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0 AS DONAS DA HISTÓRIA Capítulo 27. Novela de Renan Fernandes. Escrita por Renan Fernandes.

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AS DONAS DA

HISTÓRIA Capítulo 27.

Novela de Renan Fernandes.

Escrita por Renan Fernandes.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CENA 1. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. NOITE.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

Clima tenso. Antônio tenta se aproximar de Malu para tranquilizá-la, mas a

mesma o empurra levemente.

MALU — Não me venha com essa sua sedução óbvia! Você

vai me explicar algumas mentiras que você

escondeu de mim!

ANTÔNIO — (confuso) Mas o que é isso? Eu não to

compreendendo a sua agressividade!

CONSTANTINOPLA — (aproxima-se) Se vocês quiserem, eu os deixo à

vontade! Vou pro meu quarto!

MALU — (nota as malas) Vocês por acaso se mudaram

hoje pra cá? Não, porque você mesmo, Antônio,

dizia que morava aqui! Como você me explica aquela

frase, onde você disse que há tempos não vinha

pra cá?

ANTÔNIO — (encabulado) Minha querida... Meu amor...

Ele encara Constantinopla, que pega as malas e se direciona para os

cômodos.

CONSTANTINOPLA — (mente) Na verdade, Malu, nós passamos um

tempo morando na casa de um parente! É porque o

apart do Antônio tava me dando problemas

respiratórios, devido ao pó que ele mesmo relatou

quando chegou!

MALU — (desconfiada) Sei... Parente... E que parente

seria esse?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Antônio olha disfarçadamente para sua mãe, que contém o nervosismo.

CONSTANTINOPLA — (cínica) Da Sônia! Aquela mulher que também

foi na festa do shopping Metrópole. Você deve

conhecê-la de vista!

MALU — Conheço! Já me deparei com ela em algumas

ocasiões. O engraçado é que essa mulher

resguarda uma certa antipatia por mim! E sem

motivos concretos! (insinuante) Só se tiver uma

explicação muito lógica que eu desconheça!

De repente, o celular de Antônio começa a vibrar. Sutilmente, ele mexe no

aparelho por dentro do bolso e verifica um SMS de Sérvia.

SÉRVIA — (off) Antônio! A Cláudia contou pra Malu que a

Constantinopla é sogra da Sônia. E pra complicar a

sua vida, a Cláudia relatou que foi amante do filho

da sua mãe! Ou seja, não vai ser difícil a Malu

chegar à conclusão de que você é o marido da

Sônia e o ex-amante da melhor-amiga dela. Pra

facilitar a sua vida, eu afirmei que você tem um

irmão, e que ele é o verdadeiro marido da sua

mulher. Confirme isso, para o seu bem, e para o

nosso passado não vir à tona!

Nisso, Antônio encara Malu com clemência, aproxima-se ainda mais e finge

emoção.

ANTÔNIO — (dissimulado) Não ligue pra Sônia! Ela é assim

mesmo. Antipática, revoltada com a vida. O meu

irmão sofre um bocado com a mulher dele.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

MALU — Irmão? Então você tem um irmão mesmo?

Música de suspense. Antônio dá um giro de 360º, olha para a sua mãe e pisca

para ela. Constantinopla entende o recado.

CONSTANTINOPLA — (aproxima-se) Malu! Nós passamos um tempo lá

na casa da Sônia e do meu outro filho! Não só

porque aqui tava difícil de residir. Mas também

porque o meu outro filho... (finge emoção)

Coitadinho... (abaixa a cabeça) Sofre do mal do

século. (encara-a) Ele é viciado em cocaína!

MALU — (sensibilizada) Que horror!

ANTÔNIO — (continua o teatro) O Armando sempre foi uma

pessoa muito difícil. É o meu irmão caçula. Tem 35

anos. A Sônia sofre demais tendo que levá-lo quase

sempre pras clínicas de reabilitação. Mas

infelizmente ele não se ajuda. Nós tentamos fazer

de tudo pra recuperá-lo. Só que já estamos

perdendo as esperanças. Ainda mais agora, que a

Sônia pediu pra gente se afastar dele, por motivos

que nos magoaram muito.

MALU — Mas meu Deus, se a intenção de vocês são as

melhores, porque essa mulherzinha ta querendo

poupá-los? Ela ta sendo muito egoísta!

CONSTANTINOPLA — É porque a Sônia não gosta da gente! Acha que a

culpa pelo problema do Armando é pela educação

falha que eu dei pra ele. Ou seja, por sempre

preferir o Antônio...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

... Mas eu nunca fui uma mãe negligente! (chora

copiosamente) Ai! Só de lembrar dessas coisas...

Me dá um aperto no peito, Malu! (escandalosa) Às

vezes eu penso que só morrendo mesmo pra me

livrar dessa culpa que eu carrego até hoje!

MALU — (abraça-a) Não, Constantinopla! Você não tem

culpa pela fraqueza do seu outro filho! Eu tenho

certeza que você sempre fez de tudo pro bem dos

dois! É uma pena que só o Antônio tenha se

tornado um grande homem! E se a Sônia foi capaz

de exigir um absurdo desses, deixem que ela cuide

então dessa criatura! Não é questão de frieza, ou

de omissão. Mas o Armando pelo visto não merece

nem que vocês chorem por ele!

ANTÔNIO — Que bom que você nos entende!

Nisso, Antônio abraça Malu, beija-a apaixonadamente e depois se

desvencilha. Ela arruma-se para ir embora.

MALU — Que bom que eu pude entender melhor tudo o

que aconteceu. E só de pensar que o Armando

seduziu a minha melhor-amiga.

CONSTANTINOPLA — (finge espanto) Meu Deus, a Cláudia?

MALU — Isso! Mas quer saber... Eu percebo o quanto ela

também se sente incomodada com esse assunto.

Ela deixa claro que odeia esse homem.

Antônio e Constantinopla se encaram, surpresos.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

ANTÔNIO — Então é melhor nem comentar mais sobre o

Armando pra ela, né?

MALU — Eu concordo! Vamos seguir a vida em frente, e

continuar a sermos essa gente feliz, unida! Agora,

o meu último pedido é que vocês nunca mais

escondem as coisas pra mim!

CONSTANTINOPLA — (cínica) Pode ter certeza que a nossa vida é uma

bíblia sagrada, minha querida! (beija-a) Até mais!

MALU — Até!

Por fim, Antônio a conduz até a porta e se despede dela com o ardente beijo

nos lábios. Depois, ele observa Constantinopla e se aproxima dela.

ANTÔNIO — Veja só isso!

Ele mostra a mensagem que Sérvia mandou pro seu celular.

CONSTANTINOPLA — É! Nós deveríamos agradecer diariamente por

Deus ter nos poupado de tanto sofrimento!

Quando parece que a casa vai cair, sempre existe

um arsenal de desculpas esfarrapadas pra impedir

que o teto desmorone nas nossas cabeças!

ANTÔNIO — Pelo menos agora eu garanto que a Malu nunca

vai tocar nesse assunto que a gente inventou pra

Cláudia. Porque aí a casa cai de volta, e não só na

nossa cabeça, né?

CONSTANTINOPLA — Sim! (senta-se no sofá) Confio na discrição da

Malu! Ela é burrinha, influenciável, mas ao menos é

uma lady. (debocha) Uma marionete lady, no caso!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

ANTÔNIO — Mudando de assunto, as nossas preocupações

parecem que estão se extinguindo gradativamente!

CONSTANTINOPLA — Exato! Tanto que o passo do plano contra a

Sônia ta bem encaminhado! Só falta mesmo eu

garantir que essa história do tráfico nos EUA não

resbale sobre mim. Porque uma ex-prostituta que

está aqui no Brasil, armou o escândalo que foi o

primeiro passo da decadência do Nader.

ANTÔNIO — (senta-se ao lado) Você não comentou sobre

essa garota! Como ela se chama?

CONSTANTINOPLA — Taís! É uma jovem esperta, decidida! Consegui

impedir que ela me entregasse pra polícia. Só que

isso é momentâneo. Ela precisa calar a boca

definitivamente com uma grana na mão!

ANTÔNIO — Isso você resolve depois! Eu vou tomar uma

ducha! Hoje o meu dia foi exaustivo demais,

preciso relaxar!

CONSTANTINOPLA — Pode ir!

Ele se direciona até o banheiro e Constantinopla levanta-se do sofá, pegando

as malas e levando-as para os quartos.

CENA 2. ESTRADAS DE CURITIBA. EXT. NOITE.

Ao som de uma música de ação, Nader anda de carro por uma rodovia que o

levará para a região oeste do Paraná. Mas, quando está próximo de um

pedágio, ele avista uma patrulha da Polícia Rodoviária Federal parada. Nisso,

ele rapidamente pega um atalho e some por uma estradinha de terra.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CENA 3. CASA DE DIRCE. SALA. INT. NOITE.

Nesse instante, Fabiano liga o som e a maioria vibra com a música The Time

(The Dirty Bit) -The Black Eyed Peas. Taís, que já tomou uns goles de

caipirinha e cerveja, dança sem medo de ser feliz. Fabiano a acompanha e

todos fazem um círculo para vê-los improvisar uma cena do filme Dirty

Dancing. Logicamente, eles fazem o maior fiasco. E quando Fabiano tenta

levantá-la para fazê-la girar no ar, Taís perde o equilíbrio e cai de costas

nos braços de Leandrinho. Apaixonado, ele sutilmente a levanta e ela

retribui a gentileza. André, por sua vez, percebe o gesto e se decepciona.

Por fim, Neusa reprova a bagunça dos seus filhos e vai embora. Dirce tenta

puxá-la para ficar, sem sucesso.

CENA 4. CASA DE DIRCE. QUINTAL. INT. NOITE.

Minutos depois, CAM vai caminhando pelos arredores da residência. Logo,

CAM foca em Cláudia e Jaqueline se despedindo de Dirce.

DIRCE — Eu amei conhecer vocês duas! O meu sobrinho

realmente tem um gosto apurado pra boas

companhias!

JAQUELINE — (abraça-a) Ah, o que é isso! (desvencilha-se)

Nós é que devemos dizer que amamos essa noite!

Nos divertimos horrores.

CLÁUDIA — (sorri) Verdade! E não podemos deixar de

marcar um novo encontro desses.

DIRCE — Não mesmo!

Elas continuam rindo e CAM se afasta, procurando agora André observando

Leandrinho conversando com Taís no canto da porta da frente.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

LEANDRINHO — Você não machucou, né?

TAÍS — (acaricia-o pelo rosto) Ta tudo ótimo!

LEANDRINHO — Que bom! Sabe, Taís... Eu me preocupo com

qualquer coisa ruim que possa acontecer com você!

TAÍS — Pois deveria mesmo é se preocupar contigo! Eu

sei me cuidar, lindo! Se liberte desses

pensamentos, vai!

Nisso, Taís desvencilha-se e se direciona até Fabiano, que conversa com o

filho de Dirce, Léo. Leandrinho fica entristecido, mas esconde a decepção.

André percebe e se aproxima.

ANDRÉ — E aí, tudo tranquilo?

LEANDRINHO — É! Até que vai indo!

ANDRÉ — Você sabe que o seu primo ta morando lá na

minha casa, né? A gente se conhece há tempos, ele

nunca tinha me apresentado a família inteira. São

todos legais. Inclusive, você!

Leandrinho nem dá muita bola para ele, pois não para de notar Taís.

LEANDRINHO — Eu também te achei bem legal! (seco) Dá licença!

Ele toca levemente no ombro de André e entra para a cozinha. André vira

para um outro lado, e disfarça a frustração.

Corta para Léo, Fabiano e Taís.

FABIANO — Então quer dizer que você e a tia Dirce

montaram um restaurante lá em Montevidéu.

LÉO — Pois é! Agora quem controla tudo é o nosso

administrador! A gente até pensa em abrir uma

filial aqui em Curitiba...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

... Estamos ainda em fase de pesquisa. Vamos

conhecer o ponto, nos adaptar aos gostos

nacionais!

FABIANO — Que bom! Você já deve ter superado aquele seu

problema afetivo do passado/

LÉO — Por incrível que pareça, uma coincidência

aconteceu aqui.

Fabiano e Taís se olham, intrigados.

TAÍS — O quê, primo?

LÉO — É que eu observei que aquela menina que tava

aqui, a Cláudia, é a garota-propaganda da campanha

do shopping Metrópole, né?

FABIANO — Isso! Mas o que tem a ver?

LÉO — É que a outra garota-propaganda, a Malu, foi ela

que eu namorei há algum tempo. Foi ela que me

traiu com um outro cara!

Som de suspense. Fabiano fica surpreso, assim como Taís.

FABIANO — (encara-o) Que história, hein?

LÉO — Mas tudo bem... (levanta-se) São águas

passadas! Depois da minha mãe conseguir achar um

ponto pra nossa filial, ela vai cuidar da rede de

restaurante aqui na cidade, enquanto eu vou voltar

pras minhas terras castelhanas.

TAÍS — A gente vai sentir muito a sua falta!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

LÉO — Não tem problema! Eu sempre vou me comunicar

via Skype com vocês. E quando sobrar tempo,

visitá-los.

Nisso, Léo dá um abraça nos seus dois primos e sai de cena.

TAÍS — E essa Malu é a grande amiga da Cláudia, né?

FABIANO — (intrigado) Pois é! To começando a achar que

não é tão amiga assim... Pelo que o Léo contou, né?

TAÍS — Sim!

Corta imediatamente para...

CENA 5. MANSÃO DE SÉRVIA. SALA. INT. NOITE.

Malu chega por lá e Sérvia surge dos fundos da cozinha.

SÉRVIA — Conseguiu encontrar o Antônio, Malu?

MALU — (animada) Finalmente! E que nem você disse,

todos aqueles pensamentos negativos que eu tive

dele eram bobagem!

SÉRVIA — (respira aliviada) Mas que maravilha! (senta-se

no sofá) Uma preocupação a menos na sua cabeça,

né?

MALU — (senta-se ao lado) Exatamente! Porque o

escândalo do lançamento da campanha também ta

me perturbando. Vou até dar uma olhada nas redes

sociais, pra ver se o assunto foi muito comentado!

Logo, Malu pega o seu celular e verifica as notícias pela Internet. Irineu

surge no mesmo instante e se aproxima.

IRINEU — Malu, Sérvia! Eu tenho uma notícia pra vocês!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

SÉRVIA — Mas qual, meu amor?

IRINEU — Não se preocupe em procurar notícias da

campanha na Internet, Malu!

MALU — To vendo aqui que entrou pro Treding Topics do

Twitter.

IRINEU — Mas aí não diz que o movimento do shopping

aumentou e que a agência do Gene me ligou dizendo

ter convites de outras campanha para você e a

Cláudia.

MALU — (chocada) Outras campanhas? Em outras

empresas?

IRINEU — Isso mesmo!

Ao som de The Logical Song-Supertramp, Malu levanta-se num rompante,

vibra e abraça Irineu com toda a empolgação. Ele até se surpreende. Já

Sérvia, fica extremamente feliz.

SÉRVIA — Vamos comemorar com uma taça de champanhe!

Corte descontínuo. Já com a taça em mãos, os três brindam pelo sucesso.

CENA 6. TRANSIÇÃO DE TEMPO. UMA SEMANA DEPOIS.

CURITIBA. VISTA GERAL DA CIDADE. EXT. DIA.

Atenção sonoplastia: a música da cena anterior continua aqui.

CAM sobrevoa por vários pontos da cidade: prédios próximos do Parque

Barigui, prédios no Centro, praças e avenidas. CAM fica plana na fachada da

Agência Vital, por onde Malu e Cláudia surgem e descem do carro daquela.

Ambos aparentemente estão conversando, descontraídas. CAM mostra-as

entrando no local.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CENA 7. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.

Atenção sonoplastia: a música das cenas anteriores acaba aos poucos.

CAM começa mostrando Júlia atrás da janela da sua salinha, observando

Gene saindo da dele e se direcionando até Malu e Cláudia. Corta para o PV

deles.

GENE — Fico muito feliz que vocês tenham superado as

expectativas dessa surpreendente campanha do

shopping.

MALU — E bota surpreendente nisso, né? (encara

Cláudia) A imagem que mais marcou foi aquele

traficante de mulheres botando o maior terror no

meio dos convidados!

GENE — Passado é passado, gente! Vamos focar na

realidade! Nós fechamos uma conta com uma

conceituada empresa de perfumaria da cidade. O

dono dela gostou muito do trabalho de vocês!

Ainda mais porque vocês também traduzem

perfeitamente a ideia do slogan da empresa:

“Belissimamente originais!”

MALU — Ta aí, gostei! E você, Cláudia, o que achou?

CLÁUDIA — Achei bacana! Vamos conhecer mais a fundo a

proposta, né, Malu? Aliás, Gene, eles querem nós

duas novamente fazendo uma dupla dinâmica?

GENE — Querem! Vamos entrando na minha sala! De lá, a

gente analisa melhor as ideias e espera o retorno

do dono da perfumaria, que marcou de vir pra cá!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Quando elas vão entrar, Júlia surge de sua sala, batendo palmas.

JÚLIA — (irônica) Congratulações, minhas caras! Vocês

conseguiram ultrapassar o prazo limitado de uma

sub-celebridade! A sobrevida de vocês nos anais

da fama estão me deixando intrigada! Será que é

por que a dupla dinâmica disfarça a falta de

carisma das duas? Então imagine se daqui a algum

tempo ambas se tornem grandes inimigas.

(provoca) Nunca pensaram nessa possibilidade?!

Clima tenso. Malu e Cláudia se entreolham, preocupadas. Já Gene, retorna

um olhar de revolta para Júlia, que se mantém esnobe.

CENA 8. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. DIA.

Constantinopla toma o seu café na mesa redonda do local e observa Antônio

saindo de jaleco do corredor dos fundos.

CONSTANTINOPLA — Ta completamente amassada a sua roupa.

ANTÔNIO — Vou ter que mandar pra uma lavanderia! Mas

isso não importa no momento! Já to indo! E vê se

não me arrume problemas! Tudo tem a sua hora!

No momento certo nós agiremos com os planos em

vista!

CONSTANTINOPLA — Mas é lógico, eu sou calma e obstinada! (come

uma torradinha) Pode trabalhar sem medo de ser

feliz, ta?

ANTÔNIO — Ta certo!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Nisso, ele anda em direção à porta, e CAM foca em Constantinopla, tomando

café calmamente.

CENA 9. APART DE ANTÔNIO. CORREDOR. INT. DIA.

Segundos depois, Antônio não tem paciência de pegar o elevador e se

direciona até as escadas. Mas no terceiro degrau, ele percebe que esqueceu

a sua maleta. Nisso, ela volta e nota um oficial de justiça batendo a porta do

seu apart. Música de suspense. Ele esconde-se atrás da parede da escada

para espiá-lo. Do PV dele, Constantinopla abre a porta e se surpreende com

a vinda do oficial.

CONSTANTINOPLA — O que aconteceu?

OFICIAL — Pois muito bem... (olha para um papel) A

senhora é a Constantinopla Meirelles Porto?

CONSTANTINOPLA — Sou sim! (nota o documento) O que é isso?

OFICIAL — É uma convocação pra senhora depor na

delegacia a respeito do foragido da justiça, Nader!

CONSTANTINOPLA — (assustada) Depor?

OFICIAL — A senhora assine aqui!

Ele escancara o documento com uma caneta acoplada. Ela assina e seu filho

observa tudo.

OFICIAL — Na hora que ta marcada aqui, você não falte! É

imprescindível a sua presença pra saber não só o

paradeiro desse elemento, como também a ligação

dele com crimes hediondos no Brasil e no exterior.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Som de suspense. Estarrecida, Constantinopla acena afirmativamente para o

oficial e entra no apart. Ele, por sua vez, pega novamente o elevador, e CAM

se aproxima de Antônio escondido atrás da escada.

ANTÔNIO — (p/si) A minha mãe ta prestes a ser descoberta!

PRIMEIRO BREAK.

Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN.

CENA 10. APART DE ANTÔNIO. CORREDOR. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do bloco anterior.

Clima tenso. Antônio sai do topo da escada e volta até o seu apart. Ele ficou

surpreso com a vinda de um oficial de justiça para convocar Constantinopla a

depor no caso Nader.

CENA 11. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. DIA.

Agora, Antônio entra, fecha a porta e focaliza Constantinopla de costas

para ele, no fundo dos corredores.

ANTÔNIO — (aproxima-se) Eu vi tudo, mãe! A polícia quer a

sua presença pra resolução do caso do Nader.

CONSTANTINOPLA — (vira-se p/ele) Eu to preocupada! Eles não

podem ter descoberto que eu fui a sócia do Nader

lá nos EUA! (pensativa) Só se a Taís me entregou,

ou a Sônia não cumpriu o acordo de ficar calada!

ANTÔNIO — Não vamos nos precipitar! (caminha ao redor

da sala) Eu vou entrar em contato com o meu

advogado...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

... Pra gente analisar a situação e ver qual é a

melhor saída pra esse problema! Você só deve

manter a calma... Porque se a justiça soubesse do

seu envolvimento com tráfico de gente no

estrangeiro, já teria um mandado de prisão!

CONSTANTINOPLA — Ta certo! Eu vou controlar os meus instintos!

Não posso agir como um animal!

Assim sendo, Constantinopla senta-se no sofá e coloca as mãos sobre os

cabelos, visivelmente preocupada. Já Antônio, pega o seu celular, direciona-

se até a porta e aguarda o retorno do advogado.

CENA 12. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.

Gene se revolta com o deboche de Júlia para Cláudia e Malu.

GENE — Tanto ressentimento, hein, Júlia? Você tinha

que começar bem o nosso dia, né? Só que pode

apostar que esse seu ritual freqüente de inveja

não vai diminuir o sucesso das meninas!

MALU — Deixa Gene, não vamos nos estressar! Vamos

direto ao assunto! O dono da empresa de

perfumaria... Ele já está vindo, né?

GENE — (encara Júlia) Sim!

MALU — (encara-os) Então vamos entrar?

Cláudia, que está atrás de Malu, observa a troca de olhares entre Júlia,

Gene e Malu.

GENE — (seco) Imediatamente!

Nisso, ele, Cláudia e Malu entram na sala. Júlia chama a última.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

JÚLIA — Escuta, Malu!

MALU — (vira-se p/ela) O que é?

JÚLIA — Você acha que venceu essa guerra, não é?

Afinal, o escândalo do shopping não denegriu a sua

imagem, você ainda é requisitada por outras

empresas...

MALU — (revida) É! Sem fazer o menor esforço eu te

venci! Sinal de que você só tem lábia. Porque a

força é totalmente rasa, irrisória! (abre a porta)

Você vai ter que me entubar cada vez mais, minha

querida! É quase impossível uma ratazana de

esgoto feito você me prejudicar! Com licença!

Som de suspense. Malu entra na sala, fecha a porta e CAM se aproxima do

semblante perturbado de Júlia.

JÚLIA — (p/si) Eu vou acabar com você, sua ordinária! Eu

vou conseguir! (resmunga) Eu vou!

Logo, CAM abre no local e foca em Guilherme vindo do fundo do corredor.

Ele é o dono da empresa de perfumaria.

GUILHERME — (reconhece-a) Júlia!

JÚLIA — (dá um giro de 180º) Guilherme? Espera...

Você é o dono da empresa...

GUILHERME — (complementa) De perfumaria? Sim, eu sou!

Que ironia a gente se reencontrar aqui! Você

trabalha na agência...

JÚLIA — Eu sou a mulher do dono!

GUILHERME — (surpreendido) Nossa... Quem diria, né?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

JÚLIA — Fico feliz de saber que você vai fechar uma

conta com a gente! (aproxima-se) Seja bem-vindo!

GUILHERME — Obrigado!

JÚLIA — (indica) A sala do Gene!

GUILHERME — Ok!

Júlia o nota entrando. Ele a encara por um instante e fecha a porta. Logo,

CAM faz CLOSE na sua expressão aliviada.

JÚLIA — (p/si) Não, Malu... A ratazana de esgoto não vai

perder mais uma parada pra piranha da lagoa! Você

vai ver só!

Nisso, ela se direciona até a sua sala, dá uma última observada no local onde

está Gene e sorri.

CENA 13. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. DIA.

O advogado de Antônio já se encontra no apart. Ele está sentado no sofá,

enquanto Constantinopla está de pé e Antônio no canto.

ADVOGADO — Pelo parecer do oficial de justiça, você apenas

foi convocada pra esclarecer o caso desse bandido!

Portanto, pode depor tranquila, Constantinopla! A

presença de um advogado em sua defesa só

levantaria suspeitas!

CONSTANTINOPLA — É que eles podem relacionar a minha imagem

com a da cafetina que foi sócia dele no exterior! É

esse o meu medo!

ADVOGADO — Mas se você não tem nada a ver com isso, não

precisa se sentir amedrontada...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

... (encara Antônio) Ou por acaso vocês estão

ocultando algum detalhe?

CONSTANTINOPLA — (desconversa) Imagina! Claro que não estamos!

As suas dicas me ajudaram muito! Vou ficar muito

mais segura quando chegar na delegacia!

ADVOGADO — Então é só isso, não é?

ANTÔNIO — (aproxima-se) Isso, doutor!

O advogado levanta-se do sofá e o cumprimenta com a mão. Logo, Antônio

coloca os seus braços no ombro dele e o conduz até a saída. Ele olha

discretamente para sua mãe, que observa tudo do canto.

ANTÔNIO — (p/advogado) Só mais um detalhe: o meu caso

litigioso com a Sônia! Nós entramos num acordo, e

eu cedi a mansão pra ela! Mas eu to pretendendo

recorrer logo depois!

ADVOGADO — Reivindicar a mansão?

ANTÔNIO — Exatamente! Por isso, eu queria saber se depois

da primeira instância acabar, eu ainda tenho esse

direito?

ADVOGADO — Claro que sim! Se surgir uma nova prova que

possa te favorecer, é só reclamar! Nos falamos

numa outra ocasião!

ANTÔNIO — Sim!

Clima tenso. O advogado sai de cena e Antônio fecha a porta. CLOSE no

olhar distante dele com sua mãe.

CONSTANTINOPLA — Vou ter que enfrentar logo o meu problema!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

ANTÔNIO — Só dessa forma a gente vai vencer os nossos

obstáculos. Pode escrever!

CENA 14. AGÊNCIA VITAL. SALA DE GENE. INT. DIA.

Malu e Cláudia fecham contrato com a empresa de Guilherme. Gene mostra

os documentos.

GENE — Com esse novo contrato, vocês já podem

começar a se preparar pra campanha publicitária lá

na empresa de perfumaria do Guilherme!

MALU — (animada) Maravilha! (p/Guilherme) E qual é o

público-alvo de vocês? Eu imagino que seja a classe

A.

GUILHERME — Até então, sim! Se bem que, nos últimos tempos,

com a ascensão da classe C, nós optamos por abrir

o leque de variedades das nossas linhas de

perfumes. E vocês duas seriam uma referência pra

todos os tipos de públicos que se interessam pelos

nossos produtos.

CLÁUDIA — Algo mais abrangente, então?

GUILHERME — Isso!

GENE — E então, meninas? Negócio consumado!

Malu e Cláudia se encaram, sorridentes.

MALU — (encara Gene) Pode apostar que sim!

Ao som de Time After Time-Cindy Lauper, ocorre um corte descontínuo.

SUPERCLOSE nas mãos de Malu, que pegam os papéis vindos de Gene e

assina o contrato. Depois, Cláudia faz o mesmo.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Logo, CAM sobe das suas mãos, percorre o seu rosto e foca no olhar

apaixonado de Guilherme. Cláudia apenas termina de assinar e entrega

novamente o papel para Gene. Ela não percebe as intenções de Guilherme.

CENA 15. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.

Minutos depois, os quatro personagens saem da sala de Gene e ficam um

tempo parados no canto da porta. CAM focaliza Júlia sentada na cadeira da

sua sala, e os observando através da janelinha.

MALU — (p/Guilherme) Logo nós já podemos começar a

publicidade.

GUILHERME — (com os olhos mirados em Cláudia) Sim! Com

certeza! (sem jeito) É... Bom... Nós nos falamos!

GENE — (cumprimenta-o) Tudo certo, Guilherme! Deixa

que eu cuido de tudo pra deixar as suas garotas-

propaganda perfeitamente inseridas no contexto

da sua empresa!

GUILHERME — Maravilha! (desvencilha-se dele/encara

Cláudia) Então, até a próxima!

CLÁUDIA — Até!

Guilherme apenas dá um beijo de despedida no rosto de Cláudia. Malu

estranha o gesto. Logo, CAM foca em Júlia notando a situação.

Som de suspense no final da cena.

CENA 16. AGÊNCIA VITAL. SAÍDA. INT. DIA/ EXT. DIA.

Nesse instante, Guilherme já foi embora. Cláudia e Malu descem a rampa

que as levam até a saída do local e conversam, descontraídas.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CLÁUDIA — Podem até tentar, mas ninguém consegue abalar

a nossa amizade, né?

MALU — Concordo! (insinuante) Só se o Guilherme

preferir você na campanha sozinha! E me

descartar!

CLÁUDIA — Credo, Malu! Da onde que você tirou essa

hipótese?

MALU — Brincadeira minha! Só achei meio estranho o

jeito dele com você. A forma como ele te olhava,

te enaltecia!

CLÁUDIA — Bobagem! E mesmo se ele estivesse querendo

algo além, eu sou uma pessoa ética. Não misturo a

vida pessoal com a profissional, não. Além do mais,

eu já me decepcionei muito na vida amorosa.

Preciso dar um tempo!

MALU — (curiosa) Além do Lucas, que morreu

recentemente, tem ainda aquele outro sujeito, né?

Aquele que é casado com a Sônia!

CLÁUDIA — (desconfortável) Sim!

Ambas já estão na parte de fora da agência e se penduram na grade da

escadaria externa, para terminarem o papo.

CLÁUDIA — (observa ao redor) Mas sabe, Malu... Esse

assunto já virou uma coisa obsoleta. Vamos focar

no presente... (encara-a) Que tal?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

MALU — Eu acho ótimo! Aliás, você desconsidere aquela

minha brincadeira de mal-gosto sobre o interesse

repentino do Guilherme!

CLÁUDIA — (ri) Imagina! Eu nem levei a sério...

MALU — Melhor assim! (aproxima-se) Eu tava pensando

aqui... A nossa amizade ta dando certo em todos

os campos possíveis, né?

CLÁUDIA — Profissional, pessoal...

MALU — É! Então o que você acha da gente fazer um

pacto?

CLÁUDIA — Um pacto da amizade?

MALU — Isso!

CLÁUDIA — Seria muito instigante! Eu aceito, sem pensar!

MALU — Portanto, ninguém separa essa dupla dinâmica...

CLÁUDIA — Absolutamente ninguém! E muito menos acabam

com o nosso companheirismo!

Por fim, CAM faz CLOSE nas mãos delas se cumprimentando e firmando o

pacto. Um clima de suspense fica no ar.

CENA 17. DELEGACIA. INT. DIA.

Horas depois, Constantinopla chega ao local vestida com uma roupa

extravagante e óculos escuros. De longe, a vemos se direcionando até um

policial e mostrando a convocação para ele. O mesmo indica a sala do

delegado. Ela entra.

CONSTANTINOPLA — Boa tarde!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

DELEGADO — (vira a cadeira) Oi! Dona Constantinopla

Meirelles Porto?

CONSTANTINOPLA — Exatamente!

DELEGADO — Pode se sentar!

Constantinopla acena afirmativamente e senta-se. Ambos se encaram por um

instante.

CONSTANTINOPLA — Eu imagino que você queira falar a respeito do

Nader. Aquele bandido que provocou um grande

escândalo na festa do shopping. Aliás, eu estive

por lá.

DELEGADO — Muito bem! A questão é que nós descobrimos

uma certa afinidade entre vocês.

CONSTANTINOPLA — Como assim?

DELEGADO — (mostra a foto dela) Esse retrato foi achado

nos cômodos do pensionato onde ele estava

hospedado. E os policiais que vistoriaram o local

acabaram descobrindo que você passou um tempo

morando junto com ele. Então, Constantinopla, nós

queremos saber: vocês são amigos há anos? Você

conheceu a vida errada que ele levou em Nova

Iorque? É muito importante que você fale a

verdade. Uma cafetina que foi sócia dele no

exterior ta sendo investigada. Precisamos

desmantelar um esquema perigoso!

Som de suspense. Constantinopla fica visivelmente pálida, mas procura

disfarçar o incômodo.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CENA 18. DELEGACIA. INT. DIA.

Minutos depois, Constantinopla relata como conheceu Nader. Mas omite a

ligação com o crime no exterior.

CONSTANTINOPLA — Então é isso, delegado! Eu e o Nader nos

conhecemos a alguns anos, numa época em que ele

ainda morava no Brasil.

DELEGADO — Em que ano, especificamente?

CONSTANTINOPLA — Mais precisamente, 1990!

DELEGADO — Ok! E vocês, então, acabaram se reencontrando

naquele dia no qual o Humberto, o dono da clínica

Arcádia, tentou te raptar?

CONSTANTINOPLA — (cínica) Veja que coincidência... Foi justamente

nessa época! O Nader salvou a minha vida! Sou

muito grata a ele por isso!

DELEGADO — Nesse caso, você nunca ficou sabendo da vida

errônea que ele levou nos EUA?

CONSTANTINOPLA — Isso você pode ter certeza! Eu nunca soube!

Aliás, to completamente estarrecida com essa

notícia! Porque foi tudo muito rápido pra mim!

Naquela festa do shopping Metrópole, por sinal, eu

fiquei horrorizada ao vê-lo de penetra, criando

aquele escândalo!

DELEGADO — O que quer dizer que você não tinha mais

contato com ele atualmente?

CONSTANTINOPLA — Isso! Eu fui embora do pensionato dele! Eu

voltei a morar no apart do meu filho, o Antônio.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Não sei se eu devo comentar, é que é tudo muito

sigiloso.

DELEGADO — Deve comentar! Constantinopla... Nós estamos

lidando com um bandido da pior categoria!

Qualquer informação de pessoas próximas é muito

útil pra polícia finalmente conseguir encontrar

essa criatura!

CONSTANTINOPLA — (dissimulada) É que... Me falta fôlego pra

dizer... (encara-o) Mas quer saber... Não vou mais

me amedrontar! Eu preciso tirar esse peso da

minha consciência! Quando você me perguntou se

eu sabia da vida errônea que ele tava levando, e eu

disse que não, eu menti! Porque eu acabei

descobrindo que ele mantinha contato com uma

cafetina no exterior, chamada Leda.

Música de suspense. CAM se aproxima do semblante surpreso do delegado.

DELEGADO — Quem é Leda?

CONSTANTINOPLA — (finge nervosismo) É muito complicado pra eu

entrar nesse assunto... Mas eu ouvi pouco falar

dessa mulher. É que o Nader entrou em contato

com a Leda através do celular dele, e eu acabei

ouvindo uma conversa muito suspeita. Deles

discutindo um assunto que tinha relação com

algumas prostitutas! Foi mais ou menos isso!

DELEGADO — (deduz) Tendo em vista o fato de que o Nader

teve ligação com tráfico de mulheres nos EUA...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

Eu posso concluir que a Leda é a tal sócia dele

desse esquema. É ela que nós estamos procurando

a algum tempo, depois de termos recebido a

informação dos outros crimes do Nader!

CONSTANTINOPLA — Eu acho que é isso mesmo! É que foi

traumatizante quando o Nader descobriu que eu

ouvi a tal conversa! Ele me ameaçou de morte,

disse que ia matar a mim e ao meu filho! E aí... Ah,

meu Deus... Eu preciso contar tudo, nos mínimos

detalhes?

DELEGADO — É muito importante que você continue! Nós

estamos conseguindo esclarecer muitas coisas

nesse depoimento!

CONSTANTINOPLA — Então, o Nader invadiu a mansão do meu filho

recentemente, fez a mulher dele de refém, e

exigiu uma quantia pra fugir. O meu filho

conseguiu sacar um dinheiro e o entregou. Nisso, o

Nader fugiu, mas sempre nos ameaçando. Foi um

dia torturante pra nossa família.

Constantinopla finge estar tendo um ataque de nervos e se treme toda. O

delegado acena pra um policial vir com um copo de água e este o obedece.

DELEGADO — Fique tranquila! Eu sei que deve ser uma

situação complicada pra você! Agora, nós vamos

colher o depoimento da sua nora pra confirmar

tudo isso que você falou.

CONSTANTINOPLA — Sim, sim... Fazem muito bem!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

CENA 19. MANSÃO DE SÔNIA. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Sônia dá continuidade ao seu novo livro (“As Donas da História”), e digita no

seu notebook. No mesmo instante que ela faz uma pausa para o cafezinho, o

telefone da mansão toca. Ela corre para a sala.

CENA 20. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. DIA.

Já lá, ela atende a ligação.

SÔNIA — (T) Sim! (T) Delegacia? (T) Agora, pra eu

depor? (T) Tudo certo! (T) Já to indo!

Ela desliga o telefone, coloca-o no lugar onde estava e caminha ao redor do

sofá.

SÔNIA — (p/si) O que será que aconteceu? Será que a

Constantinopla foi desmascarada?

Som de suspense no final da cena.

CENA 21. DELEGACIA. INT. DIA.

Minutos depois, Sônia é focalizada na entrada. Logo, CAM acompanha os

passos dela, que bate a porta da sala do delegado e entra. Depois de fechar

por dentro, ela vira o rosto e mira em Constantinopla sentada numa das

cadeiras de visitante.

DELEGADO — Então, Sônia... Nós precisamos que você nos

relate o incidente no qual o Nader invadiu a sua

mansão!

Música de suspense. CLOSES alternados entre Sônia e Constantinopla, que

se encaram.

SÔNIA — (encara o delegado) É... Mas por quê?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 27

DELEGADO — Pra confirmar a versão da sua sogra! Ela disse

que o Nader ameaçou a vida da sua família por

justamente ter sido descoberto que ele mantinha

contato com uma cafetina nos EUA.

SÔNIA — Cafetina? (encara Constantinopla) E como essa

mulher se chama?

DELEGADO — Segundo Constantinopla... Ela se chama Leda!

Veja bem, Sônia... Nós estamos tentando montar

um quebra-cabeça, onde nenhuma peça pode ficar

fora do lugar. Agora que nós já descobrimos o

nome da cafetina que foi sócia desse bandido no

esquema de tráfico de mulheres nos EUA,

precisamos da sua confirmação pra podermos ter a

certeza de que estamos no caminho certo!

Sônia se sente acuada. Já Constantinopla, inclina a sua cabeça e a encara

com um gesto cúmplice.

FIM DO CAPÍTULO 27.