“Arre égua, mas só tem problema é?” · Encheu minha vida, e é dele que eu vou viver Porque...

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"O sonho encheu a noite, extravasou pro meu dia Encheu minha vida, e é dele que eu vou viver Porque sonhos não morrem!" (Adélia Prado) O lá estudante da UECE. Queremos lhe convidar a ler e conhecer a tese Dos frutos da crise, semear a ousadia e resistência na UECE que foi construída por estudantes organizados no Coletivo Braços Dados em conjunto com outros estudantes independentes que sentiram a necessidade de ir além da observação da universidade, mas também de analisá-la a fundo propondo alternativas concretas aos problemas que temos hoje na UECE. E ssa é uma tese aberta, franca e direta, de estudante para estudantes, sem palavras tortas, e nem meias palavras. Esperamos falar a nossa língua, a língua estudantil, com os seus mais variados dialetos que esboçam toda a esperança da juventude cearense num futuro melhor para todos(as). D iscutiremos aqui os problemas relativos à educação, universidade, questão ambiental, conjuntura, opressões, dentre outros. Viaje conosco nessa que é uma tentativa de entender a UECE e “escrachar na veia” os vícios de um projeto de educação privatizante e derrotista que os sucessivos governos têm aplicado no Ceará e no Brasil. V amos de Braços Dados com essa tese, entender melhor a UECE para juntos revolucioná-la! Conjuntura “Uma zoiada a nossa volta!” “Crise pode mudar a política fiscal em 2012, diz o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin” - Diário do Nordeste “Crise é a pior desde 2ª Guerra Mundial” - Jornal O Povo “Protestos de Wall Street tomam o mundo” - G1 L igue a TV, abra o jornal... É só parar um pouco pra ver que o assunto não é outro: o mundo está em crise! Crise, que crise? Alguns falam até que foi uma marolinha aqui no Brasil. Mas o que está além dessa cortina de fumaça de discursos da grande mídia e do governo? U ma coisa é fato, vivemos uma crise de proporções globais que afeta o cotidiano de todos no mundo. Porém, temos várias formas de entender o que está acontecendo. Por exemplo: a mídia em geral diz que esta crise é financeira, passageira e foi causada por uma bolha no mercado americano, dando a impressão que o principal motor de tantos problemas sociais causados foi o acaso. Nós não acreditamos no Papai Noel, nem no Coelhinho da Páscoa, muito menos em “analistas econômicos” do jornal da Globo (certo?), então é preciso ir além dessa falácia. C ompreendemos que esta crise vai muito além de uma marolinha passageira. Ela é uma crise profunda e tem uma longa duração, lembremos os últimos 30 anos de neoliberalismo. Ela é uma crise onde o sistema em que vivemos, o sistema capitalista, vai jogar sobre os ombros da maioria da população, da classe trabalhadora e dos povos oprimidos, todos os efeitos negativos acumulados em anos de “libertinagem” econômica das grandes empresas. É só ver o que essa “fanfarronice” nos custou em empregos: foram cortados 30 milhões em 2008 e a previsão é que até os próximos 2 anos sejam cortados mais de 400 milhões de vagas. E sta não é a primeira crise que vivemos, mas é importante entendermos que esta crise também não é nossa, não é do povo. É dos capitalistas. E são eles quem devem pagar por ela. Por isso nossa educação não deve ser ceifada por conta dela, nossos direitos não podem ser cortados por justificativa de que “todos devem apertar os cintos”. Arre égua, mas só tem problema é?” O s seus efeitos estão evidentes. A Europa está indo à bancarrota, o Euro está desvalorizado e a economia de países tradicionais como Itália e Espanha está indo a falência. Bancos Internacionais são salvos pelos governos como forma de “amenizar os efeitos da crise”. Mas os principais efeitos estão caindo sobre os povos através de cortes nos direitos sociais e achatamentos salariais, é só ver o exemplo da Grécia. C omo o Brasil não é uma bolha, o ano de 2011 começou com um corte de R$ 50,1bi no orçamento por parte do governo Dilma (PT), junta-se a isso o corte nos concursos

Transcript of “Arre égua, mas só tem problema é?” · Encheu minha vida, e é dele que eu vou viver Porque...

"O sonho encheu a noite, extravasou pro meu diaEncheu minha vida, e é dele que eu vou viver

Porque sonhos não morrem!"

(Adélia Prado)

Olá estudante da UECE. Queremos lhe convidar a ler e conhecer a tese Dos frutos da crise, semear a ousadia e resistência na UECE que foi construída por estudantes organizados no Coletivo Braços Dados em conjunto com outros estudantes independentes que sentiram a necessidade de ir além da observação da universidade, mas também de analisá-la a fundo propondo alternativas concretas aos problemas que temos hoje na UECE.

Essa é uma tese aberta, franca e direta, de estudante para estudantes, sem palavras tortas, e nem meias palavras. Esperamos falar a nossa língua, a língua estudantil, com os seus mais variados dialetos que esboçam toda a esperança da juventude cearense num futuro melhor para todos(as).

Discutiremos aqui os problemas relativos à educação, universidade, questão ambiental, conjuntura, opressões, dentre outros. Viaje conosco nessa que é uma tentativa de entender a UECE e “escrachar na veia” os vícios de um projeto de educação privatizante e derrotista que os sucessivos governos têm aplicado no Ceará e no Brasil.

Vamos de Braços Dados com essa tese, entender melhor a UECE para juntos revolucioná-la!

Conjuntura“Uma zoiada a nossa volta!”

“Crise pode mudar a política fiscal em 2012, diz o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin” - Diário do Nordeste

“Crise é a pior desde 2ª Guerra Mundial” - Jornal O Povo

“Protestos de Wall Street tomam o mundo” - G1

Ligue a TV, abra o jornal... É só parar um pouco pra ver que o assunto não é outro: o mundo está em crise! Crise, que crise? Alguns falam até que foi uma marolinha aqui no Brasil. Mas o que está além dessa cortina de fumaça de discursos da grande mídia e do governo?

Uma coisa é fato, vivemos uma crise de proporções globais que afeta o cotidiano de todos no mundo. Porém, temos várias formas de entender o que está acontecendo. Por exemplo: a mídia em geral diz que esta crise é financeira, passageira e foi causada por uma bolha no mercado americano, dando a impressão que o principal motor de tantos problemas sociais causados foi o acaso. Nós não acreditamos no Papai Noel, nem no Coelhinho da Páscoa, muito menos em “analistas econômicos” do jornal da Globo (certo?), então é preciso ir além dessa falácia.

Compreendemos que esta crise vai muito além de uma marolinha passageira. Ela é uma crise profunda e tem uma longa duração, lembremos os últimos 30 anos de neoliberalismo. Ela é uma crise onde o sistema em que vivemos, o sistema capitalista, vai jogar sobre os ombros da maioria da população, da classe trabalhadora e dos povos oprimidos, todos os efeitos negativos acumulados em anos de “libertinagem” econômica das grandes empresas. É só ver o que essa “fanfarronice” nos custou em empregos: foram cortados 30 milhões em 2008 e a previsão é que até os próximos 2 anos sejam cortados mais de 400 milhões de vagas.

Esta não é a primeira crise que vivemos, mas é importante entendermos que esta crise também não é nossa, não é do povo. É dos capitalistas. E são eles quem devem pagar por ela. Por isso nossa educação não deve ser ceifada por conta dela, nossos direitos não podem ser cortados por justificativa de que “todos devem apertar os cintos”.

“Arre égua, mas só tem problema é?”

Os seus efeitos estão evidentes. A Europa está indo à bancarrota, o Euro está desvalorizado e a economia de países tradicionais como Itália e Espanha está indo a falência. Bancos Internacionais são salvos pelos governos como forma de “amenizar os efeitos da crise”. Mas os principais efeitos estão caindo sobre os povos através de cortes nos direitos sociais e achatamentos salariais, é só ver o exemplo da Grécia.

Como o Brasil não é uma bolha, o ano de 2011 começou com um corte de R$ 50,1bi no orçamento por parte do governo Dilma (PT), junta-se a isso o corte nos concursos

públicos e o retorno da reforma previdenciária que atacará os direitos históricos dos(as) trabalhadores(as).

Aqui mesmo no Ceará o Governo Cid Gomes (PSB) prefere dar isenções fiscais às grandes indústrias e fazer parcerias público-privadas, como o Aquário e o Centro de Eventos, ao invés de aumentar os gastos sociais em educação e saúde.

Enquanto isso, os gastos com a Copa do Mundo só aumentam, gastos estes que muitas vezes não trazem melhorias reais para nosso povo, mas sim para maquear as desigualdades da nossa sociedade e oprimir mais ainda os mais pobres, como no caso das remoções que irão afetar mais de 10 mil famílias só em Fortaleza!

Enquanto isso, o que temos feito?

“Resistir, resistir, para nunca desistir!”

Em todo mundo os povos oprimidos tem se mobilizado para resistir aos efeitos da crise. Na Grécia os(as) trabalhadores(as) tem ido à rua contra os pacotes de arrocho do governo. Na Espanha a juventude indignada ocupa as praças contra o desemprego e por alternativas políticas ao conservadorismo espanhol. Nos EUA o povo tem ido à Wall Street, centro nervoso do sistema capitalista, protestar contra o domínio do mercado financeiro sobre os interesses populares. E no mundo árabe milhões de pessoas decidiram dar rumo ao seu próprio destino, indo à luta contra um sistema arcaico e extremamente antidemocrático.

Aqui no Brasil tivemos alguns exemplos de que é possível também organizar uma resistência forte e combativa contra os poderosos. Neste ano, servidores(as) das universidades e institutos técnicos federais levaram uma combativa greve por meses. Estudantes e docentes de mais de 10 universidades públicas (UFPR, UFSC, UFSM, UESPI, entre outros) construíram greves e ocupações de reitorias para protestar contra os efeitos negativos de uma expansão que tem destruído a já escassa qualidade da educação superior brasileira, quando, por exemplo, aumenta a quantidade de alunos por cada professor. Nos últimos dias, estudantes da USP têm se levantado contra a repressão crescente nas universidades brasileiras, apresentando um plano alternativo de segurança universitária.

E pelas bandas de cá?

No Ceará, o exemplo mais evidente de que nosso povo é capaz de se impor aos interesses dos poderosos é a mobilização e greve dos professores do ensino básico estadual. Não satisfeitos com a miséria salarial imposta por Cid Gomes (PSB), professores(as) foram às ruas para exigir o mínimo: o cumprimento do piso salarial com a garantia de uma carreira que dê condições de crescimento profissional. Nós, estudantes da UECE, estivemos juntos com os(as) professores(as) nesta luta. Mesmo quando a repressão do ditador Cid Gomes (PSB) baixou sobre nós,

nos mantemos firmes na luta em defesa da educação pública. Essas ações tiveram repercussão e a população veio ao nosso apoio na marcha que levou mais de 8 mil pessoas às ruas de Fortaleza em defesa da educação pública e contra a repressão ao movimento.

Neste último semestre, na UECE, tivemos grandes mobilizações para debater com a comunidade acadêmica a realidade da nossa universidade e reivindicar melhorias na qualidade da Educação Superior pública no estado do Ceará. Podemos citar como exemplo a construção do plebiscito que questionava as/os estudantes sobre a qualidade da Assistência Estudantil ofertada, quantidade de professoras/es efetivas/os e a democracia nas universidades.

Lembremos também da vitoriosa ocupação da REItoria da UECE que tinha como pautas a conclusão das reformas infra-estruturais nos campi do interior e das obras em andamento na capital, o apoio da administração superior à realização deste congresso (XIV Congresso de Estudantes da UECE) e o comprometimento da REItoria com a realização de um seminário que discutisse a reformulação do estatuto da UECE.

A ocupação de REItoria foi fundamental em vários sentidos, tanto para mostrar para a REItoria que o movimento estudantil da UECE está vivo e precisa ser respeitado, publicizar para a sociedade os problemas da UECE, encontrar as limitações da luta interna à universidade e arrancar da REItoria posicionamentos favoráveis ao movimento, como a defesa do concurso para professores EFETIVOS. Entretanto, nestas ações percebemos que pressionar a REItoria da UECE não era suficiente para dar resposta às nossas necessidades, onde as demandas fundamentais, como o concurso para professores efetivos, só poderão ser alcançados através de um embate direto com o governo do estado.

Por isso neste Congresso devemos apontar uma plataforma política que organize o movimento estudantil da UECE para um enfrentamento direto com o Governo do Estado no próximo ano, em defesa das nossas pautas mais centrais

como maior investimento e concurso para professor efetivo. Devemos aproveitar do próximo momento de eleições para REItoria, para exigir um posicionamento favorável dos REItoráveis ao nosso movimento, e nos aliarmos aos professores e demais setores da sociedade cearense que estão se confrontando com este governo por uma educação pública e de boa qualidade.

Movimento Estudantil“O ser coletivo sente a necessidade de

lutar”

"Acordemos do sono como leões.Que o nosso número nos torne invencíveis.

Sacudam vossos grilhões,Como o orvalho que vos molhou no sono.

Nós somos muitos, eles são poucos "(Eleanor Marx)

Ficou claro que não faltam lutas para tocarmos e bandeiras de luta para reivindicarmos. Em cada lugar em que andamos na UECE há alguma coisa para melhorar. Por isso é fundamental discutir o que o movimento estudantil deve fazer para defender uma concepção de UECE pública e voltada aos interesses do povo, que é quem realmente a financia. Deste modo, é preciso colocar o movimento dos estudantes em questão.

Pensamos o movimento estudantil como movimento social, e como todo movimento social é preciso entendê-lo a partir da sua capacidade de mobilizar pessoas e pautar as suas concepções. Por isso, entendemos que o movimento estudantil, assim como a maioria dos demais movimentos sociais, vem vivendo um momento de pouca mobilização, fragmentação e crise de projeto.

No Brasil, a última década não foi favorável para os movimentos sociais. Durante os anos 90 o governo FHC com sua política neoliberal agressiva atacava diretamente os movimentos sociais sem nenhum “diálogo”. Com a chegada do PT, de Lula e Dilma e seus aliados no governo a tônica muda. Não que o governo esteja agora representando e agindo em favor dos interesses históricos das classes oprimidas, mas entendendo que a melhor forma de derrotar os movimentos é envolvê-los e iludi-los o governo petista põe em prática uma política de capitulação e absorção de instrumentos históricos de luta do povo brasileiro, não para defender nossos interesses, mas para submeter os anseios de libertação do nosso povo aos interesses do governo e do projeto capitalista no Brasil.

Nesse sentido é que entidades históricas como a CUT - Central Única dos Trabalhadores - e a UNE - União Nacional dos Estudantes - vão de “mala e cuia” para dentro do governo, servindo muito mais como secretarias do Estado do que como instrumentos de luta dos(as) trabalhadores(as) e estudantes, respectivamente.

A UNE, focando no nosso caso, já vinha com problemas há alguns anos. Porém, com a chegada do governo Lula (PT) ao planalto a UNE passa descaradamente a defender projetos que precarizam a educação brasileira, como os projetos de “expansão” do ensino superior brasileiro, que vem transformando o ensino superior em mera mercadoria barata e entregue aos interesses empresariais. É importante lembrar que a UNE há muitos anos é dirigida pela UJS - União da Juventude Socialista (PCdoB), base do governo, e que tem grande responsabilidade sobre o papel submisso que a entidade vem cumprindo hoje.

Por isso, várias mobilizações desde o início dos anos 2000 para cá, têm passado por fora desta entidade, que mesmo ainda sendo referência histórica dos e das estudantes, hoje mais dificulta do que facilita a articulação de lutas em prol dos direitos estudantis e da defesa de uma educação integralmente pública e de qualidade no Brasil. Não foram poucas as mobilizações nos últimos anos que passaram por fora desta entidade, como as ocupações de REItoria contra a reforma universitária de 2007 e as greves e ocupações deste ano. Porém, essas mobilizações poderiam ter ido mais longe se tivessem sido melhor organizadas e se houvesse um espaço de organização e uma unidade entre os lutadores para potencialização destas lutas.

Mesmo com algumas mobilizações, o que tange em geral no Brasil é um momento onde o movimento estudantil tem feito pouco movimento em massa e tem priorizado mais a disputa das estruturas do que as necessidades reais dos estudantes. Temos hoje a necessidade de construir uma reorganização do movimento estudantil vinda de baixo, da base dos estudantes, que organize lutas junto ao máximo de estudantes de instituições públicas e particulares, para a partir disto apontarmos novas saídas organizativas para o movimento, seja lá onde forem. Por isso criticamos a iniciativa de construção isolada que os setores que compõe a ANEL - Assembléia Nacional de Estudantes (Livre!) - tem feito hoje, agitando uma reorganização das/os estudantes muito mais na superestrutura, pela simples saída da UNE e criação desta nova entidade, com pouquíssima repercussão no conjunto das/os estudantes brasileiras/os.

Compreendemos que hoje é preciso manter uma disputa da base estudantil da UNE, já que por mais que esta entidade não organize as lutas mais necessárias dos estudantes brasileiros, ela tem sim uma capacidade de mobilizar o conjunto dos estudantes, principalmente porque utiliza-se do discurso do “nunca na história desse país” para mostrar que a educação no Brasil nunca esteve melhor. É preciso que desarticulemos esse “canto da sereia” e que dialoguemos com essa maioria estudantil sobre os problemas desse projeto privatizante de educação, que a UNE tem ajudado a implementar no Brasil, propondo a necessidade de construir uma plataforma combativa e de real defesa da universidade pública brasileira.

Avante Juventude!

Nós apostamos na construção da Oposição de Esquerda da UNE (OE-UNE) como uma fração pública desta entidade que dialogue com o conjunto dos estudantes – inclusive aqueles que ainda a enxergam como uma referência de luta - e que consiga projetar um novo caminhar para o movimento estudantil, seja por dentro e principalmente por fora da UNE. Juntaremo-nos àqueles que não estão mais na entidade, como os setores que compõe a ANEL e outros mais, organizando as/os lutadoras/es para lutas de massas que possam, assim como no Chile, trazer milhões às ruas em defesa de uma educação pública, gratuita e de uma boa qualidade voltada às necessidades do povo.

A partir disso fica claro que a conjuntura do movimento estudantil (M.E.) da nossa universidade não é tão diferente quanto das outras no Brasil. Na UECE, vivemos os últimos dois anos de total apatia, com pouquíssimas ações por parte do M.E., e hoje, em um contexto um pouco melhor devemos apostar na consolidação do M.E. como vetor de crítica social na universidade, com profundas raízes na base estudantil.

Por isso, nós apostamos no fortalecimento dos centros acadêmicos no interior e na capital como forma de organizar os estudantes a partir das suas especificidades, ligando-as com os problemas mais gerais da universidade. Nesse sentido, apostamos na construção de um DCE (Diretório Central dos Estudantes)por todas e todos, não apenas por sua diretoria, para que este venha ter um profundo respaldo na base dos cursos, não só do Itaperi, mas também do CH (Centro de Humanidades) e de todas as unidades do interior.

Apostamos também na construção de campanhas unitárias entre os grupos do M.E. em torno de pautas fundamentais para educação brasileira, como a campanha e plebiscito pelo “10% do PIB para educação pública, já!”, que tem tido grande repercussão na nossa universidade, com urnas espalhadas por todos os campi do interior e da capital, dialogando com a comunidade acadêmica sobre a necessidade do Estado brasileiro mais que duplicar o investimento em educação pública imediatamente.

Acreditamos que é no interior que o M.E. tem que consolidar melhor seu trabalho. A UECE é uma universidade interiorizada, com 6 campi no interior e com

muitos problemas em cada localidade. Por isso, precisamos construir um movimento organizado e combativo em cada uma dessas unidades a partir de DA’s (Diretórios Acadêmicos - representando as unidades) e CA’s (Centros Acadêmicos - representando os cursos) para que aos poucos seja construída uma nova referência de organização e luta dos estudantes do interior, para, de Braços Dados com o M.E. da capital, protagonizar as lutas em defesa da UECE.

Por isso propomos:• Construir lutas pela contratação de 300

professores efetivos para UECE;• Construir uma campanha ampliada pelo aumento

e efetivação de políticas de assistência e permanência estudantil na UECE;

• Construção de Seminários sobre o Movimento Estudantil em todas as unidades da UECE no Interior;

• Dar suporte a criação de DA’s (Diretórios Acadêmicos - representando as unidades) e CA’s (Centros Acadêmicos - representando os cursos) em todas as unidades do interior;

• Unificar nossas campanhas e lutas com os professores e estudantes da URCA e UVA. Toda força as universidades estaduais!

• Unificar a nossa luta com os professores do ensino básico estadual bem como todos os setores que defendem uma educação pública e gratuita no Ceará.

Universidade e Educação“Educar é preciso! (mas educar quem e como?)”

A educação é de fundamental importância para nós, pois ela tem uma grande força de transformação ou manutenção da realidade, porém é necessário dizer que ela é parte fundamental de um todo complexo. É através da educação que uma forte influência política e social é produzida. Com isso, logo perguntamos: qual a educação que tivemos e que ainda temos? A quê e a quem ela serve?

Analisando o caso do Brasil fica bem perceptível qual o tratamento dado à educação pelos governantes e qual modelo de educação defendem, por exemplo, enquanto há cortes nos gastos com políticas sociais, que só da educação tirou cerca de 3 bilhões de reais, o governo, através do BNDES, investe só no PRONATEC (uma espécie PROUNI do ensino técnico) cerca de 2 bilhões de reais.

A concepção de educação que existe atualmente é elitista e conservadora. Quer manter as mesmas estruturas desiguais e “botar na cabeça do povo” que é natural a desigualdade social, ou pior, que não existe outra opção. Assim sendo, é por outra concepção de educação que lutamos. Uma educação que ensine e que liberte os indivíduos, que seja construída coletivamente, capaz de satisfazer as necessidades do povo e não dispor benefícios para uma minoria.

Compreendemos que a Universidade, como espaço privilegiado de produção de conhecimento, deve ser um espaço de construção desse novo projeto de sociedade: envolvendo-se com a realidade que a cerca, produzindo conhecimento crítico socialmente referenciado.

Infelizmente a Universidade não está isenta dos ataques promovidos pela política mercantilista/neoliberal adotada pelos últimos governos, que contradiz os próprios objetivos do universo acadêmico. Hoje, um dos grandes problemas que a universidade e o ensino público têm enfrentado é o intenso processo de privatização da educação. Como exemplo, tem-se a questão das parcerias público-privadas, onde empresas ficam incumbidas de financiar pesquisas acadêmicas, resultando em pesquisas voltadas para o lucro destas, produzindo conhecimento sem nenhuma responsabilidade com a melhoria de grande parcela da população.

Outro exemplo da privatização da educação brasileira é o PROUNI, programa que promove a compra das vagas ociosas em instituições privadas de ensino por parte do Gov. Federal, repassando assim, desde que o programa foi criado, cerca de 4 bilhões de reais em isenções fiscais aos barões da educação brasileira. Deixamos bem claro que não somos contra a expansão do ensino superior, pelo contrário, ele é fundamental para popularização da educação brasileira. Porém, defendemos que esta expansão se dê completamente pelo ensino público, sem financiar empresas privadas. Não queremos um ensino que inviabilize a formação de uma perspectiva de totalidade e criticidade na apreensão da realidade como o faz o ensino à distância, mas que permita a formação de pesquisadores brasileiros que se debrucem sobre as grandes necessidades da nossa população.

A ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino - comprovou que se o dinheiro do PROUNI tivesse sido investido nas universidades federais seria possível dar acesso nessas instituições ao dobro de estudantes que entraram nas universidades através das precárias universidades privadas.

O programa vigente de reestruturação das universidades federais (REUNI) postula a degradação do ensino público de qualidade em suas diretrizes. Entre suas medidas, estão o aligeiramento dos cursos de graduação, tornando-os mais

breves, preparando e jogando mais rapidamente mão-de-obra no competitivo mercado de trabalho. É este o objetivo da Universidade? Outro intento deste projeto é o aumento da proporção professor/aluno, que era de 12 alunos por professor, para 18 por 1, fato este que sobrecarrega o trabalho docente, consumindo o tempo já escasso reservado para pesquisa e preparação de aulas e outros projetos do mesmo.

Esses problemas não são nem mesmo enxergados já que a avaliação que era pra ser responsável por isso o SINAES - Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior - e o ENADE - Exame Nacional de Avaliação do Desempenho Estudantil - não cumprem essa tarefa, por isso são boicotados pelos estudantes. Até mesmo por que o ENADE tem mais servido para criar um “ranqueamento” das instituições privadas do que para analisar os reais problemas da educação superior brasileira. Por que nem sequer analisar as especificidades de cada local a prova faz, e serve muito mais como um provão que quer adequar toda a educação brasileira a um padrão mercantilizado. Por isso temos que ir além do ENADE e construir uma avaliação própria feita pelos setores da universidade que enxergam os problemas que ela vive.

PNE - Plano Nacional de Educação 2011/2020 - O que diabo eu tenho haver com isso?

Todos esses problemas na educação brasileira existem ao acaso? São simplesmente por que o governo não prioriza a educação? Ou é por que hoje no Brasil é empregado um projeto de educação precarizado que tem o objetivo de alienar a maioria da população da realidade social em que vivemos e moldar-nos aos interesses do mercado?

Acreditamos que a segunda linha de pensamento não só seja a mais condizente com a realidade do que acontece na educação atualmente, mas também faz parte de um projeto geral mediado por políticas públicas que moldam o que é a educação hoje no Brasil. As últimas medidas de reforma conservadora e privatista da educação, feitas no nosso país de forma fragmentada e dispersa em vários anos, consolidaram a educação brasileira numa grande fábrica de construir trabalhadores alienados da nossa realidade social, de uma forma velada, pois este projeto também carrega uma expansão das vagas na educação (principalmente a profissionalizante), se utilizando da esperança do povo brasileiro de ocupar uma vaga numa instituição de ensino para assim maquear a real intenção dessa educação alienante.

É nesse sentido que surge a nova proposta do PNE, feita pelo governo no final do ano passado. O Plano Nacional de Educação, que diz sobre toda a organização e política de educação brasileira no período de 10 anos, está sendo utilizado como forma de consolidar de vez e tornar política de Estado todas as medidas privatizantes e que precariza a educação promovida pelo governo.

Além disso, a proposta do governo traz a previsão de crescimento de somente 2% (alcançando 7% apenas em 2020) do investimento em educação relativo ao PIB

nacional, quando na verdade a demanda apresentada há mais de 10 anos pela sociedade civil organizada e pelos movimentos sociais é de investimento de 10% do PIB em educação totalmente pública.

Por isso defendemos, em contraposição à proposta do governo, um PNE voltado às necessidades históricas do povo brasileiro, construído pelos próprios movimentos sociais, que demarque o investimento imediato de 10% do PIB estritamente na educação pública. Sabemos também que a luta por essa conquista se dará não apenas na luta institucional no Congresso Nacional, mas principalmente através da pressão dos movimentos sociais, desde sindicatos até o M.E., dialogando assim com o conjunto da população brasileira. Nesse sentido estamos construindo a campanha e o plebiscito pelos “10% do PIB para educação pública, já!” não só na UECE mas em vários espaços da sociedade cearense. Venha com agente tocar essa luta!

Na UECE... Viixe!

Hoje o governo estadual (PSB), através do descaso com o ensino superior público e com a criação de diversas escolas tecnicizantes vem mostrando qual tipo de projeto educacional defende e como este beneficia o “desenvolvimento” do Ceará para a classe dominante. Ressalta-se o caso da greve dos professores do estado na busca do cumprimento da lei do piso, e a recusa do senhor governador em receber os setores das universidades estaduais para pautar a carência de professores efetivos.

Na UECE, temos sofrido constantemente com esta política de sucateamento do ensino público. Foram diversas greves e manifestações nas quais algumas conquistas puderam ser aproveitadas, mas as grandes demandas estruturais permanecem. Este ano tivemos grandes demonstrações que comprovaram o grande desinteresse do governo Cid com a educação pública. Os problemas são inúmeros: há atualmente carência de cerca de 300 professores efetivos em nossa universidade, há um novo R.U. que nunca é entregue, uma biblioteca nova com um acervo “do tempo do ronca”, bolsas de assistência estudantil com valores irrisórios, campi nos interiores com estruturas decadentes, entre outros.

Portanto somos à favor de uma educação que estimule a(o) estudante a pensar como ser social, político e acadêmico, que mostre a esta(e) seus vínculos a uma realidade que está sendo (re)construída diariamente e exige sua intervenção como ser participante, seja como formador de novas consciências críticas, seja como atuante direto na transformação do meio. Um(a) estudante que se posicione diante do projeto de educação que está sendo imposto e saiba situar os rumos deste processo. Deste modo somos à favor de um projeto popular de educação, o qual possa atender às reais demandas da população.

No interior é que a coisa tá “braba” mesmo...

A nossa universidade no geral tem grandes problemas estruturais e políticos. Entretanto, se na capital os problemas já são gritantes, no interior estes são mais que

alarmantes, são emergenciais! Temos 6 campi no interior que atendem a mais de 7 mil estudantes em todas as regiões do Estado do Ceará. Esses campi fizeram parte de um valoroso intento de interiorização do ensino público no nosso estado, possibilitando acesso à educação pública a uma população aguerrida do interior, que toda vez que tem acesso ao conhecimento e oportunidade de produzir pesquisa demonstra que o que não falta é capacidade intelectual ao conjunto do povo cearense.

Porém, este projeto de interiorização foi desigual, desorganizado e principalmente desestruturado! Não foi realizado um processo de expansão que garantisse a qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão (qualquer semelhança com os atuais projetos de precarização da universidade brasileira não é mera coincidência). Fruto disso são problemas em questões básicas como a falta de estruturas laboratoriais, falta de bibliotecas bem estruturadas, poucos professores e quase nenhuma política de assistência estudantil que garanta a permanência dos estudantes na universidade.

“Agente não quer só comida”Assistência Estudanti l não é esmola!

Aliás, no geral, assistência estudantil é o que menos se vê na UECE, seja nos campi do interior ou da capital. Temos uma maioria de estudantes que são trabalhadoras/es ou que são de famílias de trabalhadoras/es de renda média ou baixa e que em geral precisam de ajuda para manutenção dos seus estudos, como por exemplo: bolsas de assistência estudantil, restaurantes universitários, residências universitárias e creches. No interior, este problema fica ainda mais alarmante pela falta de infraestrutura das cidades onde ficam as unidades e principalmente porque a maioria dos estudantes destas são de cidades próximas, e por falta de aparelhos básicos, como residência universitária e restaurante universitário, têm que ir e voltar todo o dia da sua cidade para UECE, aumentando seus custos, fazendo com que muitos desistam do seu sonhado curso universitário.

Por isso é fundamental que revertamos esse rumo que a assistência estudantil vem tendo na nossa universidade. Para isso é preciso que lutemos pela vinculação da receita de assistência estudantil diretamente no que é investido hoje no ensino superior cearense, para que seja garantido um percentual razoável que possa ser investido na manutenção dos estudantes na universidade. Afinal, hoje não se sabe ao certo quanto se investe e quanto deveria ser investido na UECE, porque assistência estudantil é entendida como uma política de subsídios assistencialistas e não como um direito.

Diante disso é fundamental que neste próximo ano construamos uma forte campanha que paute a questão da assistência estudantil, não na perspectiva assistencialista, mas sim como um direito amplo, como direito de permanência na universidade. Uma campanha que arranque do governo os investimento que garantam a construção de residências universitárias e restaurantes universitários em todos os campi da UECE,

principalmente os do interior, que garanta também creches para as mães universitárias, e que construa também na universidade espaço de cultura esporte e lazer que dê condições de convivência, não somente entre os estudantes, mas também entre a comunidade ao redor da universidade. Que esta campanha, por fim, problematize as “bolsas de assistência” que existem hoje na nossa universidade, que hoje se utilizam da demanda de assistência para aproveitar os estudantes bolsistas para atividades que muitas vezes deveriam ser cumpridas por servidores capacitados e concursados (aliás concurso para servidor na UECE nunca se viu!).

Questão Ambiental“Socialismo, ecologia e a luta contra a barbárie do

nosso tempo”.

"Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, 

quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come" 

(Cacique Seattle, 1855)

A questão ambiental está vinculada à relação do ser humano com outros seres do planeta, e, dentro do sistema capitalista, com a forma de apropriação e uso da natureza pelo mesmo. Sendo a natureza o corpo não-orgânico do ser humano verifica-se que o uso exacerbado e inadequado dos recursos naturais causa impactos diretos sobre as relações sociais.

Tais relações estão em constante transformação devido aos aspectos conjunturais de cada época e à dinâmica social vigente. Daí os impactos da ação humana sobre a natureza retornarem de forma a modificar as relações sociais. Enchentes, deslizamentos, assoreamentos de rios, desertificações de biomas causadas pelo desmatamento e queimadas, a poluição do ar, das águas, dos solos, dentre muitos outros fenômenos têm apontado para um colapso sócio-ambiental, que tem sido utilizado como uma ferramenta ideológica por esta nova roupagem (ou faceta) do sistema capitalista, conhecida como ecocapitalismo.

Percebe-se no discurso capitalista o surgimento de uma revolução ecoindustrial que busca conciliar o desenvolvimento tecnológico capitalista e a sustentabilidade ecológica. O surgimento de termos como “consumo consciente”, “consumidor verde”, “ecofashion”, dentre outros, evidenciam a apropriação e mercantilização das lutas de diversos movimentos. A exemplo disso tem-se a comercialização de produtos orgânicos que movimentam milhões de reais todos os anos.

Em contrapartida, surgem propostas como a ecossocialista, defendendo que o combate necessário para a manutenção e preservação do ambiente está necessariamente vinculado ao combate da lógica introduzida pela sociedade capitalista, na medida em que o socialismo e a ecologia partilham valores sociais qualitativos, irredutíveis ao mercado. Para os ecossocialistas, tal proposta só poderá ser concretizada a partir de um novo modelo de sociabilidade e do modo de produção com uma reorientação para a produção de tecnologias não-poluentes e na adoção de novas práticas de consumo que valorizem o valor-de-uso sobre o valor-de-troca.

No Vale do Jaguaribe - CE, a produção de fruticulturas para exportação é um exemplo dessa contradição. Na região são cultivadas diversas frutas tropicais destinadas quase que exclusivamente para o mercado externo. Os efeitos ambientais desses cultivos são diversos, indo deste a degradação dos solos até à maior incidência de doenças como câncer, alergias e doenças respiratórias devido ao uso em larga escala de agrotóxicos.

Não são poucos os casos em que essa política de desenvolvimento e crescimento desenfreado tem mostrado contradições com a qualidade de vida do povo cearense. Por exemplo, temos o caso do canal da integração que foi amplamente propagandeado pelos governos e a mídia como uma das grandes soluções para a falta d’água em parte do Estado mas o que se evidencia é que o canal da integração passa perto dos principais latifúndios do Ceará e só beneficia os grandes fazendeiros, enquanto os pequenos agricultores da região muitas vezes não podem nem chegar perto do canal.

Outro exemplo é a exploração de Urânio em Santa Quitéria/CE, que foi entregue sem maior debate a uma empresa privada (do bilionário Eike Batista) e que não expõe a população cearense os riscos da exploração de urânio e seu uso na produção de energia nuclear (vide o desastre de Fukushima no Japão). Por isso é necessário que façamos na UECE a produção de uma ciência crítica a estas questões, que não se esconda por trás da tal neutralidade, mas sim que se engaje em prol dos interesses populares em ciência e tecnologia.

Em Fortaleza, casos de desrespeito ao ambiente são constantes e diversos. Para constar, podemos citar o projeto de ementa ao Novo Plano Diretor de nossa Cidade, proposto pela vereadora Magaly Marques (PMDB) que busca revogar a Lei 9502/09 que transforma as Dunas do Cocó em Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE)

que as protegem contra interesses econômicos, principalmente dos setores imobiliários.

Infelizmente os ataques ao ambiente são gigantescos, suas medidas de preservação pontuais e inseridas numa lógica capitalista. Na UECE, vemos exemplos dessas ações pontuais como a implantação de lixeiras para seleção de materiais recicláveis às vésperas do II Seminário Internacional de Planejamento Urbano e Serviços Ambientais, sem nenhum informe à comunidade acadêmica sobre a procedência destas e destino do lixo separado, ou campanha de conscientização destinada aos(às) alunos(as) e servidores(as), demandando esclarecimentos para que possamos ir além do discurso de responsabilidade sócio-ambiental e culpabilização dos indivíduos, discutindo a totalidade da questão ambiental nos espaços acadêmicos e para além destes.

A socialização de conhecimentos mais profundos dos maiores culpados pela devastação ambiental faz-se extremamente necessária para que desmistifiquemos a idéia de que apenas as ações individuais poderão superar a crise ambiental vigente. São as ações coletivas e conscientemente direcionadas contra as indústrias poluentes, a produção de transgênicos e agrotóxicos, a construção da Usina de Belo Monte, e todas as iniciativas vinculadas ao capital (e que, portanto, degradam a natureza indiscriminadamente em função do lucro), que fazem total diferença, porque assim atingimos as bases do sistema que rege essa produção destrutiva.

Nesse sentido, também acreditamos ser necessário socializarmos nossos conhecimentos acerca da crise ambiental contemporânea, através de uma educação ambiental crítica-popular em nossa universidade, para que possamos desenvolver uma visão que atinja as raízes das contradições presentes e assim nos organizarmos coletivamente em prol de uma cidade, aonde seja possível respeitar os limites ambientais.

Opressões“O Combate à exploração está inevitavelmente

ligado ao combate à opressão!”

Numa sociabilidade onde os modos de produção são fundados na exploração do ser humano pelo ser humano, entendemos que a luta contra o machismo, a homofobia e o racismo não deve ser dicotomizada ou sequenciada à luta de classes, mas que devem caminhar juntas de “Braços Dados”, pois temos a clareza que a atual forma de sociabilidade jamais será livre das formas de opressões e também que o fim da sociedade de classes não dará, necessariamente, cabo às mesmas.

Ao analisarmos a constituição dessa sociabilidade, a qual chamamos de capitalista, percebemos que esse processo de exploração se dá e se reproduz a partir de um conjunto de leis morais que criminaliza, inclusive, uma condição ontológica do ser humano: a diferença.

Na passagem das sociedades primitivas à sociedade de classes a constituição da família cristã, patriarcal, monogâmica e branca, aos moldes europeus, traz consequências diretas na vida de homossexuais, de mulheres e de famílias negras, o que nos leva a concluir que a gênese do trabalho explorado, da propriedade privada e das classes sociais são imprescindíveis para a configuração e organização de novas relações sociais que se balizam, muitas vezes, em situações de dominação x opressão, com o definido papel de reforçar a estratificação social.

Por isso nós da tese Dos Frutos da crise, semeando Resistência e Ousadia na UECE lutamos “por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo).

ENQUANTO HOUVER HOMOFOBIA, MACHISMO, RACISMO, NÃO HAVERÁ O SOCIALISMO!!! !

LGBT“O amor exige expressão”

Ao observarmos o comportamento sexual de homens e mulheres ao longo das épocas, em todas as sociedades, culturas e classes sociais constatamos que a homossexualidade se configura como uma variação normal do comportamento sexual. Entretanto, as formas de vivenciá-la, as atitudes da sociedade para com ela, variam de acordo com as épocas, sociedades e com suas condições materiais.

Compartilhamos desse entendimento ao passo em que negamos “um conjunto de concepções pós-modernas que relativizam a realidade e descolam a ideologia homofóbica da sociedade concreta da qual esta é consequência”.

Mas o que é a Homofobia?

Na conceituação da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) a homofobia pode ser definida como o medo, a aversão ou o ódio irracional aos homossexuais, e, por extensão, a todos os que manifestem orientação sexual ou identidade de gênero diferentes dos padrões heteronormativos, podendo se manifestar de diferentes formas e em diferentes intensidades, desde piadas a assassinatos.

Segundo o Grupo Gay da Bahia, em 2010 houveram 260 denúncias de assassinatos de gays e travestis no País. Infelizmente sabemos que esse número é bem maior, tendo em vista casos em que a família, por diversos motivos, não fazem a denúncia dos homicídios. De acordo com o grupo E-jovem no Brasil, são registrados por ano mais de mil casos de suicídios de jovens homossexuais, pano de fundo das variadas expressões que a homofobia assume. Se esses números soam como abstração, lembremo-nos então dos inúmeros suicídios de jovens homossexuais nos shoppings de Fortaleza.

É importante lembrarmos que a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia é resultado de um sistema ideológico de dominação que convencionou-se chamar de heterossexualidade obrigatória. Sistema ideológico este amparado por agentes diretos e indiretos que atuam na organização de uma sociedade com uma ideologia moral anti-homossexual. Como agentes indiretos desse sistema elencamos a educação, a igreja e o atual modelo de arranjo familiar. Como agentes diretos dessa repressão o Estado e seus órgãos de segurança, com destaque para a polícia. Estrategicamente a classe burguesa ocupou os espaços de formulação desses agentes retratando a máxima que diz que as ideias da classe dominante são as ideias dominantes!

No Brasil, o ano de 2011 é marco representativo e exemplificativo de como esses agentes se articulam para em nome de uma moral conservadora oprimir milhões de brasileiros. Em um contexto de 17 de maio (dia Mundial de Luta contra a Homofobia, Lesbofobia e Transfobia) e em ano de Conferências Municipais, Estaduais e Nacional LGBT a presidente do nosso País, Dilma Rousseff (PT), veta o que seria umas das principais ferramentas do projeto Escola sem Homofobia: “O Kit Educativo Escola Sem Homofobia”. É no mínimo revoltante ver o que seria um marco inicial de discussão em torno da diversidade sexual no ensino básico ser perdido após acordos políticos entre nossa presidente e a bancada evangélica do senado (este mesmo setor vem se organizando para barrar a aprovação do PLC122, tendo já conseguido alterar boa parte do seu texto original) em um contexto de escândalos e denúncias contra o também petista Antônio Palocci.

E na UECE é assim: homem, casado, discreto e com lugar! ! !

Como na maioria das universidades um dos fatos que marca a presença da homofobia na UECE é a negação de sua existência. Num processo de invisibilidade de pessoas LGBT dentro da nossa Universidade nos furtamos até mesmo do debate. Mesmo em cursos que se enquadram dentro das Ciências Humanas não encontramos disciplinas que apresentem em suas ementas a proposta de discussão do tema.

Enquanto tentam velar a existência da homofobia dentro dos nossos espaços acadêmicos ela se apresenta cotidianamente como o homem do anúncio de jornal. Por isso, como instrumento estratégico para desconstruir a falsa ideia de que não existe homofobia dentro de nossa

Universidade devemos, a partir de uma dimensão política, romper com a invisibilidade de seus sujeitos, seja através da fala pública, seja através de seminários, seja a partir de calouradas temáticas ou mesmo de beijaços, de forma que esses instrumentos venham ser estratégicos para “desconstruir o discurso da heterossexualidade compulsória e, consequentemente, da sexualidade apenas como possuidora de uma dimensão privada”.

E é com o sentimento de indignação e com o espírito revolucionário que nós da tese “ Dos Frutos da Crise, semear Resistência e Ousadia na UECE” convidamos a todos e todas a cessar esse silêncio e a dar um grito de basta que cotidianamente que insiste em ficar preso em nossas gargantas. É com amor e esperança no futuro equânime que chamamos para juntos, de Braços Dados ou não, seguirmos em luta contra a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia.

NEGRAS E NEGROSO ano de 2010, Ano Internacional dos Afrodescendentes na ONU, foi marcado por denúncias e reivindicações para que seus países membros promovam ações que assegurem a população de afrodescentes o direito ao gozo de suas culturas. De acordo com dados estatísticos, o Brasil é o país com o segundo maior número de população negra do mundo, perdendo somente para a Nigéria. Dados do Censo realizado pelo IBGE em 2010 comprovam que nossa população é formada majoritariamente por negros(as).

Escamoteado pela a ideia da mestiçagem, o Brasil vende mundo a fora a falsa imagem de ser um “paraíso racial”, livre do racismo. Infelizmente, os indicadores sociais e

econômicos apresentados por órgãos governamentais comprovam o que a realidade insiste em nos mostrar: confere a população negra do nosso país o “pior lugar social”. Vejamos: se formos avaliar o desemprego urbano no Brasil o número de negros(as) desempregados no país é drasticamente superior ao número de brancos(as).

Recentemente, o Ministério da Justiça divulgou dados apontando que 95% da população carcerária brasileira é pobre, sendo que 65% deste percentual é constituído por negros. Um outro dado alarmante é que a cada branco assassinado, morrem 2,2 negros no país, o que significa que morrem no Brasil 107,6 por cento mais negros do que brancos. Além disso, se pegarmos o mapa da educação no Brasil, teremos a proporção de 26,7 % da população negra/parda de analfabetos enquanto a proporção de brancos(as) é apenas de 5,9%. No ensino superior esse número é ainda mais agudizado, quando temos apenas 2% de universitários(as) negros(as) em nossas universidades.

Herança de mais de 300 anos de escravidão, esses números são reflexos também de uma república capitalista que se sustenta na exploração e na desumanização de uma significativamente maior parcela de sua população, que se sustenta em políticas públicas precárias, seletivas e cada vez mais segregadoras.

Por isso propomos:• Implementação imediata de cotas raciais na UECE

e que tenham uma recorte de classe (renda).• Construção de um evento anual que debata a

questão das/os negras/os e dê evidência a sua resistência, que possa possibilitar a criação de um grupo de discussão auto-organizado.

MULHERES“Mulher não é mercadoria!”

Mulher não é propriedade!Por verdadeira liberdade, igualdade e autonomia.Que sejamos todas sujeitas de nossas próprias vidas!

Em tempos de crise do sistema capitalista global e retirada de investimentos públicos das áreas sociais para realocação em auxílio das instituições financeiras, essenciais para a reprodução do sistema capitalista, os rebatimentos da crise vêm decaindo sobre a classe que produz riqueza com seu trabalho, especialmente as mulheres, mais atingidas com a crise devido à jornada de cuidar da casa, trabalho, e educação dos filhos. É por essa super-exploração que no mundo todo vemos crescer o número de mulheres protagonistas de mobilizações, como no Chile reivindicando educação pública e de qualidade, na Líbia indo de encontro às rígidas regras de uma sociedade extremamente machista para mostrar sua revolta contra a ditadura, nas ocupações de REItorias em todo o Brasil e na greve dos professores do estado do Ceará.

A campanha eleitoral da presidente Dilma Roussef em 2011, ex-militante social, no cargo de presidente do Brasil, foi uma decepção para aqueles que viam na sua candidatura a possibilidade de melhorias nas condições de vida e dignidade das mulheres brasileiras. Antes mesmo de chegar ao poder, durante as eleições, Dilma retrocedeu na defesa da descriminalização do aborto ao escrever a “Carta ao Povo de Deus” frente à ofensiva conservadora à sua candidatura.

A legalização/descriminalização do aborto não pode ser barganha de campanha eleitoral uma vez que no Brasil, segundo pesquisas do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) os mais de 1 milhão de abortos realizados clandestinamente causam 602 internações diárias por infecção, 26% dos casos de esterilidade, e se constitui como a terceira causa de morte materna no país. O aborto é uma questão de saúde pública e sua criminalização prejudica majoritariamente às mulheres pobres, já que as mulheres de outras camadas sociais possuem recursos para financiar sua realização em clínicas de qualidade e assegurar sua saúde e segurança. Na grande mídia brasileira percebemos a divulgação de noticias que propagandeiam a melhoria da condição de vida das mulheres, com a expansão de sua inserção no mercado de trabalho, grau de escolarização e ocupação de cargos de chefia. No entanto dados nos mostram que 70% das mulheres vivem abaixo da linha da pobreza e ganham salários 27,7% inferiores aos dos homens. No programas de humor vemos a veiculação de piadas que depreciam as mulheres, naturalizando a violência em casos de assédio sexual e moral, como é demonstrado no quadro da transsexual Valéria no programa Zorra Total e nas piadinhas infames do humorista Rafinha Bastos.

Dessa forma, percebemos que o machismo não está presente apenas no salário desigual ou na violência física, mas nos relacionamentos pessoais, amorosos, familiares, que condicionam as mulheres a determinados padrões estéticos, a determinadas condutas consideradas corretas (seja de caráter sexual ou não), a determinados papéis sociais que limitam sua atuação nos espaços públicos e nas decisões políticas através da instauração de uma subjetividade feminina coletiva pautada na insegurança,

fragilidade emocional e necessidade constante de aprovação masculina.

Na universidade este quadro não se diferencia. Ouvimos piadinhas opressoras, relatos de assédios de professores para com alunas e cantadas vulgares todos os dias pelos corredores da UECE. Os famosos trotes aos calouros, praticados nos inícios de semestre, têm comumente temas e atitudes machistas. Vemos em muitos trotes mulheres serem “leiloadas” ou obrigadas a dançar músicas que depreciam a sua imagem. Em algumas calouradas este quadro se agrava, como vimos neste último semestre uma calourada com o tema “Professora Devassa – bem loura” que exibia em seu cartaz o desenho de uma mulher exibindo sensualmente partes de seu corpo, exemplificando o teor machista de tais eventos.

Acreditamos que a realização de um seminário auto-organizado que discuta a condição da mulher na universidade pode abrir precedentes para o início de uma mobilização conjunta das mulheres na UECE , afim de fortalecer o protagonismo destas nos espaços de discussão e deliberação em nossa universidade. Cabe a universidade, através de políticas de assistência estudantil específicas para mulheres, garantir condições iguais as dos homens no seu desenvolvimento acadêmico, oferecendo acesso à creche universitária (para que não tenham que abandonar o curso para cuidar de seus filhos) e atendimento médico específico, assim como políticas gerais de assistência que beneficiem a todos, tais como bolsas, laboratórios, restaurantes e residências universitárias, garantindo acesso e permanência na universidade.

Tendo consciência de sua condição de mão de obra explorada pelo capital, de grupo explorado pela tradição machista/paternalista e reprodutor desses valores, a luta das mulheres é para tornar-se sujeito da transformação social, pois liberdade, igualdade, autonomia só podem ser conquistadas por nós mesmas, pelo nosso grito, pela nossa ação organizada. A opressão contra a mulher não pode ser resolvida nessa sociedade se as instituições produtoras e reprodutoras da hegemonia (igreja, Estado, escola, mídia e família) continuam amparadas na cultura fálica, patriarcal. Somente com o protagonismo das mulheres na lutas sociais poderemos construir uma universidade e uma sociabilidade feminista e humanamente emancipada!

Nós, da tese “Dos Frutos da crise, semear Resistência e Ousadia na UECE”, queremos o fim da violência doméstica, do abuso sexual, da venda do corpo, da intimidação e discriminação social da mulher.

Por isso propomos:• Construção do Seminário de Mulheres da

UECE como espaço auto-organizado.• Atendimento de filhos de universitárias da

UECE no novo Restaurante Universitário.• Construção de lutas por residências

universitárias em todos os campi do interior e da capital. E que estas abriguem universitárias com filhos

DE BRAÇOS DADOS SEGUIREMOS

Mesmo quando o crepúsculo chegarNão descansaremosGritando em uma só vozDe braços dados seguiremos!

Sem o lirismo perderFaremos até as pedras falaremOuviremos os opostos murmuraremMas juntos e unidos vamos saberQue nossa vitória vai acontecer

E como as ondas do marSuaves e fortes nos aproximaremosJuntos e sem medoPor esta causa lutaremos

Pois cremos na gratuidade do pensamentoDa universidadeDa educaçãoE do conhecimento

Não nos esqueçamos das mulheresQue carregam em sua história sérias marcas da opressãoMas seguiremos todos juntosSeus gritos não enfraquecerão

E o que queremos é uma universidade completa!E isso não é utopiaExigiremos sermos ouvidos e atendidosUma vez que vivemos numa democracia.Onde direitos devem ser iguaisEmbora pensamentos sejam diferentesGeralmente têm-se os mesmos ideais

Por: Thaís Pereira (Letras Inglês – FECLESC)

Assinam esta Tese: Coletivo Braços Dados

Ciências Biológicas• Vitor Girão • Dewison Silva

Ciências Sociais• Iorran Aquino• Viviane Bizarria• Rebeca Mota• Calos Eduardo (Ruivo)• Juan Lima• Natan dos Santos• David Albuquerque

Filosofia• Heldeane Santiago (Deca)• Keywilla Venceslau• Alexsandra Aquino• Thamara Cristina• Italo Andrade• Paula Tárcia

Geografia• Van Eric Pereira

História• Marcelo Ramos• Antônio de Pádua• Ícaro da Silva Souza

Matemática• Manoel Victor Câmara

Pedagogia• Marina Felipe

Serviço Social• Sijone de Oliveira• Camila Liberato• Leonardo dos Santos

Assinam esta Tese Conosco

Ciências Biológicas• Marcos Pereira Fernandes

Ciências Sociais• Rodrigo Benevides• Beatriz Pimenta (Bia)• Emanuella Soares (Manu)• Gessiane Bernardo• Marcus André• Fafá Silveira • Juliana Maciel• Roberth Juliano

Enfermagem• Vinicia Holanda• Sara Olveira

Filosofia• Vicente Melo• Fabiola Soares• Larissa Nelane• João Raphael• Iago Dias• André Domingos• Pablo Tahim• Alex Sousa• Flaviene Ferreira• Thyarles Guimarães• Assis Monteiro• Jessica Holanda• Carlos Roberto• Maria Thais• Ludiane Soares• Rafael Magalhães• Dyego Hudson• Ada Pontes• Cristiano Nascimento

Física• Jeirla Monteiro

Física – FECLI• José Eslânio Luna da Silva

Letras – FECLI• Messias Pinheiro

Geografia• Roberto Jarllys Reis Lima

História• Géssica Paulo• Danielle Almeida • Albertina Paiva• Marília Marques

Letras• Marcia Mota Soares

Letras Inglês – FECLESC• Thais Pereira Santos

Letras Português – FECLESC• Mayara Cruz Albuquerque

Matemática• Willame da Silva Sales

Pedagogia• Bia Ricarte

Serviço Social• Caroline Magalhães Lima• Danielle Coelho Alves• Ercília Mendonça