência: Português (1), Polonês (1), Catarinense (2), Pau-lista (1), Alemães (66), Italianos (12), Gaúcho (1).

4 Monsenhor Francisco Xavier Topp

Podemos afirmar que a pastoral organizada em terras catari-nenses, anterior e posterior à criação da Diocese, tem um homem como protagonista: Pe. Francisco Xavier Topp. Ele foi capaz de unir o clero alemão, italiano, polonês, os diocesanos e religiosos, reuniu o povo todo em torno do projeto da criação do Bispado.

Filho de Bernhard Joseph Topp e Johanna Rosina Menge, Francisco Xavier Topp nasceu em Warendorf, Alemanha, a 19 de se-tembro de 1854. Na Igreja catedral de Eichstätt, Dom Francisco Leo-poldo o ordenou presbítero em 15 de julho de 1877. Em outubro do mesmo ano, dirigiu-se em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos, em Roma. Ali solicitou e recebeu uma relíquia de São Filipe Néri. No retorno assumiu uma Capelania em Vehr, na Diocese de Münster. A 1º de dezembro de 1886 foi nomeado Coadjutor em Quakenbrütt, Diocese de Osnabrück, acumulando a Capelania de Vehr. No ano seguinte, a 9 de fevereiro, é Vigário Cooperador em Lüdinghausen.

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Ali se delineou a vocação missionária do Pe. Topp. O Jornal da Diocese de Münster, “Kirchliches Amtsblatt”, em 1889 publicou uma carta dos colonos de Braço do Norte, Estado de Santa Catarina, no Brasil. Eram imigrantes alemães, de profunda fé católica, espalha-dos pelo sul catarinense, com insuficiente atendimento pastoral. Pe. Topp lê a carta. Pulsa-lhe no coração o entusiasmo pela causa do Evangelho: seu patrono é Francisco Xavier! Está com 35 anos de ida-de, em pleno vigor físico e espiritual. Dirigiu-se a seu Bispo, Dom João Bernardo, e obteve licença para partir para a missão. Embarcou para o Brasil em fins de 1889. Chegando ao Rio de Janeiro, sede do Bispado, recebe as Faculdades de Vigário Missionário. Tendo no sangue e na fé o fervor de São Bonifácio, por três décadas e meia foi o grande apóstolo de Santa Catarina.

A Messe é grande

Em janeiro de 1890 desembarcou no Desterro, capital do Es-tado. A situação religiosa de Santa Catarina não era das melhores. O Bispo morava no Rio de Janeiro. Para o alimento da fé, as tradi-ções religiosas e as Irmandades. Não havia uma efetiva organização eclesiástica para o atendimento dos fiéis e dos sacerdotes. Como contrabalanço, os imigrantes alemães e italianos, instalados aque-les em 1829 em São Pedro de Alcântara, e estes a partir de 1875 em Nova Trento.

Nesta situação, foi o povo que se encarregou de buscar cami-nhos para alimentar a vida cristã. Os brasileiros encontraram a fon-te nas tradições religiosas, nas festas populares, nas Irmandades, nas devoções. Os imigrantes, nascidos em outro contexto eclesial, solicitaram sacerdotes. Assim estava em Joinville Pe. Carlos Boe-gershausen; em Blumenau, o Pe. José Maria Jacobs; em Brusque, os Pe.s. Alberto Gattone e João Fritzen; em Teresópolis, o Pe. Guilher-me Roer. Poucos operários para uma grande messe.

Início da Obra missionária

A primeira parte dos trabalhos do Pe. Topp aconteceu no Sul do Estado. Foi indescritível a alegria dos colonos do Braço do Norte e do Capivari: recebiam um padre jovem, de caráter vivo e ardente. Sem o saber, Pe. Francisco Topp iniciava em 1890 a Missão da Dioce-

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se de Münster no estrangeiro, Missão que tantos e tão valiosos fru-tos produzirá na vida religiosa catarinense, para cá trazendo bons e virtuosos sacerdotes que marcaram até hoje a fisionomia religiosa e cultural do Estado. Os imigrantes italianos foram atendidos pela Missão da Diocese de Turim. Sem dúvida, fui o primeiro Projeto de Igrejas-Irmãs de que se tem notícia no Brasil. Se a Igreja catari-nense foi pioneira desse Projeto em 1975, um século antes Münster e Turim foram pioneiras em relação à Igreja catarinense, que está repartindo do muito que recebeu.

Pe. Topp fixou residência junto à capela de São Ludgero. Mas quase não pára aí. Seu campo de apostolado atinge distâncias de mais de 90 km a partir do centro. Tinha de atender a distantes nú-cleos habitacionais, visitar doentes, enfrentando a floresta, o índio, perigos de todo tipo. Também toma para si o cuidado dos colonos italianos e poloneses da Colônia Grão Pará, além de todo o Curato de Teresópolis, pois o velho Pe. Roer, fraco e doente, já antes da chegada do Pe. Topp se retirara para a Santa Casa de Porto Alegre, onde faleceu a 8 de outubro de 1891.

Percebe que sozinho não poderia dar conta do trabalho. Es-creve ao Bispo de Münster, pedindo mais sacerdotes. O Jornal da Diocese publica a carta. Dois sacerdotes, coadjutores da Igreja de São Maurício, de Münster, se prontificam a viajar para a Missão: Antônio Eising e Francisco Auling. A 1º de janeiro de 1891 embar-caram no porto de Bremen e no mês seguinte, após seis semanas de viagem, chegaram ao novo campo de trabalho apostólico.

Dividem entre si a vasta região: Pe. Topp fica em Teresópolis, Pe. Auling no Braço do Norte, Pe. Eising no Capivari. Com seu zelo e caridade conquistam a todos: alemães, italianos, poloneses e até os desconfiados brasileiros. Maior desafio a seu trabalho eram as visi-tas aos doentes: às vezes eram necessárias viagens de 20 a 24 horas constantes, no lombo de um cavalo.

Nas terras do índio Tuba

Em 1891 chega a notícia de que o Pe. Cipriano Buonacore iria deixar a imensa Paróquia de Tubarão, retornando para a Itália. À Paróquia de Tubarão estava praticamente anexa outra enorme Pa-

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róquia, a de Araranguá, pois seu velho Vigário, Pe. Júlio Carlos de Oliveira, deixara de paroquiar. Lá, com exceção de três, todas as famílias eram brasileiras. Seria um novo desafio aos padres, mais acostumados a tratar com o elemento germânico.

Pe. Topp escreveu ao Bispo do Rio de Janeiro, colocando-se à disposição para o novo serviço. A 13 de maio de 1891 foi nome-ado Vigário de Nossa Senhora da Piedade de Tubarão. E como fi-caria Teresópolis? E mais, como resolver o problema pastoral do centro e do planalto catarinense? Nesse momento já se delineia a visão pastoral do Pe. Topp, preocupado não só com os imigrantes do Braço do Norte e Teresópolis, pelos quais deixara a Pátria. Seu zelo pastoral ultrapassava as fronteiras paroquiais: era preciso uma organização pastoral que atendesse a todas as áreas carentes do mi-nistério sacerdotal. Num espaço de 13 anos encontrou a fórmula para preencher os vazios: a vinda de novas Ordens e Congregações religiosas da Alemanha, que depois seriam distribuídas pelo terri-tório catarinense. Cumpre notar que Pe. Topp não tem ligação com lugares já assistidos, como Nova Trento, Joinville. Sua alma missio-nária pulsa pelos desassistidos.

Sabendo que a Província Franciscana de Santa Cruz da Saxônia queria restaurar as antigas Províncias da Imaculada Conceição (sul e sudeste) e de Santo Antônio (norte e nordes-te), praticamente inativas pela política anti-religiosa do Império, consegue que os franciscanos iniciem por Teresópolis. Ali chega-ram os filhos de São Francisco a 12 de julho de 1891. Teresópolis foi o ponto inicial da restauração da vida franciscana no Brasil. Foi o ponto de partida para as novas fundações franciscanas: de lá sobem para Lages (no planalto) e dali descem para Blumenau (centro), marcando uma vigorosa presença religiosa e pastoral em toda essa abandonada região. Difundir-se-ão por Campos Novos, Curitibanos, Palmas, Rodeio.

Grande preocupação constituía-se a educação da juventude e da infância: educação e catequese eram as opções prioritárias do trabalho da Missão de Münster. Em Tubarão, Pe. Topp abre uma escola para os filhos dos brasileiros, sendo ele mesmo um dedicado professor, apesar da dificuldade de ensinar em português, língua que aprendera após os 30 anos de idade.

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A Missão se amplia e consolida

Desejavam os padres (em 1893 tinham chegado Carlos Sch-mees e Bernardo Freise; Pe. Eising fora para a Colônia Brusque), Irmãs e professores leigos para as escolas. Chegaram dois leigos de Münster: os professores Atkemeyer e Schumann, que depois se re-tiraram para Curitiba.

A grande solução o Pe. Topp a encontrou em 1894, quando de uma viagem à terra natal: de lá trouxe Irmãs da Congregação da Di-vina Providência, fundada em Münster, pelo Pe. Eduardo Michelis. As Irmãs desembarcaram na Ilha de Santa Catarina em 27 de março de 1895. As seis pioneiras eram as Irmãs: Albina Fuhrmann, Oswal-da Wegener e Albertina Koller, encaminhadas para Tubarão, e Ana Niemeyer, Rufina Weiermann e Paula Emping, para Blumenau.

Em 1898, as Irmãs fundaram o Colégio Coração de Jesus, em Florianópolis, a partir da Escola paroquial iniciada pelo Pe. Topp, o qual lhes cedeu todo o terreno. A partir dessa obra que, já em 1906 – dois anos antes da fundação da diocese –, se tornou também a sede da Província do Coração de Jesus, as Irmãs haviam assumido novas obras, até 1908, em vários pontos do território catarinense: São Ludgero, Lages, Rodeio, Joinville, Brusque. Nessa cidade, além de assumirem a Escola Paroquial, muito auxiliaram o Pe. Eising na “Santa Casa de Misericórdia”, em Azambuja, depois desdobrada em Hospital, Asilo de Idosos, Hospício de doentes mentais e Seminário. Sua expansão foi de enorme importância para a Igreja catarinense durante toda a sua centenária história: assumiram Colégios e Hos-pitais, auxiliaram na Catequese e na Pastoral, por todo o Estado.

Mais tarde, além de três fundações autóctones, de que já se fa-lou em artigo anterior, vieram outras Congregações femininas, que marcaram e vêm marcando, com sua presença, seu carisma e seu trabalho apostólico, a vida religiosa da centenária diocese. Impor-tância especial tiveram as Irmãs Franciscanas de São José, vindas a Angelina em 1927, onde se colocaram à disposição das paróquias para formar catequistas e organistas, prestando inestimável auxílio ao canto coral paroquial. Em 1894 tomou posse o 1º Bispo eleito da Diocese de Curitiba, criada em 1892: Dom José de Camargo Barros. Ficou impressionado com o Pe. Francisco Topp, a quem conhecerá

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melhor na Visita Pastoral de 1895. Dom José assume sua intuição para a organização eclesiástica e faz dele seu conselheiro. O mesmo se diga de Dom Duarte Leopoldo e Silva, 2º Bispo de Curitiba.

Atraídos pelo convite do Pe. Topp, chegaram mais sacerdo-tes: Antônio Tertilt (1895), Frederico Tombrock (1896), Humberto Ohters (1897), José Sundrupp (l899). Sistematizou-se melhor, graças à Missão de Münster, a vida religiosa catarinense: foram-se preen-chendo as áreas povoadas pela descendência das grandes correntes imigratórias. Mas não se fecharam numa pastoral étnica. Os Pe.s Eising e Sundrup, a partir de Brusque assumiram São João Batista, Tijucas, Camboriú, Porto Belo e Itajaí.

Pe. Topp não pára. Em 1904 conseguiu a vinda, da Alemanha, dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Congregação fundada pelo Pe. Léon Dehon, um dos pioneiros da doutrina social da Igreja. Os Padres do SCJ assumiram Brusque, Itajaí, Corupá e Vargem do Cedro, tendo como guia o Pe. Gabriel Lux, responsável pela con-solidação das obras de Azambuja e pela fundação do Seminário de Corupá.

Na Ilha de Santa Catarina

Nova surpresa estava reservada ao Pe. Topp: o Pe. João Batista de Oliveira, Vigário de N. Sra. do Desterro, retirara-se para Portugal. A 27 de fevereiro de 1896, Dom José lhe escreveu, pedindo que um dos três sacerdotes de Tubarão (Topp, Schmees, Freise) a assumisse. Topp aceitou o novo desafio. Florianópolis seria a primeira capital brasileira a ter um Vigário alemão. A 31 de março saiu a Provisão: a Paróquia de Nossa Senhora do Desterro (atual Catedral) será seu campo de apostolado por 25 anos, até 1921.

Pe. Topp sabia, porém, que não seria pouco nem fácil o tra-balho: Florianópolis seria apenas o centro de uma vasta área a ser atingida pelo seu devotado ministério. Simultaneamente assumiu as Paróquias de N. Sra. da Lapa no Ribeirão da Ilha, Santíssima Trindade, N. Sra. da Conceição da Lagoa, São Miguel Arcanjo em Biguaçu e São José. Seis Paróquias em grande abandono. Mas nada o atemoriza: só estava contente se sobrecarregado de trabalho! Sua amizade e diplomacia lhe granjearam a amizade de todos. Especial-

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mente devota-se às crianças e aos pobres. Funda Centros catequéti-cos, escrevendo ele mesmo um Manual de Instrução Religiosa, in-felizmente perdido. Dois desses Centros mais tarde foram erigidos em paróquias: Agronômica e Saco dos Limões.

Trouxe para Florianópolis as Irmãs da Divina Providência, estimulou a fundação do Colégio Catarinense, dos Padres Jesuítas (1905), fundou o Asilo dos Órfãos Irmão Joaquim e, às próprias ex-pensas, criou o Colégio paroquial Santo Antônio, para a instrução primária.

É praticamente impossível imaginar que este sacerdote tenha conseguido enfrentar, simultaneamente e em tão curto espaço de tempo, tantos trabalhos. Tudo isto lhe granjeia a confiança total do Bispo de Curitiba. Em 11 de abril de 1896, Dom José lhe confere po-deres sobre todo o Clero catarinense e o nomeia seu representante e conselheiro, como já vimos. O Bispo não faz nenhuma nomeação, não cria ou provisiona nenhuma Paróquia, nada permite que se leve adiante, sem o parecer do Pe. Francisco Topp: sua retidão moral e sua caridade cristã eram garantia para aconselhar em qualquer de-cisão. Pe. Topp tinha a seu lado os padres alemães, italianos e brasi-leiros. Todos o estimavam e respeitavam. Seus dons possibilitaram uma ampla reforma religiosa, sem traumas e sem inimigos.

A criação da Diocese de Florianópolis

Paulatinamente se reorganiza a vida católica catarinense. Ha-via, contudo, um problema: a Diocese de Curitiba era muito vasta, pois abrangia, além do Estado do Paraná, também Santa Catarina. Fazia-se urgente a criação de um Bispado em Santa Catarina. De-licadamente, Pe. Topp sugere a idéia a Dom José. O Bispo, ciente da situação, assume-a. A 28 de fevereiro de 1900, escreve-lhe uma carta, encarregando-o de dar os passos necessários, a começar pela formação do Patrimônio do futuro bispado. Incansável e entusias-mado, Pe. Topp lança-se ao trabalho. Preside à Comissão nomeada e sai ele, pessoalmente, a angariar esmolas, visitando boa parte das Paróquias catarinenses em forma de Missão. Seu trabalho foi coro-ado a 19 de março de 1908: com a Bula “Quum Sanctissimus Domi-nus Noster”, o Santo Padre Pio X erigiu o Bispado de Florianópolis, abrangendo a área do Estado de Santa Catarina.

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Isto aumentou o trabalho e a responsabilidade de Pe. Topp, o que é comprovado pelos cargos que vai acumulando no decorrer dos anos: de 3 de maio de 1908 a 12 de setembro de 1912 é Secretá-rio Geral do Bispado; de 12 de setembro de 1912 a 7 de setembro de 1914, por vacância do Titular da Diocese, é Governador do Bispado; de 30 de novembro de 1912 a 7 de setembro de 1914 é Vigário Geral e Provisor; de 15 de abril de 1915 a 18 de maio de 1925 é Procurador Geral (Chanceler); de 14 de outubro de 1918 a 18 de maio de 1925 é novamente Vigário Geral; a 31 de maio de 1924 é nomeado Con-sultor Diocesano. Era, por assim dizer, a alma da Diocese. Dom Jo-aquim Domingues de Oliveira, bispo diocesano desde 1914, mesmo sendo por natureza centralizador e pouco admirador dos Padres alemães, não pôde dispensar sua ajuda.

Em tudo isso, nesse mar de responsabilidades, não esquecia o povo, que devotava especial carinho ao santo pastor: pobres e ricos, crianças e velhos, todos nutrem por ele especial afeto. Criou-se até a expressão: “Dinheiro na mão de Pe. Topp é como manteiga em fo-cinho de cachorro: desaparece”. Ao receber uma doação, se, em se-guida, um pobre batesse à sua porta, o dinheiro era passado adiante, pois dizia: “ele precisa mais do que eu”. Tal devotamento aos pobres chegou a criar-lhe embaraços financeiros: ocasião houve em que o Bispo precisou chamá-lo à atenção, pois necessitava-se um pouco mais de organização financeira. A abundância de suas esmolas fez com que nem sempre tivesse dinheiro para saldar as dívidas.

Apesar dessa desorganização financeira, Pe. Topp era de uma organização pastoral e arquivística exemplar. Tudo o que fez ou pla-nejou deixou exarado com sua bela caligrafia em livros muito bem conservados. Copiou antigos livros da Paróquia. Pesquisou a His-tória da Igreja em Santa Catarina, seus Vigários e acontecimentos principais. Com essa finalidade, publicava belos artigos na Resenha e no Boletim Eclesiástico. Todo o processo de nomeação de Vigários é impecavelmente cuidado, tudo dentro dos prazos canônicos. Gra-ças a Deus, apenas os pobres o deixavam desorganizado!

Na Luz perpétua

Pe. Topp realizara grande missão. A Igreja catarinense estava organizada. Era Diocese. As Paróquias estavam providas de sacer-

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dotes. Grande rede de Escolas Paroquiais atendia as crianças cató-licas. Surgiam vocações. A vida religiosa se desenvolvia. Em 1921 deixou o Curato da Catedra1. Em 18 de maio de 1925 não era mais Vigário Geral. Em sua casa, velho, doente, pobre, quase cego, pre-parava-se para o encontro com o Pai. Sete meses depois, a 25 de dezembro de 1925, entregou a alma a Deus. Dia de Natal!

As cerimônias de seu sepultamento foram apoteóticas: os cronistas da época afirmaram que jamais a Capital presenciara ta-manha concentração de público. Eram os pobres, maioria da po-pulação, que foram despedir-se de seu benfeitor. Monsenhor Topp terminara seus 35 anos de trabalho apostólico em Santa Catarina. A Igreja catarinense testemunhava um novo dinamismo. Seu epitáfio é um retrato de sua vida: “Passou pela vida fazendo o bem” (cf. At 10,38). Está sepultado no Cemitério da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, na Prainha, em Florianópolis.

5 Os seminários e a formação dos presbíteros

As primeiras experiências

Nos tempos da Colônia e do Império, em virtude do Padroa-do, a formação sacerdotal competia ao Estado. Os primeiros padres aqui vindos receberam a formação sacerdotal em Portugal mesmo, outros nos Açores, pois vários sacerdotes acompanharam os “casais açorianos” nas imigrações do séc. XVIII. Era um clero de qualidade diversa: houve daqueles (estamos falando dos seculares) que rece-beram ótima formação em Coimbra, dotados de índole apostólica, e houve daqueles que “entraram em Ordens” apenas para escaparem de Tribunais civis. Outras vezes, a formação se reduzia a lições de Casuística e ao aprendizado de “dizer Missa e confessar”. Nesses casos, algumas semanas ou meses eram mais que suficientes.

Padres aqui vieram por espírito apostólico, padres aqui vie-ram com o mesmo interesse dos colonizadores: ganhar dinheiro, fazer fortuna. Não nasceram da imaginação as queixas dos jesuítas contra alguns padres seculares que, “por sua devassidão e cobiça”, atrapalhavam o esforço evangelizador.

Os seminários propriamente ditos começaram após o 1º Síno-do brasileiro, ocorrido em São Salvador da Bahia, em 1707. Fruto

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desse Sínodo foram as “Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia”, adotadas depois por todas as Dioceses brasileiras até iní-cios da República. Foi a primeira experiência de legislação pastoral e canônica, livre da tutela de Lisboa. As Constituições Primeiras, seguindo as recomendações do Concílio de Trento, estimularam a criação de seminários, que se multiplicaram graças à obra do Pe. Malagrida SJ. Praticamente todos estavam ao encargo da Compa-nhia de Jesus.

Por isso mesmo, foi trágica a expulsão dos Filhos de Santo Inácio, em 1759. De um clero numericamente significativo – eram 2.790 sacerdotes para 2.700.000 habitantes, à razão de 1 sacerdote por mil habitantes –, 1.590 religiosos foram mandados de volta para a Europa! Com seu gesto, o Marquês de Pombal fechou 113 residên-cias de jesuítas e deixou sem professores todos os seminários.

O que fazer? Limitou-se ao mínimo a formação do Clero. Na Arquidiocese da Bahia eram algumas semanas ou meses de lições de Casuística, dadas por um professor leigo, pago pelo Estado. Pode-se imaginar o nível cultural, moral e religioso de tais padres!

O primeiro seminário catarinense

O primeiro seminário em terras catarinenses foi obra dos Je-suítas, da Missão espanhola, aportados no Desterro em 1844. Nesse ano abriram no Desterro o primeiro Colégio da Companhia Restau-rada no Brasil. Em 1846, mudaram-se os padres para a Chácara de Espanha, e ali iniciaram um Internato. A obra não foi adiante devi-do a doenças endêmicas que dizimaram a comunidade: 3 padres, 1 escolástico e 1 irmão mortos pela febre amarela. Por falta de pessoal, a 16 de novembro de 1855 tiveram os padres de retirar-se. Outra ex-periência, essa de um padre diocesano, foi em Blumenau, no ano de 1879. O vigário, Pe. Alberto Maria Jakobs, fundara, a 16 de janeiro de 1877, uma Escola Paroquial, com o nome de “Colégio São Paulo”. Em 1879 abre um Pensionato interno para meninos com desejo de seguirem a carreira sacerdotal. Seria essa a primeira tentativa de um seminário diocesano em terras catarinenses.

Mas a obra sofreu solução de continuidade. Pe. Jakobs, exaus-to e doente, retirou-se para o Rio de Janeiro em princípios de 1892,

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falecendo logo em seguida, sem realizar o sonho de retornar à terra natal. Doou o Colégio São Paulo e todo o patrimônio aos padres franciscanos. Em 1897, o Colégio, depois Santo Antônio e agora Bom Jesus, servia exclusivamente de seminário: os seminaristas da Ordem, vindos da Europa, eram transferidos para Blumenau. Em 1895, a Escola Paroquial foi assumida, com o nome de Colégio Sa-grada Família, pelas Irmãs da Divina Providência, vindas a Blume-nau para esse fim.

O alemão Pe. João Batista Kloecker em 1907 chegou a São Ludgero, como vigário cooperador. Entusiasmou-se pela obra vo-cacional. Na casa paroquial mesmo, com o apoio do Pe. Frederico Tombrock, acolheu alguns meninos vocacionados, aos quais dava lições de latim e de outras disciplinas. Por falta de recursos, no ano seguinte os meninos foram enviados ao Rio Grande do Sul, fe-chando-se o projeto de Seminário. Quatro desses alunos foram or-denados presbíteros: Huberto Rohden, Nicolau Gesing, Bernardo Füchter e José Locks.

Em 1908 criou-se a Diocese de Florianópolis. Para Dom João Becker, 1º Bispo diocesano, a solução era o povo ter sacerdotes de sua origem e índole, para haver um atendimento conveniente. Solução provi-sória seria importar clero. Devido à idêntica situação em que outras novas Dioceses se encontravam, os Bispos sul-brasileiros optaram provisoriamente pela centralização dos seminários. E como a Pro-víncia Eclesiástica de Porto Alegre, à qual pertencia Florianópolis, possuísse dois seminários, um Maior e outro Menor, para lá foram enviadas as vocações catarinenses. Em 1912 lá estudavam 11 semi-naristas menores e 2 maiores. Dom Joaquim Domingues de Oliveira (1914-1967) encontrou o mesmo quadro.

Mas, não tinha coragem de dar início a uma obra que car-rearia grandes recursos em dinheiro e pessoal. Os padres do sul, capitaneados por Pe. Frederico Tombrock, queriam que se fundasse um seminário. Em janeiro de 1919, Pe. Tombrock obteve permissão para abrir um em sua paróquia. Como Dom Joaquim não apoiasse a idéia, pediu-se apenas a “sua bênção”, que não foi negada... Pe. José Sundrup se encarregou da obra, em Pentecostes chegando o Pe. Humberto Ohters, para ajudá-lo. Em março de 1919 a casa abrigava 7 meninos. No ano seguinte, 14. Mas, infelizmente, a falta de recur-

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sos, de apoio e professorado, fizeram com que o seminário abortas-se em seu segundo ano de existência. Desses meninos, 4 atingiram o sacerdócio.

O Seminário Menor Metropolitano em Azambuja

A 11 de fevereiro de 1927, terminado o Retiro do Clero, foi anunciada a fundação do Seminário arquidiocesano. O Cura da Ca-tedral, Pe. Jaime de Barros Câmara, foi encarregado de entrar em contato com os vigários que tivessem meninos vocacionados. O pró-Vigário Geral, Frei Evaristo Schürmann, se esforçou para deixar a obra na Capital. Ajeitou-se, então, uma casa da família Aducci, na Rua José Vieira 2. Tudo improvisado: sem camas, sem escrivani-nhas, sem luz, sem água, sem armários... A 4 de março foram che-gando os novos alunos. Provisoriamente ficaram na Casa paroquial. A 8 de março se transferiram para a casa escolhida, ainda em refor-mas. São 15 meninos em meio a improvisos e apertos. Pe. Jaime de Barros Câmara era o reitor. Em 25 de março, Dom Joaquim erigiu oficialmente o Seminário Menor Arquidiocesano Nossa Senhora de Lourdes. Viu-se, porém, que não era possível continuar nas exíguas e incômodas dependências onde os seminaristas estavam alojados.

Dom Joaquim resolveu transferir o Seminário para onde ele próprio pensara, antes de ter consultado o Clero, que viera com mil idéias: o Seminário iria mesmo para o Hospital de Azambuja, em Brusque. Em 7 de abril, comunicou a decisão. A comunidade brusquense reagiu indignada: perderia um Hospital, tão necessá-rio ao povo. Organizou-se para impedir o desembarque dos se-minaristas. Pe. Jaime consegue despistar o horário de chegada do caminhão, de sorte que na madrugada de 21 de abril lá estavam os rapazes, acomodados no andar superior do belo prédio construído pelo Pe. Lux, o qual agora, além de Hospital, seria também Semi-nário. São as obras de Deus. Nos 80 anos de sua história, com mais de 2000 ex-alunos, o Seminário de Azambuja cresceu, diminuiu, diversificou-se.

Desde 1970, abrigando também os estudantes de Filosofia, o Seminário Metropolitano é o grande tesouro da Arquidiocese: o retrato da Igreja de Florianópolis é moldado pelos pastores nele formados.

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6 Evolução territorial do Bispado de Florianópolis (1908-2007)

A área da Diocese de Florianópolis

Inicialmente podemos afirmar que a superfície da Diocese de Florianópolis, criada a 19 de março de 1908, correspondia à superfí-cie do Estado. Quando a Bula “Quum Sanctissimus Dominus Noster” no nº 2 delimita a área a ser separada do Bispado de Curitiba, afirma: “Os limites da Diocese de Florianópolis serão os atuais ou futuros limites do Estado de Santa Catarina; não lhe sejam atribuídas outras áreas do que as que constituem ou constituirão o mesmo Estado”. O acima escrito atesta que não se tinha clareza sobre as reais delimita-ções geográficas, o que se deve ao problema do “Contestado”.

“Contestado” é o termo utilizado para o território disputado entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. O Estado do Paraná foi criado em 1853, mas nenhum dos três Decretos que tratam de sua criação especificaram-lhe os limites. Surge a pendência jurídica. O Paraná reclama como seus os territórios abaixo do Rio Iguaçu, que pertenceriam aos Campos de Palmas, por terem sido objeto da co-lonização paulista. De fato, em sua penetração, os paulistas haviam chegado até Lages. Misturada com motivos políticos, econômicos, sociais, religiosos, surgiu a “Questão do Contestado”. O território em questão abrangia uma área de 28.700 km². Incluía o Oeste catari-nense à esquerda do Rio do Peixe e boa parte de Mafra.

A 25 de abril de 1908, para coibir dúvidas e evitar problemas, mais uma vez a Santa Sé determinou que os limites diocesanos acompanhassem sempre os limites civis do Estado. Após grandes e infindáveis discussões nos fóruns jurídicos, da fracassada tentativa de criar o “Estado das Missões” (1910), após a sangrenta e inglória guerra dos “Fanáticos” (Contestado), a Questão foi resolvida a 20 de outubro de 1916, no Rio de Janeiro, quando o Presidente Wenceslau Braz deu ganho de causa ao Estado de Santa Catarina, cabendo-lhe a maior parte da área contestada. A 7 de Setembro de 1917, nosso Estado entrava na posse definitiva e efetiva dos territórios que lhe couberam pelo Ato.

Ficaram assim constituídos os limites do Estado, que corres-ponderiam, segundo a Bula “Quum Sanctissimus Dominus Noster”, aos da Diocese de Florianópolis: “a partir do Oceano Atlântico, pelo

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Rio Sahy-Guaçu, até as vertentes do Rio; destas vertentes, em linha reta, até a nascente do Rio Negro; por este Rio abaixo até seu en-troncamento no Rio Iguaçu; pelo Rio Iguaçu até encontrar a ponte da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, na cidade de União da Vitória; pelo leito desta Via Férrea até encontrar a Estrada de Roda-gem que conduz à cidade de Palmas; por esta Estrada de Ferro até o Rio Jangada; por este Rio acima, até suas vertentes; das vertentes do Rio Jangada, e pelo divisor das águas, até o lugar Barracão, frontei-ro à República Argentina.” Os outros limites não foram alterados.

A história religiosa se adequou à Questão. A 13 de outubro de 1914, o Bispo de Curitiba, Dom João Braga, e o de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, estabelecem um acordo pelo qual os padres das Paróquias paranaenses (Guaratuba, Paranaguá, São José dos Pinhais, Lapa, Rio Negro, Lucena, União da Vitória e Palmas) pudessem atender confissões e doentes nas Paróquias limí-trofes catarinenses, o mesmo valendo para os padres catarinenses limítrofes com o Paraná.

Terminando a Questão do Contestado, era preciso fazer as transferências canônicas das regiões que tiveram seus limites de-finidos. A 14 de setembro de 1917, Dom João Braga escreveu a Dom Joaquim a respeito dos pontos decididos e assentados de transferência de território, marcando o dia 1º de outubro para as transferências das jurisdições dos padres de Itaiópolis, Irace-ma, Porto União e da parte catarinense de Palmas. Acordam que os padres de Porto União acumularão os cargos em União da Vitória; a igreja matriz de Porto União ficará servindo aos dois territórios (Porto União e União da Vitória); a mesma coisa se estabelece para a matriz de Palmas: as duas matrizes servirão aos respectivos territórios catarinense e paranaense, pois os limites paroquiais não correspondiam aos limites civis. A 1º de outubro de 1917 houve o encontro do Bispo de Curitiba com o de Floria-nópolis para as trocas de jurisdições:

Foram transferidas para a Diocese de Florianópolis:

a) Paróquia de Itaiópolis (criada a 31–12-1901): 6.000 católicos, brasileiros, alemães e polacos; atendidos por 2 sacerdotes; 2 capelas: N.S. da Conceição e Moema.

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b) Curato de Iracema: criado na mesma data, sem território fixo, para atender aos fiéis do Rito Ucraniano (ruteno) da Paróquia de Itaiópolis, assistidos por 2 sacerdotes basi-lianos; 3 capelas: Iracema (sede), Moema e Linha Costa Carvalho; 1 colégio e 1 hospital.

c) Parte da Paróquia de Rio Negro: capelas de Rio Preto, Aven-cal, Butiá, Guavirova, Estiva e Turvo.

d) Parte da Paróquia de Porto União (União da Vitória): inclui-se o trecho da cidade do mesmo nome, onde se situam a matriz e Casa Paroquial. Passa para a Diocese de Florianópolis a matriz e capelas dos Tocos, Nova Galícia, Legru (cada uma com duas capelas: uma do rito latino e outra do rito ruteno), São João dos Pobres, Limeira, São Bento, Faxinal Branco, Imbuial, Vicentes.

e) Parte da Paróquia de Palmas: os territórios de Xanxerê, Cha-pecó, Irani, Catanduvas e Gramado.

Com estas medidas ficou definido o território do Bispado de Florianópolis, correspondendo a uma área de 95.346,181 km². Pos-teriormente, a 17 de janeiro de 1927, quando elevado a Arcebispado com a criação das Dioceses de Lages e Joinville, serão feitas algumas retificações de limites. Foram duas: a primeira em 12 de novembro de 1938 e a segunda em 23 de novembro de 1968. Naquela data, a Sagrada Congregação Consistorial aprovou a agregação de parte da Paróquia de Salto Grande (Ituporanga) à Diocese de Lages, estabe-lecendo os limites do Rio Caeté até o Rio Itajaí do Sul, e da antiga estrada de Florianópolis-Lages até o Monte Tanque (a Nunciatura publicou o Decreto em 3 de maio de 1939). Em 1968, Florianópolis transferiu à recém-criada Diocese de Rio do Sul as Paróquias de Itu-poranga, Vidal Ramos e Alfredo Wagner. Fora isso, evidentemente, houve as alterações territoriais para a criação das Dioceses de Lages, Joinville e Tubarão. Quando da criação da Diocese de Blumenau, em 2000, as Paróquias à margem esquerda do Itajaí-açu passaram àquela jurisdição: Navegantes, Ilhota, Luiz Alves, Penha e Piçarras.

O atendimento pastoral ao Oeste Catarinense

Antes da transferência de jurisdições de 1º de outubro de 1917, a área contestada ficava sob a jurisdição do Bispo de Curitiba. Este a confiara aos Padres Franciscanos de Palmas na parte Oeste, e aos de Lages na parte do Rio do Peixe.

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À paróquia de Palmas cabia visitar toda a área do “Grande Chapecó”. Palmas era uma enorme Paróquia, abrangendo prati-camente toda a região que vai da cidade com este nome até Foz do Iguaçu, descendo até o Rio Grande. Mais exatamente: tomemos como ponto de partida a cidade de Capanema; subamos o Rio Igua-çu até Porto União; pelo Rio do Peixe desçamos até o Rio Uruguai, perto de Marcelino Ramos; de lá acompanhemos a descida deste até encontrar a Argentina; pelos limites, sigamos até o ponto de partida, isto é, o Iguaçu: isto era a Paróquia de Palmas! Em 1940, o Município de Chapecó constava de 14.900 km²: e não era nem a quarta parte da Paróquia. Pode-se afirmar que esta abrangia um território corres-pondente às áreas da Bélgica e Holanda, mais de 62.000 km²...

Imaginemos o trabalho dos heróicos franciscanos de Palmas, 3 ou 4 sacerdotes para procurar – literalmente “procurar” – o povo naqueles inóspitos sertões. Frei Jacó Höfer, numa carta a Dom Joaquim (11-07-1918) diz que, “se multiplicarmos as dificuldades imaginadas por 10, teríamos apenas uma idéia...”. Vão a certos lugares 2 vezes por ano, avi-sando a visita com 6 meses de antecedência. Os padres estão sempre de viagem. Às vezes as mulas morriam, desfalecidas pelo cansaço. As cape-las eram ranchos feios, sem janelas nem assoalhos, de tábuas rachadas. Apenas as de Xanxerê e de Catanduvas eram forradas. O povo morava em ranchos, às vezes faltando colheres, pratos e garfos. Comem feijão e milho. Dom João Braga, numa Visita Pastoral, chegou a não comer, tal era o apetite pelo apresentado à mesa episcopal... Higiene, nem se fala.

O Prelado de Palmas, Dom Frei Carlos de Savóia Bandeira de Mello, OFM, de ascendência principesca, passou horrores. Dormia em casas sem janelas e portas. Para trocar de roupa, os Frades lhe faziam o papel de janela e porta. Banho, em algum regato ou fonte. Num dia, fala Frei Evaldo Bamberg, o ilustre Prelado, morto pelo calor e sujeira, resolveu banhar-se condizentemente num riacho, sob a assistência do povo. Lavando o que dava, não chegou a 1/3 da área total... Eram outros os tempos.

Em 1917, após a transferência das jurisdições, Dom Joaquim entrou em acordo com o Bispo de Curitiba para que os Francisca-nos de Palmas continuassem e atender à região de Chapecó. Daria Jurisdição aos Padres daquela Paróquia. Dom Joaquim, em 1919, re-alizou sua primeira e única viagem pastoral ao Oeste.

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Em 1926, com a instalação da Colônia teuto-brasileira de Por-to Novo (Itapiranga), obra do jesuíta Pe. João Rick, pleiteava-se uma vila para alemães, e alemães católicos. Uma espécie de república dentro da República, para salvar a etnia, a cultura e a fé. É Dom Jo-aquim quem dá as orientações para seu atendimento espiritual. Ini-cialmente pensa em confiá-la aos padres de Palmas. Depois surgiu a idéia de pedir auxílio aos Palotinos do Rio Grande ou aos Padres de Steyl, sediados na Argentina. Prevaleceu a sugestão de entregá-la aos Missionários da Sagrada Família: em 1927, com a criação do curato, este é entregue ao Pe. Ofenhitzer MSF. Posteriormente os Jesuítas a assumem definitivamente. Essa situação do Oeste con-tinuou até 9 de dezembro de 1933, quando foi erigida a Prelazia de Palmas, que englobava, na parte catarinense, 14.535 km². Desse modo, o Grande Chapecó deixou de pertencer à Jurisdição canônica catarinense até 14 de janeiro de 1958, quando da criação da Diocese de Chapecó.

As novas circunscrições eclesiásticas

A 17 de janeiro de 1927, o Bispado de Florianópolis foi ele-vado a Arcebispado, deixando de ser sufragâneo de Porto Alegre. Criavam-se as Dioceses de Lages e Joinville. Com esse desmembra-mento, o território do antigo Bispado ficou reduzido a 20.514 km².

No ano de seu Centenário, 2008, a arquidiocese tem a super-fície de 7.862,1 km2, com densidade demográfica de 173,91 hab/km2. Em 1908 era uma Igreja diocesana. Agora são 10: Florianópo-lis (1908), Joinville (1927), Lages (1927), Tubarão (1954), Chapecó (1958), Caçador (1968), Rio do Sul (1968), Joaçaba (1975), Criciúma (1998) e Blumenau (2000).

7 O Governo Central (1908-2007)

I – BISPOS DIOCESANOS (data de eleição)

Dom João Becker – 03.05.1908 a 05.10.1912Mons. João Borges Quintão – eleito em junho de 1913, re-nunciou antes da Sagração.Dom Joaquim Domingues de Oliveira – 02.04.1914 a 17.01.1927

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II – ARCEBISPOS METROPOLITANOS

Dom Joaquim Domingues de Oliveira – 17.01.1927 a 18.05.1967Dom Afonso Niehues – 18.05.1967 a 16.03.1991Dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ – 16.03.1991 a 25.07.2001Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ – 20.02.2002 – ...

III – ARCEBISPOS COADJUTORES

Dom Felício César da Cunha Vasconcellos, OFM – 14.07.1957 a 19.06.1965Dom Afonso Niehues – 14.08.1965 a 18.05.1967

IV – ADMINISTRADORES APOSTÓLICOS

Dom João Francisco Braga – 19.03.1908 a 12.10.1908Dom João Becker – 01.08.1912 a 07.09.1914Dom Afonso Niehues (sede plena) – 14.08.1965 a 18.05.1967

V – ADMINISTRADOR DIOCESANO

Dom Vito Schlickmann – 24.09.2001 a 27.04.2002

VI – BISPOS AUXILIARES

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, scj – 28.04.1985 a 22.07.1991Dom Vito Schlickmann – 23.05.1995 a 03.03.2004Dom José Negri, PIME – 05.03.2006 – ...

VII – VIGÁRIOS GERAIS

Côn. Arcângelo Ganarini – 01.01.1908 a 12.10.1908Pe. Manoel João Luiz da Silva – 30.04.1911 a 29.06.1911 (Vi-gário Geral Honorário)Mons. Francisco Xavier Topp – 14.10.1918 a 18.05.1925Pe. Bernardo Füchter – 18.05.1925 a 22.10.1925 (Pró-Vigário)

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Frei Evaristo Schürmann, OFM – 13.04.1928 a 07.02.1935 (Pro-Vigário) e 07.02.1935 a 08.06.1939Mons. Harry Bauer – 19.06.1939 a 16.12.1946Mons. Frederico Hobold – 31.05.1948 a 31.05.1949 (Pro-Vi-gário) e 31.05.1949 a 12.03.1970Mons. Valentim Loch – 26.04.1970 a 23.05.1995Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ – 28.04.1985 a 22.07.1991Pe. Vito Schlickmann – 05.06.1991 a 23.05.1995Dom Vito Schlickmann – 23.05.1995 a 05.03.2006Dom José Negri, PIME – 05.03.2006 – ...

VIII – GOVERNADORES DO BISPADO

Côn. Arcângelo Ganarini – 21.09.1910 a 12.09.1912Mons. Francisco Xavier Topp – 12.09.1912 a 07.09.1914

IX – SECRETÁRIOS GERAIS DO (ARCE) BISPADO

Mons. Francisco Xavier Topp – 03.05.1908 a 12.09.1912Frei Evaristo Schürmann, OFM – 27.04.1926 a 23.04.1928Mons. Frederico Hobold – 22.11.1943 a 31.05.1948

X – CHANCELERES E PROCURADORES GERAIS

Mons. Francisco Xavier Topp – 15.04.1915 a 18.05.1925Mons. Frederico Hobold – 08.03.1946 a 12.03.1970Pe. Affonso Emmendoerfer – 01.09.1971 a 28.12.1994Pe. Henrique Ernesto Cervi – 28.12.1994 a 19.12.1997Dr. Ênio de Oliveira Matos – (vice-chanceler) 28.12.1994 a 19.12.1997. Chanceler: 19.12.1997 a setembro de 1998

XI – ADMINISTRADOR E PROCURADOR

Pe. Valdir Bernardo Prim – 28.12.1994 a 31.12.2005

XII – ADMINISTRADOR

Pe. Francisco Rohling – 01.01.2005 – ...

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XIII – CHANCELERES

Leonardo Schwinden – 06.02.1999 a 23.01.2003Diác. José Neri de Souza – 23.01.2003 – ...

XIV – COORDENADORES DE PASTORAL

Pe. Affonso Emmendoerfer – 1966 a 1969Mons. Valentim Loch – 1970 a 1979Pe. Jairo Aldo da Silva – 1980 a 1983Pe. Luiz Carlos Rodrigues – 1983 a 1987Pe. Francisco de Assis Wloch – 1988 a 1994Pe. Alvino Introvini Milani – 1995 a 1999Pe. Vitor Galdino Feller – 2000 a 2003Pe. Alcioni Berkenbrock – 2004 e 2005 Pe. João Francisco Salm – 2006 Pe. Carlos Rogério Groh – 2007 – ...

8 Dom João Becker – Primeiro Bispo de Florianópolis

Filho de Carlos e de Catarina Becker, nasceu Dom João Becker a 24 de fevereiro de 1870 em S. Wendel, Bispado de Trier. Na sua primeira infância, a família emigrou para o Rio Grande do Sul, na zona do Caí. Seu pai sempre desempenhou a função de professor primário, desde cedo introduzindo o filho na vida estudantil. Dota-do de rara inteligência, ajudava o pai nas tarefas de tomar as lições dos alunos, ele mesmo, às vezes, explicando-as.

Tendo estudado em particular com os Jesuítas, matriculou-se depois no tradicional Colégio Conceição, onde quase sempre obte-ve a nota máxima. Cursou os Preparatórios exigidos para os cursos de Medicina e Direito. Deus, porém, o chamava para outra missão. Assim, aos 21 anos, em 1891 matriculou-se na primeira turma do Seminário Diocesano de Porto Alegre, naquele ano inaugurado por Dom Cláudio José Ponce de Leão.

Brilhante aluno de Filosofia, onde defendeu teses elogiadas pelo grande jesuíta Pe. Dr. Jacob Faeh, em 1893 matriculou-se nos estudos teológicos. Concluída a formação acadêmica, recebeu as or-

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dens do Subdiaconato e Diaconato em 30 de novembro de 1894 e 30 de novembro de 1895, respectivamente.

O Bispo de Porto Alegre, Dom Cláudio, conferiu-lhe a ordena-ção presbiteral a 2 de agosto de 1896, na capela do Seminário Dioce-sano. Dois dias depois foi nomeado Vigário da Paróquia do Menino Deus, na capital gaúcha. Pe. João Becker destaca-se pela piedade e pelo zelo na ação pastoral. Em pouco tempo consegue, graças à sua amabilidade e solicitude, mudar a fisionomia da Paróquia. Admi-rava-se sua força de trabalho, ainda mais partindo de um sacerdote jovem, de compleição frágil e delicada.

Grande amor dedica o sacerdote ao estudo. Após um dia de trabalho, noite adentro o Vigário ia aprofundar os conhecimentos de grego, hebraico, História da Igreja e Direito Canônico. As horas de lazer eram dedicadas ao cultivo das Letras, dominando quase perfeitamente a linguagem portuguesa e notabilizando-se como jornalista e orador sacro. O jornalista Evandro Ribas a ele se refere como homem de “caráter ilibado, reputação impoluta, talento real, grande ilustração, extrema piedade, grande caridade, inexcedível zelo, aliados a um trato fidalgo e extrema gentileza”.

Primeiro Bispo de Florianópolis

É este sacerdote que a Santa Sé elegeu primeiro Bispo da recém-criada Diocese de Florianópolis, em 3 de maio de 1908. Dom Cláudio José Ponce de Leão, coadjuvado por Dom João Francisco Braga (Bispo de Curitiba) e Dom João Antônio Pimenta (Auxiliar de Porto Alegre), conferiu-lhe a ordem do Episcopado na Igreja de N. S. das Dores, de Porto Alegre, em 13 de setembro de 1908, com grande representação popular e de autoridades catarinenses, que queriam ao máximo pres-tigiar os inícios da vida do Bispado florianopolitano.

Sob enorme afluência de público, com a presença maciça do Clero, contando entre eles o lendário e santo Frei Rogério Neuhaus, OFM, Dom João Becker foi empossado na Diocese de Florianópolis em 12 de outubro de 1908. O Pe. Dr. Gercino de Oliveira, jovem sa-cerdote tijucano formado no Pio Latino de Roma, lê a Bula de Elei-ção. Está presente ao ato o Sr. Bispo de Curitiba, Dom João Francisco Braga, até esta data Administrador Apostólico.

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Apesar de sua curta permanência à frente do Bispado de Flo-rianópolis, Dom João Becker não economizou esforços para organi-zar a vida católica catarinense, trabalho iniciado e continuado com grande fecundidade pelo Pe. Francisco Topp.

Homem dado ao trabalho intelectual, à precisão dos concei-tos, muito estimulou a expansão das Escolas Paroquiais, para ele a solução do problema da ignorância religiosa: sem instrução tor-na-se muito difícil uma verdadeira e própria formação cristã. Em Blumenau, com o auxílio dos Padres Franciscanos, foi fundada a Escola Normal para professores que depois seriam nomeados para as Escolas Paroquiais. A formação de professoras era garantida pelo Colégio Sagrada Família, das Irmãs da Divina Providência, funda-do graças aos bons ofícios do Pe. Topp, em Florianópolis.

As mesmas Irmãs fundam mais 5 Colégios e 2 Escolas. Dois Colégios são iniciados pelas Irmãs Apóstolas do Coração de Jesus, e as Irmãzinhas da Imaculada Conceição de Nova Trento fundam uma Escola. Ao mesmo tema, Dom João Becker dedica sua Carta Pastoral de 1910, afirmando que não há uma verdadeira paróquia sem uma Escola Paroquial. A insistência no ensino deve ser credi-tada em boa parte à inexistência de Instrução religiosa nas Escolas oficiais, face à separação entre Igreja e Estado, operada pela Repú-blica em 1890.

Muito o preocupou o problema – gravíssimo aqui – da forma-ção sacerdotal. Aqui encontra apenas dois sacerdotes catarinenses, o de Laguna e o de Santo Antônio de Lisboa. Velhos. Outros sa-cerdotes havia, mas tinham demandado outras regiões. Houve até algum melindre com a nomeação de um gaúcho – e alemão – para o Bispado... Não conseguiu fundar um Seminário, pela ausência de formadores e de condições financeiras. Enviou os vocacionados para Porto Alegre. Refere-se ao problema na Carta Pastoral de 1912 Sobre o Clero e sua Missão Moderna.

Outras Cartas Pastorais, que totalizaram cinco: Sobre a dignida-de e os deveres do Bispo, saudando os diocesanos (1908), Sobre a Ação Social (1911) e a de Despedida em 1912. Dom João Becker dava extre-ma importância às Cartas Pastorais, praticamente escrevendo uma a cada grande momento que surgia na vida eclesial ou nacional.

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As escritas em Porto Alegre são volumosas, vendidas nas Livrarias como livros de leitura e de instrução.

Organização da vida pastoral

Em janeiro de 1912 promoveu um Congresso Sacerdotal para tratar de assuntos disciplinares, quando foi organizada uma “Tabe-la Diocesana” e o “Regimento de Custas da Câmara Eclesiástica”. O tema disciplinar já havia sido tratado no 1º Sínodo Diocesano, realiza-do de 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 1910 em Florianópolis, após o Retiro do Clero.

O 1º Sínodo dividiu o Bispado em 10 Comarcas, substituin-do as antigas 4, que não mais atendiam às necessidades pastorais. São elas, com as Paróquias correspondentes: Joinville (São Francisco, Araquari, São Bento, o Curato do Rio Vermelho (de São Bento) e a projetada Paróquia de Jaraguá); Blumenau (Gaspar e o Curato de Rodeio); Itajaí (Barra Velha, Penha, Camboriú e Porto Belo); Brus-que (Tijucas, São João Batista e o Curato de Nova Trento, ficando o de Azambuja isento); São José (São Miguel, São Pedro de Alcântara, Santo Amaro, Enseada do Brito e o Curato de Teresópolis); Laguna (Garopaba, Vila Nova, Mirim, Imaruí e Pescaria Brava); Tubarão (São Ludgero, Jaguaruna e as Capelas Curadas de Azambuja do Sul e Orleães); Urussanga (Araranguá, os Curatos de Cocal e Criciúma e a Capela Curada de Nova Veneza); Lages (São Joaquim, Curitiba-nos e Campos Novos); Florianópolis (Trindade, Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, Rio Vermelho, Canasvieiras e Santo Antônio de Lisboa).

Criou as novas paróquias de Canoinhas, Nova Veneza, Luiz Alves, Botuverá e Jaraguá do Sul, todas em 1912. E os Curatos de Cocal (1910), Massaranduba (1911), Ascurra (1912) e Rio dos Cedros (1913). Pelas suas origens, pode-se logo ver que as novas Paróquias e os Curatos situam-se nos centros de imigração alemã, italiana e po-lonesa, cujas populações organizavam-se e cresciam rapidamente, mudando praticamente as feições do antigo Estado. O Clero, assim, será mais alemão, italiano e polonês, quase inexistindo o nacional.

Encontrou aqui as Ordens dos Jesuítas (das Províncias Roma-na e Alemã), dos Franciscanos (da Província alemã de Santa Cruz da

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Saxônia) e a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus – Dehonianos. Franciscanos e Dehonianos, aqui chegados graças aos bons ofícios do Pe. Topp. Para melhor conhecer seu rebanho, por 12 vezes saiu em Visita Pastoral, visitando todas as Paróquias uma vez e boa parte pela segunda. A distância total percorrida em Visita Pastoral atingiu, segundo Mons. Topp, cerca de 6.400 quilômetros. Estimulou a pregação geral de Santas Missões, que totalizaram 91. Nessa iniciativa foi socorrido pelos Lazaristas Pes. Henrique Lacos-te e Manoel Gonzáles, e pelos Padres Franciscanos e Jesuítas.

Arcebispo de Porto Alegre

Estava realizando sua segunda Visita Pastoral, quando lhe chegou a notícia de que tinha sido promovido a Arcebispo Metro-politano de Porto Alegre, Arquidiocese de que Florianópolis era sufragânea desde 25 de outubro de 1910, quando foi desmembra-da do Arcebispado do Rio de Janeiro. O velho Arcebispo de Porto Alegre, Dom Cláudio José Ponce de Leão, resignara. A data de no-meação foi 1º de agosto de 1912. Em 8 de dezembro seguinte, festa da Imaculada Conceição, tomou posse do Arcebispado de Porto Alegre, continuando como Administrador Apostólico de Floria-nópolis até 7 de setembro de 1914. A Diocese ficou praticamente sob o governo de Mons. Francisco Topp, nomeado Governador e Provisor do Bispado.

Em Porto Alegre, Dom João desenvolveu fecundo apostolado, enfrentando com prudência e habilidade os novos momentos que viveu a Pátria; a nacionalização sucessiva à 1ª Guerra, a crise da República Velha, o Estado Novo, a 2ª Guerra. Deu início às obras da nova e imponente Catedral. Aos 76 anos, faleceu Dom João Becker em Porto Alegre. Era 15 de junho de 1946.

9 Dom Joaquim Domingues de Oliveira, o zelo pela Igreja

Dom Joaquim é o nome que praticamente se confunde com o da Diocese e depois Arquidiocese de Florianópolis. Foi pastor do re-banho de 1914 a 1967. Encontrou um Estado catarinense rural e viu-o paulatinamente se industrializar. Entravam e saíam governantes, entravam e saíam Vigários, o povo crescia e morria, e Dom Joaquim

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continuava. Acolheu seminaristas que depois ordenou sacerdotes, bispos, viu-os envelhecendo, morrendo, e o Pastor continuava a “presidir com solicitude”, seu lema Episcopal.

Encontrou uma Diocese nascente, viu nascerem as Dioceses de Joinville, Lages, Chapecó, Tubarão, para cuja criação deu os pas-sos exigidos, e viu a Diocese ser Arquidiocese em 1927. Criou Paró-quias, desativou outras; aumentava consideravelmente o número de Capelas, que viu serem fundadas, crescerem e serem elevadas a Paróquias. No atual território da Arquidiocese criou as seguintes paróquias: Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Biguaçu, Caneli-nha, Agronômica, Estreito, Guabiruba, Leoberto Leal, Nova Trento, Palhoça, São Bonifácio, Barreiros.

Foram 53 anos de ininterrupto pastoreio à frente da grei que conhecia como a mãe conhece os filhos. Deu-lhe o ensinamento, o caminho a seguir e, para sua surpresa, viu que caminhava adiante, fugindo das lições aprendidas. É que os tempos avançavam, a His-tória não parava e, quem sabe, o Pastor não conseguira acompanhar as ovelhas nas novas estradas.

E faleceu, a 18 de maio de 1967, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, sepultado na Igreja Catedral, que reformara em 1922, para os festejos do Centenário da Independência, Igreja-Mãe, onde por mais de meio século presidiu à Eucaristia, ministrou a Crisma, pro-feriu inúmeros sermões, carinhosamente preparados, estudados, no mais lídimo português barroco. Sermões antes pesquisados, medi-tados, esquematizados, depois datilografados na sua velha máqui-na de escrever, de pé mesmo, daquela sua grande altura sacerdotal, intelectual, pastoral, mas pequena fisicamente. De pé mesmo, para não se cansar na cadeira, para não ficar corcunda. Sempre erguido fisicamente, desconheceu doenças. Mantendo uma saúde invejável, à custa de exercícios físicos, encostado à parede, capinando a pe-quena horta e belo jardim, diariamente espanando aquele Palácio que era a sua residência familiar, sempre vestido com um avental agora guardado no Museu de Azambuja, que inaugurara em 1960, avental sobreposto às vestes episcopais, “monitum et praesidium do Bispo”, assim como a batina era o “sinal e a proteção” do padre, que nunca deveria abandoná-la, como que identificando-a com o próprio sacerdócio. Vestes episcopais solenes, mas pobres, cobrindo

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calças, camisas e meias remendadas, vestes vistosas, mas humildes, velhas, ciosamente conservadas assim como conservara o patrimô-nio religioso e cultural de sua Igreja, ela, a única porta e casa de salvação para a humanidade, resposta única e imutável para todos os problemas da humanidade.

Uma vida pela Igreja

Vestes e aparências solenes que encobriam extrema pobreza, que ignorava a inflação, que não sabia mais o custo das coisas, man-tidas com frugais refeições, costumes sóbrios. Solenidade que podia dar a aparência de ostentação, de riqueza, num homem que morreu praticamente sem nada, num Palácio solene, mas com ameaças à própria segurança, que dormia com uma mesa cobrindo a cama, ameaçada por pedaços de estuque que caíam do solene teto. Uma riqueza presumida, mas resumida a alguns velhos cruzeiros, e ve-lhas notas provisórias vencidas.

Uma solenidade que se manifestava na exigência inconteste de respeito, de honra primeira e total à autoridade eclesiástica, sem concorrente no mundo político. Tudo num homem que considerava o Episcopado abaixo apenas da Maternidade divina de Maria e da Encarnação do Verbo: “Deve o Bispo ser pobre, mas que haja toda uma realidade exterior para engrandecer-lhe a honra e o poder.”

Os que foram aos seus funerais, coroados solenemente pelos acordes infinitas vezes ouvidos do “De cristãos esta Coorte”, o Hino da “sua” Arquidiocese, recordaram aquela figura baixinha – mas exigente e intransigente –, que por 53 anos transpusera os limites da Capital para as Visitas Pastorais, primeiro a todo o Estado, depois ao território de sua Arquidiocese. Andou a cavalo, de charrete, de barco, de automóvel, de avião. Milhares de quilômetros percorridos para visitar o rebanho, para ministrar-lhe a Crisma, dar-lhe a Euca-ristia, proferir-lhe o Sermão, já levado pronto. Sermão tão importan-te e tão acariciado que não hesitou mandar o motorista retornar de Angelina à Capital para apanhá-lo. Era aquele o Sermão que deve-ria proferir, sem ser possível outro, sem poder improvisar. Pregar era missão por demais séria para um Arcebispo improvisar. Nem todos – talvez a maioria – conseguiam compreendê-lo. Era uma lin-guagem muito alta para um rebanho tão humilde! Era, porém, a

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doutrina da Igreja, explicação da Escritura tão prezada nos infatigá-veis e contínuos estudos.

Ação e vigilância pastorais

As Visitas Pastorais: epopéia, sempre nova, mesmo que re-petida ao longo de meio século. A conversa com o povo, a visita aos Livros Paroquiais, a inspeção na administração, olhando, sem transigir em nada do que lhe parecia transgressão à Lei da Igreja. Conselhos ao povo e ao Vigário.

Nada permitia que escapasse ao seu controle, mesmo sabendo que isso acontecia. Podia-se recordar sua exigência de respeito ao patrimônio eclesiástico, de respeito à língua vernácula, de naciona-lismo alegre e cooperador, que tantas confusões lhe arrumara com os Padres alemães e italianos, com os imigrantes e seus descendentes, que às vezes se esqueciam de que estavam no Brasil e que deveriam ser brasileiros, começando pela língua e pelo aprendizado do Hino nacional. Como sofrera daquela vez, numa Capela do Sul, quando as crianças lhe cantaram, no dia 7 de setembro, o Hino da Itália, e lhe declamaram versos em italiano com “Viva il Re d’Itália!”. Dom Joaquim assumira plenamente a nacionalização, necessária, sim, mas conduzida por meios talvez nem sempre humanamente com-preensíveis: por essa “nacionalização” não hesitou em depor todos os diretores estrangeiros de Escolas e Colégios religiosos, em 1917. Não poupara controvérsias, e mesmo intrigas, com os padres ale-mães e italianos, que para cá vieram como novos Apóstolos.

Mas ali estava o velho Arcebispo, ali estava o jovem rebanho. Participando de uma Igreja arquidiocesana, que organizara em três sínodos Diocesanos (1919, 1925, 1951), que tinham, os dois primei-ros, a finalidade de reestruturar a pastoral de acordo com o novo Código publicado em 1917. O terceiro fazia parte das solenes co-memorações dos seus 50 anos de sacerdócio. Um sacerdócio que frutificara, que se multiplicara. Para sua formação fundara dois se-minários: em 1927, o de Azambuja, e em 1941, o de São Ludgero.

Azambuja dele recebe todo o carinho, foi a sua obra mais importante. Uma Azambuja que não se restringe ao Seminário: é o Hospital (que recebeu novo prédio), é o Santuário (novo e impo-

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nente), é a Gruta, o Morro do Rosário, o Almoxarifado, o Asilo, a Fazenda, é o novo Seminário, que ele inaugurou em 1964, no 7 de setembro que celebrava os 50 anos da posse em Florianópolis.

Um Seminário que conduz no maior rigor e seriedade. Uma casa, cuja pedagogia não conhecia panos quentes, tergiversações. A Igreja existia há dois mil anos: não precisava perguntar a ninguém se devia mudar. Tudo já estava estabelecido. Bastava ler, para co-nhecer os caminhos. O seminarista era preparado para ser homem de Igreja. Longe os ares da renovação conciliar.

Um homem fiel e apegado ao passado

O Concílio do Vaticano II (1962-1965): participou da primeira sessão de 1962. Não retornaria. Escandalizava-o a discussão. Acha-va até blasfêmia o questionamento de afirmações que ele aprendera e repetira, na prática eclesiástica, por cinqüenta anos. Velho, mas não cansado, precisava o povo que ele recebesse um auxiliar, o que ele pensava ser desnecessário. Mas vem, primeiramente, Dom Fe-lício César da Cunha Vasconcellos OFM, em 1957. Não lhe foi fácil ser ajudado, ele, o Pastor incansável no trabalho. Não lhe era com-preensível alguma coisa ser decidida fora dele, acostumado a tudo centralizar. Mas aceitou. Também ele deveria praticar a obediência que sempre exigia como a grande virtude do cristão. O Coadjutor preferiu residir no Convento Santo Antônio, e ali recebia os padres e se dispunha a pregar missões. Era um grande orador sacro.

Dom Felício foi transferido para Ribeirão Preto em 1965, no-meado arcebispo metropolitano, e ali faleceu em 1972, com fama de santidade.

Dom Joaquim acha que pode continuar sozinho, pois a doença não o atingia. Assim não pensam a Santa Sé e o Clero, ansioso este por uma urgente renovação nos moldes pedidos pelo Concílio. Mui-ta coisa tem que ser feita longe do Arcebispo. Experiências são reali-zadas a partir do Estreito, longe da Ilha onde habitava o Arcebispo, ilhado ele mesmo num mundo que não mais existia, num mundo novo que desconhecia. Era o mundo da JOC, da JEC, da JUC, da Ação Católica, que ele abominava na suspeita do comunismo infil-trando-se por qualquer fresta que o Pastor, num momento de distra-

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ção, pudesse deixar surgir. Presidir com solicitude era também estar atento para que nenhuma mudança acontecesse.

Mas, a arquidiocese precisava de alguém que o ajudasse na renovação. E este veio na pessoa de Dom Afonso Niehues, que em 1927 ele acolhera no recém-fundado Seminário de Azambuja, e que em 1959 sagrou Bispo Coadjutor de Lages. Dom Joaquim aceitou, mas com dor. O velho Arcebispo não se dava conta de que envelhe-cera no tempo, na história, no físico.

A chegada de Dom Afonso e o adeus do Pastor

Memorável o 30 de dezembro de 1965: Dom Joaquim entrega o Governo efetivo da Diocese a Dom Afonso, Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico “sede plena”. Praticamente mantinha o título. No Ginásio “Charles Edgard Moritz”, lotado pelo Clero, Re-ligiosas, Autoridades e o Povo, fez um minucioso relato de seus já 51 anos de pastoreio. Enumera as obras pastorais, administrativas, materiais. Um grande elenco a demonstrar o infatigável empenho com que desenvolveu o ministério episcopal, assumido de coração no dia 26 de março de 1914, dia de sua eleição.

Nesse momento, Dom Joaquim recordou a singela cerimônia de ordenação episcopal na Capela do Pio Latino, em Roma, no lon-gínquo 31 de maio de 1914. Na mesma Cidade Eterna onde cursara Direito Canônico, obtendo o Grau de Doutor. Eram os Cânones sua grande paixão intelectual. Conhecer bem a Lei da Igreja para fiel sempre lhe ser. O ancião, resignado, mas não abatido, cheio de tra-balhos, mas não cansado, recordava a infância em São Paulo, sua cidade, após seus pais, Domingos de Oliveira Beleza e Joaquina da Silva Mota, terem emigrado da terra nata1, Vila Nova de Gaia, em Portugal. Lá nascera a 4 de dezembro de 1878.

Brasileiro por adoção, foi no Brasil que recebeu sua forma-ção: estudos primários em escolas públicas, secundários no Liceu Sagrado Coração de Jesus, dos padres salesianos. Por ultimo, no Ginásio Paulista. Terminados os estudos secundários, fez os exa-mes preparatórios no Curso da Faculdade de Direito de São Paulo e matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Mais por vontade do pai. Sua vocação era outra. E vai segui-la, matricu-

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1ando-se em 1898 no Seminário Episcopal de São Pau1o. Aí mesmo recebeu a ordenação sacerdota1, em 21 de dezembro de 1901. Em seguida, foi nomeado Professor do Seminário e Capelão. Termina-dos os estudos em Roma, retornou ao Seminário Episcopal, sendo simu1taneamente Diretor Espiritual no Colégio Arquidiocesano. Em 1910 é Cônego da Catedra1, assumindo o cargo de Secretário do Cabido. No ano seguinte, Secretário do Arcebispado. O sacerdote é conhecido como estudioso, pregador e apo1ogeta, defensor acér-rimo da Igreja. Foi nesse ministério que a Santa Sé o elegeu Bispo de Florianópolis.

Recordou o 7 de setembro de 1914, dia de sua posse, as auto-ridades, o povo carinhoso, o Clero aguardando-o no trapiche, pois demoraria alguns anos ainda para a construção da Ponte Hercílio Luz. Era um Bispo decidido, jovem em seus 35 anos. Viera para tra-balhar, e traba1hara.

Ao relatar seu vasto e rico pastoreio, tinha a consciência do dever cumprido. Presidira com solicitude. Deseja que Dom Afonso seja feliz na Arquidiocese. Terminadas as cerimônias, vai ao Palácio. Ali, na oração e no estudo, relendo e organizando materiais de seu Arquivo, prepara-se para a despedida, ocorrida a 18 de maio de 1967. No sábado anterior assistira a um casamento. No domingo, fora à Trindade, visitar as Irmãs. O homem de trabalho trabalhou até os últimos dias.

Servo bom e fiel, podia estar feliz e tranqüilo de ter desempe-nhado a missão que a Igreja lhe confiara. Ali estava a Arquidiocese. A semente crescera na unidade. A messe aumentara. Surgia uma Igreja pujante, pouco a pouco renovando-se para acompanhar os novos tempos. Não fora esta a sua missão.

10 Dom Afonso Niehues e a renovação conciliar

Terra conhecida como “fábrica de padres”, São Ludgero foi o berço natal de Dom Afonso Niehues, filho de Germano Niehues e Teresa Rohden Niehues, nascido a 23 de agosto de 1914. Terra de agricultores, homens de fé e de trabalho, viveu seus primei-ros anos no duro trabalho da roça, freqüentando o Primário ali mesmo.

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Em fevereiro de 1927, Dom Joaquim dava início ao Seminá-rio Arquidiocesano em Florianópolis, no mês seguinte transferido para Azambuja. O menino Afonso Niehues foi da primeira turma, que incluía Dom Wilson Laus Schmidt e Mons. Frederico Hobold. Vindo do interior, como seus colegas admirava-se também ele das maravilhas da cidade, vista pela primeira vez: a luz elétrica, o tele-fone, o movimento urbano.

De temperamento introvertido, as origens da família vão ma-nifestar-se no Seminário: estudioso, piedoso e trabalhador, a tudo somando grande senso de responsabilidade, nas palavras do Reitor, o futuro Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara.

Logo foi escolhido como bedel (líder, diríamos hoje) da tur-ma. Terminado o Seminário Menor, em Azambuja mesmo cursa a Filosofia, seguindo depois para São Leopoldo, no Rio Grande. De lá foi chamado por Dom Joaquim para ir Cursar a Teologia em Roma. Sem poder ir despedir-se dos pais e amigos, parte para a Cidade Eterna, onde obteve a Licenciatura em Teologia e o Bacha-relado em Direito Canônico. Em Roma foi ordenado presbítero em 16 de abril de 1938.

Retornando, não pôde ainda ir cumprimentar sua mãe (seu pai já falecera) e irmãos, agora residentes em Salete. Dom Joaquim o envia à paróquia de Laguna, para auxiliar nas cerimônias natalinas. Somente depois foi celebrar sua primeira Missa junto aos familiares.

Formador de presbíteros

Em 1940 foi nomeado Professor e Prefeito de Disciplina em Azambuja, no ano seguinte ocupando o cargo de Vice-Reitor. Em 1943 é escolhido para primeiro Reitor do Pré-Seminário de São Lud-gero. Mais uma vez às pressas: a casa não estava concluída, falta-vam os móveis, fogões, forno, tudo o que é material necessário. E os alunos já chegavam. A tudo resolveu na amizade com o povo e no tino administrativo!

Quatro anos depois, em 1947, tornou-se o 3º Reitor de Azam-buja, onde não lhe faltou trabalho. Foi de seu tempo a adaptação da vida seminarística aos novos tempos preconizados por Pio XII, de uma formação mais aberta para a realidade. Grande atenção

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dada aos estudos, que fazem o Seminário de Azambuja tornar-se um modelo de estabelecimento educacional, o melhor, sem dúvida, entre seus congêneres à época. O período foi reconhecido como o da “época áurea” da formação intelectual do Seminário Arquidiocesa-no. No cargo recebeu as distinções de Cônego catedrático (1948) e Monsenhor Camareiro Secreto (1953).

Bispo coadjutor no Planalto catarinense

No dia 10 de janeiro de 1959 foi eleito Bispo Titular de Éurea no Epiro e Coadjutor com Direito à Sucessão do Bispo de Lages, o venerando Dom Daniel Hostin, OFM. Solene sagração episcopal no Santuário de Azambuja em 5 de abril de 1959, rodeado por seus se-minaristas e inumeráveis amigos que conquistara pelo seu trabalho junto à comunidade brusquense. Deixou o Seminário em vias de ser ocupado nas suas novas instalações, começadas sob seu impulso. Importante lembrar o trabalho pastoral e administrativo realizado junto ao Santuário: dele nasceu a idéia da construção do Morro do Rosário, Bar, Almoxarifado, Edifício do Peregrino. Como Cura, con-cluiu as obras do novo Santuário.

No meio das saudades, deixou Azambuja, tomando posse no novo cargo a 7 de maio. Em Lages não mediu esforços para atender ao imenso rebanho espalhado pelo Planalto. As Visitas Pastorais ficam a seu cargo: visita mais de 700 comunidades, muitas vezes dirigindo seu próprio Jeep, sob intenso frio, passando pelas muitas privações brotadas da vida de um povo sofrido.

Sua grande preocupação foi a reorganização do Seminário Diocesano, instituição vital para o futuro de toda Diocese. Duran-te o Concilio, junto aos Bispos alemães conseguiu dinheiro para a construção do grande Centro de Formação diocesano.

O retorno a Florianópolis e a renovação da Igreja

Lá foi colhido a 14 de agosto de 1965 pela sua nomeação para Arcebispo Coadjutor com Direito à Sucessão do Arcebispado de Flo-rianópolis e Administrador Apostólico sede plena. Ofício não fácil: a Arquidiocese estava parada, pois Dom Joaquim não acompanhara os novos tempos do Concílio. Era preciso atualizar a vida arqui-

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diocesana, revitalizar a pastoral. Delicada a tarefa de administrar Florianópolis ao lado de seu titular, o venerando Dom Joaquim, de quem recebera a sagração episcopal e de quem sempre obtivera o maior crédito de confiança, sempre alçado a funções da maior res-ponsabilidade. Mas, não lhe faltaria tino para este trabalho: inovar construindo e construindo respeitando. Estava preparado: partici-para de todas as sessões do Concílio Ecumênico.

Tomou posse a 30 de dezembro de 1965, no Ginásio Charles Edgar Moritz, após vibrante acolhida em Biguaçu. Seu discurso revela o que lhe vai na alma para o bem do Rebanho. As decisões do Concílio devem ser postas em prática: “em vão procuraremos outra bússola de precisão que aponte aos nautas peregrinos de Deus nos mares da vida o porto de seu imortal destino”. Aceita como suas as teses de Paulo VI na Encíclica Ecclesiam Suam, sinte-tizadas na trilogia: Consciência – Renovação – Diálogo. “Corajosa tomada de consciência de si mesma, renovação de mentalidade e da legislação canônica, estabelecimento de maior contato com o mundo pluralista de hoje em todas as esferas da atividade e cultu-ra humanas”. Dom Afonso tem consciência de que a Igreja, perfei-ta no seu conceito ideal, deve ir se aperfeiçoando sempre mais na sua existência terrestre.

O esforço de renovação será mais no sentido de produzir no-vas energias do que em elaborar novas teorias. Onde procurar estas energias? Aqui o ponto central de seu discurso de posse e que segue fielmente em seu pastoreio: “Não se acumulam, porventura, nas an-gústias latentes do clero? Ou entre os muros dos Conventos? Nos lares das famílias? Na inquietação dos estudantes? No sofrimento do operário? Na esperança dos infortunados? Na insatisfação dos abastados? Na decepção dos governantes? Na interrogação dos cé-ticos? Na desorientação da multidão anônima que marcha sem des-tino? Nas interrogações lapidares, que brotam da Gaudium et Spes”? Grande ânsia sua a do diálogo: “Os homens começaram a caminhar para Deus depois que Deus começou a caminhar entre os homens”. Tema central de uma antropologia cristã após a Encarnação do Ver-bo. Se o Cristianismo não caminhar com o mundo, o mundo cami-nhará sem ele, e contra ele. Tem o novo Arcebispo Coadjutor a clara consciência de que a Doutrina da Igreja continua essencialmente a

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mesma dentro de uma renovação clara e responsável. A linguagem deve mudar, acompanhando os novos tempos.

Foi e é este o seu ideário, assumido com mais força em maio de 1967, pelo falecimento de Dom Joaquim. Era agora Arcebispo metropolitano.

Atualização da vida eclesial e pastoral

Primeiro passo foi o da atualização pastoral. Criou-se o Se-cretariado Arquidiocesano de Pastoral, ao qual se acrescentaram a Equipe Central de Pastoral e o Conselho Arquidiocesano de Pasto-ral. O Concílio não tinha sido dogmático, nem tinha a pretensão de dar respostas prontas, mas tinha em mente a renovação eclesial e pastoral. Caberia ao Bispo, assessorado por presbíteros, religiosos e leigos, orientar e impulsionar a vida pastoral.

Surgem, em seguida, as diversas Comissões ou Grupos de Trabalho: Catequese, Liturgia, Música Sacra, Vocações e Seminá-rios, Estatística e Pesquisa histórica – CERIS – Publicidade e outras. Pela primeira vez se procedeu a um levantamento sócio-econômico de toda a Arquidiocese e se estruturaram dois Planos de trabalho: o 1º e o 2º Plano de Pastoral de Conjunto. Monta-se uma pequena livraria para atender ao clero, religiosos e lideres pastorais. A Revis-ta PASTORAL DE CONJUNTO, nascida anos antes na Paróquia do Estreito por iniciativa do Pe. Quinto Davide Baldessar, é melhorada e modernizada pelo Pe. Afonso Emmendoerfer.

Promovem-se cursos de atualização para o Clero, Religiosos e Leigos, surgindo, junto à Universidade Federal de Santa Cata-rina, um Curso de Teologia de um ano. A modesta Ação Social é reestruturada e ampliada, dela nascendo a conhecida sigla ASA (Ação Social Arquidiocesana) que se ramifica pelas obras filiadas nas Paróquias.

Do ponto de vista econômico, nota-se a modernização da es-trutura administrativa da Arquidiocese, que até meados da década de 80 subsistiu sem o concurso das Paróquias, que assim podiam aplicar seus recursos nas próprias obras. O Clero foi amparado do ponto de vista material, primeiro pelo Instituto de Previdência do Clero (IPREC) e depois pela filiação ao INPS, além de ter seus ven-

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cimentos majorados. Quase todas as Paróquias introduziram o Dízimo.

O Seminário Menor recebeu em cheio os novos ares con-ciliares, especialmente a partir de 1969, aceitando plenamente a renovação dos métodos de formação, mesmo correndo o risco ini-cial dos inevitáveis solavancos antes de se acertar a rota. Muitas ordenações sacerdotais, garantindo a renovação permanente do colégio presbiteral.

Introduziu na Arquidiocese o Diaconato Permanente, orde-nando Edu Mário Tavares, o primeiro diácono permanente orde-nado no Brasil, e criando a Escola Diaconal São Francisco de Assis, referência nacional.

Com referência ao Governo Arquidiocesano, foram criadas duas assessorias: o Conselho Presbiteral e o Conselho Econômico. O Cabido Metropolitano teve suas funções restringidas, alargando as consultas ao Presbitério.

Diversas inovações no setor administrativo: organização do Arquivo Histórico e Eclesiástico de Santa Catarina, da Biblioteca do Arcebispado, a restauração de livros antigos ameaçados pelas traças. Com esta medida, Dom Afonso garantiu a preservação de um rico acervo documental, destino obrigatório e compensador de quem quiser escrever sobre a História da Igreja.

Compromisso com a Igreja catarinense

Em seu tempo, a Província Eclesiástica de Santa Catarina foi acrescida das Dioceses de Rio do Sul, Caçador (1968) e Joaçaba (1975). Como Metropolita, Dom Afonso empenhou-se na criação do Regional Sul-IV da CNBB, cuja instalação aconteceu a 2 de janeiro de 1970, emprestando-lhe a Arquidiocese uma sede.

Grande contribuição para os estudos eclesiásticos: conseguiu-se realizar o velho anseio de uma formação filosófica e teológica no próprio Estado, sem precisar recorrer ao Rio Grande ou ao Paraná. A partir de 1970, os seminaristas de Azambuja que concluíam o 2º Grau passaram a estudar Filosofia junto ao Convento dos Padres Dehonianos, em Brusque. Em 1973 nasceu o Instituto Teológico

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de Santa Catarina (ITESC), que funcionou inicialmente em prédio construído pela Arquidiocese. Os estudos filosóficos dos seminaris-tas catarinenses (exceção aos de Tubarão) passaram a ser feitos em Brusque, na Fundação Educacional de Brusque (FEBE). Em 1978, as primeiras turmas se hospedaram no Seminário de Azambuja. Em 1982 teve início o Seminário Filosófico Catarinense (SEFISC), com sede em Brusque. Para a manutenção tanto do ITESC como do SE-FISC foi criada a Fundação Dom Jaime de Barros Câmara. Enviou sete padres e três seminaristas para estudarem na Europa.

Foi Secretário Nacional na CNBB para os Seminários. Em 1979 foi eleito pelos bispos do Brasil como um dos representantes do Episcopado na Conferência de Puebla, no México.

Promoveu a criação de 22 Paróquias e de um Curato, visan-do à ampliação da estrutura paroquial. Todas estas Paróquias estão situadas no entorno de Itajaí e Florianópolis, que viram suas popu-lações muito aumentadas. Foram essas as paróquias: Santa Inês em Balneário Camboriú, Dom Joaquim em Brusque, Santa Teresinha em Brusque, Balneário do Estreito, Capoeiras, Coloninha, Coquei-ros, Jardim Atlântico, Saco Grande, Saco dos Limões, Santo Antônio em Florianópolis, Governador Celso Ramos, Cordeiros, São João Bosco, Fazenda, São João de Itajaí, São Vicente de Itajaí, Itapema, Ponte do Imaruim, Paulo Lopes, Santa Cruz, São Judas Tadeu, Cam-pinas, Forquilhinhas.

Seu pastoreio marcou a Igreja arquidiocesana

Os tempos mudam muito rapidamente, fazendo com que a Igreja particular se adapte às novas circunstâncias e desafios pas-torais. O tema de seu discurso de posse – o diálogo com os tempos – continuou a frutificar. Crescem as exigências do trabalho social, da opção incondicionada pelos pobres, pela justiça, pelas Comu-nidades Eclesiais de Base. A tudo isto Dom Afonso esteve atento, quer pela observação da realidade, quer pelo estudo e atualização diuturnos.

Todos percebiam nele a mente aberta para o diálogo, o respei-to às opiniões e iniciativas alheias. Conduzido pelo espírito demo-crático, respeita a autonomia pastoral, as novas frentes de trabalho,

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desde que assumidas com bom senso. Notável seu senso de pru-dência, que o faz preferir caminhar devagar, mas com segurança, antes que rápido, com idas e retornos bruscos. Aquilo que às vezes podia dar a impressão de lentidão era fruto do bom senso de quem primeiro observa, para depois dar os passos condizentes.

Em 1985 recebeu como bispo auxiliar Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, que permaneceu na Arquidiocese até 8 de maio de 1991, quando foi nomeado Bispo diocesano de Ponta Grossa, PR. Em 23 de janeiro de 1991, a Santa Sé aceitou o pedido de renúncia feito por Dom Afonso.

Deixou Florianópolis em março do mesmo ano, passando a residir no Seminário de Azambuja, local onde sempre residiu seu afeto e zelo de pastor. Deus o chamou durante o retiro do Clero, na noite de 30 de setembro de 1993. Pranteado pelo povo e pelo Clero, foi sepultado na Catedral de Florianópolis. Seu lema tinha sido “Ite in Vineam” – Ide para a vinha.

11 Dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ e o Grande Jubileu

Catarinense de Lucerna, onde nasceu em 8 de dezembro de 1932, criado e educado no Rio Grande do Sul, Dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ realizou seus estudos ginasial e secundário no Seminário dos Padres do Coração de Jesus em Corupá, Santa Catarina. Em 1954 iniciou os estudos de Filosofia em Brusque, Santa Catarina; continuou os estudos filosóficos na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, no período de 1955 a 1957. Estudou Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e no Propaganda Fide, no período de 1957 a 1964. Especializou-se em Cristologia, e seu doutorado em Cristologia versou sobre a interioridade de Cristo. Sua ordenação presbiteral foi em Roma, no dia 3 de julho de 1960

Foi eleito primeiro bispo de São José dos Campos no dia 18 de fevereiro de 1981, pelo Papa João Paulo II. Sua ordenação episcopal foi em São José dos Campos, São Paulo, no dia 1º de maio 1981. Exerceu o múnus pastoral na Diocese de São José dos Campos no período de 1981 a 1991. Fundou o Instituto de Filosofia «Santa Tere-sinha» e instalou também a residência teológica «Padre Rodolfo».

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No dia 23 de janeiro de 1991 foi nomeado Arcebispo de Floria-nópolis. Tomou posse da Arquidiocese no dia 16 de março do mes-mo ano. Contou com o dedicado auxílio pastoral do bispo auxiliar Dom Vito Schlickmann (eleito em 15 de janeiro de 1995 e sagrado bispo em 25 de março).

Uma Igreja para o novo milênio

O pastoreio de Dom Eusébio teve como centro a preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, motivo de reflexão sobre a vida cristã e de grandes Concentrações anuais, envolvendo as forças vi-vas da Arquidiocese.

Com o crescimento das áreas de Florianópolis e entornos, rea-tivou as antigas paróquias da Lagoa da Conceição na Ilha e Enseada de Brito no Continente e criou mais 5 paróquias: Ingleses, Prainha, Major Gercino, Aririú, Procasa. Como Metropolita, encaminhou a criação de mais duas dioceses catarinenses: Criciúma (1998) e Blu-menau (2000).

Acontecimento importante foi a visita do Papa João Paulo II a Florianópolis, em 1991, quando foi celebrada a beatificação de Ma-dre Paulina.

Assessorado pelo Pe. Vitor Galdino Feller, então Coordena-dor de Pastoral, Dom Eusébio instituiu a Escola de Ministérios da Arquidiocese de Florianópolis (EMAR), contando também com boa equipe de leigos, Dna. Solange Hermes Passig à frente. A EMAR fora inicialmente motivada pelo Pe. Manoel João Francisco, agora bispo de Chapecó.

Do ponto de vista administrativo, Dom Eusébio reformou e ampliou o Seminário de Teologia “Convívio Emaús” e fundou o Seminário de Filosofia “Edith Stein” nas dependências da Paró-quia dos Sagrados Corações. Transferindo os estudos filosóficos de Azambuja/Brusque para Florianópolis, primeiramente abrigou-os na Paróquia da Agronômica e a partir de 2001 no “Edith Stein”. Em 2006, os estudantes retornaram a Azambuja. Ainda com relação à formação presbiteral, em 1992 criou o Seminário Propedêutico (para jovens que desejam ingressar no Seminário especialmente após con-cluírem o 2º Grau), cuja história foi perpassada por contínuas mu-

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danças de sede: Barreiros, Azambuja, Estreito e, finalmente, Azam-buja. No edifício reformado da antiga Escola Arquidiocesana São José fundou o “Instituto Social João Paulo II”. Por razões práticas, o Instituto não funcionou, sendo suas dependências alugadas pela UNISUL, Universidade do Sul Catarinense.

Permaneceu na Arquidiocese de Florianópolis por dez anos, até sua nomeação como arcebispo de São Sebastião do Rio de Ja-neiro no dia 25 de julho de 2001, onde assumiu em 22 de setembro do mesmo ano. No consistório de 21 de outubro de 2003, presidido pelo papa João Paulo II, foi criado cardeal presbítero, com o título da Basílica dos santos Bonifácio e Aleixo. Participou do conclave que elegeu o papa Bento XVI.

12 Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ

Dom Murilo nasceu em Brusque em 19 de setembro de 1943. Ingressando na Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Je-sus (Dehonianos), foi ordenado presbítero em 7 de dezembro de 1969, em Brusque, por Dom Afonso Niehues. Foi Diretor do Insti-tuto Teológico Dehoniano de Taubaté e Superior Provincial de sua Congregação.

Nomeado Bispo auxiliar de Dom Afonso Niehues, por este foi sagrado em Brusque, em 28 de abril de 1985. Em 22 de julho de 1991 foi eleito bispo diocesano de Ponta Grossa, PR, onde perma-neceu até 7 de maio de 1997, quando assumiu como arcebispo de Maringá.

Transferido para Florianópolis em 20 de fevereiro de 2002, as-sumiu como arcebispo metropolitano em 27 de abril. Contou com o auxílio do bispo auxiliar Dom Vito Schlickmann até 3 de março de 2004 e, depois, de Dom José Negri, PIME (eleito em 14 de dezembro de 2005 e sagrado bispo em 5 de março de 2006).

Conhecendo bem a realidade da Arquidiocese e sendo conhe-cido pela maioria do Clero por seu trabalho como bispo auxiliar (de 1985 a 1991), teve facilitado o mergulho no trabalho. Já criou 5 novas paróquias: Vila Real e São Sebastião em Balneário Camboriú, São Judas Tadeu em Brusque, Canasvieiras e Colônia Santana.

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Fato a não esquecer foi a brilhante realização do XV Congres-so Eucarístico Nacional em Florianópolis, de 2 a 5 de maio de 2006, que teve como inovação o fato de ser levado até os últimos rincões da arquidiocese: num dia, bispos e presbíteros congressistas de todo o Brasil se deslocaram para as diversas paróquias e comunidades e aí celebraram com o povo de Deus, no mesmo horário e em grande comunhão eclesial, a Missa do Congresso.

Também em 2006, atendendo aos anseios do Clero, Dom Mu-rilo transferiu os Seminaristas que cursavam Filosofia em Florianó-polis para Azambuja, em unidade com as dioceses catarinenses que mantém o SEFISC em Brusque. Encaminha a reforma do edifício do Seminário Metropolitano, cujo piso térreo ficará reservado para a pastoral do Santuário. O Seminário inclui atualmente três comuni-dades: o Menor, a Filosofia e o Propedêutico.

Ligado aos Meios de Comunicação católicos, tem dedicado grande apreço à imprensa escrita, ao rádio e à TV.

É sob seu pastoreio que a Arquidiocese de Florianópolis se prepara para celebrar, ao longo do ano de 2008, o Centenário de sua Criação como Diocese, então abrangendo todo o Estado de Santa Catarina.

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SÃO PIO X – O PAPA CATEQUISTA

Pe. José Artulino Besen

No dia 19 de março de 1908, pela Bula “Quum Sanctissimus Dominus Noster” o Papa Pio X erigia a Diocese de Florianópolis. Na celebração do centenário do acontecimento é justo que conheçamos algo desse Papa.

Seu nome de batismo era Giuseppe Sarto, nascido em Treviso, Itália, em 1835. Família numerosa de camponeses, mãe logo viúva e a luta pela sobrevivência. Giuseppe ia para a escola levando os chinelos nas mãos, para durarem mais. Quando foi eleito bispo de Mântua, em 1884, quis que a pedra “preciosa” do anel episcopal fos-se extraída do fundo da garrafa onde sua mamãe guardava o leite, e o apresentava com muito orgulho como verdadeira e cara jóia.

Ordenado padre aos 23 anos, teve a graça de passar por todos os graus da vida pastoral: capelão, vigário paroquial, pároco, dire-tor espiritual do seminário, chanceler da Cúria, bispo.

A força que animava seu trabalho era o amor à Igreja, amor esse que não aceitava facilitação. Como bispo, reformou o seminá-rio, visitava cada comunidade, atendia confissões, estimulava e cor-rigia os padres, exigia obediência, simplificava a burocracia e for-talecia a vivência cristã. Era homem prático, nem sempre sabendo perceber a complexidade dos problemas, especialmente os sociais, que explodiam por toda a Europa nesse período.

Em 1893 foi eleito patriarca de Veneza e cardeal. Ali conti-nuou com a mesma simplicidade, zelo, intransigência no tocante à lei cristã. Teve conflitos com os políticos liberais, com o governo italiano, frutos de sua defesa da liberdade da ação da Igreja.

São Pio X – O Papa Catequista

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Com a morte do Papa Leão XIII, em 31 de julho de 1903 teve início o conclave para a eleição papal. O Cardeal Sarto era pouco conhecido, mas logo foi visto como um homem que olharia mais para a vida interna da Igreja, com preocupações mais pastorais que diplomáticas. Assim, no dia seguinte foi eleito com 50 votos contra 10, e assumiu o nome de Pio: surgia o Papa Pio X. Os cardeais não tinham dado ouvidos às suas súplicas: “Sou incapaz e indigno, es-quecei-vos de mim, ajudai-me!”.

Assumindo a Cátedra de Pedro, pôs-se logo a serviço da Igre-ja universal. Reformou a Cúria romana, muito burocratizada e sem competências definidas, deu início à revisão do Código de Direito Canônico, promoveu os estudos eclesiásticos para a formação do clero. No tocante aos seminários foi duro: proibiu que seminaris-tas lessem jornais, recebessem notícias e criou uma verdadeira rede de “espionagem” para ver se suas normas eram obedecidas. Nem sempre aqueles em quem confiava foram dignos dessa confiança, havendo, deste modo, injustiças no julgamento de alguns padres acusados de modernistas. Promoveu uma ampla reforma litúrgica, centralizando a vida cristã no domingo e não nas excessivas festas de santos, estimulou o canto gregoriano e litúrgico, a participação ativa dos fiéis nos sacramentos e na pastoral.

Seu pouco apetite pela diplomacia levou-o a conflitos com a Rússia, Alemanha, França, Estados Unidos, Espanha e Portugal. Sentia-se pai espiritual de todos e não admitia interferências de go-vernos na vida interna do Catolicismo.

No último ano de sua vida percebeu a proximidade da Gran-de Guerra, que ele achava que seria pouco abrangente. Mas, para dor sua, foi a terrível Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Já doente, as notícias do conflito o deixaram com o coração dolorido e cada vez mais fraco: “Pobres filhos meus! Ofereço minha vida. Mi-lhões de pessoas morrerão. Eu queria evitá-lo, mas não pude”. Com essa dor, partiu para a eternidade em 20 de agosto de 1914.

A grande preocupação de Pio X, como padre, bispo, cardeal e papa foi a catequese e a participação de todos na comunhão euca-rística. Em seus encontros com as crianças e adultos sempre minis-trava as lições da doutrina cristã.

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Estendeu para toda a Igreja a Primeira Comunhão das crian-ças assim que atingissem a idade da razão, o que poderia ser aos 5 anos de idade, desde que conhecessem o Catecismo. Numa época em que a maioria se achava indigna de comungar, estimulou a co-munhão diária.

Grande catequista, como Papa redigiu um Pequeno Catecismo de perguntas e respostas ainda hoje bastante apreciado e editado.

Uma palavra final sobre esse homem canonizado em 1954: seu amor às crianças e à catequese fez com que ele, já Papa, todos os domingos preparasse um grupo de crianças para a Primeira Co-munhão. No final do ano, Pio X, feliz com o trabalho, ensaiava os cantos e as cerimônias e celebrava a Primeira Comunhão. No meio da grande missão de Papa, de Vigário de Cristo, de Pastor universal, a missão de catequista de crianças romanas era sua grande preocu-pação, o eixo de seu coração de pastor.

São Pio X – O Papa Catequista

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O CENTENÁRIO EM PERGUNTAS E RESPOSTAS

Dom Murilo S. R. Krieger

Abertura: 19 de março de 2008

Encerramento: 23 de novembro de 2008

1. O que é uma Diocese?

Diocese (ou “Igreja Particular”) é uma porção do povo de Deus, cujo cuidado pastoral está confiado ao bispo diocesano. Para exercer sua missão, o bispo conta com a colaboração de presbíteros (= padres), diáconos, religiosos, religiosas, leigas e leigas.

2. Como entender a expressão “Igreja Particular”, referente a uma Diocese? Não existe uma só Igreja?

Entendemos a expressão “Igreja Particular” como a entende o Novo Testamento, o qual, ao mesmo tempo em que fala da “Igreja de Deus” (1Cor 15,9), fala também das “Igrejas da Ásia” (1Cor 16,19); ao mesmo tempo em que fala do “Cor-po de Cristo, que é a Igreja” (Cl 1,24), fala das “sete Igrejas que estão na Ásia” (Ap 1,4), as quais depois são nomeadas uma por uma, e a cada uma das quais se dirige a exortação a “escutar o que o Espírito diz às Igrejas”. Nos primeiros tem-pos do cristianismo se usava dizer: Igreja de Jerusalém (At, 11,22), Igreja de Antioquia (At 13,1; 15,3), Igreja de Cencréia (Rm 16,1), Igreja de Laodicéia (Cl 4,16), ou Igreja que está em Corinto (2Cor 1,1). Também hoje podemos chamar as nossas

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dioceses ou arquidioceses de Igreja de Florianópolis, Igreja de Joinville, de Curitiba, de Nova York etc. Desde que esteja em comunhão com a Igreja de Roma e com as outras, cada uma delas é a Igreja de Cristo. A unidade da única Igreja do Se-nhor, portanto, convive perfeitamente com a pluralidade das Igrejas Particulares, que são as dioceses.

3. O que é uma Arquidiocese?

Arquidiocese é a diocese principal de um grupo de dioceses; é a principal por ter sido a primeira a ser criada, por ser a mais antiga. Essas dioceses formam a “Província Eclesiástica”, que passa a ser conhecida com o nome da arquidiocese (por exem-plo: Província Eclesiástica de Florianópolis), à frente da qual está o arcebispo (= bispo que está à frente de uma Arquidiocese).

4. Como nasce uma Diocese?

Uma Diocese nasce da necessidade de se dar uma maior aten-ção pastoral a uma determinada região. Sua criação depende de uma Bula papal.

5. O que é uma Bula?

A Bula, historicamente, era um selo de ouro, prata ou chum-bo, que pendia de documentos emitidos por papas ou reis. Na Igreja católica, designa um documento pontifício de caráter especialmente solene. As Bulas contêm ordens, instruções ou benefícios que dizem respeito aos fiéis católicos.

6. Quem criou a Diocese de Florianópolis?

A Diocese de Florianópolis foi criada dia 19 de março de 1908 pelo Papa Pio X, com a Bula Quum Sanctissimus Dominus Nos-ter (Tendo em vista que o Santíssimo Senhor nosso...), com-preendendo todo o Estado de Santa Catarina que, até então, pertencia à Diocese de Curitiba. É oportuno lembrar que Pio X, falecido em 1914, hoje é santo: foi canonizado em 1954. Na oportunidade da criação da Diocese de Florianópolis, a Ma-triz de Nossa Senhora do Desterro foi elevada à Catedral. Em 1908, a população do Estado era de, aproximadamente, 350

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mil habitantes. A população atual do Estado de Santa Catari-na é de seis milhões de habitantes.

7. Por que chamava-se “Diocese de Florianópolis”, se compre-endia todo o Estado de Santa Catarina?

Chama-se Diocese “de Florianópolis” porque a cidade onde se encontra a cátedra do Bispo dá o nome a toda a Diocese. A “cátedra” é a cadeira do Bispo, símbolo de sua autoridade, pois é dali que ele ensina, e encontra-se na respectiva Igreja Catedral, também chamada de “Igreja-Mãe” da Diocese.

8. Quando a Diocese de Florianópolis passou a ser Arquidiocese?

A Diocese de Florianópolis tornou-se Arquidiocese com a cria-ção das primeiras Dioceses (Lages e Joinville), que passaram a ser suas “sufragâneas” – isto é, dioceses que passaram a ter vida própria, mas pertencendo à mesma Província Eclesiásti-ca. Isso aconteceu a 17 de janeiro de 1927, com a Bula “Inter praecipuas” (Entre as principais), do Papa Pio XI.

9. Que Dioceses nasceram em Santa Catarina, depois da criação da Diocese de Florianópolis?

Além de Lages e Joinville (1927), depois da criação da Dioce-se de Florianópolis, nasceram as seguintes dioceses: Tubarão (1954), Chapecó (1958), Caçador (1968), Rio do Sul (1968), Joa-çaba (1975), Criciúma (1998) e Blumenau (2000).

10. Quais os municípios que formam, atualmente, a Arquidiocese de Florianópolis?

A Arquidiocese de Florianópolis compreende, hoje, os seguin-tes municípios: Águas Mornas, Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Balneário Camboriú, Biguaçu, Bombinhas, Botuverá, Brusque, Camboriú, Canelinha, Florianópolis, Garopaba, Go-vernador Celso Ramos, Guabiruba, Itajaí, Itapema, Leoberto Leal, Major Gercino, Nova Trento, Palhoça, Paulo Lopes, Por-to Belo, Rancho Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São João Batista, São José, São Pedro de Alcântara e Tijucas. A área total da Arquidiocese de Florianópolis é de

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7.862,1km2. Sua população é de, aproximadamente, um mi-lhão e meio de habitantes.

11. Quais foram os Bispos e Arcebispos de Florianópolis?

O primeiro bispo de Florianópolis foi Dom João Becker, nomeado a 13 de agosto de 1908; aqui permaneceu até ser nomeado Arcebispo de Porto Alegre, em 1912.

Foi seu sucessor Dom Joaquim Domingues de Oliveira, eleito bispo a 2 de abril de 1914, tendo tomado posse como Bispo de Florianópolis a 7 de setembro do mesmo ano. A 17 de janeiro de 1927 passou a ser o Arcebispo de Florianó-polis; faleceu a 18 de maio de 1967. Dia 14 de julho de 1957, havia recebido um “Arcebispo Coadjutor”, com direito de sucedê-lo: Dom Frei Felício César da Cunha Vasconcellos, OFM, que, contudo, foi transferido, a 25 de março de 1965, para outra Arquidiocese (Ribeirão Preto) – antes, pois, de Dom Joaquim tornar-se emérito.

Seu sucessor foi Dom Afonso Niehues (de 18 de maio de 1967 a 16 de março de 1991; faleceu no dia 30 de setembro de 1993).

Sucedeu-o Dom Eusébio Oscar Scheid, SCJ (de 16 de março de 1991 a 25 de julho de 2001) – hoje, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.

O atual Arcebispo de Florianópolis é Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, nomeado Arcebispo de Florianópolis a 20 de fevereiro de 2002; tomou posse como Arcebispo a 27 de abril do mesmo ano.

12. Quais foram os Bispos Auxiliares de Florianópolis?

Florianópolis já teve três Bispos Auxiliares:

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ (16.02.1985 – 08.05.1991);

Dom Vito Schlickmann (15.01.1995 – 03.03.2004) e

Dom José Negri, PIME (14.12.2005 – ...).

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13. Que padres trabalham na Arquidiocese de Florianópolis?

Entre os padres que trabalham na Arquidiocese de Florianó-polis há “padres diocesanos” e “religiosos padres”.

14. Quais são os “padres diocesanos”?

Padres diocesanos são aqueles que são incardinados (= inscri-tos) em uma Igreja particular, em uma Diocese, consagrados totalmente a ela, para pastoreá-la, em íntima união com o bispo e os demais membros do Presbitério. Os padres diocesanos de-pendem diretamente da autoridade diocesana. Atualmente, os padres seculares da Arquidiocese de Florianópolis são 97.

15. O que são os “religiosos padres”?

Religiosos padres são aqueles que, como religiosos, são incar-dinados (= inscritos) a um Instituto Religioso (Ordens, Con-gregações, Sociedades de Vida Apostólica), isto é, além de re-ligiosos, são igualmente padres. Sob certos aspectos, também os religiosos padres pertencem ao clero da Diocese em que trabalham. Atualmente, trabalham na Arquidiocese de Floria-nópolis 73 religiosos padres.

16. Todos os padres diocesanos da Arquidiocese de Florianópolis trabalham na própria Arquidiocese?

Nem todos os padres diocesanos trabalham na própria Arqui-diocese de Florianópolis: alguns, em nome da Arquidiocese, trabalham como missionários em outras dioceses (na diocese africana de Bafatá, na Guiné Bissau; nas dioceses baianas de Barra, Rui Barbosa e Feira de Santana; na diocese de Jardim – MS); outros, por motivo de estudo, residem no exterior.

17. Quem são os “diáconos permanentes”?

Diáconos são aqueles que, tendo recebido a ordenação diaco-nal, conferida pela imposição das mãos do bispo e pela oração consecratória, são configurados a Cristo e estão a serviço da Igreja, na qual exercem o ministério da Palavra, do culto di-vino, da orientação pastoral e da caridade. Além de pregar a Palavra de Deus, batizam, presidem a casamentos, a exéquias

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e celebrações etc. São “permanentes” aqueles que não se pre-pararam para o presbiterato (= sacerdócio), mas pretendem exercer sempre o ministério destinado aos diáconos. Também homens casados podem ser ordenados diáconos em vista do diaconato permanente. Os diáconos, como os bispos e os pres-bíteros, são clérigos.

18. Desde quando a Arquidiocese tem diáconos permanentes?

A Arquidiocese foi pioneira na introdução do diaconato per-manente no Brasil, restabelecido pelo Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), e é a que tem o maior número de di-áconos permanentes no País (94). A primeira ordenação de um candidato ao diaconato permanente realizada no Brasil aconteceu em Florianópolis, a 23 de fevereiro de 1969; a Es-cola Diaconal São Francisco de Assis tem servido de modelo para outras dioceses.

19. Qual a contribuição que os/as religiosos/as oferecem para a Arquidiocese de Florianópolis?

Os/as religiosos/as, chamados a seguir Cristo pela prática dos con-selhos evangélicos (obediência, pobreza e castidade), oferecem preciosa contribuição à ação pastoral na Arquidiocese de Florianó-polis. Sua presença em hospitais, asilos, escolas, paróquias, casas de formação etc. é uma presença especial de Jesus em nosso meio. Já as religiosas contemplativas (carmelitas) obtêm, com suas ora-ções incessantes, graças especiais para toda a Igreja.

20. De que forma os/as leigos/as atuam na Arquidiocese de Flo-rianópolis?

Os/as leigos/as, inseridos no mundo, atuam nos mais diver-sos campos, como presença e testemunho da Igreja no meio social. Atuam também, de forma organizada, em pastorais, associações, movimentos e serviços.

21. Por que celebrar o centenário da Diocese (agora Arquidiocese) de Florianópolis?

Queremos celebrar o centenário da Diocese de Florianópolis para (1°) relembrar do passado, reconhecendo nele os dons de

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Deus – por exemplo: os santos que aqui viveram, quer reco-nhecidos pela Igreja (Santa Paulina, e também a Beata Alber-tina, já que na época em que viveu, a região da atual Diocese de Tubarão pertencia à Florianópolis), quer não; (2°) tomar consciência do presente e renovar nossa entrega ao SENHOR; e (3°) cultivar a esperança no futuro, preparando-o com novas formas de evangelização e novas práticas pastorais.

22. Que frutos se espera da celebração do centenário de nossa Igreja Particular?

Além da multiplicação de ações de graças e atos de louvor à Santíssima Trindade pelas graças recebidas, desde a criação da Diocese de Florianópolis, espera-se que a celebração do cente-nário nos ajude a ouvir, com renovada abertura de coração, a advertência do SENHOR: “Teme a Deus. Pois eu, o Senhor, sou vosso Deus. Cumpri minhas leis e observai meus decretos. Pon-de-os em prática e vivereis seguros na terra” (Lv 25,17-18).

23. Qual é o lema do centenário da Diocese de Florianópolis?

O lema escolhido para o centenário da Diocese de Florianó-polis são as palavras de Jesus, que lemos no Evangelho de Mateus: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10, 8).

24. O que diz a oração do centenário da Diocese de Florianópolis?

A oração do centenário começa assim: “Bendito sejais, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, porque em vossa infinita bondade nos dais a graça de celebrar o centenário de criação de nossa Diocese”. Depois de agradecer a fidelidade dos que nos antecederam, de reconhecer sua presença na Palavra e na Fração do Pão, manifestamos ao SENHOR o desejo de fazer sua vontade, contando com a intercessão da Mãe de Seu Filho.

25. O que diz o hino do centenário da Diocese de Florianópolis?

O hino do centenário da Diocese de Florianópolis acentua que somos discípulos e missionários de Jesus Cristo; que em Santa Catarina a Igreja cresceu e deu frutos; que queremos continu-ar aclamando sua presença no meio de nós; e que sentimos

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necessidade de ouvir o que o Espírito Santo nos diz: “De gra-ça recebestes, de graça dai”.

26. Qualosignificadodalogomarcadocentenário?

A logomarca do centenário tem por finalidade identificar todo material preparado para as celebrações. Seu fundo é de cor vinho (lembra o mistério de nossa Redenção, a Eucaristia e o testemunho da vida cristã dado ao longo dos cem anos) e apresenta uma cruz, sinal do cristianismo; um báculo, lem-brando que Cristo é o Pastor e o bispo, seu enviado; o livro do Evangelho, o Pão e o Cálice, clara representação do mistério da Eucaristia, por meio da qual a Arquidiocese recebe a vida; peixes, lembrando os cristãos; água, lembrando o Batismo e o oceano que banha nossa Arquidiocese etc.

27. Em que época serão feitas as celebrações principais do cente-nário da Diocese de Florianópolis?

A abertura do ano do centenário acontecerá na noite de 19 de março de 2008 (Quarta-feira santa), no Ginásio São José, em Itajaí; o término será na manhã do dia 23 de novembro de 2008 (solenidade de Cristo Rei), no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis. Ao longo do ano, nas 64 paróquias da Ar-quidiocese de Florianópolis, haverá uma série de outras cele-brações.

28. Que conseqüências deverão ter as celebrações do centenário de criação da Diocese de Florianópolis?

Desejamos que as celebrações do centenário de criação da Diocese de Florianópolis tenham como conseqüências aquelas desejadas pelo SENHOR, ao instituir as celebrações jubilares (Lv 25): recordar permanentemente que Deus é o Senhor de tudo; que os bens deste mundo são para todos, e não apenas para alguns; que é preciso converter-nos, para viver em pleni-tude o plano de Deus; e que Lhe manifestamos nossa gratidão vivendo e agindo de acordo com os ensinamentos de Jesus: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10,8). Enfim, as cele-brações do centenário deverão promover uma grande missão

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evangelizadora, na linha do que é proposto pelo Documento de Aparecida.

29. Como conhecer a programação do centenário de criação da Diocese de Florianópolis?

Poder-se-á conhecer a programação do centenário da Diocese de Florianópolis pelo Jornal da Arquidiocese (mensal, distri-buído nas paróquias), pelos informativos paroquiais e, parti-cularmente, pelo site da Arquidiocese de Florianópolis: www.arquifln.org.br e pelo do Centenário: www.centenario.org.br

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