ARTIGO COMPLETO CBECIMAT.docx

download ARTIGO COMPLETO CBECIMAT.docx

of 16

Transcript of ARTIGO COMPLETO CBECIMAT.docx

ESTUDO DA VIABILIDADE DE RECICLAGEM DE RESDUOS SLIDOS DOS SERVIOS DE SADE

V. V. Leite(1,2), S. S. Xavier(2), A.M. Ferreira(1,3). (1) Departamento de Engenharia de Materiais - Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais CEFET-MG, Av. Amazonas, 5253, Nova Suia, Belo Horizonte/MG - CEP 30 480 000 - Email: [email protected] (2) Hospital Pblico Regional de Betim, Betim, MG, Brasil. (3) Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia Acqua

RESUMO

A possibilidade de reciclar materiais presentes nos Resduos Slidos dos Servios de Sade (RSSS) pouparia o planeta da extrao de recursos naturais utilizados na produo de novos materiais, reduziria o volume de resduos dos aterros sanitrios ou descartados a cu aberto implicando em problemas ambientais e de sade pblica e reduziria gastos financeiros aplicados em tratamentos de resduos infectantes. Grande parte do volume destes resduos composta por materiais potencialmente reciclveis como o polietileno (PE) e policloreto de vinila (PVC) que esto presentes nas embalagens de solues parenterais. Observando as atividades das equipes de sade no Hospital Pblico Regional de Betim (HPRB), verificou-se que o descarte deste material feito nos mesmos recipientes que os resduos infectantes, fazendo com que grande parte deste material, seja contaminado dentro das lixeiras, aumentando significativamente o volume de RSSS. Segundo a ANVISA, cerca de 70 a 80% dos resduos dos servios de sade que no apresentam risco acabam potencialmente contaminados. O objetivo deste estudo foi fazer uma reviso bibliogrfica sobre o assunto nas principais revistas eletrnica disponveis no portal de peridicos da coordenao de aperfeioamento de pessoal de nvel superior (CAPES). ------------ quantificou-se o nmero de frascos de solues parenterais de grande volume que so adquiridos, anualmente, no HPRB.

Palavras-chave: RSSS (resduo solido de servios de sade), reciclagem, polmeros.

INTRODUO

A reciclagem e o reaproveitamento de materiais nos diversos setores da indstria e da prestao de servios mostram-se como processos imprescindveis sustentabilidade. Esta necessidade imperativa de reaproveitamento e reutilizao chega tambm aos servios de sade, onde processos desta natureza poderiam poupar o planeta da extrao de novos recursos e reduzirem o volume de resduos que se acumulam nos aterros sanitrios ou so despejados a cu aberto. O descarte dos Resduos Slidos dos Servios de Sade (RSSS) compe uma importante cadeia de problemas ambientais e de sade pblica. Isto porque h um volume considervel de plsticos presentes nestes resduos, alm do especfico risco de contaminao por microrganismos patognicos. Ainda h que se considerar o crescente aumento dos gastos financeiros, principalmente do setor pblico, com o gerenciamento destes resduos. A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), conforme a Resoluo de Diretoria Colegiada (RDC) n 306, de 07 de dezembro de 2004, a qual dispe sobre o regulamento tcnico para o gerenciamento de resduos de servios de sade, define RSSS como resduos gerados por prestadores de assistncia sade(1). Dessa forma incluem-se os resduos produzidos por todos os hospitais, centros de sade, servios de assistncia domiciliar, servios mveis de atendimento sade, clnicas odontolgicas, consultrios mdicos com procedimentos especficos, laboratrios, drogarias e farmcias inclusive as de manipulao, servios de apoio diagnsticos, clnicas veterinrias e instituies de ensino e pesquisa relacionados sade humana e veterinria, servios de medicina legal, necrotrios, funerrias, servios de embalsamamento e ainda servios de acupuntura e tatuagem. A ANVISA classifica os RSSS quanto s caractersticas fsicas, qumicas, biolgicas e os agrupa, inclusive, conforme o risco de propagao de infeces. Os resduos potencialmente infectantes pertencem ao Grupo A, mas tambm so importantes os resduos perfurocortantes ou escarificantes do Grupo E, neste caso pelo risco de leses aos tecidos humanos com consequente contaminao. A ANVISA tambm orienta o tratamento especfico dos RSSS como uma etapa anterior destinao final dos rejeitos. Assim os resduos potencialmente infectantes devem passar por uma descontaminao na instituio produtora ou em algum servio especializado, para que os mesmos possam ser descartados finalmente.Por outro lado, grande parte do volume destes resduos composta por materiais potencialmente reciclveis como o polietileno (PE), polipropileno (PP) e cloreto de polivinila ou policloreto de vinila ou PVC. Estes materiais esto presentes nas embalagens e nos recipientes utilizados para o envase de solues parenterais de grande volume (SPGV) (por exemplo, soro glicosado e ringer lactato). Estes tipos de plsticos so amplamente empregados nos materiais mdico-hospitalares, tanto em artigos de pequeno volume quanto em artigos maiores, aumentando a quantidade desses resduos. Entretanto, o descarte dos RSSS feito de forma indiscriminada, na mesma lixeira onde so descartados outros tipos de materiais contaminados com sangue, secrees e excrees corporais.Observando a rotina de atividades das equipes de sade nos hospitais notria a ausncia de processos de segregao de resduos, exceto pelo recolhimento dos artigos perfurocortantes. Segundo a ANVISA cerca de 70 a 80% dos resduos gerados em servios de sade que no apresentam risco acabam potencialmente contaminados se no houver uma segregao adequada(2) (ANVISA, 2006). Alguns estudos tem se dedicado a busca de respostas quanto interao dos microrganismos com os resduos slidos. Rutala (1989), Morel e Bertussi Filho (1997) e Nascimento et al. (2009) encontraram bactrias viveis nos resduos de servios de sade as quais representam riscos sade humana e animal. Por outro lado, Zanon (1990) descreve no haver fatos que comprovem a viabilidade da ocorrncia de doenas causadas por microrganismos presentes nos RSSS. No mesmo sentido, Cussiol (2005), comparando a presena de microrganismos presentes nos resduos urbanos e hospitalares encontrou maior quantidade de microrganismos viveis nos resduos urbanos. Observa-se no haver consenso na literatura consultada. Tambm h questes a serem respondidas como: a segregao dos resduos no momento da gerao evitaria a contaminao atravs do contato com outros cuja carga microbiolgica aderida seja alta? Seria segura a reciclagem deste tipo de material?A discusso sobre reciclagem de RSSS ampla e complexa, pois, aborda diferentes aspectos sociais como o risco sade da populao e a preservao do meio ambiente. Entretanto, a perspectiva da segregao dos resduos ser adotada como rotina nos servios de sade reduziria gastos com tratamento de grandes volumes de resduos infectantes e com a destinao correta.

RESDUOS SLIDOS

O lixo, anteriormente, era definido como todo e qualquer resduo slido proveniente das atividades humanas. Um conceito mais atual define lixo como: aquilo que ningum quer ou no tem valor comercial (BIDONE e POVINELLI, 1999). Esta opinio sobre o lixo torna-o um conceito relativo, pois, o que considerado lixo para algum pode no s-lo para outra pessoa se puder ser transformado em um novo produto ou novo processo; gerar lucro, empregos e evitar desperdcio de recursos naturais. Assim, estamos continuamente avaliando o que deve, ou no, ser descartado. Atualmente, a lei n 12.305, de 2 de agosto de 2010 que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) faz distino entre resduo (lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que no passvel de reaproveitamento).A ideia do reaproveitamento nos faz refletir sobre o conceito clssico de lixo, como se ele pudesse ser classificado como tal, somente quando no lhe for atribuda nenhuma nova funo ao que anteriormente fora considerado intil. importante serem feitas consideraes sobre os resduos para que a ideia de coisa suja e intil possa abrir espao para uma nova filosofia de gesto de resduos slidos abalizada pela PNRS quando recomenda aes que reduzam a quantidades de resduos e que melhorem a gesto da parcela que gerada de maneira econmica e ambientalmente sustentvel. A transformao de ordem social e econmica que o Brasil vem sofrendo nas ltimas dcadas tem acarretado em uma modificao importante na composio de resduos gerados no pas, assim como um aumento considervel do volume de resduos como reflexo do crescimento demogrfico. A cada ano, com o aumento da populao ocorre o aumento do consumo, e, consequentemente, o aumento na produo de resduos. De acordo com o levantamento feito pela Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (ABRELPE, 2011), a mdia de lixo gerado por pessoa no pas em 2010 foi de 378 quilos (kg), um montante 5,3% superior ao de 2009 (359 kg) chegando a um montante de montante de 60,8 milhes de toneladas de lixo ao longo do ano.

RESDUOS PLSTICOS

O volume de resduos plsticos no Brasil pode parecer pequeno, frente ao volume total de resduos, mas traz consigo alguns aspectos negativos como o seu volume aparente ou o chamado lixo visual e o tempo que este tipo de resduo necessita para se decompor. Na frao que corresponde a 6%, em peso, de materiais plsticos encontrados nos resduos slidos urbanos mostrados na figura 1, estima-se que 14% sejam resduos de PVC, 37% de PE e 10% de PP. Assim o PVC, o PE e o PP tem uma presena de cerca de 0,8%, 2,1% e 0,57% de PP respectivamente, no resduo slido urbano, sendo a porcentagem das outras resinas distribuda conforme a figura 2 (PIVA; WIEBECK, 1999).

Figura 1 Composio percentual dos materiais que compem o resduo slido urbano.Fonte: (PIVA; WIEBECK, 1999).

Figura 2 - Distribuio mdia dos plsticos encontrados no volume total de resduo disposto. Fonte: (PIVA; WIEBECK, 1999).

O exemplo citado no artigo publicado por Piva e Wiebeck, versa sobre a cidade de So Paulo, onde cerca de 15 mil toneladas/dia de resduos slidos so gerados. Deste montante, possivelmente, mais de 700 toneladas eram constitudas por embalagens plsticas descartveis, fabricadas em diversos tipos de materiais polimricos. Dentre elas, as que mais participam de nosso cotidiano so: o poli(tereftelato de etileno) - PET ; o polietileno de baixa ou alta densidade - PEBD e PEAD, respectivamente; o poli(cloreto de vinila) - PVC; o polipropileno - PP e o poliestireno - PS (PIVA; WIEBECK, 1999).Informaes mais recentes sobre a composio gravimtrica dos resduos slidos no Brasil so mostradas pelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA) no Plano Nacional de Resduos Slidos de 2011. A tabela 1 expe uma estimativa da composio dos resduos slidos urbanos coletados no Brasil em 2008. Estes dados so provenientes de 93 estudos de caracterizao fsica de resduos, realizadas entre 1995 e 2008. Podemos observar que o percentual de plsticos aumentou consideravelmente neste perodo quando comparado ao estudo realizado por Piva e Wiebeck em 1999.

Tabela 1 - Estimativa da composio gravimtrica dos resduos slidos coletados no Brasil, em 2008.RESDUOSPARTICIPAO %

Metais2,9

Ao2,3

Alumnio0,6

Papel, papelo e tetrapack13,1

Plstico total13,5

Plstico rgido4,6

Plstico filme8,9

Vidro2,4

Matria orgnica51,4

Outros16,7

Total100,0

Fonte: adaptado de MMA, 2011.

Considerando que o processo de decomposio natural dos polmeros longo e crtico ao equilbrio ecolgico (PIVA e WIEBECK, 2004) compreendemos que o volume de resduos plsticos, mesmo que pequeno diante dos outros tipos de resduos torna-se significante sob a tica ambiental.De acordo com Cndido et al. (2009) a dificuldade de reciclagem e reutilizao dos plsticos reside, principalmente, no fato de que, geralmente, encontram-se contaminados e/ou misturados. Por isso os recicladores procuram adquirir a matria-prima previamente segregada, optando pelos resduos provenientes de empresas que j apresentam qualidade em relao separao dos seus resduos. Assim, a possibilidade de reciclagem de resduos hospitalares torna-se mais distante da realidade de muitos hospitais do pas.

RESDUOS SLIDOS DOS SERVIOS DE SADE

Os RSSS so resduos gerados por prestadores de assistncia sade: profissionais mdicos, enfermeiros, fisioterapeutas, odontlogos, veterinrios e tambm pelos laboratrios, farmcias e instituies de ensino e pesquisa relacionados populao humana e veterinria. Deste modo, os RSSS enquadrados nessa categoria, so produzidos em unidades de sade e constitudos de resduo comum, resduos infectantes ou de risco biolgico e resduos especiais (MEYER, 2006).Na ltima dcada, a legislao brasileira relacionada s questes ambientais passou por grande avano, exigindo um maior comprometimento com a preservao ambiental por parte dos estabelecimentos hospitalares e tambm da sociedade em geral. De acordo com a Resoluo de Diretoria Colegiada (RDC) da ANVISA n 306, de 07 de dezembro de 2004 e com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) pela resoluo n 358 de 29 de abril de 2005, as quais tratam de RSSS, algumas medidas devem ser adotadas nas unidades geradoras deste tipo de resduo com o objetivo de minimizar a sua produo e viabilizar o manejo adequado. A segregao do material descartado no momento da sua gerao permite a reduo do volume de resduos que necessitam manejo e/ou tratamento diferenciado. Alm disso, aumentaria a quantidade de produto vivel para reciclagem diminuindo custos com tratamento e gerenciamento. Entretanto, os servios de sade ainda encontram dificuldades na implementao de medidas propostas em seus planos de gerenciamento de resduos. A ANVISA, atravs da Resoluo de Diretoria Colegiada (RDC) n 306, de 07 de dezembro de 2004 que dispe sobre o regulamento tcnico para o gerenciamento de resduos de servios de sade define como RSSS todos aqueles resultantes de atividades exercidas nos servios relacionados com o atendimento sade humana ou animal que, por suas caractersticas, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou no tratamento prvio sua destinao final. Dentre estes, os resduos infectantes so definidos como apenas uma parcela dos RSSS, os quais podem transmitir doenas infecciosas e por isto no podem ser reciclados, reutilizados ou reaproveitados. Conforme o artigo 15 da RDC ANVISA 306/2004, os resduos infectantes devem ser submetidos a processos de tratamento em equipamento que promova reduo de carga microbiana, de acordo com parmetros institudos e devem ser encaminhados para aterro sanitrio licenciado ou local devidamente licenciado para disposio final de resduos dos servios de sade. Os resduos, recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade, que no contenha sangue ou lquidos corpreos na forma livre, podem ser dispostos, sem tratamento prvio, em local devidamente licenciado para disposio final de RSSS, conforme o artigo 18 da mesma resoluo.O tipo de resduo de interesse para esta pesquisa so os recipientes utilizados para o envase de solues parenterais de grande volume, que so definidos na portaria n0 500 da ANVISA (1997) como: solues em base aquosa, estreis, apirognicas, acondicionadas em recipiente nico com capacidade de 100 ml ou mais, esterilizadas terminalmente. No HPRB estes recipientes so descartados nas lixeiras de resduos infectantes juntamente com todos os outros resduos, recipientes e materiais, resultantes do processo de assistncia sade.Descrevendo esta realidade alguns autores j mencionaram a problemtica criada pelos do RSSS devido a falta de um plano de gerenciamento de resduos bem implementado na maioria dos hospitais onde concordam que se houvesse uma segregao criteriosa apenas pequena parte dos RSSS, com maior risco biolgico, necessita ser submetidos a tratamentos especiais com vistas eliminao de sua periculosidade para reduo da carga microbiolgica. O restante dos resduos poderia ser tratado como resduo comum, destinado ao aterro sanitrio, reduzindo-se os custos operacionais e os riscos sade pblica. (FERREIRA, 1999; DIAS e FIGUEIREDO, 1999). Deste modo, estes resduos tornar-se-iam potencialmente reciclveis tendo em vista a reduo do risco de contaminao pela segregao adequada.Uma observao importante sobre os reais riscos associados aos resduos hospitalares feita por Zanon (2002 apud GARCIA e ZANETTI-RAMOS, 2004) quando percebe que as publicaes sobre a suposio de evitar um risco inexistente beneficiam a "indstria: do lixo", favorecendo os que lucram financeiramente com a explorao da viso de periculosidade infecciosa dos resduos de servios de sade.A insegurana na tomada de deciso, por parte dos estabelecimentos de sade, nas definies do gerenciamento de seus resduos diagnosticada por Soares (2000) como consequncia de alguns fatores como: grandes variaes dos constituintes dos RSS, a incerteza da sua transmissibilidade de patgenos, a falta de conhecimento sobre os indicadores de ndice de infecciosidade do resduo, e os altos custos de se adotar um eficiente plano de gerenciamento bem como dificuldades de fiscalizao por parte dos rgos pblicos.A carncia de pesquisas sobre este tema acarreta em falta de subsdios cientficos para que a reciclagem de RSSS possa ser feita com segurana. Assim as legislaes CONAMA e ANVISA definem pela necessidade de tratamento dos resduos potencialmente infectantes, e ainda reforam que quando resduos infectantes so misturados aos comuns, o volume destes resduos aumenta o volume gerado, os quais devem ser tratados como infectante. Entretanto pesquisas como a de Pilger (2008) sugerem que, com a segregao adequada, poderia haver uma reduo da quantidade e de custos para o tratamento e disposio dos resduos infectante.A partir da observao das atividades dos profissionais no Hospital selecionado para este estudo, no que se refere ao descarte de embalagens, frascos de solues parenterais, assim como o descarte de todos os artigos mdico-hospitalares que vislumbramos a possibilidade da reduo de parte do volume de resduos gerados, nesta ou em quaisquer outras instituies de sade. Pode-se observar a falta de critrios, por parte dos profissionais, na separao de resduos slidos tendo como consequncia o aumento da quantidade de resduos considerados infectantes.Fato que corrobora a esta realidade a existncia de certo engano a respeito dos resduos gerados em instituies de sade, por parte da populao em geral, e mesmo entre os prprios trabalhadores dessas instituies de que resduo em sua totalidade pode oferecer riscos sade. Essa mistificao, como cita Andrade (1999 apud BRITO, 2000) est relacionada ao preconceito que as pessoas tm a respeito das palavras "lixo e hospital", por estarem sempre relacionando-as doena, a morte e ao medo.

Microrganismos patognicos e o resduo slido hospitalar

Vrios fatores precisam ser considerados para que faamos uma anlise do perfil microbiolgico dos RSSS, pois patogenicidade caracterstica inerente de uma parcela dos resduos de servio de sade. Isto se deve, ao potencial que tm de apresentar agentes infectantes em sua composio, como microrganismos ou toxinas por estes produzidos, que possam a afetar principalmente a sade humana (SCHNEIDER et al., 2001).Segundo Associao Brasileira de normas tcnicas (ABNT) na norma brasileira regulamentadora (NBR) 10004/2004,

um resduo considerado patognico se uma amostra representativa dele, obtida de acordo com a ABNT NBR 10007, contiver, ou se houver suspeita de conter, microrganismos patognicos, protenas virais, cidos desoxiribonuclico (ADN) ou cido ribonuclico (ARN) recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmdios, cloroplastos, mitocndrias ou toxinas capazes de produzir doenas em homens, animais ou vegetais (ABNT, 2004).

De acordo com WHO (1998), diversos microrganismos podem ser encontrados nos RSS e causar infeces a quem entre em contato com eles. Destacam-se as enterobactrias, como Salmonella, Shigella spp., Vibrio cholerae, helmintos, Mycobacterium tuberculosis, Streptococcus pneumoniae, vrus da herpes, Neisseria gonorrhoeae, Bacillus anthracis, vrus da imunodeficincia humana, Staphylococcus spp, Staphylococcus aureus, Enterococcus klebsiella, Cndida albicans, e os vrus das hepatites A, B e C (BIDONE, 2001). Entretanto, existem controvrsias sobre a sobrevivncia destes agentes biolgicos em condies ambientais. Vrias publicaes cientficas tratam dos riscos sade associados ao descarte dos RSSS, onde alguns pesquisadores acreditam que resduos de servio de sade tm maior periculosidade e risco infeccioso ao serem comparados com os resduos domiciliares. Outros, j afirmam ser exagerada a preocupao com os resduos de servio de sade relacionada a seu risco sade pblica e ambiental.Ferreira (1999) e Zanon (1990) pesquisaram as semelhanas e diferenas entre resduos domiciliares e hospitalares, e concluram que excetuando- se uma pequena parcela desses resduos considerados como "especiais" devido ao maior risco biolgico, no h justificativas para o tratamento diferenciado entre os dois tipos de resduos.Suberkeropp e Klugg (1974 apud SOUZA, 2005) identificaram importantes patgenos nos RSSS. Nessa pesquisa, a Mycobacterium tuberculosis (causador da tuberculose) apresentou um tempo de resistncia ambiental de at 180 dias na massa de resduos slidos. Silva (1999) tambm mostrou que a P. aeruginosa cresce bem em temperaturas entre 25 a 37C, e cresce mais lentamente em temperatura muito baixas ou muito altas. Pode-se observar que a faixa tima de temperatura para o crescimento do Mycobacterium tuberculosis encontrada por este autor bastante prxima da temperatura ambiente na maioria dos meses do ano na regio do hospital onde foi realizado este estudo.Machado et al., (1993) tambm relataram em sua pesquisa a existncia de uma srie de microrganismos presentes na massa de resduos, como a Salmonella thyphi, Pseudonomas sp., Streptococcus, S. aureus e C. albicans e verificou a possibilidade de sobrevivncia de vrus comprovada pela presena dos virus poli tipo I, hepatites A e B, influenza e vrus entricos, na mesma massa de resduos. Este estudo revelou patgenos em condies de viabilidade por at 21 semanas durante o processo de decomposio de material orgnico. Entretanto, apesar da sobrevivncia destes patgenos, Cussiol (2005) inferiu que a presena de patgenos vivos nos resduos no quer dizer que possam transmitir doenas a algum, pois, para que isso acontea ser necessria uma via de transmisso, uma porta de entrada e condies de sade propcias, ou seja, imunizao e suscetibilidade do hospedeiro.No estudo desenvolvido por Cussiol (2005) so feitas consideraes importantes a respeito do perfil de suscetibilidade a antibiticos, dos microrganismos presentes nos RSSS. Nesta pesquisa avaliou-se o perfil de suscetibilidade a antimicrobianos nos resduos slidos de hospitais e nos lquidos lixiviados do aterro sanitrio que recebem estes resduos em Belo Horizonte. Nas amostras deste estudo foram encontradas cepas, resistentes e multirresistentes a antibiticos, de P. aerugionsa, S. aureus e Enterococos. Entretanto a pesquisadora ressalta que a presena destes microrganismos, mesmo que em percentual baixo e amostras indicativas (pouca quantidade de anlise) um fator relevante, pois, podem ser disseminadas no meio ambiente.Foi descrito pela WHO (1993 apud BIDONE et al., 2001) algumas pesquisas que avaliaram o tempo de sobrevivncia de alguns microrganismos nos resduos slidos como mostra a tabela 2. Porm, pouco se sabe sobre a capacidade de sobrevivncia dos microrganismos existentes nos resduos de servio de sade e de seu potencial em transmitir doenas. Para Bidone et al. (2001) os microrganismos patognicos possuem uma limitada capacidade de sobrevivncia no meio ambiente; e sua resistncia s condies de temperatura, umidade, radiaes ultravioleta, disponibilidade de predadores e da disponibilidade de matria orgnica so fatores importantes. Os autores ainda mencionam nesta pesquisa, que a alta temperatura do processo de decomposio responsvel pela no sobrevivncia desses microrganismos por perodos prolongados.

Tabela 2 - Tempo de sobrevivncia de alguns microrganismos nos resduos slidos.MICRORGANISMOSSOBREVIVNCIA EM DIAS

Bactrias

Coliformes fecais35

Leptospira Interrogans15 - 43

Mycobacterium Tuberculosis150-180

Salmonella Thyphi29-70

Salmonella Parathyhi29-70

Salmonella sp29-70

Shiguella2-7

Virus

Enterovirus20-70

Polio vrus Polio Virus Tipo I20-170

Virus da Hepatite BAlgumas semanas

Virus HIV3-7

Fonte: WHO (1993 apud BIDONE et al., 2001).

Os microrganismos E. coli, P. aeruginosa e S. aureus so grandes causadores de infeco hospitalar e so comumente encontrados em anlises microbiolgicas dos RSSS (BIDONE et al., 2001). Porm, o estudo de Mattoso (1996 apud SOARES, 2000) avaliou amostras de resduos provenientes da UTI peditrica e verificou ausncia de E. coli, P. aeruginosa e S. aureus em 44% das amostras. Soares (2000) mostra uma quantidade de bactrias presentes nos resduos domiciliares superiores quela encontrada nos resduos hospitalares, conforme o tabela 3. Este fato reafirmado por Bidone (2001) quando cita estudos que mostram que a concentrao de microrganismos patognicos nos RSSS no maior que aquela encontrada nos resduos slidos urbanos, com exceo daqueles que contm culturas de patgenos e excretas de pacientes.

Tabela 3 - Quantidade de bactrias encontradas em resduos domiciliares e hospitalares de acordo com autores.REFERENCIAMICRORGANISMOSRESDUOS DOMICILIARES(Mdia aritmtica/g)RESDUOS HOSPITALARES(Mdia aritmtica/g)

Althus et al.,1983Bactria aerbica7,2 x 1065,7 x 105

Althus et al.,1983Coliforme8,4 x 1051,4 x 105

Althus et al.,1983E. Coli1,3 x 1051,3 x 104

Jager et al., 1989Bactria Total2,5 x 1083,5 x 105

Jager et al., 1989Streptococus1,0 x 1052,0 x 103

Jager et al., 1989Aerbias facultativas2,0 x 1036,3 x 102

Fonte: Rutala e Mayhall (1999 apud SOARES, 2000).

Os dados mostrados nestas pesquisas nos levam a crer que a implantao de servios de internao e assistncia domiciliar pelos programas de sade pblicos e a incorporao deste tipo de assistncia oferecida pelos planos de sade privados tornam as caractersticas fsicas dos resduos domiciliares muito prximas s dos RSSS. Esta nova realidade indica uma justificativa para a semelhana no perfil microbiolgico citada por alguns autores. Mesmo assim observa-se a existncia de controvrsias dentre as pesquisas e por isto torna-se mais evidente a necessidade de se colaborar com o esclarecimento de questionamentos a respeito da presena dos microrganismos nos RSSS com vistas ao reaproveitamento deste tipo de resduo.

PLSTICOS

De acordo com o Dicionrio de Polmeros (ANDRADE et al, 2001), plstico o termo geral dado a materiais macromoleculares que podem ser moldados por ao de calor e/ou presso. geralmente, materiais sintticos, derivados de petrleo e formados pela unio de grandes cadeias moleculares chamadas polmeros (poly = muitos, meros = partes). As propriedades dos plsticos so definidas a partir do tamanho e da estrutura das molculas desses polmeros (resinas) (CNDIDO et al., 2009).Polmeros so materiais de origem orgnica ou inorgnica de alta massa molecular (acima de dez mil podendo chegar a dez milhes) cuja estrutura consiste na repetio de pequenas unidades (meros). So macromolculas formadas pela unio de molculas simples ligadas por ligaes covalentes (CANEVAROLO, 2006).

Plsticos presentes no RSSS

Segundo Rosa e Pantano filho (2003) o setor de embalagens se destaca na utilizao de polmeros, sendo que, no Brasil, aproximadamente 30% das resinas plsticas consumidas destinam-se indstria de embalagens. Estas embalagens esto presentes tambm nos produtos mdico-hospitalres. Os plsticos apresentam-se como uma das principais alternativas para diversos tipos de embalagens de artigos mdico-hopitalares. Dentre estes, inclui-se as embalagens de solues parenterais de grande volume (SPGV), sobretudo nas formas de frasco-ampola e bolsa. O PE muito utilizado como material para embalagem destas solues na forma de frasco-ampola e o PP utilizado na forma de laminados, visando aumentar as propriedades de barreira. J o PVC o principal material das bolsas flexveis para SPGV e sangue (MONTEIRO e GOTARDO, 2005). Consequentemente, esto sempre presentes no RSSS.De acordo com a portaria n 500 de 1997 que aprova o Regulamento Tcnico de SPGV, o acondicionamento de preparaes injetveis pode ser realizado principalmente em frasco, frasco-ampola ou bolsa. Os principais tipos de material empregados neste tipo de embalagem so o vidro e o plstico. Visto que esta pesquisa trata apenas do estudo de embalagens plsticas, os requisitos que se referem a este tipo de matria-prima devem-se a que: embalagens de solues parenterais sejam fabricadas com material transparente o bastante para se tenha uma boa visualizao do aspecto primrio da preparao; para que sejam quimicamente inertes em relao preparao com a qual est em contato e para que se evite a introduo de material estranho na preparao. Deve-se tambm a evitar a difuso de componentes atravs do recipiente e deste para a preparao em contato, durante a vida til do produto (BRASIL, 1997 e LE HIR 1997 apud MONTEIRO e GOTARDO, 2005).As SPGV so amplamente utilizadas nos servios hospitalares fazendo com que suas embalagens, aps o consumo, ocupem grande parte do volume dos RSSS. O quadro 1 demonstra as apresentaes destas solues disponveis no mercado brasileiro, de acordo com volume e tipo de soluo, material da embalagem, tipo de embalagem. As SPGV so comercializadas por algumas das grandes empresas do ramo de produtos hospitalares onde predominantemente o frasco-ampola fabricado em PE e as bolsas flexveis so fabricadas tanto em PVC quanto PP.

Quadro 1 - SPGV disponveis no mercado brasileiro.SPVGTIPO DE RECIPENTEPOLMEROVOLUME

Glicose 5%Frasco-ampola

PE100, 250, 500, 1000

Bolsa FlexvelPVCPP100, 250, 500, 1000

Glicose 10%Frasco-ampola

PE250, 500, 1000

Bolsa flexvelPVC100, 250, 500, 1000

PP250, 500, 1000

GlicofisiolgicoFrasco-ampolaPE250, 500, 1000

Bolsa flexvelPVC100, 250, 500, 1000

PP250, 500, 1000

NaCl 0,9%(Fisiolgico)Frasco-ampolaPE100, 250, 500, 1000

Bolsa flexvelPVC100, 250, 500, 1000

PP100, 250, 500, 1000, 2000

Ringer lactatoFrasco-ampolaPE250, 500, 1000

Bolsa flexvel PP250, 500, 1000

Ringer fisiolgicoFrasco-ampolaPE500

Agua para injeoBolsa flexvelPVC250, 500, 1000

Fontes: Adaptado de: Farmacutica Texon Ltda e Turco e King (1987 apud MONTEIRO e GOTARDO, 2005).

Atualmente, os RSSS do Hospital no so segregados, assim no foi possvel quantificar o volume de embalagens de SPGV passveis de reciclagem. Entretanto, pode-se supor, pelo volume de frascos adquiridos para utilizao dentro do hospital, quo volumoso seria o resduo gerado. Para essa anlise foi realizado um levantamento das compras anuais das SPGV que utilizam este tipo de embalagem para envase e foram obtidos os seguintes dados mostradas no quadro 2:

Quadro 2 Quantitativo anual de SPGV adquiridas no HPRB em 2011.Tipos de SPGVQuantidade anual - unidades

Soro fisiolgico 1000ml60.000

Soro fisiolgico 500ml330.000

Soro fisiolgico 250ml 150.000

Soro fisiolgico 100ml 100.000

Soro glicosado 500ml 25.000

Soro glicosado 250ml 12.000

Soro glicosado 100mlNo adquirido neste ano

Ringer lactato 500ml4.200

Ringer simples 500ml480

Soluo de dilise 1000ml63.000 (cidas e bsicas)

gua bidestilada 500ml 55.000

Fonte: Relatrio de compras de 2011 Farmcia HPRB

De acordo com o programa de gerenciamento de resduos slidos (PGRSS) deste hospital, os resduos infectantes so enviados para uma empresa prestadora de servios para o municpio, para tratamento em autoclave antes da destinao final em aterro sanitrio. Os resduos slidos considerados infectantes, atualmente, so todos os resduos que tiveram contato com os pacientes atendidos em qualquer um dos setores assistenciais, os quais podem ou no estarem em leito de isolamento.

DISCUSSO

CONCLUSES

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS1. BRASIL. Ministrio da Sade. Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria-ANVISA. Resoluo da Diretoria Colegiada RDC n 306, de 07 de dezembro de 2004. Dispe sobre o regulamento tcnico para o gerenciamento de resduos de servios de sade. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 10 de dez. de 2007.

2. BRASIL. Ministrio da Sade. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - ANVISA. Manual de gerenciamento de resduos de servios de sade . Srie A. Normas e Manuais Tcnicos. Braslia, Ministrio da Sade, 2006.

SILVA, C.H.P.M. Bacteriologia: um texto ilustrado. Rio de Janeiro: Eventos, 1999, 531p.