Aspectos da avaliação da aprendizagem

6
ASPECTOS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Tem-se, hoje, que o fracasso do aluno decorre da ausência de um equacionamento entre identidade cultural e itinerário educativo. A escola tradicional não se preocupava com a origem do aluno, com o seu meio de vida e mantinha uma relação de conteúdo autoritário, um critério de avaliação rígido, limitado. Agora, o professor tem que apostar na capacidade de ousadia, de invenção do aluno, apoiar-se em seu potencial, tornando a avaliação um ponto que não pode ser fechado. Como na pedagogia do educador francês Freinet, a concepção é de que o aluno não vai à escola para tirar notas, vai para aprender, para crescer, para se desenvolver. A avaliação do aluno deve ser individual, apoiada em suas aptidões. Anísio Teixeira já pregava, nos anos idos de 50, o ensino individualizado e conseqüente avaliação individualizada; o aluno sendo avaliado de acordo com sua capacidade, ajudando a afastar a repetência. No sistema de ciclos, adotado no Estado de São Paulo e em outros Estados, no ensino fundamental, o aluno não tem seu aproveitamento avaliado através de provas periódicas, com notas, que, totalizadas no final de cada ano letivo, determinariam sua promoção 195

Transcript of Aspectos da avaliação da aprendizagem

Page 1: Aspectos da avaliação da aprendizagem

ASPECTOS DA AVALIAÇÃO

DA APRENDIZAGEM

Tem-se, hoje, que o fracasso do aluno decorre da ausência de um

equacionamento entre identidade cultural e itinerário educativo. A

escola tradicional não se preocupava com a origem do aluno, com o

seu meio de vida e mantinha uma relação de conteúdo autoritário, um

critério de avaliação rígido, limitado. Agora, o professor tem que apostar

na capacidade de ousadia, de invenção do aluno, apoiar-se em seu

potencial, tornando a avaliação um ponto que não pode ser fechado.

Como na pedagogia do educador francês Freinet, a concepção é de

que o aluno não vai à escola para tirar notas, vai para aprender, para

crescer, para se desenvolver. A avaliação do aluno deve ser individual,

apoiada em suas aptidões. Anísio Teixeira já pregava, nos anos idos de

50, o ensino individualizado e conseqüente avaliação individualizada; o

aluno sendo avaliado de acordo com sua capacidade, ajudando a

afastar a repetência.

No sistema de ciclos, adotado no Estado de São Paulo e em outros

Estados, no ensino fundamental, o aluno não tem seu aproveitamento

avaliado através de provas periódicas, com notas, que, totalizadas no

final de cada ano letivo, determinariam sua promoção ou sua retenção.

Não há mais o calendário oficial de provas, mas ele não exclui a

avaliação do aproveitamento do aluno.

Segundo o que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(LDB), a avaliação deve ser feita no dia-a-dia da aprendizagem,

utilizando-se das mais variadas formas: participação em aula, atitude do

aluno frente a aprendizagem, freqüentes verificações e anotações da

assimilação dos conteúdos... A avaliação deve incorporar, à

195

Page 2: Aspectos da avaliação da aprendizagem

educação formal, a experiência de vida trazida pelo aluno de seu

universo familiar, social e de trabalho, o seu amadurecimento pessoal.

As disciplinas devem estar integradas, ajustadas a um currículo flexível.

A escola estabelece uma relação pedagógica de interação, de dar

espaço para o outro e de respeitar o conhecimento do outro.

Avaliar é diagnosticar o desenvolvimento do aluno ao invés de

julgar. A principal função do processo de avaliação não é dar uma nota,

mas aperfeiçoar as situações da aprendizagem e do currículo como um

todo. É verificar se o aluno está aprendendo, se a proposta pedagógica

está dando resultado, se a aprendizagem está no caminho certo.

Conhecer as medidas educativas ajudam a entender o processo de

avaliação e o melhor meio de contemplá-lo. Vejamos, sucintamente,

sua evolução através dos tempos.

No passado, não tão distante, os professores tentavam julgar o

desempenho do aluno em função do que eles próprios sabiam e do que

julgavam ter transmitido. As notas variavam de zero a 10 e se

regulavam pelos acertos e pelos erros. Esse era o chamado método

autocrático de avaliação – avaliação centrada no professor – que

deixava ao mestre uma ampla margem de arbítrio. Na evolução do

processo, passou-se a reagir contra a adoção de padrões apriorísticos

de avaliações, especialmente pelo teor de subjetividade. Não competia

ao professor estabelecer de antemão o que o aluno devia saber. Pelo

arbítrio, um professor benevolente podia aprovar a todos e um

professor rigoroso reprovar em massa.

Avançando no processo, contra a avaliação autocrática, surgiu a

avaliação normativa – baseada no grupo de alunos. A referência não

era mais a sapiência do professor, mas o aproveitamento médio da

classe. Se todos os alunos apresentassem rendimento baixo, não seria

196

Page 3: Aspectos da avaliação da aprendizagem

justo reprovar a todos. Ter-se-ia que indagar as causas desse

resultado. Passou-se a questionar o potencial dos educandos, as

condições ambientais, condições de vida, deficiências das aulas, falta

de confiabilidade das provas e outros, o que já era um grande avanço.

A avaliação normativa permite saber em que posto de percentil se

encontra determinado estudante, ou seja, a sua classificação no grupo.

A teoria clássica da medida surgiu do interesse em medir aptidões

dos indivíduos. Buscaram-se medidas capazes de discriminar entre

indivíduos dotados de maior aptidão. O grau de aptidão de cada um era

estabelecido em função do grupo, através das provas de desempenho.

Mas, em determinadas situações, o interesse do avaliador consistia em

estabelecer se cada indivíduo alcançou um conjunto específico de

objetivos. Neste caso, ele não seria comparado com seu grupo, mas

referido a um critério (um padrão de desempenho previamente

especificado).

Da medida centrada no professor, evolui-se para a medida

normativa, concebida como discriminatória dos diferentes indivíduos,

chegando-se à medida baseada em critérios. Esta preocupa-se com a

seqüência e individualização da instrução que surgem das unidades e

módulos progressivos. Concluiu-se que a norma incentiva a rivalidade e

compromete o autoconceito de alunos de baixo desempenho e passou-

se a se preocupar com o rendimento mínimo.

Para a medida baseada em critério, uma vez estabelecidos os

objetivos essenciais, cumpre verificar se o aluno atingiu as metas

prefixadas. Sua posição relativa ao grupo seria questão secundária. O

aluno é avaliado por um conjunto específico de objetivos. Seus

princípios são usados em programas de instrução individualizada,

instrução programada.

197

Page 4: Aspectos da avaliação da aprendizagem

A avaliação baseada em critério é importante porque ressalta a

necessidade de um rendimento mínimo. Exigência que requer o

desenvolvimento das habilidades básicas essenciais, adquiridas antes

das habilidades hierárquicas superiores.

Todas essas medidas educacionais são de importância e cada uma

terá valor maior, dependendo do momento da aprendizagem e do

objetivo a que se propõe. As várias abordagens não se excluem, antes

se completam. Contudo, o professor, seja qual for a medida a tomar,

não pode esquecer que a parte mais importante, em determinadas

circunstâncias, é o potencial do aluno. O professor, conforme o

momento, avalia o desempenho, as diferenças individuais, a

classificação hierárquica e o potencial do aluno. Acima da norma ou do

critério, o foco central da avaliação é o aluno em sua

especificidade. Propõe-se que na educação fundamental a aferição

do conhecimento deve ser feita em função das aptidões da

criança. Nesse grau de ensino, a posição do aluno em seu grupo, o

grau de desempenho que atingiu não são tão importantes. O fato de ele

estar se realizando potencialmente é que deve ser considerado.

A norma, o critério e o potencial são componentes da avaliação,

conforme as circunstâncias, um dos componentes reveste-se de maior

relevância. A finalidade a que a aprendizagem se destina é que vai

dizer, em cada caso, qual dessas medidas deve ter maior peso.

198

Clique para voltar ao sumário