BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO...

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BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO ficha 8 NAS CENTRAIS: HOJE SEM 25 DE ABRIL (um inquérito invertido) NA CONTRACAPA: ABRIL EM 3 EXPOSIÇÕES (para ver, debater e obter) ZÉ D’ALMEIDA

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B O L E T I M D A C A S A D A A C H A DA - C E N T R O M Á R I O D I O N Í S I O

ficha8

NAS CENTRAIS:

HOJE SEM 25 DE ABRIL(um inquérito invertido)NA CONTRACAPA:

ABRIL EM 3 EXPOSIÇÕES(para ver, debater e obter)

ZÉ D

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1. ARQUIVO MÁRIO DIONÍSIO

Tem continuado o tratamento do arquivo.Catalogação e digitalização: de recortes deimprensa e originais de Mário Dionísio, de al-guns livros de Mário Dionísio, sobretudo osesgotados, de documentos pedidos para tra-balhos universitários ou outros e para ses-sões ou exposições na Casa da Achada; dedossiers e pastas do Arquivo Pessoal MD-ML(actividade pública -– ensino secundário, en-sino superior, cargos oficiais) e de dossiers te-máticos. Têm feito estes trabalhos: DianaDionísio, Lara Afonso, Cristina Almeida Ribeiro. Mas infelizmente o arquivo não tem sido mui-to utilizado, e a sessão sobre este Arquivoque se realizou durante o 4.º aniversário (verponto 7) interessou pouca gente – de den-tro e de fora… Isto sobretudo porque Mário Dionísio (e osassuntos com ele relacionados que são bas-tantes e variados) continua a não figurar nosprogramas universitários – nem de literatura,nem de artes plásticas, nem de pedagogia… Que fazer?

Mas um milagre aconteceu: um antigo alunode Mário Dionísio, que fundou, em França, aFondation luso-française Elise Senyarich –sous l’égide de la Fondation de France, emmemória da sua filha pintora, deu um im-portante donativo à Casa da Achada, o quepoderá finalmente permitir realizar este tra-balho.

4. EXPOSIÇÃO «MÁRIO DIONÍSIO -50 ANOS DE PINTURA»

Foi inaugurada no dia 20 de Outubro, comapresentação de Rui-Mário Gonçalves. Man-teve-se até 22 de Abril. Dezenas de pinturas(das que sobreviveram à destruição do autore que estão depositadas na Casa da Achada)feitas por Mário Dionísio ao longo de 51anos. Dum auto-retrato de 1942 à últimapintura inacabada de 1993, passando pelaprimeira pintura abstracta de 1963 que Rui--Mário Gonçalves emprestou.

Foram pouco pretendidas as visitas acom-panhas aos sábados de manhã, mas foramconcorridas as visitas guiadas, umas organi-zadas pela Casa da Achada (uma comEduarda Dionísio e outra Silva Chicó) e ou-tras pedidas por grupos: do Centro Nacionalde Cultura, de participantes em workshopsde diário gráfico na Mouraria orientadospela Artéria, das Escolas de S. José e da Ma-dalena (que pintaram a seguir), de inscritosno curso sobre Mário Dionísio dado porMaria Alzira Seixo no Museu do Neo-rea-lismo de Vila Franca de Xira, do Centro deConvívio Guerra Junqueiro dos Serviços So-ciais da Administração Pública, etc.

5. ITINERÂNCIA DA EXPOSIÇÃO«MÁRIO DIONÍSIO – VIDA E OBRA»

Esta exposição de 13 painéis, que aqui esteveentre 25 de Abril e 25 de Setembro de 2011,acompanhados de documentos, livros equadros do Autor, continuou a andar poroutras terras (sem documentos e quadrosoriginais), por várias bibliotecas municipais,pela mão dum dos fundadores da Casa daAchada-Centro Mário Dionísio, AntónioRedol. A última biblioteca em que esteve foia do Seixal e ainda este ano seguirá para aMoita. Integrada em comemorações dos 40 anosdo 25 de Abril, a exposição encontra-seneste momento em Abrantes, até ao fim deMaio, no Espalhafitas – cineclube nascido naPalha de Abrantes. No dia da abertura, 15 deMarço, foi feita, mais uma vez, por elementosdo Coro da Achada, a leitura, com projec-ção de imagens, de uma montagem de tex-tos autobiográficos de Mário Dionísio. E, napraça Raimundo Soares, em frente da re-cente sede do Espalhafitas, o Coro daAchada cantou para quem estava ou pas-sava. Duas das canções tinham versos deJosé Gomes Ferreira, sobre o qual está mon-tada no mesmo local uma pequena masmuito interessante exposição. Os painéis «Mário Dionísio – vida e obra»podem ser requisitados por associações, es-colas, bibliotecas. Ver as condições em http://www.centroma-riodionisio.org/exp_vida_e_obra.php.

6. MÁRIO DIONÍSIO, ESCRITOR EOUTRAS COISAS MAIS

Tem continuado esta série. As sessões têmtido lugar no interior da exposição MárioDionísio – 50 anos de pintura. Em No-

2. BIBLIOTECA MD-ML DO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO

Depois das tão badaladas obras de reabilita-ção da chamada «Mouraria», a Biblioteca deMário Dionísio e de Maria Letícia (cuja cata-logação está disponível na nossa página de In-ternet) ficou com uma grande poeiraentranhada. Durante mais de um ano umaequipa de voluntários com saberes especiais(Filomena Marona Beja, Joaquim Beja e Ru-bina Oliveira) limpou aos sábados todos oslivros, um a um, e Joaquim Beja tratou dosque estavam em pior estado de conservação. Duas voluntárias começaram o trabalho deindexação de livros de Mário Dionísio ou queo referem (Manuela Vasconcelos); de revistasde arte (Maria João Petrucci).

3. RESTAURO DE PINTURAS

Dada a falta de apoios para o restauro dasobras de pintura de Mário Dionísio e de de-senhos e pinturas de outros artistas queconstam do seu espólio, só foi possível, comvista à exposição «Mário Dionísio – 50 anosde Pintura», engradar 6 obras dos anos 40(por restaurar) e emoldurar 6. Uma – que eraimportante mostrar – figurou na exposiçãofixada com pioneses a uma placa. As outrasesperam ainda dentro dum baú onde MárioDionísio as meteu por se ter desinteressadodelas, sem as ter destruído (o que fez a mui-tas outras). Mas para quem quer conhecer oitinerário do pintor, e o que se pintava emPortugal nos anos 40, essas primeiras obrasnão podem deixar de ter interesse. Infeliz-mente, nem Estado, nem Autarquia, nem Fun-dações estão disponíveis.

NOVOGUIADE

LISBOAppaallaavvrraass qquuee oo vveennttoo nnããoo lleevvaarráá

apoio do PDCM da CML

D E Z E M B R O 2 0 1 3

VIAJAR, VIAJAR...Homens, mulheres, crianças, gen-te de idade, provenientes de váriasinstituições e escolas, foram acom-panhados por escritores (Arman-do Silva Carvalho, Eduarda Dionísio,Filomena Marona Beja, Jacinto LucasPires, José Mário Silva, MargaridaVale de Gato, Miguel Castro Cal-das e Nuno Milagre) em visitas quefizeram por vários lugares de Lis-boa durante o ano de 2013, istonuma iniciativa que prolongouuma outra que teve lugar 10 anosantes na extinta associação Abrilem Maio.Para além do convívio, o que re-sultou de tais itinerários e visitas,quer em textos editados pelos es-critores, quer em desenhos dascrianças, encontra-se publicadoneste Novo Guia de Lisboa, umaedição a todos os títulos cativante,pelo formato do livro, pelo esmerodo seu grafismo, mas sobretudopela inclusão dos desenhos infan-tis e a frescura interventiva dostextos.

Apetece folhear – ou, noutros ter-mos, viajar por esta Lisboa rein-ventada. A publicação, integradano projecto «Palavras que o ventonão levará», coordenado por Pe-dro Soares, contém fotografias deYouri Paiva e mapas criados por F.Pedro Oliveira.O volume encontra-se à venda nanossa sede, na FNAC e nalgumasoutras livrarias. Parabéns aos compradores.

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vembro do ano passado, Lia Gama veio lerpoemas de Mário Dionísio, vários deles pu-blicados em MEMóRIA DUM PINTOR DESCONhE-CIDO, livros que o Autor, em 1989, pôs aocentro do seu «trabalho plástico»: tudo nomeu trabalho plástico foi (e é) anteci-pação e sequência da poesia de MEMÓ-RIA DUM PINTOR DESCONHECIDO publi-cado em 65. Em Janeiro deste ano, PaulaOleiro falou da relação entre literatura e pin-tura na obra de Mário Dionísio; em Março,Manuel Cintra leu poemas do seu ex-profes-sor, em português e francês, acompanhado àguitarra por Rui Santos, numa sessão a quedeu o nome de Troisième Âge (TerceiraIdade); também em Março, Rui-Mário Gon-çalves falou da Pintura de Mário Dionísio quetínhamos à volta; em Abril, em O sonho eas mãos, Manuel Deniz Silva retomou os de-bates e as polémicas sobre arte e política emque Mário Dionísio participou.E m Maio, Rui-Mário Gonçalves falar-nos-á dapintura abstracta de Mário Dionísio que te-remos à volta.Pena foi não se ter realizado a sessão MárioDionísio e o Brasil, que João MarquesLopes preparou. Em próxima ocasião será.

7. QUARTO ANIVERSÁRIO

O quarto aniversário de abertura ao públicoda Casa da Achada (quem julgaria há quatroanos que, contra ventos e marés, resistiría-mos tanto… e quanto mais mais durare-mos?) durou mais do que um dia, como jádoutras vezes tem acontecido. Começou em29 de Setembro e foi até dia 5 de Outubro,dia da implantação da República que, em2013, fez 103 anos.

Passou gente muito diferente, que o programase virou para vários lados: Inaugurada em 29 de Setembro, a exposiçãoOBRAS DE ARTE EM LEILÃO (pinturas, de-senhos, gravuras, cerâmicas, fotografia, do sé-culo XX e também XXI, oferecidas pelosAutores e outros para angariação de fundospara a Casa da Achada), e feito o leilão em 5de Outubro, as obras não vendidas ficarammais uns dias e algumas foram compradas.No 1.º dia do aniversário, o Coro realizou umespectáculo novo que intitulou COMO UMASETA DE FOGO DISPARADA NA NOITE quetambém incluiu leituras. Foi no Jardim de Inverno do Teatro São Luizque, coincidindo com o Dia Mundial da Mú-sica que se comemora em 1 de Outubro, es-treou o coro falado KANTATA DEALGIBEIRA,que repetiu ao ar livre, aqui no Largo daAchada, no dia 4 de Outubro, numa versão di-ferente. (Ver ao lado)A conversa sobre o Arquivo Mário Dioní-sio (ver pontos 1 e 2 destas colunas) e a inau-guração da Mediateca interessou menosgente. Algumas ideias apareceram duranteuma outra conversa, a que chamámos per-guntas e respostas sobre o público e oprivado – o que é, para que serve (as-sunto desta como doutras Casas), em queparticiparam alguns fundadores e convidados

Queríamos gravar as nossas canções. Aque-las que inventámos ou que amigos fizerampara nós. As canções que têm o nosso dedi-nho: uma música original, um arranjo,uma letra feita de propósito. Algumas delassó o coro da Achada as canta assim. Que-ríamos gravá-las para ficarem mais à mão,para quem quiser as poder ouvir e as poderusar. E juntámos a essas canções outros«achados»: quatro criações do João Cal-das, a partir de poemas de Mário Dionísiofeitas para a sessão «Mário Dionísio Escri-tor»; uma canção saída de uma oficina decanções na Casa da Achada; e uma cançãodo Pedro e da Diana.Tivemos a ideia de fazer as gravações numespectáculo ao vivo, que fosse também um

Um disco fora do mercado

cantar para e com outros. O coro daAchada não é um coro de estúdio, não éum coro de partituras nem de notas nosítio, não é um coro para ouvir no silêncio.Preferimos cantar por cima da vida rui-dosa, ouvir o desafino do timbre de cadaum, soletrar alto e bom som palavras deapelo à insurreição, cantar para e com osoutros (e não para um microfone).Como não temos dinheiro – porque nin-guém paga para cantar neste coro, nem ne-nhum maestro recebe dinheiro por nosajudar a entrar ao mesmo tempo numacanção – resolvemos, à imagem de outrasexperiências já feitas por outros, fazer umapré-venda do disco, a iniciar no dia do es-pectáculo-gravação, para depois o poder-mos pôr cá fora.

Produzido pelo Coro da Achada, este disco foi gravado ao vivo por Olivier Blance Júlio Pereira a 15 de Dezembro de 2013 na Casa da Achada durante o Fim deSemana Diferente. O Ângelo desenhou a «bolacha», a Carla Mota fez a gravurada capa. E as ilustrações e fotografias foram feitas pela Marta, o Pedro, o Miguel,a Finja, o Maio, o Mário, a Rita, a Susana, a Diana, o Daniel, a Francisca e a outraMarta. Da pequena brochura artesanal que acompanha o disco, reproduzimos a expli-cação do propósito:

Kantata de algibeira:um coro de vozeso espectáculo no São Luiz o espectáculo no Largo da Achada

Excerto do texto escrito pela Margarida Guia para a folha de sala:Aqui estamos! 47 vozes para dizer cantar sussurrar o texto de Regina Guimarães. Palavrasenvolvidas na música de João Paulo Esteves da Silva e também envolvidas nas vozesgravadas nas oficinas de voz. Sonoplastia onde soam os ruídos da cidade, e onde rangemos dentes ao falar desse «vil metal» que não pesa no bolso de muitos, nem na conta dobanco de outros. Ondas de «é crise», de sopros, de risos, de pregões… Em off, fala-setambém de saúde, reformas, salários, escudos e euros. No palco, fala-se do cavalinhocansado e da troika, de hérois e do mar. Portugal!«Onde estais vós?», diz um poema de Mário Dionísio. Nós. Estamos aqui no palco comoo eco dos do grude e do graveto! E no público, elementos do Coro da Achada para nosenvolverem na entrada e saída desta «Kantata de Algibeira».Não é uma peça de teatro, não é ficção, é uma peça sonora e vocal que estreamos hoje,dia da música. Obra colectiva que fomos construindo ao longo de três meses com as pre-senças e as ausências de uns e outros, respeitando as disponibilidades de cada um. Éhoje que se juntam todas as vozes com um guião nas mãos, acompanhadas pelos sinaise o teclado do João Paulo, a sonoplastia difundida a partir do palco pelo Pedro e os meusgestos para encaminhar esta partitura vocal.

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mais jovens, todos preocupados. Saiu a Ficha 7, mas não o 7.º volume da Co-lecção Mário Dionísio, intitulado MÁRIODIONÍSIO POR MÁRIO DIONÍSIO, o que foipena.

8. QUINTO FIM-DE-SEMANA DIFERENTE

Como todos os anos, houve um fim-de-se-mana com vendas para angariação de fundospelo meio de conversas e canções durante 3dias do meio de Dezembro: 13, 14, 15.Estreou, com a presença da autora e dos par-ticipantes, o belíssimo filme de Regina Gui-marães intitulado IDADETERCEIRA, feito apartir de conversas com idosos do bairro,confrontados com poemas de Mário Dionísiopublicados no livro TERCEIRA IDADE, lidos narua por gente mais nova. E imagens de qua-dros abstractos de Mário Dionísio. A editare a fazer circular, evidentemente.Também se pôde ver o registo em vídeo daKANTATA DEALGIBEIRA, feito por Paulo Me-nezes a partir do espectáculo com o mesmonome (ver página anterior), antes de umamontagem que virá a existir. Foi feito o lançamento do NOVO GUIA DELISBOA, editado pela Casa da Achada, escritopor utentes de centros sociais e de dia e deescolas em resultado de visitas a locais cul-turais de Lisboa, com orientação de escrito-res. (ver pág. 2)Três objectos novos que nasceram do pro-jecto Palavras que o vento não levaráque durante um ano foi apoiado pela CML noâmbito do PDCM.Sílvia Chicó guiou uma visita à exposiçãoMÁRIO DIONÍSIO – 50 ANOS DE PINTURA. Eaprendeu-se.Nuno Moura leu poemas dos seus livrosNOVA ASMÁTICA PORTUGUESA e CANTONONO. O Coro da Achada cantou e foram reto-madas composições que João Caldas fez apartir de poemas de Mário Dionísio, com oautor da música ao piano e cantoras a solo(Ver pág. 3). Espectáculo gravado ao vivo paraser editado, o que entretanto aconteceu. Várias «edições domésticas» foram distribuí-das ou vendidas a quem esteve: Calendáriosde 2014 com reproduções de obras deMário Dionísio; o CD NEGRO EM CHÃO DESANGUEVERDE (a partir de poemas de MD –com voz de Inês Nogueira e música de Car-los Zíngaro), registo dum espectáculo com omesmo nome apresentado na Casa daAchada e noutros lugares; o CD KANTATADE ALGIBEIRA, registo do som do espectá-culo com o mesmo nome, oferecido aos par-ticipantes. Foi feita a pré-compra do CDCORO EACHADOS, com a oferta de um pina cada comprador. Pins todos diferentes quecada um escolheu.

9. CORO DA ACHADA

Os ensaios continuam todas as quartas-fei-ras à noite. Gente cantante que chega, queparte, que tem ficado. Um núcleo duro, in-cluindo o maestro, sempre presente. Repor-

tório a aumentar, sem perder o fio à meada.E, entretanto, desde a última ficha, dois es-pectáculos com guião e textos, além das can-ções.Depois da Ficha 7, as actuações públicasforam: Na casa da Achada, em 29 de Setem-bro, o espectáculo COMO UMA SETA DEFOGO DISPARADA NA NOITE, verso de MárioDionísio – com canções e textos; com oCoro da Associação de Residentes de Te-lheiras, em AS HERÓICAS de FernandoLopes-Graça; no V Fim-de-semana Diferente,novo espectáculo gravado para novo CD,chamado CORO & ACHADOS. Fora da Casada Achada: participação na Gala pelo LiceuCamões no Coliseu dos Recreios de anga-riação de fundos para as obras necessáriasno edifício (que o Estado não faz); no Coretodo Jardim da Parada (Campo de Ourique); napraça para onde dá o Espalhafitas deAbrantes na abertura da exposição MárioDionísio – Vida e obra. O novo CD do Coro da Achada, de fabricocaseiro, está pronto, com o trabalho de muitagente. Muita gente o pré-comprou em De-zembro. Agora muitos outros o estão a com-prar – para ouvir, oferecer e ter ideias.Chama-se CORO EACHADOS (ver pag. 3)No dia 25 de Abril, novo espectáculo na CasaAchada, que poderá circular. Chama-se SEAQUELA FACA CORTASSE.No dia 16 de Maio, o Coro estará no Bar-reiro, numa homenagem a Mário Dionísio,prestada pela Escola Secundária Alfredo daSilva, no auditório da Quimigal. E o que maisfor será.

10. UM BELO FILME, UM FILMEBELO: «IDADE TERCEIRA»

Um filme sobre a «velhice» foi realizado porRegina Guimarães no bairro onde se situaa CA-CMD, com depoimentos de 11 idososresidentes ou (ainda) trabalhadores da zona,10 poemas do livro «Terceira Idade» deMário Dionísio, lidos por Diana Dionísio, InêsNogueira, Marta Caldas e Pedro Soares aosautores dos depoimentos e quadros deMário Dionísio. O que é bom, além do filme,é que ninguém se considera inútil e velho.Foi apresentado durante o V Fim-de-se-mana Diferente. A mostrar noutras oca-siões e lugares e a editar.

11. GRUPO DE TEATRO COMUNITÁRIO

Nasceu. Em Novembro. Na sequência do tra-balho e do espectáculo KANTATA DE ALGI-BEIRA, dirigido por Margarida Guia, comtexto de Regina Guimarães e música de JoãoPaulo Esteves da Silva, estreado no Jardim deInverno do Teatro São Luiz no dia 1 de Ou-tubro de 2013, Dia Mundial da Música. Neleparticiparam mais de 50 pessoas sem expe-riência de palco. (ver pag. 3)A estas gentes outras se juntaram. Commaior ou menor assiduidade, desde Novem-bro de 2013, uma vez por semana (às vezes

O antes e o depois(do 25 de Abril) com uma

homenagem escondidaDe 7 de Abril a 30 de Junho dedicamos13 sessões ao ciclo denominado «Cruza-mentos». Dos vários realizadores do ciclodestacamos, para além do Seixas San-tos (em homenagem escondida), osseguintes nomes: Jorge Silva Melo, AnaHatherly, João Botelho, Edgar Pêra, RuiSimões, José Álvaro Morais, AntónioCampos, Manuel Mozos, Luis GalvãoTeles, Fernando Lopes, Solveig Nordlunde João César Monteiro, além dos traba-lhos colectivos.Como se está a falar mais do 25 deAbril do que é costume, pelos 40 anosque ele faz, e porque ele nos parececada vez mais um «mistério», pro-vavelmente maior ainda do que o 25de Novembro, que terá posto nele umponto quase final, achámos que, paraajudar a desfazer ou diminuir esse«mistério», que muitas pessoas, algu-mas já mortas, viveram e registaram,poderíamos fazer este ciclo.Para fazer pensar nessa data, que nãoé só uma data, nem uma data qual-quer, há neste ciclo ficções, documen-tários e animações, com linguagensbem diferentes, que se cruzam nestasala uma vez por semana durante trêsmeses. Cruzam-se ao longo do ciclo,e também na mesma sessão, o antes(que talvez explique coisas) e o depois(que mostra coisas que se passaram,umas vezes interrogando e outrasvezes levando a interrogações). Todos os filmes deste ciclo (menosum) foram integralmente realizadosdepois do 25 de Abril e todos saíramdepois, mesmo os que falam (directaou indirectamente) do antes. Comopoderia ser de outra maneira?Quase todos são portugueses, o quenunca aconteceu nos ciclos da Casada Achada, apesar de muita gente queveio de fora ter filmado esses doisanos de 25 de Abril (alguns dessesfilmes já projectámos noutros ciclos),um 25 de Abril que vale a pena co-nhecer o melhor possível e sobre oqual vale a pena pensar cada vez mais.

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duas), têm-se encontrado, com vontade de ex-perimentar e de fazer. Desta vez, orientadaspor F. Pedro Oliveira. Primeiro com o apoio doPDCM, dado ao nosso projecto Palavras queo vento não levará, e agora do BIP-ZIP, dadoao nosso projecto Livros e Artes para quevos quero, ambos da CML.

12. BIBLIOTECA PÚBLICA COM ME-DIATECA

A nossa Biblioteca Pública ampliou-se e me-lhorou, com o apoio que teve do BIP-ZIP daCML. A catalogação foi revista e aumentada,os livros foram rearrumados, a secção de «re-servados» construída num armazém do jardim. Foi inaugurado em Novembro o primeiro póloexterior desta biblioteca, no restaurante Al-caide, a uns passos da CA-CMD, onde se rea-lizaram, durante a hora do jantar, três sessõesde leitura, duas delas incluídas na rubrica «Di-reis que não é poesia». Os pólos exteriores seguintes foram instala-dos no espaço Ambijovem de São Cristóvão(pequena biblioteca infantil) e no posto da JFda Rua da Prata. Pena que a Biblioteca da Achada seja poucoutilizada, mesmo pelos que frequentam regu-larmente a Casa, quer no local, quer levando li-vros para casa. De facto, os livros dificilmenteentram no quotidiano de cada um e… nãoestão na moda…A mediateca, inaugurada no 4.º aniversário,tem crescido. Estão catalogados e disponíveispara empréstimo mais de 300 filmes. Todos osque têm sido projectados nos ciclos de cinemade segunda-feira e mais alguns. Em breve, pas-saremos à catalogação dos CDs. O catálogo dos filmes está acessível na Casada Achada e via Internet, no site da Casa daAchada (Biblioteca Pública e Mediateca).

13. LIVROS LIVRES

Foi inaugurada no 4.º Aniversário da CA-CMDuma pequena biblioteca de livros a dar e a tro-car, ao ar livre, em frente da Casa. O móvel foidesenhado por Luísa Alpalhão, arquitecta. Temhavido problemas de abertura (a chuva per-manente não tem ajudado) e também poucointeresse por parte de quem vem e de quempassa. Mas insistimos.

14. CICLO A PALETA E O MUNDO III

Têm continuado as sessões semanais de leiturade textos sobre arte às segundas ao fim datarde, com projecção de imagens. Frequênciavariável: Um pequeno grupo permanente e vá-rios ouvintes que vão aparecendo e desapare-cendo e reaparecendo. Continuaram as leituras de alguns capítulos dolivro de Claude Roy, O AMOR DA PINTURA,uma proposta de Manuela Torres. As leiturasforam feitas pela própria Manuela Torres

o enterro do bacalhauE foi assim: tudo começou pela realização em Fevereiro de 4 oficinas, em que se execu-taram máscaras e fatos e se escreveram quadras e se inventaram músicas. A barafunda(já que se tratava de enterrar um bacalhau) foi encenada por F. Pedro Oliveira, isto paraque tudo corresse nos conformes aquando do cortejo-espectáculo que partiu da Casa daAchada num fim de tarde da quarta-feira de cinzas, dia 5 de Março, para cirandar pelasruas do bairro, parando às portas dos vizinhos, palrando, cantando, dançando, arejandoo bacalhau, enfim, pintando a manta. Merecem ter aqui os nomes porque se fartaram de trabalhar (e de rir), Carla Mota (pôsas pessoas a fazer as máscaras), Irene van Es (pôs as pessoas a fazer os fatos), Pedro Ro-drigues e Diana Dionísio (misturaram músicas com as quadras e puseram as pessoas acantar) e, para as outras quadras, foi todo o mundo e ninguém, que é como quem diz, foipovo. E foi giro.

que tal chamar-lhe liberdade?

uma data de gente: Alexandra Paz, AnteroAlmeida, Antonieta Moreira, ConceiçãoLopes, Cristina Didelet, F. Pedro Oliveira,Francisco d’Oliveira Raposo, FrançoiseBourcherin, Hélder Gomes de Pina, IsabelCardoso, Isabel Pinto, João Neves, JoséDaniel Caldeira, Leonor Eira, Luís Arez,Luísa Mendonça, Margarida Rodrigues,Maria Clara Carvalho, Rita Pascácio, RuiCarvalho, Teresa Ventura.Consoante os diversos ensaios, tambémforam entrando e saindo, e vice-versaAmália Rodrigues, Ana Paula Silva, AnaPaula Sousa, Cátia Teixeira, Ema Palácios,Ermelinda Vermelho, Gracinda Gregório,Irene van Es, Isabel Cortes, João Filipe,José Alberto Silva, José Fava, LeonildeOliveira, Madalena Cambezes, MariaAlexandra Botelho, Maria Amélia Seixas,Maria Batista dos Santos, Maria Tranche-te, Mathilde Louçã, Natalina Silva, TelmaSilva, Tiago Almeida.

Há umgrupo de teatro comunitário em for-mação (ver colunas laterais). Se se tivessede lhe dar um nome seria A Liberdade,nome desejável para o primeiro ensaioaberto realizado, uma liberdade sem cons-trangimentos programáticos, pois que sepropõe reunir disponibilidades, improvi-sos, invenções. No dia 27 de Março, escolhido por ser o DiaMundial do Teatro, juntou-se ao F. PedroOliveira, assim uma espécie de orientador,

No ensaio do dia 27, usaram-se frases e tex-tos de vários elementos do grupo e ainda deAntónio Lobo Antunes, Luísa Costa Go-mes, Regina Guimarães e Mário Dionísio,além de músicas dos Ó Tambor e dos Pé naTerra.

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HOJE SEM 25 DE ABRILUM RIGOROSO INQUÉRITO DE PERNAS PARA O AR

Imagine-se a viver hojeem Portugal, onde nãotivesse havido o 25 deAbril. Como seria a sua

vida?

AMARANTE ABRAMOVICIComeçando pelo princípio, se não ti-vesse havido 25 de Abril, eu não seria eu.Não seria parecida com o meu pai, pelomenos nas fotografias, e porventura nofeitio. Isto porque o meu pai só veio aPortugal, como muitos outros estrangei-ros, ou emigrantes, quando ouviu falarno 25 de Abril, primeiro o golpe militar,mas sobretudo depois, a revolução. Masele conta isso melhor que eu. A primeirarazão eu ser foi um francês vir a Portu-gal ver a revolução e conhecer uma por-tuguesa com quem ficou. Houve outras,mas essa foi a primeira. Ou pelo menoseu gosto dessa ideia. Quanto ao que souhoje, a começar pelo facto que vivo emPortugal. Isso aconteceu trinta anos maistarde, quando, já eu vivia em França háuma data de anos, vim a Portugal e co-nheci um português com quem fiquei.No ano em que me mudei para Portugaltive um filho e o 25 de Abril fez 30 anos.Eu fazia filmes e nesse ano ressurgiramuma série de filmes de há muito ignora-dos ou esquecidos feitos na altura da re-volução. Foram os filmes que me fizeramdescobrir Abril. E Maio. E Novembro. De-pois dos filmes, as conversas. Um mundode pessoas que tinham vivido essetempo, aliás um país inteiro, e uma cons-telação de pessoas e mundos por essemundo fora que se lembravam, que selembram. E algumas que fazem por nãoser só uma recordação. Eu sei que há a li-berdade de expressão e o direito àgreve, e o serviço nacional de saúde e osdireitos civícos das mulheres, e o voto eo salário mínimo, e a escola pública e odireito de associação. Não consigo, pormuito que os governantes se esforcempor nos fazer aceitar o contrário, vivernum país sem isso. Só consigo imaginar--me a fugir dele. Mas quando imaginoPortugal sem o 25 de Abril, ocorre-meque (além de não ter nascido) não tinhavindo viver para cá. O que me prendeaqui, ainda, são essas pessoas, as das re-cordações e as do «vamos lá fazer comque isto seja semente» e não folhas mor-tas. Pessoas nascente e pessoas rio.

ANA CRESPOSou professora de liceu, profissão idealpara uma mulher. Cabe à mulher casada

ser, acima de tudo, esposa submissa,mãe e dona de casa; à mulher solteira,viver em casa dos pais e servi-los até aofinal das suas vidas. E uma professora deliceu deve ser aprumada, o que não é omeu forte; a esse respeito, já ouvi umasreprimendas da Reitora – perdão, da Se-nhora Reitora – mas, como sou efectiva enão me meto em política, lá continuo omeu dia-a-dia, vestindo a habitual más-cara da neutralidade. Máscara difícil desustentar, tão sufocante quando, aomesmo tempo, o meu coração se rasga edilacera pelos meus dois filhos que estãona Guiné. Enquanto ensino o corpo dosrépteis, o meu pensamento continua emÁfrica, onde já não posso proteger osmeus rapazes. Voltarão vivos? Voltarãointeiros? Porquê? E o meu «porquê» éimediatamente guardado a sete chaves;é pior para eles que a mãe seja presa...Voltaram vivos, fisicamente inteiros; vol-taram calados, homens à força...

gente que como nós saíra do nosso paíse como nós sonhava mudá-lo e comonós tentava fazê-lo, cantando, tocando,escrevendo, trabalhando, sonhando.O amigo do Porto bateu à nossa porta,era madrugada e disse que aconteceraalguma coisa em Portugal, como de cos-tume não conseguia dormir, foi para otelhado da casa, onde apanhava a rádioportuguesa e ouviu…Saí para a rua a correr e a saltar, a revo-lução no meu país era a abertura detodos os noticiários, eu parava as pes-soas e dizia que era portuguesa e houveaté um senhor que me pegou ao colo eoutros abraçaram-me e continuei a cor-rer para ir ter com os amigos que comoeu esperavam há tanto tempo… Nessedia achámos que poderíamos finalmenteter um filho, que adiantou o seu nasci-mento para chegar no último dia desse1974.Se não tivesse havido o 25 de Abril, tal-vez não tivesse voltado, mas principal-mente nunca teria lido nos olhos lindosdaquele menino, que a vida ia mudar…

CLÁUDIA SALES OLIVEIRAÉ difícil imaginar a minha vida, Portugal eo mundo sem o 25 de Abril. Mas hoje,sem o 25 de Abril, não estaria a apren-der que (corroborando uma frase deMário Dionísio), «ou se muda o Homem,ou não se muda nada».

DIOGO DÓRIAVivia pior. «Caminhos de mim sem nadade meu». Não teria conhecido/contri-buído? para a grande decepção demo-crático-colectiva mas também não teriavivido a Festa, conhecido o meu país semEstado, o possível sem limites e um povoamigo e abraçado. 25 de Abril sempre!

ELSA BASTOSEu tinha 19 anos no 25 de Abril e viviesses tempos com espanto, euforia, de-sassossego e festa. As pessoas estavamfelizes, riam, choravam, abraçavam-se,saíam à rua, deixaram de ter medo e vi-viam intensamente a liberdade.Se não tivesse havido o 25 de Abril, pos-sivelmente, nem todos os amigos teriamregressado da guerra e os que deram osalto teriam ficado pelo mundo. Portu-gal estaria mais isolado e ainda fechado

CARMEN GELPITento rebobinar o meu filme até ao mo-mento em que aquele amigo do Portobate à porta do nosso quarto, daquelacasa grande em Paris, na Cidade Univer-sitária, onde vivíamos alguns portugue-ses e muitos outros jovens de muitasnacionalidades. Tínhamos chegado doisanos antes, depois de muitas peripécias,tentativas de fuga à guerra que não que-ríamos fazer, súplicas várias para conse-guir passaporte, e enfim pudemosdistanciar-nos e conhecer o outro ladoda realidade que vivíamos em Portugal eque queríamos mudar. E conhecemos

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e parado no tempo. Como seria a minhavida? Não sei.Mas agora, parece que estamos a revi-ver a atmosfera de desalento de antesdo 25 de Abril. O fosso entre ricos e po-bres que existia antes da revolução, vol-tou a acentuar-se e as famílias ricas sãoas mesmas. Os jovens dão o salto, poroutras razões, e não voltam. Instalou-seum clima de ceticismo e questionamo--nos como foi possível estarmos outravez nesta situação de desigualdade e deinjustiça social.Agora, eu ainda mantenho um espíritoinquieto, tenho sonhos, ideais, vontadede viver e de mudar. Talvez a soluçãopasse por cada um fazer a sua parte nocírculo que o rodeia, agir com honesti-dade, não pactuar com as injustiças e so-bretudo não ficar indiferente e insensí-vel.Antes as pessoas tinham esperança eacreditavam na mudança, e agora, 40anos depois, temos de continuar a acre-ditar ou envelhecemos irremediavel-mente.

FILOMENA MARONA BEJAViver o presente, não tendo acontecidoo 25 de Abril?Talvez a pergunta resvale para a dúvida:será que, há quarenta anos, se deu um25 de Abril?Sim, deu-se!E foi uma alegria que ninguém me po-derá tirar.

FRANCISCO LOUÇÃImaginar nem se imagina. Uma guerracolonial aqui ou acolá prolongar-se emguerra infinita por mais de meio século?Luanda ou Damasco cercadas, os bairrosem revolta, os quartéis a mandarem

drones para bombardear a população?A imprensa subjugada, com um jornal daLegião Portuguesa a comandar as notí-cias, com o telejornal seguido da pales-tra do senhor presidente do conselho,com o República a disfarçar notícias «láde fora» nos relatos do futebol? E, maisapetitoso, uns jovens turcos a substituiro senhor presidente, retirado por forçadas coisas quando atingia 110 anos etantos de serviço à pátria? Ou um paísmodernizado com um partido único di-vidido em várias etiquetas, uma TV exu-berante de concursos e telenovelas,grandes festivais de música do tempo,mas todos os trabalhadores a contratoindividual, todos precários, vidas tristese país triste... Tudo seria possível numavida impossível. Mas nada disso acon-tece, pois não?

FRANCISCO RAPOSOAqui estou, entre biscates e esquemas,para ter pão para a boca. Má sorte não ter desertado quando seme abriu a oportunidade. Era um miúdo,18 anos mal feitos, quando parti paraÁfrica. Com os estudos interrompidospelo acidente de trabalho do meu pai, fuidar com os costados para a Guiné.Guiné, quer dizer... Bissau e mais a porrado aeroporto a uns tantos quilómetros,que o resto é já independente desde 73.Só ainda não fomos corridos porque osyankees mandaram «conselheiros».Conselheiros uma porra: cães de guerratão enraivecidos que até os mais bron-cos de nós se enojam com a merda quefazem contra os desgraçados dos africa-nos. Tive sorte de ter levado um tiro eter ficado inapto. Sorte? Regressei às obras, as casas queconstruí davam para um ror de pessoas,mas o Caminho de Mocho continua a

crescer. E como não? Com o salário demerda que recebemos como é que sepode comprar uma casa? Com a ajuda damalta fiz uma barraquita. Como sou sol-teiro, dá para safar. E agora, as obrasestão a parar por todo o lado. Fiquei aoalto. Na vila olham-me como um vadio,os finórios de Paço d’Arcos. Fico cá pelobairro, assim como assim, estou entre osmeus. Ou vou pescar à Praia velha. Sem-pre dá para comer um peixito de vez emquando. Hoje tenho de limpar a fossa. O Mica falou-me de que temos de «irpedir» luz à companhia outra vez. Já fa-lou com o Alberto electricista. Lá vamoster novamente a GNR e a PIDE a chateardurante algum tempo. Mas como é quese pode viver sem luz? É como a água...O poço anda sequinho de todo.Tirandoisso, no sábado há baile em Porto Salvo.Vou ver se vou lá...

GABRIELA DIASMesmo sem revolução seria melhor queera então. Quarenta anos marcam a di-ferença.O Tempo teria mudado as nossas vidasmas não teríamos a recordação e a sau-dade da imensa alegria que nos deu o 25de Abril. Não teríamos vivido a liberdadeplena e a intervenção efectiva, não se-ríamos efectivamente o que somos hoje.Não teríamos vivido os momentos quejamais se repetirão.

INÊS NOGUEIRADou por mim muitas vezes a pensar na-queles momentos das grandes decisõesda vida…Naqueles momentos «ou isto ou aquilo». E penso no que terá acontecido no outrocaminho, naquele que eu escolhi nãopercorrer.Que eu escolhi.Se não tivesse havido o 25 de Abril eu,provavelmente, não teria ido estudarpara a universidade.Provavelmente doméstica, provavel-mente sem estudos superiores.Ou tinha acabado o curso de antropolo-gia, que frequentei.Casada. Ou então sem casamento, seria«a que ficou para tia».E acho que nesse caminho outro, o talque eu não percorri, também ia terganas de fazer coisas nas artes e não aspoderia concretizar.

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Não é possível porque a França não exis-tia. É só a direita que faz países? E nãopodemos ter também as nossas santas?Só a das rosas? Não ia aproveitar a décima linha. Mastive medo de ser penalizado e resolvi ex-plicar porque o não fazia. Como quandoa gente telefona para contar à pessoaque resolveu ligar. É de graça por ser afesta do 25 de Abril.

MARIA SOUSAMudamo-nos do Porto para uma pe-quena cidade de província. Nessa alturaos quintais, com árvores de fruta, e as bi-cicletas chegavam para explorarmos asnossas fantasias. Mas não por muitotempo. Certo dia, pelos meus doze anos,a minha mãe ralhou comigo: o que se fa-lava em casa não se podia falar fora decasa. A razão era um telefonema rece-bido da professora de francês a dizer queeu tinha respondido na aula que sabiaquem era Marx, Lenine, Che Guevara eoutros. Ela perguntara, eu respondera.Parecia simples, mas não; ela podia per-guntar e nós não podíamos responder.Percebi que para sobreviver tinha quecrescer com a mentira. Mas mentir seriaaceitar a imposição de quem tinha opoder, e não os princípios éticos quequeria para mim. Talvez por ser ingénua,ou talvez não, tinha urgência de ver-dade. Por isso, com dezassete anos fuiviver com o meu tio que tinha desertadoda tropa e não podia regressar a Portu-gal. Agora sou ajudante de uma vende-dora de flores no mercado dos Halles.Começo às cinco da manhã e o trabalhoé muito duro, mas deixei de sentiraquela opressão no peito por não poderfalar, por não poder escolher quem soue como sou. Se pago caro a minha liber-dade? Não, a liberdade não tem preço.E acredito que um dia poderei regressarao meu país em liberdade.

Se não tivesse havido o 25 de Abril,provavelmente não teria conseguidoconvencer o meu pai que, por causa daliberdade que ele conquistou, eu eralivre para escolher tirar uma licenciaturaem Teatro, ser actriz e seguir o meu de-sejo. Em liberdade.E mudei de curso!

JOSÉ MÁRIO BRANCOEu seria evidentemente outra pessoa,que não sei quem é nem onde está. Ten-tem perguntar-lhe a ela.

LUIS MIGUEL CINTRATenho uma enorme dificuldade em mearrepender. Tenho tendência a acreditarque tudo se passou bem. E esqueço-mesistematicamente daquilo de que nãogostei. É bom. Não tenho ressentimen-tos. Tenho mais vezes saudades. É-medifícil imaginar o que não existiu quandome lembro de ter passado momentos di-fíceis mas tenho é saudades daqueletempo. Imaginar que não existiu é-medifícil também. Não podiam ter passado40 anos em que nada tivesse acontecidoe ficasse tudo como estava. E sei lá o quepodia ser. Não estava escrito. Só se ti-vesse acabado o mundo e já não hou-vesse Tempo. Já sabíamos como tinhacorrido o Juízo Final… Mas já não está-vamos cá. Agora há o smartphone e a in-ternet. E não foi por causa do 25 de Abrilque chegaram. Mas mudaram a vidatanto ou mais que o 25 de Abril e sem 25de Abril que foi uma coisa que aconte-ceu mesmo, teriam mudado mais?,menos?, não teria mudado nada?. Senão se importam gostava mais que todaa gente soubesse mesmo o que aconte-ceu, estudasse História, aproveitandoque ainda estão vivas algumas testemu-nhas e alguns autores do crime e pen-sasse o que quer da vida para que elanão seja cada vez pior. Não sei se selucra muito em preocuparmo-nos com oque seria se o branco não fosse branco.E se o preto fosse vermelho. Bem, ver-melho não era bom, pois não? Destingetudo, estraga a roupa. Eu é por isso quenão sou do Benfica. Mas também podiaresponder, sobretudo sabendo que foifeita pela Eduarda: a pergunta é um con-tra-senso: Se não tivesse havido o 25 deAbril a Eduarda seria a Eduarda? Nãoteria existido, e não faria a pergunta. Eeu não lhe estaria a responder. Não seriao que sou, e sendo assim a pergunta éum disparate. Pergunte-se à França queseria se não tivesse existido Joana D’Arc.

ir-se-ia tornando cada vez mais desva-necido. Apenas as recordações de ju-ventude, solares e movimentadas. Senão tivessem ocorrido aquelas circuns-tâncias que me puseram lá fora, achoque volta e meia estaria preso. Andaría-mos a tentar constituir uma associaçãoportuguesa de escritores. Nesta altura jáestaria cansado.

MARTA RAPOSOQuase inimaginável. Mais ou menos umlugar entre um tempo não vivido, por-que não se esteve, e outro, quase incon-cebível, porque há quem cuide de nosfazer acreditar que simplesmente se es-maeceu, apesar das certezas e da soli-dez.Às gentes da minha idade ensinou-se so-bretudo a gravidade das palavras: DITA-DURA, 25 de ABRIL, DEMOCRACIA. Comose de separadores de arquivo ou de com-pêndios de História se tratasse. O certo eo errado. O bem e o mal. Uma troca deflancos, sem miolo. Sem o miolo quepreciso de esboroar nas mãos para tac-tear o amanhã (que amanhã?).Quase inimaginável estar aí, nesse lugar,sem augúrio de cravos; despojada, tal-vez, do eu-político, do eu-trabalhadora,do eu-mulher, do eu-sonho, entre essesoutros, que mesmo hoje – meios histéri-cos na liberdade apregoada – vagueiamainda ligeiros e voláteis.

NATÉRCIA COIMBRASe não tivesse havido o 25 de abril naminha vida eu teria sido muito menosfeliz.Provavelmente teria asfixiado neste país,se por qualquer motivo alheio à minhavontade não tivesse conseguido partircomo partiam, em busca de liberdade depensamento, de expressão e de modode vida, grande parte dos jovens portu-gueses mais escolarizados e politizados. O mais certo, contudo, era ter partido asalto para a Europa acompanhando o

COMO SERIA A SUA VIDA SE NÃO TIVESSE HAVIDO O 25 DE ABRIL

MÁRIO DE CARVALHONo meu caso estaria a viver na Suécia,sei lá a fazer o quê... Falaria sueco cor-rentemente. Teria netos suecos. Se ca-lhar escreveria em sueco. Portugal

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coisa. A Diana esteve detida a semanapassada, para interrogatório; a Carla estácom um processo disciplinar na escola(malhas que o Império tece!) e há ummês que não sabemos do Francisco;anda fugido depois de uma manif queacabou (mal) às portas da AssembleiaNacional. O clima é de conspiração e o cercoaperta, mas, quanto mais aperta, maisferve a gente. Combinámos ir cantarpara o Largo do Carmo no próximo dia25 de Abril. Vai haver uma grande mani-festação e diz que há muita gente envol-vida que virá de vários pontos da cidade.Vai acabar tudo a fugir à bastonada,como tem acontecido ultimamente...Merda! Não posso ir, mas não posso dei-xar de ir! Tenho que pensar nos miúdos!

SAGUENAILSe não tivesse havido 25 de Abril, o Mar-celo Caetano teria, aos poucos, sido obri-

meu namorado da altura com quem par-tilhava a consciência política de es-querda silenciada pela ditadura, mastambém a liberdade interior que nosfazia viver dentro de nós, intensamente,a recusa da guerra e o empenhamentona luta anticolonial.Teria por isso sofrido o desgosto do exí-lio e a saudade de uma terra de que mesinto pertença. Mas teria trabalhadopara estudar, teria reconhecido o valorda liberdade, teria lutado pela revolu-ção socialista em Portugal e provavel-mente ter-me-ia integrado na sociedadeque me acolhera sabendo sempre deque lado da vida estava e mantendo atéhoje a esperança de ver o meu país livre.

REGINA GUIMARÃESNão sentiria um aperto na garganta àvista de um cravo vermelho, emboragoste de todas as flores e cores. Não co-nheceria os mesmos possíveis e impos-síveis a distribuir pelos pratos dasbalanças – com ou sem tara. Não teriaatirado às urtigas as obrigações de me-nina burguesa, boa aluna, apenas umtanto mal comportada. Não teria encon-trado o amor da minha vida quase àporta de casa. Não interrogaria a me-mória com a mesma ansiedade de meperder nas respostas. Não pensaria nomeu pai a tremer de felicidade quandoacho o ar demasiado irrespirável.

RUBINA OLIVEIRAQuarta-feira não vou ao coro. Tenhomesmo que repensar se vou continuar.A minha chefe já me veio falar de unszunzuns que correm na empresa, em-bora diga que até simpatiza com asideias, mas não quer problemas! Nãodevia falar tanto no café, mas, às vezes,não resisto! Depois, há o facebook, asamizades e os emails passados a pentefino.Tenho que pensar nos miúdos. Seriamuito mau se me acontecesse alguma

RESPOSTAS AO RIGOROSO INQUÉRITO DE PERNAS PARA O AR

de fazer constantemente um enorme es-forço de esquecimento para não se con-frontarem com a certeza vivida de quehá alternativas e revoluções possíveis. (Eeu, porventura, nunca teria vindo a Por-tugal.)

SOLVEIG NORDLUNDSe o 25 de abril não tivesse acontecidooutra data teria mudado o regime emPortugal – a guerra colonial não era sus-tentável – mas talvez sem o entusiasmoe a euforia que nós que vivemos o 25 deabril pudemos testemunhar.

VITOR SILVA TAVARESRica prima, perguntas-me como vão ascoisas. Pois vão como podes calcular: opaís está bem, nós é que não. 40 anos dedemocracia conduziram-nos a isto. Éclaro que a transição pacífica negociadapelo Marcelo e o Spínola, à espanholamas sem rei, permitiu camuflar-se o re-

gado a aproximar as leis portuguesas dasvigentes noutros países europeus, à co-munidade dos quais teria acabado porcandidatar-se. As guerras coloniais te-riam sido ingloriamente perdidas e as in-dependências obtidas à custa de maismortos mas, ainda assim, conquistadas.A emigração teria abrandado duranteum tempo, porém continuaria a manter--se no horizonte dos portugueses. A li-beralização progressiva teria acabadopor levar ao governo o Cavaco Silva ePassos Coelho. Em suma, hoje seria tudoigual. Só que os Portugueses não teriam

gime autocrático em liberdades vigiadase substituir-se as guerras coloniais pelarouballheira generalizada. A multinacio-nal das negociatas C. E.E., mais as outras,globais, englobaram-nos, de modo queandamos todos no salve-se quem puder.Mas podia ser pior, por exemplo, o Cris-tiano Ronaldo partir uma perna ou asmassas indignadas decidirem-se final-mente à bordoada. Quanto a isto,porém, podes dormir descansada, já quepor aqui, embora codilhados, continua-mos mansos. Beijocas.

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da Achada-Centro Mário Dionísio e quefalou sobretudo da encruzilhada em que es-tamos e do futuro. Para recordar JOSÉHUERTAS LOBO, arquitecto muito especiale infelizmente muito esquecido, juntaram-setrês arquitectos – Francisco Castro Ro-drigues, Francisco Silva Dias, Pitum(Francisco) Keil do Amaral – e tambémEduarda Dionísio, além de vários outrosque participaram, reunindo memórias e sa-beres. Cláudio Torres e Paulo TorresBento falaram de FLAUSINO TORRES, emAbril. Chegarão aqui outros Amigos deMário Dionísio nos próximos meses – pelamão de quem os conheceu ou sabe deles.

18. OFICINAS

Continuaram as sessões semanais aos do-mingos à tarde de fabricos vários para todasas idades: Gravura com Carla Mota; Daspalavras à música – 2 com Cristina Mora;Prendas sou eu que as faço com Eupre-mio Scarpa; Trabalho de corpo, voz ealma com F. Pedro Oliveira; Enterro doBacalhau (fabrico de máscaras, fatos, qua-dras, músicas, desfile) com Carla Mota, Irenevan Es, Pedro Rodrigues, Diana Dionísio, F.Pedro Oliveira, que deu origem a um Enterrodo Bacalhau pelas ruas do bairro (ver p. 5);Cartazes a pensar no 25 de Abril, com Zéd’Almeida, donde saíram cartazes que no 25de Abril pusemos, como amigos, em cada es-quina. Em curso ainda a oficina O Tempo ea Cor – ilustração, banda desenhada, anima-ção com pessoas da Associação de Realiza-dores de Cinema de Animação. Em Maio,novamente banda desenhada com JoséSmith Vargas.

19. HISTÓRIAS DA HISTÓRIA

De dois em dois meses, histórias da His-tória: sessões sobre efemérides do mês, quese relacionam com as épocas e as pessoasque por aqui andam, em especial Mário Dio-nísio (que nasceu durante a 1ª República epassou por duas mudanças de regime: o 28de Maio e o 25 de Abril). Falou-se da CARBONÁRIA PORTUGUESA, apropósito do 5 de Outubro, com FirminoMendes; do NASCIMENTO E VIDA DE JESUSCRISTO, a propósito do Natal, com FreiBento Domingues; do ASSALTO AOSANTA MARIA com Camilo Mortágua,que nele participou; da MORTE DE ESTALINEcom António Louçã.Em Maio, falaremos do 28 DE MAIO comMaria Helena Carvalho dos Santos.

20. ITINERÁRIOS

Desde a última Ficha só veio aqui contar asua história o Fernando Belo, que deveriater sido engenheiro, mas se tornou padre,que deixou de ser, professor de religião emoral, que deixou de ser, que se exilou naBélgica, depois em França onde estava na al-tura de Maio de 68, que regressou à suaterra depois do 25 de Abril. Colaborador daGazeta da Semana. Professor de Filosofiana Faculdade de Letras de Lisboa, a partir de1975 até à reforma. Mas, como se viu, não se«reformou».

21. ARQUIVODA CASA DA ACHADA

Por voluntários, foi posto em ordem e con-tinua a ser actualizado e organizado o Ar-quivo da Casa da Achada, que já pode ser

(Goya), José Smith Vargas (Daumier e deCarpaccio a Paul Klee), Carla Mota (Lurçat),Eduarda Dionísio (Picasso e Éluard e os pin-tores), Filomena Marona Beja (El Greco). Carla Mota propôs a leitura, que a própriafez, do 1.º capítulo (A época moderna daarte) do livro A FILOSOFIA DA ARTE MO-DERNA de herbert Read, várias vezes citadopor Mário Dionísio em A PALETA E O MUN-DO, a que por várias vezes Carla Mota re-gressou.Seguiu-se e está em curso a projecção deimagens com comentários de Pierre Francas-tel que fazem parte do livro PINTURA E SO-CIEDADE: «o nascimento dum espaço».É uma forma de ajudar a olhar para a pintura,na sequência da leitura de A PALETA E OMUNDO, com diversos guias, e de aprendercoisas várias sobre história de Arte. Conti-nuará enquanto houver propostas de quemtem seguido este ciclo.

15. CICLOS DE CINEMA

Depois do habitual ciclo ao ar livre, FÉRIASNAACHADA, entre Outubro e Dezembro, noinício do ano escolar, o ciclo de cinema (ses-sões semanais à segunda-feira à noite) foisobre aprendizagens, não só escolares. O tí-tulo: VIVENDO E APRENDENDO. De Janeiro a Março, vimos 13 histórias da SE-GUNDA GUERRA MUNDIAL, indo de filmesmais antigos (1942) até a mais recentes(2007). Apresentaram os filmes destes dois ciclos:António Rodrigues, Eduarda Dionísio, Filo-mena Marona Beja, Gabriel Bonito, Inês Sa-peta, João Paulo Boléo, João Pedro Bénard,João Rodrigues, Joaquim Beja, Jorge SilvaMelo, Manuel Mozos, Manuela Torres, PauloGuilherme, Pedro Soares, Regina Guimarães,Solveig Nordlund, Vítor Silva Tavares, YouriPaiva.Está em curso o Ciclo CRUZAMENTOS –com o 25 de Abril ao centro (ver p. 4).

16. LIVROS DAS NOSSAS VIDAS

De Novembro do ano passado a Abril desteano, Paula Morão falou de O DELFIM de JoséCardoso Pires, Cristina Almeida Ribeiro dapoesia de Paul Eluard, Catarina Barros deAS ONDAS de Virginia Woolf, Cristina Morade ULISSES de James Joyce, Eugénia Leal deNO CAMINHO DE SWANN de Marcel Proust,João Rodrigues de Friedrich Dürrenmatt.Em Maio, será a vez de Louis Aragon, váriasvezes referido na Casa da Achada, nomeada-mente nas sessões A Paleta e o Mundo III,de que Saguenail falará, a partir do livro depoemas CRÈVE-CŒUR.

17. AMIGOS DE MÁRIO DIONÍSIO

Foram só 3 as sessões realizadas depois daúltima Ficha sobre Amigos de Mário Dionísio,que valeram por muitas. António PedroPita falou de BENTO DE JESUS CARAÇA,numa sessão em que participou João Ca-raça, seu filho e um dos fundadores da Casa

DIREIS QUE NÃO É POESIAMAS É

Numa primeira parte do retomar desta ini-ciativa, que teve lugar a 5 de Abril, foramlidos poemas seleccionados das obras deMário Dionísio «Poemas» (1936-1938), «AsSolicitações e Emboscadas» (1945), «O Risodissonante» (1950» e «O silêncio volun-tário» (1949-1962), ao mesmo tempo que seprocedeu a uma visita guiada pelosquadros do escritor-poeta. A iniciativa prosseguiu a 19 de Abril, destavez com leitura de poemas retirados doslivros «Memória dum pintor desco-nhecido» (1965), «Le Feu qui dort» (1967)e «Terceira Idade» (1982).Poesia e pintura voltaram, pois, a inter-penetrarem-se, numa aliança a todos os tí-tulos naturais. Os intérpretes desta fusãochamaram-se, chamam-se: AntoninoSolmer, Diana Dionísio, Eduarda Dionísio,Inês Nogueira, José Smith Vargas, JustineAstorg, Marta Raposo, Mathilde Louçã,Morgane Masterman, Pedro Rodrigues,Pilar Grange, Sibylle Marto, Sofia Ortolá,Toni, Youri Paiva. Uma vez mais as leituras decorreram numitinerário pelos quadros de Mário Dionísio,itinerário no entanto solto. É que «baça é avida sem surpresa», escreveu o poeta.

A 11.ª edição em Lisboa decorrerá de 23 a25 de Maio. A leitura aberta a toda a gente,essa, terá lugar, a 25 de Maio às 15h naCasa da Achada.

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consultado: o aquivo em papel (cartazes,correspondência, projectos, etc.) de que aClara Boléo continua a tratar; o registo au-diovisual das sessões realizadas na Casa daAchada de que sobretudo a Lena BragançaGil se tem vindo a ocupar.

22. PENSAMENTOS & ACHADOS

Pela segunda vez, aqueles que, em França,quase sem formação escolar e que não têmemprego, pessoas que recebem o RSA (ocorrespondente ao Rendimento Mínimo decá) e que foram empregados durante seismeses pela Associação Cardan de Amienscomo «pensadores», que investigam e pen-sam sobre o que lhes diz respeito e a mui-tos outros, vieram reunir em Lisboa, na Casada Achada, para trazer as conclusões a quechegaram e trocar ideias com gente de cá –pessoas com problemas idênticos ou seme-lhantes, técnicos e especialistas das áreas desaber de que se ocupam. A saber: emprego(que não têm), oferta cultural (que pro-curam de outra maneira), mobilidade (queos imobiliza), aprendizagens (que porvezes aumentam). Um trabalho incluído na «Recherche-Ac-tion» (Pesquisa-Acção) que o Cardan, quepensa de maneira menos ortodoxa do queos «profissionais europeus», vai levando acabo ao longo dos anos, querendo contami-nar pessoas como nós.Será possível trazer esta «Recherche-ac-tion» até cá?Curiosidade: para a ocasião, publicámos umapequena brochura com os textos dos parti-cipantes do ano passado sobre quadros deMário Dionísio e outros, expostos na salaonde têm acontecido as reuniões. A sobre-vivência passa por coisas destas. E a culturanão diz só respeito a alguns. E as artes, senão são de todos, dificilmente serão artes.

23. CEDÊNCIA DO ESPAÇO PARA REALIZAÇÕES DE OUTROS

A Casa da Achada-Centro Mário Dionísiotambém serve para albergar sessões pro-postas por outras associações, grupos, pes-soas, que às vezes têm tido participação daCasa da Achada e/ou do Coro da Achada.Alargam-se os assuntos, as visões. Nos últimos meses, o Coro da Associa-ção de Residentes de Telheiras veio tra-zer as Heróicas de Fernando Lopes--Graça; um grupo de trabalho do IhC daFCSh-UNL veio projectar um ciclo de ci-nema a que chamou Imagens da Revolu-ção – anos 20 e 30; F. Pedro Oliveira fezaqui o seu espectáculo DESPERTAR, desti-nado aos que têm entre 1 e 5 anos e aosmais velhos que têm curiosidade; a Plata-forma LX (associação Vertigo), de quesomos parceiros no BIP-ZIP, realizou aquidois debates: «Captação de públicos e ges-tão cultural» e «Arte e Comunidade». Ehouve sessões organizadas pela UNIPOP. Elançamentos de livros e de filmes.

24. AGRUPAMENTO GIL VICENTE

Fomos convidados para representar a Co-munidade no Conselho Geral no Agrupa-mento de Escolas Gil Vicente, a que jápertenciam a Voz do Operário e a Liga dosAntigos Alunos. Lá estamos.A Escola Secundária Gil Vicente, assimcomo a Escola do Castelo, pertencenteao referido agrupamento, têm participado

nas Leituras Furiosas, nos Grupos deLeitores e nos Encontros de Leitores daCasa da Achada e no Novo Guia de Lis-boa (ver pag.2). A Escola da Madalena,mais próxima daqui, e pertencente ao mes-mo agrupamento, que já tinha entrado numaedição da Leitura Furiosa e onde se tinharealizado um Grupo de Leitores há uns anos,regressou: três visitas à Casa da Achada emMarço deste ano, com pinturas a seguir. A nossa Exposição 25 de Abril irá emMaio para a Escola Secundária Gil Vicenteonde o Coro da Achada cantará. O Planoanual do agrupamento é: 40 anos de Abril– refazer a revolução.

25. APOIOS

Vamos no fim do 4.º mês do ano e ainda nãorecebemos 1 cêntimo de apoio para o anoque vamos vivendo como podemos e mais oumenos como queremos. Com o Governo, não vale a pena contar. Os«concursos» das artes e das culturas não nosdizem respeito.Boa surpresa: a Cultura da CML telefonouontem, dia 24 de Abril, em resposta à candi-datura que todos os anos apresentamos em31 de Julho do ano anterior e que só cos-tuma ter resposta quando o ano já vai as maisde meio... Um «protocolo» está pronto a serassinado. Quantitativo do apoio não sabemos,mas havemos de saber. Via PDCM (Plano de Desenvolvimento Co-munitário da Mouraria em extinção) só foipossível concorrer para manter o Grupo Co-munitário de Teatro…Mas ainda não há res-posta. E havemos de concorrer novamenteao BIP-ZIP (Bairros e Zonas de IntervençãoPrioritária). Teremos sorte ou não…A nova Junta de Freguesia (Santa Maria Maior)a que pertencemos agora (e que reúne 12 an-tigas Juntas) vai contemplar-nos com 300€por mês, em troca de termos a porta abertaao público 5 dias por semana, termos pólosexteriores da biblioteca pública por aí e porcedermos o nosso espaço 1 hora por semanaao Coro dos Idosos de São Cristóvão. Solicitações a Fundações importantes nãotêm tido resposta... Mas uma, a quem não so-licitámos nada, com sede em França, impul-sionada por um ex-aluno de Mário Dionísio,fez-nos um importante donativo. A vida éassim...Por isso, é fundamental obtermos «receitaspróprias», que só podem vir de quem poraqui anda ou que por aqui passa: ser «Amigoda Casa da Achada» e pagar a quota, compraros livros, as serigrafias, os postais, os CDs quevamos editando e livros usados que vão es-tando à disposição por aqui, e passar pela Fei-ra da Achada em Julho, e, se possível, adquiriruma obra de arte oferecida à Casa da Achadapara angariação de fundos, e meter umamoeda no porquinho de vez em quando...

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A COLECÇÃO MÁRIO DIONÍSIO é da responsabilidade da Casa da Achada-Centro Mário Dionísio

onde todo o seu espólio literário e artístico, o seu arquivo pessoal e a biblioteca conjunta com

a de Maria Letícia Clemente da Silva se encontram reunidos e à disposição dos interessados.

A COLECÇÃO MÁRIO DIONÍSIO é editada pela Casa da Achada-Centro Mário Dionísio e, quando

possível, por editores que adiram ao projecto da publicação da sua obra literária e artística,

em grande parte inacessível e dispersa por publicações várias, periódicas e não periódicas,

disponibilizando-a, assim, principalmente a leitores que a não conhecem.

A CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO tem sede no centro de Lisboa, na Rua da Achada nº11.

Foi fundada em finais de 2008. Além do Centro de Documentação mantém em funcionamento

uma Zona Pública com exposições permanentes e temporárias, uma biblioteca de características

populares, debates, leituras, sessões de cinema, concertos, cursos, oficinas, etc., partindo da obra

e do leque de interesses de Mário Dionísio.

O RODRIGUESFRANCISCO CASTRO RODRIGUES

CONVERSAS, MEMÓRIAS, UMA VIDA

ODRIGUESO RODRIGUES

Com os sobressaltos próprios de umaactividade de todo em todo insegura,e não apenas em termos de mercado,sempre conseguimos até agora pu-blicar 6-títulos-6 (integrados naColecção Mário Dionísio) e um 7.º,UM CESTO DE CEREJAS, que fundeconversas trocadas entre a EduardaDionísio e o arquitecto Castro Ro-drigues.Acidentes com a distribuição forammais que muitos, com os concomi-tantes prejuízos. Narrá-los dava umromance de (maus) costumes. De modo que passámos à distribuiçãoprópria. Assim, os nossos livros en-contram-se à venda nas seguintes li-vrarias: Pó dos Livros, Letra Livre,Ler Devagar, Colibri (Lisboa); Uto-pia e Gato Vadio (Porto); Lápis deMemórias (Coimbra); Centésima Pá-gina (Braga); A das Artes (Sines);Senhor Teste (on-line); FNAC (várioslocais, mas apenas o 1.º volume daColecção).Aguardando embora resultados quenão sejam desfavoráveis como nopassado, atrevemo-nos a, para já,conceber como possível a reedição deA PALETA E O MUNDO, nosso sonhodesde a hora primeira. Sonho porsonho, encaramos a possibilidade devir a reeditar toda a obra escrita deMário Dionísio.

EDITAR, DISTRIBUIRINSISTIR, REEDITAR

Page 12: BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIOcentromariodionisio.org/Imagens_historial/ficha8.pdf · A conversa sobre o Arquivo Mário Dioní-sio (ver pontos 1 e 2 destas colunas)

APOIO: C.M.L. - PDCM E BIP-zIP PARCERIA: ASSOCIAÇãO CARDAN

ficha8Fabrico caseiro. 25 Abril 2014

Rua da Achada 11, 1100-004 Lisboa. Tel. 218877090. [email protected]

ABRIL EM 3 EXPOSIÇÕESCelebremos também com oolhar, esse que dá para ver epara ler e para procurar enten-der.A 25 se inaugurarão 3 exposi-ções, distintas mas complemen-tares. Assim, de Mário Dionísiopoder-se-ão visionar algumastelas decididamente abstractas.Ainda que o pintor de há muito ti-vesse enveredado pelo abstrac-cionismo – fruto da sua evoluçãoteórica desde logo processadaexperimentalmente –, as pinturasque se mostram foram seleccio-nadas (por Rui-Mário Gonçalves)entre os trabalhos executados apartir de 1974, característica decerto modo inovadora.

No espaço ao ar livre teremos 20painéis alusivos à data.Esta exposição, pensada paraser ao ar livre e itinerante, mis-tura «lugares-comuns» – ima-gens que «toda a gente» conhe-ce, frases do antes e depois que«toda a gente» já ouviu – com«pormenores» menos conheci-dos ou que propositadamente seesquecem. Até inclui alguns do-cumentos que existem no ar-quivo da Casa da Achada e quecontinuam a não fazer parte das«histórias da História» que, me-lhor ou pior, se continuam a fazer.Pareceu-nos que essa «mistura»difícil facilitava os entendimentospossíveis daquilo que durantedois anos aconteceu inesperada-mente e do que se foi perdendodepois (e, nalguns casos, ga-nhando).

Outra coisa difícil: é uma exposi-ção para ser lida. E a leitura de-mora. E o tempo é sempre pou-co. Deveria haver um banquinhoem frente de cada painel. Sabemos que uns só lerão os tí-tulos, outros as informações, ou-tros os rodapés, uns as coisasgrandes, outros as pequenas.Uns procurarão o que já sabem,outros o que não sabiam.Como uma personagem dumapeça didáctica de Brecht dizia,«muitas coisas há numa coisa só».

Para a 3.ª exposição, aberta até1 de Maio, serão mostrados tra-balhos provenientes de muitosartistas, que os ofertaram à Casada Achada para a sempre neces-sária recolha de fundos.O título desta exposição, PORVIR, serviu de arranque inspira-dor, qual foi o de tratar em termosplásticos o desejo de um 25 deAbril liberto de constrangimentos,praticável e praticado na nossavida individual e colectiva.Registemos os nomes dos artis-tas que se disseram solidários:André Carrilho, André Ruivo,Cristina Sampaio, Filipe Abran-ches, Jorge Silva, Maria JoãoWorm, Nuno Saraiva, José PedroCarvalheiro, Henrique Cayatte,José Smith Vargas, Marcos Far-rajota, João Alves, PAM, PierrePratt, Nadine Rodrigues, Artmini,Bárbara Assis Pacheco, Zé d’Al-meida.Salvé a todos estes – e aos maisque se juntarem!