Atencao Sustentada e Concentrada

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  • Psicologia: Pesquisa & Trnsito, v. 2, n 1, p. 29-36, Jan./Jun. 2006 29

    Ateno Sustentada e Concentrada: construtos semelhantes?1

    Ana Paula Porto Noronha Universidade So FranciscoFermino Fernandes Sisto Universidade So Francisco

    Daniel Bartholomeu Universidade So FranciscoRossana Lamounier Universidade So Francisco

    Fabin Javier Marn Rueda Universidade So Francisco

    ResumoA presente pesquisa objetivou estudar evidncias de validade para os construtos de ateno concentrada e sustentada. Foram estudados212 candidatos obteno da Carteira Nacional de Habilitao, sendo 122 do sexo masculino, com idade variando entre 18 a 62 anos(M=21,50, DP=7,17). Foram aplicados o Teste de Ateno Sustentada e o Teste de Ateno Concentrada, de forma individual e porpsiclogos credenciados. O primeiro teste fornece medidas para concentrao, velocidade com qualidade e sustentao. Em relao smedidas de concentrao e velocidade com qualidade, os resultados mostraram que houve correlao significativa com o Teste deConcentrao, embora no tenha sido considerada alta. Ainda, na medida de ateno sustentada no foram verificadas diferenas emrelao ao Teste de Concentrao. Assim, h comunalidade entre os construtos, embora eles no possam ser considerados similares.Palavras-chave: Avaliao psicolgica, Validade, Trnsito.

    Sustained and Concentrated Attention: similar constructs?AbstractThis research aimed to analyze evidences of validity for the constructs of concentrated and sustained attention. 212 volunteers of bothsexes (122 male), with age varying from 18 to 62 years (M=21,50, DP=7,17) were studied; all of them applying for their licenses todrive. The Teste de Ateno Sustentada and the Teste de Ateno Concentrada were individually administered by qualified psychologists.The first test furnishes measures for concentration, velocity with quality and sustained attention. In relation to the measures ofconcentration and velocity with quality the results showed that there was significant correlation with the Teste de Concentrao,although it was not considered high. The levels of sustained attention, however, do not show differences concerning with the Teste deConcentrao. Thus, it was suggested that there was some communality between the tests, even though they cannot be consideredequivalents.Keywords: Psychological assessment, Validity, Traffic.

    Atencin Sostenida y Concentrada: constructos semejantes?ResumenEsta investigacin ha tenido como objetivo estudiar evidencias de validez para los constructos de atencin concentrada y sostenida.Han sido estudiados 212 candidatos a obtener el carn de conducir, siendo 122 del sexo masculino, con edad variando entre 18 y 62 aos(M=21,50, DT=7,17). Han sido aplicados de forma individual y por psiclogos habilitados el Teste de Ateno Sustentada y el Testede Ateno Concentrada. El primer test ofrece medidas de concentracin, velocidad con calidad y atencin sostenida. En relacin a lasmedidas de concentracin y velocidad con calidad los resultados han revelado que ha habido correlacin significativa con el Test deConcentracin, pese a no ser considerada alta. Todava, en la medida de atencin sostenida no han sido verificadas diferencias enrelacin al Test de Concentracin. As, hay comunin entre los constructos, pese a no poder considerarlos semejantes.Palabras clave: Evaluacin Psicolgica, Validez, Trnsito.

    Introduo

    A psicologia aplicada ao contexto do trnsito podeser definida, segundo Rozestraten (1988), como a reaque estuda os comportamentos humanos no trnsito eos fatores e processos externos e internos, conscien-tes e inconscientes que os provocam ou os alteram.

    Ademais, pode ser compreendida como a rea queestuda os comportamentos-deslocamentos no trnsi-to e suas causas, por meio de mtodos cientficos v-lidos.

    A avaliao psicolgica pericial para a obtenoda Carteira Nacional de Habilitao (CNH) tem sidorealizada levando-se em considerao que conduzir

    1 Endereo para correspondncia:E-mail: [email protected]

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    um veculo no um direito do cidado, de tal sorteque deve ser compreendida como uma concesso. Noentanto, essa concesso cerceada pelo fato de opossuidor ser imputvel penalmente, como tambmatender diversos critrios, dentre eles, ter condiesfsicas, apresentar caractersticas psicolgicas adequa-das s categorias da Carteira Nacional de Habilita-o, conforme a complexidade e tipo de veculo,conhecer as leis de trnsito, ter noes de mecnica edomnio veicular (Governo Federal, 1998).

    O trnsito envolve muitos estmulos provenientesdo ambiente, quais sejam, pedestres, sinalizao e ou-tdoors, de modo que o condutor tem que selecionaros mais pertinentes para a tarefa de dirigir, alm dediscriminar os estmulos provenientes do carro e ob-servar os originados no seu prprio organismo. Oscondutores devem tambm concentrar sua ateno,colocando os estmulos em foco, no podendo, entre-tanto, perder de vista outros movimentos e demaisestmulos, o que requer a distribuio da ateno (Ne-boit, 1974; Rockwell, 1972; Shinar, 1978).

    Determinar quanto o homem seria responsvelpelos acidentes de trnsito uma tarefa difcil, consi-derando-se a diversidade de fatores envolvidos. Sa-bey e Staughton (1975) apontaram que 80% dosacidentes de trnsito eram causados por fatores hu-manos. Shinar, em 1978, corroborou essa informao.Nesse sentido, a Psicologia aplicada ao contexto deTrnsito tem a funo de analisar as variveis psico-lgicas que poderiam influenciar a forma como o con-dutor se comporta no trnsito e em que medida issopoder lev-lo a se envolver em acidentes ou a secolocar em situaes de risco. Mais especificamente,sendo a falha humana causadora de acidentes, faz-senecessrio identificar os determinantes do comporta-mento do condutor, a fim de desenvolver contramedi-das eficazes para evitar acidentes (Rothengatter,1997).

    Os levantamentos de causas dos acidentes de trn-sito indicam falhas humanas, mecnicas e conseq-ncia de situaes adversas (condies climticas efsicas de vias e rodovias, condies dos veculos, en-tre outras) como fatores contribuintes para sua ocor-rncia. A esse respeito, poder-se- verificar, logo aseguir, alguns dados de pesquisas que visam identifi-car certos fatores humanos possivelmente relaciona-dos ao envolvimento dos motoristas em acidentes detrnsito. Associam-se a isso as informaes de Ro-thengatter (1997), nas quais salienta que os modelos

    de comportamento do condutor remunerado devemenvolver anlise da tarefa especfica de dirigir, mode-los de controle funcionais e modelos motivacionaisfocalizados no risco e na aceitao dele pelo motoris-ta. Refora que a relao existente entre ocorrnciade acidente e o comportamento precedente alta-mente vaga, e que os aspectos de performance assimcomo os motivacionais, diferenas individuais e vari-veis de estado momentneas parecem ser relevantespara a compreenso da ocorrncia do acidente.

    Rozestraten (1988) apresentou um estudo no qualforam investigadas as causas dos acidentes. Os fato-res humanos foram divididos em trs categorias, asaber, erro do condutor, erro do pedestre e condiesdo condutor. Os resultados indicaram que os fatoreshumanos mais diretamente tidos como responsveispelo envolvimento do motorista em acidentes surgemem decorrncia de um comportamento falho relacio-nado a alguma deficincia na ao do condutor, maisdo que agressividade deliberada ou a irresponsabili-dade (p.95).

    Ao lado disso, Boecher (1977) aponta que as dife-rentes faixas etrias devem ser consideradas. Menci-ona que estudos com testes psicolgicos em sujeitosjovens e com idade avanada apresentam informa-es relevantes sobre a performance no trnsito. Parao autor, a interao entre idade e experincia nota-da, e mudanas com a idade em variveis sensoriais,motoras e de personalidade que afetam a performan-ce no trnsito tm sido muito discutidas.

    Dentre essas variveis sensoriais que poderiaminfluenciar no desempenho das pessoas no trnsitoencontra-se a ateno, a qual, por sua vez, pode serclassificada de trs formas, quais sejam, ateno al-ternada, dividida e sustentada. Para avaliar a atenosustentada solicita-se que a pessoa mantenha o focoem um aspecto por um longo perodo, ao mesmo tem-po em que esto presentes elementos que provocamdistrao, tais como estmulos que no so pertinen-tes ou baixa freqncia do estmulo que no se podeperder de vista. Dessa forma, demanda-se alta con-centrao da pessoa submetida a essa situao, aomesmo tempo em que se exige uma velocidade deprocessamento quando imposto um tempo de exe-cuo (Lezak, 1995).

    No que tange s pesquisas que focalizam a aten-o e o ato de dirigir, Crundall e Underwood (1998)verificaram a diferena entre motoristas novos, de umlado, e experientes do outro, no que se refere distri-

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    buio de ateno visual sob diferentes nveis de es-tratgias cognitivas impostas por tipos de pista. A ta-refa exigia que os motoristas dirigissem por 20 minutosem pistas com caractersticas diferentes, enquanto osmovimentos de seus olhos eram gravados. Foramencontradas diferenas entre os motoristas novos e osmotoristas experientes de acordo com o tipo de pistana qual dirigiram. Os resultados sugeriam que os expe-rientes selecionam as estratgias visuais de acordo coma complexidade da rodovia, enquanto os novos so maisinflexveis diante das necessidades de mudana.

    Ao lado disso, para estudar a vulnerabilidade domotorista ao estresse e sua relao com a sobrecargade estmulos de ateno, Matthews, Sparkes e Bygra-ve (1996) solicitaram que 80 adultos jovens simulas-sem tarefas de direo ao mesmo tempo em quedesempenhavam atividades de raciocnio gramatical,apresentadas visual e auditivamente. A prioridade atri-buda s tarefas era manipulada pelos pesquisadores.Os resultados revelaram que motoristas estressadosse adaptaram a altos nveis de demanda mais eficien-temente do que os menos estressados, embora a per-formance tenha diminudo quando a tarefa requeriarelativamente pouco controle ativo.

    Foi ressaltado por Campagne, Pebayle e Muzet(2004) que, ao dirigir por muito tempo monotonamen-te e noite, a maioria dos motoristas mostra progres-sivamente sinais de fadiga visual e perda da atenosustentada. Sua capacidade de manter um desempe-nho adequado ao dirigir comumente afetada e variaem razo da idade do motorista. Partindo desses pres-supostos, os autores propuseram um estudo para ve-rificar os efeitos da fadiga e da idade dos motoristassobre a performance deles quando esto dirigindo.Foram estudados 46 motoristas divididos em trs ca-tegorias de idade, quais sejam, 20-30, 40-50 e 60-70anos. Os participantes percorreram uma via de 350km, noite, em um simulador de direo. Os errosforam medidos em termos do nmero de incidentes ede desvios de velocidade alta. A evoluo do nvel devigilncia fisiolgica foi avaliado por meio do eletro-encefalograma e nos motoristas mais velhos, a degra-dao da performance de dirigir foi correlacionadacom a evoluo do baixo nvel de vigilncia.

    Lucidi e colaboradores (2002) compararam o nvelde ateno sustentada de um grupo de 59 motoristasjovens em dois momentos, das 9 s 11 da manh edepois em um domingo de madrugada das 2:30 s 5:00horas. As diferenas em termos do decrscimo da

    performance associada com diferentes atividades so-ciais do sbado noite e o efeito do consumo do lco-ol foram controlados. Os resultados indicaram umaqueda da vigilncia durante a madrugada, sendo mai-or em sujeitos que consomem mais lcool. Os estu-dantes que passaram seu sbado noite em discotecasmostraram maior decrscimo na vigilncia at mes-mo quando o efeito do consumo de lcool foi contro-lado por anlise de covarincia. O efeito das atividadessociais do sbado sobre os nveis de vigilncia tam-bm se associou a diferentes perodos de tempo gastoacordado, bem como com tempo diferente que os su-jeitos desempenharam a tarefa.

    Como se pode verificar, a literatura apresenta v-rias pesquisas que indicariam que a ateno tm umpapel relevante no ato de dirigir. Na avaliao paraobteno da Carteira Nacional de Habilitao (CNH)no Brasil, um teste comumente utilizado para avaliartal construto o Teste de Ateno Concentrada (Cam-braia, 2004), o qual possui evidncias de validade re-latadas no seu manual e parecer favorvel do ConselhoFederal de Psicologia.

    Dessa forma e com base no exposto, aventou-se apossibilidade de estudar os construtos de ateno con-centrada e sustentada, com vistas a possibilitar um me-lhor entendimento da relao existente entre ambos.Ainda, o presente estudo objetivou o estabelecimento deevidncias de validade para o Teste de Ateno Susten-tada (Sisto, Noronha, Lamounier, Rueda & Bartholomeu,2006), por meio da comparao com o Teste de Aten-o Concentrada (Cambraia, 2004).

    Mtodo

    ParticipantesA amostra foi composta por 212 candidatos ob-

    teno da Carteira Nacional de Habilitao (CNH),que passaram pelo processo de avaliao psicolgicaem onze clnicas credenciadas pelo DETRAN do Es-tado de Minas Gerais. A idade variou de 18 a 62 anos(M=21,50, DP=7,17), sendo 122 (57,5%) do sexomasculino e 90 (42,5%) do feminino.

    Instrumentos

    Ateno Sustentada - AS (Sisto, Noronha, Lamou-nier, Rueda & Bartholomeu, 2006).

    O teste composto por 25 fileiras com 25 estmu-los cada uma. O sujeito deve assinalar apenas um tipo

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    de estmulo dentre as possibilidades. Para isso, o par-ticipante tem 15 segundos para completar cada filei-ra, sendo que ao trmino do tempo estabelecido oaplicador diz Prxima e dessa forma o participantepassa imediatamente para a linha seguinte e recome-a. O tempo total de aplicao de aproximadamen-te 10 minutos, e a instruo dada foi a do manual.

    Nesse instrumento so extradas trs medidas,quais sejam, Concentrao, Velocidade com Qualida-de e Sustentao. A Concentrao refere-se somade itens que eram para ser assinalados (tarefa solici-tada), menos erros e omisses. A Velocidade comQualidade diz respeito quantidade de itens que oindivduo fez ao todo (tarefa solicitada, mais itens queno eram para ser assinalados e no o foram), menosos erros e omisses. Para classificar o nvel de Sus-tentao da pessoa somam-se, das trs primeiras li-nhas, os itens que eram para marcar e foram marcadoscom os itens que no eram para ser marcados e no oforam. A soma de erros e omisses subtrada dessetotal. Esse mesmo procedimento repetido com astrs ltimas linhas. Obtidos esses dois ndices, sub-trai-se o segundo do primeiro e o resultado interpre-tado conforme as tabelas de normatizao do manual,sendo verificado, posteriormente, se a pessoa man-tm, perde ou aumenta a Sustentao.

    Quanto s propriedades psicomtricas do teste,num primeiro momento foi estudada a estrutura inter-na, sendo que a anlise fatorial forneceu dois fatoresque explicam 70,09% da varincia. Como no primei-ro fator a carga fatorial foi bem maior e a relaoentre os eigenvalues do primeiro e segundo fator foimaior que 14, os autores concluram que os subtestespodiam ser explicados por apenas um fator, ou seja,que o AS possui uma nica dimenso.

    Ainda, evidncia de validade concorrente foi veri-ficada com o Teste Conciso de Raciocnio (Sisto, 2006),e de construto desenvolvimental por meio do estudodas diferentes faixas etrias. Tambm, evidncia devalidade divergente foi verificada quando comparadocom o Psicodiagnstico Miocintico - PMK (Mira,2004).

    No que tange preciso, ela foi estudada pelo alfade Cronbach, o coeficiente de consistncia interna eo mtodo das metades, sendo que por este ltimo fo-ram fornecidos os resultados pelos procedimentos deGuttman, Spearman-Brown e alfa das duas metades,para cada faixa etria e no geral. De uma forma ge-ral, os coeficientes de preciso variaram de 0,73 at

    0,97. Tambm foram consideradas as linhas mparescomo um subteste e as pares como outro e os coeficien-tes variaram de 0,90 at 0,98. Por esses dados os au-tores concluram que o teste apresenta bons ndicesde preciso.

    Teste de Ateno Concentrada - AC (Cambraia,2004).

    O objetivo do teste fornecer informaes a res-peito da ateno concentrada de uma determinadapessoa, ou seja, indicar a capacidade que um indiv-duo tem de selecionar um estmulo diante de muitosoutros e conseguir voltar e manter sua ateno para oestmulo selecionado pelo maior intervalo de tempode modo a conseguir qualidade na tarefa realizada erendimento. O tempo estipulado para aplicao de 5minutos.

    Em relao s propriedades psicomtricas do tes-te, a preciso foi calculada por meio do mtodo deteste-reteste, com intervalo entre as aplicaes de umasemana. Os resultados indicaram um coeficiente decorrelao de 0,73.

    A validade foi obtida a partir da correlao com ostestes Toulouse-Piron, TACOM-A e TACOM-B eD2. Com o Toulouse-Piron, o coeficiente foi de 0,93.Com o TACOM A e B, os coeficientes de correlaoforam de 0,63 e 0,66, respectivamente. Por sua vez, oAC tambm correlacionou-se significativamente como D2 (r=0,46).

    ProcedimentoNum primeiro momento, os candidatos que passa-

    ram pelo processo de avaliao psicolgica para ob-teno da CNH foram convidados a participar dapesquisa, e aps assinatura do Termo de Consenti-mento os participantes responderam, de forma indivi-dual, primeiro o Teste de Ateno Sustentada eposteriormente o Teste AC. Vale ressaltar que todasas aplicaes foram feitas por psiclogos que possu-am curso de Perito Examinador credenciado peloDETRAN-MG, em salas isoladas e com espao fsi-co adequado.

    Resultados

    Inicialmente so apresentadas as estatsticas des-critivas do AS e do AC. Em seguida so fornecidas ascorrelaes entre as trs medidas fornecidas pelo AScom os resultados obtidos no AC de uma forma geral,

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    por sexo e por idade, assim como tambm retirando oefeito da idade. As estatsticas descritivas para as me-didas no AS e a pontuao no AC esto na Tabela 1.

    forma geral, assim como tambm para cada sexo. Essatendncia pode ser interpretada no sentido de quequando aumentou a ateno concentrada, houve tam-bm um aumento correspondente da Velocidade comQualidade e Concentrao do AS. No que se refereaos construtos tericos dos testes pode-se dizer queuma parte comum nas pontuaes deles, embora amaior parte no o seja. Ao lado disso, a magnitude dacorrelao do AC com Velocidade com Qualidade foimaior que com Concentrao.

    Tabela 1. Estatsticas descritivas das medidas deConcentrao, Velocidade com Qualidade e do AC(N=212)

    Como evidenciado na Tabela 1, em termos de Con-centrao e Velocidade com Qualidade do teste AS,foi verificada uma grande variao nas respostas dosindivduos em relao mdia, comprovado pelo des-vio padro. No que tange pontuao no AC, a distri-buio dos escores tendeu normalidade. Em relaoaos dados descritivos, dois merecem destaque. Res-salta-se que na medida de Concentrao do AS, 11,3%das pessoas obtiveram pontuaes negativas, indican-do um maior nmero de erros e omisses do que deacertos.

    No caso da sustentao foram feitos os trs agru-pamentos descritos no manual do teste, ou seja, foiverificado quantos sujeitos mantiveram a sustentao,quantos perderam e quantos aumentaram a sustenta-o. Dessa forma, o grupo que perdeu sustentaorepresentou 10,4% da amostra, os que ganharam sus-tentao 11,3%, e os participantes que a mantiveramrepresentaram 78,3% do total da amostra.

    Com o objetivo de verificar a relao entre asmedidas fornecidas pelo AS e o AC foi realizada umacorrelao entre a pontuao no AC e as medidas deConcentrao e Velocidade com Qualidade do AS.Na Tabela 2 podem ser visualizados os resultados deforma geral e por sexo.

    Como pode ser observado na Tabela 2, a Concen-trao e a Velocidade com Qualidade apresentaramcorrelaes positivas e significativas com o AC de

    Tabela 2. Coeficientes de Correlao de Pearson (r)entre as medidas do AS e AC, nveis de significncia(p) no total e por sexo (N=212)

    Como informa o manual do AS, as medidas for-necidas pelo teste sofrem a influncia da idade, oque est em consonncia com os achados de Cam-pagne, Pebayle e Muzet (2004) e de Crundall e Un-derwood (1998). Por isso, foram calculados oscoeficientes de correlaes das medidas estudadasno AS com o AC no geral e para cada sexo, contro-lando o efeito da idade. Os resultados podem serobservados na Tabela 3.

    SA

    CA oartnecnoC mocedadicoleV edadilauQ

    aidM 30,98 33,11 73,03

    anaideM 88 71 43

    adoM 98 91 84

    -oivseDordaP 54,22 27,51 39,42

    ominM 23 02- 27-

    omixM 741 25 27

    CA

    SA r p

    oartnecnoC onilucsaM 72,0 000,0

    oninimeF 03,0 000,0

    lareG 82,0 000,0mocedadicoleV

    edadilauQonilucsaM 93,0 000,0

    oninimeF 24,0 000,0

    lareG 04,0 000,0

    Tabela 3. Coeficientes de Correlao Parcial (r) en-tre as medidas do AD e AC, nveis de significncia(p) no total e por sexo com controle de idade (N=212)

    CA

    SA r p

    oartnecnoC onilucsaM 22,0 000,0

    oninimeF 42,0 300,0

    lareG 22,0 000,0mocedadicoleV

    edadilauQonilucsaM 73,0 000,0

    oninimeF 03,0 500,0

    lareG 53,0 000,0

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    Como sumariado na Tabela 3, quando controlado oefeito da idade, os coeficientes de correlao foramum pouco menores, embora as tendncias das corre-laes tenham-se mantido as mesmas. Assim, manti-veram-se as interpretaes e observaes anteriores.Esses resultados podem ser interpretados como evi-dncia de validade para as medidas de Concentraoe Velocidade com Qualidade do AS.

    Para melhor visualizao das correlaes foramrealizados grficos de disperso para a amostra ge-ral. As informaes podem ser encontradasadas naFigura 1.

    Na Figura 1 pode ser verificado que tanto na me-dida de Concentrao quanto na Velocidade comQualidade, a disperso das pontuaes pde ser con-siderada grande, ou seja, os indivduos que mostraramas maiores pontuaes num teste nem sempre apre-sentaram tambm pontuaes altas no outro instru-mento. Embora o relatado anteriormente, deve serressaltado que a Figura 1 mostra tambm que h maiorquantidade de indivduos que apresentou uma pontua-o alta na Velocidade com Qualidade e baixa ou mdiano AC. Por sua vez, na medida de Concentrao adistribuio foi maior que na Velocidade com Quali-dade, verificando que muitos indivduos que obtive-ram pontuaes mdias no AC, apresentarampontuaes negativas (muito baixas) no AS.

    Vale ressaltar que na medida de Sustentao noforam calculados os coeficientes de correlao como AC, pois nessa varivel classifica-se a sustentaoem trs nveis, quais sejam, as pessoas que perderam,mantiveram ou ganharam sustentao. Com base nes-ses critrios realizou-se uma anlise de varincia, tendocomo varivel dependente a pontuao no Teste deAteno Concentrada. Os resultados no evidencia-ram diferenas estatsticas entre os trs grupos(F=0,151, p=0,860).

    Discusso e Consideraes Finais

    Esse estudo buscou o estabelecimento de evidn-cias de validade do Teste de Ateno Sustentada (Sis-to, Noronha, Lamounier, Rueda & Bartholomeu, 2006),por meio da comparao dele com o Teste de Aten-o Concentrada (Cambraia, 2004). H indicao deque os objetivos do estudo foram alcanados, uma vezque os resultados revelam que os instrumentos aquipesquisados avaliam algo em comum, mais especifi-camente, parte do construto.

    Trs informaes chamam a ateno nos resulta-dos encontrados. A primeira delas que h de se con-siderar que o manual do AC traz a indicao de seusresultados vistos luz da concentrao (Cambraia,2004). O AS (Sisto, Noronha, Lamounier, Bartholo-meu & Rueda, 2006), por sua vez, possui tambm amedida de concentrao, embora no exclusivamen-te. A baixa relao entre as medidas permite a suges-to de que os conceitos tratados so distintos.

    Figura 1. Pontuaes no AC e nas medidas de Concentrao eVelocidade com Qualidade no AS.

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    O segundo deles que as correlaes foram signi-ficativas, mas no altas. Fato este que pode ser inter-pretado em razo da operacionalizao do construto,haja vista que no teste de Ateno Sustentada a pes-soa responde em todas as linhas e por um tempo fixoem cada, ao passo que no AC, as pessoas respondemsem essas imposies procedurais. Apesar disso, ofato de terem um percentual de comunalidade, mes-mo baixo, parece indicar que no se trata do mesmoconstruto, mas de construtos semelhantes.

    Tambm interessante lembrar que os grupos for-mados em funo da sustentao no foram discrimi-nados no Teste de Ateno Concentrada. Nessesentido, isso pode ser considerado uma evidncia devalidade discriminante para a medida de sustentaodo AS.

    Finalmente e em contrapartida, outra parte dosconstrutos dos instrumentos no se correlacionou, re-velando que eles possuem construtos com semelhan-as, embora diferentes. A validade estabelecida parao AC, quando de sua construo, revelou coeficientesbastante superiores aos encontrados no presente es-tudo, especialmente por meio da correlao com oToulouse-Piern, TACOM-A, TACOM-B e D2, re-velando maior comunalidade entre os respectivosconstrutos. Observando os coeficientes encontrados,pode-se inferir que o termo Concentrada, usadopelos diferentes testes de ateno, pode estar tendodiferentes conotaes.

    Como j afirmado anteriormente, estudos que abor-dem as variveis que interferem no trnsito devemser investigadas, a fim de se colaborar com a constru-o de medidas eficazes de preveno (Rothengatter,1997; Rozestraten, 1988). No que respeita especial-mente avaliao da ateno, outros delineamentosdevem ser desenhados, com vistas ao aprimoramentodo objeto de estudo.

    Referncias

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    Recebido em janeiro de 2006Reformulado em maro de 2006

    Aprovado em maio de 2006

  • 36 Ana Paula P. Noronha, Fermino F. Sisto, Daniel Bartholomeu, Rossana Lamounier, Fabin Javier M. Rueda

    Psicologia: Pesquisa & Trnsito, v. 2, n 1, p. 29-36, Jan./Jun. 2006

    Sobre os autores:Ana Paula Porto Noronha doutora em Psicologia Cincia e Profisso pela Pontifcia Universidade Catlica de Campinas. Docente doPrograma de Ps-Graduao Stricto Sensu em Psicologia, da Universidade So Francisco. Bolsista de produtividade em pesquisa doCNPq.Fermino Fernandes Sisto doutor pela Universidad Complutense de Madrid, Livre-docente pela Unicamp e docente do curso dePsicologia e do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Psicologia, da Universidade So Francisco. Bolsista de produtividade empesquisa do CNPq.Daniel Bartholomeu Psiclogo e mestrando do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Psicologia, da Universidade SoFrancisco. Bolsista CAPES.Rossana Lamounier Psicloga, perita em avaliao psicolgica. Mestre em Psicologia e Doutoranda em Avaliao Psicolgica pelaUniversidade So Francisco.Fabin Javier Marn Rueda Psiclogo, perito em avaliao psicolgica. Mestre em Psicologia e Doutorando em Avaliao Psicolgicapela Universidade So Francisco. Bolsista CAPES.