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    A "DINMICA DE GRUPOS" DE BION E AS ORGANIZAES DE TRABALHO

    Jder dos Reis Sampaio1

    Universidade Federal de Minas Gerais

    W. Bion foi um psiquiatra e psicanalista ingls que desenvolveu pesquisas sobre aformao e fenmenos de grupo, entre outros assuntos. Iniciou seus trabalhos noexrcito ingls e deu prosseguimento aos mesmoa em grupos do Instituto Tavistock,constitudos de pessoas com formaes diversas. Muitos dos conceitos desenvolvidosem sua pesquisa se tornaram relevantes para a compreenso de grupos de trabalho edos fenmenos emocionais subjacentes a eles, influenciando geraes futuras de

    pesquisadores em diferentes reas do conhecimento, como j havia sido mostrado porMaria Tereza Leme Fleury e pesquisadores associados. Este ensaio faz uma reflexocrtica das contribuies de Bion e uma avaliao do impacto do seu trabalho sobrealguns autores da Psicologia do Trabalho, Sociotcnica e Administrao.

    Descritores: Psicologia organizacional. Dinmica de grupo. Organizaes.A construo terica da Psicologia do Trabalho.

    O psiquiatra e psicanalista ingls Wilfred R. Bion, discpulo e admirador da obra deMelanie Klein desenvolveu em sua obra uma teoria sobre a dinmica de grupos.Do ponto de vista terico, suas principais influncias so a psicanlise freudiana comdestaque para os trabalhos de Freud e seus interlocutores sobre a psicologia dasmassas; a teoria das trs pulses do Dr. Hadfield (da clnica Tavistock); e ascontribuies kleinianas. Do ponto de vista emprico, suas principais fontes so osgrupos teraputicos que desenvolveu em diversas instituies.O presente trabalho visa apresentar de forma sucinta a pesquisa e as principais

    concluses de Bion sobre a psicologia dos grupos, fazendo a seguir uma anlise crticado emprego desta teoria compreenso dos problemas do mundo do trabalho. Eleindica ao leitor os principais herdeiros de Bion no contexto dos estudos sobre asorganizaes e a Psicologia do Trabalho.

    A Trajetria dos Grupos de Bion

    Psiquiatra militar durante a segunda guerra mundial e ex-combatente da primeiraguerra, Bion iniciou seus trabalhos com grupos na ala de reabilitao de militares doHospital Northfield (durante a segunda guerra mundial) e, depois, estudou inmerosgrupos teraputicos na Clnica Tavistock e em seu consultrio.Blandonu (1993) identifica a evoluo da obra de Bion a partir de seus interessescentrais. Ele a divide em perodos: o perodo grupal, o perodo psictico, o perodoepistemolgico e o ltimo perodo.O Grupo de NorthfieldBion foi designado como psiquiatra para a ala de reabilitao do Hospital Northfield,durante a segunda guerra mundial. Neste pavilho ele contava com pacientes que jhaviam passado pelo pavilho de tratamento e, sua funo original era apenas desuperviso.

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    Ele iniciou seu trabalho rompendo com a funo e o papel que desempenhava,baixando regulamentos para os internos que seguiam as seguintes diretrizes:

    a) Haveria uma hora diria de treinamento fsico;

    b) Os internos se organizariam em um ou mais grupos de atividades

    determinadas;c) Novos grupos poderiam ser formados mediante o interesse dos internos;

    d) Os internos que se considerassem incapazes iriam para a sala de repouso,onde haveria leitura, escrita, jogos de damas e conversas em voz baixa para noperturbarem os demais;

    e) Haveria uma formatura de 30 minutos s 12:10 horas onde Bion esperava queos pacientes pudessem se tornar expectadores do que estava acontecendo.

    Bion adotou a postura de evitar resolver os conflitos que comeassem a surgir e a deevitar interferir at que os reclamantes tivessem amadurecido os problemas e suas

    solues. Ele tambm fazia uma "ronda" pelos grupos formados e passou a convidarmembros dos grupos a acompanh-lo, como uma estratgia de disseminar oconhecimento sobre o que estava se passando, por todos.A experincia de Northfield foi muito bem avaliada pelo seu autor. Criou-se um grupode limpeza (que ele avaliava como uma manifestao neurtica) e um grupo de dana(que ele entendeu estar associado a uma sensao de inferioridade com relao smulheres). Ele afirmava que aps um ms, os grupos funcionavam bem fora da hora daformatura; houve apenas um afastamento sem permisso e os pacientes com altamdica de tratamento mostravam-se ansiosos por participar da ala de reabilitao. Eleconsidera que se havia restaurado o "esprit de corps"2 que era percebido quando, porexemplo, os militares ficavam corretamente em posio de sentido ante a entrada dos

    oficiais nas reunies de 12:10 horas.

    Os Grupos Teraputicos

    A leitura de Bion (1975) e Blandonu (1993) nos permitiu identificar os seguintesgrupos teraputicos estudados pelo psicanalista ingls: um grupo de diretores deempresas na clnica Tavistock, um grupo de analistas que haviam trabalhado comgrupos em consultrio particular, um grupo composto por terapeutas da clnicaTavistock e, posteriormente, grupos de pacientes psiquitricos, em 1948.No grupo teraputico, Bion no estabelecia nenhuma regra de procedimento e noadiantava qualquer agenda. Ele procurava convencer "grupos de doentes a aceitar

    como tarefa o estudo de suas tenses".Como, aparentemente, o grupo no tinha nada a fazer, tinha tempo paraobservar um fenmeno anlogo ao da associao livre. Os participantes sevoltavam a ele esperando que ele fizesse alguma coisa. Baseado na psicanlise,Bion enfrentava esta espera com uma interpretao. Transformado no centro dogrupo, ele comunicava aos outros participantes o que sentia na situao.(Blandonu, 1993, p. 75)

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    Ele se expressava em uma linguagem clara e direta, fazendo-se compreender portodos os membros do grupo. Eric Trist (citado por Blandonu, 1993) afirma que suasintervenes eram raras e concisas e poder-se-ia guard-las na memria, porque eleesperava um volume de evidncias razovel antes de faz-las. Se um membro dogrupo as fizesse, ele se abstinha de faz-la.

    Destes grupos Bion retirou o material emprico para constituir a sua teoria defuncionamento dos grupos.

    A Teoria de Funcionamento dos Grupos

    A teoria dos grupos de Bion parte de uma distino inicial. Existe o que o psicanalistaingls denominou de grupo de trabalho ou grupo refinado e os grupos de base, oumentalidade grupalou ainda grupos de pressupostos bsicos.Grupo de TrabalhoPor grupo de trabalho entende-se a reunio de pessoas para a realizao de umatarefa especfica, onde se consegue manter um nvel refinado de comportamento

    distinguido pela cooperao. Cada um dos membros contribui com o grupo de acordocom suas capacidades individuais, e neste caso, consegue-se um bom esprito degrupo. Por esprito de grupo, Bion (1975, p. 18) entende que se trata de:

    - A existncia de um propsito comum;

    - Reconhecimento comum dos limites de cada membro, sua posio e suafuno em relao s unidades e grupos maiores;

    - Distino entre os subgrupos internos;

    - Valorizao dos membros individuais por suas contribuies ao grupo;

    - Liberdade de locomoo dos membros individuais dentro do grupo;- Capacidade do grupo enfrentar descontentamentos dentro de si e de ter meiosde lidar com ele;

    Um grupo se encontra em trabalho teraputico quando ele adquire conhecimentos eexperincias sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento de um bomesprito de grupo.Na viso deste autor, o grupo "essencial para a realizao da vida mental de umhomem - to essencial para isto quanto para a economia e a guerra" (p. 46).Entretanto, os grupos que ele foi observando na sua experincia clnica no secomportavam desta forma. Eles pareciam mobilizados por foras estranhas, que

    levavam seus participantes a agirem de forma diversa que era esperada deles nabusca da realizao dos objetivos em torno dos quais eles prprios concordaram emreunir-se. Este fenmeno levou-o a observar atentamente aquilo que ele denominouinicialmente como mentalidade de grupos.Mentalidade de GruposA mentalidade de grupos "a expresso unnime da vontade do grupo, qual oindivduo contribui por maneiras das quais ele no se d conta, influenciando-odesagradavelmente sempre que ele pensa ou se comporta de um modo que varie de

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    acordo com os pressupostos bsicos" (Bion, 1975, p. 57). Ela funcionaria de formasemelhante ao inconsciente para o indivduo.Ela seria responsvel pelo "fracasso dos grupos" que Bion reputa "expresso numgrupo de impulsos que os indivduos desejam satisfazer anonimamente e a frustraoproduzida no indivduo pelas conseqncias que para si mesmo decorrem desta

    satisfao" (p. 46).Em suas observaes ele destaca diversas situaes onde o grupo parece estarmobilizado pela mentalidade de grupo. Conversas fteis, ausncia de juzo crtico,situaes "sobrecarregadas de emoes" a exercerem influncias sobre o indivduo,estmulo s emoes independentemente do julgamento, em suma: "perturbaes docomportamento racional do grupo" (p. 31).Desta forma, os grupos seriam como uma moeda, que possui duas faces, uma voltada consecuo dos seus objetivos e uma outra regida por impulsos dos seus membros,impulsos estes que se manifestariam quando se est reunido em um grupo depessoas.Um dos termos que Bion utiliza para definir a mentalidade dos grupos "padro de

    comportamento". Humbert (1985) afirma que o termo " pattern of behavior"

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    foidesenvolvido pelos bilogos e que havia sido incorporado por Jung para a definiodos arqutipos. Este conceito articula a idia de herana gentica s contribuiesdadas pela cultura, diferentemente do conceito de instinto, muito empregado porpsiclogos do sculo XIX. Este conceito assemelha-se tambm idia de estrutura.Ao prosseguir seus estudos, Bion foi distinguindo trs padres distintos, masintercambiveis, que seriam uma constante na mentalidade de grupos. Ele osdenominou pressupostos bsicos (basic assumptions).4

    A teoria dos pressupostos bsicos possui suas razes na teoria freudiana, que tentaexplicar os fenmenos grupais a partir da libido (instinto sexual). No seu famoso estudointitulado "A Psicologia de Grupo e Anlise do Ego" ele abandona a proposta de

    Trotter, que formulara a existncia de um instinto gregrio primrio e inato para explicaros fenmenos de grupo, para sustentar a hiptese psicanaltica de que os fenmenosgrupais possuem como origem um investimento afetivo sobre um objeto que no podeser obtido, seguido pela identificao com os supostos "rivais". O pai da psicanliseilustra seu ponto de vista com o nascimento de um segundo filho na famlia (que gerainveja no primeiro, e que punida pelos pais, gerando uma identificao e umsentimento de comunidade, como forma possvel de conviver com esta ambivalncia),a identificao entre as fs de um cantor ou pessoa de destaque e a competio pelofavoritismo entre as crianas na escola, seguida de uma nfase e exigncia de igualtratamento. Para Freud, o que "posteriormente aparece na sociedade sob a forma deGemeingeist, esprit de corps, esprito de grupo' etc., no desmente a sua derivao doque foi originalmente inveja" (Freud, 1921/1969b). H portanto, na origem dosentimento social, segundo a psicanlise freudiana, a "influncia de um vnculoafetuoso comum com uma pessoa fora do grupo". Ele uma "formao reativa contraatitudes hostis de rivalidade".No ps-escrito deste artigo, Freud afirma que os impulsos diretamente sexuais sodesfavorveis formao de grupos, e ilustra sua posio com a busca de privacidadedo casal, a sua auto-suficincia enquanto enamorados e os sentimentos de cime.

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    sua ateno, aceitando-os. Eles pareciam-se com casais de namorados, embora notratassem de nenhum assunto de contedo explicitamente sexual.O lder do grupo, neste pressuposto bsico, est por nascer, e pode ser uma "pessoaou idia" que salvar o grupo. Bion entende que esta "salvao" , na verdade, dossentimentos de dio, destrutividade e desespero com relao ao seu prprio grupo ou a

    outro (da a referncia ao messias).Os membros de um grupo que est agindo sob a influncia deste pressuposto bsico,de forma geral, no estabelecem conversas com o "lder formal" ou chefe do grupo.A emoo mais presente no grupo de acasalamento a esperana, e a ateno deseus membros, acha-se voltada ao tempo futuro.O terceiro pressuposto bsico o de luta-fuga e pode ser exposto da seguinte forma:"estamos reunidos para lutar com alguma coisa ou dela fugir".Os membros do grupo discutem sobre pessoas ausentes (que so um perigo para acoerncia do grupo), esto tomados pela sensao de que a adeso do grupo um fimem si mesmo. Eles ignoram outras atividades, que no sejam este debate infrutfero,fogem delas. Eles acreditam, ou agem como se acreditassem, que o bem estar

    individual menos importante que a continuidade do grupo.O lder reconhecido como tal por este grupo o que concede oportunidades para afuga (que a mesma coisa que a luta das discusses infrutferas em torno daconservao do grupo). ignorado quando no atua desta forma.Pressupostos Bsicos e Grandes OrganizaesO psiquiatra ingls procura aplicar os conhecimentos obtidos no estudo de pequenosgrupos na anlise do funcionamento de grandes grupos.Assim como Freud, ele se atm igreja, afirmando que se trata de um grupoespecializado de trabalho sujeita interferncia de fenmenos de grupo dedependncia. O segundo qual estaria sujeito a fenmenos de grupo de luta-fuga.Ele considera a aristocracia como um grande grupo mobilizado por fenmenos de

    acasalamento.Conclui-se, portanto, que neste momento de sua obra ele considera vlida a aplicaodos conceitos relacionados dinmica dos grupos de base s grandes organizaes,no estando muito atento aos problemas que se criam ao se retirar conceitos do seuterritrio de origem.Cultura de GruposComo o grupo reage aos efeitos de uma mentalidade de grupos? Ele elabora umacultura caracterstica sua.Bion (1975) empregou o termo cultura de grupo de forma intencionalmente vaga comomostra a citao abaixo:

    ... expresso que empreguei para descrever aqueles aspectos do

    comportamento do grupo que pareciam nascer do conflito entre a mentalidadedo grupo e os desejos do indivduo. (p. 47)

    No incio do seu trabalho ele emprega metforas genricas para descrever as culturasde grupo, como "teocracia em miniatura" e "cultura de ptio de recreio". medida queele vai desdobrando o conceito de mentalidade grupal nos seus trs padres decomportamento ele associa a cultura a estes ltimos, referindo-se a ela como "culturade luta-fuga" ou "cultura de grupo dependente".

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    Infelizmente o psiquiatra ingls se ateve pouco ao grupo de trabalho, focalizando suaanlise sobre cultura na mentalidade de grupos.Como vimos, ele cr que a interveno nos grupos fortemente influenciados pelamentalidade de grupo se d atravs de uma prtica clnica. O terapeuta de grupo vaiinterpretando as manifestaes da mentalidade de grupos medida que elas se

    manifestam, evitando ocupar o lugar de lder que seria desejado pelo grupoinfluenciado por um padro de comportamento. Ele deve lidar com emoesdesagradveis, algumas vezes agressivas, que surgem.

    A Teoria de Grupos e o Mundo do Trabalho.

    Como j pudemos ver, o autor dedicou pouco esforo ao entendimento dos grupos detrabalho. Sua contribuio mais expressiva encontra-se nas concluses, breves eesquemticas, do grupo do Hospital Northfield.A principal dedicao de Bion foi voltada para desvendar a mentalidade de grupo, oque coerente com sua filiao terica, mas deixa algumas dvidas ao seu leitor. Ao

    adotar o "arranjo psicanaltico" para estudar os grupos, ele criou grupos com umadeterminada configurao. Nestes grupos ele observou os fenmenos prprios mentalidade de grupo. Uma primeira e bvia questo que surge : estes fenmenos degrupo ocorrem em grupos de trabalho onde existe um objetivo claro, uma agenda euma liderana formal? Parece razovel crer que aconteam, at mesmo porque aexperincia de Northfield mostrou sua existncia, mas, neste caso as trs categoriascriadas para descrever sua dinmica so suficientes? Nesta nova rea, sua capacidadede mobilizar os membros de grupo seria semelhante? Esta questo continua presentena agenda de estudos dos interessados no mundo do trabalho e das organizaes, e opresente autor no conseguiu identificar uma nova gerao de estudiosos que lhedesse ateno.

    Outra questo que ficou sem resposta como evitar ou reduzir a perturbao que ospressupostos bsicos impem aos grupos de trabalho. Os escritos de Bion nos do aentender que talvez a formao de grupos teraputicos fosse a resposta a este tipo dequesto. medida que os membros se permitam entender e perceber a dinmica degrupos eles poderiam evitar agir segundo a mentalidade dos grupos nos quaisparticipassem. Entretanto, nem todos os membros de grupos teraputicos parecem terconseguido atingir este estado de conscincia do funcionamento grupal, nem de suaparticipao nele. Os que houvessem compreendido e identificado a atuao dospadres de comportamento no seu grupo teraputico e o seu papel nisto, teriam pordificuldade o fato de que iriam participar de outros grupos em sua histria de vida, ondea conscincia, denncia ou recusa de participao de grupos influenciados pelamentalidade de grupos no seria suficiente para reduzi-la. Historicamente se observouque os psiclogos que adotaram este tipo de proposta nas organizaes de trabalho,de ordinrio tiveram como resultado o surgimento de conflitos adicionais nesteambiente. Muitos sequer levaram a termo a experincia dos grupos teraputicos.Dejours, Abdouchelli, e Jayet (1994) apresentam um caso que ilustra esta afirmao.A melhor contribuio a esta questo foi a do colega de Bion e participante dos gruposteraputicos, Eric Trist. Ele lanou os fundamentos da sociotcnica que hoje tem sidoadotada como referncia para empresas, como alternativa ao taylorismo

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    desumanizante. Em suas propostas Trist formulou a otimizao conjunta dodesempenho da tarefa e da interao psicolgica no trabalho, props a formao e odesenvolvimento de grupos semi-autnomos na organizao do trabalho, onde o ldertem um papel de coordenao, desenvolvimento e comunicao com os demais nveishierrquicos, muito mais acentuados que o de controle. A sociotcnica de Trist prope

    que se estruture as organizaes tendo em vista o princpio que ele denominou como"concepo partilhada". Uma apresentao sinttica do trabalho de Trist pode ser lidaem Biazzi Jr. (1994) e em Marx (1996).Um terceiro problema, reside na reduo do conceito de cultura de grupo mentalidade de grupos. Com esta reduo Bion reduz seu estudo da cultura dosgrupos de trabalho, da cultura dos grupos organizados. Este foi o trabalho desenvolvidopor Schein (1986, 1999), autor americano que se notabilizou com seus livros e artigossobre cultura organizacional. Uma dos abandonos importantes que este autor fez teoria de Bion foi das categorias de pressupostos bsicos, adotando a noodesenvolvida por Kluckhohn, em seu lugar, que trata de orientao de valores. Fleury,Shiniashyki, e Stevanato (1997) mostram com mais flego a influncia de Bion nos

    trabalhos de Schein e nos estudos de cultura organizacional nos dias de hoje.Uma quarta e ltima questo posta ao trabalho de Bion refere-se reduo dasrelaes de poder a uma perspectiva psicolgica, incorrendo, portanto, emreducionismo psicolgico (ou "reducionismo psicanaltico"). Ao montar seus gruposteraputicos, Bion prejudicou a compreenso da dimenso do poder no funcionamentogrupal. O poder perceptvel pessoal e psicolgico (tornar-se o lder do grupo), comgratificaes exclusivamente psicolgicas e individuais. As relaes de trabalho emorganizaes, esto permeadas no apenas por gratificaes psicolgicas associadasa mecanismos inconscientes, mas por gratificaes materiais associadas intencionalidade dos sujeitos. Desta forma, uma dada forma de organizar o trabalhoapenas permite o aumento salarial significativo a um dos membros da equipe que vier a

    ocupar o lugar de "chefe". Os membros da organizao organizam-se em sindicatos eassociaes, negociando e confrontando-se com a direo das empresas, buscandomelhores salrios, condies e organizao do trabalho, respeito aos seus direitos eaumento de suas regalias. As organizaes de trabalho concretas no so um todofuncional, "bom para todos", mas uma arena onde existem conflitos de interesses, aomesmo tempo em que h coalizes de interesses. Esta a dimenso poltica, para aqual no se encontram categorias de anlise na teoria de Bion. Fleury e Fischer (1996)se aperceberam desta limitao, propondo a politizao do conceito de culturaorganizacional, desenvolvido a partir do modelo terico de Schein, que, como vimos,sofreu alguma influncia do trabalho de Bion.Questes parte, a leitura de Bion continua presente e influente nas obrascontemporneas e se impe a quem quer que deseja compreender as contribuies daPsicologia do sculo XX ao entendimento das organizaes mundo laboral.Sampaio, J. R. (2002). Bion's Group Dynamics and the Work Organizations. PsicologiaUSP, 13 (2), 277-291.

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    Referncias

    Biazzi Jr., F. (1994). O trabalho e as organizaes na perspectiva sociotcnica. Revistade Administrao de Empresas, 34 (1), 30-37.

    Bion, W. R. (1975). Experincias com grupos (2a ed., W. I. Oliveira, trad.). Rio deJaneiro: Imago; So Paulo: EDUSP.Blandonu, G. (1993). Wilfred R. Bion:A vida e a obra - 1897-1979 (L. L. Hoory & M.Mortara, trads., revisto por W. Dantas). Rio de Janeiro: Imago.Dejours, C., Abdoucheli, E., & Jayet, C. (1994). Psicodinmica do trabalho. So Paulo:Atlas.Fleury, M. T. L., & Fischer, R. M. (1996). Cultura e poder nas organizaes (2a ed.).So Paulo: Atlas.Fleury, M. T. L., Shinyashiki, G., & Stevanato, L. (1997). Entre a antropologia e aPsicanlise: Dilemas metodolgicos dos estudos sobre cultura organizacional. Revistade Administrao, 32(1), 23-37.

    Freud, S. (1969a). O Mal estar na civilizao. In: Edio Eletrnica Brasileira das ObrasCompletas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em1930)Freud, S. (1969b). A psicologia de grupo e a anlise do ego. In: Edio EletrnicaBrasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.(Originalmente publicado em 1921)Humbert, E. G. (1985). Jung(M. Ligetti, trad.). So Paulo: Summus.Marx, R. (1969). Trabalho em grupos e autonomia como instrumentos de competio.So Paulo: Atlas.Schein, E. (1986). Organizational culture and leadership. San Francisco, CA: JosseyBass.

    Schein, E. (1999). Guia de sobrevivncia da cultura corporativa (M. Braga, trad.). SoPaulo: Jos Olympio.Recebido em: 18.12.2001Modificado em: 19.04.2002Aceito em: 19.06.20021Endereo para correspondncia: Av. Antnio Carlos 6627 - Pampulha - BeloHorizonte-MG (Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e CinciasHumanas da UFMG) CEP 31.270-901 Endereo Eletrnico:[email protected] de corpo ou de equipe.3Este termo tem sido traduzido tambm como esquema de comportamento.4O tradutor da sua obra para o portugus preferiu o termo "suposies bsicas".

    mailto:[email protected]:[email protected]