Biohacking
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Ciência De Trazer Por Casa1
Rui Ribeiro
Ciência e Sociedade
Licenciatura em Bioquímica - U.Porto
Resumo Nos dias de hoje, estamos a assistir a uma tendência cada vez maior da ciência feita em casa, por amadores ou profissionais, seguindo a filosofia Do It Yourself (DIY), ou seja, Faça-o Você Mesmo. Comprando equipamento tecnológico e materiais, a baixo custo, em sites como o ebay.com e partilhando protocolos e experiências em blogs, os cientistas de garagem montam autênticos laboratórios em suas casas, promovendo desenvolvimento científico. Cada vez mais as instituições académicas de renome investem em competições, como o iGem (MIT), na qual os participantes, estudantes de diferentes áreas, são desafiados a produzir ciência, fomentando o desenvolvimento pessoal e profissional destes. O presente artigo pretende, pois, despertar para esta nova forma de fazer ciência e contribuir para uma reflexão sobre até que ponto podemos confiar em ciência feita em casa, por pessoas, muitas vezes, sem qualquer formação académica, sobre quais serão as verdadeiras intenções dos biohakers, ou seja, saber se promovem ciência ou bioterrorismo.
Palavras-chave: Biohacking, Biopunk, ciência de garagem, DIYbio, iGem, hackerspaces
Biohacking - ciência para todos
O homem, no seu percurso milenar na procura do conhecimento, continua a
desvendar os segredos do Universo para mais tarde os aplicar, de forma útil, ao
desenvolvimento, transmitindo, assim, a fundada esperança de que é possível
encontrar respostas para os seus problemas.
A curiosidade é, desde sempre, uma característica primordial do ser humano,
estando este constantemente a explorar o universo, a pensar, a repensar e a
inventar o que, à partida, nos parece impossível.
Muitos de nós não imaginamos que objetos banais do nosso dia a dia, como a
lâmpada elétrica, os antibióticos e o computador pessoal foram inventados e
descobertos (no caso da radioatividade) em garagens. Aliás, muitas das grandes
inovações foram inventadas em garagens.
Contudo, a ciência feita pelos cidadãos sofreu um problemático declínio, mas está
a ser retomada, hoje em dia.
Biohacking é uma tendência cada vez mais crescente de fazer ciência ao estilo
bricolage. De acordo com a filosofia Do It Yourself (DIY) que, em português, quer
dizer, Faça-o Você Mesmo, profissionais ou amadores investigam, à margem das
1Todas as traduções ao longo do texto são da responsabilidade do autor.
instituições, e partilham gratuitamente os seus dados e protocolos com todos os
interessados.
Esta ideia, por mais estranha que pareça, “democratiza a ciência” como diz
Katherine Aull, uma biohacker que se rendeu à ciência de cozinha que permite a
qualquer um fazer em casa aquilo que, à partida, só poderia fazer-se nos mais
avançados laboratórios universitários, governamentais ou industriais, há uns anos
atrás.
O conceito que atualmente temos de “Hacker” é o de alguém com experiência
em computadores e com pretensões maliciosas de roubar cartões de crédito on-line.
Na verdade, a ideia de “hacker” surgiu na década de 60 numa comunidade de
ciência de computadores no Massachusetts Institute of Technology (MIT), localizado
em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos da América. Estes hackers
viviam apenas fascinados com problemas complexos e com a respetiva perícia
técnica para os resolver, no campo da ciência da computação (Weiss 2011).
Esta ideia de hacker está a eclodir de novo, mas num contexto completamente
diferente. Os biohackers, como são chamados, “têm manipulado os blocos de
construção da vida, o avanço do conhecimento, e criado novas formas de vida e
com novos usos” (Weiss 2011: 36)
Os Biohackers, espalhados por todo o mundo, estão a montar autênticos
laboratórios caseiros, nas suas cozinhas e garagens. Mas não se pode pensar que
estes biohakers são somente cientistas qualificados, uma vez que o movimento
biohacker abarca, quer profissionais que mantêm outros projetos em paralelo, quer
pessoas sem qualquer formação académica e que, provavelmente, nunca tiveram
oportunidade de usar uma pipeta na vida (Ledford 2010).
Devido à persistente perceção popular de que a ciência só é feita em
laboratórios milionários, perguntará, agora, o leitor como é possível montar um
laboratório caseiro, tal deverá ser o investimento exigido, quer a nível logístico, quer
monetário.
Muito antes da crise financeira mundial que se vive atualmente, os investigadores
já podiam comprar e vender equipamentos de laboratório on-line, em leilões como o
ebay.com ou craigslist.org, ou até mesmo montar os seus próprios equipamentos.
Muitos encontram formas de transformar webcams em simples microscópios por
menos de 10 euros (Wolinsky 2009; Weiss 2011).
Para além desta disponibilidade de equipamentos, bem como a facilidade em
obtê-los, os biohackers tentam, por vezes, arranjar outras formas mais criativas para
financiar os seus projetos (Weiss 2011).
Deste modo, sites como o kickstarted.com, constituem plataformas que permitem
aos inventores divulgar os seus próprios projetos e as respetivas metas de
financiamento que pretendem atingir. Os visitantes do site podem, então, fazer
doações que, apesar de serem geralmente parcas, podem resultar na meta
pretendida, se forem em grande quantidade (Weiss 2011).
Um dos exemplos mais interessantes para ilustrar esta forma de angariar fundos
é o caso de dois biohackers da Califórnia (CA, EUA), que usaram o kickstarted.com
para financiar o desenvolvimento de uma máquina de PCR (Polymerase Chain
Reaction) de baixo custo, para ser construída em casa pelo utilizador, projeto a que
apelidaram de OpenPCR. O projeto não só atingiu a meta rapidamente, como
duplicou essa mesma meta monetária nos vinte dias após a sua divulgação (Weiss
2011).
A figura 1 mostra o resultado do projeto, cuja informação pode ser encontrada em
openpcr.org, onde qualquer internauta terá a possibilidade de adquirir um kit,
descarregar o manual e o software e montar a sua própria máquina de PCR.
Assim sendo, esta disponibilidade de equipamentos, juntamente com os custos
cada vez menores de fazer ciência, originaram este movimento de entusiastas que
aspiram não só a mudar a ciência, mas também a própria experiência humana.
Figura 1. A figura mostra a máquina de PCR, cuja construção consistiu no projeto de dois biohakers que usaram o kickstarted.com para o financiar (adaptada de openpcr.org).
Biologia para Todos
Em 2010 na Universidade da California em Los Angeles, decorreu a conferência
“Outlaw Biology? Public Participation in the Age of Big Bio”, na qual a oradora
Meredith Patterson, uma biohacker, sublinhou que
A instrução científica é necessária para uma sociedade funcional na
era moderna. A instrução científica não é educação científica. Uma
pessoa educada em ciência pode entender ciência; uma pessoa instruída
em ciência pode fazer ciência. A instrução científica permite às pessoas
que a possuem, contribuir para a sua própria saúde, para a qualidade da
sua comida, água e ar, e das próprias interações com seus corpos e o
mundo à sua volta (Patterson 2010).
Patterson proclama, então, o direito à liberdade de investigação, de pesquisar e
de procurar o conhecimento de forma autónoma, uma vez que a curiosidade não
escolhe género, idade ou limites socioeconómicos (Patterson 2010).
Debra Katz, por exemplo, é uma administradora residente na Califórnia (CA,
EUA) que, sem qualquer base científica, gastou para fins genealógicos, ao longo do
últimos nove anos, milhares de dólares a extrair o seu próprio ADN. Katz, seguindo
as instruções que encontrou em about.com, extraiu o seu próprio ADN na sua
cozinha, utilizando provetas e tubos de ensaio que comprou por menos de 20
dolares (aproximadamente 15 euros) na internet. Ela própria comentou que extrair o
ADN não é nada difícil (Wolinsky 2009).
Com um propósito não muito diferente, Katherine Aull, engenheira biológica com
uma pós graduação no MIT, já acima mencionada, analisa o seu ADN em casa para
verificar se é portadora de hemocromatose, doença da qual seu pai padecia.
Katherine Aull citou: “Sou uma hacker, gosto de construir coisas. A biologia é um
ótimo sistema para explorar e entender.” (Wolinsky 2009: 683). Posto isto, preferiu,
ao invés de se ter sujeitado simplesmente a um teste num laboratório comercial por
300 dolares (232 euros), comprar, com a mesma quantia, equipamentos
especializados e conduzir ela própria os testes (Wolinsky 2005; Wolinsky 2009).
Esta paixão e este empenho por construir coisas, levou-a a criar uma incubadora
feita com uma caixa de esferovite e um dispositivo de aquecimento que retirou de
uma gaiola de iguana. A sua incubadora artesanal serviu, por exemplo, para incubar
bactérias (E.coli) que ela alterou geneticamente, com a esperança de que estas a
ajudassem em pesquisas relacionadas com cancro (Whalen 2009).
Um outro exemplo é o de Phil Holtzman, um estudante universitário em Berkeley
(CA, EUA) que extrai vírus, isto é, bacteriófagos dos esgotos e fá-los crescer em
placas de petri. O seu objetivo é criá-los para sobreviverem no corpo humano e
matarem bactérias patogénicas (Whalen 2009).
Katz, Aull e Holtzman fazem parte de uma comunidade crescente de biohacking
que partilha experiências, protocolos e resultados on-line em sites como DIYbio.org,
Na última década e meia, a crescente propagação de tecnologias da
comunicação em rede proporcionou o surgimento e a potencialização de novas
formas de criação do conhecimento, com base em arranjos sociais distribuídos e
colaborativos.
Deste movimento, fazem também parte amadores de outras áreas tais como a
astronomia, a física e até mesmo a arqueologia.
Mais recentemente, o dinamismo das redes on-line que se dedicam ao
desenvolvimento do conhecimento, tem também estimulado a criação de espaços
físicos, os chamados hackerspaces, espaços orientados para a convergência,
descoberta e troca de conhecimento.
Dan Heidel, um funcionário da indústria aeroespacial, que foi estudante de
biologia molecular, arrendou um antigo armazém, onde montou um laboratório,
investindo mais de 20,000 dolares (cerca de 15,200 euros) em equipamentos em
segunda mão como centrifugadoras, purificadores de água e uma unidade de
armazenamento de azoto líquido. No seu hackerspace, Heidel produz algas
geneticamente modificadas que, para ele, poderão ser uma fonte barata de novos
biocombustíveis (Whalen 2009).
Um outro hackerspace de sucesso é o Genspace, uma organização sem fins
lucrativos, cuja missão é promover a “ciência cidadã” e o seu livre acesso. A
organização abriu o seu primeiro laboratório, em dezembro de 2010, em Nova
Iorque. Além de promover cursos para o público em geral e de proporcionar
experiências extracurriculares a alunos, oferece aos seus membros a oportunidade
única de trabalharem nos seus próprios projetos.
Graças às plataformas on-line, às organizações como a Genspace e às reuniões
realizadas por estas em bares pelos seus membros - a primeira reunião DIYbio
decorreu num pub em Cambridge, no Reino Unido, em 2008 - o movimento
biohacking saltou para a ribalta.
De onde surge este movimento?
O movimento teve origem, fundamentalmente, em instituições de ensino e foi
sobretudo inspirado pela competição iGEM (International Genetically Engineered
Machines) promovida pelo MIT. No princípio, a competição era interna à instituição,
tendo envolvido apenas 4 equipas e 16 estudantes não graduados na sua primeira
edição em 2003, mas rapidamente se expandiu e, em 2008, já eram 84 equipas
inscritas, com 1200 participantes oriundos de 21 países.
A competição consiste em construir sistemas biológicos que operem dentro de
células vivas, a partir de um kit de peças biológicas fornecido às equipas e de partes
construídas pelos próprios participantes.
A fase que se seguiu, no desenvolvimento do biohacking, foi a da propagação
das universidades para o público em geral.
A criação da comunidade DIYbio (diybio.org) foi deveras importante, pois, como
diz Christopher Kelty, um antropologista da Universidade de Los Angeles (LA, EUA),
é “um ramo do movimento de open-science que encoraja uma partilha de materiais,
dados, projetos e publicações e que teve origem na partilha de software livre nos
anos 90” (Ledford 2010: 651).
Na verdade, a comunidade DIYbio foi inspirada nesta competição e a extensão
desta foi de tal ordem que os organizadores proibiram as equipas DIYbio de
participarem.
O movimento biohacking, tal como o hacking de computadores, está a
desenvolver-se de forma exponencial, e isto poderá já estar a ter impactos no curso
da humanidade.
Mas, a que ponto é que a revolução biológica afeta a nossa civilização? Qual
será o preço a pagar?
As consequências da democratização da ciência
É verdade que o movimento DIYbio despertou a imaginação de muitos
entusiastas que estão ansiosos por explorar a ciência, trazendo novas perspetivas
de investigação. Há, no entanto, cientistas que temem que o DIY possa representar
um perigo para a saúde pública e para a segurança ambiental, já que não podemos
estar certos quanto às intenções daqueles que praticam este novo tipo de ciência.
Até este ponto, já percebemos que a DIY tem um enorme potencial para
beneficiar a civilização, mas não nos podemos esquecer da outra face da moeda. Tal
como pode beneficiar, a DIY pode também causar muitos danos, sobretudo se for
usada para fins criminosos e terroristas.
MacKenzi Cowell, um dos cofundadores do DIYbio, questiona-se se este
movimento não será uma escola para terroristas, uma vez que estes poderão
encontrar, com a maior das facilidades, as formas e os meios necessários para as
suas atividades ilegais (Ledford 2010).
Assim, torna-se necessário tomar precauções e, para tal, as autoridades
Estadunidenses já estão no terreno. O governo dos EUA tem manifestado grande
preocupação com o bioterrorismo caseiro, desde que aconteceram os ataques de
antraz, em 2001. Está claro que ainda falta muita reflexão e muitos debates sobre
um assunto tão controverso, mas estes só se acendem quando as situações se
concretizam. Exemplo disso, foi a prisão de Steve Kurtz. Este professor de arte na
Universidade Estadual de Nova Iorque (NY, EUA) foi surpreendido com a visita do
FBI (Federal Bureau of Investigation) que se apresentou, equipado com fatos de
risco biológico, em sua casa, onde foi encontrado material de laboratório e bactérias
inofensivas. Kurtz foi inicialmente acusado de bioterrorismo, mas apenas por fraude
eletrónica, pelo que as acusações foram mais tarde retiradas pelo juiz federal
(Wolinsky 2009, Ledford 2010, Bloom 2009).
Apesar das preocupações, para Cowell, estas medidas são desnecessárias, pois
“deter os amadores, não vai deter os terroristas” (Wolinsky 2009: 685). Para além
disso, também comentou que os amadores não estão interessados em trabalhar em
condições de elevado risco biológico. Acrescentou ainda que os membros DIYbio
têm como objetivo fazer o bem e estão empenhados em trabalhar em segurança.
Mesmo assim, Helen Wallace, da GeneWatch, grupo sem fins lucrativos do Reino
Unido que monitoriza o avanço das tecnologias genéticas de um interesse público,
direitos humanos, proteção ambiental e perspetiva de bem-estar animal, pensa que
o biohacking pode ser perigoso. Afirmou, pois, que “é cada vez mais fácil
encomendar genes pelo correio. Algo como a varíola é difícil de obter, mas existem
outros organismos que se podem tornar prejudiciais” (Bloom 2009).
Mas estes perigos dos quais Wallace fala não serão mais alarmantes do que ela
pensa?
A disponibilidade comercial e a fácil aquisição de ADN sintético permite, a
qualquer amador, a construção de um organismo a partir do zero, podendo,
teoricamente, levar à criação de vírus como a Ébola ou a Varíola, já que os seus
genomas estão disponíveis on-line (Whalen 2009).
Para evitar este problema, George Church, Professor e investigador em genética
na Harvard Medical School, nos EUA, insiste fortemente na necessidade de tanto os
profissionais como os amadores terem, sem exceção, uma licença para trabalhar
com ADN sintético (Whalen 2009).
Esta solução já está a ser posta em prática, já que muitos dos amadores da
ciência possuem certidões profissionais e cooperam com os órgãos de fiscalização,
o que alivia muito o desassossego sobre a insegurança pública. É este o futuro que
a ciência DIY deverá ter. Todavia, surge, agora, outro problema. A publicidade do
DIYbio, bem como a velocidade de fluxo de informação, estão a fazer mover muito
mais rápido os amadores do que os reguladores e legisladores (Ledford 2010).
Como o crescimento não institucional aumenta cada vez mais, quer em
acessibilidade, quer em possibilidade, acelerando o ritmo do progresso, faz com que
o sistema se alimente de si mesmo. Significa isto que um novo biohacker ou uma
nova descoberta gera novos biohackers ou novas descobertas, o que pode resultar
em enormes saltos tecnológicos. Na verdade, estamos a assistir a uma genuína
revolução em ciência (Weiss 2011).
Thomas Kunh (1922 - 1996), um físico especializado em história e filosofia da
ciência, expõe na sua obra The Structure of Scientific Revolutions de 1962, uma
teoria do desenvolvimento histórico da ciência. Kuhn tenta responder à questão de
como se efetua o desenvolvimento científico, apresentando novos conceitos. Um
dos conceitos que o autor explora é o paradigma e Kuhn apresenta o paradigma
como um conjunto de teorias, regras, metodologias, constatações de perguntas,
entre outros, aceites por uma comunidade de cientistas. Sintetizando, o paradigma
é aquilo que os membros de uma comunidade científica partilham.
O paradigma de Kuhn implica uma forma de olhar o mundo e a mudança desse
paradigma implica uma mudança no modo de olhar esse mesmo mundo. Deste
modo, uma revolução em ciência envolve uma mudança de paradigma.
Através do movimento DIY, estamos, então, a testemunhar uma destas
revoluções científicas, sendo os biohackers dos nossos dias os verdadeiros líderes
dessa mudança.
Por conseguinte, tal como os hackers de há uns anos atrás se tornaram os
líderes da indústria da tecnologia da informação, vejamos como exemplo Steve Jobs
e Bill Gates, os biohackers de hoje serão no futuro os grandes líderes da industria da
biotecnologia (Weiss 2011).
Em DIYbio.org podemos rapidamente dar uma vista de olhos num mapa do
globo, no qual estão representadas as áreas geográficas onde se realiza ciência
DIY. Numa análise mais cuidada, apercebemos-nos de que são os Estados Unidos
da América e alguns países da Europa, no qual Portugal não está incluído, que se
encontram na vanguarda do novo paradigma científico. Como não podia deixar de
ser, este mapa trata-se apenas de uma pequena amostra, amostra essa que inclui
aqueles que não têm medo de revelar o seu testemunho, ou melhor dizendo, dar a
cara. Por outro lado, não nos podemos esquecer que muitos preferem manter-se
sob anonimato, resguardando-se no conforto do lar, pelas inúmeras razões já
anteriormente apontadas.
A boa notícia é que a biologia open-source pode ajudar a prometida
futura biotecnologia: o crescimento da industria verde, o desenvolvimento
de novos biocombustivies, a produção de medicamentos mais baratos
entre outros. A má notícia é que fazer bioengenharia mais fácil e
disponível torna-a menos plausível, aumentando o espectro de perigos
desconhecidos (Bennet et al. 2009: 1109).
ConclusõesAo longo dos tempos, a ciência foi-se confrontando com dados novos,
mostrando, afinal, que é mutável, uma vez que tem ampliado enormemente o
horizonte das possibilidades humanas até limites que, outrora, pareciam absurdos.
Sejamos adeptos ou opositores do biohacking, temos de estar conscientes e
expectantes de que a revolução biológica parece ser fascinante, quer num contexto
científico, quer num contexto histórico, e claro, sem descartar as consequências e
perigos que daqui podem advir. Por isso, todos nós, devemos estar atentos e ter
uma voz ativa, pois é o nosso dever, enquanto cidadãos do mundo.
Quer queiramos, quer não, a ciência de garagem veio para ficar, os biohackers
vão continuar por casa, desafiando as leis científicas pré-concebidas, numa tentativa
de aprender mais sobre o mundo onde vivem, mas também de aprender mais sobre
si mesmos. Talvez estejam a levar muito a sério uma das frases, que considero
intemporal e uma das minhas favoritas, de um dos grandes filósofos do séc. XVIII,
Immanuel Kant, que cita: “Ouse saber!”
Por último, quero salientar que não nos podemos esquecer que a ciência é um
produto do ser humano, que a devemos usar, mas sem nunca ser usados por ela.
ReferênciasLedford, H. (2010) Life hackers. Nature, 467, 650-652.
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Wolinsky, H. (2005) Do-it-yourself diagnosis. EMBO reports, 6, 805-807.
Schmidt, M. (2008) Diffusion of synthetic biology: a challenge to biosafety. Systems and synthetic biology., 2, 1-6.
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Bloom, J. The geneticist in the garage. The Guardian março 19, 2009.
Whelan, J. In attics and closets, ‘biohackers’ discover their inner Frankenstein. Wall Street Journal maio 12, 2009.
McKenna, P. The rise of the garage genome hackers. New Scientist janeiro 7, 2009.
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Patterson, Meredith L. (2010) A Biopunk Manifesto. http://maradydd.livejournal.com (último acesso em 4 de fevereiro de 2012)
http://diybio.org (último acesso em 3 de fevereiro de 2012)
http://openpcr.org (último acesso em 30 janeiro de 2012)