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149 AVALIAÇÃO DA GRAMÁTICA EM REDAÇÕES ESCOLARES * *Silvia Regina Emiliano RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo apontar problemas gramaticais mais recorrente em textos escolares. Para isso, foram analisadas redações produzidas no Concurso Vestibular de Verão 2002 da UEM, à luz da gramática tradicional e da planilha de avaliação da UEM, que possui critérios próprios de avaliação. Os estudos realizados através dessas redações revelam que um número significativo de estudantes não tem o domínio sobre tais regras. Observou-se que é possível realizar uma avaliação cuidadosa e objetivamente balanceada nestes textos, seguindo os critérios estabelecidos pela planilha, e ainda refletir sobre a postura do professor em sala de aula no que diz respeito ao ensino de gramática, oferecendo-lhe, conseqüentemente, algumas sugestões para orientá-lo na avaliação de redações. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação; gramática; redação; vestibular. ABSTRACT: This research had as objective to indicate more recurrent grammar problems in school compositions. For this purpose compositions produced in the Summer 2002 University Entrance Examination at UEM, taking into account traditional grammar and evaluation guidelines of UEM, which has its own evaluation criteria. The studies carried out by means of these writings reveal that a significant number of students do not present any control over such rules. It was observed that it is possible to carry out careful and objectively balanced evaluation in these texts, following the criteria established in the university guidelines, and also reflect about the teachers’ posture in classroom concerning the teaching of grammar, providing them with suggestions to guide them in evaluating writings. KEY-WORDS: Evaluation; grammar; composition; university entrance examination. Considerações iniciais Vinculada ao projeto de pesquisa Redação em língua materna: abordagens de avaliação, que tinham a proposta de contribuir para a melhoria de critérios de avaliação de textos no ensino, através de critérios que possam criar metodologias com objetivos mais coerentes nas aulas de produção e avaliação de textos, este artigo tem como objetivos apontar os problemas gramaticais mais recorrentes em textos escolares, oferecendo sugestões que possam ajudar o professor a realizar uma avaliação mais justa, e verificar se a proposta da avaliação da UEM é coerente ao avaliar as redações. Para isso, foram analisadas as redações produzidas no Concurso Vestibular de Verão 2002 da UEM, à luz da gramática tradicional e da planilha de avaliação da UEM, que possui critérios próprios de avaliação. MATHESIS - Rev. de Educação - v. 5, n. 1 - p. 149 - 176 - jan./jun. 2004

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AVALIAÇÃO DA GRAMÁTICA EMREDAÇÕES ESCOLARES*

*Silvia Regina Emiliano

RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo apontar problemas gramaticais mais recorrenteem textos escolares. Para isso, foram analisadas redações produzidas no Concurso Vestibularde Verão 2002 da UEM, à luz da gramática tradicional e da planilha de avaliação da UEM, quepossui critérios próprios de avaliação. Os estudos realizados através dessas redações revelamque um número significativo de estudantes não tem o domínio sobre tais regras. Observou-seque é possível realizar uma avaliação cuidadosa e objetivamente balanceada nestes textos,seguindo os critérios estabelecidos pela planilha, e ainda refletir sobre a postura do professorem sala de aula no que diz respeito ao ensino de gramática, oferecendo-lhe, conseqüentemente,algumas sugestões para orientá-lo na avaliação de redações.PALAVRAS-CHAVE: Avaliação; gramática; redação; vestibular.

ABSTRACT: This research had as objective to indicate more recurrent grammar problems inschool compositions. For this purpose compositions produced in the Summer 2002 UniversityEntrance Examination at UEM, taking into account traditional grammar and evaluation guidelinesof UEM, which has its own evaluation criteria. The studies carried out by means of thesewritings reveal that a significant number of students do not present any control over suchrules. It was observed that it is possible to carry out careful and objectively balanced evaluationin these texts, following the criteria established in the university guidelines, and also reflectabout the teachers’ posture in classroom concerning the teaching of grammar, providing themwith suggestions to guide them in evaluating writings.KEY-WORDS: Evaluation; grammar; composition; university entrance examination.

Considerações iniciais

Vinculada ao projeto de pesquisa Redação em língua materna:abordagens de avaliação, que tinham a proposta de contribuir para amelhoria de critérios de avaliação de textos no ensino, através de critériosque possam criar metodologias com objetivos mais coerentes nas aulas deprodução e avaliação de textos, este artigo tem como objetivos apontar osproblemas gramaticais mais recorrentes em textos escolares, oferecendosugestões que possam ajudar o professor a realizar uma avaliação mais justa,e verificar se a proposta da avaliação da UEM é coerente ao avaliar asredações. Para isso, foram analisadas as redações produzidas no ConcursoVestibular de Verão 2002 da UEM, à luz da gramática tradicional e da planilhade avaliação da UEM, que possui critérios próprios de avaliação.

MATHESIS - Rev. de Educação - v. 5, n. 1 - p. 149 - 176 - jan./jun. 2004

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As concepções de gramática: gramática, estrutura ou análiselingüística?

Sobre a concepção de gramática, Possenti (1987 e 1996) e Travaglia(1996) apresentam três definições. Na primeira, entende-se um conjunto deregras a serem seguidas para que se possa falar e escrever corretamente,uma significação coerente para esse tipo de estudo que, conforme Geraldi(1997), orienta-se à luz da concepção de linguagem como expressão dopensamento – a que defende a logicidade do pensar vinculada a um segmentode regras. Por isso, designa-se gramática normativa, prescritiva ou tradicional,caracterizando-se pela preocupação em defender e manter a variedadepadrão de uma língua. Seu objetivo é fazer com que o aluno, através docontato com as regras, seja capaz de saber aplicá-las, dominando assim anorma padrão-culta.

Contrapondo-se à significação de gramática um conjunto de regrasque devem ser seguidas, a segunda visão apresenta-se sob a seguinte definiçãodada por Possenti (1997, p. 47):

Gramática é o conjunto de regras que um cientista da língua encontra nos dadosque analisa a partir de uma certa teoria e de um certo método. Nesse caso, porgramática se entende um conjunto de leis que regem a estruturação real deenunciados produzidos por falantes, regras que são utilizadas.

Resumidamente, é um conjunto de regras que são seguidas por falantesnum discurso real e que procura fixar regras de usos, separando o que éagramatical do que se convencionou como gramatical. Para Travaglia (1996,p. 27), “Gramática será então tudo que se atende às regras de funcionamentoda língua de acordo com determinada variedade lingüística”. Diferente daprimeira concepção, que ignora características próprias da linguagem falada,essa tem por apreciação a oralidade e frases como “Eu vi ele ontem” sãopermitidas e consideradas, pois encontram-se de acordo com as regras defuncionamento da língua, ou seja, como uma de suas variedades.

A terceira concepção de gramática surge sob uma perspectiva que atorna diferente das duas primeiras. De acordo com Travaglia (1996), porconceber a língua não de uma maneira única e invariável, mas como um

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conjunto de diversidades que são usadas por uma sociedade conforme exigira situação de interação comunicativa em que se encontrar o falante da língua,a gramática é então definida como o conjunto das regras as quais o usuárioaprendeu e que delas faz uso ao falar.

Sobre este conceito acrescenta Franchi (apud Travaglia 1996, p.28): “Gramática corresponde ao saber lingüístico que o falante de uma línguadesenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotaçãogenética humana, em condições apropriadas de natureza social eantropológica”. Este autor observa que o saber gramático não é aprendidosomente na escola ou em outros meios de aprendizagem sistematizados, eleé resultado da utilização contínua e amadurecida da linguagem, de seusprincípios e regras. Chamada também de internalizada, essa gramática nãotem livros que a retratem porque ela é o próprio objeto da descrição.

Desse modo, esta classificação de gramática não faz distinção lingüísticaentre o certo e o errado, porém alerta para a inadequação das diversificaçõesda fala que necessitam ser aproveitadas, levando em conta o contexto noqual se estabelece a interação comunicativa. Considerando as normas sociaisde uso da fala, em certas situações de comunicação, não convém utilizarrecursos lingüísticos desapropriados que não contribuem para dar o sentidodesejado ou comunicar uma intenção.

Nesta visão tem-se uma noção muito mais ampla de gramática, porquea linguagem é percebida como um reflexo de um contexto sócio-histórico-ideológico. Portanto, ela é empregada a partir de um modo de se ver asociedade e os fatos num dado momento histórico. Disso dependerá aconstrução de um enunciado lingüístico dentro de uma variedade da língua econseqüentemente o sentido que ele poderá refletir.

A partir disso, a gramática internalizada é contemplada por ser a basedo que se chama de competência gramatical ou lingüística do usuário dalíngua, por não atuar somente no nível da frase, como também fazendo usoda língua através de textos nas diferentes situações da interação comunicativa,os princípios que regem a conversação e outros.

Conforme Hila (1998), tornar o educando em um falante competenteé ensiná-lo a usar adequadamente a língua nas mais diversas situações deuso, desde aquelas que tem o papel de enunciador de um discurso2 até as

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que atua somente como um interlocutor. A partir dessa ótica, a terceiraconcepção de gramática funde-se com a de linguagem que defende umconceito interacionista de língua, em que o ato comunicativo se estabeleceatravés de uma ação recíproca, que parte de quem fala – o sujeito – permeadopor um discurso, atingindo diretamente um interlocutor e implicando numacomunicação eficaz, uma vez que se preocupa não só com a mensagem,com o informante ou informado, mas com todas as partes envolvidas nesteprocesso. É exatamente esse caráter dialógico do discurso que propicia ainteração entre sujeitos formados pelo próprio discurso.

Por tal razão é que na gramática internalizada prioriza-se o ensino detexto3 porque ao se comunicar as pessoas não se utilizam somente frases,tão pouco fazem uso do próprio discurso, elas agem e atuam umas sobre asoutras num jogo interativo com a linguagem, pois, conforme Val (1991),quando se expressa verbalmente o sujeito o faz por meio de texto e não porfrases isoladas, pois são justamente textos que se tem a declarar e não frases.Portanto, essa gramática não compreende o falante como emissor deinformações, o recebedor como um ouvinte e a língua como um código a serdecifrado e, por isso, não se pauta no ensino da metalinguagem, pois explicitaHila (1998, p. 50) que não se deve pretender que o aluno saiba a gramática,cobrando-lhe, aleatoriamente, regras gramaticais. E, além disso, argumentaque se a linguagem é interação, saber a língua não é ter apenas a competêncialingüística, mas também saber adequá-la às várias situações de fala.

A relação da gramática com o ensino de língua portuguesa

De acordo com Geraldi (1997), o baixo nível de desempenholingüístico, evidenciado pelos estudantes na utilização da língua, seja namodalidade oral, seja na modalidade escrita, tem sido alvo de destaque quandoo assunto é a crise do sistema educacional brasileiro. Exemplos disso são asredações de vestibulandos, o vocabulário da gíria jovem, o baixo nível deleitura dos alunos. A falta de desenvolvimento do uso da língua se deve, empartes, a democratização da escola que trouxe uma clientela com diferençasdialetais, aos baixos salários dos professores e ao próprio sistemaadministrativo. Outro fator contribui também para que o Geraldi denominade fracasso escolar ao referir-se ao ensino de língua portuguesa: adesvalorização das demais formas de falar que não estejam articuladas comoas preceituam a norma padrão-culta.

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Nesse contexto, como esclarece Soares (apud Geraldi, 1997), surgemos defensores da variedade lingüística das classes populares, alegando que aescola deve respeitá-la e preservá-la, tornando-a instrumento legítimo deseu discurso. Por outro lado, aparecem os que argumentam ser necessário odomínio da linguagem culta, pois é uma ferramenta indispensável para que sesupere as desigualdades sociais.

Diante disso, aponta Geraldi (1997) que o mais sensato ao professorde língua portuguesa é ensinar ao aluno o dialeto padrão, de uma maneiraque ele possa dominá-lo sem se desconsiderar e desqualificar a variedadelingüística própria do meio social em que vive.

Assim, acrescenta Geraldi (1997, p. 45) que:

A alteração da situação atual do ensino de língua portuguesa não passa apenaspor uma mudança nas técnicas e nos métodos empregados na sala de aula. Umadiferente concepção de linguagem constrói não só uma nova metodologia, masprincipalmente um “novo conteúdo” de ensino.

A expressão afirmativa de Geraldi leva à reflexão sobre a conduta doprofessor em sala de aula, a concepção que tem referente à linguagem e aosconteúdos de ensino escolhidos por ele para promover a interação e, ao mesmotempo, a aquisição de conhecimentos da língua. Em outras palavras, se oprofessor é consciente do processo interativo promovido pela língua, precisaatentar-se para a escolha do conteúdo e os métodos utilizados para alcançar oseu objetivo que é fazer o aluno aprender. No entanto, isto não tem acontecidonas escolas, porque durante o processo de ensino ocorre o predomínio daexploração de metalinguagem, prevalecendo atividades de descrição gramatical,estudos de regras, resultando em pouquíssimo trabalho com a linguagem, que,neste caso, é vista apenas como a expressão do pensamento.

Desse modo, percebe-se um certo distanciamento do professor emrelação à realidade do aluno, pois parece não existir uma atividade concretae real com a linguagem usada pelos estudantes e sim uma decodificação dametalinguagem incentivada na prática escolar devido à preocupação de seproporcionar ao aluno a aprendizagem da norma culta.

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Diante disso, não se pretende culpar o professor pelo mau êxito daescola, mas é papel dele reconhecê-lo e compartilhá-lo com os alunos,discutindo os problemas que perpassam a educação, seja em níveladministrativo, seja em nível das verbas que são escassas. É possível encontrarnas contradições presentes na prática de sala de aula uma postura de educadorque reflita sobre essas dificuldades e procure soluções para um fazer agora. Aescola que temos transformar-se-á naquela que queremos, a partir do momentoem que o professorado meditar sobre as questões – para que ensinamos o queensinamos? E para que as crianças aprendem o que aprendem? As quaisimplicam em uma concepção de linguagem interacionista e, conseqüentemente,em um diferente método de ensino. Geraldi (1997, p. 41) explica que “a terceiraconcepção de linguagem implicará uma postura educacional diferenciada, umavez que situa a linguagem como o lugar de constituição de relações sociais,onde os falantes se tornam sujeitos”.

Então o ensino da língua deve partir da linguagem em funcionamento,porque é muito mais relevante estudar as relações que se estabelecem entreos sujeitos quando falam do que ficar preso em exercícios de descriçãogramatical. Assim, é necessário que o professor reconsidere o que vai ensinar,porque saber a língua não se restringe ao domínio de conceitos emetalinguagens, além disso, abrange o conhecimento das habilidades de usoda língua em situações concretas de interação.

Sendo assim, as atividades de ensino devem estar voltadas para aaprendizagem da língua, envolvendo um trabalho com a leitura, produçãotextual e análise lingüística, principalmente com as séries do ensinofundamental. Os exercícios com a forma da língua precisam servir de apoioe não como ferramenta indispensável. Tarefas desse nível são necessáriaspara alcançar o objetivo final, na aquisição de conhecimento da língua emsua variedade padrão.

Para ilustrar o que Geraldi constatou em seus estudos, apresentam-seaqui referências a uma pesquisa realizada por Neves (1990, apud Travaglia,1996, p. 102) com 170 professores de 1º e 2º graus no estado de SãoPaulo, que serve de modelo para se ter conhecimento de como está o ensinode gramática em nosso país.

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Quanto ao objetivo do ensino de gramática, ao perguntar aos professores“para que se ensina a gramática?”, Neves observou que quase 50% dasrespostas são dirigidas ao bom desempenho, enfatizando o desempenho ativo(melhor expressão, melhor comunicação, melhor compreensão), 30% referem-se a questões normativas (maior correção, conhecimento de regras ou denormas, conhecimento do padrão culto) e 20% remetem a uma finalidade teórica(aquisição das estruturas da língua, melhor conhecimento da língua, conhecimentosistemático da língua, apreensão dos dados da língua, sistematização doconhecimento da língua) e menos de 1% dos professores afirmou que só ministraaula de gramática para cumprir o programa. Para a pergunta, a maior partedas respostas se menciona ao melhor desempenho lingüístico, ao falar e escrevermelhor, ligando-se a sucesso na vida prática. Ao mesmo tempo que se afirmaisto, também se aposta que o conhecimento da língua não é utilizável paranada. Assim, o ensino de gramática é visto sem utilidade alguma na prática e afinalidade de cumprir o programa se liga ao sucesso na sala de aula de apenasacertar os exercícios. Conforme Travaglia (1996), isto mostra que para a maioriados professores, não há uma real necessidade para o ensino de teoria gramatical.Então, a razão para o uso contínuo dessas atividades em sala seja, talvez, porcomodismo, desconhecimento de alternativas, exigência do currículo, dos pais,da sociedade em seus concursos.

Além disso, referindo-se ao que é ensinado, Neves evidencia que asáreas do programa de Língua Portuguesa que mais são trabalhadas por ordemde freqüência são:

1. Classes de Palavras........................................39,71%2. Sintaxe...........................................................35,85%3. Morfologia.....................................................10,93%4. Semântica........................................................3,37%5. Acentuação.....................................................2,41%6. Silabação.........................................................2,25%7. Texto...............................................................1,44%8. Redação..........................................................1,44%9. Fonética e Fonologia....................................... 0,96%10. Ortografia........................................................0,80%11. Estilística...........................................................0,32%12. Níveis de Linguagem....................................... 0,32%13. Versificação......................................................0,16%

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Vale ressaltar que os exercícios de reconhecimento e classificaçãode classes de palavras e de funções sintáticas correspondem a 75,56% dasatividades de ensino de gramática, aparecendo em todos os grupos deprofessores pesquisados, repetindo-se anualmente os mesmos tópicosgramaticais, durante os onze anos que constituem o ensino de 1º e 2º graus.

Quanto ao que se deve ensinar, Soares (apud Travaglia, 1996, p.103)mostra que ainda não há um consenso, pois existem escolas e professorescujo programa de Língua Portuguesa é constituído apenas por uma lista detópicos gramaticais, outras que não ensinam gramática de forma sistematizada,por acreditarem que o papel do professor de Português é ensinar o uso dalíngua e existem aquelas ainda cujos programas contêm basicamente atividadese alguns tópicos gramaticais. Travaglia afirma que estas diversidades provêmdas secretarias de educação e delegacias de ensino de diferentes formaçõesdos professores e da influência do livro didático adotado.

Para a questão como é ensinada a gramática, Neves (apud Travaglia,1996, p.104) explicita que mais de 50% dos professores fazem uso de textose muitos deles utilizam os dos próprios alunos para a exercitação gramatical;40% partem da teoria; 5% se aproveitam das lições. Na verdade, osprofessores retiram dos textos unidades (frases ou exemplos) para análise ecatalogação. Vê-se também que o livro didático é o principal recurso usadopor eles, tanto para adquirirem informação quanto para buscarem apoio aoensinarem os conteúdos.

Contextualização do corpus

O corpus da pesquisa foi constituído a partir de redações do concursovestibular Verão 2002, da Universidade Estadual de Maringá. Entre asproduções feitas pelos vestibulandos, foram selecionadas doze para arealização das análises.

O motivo dessa escolha está diretamente ligada a participação dapesquisadora, a partir do ano 2000, no projeto Redação em língua materna:abordagens de avaliação coordenado pelos professores Renilson Menegassie Marilurdes Zanini, de onde foram colhidas as redações.

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O projeto em questão tinha como proposta contribuir para a melhoriado ensino, através de critérios que possam criar abordagens com objetivosmais coerentes nas aulas de produção e avaliação de textos, nos níveis deensino que antecedem a fase do vestibular; além disso objetivava tambémdiminuir as discrepâncias de notas entre os avaliadores, amenizando o processode avaliação na situação específica de vestibular.

Esses critérios foram desenvolvidos numa planilha para orientar umaavaliação mais objetiva das redações e servir de subsídios para o professornas aulas de produção de textos (Zanini e Menegassi, 1999). Assim, duranteo desenvolvimento do projeto, são discutidas questões que envolvem oprocesso ensino/aprendizagem e que estão na planilha como itens a seravaliados4 , sendo eles o título, o tema, a coerência, a tipologia textual, oemprego da norma padrão-culta e a coesão. Os três primeiros itens pertencemao campo do Conteúdo (valor 30 pontos) e os demais ao campo da Forma(valor 30 pontos), totalizando 60 pontos, valor da prova de Redação.

Desse modo, esses campos são subdivididos em itens, contemplandouma gradação de valores específicos, de acordo com o desempenho doscandidatos, para o título, o tema, a organização textual (coerência, tipologiatextual e coesão) e o emprego da norma padrão-culta.

Nesse sentido, o corpus será analisado no item modalidadegramatical, conforme os aspectos prescritos na planilha que são apresentadose avaliados na seguinte escala:

Fora das normas – Valor 1: Falhas distintas em todos os níveis:palavras, frases, períodos e textuais: ortografia, pontuação, semântica, sintaxe.

Uso sofrível – Valor 2: Estruturas orais descontextualizadas; criaçõeslexicais improcedentes e falhas de pontuação, morfológicas, sintáticas esemânticas. Paragrafação totalmente comprometida.

Uso regular – Valor 4: Criação de palavras absurdas. Falhas sintáticas,semânticas e de pontuação menos graves. Paragrafação comprometida.

Uso aceitável – Valor 6: Falhas de ortografia e/ou de pontuação; deslizessintáticos e semânticos sem comprometimento. Paragrafação marcada.

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Uso correto – Valor 8: Falhas de ortografia e/ou de pontuação; rarosdeslizes de concordância e de regência em situações de uso não cotidiano.Paragrafação marcada conscientemente.

Uso sofisticado – Valor 10: Sem falhas ou alguma falha que denote“esquecimento” em quaisquer níveis. Paragrafação conscientemente marcada.

Na planilha de avaliação, o emprego da norma padrão-culta recebeuma pontuação de 1 a 10 pontos, numa escala valorativa de 60 pontos dototal da redação, distribuídos entre os seis itens que a compõem. Assim, oemprego da norma padrão-culta corresponde a 16,66% do total da redaçãoavaliada, o que, numa escala de 0 a 100 pontos, como é normalmente nosistema escolar, também corresponderia a 16,66%.

Análise das redações

Apresentam-se, nesta seção, as análises das redações segundo aplanilha, numa ordem gradativa, conforme os itens anteriormente observados.

Emprego fora das normas

Concientisação é a solução

A fome poderia facilmente ser resolvida no pais, pois vivemosem um pais muito grande e com terras férteis, terras estas que namaioria das vezes estão nas mãos de grande latifundiários digolatifundiários que as abandonam e as deixam improdutivas.

Há tabém o grande dis perdicio por parte da populacao,indústrias e transporte dos alimentos, se somarmós todas estaspecas teriamos um total de quase 50%, alimentos este quepoderiam. estar matando a fome de inumeras pessoas. Muita digograde parte da população tem comciencia deste disperdicigo ecolaboram como podem para acabar coma fome. Uma ideia usadapelo governo do Paraná para reduzir a fome no estado foi ainvenção de um “sopão”, sopão este que e feito apartir das sobras

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de legumes e verduras que são doados pelas centrais deabastecimentos, esta ideia esta contribuindo para reduzir o numerode famintos no estado e esta idéia deu tão certo que outros estadosbrasileiros estão adotando esta idéia, mas só o sopão nãoconciquira acabar com a fome do pais nos também temos que nósconcientizar e tentar reduzir ao maximo o desperdício não so o dealimentos mas também o de água, energia e recursos naturais.

No primeiro parágrafo, a redação apresenta problemas de ortografia –pais, maos, latifundiários; de pontuação – terras estas que na maioria dasvezes estão nas maos (...); de concordância nominal – grande latifundiários.

No segundo parágrafo, as falhas que se referem à ortografia persistem– tbém, dis perdicio, população, pecas, teriamos, inumeras, grade,comciencia, disperdicigo, apartir, ideia, esta, numero, conciquira, nos (nós),nós (nos), concientizar, maximo, disperdicio, so (só), somarmos; ausência depreposição – dis perdicio por parte da populacao, indústrias e transportedos alimentos; de concordância nominal – alimentos este que poderiam (...);concordância verbal – grade parte da população tem comciencia destedisperdicigo e colaboram como podem; de expressão verbal – sopão esteque e feito apartir das sobras de legumes e verduras (...) – esta ideia estacontribuindo (...); erros de periodização – há tbém o grande dis perdicio porparte da população, indústrias e transporte dos alimentos, se somarmostodas estas pecas (...) quase 50%, alimentos este que poderiam estar matandoa fome de inúmeras pessoas (...) sopão este que e feito apartir das sobras delegumes e verduras que são doados pelas centrais de abastecimentos, estaidéia esta contribuindo para reduzir (...); de estrutura de parágrafo – gradeparte da população (...) colaboram como podem para acabar com a fome.Uma idéia usada pelo governo do Paraná (...); de pontuação – se somarmóstodas estas percas teriamos um total – uma idéia usada pelo governo doParaná para reduzir a fome no estado foi a invenção de um “sopão”- massó o sopão não conciquira acabar com a fome do pais nos também temosque nós concientizar e tentar reduzir ao maximo o disperdicio não so dealimentos mas também de água, energia e recursos naturais.

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Ao analisar a redação que se enquadra no aspecto Emprego Fora dasNormas, pôde-se observar que o valor atribuído a ela é coerente e adequado,pois apresenta erros graves em todos os níveis. Isso prova que o texto docandidato não demonstrou o domínio das noções gramaticais, porque, nomomento de produção específica, não conseguiu operacionalizar com as regrasde uso padrão da língua, evidenciando um desempenho lingüístico muito baixo,aquém do que se espera de um candidato à vaga no Ensino Superior.

Emprego das normas com falhas graves

O disperdicio mata de fome

Existem milhoões de pessoas passando fome no Brasil etodos sabem desse problema mas não são todos que tentamresolvê-lo.

O desperdício de comida no Brasil é incrível toneladas dealimentos são perdidos na colheita e no plantio, no transporte, novarejo e jogado fora pela população, com esse disperdicio daria paradar um jeito na fome porque para acabar com a fome de uma vezteria que mudar muita coisa no pais.

Se todo brasileiro ajudasse um pouco a fome seria menorem todo país, mas esse é mais um problema não são todos queajudam no combate à fome e sem uma pequena minoria entremilhões que sabem que a fome existe e que mata e mesmo assimnão pensam em fazer nada para ajudar.

A fome não aparece em uma certa época do ano ela existe oano inteiro, não adianta tentar ajudar uma noite apenas e simtodas as noites como poucas pessoas fazem, ajudam quem precisasem pedir nada em troco apenas um obrigado e um sorriso ja éuma boa forma de pagamento.

Comida é o que não falta colaboração é o que falta.

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No primeiro parágrafo, a redação apresenta falha na pontuação –

todos sabem desse problema mas não são todos que tentam resolvê-lo

O segundo parágrafo fica comprometido devido aos problemas de

periodização e pontuação – o desperdício de comida no Brasil é incrivel

toneladas de alimentos são perdidos [...] e jogado fora pela população,

com esse disperdicio daria para dar um jeito na fome porque acabar com

a fome de uma vez teria que mudar muita coisa no pais; de concordância

nominal - toneladas de alimentos são perdidos [...] e jogado fora pela

população; de ortografia pela falta de acentuação em – disperdicio, incrivel.

Os desvios às normas cometidos pela falta de pontuação ocorrem

novamente no terceiro parágrafo – se todo brasileiro ajudasse um pouco a

fome seria menor [...] mas esse é mais um problema não são todos que ajudam

[...] e sem uma pequena minoria entre milhões que sabem que a fome existe

e que mata e mesmo assim não pensam em fazer nada para ajudar.

No quarto parágrafo, há também incidência em problemas de

periodização e pontuação – a fome não aparece em uma certa época do ano

ela existe o ano inteiro, não adianta tentar ajudar uma noite apenas e sim

todas as noites como poucas pessoas fazem, ajudam quem precisa sem

pedir nada em troco apenas um obrigado e um sorriso ja é uma boa forma

de pagamento; em regência - ajudam quem precisa; em ortografia – ja.

Para o aspecto Emprego das Normas com Falhas Graves, que recebe

um valor de 2 pontos, foi possível notar, através da análise, que a pontuação

está adequada a ela, porque as falhas permeiam todos os níveis e a quantidade

de erros encontrados nesta seção é menor do que os da anterior. Observa-

se nessa redação que o candidato faz uso da norma padrão-culta com

incertezas, não há preocupação com a elaboração da escrita de acordo com

a norma culta, evidenciando, às vezes, descuido, e outras, falta de

conhecimento das normas e de seu uso na escrita.

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Emprego das normas com falhas

Podemos aproveitar melhor os nossos alimentos.

No Brasil, há um grande desperdicio de alimentos diariamente.Pensando nesse desperdício, algumas isnstituições reaproveitar umaparte destes alimentos. E com tanto desperdício muitas pessoasdeixam de estarem recebendo comida em suas casas.

A grande maioria dos alimentos jogados todos os dias vãopara o lixo, este são jogados por: restabuantes, Industrias, feiras,acougues, mercados, e principalmente por fazendas que perdemmuito da sua produção. Estes (alimentos) poderia servir dealimentos para cerca de dois-terços dessa população, que passafome. Existe cerca de 23 milhões de pessoas que se encontra namais completa “pobreza”, e que poderiam ter sua fome contidacom a doação destes alimentos

No entanto as empresas, não doa os alimentos, para não teremresponsabilidade sobre doenças ou infequições que este possamcausar as pessoas que engeri-los. Felismente existe instituições, nãogovernamentais que recolhe uma parte dos alimentos que seramjogados e transformam-os, de maneira que possam ser distribuidosem seguida às pessoas.

Emtretanto o governo deveria ser menos rigoroso com asempresas, quanto a doação dos alimentos. ou criar um orgão queficasse responsável pelos recolhimento deste, e sua distribição aspessoas necessitadas.

No primeiro parágrafo, a redação apresenta falhas quanto àortografia – desperdicio, isnstituições; flexão verbal - pessoas deixamde estarem; concordância verbal - algumas isnstituições reaproveitaruma parte destes alimentos.

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No segundo parágrafo, desvios à norma em de concordância nominal- este são jogados, Estes (alimentos) poderia servir, passa fome, Existecerca de 23 milhões de pessoas que se encontra; de pontuação - dois-terços dessa população, que passa fome. Existe cerca de 23 milhões depessoas que se encontra na mais completa “pobreza”, e que poderiamter sua fome contida com a doação destes alimentos; de ortografia –restabuantes, acougues, dois-terços, industrias.

Os mesmos problemas ocorrem no terceiro parágrafo: No entanto asempresas, não doa os alimentos; doenças ou infequições que este possamcausar as pessoas que engeri-los; existe instituições, não governamentaisque recolhe; seram jogados; transformam-os, de maneira que possamser distribuidos em seguida às pessoas.

No último parágrafo, apresenta falhas devido a ausência de pontuação– Emtretanto; pontuação inadequada - a doação dos alimentos. ou criarum órgão(...), erro de concordância nominal - pelos recolhimento deste;de regência - , quanto a doação dos alimentos. ou criar um orgão queficasse responsável pelos recolhimento deste, e sua distribição as pessoasnecessitadas; de ortografia – Emtretanto, orgão.

O aspecto Emprego das Normas com Falhas, de acordo com a redaçãoanalisada, também apresenta pertinência com os problemas levantados no textoem questão. Apesar de evidenciar muitos problemas quanto à pontuação,ortografia, sintaxe e as frases serem simples, esta redação recebe quatro pontosporque as falhas cometidas não é considerada muito grave, do ponto de vistade comprometimento da “boa escrita”em relação aos itens anteriores.

Emprego aceitável das normas

Consciência precária

Existem hoje no Brasil uma imensa população faminta,e também há uma grande concentração de alimentos, masambas não estão se conciliando, o disperço está muito alémdo que imaginamos.

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O Brasil colhe alimentos para supri as nescessidades de maisda metade dos que passam fome, mas a comida fica no meio docaminho, e somente um mísera chega ao ponto final. O quenescessitamos é que haja uma nova distribuição, pois assim estátudo errado, uns tem tanto, enquanto outros não tem nada.

O alimento na sua maioria são desperdiçados indo para olixo, grande parte destes, são viáveis, mas infelizmente, épreferível jogar no lixo do que distribuir, as vezes por ser maiscômodo, inventam desculpas alegando que podem estarestragados ou algo parecido.

Felizmente existem algumas pessoas que fazem algo paraamenizar este problema, poucos mas existem, em alguns estadosbrasileiros existem frentes de conscientização em andamento,assim como o sopão, que são alimento que estão sendo muitobem aproveitados.

Entretanto devemos continuar o que está sendo feito de bom,para que o problema possa ter um final desejado.

No primeiro parágrafo, essa redação apresenta problemas deconcordância nominal e verbal - Existem hoje no Brasil uma imensapopulação faminta, e também há uma grande concentração de alimentos,mas ambas não estão se conciliando; de pontuação - Existem hoje noBrasil uma imensa população faminta, e também há; ortografia – disperço.

No segundo parágrafo, há marca de oralidade - supri as nescessidades;pontuação - fica no meio do caminho, e somente; a concordância ficacomprometida pela falta de acentuação - uns tem tanto, enquanto outrosnão tem nada; erro ortográfico – nescessidades, nescessitamos.

A concordância verbal novamente fica comprometida no terceiroparágrafo - O alimento na sua maioria são desperdiçados; o mesmo coma pontuação - são desperdiçados indo para o lixo, grande parte destes,são viáveis; falha em regência - , é preferível jogar no lixo do que distribuir;problemas quanto a organização de períodos e frases - indo para o lixo,grande parte destes, são viáveis, mas infelizmente, é preferível jogar nolixo do que distribuir, as vezes por ser mais cômodo, inventam desculpasalegando que podem estar estragados ou algo parecido.

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No quarto parágrafo, encontram-se falhas de concordância verbale nominal - existem algumas pessoas que fazem algo para amenizareste problema, poucos mas existem [...] como o sopão, que sãoalimento que estão sendo muito bem aproveitados; de organizaçãode período – , poucos mas existem, em alguns estados brasileirosexistem frentes de conscientização.

O sexto critério Emprego aceitável das normas também está adequadoà redação examinada, pois as falhas encontradas no texto são de concordânciaverbal e nominal, pontuação, ortografia, organização de frases e períodos eoutras como regência, flexão verbal, preposição e marca de oralidade. Alémdisso, são aceitáveis porque se leva em consideração o contexto em queestão inseridas (escolaridade dos candidatos, situação específica de produçãoetc.). São por estas razões que, mesmo apresentando algumas falhas graves,esta redação recebe um valor de número 6 pontos.

Emprego bom das normas

O extermínio da fome

Acompanhadora da humanidade há muitos anos, a fomenão se constitui num problema moderno. João Cabral de MeloNeto em “O galo sozinho não tece uma manhã” expressa aimportância de coletivizar as soluções para que não apenas um esim toda sociedade se mobilize na erradiciação do grande problen,digo, problema.

Segundo Malthus, a população cresceria em progressãogeométrica enquanto o alimento em progressão aritmética, ou seja,faltaria alimento para o contigente populacional. Pesquisasinvalidaram essa previsão e revelaram que o volume de alimentosproduzidos é suficiente para abastecer toda a população mundial.Haveria um paradoxo entre essas pesquisas e a realidade?

Milhares de pessoas passam fome por não terem o que comerou por não atingirem a quantidade de calorias recomendada pelaOrganização Mundial de Saúde. Inicialmente caracterizada pela

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escassa produção, depois da Revolução Industrial e com o adventodo Capitalismo, a fome englobou outras causas. Ao contrário dassociedades paleolíticas e neolíticas, que coletavam e produziam apenaso necessário, a capitalista propõem a produção em larga escala. Juntocom esse tipo de produção, o principal aspecto do capitalismo seinstala: o consumo exacerbado. Indivíduos consomem não apenas onecessário, mas também o supérfluo e o inutilizável. Decorrente disso,o desperdício acaba sendo alarmante.

Diminuir esse desperdício é também diminuir a fome.Agricultores poderiam destinar parte de suas colheitas parainstituições carentes. A vigilância sanitária atuaria no controle eno exame dos excedentes alimentares provenientes de restaurantese mercados. Os bancos de alimentos distribuir- os-iam de formaigualitária. Organizações governamentais e não governamentaisaumentariam a taxa de conversão do lixo em comida. Deixandode lado o espírito consumista dos capitalistas e com essa açãoconjunta da sociedade, dita anteriormente por João Cabral deMelo Neto, diminuir-se-ão os desperdícios e, conseqüentemente,exterminar-se-á a fome mundial.

No primeiro parágrafo, existem deslizes na pontuação - expressa aimportância de coletivizar as soluções para que não apenas um e simtoda sociedade se mobilize.

O mesmo problema ocorre no segundo parágrafo -, a população cresceriaem progressão geométrica enquanto o alimento em progressão aritmética.

O terceiro parágrafo apresenta falhas quanto à estrutura - Milharesde pessoas passam fome por não terem o que comer(...)Inicialmentecaracterizada pela escassa produção, depois da Revolução Industrial ecom o advento do Capitalismo, a fome englobou outras causas.

No quarto parágrafo, há deslize de pontuação - Diminuir essedesperdício é também diminuir a fome; de colocação pronominal - Osbancos de alimentos distribuir- os-iam.

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Após a análise da redação que está classificada no aspecto Empregobom das normas, verifica-se que, apesar de apresentar falhas em pontuação,estruturação de parágrafo e outras quanto à acentuação, regência, preposiçãoe colocação pronominal, esta evidencia um bom emprego da norma culta.Esses deslizes são aceitáveis porque mostram que houve, por parte do candidato,uma preocupação maior com as informações do que com a elaboração destas.Por isso, o valor que recebem é coerente com os deslizes apresentados.

Emprego ótimo das normas

O pão nosso de cada dia não desperdiçai hoje

Miséria e fome: duas das mais famigeradas palavras docontexto atual, abordadas constantemente em discussões dos maisvariados cunhos e intensificadas de acordo com o momento sócio-econômico do país. São acima de tudo, palavras que remetem-nos àreflexões intensas sobre suas razões e conseqüências, caminham juntase compõen um cenário tenebroso, do qual livram-se apenas, mas nãototalmente, os países desenvolvidos.

Depreende-se assim, a impressão de que fome é resultadodireto da miséria. Seria esta uma constatação totalmente verdadeira?

Dados atuais comprovam que não. A fome no Brasil abrangeaspectos mais completos, sendo de fundamental importânciadestacar o enorme desperdício de alimentos. É fato que umaquantidade imensa de comida é jogada fora diariamente. Isso nãoocorre por acaso, um dos grandes fatores que corroboram paraesta situação é cultural. Em um país no qual educação privilégiosde poucos, educação alimentar torna-se ainda mais restrita, o queleva a grande maioria da população a adquirir uma posturaincorreta e deficiente no que tange ao aproveitamento dos alimentos.

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Convém ressaltar ainda que a falta de informação e apoioprincipalmente aos pequenos produtores contribui para que o desperdíciodurante o plantio e colheita seja também bastante significativo. Alémdisso, há ainda as perdas no transporte e armazenamento e na indústria,completando assim esse quadro inaceitável e contraditório.

Entretanto a afirmação de que o desperdício é provocadoapenas pela falta de informação seria ingênua e equivocada.Cumpre citar ainda que existem projetos espalhados por todo opaís, os quais, embora modestos, possuem bons resultados ealcançariam êxito maior se houvesse apoio governamental eficiente.

Dessa forma, é notável que o desperdício constitui-se não emuma barreira que conduz invariavelmente à fome. Vencê-lo e levaresse alimento à população é possível e requer uma nova postura detoda a sociedade. Requer consciência dos que detêm o poder, paragarantir informações ao povo e, acima de tudo, requer incentivonão apenas aos projetos existentes, mas a todo o processo deprodução e comercialização do alimento.

No primeiro parágrafo, há deslize na pontuação – São acima detudo, palavras [...]. Na regência verbal – palavras que remetem-nos àreflexões sobre suas razões e conseqüências; e na ortografia – compõen.

No segundo parágrafo, novamente há falha na pontuação – depreende-se assim, a impressão de que fome é resultado direto da miséria.

Já no quarto parágrafo, há deslize pela falta de pontuação em – afalta de informação e apoio principalmente aos pequenos produtorescontribui para que [...].

Embora essa redação apresente alguns deslizes em pontuação e atémesmo em regência verbal, considerando o momento específico de suasproduções e a concepção de linguagem aqui assumida, ela é avaliada como umótimo emprego das normas, recebendo, portanto, um valor de 9 a 10 pontos.

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Apresenta-se, agora, um quadro com o índice de ocorrências de

problemas em cada item:samroNsadaroF labrevoªsserpxE-

oªautnecaedatlaF-aifargotrO-

lanimonelabrevsaicndrocnoC-oªautnoP-

oªazidoireP-

samroNsadlevrfoSosU aifargotrO-lanimonelabrevsaicndrocnoC-

oªautnoP-larooªsserpxE-

oªazidoireP-oªisoperP-

laibrevdAotnujdA-

samroNsadralugeRosU aifargotrO-lanimonelabrevsaicndrocnoC-

oªautnoP-oªazidoireP-

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samroNsadlevÆtiecAosU aifargotrO-lanimonelabrevsaicndrocnoC-

aicnŒgeR-oªisoperP-

sesarfesodorepedoªazinagrO-oªautnoP-

labrevoªsserpxE-labrevoªxelF-

edadilaroedacraM-

samroNsadoterroCosU aifargotrO-aicnŒgeR-oªautnoP-oªisoperP-

aicndrocnoC-ofargÆrapedaruturtsE-

samroNsadodacitsifoSosU edadilarOedacraM-oªautnoP-

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Comparando esses dados aos propostos pela planilha, para o item 2não foram encontradas nas redações seqüências orais descontextualizadas.Os demais problemas levantados, nas redações, se encaixam adequadamentenos aspectos selecionados e previstos pela mesma.

Discussão dos dados

Pensar na avaliação da gramática em redações escolares, segundo aplanilha da Universidade Estadual de Maringá, conforme as análisesapresentadas, é vê-la numa concepção distinta de linguagem, de gramática edo próprio ensino de língua portuguesa.

Ora, sobre essas abordagens as avaliações das redações evidenciamque a linguagem é, aqui, assumida na perspectiva da terceira concepção, umavez que se espera dos candidatos uma demonstração de habilidade em leiturae de seus conhecimentos lingüísticos por considerar o Concurso Vestibularcomo um ato comunicativo em um momento específico de produção.

Essa postura vem ao encontro do que se supõe Travaglia (1996, p. 23)quando afirma ser “a linguagem um lugar de interação humana, de interaçãocomunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em umadada situação de comunicação em um contexto sócio-histórico e ideológico”.

É justamente esta expectativa que se tem com relação às redaçõesfeitas no vestibular. Por ser um momento especial de produção, o avaliadore o candidato são colocados numa relação de interlocução. Por isso nota-se, através dos textos analisados, uma valorização maior ao conteúdo, asidéias em detrimento de erros gramaticais que, em muitos casos, não são tãosignificativos. Isto porque mesmo que se pretenda verificar a capacidade docandidato em usar as regras da norma padrão-culta e operacionalizar comelas, levam-se em consideração as variedades lingüísticas, o que interfere naavaliação dos textos, pois, neste momento, busca-se um ponto de equilíbrioentre o emprego adequado das normas, as formas orais trazidas ao textoescrito e os conhecimentos gramaticais internalizados que o usuário da línguapossui e que são colocados em prática quando produzem as redações.

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Isso mostra que a concepção de gramática considerada pelaUniversidade Estadual de Maringá na prova de redação é aquela queultrapassa as perspectivas esperadas no ensino de caráter tradicionalista,adotando o que Franchi (apud Travaglia, 1996, p. 28) define como “osaber lingüístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certoslimites impostos pela sua dotação genética humana, em condiçõesapropriadas de natureza social e antropológica”.

Nesse sentido, é possível observar, através das verificações dasredações, que existe uma preocupação por parte da planilha não só comos aspectos gramaticais ao ter como fundamento a terceira concepção degramática, como também com os aspectos textuais e discursivos,apresentados por falantes que tenham a competência comunicativa.

Por outro lado, ao mesmo tempo que essas análises revelam aeficiência da planilha para avaliar o uso da norma padrão-culta, declaramtambém, ainda que seja de forma delimitada, que, quando se trata dagramática e a sua relação com a prática de língua portuguesa, boa partedos estudantes não têm o domínio sobre as regras gramaticais.

Às vezes, encontram-se redações ricas em idéias, porémcomprometidas pelos aspectos formais por apresentarem uma seqüêncialinear das frases, períodos, parágrafos, grafia das palavras, sem estabelecerconcordância e emprego de regência, empobrecendo, assim, o nívelgramatical do texto.

Na pesquisa realizada por Neves (apud Travaglia, 1996) comprofessores de 1o e 2o graus no estado de São Paulo, evidencia-se que asáreas de programa de língua portuguesa que mais são trabalhadas porordem de freqüência pertencem aos exercícios de reconhecimento eclassificação de classes de palavras e de funções sintáticas quecorrespondem a 75,56% das atividades ensinadas. Por conseguinte, sãonesses aspectos que os alunos mais têm falhado, estando impossibilitadosde operacionalizar com a língua.

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Assim, a tabela abaixo mostra a margem de erros encontrada nostextos analisados nesta pesquisa.

Esses resultados afirmam o caráter prescritivo do ensino não só para oestado de São Paulo como mostra a pesquisa feita por Neves (apud Travaglia,1996), mas também para a região Noroeste do Paraná, a qual a UEM abrange.Ao realizar seus estudos, Neves constatou que as atividades relacionadas a redaçãoe texto representam em ordem de freqüência apenas 2,88% das atividadesensinadas. Então, pode-se observar que a ausência de tarefas de produção ecompreensão de textos deve ser um dos fatores que têm contribuído para a nãoformação da competência comunicativa nesses alunos.

Travaglia (1996, p. 107) explica uma proposta para o ensino degramática que

aprender a língua, seja de forma natural no convívio social, seja de formasistemática em sala de aula, implica sempre reflexão sobre a linguagem,formulação de hipóteses e verificação do acerto ou não dessas hipóteses sobrea constituição e funcionamento da língua [...] impossível, pois usar a língua eaprender a língua sem reflexão sobre ela.

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Diante disso, o professor que admitir o ensino da linguagem na direçãodo interacionismo terá uma postura diferente quanto à transmissão de seusconhecimentos lingüísticos aos seus alunos. Então, na condição de instrutorde língua, ele necessita pensar adequadamente sobre o papel da linguagemque o orientará em toda a sua prática, refletindo conseqüentemente nametodologia empregada, nos conteúdos ensinados e modos de avaliar e,além disso, estará contribuindo não só para a aquisição do domínio gramatical,mas também e de forma natural para a formação de pessoas que reflitamsobre a própria língua, desde os aspectos que a estrutura àqueles que aconstitui como um fenômeno social.

A este respeito, Geraldi (1997, p. 45) explica que “uma diferenteconcepção de linguagem constrói não só uma nova metodologia, masprincipalmente um “novo conteúdo ‘de ensino”.

Sabendo das condições que perpassam o ensino, principalmente, oda instituição pública, é certo que não se pode responsabilizar o professorpelo fracasso dos alunos, no entanto, não é permitido esquecer que é ele omediador dos conhecimentos, o que significa admiti-lo, possivelmente, nãosó como um instrutor consciente de seu papel como também um motivadorcapaz de driblar as dificuldades reais encontradas e criar um cenário própriode aprendizagem. Franchi (1984) no seu livro E as crianças eram difíceis,é um bom exemplo disso.

Isso implica em valorizar-se profissionalmente e conseqüentemente emver com olhos diferentes os próprios educandos. Em pleno século XXI,dificilmente se conseguirá ter uma escola cor-de-rosa. Monteiro Lobato mostroumuito bem em Reinações de Narizinho que isto só era possível nas históriasda dona Carochinha. Hoje, as circunstâncias são outras e os cenários reais.

Embora o motivo para essas transformações seja melhorar o processoeducativo, elas denunciam, através das redações analisadas, principalmenteas que estão classificadas nos itens Emprego fora das normas e Empregodas normas com falhas graves, que essas condições preparadas para aaquisição de aprendizagem devem ser revistas e repensadas, pois os alunospassam oito anos no ensino fundamental, três no ensino médio e quando élhes solicitado a eles escrever uma redação em que se tenha clareza emidéias e objetividade em opinião, boa parte dos resultados é alarmante.

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Contra a idéia de que se condena o estudo da gramática nas escolas,prevalece a noção de que são os métodos ineficazes empregados e osconteúdos arrolados que contribuem para a não formação discursivacompetente dos usuários da língua e que, enquanto esses não mudarem, nãohá solução, os alunos continuarão a escrever com problemas, mesmo que sesurjam novas teorias ou novas concepções de ensino.

Considerando que o ensino no Brasil é de caráter prescritivo, os resultadosobtidos são referenciais e apesar de não serem muito animadores, mostram queestá havendo uma tentativa de mudança. A planilha de avaliação de redação doconcurso vestibular da UEM é um exemplo disso. Muitos professores conscientesde seu papel já mudaram seus métodos e conteúdos de ensino e têm conseguidoalcançar resultados positivos em suas práticas docentes. Isso é um ótimo sinal deque, mesmo que seja de um modo lento, estão ocorrendo transformações noprocesso educativo, embora ainda se encontrem contradições no interior da salade aula e no próprio sistema que rege o ensino.

Considerações finais

A partir da análise, pode-se observar que as falhas gramaticais maisrecorrentes são as de pontuação, ortografia, regência e que é possível fazeruma avaliação equilibrada e objetiva destes textos não restringindo essemomento à correção de falhas, apenas, mas vê-los como unidade de efeitoe sentido. Um modo prático e eficiente para se realizar isso, é seguir oscritérios da planilha que leva em consideração no momento da avaliação nãosó os elementos internos da língua, mas também os contextuais.

Notas

1Pesquisa orientada pelo prof. Dr. Renilson José Menegassi-UEM.2Lingüística do discurso: Koch a defini como uma lingüística que se ocupa das mani-festações lingüísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas,sobre determinadas condições de produção. Afirma que estas atividades podem con-sistir de uma só palavra, de uma seqüência de duas ou mais palavras ou de uma frasemais ou menos longa, no entanto, alerta que, geralmente, tratam-se de seqüênciaslingüísticas maiores que a frase. Isto leva a entender que é necessário ultrapassar onível da descrição frasal para tomar como objeto de estudo combinações de frases,seqüências textuais ou textos inteiros (1997, p. 11-12).

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3Texto: Val define texto ou discurso como uma ocorrência lingüística falada ou escritade qualquer extensão, dotado de unidade sócio-comunicativa, semântica e formal. Neleestão presentes as intenções do produtor. O contexto em que é dirigido vai dar-lhe umsentido. Constitui-se de uma parte semântica que trata do conteúdo descrito, e deoutra, a forma, que interliga seus componentes lingüísticos, formando um todo coeso.Estes elementos unidos denominam-se textualidade, um conjunto de enunciações sig-nificativas que faz um todo ser texto e não frases (Val, 1991, p.3-4).4A correção é uma prática empregada em sala de aula, mas não em situação de redaçãode vestibular, na UEM. Avaliar e corrigir são atividades diferentes, cada uma desenvol-vendo uma função distinta. Corrigir significa fazer apontamentos no texto produzido,enquanto avaliar é atribuir um valor específico ao texto. Assim, acredita-se que sefossem corrigidas, a correção de um primeiro avaliador poderia influenciar o segundo.O que se tem como objetivo quando se avalia é mensurar conhecimentos sobre aprodução de redação, de atribuir valores, numa escala gradativa dentro de camposespecíficos, aos elementos constituintes do texto (Zanini e Menegassi, 1996).

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* Orientador: Renilson José Menegassi - UEM**Aluna não-regular do Programa de Pós-Graduação em Letras (UEM)

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