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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
ASPECTOS SANITÁRIOS E DO SISTEMA DE FAGÓCITOS DE BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO
Autor: Raquel Soares Juliano
Orientador: Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti
GOIÂNIA 2006
i
RAQUEL SOARES JULIANO
ASPECTOS SANITÁRIOS E DO SISTEMA DE FAGÓCITOS DE BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO
Tese apresentada para a obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás
Área de Concentração: Sanidade Animal
Orientador: Profa. Dra. Maria Clorinda S. Fioravanti - UFG
Comitê de Orientação: Prof. Dr. Luiz Antonio Franco da Silva - UFG
Profa. Dra. Valéria de Sá Jayme - UFG
GOIÂNIA 2006
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Aos meus pais, pela confiança, amor, estímulo e orientação.
Dedico
Aos meus irmãos, familiares e amigos, que se fazem presentes e são
absolutamente necessários para minha felicidade.
Ofereço
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter dado a oportunidade do livre arbítrio a todo ser humano; prova de
amor e confiança, presente de liberdade.
À Profa. Maria Clorinda Soares Fioravanti, pela amizade, companheirismo e
infindáveis discussões. Pelo exemplo de coragem e dedicação.
À Escola de Veterinária da UFG por me conceder disponibilidade para a
conclusão deste curso.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV/UFG), especialmente ao Prof.
Luiz Augusto Batista Brito, pela compreensão, paciência e esforço para comigo.
Aos demais professores da Escola de Veterinária da UFG que me ajudaram e me
receberam com carinho.
Aos professores, funcionários e alunos do Laboratório de Leptospirose da
EV/UFG, Laboratório de Parasitologia do IPTSP/UFG, Laboratório de Virologia do
IPTSP/UFG e Laboratório de Patologia Clínica do HV/UFG que não mediram
esforços para que o trabalho fosse realizado e têm meu mais profundo sentimento
de gratidão.
Aos professores e funcionários do Laboratório Multidisciplinar da UNIP/SP,
Laboratório de Imunoparasitologia e Laboratório de Pesquisa da FCAV-
UNESP/Jaboticabal, Laboratório de Imunidade Celular da UnB/DF e Laboratório
de IHQ da FMVZ-UNESP-Botucatu, por contribuir tão generosamente na minha
formação.
Aos graduandos Adriana Reis Bittencourt Silva, Gustavo Lage Costa, Lucas
Jacomini Abud, Mayara Fernanda Maggioli, Saura Nayane de Souza
Aos pós-graduandos Anuzia Cristina Barini, Alinne Cardoso Borges, Christiane
Silva Lima, Bruno Rodrigues Trindade, Ediane Batista da Silva, Liliana Borges de
Menezes, Marlos Castanheira, Paula Rogério Fernandes, Renata Ferreira Pereira,
Vanessa S. F. de Oliveira.
iv
À Associação Brasileira de Criadores de Curraleiro e aos produtores que
concordaram em participar das pesquisas e que ensinaram tanto sobre a cultura,
a história e o bem querer pelo Estado de Goiás.
Ao SEBRAE-GO, Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás, AGRODEFESA-
GO pelo apoio logístico nas atividades desenvolvidas.
Aos pesquisadores e funcionários da Embrapa-CENARGEN, Embrapa-CPAP,
Embrapa-CPAMN; Embrapa-CPAC.
Ao CNPq, por fornecer apoio financeiro essencial para que pudesse dedicar-me
integralmente às atividades de pós-graduação.
Ao Ministério da Integração Nacional, especialmente ao Dr. Athos Magno Costa e
Silva, que acreditou e investiu no nosso trabalho, e foi fundamental alcançarmos
nossas expectativas.
“Não sei.se a vida é curta... ou longa demais para nós.
...Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas... ...E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela
não seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira e pura...
enquanto durar.” Cora Coralina
v
“Eu venho dêrne menino, Dêrne munto pequenino,
Cumprindo o belo destino Que me deu Nosso Senhô.
Eu nasci pra sê vaquêro, Sou o mais feliz brasilêro,
Eu não invejo dinhêro, Nem diproma de dotô.”
Patativa do Assaré
vi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS.................................................. 1
CAPÍTULO 2 - Soroepidemiologia da babesiose em rebanho da Estação Experimental de Estudos de bovinos Curraleiro..........................................
9
RESUMO.......................................................................................................... 9
ABSTRACT...................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................
13
RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 14
CONCLUSÃO................................................................................................... 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 19
CAPÍTULO 3 - Características hematológicas e da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro (Bos taurus ibericus) em relação aos níveis de anticorpos anti-Babesia spp e anti-Leptospira spp
25
RESUMO............................................................................................................
25
ABSTRACT........................................................................................................
26
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................
26
3.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................
30
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................
33
3.4 CONCLUSÕES............................................................................................
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................
43
CAPÍTULO 4 - Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum e anti-Toxoplasma gondii em rebanhos da raça Curraleiro...................................
49
vii
RESUMO............................................................................................................
49
ABSTRACT........................................................................................................
50
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................
50
4.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................
53
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................
54
4.4 CONCLUSÕES............................................................................................
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................
60
CAPÍTULO 5 - Ocorrência de anticorpos anti-Brucella abortus e anti-Leptospira interrogans em rebanhos da raça curraleiro.............................
64
RESUMO............................................................................................................
64
ABSTRACT........................................................................................................
65
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................
65
5.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................
68
5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................
70
5.4 CONCLUSÕES............................................................................................
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................
77
CAPÍTULO 6 – Hemograma e função fagocitária de leucócitos de vacas de raças naturalizadas ( Bos taurus) e mestiças (Bos taurus X Bos indicus).............................................................................................................
81
viii
RESUMO.............................................................................................................
81
ABSTRACT.........................................................................................................
82
6.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................
83
6.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................
85
6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................
90
6.4 CONCLUSÕES.............................................................................................
99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................
100
CAPÍTULO 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................
104
ANEXOS.............................................................................................................
107
ix
RESUMO
Com o objetivo conhecer mais sobre os aspectos sanitários e o sistema de
fagócitos de bovinos da raça Curraleiro, foi avaliada a soroepidemiologia de
algumas doenças parasitárias e bacterianas, de impacto importante na pecuária
bovina. Estudou-se a soroepidemiologia da babesiose bovina no rebanho da
Estação Experimental de Estudos de Bovinos Curraleiros (EEEC), nos anos de
2001 e 2003, utilizando o teste de ELISA-indireto e discutindo os resultados
encontrados com características climáticas e de manejo da população. A
intensidade da produção de anticorpos anti-Babesia bovis, anti-Babesia bigemina
e anti-Leptospira interrogans foi correlacionada com variáveis hematológicas e da
bioquímica sérica a fim de averiguar alterações sugestivas de processos
patológicos associados ao estímulo contínuo e produção de anticorpos. Foram
amostrados seis criatórios, cinco deles no Estado de Goiás (Formoso, Caiçara,
Roselândia, Leopoldo de Bulhões e Pirenópolis) e um no Tocantins (Porto
Nacional). Realizou-se questionário epidemiológico e testes para detecção de
anticorpos anti-Neospora caninum (ELISA), anti-Toxoplasma gondii
(hemaglutinação indireta), anti-Brucella abortus (soroaglutinação com antígeno
acidificado tamponado) e anti-Leptospira interrogans (soroaglutinação
microscópica). A hematologia e função fagocitária de vacas de raças
naturalizadas e mestiças ¾ Nelore X Simental foram avaliadas, por meio de uma
microtécnica padronizada para seres humanos. De acordo com os resultados
encontrados pode-se concluir que houve uma diminuição significativa na
freqüência de soropositivos para B. bigemina, entre os anos de 2001 e 2003,
porém o rebanho apresentou situação de estabilidade enzoótica sem que
houvesse interferência do controle químico realizado, sobre esta condição. Com o
avançar da idade, ocorreu uma queda na positividade para Babesia spp, com
significância estatística somente para B. bigemina. A interação de fatores
climáticos e ambientais, associados à interferência fisiológica da imunidade do
hospedeiro vertebrado, podem ter sido determinantes dessa situação na
população. Não houve alteração nos valores médios hematológicos e da
bioquímica sérica que indicasse presença de lesões provocadas pela B. bovis, B.
bigemina ou L. interrogans. Não houve nenhuma correlação entre títulos de
anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade ou com as variáveis laboratoriais
x
avaliadas. O nível de ELISA (NE) de anticorpos para Babesia spp não apresentou
correlação com a idade dos animais e apresentou correlação positiva com
quantidade de hemácias, hemoglobina, leucócitos totais e linfócitos. Houve
correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e BD. Houve correlação positiva entre
NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e creatinina. Os resultados encontrados
estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema imunológico pelo
parasito e não houve manifestações patológicas decorrentes de maiores títulos de
anticorpos. A ocorrência de soropositivos para N. caninum foi diretamente
proporcional à idade. A exposição ao parasito se dá por via horizontal ou vertical e
há possibilidade de interferência de um ciclo silvestre na epidemiologia dessa
enfermidade. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii é baixa nos rebanhos
estudados mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada. A
positividade para brucelose apresentou-se dentro da expectativa para os Estados
de Goiás e Tocantins, sendo que a ocorrência de rebanhos sem animais positivos
sugere que a aplicação de estratégias de controle pode garantir a existência de
criatórios livres da doença. A freqüência e título de anticorpos anti-Leptospira spp,
embora crescente com o avanço da idade, foi menor do que encontradas em
outros estudos realizados nos Estados de Goiás e Tocantins. Os fatores
edafoclimáticos e o manejo utilizado nas propriedades podem ter interferido em tal
situação. Os sorovares mais prevalentes foram hardjo e wolffi e a ocorrência de
positividade para outros sorovares como hebdomadis e grippotyphosa sugere a
participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose bovina. As
vacas mestiças apresentaram número de eosinófilos e bastonetes aumentados e
valores de hemácia, hemoglobina, volume globular e monócitos maiores que
vacas de raças naturalizadas. A ativação da fagocitose de leveduras
sensibilizadas mostrou-se semelhante entre os grupos e a ativação, via
receptores de lectinas foi melhor nos animais de raças naturalizadas. As vacas de
raças naturalizadas apresentaram maior homogeneidade na fagocitose. O
metabolismo oxidativo dos fagócitos foi semelhante entre os grupos avaliados e a
redução de NBT foi maior quando não estimulada por leveduras sensibilizadas.
Palavras-chave: Enfermidades infecciosas, fagocitose, Pé-duro, raças
naturalizadas, sanidade animal
CAPÍTULO 1
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A história atribui a Tomé de Souza, o primeiro Governador Geral do
Brasil, a introdução do gado bovino no Brasil, trazido do Arquipélago de Cabo
Verde diretamente para as capitanias onde atualmente estão os Estados de
Pernambuco, Bahia e São Paulo. Dona Ana Pimentel, mulher de Martim Afonso
de Souza, ordenou que trouxessem de Portugal, por volta de 1530, inúmeras
reses, para serem criadas na Fazenda “Madre de Deus”, em Inguaguassú, na
Capitania de São Vicente (VELLOSO, 1996). O gado de São Vicente espalhou-se
pelo rio das Velhas, chegando até o rio São Francisco (MG) e por volta de 1759,
nas margens dos rios das Almas e Canabrava, região dos Sertões de Amaro
Leite, atualmente Mara Rosa-GO, dois padres Jesuítas possuíam um criatório
com mais de três mil cabeças desse gado (PRIMO, 1992).
Para CARVALHO & GIRÃO (1999), o gado conhecido em alguns
Estados como Pé-duro (Piauí e Maranhão) ou Curraleiro (Goiás e Tocantins), é
descendente dos bovinos trazidos pelos colonizadores. Esses animais seriam
descendentes da raça Mirandesa, mais particularmente da variedade Beiroa,
presente em Portugal e na província espanhola de Leon. Porém, é provável que
tenham vindo de diferentes grupos genéticos, que na época ainda não eram
estabelecidos como raça. Esses bovinos adequaram-se gradativamente a
pastagens de baixa qualidade, à condições de baixa umidade, ao calor e outros
fatores adversos. O resultado dessa seleção natural foi à sobrevivência de
animais muito resistentes e adaptados a condições desfavoráveis dos trópicos.
Entre as principais características de porte e conformação do gado
Curraleiro, salientam-se: peso aproximado de 380 kg para os touros e 300 kg
para as fêmeas adultas e altura mínima de 1,38m e 1,24m, respectivamente. As
pelagens mais comuns são a vermelha clara e a baia, com extremidades,
vassoura e focinhos e espelho nasal pretos. Algumas reses também apresentam
tonalidades escuras no chanfro e em torno dos olhos (Figura 1). As orelhas são
pequenas, a barbela e o umbigo são reduzidos, os chifres geralmente são curtos
2
em forma de coroa ou longos em meia lira, os membros são delgados e bem
proporcionados (BRITTO, 1998).
FIGURA 1 - Rebanho da raça Curraleiro, Município de Cavalcante-GO
De acordo com CARVALHO & AMORIM (1989), essa raça formou-se
em regime de criação superextensivo, com um mínimo de cuidados sanitários e
de alimentação, resultando em animais extremamente rústicos, que constituem
um recurso genético para a pecuária brasileira. Os dados disponíveis
demonstram extraordinária habilidade combinatória entre as raças naturalizadas e
raças destinadas à exploração comercial, tornando necessária a avaliação de seu
potencial e de seu uso racional nos países da América Latina (CAMARGO, 1984).
Essa realidade pode ser observada nos criatórios amostrados no
presente estudo; os animais são criados em condições de baixa densidade
populacional, em pastagens nativas, matas e campos sujos. Recebem cuidados
mínimos, mineralização irregular, controle de endo e ectoparasitas efetuados sem
critério técnico e vacinação somente contra enfermidades de controle obrigatório.
A atividade econômica das propriedades é variada e os Curraleiros, na maioria
das vezes o rebanho Curraleiro é destinado ao fornecimento de alimento para os
moradores do próprio criatório, como forma de subsintência. O contato com
3
outros rebanhos é esporádico e dá-se principalmente devido a dificuldade em
conter alguns animais, principalmente os touros. Apesar de não haver manejo
sanitário adequado ou qualquer controle de índices produtivos e reprodutivos, a
maioria dos proprietários informa que os animais não adoecem com facilidade, a
mortalidade de bezerros é baixa e a ocorrência de abortos é rara.
Na América Latina, o gado naturalizado foi a base da pecuária durante
quase cinco séculos e hoje ele encontra-se a ponto de ser quase totalmente
absorvido por outras raças. Na expectativa de que as raças introduzidas resolvam
problemas de produção que estão associados a outros entraves como sanidade e
nutrição, algumas populações vêm sendo cruzadas com linhagens exóticas,
todavia, sem nenhum plano sistemático de melhoramento,
A resistência a doenças é um atributo particularmente importante nos
sistemas de produção pecuária e a sanidade pode ser um fator limitante na
sustentabilidade desses sistemas. A possibilidade de aumentar a resistência
genética a doenças, em um rebanho, é bastante viável aplicando-se técnicas
simples, como a inclusão de raças nativas ou naturalizadas nos programas de
melhoramento genético ou ainda, utilizando os marcadores moleculares na
seleção de reprodutores (GIBSON, 2002; GIBSON & BISHOP, 2005)
A extinção das raças naturalizadas brasileiras representaria uma perda
irreparável para a ciência, pois com eles desapareceriam também inúmeras
informações contidas na sua estrutura genética, desenvolvidas ao longo de
séculos de seleção natural (MARIANTE & CAVALCANTE, 2000).
Por essa razão, grupos de pesquisadores têm se empenhado em
estabelecer programas de conservação destinados à proteção desse patrimônio
genético seja na forma de núcleos de criação (in situ) ou por meio da
armazenagem de material genético em laboratório (ex situ). Além do aspecto
conservacionista, é fundamental avaliar a utilização do recurso genético de raças
bovinas naturalizadas sob o prisma da viabilidade econômica e sustentabilidade,
apoiado em sistemas de produção “ecologicamente corretos” capazes de cumprir
as exigências do mercado no que se refere à qualidade do produto, segurança
alimentar e responsabilidade social.
O crescimento das exportações de carne bovina para a União
Européia detonou uma série de campanhas difamatórias sobre os sistemas de
4
produção brasileiros, associando o produto a impactos ambientais negativos,
como o desmatamento e a desertificação. Num mercado mundial liberalizado, o
meio ambiente e o bem-estar animal, entre outros temas, são as barreiras
comerciais do futuro. Os países que negligenciam o desenvolvimento sustentável
e as boas práticas agrícolas podem sofres sérios boicotes comerciais (TIMOSSI,
2006).
Os animais criados em sistemas considerados “ecologicamente
corretos” obedecem a uma série de exigências sanitárias e nutricionais, além do
processo de rastreabilidade e do selo da certificadora obrigatórios. Isso pode
determinar aumento de preços de pelo menos 30% para exportação,
principalmente pelo fato de que alguns mercados consumidores já admitem como
verdadeiro que os alimentos orgânicos são menos prejudiciais à saúde que
carnes ou vegetais produzidos pelos métodos tradicionais (MASON, 2001;
AMORIM, 2002).
Como o gado Curraleiro trata de animais destinados prioritariamente a
produção de alimento para consumo humano, deve-se estar atento para as
exigências sanitárias para a comercialização desses produtos. A adoção de
medidas de proteção para a segurança sanitária dos alimentos deverá ser a
maior barreira comercial a ser enfrentada pelos países interessados em ampliar
sua participação no comércio mundial (SILVA & AMARAL, 2004).
Os estudos prospectivos da pecuária bovina de corte apontam como
diretrises para os próximos dez anos: a introdução de material genético que
proporcione fêmeas com alta eficiência reprodutiva, com menor tamanho e
resistência natural a carrapatos. Sistemas de produção adequados, programas de
certificações e marketing devem agregar valores ao produto e coloca-lo melhor
no mercado consumidor (NEHMI FILHO, 2003; NOGUEIRA, 2003; MITIDIERI,
2003).
Os programas de conservação in situ de populações animais,
domésticas ou silvestres, implicam inicialmente em aumentar o número de
indivíduos, garantindo a variabilidade genética da espécie envolvida. Para tanto,
são utilizadas técnicas de manejo destinadas a maior circulação dos animais
entre os criatórios, estimula-se a abertura de novos núcleos de criação e são
aplicadas biotecnologias destinadas a maximizar a eficiência reprodutiva da
5
população. Tais procedimentos, contudo, podem aumentar as chances de
disseminação de doenças e assim, o conhecimento da situação sanitária de um
rebanho é imprescindível para criação de estratégias para prevenção e controle
de enfermidades dentro e dentre os núcleos de criação envolvidos no programa
de conservação.
As doenças infecciosas interferem na ecologia e geografia de muitas
espécies, incluindo animais silvestres, animais de produção e o próprio ser
humano. A compreensão de como as enfermidades influenciam a dinâmica
populacional, a estrutura comunitária e os padrões biogeográficos, pode contribuir
para a preservação das espécies (MAY, 1988).
Antes de iniciar projetos de conservação, são necessários
conhecimentos sobre a espécie animal escolhida, atentando para as condições
fisiológicas desta população, todos os seus aspectos epidemiológicos e
sanitários, para obter subsídios que justifiquem sua introdução em um
ecossistema, sem colocar em risco os demais componentes desta população. Por
isso, houve um grande empenho na criação da Estação Experimental de Estudos
de Bovinos Curraleiros (EEEC); uma propriedade de 30.000 ha localizada na
divisa dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia, em ecótono de Cerrado em
uma área de transição com o semi-árido, que possui um rebanho formado por
animais de diferentes regiões do Brasil. A EEEC é uma reserva particular de
patrimônio natural (RPPN) que destinada a projetos de preservação ambiental e
conservação de diferentes espécies animais silvestres e domésticas, além de
possuir uma área que dedica-se à bovinocultura de corte. Em 2003 iniciou-se
uma nova etapa de trabalho na intenção de registrar a raça junto ao Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e garantir alternativas de
exploração comercial do rebanho. Para tanto, vem sendo realizado, com o apoio
financeiro do Ministério da Integração Nacional, desde 2005, a investigação das
condições sanitárias e caracterização dos criatórios de bovinos Curraleiros.
Até o presente momento foram avaliadas cinco propriedades no
Estado de Goiás e uma em Tocantins (Anexo 1), cujos resultados estão
contemplados nesta tese. Finalizando essa etapa em dezembro de 2006, terão
sido avaliados os aspectos sanitários de dez criatórios no Estado de Goiás e
outros dez no Estado de Tocantins, além das informações obtidas por meio de
6
questionários epidemiológicos (anexo 2) em pelo menos 30 criatórios distribuídos
nos Estados de Goiás, Tocantins e Piauí.
Sendo assim, esse trabalho teve por objetivos caracterizar as taxas de
ocorrência da babesiose bovina, neosporose, toxoplasmose, brucelose,
leptospirose e a fagocitose de bovinos da raça Curraleiro, com a finalidade de
obter informações que possam auxiliar o programa de expansão da raça e a
formação de novos núcleos de criação, cumprindo as exigências do MAPA para o
registro da raça, garantindo o desenvolvimento de ações capazes de promover a
viabilidade econômica dessa atividade pecuária e conseqüentemente concretizar
a conservação e aplicabilidade desse importante recurso genético.
REFERÊNCIAS 1- AMORIM, L. Boi verde e boi orgânico: diferenças na qualidade e no valor
agregado. 2002. Disponível em: http://www.lamorim.com.br/boletins/boi-verde-
boi-organico.htm. Acesso em: 26 nov. 2002.
3- CAMARGO, A. H. A. A necessidade de preservar e selecionar o gado crioulo.
Dirigente Rural, São Paulo, maio, p.26-31, 1984.
5- CARVALHO J. H.; AMORIM G. C. Preservação e avaliação do gado pé
duro. n. 44, 1989 p.1-5, Embrapa. Teresina (Comunicado técnico).
6- CARVALHO J.H.; GIRÃO R. N. Conservação de recursos genéticos animais: a
situação do bovino Pé-duro ou Curraleiro. In: Simpósio de recursos genéticos
para a América latina e caribe. SIRGEAL, 2., BRASILIA. Anais... Brasília:
EMBRAPA Recursos Genéticos e biotecnologia, 1999. CD-Rom
7- GIBSON, J. P. Role of genetically determined resistance of liestock to disease
in the developing world: Potential impacts and researchable issues. In: PERRY, B.
D.; RANDOLPH, T. F.; McDERMOTT, K.R.; SONES, K. R.; THORNTON, P. K.
7
Investing in animal health research to alleviate poverty. International
Liverstock Research Institute, Nairobi, 2002, cap 13, p.1-14.
8- GIBSON, J. P.; BISHOP, S. C. Use of molecular markers to enhance
resistence of livestock to disease: a global approach. Revue Scientifique et
Technique OIE, Paris, v.24, n.1, p.343-353, 2005
9- MARIANTE, A. S.; CAVALCANTE, N. Animais do descobrimento: Raças
domésticas da história do Brasil. Brasília, Embrapa Sede, 2000, 227p.
10- MASON, J. Orgânicos têm apoio científico na Europa. Financial Times –
Jornal Valor, p.B-10, 07 ago. 2001.
11- MAY, R. M., Conservation and disease. Conservation Biology, Boston, v.2,
n.1, p.28-30, 1988.
12- MITIDIERI, F. J. Mais do que nunca, o “boi de capim” agrega valor in:
ANUALPEC 2003: Anuário da Pecuária Brasileira. 9. ed., 2003, São Paulo: FNP
Consultoria & Comércio, p.51-52.
13- NEHMI FILHO, V. A. Uma visão do futuro: a pecuária brasileira daqui a dez
anos in: ANUALPEC 2003: Anuário da Pecuária Brasileira. 9ºed., 2003, São
Paulo: FNP Consultoria & Comércio, p.14-30.
14- NOGUEIRA, K. L. Certificação e qualidade de carnes in: ANUALPEC 2003:
Anuário da Pecuária Brasileira. 9. ed., 2003, São Paulo: FNP Consultoria &
Comércio, p.44-45.
15- PRIMO, A T. El ganado bovino ibérico em las américas 500 anõs despues .
Archivos de Zootecnia, EMBRAPA/CPATB, Pelotas, p.183-199, 1992.
16- SILVA, V.; AMARAL, A. M. P., Segurança alimentar, comércio internacional e
segurança sanitária, Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.6, p.38-45,
2004.
8
17- TIMOSSI, A. Exportações crescem e a imagem negativa da produção
também in: ANUALPEC 2006: Anuário da Pecuária Brasileira, 2006, São Paulo:
FNP Consultoria & Comércio, p.31-34.
18- VELLOSO, L. Evolução e tendências da pecuária bovina de corte no Brasil,
Produção de novilho de corte In: SIMPOSIO SOBRE PECUÁRIA DE CORTE, 4.,
1996, Piracicaba, Anais…, Piracicaba, FEALQ, 1996. p. 1-40.
9
CAPÍTULO 2
SOROEPIDEMIOLOGIA DA BABESIOSE EM REBANHO DA ESTAÇÃO
EXPERIMENTAL DE ESTUDOS DE BOVINOS CURRALEIRO
SEROEPIDEMIOLOGY OF BABESIOSIS IN EXPERIMENTAL STUDY FARM OF
CURRALEIRO CATTLE
Raquel Soares Juliano1, Rosângela Zacarias Machado2, Maria Clorinda Soares Fioravanti3;
Valéria de Sá Jayme3;
RESUMO
A babesiose bovina é uma hemoparasitose causada, no Brasil, pelos protozoários Babesia
bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor biológico o carrapato Boophilus
microplus. Foram avaliadas amostras dos animais da Estação Experimental de Estudos de
Bovinos Curraleiros (EEEC) colhidas nos anos de 2001 (n=117) e 2003 (n=113). A
detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina foi realizado pelo ELISA-indireto.
O objetivo deste trabalho foi estudar a soroepidemiologia da babesiose bovina em rebanho
Curraleiro, obter informações sobre a situação da doença na população e discutir os
resultados obtidos com informações edafoclimáticas e de manejo disponíveis. A taxa de
ocorrência em 2001 foi de 92,31% para B. bovis e 83,73% para B. bigemina enquanto em
2003 foi de 92,92% e 66,37%, respectivamente. No ano de 2003 houve diferença
1 Médica Veterinária, Doutoranda em Sanidade Animal no Curso de Pós-Graduação da EV/UFG. Avenida Frei Nazareno Confalone n,10875, Bloco 3A, apt.202, CEP74663-280, Goiânia-GO. [email protected] 2 Médica Veterinária, Profa. Titular, Departamento de Patologia Animal, UNESP, FCAV. 3 Médica Veterinária, Profa. Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, EV/UFG
10
significativa na freqüência de soropositivos em relação a faixa etária; ocorrendo uma
diminuição com o avançar da idade. Sendo assim foi possível concluir que apesar das
condições edafoclimáticas e do controle químico realizado no combate a ectoparasitas, os
animais foram expostos à Babesia spp e encontravam-se em situação de estabilidade
enzoótica para babesiose.
Palavras-chave: bovino, Babesia bovis, Babesia bigemina, estabilidade enzoótica, Pé-duro
ABSTRACT
Bovine babesiosis is a blood parasitic disease. In Brazil it is caused by B. bovis and B.
bigemina protozoa, both of which reveal the Boophilus microplus tick as the only
biological vector. Animal samples were collected at Experimental Study Farm of
Curraleiro Cattle (ESFC) in 2001 (n=117) and 2003 (n=113). The detection of antibodies
against B. bovis and B. bigemina was carried out by ELISA-indirect method. The aim of
this work was to study seroepidemiological aspects of bovine babesiosis in a Curraleiro
herd, as well as obtain information about babesiosis stability in this population and relate
the results with available climactic and management information. The occurrence rate of
positive animals was 92,31% for B. bovis and 83,73% for B. bigemina in 2001; in 2003 it
was 92,92% and 66,37%, respectively. There was a significant difference between
seropositive frequency and age in 2003; such a frequency decreased with ageing. It was
possible to conclude that despite environmental conditions and chemical controls against
endo and ectoparasites, these animals were exposed to Babesia spp and they found
themselves in a situation of enzootic stability for babesiosis.
Key words: bovine, Babesia bovis, Babesia bigemina, enzootic stability, Pé-duro
11
INTRODUÇÃO
No Brasil, a babesiose bovina é uma hemoparasitose causada pelos
protozoários Babesia bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor biológico o
carrapato Boophilus microplus (GUGLIELMONE, 1995). Sua distribuição geográfica
coincide com a área ocupada pelo vetor, ocorrendo entre os paralelos 32ºN e 32ºS, no
continente americano e a enfermidade apresenta uma importância econômica indiscutível,
considerando o grande número de animais expostos ao risco de infecção nas regiões
tropicais e sub-tropicais e por apresentar elevada morbi-mortalidade em bovinos primo
infectados (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ-VIVAS, 1997b).
Em áreas enzoóticas os bezerros recém-nascidos recebem anticorpos através
do colostro, que os protegem durante os primeiros meses de vida e a exposição gradativa
desses animais ao agente é responsável pelo desenvolvimento da imunidade ativa, que
resulta em menor ocorrência de casos clínicos de babesiose. Assim, a alta taxa de infecção,
verificada pela soropositividade ≥75,00%, em bezerros com idade de nove meses
caracteriza áreas de estabilidade enzoótica (MAHONEY, 1969; MAHONEY & ROSS,
1972). Ressalta-se que bovinos de raças zebuínas são mais resistentes à infestação pelo
vetor e à infecção por Babesia spp quando comparados aos bovinos de raças européias
(BOCK et al., 1997). A flutuação na população de B. microplus está relacionada às
condições climáticas principalmente na fase de vida livre e condições ambientais
desfavoráveis determinam baixa infestação do hospedeiro vertebrado. Entretanto, em
estudo realizado por Madruga e colaboradores, sobre a epidemiologia da tristeza
parasitária, concluiu-se que no Brazil, uma população reduzida de carrapatos é suficiente
para manter a taxa de inoculação de hemoparasitas e a estabilidade enzoótica (LIMA et al,
2000).
12
Os estudos sorológicos são importantes não só para o monitoramento da
babesiose como para a adoção de estratégias adequadas de controle (SOLORIO-RIVERA
& RODRIGUEZ VIVAS, 1997b; OSAKI et al., 2002; SOUZA et al., 2002). Estudos de
prevalência sorológica realizados em rebanhos da microrregião de Goiânia, Goiás,
estabeleceram a condição de estabilidade enzoótica para B. bovis e B. bigemina
(LINHARES et al., 1992; SANTOS et al., 2001).
O diagnóstico da babesiose bovina pode ser realizado diferentes testes
sorológicos sendo a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) e o ELISA, métodos
sensíveis e específicos, utilizados em estudos epidemiológicos. MACHADO et al. (1997)
desenvolveram um ELISA experimental para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis,
utilizando antígeno total submetido a digestão alcalina, oriundos de merozoíto de
eritrócitos parasitados, obtendo resultados bastante satisfatórios.
O gado que deu origem ao Curraleiro (Bos taurus ibericus), também conhecido
como Pé-duro, foi trazido da Península Ibérica para o Brasil, pelos portugueses, na época
do descobrimento (MARIANTE & EGITO, 2002), sendo que atualmente está presente no
Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de
produção e a baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais
(NETESTADO, 1998). Existem poucas informações disponíveis sobre o rebanho nacional
de Curraleiro; em 1992, estimava que fosse formado por menos de 300 animais, e. como
havia risco de extinção, vários animais foram alocados em núcleos de preservação oficiais
e privados (MARIANTE & DE BEM, 1992). A Associação Brasileira de Criadores de
Curraleiro (ABCC) possui um cadastro, atualizado em março de 2005, de 22 criatórios,
com número estimado de 2008 animais (BOAVENTURA et al., 2005). Não há estudos
sobre as condições sanitárias desses rebanhos ou em relação a babesiose e os elementos
envolvidos na sua epidemiologia; somente relatos informais de criadores.
13
O objetivo deste trabalho foi estudar a soroepidemiologia da babesiose bovina no
rebanho Curraleiro da EEEC (Estação Experimental de Estudos de Bovinos Curraleiros),
discutindo os resultados obtidos com informações regionais sobre a temperatura,
pluviosidade, de densidade populacional e de controle químico para ectoparasitas
realizados na propriedade.
MATERIAL E MÉTODOS
A EEEC é uma propriedade de 30.000 ha, onde a maioria da área é
caracterizada como reserva particular do patrimônio natural (RPPN) e aproximadamente
800 ha ocupados pelo rebanho curraleiro, localizada na divisa dos Estados de MG, BA e
GO. A região é caracterizada como bioma de Cerrado, mas seus limites territoriais estão
próximos ao bioma da Caatinga.
Em 2001 foram adquiridos um total de 162 animais, machos e fêmeas, com idade
calculada pela dentição, variando de 12 a ≥ 48 meses, provenientes de criatórios
localizados em Gurupi (TO), São Miguel do Araguaia (GO), Brasília (DF) e Goiânia
(GO), com a finalidade de implanta-lo na EEEC. Foram realizadas duas colheitas de
sangue por venopunção jugular, o sangue foi centrifugado após retração do coágulo e o
soro aliquotado e congelado à –20 oC até o momento da realização do teste sorológico. Em
setembro de 2001, na primeira colheita, foram amostrados 117 animais, e uma segunda
colheita foi feita em dezembro de 2003, quando foram amostrados 113 animais em uma
população de 155 indivíduos.
A sorologia para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis e anti-B. bigemina
utilizou a técnica de ELISA-indireto, descrita por MACHADO et al. (1997) e realizada no
Laboratório de Imunoparasitologia da FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP. A concentração de
14
antígeno foi de 5µg/ml e as amostras de soro controles negativo, positivo e testes foram
diluídos a 1:400. A absorbância média para o controle positivo (n=20) foi de
1,073±0,0215 e para o controle negativo (n=46) foi de 0,065±0,022. A atividade
imunológica de cada soro foi calculada determinando-se os valores da amostra para o
controle positivo (S/P), utilizando a seguinte equação:
S/P= ______abs.média da amostra teste –abs. média do controle negativo_________
abs. média do controle positivo – abs. média do controle negativo
O antígeno de B. bovis foi obtido de um isolado do Rio Grande do Sul e o de B.
bigemina de um isolado de Jaboticabal-SP, preparados segundo metodologia descrita por
MACHADO et al. (1994).
As médias de temperatura ambiente foram obtidas pelos registros de boletins de
informações climáticas, para a região norte de Goiás, nos anos de 2001 a 2003. A média
pluviométrica ocorrida na EEEC foi obtida pelos registros da estação metereológica da
propriedade, assim como as informações fornecidas pelo técnico responsável pelo
rebanho, sobre controle químico de ectoparasitas e lotação de pastagens.
Foram calculadas a taxa de ocorrência geral e a específica por faixa etária para os
anos de 2001 e 2003, utilizando as fórmulas descritas por THRUSFIELD (1995). Os
resultados foram apresentados de forma descritiva e as freqüências comparadas pelo teste
de qui-quadrado (SAMPAIO, 1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1 estão apresentadas as freqüências de soropositivos para B. bovis e
B. bigemina; em 2001, a ocorrência encontrada foi 92,30% e 83,76% respectivamente e
15
em 2003 obteve-se uma freqüência de 92,92% para B. bovis e 66,37% para B. bigemina.
Houve queda significativa (χ2 = 7,70; p<0,01) na freqüência de soropositivos para B.
bigemina entre os anos de 2001 e 2003, porém a redução na freqüência de positivos para
B. bovis não foi significativa (χ2= 0,03; p>0,01) comparando o mesmo período.
O sistema de criação desse rebanho era extensivo, com baixa lotação (± 0,1
UA/ha) em pastagem nativa e campos sujos de Cerrado, que constituem o tipo de
vegetação predominante na região Centro-Oeste, especialmente no Estado de Goiás. Os
solos são ácidos, de baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de umidade e
nutrientes. As médias máximas e mínimas de temperatura e precipitação pluviométrica, na
estação seca (maio a setembro) e chuvosa (outubro a abril), para os anos de 2001 a 2003
estão descritos na Tabela 1. A estação chuvosa de 2002 apresentou altas temperaturas e
baixa precipitação pluviométrica e este período foi seguido por uma estação seca com
temperaturas altas e a menor precipitação de chuvas dos três anos avaliados. Desta forma,
consideramos que as condições ambientais de altas temperaturas, baixa umidade,
cobertura vegetal escassa e baixa densidade populacional de hospedeiros vertebrados,
provavelmente interferiram no grau de infestação dos animais e estão em concordância
com FURLONG et al. (2002), que citaram que o sucesso do parasitismo depende da
temperatura, umidade, radiação solar, evaporação, precipitação pluvial, quantidade e
qualidade da pastagem, da presença e densidade do hospedeiro, comportamento de pastejo
e presença de predadores do vetor.
As taxas de ocorrência verificadas no presente estudo foram inferiores aos
obtidos por SANTOS et al. (2001), no estudo realizado em rebanhos leiteiros da
microrregião de Goiânia-GO, que relataram 98,9% de positividade para B. bovis e 93,3%
para B. bigemina, entretanto as condições ambientais, de lotação de pastagens, de manejo
16
e as características raciais dos rebanhos eram muito diferentes da EEEC, pois eram
rebanhos leiteiros, criados em sistemas semi-intensivos e em pastagens cultivadas.
BARROS et al. (2005), encontraram uma porcentagem menor de positividade que
o presente estudo, em municípios do semi-árido baiano, 63,7% e 53% (Uauá) para e
54,8% e 56,4% (Juazeiro) para B. bovis e B. bigemina, respectivamente. Este fato é
compreensível, pois apesar da semelhança nos registros de temperatura ambiente, os
municípios avaliados apresentaram pluviometria menor e estação chuvosa de apenas três
meses, caracterizando assim baixa umidade mais acentuada do que na EEEC. A
diversidade número de soropositivos para cada região ocorre como conseqüência de
variações climáticas, topográficas e no manejo dos rebanhos (SOLORIO-RIVERA &
RODRIGUEZ VIVAS, 1997b; OSAKI et al., 2002; SOUZA et al., 2002).
Os resultados da ocorrência de soropositivos para B. bovis e B. bigemina para cada
faixa etária, nos anos de 2001 e 2003, estão descritos nas Figura 2 e 3, respectivamente.
Foi possível verificar ocorrência de positividade superior a 75,00% em animais com idade
de 12 a 23 meses em 2001 e em 2003 houve 100% de positividade em animais na faixa
etária de 9 a 11 meses, tanto para B. bovis quanto para B. bigemina, demonstrando que o
rebanho apresentava-se em condição de estabilidade enzoótica, segundo os critérios
estabelecidos por MAHONEY (1969) e MAHONEY & ROSS (1972). Tal característica
significa que houve a inoculação gradativa do parasito resultando em imunidade ativa dos
animais explicando assim a ausência de relatos de casos clínicos de babesiose no rebanho.
O controle de ectoparasitos realizado na EEEC, recomendado pelo médico
veterinário da propriedade, estabelecia o uso alternado de piretróides e organofosforados
nos meses de março e novembro, somente quando havia maior infestação de carrapatos,
apesar de constatar-se que a visualização de carrapatos adultos era incomum. Os bezerros
17
recebiam ivermectina nos primeiros dias de vida para controle de miíase e os animais
adultos nos meses de maio, julho e setembro para controle de endoparasitos. O controle
químico de ectoparasitos e o uso da ivermectina não interferiram na condição de
estabilidade enzoótica da população. VIEIRA et al. (2003) relataram que uso de uma única
aplicação de ivermectina 3,15% no mês de novembro determinou uma baixa infestação de
carrapatos nos meses seguintes de janeiro, maio e setembro e diminuíram a taxa de
infecção de B. bovis e B. bigemina em animais com 12 meses de idade, infestados
naturalmente, provocando condição de instabilidade enzoótica. Por isso, sugere-se que
apesar do uso da ivermectina não ter resultado em instabilidade enzoótica, ele pode ter
contribuído para uma menor taxa de inoculação do parasito no rebanho da EEEC.
Considerando a porcentagem de soropositivos em relação à faixa etária, observou-
se diferença significativa, no ano de 2003, para B. bovis (χ2 = 8,81; p<0,03), entre animais
com 0 a 8 e 9 até 35 meses de idade, e para B. bigemina (χ2 =15,61; p<0,01), a partir dos
36 meses de idade. Houve diminuição do número de animais positivos para ambas as
espécies de Babesia spp com o avançar da idade, possivelmente relacionada à queda dos
títulos de anticorpos, abaixo do ponto de corte utilizado pelo teste de ELISA. GELETA
(2001) considerou a diminuição dos títulos de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina
em animais mais velhos como conseqüência da queda nas taxas de reinfecção dos animais,
devido a flutuações no tamanho da população de carrapatos e menor parasitemia causada
por aumento na resistência do hospedeiro vertebrado. Essa hipótese não pôde ser
verificada no presente estudo, e não há estudos sobre a infestação e o comportamento do
vetor nessa região ou nesta raça.
A diferença entre o número de soropositivos para B. bovis e B. bigemina,
considerando que todos os animais convivem no mesmo ambiente, sugere que houve
18
algum fator relacionado ao hospedeiro vertebrado que interferiu mais intensamente na
capacidade de inoculação de B. bigemina pelo carrapato. Os mecanismos de resistência
dos bovinos ao B. microplus incluem imunidade inata, celular e humoral, reações de
hipersensibilidade imediata e tardia (OBEREM, 1984). A taxa de inoculação pode
diminuir com a utilização de raças bovinas resistentes ao vetor, entretanto isso parece ser
menos definitivo para B. bovis. A resistência pode estar relacionada a um processo de
seleção natural, pela exposição contínua aos vetores e agentes por eles transmitidos,
situação comum em populações de raças nativas (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ
VIVAS, 1997a). Esta hipótese é possível de ser aplicável à raça Curraleiro, já que esses
animais passaram por um processo de seleção natural de aproximadamente 500 anos. A
investigação da dinâmica sazonal do B. microplus e dos mecanismos de resistência da raça
Curraleiro seriam muito importantes na elucidação das variáveis que interferem na
epidemiologia da babesiose bovina.
A necessidade de maiores estudos sobre a epidemiologia da babesiose bovina em
populações da raça Curraleira fundamenta-se no fato de que relação entre infectividade,
carga de carrapatos e soroprevalência é extremamente complexa e na avaliação do grau de
estabilidade da população, ocorre a interferência de variáveis relacionadas aos animais
(soroconversão) ou características da propriedade (ambiente, manejo e exposição ao
vetor).
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados encontrados pode-se concluir que houve uma
diminuição significativa na freqüência de soropositivos para B. bigemina, entre os anos de
2001 e 2003, porém o rebanho apresentou situação de estabilidade enzoótica sem que
19
houvesse interferência do controle químico realizado, sobre esta condição. Com o avançar
da idade, ocorreu uma queda na positividade para Babesia spp, com significância
estatística somente para B. bigemina. A interação de fatores climáticos e ambientais,
associados à interferência fisiológica da imunidade do hospedeiro vertebrado, podem ter
sido determinantes dessa situação na população.
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23
83,7692,3
66,37
92,92
0
25
50
75
100
2001 2003
% d
e so
ropo
sitiv
osB. bovisB. bigemina
FIGURA 1- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, positivos no teste de ELISA indireto para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, nos anos de 2001 e 2003
TABELA 1 – Temperatura média registrada na região norte de Goiás e precipitação pluviométrica da EEEC, nos anos de 2001 a2003.
Ano *Temperatura (°C)
Médias trimestrais
Precipitação pluviométrica (mm)
Médias mensais
Estação seca Estação chuvosa Estação seca Estação chuvosa
2001 12 a 32 14 a 34 10,00 193,33
2002 10 a 36 12 a 32 23,54 183,33
2003 12 a 36 14 a 34 5,20 192,33
**FFoonnttee:: hhttttpp::////wwwwww..ccpptteecc..iinnppee..bbrr//iinnffoocclliimmaa
100
80,77
100
94,1291,6684,31
73,08
85,18
0
20
40
60
80
100
12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 ou >
faixa etária (meses)
% d
e so
ropo
sitiv
os
B. bovisB. bigemina
FIGURA 2- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, de diferentes idades, positivos no teste de ELISA indireto, para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, no ano de 2001
24
72,73
100 100 94,44 92,16100100
81,82
49,0161,11
83,3391,66
0
20
40
60
80
100
0 a 8 9 a 12 12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 ou >
faixa etária (meses)
% d
e so
ropo
sitiv
osB. bovisB. bigemina
FIGURA 3- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, de diferentes idades, positivos no teste
de ELISA indireto, para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, no ano de 2003
25
CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS HEMATOLÓGICAS E DA BIOQUÍMICA SÉRICA EM
BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO (Bos taurus ibericus) NATURALMENTE
INFECTADOS POR Babesia bovis, Babesia bigemina E Leptospira
interrogans
Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Rosângela Zacarias
Machado3, Dirson Vieira2, Anuzia Cristina Barini1, Alinne Cardoso Borges1, Bruno
Rodrigues Trindade, João Batista de Paula Neto1
1- Médico (a) Veterinário (a), Pós Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected], [email protected], [email protected]
2- Médico (a) Veterinário (a), Prof.(a) Dr.(a) da EV/UFG. [email protected], [email protected]
3- Médica Veterinária, Profa. Dra. da FCVA-Unesp, Jaboticabal. [email protected]
RESUMO
Diante da hipótese de que o estímulo crônico de agentes como as babesias ou as
leptospiras pudessem causar alterações laboratoriais em animais clinicamente
inaparentes, e devido a importância dessas enfermidades em países tropicais
como o Brasil, objetivou-se investigar os títulos de anticorpos anti-Babesia bovis,
anti-Babesia bigemina, quantificados em níveis de ELISA (NE), e anti-Leptospira
interrogans, em bovinos da raça Curraleiro e correlacioná-los às características
hematológicas e da bioquímica sérica em animais sadios, submetidos à infecção
natural. Foram amostrados dois rebanhos, localizados no Estado de Goiás e
Tocantins Avaliaram-se 282 amostras para detecção de anticorpos anti-B. bovis e
B. bigemina pelo ELISA-teste e 236 amostras para detecção de anticorpos anti-
Leptospira interrogans pelo método de soro aglutinação microscópica (SAM).
26
Procedeu-se, hemograma, determinação da atividade sérica da AST, ALP e GGT
e a quantificação no soro da proteína total (PT), albumina, colesterol, uréia,
creatinina e bilirrubina, de todos os animais amostrados. Não houve qualquer
alteração nos valores médios hematológicos e da bioquímica sérica em relação
aos valores de normalidade estabelecidos. Os resultados não mostraram
nenhuma correlação entre títulos de anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade
ou com as variáveis laboratoriais avaliadas. O nível de anticorpos específicos
para Babesia spp não apresentou correlação com a idade dos animais e
apresentou correlação positiva com quantidade de hemácias, hemoglobina,
leucócitos totais e linfócitos. Houve correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e
BD. Houve correlação positiva entre NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e
creatinina. Concluiu-se que as correlações observadas entre os anticorpos anti-
Babesia spp estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema
imunológico e que não houve manifestação patológica decorrente da infecção ou
de maiores títulos de imunoglobulinas.
Palavras-chave: Anticorpos, Babesiose, Bioquímica sérica, Hematologia,
Leptospirose, Pé-duro
ABSTRACT
Ahead of hypothesis that chronic babesiosis or leptospirosis could cause
laboratorial changes in assintomatic infected animals, and because those
diseases are important in tropical countries as Brazil, this work investigated the
titles of antibodies’ production against B. bovis, B. bigemina, quantified in ELISA
levels (EL) and Leptospira interrogans in two Curraleiro herds located in Goiás
27
and Tocantins States, as well as its correlation with hematology and serum
biochemistry in healthy animals which are submitted to natural infection. 282
samples were assessed by the ELISA method for the detection of B. bovis and B.
bigemina antibodies, and 236 samples for the detection of Leptospira interrogans
antibodies were analysed by microscopic serum agglutination (MAT). Hemogram,
AST, ALP and GGT serum activity and serum quantification of total protein (TP),
albumin, cholesterol, urea, creatinine and bilirrubin were carried out. There was no
change in hemalology and biochemistry parameters in relation to reference
values. Results did not reveal any correlation between the intensity of production
of Leptospiras spp antibodies and age or any of the laboratorial variables under
analysis. The specific level of antibodies for Babesia spp did not present a
correlation with the animals’ ages and revealed a positive correlation with the
amounts of erythrocytes, hemoglobin, total white blood cells, and lymphocytes.
There was a positive correlation between Anti-B. bovis, AST and direct bilirrubin.
There was a positive correlation between Anti-B. bigemina, ALP, AST, cholesterol
and creatinine. It was concluded that the correlations between Babesia spp
antibodies are mainly related with immunological stimulation, and that there was
no pathological manifestation caused by infection or greater titers of
immunoglobulins.
Key words: Antibodies, Babesiosis, Hematology, Leptospirosis, Pé-duro, Serum
chemistry
3.1 INTRODUÇÃO
A babesiose bovina é uma hemoparasitose causada, no Brasil, pelos
protozoários Babesia bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor
28
biológico o carrapato Boophilus microplus (GUGLIELMONE, 1995). Sua
distribuição geográfica é limitada pela presença do vetor e a enfermidade
apresenta uma importância econômica indiscutível, considerando o grande
número de animais expostos ao risco de infecção nas regiões tropicais e sub-
tropicais e por apresentar elevada morbi-mortalidade em bovinos primo
infectados (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ-VIVAS, 1997).
O portador assintomático ou crônico na babesiose é o animal que
recupera-se de uma infecção aguda e que frequentemente permanece com uma
baixa parasitemia, tornando-se um reservatório do parasito na população
(MAHONEY, 1969).
A maioria dos estudos, sobre infecções crônicas para Babesia spp, são
realizados em modelos experimentais com cães, primatas e outras espécies
animais de laboratório sendo que animais cronicamente infectados mantiveram
elevados níveis de anticorpos; alguns deles desenvolveram doença hepática e/ou
glomerulonefrite membranoproliferativa crônica (HOMER et al., 2000).
No Brasil, as informações sobre o comportamento clínico laboratorial
de bovinos em relação a B. bigemina têm sido discutidas em situações de
infecção experimental (VIEIRA et al., 2001; MENDONÇA et al., 2003), como
forma de avaliar a patogenicidade do parasito. Porém, não foram avaliadas as
alterações laboratoriais em rebanhos naturalmente infectados expostos
continuamente aos agentes da babesiose bovina.
A leptospirose bovina é uma zoonose cosmopolita provocada por
microrganismos do gênero Leptospira; que compromete os níveis de produção e
produtividade dos rebanhos afetados (FAINE, 1982). Há muitas dúvidas sobre a
patogênese da infecção por L. interrogans. Acredita-se que seu mecanismo está
29
relacionado aos efeitos diretos causados pela bactéria ou em decorrência da
resposta imunológica do hospedeiro. Animais cronicamente infectados são
assintomáticos, porém podem abrigar leptospiras nos túbulos renais e eliminá-
las,através da urina, por tempo indeterminado, no ambiente (BHARTI et al.,
2003).
Alguns autores, investigando lesões renais macroscópicas e
histológicas em material de abatedouros, descreveram a ocorrência de nefrite
intersticial crônica em bovinos sadios podendo estar associada a infecção por
leptospiras, principalmente aos sorovares hardjo e pomona (AMATREDJO et al.,
1976; GREGOIRE et al., 1976). Entretanto, há pouca informação sobre os
aspectos laboratoriais em animais protadores crônicos ou naturalmente
infectados por Leptospira spp.
O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica
para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &
EGITO, 2002). O Curraleiro está presente no Maranhão, Piauí, Goiás e
Tocantins; os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de produção e a
baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais
(NETESTADO, 1998).
Atualmente existem poucas informações disponíveis sobre o rebanho
nacional de Curraleiro. Em 1992, estimavam que este fosse formado por menos
de 300 animais. Como a tendência deste número é diminuir; vários destes
animais foram alocados em núcleos de preservação oficiais e privados
(MARIANTE & DE BEM, 1992). A Associação Brasileira de Criadores de
Curraleiro (ABCC) possui um cadastro, atualizado em março de 2005, de 22
criatórios, com número estimado de 2008 animais (BOAVENTURA et al.; 2005).
30
O objetivo deste trabalho foi investigar os títulos de anticorpos anti-
Babesia bovis, anti-Babesia bigemina e anti-Leptospira interrogans
correlacionando-a com os valores hematológicos e de bioquímica sérica, em
bovinos Curraleiros sadios, naturalmente infectados por esses agentes.
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
Foram efetuados exames hematológicos, da bioquímica sérica,
detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B.bigemina (n=282) e anti-Leptospira
interrogans (n=236), em bovinos da raça Curraleiro, pertencentes a dois criatórios
situados nos Estados de Goiás (Propriedade 1) e Tocantins (Propriedade 2), com
idade variando entre recém-nascidos e indivíduos com mais de 48 meses. Os
animais foram submetidos a um exame semiotécnico, conforme o protocolo
descrito por ROSENBERGER (1993), com a finalidade de selecionar animais
clinicamente sadios.
Para a realização dos exames hematológicos foram obtidos 5 ml de
sangue, por venopunção da jugular, em tubo com anticoagulante EDTA (ácido
etilediaminotetracético, sal dissódico) a 10%. As amostras destinadas a
hematimetria, quando possível, foram analisadas imediatamente após a colheita
na propriedade, ou permaneceram sob refrigeração até o momento da realização
das análises, sempre num período inferior a 24 horas da colheita.
Foram feitos dois esfregaços sangüíneos com o sangue in natura,
destinados à contagem diferencial de leucócitos. Após a secagem, as lâminas
foram acondicionadas adequadamente, para posteriormente serem coradas e
avaliadas. Para a determinação do hemograma foram realizados o eritrograma e
31
o leucograma. Os valores de referência utilizados para estas variáveis foram
descritos por PAULA NETO (2004).
Para efetuar o exame sorológico e a bioquímica sérica procedeu-se
colheita de sangue por venopunção jugular em tubo sem anticoagulante; após
retração do coágulo o sangue foi centrifugado, o soro foi separado em alíquotas e
congelado à –20oC até o momento da realização do teste laboratorial. As
amostras séricas para a determinação da bilirrubina foram acondicionadas
protegidas da luz com papel alumínio.
Foram mensuradas as quantidades séricas de proteína total, albumina,
colesterol, uréia, creatinina e bilirrubina e a atividade sérica da aspartato
aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (ALP) e gama glutamiltransferase
(GGT). A metodologia seguiu as recomendações do fabricante Labtest-Sistemas
para Diagnósticos (LABTEST, Lagoa Santa, Minas Gerais). Os resultados foram
estratificados por idade e comparados com os valores de referência disponíveis
na literatura.
A AST foi determinada pelo método cinético de tempo fixo seguindo a
metodologia de REITMAN & FRANKEL (1957). A atividade sérica enzimática da
GGT foi verificada pelo método cinético, utilizando-se como substrato a glutamil-
p-nitroanilida. A ALP foi analisada pelo método cinético de ponto fixo modificado
estabelecido por ROY (1970).
As proteínas totais séricas foram quantificadas pelo método
colorimétrico de ponto final, por reação com o biureto e a albumina método
colorimétrico por reação com o verde de bromocresol. O colesterol foi
determinado pelo método enzimático Trinder. A bilirrubina foi determinada de
acordo com o método descrito por SIMS & HORN (1958).
32
Para realizar a quantificação da uréia, utilizou-se o método enzimático
colorimétrico da urease e para a creatinina, o método colorimétrico com solução
de picrato.
Utilizou-se como valor de referência para as variáveis da bioquímica
sérica, os indivíduos com soronegativos para as enfermidades avaliadas (n=8).
Para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis e Babesia
bigemina.foram analisadas 282 amostras pela a técnica de ELISA-indireto,
agrupando os valores de absorbância em níveis de ELISA (NE) segundo
descritao por MACHADO et al. (1997). Os exames foram realizados no
Laboratório de Imunoparasitologia da FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP, conforme
descrito por JULIANO et al. (2006).
A detecção de anticorpos anti-Leptospira spp foi realizada pelo
método de soroaglutinação microscópica (SAM), em 236 amostras, diluídas de
1:100 a 1:800, no Laboratório de Leptospirose do Setor de Medicina Preventiva
da Escola de Veterinária da UFG, seguindo protocolo proposto por SANTA ROSA
(1970). Utilizou-se como antígeno, cepas vivas, cultivadas no mesmo laboratório,
dos seguintes sorovares: bratislava, castellonis, canicola, grippotyphosa,
hebdomadis, icterohaemorrhagiae, pomona, pyrogenes, hardjo, wolffi, shermani e
tarassovi.. O maior título que apresentou reação foi considerado o sorovar
prevalente para cada animal. Quando ocorreram aglutinações para vários
sorovares com a mesma titulação, em um mesmo indivíduo, considerou-se o fato
como co-aglutinações.
A taxa de ocorrência de soropositivo foi avaliada por estatística
descritiva simples, em porcentagem. Foram calculados a média, desvio padrão e
coeficiente de variação (CV) dos resultados de hematologia e da bioquímica
33
sérica, para estabelecer-se o intervalo de confiança, como valor mais próximo da
realidade dessa população.
Para análise das variáveis hematológicas, bioquímicas e títulos de
anticorpos, utilizou-se a correlação de Spearman, disponíveis no Sistema de
Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001). Foram
considerados três níveis de correlação para a interpretação dos resultados
obtidos: fraco (de 0% a 30% de probabilidade); médio (de 31% a 70% de
probabilidade) e alto (a partir de 70% de probabilidade) conforme descrito por
SAMPAIO (1998).
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliando-se a frequência de anticorpos anti-Babesia spp nos 282
animais amostrados, obteve-se 92,90% (n=262) de positividade para B. bovis e
85,46% (n=241) para B. bigemina e não houve correlação alguma entre a
intensidade na produção de anticorpos e a idade dos animais.
A freqüência de soropositivos para L. interrogans foi de 33,05% (n=78),
não houve diferença significativa (p>0,05) entre o número de animais positivos
para os diferentes títulos de anticorpos (Tabela 1) e não houve correlação entre a
idade e os mesmos.
Os resultados das médias das variáveis do hemograma dos animais
positivos para leptospirose (SAM) e babesiose (ELISA-indireto) estão descritos na
Tabela 2 e 3, respectivamente e foram similares aos valores considerados
normais para a raça (PAULA NETO, 2004).
34
TABELA 1- Freqüência de títulos de anticorpos anti-L. interrogans em bovinos da raça Curraleiro.
1:100 1:200 1:400 1:800 RESULTADO n % n % n % n %
Reagente 21 26,92 27 34,61 16 20,51 14 17,94
Não reagente 57 73,08 51 65,39 62 79,49 64 82,06
Total 78 100,00 78 100,00 78 100,00 78 100,00 χ2=4,72 p>0,05
Foram realizadas as correlações entre todas as variáveis
hematológicas e os níveis de anticorpos de animais soropositivos, tanto para B.
bovis e B. bigemina, quanto para L. interrogans. Foi observada correlação fraco
positiva entre NE-B. bovis e NE–B. bigemina com o número de hemácias e
hemoglobina. MENDONÇA et al. (2003) acompanharam valores hematológicos
de bezerros da raça Nelore, inoculados experimentalmente com diferentes
isolados brasileiros de B. bigemina. Obtiveram como resultado valores
semelhantes aos valores de referência, apesar da queda nos valores de VG em
torno de 12,8% a 22,3%. Os autores também relataram um aumento na
contagem de hemácias, VG e hemoglobina nos animais inoculados com isolados
da região Nordeste e Sudeste. A correlação positiva com hemácias e
hemoglobina indica que os níveis de anticorpos foram suficientes para garantir
ausência da doença e consequentemente da anemia. Não houve qualquer
correlação entre título de anticorpos para leptospiras e as variáveis do
hemograma.
TABELA 2 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de hemograma de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos
para Leptospira interrogans na prova de SAM (n=78)
Hemácias
X 106/µ
Hemoglobina
g/dL
VG
%
Leucócitos
/ mm3
Basófilos
/ mm3
Bastonetes
/ mm3
Segmentados
/ mm3
Eosinófilos
/ mm3
Linfócitos
/ mm3
Monócitos
/ mm3
Média 6,6 11,0 33,2 8484,1 11,4 30,4 2152,6 627,3 5482,6 143,7
Desvio padrão 1,8 2,4 5,4 3286,0 47,9 61,3 1305,6 479,9 2820,0 160,5
CV 27,2 21,8 16,2 38,7 420,17 201,6 60,6 76,5 51,4 111,6
36
TABELA 3 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de hemograma de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos para Babesia spp na prova de ELISA-indireto (n= 262), em diferentes faixas etárias
Hemácias
X 106/µ Hemoglobina
g/dL VG %
Leucócitos/ mm3
Basófilos / mm3
Bastonetes / mm3
Segmentados/ mm3
Eosinófilos/ mm3
Linfócitos / mm3
Monócitos / mm3
Média 10,4 12,3 38,4 12282,5 0 51,3 2645,95 214,3 8884,85 486,1
Desvio padrão 1,4 2,1 2,5 4727,3 0,0 124,2 1801,4 267,4 3414,1 794,4
Idade
0 a 6 meses CV 13,5 17,6 6,7 38,5 0,0 242,0 68,1 124,8 38,4 163,4
Média 8,7 11,3 35,3 11318,2 0,0 9,5 2028,1 248,9 8733,9 278,8
Desvio padrão 1,2 1,3 3,9 2551,0 0,0 30,8 1528,8 245,6 2001,1 319,4
Idade
7 a 12 meses CV 14,4 11,9 11,1 22,5 0,0 325,3 75,4 98,7 22,9 114,6
Média 8,3 11,3 35,3 11059,7 0,0 71,8 2482,9 496,5 7744,6 257,4
Desvio padrão 2,2 2,2 5,2 3205,9 0,0 117,7 1276,6 475,2 2877,2 337,7
Idade
13 a 24 meses CV 27,0 20,0 14,7 29,0 0,0 163,9 51,4 95,7 37,2 131,2
Média 7,5 11,5 36,1 10014,1 10,2 33,8 2367,1 563,6 7030,9 153,8
Desvio padrão 1,1 1,4 3,6 3949,0 36,7 83,6 1805,2 458,8 3221,3 172,4
Idade
25 a 36 meses CV 14,9 12,1 10,0 39,4 362,0 247,1 76,3 81,4 45,8 112,1
Média 6,46 11,4 32,8 8459,7 9,3 50,6 2202,9 753,7 5256,8 168,1
Desvio padrão 1,28 2,2 4,6 3144,4 38,1 103,4 1207,5 559,9 2413,2 224,1
Idade
36 a >48 meses CV 19,7 19,3 14,0 37,2 408,4 204,5 54,8 74,3 45,9 133,3
Na Tabela 4 pode-se visualizar o resultado das correlações dos níveis
de anticorpos para B. bovis e B. bigemina que apresentaram significância.
TABELA 4-Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis do eritrograma, em bovinos da raça Curraleiro
Variáveis correlacionadas Nº de observações
rs Z *P
Hemácias 278 0,1008 1,6771 0,0468 NE-B.bovis
Hemoglobina 278 0,1978 3,2921 0,0005
Hemácias 278 0,1956 3,2549 0,0006 NE-B.bigemina
Hemoglobina 278 0,2970 4,9424 0,0000
* Valores de p do teste t de Student
A diminuição nos valores do eritrograma pode estar relacionada a
patogenicidade do parasito (BOCK et al., 1997), ao grau de parasitemia, à lise
celular e à fagocitose (ARAGON, 1976). Os mecanismos que afetam estas
valores devem-se ao estímulo de imunidade por anticorpos específicos,
principalmente da classe IgG, nos casos agudos de babesiose. A capacidade de
estabelecer infecções inaparentes ou crônicas sugere que deve haver um
equilíbrio entre a atividade anti-parasitária do sistema imunológico do hospedeiro
e os mecanismos de evasão do sistema imunológico, próprios do parasito
(O’CONNOR & ALLRED, 2000). Sendo assim, a correlação dos valores do
eritrograma com o NE, descrita no presente estudo, está relacionada à adaptação
entre os bovinos e a Babesia spp.
NE-B. bovis e NE-B. bigemina apresentaram fraca correlação positiva
com a contagem de leucócitos totais e linfócitos (Tabela 5) e esses resultados
estão em concordância com resultados obtidos em infecção experimental por B.
bigemina, onde houve aumento dos valores absolutos de leucócitos e linfócitos, a
partir do 12º dia PI, relacionado ao estímulo antigênico e produção de anticorpos
38
(MENDONÇA et al., 2003) e corroboram com as observações feitas por BIRGEL
JUNIOR et al. (2001), nos quais as variações no hemograma de bovinos
acometidos por babesiose são importantes na interpretação do leucograma dos
animais criados no Brasil, onde são naturalmente premunidos contra essa
hemoparasitose, determinando uma leucocitose por linfocitose.
TABELA 5-Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis do leucograma, em bovinos da raça Curraleiro
Variáveis correlacionadas Nº de observações
rs Z *P
Leucócitos 278 0,1985 3,3041 0,0005 NE-B.bovis
Linfócitos 278 0,2037 3,3908 0,0003
Leucócitos 278 0,2572 4,2801 0,0000 NE-B.bigemina
Linfócitos 278 0,2460 4,0942 0,0000
*Valores de p do teste t de Student
Na Tabela 6 estão descritos os valores médios e desvio padrão,
utilizados como limites de normalidade, das variáveis da bioquímica sérica. Os
valores encontrados para diferentes parâmetros avaliados na bioquímica sérica,
dos animais detectados como positivos nas provas de SAM e ELISA-indireto
(Tabela 7 e 8) apresentaram-se dentro desses limites.
Foram realizadas as correlações entre todas as variáveis da
bioquímica sérica e intensidade na produção de anticorpos anti-B. bovis, anti-B.
bigemina e anti-L. interrogans. Não houve significância em nenhuma correlação
de variáveis da bioquímica sérica e títulos de anticorpos para leptospiras. As
correlações que apresentaram resultados significativos, entre níveis de anticorpos
para Babesia spp e resultados da bioquímica sérica, estão descritas na Tabela 9.
39
TABELA 6 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, com sorologia negativa para B.
bovis, B. bigemina e L. interrogans (n=8), utilizados como valores de normalidade
TABELA 7 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos
(n=78) para Leptospira interrogans na prova de SAM
GGT
U/L
ALP
U/L
AST
U/L
Uréia
mg/dL
Creatinina
mg/dL
Colesterol
mg/dL
PT
g/dL
Albumina
g/dL
Globulina
g/dL
B. direta
mg/dL
B. indireta
mg/dL
B. total
mg/dL
Média 31,0 23,3 54,9 33,7 1,5 97,8 8,0 2,8 5,2 0,2 0,3 0,5
Desvio padrão 21,7 15,4 20,0 13,8 0,4 26,9 1,0 0,4 1,2 0,1 0,2 0,2
CV 70 66 36,4 40,94 26,6 27,5 12,5 14,2 23,07 50 66,6 40
GGT U/L
ALP U/L
AST U/L
Uréia mg/dL
Creatinina mg/dL
Colesterol mg/dL
PT g/dL
Albumina g/dL
Globulina g/dL
B. direta mg/dL
B. indireta mg/dL
B. total mg/dL
Média 21,25 35,88 50,50 37,25 1,52 95,75 7,54 3,03 4,51 0,34 0,49 0,83 Desvio padrão 15,57 31,09 19,87 13,77 0,50 19,25 0,84 0,35 0,49 0,16 0,50 0,55 CV 73,27 86,67 39,36 36,97 32,67 20,10 11,08 11,54 30,30 46,66 102,79 66,99
40
TABELA 8 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos para Babesia spp na prova de ELISA-indireto (n= 262), em diferentes faixas etárias
GGT U/L
ALP U/L
AST U/L
Uréia mg/dL
Creatinina mg/dL
Colesterol mg/dL
PT g/dL
Albumina g/dL
Globulina g/dL
B. direta mg/dL
B. indireta mg/dL
B. total mg/dL
Média 26,9 62,4 45,6 26,9 1,4 122,0 6,8 2,8 4,4 0,2 0,4 0,6
Desvio padrão 20,0 44,3 22,9 8,7 0,3 35,4 1,4 0,5 1,9 0,1 0,3 0,4
Idade
0 a 6 meses CV 74,2 71,1 50,2 32,3 23,3 29,0 19,9 18,3 42,8 62,3 78,5 69,3
Média 24,7 36,1 66,9 47,7 1,4 92,5 6,9 3,0 4,1 0,2 0,4 0,6
Desvio padrão 20,9 14,8 32,4 29,8 0,5 27,8 0,6 0,3 0,6 0,1 0,2 0,3
Idade
7 a 12 meses CV 84,4 41,0 48,4 62,4 34,6 30,0 8,3 11,0 15,6 54,7 49,0 40,9
Média 21,7 36,0 51,8 34,9 1,5 91,2 6,7 2,7 4,0 0,2 0,3 0,5
Desvio padrão 8,5 18,5 19,8 18,2 0,4 32,2 1,1 0,4 1,0 0,1 0,1 0,2
Id ade
13 a 24 meses CV 39,3 51,2 38,2 52,3 27,4 35,3 16,6 15,9 25,3 63,2 40,4 34,9
Média 19,6 30,6 50,0 32,8 1,7 91,2 7,5 2,9 4,6 0,2 0,3 0,5
Desvio padrão 8,7 23,6 23,1 18,0 0,4 27,3 0,8 0,4 0,8 0,2 0,2 0,2
Idade
25 a 36 meses CV 44,2 77,2 46,2 54,9 25,4 30,0 10,0 13,1 16,3 75,0 52,9 45,2
Média 26,8 23,5 56,2 31,3 1,6 99,0 7,7 2,9 4,9 0,2 0,4 0,6
Desvio padrão 16,7 17,2 20,5 13,5 0,5 21,8 0,8 0,4 0,8 0,1 0,2 0,3
Idade
36 a <48 meses CV 62,1 73,2 36,4 42,9 29,6 22,0 10,2 14,4 17,3 50,6 60,0 49,0
41
Houve uma correlação fraca positiva de NE- B. bovis com AST e BD.
Os NE-B. bigemina estiverem fracamente correlacionados com ALP, AST,
colesterol e creatinina. VIEIRA et al., 2001, estudando bezerros da raça Nelore
inoculados com diferentes isolados de B. bigemina, não detectaram alterações
significativas nas quantidades de AST, ALP e creatinina, mas observaram uma
diminuição isolada dos níveis de colesterol. Os autores sugeriram que a ausência
de alterações bioquímicas e a baixa parasitemia estavam associados à
resistência dos animais ao parasito e à ausência de lesão hepática ou renal. Os
resultados encontrados no presente trabalho sugerem a mesma hipótese para
animais da raça Curraleiro, portadores crônicos de Babesia spp.
A ocorrência de glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos é
citada por autores, em casos crônicos de babesiose, tripanosomíase e theileriose
(HOMER et al., 2000; OMER et al., 2003, MARÉ, 2004). Entretanto, como os
níveis de creatinina dos animais da raça Curraleiro estiveram dentro dos padrões
de referência estabelecidos, não há justificativa biológica que confirme a hipótese
de glomérulonefrite acompanhada de insuficiência renal.
TABELA 9 - Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis da bioquímica sérica, em bovinos da raça Curraleiro
Variáveis correlacionadas Nº de observações
rs Z *P
AST 181 0,1253 1,6809 0,0464
NE-B.bovis BD 168 0,1602 2,0707 0,0192
ALP 210 0,2114 3,0557 0,0011
AST 211 0,2059 2,9843 0,0014
Colesterol 177 0,1568 2,0806 0,0187
NE-B.bigemina
Creatinina 169 0,1507 1,9537 0,0254
*Valores de p do teste t de Student
42
SOUZA (1997) em seu estudo sobre o perfil bioquímico de três raças
bovinas, concluiu que para utilizarem-se os exames de bioquímica sérica em sua
plenitude, faz-se necessário estabelecer de valores de referência para os vários
parâmetros sanguíneos nas diferentes raças de populações bovinas. Dessa
forma, a padronização do perfil bioquímico para animais da raça Curraleiro seria
um grande facilitador na interpretação e diagnóstico de processos mórbidos sub-
clínicos.
Os resultados encontrados no presente trabalho sugerem que apesar
dos animais estarem expostos cronicamente a Babesia spp e Leptospira
interrogans, não há alteração hematológica ou da bioquímica sérica indicando
algum estado mórbido. Evidências sorológicas demonstram que os bovinos
Curraleiros apresentam imunidade contra esses agentes sem manifestação
clínica da doença, sugerindo haver resistência ou adaptação suficiente do
hospedeiro. Esse fato está em discordância com alguns autores, que citaram
menor resistência e imunidade de animais Bos taurus em relação à babesiose
(BOCK et al., 2004). A raça Curraleiro é uma entidade genética distinta
pertencente ao gênero denominado Bos taurus ibericus (SERRANO et al, 2004) e
que passou por um processo de seleção natural de aproximadamente 500 anos,
por isso espera-se uma maior adaptação e resistência desses animais em
relação a enfermidades tropicais como a babesiose. Esta hipótese corrobora com
SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ VIVAS (1997) que citaram que a resistência a
algumas doenças pode estar relacionada a um processo de seleção natural, pela
exposição contínua aos vetores e agentes por eles transmitidos, situação comum
em populações de raças nativas. Entretanto, mais estudos são necessários para
esclarecer a relação entre hospedeiro-parasito.
43
3.4 CONCLUSÕES
Não houve qualquer alteração nos valores médios hematológicos e da
bioquímica sérica que indicasse presença de lesões provocadas pela B. bovis, B.
bigemina ou L. interrogans. Não houve nenhuma correlação entre títulos de
anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade ou com as variáveis laboratoriais
avaliadas.
O nível de anticorpos específicos para Babesia spp não apresentou
correlação com a idade dos animais e apresentou correlação positiva com
quantidade de hemácias, hemoglobina, leucócitos totais e linfócitos. Houve
correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e BD. Houve correlação positiva entre
NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e creatinina. Os resultados encontrados
estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema imunológico pelo
parasito e não houve manifestações patológicas decorrentes da infecção ou de
maiores títulos de anticorpos.
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49
CAPÍTULO 4
OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum E ANTI-
Toxoplasma gondii EM REBANHOS DA RAÇA CURRALEIRO
Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Andréa Caetano
Silva3, Vanessa Silvestre F. de Oliveira1, Adriana Reis Bittencourt da Silva4,
Saura Nayane de Souza4
1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected], [email protected]
2- Médica Veterinária, Profa. Dra. da EV/UFG. [email protected] 3- Médica Veterinária, Profa. Dra. do IPTSP/UFG. andré[email protected] 4- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],
RESUMO A neosporose está amplamente distribuída em todos os continentes e é
incriminada como causa importante de distúrbios reprodutivos em bovinos,
enquanto que a toxoplasmose é uma zoonose importante, apesar de não
provocar doença nesta espécie. Com o objetivo de conhecer a situação sanitária
dos rebanhos em relação a estas enfermidades, avaliou-se a ocorrência de
anticorpos anti-N. caninum e anti-T. gondii em cinco criatórios de gado Curraleiro
em Goiás e um no Tocantins,. Foram amostrados 468 animais, tendo sido
utilizada a técnica do ELISA-indireto para detecção de anticorpos anti-N. caninum
e a hemaglutinação indireta (HI) para anticorpos anti-T. gondii, resultando em
ocorrência de 38,24% e 3,20%, respectivamente. A soropositividade para N.
caninum aumentou significativamente (p<0,05) com o avanço da idade e houve
diferença na ocorrência de positivos entre as propriedades. Há possibilidade de
interferência de ciclo silvestre na transmissão horizontal da neosporose na
população. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii foi baixa nos rebanhos
estudados, mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada a fim de
avaliar o contato deste rebanho com o parasito.
Palavras-chave: Bovinos, elisa-indireto, hemaglutinação indireta, Pé-duro,
neosporose, toxoplasmose,
50
ABSTRACT
Neosporosis is widely distributed in all continents and it is incriminated wich a
cause of reproductive problems in bovine and toxoplasmosis is an important
zoonosis. It was evaluated antibodies ocurrence, against N.caninum and T.
gondii, in five herds from Goiás State and one from Tocantins State, with the aim
to know the healthy status of Curraleiro cattle in relation to these diseases. It was
sampled 468 animals and performed the detection of anti-N. caninum antibodies
by indirect-ELISA and anti-T. gondii antibodies by indirect haemagglutination (IH),
resulting in 38,24% and 3,20%, respectively. The seropositivity to N. caninum
increased (p<0,05) with aged, there were statistical differences (p<0,01) among
farms and it´s possible to exist an interaction between an wild cycle and horizontal
route neosporosis in this population. The toxoplasmosis seropositivity was low in
these herds and there were no differences among farms (p<0,05) but more
detailed studies must be realized with de purpose to investigate bovine contact
with this parasit. Key words: Bovine, indirect-ELISA, indirect haemagglutination, neosporosis, Pé-
duro, toxoplasmosis,
4.1 INTRODUÇÃO
O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica
para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &
EGITO, 2002), sendo que atualmente está presente no Maranhão, Piauí, Goiás e
Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de produção e a
baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais
(NETESTADO, 1998). Atualmente existem poucas informações disponíveis sobre
o rebanho nacional de Curraleiro e a Associação Brasileira de Criadores de
Curraleiro (ABCC) através do cadastramento de 22 criatórios, estimou 2008
animais em uma atualização realizada em 2005 (BOAVENTURA et al., 2005).
Diante da intenção de expandir a população dessa raça e de incentivar
a produção de alimentos de origem animal, de modo a atender as exigências
51
para comercialização dentro e fora do país, torna-se necessário obter dados
referentes a aspectos sanitários destes bovinos.
A neosporose foi diagnosticada pela primeira vez em 1984, na
Noruega, como uma encefalopatia letal em cães, associada a um parasito
semelhante ao Toxoplasma gondii (BJERKAS & PRESTHUS, 1989). Em 1988,
Dubey e colaboradores descreveram pela primeira vez o Neospora caninum
como agente de processos neurológicos no cão, nos Estados Unidos (DUBEY et
al., 1988a, 1988b). Em 1989, foi confirmado como agente causal de aborto e
mortalidade neonatal em bovinos (THILSTED & DUBEY, 1989).
Na espécie bovina essa enfermidade está amplamente distribuída e foi
relatada na Europa, Escandinávia, África, Austrália, Nova Zelândia e nas
Américas (DUBEY, 1999). É incriminada como importante causa de abortamento,
geralmente entre o quinto e o sexto mês de gestação, podendo ocorrer o
nascimento de bezerros prematuros, neonatos com sinais clínicos
neuromusculares ou neonatos clinicamente normais, porém cronicamente
infectados (DUBEY, 2003).
A transmissão horizontal foi confirmada através da eliminação de
oocistos não esporulados nas fezes de cães experimentalmente infectados com
tecidos de camundongos contendo cistos de N. caninum (McALLISTER, et al.,
1998). O parasito pode ser transmitido, por via transplacentária, a várias espécies
de hospedeiros sendo que em bovinos, a transmissão vertical é tida como rota
importante de infecção e parece ter papel fundamental na disseminação e
manutenção da enfermidade (SCHARES et al., 1998). GONDIM et al. (2004b)
avaliaram a transmissão transplacentária em novilhas infectadas
experimentalmente com oocistos de N. caninum e relataram que o risco de
ocorrência desse tipo de infecção aumentou com o tempo de exposição durante a
gestação e a dose de oocistos administrada aos animais.
A prevalência de neosporose bovina tem sido descrita em diferentes
estudos sorológicos, analisando-se principalmente bovinos com aptidão leiteira e
utilizando diferentes métodos de diagnóstico como o ELISA e a reação de
imunofluorescência indireta (RIFI). No Brasil, GONDIM et al. (1999a) relataram
14,09% de sororeagentes em rebanhos leiteiros, no estado da Bahia. No sul do
Paraná, LOCATELLI-DITTRICH et al. (2001) encontraram 34,80% de
52
soropositivos, enquanto OGAWA et al. (2005) descreveram uma ocorrência de
12,00% de positividade para N. caninum, na região norte desse estado.
Em uma amostragem feita em frigorífico, com animais provenientes
dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, COSTA et al. (2001) encontraram
16,83% de positividade, enquanto HASEGAWA et al. (2004) citaram 15,57% de
prevalência em bovinos de corte da região de Avaré-SP.
RAGOZO et al. (2003) avaliaram amostras de rebanhos bovinos
provenientes de seis estados brasileiros e encontraram uma freqüência de
soropositivos variando entre 14,70% (RJ) e 29,00% (MG). A prevalência nos
Estados de MS, PR, RS e SP foram 28,20%, 22,20%, 20,00% e 23,60%,
respectivamente. Houve maior ocorrência em rebanhos de aptidão leiteira
(26,20%) que de corte (19,10%).
No Estado de Goiás, GARCIA (2004) encontrou, nas microrregiões de
Anápolis e Goiânia, 30,43% de soropositividade, variando entre 10,30% e
89,70%. As prevalências encontradas segundo a aptidão produtiva foram de
29,61%, 30,41% e 43,33%, para rebanhos com aptidão de corte, leite e mistos,
respectivamente.
A ocorrência natural de toxoplasmose bovina foi relatada pela primeira
vez por Sanger e colaboradores, em 1953. Nas décadas de 60 e 70 surgiram
relatos de casos clínicos associados a sinais neuromusculares e respiratórios em
animais naturalmente e experimentalmente infectados. Diversas investigações
sorológicas foram realizadas até início dos anos 80, relatando frequências que
variaram de zero a 72,00%. A análise dos dados, entretanto, suscitava dúvidas
sobre a etiologia e a epidemiologia dessa enfermidade na espécie bovina
(DUBEY, 1986).
Embora N. caninum e T. gondii sejam parasitos estrutural, genética e
imunologicamente muito semelhantes, as enfermidades decorrentes da infecção
por esses agentes são biologicamente distintas e a toxoplasmose parece ser
mais importante em humanos e ovinos que em bovinos (DUBEY, 2003).
O consumo humano de carne bovina mal cozida é considerado fator de
risco à saúde pública e apesar da menor freqüência em que ocorrem os cistos
nessa espécie, a soroprevalência é considerada um bom parâmetro para avaliar
53
o grau de exposição dos animais ao T. gondii (TENTER et al., 2000, MEIRELES
et al., 2003).
No Brasil, os inquéritos sorológicos relataram prevalência de 1,03% em
rebanho leiteiro na Bahia e 26,00% na região norte do Paraná (GONDIM et al.,
1999b; OGAWA et al., 2005). COSTA et al. (2001) encontraram 49,17% de
animais soropositivos em amostras de bovinos abatidos, provenientes de São
Paulo e Minas Gerais; MEIRELES et al. (2003) observaram positividade de
11,00% em animais de São Paulo, enquanto DAGUER et al. (2004) relataram
soropositividade em 41,40% dos animais abatidos na microrregião de Pato
Branco-PR.
Em Goiás, apesar da ocorrência recente de um grave surto de
toxoplasmose humana, com suspeita de infecção por ingestão de carne crua
(BRASIL, 2006), pouco se sabe sobre a soroepidemiologia do T. gondii em
rebanhos bovinos.
Sendo assim, esse trabalho tem o objetivo de investigar a ocorrência
de anticorpos anti-Neospora caninum e anti-Toxoplasma gondii em rebanhos
bovinos da raça Curraleiro e relaciona-la a alguns aspectos epidemiológicos
dessas enfermidades. 4.2 MATERIAL E MÉTODOS O tamanho da amostra (n = 468) foi calculado utilizando a fórmula
proposta pelo CENTRO PANAMERICANO DE ZOONOSES (1979), considerando
prevalência esperada de 40%, tendo como base o resultado descrito por GARCIA
(2004), grau de confiança de 95% e margem de erro admitida de 5%.
Foram colhidas amostras em seis propriedades, escolhidas de acordo
com a disponibilidade do proprietário em participar da pesquisa, sendo cinco no
Estado de Goiás (Municípios de Formoso, Caiçara, Pirenópolis, Roselândia e
Leopoldo de Bulhões) e uma no Estado do Tocantins (Município de Porto
Nacional). Os proprietários ou capatazes responderam a um questionário sobre o
criatório e o rebanho
54
Amostrou-se mais de 70% dos animais de cada propriedade, com
exceção de Pirenópolis que teve 100% dos animais amostrados. É importante
relatar que como os animais ficavam nas matas, nem sempre era possível trazer
todos ao curral e nas propriedades maiores como: Formoso, Caiçara e Porto
Nacional, o procedimento de reunir os animais podia durar até uma semana.
Para efetuar o exame sorológico procedeu-se colheita de sangue por
venopunção jugular em tubo sem anti-coagulante. Após retração do coágulo, o
sangue foi centrifugado, o soro foi separado em alíquotas e congelado à –20oC
até o momento da realização dos testes laboratoriais.
A sorologia para N. caninum foi feita utilizando-se método de ELISA-
indireto, seguindo protocolo utilizado no Laboratório de Protozooses Digestivas e
Reprodutivas da Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de
Madrid, Espanha. A diluição do soro foi feita em 1:100 e utilizou-se como
antígeno o extrato solúvel de taquizoítos de N. caninum da cepa Nc-1, produzido
no mesmo laboratório.
A sorologia para T. gondii foi feita utilizando-se o método de
hemaglutinação indireta (HI) com reagente comercial (Bio-toxo®, BIOSHOP,
Goiânia, Goiás) seguindo protocolo recomendado pelo fabricante. O título de
anticorpos utilizado como ponto de corte foi 1:64, seguindo recomendação de
GONDIM et al. (1999b).
A estatística descritiva simples foi utilizada no cálculo da freqüência de
animais positivos, em diferentes faixas etárias, para cada propriedade. O teste de
qui-quadrado foi aplicado para mostrar eventuais diferenças entre as freqüências
encontradas para as propriedades amostradas e para avaliar se houve diferença
na freqüência entre as faixas etárias dentro de todas as propriedades agrupadas
(SAMPAIO, 1998).
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das informações obtidas pelo questionário epidemiológico, foi
possível caracterizar que todos os criatórios utilizavam sistema de criação
pecuária extensiva, a propriedade de Porto Nacional, Caiçara e Formoso eram
55
maiores que as demais, porém todas apresentavam baixa lotação de pastagens e
o rebanho Curraleiro mantinha-se quase que totalmente isolado dos demais
animais domésticos por habitar as invernadas de pastagens nativas, matas ou
campos sujos. Não eram utilizada estação de monta ou registros produtivos e
reprodutivos em nenhuma das propriedades.
A exploração comercial do gado Curraleiro ocorria em Leopoldo de
Bulhões, que vendia animais para carro de boi e em Roselândia, que utilizava
animais para ecoturismo. Os animais eram abatidos regularmente para consumo
de carne pelos moradores das fazendas e o criatório de Porto Nacional mandava
esporadicamente, animais para abate em frigorífico. Não houve relatos de surtos
de abortamentos, as informações obtidas mostraram que a ocorrência de
diarréias em bezerros era comum, mas os animais se recuperavam e a
mortalidade inespecífica foi estimada entre 1 a 2 %. Segundo os capatazes e
proprietários os animais raramente adultos adoeciam. O calendário
imunoprofilático incluía vacinações contra aftosa, raiva, brucelose e clostridioses,
com exceção de Pirenópolis, que vacinava somente contra raiva e aftosa.
Dos 468 animais amostrados, 179 (38,24%) apresentaram positividade
para N. caninum. A ocorrência observada nesse trabalho foi superior aos
resultados descritos por GONDIM et al. (1999a) e OGAWA et al. (2005) em
rebanhos leiteiros e de COSTA et al. (2001); RAGOZO et al. (2003) e
HASEGAWA et al. (2004) em rebanhos de corte, todos estes realizados no Brasil.
A prevalência de anticorpos anti-N. caninum em bovinos varia com a
localização geográfica dos rebanhos, o teste sorológico utilizado, a idade dos
animais. Além disso, a técnica para determinar a exposição ao agente não foi
padronizada (DUBEY, 2003). Esses fatores podem explicar a dificuldade em
comparar freqüências obtidas em diferentes estudos sorológicos com os
resultados descritos no presente estudo.
Os resultados encontrados neste estudo, utilizando a técnica do ELISA-
indireto, foram semelhantes aos observados por LOCATELLI-DITTRICH et al.
(2001), que utilizaram ELISA-indireto e GARCIA (2004), o qual utilizou a RIFI.
Tais similaridades reforçam as observações de ALVAREZ-GARCIA (2003) sobre
a concordância dos resultados obtidos por meio dessas técnicas. Além disso, o
ELISA-indireto apresentou-se como uma técnica apropriada para inquéritos
56
sorológicos em grandes populações, pois de acordo com a literatura, tem uma
sensibilidade de 97% e especificidade de aproximadamente 100%, e a facilidade
de execução permite a análise de grande número de amostras em curto espaço
de tempo (BJÖRKMAN & UGGLA, 1999).
A ocorrência de anticorpos anti-N. caninum (Tabela 1) foi diferente
(p<0,01) entre as propriedades amostradas, Roselândia apresentou os maiores
índices (56,76%) e Pirenópolis o menor deles (20,55%). As diferenças de
ocorrência entre os rebanhos podem estar relacionadas às práticas de manejo e
às condições ambientais regionais, que interferem no grau de exposição do
hospedeiro susceptível e na viabilidade do agente, refletindo numa maior ou
menor pressão de infecção no habitat dos animais.
TABELA 1- Número e frequência de resultados positivos para detecção de anticorpos anti- N.
caninum, pelo método de ELISA-indireto, por faixa etária, em bovinos da raça Curraleiro procedentes de propriedades do Estado de Goiás e Tocantins
0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total
total totaL total Nº
IDADE
PROPRIEDADE +
%
+
%
+
%
+
%
13 Formoso 3
23,08
28
7
25,00
49
31
63,27
90
41
45,55
14 Caiçara 1
7,14
20
6
30,00
27
9
33,33
61
16
26,23
24 P. Nacional 4
16,67
20
7
35,00
60
31
51,67
104
42
40,38
18 Pirenópolis 0
0,00
22
2
9,09
52
17
32,69
92
19
20,65
0 Roselândia 0
0,00
21
9
42,86
16
12
75,00
37
21
56,76
23 L. Bulhões 5
21,74
46
6
37,50
45
29
64,44
84
40
47,62
92 Total 13
14,10
127
37
29,13
249
129
51,80
468
179
38,24
Houve diferença no nº de positivos entre as propriedades X2=51,09 p<0,01 Houve diferença no nº total de positivos entre as faixas etárias X2=25,13 p<0,01 Segundo SANDERSON et al. (2000), a distribuição geográfica pode
ser o resultado de diferentes níveis de infecção entre as populações de animais
domésticos e canídeos silvestres e que o aumento da densidade populacional
57
estaria associado a um aumento de prevalência e maior possibilidade de
transmissão horizontal. Isso pode explicar em parte os resultados obtidos no
presente trabalho, pois a maior ocorrência de soropositividade ocorreu em uma
propriedade onde a lotação de pastagem é comparativamente maior que as
demais propriedades. Entretanto, a alta taxa de ocorrência de soropositivos em
propriedades com baixa taxa de lotação como pode ser visto nas propriedades de
Formoso e Porto Nacional, sugere a hipótese a transmissão vertical também
esteja presente e interfira na disseminação e manutenção da neosporose nesses
rebanhos. Porém não houve a possibilidade de verificar tal afirmação no presente
estudo porque não há o registro genealógico dos animais.
Houve diferença significativa (p<0,01) no número total de soropositivos
em relação a faixa etária (Tabela 1), foi possível constatar um aumento dos
mesmos com o avançar da idade, o que está em discordância com os resultados
encontrados por RAGOZO et al. (2003), os quais não verificaram aumento da
prevalência com a idade.
Uma peculiaridade a ser considerada é que, com exceção de Leopoldo
de Bulhões onde havia presença de 15 cães, os bovinos não tinham contato com
cães domésticos, mesmo naquelas propriedades com elevado número de
animais sororeagentes. Tal quadro sugere que poderia haver a participação de
espécies silvestres na manutenção e a distribuição do parasito no ambiente, o
que está de acordo com GONDIM et al. (2004a), que relataram a ingestão dos
tecidos de animais infectados (domésticos ou silvestres) pelos canídeos
(domésticos ou silvestres), como responsável pela presença de N. caninum nos
rebanhos bovinos.
Apesar do grande número de sororeagentes para N. caninum, não
houve relatos de surtos de abortamentos nessas propriedades, podendo
justificar-se por serem criados extensivamente ou não haver informações sobre
os índices reprodutivos dos rebanhos. Entretanto, pode estar ocorrendo infecção
oral progressiva, com pequena quantidade de oocistos; tal afirmativa está em
acordo com GONDIM et al. (2004b) que relataram a ocorrência de transmissão
vertical e de abortamentos em função da quantidade de oocistos ingeridos pelas
fêmeas.
58
Dos 468 animais, 15 (3,20%) apresentaram positividade para T. gondii
no teste de HI. Roselândia apresentou o maior índice (8,11%) e Caiçara não teve
nenhum animal positivo (Tabela 2). Não houve diferença significativa no número
total de positivos em relação à faixa etária (p>0,05). Observou-se que apesar de
todas as propriedades possuírem gatos domésticos no peridomicílio, o contato
com os bovinos Curraleiros é praticamente nulo.
Os resultados obtidos neste estudo mostraram uma ocorrência abaixo
dos índices citados por COSTA et al.(2001), MEIRELES et al.(2003), DAGUER et
al. (2004) e OGAWA et al. (2005), que utilizaram testes de imunofluorescência e
ELISA na detecção dos anticorpos. Entretanto, foram muito próximos dos
resultados obtidos por GONDIM et al. (1999a), que utilizaram método de
aglutinação em látex (AL). Tal fato pode ser justificado, pela concordância de
resultados entre as técnicas de HI e AL, que têm sensibilidade e especificidade
semelhantes, entretanto apresentam menor sensibilidade que o ELISA e a
(DUBEY, 1986, DUBEY & THULLIEZ, 1993).
TABELA 2- Número e frequência de positividade para T. gondii, em diferentes faixas etárias,
utilizando o método de HI para detecção de anticorpos em bovinos da raça Curraleiro, provenientes de rebanhos de Goiás e Tocantins
0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total
total totaL total Nº
IDADE
PROPRIEDADE +
%
+
%
+
%
+
%
13 Formoso 0
0,00
28
0
00,00
49
1
2,08
90
1
1,10
14 Caiçara 0
0,00
20
0
00,00
27
0
0,00
61
0
0,00
24 P. Nacional 0
0,00
20
0
00,00
60
2
3,33
104
2
1,92
18 Pirenópolis 2
11,11
22
1
4,55
52
3
5,77
92
6
6,52
0 Roselândia 0
0,00
21
2
9,52
16
1
6,25
37
3
8,11
23 L. Bulhões 0
0,00
46
1
6,25
45
2
4,44
84
3
3,57
92 Total 2
2,17
127
4
3,14
249
9
3,61
468
15
3,20
Não houve diferença no nº total de positivos entre as faixas etárias X2=0,45 p>0,05
59
O presente trabalho relatou pela primeira vez a investigação sorológica
de toxoplasmose bovina no Estado de Goiás. A necessidade de obter
informações ratifica a opinião de COSTA et al. (2001) sobre realização de
exames sorológicos desse parasito em gado de corte e a dificuldade no
entendimento da importância da toxoplasmose bovina para a saúde pública e seu
impacto econômico no mercado da carne. Além disso, o grande consumo de
carne bovina pelos brasileiros justifica maiores investigações sobre a sua
epidemiologia (MEIRELES et al., 2003).
Há muitas dúvidas sobre a eficiência na transmissão de toxoplasmose
pela ingestão de carne bovina crua ou mal passada. DUBEY & THULLIEZ, (1993)
relataram que cistos teciduais, no coração, fígado e língua de bovinos, podem
permanecer viáveis por períodos superiores a três anos. ESTEBAN-REDONDO
et al. (1999) não detectaram o parasito nos tecidos dos animais após infecção
experimental e concluíram que o risco de infecção pelo consumo de carne bovina
é pequeno. Tendo em vista a ausência de informações sobre a segurança
alimentar da carne consumida no Estado de Goiás, em relação à presença de
cistos de T. gondii e a recente ocorrência de surto de toxoplasmose na cidade de
Anápolis, associado ao consumo de carne crua, há a necessidade de maiores
investigações sobre essa zoonose nas diferentes fases da cadeia produtiva.
4.4 CONCLUSÕES N. caninum está presente nos rebanhos de gado Curraleiro
amostrados sendo que a ocorrência é diretamente proporcional à idade. A
exposição ao parasito se dá por via horizontal ou vertical e há possibilidade de
interferência de um ciclo silvestre na epidemiologia da neosporose bovina nessa
população. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii é baixa nos rebanhos
estudados mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada com
intenção de avaliar o grau de exposição dos animais bovina ao parasito.
60
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64
CAPÍTULO 5
OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Brucella abortus E ANTI-Leptospira
interrogans EM REBANHOS DA RAÇA CURRALEIRO
Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Valéria de Sá Jayme2,
Luiz Antônio Franco da Silva2, Gustavo Lage Costa3, Lucas Jacomini Abud3,
Mayara Fernanda Maggioli3
1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected] 2- Médico (a) Veterinário (a), Prof. (a) Dr. (a). da EV/UFG. [email protected],
[email protected], [email protected] 3- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],
[email protected] , [email protected]
RESUMO Avaliou-se a ocorrência de anticorpos anti-Brucella abortus e anti-Leptospira
interrogans em cinco criatórios em Goiás e um no Tocantins, com o objetivo de
conhecer a situação sanitária dos rebanhos bovinos da raça Curraleiro em
relação a estas enfermidades. Foram amostrados 569 animais, tendo sido
empregado a prova de soroaglutinação com antígeno acidificado tamponado
(AAT) para detecção de anticorpos anti-Brucella abortus e a soroaglutinação
microscópica (SAM) para anticorpos anti-Leptospira interrogans, resultando em
ocorrência de 1,23% e 31,36%, respectivamente. A ocorrência da brucelose
bovina nesses rebanhos foi baixa, sinalizando que a aplicação de estratégias de
controle torna viável a certificação de criatórios livres da doença. A freqüência de
anticorpos anti-Leptospira spp foi menor que a encontrada na maioria dos
estudos realizados e, rebanhos bovinos no Brasil. A soropositividade para
Leptospira spp aumentou significativamente (p<0,01) com o avanço da idade,
com predominância de títulos de anticorpos 1:200, sugerindo que sua ocorrência
pode ser enzoótica. Os sorovares mais freqüentes foram hardjo, wolfii,
hebdomadis e grippotyphosa, indicando a espécie bovina como um importante
65
reservatório responsável pela manutenção e disseminação da doença e a
possível participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose
bovina. Essas características devem ser criteriosamente consideradas quando da
necessidade de movimentação de animais para outros criatórios, pois poderiam
representar riscos à saúde dos mesmos.
Palavras-chave: Bovinos, brucelose, epidemiologia, leptospirose, Pé-duro
ABSTRACT
The occurrence of antibodies against Brucella abortus and Leptospira interrogans
was evaluated in five herds from Goiás State and one from Tocantins State, with
the aim to find out about the health situation of Curraleiro bovine cattle in relation
to these diseases. 569 animals were sampled and the detection of Brucella
abortus antibodies was performed by serum agglutination with buffered plate
antigen (BPA), and the detection of Leptospira interrogans antibodies was
performed by microscopic serum agglutination (MAT), resulting in occurrences of
1,23% and 33,26%, respectively. Bovine brucellosis occurrence in these herds
was low, which indicates that the application of control strategies makes the
possibility of brucellosis-free herds viable. The Leptospira spp antibody
occurrence was lower than the one found in the majority of studies on bovine
herds in Brazil. The seropositivity for L. interrogans increased significantly
(p<0,01) with ageing, with a predominance of antibodies titers at 1:200,
suggesting an enzootic profile. The most frequent serovars were hardjo, wolfii,
hebdomadis and grippotyphosa, which indicates that bovine cattle is an important
reservoir responsible for Leptospirosis’ maintenance and dissemination and that
wild species could also be involved in transmitting bovine Leptospirosis. These
characteristics must be carefully considered whenever there is a need to transfer
animals to other farms, as they could pose risks for bovine health.
Key words: Bovine animals, Brucellosis, epidemiology, Leptospirosis, Pé-duro.
5.1 INTRODUÇÃO
66
O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica
para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &
EGITO, 2002), sendo que atualmente o Curraleiro está presente no Maranhão,
Piauí, Goiás e Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de
produção e a baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses
animais (NETESTADO, 1998). Existem poucas informações disponíveis sobre o
rebanho nacional de Curraleiro e a Associação Brasileira de Criadores de
Curraleiro (ABCC) após cadastramento de 22 criatórios, estimou uma população
de 2008 animais em uma atualização realizada em 2005 (BOAVENTURA et al.,
2005).
Diante das intenções de expandir a população dessa raça e de
incentivar a produção de alimentos de origem animal que atendam às exigências
das autoridades sanitárias e do mercado consumidor, surgiu a necessidade de
ampliar o conhecimento sobre as condições sanitárias dessa população em
relação a algumas doenças infecciosas. Desta forma, as atividades dos núcleos
de preservação e criatórios envolvidos não colocariam em risco um rebanho de
tão reduzidas proporções e de inestimável valor genético.
Para RADOSTITIS & BLOOD (1986), qualquer programa de saúde
animal obrigatoriamente deve incluir a vigilância de doenças infecciosas
específicas, com a finalidade de identificar os portadores, adotar estratégias de
controle e eliminar riscos para as enfermidades mais freqüentes.
A brucelose é uma doença infecciosa crônica causada por uma
bactéria pertencente ao gênero Brucella, que afeta principalmente o sistema
reprodutivo, podendo provocar abortamentos no terço final da gestação
(CORRÊA & CORRÊA, 1992). Por tratar-se de uma enfermidade, de caráter
zoonótico, de grande ocorrência em rebanhos bovinos e por estar relacionada a
graves perdas econômicas foi incluída em um programa sanitário desenvolvido
pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2001. Tal
fato objetivou diminuir o seu impacto negativo na saúde pública e animal, além
de promover a competitividade da pecuária nacional, definindo uma estratégia de
certificação de propriedades livres, nos quais, juntamente com a tuberculose,
essa doença deve ser controlada com maior rigor.
67
A Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) classifica a
brucelose como uma enfermidade de importância sócio-econômica, pois causa
prejuízos ao tornar o produto vulnerável às barreiras sanitárias, comprometendo a
sua competitividade no comércio internacional (BRASIL, 2006). A doença causa
diminuição da produção de carne entre 10,00% e 15,00%; aumento do intervalo
entre partos de 11,5 para 20 meses, elevação de 30,00% na taxa de reposição
dos animais e queda de 15,00% na taxa de nascimento (PAULIN, 2003).
O último diagnóstico nacional da situação da brucelose bovina foi
realizado em 1975, com prevalências estimadas de 4,00% na Região Sul, 7,50%
na Região Sudeste, 6,80% na Região Centro-Oeste, 2,50% na Região Nordeste e
4,10% na Região Norte. Posteriormente, outros inquéritos sorológicos por
amostragem, revelaram pequenas alterações. No Rio Grande do Sul a
prevalência passou de 2,00%, em 1975, para 0,30% em 1986. Em Santa Catarina
passou de 0,20%, em 1975, para 0,60% em 1996. No Mato Grosso do Sul a
prevalência estimada em 1998 foi de 6,30% e em Minas Gerais passou de 7,60%,
em 1975, para 6,70% em 1980. No Paraná, a prevalência estimada em 1975 foi
de 9,60%, passando para 4,60% de bovinos soropositivos em 1989. Os dados de
notificações oficiais indicam que a prevalência se manteve entre 4,00% e 5,00%,
no período de 1988 a 1998 (BRASIL, 2006).
Em Goiás, Santana e Veiga encontraram uma freqüência de
positividade de 9,02% em um estudo retrospectivo entre os anos de 1970 e 1975
e posteriormente, Andrade e colaboradores, em 1986, relataram 4,93% (ROCHA,
2003). Em 1997, de acordo com os Boletins de Defesa Sanitária Animal, a
prevalência em Goiás era de 5,9% enquanto que no Tocantins o índice foi de
3,30% (PAULIN & FERREIRA NETO, 2002). ACYPRESTE et al. (2002)
encontraram, um índice de positividade de 1,74% na microrregião de Goiânia, em
rebanhos leiteiros, utilizando a prova de aglutinação em placa com antígeno
acidificado tamponado (AAT) e ROCHA (2003) obteve 3,36% de prevalência,
numa amostragem de 10.738 bovinos, oriundas de várias regiões do Estado.
A leptospirose é uma doença infecto-contagiosa causada por bactérias
do gênero Leptospira. A doença é endêmica e a morbidade é bastante alta,
apesar da letalidade ser baixa. Trata-se de uma zoonose e o contágio pode ser
ambiental ou direto (CORRÊA & CORRÊA, 1992). Nos rebanhos bovinos, pode
68
determinar abortos, distúrbios reprodutivos (retenção de placenta e natimortos)
ou alterações congênitas. Infecções inaparentes podem ocorrer e comprometer a
eficiência reprodutiva do animal, provocando sub fertilidade (LILENBAUM et al.,
1995), além de perdas na produção de leite e problemas de mastites (HIGGINS
et al., 1980; PEARSON et al., 1980).
A susceptibilidade do rebanho bovino varia de acordo com alguns
fatores como idade, estado fisiológico, aptidão e densidade populacional (BROD
& FEHLBERG, 1992). No continente americano, os sorovares predominantes
nesta espécie são hardjo, pomona e gryppotyphosa (ELLIS, 1994). A prevalência
varia geograficamente, sendo os maiores índices registrados nos países tropicais,
que apresentam elevadas precipitações pluviométricas e possuem solos neutros
ou alcalinos (GUIMARÃES, 1982).
Em inquérito sorológico realizado por FAVERO et al. (2001),
avaliaram-se 31.325 amostras de bovinos procedentes de 21 estados brasileiros,
entre os anos de 1984 e 1997. A distribuição percentual de sororeagentes foi:
SP-35,0%, MG-41,3%, RS-28,9%, PR-26,0%, RJ-41,3%, GO-46,5%, MS-62,3%,
BA-61,0%, SC-25,2%, MA-58,2%, ES-62,2%, PA-38,3%, MT-62,5%, PI-56,0%,
CE-25,2%, DF-29,2%, TO-41,2%, AL-58,4%, PB-40,7%, RN-55,8% e RO-54,5%.
Jardim e colaboradores, em 1978 encontraram um índice de
ocorrência de 20,57% para leptospirose bovina, no primeiro estudo feito no
Estado de Goiás. Posteriormente, foram observados 81,9% de sororeagentes no
rebanho leiteiro da microrregião de Goiânia (JULIANO et al., 2000).
O objetivo desse trabalho foi avaliar a ocorrência de brucelose e
leptospirose bovina em criatórios de gado Curraleiro e investigar as variantes
sorológicas de Leptospira interrogans predominantes.
5.2 MATERIAL E MÉTODOS
Foram colhidas amostras de 569 animais, machos e fêmeas, com
idade entre 30 dias a mais de 48 meses, procedentes de seis propriedades,
selecionadas de acordo com os padrões de exploração característico da região e
na disponibilidade do proprietário em participar da pesquisa, sendo cinco no
69
Estado de Goiás (Municípios de Formoso, Caiçara, Pirenópolis, Roselândia e
Leopoldo de Bulhões) e uma no Estado do Tocantins (Município de Porto
Nacional).
Os proprietários ou os funcionários das propriedades responderam a
diferentes questões sobre o criatório e o rebanho, elaboradas e aplicadas sob a
forma de questionários fechados com base nas orientações sugeridas por
THRUSFIELD (1990).
Para a realização dos testes foi utilizado soro sanguíneo. O sangue foi
colhido por venopunção jugular em tubo sem anti-coagulante; centrifugado após
retração do coágulo, o soro foi separado em alíquotas e congelado a –20oC até o
momento da realização dos testes laboratoriais.
Para detecção de anticorpos anti-Brucella abortus foi realizada a prova
de soroaglutinação com antígeno acidificado tamponado (AAT, Instituto de
Tecnologia do Paraná - Tecpar, Curitiba, Paraná), no Laboratório do Setor de
Medicina Preventiva da Escola de Veterinária da UFG, seguindo a recomendação
do MAPA (BRASIL, 2005).
A detecção de anticorpos anti-Leptospira spp foi realizada pelo
método de soroaglutinação microscópica (SAM), em 236 amostras, diluídas de
1:100 a 1:800, no Laboratório de Leptospirose do Setor de Medicina Preventiva
da Escola de Veterinária da UFG, seguindo protocolo proposto por SANTA ROSA
(1970). Como antígenoutilizaram-se cepas vivas de leptospiras, mantidas em
meio de EMJH no mesmo laboratório, dos seguintes sorovares: bratislava,
castellonis, canicola, grippotyphosa, hebdomadis, icterohaemorrhagiae, pomona,
pyrogenes, hardjo, wolffi, shermani e tarassovi.. O maior título que apresentou
reação foi considerado o sorovar prevalente para cada animal. Quando ocorreram
aglutinações para vários sorovares com a mesma titulação, em um mesmo
indivíduo, considerou-se o fato como co-aglutinações.
Como um mesmo indivíduo pode apresentar aglutinações para vários
sorovares, considerou-se o maior título de anticorpos para cada animal,
independente do sovovar. Para avaliar a freqüência dos sorovares não foi levado
em consideração o título de anticorpos.
A estatística descritiva simples foi utilizada no cálculo da freqüência de
animais positivos, em diferentes faixas etárias, para cada propriedade. O teste de
70
qui-quadrado foi aplicado, com base em SAMPAIO (1998), para mostrar
eventuais diferenças entre as freqüências encontradas para as propriedades
amostradas e para avaliar se houve diferença na freqüência entre as faixas
etárias dentro de todas as propriedades agrupadas.
5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os rebanhos amostrados no presente estudo possuiam características
produtivas diferenciadas. Todos os criatórios utilizavam sistema de criação
pecuária extensiva, baixa lotação de pastagens e o rebanho por habitar as
invernadas de pastagens nativas, matas ou campos sujos, mantinha um relativo
isolamento dos demais animais domésticos, principalmente nas propriedades de
Formoso, Caiçara e Porto Nacional, que possuíam maior extensão territorial que
as demais. O fornecimento de água em todas as propriedades era de água
corrente. Em nenhuma delas era utilizada estação de monta ou realizados
registros produtivos. As propriedades de Formoso, Caiçara e Porto Nacional eram
voltadas a pecuária de corte; enquanto Pirenópolis, Roselândia e L. de Bulhões a
atividade pecuária mista, porém com peculiaridades como caprinocultura, turismo
rural e bovinocultura de leite, respectivamente. Constatou-se como característica comum entre todos os criatórios o
fato da exploração econômica do rebanho Curraleiro restringir-se ao consumo
local da carne ou venda de animais para tração de carros de boi. Os animais
eram criados, principalmente, em pastagens nativas, junto a reservas de matas.
O contato dos Curraleiros com os demais animais da propriedade era esporádico
e resultante da falta de cercas e que a reposição de animais nos rebanhos é
muito restrita. Segundo as respostas obtidas pelos questionários, a exploração
comercial do gado Curraleiro ocorria em Leopoldo de Bulhões, que vendia
animais para carro de boi e em Roselândia, que utilizava animais para
ecoturismo. Os animais eram abatidos regularmente para consumo de carne
pelos moradores das fazendas e somente o criatório de Porto Nacional mandava
esporadicamente, animais para abate em frigorífico. Quanto aos aspectos
71
sanitários foram dadas informações de que a mortalidade inespecífica de animais
jovens foi estimada em 1 a 2 %; os animais adultos adoeciam raramente. O
calendário imunoprofilático incluía vacinações contra aftosa, raiva, brucelose e
clostridioses, com exceção de Pirenópolis, que vacinava somente contra raiva e
aftosa. Não houve relatos de surtos de aborto, as informações obtidas mostraram
de que a ocorrência de diarréias em bezerros era comum, mas os animais se
recuperavam sem necessidade de tratamento medicamentoso. A freqüência de animais soropositivos para brucelose bovina, de
monstrada na Tabela 1, foi 1,23%. Este resultado foi bastante próximos aos
valores encontrados por ACYPRESTE et al. (2002), que obtiveram 1,74% em
rebanhos leiteiros e ROCHA (2003), que encontrou prevalência de 1,36% em
rebanhos de corte. Porém menor do que os encontrados por esse mesmo autor
em rebanhos leiteiros (2,55%) e em animais com aptidão produtiva mista (4,33%). TABELA 1- Número e frequência de positivos para brucelose bovina, na prova de aglutinação com
antígeno acidificado tamponado (AAT), em animais da raça Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005
Positivos Propriedade Total de amostras Nº %
P. Nacional 120 2 1,66 Formoso 149 3 2,01 Caiçara 73 1 1,36 Pirenopolis 92 1 1,08 Roselândia 49 0 0,00 L.. Bulhões 86 0 0,00 Total 569 7 1,23
O índice de positividade observado, associado aos fatores
anteriormente descritos e a vacinação sistemática dos animais (somente
Pirenópolis não pratica a vacinação contra brucelose) devem ter favorecido o
controle dessa enfermidade nos rebanhos, hipótese respaldada nas
recomendações de BRASIL (2005), que incluem o controle da enfermidade
apoiado basicamente em ações de vacinação de fêmeas, diagnóstico e
eliminação dos animais positivos. Medidas complementares, como o controle de
trânsito dos animais de reprodução e outros procedimentos que visam diminuir a
dose de desafio, também são muito importantes e ressalta-se que, inicialmente
deve-se reduzir a prevalência com um bom programa de vacinação para
72
gradativamente aumentar as ações de diagnóstico e a obtenção de propriedades
livres.
O fato de algumas propriedades amostradas não apresentarem
ocorrência de bovinos soropositivos reforça a possibilidade de obtenção de
rebanhos livres da doença. Por isso torna-se importante conhecer a
soroepidemiologia da brucelose e a população em que as ações deverão ser
desenvolvidas para escolher a melhor estratégia para implantá-las (BRASIL,
2005).
A freqüência média de sororeagentes para leptospirose bovina foi de
30,93%, tendo Caiçara apresentado 8,21% e Roselândia 59,18%, com diferença
significativa (p<0,01) destas duas propriedades em relação às outras amostradas
(Tabela 2). Estes resultados estão próximos, mas abaixo da prevalência descrita
por FAVERO et al. (2001) para GO (46,50%) e TO (41,20%) e são muito menores
do que os 81,90% de soropositividade, citados por JULIANO et al. (2000), que
trabalharam com amostras de rebanhos leiteiros na microrregião de Goiânia-GO.
Esta inferioridade dos índices encontrados no presente trabalho poderia estar
associada ao sistema de produção, já que o rebanho Curraleiro é aracterizado
como pecuária extensiva de corte. Entretanto, outros autores não encontraram
associação entre a freqüência de sororeagentes e o sistema produtivo do
rebanho (PRESCOTT et al., 1988, ALONSO-ANDICOBERRY, 2001b;
LILENBAUM & SOUZA, 2003).
TABELA 2- Frequência de reagentes e não reagentes na prova de soroaglutinação microscópica
(SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005
Positivos Propriedade Total de amostras Nº %
P. Nacional 120 *35 29,16 Formoso 149 *50 33,55 Caiçara 73 6 8,21 Pirenopolis 92 *32 34,78 Roselândia 49 29 59,18 L.. Bulhões 86 *24 33,72 Total 569 176 30,93
X2 = 24,08 e p< 0,01 *Não houve diferença significativa entre estas propriedades X2 = 2,32 e p> 0,05
73
Deve-se destacar que dentre os fatores que interferem na prevalência
da leptospirose bovina estão condições ambientais, tais como temperatura
próxima de 25oC, alta umidade e solo com pH neutro ou ligeiramente alcalino
com presença de matéria orgânica (CORRÊA & CORRÊA, 1992), que
determinam maior tempo de sobrevivência do agente As propriedades avaliadas
neste trabalho encontram-se distribuídas em regiões de bioma Cerrado, no qual
segundo COUTINHO (2000) o clima predominante é o tropical sazonal de inverno
seco, com temperatura média anual em torno de 22-23ºC, sendo que as máximas
absolutas mensais podem chegar a mais de 40ºC e as mínimas atingem próximo
de zero nos meses de maio, junho e julho. A precipitação média anual fica entre
1200 e 1800 mm e no período de maio a setembro os índices pluviométricos
mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero, resultando em uma
umidade relativa do ar próxima de 15% nos meses de julho e agosto, condições
que associadas à alta incidência solar, provocam grande quantidades de
queimadas. O solo é em geral arenoso na superfície, com capacidade de
retenção de água e teor de matéria orgânica baixa (3% a 5%) e o pH é
predominantemente ácido. Tais condições ambientais são desfavoráveis à
sobrevivência das leptospiras, o que pode constituir um dos fatores que
interferiram na freqüência de animais reagentes.
Os resultados obtidos permitiram observar um aumento na ocorrência
de sororegentes, com o avançar da idade, exceto em Caiçara, com diferença
significativa (p<0,01) entre as faixas etárias (Tabela 3). Resultados semelhantes
foram descritos na literatura, justificados principalmente pela oportunidade dos
animais em terem contato com o agente e ao índice de infecção ambiental
(PRESCOTT et al., 1988; ALONSO-ADICOBERRY et al., 2001a). O fato de
rebanhos curraleiros serem criados em regime extensivo, em pastagens com
baixa lotação e com fonte de água corrente, deve minimizar o contato entre os
hospedeiros susceptíveis e a fonte de infecção, restringindo as possibilidades de
disseminação da doença, e por isso animais mais velhos teriam maior
oportunidade de se infectarem e apresentarem soropositividade.
74
TABELA 3-Frequência de reagentes na prova de soroaglutinação microscópica (SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, por faixa etária, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005
Reagentes Nº 0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total Propriedade
amostras Nº % Nº % Nº % Nº % P. Nacional 120 1 2,85 6 17,14 28 80,00 35 29,16Formoso 149 0 0,00 16 32,00 34 68,00 50 33,55Caiçara 73 3 50,00 00 0,00 03 50,00 06 8,21 Pirenópolis 92 2 6,25 10 31,25 20 62,50 32 34,78Roselândia 49 0 0,00 13 44,82 16 55,17 29 59,18L. Bulhões 86 0 0,00 01 4,16 23 95,8 24 33,72Total 569 6 3,40 46 26,13 124 70,45 176 30,93
X 2= 24,88 e p< 0,01
A variação na ocorrência de títulos de anticorpos anti-leptospiras está
expressa na Tabela 4. Amostras com títulos de 1:200 foram predominantes nessa
população. A ocorrência de títulos de anticorpos em diluições de 1:100 e 1:200
podem indicar que a enfermidade ocorre de forma enzoótica (JULIANO et al.,
2000) principalmente onde não houve relatos de sinais clínicos sugestivos de
leptospirose na população. Esta situação assemelha-se com as condições em
que encontram-se os criatórios de Curraleiros amostrados. TABELA 4-Freqüência de títulos de anticorpos anti-Leptospira sp, na prova de soroaglutinação
microscópica (SAM), em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005
Título de anticorpos Propriedade 1/100 1/200 1/400 1/800
Nº % Nº % Nº % Nº % Porto Nacional 07 20,00 13 37,14 09 25,71 06 17,1 Formoso 14 28,00 18 36,00 09 18,00 09 18,00 Caiçara 01 16,66 02 33,33 02 33,33 01 16,66 Pirenópolis 03 9,37 08 25,00 10 31,25 11 34,37 Roselândia 09 31,03 15 51,72 03 10,34 02 6,89 L. Bulhões 09 37,5 09 37,5 03 12,5 03 12,5 Total 43 24,43 65 36,93 36 20,45 32 18,18
A ocorrência de aglutinações para L. hardjo e L. wolffi, considerando
títulos de anticorpos acima de 1:100, foi nitidamente maior que para outros
sorovares, seguido pelos sorovares hebdomadis e grippotyphosa (Tabela 5). A
predominância do sorovar hardjo nos rebanhos estudados está de acordo com os
resultados obtidos em outros estudos realizados, que afirmaram ser a espécie
75
bovina o reservatório dessa variedade de Leptospira spp e a principal
responsável pela disseminação do agente no rebanho (PRESCOTT et al., 1988;
ELLIS et al., 1994; LIENBAUM et al., 1995; LANGONI et al., 2000; FAVERO et
al., 2001; ARAÚJO et al., 2005).
TABELA 5-Freqüência de aglutinação de sorovares em animais reagentes na prova de
soroaglutinação microscópica (SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005
AGLUTINAÇÕES SOROVARES Nº % bratislava 04 1,11 castellonis 04 1,11 canicola 04 1,11 gryppotiphosa 39 10,86 hebdomadis 46 12,81 icterohaemorrhagiae 05 1,39 pomona 09 2,50 pyrogenes 08 2,22 hardjo 116 32,31 wolffi 116 32,31 shermani 04 1,11 tarassovi 04 1,11
As co-aglutinações entre os sorovares hardjo e wolffi foram bastante
freqüentes, tendo sido observadas em 100% dos soropositivos para estes
sorovares (dados não apresentados). Este evento pode ser explicado pela
estreita afinidade antigênica de sorovares pertencentes ao mesmo sorogrupo,
como no caso destes sorovares, predispondo a reações cruzadas entre os
mesmos (ALONSO-ANDICOBERRY, 2001a; FAVERO et al., 2001; LILENBAUM
& SOUZA, 2003, ARAÚJO et al., 2005).
A infecção de bovinos pode ser classificada em dois grupos, baseados
no agente etiológico: o primeiro grupo seria infectado por cepas adaptadas e
mantidas pela espécie, como o sorovar hardjo; e o segundo grupo seriam
infecções acidentais por sorovares onde o reservatório natural seriam outras
espécies animais e neste caso as práticas de manejo seriam importantes na
infecção de bovinos susceptíveis (ELLIS, 1994). Esta afirmativa parece ser
aplicável aos rebanhos amostrados no presente trabalho, nos quais sorovares
hardjo e wolffi estariam sendo mantidos e disseminados pelos bovinos da
população e por isso apresentaram maior ocorrência.
76
Os demais sorovares, como hebdomadis e gryppothiphosa, que foram
menos prevalentes nos rebanhos amostrados, teriam sua ocorrência dependente
de espécies da fauna local e de contatos esporádicos dos bovinos com esses
reservatórios, e, por isso, foram detectados com menor freqüência. Ao
investigarem a soroprevalência de anticorpos anti-Leptospira spp em 328
amostras de animais silvestres de diferentes espécies, provenientes de MG, SP e
RJ, CORDEIRO et al. (1984) detectaram animais reagentes em seis espécies de
roedores e duas espécies de marsupiais. Os sorovares encontrados com maior
freqüência foram pomona, icterohaemorrhagiae, tarassovi e grippotyphosa. Já
GIRIO et al. (2004) identificaram alguns cervídeos sororeagentes para wolfii,
hardjo, mini, pomona e icterohaemorrhagiae e bratislava em amostras
provenientes do Pantanal Sul Matogrossense. Deve-se ressaltar que não há
estudos de soroprevalência para Leptospira spp na fauna silvestre do Cerrado da
região amostrada no presente estudo, sendo que seu conhecimento seria
fundamental na avaliação do impacto dessas populações na epidemiologia da
leptospirose bovina em sistemas de produção pecuária extensiva.
Os resultados encontrados, corroboraram as afirmativas de autores
como LANGONI et al. (2000), LILENBAUM & SOUZA (2003) e LOBO et al. (2004)
de que os estudos soroepidemiológicos seriam fundamentais para estabelecer
estratégias de controle da leptospirose bovina, pois podem orientar na utilização
de sorovares prevalentes para a fabricação de vacinas, indicar a necessidade de
realização de quarentena no momento da introdução de animais de diferentes
regiões ou recomendar o tratamento de possíveis portadores renais em fase de
leptospirúria.
5.4 CONCLUSÕES
De acordo com os resultados encontrados, pode-se concluir que a
positividade para brucelose apresentou-se dentro da expectativa para os Estados
de Goiás e Tocantins, sendo que a ocorrência de rebanhos sem animais positivos
sugere que a aplicação de estratégias de controle pode garantir a existência de
criatórios livres da doença.
77
A freqüência e título de anticorpos anti-Leptospira spp, embora
crescente com o avanço da idade, foi menor do que encontradas em outros
estudos realizados nos Estados de Goiás e Tocantins. Os fatores
edafoclimáticos, o tipo de fornecimento de água e a baixa lotação das pastagens
podem ter interferido em tal situação. Os sorovares mais prevalentes foram
hardjo e wolffi reforçando a importância da espécie bovina na manutenção e
disseminação desses sorovares como causadores da leptospirose. A ocorrência
de positividade para outros sorovares como hebdomadis e grippotyphosa sugere
a participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose bovina.
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81
CAPÍTULO 6
HEMOGRAMA E FUNÇÃO FAGOCITÁRIA DE LEUCÓCITOS DE VACAS DE
RAÇAS NATURALIZADAS (Bos taurus) E MESTIÇAS (Bos taurus X Bos
indicus)
Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Maria Imaculada
Muniz Junqueira3, Adriana Reis Bittencourt Silva4, Saura Nayane de Souza4;
Helton Freires de Oliveira5, Shirley Claudino Pereira Couto6
1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected]
2- Médica Veterinária, Profa. Dra. da EV/UFG. [email protected]
3- Médica, Profa. Dra. da FAMED/UnB. [email protected]
4- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],
5- Técnico do Laboratório de Patologia Clínica do HV/UFG. [email protected]
6- Técnica do Laboratório de Imunologia Celular da FM/ UnB. [email protected]
RESUMO Com o objetivo de avaliar os parâmetros hematológicos e a função fagocitária de
leucócitos de bovinos, por meio de uma microtécnica padronizada para seres
humanos, foram utilizadas 31 vacas adultas, 16 de raças naturalizadas (G1) e 15
mestiças ¾ Nelore X Simental (G2). Foram colhidas amostras de sangue para
realização de hemograma e avaliação in vitro de aderência, fagocitose e redução
de nitroblue tetrazolium (NBT). Os resultados revelaram que o G2 teve valores
médios de bastonetes e eosinófilos acima dos valores de normalidade e alguns
valores do hemograma foram significativamente maiores (p<0,05) que o G1. O
G1 apresentou maior aderência de neutrófilos que o G2 (p<0,05). A fagocitose de
leveduras sensibilizadas (S) foi maior que não sensibilizadas (NS) no G1 e G2. A
ingestão de partículas avaliadas por meio do índice fagocitário foi mais
homogênea no G1 e a porcentagem de redução de NBT foi maior em ambos os
82
grupos do que os valores descritos na literatura. Entretanto, não houve diferença
entre os grupos e as médias encontradas no teste estimulado com leveduras
(NBT-E) foram menores que no teste não estimulado (NBT-NE). Concluiu-se que
vacas mestiças apresentaram variações hematológicas em relação a vacas
naturalizadas, a via de ativação da fagocitose pelos receptores de Fc e
complemento foi importante em ambos os grupos e a ativação via receptores de
lectinas apresentou um diferencial nos animais de raças naturalizadas. A redução
de NBT foi semelhante em ambos os grupos testados e apresentaram
porcentagens médias maiores quando não estimuladas por leveduras.
Palavras-chave: aderência, bovino, fagócitos, metabolismo oxidativo, raças
naturalizadas.
ABSTRACT With the aim to evaluate hematological and phagocytosic functions in bovine white
blood cells, and by using a standard human microtechnique, 31 adult cows were
studied, 16 of native breeds and 15 of mixed ¾ Nelore X Simental breeds. Blood
samples were collected to undergo hemogram, in vitro evaluation of adherence,
phagocytosis and nitroblue tetrazolium (NBT) reduction. Results showed that G2
had average band neutrophils and eosinophils values above normality and
significantly more erythrocytes, hemoglobin and globular size than G1 (p<0,05).
G1 had a higher neutrophil adherence than G2 (p<0,05). Phagocytosis of
sensitive yeast (S) was higher than the non-sensitive one (NS) in both groups.
The ingestion of yeast particles which were assessed by the phagocytosic index
was more homogeneous in G1 and NBT’s reduction rate was higher in both
groups than the values which are cited in the literature. However, there were no
differences between groups and averages were higher in the test without
stimulated NBT reduction than in the test with stimulated NBT reduction, in both
groups. In conclusion, cows of mixed breed revealed hematological differences in
relation to native breeds, Fc and complement receptors were important to
phagocytosis activation in G1 and G2 and lectins receptors revealed a different
83
action in native breeds. NBT reduction was similar in both groups and showed
higher average percentages when no stimulus was made by sensitive yeast.
Key words: adherence, bovine, phagocytes, oxidative metabolism, native breeds
6.1 INTRODUÇÃO
A fagocitose é um mecanismo de defesa da imunidade inata que
envolve etapas de adesão, ingestão e destruição de partículas antigênicas por
células denominadas fagócitos. A partir da interação da célula com o patógeno e
na dependência do tipo de partícula, ocorre uma série de eventos com a
participação de sinais intracelulares que desencadeiam alterações no
citoesqueleto, na membrana, iniciam-se mecanismos microbicidas, há produção
de mediadores químicos, ativação de apoptose e a apresentação do antígeno ao
sistema imunológico adaptativo (UNDERHILL & OZINSKY, 2002a).
Uma característica marcante da imunidade inata é a capacidade de
reconhecer uma grande diversidade de patógenos, utilizando os receptores para
padrões moleculares de patógenos, além de receptores para opsoninas como os
componentes do sistema do complemento e os receptores para a fração Fc da
imunoglobulina G (UNDERHILL & OZINSKY, 2002b). Os sinais necessários para
a ingestão da partícula e o arranjo das proteínas do citoesqueleto no fagossoma
dependem do receptor que foi ativado: receptores para porção Fc de
imunoglobulina (FcR), receptores para complemento (CR) ou receptores para
manose e fucose (MR). A utilização de cada tipo de receptores como via de
ativação da fagocitose também resulta na produção de diferentes mediadores
químicos do processo inflamatório (ADEREM & UNDERHILL, 1999).
É indiscutível a importância da fagocitose na proteção do organismo
contra patógenos e a complexidade de cada etapa desse evento não permite a
elucidação completa de todos os mecanismos e seus componentes, mesmo
dispondo de métodos laboratoriais avançados para avaliação do sistema
imunológico.
84
Os métodos utilizados para avaliação das etapas de fagocitose
necessitam, inicialmente, realizar a separação dos leucócitos, em geral por
centrifugação em gradiente de densidade, com camadas de hypaque ficoll ou
percoll (MOREL et al., 1985) seguido da lavagem em tampão fosfato PBS
(RAINARD, 1986). Após a esse procedimento inicial, as células podem ser
testadas por métodos isolados para avaliar a função fagocitária em cada uma das
etapas. A aderência é estudada pela contagem do número de linfócitos que
atravessam uma coluna de fios de náilon padronizada para essa finalidade
(CLARK et al., 1979) ou pela investigação de receptores celulares de adesão por
meio de imunocitoquímica (SMITS et al., 1998). A ingestão de partículas pode ser
investigada em ensaio utilizando microplacas, por uma metodologia descrita por
RAINARD, (1986) e a etapa final da fagocitose, a explosão respiratória pode ser
avaliada indiretamente pela redução de nitroblue tetrazolium (NBT) utilizando
microscópio óptico na visualização das células contendo formazan no citoplasma
(POLI & MANTELLI, 1974) ou quantificando a redução por leitura da densidade
óptica pelo método de ELISA (PICK, 1986).
MUNIZ-JUNQUEIRA et al. (2003) padronizaram para humanos uma
microtécnica de avaliação da fagocitose in vitro, destacando como vantagens, em
relação às técnicas convencionais: a sua capacidade de detectar falhas primárias
e secundárias na fagocitose, utilizando um único teste, a facilidade e rapidez na
execução, o baixo custo e a menor manipulação das células, o que
conseqüentemente aumenta a confiabilidade do teste.
As raças bovinas naturalizadas chegaram ao Brasil com os
colonizadores portugueses e desde então vêm sofrendo um processo de seleção
natural e adaptação a condições ambientais e nutricionais desfavoráveis
(CARVALHO & GIRÃO, 1999). Sua resistência às enfermidades que mais
frequentemente afetam os rebanhos bovinos é popularmente conhecida e
divulgada, porém desconhece-se por completo a fisiologia do sistema
imunológico desses animais.
Este trabalho teve como objetivo, realizar a avaliação hematológica e
funcional in vitro das etapas de aderência, ingestão e explosão respiratória do
processo de fagocitose de leucócitos, em vacas de raças naturalizadas e
mestiças.
85
6.2 MATERIAL E MÉTODOS
6.2.1 Animais
Utilizou-se um total de 31 animais, pertencentes ao rebanho da
Fazenda Sucupira / EMBRAPA-CENARGEN, que foram divididos em dois
grupos: O grupo 1 (G1) foi formado por 16 fêmeas bovinas das seguintes raças
naturalizadas: Curraleiros (n=10), Crioulo Lageano (n=3), Mocho Nacional (n=2) e
Junqueira (n=1), com idades variando entre 3,5 e 15 anos. O grupo 2 (G2) foi
constituído por 15 vacas mestiças 3/4 Nelore X Simental, 3,5 anos de idade.
Todos os animais encontravam-se não gestantes e estavam sendo submetidas
às mesmas condições ambientais e de manejo.
As amostras de sangue para os testes de fagocitose foram obtidas
durante cinco dias consecutivos e, no último dia, colheram-se também amostras
para o hemograma e o exame de fezes.
6.2.2 Colheita e processamento das amostras
A) Hemograma e exame de fezes
De todos os animais do experimento, foram obtidos 5,0 ml de sangue
por venopunção da jugular em tubo de vácuo com EDTA para o hemograma. A
contagem das células sanguíneas foi determinada pelo método automático
utilizando-se o aparelho ABCvet (Animal Blood Counte – Horiba ABX – São
Paulo), adaptado com o cartão próprio de leitura para a espécie bovina. As fezes
foram colhidas diretamente do reto com luvas plásticas.
B) Testes de fagocitose
As amostras de sangue total foram colhidas por venopunção jugular em
tubo de vácuo heparinizado (5ml), acondicionados imediatamente em isopor com
gelo e levados ao laboratório, em um prazo máximo de uma hora. Para garantir a
rapidez de execução dos exames obtiveram-se, em cada período do dia (manhã
e tarde), seis amostras.
Os procedimentos para realização da aderência, do teste de fagocitose
e do teste de redução do nitroblue tetrazolium (NBT), usados para este estudo
86
foram padronizados, validados para espécie humana e descritos por MUNIZ-
JUNQUEIRA et al. (2003) e MUNIZ-JUNQUEIRA et al. (2004), respectivamente.
As principais etapas estão descritas a seguir:
B1) Aderência de fagócitos
Foram colocados 40µl do sangue de cada animal em lâminas de
microscopia contendo oito escavações de 7mm de diâmetro delimitada com epóxi
(Figura 1). As preparações foram incubadas em câmara úmida a 37ºC por 45
minutos e em seguida lavadas delicadamente com salina tamponada fosfato
(PBS), pH 7,2 a 37ºC, para retirar as células não aderidas (hemácias e linfócitos).
As lâminas foram secas em vento quente, fixadas com metanol absoluto por 1
minuto e contra-coradas com Giemsa a 10% por 10 minutos.
FIGURA 1 - Lâmina de microscopia contendo escavações
delimitadas com epóxi, utilizadas na microtécnica para avaliação in vitro da função fagocitária de bovinos
Para obter o número de fagócitos que aderiram à lâmina, realizou-se a
contagem do total de neutrófilos, eosinófilos e monócitos que estavam aderidos
em uma área equivalente a 10% da área total da escavação, para todos os
animais dos dois grupos experimentais. Obteve-se a média para cada um dos
grupos estudados.
87
B2) Preparo das leveduras para uso
As leveduras utilizadas eram da solução de estoque do Laboratório de
Imunologia Celular da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília
(FM/UnB) e foram preparadas segundo a técnica de Lachman & Hobart (1978)
Desta suspensão foram obtidos 50µl, que foram lavados por centrifugação com
PBS e ressuspensas em 1000 µl de PBS (pH 7,2). Foi feita a contagem das
leveduras em câmara de Neubauer e a diluição em Hanks-tris (Sigma, St. Louis,
MO, USA) para obter-se 62.000 leveduras em 20µl de solução, correspondendo à
proporção de 45 leveduras por fagócito aderido e 250.000 leveduras em 20µl de
solução correspondendo à proporção de 180 leveduras por fagócito aderido. A
partir desta suspensão foram preparadas as leveduras não sensibilizadas e
sensibilizadas, nas proporções acima definas para a realização dos testes de
fagocitose e NBT.
A suspensão de leveduras não sensibilizadas (NS) foi incubada em
banho-Maria, a 37ºC por 30 min, com soro fetal bovino (SFB) previamente
inativado a 56ºC por 30 min, a 10%, em Hanks-tris (Sigma, St. Louis, MO, USA).
A suspensão de leveduras sensibilizadas (S) foi preparada pela
incubação das mesmas em banho-Maria a 37ºC, por 30 minutos, com 10% de
plasma fresco dos próprios animais dos experimentos, objetivando opsonisar as
leveduras com os componentes do complemento e anticorpos presentes no soro
fresco dos animais.
B3) Teste de fagocitose
Para o teste de fagocitose foram realizados os procedimentos iniciais
da etapa de aderência, até a lavagem com PBS (pH 7,2) para obtenção dos
fagócitos. Em seguida, 20µl de suspensão de leveduras S e NS (Figura 2) foram
pipetadas em duplicata sobre as escavações contendo os fagócitos aderidos. As
lâminas foram incubadas em câmara úmida, a 37ºC por 30 minutos.
Posteriormente, foram lavadas com PBS (pH 7,2) e pingou-se uma gota solução
Hanks-tris com 30% de SFB. As lâminas foram secas com ar quente, fixadas com
metanol absoluto por 1 minuto, e coradas com Giemsa a 10% por 10 minutos.
88
A contagem de 100 neutrófilos, 100 monócitos, e 100 eosinófilos foi feita
em microscópio óptico (aumento de 1000X), observando quantas células
fagocitaram e quantas leveduras foram fagocitadas por célula. Nos casos em que
ocorreu baixa percentagem de células aderidas e não for possível contar 100
células para cada tipo de fagócito a os valores foram calculados utilizando a
proporcionalidade.
O índice fagocitário (IF) foi obtido utilizando-se a seguinte fórmula:
IF=__nº de leveduras fagocitadas__ X % de fagócitos que fagocitaram nº de células que fagocitaram
FIGURA 2- Modelo de lâmina utilizada para o teste de fagocitose in
vitro, contendo oito escavações e os locais de pipetagem das diluições de leveduras (1/45 e 1/180) sensibilizadas (S) e não sensibilizadas (NS)
B4) Teste de NBT
A etapa inicial segue o protocolo descrito para a aderência de
fagócitos, até o momento de lavagem com PBS (pH 7,2). Em seguida pipetou-se
20µl de solução de NBT (Sigma, St. Louis, MO, USA) a 0,05% em Hanks-tris em
todos os círculos e 20µl de leveduras S na diluição de 1:45 em metade dos
círculos (Figura 3). As lâminas foram novamente incubadas em câmara úmida a
37ºC por 20 minutos. Posteriormente, foram lavadas com PBS (pH 7,2) e pingou-
se uma gota solução Hanks-tris com 30% de SFB. As lâminas foram secas com
ar quente, fixadas com metanol absoluto por 1 minuto e coradas com safranina a
0,05% por 5 minutos.
As preparações foram examinadas ao microscópio óptico, contando-se
200 células nas escavações que não foram estimuladas (NBT-NE) e outras 200
nas escavações que foram estimuladas com leveduras sensibilizadas (NBT-E).
Obteve-se dessa forma, a porcentagem de fagócitos que reduziram (R) e não
reduziram (NR) o NBT.
1/45 S
1/45 S
1/45 NS
1/45 NS
1/180 S
1/180 S
1/180 NS
1/180 NS
Identificação do animal
89
FIGURA 3 - Modelo de lâmina utilizada para o teste de redução de NBT in
vitro, contendo oito escavações, a diluição de leveduras (1/45) sensibilizadas (S) e os locais de pipetagem de NBT
As células contadas no teste NBT-E foram subdivididas em: reduziram
NBT e fagocitaram (RF), reduziram NBT e não fagocitaram (RNF), não reduziram
NBT e fagocitaram (NRF) e não reduziram NBT nem fagocitaram (NRNF).
Para a execução das provas de função fagocitária é fundamental
efetuar os procedimentos com rapidez, manter a umidade do ambiente, a
temperatura sempre próxima de 25ºC, o material muito limpo e as lâminas
desengorduradas.
6.2.3 Análise estatística
Foi realizada estatística descritiva, com o cálculo da média, desvio
padrão, mediana e coeficiente de variação (CV) dos resultados obtidos nas
diversas avaliações. As variáveis do hemograma, aderência, fagocitose e
redução de NBT foram analisadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov para
verificar a normalidade dos resultados e optou-se pelos testes de Mann &
Whitney ou Kruskall Wallis para dados não paramétricos, utilizando a mediana na
exposição gráfica dos resultados e teste de t para dados paramétricos, utilizando
a média na exposição gráfica dos resultados. Os indivíduos que apresentaram
valores muito distantes da maioria do grupo (outliers) foram demonstrados nos
gráficos e tabelas, mas excluídos da análise estatística. Utilizou-se o programa
GraphPad Prism Software (San Diego USA) para efetuar a análise estatística.
NBT
NBT
NBT
NBT
1/45 S NBT
1/45 S NBT
1/45 S NBT
1/45 S NBT
Identificação do animal
90
6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados dos hemogramas estão descritos na Tabela 1; os valores
encontrados para o G1 estavam dentro dos limites descritos por PAULA NETO
(2004) para animais da raça Curraleiro. O G2 apresentou valores de bastonetes e
eosinófilos acima dos limites citados por COSTA (1994) para a raça Nelore, além
de apresentar linfócitos atípicos na contagem diferencial de leucócitos. TABELA 1 - Valor médio (⎯X), desvio padrão (sd), mediana (med) e coeficiente de variação (CV)
das variáveis de hemograma em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)
Variável do hemograma Função G1 G2 ⎯X ± sd 7,70 ± 0,81 9,01 ± 0,77 Med 7,56 9,09
Hemácias x106/µ l
CV 10,52 8,57 ⎯X ± sd 11,68 ± 1,11 12,97 ± 1,20 Med 11,35 13,30
Hemoglobina g/dl
CV 9,49 9,22 ⎯X ± sd 39,21 ± 3,73 43,15 ± 3,85 Med 38,05 44,30
VG %
CV 9,51 8,92 ⎯X ± sd 10,69 ± 1,97 11,51 ± 2,68 Med 11,00 10,80
Leucócitos x103/µ l
CV 18,42 23,29 ⎯X ± sd 160,88 ± 75,08 253,93 ± 131,71 Med 128,00 246,00
Bastonetes /µ l
CV 46,67 51,87 ⎯X ± sd 2.783,19 ± 900,34 2.900,20 ± 768,02 Med 2595,50 2746,00
Segmentados /µ l
CV 32,35 26,48 ⎯X ± sd 1.232,94 ± 795,60 1.829,73 ± 1.204,76 Med 1044,00 1313,00
Eosinófilos /µ l
CV 64,53 65,84 ⎯X ± sd 6.127,56 ± 1405,94 5.962,80 ± 1335,53 Med 6257,50 5760,00
Linfócitos /µ l
CV 22,94 22,40 ⎯X ± sd 0,00 113,00 ± 19,20 Med 0,00 111,00
Linfócitos atípicos /µ l
CV 0,00 16,99 ⎯X ± sd 394,31 ± 266,06 510,47 ± 184,60 Med 282,00 460,00
Monócitos /µ l
CV 67,47 36,16 ⎯X ± sd 0,00 0,00 Basófilos /µ l Med 0,00 0,00 ⎯X ± sd 0,48 ± 0,21 0,50 ± 0,16 Med 0 0,45
Relação neutrofilo: linfócito
CV 43,69 32,15
Nos ruminantes, o compartimento medular de reserva de neutrófilos
segmentados é bastante pequeno. Diante de uma maior demanda de neutrófilos,
91
a medula óssea libera bastonetes e outros neutrófilos imaturos, caracterizando
um desvio à esquerda degenerativo, quando esse processo é acompanhado por
valores normais ou diminuídos de segmentados e linfócitos. Em bovinos essa
situação está associada a condições agudas de estresse, pode manter-se por
seis a 24 horas e, progressivamente, passa a ocorrer a liberação de neutrófilos
maduros pela medula (JAIN et al., 1989, JAIN, 1993). COPPO et al. (2000)
relataram que, em bovinos, o aumento de eosinófilos estava relacionado à
liberação de catecolaminas em situações de manipulação, contenção ou colheita
de sangue dos animais. A eosinofilia, nesse caso, pode ou não estar
acompanhada do aumento da quantidade de outros leucócitos no sangue
periférico, mas é essencialmente passageira e o quadro é denominado “síndrome
de luta e fuga” ou “alarme simpático”. Isso pode explicar os resultados
encontrados no presente trabalho, reforçado pelo fato de que o temperamento
dos animais do G2 ser visivelmente mais irritadiço durante os procedimentos de
colheita de material, além disso, a ausência de sinais clínicos e o resultado
negativo no exame parasitológico de fezes diminuem a chance de ocorrência de
condições patológicas responsáveis pela eosinofilia observada nestes animais.
A média dos valores da relação neutrófilos/linfócitos (N/L) não
apresentou diferença significativa (p>0,05) entre os dois grupos avaliados. O
calculo de N/L é um dos parâmetros utilizados para avaliar a condição de
estresse do animal, frente à determinada situação (ANDERSON et al., 1999).
MARTINEZ et al. (1993) relataram que valores acima de 0,5 foram indicativos de
estresse neurogênico (resultante da liberação de catecolaminas) em novilhas
Nelore e que a diminuição gradativa dessa relação ocorre quando os animais se
adaptam à situação estressante. Como a colheita de sangue para hemograma foi
realizada ao término do período de manejo dos animais, após cinco dias, o fato
de G1 apresentar N/L semelhante ao G2, porém, sem alterações significativas no
leucograma (eosinofilia e número de bastonetes aumentados), sugerem uma
menor condição de estresse neurogênico nos animais de raças naturalizadas.
O linfócito atípico ou reativo é um tipo celular que pode ocorrer em
condições leucêmicas e não leucêmicas, mas também pode ser resultante de
artefatos provocados pelo tempo de estocagem do sangue com anticoagulante
(JAIN, 1993). Os linfócitos atípicos foram encontrados em bovinos infectados pelo
92
vírus da leucemia bovina (BLV) em quantidades elevadas (BLOOM et al., 1979;
SOUTHWOOD et al., 1996) e casos de linfoma juvenil (HARBO et al., 2004)
Sendo assim, diante dos resultados encontrados no presente trabalho, sugere-se
que sua ocorrência no G2 tenha sido provocada pelo tempo de estocagem em
anticoagulante, até o momento da realização do esfregaço, já que ocorreu em
pequena quantidade, em alguns animais e não foi acompanhado de qualquer
outra alteração no hemograma.
O G2 apresentou valores significativamente maiores (p<0,05) de
hemácias, hemoglobina, VG e monócitos do que G1. Esses resultados foram
considerados característicos da raça, já que essas variáveis tiveram seus valores
dentre os valores de referência consultados (COSTA, 1994).
Na Tabela 2 foram descritos os valores médios encontrados no teste de
aderência dos fagócitos. O neutrófilo foi o tipo de fagócito que teve maior média
de células aderidas nas lâminas, em ambos os grupos avaliados, porém, no G1 a
aderência de neutrófilos foi significativamente maior que no G2 (p<0,05).
TABELA 2 - Valor médio, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) do número total de fagócitos, neutrófilos, monócitos e eosinófilos no teste de aderência, em vacas de raças nativas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)
Fagócito Função G1 G2
Média 1.916,5 865,3
Desvio padrão 1.509,0 569,3
Nº de células aderidas CV 78,7 65,8
Média 1.455,2 571,1
Desvio padrão 1.363,2 370,2
Nº de neutrófilos
CV 93,7 64,8
Média 120,4 108,6
Desvio padrão 130,7 72,1
Nº de monócitos
CV 108,6 66,4
Média 329,1 190,1
Desvio padrão 316,8 162,2
Nº de eosinófilos CV 96,3 85,3
As β2-integrinas (CD11a, b, c / D18) e a L-selectina (CD62L) são as
moléculas de adesão presentes nos polimorfonucleares (PMN) de bovinos e
responsáveis pelo processo de ligação com moléculas de adesão endotelial que
93
precede a diapedese dessas células, da circulação para o foco inflamatório. A β2-
integrina de maior expressão em PMN de bovinos é CD11b/CD18. O aumento de
glicocorticóides plasmático, seja pela aplicação de homônio adrenocorticotrófico
ou em condições fisiológicas como o periparto, diminui a expressão das
moléculas de adesão (LEE et al., 1998). Com base nessa informação pode-se
formular a hipótese de que as vacas mestiças Nelore X Simental, utilizadas no
presente trabalho, por apresentarem um temperamento mais sanguíneo, podem
ter respondido ao estímulo da colheita de sangue com um aumento momentâneo
nos níveis de cortisol, diminuindo então a capacidade de aderência dos
neutrófilos. Uma segunda hipótese sugerida é que a presença de uma maior
quantidade de bastonetes nesses animais tenha interferido no processo de
adesão in vitro. Esse fato pode ser justificado pela afirmativa de ANDERSON et
al. (1981) os quais afirmaram ser a atividade de aderência e a quimiotaxia de
neutrófilos segmentados duas vezes maiores que as de bastonetes, por
apresentarem maior quantidade de ATP.
Os resultados obtidos no teste de fagocitose foram apresentados na
Tabela 3. As médias dos índices fagocitários (IF) foram maiores quando as
células estiveram incubadas com leveduras S, nas duas proporções de leveduras
(1/45 e 1/180), para ambos os grupos, sugerindo que a fagocitose ativada por
RFc e CR é bastante importante nesses animais.
O primeiro evento que ocorre antes do processo de fagocitose, é o
contato, o reconhecimento do patógeno. O reconhecimento antigênico inicia-se
com o processo de opsonização que pode ocorrer pela porção Fab das
imunoglobulinas (IgM e IgG2) e pela ligação de suas porções Fc aos receptores
de membranas dos PMN (RFc). O componente do complemento, denominado
C3b também é capaz de realizar a opsonização de partículas e ligar-se aos
receptores CR1 dos PMN de bovinos, a expressão de CR1 é regulada pela
produção de mediadores inflamatórios (HOWARD et al., 1980; DI CARLO et al,
1996). WORKU et al. (1994) descreveram a expressão de RFc para IgM e IgG2
em PMN de bovinos durante o processo de fagocitose e ressaltaram que muitas
substâncias, inclusive as endotoxinas bacterianas são capazes de interferir na
expressão desses receptores e alterar o processo de fagocitose, demonstrando
que sua dinâmica de controle está relacionada a uma série de fatores externos.
94
Essa complexidade de substâncias que interferem na fagocitose pode explicar a
grande diversidade de valores encontrados nos grupos estudados e a
necessidade de maiores investigações da participação dessas substâncias nos
processos de imunidade inata de bovinos.
TABELA 3-Valores médios do índice fagocitário (IF) total e diferencial de fagócitos em duas concentrações de leveduras (1/45 e 1/180), sensibilizadas (S) e não sensibilizadas (NS), em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)
G1 G2 IF
Valores 1/45 S 1/45NS 1/180S 1/180NS 1/45 S 1/45NS 1/180S 1/180NS
Média 19,50 11,11 20,98 6,56 75,69 4,17 29,81 5,32
DP 13,13 18,94 32,90 11,40 180,13 8,30 45,71 12,67
IF total
CV 67,37 170,50 156,84 173,86 237,97 199,00 153,37 238,02
Média 27,88 20,54 35,99 10,42 145,21 5,73 62,52 6,13
DP 13,53 24,00 41,78 14,82 291,06 8,89 65,19 7,06
IF de neutrófilos
CV 48,55 116,82 116,10 142,21 200,44 155,04 104,27 115,16
Média 16,39 9,44 14,16 4,78 25,77 3,06 16,18 8,97
DP 11,17 19,01 24,87 10,06 36,41 8,65 17,46 20,39
IF de monócitos
CV 68,2 201,4 175,6 210,3 141,3 282,8 107,9 227,3
Média 14,22 3,35 12,79 4,46 61,15 4,00 10,72 0,87
DP 10,85 4,97 25,82 7,90 98,80 7,90 16,67 1,60
IF de eosinófilos CV 76,30 148,48 201,90 176,93 161,58 197,53 155,47 184,34
Animais do G2 apresentaram valores médios de IF maiores que do G1
(Tabela 3), porém não houve diferença estatística entre os grupos, exceto quando
submetidos ao desafio com leveduras 1/45 NS. Considerando que o coeficiente
de variação foi muito elevado, torna-se mais adequada a representação gráfica
da distribuição dos IF dentro das duas populações estudadas (Figuras 4 a 7).
O G2 alcançou médias mais elevadas em ambas as diluições contendo
leveduras sensibilizadas, com uma distribuição irregular da freqüência, pois
alguns indivíduos possuíam IF muito elevado, mas uma freqüência expressiva de
indivíduos com IF próximo de zero, especialmente de neutrófilos. Por outro lado,
a distribuição da freqüência de IF no G1, foi mais homogênea e houve maior
concentração de indivíduos apresentando valores próximos da mediana (Figura 4
e 5). Embora a resposta imune seja fundamental para a defesa contra a maioria
de agentes infectantes, há evidências de que em muitas situações os aspectos
patológicos não estão relacionados com uma ação direta do agente agressor,
95
mas sim com uma resposta imune exagerada e não modulada que tem como
conseqüência dano tecidual (MACHADO et al., 2004). Portanto, o padrão de
resposta imunológica mais homogêneo e linear apresentado pelas raças
naturalizadas, pode estar relacionado ao processo de adaptação e
desenvolvimento da resistência a patógenos desses animais.
G1 G2
-5
45
95
145
195
245
295p=0,79
1/45 S
Índi
ce F
agoc
itário
de n
eutró
filos
G1 G2-5
45
95
145
195
245
295p=0,62
1/45 S
Índi
ce fa
goci
tário
de m
onóc
itos
G1 G2-5
45
95
145
195
245
295
p=0,90
1/45 S
Índi
ce fa
goci
tário
de e
osin
ófilo
s
FIGURA 4 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas de
raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 45 leveduras S por fagócito
G1 G2-5
45
95
145
195
245
295p=0,54
1/180 S
Índi
ce fa
goci
tário
de n
eutró
filos
G1 G2-5
45
95
145
195
245
295p=0,59
1/180 S
índi
ce fa
goci
tário
de m
onóc
itos
G1 G2-5
45
95
145
195
245
295 p= 0,60
1/180 S
Índi
ce F
agoc
itário
de
eosi
nófil
os
FIGURA 5 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas de
raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 180 leveduras S por fagócito
O G1 apresentou IF significativamente (p<0,05) maior quando
submetido ao desafio com leveduras 1/45NS (Figura 6) e este resultado pode
indicar que a fagocitose ativada por receptores de colectinas é uma via
importante para esses animais, assim sendo, esses indivívuos teriam a
imunidade inata mais eficiente frente ao contato com o agente agressor. As
colectinas são proteínas oligoméricas que possuem uma ligação cálcio
dependente com as lecitinas; entre elas estão: a proteína ligante da manose
96
(MBP), proteína surfactante pulmonar-A e D (SP-A e SP-D) e finalmente duas
colectinas plasmáticas presentes somente em bovídeos, a conglutinina e
colectina-43 (CL-43). Essas proteínas são sintetizadas pelo fígado, ligam-se a
uma variedade de microrganismos Gram positivos e negativos, além de leveduras
parasitas e vírus, agindo como opsoninas, promovendo a fagocitose através da
interação com receptores específicos dos fagócitos. Além disso, a MBP é capaz
de ativar o sistema do complemento pela via das lectinas, incrementando a
resposta imunológica (HOLMSKOV, 2000).
A diminuição nos valores de IF é evidente quando se utilizou uma
proporção maior de leveduras (1/180) em ambos os grupos avaliados (Figura 5 e
7), sugerindo que em situações críticas de exposição ao patógeno, há uma queda
na capacidade fagocitária dos bovinos.
G1 G2-5
20
45
70
95 p=0,02
1/45 NS
Índi
ce F
agoc
itário
de n
eutró
filos
G1 G2-5
20
45
70
95p= 0,45
1/45NS
Índi
ce fa
goci
tário
de m
onóc
itos
G1 G2-5
20
45
70
95 p= 0,45
1/45 NS
Índi
ce fa
goci
tário
de
eosi
nófil
os
FIGURA 6 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas
de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 45 leveduras NS por fagócito
G1 G2-5
20
45
70
95 p=0,63
1/180 NS
Índi
ce F
agoc
itário
de
neut
rófil
os
G1 G2-5
20
45
70
95 p=0,46
1/180 NS
Índi
ce F
agoc
itário
de
mon
ocito
s
G1 G2-5
20
45
70
95 p=0,50
1/180 NS
Índi
ce F
agoc
itário
de
eosi
nófil
os
FIGURA 7 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas
de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando desafio na proporção de 180 leveduras NS por fagócito
97
A Figura 8 contém resultados que demonstram que animais do G1
apresentaram maior porcentagem de redução de NBT-NE (p<0,01) enquanto que
o G2 mostrou maior porcentagem de redução no teste de NBT-E (p>0,05). Foi
possível verificar que quando submetidos ao estímulo de leveduras os leucócitos
do G1 diminuíram a redução de NBT enquanto aquelas dos indivíduos do G2
apresentaram comportamento inverso. Entretanto, ambos mantiveram resultados
semelhantes, sugerindo que a explosão respiratória destes animais ocorre com a
mesma intensidade. O teste de redução do NBT foi um método desenvolvido para
a determinação da atividade oxidativa de neutrófilos, pois avalia indiretamente a
capacidade de produção de substâncias bactericidas e consequentemente a
eliminação do patógeno (NATHAN et al, 1969). Valores médios obtidos no teste
não estimulado, do presente trabalho, estão acima dos resultados encontrados
por POLI & MANTELLI (1974), que citaram uma média de 1,35% de redução,
avaliando 45 animais com idade de três anos. Foram encontrados valores
maiores de redução de NBT-E e NBT-NE do que PEIXOTO et al. (2002) que
trabalharam com 20 animais com idade entre 30 e 90 dias e encontraram 6,00 ±
12,10% e 29,90 ± 29,5%, respectivamente e COSTA et al. (2004) que relataram
uma média de 10,00% e 33% em bezerros com 150 dias de idade. Essas
disparidades de resultados podem ser explicadas pela variação individual na
capacidade de redução dos neutrófilos, pela diferença entre métodos aplicados
(VAN MERRIS et al., 2002) e pela variação entre faixas etárias, uma vez que
animais mais jovens reduzem menos NBT (PEIXOTO et al., 2002; COSTA et al.,
2004).
Os valores de redução de NBT-E foram menores que NBT-NE, na
maioria dos indivíduos dos dois grupos estudados, característica inversa aos
resultados apresentados na literatura consultada, no qual o NBT-E apresentou
valores maiores que a prova NBT-NE (PEIXOTO et al., 2002; COSTA et al.,
2004).
98
G1 G20
25
50
75
100
p= 0,01
% d
e re
duçã
o do
NB
T
G1 G20
25
50
75
100p=0,72
% d
e re
duçã
odo
NB
T-E
NBT-NE NBT-E0
25
50
75
100
% d
e re
duçã
o d
o N
BT n
o G
1
NBT-NE NBT-E0
25
50
75
100
% d
e re
duçã
odo
NBT
no
G2
FIGURA 8 -Porcentagem de redução do NBT-NE e NBT-E em vacas de raças naturalizadas
(G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)
Ao avaliarem-se as categorias de resultados da prova de redução do
NBT-E (Tabela 4), foi possível verificar que não houve diferença significativa
entre G1 e G2. A porcentagem de células NRNF, consideradas como inativas, foi
significativamente (p<0,01) maior que RF em ambos os grupos. A categoria RF é
considerada ideal de resposta do NBT-E, pois indica a ingestão e eliminação do
patógeno.
A porcentagem de células que reduziram o NBT, mas não fagocitaram
(RNF) foi significativamente maior (p<0,01) que RF em ambos os grupos,
sugerindo que a produção de compostos oxidativos ocorreu, mesmo sem a
ingestão do patógeno. Esta ocorrência é indesejável, tendo em vista que esses
produtos do metabolismo oxidativo de neutrófilos são deletérios para as células
do hospedeiro (MILLER & BRITIGAN, 1997).
99
TABELA 4 - Valores médios da porcentagem de fagócitos relacionando a redução de NBT-E, em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)
% de Fagócitos Função G1 G2
Média 4,3 8,92 DP 3,9 15,39
Reduziram e
Fagocitaram CV 44,7 86,22 Média 31,5 37,42 DP 20,1 14,96
Reduziram e
Não fagocitaram CV 31,9 19,99 Média 6,7 11,73 DP 6,7 7,99
Não reduziram e
Fagocitaram CV 50,0 34,04 Média 57,5 45,38 DP 20,6 17,80
Não reduziram e
Não fagocitaram CV 18,0 19,61
No G1 não houve diferença significativa (p>0,05) entre RF (categoria
ideal) e a porcentagem de células que não reduziram o NBT, mas fagocitaram
(NRF). A categoria NRF indica a probabilidade de mecanismos de escape do
patógeno dentro da célula de defesa. Ao ser fagocitado e não eliminado pelo
processo de explosão respiratória, há possibilidade de replicação do agente sem
ser detectado pelos componentes do sistema imunológico (MILLER & BRITIGAN,
1997; MACHADO et al., 2004).
CONCLUSÕES
O presente trabalho é o primeito estudo do sistema de fagócitos
realizado com raças naturalizadas brasileiras e diante dos resultados
apresentados foi possível observar que as mesmas apresentam maior eficiência
na construção da resposta da imunidade inata, tida como primeira linha de defesa
do organismo contra patógenos.
As vacas mestiças apresentaram número de eosinófilos e bastonetes
aumentados e valores de hemácia, hemoglobina, volume globular e monócitos
maiores que vacas de raças naturalizadas. A ativação da fagocitose através de
receptores de Fc e de complemento mostrou-se semelhante entre os grupos e a
100
ativação, via receptores de lectinas apresentou melhores índices nos animais de
raças naturalizadas. As vacas de raças naturalizadas apresentaram maior
homogeneidade na etapa de ingestão da fagocitose. O metabolismo oxidativo
dos fagócitos foi semelhante entre os grupos avaliados e a redução de NBT foi
maior quando não estimulada por leveduras sensibilizadas.
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104
CAPÍTULO 7
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como base as observações realizadas durante a execução dos
trabalhos e as respostas obtidas pelos questionários é possível considerar que os
rebanhos de bovinos da raça Curraleiro são criados em sistemas de produção
extensiva, em pastagens nativas, matas e campos sujos de Cerrado, com o
mínimo necessário de manejo. Isso ocorre principalmente por não haver
perspectiva de retorno econômico da atividade, o abate dos animais é feito para
consumo local da carne ou esporadicamente quando há excedentes; alguns
criatórios vendem animais para tração de carros-de-boi. Como os animais são
bastante resistentes, o custo de manutenção do rebanho é baixo, a perpetuação
dos criatórios é favorecida. A atividade econômica principal dos criatórios, não é a
exploração pecuária do gado Curraleiro, este, entretanto, merece atenção
especial por parte dos proprietários porque, em geral, remetem a valores culturais
e tradicionais.
A introdução de material genético nos rebanhos por meio da compra de
touros e matrizes é muito pequena. Esse fato é bastante preocupante, pois
compromete a variabilidade genética da população e além de maiores pesquisas
na esfera da biotecnologia da reprodução animal, faz-se necessário o intercâmbio
entre os criadores para que sejam discutidos problemas, e que os mesmos
procurem soluções, independente das atividades de pesquisa.
Há, entretanto, a necessidade de maiores informações sobre aspectos
produtivos e reprodutivos da raça Curraleiro, que devem servir como argumentos
em estudos referentes à sanidade, reprodução e produção desses animais.
Em relação aos resultados obtidos nos trabalhos com a babesiose
bovina, pode-se afirmar, em linhas gerais, que os animais são infectados por B.
bovis e B. bigeminae, os rebanhos estudados apresentam-se em condições de
estabilidade enzoótica e não houver relatos de manifestações clínicas da doença.
A ausência de alterações hematológicas ou bioquímicas podem indicar que há
105
equilíbrio na relação hospedeiro-parasito, sugerindo resistência e adaptação dos
animais da raça Curraleiro, apesar de tratar-se de um Bos taurus.
O Neospora caninum está presente nos rebanhos de gado Curraleiro, a
transmissão vertical é provável e a transmissão horizontal parece sofrer
interferência de um ciclo silvestre, merecendo mais pesquisas para esclarecer
aspectos importantes do ciclo epidemiológico dessa enfermidade e o seu impacto
na população. O Toxoplasma gondii também está presente nos rebanhos de
gado Curraleiro, mas há necessidade de maiores investigações, utilizando outras
técnicas, sobre a intensidade de contato do parasito com os animais e isso seria
suficiente para comprometer a qualidade sanitária da carne e apresentar risco à
saúde pública.
Os criatórios da raça Curraleiro apresentam situação confortável em
relação à brucelose bovina e um bom trabalho de conscientização, sobre a
importância do controle dessa enfermidade, acompanhado da vacinação
sistemática das fêmeas, pode garantir a manutenção e ampliação de
propriedades livres da doença.
De acordo com os estudos relacionados à leptospirose bovina, é
possível dizer que leptospiras estão presentes nos criatórios e a baixos índices
de soropositividade podem estar associados a fatores ambientais e de manejo
dos rebanhos. Há predominância dos sorovares hardjo e wolffi, indicando os
próprios bovinos como reservatório e a ocorrência esporádica dos demais
sorovares, com provável participação de reservatórios silvestres.
A avaliação hematológica e da função fagocitária de vacas de raças
naturalizadas e mestiças Nelore X Simental demonstrou que apesar das
similaridades entre os dois grupos, verifica-se diferenças relacionadas a variáveis
hematológicas, capacidade de aderência, receptores de membrana,
imunomodulação da fagocitose, que indicam que as vacas naturalizadas
apresentam maior eficiência na execução de mecanismos da imunidade inata.
Porém, para melhor compreender os complexos eventos do sistema imunológico
e a função dos seus componentes, são necessários estudos capazes de avaliá-
los em situações fisiológicas e submetidos a desafios. Na tentativa de esclarecer
aspectos relacionados à adaptação e resistência às doenças.
106
Lembrando que este trabalho está inserido em um contexto amplo, de
sustentabilidade, biodiversidade e responsabilidade social, ressalta-se que a
conservação de uma determinada espécie animal não pode estar restrita à
atividades de pesquisa. É imprescindível o esforço conjunto de pessoas com
diferentes perfis e habilidades para que haja envolvimento político e motivação
social na obtenção de soluções com viabilidade econômica garantidas pelo
conhecimento técnico-científico.
107
ANEXOS
ANEXO 1- Mapa com a localização das propriedades de criatórios de bovinos Curraleiro, amostrados no Estado de Goiás e Tocantins, para realização de levantamento sanitário e epidemiológico.
108
ANEXO 2- Questionário epidemiológico para obter informações sobre rebanhos
de bovinos da raça Curraleiro. QUESTIONÁRIO NO ________ DATA -------/ -------/ -------- APLICADO POR ------------------------------------------------------------------------------------------ ENTREVISTADO --------------------------------------------------------------------------------------- FUNÇÃO ----------------------------------------------
DADOS GERAIS NOME DO PROPRIETÁRIO: ----------------------------------------------------------------------------- NOME DA PROPRIEDADE: ------------------------------------------------------------------------------ MUNICÍPIO: ---------------------------------------------------------- ENDEREÇO PARA CONTATO: ---------------------------------------------------------------------------- TELEFONE: (062) -------------------------------- CARACTERÍSTICAS GERAIS DA REGIÃO TEMPERATURA MÉDIA MÁXIMA ------------------------- OC TEMPERATURA MÉDIA MÍNIMA -------------------------- OC PLUVIOSIDADE MÉDIA ------------------------- ALTITUDE MÉDIA ------------------------------- LOCALIZAÇÃO LONGITUDE -------------------------------- LATITUDE -----------------------------------
CARACTERIZAÇÃO DO REBANHO 1- ESCRITURAÇÃO DO REBANHO ( ) SIM ( ) NÃO 2- COMPOSIÇÃO DO REBANHO NÚMERO TOTAL DE BOVINOS = --------------------------- NÚMERO TOTAL DE VACAS = ------------------------------ NÚMERO TOTAL DE TOUROS = ---------------------------- NÚMERO TOTAL DE BEZERROS = ------------------------- NÚMERO TOTAL DE BEZERRAS = ------------------------- 3-ÍNDICES DE PRODUÇÃO PESO MÉDIO AO NASCIMENTO = ----------------------------------- PESO MÉDIO AO ABATE = --------------------------------------------- IDADE MÉDIA DE ABATE = ------------------------------------------- IDADE MÉDIA NA PRIMEIRA COBERTURA = -------------------- IDADE MÉDIA NO PRIMEIRO PARTO = ---------------------------- IDADE MÉDIA DE DESCARTE = ------------------------------------- INTERVALO ENTRE PARTOS = -------------------------------------- PRODUÇÃO MÉDIA LEITE / DIA = ----------------------------------
109
4- SISTEMA DE CRIAÇÃO: ( ) EXTENSIVO ( ) SEMI-EXTENSIVO ( ) INTENSIVO 5- FORMA DE PRODUÇÃO: ( ) CRIA ( ) CICLO COMPLETO ( ) ENGORDA ( ) MISTO 6- COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS: ( ) VENDA DE TOURINHOS ( ) REPRODUTORES ( ) BEZERROS PARA RECRIA ( ) BOIS PARA ABATE ( ) LEITE ( ) CASTRADOS PARA TRAÇÃO 7- FORMA DE AQUISIÇÃO INICIAL DO PLANTEL: ( ) COMPRA DENTRO DO ESTADO. MUNICÍPIO = ----------------------------------------- ( ) COMPRA FORA DO ESTADO. ORIGEM? -------------------------------------------------- ( ) HERANÇA / PARTILHA ( ) JUNTO COM A PROPRIEDADE (PORTEIRA FECHADA) ( ) LEILÕES / FEIRAS 8- FORMA DE SUBSTITUIÇÃO DE ANIMAIS DO PLANTEL: ( ) NASCIDOS NA PROPRIEDADE ( ) ADQUIRIDOS DE CRIADORES DA REGIÃO ( ) ADQUIRIDOS DE CRIADORES DE OUTRAS REGIÕES ( ) ADQUIRIDOS EM FEIRAS / LEILÕES 9- EM CASO DE INTRODUÇÃO DE NOVOS ANIMAIS, QUAL O PROCEDIMENTO ADOTADO? ( ) SEM PROCEDIMENTO ESPECIAL ( ) ISOLAMENTO DO ANIMAL. TEMPO = --------------------------- ( ) REALIZAÇÃO DE EXAMES. QUAIS? ------------------------------------------------ ( ) ISOLAMENTO / EXAMES 10- MANEJO REPRODUTIVO ( ) MONTA NATURAL ( ) ESTAÇÃO DE MONTA. PERÍODO: ( ) SECA ( ) CHUVAS ( ) ANO TODO ( ) INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL ( ) TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO 11- FORNECIMENTO DE SUPLEMENTAÇÃO: ( ) SILAGEM ( ) FENO ( ) CAPIM TRITURADO ( ) OUTRO. QUAL? ---------------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO FORNECE 12- PRODUTO USADO NA SUPLEMENTAÇÃO: ( ) MILHO ( ) SORGO ( ) CANA ( ) MILHETO ( ) OUTRO. QUAL? ----------------------------------------------------------------------------
110
13- FREQUÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) NA SECA ( ) NAS CHUVAS ( ) OUTRA. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 14- MINERALIZAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 15- FREQUÊNCIA DE MINERALIZAÇÃO ( ) FORNECIMENTO CONTÍNUO ( ) RESTRITO À ÉPOCA DE CHUVAS ( ) RESTRITO À ÉPOCA DE SECA ( ) OUTRO. QUAL? ----------------------------------------------------------------------------- 16- PRINCIPAIS VACINAS APLICADAS: ( ) AFTOSA ( ) BRUCELOSE ( ) BOTULISMO ( ) CARBÚNCULO SINTOMÁTICO ( ) ENTEROTOXEMIA ( ) OUTRAS. QUAIS? ---------------------------------------------------------------------------- 17- VERMIFUGAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 18- FREQUÊNCIA DE VERMIFUGAÇÃO ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) NA SECA ( ) NAS CHUVAS ( ) OUTRA. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 19- CONTROLE DE ECTOPARASITOS: ( ) SIM ( ) NÃO 20- EM CASO AFIRMATIVO, QUAL O SISTEMA DE APLICAÇÃO? ( ) BANHO ( ) ASPERSÃO ( ) POUR-ON ( ) INJETÁVEL ( ) OUTRO. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 21- FREQUÊNCIA DE APLICAÇÃO DO PRODUTO: ( ) QUINZENAL ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) TRIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) OUTRA. QUAL? -----------------------------------------------------------------------------
111
22- CUIDADOS NA ORDENHA: ( ) LIMPEZA DAS MÃOS ( ) LIMPEZA DOS TETOS ( ) DESINFECÇÃO DOS TETOS PÓS- ORDENHA ( ) LINHA DE ORDENHA ( ) OUTROS. QUAIS? ---------------------------------------------------------------------------- 23- CUIDADOS COM O BEZERRO: ( ) DESINFECÇÃO DO UMBIGO. PRODUTO: --------------------------------------------- ( ) FORNECIMENTO DE COLOSTRO ( ) PIQUETE ( ) BEZERREIROS ( ) OUTROS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 24- CUIDADOS NO PRÉ-PARTO ( ) ALIMENTAÇÃO ( ) VACINAS. QUAL(IS)? ------------------------------------------------------------------ ( ) SEPARAÇÃO EM PIQUETES ( ) DESMAME 25- EXAMES PREVENTIVOS REALIZADOS ROTINEIRAMENTE NO REBANHO: ( ) CONTROLE DE MASTITE (CMT, CANECA TELADA) ( ) TUBERCULINIZAÇÃO ( ) SOROLOGIA PARA BRUCELOSE ( ) PARASITOLÓGICO ( ) OUTROS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 26- ENFERMIDADES JÁ OCORRIDAS OU OCORRENTES NA PROPRIEDADE: ( ) PNEUMONIA ( ) DIARRÉIA ( ) MASTITE ( ) RAIVA ( ) BRUCELOSE ( ) TUBERCULOSE ( ) BOTULISMO ( ) AFTOSA ( ) OUTRAS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 27- DISTÚRBIOS / PROBLEMAS REPRODUTIVOS JÁ OCORRIDOS OU OCORRENTES: ( ) REPETIÇÃO DE CIO ( ) ABORTOS ( ) RETENÇÃO DE PLACENTA ( ) PARTO DISTÓCICO ( ) OUTROS. QUAIS? ------------------------------------------------------------------------------ 28- PERDAS DE ANIMAIS JOVENS: RELACIONADAS A ENFERMIDADES = ---------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A ACIDENTES = ----------------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A PROBLEMAS DE PARTO = ------------- ANIMAIS RELACIONADAS A INTOXICAÇÕES = ------------------------ ANIMAIS RELACIONADAS A CAUSAS DIVERSAS = ------------------- ANIMAIS 29- PERDAS DE ANIMAIS ADULTOS RELACIONADAS A ENFERMIDADES = ---------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A ACIDENTES = ----------------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A PROBLEMAS DE PARTO = ------------- ANIMAIS RELACIONADAS A INTOXICAÇÕES = ------------------------ ANIMAIS RELACIONADAS A CAUSAS DIVERSAS = ------------------- ANIMAIS
112
CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE
ÁREA TOTAL = --------------------------------------------------------------- ÁREA DE PASTAGEM NATURAL =------------------------------------- ÁREA DE PASTAGEM CULTIVADA = --------------------------------- ÁREA DE LAVOURA= ---------------------- -------------------------------- ÁREA DE VEGETAÇÃO NATIVA = ------------------------------------- ÁREA DE RESERVA = ------------------------------------------------------- 30- TIPO DE SOLO ( ) ARGILOSO ( ) ARENOSO ( ) 31- TOPOGRAFIA PREDOMINANTE: ( ) ACIDENTADA ( ) PLANA ( ) SEMI-ACIDENTADA 32- TIPO DE AGUADA: ( ) BEBEDOURO ( ) ÁGUA CORRENTE ( ) REPRESA ( ) CACIMBA ( ) OUTROS = ------------------------------------------------------------------------------------------------ 33- TIPO DE PASTAGEM PREDOMINANTE: ( ) BRAQUIÁRIA ( ) COLONIÃO ( ) ANDROPOGON ( ) JARAGUÁ ( ) OUTROS = ----------------------------------------------------------------------------------------------- 34- SITUAÇÃO DA PASTAGEM: ( ) LIMPA ( ) RECÉM BATIDA ( ) SUJA ( )OUTRA = ------------------------------------------------------------------------------------------------- 35- VEGETAÇÃO NATIVA ( ) MATA ( ) CERRADO ( ) OUTRO 36- TIPO DE MÃO-DE-OBRA UTILIZADA: ( ) FAMILIAR. QUANTAS PESSOAS? = -------------------------- ( ) ASSALARIADA TEMPORÁRIA. QUANTAS PESSOAS? = ---------------------- ( ) ASSALARIADA PERMANENTE. QUANTAS PESSOAS? = -------------------- 37- RECEBE ASSISTÊNCIA TÉCNICA? ( ) SIM ( ) NÃO 38- SISTEMA DE ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA À PROPRIEDADE: ( ) OFICIAL ( ) VETERINÁRIO DE COOPERATIVA ( ) VETERINÁRIO AUTÔNOMO
113
39- FREQUÊNCIA DE ASSISTÊNCIA: ( ) PERMANENTE ( ) EM INTERVALOS FIXOS ( ) OCASIONAL (QUANDO É CONSTATADO ALGUM PROBLEMA) 40- CONTROLE DE PRODUÇÃO ( ) SIM ( ) NÃO 41- MÉTODO EMPREGADO PARA CONTROLE PRODUTIVO: ( ) CADERNO ( ) FICHAS INDIVIDUAIS ( ) PROGRAMA DE COMPUTADOR ( ) OUTRO. QUAL? --------------------------------------------------- 42- PRESENÇA DE ROEDORES: ( ) SIM. ONDE? --------------------------------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 43- QUAL O DESTINO DE ANIMAIS MORTOS E PLACENTAS? ----------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------------- 44- QUAL O DESTINO DOS DEJETOS? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 45- AVALIAÇÃO DO ASPECTO / HIGIENE QUANDO DA VISITA (OBSERVAÇÃO DO ENTREVISTADOR) (5) ÓTIMO (4) BOM (3) REGULAR (2) RUIM (1) PÉSSIMO ( ) ANIMAIS ( ) PISOS ( ) ESTÁBULOS ( ) CURRAIS ( ) COCHOS ( ) BEBEDOUROS
CARACTERIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO
46- TEMPO DE CONDUÇÃO DA ATIVIDADE PECUÁRIA: ( ) ATÉ 01 ANO ( ) 01 - 05 ANOS ( ) 05 - 10 ANOS ( ) 10 - 15 ANOS ( ) 15 - 20 ANOS ( ) ACIMA DE 20 ANOS 47- TEMPO DE CRIAÇÃO DO GADO PÉ DURO: ( ) ATÉ 01 ANO ( ) 01 - 05 ANOS ( ) 05 - 10 ANOS ( ) 10 - 15 ANOS ( ) 15 - 20 ANOS ( ) ACIMA DE 20 ANOS 48- MOTIVO PRINCIPAL DA ESCOLHA DA RAÇA: ( ) INTERESSE EM CONSERVÁ-LA ( ) TRADIÇÃO (CONTINUIDADE)
114
( ) CUSTO DE AQUISIÇÃO ( ) CUSTO DE MANUTENÇÃO ( ) OUTRO. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 49- PRINCIPAL VANTAGEM APRESENTADA PELA RAÇA: ( ) RUSTICIDADE ( ) BAIXO CUSTO ( ) APTIDÃO MISTA ( ) DOCILIDADE ( ) SABOR DA CARNE 50- PRINCIPAL DESVANTAGEM DA RAÇA ( ) BAIXA VALORIZAÇÃO ( ) BAIXA PRODUTIVIDADE ( ) DESENVOLVIMENTO LENTO ( ) DIFICULDADE DE COMERCIALIZAÇÃO 51- RESIDE NA PROPRIEDADE? ( ) SIM ( ) NAO 52- CASO NÃO RESIDA NA PROPRIEDADE, QUAL A FREQUENCIA NA MESMA? ( ) DIÁRIA ( ) SEMANAL ( ) QUINZENAL ( ) MENSAL ( ) ESPORÁDICA 53- EXERCE OUTRA ATIVIDADE PECUÁRIA? ( ) SIM. QUAL? ----------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 54- EXERCE ATIVIDADE AGRÍCOLA? ( ) SIM. QUAL? ----------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 55- VIVE EXCLUSIVAMENTE DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA? ( ) SIM ( ) NÃO 56- EM CASO NEGATIVO, QUAL OUTRA ATIVIDADE EXERCE? ---------------------------------------- 57- FORMA DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE: ( ) COMPRA ( ) DOAÇÃO (HERANÇA) ( ) OUTRAS 58- ACREDITA QUE HAVERÁ CONTINUIDADE FAMILIAR NA ATIVIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO 59- TEM ALGUM FILHO(A) QUE ESTUDA(OU) EM ÁREA CORRELATA À ATIVIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO 60- EM CASO AFIRMATIVO, QUAL CURSO (PROFISSÃO)? ( ) TÉCNICO AGRÍCOLA ( ) VETERINÁRIA ( ) ZOOTECNIA
115
( ) AGRONOMIA ( ) OUTRO. QUAL? -------------------------------------------------------------------------------- 61- ALÉM DA ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE PÉ DURO, PARTICIPA DE OUTRA ASSOCIAÇÃO? ( ) NÃO ( ) SIM. QUAL? --------------------------------------------------------------------------------------------- 62- MAIOR PROBLEMA ATUAL PARA A ATIVIDADE AGROPECUÁRIA: ( ) FALTA DE FINANCIAMENTOS ( ) JUROS ELEVADOS ( ) BAIXO RETORNO ( ) INVASÃO DE TERRAS ( ) OUTROS. QUAIS? --------------------------------------------------------------------------------------- 63- PERSPECTIVAS PARA A ATIVIDADE A MÉDIO PRAZO: ( ) ESTABILIDADE ( ) MELHORA ( ) PIORA 64- GRAU DE SATISFAÇÃO NA ATIVIDADE EXERCIDA ( 1 A 10 ): --------------------------------------- 65- GRAU DE SATISFAÇÃO COM A RAÇA ESCOLHIDA ( 1 A 10): ---------------------------------------- 66- COMPARANDO O GADO PÉ-DURO COM OUTRAS RAÇAS, PONTUE OS SEGUINTES PARÂMETROS, EM UMA ESCALA DE 1 A 10: ( )RESISTÊNCIA ( )TEMPERAMENTO ( )NECESSIDADE DE CUIDADOS ( )PRODUTIVIDADE ( )CUSTO DE MANUTENÇÃO 67- SEU GRAU DE ESCOLARIDADE: ( ) PRIMEIRO GRAU INCOMPLETO ( ) PRIMEIRO GRAU COMPLETO ( ) SEGUNDO GRAU INCOMPLETO ( ) SEGUNDO GRAU COMPLETO ( ) SUPERIOR. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------