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ATIVIDADES CURRICULARES DESPORTIVAS COMO ESPAÇO DE
VIVÊNCIA COMPETITIVA E RECREATIVA
ATIVIDADES CURRICULARES DESPORTIVAS
Autor: Rosana Aparecida de Almeida RA 001200601149
Orientador Científico: Prof. Ms. José Dujardis da Silva
Universidade São Francisco
Curso de Educação Física - Licenciatura
Avenida São Francisco de Assis, 218
Jardim São José - CEP 12916-900
Bragança Paulista-SP
RESUMO
As escolas da rede estadual de ensino do estado de São Paulo, a partir
de 2001, passaram a utilizar as Atividades Curriculares Desportivas (ACDs)
em substituição às turmas de treinamento. O objetivo deste trabalho foi verificar
a importância destas atividades como espaço de vivência competitiva e
recreativa.
A pesquisa de campo foi realizada em uma escola de ensino fundamental
do município de Piracaia, para a coleta de dados foi utilizada uma pesquisa de
cunho qualitativo, cuja análise realizada foi qualitativa-descritiva, através de um
questionário com dez questões fechadas e três questões abertas.
Os alunos foram informados sobre o objetivo da pesquisa e após os pais
terem assinado o termo de consentimento livre e esclarecido, responderam o
questionário, sendo 24 do sexo masculino 11 a 13 anos de idade, e 9 do sexo
feminino 11 a 14 anos de idade, que participam das Atividades Curriculares
Desportivas, na modalidade futsal.
Os alunos, de ambos os sexos, manifestaram-se positivamente quanto as
ACDs, revelando que tais atividades constituem-se em espaços de vivência e
de relações interpessoais que contribuem tanto para a aquisição de bons
hábitos, como possibilita a minimização da questão de violências, retirando os
alunos das ruas.
Palavras-chave: Ensino fundamental- Educação Física escolar-
Atividades Curriculares Desportivas.
ABSTRACT
The schools of the state net of teaching of the state of São Paulo, starting
from 2001, started to use the Activities Sport Curriculars (ACDs) in substitution
ace training groups. The objective of this work is to verify the importance of
these activities as space of competitive and recreational existence.
The field research was accomplished at a school of fundamental teaching
of the municipal district of Piracaia, for the collection of data a research of
qualitative stamp was used through a questionnaire with ten closed subjects
and three open subjects.
The students, of both of sexes, showed positively as ACDs revealing that
such activities are constituted in existence spaces and of relationships
interpessoais that contribute so much to the acquisition of good habits, as
possibility of minimization of the subject of violence, removing the students of
the streets.
Word-key: Fundamental teaching - school Physical education - Activities
Sport Curriculars.
1
1. INTRODUÇÃO
A Educação Física, como disciplina integrante do currículo escolar, tem
sido avaliada e questionada tanto pela sociedade, como pela comunidade
científica, que tentam encontrar sua identidade. Sabem que a última década foi
marcada pela chamada “crise” da Educação Física, quando se intensificou o
questionamento sobre o ensino desta disciplina na escola brasileira.
No Estado de São Paulo, além das aulas de Educação Física foram
instituídas na rede pública estadual, a partir de 2001, as chamadas Atividades
Curriculares Desportivas (ACDs) como complemento às atividades do
componente curricular Educação Física.
Legalmente, as Atividades Curriculares Desportivas (ACDs) no Estado de
São Paulo foram criadas pela Res SE 142/20011, pela Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo em substituição as chamadas “turmas de treinamento”.
Com vistas a dar um novo enfoque ao esporte escolar, para isso as Atividades
Curriculares Desportivas (ACDs) são destinadas à prática das diferentes
modalidades de desporto e se constituem em parte integrante da proposta
pedagógica da escola e são oferecidas como complemento às aulas regulares
de Educação Física.
Este trabalho está estruturado em dois momentos: inicialmente abordou-
se a trajetória da Educação Física no Brasil; no segundo momento a
conceituação, perspectivas e possibilidades das ACDs; bem como a análise
dos dados coletados em uma escola estadual de São Paulo.
1 Dispõe sobre as sessões de Atividades Curriculares Desportivas nas Unidades Escolares da Rede Pública Estadual de São Paulo.
2
EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL – BREVE RETROSPECTIVA
HISTÓRICA
Este capítulo apresenta uma breve retrospectiva histórica da Educação
Física escolar no Brasil para melhor compreendermos a relevância da
presença deste componente do currículo da Educação Básica. Além de apontar
as disposições legais, analisa a Educação Física em diferentes épocas e
contextos.
Ghiraldelli Jr (1992, p. 15), analisando o processo histórico em que se
desenvolveu a Educação Física brasileira identificou cinco (5) tendências
marcantes: a Educação Física Higienista até 1930, a Educação Física
Militarista (1930-1945), Educação Física Pedagogicista (1945-1964), Educação
Física Competitivista (pós 64) e a Educação Física atual.
Ghiraldelli Jr (1992) sabiamente afirma ainda que
[...] a Educação Física Higienista foi a corrente predominante até 1930. Ela era caracterizada pela ênfase dada à saúde, formando homens e mulheres sadios, fortes, dispostos à ação. Estava preocupada com a formação moral. A idéia central seria estabelecer padrões de conduta, que atenderiam os interesses das elites dirigentes, entre todas as outras classes sociais. O autor associou esta corrente com o Liberalismo, e com o discurso de Rui Barbosa.
Apenas na elaboração da Constituição de 1937, através do artigo 131, é
que se fez a primeira referência explícita à Educação Física em textos
constitucionais federais, incluindo-a no currículo como prática educativa
obrigatória (e não como disciplina curricular), junto com o ensino cívico e os
trabalhos manuais, em todas as escolas brasileiras. Também havia um artigo
naquela Constituição que citava o adestramento físico como maneira de
preparar a juventude para a defesa da nação e para o cumprimento dos
deveres com a economia (BRASIL, 1997, p.15).
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A exclusividade militar na formação de profissionais de Educação Física
perdurou até o ano de 1939, quando foram autorizadas as escolas de
Educação Física do Estado de São Paulo e Nacional de Educação Física e
Desportos (atualmente incorporada à Universidade Federal do Rio de Janeiro),
que passaram a polarizar a responsabilidade com a formação de profissionais
de Educação Física, no Brasil.
Foi, entretanto, o Decreto Lei no 5.343, de 25 de março de 1943, art. 3º,
que regulamentou a habilitação para o exercício da função de professor de
Educação Física nos estabelecimentos de ensino secundário, especificando as
instituições que, a partir de 1943, poderiam conferir diplomas com direito a
registro na Divisão de Educação Física.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 4.024 foi a que
mais longa tramitação teve no Poder Legislativo remetido em 1948, recebido
sanção presidencial em dezembro de 1961. Esta lei distribuída em 119 artigos,
teve 23 vetos presidenciais sendo 9 vetos mantidos pelo Congresso Nacional.
A Educação Física escolar no antigo ensino primário tinha a recreação
como atividade física, uma proposta de caráter formativo que dizia respeito a
importância para a formação de valores físicos e morais da criança, estreitando
o objetivo pedagógico e social da Educação Física (BELTRAMI, 2001, p. 28).
A Educação Física precisava ser mantida, pois era ela quem dava o
caráter disciplinador para a preparação física, buscando formar um homem
melhor para um mundo melhor, por isso os jogos/esportes deveriam integrar na
Educação Física escolar. Até então a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB) Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961, em seu
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artigo 22 determinava a obrigatoriedade legal da prática da Educação Física,
no ensino primário e médio (PEREIRA DA COSTA, 1980; BRASIL, 1977).
A partir do golpe militar de 1964, a demanda de quadros superiores, pelo
sistema econômico e os desdobramentos da ideologia do Desenvolvimento
com Segurança exigiram uma reestruturação da universidade, o que
efetivamente só veio a ocorrer no ano de 1968, com a Reforma Universitária.
A prática da Educação Física na escola estava garantida pela legislação
brasileira, com a LDBEN nº 4.024/61 e a Lei nº 5.692/71, que estabeleciam
novas diretrizes para o ensino fundamental e médio, e, ainda, com Leis
específicas da Educação Física, como é o caso da Lei nº 6.503/77 e do
Decreto nº 69.450/71, os quais regulamentavam a facultatividade de sua
prática e a Lei 5.664/71 que facultava o seu oferecimento aos cursos noturnos
(CASTELLANI FILHO, 1998).
A lei 5692/71 reformou o ensino primário e médio, foi sancionada pelo
Presidente da República Emílio G. Médici, em 11 de agosto de 1971.
Distribuída em 88 artigos não sofreu por parte do Poder Executivo um veto
sequer, tendo sido sancionada por inteiro (JUREMA, 1972, p. 9-12).
A Lei 5.692/71 apresenta dois pontos fundamentais: a extensão da
escolaridade obrigatória e a generalização do ensino profissionalizante em
nível médio. Com relação ao segundo aspecto deve-se assinalar que o mesmo
não atendia aos interesses de nenhum segmento social, fato que levou a uma
reinterpretação da 5.692/71 pela Lei 7.044/82.
No segundo semestre de 1975, foi editada e Lei que trata da Política
Nacional de Educação Física e Desportos, que explicita os seguintes
objetivos básicos:
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I - aprimoramento da aptidão física da população; II - elevação do nível dos desportos em todas as áreas; III - implantação e intensificação da prática dos desportos de massa; IV - elevação do nível técnico-desportivo das representações nacionais; V - difusão dos desportos como forma de utilização do tempo de lazer. (PEREIRA DA COSTA, 1980; BRASIL, 1977).
A Educação Física deve romper com suas concepções exclusivamente
tecnicista de ensino e voltar-se para a construção de um ensino que privilegie a
decomposição analítica e a reconstrução imaginativa. Mesmo no ciclo
fundamental, como coloca de forma adequada Unger (2000, p.2), as práticas
de crítica, experimentalismo, cooperação e dialética, que caracterizam os
estágios mais avançados da aprendizagem e da pesquisa nos países mais
adiantados.
A partir da década de oitenta a Educação Física e sua comunidade tem
se imbuído do propósito de uma reorganização e estruturação da área.
Muitos estudos e propostas têm se apresentado, faz parte do processo de
problematização a que nos motivamos desde então.
Ghiraldelli Junior (1990), diz que a discussão dos conteúdos da Educação
Física deve passar pelas suas origens históricas, sua vida e transformação no
interior da mesma, suas transformações a partir da dinâmica das relações
sociais, seu estatuto epistemológico e seu valor educativo segundo uma
axiologia explícita. Cita como exemplo o futebol,
(...) não é apenas um conjunto de regras abstratas ou um conjunto de movimentos abstratos que os alunos aprendem e, com isto, podem educar seus movimentos dentro de parâmetros específicos adrede preparados. Ele nasce na Inglaterra no final do século XIX e, como outros esportes deste período, tem seu desenvolvimento ligado à necessidade da burguesia de construir espaços de convivências próprios, de modo a diferenciar seu comportamento social daqueles ligados à vida operária (1990, p. 4).
É necessário contextualizar e historicizar os conteúdos da Educação
Física escolar e repassá-los aos alunos, respeitando e adaptando, é claro, aos
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níveis de desenvolvimento dos mesmos. É necessário passar aos alunos, as
regras e técnicas dos esportes e, também, relacioná-los com os fatores
econômicos, políticos e sociais.
A Educação Física escolar, como propôs Mariz de Oliveira (1995), deve
ser entendida como um componente curricular, que procura possibilitar ao
aluno a aprendizagem de determinados conhecimentos. Compreender melhor
a organização desses conhecimentos e a conseqüente construção do currículo
da Educação Física na escola deve ser uma das prioridades dos estudiosos da
área.
A edição da Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 20 de dezembro de
1996 busca transformar o caráter que a Educação Física assumiu nos últimos
anos, ao explicitar no art. 26, § 3o, que “a Educação Física, integrada à
proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica,
ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo
facultativa nos cursos noturnos”. Dessa forma, a Educação Física deve ser
exercida em toda a escolaridade de primeira a oitava séries, não somente de
quinta a oitava séries, como era anteriormente (BRASIL, 1997a, p.22).
Quanto à presença do componente curricular Educação Física na
Educação Básica, Sousa e Vago, (1997, p.20) afirmam
[...] que a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos; dessa forma a Educação Física deve ser exercida em toda a escolaridade de primeira a oitava séries, não somente de quinta a oitava séries, como era anteriormente.
A Educação Física na escola deve abranger, enquanto área de
conhecimento, na abordagem de seus conteúdos aspectos que são
7
fundamentais para a formação global do educando. Betti (1992) com relação a
esses aspectos, aponta que
[...] a Educação Física passa a ter a função pedagógica de integrar e introduzir o aluno de 1º e 2º graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica...) (p.285).
A aprendizagem desses conhecimentos tem como objetivo tornar a
pessoa mais capacitada para utilizar, de forma ótima, suas possibilidades e
potencialidades para que, ela possa ser capaz de adaptar-se às mais diversas
situações em que são realizados os movimentos.
Afinal, o que seria a Educação Física? De acordo com o livro Coletivo de
Autores (1992, p. 50), “perguntar o que é a Educação Física só faz sentido
quando a preocupação é compreender essa prática para transformá-la”.
Diferentes respostas têm sido historicamente construídas sem, contudo,
contribuírem para a superação da prática conservadora existente.
É ainda o Coletivo de Autores que nos propõe uma definição mais clara
do que seria a Educação Física e o seu objeto de estudo (1992, p. 50): “A
Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza
formas de atividades expressivas corporais como jogo, esporte, dança,
ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que
podemos chamar de cultura corporal”.
Os PCNs de Educação Física editado em 1997 traz uma proposta que
procura democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica da área,
buscando ampliar, de uma visão apenas biológica, para um trabalho que
incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos
(BRASIL, 1997a, p.15).
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Os PCNs destacam a importância do papel da escola como espaço de
formação e informação, onde os conteúdos estejam voltados para a inserção
do aluno no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um universo
cultural maior. A escola deverá estar voltada para a formação de cidadãos
críticos, capazes de atuar com competência na sociedade. Sendo assim,
“buscará eleger, como objetivo de ensino, conteúdos que estejam em
consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico,
cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais para que os
alunos possam exercer seus direitos e deveres” (BRASIL, 1997a, p.45).
A Educação Física na escola deve possibilitar a aprendizagem de
diferentes conhecimentos sobre o movimento, contemplando as três
dimensões: procedimental (saber fazer), conceitual (saber sobre) e atitudinal
(saber ser). Com esta aprendizagem, estaremos capacitando nosso aluno para
utilizar de forma autônoma, seu potencial para mover-se, sabendo como,
quando e porque realizar atividades ou habilidades motoras ( DARIDO, 1998).
O modelo de Educação Física contido nos PCNs (Brasil, 1998) propõe
como princípio básico a necessidade das aulas serem dirigidas a todos os
alunos. Nas palavras dos PCNs:
[...] a sistematização dos objetivos, conteúdos, processos de ensino e aprendizagem e avaliação tem como meta a inclusão do aluno na cultura corporal de movimentos, por meio da participação e reflexão concretas e efetivas. Busca-se reverter o quadro histórico de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultante da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência" (p.19).
O PCN define cultura como
[...] o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe (BRASIL, 1997b, p.23).
9
Dentre as produções dessa cultura corporal, algumas foram incorporadas
pela Educação Física em seus conteúdos: o jogo, o esporte, a dança, a
ginástica e a luta. Estes têm em comum a representação corporal, com
características lúdicas, de diversas culturas humanas; todos eles ressignificam
a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude lúdica.
Assim,
[...] a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde (BRASIL, 1997b, p.23).
Para encerrar Taffarel (1993) destaca
[...] o que vai dar o referencial para relevância da Educação Física e Esportes é sua possibilidade histórica de interferir politicamente para a construção de novas mentalidades, novas sensibilidades e uma nova sociedade.
E isto não implica em fazer das aulas proselitismo político ou ato de
doutrinamento. Significa a abordagem do conhecimento numa perspectiva
diferenciada, de modo a ser compreendido como provisório, produzido
historicamente e passível de redimensionamento e transformação. Significa
favorecer uma leitura da realidade que estabeleça ligações com projetos
políticos de mudanças na sociedade.
1.2 AS ACDs COMO ESPAÇO DE VIVÊNCIAS COMPETITIVAS
E RECREATIVAS
Atualmente no Estado de São Paulo, as Atividades Curriculares
Desportivas (ACDs) foram implementadas junto à rede estadual de ensino a
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partir de 2001 e regulamentadas pela Res. SE 173/20022. Essas atividades
foram propostas visando:
1.a importância da prática do esporte escolar como espaço de vivência de relações interpessoais que contribuem para a ampliação das oportunidades de exercício de uma cidadania ampla e consciente; 2.valorizar a importância da participação de alunos em atividades esportivas competitivas ou recreativas como um dos fatores contributivos para a minimização da questão da violência e da aquisição de hábitos danosos ao convívio social (SÃO PAULO, 2002).
As Atividades Curriculares Desportivas (ACDs) são destinadas à prática
das diferentes modalidades de desporto e se constituem em parte integrante da
proposta pedagógica da escola e são oferecidas como complemento às aulas
regulares de Educação Física.
As escolas podem organizar as ACDs em turmas por categoria,
modalidade e gênero (masculino, feminino ou misto) desde que a natureza
das modalidades e categorias selecionadas se justifique pela pertinência e
coesão com a proposta pedagógica de que é parte integrante.
Cabe ressaltar que são os docentes de Educação Física os
responsáveis pela organização das diferentes turmas de atividades, que
poderão ser constituídas com alunos dos diversos turnos de funcionamento
da escola e, quando possível, de diferentes níveis de ensino. Entretanto as
propostas de trabalho deverão ser devidamente analisadas e avaliadas pelo
Conselho de Escola e encaminhadas à Diretoria de Ensino para a devida
homologação.
As turmas de Atividades Curriculares Desportivas são organizadas nas
seguintes modalidades: Atletismo, Basquetebol, Capoeira, Damas, Futsal,
2 Dispõe sobre as sessões de Atividades Curriculares Desportivas nas Unidades Escolares da Rede Pública Estadual. Revoga a Res SE 142/2001.
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Ginástica Artística, Ginástica Geral, Ginástica Rítmica Desportiva, Handebol,
Judô, Tênis de Mesa, Voleibol e Xadrez, conforme estabelece a Instrução
CENP de 06 de dezembro de 20023.
As categorias das turmas de todas as modalidades de Atividades
Curriculares Desportivas serão:
a) Pré-mirim (de alunos até 12 anos completos no ano)
b) Mirim (de alunos até 14 anos completos no ano)
c) Infantil (de alunos até 16 anos completos no ano)
d) Juvenil (de alunos até 18 anos completos no ano)
e) Livre (de alunos de diversas idades inclusive com 19 anos ou mais).
É importante destacar que as turmas das modalidades Capoeira,
Basquetebol, Futsal, Handebol, Judô e Voleibol, de todas as categorias,
deverão ser organizadas por gênero (masculino ou feminino) e as de Atletismo,
Damas, Ginástica Artística, Ginástica Geral, Ginástica Rítmica Desportiva,
Tênis de Mesa e Xadrez, de todas as categorias, poderão ser mistas,
respeitando o limite de 25 alunos.
Os alunos das Atividades Curriculares Desportivas não poderão ser
dispensados das aulas regulares de Educação Física. A escola pública
estadual deve oferecer espaço para a aprendizagem do esporte em nível de
treinamento esportivo, pois uma parcela significativa dos alunos deseja
aprender sobre o Esporte para participar de competições escolares.
O professor deve propiciar através das ACDs oportunidades de vivência
de situações de ensino-aprendizagem que levem os alunos ao
3 Dispõe sobre orientação à implementação das sessões de Atividades Curriculares Desportivas nas Unidades Escolares da Rede Pública Estadual
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desenvolvimento da autonomia e a maneiras de conviver socialmente, pois as
ACDs são vistas pelos alunos como ótimos momentos de consolidação das
relações de amizade. Nas aulas de Educação Física devem ser permitidas
práticas alternativas, opções de movimentos, variabilidade de atividades,
oportunidades para os alunos se desenvolverem, se expressarem, participarem
efetivamente, construindo também a prática.
As manifestações do treinamento desportivo, o esporte-educação trata de
jovens na infância e na adolescência, seu compromisso é a formação para a
cidadania, atua como meio de socialização e manutenção da saúde,
desenvolver o autoconhecimento, estabelecendo o desenvolvimento de
habilidades motoras, preocupando-se não apenas no seu potencial, mas sim
em suas limitações e na absorção de vivências esportivas de diferentes
modalidades e introduzindo-o nas diferentes manifestações culturais (TUBINO
& MOREIRA, 2003, p.39).
2. OBJETIVOS
Os objetivos deste estudo foram:
a. Verificar a importância das aulas de Atividades Curriculares
Desportivas para os alunos, como espaço de vivência de relações
interpessoais das 5 ª e 7ª séries do Ensino Fundamental.
b. Analisar a participação dos alunos em atividades competitivas ou
recreativas.
c. Oportunizar exercício de uma cidadania ampla e consciente.
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Neste estudo pretende-se investigar: As ACDS constituem-se em espaços
de vivência competitiva e recreativa melhorando significativamente a formação
e relacionamento entre os alunos?
3. METODOLOGIA
Para acompanhar o desenvolvimento e dinâmica das Atividades
Curriculares Desportivas (ACDs) realizou-se uma pesquisa de campo em uma
escola Estadual, em que além da pesquisa verificou-se a prática pedagógica do
professor de Educação Física em uma atividade extra-curricular. Esta deve
superar os limites da atividade desportiva constituindo um espaço de
convivência, relacionamento interpessoal e exercício de cidadania, a partir do
convívio saudável que pode e deve possibilitar.
Neste trabalho optamos pelo estudo de caso, realizado em uma escola
pública estadual de Piracaia- S.P, tendo como referência as considerações de
Megid Neto (1999, p. 193) que aponta o estudo de caso como adequado à
focalização da organização educacional, cujo objeto de estudo pode ser uma
escola, uma série, um grupo de alunos, uma sala de aula, um grupo de
professores etc.
Para o desenvolvimento deste estudo optou-se por uma pesquisa de
cunho qualitativo uma vez que, de acordo com Alves-Mazotti (apud XAVIER,
2001), este tipo de pesquisa segue uma tradição interpretativa onde a
subjetividade dos sujeitos envolvidos interfere nos significados a serem
estudados. Também chamada de pesquisa “naturalística” esta abordagem,
segundo Bogdan & Biklen (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986) envolve a obtenção
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de dados descritivos, enfatizando mais os processos utilizados do que o
produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos atores.
Gil (1999, p. 91) ressalta que [...] “o questionário é uma técnica de
investigação composta por questões escritas com o objetivo de conhecer
opiniões, crenças e, dentre outros aspectos, situações vivenciadas”.
O instrumento de coleta de dados utilizado nesta pesquisa foi o
questionário semi-estruturado, formulado com dez perguntas fechadas e três
abertas, as quais foram respondidas em encontros previamente agendados
com a pesquisadora e os participantes deste estudo. De acordo com André e
Dalmazo (1995, p. 41)
[...] por meio de técnicas de entrevistas é possível documentar o não-documentado, isto é, desvelar os encontros e desencontros que permeiam o dia-a dia da prática escolar, descrever as ações e representações dos seus atores sociais, reconstruir sua linguagem, suas formas de comunicação e os significados que são criados e recriados no cotidiano do seu fazer pedagógico.
Participaram deste estudo 24 alunos do sexo masculino de 11 a 13 anos
de idade, e 9 do sexo feminino de 11 a 14 anos de idade, que participam das
Atividades Curriculares Desportivas, na modalidade futsal.
Os alunos foram informados sobre o objetivo da pesquisa e após os pais
terem assinado o termo de consentimento livre e esclarecido, receberão o
questionário para responder. Logo após a coleta de dados, será feita uma
análise qualitativa-descritiva, levantando os resultados obtidos e relacionando-
os com as informações adquiridas através da pesquisa bibliográfica.
4. RESULTADOS
Ressalto que a base para fundamentar este projeto, tem por objetivo
verificar a importância das Atividades Curriculares Desportivas (ACDs), para os
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discentes tanto no seu desenvolvimento desportivo, como também nas
relações sociais e interpessoais. Por motivos externos só foi possível coletar os
dados pelo questionário dos alunos do Ensino Fundamental. Para a coleta de
dados deste estudo foram entregues 30 questionários aos alunos que
freqüentam a modalidade futsal masculino, contando com a colaboração de 24
alunos. Já para o futsal feminino foram entregues 20 questionários contando
com a colaboração de apenas 9 alunas.
Tabelas relacionadas ao questionário
A tabela 1 apresenta a modalidade esportiva praticada nas aulas das ACDs.
* Basquetebol, Voleibol, Tênis de mesa, Handebol, Ginástica Geral, Atletismo, Xadrez,
Capoeira, Judô, Ginástica Artística e Dança.
De acordo com o questionário analisado, os alunos de ambos os sexos
praticam a modalidade esportiva futsal. Nessa escola também há outras
modalidades esportivas, mas a pesquisa foi feita com alunos do ensino
fundamental que praticam esta modalidade esportiva.
A tabela 2 apresenta a opinião dos alunos sobre as aulas das ACDs.
Constatamos que 21 alunos do sexo masculino consideram as aulas das
ACDs como ótimas, e apenas 2 alunos consideram boas como segunda opção
1 – Qual modalidade esportiva você prática nas aulas das ACDs?
Masculino Feminino Futsal 24 9 * Outras modalidades 0 0
2 – O que você acha das aulas das ACDs?
Masculino Feminino
Ótimas 21 7
Boas 2 0
Regulares 1 2
Ruis 0 0
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e 1 aluno aponta as aulas como regulares. Já as alunas do sexo feminino 7
consideram as aulas como ótimas e 2 alunas consideram as aulas regulares
como segunda opção. E a diferença entre as opiniões “ótimas” e “boas” para o
sexo masculino ocorre possivelmente em virtude da amostragem masculina.
A tabela 3 apresenta o porquê da participação dos alunos nas aulas de
ACDs.
Os resultados revelaram que 20 alunos do sexo masculino participam das
aulas das ACDs porque gostam da modalidade futsal e 4 alunos participam
para melhorar suas relações interpessoais. Já as alunas do sexo feminino 9
participam porque gostam da modalidade futsal.
Quanto ao motivo que os levam a prática das ACDs, observa-se que os
alunos do sexo masculino apresentam coerência em suas respostas que
diferenciam do sexo feminino provavelmente devido a uma maior quantidade
de opiniões.
Quanto a importância das aulas de atividades curriculares desportivas na
escola, (Tabela 4), freqüentemente observa-se que ambos os sexos apontaram
a opinião “sim” que é muito importante ter as aulas de atividades curriculares
desportivas na escola.
3 – Você participa das aulas de atividades curriculares desportivas porque? Masculino Feminino Sim, porque gosto 20 9 Sim, porque meus amigos participam 0 0 Sim, porque sou obrigado 0 0 Sim, porque melhora minhas relações interpessoais 4 0
4 – Na sua opinião, é importante ter as aulas de atividades curriculares desportivas na escola?
Masculino Feminino Sim 24 9 Não 0 0
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(Tabela 5) De acordo com a Res.173/2002 a opção dos alunos de
ambos os sexos as aulas de atividades curriculares desportivas são 3 aulas de
60 minutos por semana.
Quanto a motivação que os levaram a praticar as atividades curriculares
desportivas (Tabela 6), 9 alunos do sexo masculino tiveram os “pais” como
motivadores e 7 alunos os “amigos” 6 alunos por interesse próprio e 2 alunos
pelo “professor”. Já do sexo feminino 5 foram motivados pelos “amigos” 3
pelos “pais” e 1 por interesse próprio.
Com relação a habilidade desenvolvida no esporte, (Tabela 7), 18 alunos
do sexo masculino responderam que já tinham a habilidade desenvolvida na
modalidade futsal e 6 alunos responderam que não tinham suas habilidades
desenvolvidas. E do sexo feminino 5 alunas tinham sua habilidade
desenvolvida e 4 alunas não.
5 – Quantas aulas de atividades curriculares desportivas são realizadas por semana? Masculino Feminino 1 aula de 60 minutos 0 0 2 aula de 60 minutos 0 0 3 aula de 60 minutos 24 9
6 – Você teve alguma motivação para praticar as atividades curriculares desportivas
Masculino Feminino Pais 9 3 Professor 2 0 Amigos 7 5 Por você 6 1
7 – Quando iniciou a prática nesta modalidade você já tinha sua habilidade desenvolvida nesse esporte?
Masculino Feminino Sim 18 5 Não 6 4
18
No que se refere ao melhor desempenho após a prática da modalidade
(Tabela 8), 14 alunos do sexo masculino revelaram “bom desempenho” e 10
alunos “ótimo desempenho.” Já do sexo feminino 5 demonstraram “bom
desempenho” e 4 “ótimo desempenho.” Portanto ambos os sexos melhoram
significativamente seu desempenho em relação a prática da modalidade futsal
(Tabela 9), se os alunos gostam de participar de campeonatos, ambos os
sexos responderam que “sim.” De acordo com a resolução 173/2002 a prática
do esporte escolar faz com que os alunos tenham um espaço de vivência de
relações interpessoais, contribuindo para novas oportunidades e não
simplesmente bom desempenho nas competições.
Em relação às características das Atividades Curriculares Desportivas
(Tabela 10), os resultados revelaram que de acordo com a opção dos alunos
do sexo masculino 7 optaram por ser atividades “competitivas”, e segunda
8 – No seu ponto de vista, você obteve melhor desempenho após sua prática nesta modalidade. Masculino Feminino Sim, bom desempenho 14 5 Sim, ótimo desempenho 10 4 Não, péssimo desempenho 0 0 Não, ruim desempenho 0 0
9 – Você gosta de participar de campeonatos?
Masculino Feminino
Sim 24 9
Não 0 0
10 – As Atividades Curriculares Desportivas são?
Masculino Feminino Competitivas 7 7 Recreativas 9 0 Ambas 8 2
19
opção “recreativas” e 8 alunos acreditam ser “ambas” e do sexo feminino 7
também optaram em “competitivas” e 2 opção “ambas”. A diferença entre as
opiniões ocorrem devido a menor quantidade do sexo feminino e também o
interesse em virtude da diferença de sexo.
Em relação a questão: 11- Quando ocorrem campeonatos, quais critérios
para a escolha dos alunos participantes? As respostas analisadas mostram que
tanto do sexo masculino quanto feminino responderam que a participação dos
alunos nos campeonatos é de acordo com a faixa etária que o campeonato
permite, e se o aluno está com um bom desempenho no esporte, tem
habilidade e também companheirismo, pois não basta ser o bom e sim ter
cumplicidade com sua equipe.
Em relação a questão: 12- As ACDs através da prática do esporte escolar
contribuem para melhoria das relações entre os alunos? De acordo com as
respostas analisadas os alunos do sexo masculino e feminino responderam
que através da prática do esporte escolar eles melhoraram no relacionamento
com seus companheiros e o tempo que ficam juntos os faz crescer, produz
novas amizades, e se estabelece novas relações mútuas.
Na questão: 13- A participação dos alunos nas ACDs em atividades
competitivas ou recreativas contribuem para aquisição de hábitos saudáveis de
convívio social e minimização da questão da violência na escola? Justifique.
De acordo com as respostas analisadas na opinião do sexo masculino, a
participação nas aulas da ACDs em atividades competitivas ou recreativas tira
os meninos das ruas, do caminho da violência e das drogas levando a praticar
uma atividade saudável, e o melhor convívio com seus amigos. Já o sexo
feminino afirma que as atividades das ACDs possibilitam a melhor convivência
20
em sociedade, cooperando com o próximo, possibilitando novas amizades,
contribuindo para a diminuição da violência.
5. DISCUSSÃO
As aulas das ACDs são mais uma oportunidade para o desenvolvimento
dos alunos, também é muito importante que os alunos tenham acesso a prática
de diferentes modalidades esportivas.
Vargas Neto (1995) destaca que com as atividades físico-desportivas
pode-se desenvolver um profundo trabalho educativo, humanizante e
integrador, oferecendo tanto uma alternativa gratificante como uma
compensação da opressão da vida atual, pois o esporte torna possível a
expressão e a satisfação de muitos desejos que o mundo moderno desperta,
mas também reprime.
De acordo com os resultados coletados os alunos praticam a modalidade
futsal por gostarem, classificam as aulas como ótimas na maioria dos casos e
deixam claro a sua importância na escola, sendo motivados primeiramente
pelos pais em segundo por amigos.
A maioria dos alunos já tinham habilidade desenvolvida nesta
modalidade, mas após sua prática adquiriram um melhor desempenho tanto na
modalidade praticada como também nas suas relações sociais e interpessoais.
Todos os alunos gostam de participar de campeonatos, este por sua vez, é
permitido apenas dentro da faixa etária para cada modalidade em particular.
Na opinião dos alunos as Atividades curriculares Desportivas eles
classificam como recreativas, competitivas e ambas. A questão é porque existe
diferença de opiniões entre o gênero masculino e feminino para esta afirmação.
21
6. CONCLUSÃO
Com este estudo, com a intensa revisão bibliográfica e a pesquisa de
campo, constatamos a importância das Atividades Curriculares Desportivas
(ACDs), tanto nas atividades competitivas como recreativas no
desenvolvimento interpessoal melhorando o convívio com os diferentes
fatores sociais presentes na escola hoje.
Revelaram positivamente que essas atividades, são espaços de
vivência e de relações interpessoais, contribuindo para aquisição de hábitos
saudáveis e melhor convívio com seus amigos, ou seja, para uma cidadania
ampla e consciente.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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