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SIC CLÍNICA MÉDICA ENDOCRINOLOGIA VOL. 1

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Autoria e colaboração

Leandro Arthur DiehlGraduado em Medicina e especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Meta-bologia (SBEM). Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela UEL e doutor em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, linha de Ensino em Saúde, pelas Faculdades Pequeno Príncipe. Médico docente da UEL, supervisor do programa de Residência Médica em Clínica Médica do Hospital Universitário de Londrina/UEL e vice-coordenador do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do HU/UEL.

Rodrigo Antônio Brandão NetoGraduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Especialista em Clínica Médica, em Emergências Clínicas e em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), onde é médico assistente da dis-ciplina de Emergências Clínicas.

Antonela Siqueira CataniaGraduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Endocrinologia e Me-

tabologia pela UNIFESP. Pós-doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São

Paulo (FSP/USP). Título de especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinolo-

gia e Metabologia (SBEM).

Assessoria didáticaFabrício Martins Valois

Atualização 2017Leandro Arthur Diehl

Apresentação

Os desafios da Medicina a serem vencidos por quem se decide pela área são tantos e tão diversos que é impossível tanto determiná-los quanto mensurá-los. O período de aulas práticas e de horas em plantões de vários blocos é apenas um dos antecedentes do que o estudante virá a enfrentar em pouco tempo, como a maratona da escolha por uma especialização e do ingresso em um programa de Residência Médica reconhecido, o que exigirá dele um preparo intenso, minucioso e objetivo.

Trata-se do contexto em que foi pensada e desenvolvida a Coleção SIC Principais Temas para Provas, cujo material didático, preparado por profis-sionais das mais diversas especialidades médicas, traz capítulos com inte-rações como vídeos e dicas sobre quadros clínicos, diagnósticos, tratamen-tos, temas frequentes em provas e outros destaques. As questões ao final, todas comen tadas, proporcionam a interpretação mais segura possível de cada resposta e reforçam o ideal de oferecer ao candidato uma preparação completa.

Um excelente estudo!

Índice

Capítulo 1 - Diabetes mellitus - fi siopatologia e classifi cação .......................... 15

1. Introdução ...................................................................16

2. Epidemiologia.............................................................16

3. Classifi cação .............................................................. 17

Resumo ........................................................................... 24

Capítulo 2 - Diabetes mellitus - diagnóstico .........................................................25

1. Testes diagnósticos empregados ........................ 26

2. Diagnóstico de diabetes e de outros estados de tolerância a glicose ............................................. 29

3. Rastreamento (screening) populacional ........... 30

4. Pré-diabetes ...............................................................31

5. Diabetes mellitus gestacional (rastreamentoe diagnóstico) ..............................................................32

Resumo ........................................................................... 34

Capítulo 3 - Diabetes mellitus - tratamento .........................................................35

1. Introdução .................................................................. 36

2. Justifi cativas para o tratamento intensivo .... 36

3. Metas ............................................................................37

4. Tratamento do diabetes mellitus tipo 2 ............ 39

5. Drogas antidiabéticas ............................................. 43

6. Diretrizes para o tratamento farmacológico do diabetes mellitus tipo 2 .....................................60

7. Insulina .........................................................................64

8. Situações especiais .................................................. 71

9. Controle das comorbidades ...................................72

10. Acompanhamento ..................................................77

11. Cirurgia “metabólica” ..............................................77

Resumo ........................................................................... 78

Capítulo 4 - Complicações agudas do diabetes mellitus ...............................................79

1. Hipoglicemia no diabético ......................................80

2. Cetoacidose diabética ............................................ 83

3. Estado hiperosmolar hiperglicêmico ................. 95

Resumo ............................................................................ 99

Capítulo 5 - Complicações crônicas do diabetes mellitus .............................................101

1. Introdução ............................................................... 102

2. Retinopatia diabética ........................................... 102

3. Doença renal do diabetes .................................... 105

4. Neuropatia diabética ..............................................111

5. Pé diabético .............................................................. 117

6. Rastreamento das complicações microvasculares no diabetes mellitus ............... 121

7. Aterosclerose e doença cardiovascular no diabetes mellitus ...................................................... 121

Resumo ..........................................................................123

Capítulo 6 - Síndrome metabólica ...............125

1. Introdução .................................................................126

2. Defi nições ..................................................................126

3. Fisiopatologia .......................................................... 130

4. Síndrome metabólica, risco cardiovascular e diabetes mellitus ...................................................... 131

5. Síndrome metabólica e síndrome dos ovários micropolicísticos ......................................133

6. Manejo ....................................................................... 134

7. Controvérsias............................................................135

Resumo ...........................................................................136

Questões:Organizamos, por capítulo, questões de instituições de todo o Brasil.

Anote:O quadrinho ajuda na lembrança futura sobre o domínio do assunto e a possível necessidade de retorno ao tema.

QuestõesCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

2015 - FMUSP-RP1. Um homem de 22 anos, vítima de queda de moto em ro-dovia há 30 minutos, com trauma de crânio evidente, tra-zido pelo SAMU, chega à sala de trauma de um hospital terciário com intubação traqueal pelo rebaixamento do nível de consciência. A equipe de atendimento pré-hos-pitalar informou que o paciente apresentava sinais de choque hipovolêmico e infundiu 1L de solução cristaloide até a chegada ao hospital. Exame físico: SatO2 = 95%, FC = 140bpm, PA = 80x60mmHg e ECG = 3. Exames de imagem: raio x de tórax e bacia sem alterações. A ultrassonografia FAST revela grande quantidade de líquido abdominal. A melhor forma de tratar o choque desse paciente é:a) infundir mais 1L de cristaloide, realizar hipotensão permissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias e en-caminhar para laparotomiab) infundir mais 3L de cristaloide, aguardar exames labo-ratoriais para iniciar transfusão de papa de hemácias e encaminhar para laparotomiac) infundir mais 3L de cristaloide, realizar hipotensão permissiva, iniciar transfusão de papa de hemácias e plasma fresco congelado e encaminhar para laparotomiad) infundir mais 1L de cristaloide, iniciar transfusão de papa de hemácias e plasma fresco congelado e encami-nhar o paciente para laparotomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - SES-RJ2. Para avaliar inicialmente um paciente com traumatis-mo cranioencefálico, um residente utilizou a escala de Glasgow, que leva em conta:a) resposta verbal, reflexo cutâneo-plantar e resposta motorab) reflexos pupilares, resposta verbal e reflexos profundosc) abertura ocular, reflexos pupilares e reflexos profundosd) abertura ocular, resposta verbal e resposta motora

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFES3. A 1ª conduta a ser tomada em um paciente politrau-matizado inconsciente é:

a) verificar as pupilasb) verificar a pressão arterialc) puncionar veia calibrosad) assegurar boa via aéreae) realizar traqueostomia

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFG4. Um homem de 56 anos é internado no serviço de emergência após sofrer queda de uma escada. Ele está inconsciente, apresenta fluido sanguinolento não coa-gulado no canal auditivo direito, além de retração e movimentos inespecíficos aos estímulos dolorosos, está com os olhos fechados, abrindo-os em resposta à dor, e produz sons ininteligíveis. As pupilas estão isocóricas e fotorreagentes. Sua pontuação na escala de coma de Glasgow é:a) 6b) 7c) 8d) 9

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2015 - UFCG 5. Um homem de 20 anos foi retirado do carro em cha-mas. Apresenta queimaduras de 3º grau no tórax e em toda a face. A 1ª medida a ser tomada pelo profissional de saúde que o atende deve ser:a) aplicar morfinab) promover uma boa hidrataçãoc) perguntar o nomed) lavar a facee) colocar colar cervical

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei dificuldade para responder

2014 - HSPE6. Um pediatra está de plantão no SAMU e é acionado para o atendimento de um acidente automobilístico. Ao chegar ao local do acidente, encontra uma criança de 5 anos próxima a uma bicicleta, sem capacete, dei-tada no asfalto e com ferimento cortocontuso extenso no crânio, após choque frontal com um carro. A criança está com respiração irregular e ECG (Escala de Coma de Glasgow) de 7. O pediatra decide estabilizar a via aérea

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Comentários:Além do gabarito o�cial divulgado pela instituição, nosso

corpo docente comenta cada questão. Não hesite em retornar ao conteúdo caso se sinta inseguro. Pelo

contrário: se achá-lo relevante, leia atentamente o capítulo e reforce o entendimento nas dicas e nos ícones.

ComentáriosCirurgia do Trauma

Atendimento inicial ao politraumatizado

Questão 1. Trata-se de paciente politraumatizado, ins-tável hemodinamicamente, com evidência de hemope-ritônio pelo FAST. Tem indicação de laparotomia explo-radora, sendo que a expansão hemodinâmica pode ser otimizada enquanto segue para o centro cirúrgico.Gabarito = D

Questão 2. A escala de coma de Glasgow leva em con-ta a melhor resposta do paciente diante da avaliação da resposta ocular, verbal e motora. Ainda que a avaliação do reflexo pupilar seja preconizada na avaliação inicial do politraumatizado, ela não faz parte da escala de Glasgow.Gabarito = D

Questão 3. A 1ª conduta no politraumatizado com rebai-xamento do nível de consciência é garantir uma via aérea definitiva, mantendo a proteção da coluna cervical.Gabarito = D

Questão 4. A pontuação pela escala de coma de Glasgow está resumida a seguir:

Abertura ocular (O)

Espontânea 4

Ao estímulo verbal 3

Ao estímulo doloroso 2

Sem resposta 1

Melhor resposta verbal (V)

Orientado 5

Confuso 4

Palavras inapropriadas 3

Sons incompreensíveis 2

Sem resposta 1

Melhor resposta motora (M)

Obediência a comandos 6

Localização da dor 5

Flexão normal (retirada) 4

Flexão anormal (decor-ticação) 3

Extensão (descerebração) 2

Sem resposta (flacidez) 1

Logo, o paciente apresenta ocular 2 + verbal 2 + motor 4 = 8.Gabarito = C

Questão 5. O paciente tem grande risco de lesão térmica de vias aéreas. A avaliação da perviedade, perguntando-se o nome, por exemplo, é a 1ª medida a ser tomada. Em caso de qualquer evidência de lesão, a intubação orotra-queal deve ser precoce.Gabarito = C

Questão 6. O tiopental é uma opção interessante, pois é um tiobarbitúrico de ação ultracurta. Deprime o sistema nervoso central e leva a hipnose, mas não a analgesia. É usado para proteção cerebral, pois diminui o fluxo sanguí-neo cerebral, o ritmo metabólico cerebral e a pressão in-tracraniana, o que é benéfico para o paciente nesse caso.Gabarito = A

Questão 7. Seguindo as condutas preconizadas pelo ATLS®, a melhor sequência seria:A: via aérea definitiva com intubação orotraqueal, man-tendo proteção à coluna cervical.B: suporte de O2 e raio x de tórax na sala de emergência.C: garantir 2 acessos venosos periféricos, continuar a infusão de cristaloides aquecidos e solicitar hemoderi-vados. FAST ou lavado peritoneal caso o raio x de tórax esteja normal.D: garantir via aérea adequada e manter a oxigenação e a pressão arterial.E: manter o paciente aquecido.Logo, a melhor alternativa é a “c”. Gabarito = C

Questão 8. O chamado damage control resuscitation, que deve ser incorporado na próxima atualização do ATLS®, está descrito na alternativa “a”. Consiste na contenção precoce do sangramento, em uma reposição menos agressiva de cristaloide, mantendo certo grau de hipo-tensão (desde que não haja trauma cranioencefálico as-sociado), e no uso de medicações como o ácido tranexâ-mico ou o aminocaproico.Gabarito = A

Questão 9. O tratamento inicial de todo paciente poli-traumatizado deve sempre seguir a ordem de priorida-des proposta pelo ATLS®. A 1ª medida deve ser sempre garantir uma via aérea pérvia com proteção da coluna cervical. Nesse caso, a fratura de face provavelmente in-viabiliza uma via aérea não cirúrgica, e o paciente é can-didato a cricotireoidostomia. Após essa medida, e garan-

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Capítulo 7 - Obesidade ................................... 137

1. Introdução ................................................................ 138

2. Diagnóstico .............................................................. 138

3. Epidemiologia..........................................................140

4. Regulação do peso corpóreo ............................. 142

5. Por que há tantos obesos? .................................. 144

6. Complicações ......................................................... 146

7. Tratamento não farmacológico ........................... 151

8. Farmacoterapia .......................................................152

9. Cirurgia bariátrica ...................................................156

Resumo ......................................................................... 160

Diabetes mellitus - fisiopatologia e classificação

Leandro Arthur DiehlRodrigo Antônio Brandão Neto

Neste capítulo, serão apresentados o conceito, a epi-demiologia e a classificação da síndrome diabética, de elevada prevalência e grave problema de saúde pública no Brasil. O Diabetes Mellitus (DM) é uma afec-ção decorrente da deficiência de produção e/ou da ação da insulina no corpo, levando a um estado de hiper-glicemia, que acomete em torno de 13% da população adulta brasileira, aumentando com a idade e associada à obesidade. O DM pode ser classificado em tipo 1, tipo 2, gestacional e outros específicos (como MODY ou decor-rente de pancreatite), sendo os 2 primeiros os mais frequentes. O tipo 1 é mais comum em crianças e ado-lescentes e tem, como causa, a destruição das células betapancreáticas, associada a fatores autoimunes e de sintomatologia mais exuberante, com risco de cetoaci-dose diabética. O tipo 2 é mais prevalente em adultos a partir dos 40 anos, com grande associação a acúmulo de gordura visceral e tendo, como importante mecanismo fisiopatológico, o aumento da resistência periférica a insulina. É frequentemente assintomático no início, sem tendência a cetoacidose. A forma gestacional associa-se a alterações na tolerância a insulina, afetando sobre-tudo gestantes com idade mais avançada, com excesso de peso e história familiar de DM. É um quadro que pode iniciar-se na gestação e perdurar no período pós-parto.

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1. IntroduçãoO Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome complexa, decorrente da de-ficiência de insulina, associada ou não à incapacidade desta de exercer adequadamente seus efeitos (resistência insulínica). Sua principal ca-racterística é o metabolismo anormal dos carboidratos (hiperglicemia), mas também estão comumente presentes distúrbios do metabolismo dos lipídios (dislipidemia) e das proteínas (catabolismo muscular). É im-portante frisar que o diabetes não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta a hiperglicemia como característica comum.

Os 2 principais tipos do DM são: - 1 - DM tipo 1 (antigamente conhecido como “diabetes juvenil” ou “dia-betes insulinodependente”); - 2 - DM tipo 2 (antigamente conhecido como “diabetes do adulto” ou “diabetes não insulinodependente”).

O diabetes tipo 2, causa mais comum de diabetes (correspondendo a aproximadamente 90% dos casos), está associado, na maioria dos casos, a outros problemas clínicos, como hipertensão arterial, dislipidemia, excesso de peso e disfunção endotelial (síndrome metabólica), acarre-tando um importante aumento do risco de eventos cardiovasculares.

ImportanteA resposta insulínica

promove 2 efeitos princi-pais: utilização da glicose

com principal substrato energético e anabolismo.

Vídeo Glicorregulação

hepática

2. EpidemiologiaNas últimas décadas, tem ocorrido um notável aumento do número de casos de DM em todo o mundo. Em 1985, havia 30 milhões de adul-tos diabéticos no mundo; esse número aumentou para 120 milhões em 1997, 173 milhões em 2002, 246 milhões em 2007, 366 milhões em 2011, 387 milhões em 2014 e 422 milhões em 2016 – a previsão é de 592 mi-lhões por volta do ano 2035. Dois terços desses indivíduos viverão em países em desenvolvimento.

Cerca de 13 milhões de brasileiros são diabéticos. A prevalência de diabetes entre adultos brasileiros ainda não é bem estabelecida, mas deve ficar na ordem de 7,4 a 13,5%, dependendo do estudo usado como referência. Essa prevalência é ainda maior nas faixas etárias mais avançadas (17 a 21% dos indivíduos entre 60 e 69 anos). No entanto, também tem ocorrido aumento da prevalência de DM2 entre crianças e adolescentes.

Grande parte do aumento na prevalência de diabetes é devida à eleva-ção do número de casos de diabéticos tipo 2, em paralelo à epidemia de obesidade, bem como ao envelhecimento populacional, ao seden-tarismo e à urbanização. Entretanto, além do aumento do número de casos de diabetes tipo 2, as últimas décadas têm presenciado um au-mento de 3% ao ano no número de casos de diabetes tipo 1 entre pes-soas com menos de 15 anos (especialmente, crianças com menos de 5 anos). No Brasil, a incidência de DM1 é intermediária: em torno de 7 ca-sos por 100.000 crianças/ano.

Um problema preocupante com relação ao diabetes tipo 2 é que 30 a 60% dos portadores da doença não sabem do seu diagnóstico, já que muitas vezes o DM é oligossintomático, ou mesmo assintomático. Além disso, boa parte dos que sabem ter a doença não faz o tratamento correto, por falta de informação ou de condições sociais ou econômi-cas que garantam o acompanhamento médico. Com isso, aumentam

Síndrome metabólica

Leandro Arthur Diehl

Neste capítulo, será apresentada a Síndrome Meta-bólica (SM), um problema de saúde pública cada vez mais importante no Brasil: sua fisiopatologia, seu envolvimento com outras síndromes (diabética, ovário policístico) e os princípios de seu manejo. A SM associa--se à obesidade visceral e à resistência a insulina, sendo extremamente comum na população adulta, sobre-tudo nos homens. Os critérios da I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica defi-nem “síndrome metabólica” na presença de quaisquer 3 (ou mais) dos seguintes critérios: circunferência abdomi-nal >88cm em mulheres ou >102cm em homens; glicemia ≥110mg/dL ou diabetes prévio; triglicérides ≥150mg/dL ou uso de tratamento específico; colesterol HDL <50mg/dL em mulheres ou <40mg/dL em homens; pressão arterial ≥130x85mmHg ou uso de tratamento específico. Os critérios da International Diabetes Federation (IDF) definem “síndrome metabólica” na presença de circun-ferência abdominal aumentada (>80cm em mulheres e >90cm em homens, no Brasil) mais quaisquer 2 dos seguintes critérios: glicemia ≥100mg/dL ou diabetes prévio; triglicérides ≥150mg/dL ou uso de tratamento específico; colesterol HDL <50mg/dL em mulheres ou <40mg/dL em homens ou uso de tratamento específico; pressão arterial ≥130x85mmHg ou uso de tratamento específico. Pessoas com SM têm risco aumentado de doença cardiovascular (DCV) ou morte e de Diabetes Mellitus (DM) tipo 2. São comuns doenças associadas como síndrome dos ovários policísticos, doença hepá-tica gordurosa não alcoólica, apneia do sono e algumas neoplasias. O tratamento da SM inclui perda de peso, hábitos de vida saudáveis, cessação do fumo e do abuso de álcool e manejo rigoroso das comorbidades, com vistas à prevenção de DM tipo 2 e de eventos cardiovas-culares. Existem várias controvérsias sobre a definição, a importância clínica e a etiologia da SM. Alguns auto-res sugerem que o termo seja abandonado, em favor da denominação “risco cardiometabólico”, mais abrangente e sem a necessidade de critérios diagnósticos rígidos.

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1. IntroduçãoA Síndrome Metabólica (SM) é um conjunto de fatores de risco car-diovascular que tendem a ocorrer de forma associada num mesmo indivíduo, havendo íntima relação com o acúmulo de gordura no com-partimento intra-abdominal (a chamada “obesidade visceral”) e a resistência tecidual às ações biológicas da insulina. Hoje, é uma das en-tidades clínicas mais frequentes em todo o mundo, com aumento cres-cente no número de casos, o que se deve, ao menos em parte, à grande prevalência da obesidade.

Nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos 22 a 30% da popula-ção adulta (ou mais) sejam portadores de SM. A prevalência aumenta com a idade, até chegar a mais de 40% entre idosos (>60 anos). No Bra-sil, há poucos estudos, mas eles indicam prevalência estimada de 30% em adultos no Espírito Santo e na Bahia, podendo chegar até 57% en-tre descendentes de japoneses residentes na cidade de Bauru, em São Paulo. A SM também atinge crianças e adolescentes de maneira cada vez mais frequente. Soluções para a prevalência crescente envolvem medidas de saúde pública, com o objetivo de combater a obesidade, es-timulando o aumento da atividade física regular e uma dieta mais sau-dável, rica em frutas e verduras frescas e com menor teor de calorias e gorduras saturadas.

A SM foi primeiramente descrita por Gerald Reaven, em 1988, que a denominou síndrome X. Desde a sua 1ª descrição, e ao longo dos di-versos estudos publicados a seu respeito, a síndrome já recebeu várias denominações, como síndrome plurimetabólica, quarteto mortal, sín-drome dismetabólica e síndrome de resistência a insulina. Atualmente, o termo mais aceito e utilizado é “síndrome metabólica”.

A controvérsia observada com relação à nomenclatura da SM também se reflete na sua definição clínica. Vários critérios diagnósticos diferen-tes para SM foram propostos por diferentes sociedades, durante as 2 últimas décadas. Essa heterogeneidade de definições muitas vezes difi-culta a interpretação dos estudos, visto que diferentes autores, muitas vezes, adotam variadas definições não exatamente intercambiáveis.

2. DefiniçõesVárias propostas de critérios diagnósticos para SM podem ser encon-tradas na literatura médica. O que todas elas apresentam em comum (Figura 1) é a inclusão de marcadores para: - Fatores de risco cardiovascular: hipertensão arterial e dislipidemia – geralmente, hipertrigliceridemia e colesterol HDL baixo; - Distúrbios do metabolismo da glicose: resistência a insulina, hiperin-sulinemia, glicemia alterada em jejum ou após teste de tolerância a glicose, diagnóstico prévio de Diabetes Mellitus (DM); - Obesidade: Índice de Massa Corpórea (IMC), cintura abdominal ou re-lação cintura–quadril.

Figura 1 - Componentes da síndrome metabólica

A diferença entre os vários critérios se dá nos valores de corte (cut-offs) utilizados e no número de fatores necessários para satisfazer à defini-ção diagnóstica. Algumas sociedades propuseram a inclusão de outros fatores de risco cardiovascular (microalbuminúria). Outro ponto de di-vergência entre os vários critérios é a inclusão ou não de sabidamente diabéticos. Enquanto algumas sociedades defendem que o diagnóstico

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QUESTÕES

Cap. 1 - Diabetes mellitus - fi siopatologia e classifi cação ....................................................... 163

Cap. 2 - Diabetes mellitus - diagnóstico .................... 163

Cap. 3 - Diabetes mellitus - tratamento.................... 163

Cap. 4 - Complicações agudas do diabetes mellitus ...165

Cap. 5 - Complicações crônicas do diabetes mellitus...............................................166

Cap. 6 - Síndrome metabólica ......................................166

Cap. 7 - Obesidade ...........................................................166

COMENTÁRIOS

Cap. 1 - Diabetes mellitus - fi siopatologia e classifi cação .......................................................169

Cap. 2 - Diabetes mellitus - diagnóstico ....................169

Cap. 3 - Diabetes mellitus - tratamento....................169

Cap. 4 - Complicações agudas do diabetes mellitus ....171

Cap. 5 - Complicações crônicas do diabetes mellitus............................................... 172

Cap. 6 - Síndrome metabólica ...................................... 172

Cap. 7 - Obesidade ........................................................... 172

Índice

As questões INEP e UFMT, que compõem a maior parte dos testes utilizados neste volume, foram extraídas de provas de revalidação. Por isso, nos casos de temas ainda não abordados ou pouco explorados nas provas do Revalida, selecionamos questões de Residência Médica como complemento de estudo.

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õesQuestões

Endocrinologia

Diabetes mellitus - fi siopatologia e classifi cação

2016 - SES-GO1. Que tipo de diabetes tem modo de transmissão autos-sômica dominante?a) 1b) 2c) MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young)d) LADA (Latente Autoimune Do Adulto)

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UFS2. A resistência a insulina no diabetes tipo 2 está asso-ciada a qual das seguintes opções? a) elevação da adiponectina b) diminuição dos ácidos graxos livres c) HDL alto d) LDL densa e pequena

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

Diabetes mellitus - diagnóstico

2016 - UFMT3. Em pacientes com diabetes mellitus tipo 1, a avalia-ção da massa residual de células beta, quando indicada, deve ser realizada por: a) dosagem do peptídio C séricob) dosagem de insulina séricac) cintilografi a do pâncreasd) HOMA-R

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

2016 - UEPA4. O termo Diabetes Mellitus (DM) designa um transtor-no metabólico de etiologia heterogênea, caracterizada por hiperglicemia, distúrbio metabólico de carboidra-tos, causada pela defi ciência da secreção e/ou da ação da insulina. São critérios diagnósticos para DM:

a) glicemia de jejum ≥101mg/dL e hemoglobina glicada ≥5,7% permitem afi rmar que a pessoa é diabética

b) glicemia de jejum ≥106mg/dL e hemoglobina glicada >5,8% fecha o diagnóstico de diabetes

c) glicemia de jejum ≥116mg/dL e hemoglobina glicada ≥5,9% confi rmam diabetes

d) glicemia de jejum ≥126mg/dL é confi rmada com repe-tição e hemoglobina glicada ≥6,5%

e) glicemia de jejum ≥140mg/dL e hemoglobina glicada ≥7% defi nem o critério diagnóstico de diabetes

Tenho domínio do assunto Refazer essa questãoReler o comentário Encontrei difi culdade para responder

Diabetes mellitus - tratamento

2016 - INEP - REVALIDA 5. Um homem de 25 anos é trazido ao pronto-socorro com rebaixamento do nível de consciência há 30 mi-nutos. Um familiar relata que o paciente perdeu cerca de 10kg no último mês, apesar do aumento do apetite e do aumento da ingesta de líquidos. Ao exame, apre-senta-se sonolento, desidratado, anictérico e afebril, com PA = 120x80mmHg, FC = 120bpm e FR = 37irpm. As auscultas cardíaca e pulmonar estão dentro da nor-malidade. O paciente refere leve dor abdominal à pal-pação superfi cial, sem dor à descompressão brusca, e fl apping não presente. A gasometria arterial, por sua vez, revelou pH = 7 (VR = 7,35 a 7,45); bicarbonato sé-rico = 9mEq/L (VR = 22 a 26mEq/L); e ânion-gap - 17. Outros exames apresentaram os seguintes resultados: glicemia de jejum = 560mg/dL (VR = 70 a 99mg/dL); K+ sérico = 2,3mEq/L (VR = 3,5 a 5,5mEq/l); e Na+ sérico = 129mEq/L (VR = 132 a 146mEq/L). Com base no quadro clínico apresentado, o tratamento imediato indicado compreende:a) hidratação, reposição de potássio e administração de

insulina regular intravenosa, simultaneamenteb) hidratação e reposição de potássio pela via intrave-

nosa e administração imediata de insulina NPH tam-bém pela via intravenosa

c) hidratação e reposição de potássio pela via intrave-nosa e administração de insulina regular também por essa via após a normalização do potássio sérico

ComentáriosEndocrinologia

Diabetes mellitus - fi siopatologia e classifi cação

Questão 1. O diabetes tipo MODY é monogênico e tem herança autossômica dominante. A doença tem início entre os 20 e 40 anos e geralmente incide em pacien-tes magros. Existem vários tipos de MODY, sendo os mais comuns o MODY2 (leve hiperglicemia de jejum) e o MODY3 (grave: sem tendência a cetoacidose, porém com evolução para complicações crônicas). O diabetes tipo 1 e o LADA são autoimunes, sendo que o LADA é uma forma mais insidiosa que atinge o adulto jovem e reúne carac-terísticas do DM1 – autoimunidade e defeitos na secre-ção da insulina – e do tipo 2 – resistência a insulina. Em todos os casos a herança é poligênica, sem transmissão autossômica dominante.Gabarito = C

Questão 2. Na base fi siopatológica do diabetes tipo 2 está a resistência a insulina, causada em grande parte pelo acúmulo de gordura visceral. Suas consequências para o organismo são diversas, e entre elas encontramos:- Alterações nas citocinas infl amatórias, com aumento

de pró-infl amatórios como interleucinas, TNF-alfa e proteína C reativa, e redução de citocinas anti-infl ama-tórias, como a adiponectina, produzida no tecido adi-poso;

- Alterações no perfi l lipídico com aumento da produção de triglicérides pelo fígado, gerando hipertrigliceride-mia e redução da quantidade de partículas HDL, além da maior oxidação e glicação da LDL, gerando partícu-las de LDL pequenas e densas, mais aterogênicas.

Dentre as alternativas, a única correta é a presença de LDL pequena e densa.Gabarito = D

Diabetes mellitus - diagnóstico

Questão 3. Analisando as alternativas:a) Correta. O peptídio C é um peptídio secretado pelas células beta em quantidades equimolares às de insulina. Assim, sua determinação constitui uma estratégia para driblar o problema da insulina endógena versus exóge-

na que existe com a dosagem de insulina. A dosagem do peptídio C sérico constitui, então, uma opção para o clíni-co estimar a massa residual de células beta.b) Incorreta. Como pacientes diabéticos tipo 1 são trata-dos com administração de insulina, não há utilidade na dosagem de insulina sérica, pois não seria possível ava-liar, através dessa dosagem, a fração de insulina endó-gena (indicativa da massa residual de células beta) e a de insulina exógena. c) Incorreta. A cintilografi a do pâncreas não é um exame capaz de avaliar a massa residual de células beta. d) Incorreta. O HOMA-R constitui um índice utilizado na avaliação da resistência à ação da insulina, e não como indicativo de massa residual de células beta.Gabarito = A

Questão 4. Os critérios diagnósticos de diabetes são apresentados a seguir e devem ser confi rmados em 2 ocasiões separadas, a não ser em casos com sintomas de descompensação diabética evidente, como “pólis”, perda de peso, cansaço e infecções recorrentes:

Hemo-globina

glicada (%)

Glicemia de jejum (mg/dL)

Glicemia 2 horas após 75g de glicose

pela via oral (mg/dL)

Glicemia casual (mg/

dL)

≥6,5% ≥126 ≥200 ≥200 + sintomas

Ressaltando: HbA1c <7% é o alvo do tratamento na maio-ria dos pacientes, mas não é 7% o ponto de corte para o diagnóstico, e sim 6,5%.Gabarito = D

Diabetes mellitus - tratamento

Questão 5. Trata-se do quadro clínico de uma jovem de 25 anos que apresenta, há 1 mês, perda de peso signifi -cativa associada a polifagia e polidipsia. Devemos, com base nessas informações, considerar a hipótese clínica de diabetes mellitus. É muito frequente que as bancas abordem crises hiperglicêmicas e, nesse caso mais es-pecifi camente, cetoacidose diabética, insiram no enun-ciado sintomas que indiquem a presença de sintomas associados ao diabetes insulinopênico (tipo 1 e LADA – Latent Autoimmune Diabetes of the Adult), como pólis (poliúria, polidipsia, polifagia) e perda ponderal. O pa-

Endo

crin

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