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Panorama do Antigo Testamento I- BI-160 A Português Dr. Eddie Ildefonso Leitura # 13 DEUTERONÔMIO 1  PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO DEUTERONÔMIO Por 38 anos depois que se recusaram a entrar em Canaã, Israel permaneceu no deserto de Parã e em Cades-barnea, 1 até que não havia a velha geração e retomou a viagem com um longo desvio rodeando Edom. Acamparam em Moabe, aguardando instruções finais para atravessar e possuir a terra que Deus havia prometido a seus pais. Foi um momento majestoso. De acordo com o livro de Deuteronômio, Moisés aproveitou a oportunidade para entregar três discursos para o povo de Israel, discursos de despedida, pois se lhe foi dito que não iria entrar na terra com o povo. A essência dos discursos se encontra em Deuteronômio. El primero fue pronunciado Além do Jordão, na terra de Moabe(Deuteronômio1:5). Deuteronômio 1:5 Além do Jordão, na terra de Moabe, começou Moisés a declarar esta lei, dizendo: O segundo Se as palavras de Deuteronômio 4:44–49 destina-se a ser o cabeçalho da segunda secção, e não o resumo da primeiao — foi oferecido Além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus” (Deuteronômio 4:46). Deuteronômio 4:44-49 Esta é, pois, a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel. Estes são os testemunhos, e os estatutos, e os juízos, que Moisés falou aos filhos de Israel, havendo saído do Egito; Além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, a quem feriu Moisés e os filhos de Israel, havendo eles saído do Egito. E tomaram a sua terra em possessão, como também a terra de Ogue, rei de Basã, dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão, do lado

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Panorama do Antigo Testamento I- BI-160 A Português Dr. Eddie Ildefonso Leitura # 13 DEUTERONÔMIO

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PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO

DEUTERONÔMIO

Por 38 anos depois que se recusaram a entrar em Canaã, Israel permaneceu no deserto de Parã e em Cades-barnea,1 até que não havia a velha geração e retomou a viagem com um longo desvio rodeando Edom. Acamparam em Moabe, aguardando instruções finais para atravessar e possuir a terra que Deus havia prometido a seus pais. Foi um momento majestoso.

De acordo com o livro de Deuteronômio, Moisés aproveitou a oportunidade para entregar três discursos para o povo de Israel, discursos de despedida, pois se lhe foi dito que não iria entrar na terra com o povo. A essência dos discursos se encontra em Deuteronômio.

El primero fue pronunciado “Além do Jordão, na terra de Moabe”

(Deuteronômio1:5). Deuteronômio 1:5 Além do Jordão, na terra de Moabe, começou Moisés a declarar esta lei, dizendo:

O segundo— Se as palavras de Deuteronômio 4:44–49 destina-se a ser o cabeçalho

da segunda secção, e não o resumo da primeiao — foi oferecido “Além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus” (Deuteronômio 4:46).

Deuteronômio 4:44-49 Esta é, pois, a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel. Estes são os testemunhos, e os estatutos, e os juízos, que Moisés falou aos filhos de Israel, havendo saído do Egito; Além do Jordão, no vale defronte de Bete-Peor, na terra de Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, a quem feriu Moisés e os filhos de Israel, havendo eles saído do Egito. E tomaram a sua terra em possessão, como também a terra de Ogue, rei de Basã, dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão, do lado

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do nascimento do sol. Desde Aroer, que está à margem do ribeiro de Arnom, até ao monte Sião, que é Hermom, E toda a campina além do Jordão, do lado do oriente, até ao mar da campina, abaixo de Asdote-Pisga.

O terceiro ocorreu simplesmente "na terra de Moab” (Deuteronômio 29:1). É bem provável que a localização das três mensagens seja a mesma.

Deuteronômio 29:1 Estas são as palavras da aliança que o SENHOR ordenou a Moisés que fizesse com os filhos de Israel, na terra de Moabe, além da aliança que fizera com eles em Horebe.

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Estrutura. A maioria das tentativas para determinar a estrutura de Deuteronômio é a partir dos

três discursos. O sermão de estilo exortativo do livro tem sido observado por vários estudiosos. Mas os três discursos seriam compostos de quatro, vinte e quatro e dois capítulos, respectivamente, uma distribuição muito desproporcional.

Além disso, a inclusão de um grande número de leis que claramente não são

classificadas por grupos ou uma sequência levanta a questão de por que estariam neste discurso. Mesmo aceitando a opinião de G. von Rad, que argumenta que “o orador tenta passar a exposição legal específico às palavras de encorajamento e exortação pastoral”,2 fica pergunta de como o orador conseguiu manter a atenção de um grande público.

Talvez este problema é em parte a razão pela qual M.G. Kline considera que

Deuteronômio é um documento e não um discurso: “o documento preparado por Moisés como prova do pacto dinâmic que o Senhor deu a Israel nas planícies de Moabe”.3

Com algumas modificações, a estrutura de Deuteronômio, especialmente como

apresenta Kline, baseia-se no tratado de senhor e vassalo como descrito por G.E. Mendenhall e outros. 4 No entanto, o livro é muito superior em extensão a todos os tratados dessa natureza que tenham sido publicados. No entanto, se a composição de Deuteronômio baseou-se na forma de tal tratado ou não, esta estrutura serve como um ponto de partida.

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La estructura básica es la siguiente: Introdução (1:1–5) Primeiro discurso: os feitos de Yahvéh(1:6–4:40)

Resumo histórico da Palavra de Yahvéh(1:6–3:29) Deveres de Israel para com Yahvéh(4:1–40)

Designação das cidades de refúgio(4:41–43) Segundo discurso: lei de Yahvéh(4:44–26:19)

Cláusulas do pacto (4:44–11:32) Introdução (4:44–49) Os Dez Mandamentos (5:1–21) Encontro com Yahvéh(5:22–33) O grande mandamento (6:1–25) A terra prometida e seus problemas (7:1–26) Ensino dos feitos de Yahvéh e a resposta de Israel (8:1–11:25) A opção para Israel (11:26–32)

Leis (12:1–26:19) Sobre o culto (12:1–16:17) Sobre os funcionários, sacerdotes e profetas (16:18–18:22) Sobre os criminosos (19:1–32) A guerra santa (20:1–20) Leis diversas (21:1–25:19) Confissões litúrgicas (26:1–15) Exortações finais (26:16–19)

Ceremônia para ser instituida em Siquem(27:1–28:68) Terceiro discurso: pacto com Yahvéh(29:1–30:20)

Propósito da revelação de Yahvéh(29:1–29) Proximidade da Palavra de Yahvéh(30:1–14) Opção apresentada a Israel (30:15–20)

Palavras finais de Moisés; seu cântico(31:1–32:47) Morte de Moisés(32:48–34:12)

Se é que originalmente foi apresentado oralmente em três discursos ou escritos em um documento de despedida, o livro levanta a questão da aliança de Deus com Israel. Pode ser resumido como se segue:

Deuteronômio 10:12-13

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Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, Que guardes os mandamentos do Senhor, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem? Deuteronômio 12:22 Porém, como se come o corço e o veado, assim comerás; o imundo e o limpo também comerão deles.

COMPOSIÇÃO

O livro de Deuteronômio é muitas vezes chamado a pedra angular de toda a hipótese documentária do Pentateuco. A data de composição tem sido considerada como um dos "certos resultados" da crítica superior. No entanto, nos últimos anos, a teoria inicialmente apresentada entrou em colapso quase inteiramente entre os estudantes modernos de Deuteronômio. Portanto, é importante fazer uma revisão das várias teorias críticas da composição do livro.

Hipótese documental clássica. Na teoria Graf-Wellhausen da composição do Pentateuco, as quatro fontes

documentais foram J, E, D e P. O documento D incluía a maior parte de Deuteronômio. No décimo oitavo ano do rei Josias, rei de Judá (621 a.C.), trabalhadores que estavam reabilitando a casa do Senhor encontraram "o livro da lei".

O rei quando leu, rasgou as sua vestes, em reconhecimento de seu povo tinha

desobedecendo as palavras deste livro; em seguida, começou um reavivamento religioso (2 Res 22–23).

Nos tempos de Jerônimo (século IV d.C.), Acredita-se que o livro encontrado foi

Deuteronômio. Em 1805, W.M.L. de Wette fez uso dos estudos de crítica para mostrar que Deuteronômio veio de uma fonte que não aparece nos primeiros quatro livros do Pentateuco, datava do século VII, e, assim, era posterior aos documentos J e E.

Wellhausen, no fim do século XIX, estava convencido de que as reformas de Josias

foram causadas por líderes religiosos contemporâneos, para promover essas reformas, elaboraram "o livro da lei” e o esconderam no templo. Posteriormente, ele foi "descoberto" e, supostamente datava do tempo de Moisés, e deu um impulso para as reformas. 5 Alguns estudiosos estavam convencidos de que "o livro da lei" incluía Deuteronômio 12–26; outros, que abarcava os capítulos 5–26.

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A estela de Hammurabi ( 1700 a.C.), que contém 282 leis, o que sugere comparações interessantes em forma e detalhe com as leis do Pentateuco (p.ex.Dt. 19:21). (Louvre)

Historiador deuteronômico. A data do “livro da lei”, de acordo com a maioria dos estudiosos, foi estimada pela

teoria de que ele tinha sido escrito pouco tempo antes de sua descoberta em 621 a.C. 

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Contudo, no século XX, entre os estudiosos, esta teoria caiu em descrédito. Alguns traçaram a data do Deuteronômio com o tempo de Manassés ou de Ezequias, ou antes do tempo de Amos, e até a época de Samuel.

Outros atribuiram a obra ao tempo de Ageu e Zacarias, e ainda mais tarde.6

Entretanto, os estudiosos reconheceram que Deuteronômio tinha mais semelhanças com 1 e 2 Reis que com os primeiros quatro livros do Pentateuco.

Como resultado desta diversidade de conclusões, foi propagado o termo

"deuteronomista" e os estudiosos começaram a falar do “tetrateuco” (Gênesis-Números) e de “história deuteronômica” (Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis).7

Alguns estudiosos que aderiram à teoria wellhauseniana insistiram em manter que o

principal objetivo do documento D foi confirmar a alegação de Jerusalém como o único santuário, embora a cidade não seja mencionada em qualquer lugar de Deuteronômio. Von Rad observou que essa teoria contradiz o mandato para erguer um altar no Monte Ebal (Deuteronômio 27:4–8).8

Deuteronômio 27:4-8 Será, pois, que, quando houveres passado o Jordão, levantareis estas pedras, que hoje vos ordeno, no monte Ebal, e as caiarás. E ali edificarás um altar ao Senhor teu Deus, um altar de pedras; não alçarás instrumento de ferro sobre elas. De pedras brutas edificarás o altar do Senhor teu Deus; e sobre ele oferecerás holocaustos ao Senhor teu Deus. Também sacrificarás ofertas pacíficas, e ali comerás perante o Senhor teu Deus, e te alegrarás. E naquelas pedras escreverás todas as palavras desta lei, exprimindo-as nitidamente.

A.C. Welch e outros observaram que Deuteronômio tem alguns pontos em comum

com Oséias e concluiu que não era original do reino do sul, mas que foi uma obra composta no norte.9 .Destina-se a Israel como um todo, e não apenas a Judá, Sião e a linhagem de Davi. 10 O objetivo principal do livro, como expôs sucintamente T. Oestreicher, não é Kulteinheit(unidade de culto, i.e., no santuário central), mas Kultreinheit (pureza de culto).11 Alguns estudiosos concluíram que Deuteronômio foi o resultado e não a causa das reformas de Josias. 12 Evidentemente, as mesmas informações levaram os diferentes estudiosos em direções opostas.

Situação atual. Não há consenso entre os estudiosos hoje. Os estudos críticos com foco na forma do

texto literário têm levado a um número crescente de estudiosos a reconhecer em

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Deuteronômio elementos de dados bem antigos. A possibilidade de que a estrutura do livro seja semelhante aos tratados de senhor - vassalo do segundo milênio, e não a mediados do primeiro milênio, aponta para uma época anterior. O estilo exortativo leva alguns estudiosos a pensarem que o livro é baseado em uma tradição que remonta ao próprio Moisés. 13 Outros colocam a tradição anterior a monarquia.

Se forem deixadas de lado algumas glosas que são aparentemente posteriores e, talvez

parte do material dos últimos capítulos, não há nada em Deuteronômio que não possa remontar ao tempo de Moisés. Definitivamente é mais provável que Deuteronômio tenha influenciado os profetas, e que eles não o compuseram. Em Deuteronômio não aparece qualquer um dos principais centros de tensão contemporânea dos profetas, como os "lugares altos", o culto a Baal ou os tipos específicos de idolatria.

Moisés foi e não os profetas que o seguiram, quem estabeleceu os grandes princípios

da religião israelita; os profetas desenvolveram estes princípios, aplicando-os às questões espirituais e morais de sua época. O resultado de dois séculos de crítica literária hoje indica que se Deuteronômio não apresenta as palavras de Moisés, pelo menos é uma tradição que representa um alto grau de precisão, a ele e a sua aplicação das leis e estatutos do pacto de Yahvéh às necessidades dos israelitas pouco antes de entrar em Canaã. 14

TEOLOGIA

Deuteronômio é uma arca cheia de conceitos teológicos que têm influenciado a vida

e pensamento religioso de Israel e cristão. Se as idéias básicas vêm de Moisés, como argumentado antes, foram desenvolvidas e adaptadas pela ação do Espírito e influenciaram os primeiros profetas, que foram os autores da "história deuteronomista"—os “Profetas Anteriores”—assim como nos “Profetas Posteriores”; então, é amplamente justificada a tentativa de compreender as idéias teológicas de Deuteronômio, tanto pela sua antiguidade como pela sua preponderância no pensamento do Antigo Testamento.

O credo. Deuteronômio 6:4 é o “credo” de Israel, ou usar a palavra inicial em seu nome

judaico, a shema: Deuteronômio 6:4-5

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Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.

Estas palavras deveriam permanecer nos corações dos israelitas, que tinham que ensiná-las diligentemente a seus filhos. Deveriam atá-las "como um sinal" na mão e tê-las”, “entre os olhos. Deveriam escrevê-las nos umbrais e nas portas das casas. Estas instruções imediatamente após a shema tornaram-se parte das cerimônias religiosas diárias dos judeus. Jesus tirou as palavras do v. 5 como o maior e primeiro mandamento.

Mateus 22:37 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.

O credo proclama a unidade e a unicidade de Yahvéh, o Deus de Israel, especificamente sobre a relação estabelecida entre Ele e Seu povo. A palavra para "um" é o número; literalmente, “O Senhor nosso Deus, o Senhor, um”. Se o ensino específico desta passagem fosse o monoteísmo, poderia ter usado outra palavra hebraica, e haveria a tradução “O Senhor nosso Deus é o único Senhor”. 15

Ao mesmo tempo, Deuteronômio 6:4 exclui qualquer conceito de politeísmo no

Deus de Israel, porque Ele não é muitos, mas um. Deuteronômio 6:4-5 Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.

Acima de tudo, a exclusividade de Yahvéh exige amor absoluto do Seu povo. 

Enquanto credo não apresenta o monoteísmo como um conceito filosófico, certamente apresenta o Senhor como o único Deus que os israelitas poderiam amar e servir, pois o amor de todo o coração, com toda a alma e com toda a força não deixa espaço para a devoção a outro deus. Às vezes, o nome é dado é “monolatria” (adoração a um deus) à visão israelita primitiva, uma vez que não nega explicitamente a existência de outros deuses.

Contudo, tanto o monoteismo como a monolatria são conceitos filosóficos e não

parece que os israelitas eram filósofos; não especulavam sobre Deus, pois ele era conhecido por suas experiências com ele. Ele os havia libertado do Egito e lhes exigia dedicação integral. Sua fé era o resultado da experiência e não uma conclusão lógica.

É Deus que age

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O conceito de Yahvéh como alguém que interage com os seres humanos escolhidos não é apresentado pela primeira vez em Deuteronômio. É parte essencial da história da criação, a história do dilúvio e, claro, a aliança abraâmica; Ficou ilustrado de maneira eloquente quando Yahvéh venceu Faraó em sua recusa de libertar os israelitas e depois frustrou a tentativa de seu exército para recapturar os escravos fugitivos.

Mas em Deuteronômio, os atos históricos de Yahvéh formam uma parte

fundamental do ponto de vista do livro, particularmente desde que estes eventos estão relacionados com as reivindicações que Ele faz aos israelitas durante e depois de entrar na terra prometida. Moisés lhes recorda “o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor” (Deuteronômio 4:3), que servirá como uma lição para a conduta futura na Terra Prometida (Deuteronômio 4:5). “Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar.”

Pergunta Moisés (Deuteronômio 4:7). Os acontecimentos que geraram esta fé devem ser ensinados "a seus filhos e os filhos de seus filhos”.

Deuteronômio 4:3-9 Os vossos olhos têm visto o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor teu Deus consumiu do meio de ti. Porém vós, que vos achegastes ao Senhor vosso Deus, hoje todos estais vivos. Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos.

A doutrina de que Deus é invisível e o mandamento de não fazer imagens de

qualquer forma representativa de Deus são baseadas na experiência de Horebe (Deuteronômio 4:15). “Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou convosco do meio do fogo;”, prossegue Moisés.

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“Mas o Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, para que lhe sejais por povo hereditário, como neste dia se vê.” (Deuteronômio 4:20). O sol, a lua e as estrelas pertencem a todos —por decreto de Deus— mas a libertação do Egito foi a sua ação somente em favor de Israel, Idealizada para fazer dele seu próprio povo. Se Israel esquece essas experiências e suas implicações, Yahvéh certamente punirá seu povo, expulsando-o da terra e espalhando-o entre as nações.

Por outro lado, se Israel se volta a Yahvéh e obedece a Sua voz, Ele será

misericordioso e não se esquecerá da aliança que jurou a seus pais (Deuteronômio 4:25–31): Quando, pois, gerardes filhos, e filhos de filhos, e vos envelhecerdes na terra, e vos corromperdes, e fizerdes alguma escultura, semelhança de alguma coisa, e fizerdes o que é mau aos olhos do Senhor teu Deus, para o provocar à ira; Hoje tomo por testemunhas contra vós o céu e a terra, que certamente logo perecereis da terra, a qual passais o Jordão para a possuir; não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo destruídos. E o Senhor vos espalhará entre os povos, e ficareis poucos em número entre as nações às quais o Senhor vos conduzirá. E ali servireis a deuses que são obra de mãos de homens, madeira e pedra, que não vêem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram. Então dali buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma. Quando estiverdes em angústia, e todas estas coisas te alcançarem, então nos últimos dias voltarás para o Senhor teu Deus, e ouvirás a sua voz. Porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esquecerá da aliança que jurou a teus pais.

Deuteronômio 4:32-35 Agora, pois, pergunta aos tempos passados, que te precederam desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma extremidade do céu até à outra, se sucedeu jamais coisa tão grande como esta, ou se jamais se ouviu coisa como esta? Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como tu a ouviste, e ficou vivo? Ou se Deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão forte, e com braço estendido, e com grandes espantos, conforme a tudo quanto o Senhor vosso Deus vos fez no Egito aos vossos olhos? A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.

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Em seu último discurso, Moisés declara: Deuteronomio 29:2-4 E chamou Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; As grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; Porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje.

Mais uma vez, é mencionado que Yahvéh os havia conduzido pelo deserto e tinha suprido as suas necessidades. Então Moisés mostra o propósito: “Para que hoje te confirme por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem dito, e como jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.” (Deuteronômio 29:13).

Eleição de Israel. O conceito relativo em que Yahvéh escolheu Israel para ser sua propriedade é

chamado de “eleição”. A base da doutrina encontra-se no chamado de Abraão (Gênesis 12:1–3; Gênesis 15:1–6), onde a promessa de Deus se dirige a "semente" ou a descendência de Abraão.

Gênesis 12:1-3 Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gênesis 15:1-6 Depois destas coisas veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão. Então disse Abrão: Senhor DEUS, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro. E eis que veio a palavra do Senhor a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro. Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência. E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça.

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Esta ideia está destacada na chamada de Moisés. Êxodo 3:6 Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.

Encontra-se na revelação da lei no Sinai (cf. Êxodo 20:2, 12) e no sistema de sacrifícios apresentado em Levítico (cf. Levítico 18:1–5, 24–30).

Êxodo 20:2 Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Êxodo 20:12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.

Levítico 18:1-5 Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Eu sou o Senhor vosso Deus. Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Fareis conforme os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o Senhor vosso Deus. Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor. Levítico 18:24-30 Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós. Por isso a terra está contaminada; e eu visito a sua iniqüidade, e a terra vomita os seus moradores. Porém vós guardareis os meus estatutos e os meus juízos, e nenhuma destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós; Porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós; e a terra foi contaminada. Para que a terra não vos vomite, havendo-a contaminado, como vomitou a nação que nela estava antes de vós. Porém, qualquer que fizer alguma destas abominações, sim, aqueles que as fizerem serão extirpados do seu povo. Portanto guardareis o meu mandamento, não fazendo nenhuma das práticas abomináveis que se fizeram antes de vós, e não vos contamineis com elas. Eu sou o Senhor vosso Deus.

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13  

A referência à promessa aparece no relato do envio espias à Canaã (Números 13:2) e em seu relatório (Números 14:8). Mas acima de tudo, é a idéia dominante em Deuteronômio.

Números 13:2 Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada um príncipe entre eles. Números 14:8 Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel.

A palavra mais usada para explicar a teoria da eleição no Antigo Testamento é o verbo "escolher". Aparece com freqüência em Deuteronômio. 16 Mas a idéia de eleição — Deus escolheu Israel para ser o seu povo — é expressa de muitas outras maneiras e muitas vezes está implícita, embora a palavra não seja usada explicitamente (cf. Deuteronômio 4:32–35).

Deuteronômio 4:32-35 Agora, pois, pergunta aos tempos passados, que te precederam desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma extremidade do céu até à outra, se sucedeu jamais coisa tão grande como esta, ou se jamais se ouviu coisa como esta? Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como tu a ouviste, e ficou vivo? Ou se Deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão forte, e com braço estendido, e com grandes espantos, conforme a tudo quanto o Senhor vosso Deus vos fez no Egito aos vossos olhos? A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.

Deve ser lembrado que a eleição de Israel por Deus foi feita por Sua criação de Israel

como um novo povo. A eleição divina não é um fato arbitrário, como se Deus tomou uma nação existente, rejeitando as outras. Sua nova obra da redenção requeria a formação de uma nova nação a partir da família de Abraão e eventos posteriores de sua história.

Moisé disse: “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te

escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra.” (Deuteronômio 7:6).

Esta eleição não foi feita pela superioridade numérica de Israel

Deuteronômio 7:7

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O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; Deuteronômio 7:8 Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.

Devido a esta eleição Israel deveria destruir as nações que habitavam na terra de

Canaã, “sete nações mais numerosas e mais poderosas” (Deuteronômio 7:1). Deuteronômio 7:1 Quando o SENHOR teu Deus te houver introduzido na terra, à qual vais para a possuir, e tiver lançado fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu;

Israel não deveria fazer com elas pacto algum, nem ter compaixão. Nenhum casamento deveria ser realizado entre os israelitas e os povos da terra, porque isso só afastaria Israel de Yahvéh e os levaria a servir outros deuses.

Deuteronômio 7:3 Nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos;

Acima de tudo, eles devem destruir todos os símbolos religiosos dos povos de Canaã. Deuteronômio 7:5 Porém assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas estátuas; e cortareis os seus bosques, e queimareis a fogo as suas imagens de escultura.

Estes pareciam regras muito rígidas. Se Yahvéh é o Deus de todas as nações de forma

igual e, portanto, todos os homens são seus filhos igualmente, então, os ensinamentos poderiam levantar objeções. Mas ser considerado dentro do contexto apropriado o da eleição. Yahvéh escolheu Israel e é o Deus de Israel. Não assume um compromisso com outras nações, exceto quando relacionado ao pacto com Israel.

Esta ideia básica de eleição encontra-se no fundo das passagens excleusivistas neotestamentárias, como é a distinção feita entre os seguidores de Cristo e do "mundo" (cf. João 1:12; João 8:42; João 15:18; 1 João 2:15).

João1:12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; João 8:42

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Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. João 15:18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. 1 João 2:15 Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.

Mas este conceito de eleição tem outra faceta. A eleição que Deus fez a Abraão e seu descendente tinha um propósito: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3).

O zelo de Deus para Israel não se origina na indiferença para com os outros povos, mas surge de seu interesse em que Israel transmita a verdade para outros povos. Se Israel não guarda a verdade que Yahvéh revelou em palavras e feitos, a verdade nunca chegará ao resto do mundo.

Assim, Deuteronômio enfatiza que, uma vez que entrem em Canaã, os israelitas têm

de fazer tudo o que o Senhor lhes ordenou. Esta é a razão por trás da lei do "santuário único" (Deuteronomio12: 1–14): Estes são os estatutos e os juízos que tereis cuidado em cumprir na terra que vos deu o SENHOR Deus de vossos pais, para a possuir todos os dias que viverdes sobre a terra. Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda a árvore frondosa; E derrubareis os seus altares, e quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. Assim não fareis ao Senhor vosso Deus; Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali comereis perante o Senhor vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que puserdes a vossa mão, vós e as vossas casas, no que abençoar o Senhor vosso Deus. Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos. Porque até agora não entrastes no descanso e na herança que vos dá o Senhor vosso Deus. Mas passareis o Jordão, e habitareis na terra que vos fará herdar o Senhor vosso Deus; e vos dará repouso de todos os vossos inimigos em redor, e morareis seguros.

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Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome; ali trareis tudo o que vos ordeno; os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e toda a escolha dos vossos votos que fizerdes ao Senhor. E vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança. Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; Mas no lugar que o Senhor escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno. 

O mandato estipulado que Israel não rendesse culto nenhum “sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda a árvore frondosa;” (v. 2); “” (v. 5).

Deuteronômio 12:2 Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda a árvore frondosa. Deuteronômio 12:5 Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali vireis.

Esse lugar, onde quer que fosse —Ebal, Siquém, por último, Jerusalém—, seria o lugar exclusivo de culto que Senhor que havia escolhido para ser o seu povo. Só assim poderia permanecer fé sem ser contaminada pela religião cananéia, e só assim poderia haver um testemunho claro às nações.

O propósito da eleição — o testemunho às nações que estavam para ser abençoadas

pela eleição de Israel —não é enfatizado absolutamente em Deuteronômio. O objetivo central de Moisés foi apresentar aos israelitas os perigos de contaminação de sua fé, perdendo a verdade que lhes havia sido revelada quando entrassem na terra.17

Relação de pacto. A relação que resultou na eleição de Israel por Deus é muitas vezes chamada de

"relação de pacto". A palavra “pacto” aparece muitas vezes no Antigo Testamento. 18

Embora às vezes ele é chamado de "contrato" ou "acordo", o pacto bíblico não é exatamente equivalente aos termos. Um contrato implica em um quid pro quo (uma coisa por outra):“ pelo valor recebido, concordo em pagar…”. Se uma das partes falhar, a outro fica livre de qualquer obrigação. Nem mesmo o tratado entre o senhor e o vassalo corresponde exatamente ao pacto bíblico, embora a ele se assemelhe mais.

Neste caso, o rei conquistou um povo vassalo, e, portanto, eles têm certos deveres

para com ele. Em troca, ele promete conceder determinados benefícios. Mas o pacto

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bíblico não se baseia no quid pro quo, nem na conquista. Parte do amor: “porque o Senhor vos amava …” (Deuteronômio7:8).

Deuteronômio 7:8 Mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.

Portanto, embora o povo não cumprs a sua parte do compromisso — como

certamente aconteceu no período do deserto — Deus não quebra seu pacto. Deuteronômio 4:31 Porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esquecerá da aliança que jurou a teus pais.

Nos profetas, a relação de pacto é fundamental; na verdade, torna-se a pedra angular

para a esperança que eles formulam. Três elementos básicos integravam esta esperança: 1) a formação do povo que Deus tinha escolhido para si, 2) sua herança da terra que Ele havia prometido entregar aos patriarcas e aos seus descendentes e 3) o estabelecimento do trono que ele havia prometido a David e sua posteridade. Cada uma dessas promessas se juntou a um pacto, como o que Deus fez com Abraão e confirmado para Isaque, Jacó, José e Moisés, ou o que fez com Davi (2 Samuel 7). Desde que o Senhor é um Deus que cumpre suas promessas, os profetas sabiam que, finalalmente resgataria Seu povo, restituiría a terra e consagraria um rei.

Os elementos desta esperança já estão presentes em Deuteronômio; na formulação de

suas convicções, Moisés é o arquétipo do Profeta (cf. Deuteronômio 9:26–29; Deuteronômio 17:14–20; Deuteronômio 18:15–18).

Deuteronômio 9:26-29 E orei ao SENHOR, dizendo: Senhor DEUS, não destruas o teu povo e a tua herança, que resgataste com a tua grandeza, que tiraste do Egito com mão forte. Lembra-te dos teus servos, Abraão, Isaque, e Jacó. Não atentes para a dureza deste povo, nem para a sua impiedade, nem para o seu pecado; Para que o povo da terra donde nos tiraste não diga: Porquanto o Senhor não os pôde introduzir na terra de que lhes tinha falado, e porque os odiava, os tirou para matá-los no deserto; Todavia são eles o teu povo e a tua herança, que tiraste com a tua grande força e com o teu braço estendido. Deuteronômio 17:14-20

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Quando entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim; Porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos. Porém ele não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si. Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los; Para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; para que prolongue os seus dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel. Deuteronômio 18:15-18 E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou; portanto hoje te ordeno isso. Porém se ele te disser: Não sairei de ti; porquanto te amo a ti, e a tua casa, por estar bem contigo; Então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha à porta, e teu servo será para sempre; e também assim farás à tua serva. Não seja duro aos teus olhos, quando despedi-lo liberto de ti; pois seis anos te serviu em equivalência ao dobro do salário do diarista; assim o Senhor teu Deus te abençoará em tudo o que fizeres.

No entanto, não se deve presumir que ele não deu qualquer obrigação a Israel na

relação. Na verdade, a lei foi dada no Sinai, Moisés reitera as aplicações correspondentes a um sermão, está composta pelas obrigações decorrentes da relação estabelecida pelo pacto.

Neste ponto, é essencial entender a sutil distinção entre contrato epacto. Se a relação

entre Israel e Yahvéh fosse como um contrato moderno, o compromisso seria que Israel estaria sujeito a cumprir suas obrigações.

Na relação de pacto, Yahvéh cumpre sua parte (suas promessas) por seu amor e

porque é Dios. Talvez castigue a Israel por sua desobediência e, talvez, até mesmo gerações sejam punidas por sua obstinada incredulidade. Mas seu pacto permanece em vigor, simplesmente por sua natureza.

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Israel, no entanto, tem a obrigação de manter as estipulações do pacto para não deixar

a Yahvéh em dívida com Israel, mas porque Israel é o seu povo e deve se comportar de acordo com a sua condição.

Moisés apela para o princípio fundamental em Levitico: “Santos sereis, porque eu, o

Senhor vosso Deus, sou santo.” (Levítico 19:2)— ao proclamar a lei novamente: …”(Deuteronômio 8:1–6) Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos. Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus. E guarda os mandamentos do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos e para o temeres.

O conceito de pecado. A base da doutrina bíblica do pecado é apresentado na história da queda (Gênesis 3),

mostrada nos capítulos subsequentes e culmina no dilúvio (Génesis 4–9). Em Números, o pecado de Israel é ilustrado em vários episódios de murmuração e rebelião. Em Deuteronômio, considera-se no contexto da relação de pacto.

O ato de redenção pelo qual o Senhor tirou Israel do Egito é mencionado em conexão

com os mandamentos. Deuteronômio 6:20-25 Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos e juízos que o Senhor nosso Deus vos ordenou? Então dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito; porém o Senhor, com mão forte, nos tirou do Egito; E o Senhor, aos nossos olhos, fez sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito, contra Faraó e toda sua casa; E dali nos tirou, para nos levar, e nos dar a terra que jurara a nossos

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pais. E o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.

A obrigação dos israelitas em guardar e cumprir as ordenanças originou-se no fato

que eles tinham sido escolhidos para ser propriedade de Deus. Deuteronômio 7:6 Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra.

Portanto, quando eles entraram na terra, deveriam lembrar-se desses fatos e guardar

os seus mandamentos. Deuteronômio 8:1-10 Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos. Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus. E guarda os mandamentos do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos e para o temeres. Porque o Senhor teu Deus te põe numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas; Terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre. Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.

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No entanto, corriam o risco de esquecer esse relacionamento e voltar-se para outros deuses (Deuteronômio 8:11–18), e como consequência morreriam(Deuteronômio 8:19).

Deuteronômio 8:11-18 Guarda-te que não te esqueças do Senhor teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; Para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, E se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, Se eleve o teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; Que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; Que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem; E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia. Deuteronômio 8:19 Será, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do Senhor teu Deus, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu testifico contra vós que certamente perecereis.

O amor a Deus e obediência aos Seus mandamentos são colocados lado a lado: Deuteronômio 11:1 Amarás, pois, ao SENHOR teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, e os seus estatutos, e os seus juízos, e os seus mandamentos, todos os dias. Deuteronômio 11:13 E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma.

A bênção na terra seria resultado dessa obediência. Implicitamente, a desobediência

traria a retenção da bênção. Deuteronômio 11:8-12 Guardai, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra que passais a possuir;

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E para que prolongueis os dias na terra que o Senhor jurou dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel. Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta. Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; Terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.

O pior pecado, então, é se voltar a outros deuses. Muitas leis e estatutos detalhados aparecem em Deuteronômio, mas raramente é mencionada a pena por violar a lei. Em vez disso, a bênção é prometida por guardar a lei.

Deuteronômio 7:12-13 Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Deus te guardará a aliança e a misericórdia que jurou a teus pais; E amar-te-á, e abençoar-te-á, e te fará multiplicar; abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu grão, e o teu mosto, e o teu azeite, e a criação das tuas vacas, e o rebanho do teu gado miúdo, na terra que jurou a teus pais dar-te.

Mas nos casos em que a apostasia ou idolatria são mencionadas, acrecenta-se a ameaça de castigo:

Deuteronômio 29:18-20 Para que entre vós não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo, cujo coração hoje se desvie do Senhor nosso Deus, para que vá servir aos deuses destas nações; para que entre vós não haja raiz que dê veneno e fel; E aconteça que, alguém ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu coração, dizendo: Terei paz, ainda que ande conforme o parecer do meu coração; para acrescentar à sede a bebedeira.

O pecado de idolatria era tão grave, que aos israelitas era ordenado a matar um irmão

filho ou filha, esposa ou amigo que tentasse induzi-lo servir a outros deuses: Deuteronômio 13:8-10 Não consentirás com ele, nem o ouvirás; nem o teu olho o poupará, nem terás piedade dele, nem o esconderás; Mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele, para o matar; e depois a mão de todo o povo.

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E o apedrejarás, até que morra, pois te procurou apartar do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão;

Se os habitantes de uma cidade tentassem induzir os israelitas a se afastarem de

Yahvéh, essa cidade e tudo o que ela tivesse deviam ser destruídos: Deuteronômio 13:15 Certamente ferirás, ao fio da espada, os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais.

Apesar da natureza humanitária de muitas leis desenvolvidas em Deuteronômio 15–

26, as penas por idolatria eram terrivelmente rigorosas. A única resposta que pode ser deduzida de Deuteronômio, ou qualquer outra parte da Bíblia, é a natureza da relação estabelecida pelo pacto.

Geralmente, a Bíblia não ordena os filhos de Deus matar os infiéis. A única medida

de tal índole está relacionada com a posse de Canaã por Israel. Como se manifesta em Josué e Juízes, a natureza e o propósito da terra prometida, vinculada ao pacto, são a demanda subjacente para Israel eliminar os cananeus.

Os antigos não conheciam a tolerância que desenvolveram as sociedades pluralistas

modernas. A nação típica do Oriente Médio — como os povos tribais da atualidade — 

tinha uma cultura uniforme e crença religiosa à qual se aderiu a todos os que habitavam a região. A unicidade é preservada pela intolerância com outras culturas.

Tal como exposto em Samuel y Reyes, e aparece no transfundo das mensagens dos

profetas, a desobediência ao mandato de Yahvéh de destruir os cananeus que levou os israelitas à uma idolatria irreverente, e, finalmente, a destruição do reino e exílio da terra.

Como o pacto matrimonial, o vínculo entre Yahvéh e Seu povo é um pacto de

confiança e amor mútuos. Como o adultério, a apostasia quebra o vínculo desprezando o amor em que se baseia, violando a confiança e tratando a pessoa como indigna do compromisso de fidelidade e exclusividade. A relação de pacto é impossível, em tais circunstâncias, tal como é exposto extensamente pelos profetas.

A pessoa que se afastar de Deus para servir outros deuses são advertidas das graves

consequênciasque isto traz. Aquele que tenta induzir o outro a idolatria é o pior pecador: ele é condenado à morte.

O conceito de revelação progressiva aplica-se aqui. No momento em que a nação

israelita foi estabelecida em Canaã, algum tipo de lei era necessário. Se naquele momento eles caissem na idolatria, os meios para a transmissão da revelação redentora de Deus para as gerações futuras poderia ter sido completamente anulado. Pela idolatria flagrante, vários séculos depois, o país estava mergulhado em derrota e destruição, e somente pela

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24  

graça de Deus um remanescente foi salvo. À luz da revelação por meio de Jesus Cristo e os apóstolos, governa uma lei mais favorável.

Deus na história. O conceito de que Deus realmente entrou para a história é uma doutrina bíblica

original, que não aparece na mesma forma na literatura de qualquer outra religião. É ensinadode forma constante ao longo da Bíblia. No entanto, em Deuteronômio surge de uma forma única que exerce grande influência sobre escritos posteriores e dá origem à idéia de "história deuteronomista."

Citar capítulo e versículo seria supérfluo, pois todo o livro é uma narrativa dos

acontecimentos de Deus em favor do seu povo. É uma história de como Deus guiou Israel para sair do Egito, deu a lei no Sinai, suportou com paciência as amostras de obstinada incredulidade no deserto e levou-o para as margens do Jordão. Talvez a melhor síntese dessa seqüência de eventos seja encontrada nos capítulos 6–12, aos que pertencem as diversas passagens já referidas.

O capítulo 5 compreendendo o segundo relato dos Dez Mandamentos (ou Decálogo;

o primeiro está em Êxodo 20:1–17). Nos capítulos seguintes, vemos desenvolvido o seu alcance. A história vai alternando as obrigações futuras, quando Israel entrar na terra de Canaã, com as experiências do passado, quando Israel viu os feitos poderosos de Yahvéh e ouviu as suas palavras.

Esta interação entre o passado e o futuro leva à visão "profética" da história, onde o

passado não só oferece lições para o futuro, mas que se torna a origem de determinados movimentos que influenciam o futuro. Quando Deus agiu no passado —nos tempos de Abraão, por exemplo— não só disse ou fez algo que pode ser uma lição para hoje ou dar esperança para o amanhã, mas também revelou parte da sua atividade continua, pela qual vai cumprir o Seu propósito redentor. Assim, Moisés, os profetas e os escritores do Novo Testamento entenderam a história da atividade de Deus.

A visão bíblica não é nem a de Kismet, o fatalismo do Islã, ou a do Karma, o

determinismo de causa e efeito do hinduísmo e do budismo. Os seres humanos sempre agem como seres livres que escolhem o seu comportamento e, portanto, são responsáveis por eles. Yahvéh é descrito frequentemente irado ou frustrado pela atividade humana, mas no final, prevalece o seu propósito.

Tirou a Israel do Egito, apesar do poder e sabedoria do faraó. Ele conduziu Israel

através do deserto, apesar da incredulidade da maioria. Concedeu a vitória sobre os reis e nações que tentaram parar seu avanço. Converteu as maldições Balaão em bênçãos. E, apesar da profunda desconfiança de Israel para entrar na terra de Canaã, ele o fez chegar à margem do Jordão, onde deu instruções para quando ele entrasse na terra.

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Este mesmo conceito de história —às vezes denominado Heilsgeschichte, a história da salvação— é visto nos profetas. Nos Profetas Anteriores é aplicado principalmente à situação contemporânea; nos Profetas Posteriores, também ao futuro. Cala as obras do salmista. Conforta o povo de Deus no exílio e, mais tarde, em dias que de outra forma teria sido desesperança. Observado na trama dos fatos apresentados em Ester, onde o nome de Deus não é sequer mencionado. Para o povo de Deus, a história é a "sua história".

INFLUÊNCIA DE DEUTERONÔMIO

Como pode ser medida a influência de um livro? Um parâmetro possível é o

número de livros que foram escritos sobre ele. Outra indicação poderia ser uma grande conquista que pudesse ser atribuído diretamente à motivação de tal livro gerou. Naturalmente, seria impossível verificar decisões individuais influenciadas pela leitura do livro ou o número de pessoas obteve esperança nele.

Alguns estudiosos da Bíblia reconhecem a influência de Deuteronômio em Samuel,

Elias, Oséias e Jeremias e Jesus. A julgar pelo número de citações de Deuteronômio que aparecem no Novo Testamento, este livro está entre suas principais influências. 19

Com base no número de manuscritos dos livros individuais do Antigo Testamento

que foram encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto, pode-se dizer que Deuteronômio estava entre as cinco obras mais influentes em Qumran.

Jesus em três oportunidades encontrou forças em Deuteronômio para rejeitar a

tentação de Satanás (Mateus 4:1–11; cf. Deuteronômio 8:3; Deuteronômio 6:13, 16).  

Mateus 4:1-11 Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.

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Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam. Deuteronômio 8:3 E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem. Deuteronômio 6:13 O Senhor teu Deus temerás e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás. Deuteronômio 6:16 Não tentareis o Senhor vosso Deus, como o tentastes em Massá.

Quando lhe perguntaram sobre o maior mandamento em resposta citou

Deuteronômio 6:5. Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Quantas vezes foram citadas Deuteronômio na

casa de José e Maria, para que Jesus conhecesse tão bem? Em quantos lares judaicos, onde a shema (Deuteronômio 6:4) é recitada várias

vezes ao dia, este livro tem sido uma fonte de inspiração e de fé? Deuteronômio 6:4 Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.

Quantos cristãos encontraram ajuda e ânimo nestas páginas? Tudo indica que

Deuteronômio é um dos livros mais importantes do Antigo Testamento. Em cada geração, merece um estudo cuidadoso.

Bibliografia: 1. A lista de nomes de Números 33:19–35 deve corresponder com a peregrinação através do

deserto. É errado pensar que os israelitas permaneceram em Cades Barnea durante todo esse tempo. Veja um bom gráfico de comparação de lugares e as referências citadas em J.D. Davis e H.S. Gehman, eds., Westminster Dictionary of theBible, Filadelfia, 1944, pp. 636–639.

2. Deuteronomy, trad. D. Barton, OTL, [The Old Testament Library, Filadelfia] Filadelfia, 1966, pp. 19.

3. Treaty of the Great King, Grand Rapids, 1963, p. 48. 4. BA 17, 1954 [Biblical Archaeologist] (reimp., E.F. Campbell, Jr., y D.N. Freedman, eds., The

Biblical Archaeologist Reader3), pp. 25–43; Law and Covenant in Israel and the Ancient Near East, Pittsburgh, 1955; “Covenant”, IDB 1, [G.A. Buttrick, ed., The Interpreter’s Dictionary of the Bible, 4 vols., Nashville, 1962]pp. 714–723, esp. p. 716; D.J. Wiseman, The Vassal-Treaties of Esarhaddon, Iraq 20, 1958, pp. 23ss.; J. Muilenburg, “The Form and Structure of

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the Covenantal Formulations”, VT 9, 1959, pp. 347–365; M. Tsevat, “The Neo-Assyrian and Neo-Babylonian Vassal Oaths and the Prophet Ezekiel”, JBL 78 [Journal of Biblical Literature], 1959, pp. 199–204.

5. Na época, foi usada a expressão "fraude piedosa" em referência a este livro. VerJ. Wellhausen, Prolegomena to the History of Israel, pp. 25–28.

6. Ver um breve resumo, com referências, em G.T. Manley, The Book of the Law, Grand Rapids, 1957, pp. 18–22. Para uma exposição mais completa, ver C.R. North, “Pentateuchal Criticism”, OTMS, [H.H. Rowley, ed., The Old Test ament and Modern Study, Oxford, 1951] pp. 48–83; o H.F. Hahn, The Old Testament in Modern Research, pp. 1–43.

7. Segundo M. Noth, nunca existiu um“Hexateuco” (Gênesis-Josué); ÜberlieferungsgeschichtlicheStudien1, 3a. ed., Tubinga, 1967, pp. 180–182.

8. Studies in Deuteronomy, trad. D.M.G. Stalker, Londres, 1953, p. 68. 9. A.C. Welch, The Code of Deuteronomy, Londres, 1924. 10. Ver von Rad, Deuteronomy, p. 26. 11. Das deuteronomischeGrundgesetz, BeiträgezurFörderungchristlicherTheologie27/4, 1923. 12. G.E. Wright, “Introduction and Exegesis of Deuteronomy”, IB 2, [G.A. Buttrick, ed., The

Interpreter’s Bible, 12 vols., Nashville, 1952–57.] p. 321, menciona especialmente a R.H. Kennett, G. Hölscher, F. Horst y J. Pedersen, com referências.

13. Wright, IB 2, p. 326; cf. S.R. Driver, Deuteronomy, ICC, [The International Critical Commentary, Edimburgo] Nueva York, 1895, p. lxi. Veja um resumo do debate recente sobre o transfundo de Deuteronômio R.E. Clements, “Pentateuchal Problems”, Tradition and Interpretation, G.W. Anderson, ed., pp. 117.

14. B.S. Childs, Old Testament as Scripture, p. 212, enfatiza que o estilo de homilético que pertence à forma atual do livro é uma parte essencial da explicação da lei: “A nova interpretação é proposta para reviver as tradições do passado para a próxima geração, de modo que evocam uma resposta da vontade, em um compromisso renovado com o pacto”.

15. Uma vez que a palavra traduzida como "um" é, aparentemente, um adjetivo predicativo, não um adjetivo atributivo, é rejeitado aqui a tradução "um Senhor”.

16. Heb. bāḥar aparece trenta vezes em Deuteronômio, vinte vezes em Isaías assim como em 1e 2 Samuel e quinze vezes em 1e 2 Reis.

17. Sobre o conceito de eleição, ver H.H. Rowley, The Biblical Doctrine of Election, a. ed., Naperville, 1965, p. 210.

18. A palavra hebraica berîṯ aparece duzentas e oitenta e cinco vezes em todo o Antigo Testamento: em Deuteronômio vinte e seis vezes, em Gênesis vinte e quatro, em Josué e 1 e 2 Reisvinte e três , em Salmos vinte, em Jeremias dezenove e em Ezequiel dezessete vezes.

19. Segundo o Greek New Testament das Sociedades Bíblicas Unidas, Deuteronomio é citado noventa e cinco vezes no Novo Testamento, e somente o superam as referências a Salmos, Isaías, Gênesis e Êxodo, nessa ordem.