Brasil - Cont e Atual

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SUMRIO DA DISCIPLINA

Plano da Disciplina ......................................................................................................................................

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UNIDADE I O BRASIL MULTICULTURAL Texto 1: Histria e Cultura Afro-Brasileiras ............................................................................................... Texto 2: Cultura Indgena ........................................................................................................................... Texto 3: As Inuncias dos Imigrantes ....................................................................................................... Texto 4: Excluso Social ............................................................................................................................. UNIDADE II FORMAO DA SOCIEDADE BRASILEIRA Texto 5: As Razes do Modelo Capitalista Brasileiro ......................................................................................... Texto 6: O Processo de Modernizao ........................................................................................................ Texto 7: O Papel do Estado nas Dcadas de 70 e 80: Autoritarismo e Concentrao de Renda ................ UNIDADE III O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAO BRASILEIRA E O CONTEXTO ATUAL DO BRASIL Texto 8: As Consequncias Socioeconmicas do Modelo de Desenvolvimento Brasileiro ........................ Texto 9: A Construo de uma Nova Cidadania e os Movimentos Sociais ................................................. Texto 10: O Brasil e o Contexto Internacional ............................................................................................

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Glossrio ..................................................................................................................................................... Referncias bibliogrcas ...........................................................................................................................

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Plano da DisciplinaCarga Horria Total: 30h/atividades Crditos: 02

Relevncia da DisciplinaA disciplina prope estudar a modernizao do Brasil e as consequentes transformaes polticas e sociais a partir da compreenso do modelo capitalista brasileiro e dos processos de excluso social, reetindo acerca da pobreza no Brasil, da diversidade social e cultural e dinmica de classes que estrutura a sociedade brasileira, situando-a no contexto da nova ordem mundial.

Objetivos da DisciplinaAnalisar diferentes vises crtico-reexiva do contexto social brasileiro; desenvolver e/ou utilizar conhecimentos e habilidades para a formao de prossionais conscientes de sua responsabilidade no processo de implantao e implementao de uma sociedade mais justa e igualitria.

UNIDADE I: O BRASIL MULTICULTURALTempo estimado de autoestudo nesta unidade: 8h/atividade Objetivos: Reconhecer a importncia da diversidade cultural que constituiu o povo brasileiro e a inuncia desse multiculturalismo na formao da nossa sociedade e nos dias atuais.

Quadro-resumo da unidadeAssuntos Onde Encontrar Atividades Complementares Leituras Complementares FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro:Record, 1998. HOLANDA, Sergio Buarque de. Razes do Brasil. Rio de Janeiro : J. Olympio, 1989. MOTA, Carlos G. (org). Brasil em Perspectiva. So Paulo: Difel, 1969. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formao e o sentido do Brasil. Ed. Companhia das Letras, 1995. Msicas Que pas esse?, da Legio Urbana; Filmes Indicados A Misso; Chica da Silva. Desmundo.

Texto 1: Histria e Cultura Afro-Brasileiras

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Texto 2: Cultura Indgena

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Texto 3: As Inuncias dos Imigrantes

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Texto 4: Excluso Social

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UNIDADE II: FORMAO DA SOCIEDADE BRASILEIRATempo estimado de autoestudo nesta unidade: 8h/atividade Objetivos: Caracterizar a Revoluo Industrial como o momento de instalao do modelo capitalista de produo; perceber as contradies da modernizao surgida a partir da Revoluo Industrial; identicar o Brasil como um pas de industrializao recente; reconhecer as marcas da economia dependente no modelo de desenvolvimento brasileiro.

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Quadro-resumo da unidadeAssuntos Onde Encontrar Atividades Complementares Filmes Indicados Tempos Modernos, Um operrio de uma linha de montagem, que testou uma mquina revolucionria para evitar a hora do almoo, levado loucura pela monotonia frentica do seu trabalho. Tempos Modernos uma crtica contundente ao movimento frentico imposto pelo processo da industrializao. Pra frente Brasil, Em meio euforia do milagre econmico e da vitria da seleo na Copa de 70, um pacato cidado da classe mdia confundido com um ativista poltico, sendo ento preso e torturado por agentes federais. Dirigido por Roberto Farias (Assalto ao Trem Pagador), com Antnio Fagundes, Reginaldo Faria e Flvio Miggliaccio no elenco. Sites indicados http://www.dominiopublico.gov.br Texto 7: O Papel do Estado nas Dcadas de 70 e 80: Autoritarismo e Concentrao de Renda Leituras complementares DAMATTA, R. O QUE O BRASIL?. Rio de Janeiro: Editora: Rocco, 2004. DREIFUSS, Ren A. 1964 A Conquista do Estado. Petrpolis: Vozes, 1981.

Texto 5: As Razes do Modelo Capitalista Brasileiro

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Texto 6: O Processo de Modernizao

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UNIDADE III: O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAO BRASILEIRA E O CONTEXTO ATUAL DO BRASILTempo estimado de autoestudo nesta unidade: 8h/atividade Objetivos: Relacionar a globalizao e o neoliberalismo com o desenvolvimento brasileiro dos anos 90; perceber as contradies entre as funes de controle, no plano social, e de modernizador, no plano econmico, dos governos ps-90.

Quadro-resumo da unidadeAssuntos Texto 8: As Consequncias Socioeconmicas do Modelo de Desenvolvimento Brasileiro Onde Encontrar Atividades Complementares Sites Indicados www.brasilcultura.org/brasilcontemp.htm Leituras Complementares SANTOS, Milton. Por uma outra globalizao. Do pensamento nico conscincia universal. Rio de Janeiro, Record, 2000. Pgina 00

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Texto 9: A Construo de uma Nova Cidadania e os Movimentos Sociais

Texto 10: O Brasil e o Contexto Internacional

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INTRODUOSabemos que precisamos ser cidados atuantes em nossa sociedade, mas para nela melhor atuarmos precisamos conhecer os contextos e nuances que a constituem, como as caractersticas da populao, das regies brasileiras, caractersticas econmicas, polticas, sociais e culturais. Como tudo se constituiu at os dias de hoje, as suas consequncias e inuncias. Contexto algo que est nas entrelinhas, nossas aulas so para aqueles que desejam lanar seus olhares para uma nao, a nao brasileira. Por meio de trechos da nossa histria e episdios da nossa cultura, tentaremos nos aproximar de alguns pensamentos que formam a nossa mentalidade. Por exemplo, o sentimento nacional, que em ns, brasileiros, aparece aqui e acol, que explode em um gol ou que vem manso, como no poema de Mrio de Andrade, O poeta come amendoim: Noites pesadas de cheiros e calores amontoados, Foi o sol! Que por todo o stio imenso do Brasil, Andou marcando de moreno os brasileiros. Aqui no Brasil, costumamos cometer o erro de confundir o Estado e a Nao. Nosso estado pode no ir muito bem das pernas, mas nossa nao um sucesso de pblico e no somos ns que dizemos isso, mas os estrangeiros que nos visitam. A que se deve isso? Pare e pense! Sobre o que estamos conversando? Sobre algo que prprio da nossa cultura e da formao de nossa identidade: a miscigenao, convivncia bastante ntima dos trs povos que nos formaram. Como se deu esse encontro, quantas marcas deixou, quantas feridas abriu, quantas bocas beijou? O portugus protagonizou o regime escravocrata mais cruel e ecaz do mundo moderno, mas, como na Histria a contradio no fere a lgica, foi quem mais se miscigenou com seus escravos. Trs vertentes que criaram uma s nao, mltipla e dspar, desao contemporneo de resgatar e reinventar culturas que nos tornaram especiais e diferentes de tudo o mais que existe no mundo.

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UNIDADE IO BRASIL MULTICULTURALO ser senhor de engenho ttulo a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos, Antonil. Sob sol abundante e intenso, sobre terras vastas e frteis, construiu-se um mundo novo, o lugar que se chamaria Brasil. Trs povos distintos, unidos pela fatalidade dos processos histricos, erguiam nas terras americanas um complexo de produo que almejava suprir os mercados internacionais de acar, um verdadeiro ouro branco para alguns e mortalha da morte para muitos. Para entender como nosso pas se tornou to rico em diversidade cultural, vamos voltar ao tempo e compreender o desenvolvimento do Brasil e a constituio do povo brasileiro. Se com propriedade podemos dizer que o perodo pr-colonial foi sustentado pela extrao do paubrasil, no ser menos dizer que a cana-de-acar fez igual pela colonizao. Diante do desao enfrentado pela coroa e pelos comerciantes envolvidos na expanso martima de encontrar uma sada para o Brasil, a cana pareceu a mais promissora. Dela extraa-se um suco de extrema doura, j conhecido pelos indianos de longa data. Produto raro e caro, frequentou mesas abastadas e boticas de cirurgies. Adoava e curava. No sculo XV, quando Portugal preparava-se para saltar o Atlntico, a cana era cultivada em algumas ilhas e tambm em terras mediterrnicas, mas continuava sendo cara. Os comerciantes italianos eram os maiores distribuidores da rara doura, que traziam do Oriente. Os portugueses, depois de estabelecerem contatos comerciais no ndico, colaboraram para a vulgarizao dos produtos obtidos da cana-de-acar, todos com grande aceitao no mercado europeu. Um produto agrcola de valor comercial e terras em abundncia. Dois elementos fundamentais para a construo do mundo da cana. E esta combinao foi potencializada pela natureza. Uma extensa faixa de terra, que cobria o correspondente de hoje do nordeste e parte do sudeste, era constituda de massap, solo altamente propcio ao cultivo da cana-de-acar. E a mo de obra? Como alimentar enormes fazendas com trabalhadores? De onde traz-los? Portugal era incapaz de fornecer este subsdio demogrco. A sua populao no era grande. Se comparada aos dias atuais, chega mesmo a ser inexpressiva. No mais de um milho e meio de pessoas viviam em Portugal no sculo XVI. Os trabalhadores deveriam ser gerados fora do reino. No Brasil os ndios assumiram parcialmente a funo de escravos. Quando os portugueses chegaram nas terras que futuramente seriam o Brasil, no as encontraram desabitadas. Muito pelo contrrio, o extenso territrio era povoado, e bem povoado, diga-se de passagem. Estima-se que viviam aqui cerca de trs milhes e meio de ndios, divididos em quatro principais troncos lingusticos, que se desdobravam em incontveis dialetos. O principal grupo, com o qual os descobridores zeram contatos em abril de 1500 foi o tupi-guarani. Tronco constitudo por vrias naes que habitavam o litoral, depois de terem expulsado para o interior as tribos que no eram tupis. De modo geral, podemos dizer que se organizavam em ncleos menores as tribos e desconheciam a propriedade privada. Tanto a terra como os produtos dela tirados e o resultado das caadas e das pescarias pertenciam coletividade. Conheciam a agricultura, embora essa fosse rudimentar. Plantavam principalmente mandioca, alm de milho, feijo, amendoim e abbora. Completavam a dieta alimentar com a caa e a pesca - no que eram muito hbeis e com a coleta de frutos silvestres. Na tribo destacavam-se duas guras: a do sacerdote, que comandava os cultos e cuidava das doenas; e a do guerreiro, que conduzia os seus nas constantes batalhas que travavam com outras tribos pelo domnio territorial de caa e pesca, e para vingar ofensas. Embora seja possvel apontar as duas guras principais da tribo, como voc leu acima, deve-se ressaltar que entre eles no havia aquilo que conhecemos como classe social. A educao dos meninos e das meninas ocorria num clima harmonioso, por meio do qual eram inseridos, progressivamente, na vida da comunidade. As crianas acompanhavam os adultos nas atividades cotidianas e pouco a pouco aprendiam. Os contatos entre os ndios e os portugueses nem sempre foram hostis, mas tambm nem sempre foram paccos. Ele variou segundo os interesses e os comportamentos de ambos. Ao longo da colonizao, de forma geral, pode-se dizer que os portugueses assumiram uma postura arrogante diante dos ndios. Sentiam-se superiores a eles e esforaram-se para escraviz-los e submet-los lgica do trabalho forado, fundamental para tirar das terras conquistadas as riquezas cobiadas. Movidos pela ganncia e pela

necessidade, os descobridores perpetraram verdadeiros massacres, reduzindo a populao nativa a um nmero insignicante comparado ao ano de 1500. A soluo encontrada e que melhor cobria as necessidades apontadas foi a escravizao do africano em escala mercantil. Alm de coibir o controle dos colonos brasileiros sobre a mo de obra, fato importante para a manuteno do pacto colonial, gerava novas e riqussimas fontes de renda. A coroa vendia o direito de explorar o comrcio escravo e taxava a sua passagem pelos portos. E tem mais. Se a frica era transformada em fornecedora de energia, de trabalhadores, de mulheres e homens escravizados, ela assumia este papel sozinha. O Brasil deixava de ser um fornecedor de energia escrava e se especializava em produzir cana. Assim no havia concorrncia entre as colnias e os lucros eram maiores, pois sem concorrncia o preo pode ser melhor controlado. De um lado o Brasil, com suas terras inndas e frteis, sendo coberto paulatinamente por plantaes, de cana principalmente. Florestas sendo abatidas para dar lugar ao cultivo e fornecer madeira para alimentar as caldeiras dos engenhos. Do outro lado a frica, sendo transformada em usina de energia humana, em combustvel da colonizao. Estas duas realidades se unem pelas guas atlnticas, atravessadas ordinariamente por velames portugueses abarrotados de homens e de mercadorias. O mercantilismo alimentava-se deste trnsito constante, do vaivm das embarcaes. E a Amrica Portuguesa ia sendo paulatinamente construda. Vrios elementos corroboraram para esta construo. Porm, destacaremos um que pela sua abrangncia, tanto econmica quanto cultural, pode esclarecer os demais. Trata-se do engenho de acar. Centro da produo de riqueza e tambm de um modo de vida. Podemos dizer que boa parte das relaes sociais desta primeira idade do Brasil girou em torno do engenho. Gilberto Freire nomeou este complexo aparelho colonial de Casa Grande e Senzala, ttulo de seu mais notvel livro. Grande extenso de terra. Na base de tudo a grande propriedade. Poucos homens a possu-la, portanto, um sistema de distribuio da terra, que era tambm o de distribuio da riqueza: a terra era a mais importante fonte de produo. Proprietrios de terras cultivadas eram os grandes lavradores. Proprietrios de terra e de engenhos eram os senhores. Cume da ascenso econmica e social. Ser senhor de engenho era o que todos queriam. Eles constituam uma espcie de nobreza da terra, de aristocracia americana, ligados a Lisboa por distino e riqueza. E, para formarem uma elite, deveriam ser poucos. Eram os mais ricos e poderosos porque, alm de plantarem e colherem a

cana, podiam transform-la em acar e outros derivados. O complexo processo de produo culminava nos seus depsitos, de onde eram enviados para os portos e depois para o mundo. As terras eram ocupadas por orestas, plantaes de cana, pomares, hortas e pastagem. As grandes fazendas tentavam a autonomia. Em suas terras eram plantados os alimentos que nutriam os escravos e os demais habitantes do lugar. As orestas eram derrubadas periodicamente, cedendo lugar s novas plantaes e fornecendo energia ao engenho. Por isso tambm os lotes de terra concedidos aos plantadores deveriam ser vastos. A monocultura da cana esgotava o solo, exigindo a abertura de novas clareiras na mata. O engenho recebia e processava a cana plantada nas vastas terras pelos escravos. Era um trabalho rduo e intenso. Durante meses as caldeiras permaneciam funcionando e os edifcios eram iluminados para que o trabalho ocorresse sem grandes intervalos. Tiravase o caldo da cana nas moendas, muitas vezes movidas pela fora dos escravos, mas tambm tracionadas por juntas de bois e em alguns casos por grandes moinhos de gua. Depois da moagem o suco era cozido, puricado, cristalizado e tratado at ser encaixotado. O engenho era a parte mais mecanizada da fazenda. Os seus componentes eram importados da Europa. E muitos tcnicos do velho continente vieram se estabelecer no Brasil nascente, onde desempenhavam importante papel na cadeia produtiva. Os trabalhos comeavam normalmente em ns de junho, quando se comemora a noite de So Joo. Festa de herana colonial, que sintetiza vrios elementos do mundo do acar. Casamentos eram realizados na presena do padre, que comparecia ao engenho para abenoar os trabalhos e os trabalhadores. Uma noite de folguedos e festejos antecedia a abertura dos trabalhos. O mundo da cana preparava-se na ntegra para adoar as praias do Brasil nascente, as praias do mundo. Um pas a nascer com gosto de suor, lgrimas, sangue e cana, um gosto to orgnico quanto suas paisagens. O suco dos homens misturava-se ao da cana e fazia o brasileiro. A casa grande, morada do senhor, de sua famlia nuclear, das sinhs, dos agregados e dos escravos de casa. No comeo dos tempos coloniais, a casa grande primava pela seriedade. Uma casa que era tambm pequena forticao. A histria registra vrios episdios de construes (incluindo a casa do senhor e o engenho), que foram destrudas pelos ataques dos ndios, que perseveraram na luta pelo seu territrio ao longo de toda nossa histria. Quanto mais fechada, mais protegida. Aliada a este princpio, a herana da Ibria moura nos deu casas com ptios e jardins internos. Sair de casa no era propriamente ir rua. Era

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caminhar pelo ptio interno da casa. A Casa Grande a sede do patriarca, desta famlia que Gilberto Freire explicou como patriarcal. Nela concentrava-se o poder e a riqueza. O senhor de tantas vidas e tantas fortunas, que to diretamente agia sobre os destinos de seus subordinados, fez dela sua sede. A violncia do escravista e a provedoria do pai estiveram na constituio do senhor de engenho e de sua morada. A senzala, assim como a Casa Grande, tambm denunciava o seu morador. Nela viviam os escravos. Construo ampla e comum, era uma habitao coletiva. Rstica, muitas vezes insalubres, como tambm eram as casas dos senhores, ao menos em alguns aspectos. Nela vivia a fora motriz do mundo da cana. A espantosa energia do homem da frica posta violentamente a servio do mercantilismo. A cultura portuguesa preponderou, e com ela, tambm seus costumes. Os negros e ndios foram submetidos de forma fsica, culturalmente se viram expostos e fragilizados. O ndio perdeu as terras e o negro

foi brutalmente transportado de ambiente. Cabe salientar que a ideia de uma etnia negra uma inveno do continente americano, na frica no havia essa identidade por meio da cor da pele, assim como entre os ndios. Por isso, ingnua a perplexidade de se surpreender com informao de que tribos, de negros ou de ndios, escravizassem outras para fornecer aos portugueses. E este cenrio nos remete a um quadro social tambm familiar. Uma massa de trabalhadores, que so os escravos, destitudos de direitos, reduzidos condio de objeto. Alguns trabalhadores eram livres, vinculados administrao, ao comrcio, s tcnicas, navegao, religio, aos trabalhos manuais especializados. Nem todos tinham a mesma fortuna, nem todos viviam a mesma riqueza. Mas eram livres e assalariados. E alguns poucos senhores de engenho, donos dos meios de produo de riqueza, que estendiam seus poderes para alm das fronteiras de suas propriedades. Uma sociedade fortemente vincada pela liberdade e riqueza.

Exerccios1) Faa voc mesmo a conexo: escreva um pargrafo explicando porque a grande lavoura de cana-de-acar encaixa-se to bem aos interesses do mercantilismo. 2) Estabelea uma lista com as principais personagens do complexo Casa-grande e senzala. 3) Por que era importante que os lotes de terra cedidos fossem vastssimos?

GabaritoCaro aluno, em seguida voc encontrar um guia de resoluo das atividades propostas. 1) O latifndio monocultor adaptava-se aos interesses no mercantilismo porque ele produzia um produto de grande aceitao no mercado. 2) A lista enorme, mas podemos destacar entre as principais: o senhor, o escravo, a famlia do senhor e os trabalhadores tcnicos. 3) Primeiro, porque era um smbolo de distino social e estratgia de criao de uma elite. Segundo, o cultivo da cana esgotava o solo e os engenhos necessitavam de muita lenha para funcionar.

Dicas de EstudoFilme recomendado Indicaremos um lme bastante interessante e ilustrativo do viver na colnia no sculo XVI. Chama-se Desmundo. Baseado no romance histrico homnimo da escritora Ana Miranda, o lme conta a histria de uma moa rf, que foi enviada ao Brasil para se casar com um homem que a escolhesse, tirando-a, assim, da situ-

ao de penria e abandono que vivia em Portugal. Mas ela no gosta nem um pouco daquele que a escolheu e sua vida torna-se um tormento. O lme foi dirigido por Alain Fresnot, lanado em 2003 pela Columbia Pictures do Brasil. Leitura recomendada Histria da vida privada no Brasil: Cotidiano e vida privada na Amrica Portuguesa 1 um livro muito informativo e agradvel. Trata-se de uma obra coletiva, na qual vrios autores visitam formas de viver e pensar na poca colonial, abordando aspectos quase sempre esquecidos nos livros escolares. Escolha alguns captulos e conhea um pouco mais da vida privada no Brasil nascente. A coleo foi dirigida por Fernando Novais e este volume foi organizado por Laura de Mello e Souza. So Paulo: Companhia das Letras, 1997. E ainda: ANTONIL, Andr Joo. Cultura e opulncia do Brasil. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Itatiaia, 1982. SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial. So Paulo: Companhia das Letras, 1988.

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Texto 1: Histria e Cultura Afro-Brasileiras mar salgado, quanto do teu sal So lgrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mes choraram, Quantos lhos em vo rezaram! Quantas noivas caram por casar Para que fosses nosso, mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma no pequena. Quem quer passar alm do Bojador Tem que passar alm da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele que espelhou o cu. Fernando Pessoa

experincia pregressa do cultivo em outras partes do mundo, o litoral do Brasil, extremamente favorvel ao cultivo, encontrou na lavoura da cana-deacar sua expresso econmica fundamental, mas economia pouco para descrever a importncia e os futuros desdobramentos para a cultura brasileira dessa opo. A empresa aucareira necessitava de um latifndio que plantasse cana para a produo de acar. Logo essa extensa propriedade, que pertencia ao senhor de engenho, vivia da monocultora, que, por sua vez, para atender a demanda e gerar os lucros desejados pela coroa portuguesa e pela burguesia comercial, fazia uso de uma mo de obra permanente. Como para o capitalismo comercial praticado em Portugal seria invivel o trabalho assalariado, recorreu-se ao trabalho escravo. Fabricar acar era empresa que necessitava de investimentos vultosos para a instalao dos engenhos, exigia trabalhadores, livres e assalariados, com conhecimentos especializados no cozimento e no renamento do produto. Porm, o grosso da mo de obra dos engenhos de cana era constitudo de escravos. No custa lembrar que como armou Antonil, em uma sentena j h muito clssica, os escravos eram como as mos e os ps dos senhores de engenho. A escravido no Brasil aparece primeiro, vinculada ao processo de desterritorializao sofrido pelo indgena, logo, quanto mais ostensiva a presena portuguesa mais presente era a escravizao. Os ndios escravizados eram explorados at o limite de suas foras e acabavam morrendo por maus-tratos ou pelas doenas trazidas do universo bacteriolgico europeu,

Coincidindo com o descobrimento do Brasil em 1500, o accar converteu-se em produto de luxo, que no era facilmente encontrado mas que era, mais e mais, desejado para o consumo. Tanto que foi apenas a partir do sculo XVIII que, como consequncia da expanso de sua produo e da sua comercializao, pde ser regularmente consumido por um pblico maior e passou a adoar o ch, o caf e o chocolate, que por sua vez, tambm ser tornavam mais acessveis ao consumo de maiores camadas das populaes. Porm, os usos e abusos do acar so bem mais variados: tempero, conservante, remdio e decorao. O acar pode ser um dos ingredientes de uma massa para modelar e pintar, sendo que no passado era sinal de status social e fortuna, decorar mesas com a esculturas feitas de acar, o ouro branco. Por conta dos grandes lucros advindos da comercializao do acar no mercado internacional e da

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africano e asitico que entre si conviviam, mas para o qual a Amrica estava indefesa. No comeo foi utilizada a mo de obra indgena, mas, ainda em ns do sculo XVI, a africana se tornou mais comum por diversos motivos. O que parece predominar sem excluir alguns outros so os lucros obtidos no comrcio transatlntico dos escravos, na rota frica-Brasil para a coroa portuguesa e a burguesia comercial de Portugal. Dou ao Demo os insensatos. Dou ao demo a gente asnal Que toma por cabedal Pretos, Mestios e Mulatos.Gregrio de Mattos Guerra

por se constituir, em funo do trco negreiro, em uma atividade extremamente lucrativa, ao ponto de representar uma das mais bem sucedidas formas de acumulao de capitais para metrpole e se consolidando como principal manancial de trabalhadores escravizados. Some-se a isso tambm a questo dos jesuitas, ordem religiosa de fundamental importncia para a compreenso do Brasil, que condenava veementemente a escravido indgena, posto que, Deus aos ndios reservou a catequese, obra mxima da converso, para o jesuta essa era a sua misso. Agora, tudo isso pode ser levado em conta por que existia uma alternativa j conhecida e que trazia benecos para a coroa portuguesa e para o comrcio portugus, os negros, que se tornariam a principal fonte do trabalho escravo durante o perodo colonial e imperial brasileiro. Trazidos pelos portugueses para o trabalho escravo nos engenhos de acar do Nordeste, os escravos eram vendidos como mercadorias, conforme sua utilidade, os mais fortes e saudveis valiam mais. Transportados para o Brasil nos pores dos navios negreiros, vinham amontoados, em uma situao considerada por muitos como desumana, isto em uma poca em que sequer se considerava o negro escravizado um ser humano, sendo-lhe negada at mesmo a alma. Os muitos que morriam no trajeto tinham seus os corpos jogados ao mar. No que diz respeito composio tnica, constata-se a presena de dois grupos importantes: os bantos e os sudaneses, trazidos da frica Equatorial e Tropical em regies que hoje pertencem a pases como o Congo, Guin e Angola, e da frica Ocidental, nas regies que hoje pertencem ao Sudo e tambm ao norte da Guin. Entre os sudaneses uma informao impressiona, havia muitos que eram islamizados, sendo, inclusive, alfabetizados, coisa que a maioria de seus algozes sequer era. Foram eles os protagonistas de uma rebelio de escravos ocorrida na Bahia, em 1835, e que cou conhecida como a Revolta dos Mals. Quando aqui chegavam, para o trabalho na lavoura do acar ou na extrao de ouro, os escravos eram submetidos a um regime de tratamento bastante cruel dos vrios pontos de vista que se possa imaginar: trabalho pesado na lavoura, instalaes desconfortveis com nenhuma facilidade nas senzalas, correntes para dormir sem causar risco de fuga e castigos corporais. Os escravos eram submetidos a

O uso da mo de obra escrava negra foi bem mais numeroso e propalado, at mesmo servindo de fundamento para teorias de supremacia racial. Porm, embora a escravido no Brasil tenha sido caracterizada pela presena de escravos trazidos da frica, os indgenas tambm foram vtimas desse modo de produo. Era uma forma de estabelecer relaes de tabalho desligadas de relaes sociais integradoras da coletividade, que para armar sua identidade necessita negar a do outro. No Brasil, a escravido de forma sistematizada teve incio com a produo de acar na primeira metade do sculo XVI. Nos primeiros tempos do cultivo da lavoura da cana, a mo de obra do escravo indgena era a que prevalecia. O ndio, porm, oferecia perigos para o bom andamento dos trabalhos, tais como violentas reaes que chegaram at mesmo a ameaar a segurana e o bom andamento da economia aucareira colonial, fugas em um territrio conhecido, alm de o lucro obtido por sua escravizao no chegar ao tesouro da metrpole. O trco negreiro proporcionava duas vantagens em relao escravido indgena: era fonte de mo de obra de mais fcil obteno sem provocar o desagrado da Igreja e gerava lucros substanciais para a metrpole. Lucravam os comerciantes de escravos e a Coroa portuguesa. A justicativa para a adoo de um regime escravocrata era a falta de mo de obra. Essas e outras formas de reao prejudicavam os negcios, o que desagradava profundamente os anseios mercantilistas portugueses, interessados em largos acmulos de capital. A utilizao em larga escala da mo de obra negra no Brasil Colnia, acabou

castigos corporais, prescritos na lei. A aplicao dos castigos realizada de forma sistemtica e obedecia a um esquema que, aps o aoite no pelourinho, inclua espalhar sal sobre as feridas.Havia protestos, embora por vezes distantes, sem continuidade e sem medidas coercitivas, contra os maus-tratos. Em 1 de maro de 1700 por exemplo, o Rei de Portugal D. Pedro II escreveu uma carta indignada ao governador-geral D. Joo de Lencastre sobre os maus-tratos dados aos escravos no Brasil: ... No lhe dando fardas e outros nem ainda farinha, e comentando dos cruis castigos, por dias e semanas inteiras, havendo alguns que por anos se acham metidos em correntes, sendo mais cruis as senhoras em alguns casos para com as escravas, apontando-se alguns que obram tanto os senhores como as senhoras com tal crueldade como so pingar de lacre e marcar com ferro ardente nos peitos e na cara, executando neles a mutilao de membros. De Francisco Pereira de Araujo se diz que cortou as orelhas a um, e pingou com lacre; outro veio do serto, a quem o senhor cortou as partes pudendas, entendeu com uma sua negra; de outro, que se curou no hospital, se diz que foi to cruelmente aoitado do seu senhor que lhe provocara especialmente o rigor da Justia Divina, pelo que de razo. Diz ainda de castigos que se fazem por suspenso de cordas em rvores, para que os mosquitos os estejam picando e desesperando, sobre os aoitarem e pingarem com a mesma crueldade que fazem os demais... (Site Wikipdia).

gena tambm se fazia presente. Certamente vinham tona no ambiente do quilombo a cultura e seus diversos matizes, entre eles a celebrao dos rituais religiosos, de fundamental importncia na construo de uma identidade coletiva. Dentre todos os quilombos, o dos Palmares foi o que conheceu maior reputao. Os quilombos promoveram a fuso de elementos culturais das sociedades indgena e africana. Abortos, fugas isoladas, suicdios, banzo (estado de melancolia no qual o negro caa em profunda depresso ocasionando sua morte) e pelos quilombos. Variadas foram as maneiras de resistir ao escravismo, formar quilombos foi a mais estratgica. Os quilombos se constituiam em aldeamentos de negros que escapavam da escravido nas fazendas que abrigavam a lavoura da cana e tambm mais tarde nas regies nas quais se extraa o ouro. O escravo era propriedade de seu senhor, no tendo qualquer direito. O seu proprietrio o alimentava e vestia. Por conta da escravido, o Brasil consagrou naquelas pocas um sentimento de repulsa quanto ao trabalho, em especial, o manual, considerado coisa de negros. Havia a alforria, escravos libertados por vontade do senhor ou que compravam sua liberdade, quando conseguiam amealhar alguma riqueza pelo exerccio de ofcios mais elaborados ou desviando algum ouro do trabalho nas minas. Os escravos alforriados compravam escravos para uso prprio. Mesmo nos quilombos a escravatura existiu. Muitas das revoltas de escravos no visavam o fim da escravido como sistema. A dos Mals, por exemplo, tinha como objetivo libertar os escravos africanos mas pregava a escravizao dos brancos e dos mulatos que no eram convertidos ao islamismo. O trco negreiro trouxe lucros considerveis para seus comerciantes, fosse o destino dos escravos a lavoura canavieira, fosse a rea da minerao ou a da lavoura cafeeira. O fato incontestvel que a escravido preponderou como forma de trabalho e marcou as relaes sociais que com ela decorerram no Brasil, da colnia at o Imprio. Qual a lio da escravido, por que se ocupar de um tema to rduo e que preferiramos esquecer? A escravido foi, entre ns, a primeira forma sistemtica de excluso social, tema, hoje, to caro a quem quer que pretenda reetir sobre qualquer contexto brasileiro um pouco mais amplo. Desenvolvemos no Brasil tcnicas para conviver e tolerar a excluso social, que se perpetuam at hoje.

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Culturalmente, viam-se impedidos de manifestar abertamente a sua religio bem como de celebrar as festas e rituais que gostariam. Ainda assim conseguiram manter viva e tornaram sua cultura parte fundamental do que somos hoje. A maior parte da mo de obra negra feminina estava destinada aos afazeres domsticos, incluindo a, a amamentao, as negras alimentavam, at mesmo, os lhos dos senhores. Uma cena impensvel em outros processos de colonizao. Aconteciam tambm as fugas, que representavam uma constante busca do negro por viver em liberdade apesar de muitas vezes sequer poder imaginar o que lhe aguardava caso obtivesse sucesso no seu intento e de fato conseguisse se embrenhar na mata e encontrar um lugar para viver longe da escravido que lhe havia sido imposta pelo branco. Se esse impulso pode ser compreendido como a busca por uma vida mais digna, era isso o que acontecia quando ele, escravo, sonhava com os quilombos. Quilombos eram comunidades que se instalavam nas matas e l viviam em um estilo de vida que tinha como base, provavelmente, um tipo de sociedade que combinava o saber africano com as necessidades especficas que a vida nas florestas impunha, bem como, portanto, a influncia ind-

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Atividades e Exerccios1- Explique a importncia do acar como elemento que proporcionou as necessidades do sistema escravocrata no Brasil. 2- Comente sobre o equvoco corriqueiro de se espantar que negros escravizassem negros para posterior comercializao nas costas africanas. 3- Leia o texto complementar abaixo extrado do site Libertaria e de autoria dos professores Lcia Helena Storto e Sidney Aguilar Filho e reita sobre as condies de vida dos escravos no Brasil. Procure traar um paralelo com as condies de vida dos brasileiros em situao de miserabilidade ou expostos violncia nos dias de hoje.

Texto ComplementarO Mundo Negro Ao deparar com o termo trfico negreiro para explicar o comrcio de escravos africanos, voc pode ter imaginado que o ato de traficar era um comrcio ilegal ou coisa parecida, mas, na verdade, essa atividade integrava poltica oficial dos Estados mercantis europeus, interessados nos pesados impostos cobrados sobre os grandes lucros advindos desse comrcio. E foram exatamente esses lucros que, combinados necessidade de mo de obra nas colnias americanas, fizeram com que algumas das maiores companhias de comrcio da Europa se interessassem em participar dessas atividades. Lembremos ainda que garantimos o abastecimento de mo de obra mais barata e lucrativa da poca, o trfico interessava tambm aos senhores de engenho no Brasil. Toda essa lucratividade deve-se, em grande parte, s caracterstica desse comrcio. No Imprio Portugus, por exemplo, as principais formas de pagamento pelos negros na frica eram mercadorias produzidas no Brasil. Voc deve se lembrar que a produo de tabaco e cachaa, como dissemos, no captulo anterior, servia muitas vezes ao trfico negreiro. Agora voc vai fazer parte de uma histria que se inicia ainda no interior da frica. Sua tribo acaba de ser invadida e voc e outros sobreviventes so amarrados e arrastados at uma feitoria no litoral. Batizados no catolicismo fora, so negociados e embarcados em pores de navios. Sem banho ou alimentao adequada, a permanecem por mais de um ms, em geral amarrados. Muitos adoecem e outros tantos morrem. Enfim no Brasil, longe de casa e separado de sua famlia, voc exposto como produto em um mercado de escravos em Salvador. Os compradores aproximam-se, examinando-lhe os dentes, a musculatura e muitas vezes a genitlia. Comprando, voc levado a um engenho a alguns dias de viagem. Marcado a ferro quente, voc agora uma propriedade sujeita s vontades de seu senhor. Sua nova moradia um galpo sem janelas, onde convive com vrios negros e negras que na sua maioria nem falam sua lngua. Essa separao lingustica era proposital, pois dificultava a organizao de revoltas. O trabalho comea antes do amanhecer, sendo o ritmo ditado pelo chicote do capataz. Estende-se at o escurecer ou enquanto o senhor assim o quiser. (...) gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo sem momento de trguas nem de descanso: quem vir em m toda a mquina e aparato confuso e estrondoso daquela Babilnia, no poder duvidar, ainda que tenha visto Etnas e Vesvios, que uma semelhana do inferno (padre Antnio Vieira - 1633 / descrio de um engenho). Cansado, voc resiste. O resultado, uma surra de chicote. Com as costas sem pele e humilhado publicamente no pelourinho, voc agora conhece de perto todo o peso da palavra escravido. Deitado com salmoura nas costas, voc imagina o que pode fazer para fugir desse inferno. Lembrando-se da dor, dos possveis castigos de uma tentativa malsucedida, voc vacila. Descobre logo os seus nicos direitos: po, pano e paulada. Comida, vestes e castigos corporais. E o descanso? Com sor-

te, um dia por semana, que voc deve usar para plantar a sua substncia. Isso se o senhor permitir. Voc se questiona: Que mundo esse? Sero os negros naturalmente inferiores? Quais as justificativas para essa dominao? A escravido deve sempre ser entendida dentro de sua realidade histrica. A discusso sobre inferioridade ou superioridade racial por si s absurda. Naquela poca, contudo, a maioria dos brancos acreditava na sua superioridade, e os negros, distante de suas sociedades, eram submetidos humilhao do cativeiro. Isso no signica que todos os negros aceitassem tal realidade, mas alguns a ela se submetiam. Dentro desse mundo de proprietrios e propriedades, voc j percebeu o seu lugar. A vontade de resistir no se esgota, mas a realidade impe o trabalho e a espera da chegada de um momento propcio a uma nova tentativa de fuga. De preferncia para um quilombo. Numa noite, ao redor da fogueira, em um dos raros momentos livres, um negro recm-comprado, traz notcias da existncia de um lugar para onde muitos fugitivos tm se dirigido. Conta ele ainda que o lugar seguro e que, apesar de simples, possvel plantar e viver longe da escravido. Distante das terras do senhor no meio da mata ou no alto dos morros, a existncia do quilombo resgatou-lhe a f na liberdade. O medo dos castigos o leva a adiar a fuga e, se fugir no possvel no momento, resistir ainda o . Quebrar ferramentas, no trabalhar na ausncia do feitor, brigar ou ainda entrar em profunda depresso e cometer o suicdio, foram alternativas que nunca deixaram de existir. A resistncia sempre acompanhou a escravido durante todo o perodo escravista no Brasil. Inumerveis so os exemplos abordando conflitos, fugas e revoltas de negros contra seus senhores. Prticas anticonceptivas e de aborto eram profundamente disseminadas entre as negras escravas como forma de evitar que um filho nascesse escravo. Voltemos agora ao presente. Voc vive em um pas em que o racismo, apesar de muitas vezes camuflado, est muito presente no cotidiano, e sua existncia continua ameaando a liberdade dos indivduos. Em um pas onde a escravido dourou mais de trezentos anos, as relaes de dominao tornaram-se to comuns que, muitas vezes, passam despercebidas. O subemprego, a misria e o machismo so algumas de suas expresses. A viso equivocada do negro como inferior ou marginal, tem na escravido suas razes. Isso porque todo trabalho considerado "menor" era destinado aos negros, tais como os trabalhos domsticos e os da lavoura. Ainda hoje a manuteno dessa viso reflete-se nos baixos salrios e na desvalorizao do trabalho manual, o que favorece a concentrao de riquezas e a acentuao da pobreza. Fonte: site libertaria.

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Gabarito1- O accar converteu-se em produto de luxo que era desejado para o consumo, o ouro branco. Fabricar acar era empresa que necessitava de mo de obra farta. O grosso dessa mo de obra no Brasil foi constitudo por escravos negros, j que forneciam tambm lucros por conta de sua comercializao. 2- As sociedades africanas possuem um grau de diversidade cultural que a ideia de uma frica fundada na identidade negra completamente improcedente. Podemos inclusive armar que a identidade negra determinada pela cor da pele uma inveno do continente americano. 3- Sua resposta deve versar sobre uma reexo acerca das condies de vida e o tratamento dispensado aos escravos negros durante boa parte da histria brasileira. Procure tambm fazer relaes com a misria que ocorre hoje no Brasil com o racismo, bem como com a extrema desigualdade social da atualidade brasileira.

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Filme RecomendadoTtulo do lme: AMISTAD (Amistad, EUA, 1997). Direo: Steven Spielberg. Elenco: Morgan Freeman, Anthony Hopkins, Matthew McConaughey, Nigel Hawthorne, Djmon Housou, David Paymer, Anna Paquin; 162 min. TEMTICA Em 1839, dezenas de africanos a bordo do navio negreiro espanhol La Amistad matam a maior parte da tripulao e obrigam os sobreviventes a lev-los de volta frica. Enganados, desembarcam na costa leste dos Estados Unidos, onde, acusados de assassnios, so presos, iniciando um longo e polmico processo, num perodo onde as divergncias internas do pas entre o norte abolicionista e o sul escravista, caracterizavam o prenncio da Guerra de Secesso.

Leitura RecomendadaHistria da vida privada no Brasil: Cotidiano e vida privada na Amrica Portuguesa 1, um livro muito informativo e agradvel. Trata-se de uma obra coletiva, na qual vrios autores visitam formas de viver e pensar na poca colonial, abordando aspectos quase sempre esquecidos nos livros escolares. Escolha alguns captulos e conhea um pouco mais da vida privada no Brasil nascente. A coleo foi dirigida por Fernando Novais e este volume foi organizado por Laura de Mello e Souza. So Paulo: Companhia das Letras,1997. E ainda: ABREU, Joo Capistrano. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte/So Paulo: Itatiaia/ EDUSP, 1988. ARAJO, Ricardo Benzaquen de. Guerra e Paz: Casa-grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994. FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: Record, 1990. MAURO, Frdric. Portugal, o Brasil e o Atlntico. 1570-1670. Lisboa: Estampa, 1989.

Site RecomendadoAlm do site da MULTIRIO, recomendado nas aulas anteriores, conhea tambm o http://www.libertaria.pro. br/index.htm. Simples, sinttico e eciente. Um rico instrumento para ajudar a saciar a sua curiosidade.

Texto 2: Cultura IndgenaEm pleno sculo XXI, a grande maioria dos brasileiros ignora a imensa diversidade de povos indgenas que vivem no pas. Estima-se que, na poca da chegada dos europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhes de pessoas. Atualmente, encontramos no territrio brasileiro 230 povos, falantes de mais de 180 lnguas diferentes. A maior parte dessa populao distribui-se por milhares de aldeias, situadas no interior de 630 Terras Indgenas, de norte a sul do territrio nacional. Segundo os dados do Instituto Socioambiental (ISA), a populao indgena no Brasil atual est estimada em 600 mil indivduos, sendo que deste total cerca de 450 mil vivem em Terras Indgenas (e, em menor nmero, em reas urbanas prximas a elas), enquanto outros 150 mil encontram-se residindo em diversas capitais do pas. importante ressaltar que o censo populacional realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica (IBGE) indicou que a parcela da populao brasileira que se autodeclarou genericamente como indgena alcanou a marca de 734 mil pessoas. Sabemos que os ndios foram os primeiros habitantes do territrio brasileiro. So formados por povos diferentes com hbitos, costumes e lnguas diferentes. Os Ianommis falam quatro lnguas: a Yanomam, Sanum, Yanomame e Yanam. Suas habitaes so construdas de caibros encaixados, amarrados com cip e revestidas de palha. Possuem caractersticas seminmades, j que mudam de habitat quando acre-

ditam ter explorado uma regio ao mximo. So caadores e acreditam em rixis: espritos de animais que ao serem mortos tornam-se protetores e amigos. Os Carajs falam apenas uma lngua: a MacroJ. So divididos em Karajs, Javas e Xambios. Acreditam na transformao do homem em animais e vice-versa. Residem nas proximidades do rio Araguaia, pois acreditam que sua criao, rituais de passagem, alimento e alegria so dados por ele. Vivem do cultivo do milho, mandioca, batata, banana, car, melancia, feijo e amendoim, e prezam pela pintura corporal. Dividem o trabalho, ca para os homens a defesa do territrio, abertura de roas, construo das casas, pesca e outros. Para as mulheres, o trabalho de educar os lhos, cuidar dos afazeres domsticos, do casamento dos lhos, da pintura e ornamentao das crianas e outros. Os Guaranis manifestam sua cultura em trabalhos em cermica e em rituais religiosos. Possuem sua prpria lngua, somente ensinam o portugus s crianas maiores de seis anos. So migrantes e agricultores. Acreditam que a morte somente uma passagem para a terra sem males onde os que se foram partem para este local para proteger os que na Terra caram. Os Tupis so dominados por um ser supremo designado Monan. A autoridade religiosa dentro das aldeias o Paj, que um sbio que atua como adivinho, curandeiro e sacerdote. Utilizam a msica e seus instrumentos musicais para a preservao de suas tradies, para produzir efeitos hipnticos e para momentos de procriao, casamento, puberdade, nascimento, morte, para afastar agelos, doenas e epidemias e para festejar boas caadas, vitrias em guerras e outros. Existem cerca de 225 sociedades indgenas distribudas em todo o territrio brasileiro, correspondendo a 0,25% da populao do pas. Diante das culturas especcas de cada sociedade, somente algumas delas foram anteriormente destacadas. Lnguas do tronco tupiPalavras Mo P Caminho Eu Voc Me Pesado Marido Ona rvore Cair Awet (famlia Awet) po py me atit, ito en ty potyi men ta'wat 'yp 'at Munduruku (famlia Munduruku) by i e on en xi poxi itop wida 'ip 'at

Agora leiam sobre a miscigenao da Lngua Portuguesa com a inuncia indgena, vejamos que somos muito mais inuenciados pelo nosso histrico do que imaginamos. Antes mesmo da descoberta do territrio brasileiro j se falavam cerca de 1000 lnguas diferentes, decorrentes da diversidade indgena existente. Aps o descobrimento do Brasil, estabeleceram a lngua geral derivada do tupinamb para que os ndios e brancos se comunicassem. Quando o territrio passou a ser povoado por portugueses, houve uma grande confuso gerada pelo bilinguismo e a partir da o portugus se fez predominante no pas com data de 1758, em substituio lngua geral. A lngua portuguesa originada do latim vulgar que tambm se caracteriza como uma lngua neolatina que no perodo colonial passou a ser inuenciada pelas lnguas africanas trazidas pelos escravos, como o caso do quicongo, quimbundo, fon, ioruba e outras que passaram a ser usadas por pessoas que viviam em contato com os negros. Palavras de origem africana como fub, moleque, bunda, jab, cachimbo, acaraj e outras passaram a ser incorporadas ao vocabulrio brasileiro. Aps a independncia do Brasil, houve uma grande imigrao da Itlia e Alemanha para o pas, o que contribuiu com a diversicao de dialetos em diferentes regies do pas. Dessa forma, no correto pensar que a lngua pronunciada no Brasil de origem portuguesa somente, pois possui inuncia indgena, portuguesa, africana, italiana, alem e tantas outras aqui no citadas. Hoje, fcil miscigenar a lngua brasileira, pois com a constante presena de turistas de todas as partes e residentes de outras nacionalidades, faz-se uma nova lngua a cada dia.

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Comparando Palavras DiferentesVeja exemplos de como os linguistas descobrem lnguas "aparentadas":

Karitiana (famlia Arikm) py pi pa yn na ti pyti mana omaky 'ep 'ot

Tupari (famlia Tupari) po tsito ape on en tsi potsi men ameko kyp kat

Gavio (famlia Mond) pabe pi be ot eet ti patii met neko 'iip 'al-

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Lnguas da Famlia Tupi-Guarani (Tronco Tupi)Palavras Pedra Fogo Jacar Pssaro Ona Ele morreu "mo dele" Guarani Mby Tapirap it tat djakar gwyr djagwaret oman ip it tt txkr wyr txwr amn ip Parintintin it tat djakar gwyr djagwra oman ip Waiamp Lngua Geral do Alto Rio Negro takru tta iakre wra iwa omno po it tat iakar wir iawaret uman ip

Lnguas da Famlia J (Tronco Macro-J)Palavras P Perna Olho Chuva Sol Cabea Pedra Asa, pena Semente Esposa Canela par t t taa pyt khr khn haaraa hyy pr Apinay par t n na myt kr kn 'ara 'y pr Kayap par te n na myt kr kn 'ara 'y pr Xavante paara te t t bd 'r 'eene djr dj mr Xerente pra zda t t bd kr kne sdarbi z mr Kaingang pen fa kane ta r kri p fer fy pr

Lnguas da Famlia AruakPalavras Lngua gua Sol Mo Pedra Anta Karutana Warekena Tariana inene uni kamui kapi hipa hema inene one kamoi kapi ipa ema enene uni kamoi kapi hipada hema Bar nene uni kabi tiba tema Palikur nene une iwakti tipa aludpikli Wapixana Apurin nenuba wene kamoo kae keba kudoi nene weni atukatxi piu kai kema Waur Yawalapit nei une kamy kapi typa teme niati u kame kapi teba tsema

kamuhu kamoi

Quando falamos da cultura indgena no podemos esquecer da relao dos ndios com o meio ambiente. Mesmo no sendo naturalmente ecologistas, aos povos indgenas se deve reconhecer o crdito histrico de terem manejado os recursos naturais de maneira branda. Souberam aplicar estratgias de uso dos recursos que, mesmo transformando de maneira durvel seu ambiente, no alteraram os princpios de funcionamento e nem colocaram em risco as condies de reproduo deste meio. Apesar de no serem "naturalmente ecologistas", os ndios tm conscincia da sua dependncia no apenas fsica, mas sobretudo cosmolgica em relao ao meio ambiente. Em funo disso, desenvolveram formas de manejo dos recursos naturais que tm se mostrado fundamentais para a preservao da cobertura orestal no Brasil. Mas, atualmente, como est a populao indgena no Brasil? Onde eles esto? A populao indgena total tem crescido nos ltimos 28 anos, embora povos especcos tenham diminudo demogracamente e alguns estejam at ameaados de extino. Na listagem de povos indgenas no Brasil elaborada pelo ISA, sete deles tm populaes entre 5 e 40 indivduos. Dos 227 povos listados 43 tm parte de sua populao residindo em outro(s) pas(es). Mesmo quando h informaes demogrcas a respeito, essas parcelas no foram consideradas nem na estimativa global para o Brasil nem para esta classicao:

50 povos (22,0%) tm uma populao de at 200 indivduos; 49 (21,5%) entre 201-500; 30 (13,2%) entre 501-1.000; 53 (23,3%) entre 1.001-5.000; 11 (4,8%) entre 5.001-10.000; 07 (3,0%) entre 10.001-20.000; 03 (1,3%) entre 20.001-30.000; 02 (0,8%) com mais de 30.000. Os povos indgenas contemporneos esto espalhados por todo o territrio brasileiro. Vrios desses povos tambm habitam pases vizinhos. No Brasil, a grande maioria das comunidades indgenas vive em terras coletivas, declaradas pelo governo federal para seu usufruto exclusivo. As chamadas Terras Indgenas (TIs) somam, hoje, 611. Na Amaznia Legal que composta pelos estados do Amazonas, Acre, Amap, Par, Rondnia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte oeste do Maranho vivem 60% da populao indgena. possvel estimar em cerca de 10 a 15% os ndios que vivem em cidades, mas ainda no existe um censo convel a esse respeito. O reconhecimento das Terras Indgenas por parte do Estado (processo de demarcao) um captulo ainda no encerrado da histria brasileira. Muitas delas esto demarcadas e contam com registros em cartrios, outras esto em fase de reconhecimento; h tambm reas indgenas sem nenhuma regularizao. Alm disso, diversas TIs esto envolvidas em conitos e polmicas.

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Texto 3: As Influncias dos ImigrantesPodemos considerar o incio da imigrao no Brasil o ano de 1530, pois a partir deste momento os portugueses vieram para o nosso pas para dar incio ao plantio de cana-de-acar. Porm, a imigrao intensicou-se a partir de 1818, com a chegada dos primeiros imigrantes no portugueses, que vieram para c durante a regncia de D. Joo VI. Devido ao enorme tamanho do territrio brasileiro e ao desenvolvimento das plantaes de caf, a imigrao teve uma grande importncia para o desenvolvimento do pas, no sculo XIX. Em busca de oportunidades na terra nova, para c vieram os suos, que chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os alemes, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, So Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e Brusque), os eslavos, originrios da Ucrnia e Polnia, habitando o Paran, os turcos e os rabes, que se concentraram na Amaznia, os italianos de Veneza, Gnova, Calbria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para So Paulo, os japoneses, entre outros. O maior nmero de imigrantes no Brasil so os portugueses, que vieram em grande nmero desde o perodo da Independncia do Brasil. Aps a abolio da escravatura (1888), o governo brasileiro incentivou a entrada de imigrantes europeus em nosso territrio. Com a necessidade de mo de obra qualicada, para substituir os escravos, milhares de italianos e alemes chegaram para trabalhar nas fazendas de caf do interior de So Paulo, nas indstrias e na zona rural do sul do pas. Todos estes povos vieram e se xaram no territrio brasileiro com os mais variados ramos de negcio, como por exemplo, o ramo cafeeiro, as atividades artesanais, a policultura, a atividade madeireira, a produo de borracha, a vinicultura etc.

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Nos dias atuais, observamos um novo grupo imigrando para o Brasil: os coreanos. Estes no so diferentes dos anteriores, pois, da mesma forma, vieram acreditando que podero encontrar oportunidades aqui que no encontram em seu pas de origem. Eles se destacam no comrcio, vendendo produtos dos mais variados tipos (alimentos, calados, vesturio, acessrios at artigos eletrnicos). Embora a imigrao tenha seu lado positivo, muitos pases, como os Estados Unidos, procuram dicultla e, sempre que possvel, at mesmo impedi-la para, desta forma, tentar evitar um crescimento exagerado e desordenado de sua populao. Cada vez mais me-

didas so adotadas com este propsito e uma delas a diculdade para se obter um visto americano no passaporte. O processo imigratrio foi de extrema importncia para a formao da cultura brasileira. Esta, foi, ao longo dos anos, incorporando caractersticas dos quatro cantos do mundo. Basta pararmos para pensar nas inuncias trazidas pelos imigrantes, que teremos um leque enorme de resultados: o idioma portugus, a culinria italiana, as tcnicas agrcolas alems, as batidas musicais africanas e muito mais. Graas a todos eles, temos um pas de mltiplas cores e sabores. Um povo lindo com uma cultura diversicada e de grande valor histrico.

Texto 4: Excluso Social 1Todos sabem que a dvida externa responsvel por uma das marcas mais perversas da sociedade brasileira: a excluso social, que se agudiza numa economia de mercado. Neste texto abordaremos o modelo econmico e a excluso social. O governo Collor iniciou um padro de desenvolvimento baseado numa menor interveno do Estado na economia, na reviso de leis trabalhistas, na concorrncia entre capitais nacionais e estrangeiros e na tentativa de incorporao de novos nveis de competitividade industrial. No entanto, o que se observa que nem toda a sociedade brasileira tem se beneciado da modernizao da economia. H considerveis contingentes da populao que cam impedidos de acesso aos bens mais essenciais, por conta de uma organizao econmica que se pauta pelo mercado. custo elevado para as empresas, afetando a sua competitividade no mercado. O que se tem dito da economia atual que ela tem nos levado a perder o sentido de bem comum. Os crticos desse modelo tm alertado para o fato de que os efeitos da modernizao do, ao mudo atual, uma configurao bastante heterognea, que, na tica de Flix Guatari, no cria motivaes s atividades de trabalho dos indivduos e gera um polo de misria absoluta e um outro polo de riqueza inacessvel. Nesse texto vamos tratar exatamente da relao entre modernizao e excluso social. Com a modernizao no nal do sculo XX, as exigncias sociais aumentaram, especialmente no Brasil e em outros pases subdesenvolvidos, que passaram de uma sociedade rural, agrcola e de autossucincia/mercado local para uma sociedade urbana, terciria e guiada pelo mercado mundial. Essa modernizao da economia, como no podia deixar de ser, exigiu inovaes tecnolgicas na indstria e no setor de servios, que promoveram uma absoro insuciente da mo de obra disponvel.O resultado foi o desemprego e o crescimento das atividades ditas informais. Isso o que podemos chamar de modernizao excludente: destruio das atividades tradicionais e a no incluso dos destitudos no setor moderno. No por outra razo que, num pas como o Brasil, cifras elevadas da populao no participam do mercado (OLIVA & GIANSANTI, 1994:73).

Fique atento!O que vem a ser economia de mercado? Fundamentalmente um processo de trocas no qual a informao relativa aos preos leva em considerao a oferta e a demanda. Mas a oferta e a demanda, que regem o mercado nanceiro, so processos isentos de preocupao com as responsabilidades sociais do Estado. Segundo o megainvestidor George Soros, os mercados nanceiros so amorais. Neles nunca contam valores morais. Desta forma, o mercado mundial passou a ser o teatro privilegiado da guerra tecnolgica, industrial e comercial entre os grandes grupos mundiais e empresas multinacionais, onde a solidariedade e o estado do bem-estar social passaram a ser considerados um

Temos hoje, no Brasil, uma grande massa de trabalhadores subempregados ou desempregados, de duas espcies distintas. Uma se origina num processo de moderni-

1 Extrado e adaptado do instrucional da disciplina Contextos Brasileiros

zao dependente, que caracterizado pela instabilidade econmica, isto , pelas crises econmicas, que implicam demisso em massa, o desemprego conjuntural; outra, no fato da urbanizao no ter sido acompanhada pela gerao de empregos na indstria e no setor de servios ou ser resultante da falta de investimentos educacionais que formassem uma mo de obra qualicada para acompanhar os avanos tecnolgicos, tanto para o setor secundrio como para o setor tercirio, o desemprego estrutural. Observem o quadro que apresenta um outro grande problema desse contexto, a concentrao de renda. Distribuio de renda no Brasil Categorias 60% mais pobres 30% intermedirios 10% mais ricos 1960 23,4% 37% 39,6% 2000 18% 34% 47,6%

Os estudos sobre distribuio de renda demonstram que o Brasil continua a ser um pas de grandes desigualdades sociais. fcil entender, portanto, dentro deste quadro, como foi gerada a excluso de que so vtimas parcelas considerveis da populao brasileira. Como no acumularam riquezas, dependem do trabalho, do emprego, uma vez que a sociedade urbana , em essncia, uma sociedade mercantilista, que no tem lugar para a autossuficincia. Quem no tem bens e no se integra ao mundo do trabalho passa a ser excludo socialmente. As crticas a esse modelo de modernizao se originam do fato de ele acarretar a submisso dos interesses sociais aos do desenvolvimento econmico, provocando desigualdades profundas entre os pases e, dentro dos pases dependentes, excluso de numerosos grupos sociais, que no tm acesso aos bens produzidos, educao, sade, moradia e ao emprego.

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Fontes: IBGE. Recenseamento geral de 1960/ Banco Mundial. World Development Report, 2001.

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UNIDADE IIFORMAO DA SOCIEDADE BRASILEIRAEsse pas, que atualmente representa uma grande nao em tamanho e diversidade com caractersticas especcas, constituiu-se atravs dos anos com forte apego ao seu contexto histrico. Para tentar entender aspectos fundamentais que inuenciam a sociedade atual, faz-se necessrio compreender o processo de formao da sociedade brasileira. Faremos isso atravs do estudo da disciplina Brasil: Contextos e Atualidades. A priori teremos que retornar nosso pensamento ao perodo que marcou o incio da formao do Brasil.

Texto 5: As Razes do Modelo Capitalista BrasileiroCom a crise da sociedade baseada no modelo feudal de produo, aparecem novas relaes produtivas, que levaram formao da sociedade capitalista. Essa mudana de modelo feudal para sociedade atual ocorreu lentamente, tendo alguns fatores e marcos histricos relevantes para a sociedade mundial. Na chamada era Moderna, a sociedade europeia encontrava-se cercada com um novo processo de produo e consumo. Iniciava-se a sociedade moderna capitalista. Enquanto o novo modelo leva s naes europeias um desenvolvimento notrio, cujas diversas transformaes acentuam uma grande modernizao, o Brasil encontra-se preso a uma estrutura que impede esse desenvolvimento. Para compreendermos esse contexto contraditrio vivenciado no Brasil, preciso compreender que o desenvolvimento dos pases europeus aconteceu custa da explorao de alguns territrios do continente americano, entre eles o Brasil. Cabe nesse momento reetirmos sobre os contextos que permeiam a formao da sociedade brasileira no perodo histrico do Brasil Colnia e as transformaes com o Imprio. Por trs sculos, o Brasil foi uma colnia portuguesa, pautada na poltica econmica do Pacto Colonial que s beneciava a Metrpole. A colnia era dependente da vontade da metrpole e considerava-se como mais desejvel a importao da cultura e dos comportamentos da Metrpole do que a celebrao de uma identidade prpria. O pacto colonial era o ponto culminante do sistema colonial mercantilista (sculos XVI, XVII e XVIII), um conjunto de procedimentos colocados em prtica pelas potncias martimas, visando tornar as suas colnias fontes de enriquecimento. Podemos destacar entre esses procedimentos aqueles mais comuns, que caracterizaram o sistema colonial mercantilista: a Colnia deveria ser um mercado consumidor; uma fornecedora de produtos comerciais; deveria fazer comrcio apenas com a metrpole e respeitar os monoplios. Nesse sentido a Colnia era entendida como uma produtora de riqueza para a metrpole. Mas como a Europa e Portugal transformaram-se em metrpoles de uma nova ordem mundial? E como o Brasil entra nesta nova ordem, desempenhando qual papel? O nal da Idade Mdia foi marcado, dentre outros fenmenos, pela recuperao econmica baseada no comrcio. Da a nfase no mercantilismo. Porm essa recuperao no se deu apenas pelo aquecimento das antigas rotas comerciais, tradicionalmente dominadas pelos italianos, que levavam os produtos do Oriente at a Europa. Os caminhos terrestres, que atravessavam desertos e territrios dominados por naes inimigas, tornavam-se cada vez mais perigosos. Era importante estabelecer novas vias de acesso s terras das especiarias para baratear os custos das negociaes e escapar do monoplio italiano. Para as naes modernas, que se queriam poderosas e tentavam fortalecer o poder dos monarcas, encontrar novos recursos econmicos, que trouxessem mais dinheiro para os cofres reais, era muito importante. Portugal era um pequeno pas apertado entre a poderosa Espanha e o desconhecido e temido Atlntico. Era relativamente pobre em recursos naturais, com um artesanato incipiente e uma populao que no ultrapassava um milho e meio de habitantes. Embora tenha sido a primeira nao moderna da Europa, o considervel avano poltico carecia de iniciativas que a mantivesse autnoma e a colocasse no concerto

das novas tendncias econmicas. Havia, custa de sangrentas e longas batalhas, conquistado a autonomia poltica em relao Espanha, da qual fora apenas um condado. Mas precisava consolidar esta importante conquista, criando recursos e sadas para o seu precrio equilbrio econmico. Enfrentar a poderosa ex-senhora e vizinha Espanha no parecia ser uma atitude prudente. Ento restava aos portugueses a vastido do mar. O mar tenebroso, lendrio por suas criaturas estranhas e desconhecidas, famoso pelos seus perigos, reconhecido como o limite do mundo. E nesta vastido que se lana Portugal! De uma hora para outra? No! Foi um processo paulatino, marcado por duas tendncias. Vejamos. Por um lado, a prtica pesqueira; por outro, a rota comercial Mediterrneo-Mar do Norte. Com uma costa considervel, a atividade pesqueira em Portugal foi naturalmente cultivada. E quem pesca, navega. Mesmo que timidamente, cando, a princpio, nas proximidades da praia, os pescadores foram dominando cada vez melhor as tcnicas de navegao, a leitura das estrelas, o conhecimento sobre o regime dos ventos e mars. Esses conhecimentos permitiam que fossem cada vez mais longe em busca de melhores pescarias. E quanto mais longe se ia mais se aprendia sobre os mistrios deste mar tenebroso que, durante sculos, representou uma barreira intransponvel para a expanso portuguesa e, por que no dizer, europeia. Os produtos que chegavam Itlia do Oriente para serem depois distribudos pela Europa eram transportados por mar e por terra. Atingiam as regies mais setentrionais por longos caminhos que cortavam o continente. Mas esses percursos eram caros e perigosos. No nal da Idade Mdia e princpio da Idade Moderna, a rota martima apresentava vantagens sobre a terrestre. Era mais barata, porque transportava maior quantidade de carga. Ento os barcos mercantes saam do Mediterrneo e passavam em Portugal para chegar ao Mar do Norte. Lisboa cresce como um entreposto comercial. Seu porto cada vez mais frequentado por navegadores de vrias procedncias. Muitos navegadores e muitas informaes sobre a arte de navegar. Isso, somado experincia acumulada na atividade pesqueira, vai fazendo de Portugal um importante centro de navegao.

Agora voc tem elementos preciosos para compreender o que o pacto colonial e o sistema mercantilista. Analise. A metrpole, no sistema colonial mercantilista, a sede de uma ocupao territorial. Portugal no construiu sozinho este sistema. Ele estava inserido num amplo e complexo movimento de transformao do mundo, tanto nos aspectos econmicos como nos geogrcos e, claro, nos culturais tambm. Na medida em que se navegava para fora dos limites do mundo conhecido e terras desconhecidas eram descobertas, incorporavam-nas s posses das metrpoles. Nesta nova lgica econmica, a produo de riquezas estava baseada na troca de mercadorias. Elas eram produzidas em vrias partes do mundo, mas os lucros gerados com a sua negociao deveriam se concentrar nos cofres das monarquias e dos comerciantes. Se cada terra desconhecida e descoberta permanecesse livre para produzir e comerciar com qualquer potncia martima expansionista, o lucro gerado pelo empreendimento comercial seria consumido nas prprias colnias ou seriam escoados para pases concorrentes. A estratgia, ento, era gerar um tipo de administrao que coibisse a livre circulao comercial, resguardando metrpole o monoplio comercial: a colnia s podia negociar com a sua metrpole, aquela que a descobriu e/ou conquistou. Observamos at agora nesse contexto histrico do Brasil o que chamamos de contradio histrica. O Brasil possua inmeras riquezas que, como vimos, no eram aproveitadas para o crescimento do nosso pas. Tudo era utilizado para acelerar a acumulao de capital para a burguesia europeia. A colonizao brasileira traz como sua marca principal a explorao do territrio. Esse fato marcou em vrios aspectos a constituio da nossa sociedade. Temos que ter em mente que o Brasil no foi colonizado para constituir uma nao, a ideia principal era explorar para acumular riquezas para os pases europeus. A riqueza produzida no Brasil era levada para a Coroa Portuguesa, deixando apenas uma parcela que cava nas mos das elites. Cabe-nos nesse momento lembrarmos que, por um perodo, o Brasil nem despertou interesse para Portugal. Vamos ler o texto complementar a seguir e reetir sobre esse perodo?

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O Perodo Pr-Colonial Luis Deulefeu Em 22 de Abril de 1500, a esquadra comandada por Pedro lvares Cabral, que tinha como destino as ndias e como objetivo o comrcio de especiarias, ocializa o descobrimento do Brasil. Depois de um breve contato com os naturais da terra a esquadra segue o seu destino. A colonizao no comea imediatamente. Os portugueses, antes de 1532, data da fundao da Vila de So Vicente, limitam a sua ao explorao do pau-brasil e ao envio de algumas expedies, que tinham a tarefa de reconhecer a terra e proteg-la da cobia de outras naes expansionistas. Porm, mesmo sendo possvel dizer que o Brasil foi descoberto em 1500 e em 1500 esquecido, importante armar que o chamado perodo pr-colonial preparou os momentos posteriores. Levemos em considerao as seguintes circunstncias: Primeira - Quando os portugueses, comandados por Cabral, partiram de Lisboa, eles no buscavam exatamente novas terras. No era, como s vezes somos levados a crer, uma viagem de descobrimento. Tratavase, sim, de uma viagem de contato comercial. O descobrimento do Brasil apenas um captulo na histria da expanso martima e comercial europeia. O que se buscava poca era um caminho alternativo para as especiarias, conjunto de produtos de grande valor mercadolgico. Quer isto dizer que os portugueses estavam preparados para viajar longas distncias e fazer acordos diplomticos e comerciais, mas construir mundos no. Na medida em que navegavam, novas ilhas e continentes eram descobertos. E dentro do possvel e dos interesses econmicos, eram incorporados s rotas comerciais. A insero destas novas descobertas no universo de interesses dos portugueses era paulatinamente preparada. Segunda - Quando as quilhas das embarcaes portuguesas chegaram praia, nada, ou quase nada, sabia-se sobre o local e sua gente. A terra era grande ou pequena? Os habitantes eram hostis ou receptivos? Que lnguas falavam? s indagaes, poucas respostas. Conhecia-se aquilo que se dava aos olhos. No parece justo pensar que os protagonistas do achamento do Brasil desviassem o foco das ndias, terra de tantas riquezas conhecidas, para investir no desconhecido e incerto. Podemos concluir que fazer o reconhecimento da lngua dos habitantes e de seus costumes, das riquezas e extenso da terra, da qualidade de suas guas e frutos, do clima e da topograa gurasse como um procedimento estratgico. E assim foi. Para comear, dois degredados foram deixados para coletar informaes e estreitar o contato com os habitantes. E apenas alguns anos depois, algumas feitorias foram construdas para servir de entrepostos comerciais. Mas o que seria comercializado? O pau-brasil. Antes, vale considerar que o perodo batizado de pr-colonial foi uma espcie de laboratrio. Um tempo em que os portugueses avaliaram e reconheceram as potencialidades da nova descoberta e tentaram encontrar uma serventia para ela. Um tempo de aprendizado e de aproximao. Caminha, o escrivo da armada, homem versado em letras e funcionrio especializado na arte da escrita, enviou ao rei de Portugal uma missiva na qual narrava os lances do achamento da terra e do que nela se passou nos oito dias em que estiveram aqui. Neste mesmo dia, hora de vspera, avistamos terra! Primeiramente um grande monte, muito alto e redondo; depois, outras serras mais baixas, da parte sul em relao ao monte e, mais, terra ch. Com grandes arvoredos. Ao monte alto o capito deu o nome de Monte Pascoal; e terra, Terra de Vera Cruz (Carta de Caminha, 77). Trata-se de uma carta de extrema importncia. Ela a certido de nascimento do Brasil. Um documento que descreve a terra e suas caractersticas mais salientes. Que fala dos habitantes como seres bons e lindos. E uma daquelas moas era toda tingida, de baixo a cima, daquela tintura; e certamente era to bem feita e to redonda, e sua vergonha que ela no tinha! to graciosa, que as muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feies, provocaria vergonha, por no terem as suas como a dela (Carta de Caminha, 83). Carta que, ao nalizar, aponta algumas serventias para a terra descoberta, traando de antemo alguns rumos da histria. Porm, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza deve lanar. E que no houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza esta pousada para a navegao de Calicute, isso bastava (Carta de Caminha, 98).

Ou seja, se no servisse para nada, o Rei deveria catequizar os ndios e poderia usar a terra para pousada, momento das longas viagens transocenicas destinado ao descanso da tripulao, reparo dos barcos e abastecimento de gua e alimentos frescos. Devemos levar em considerao que Portugal no era o nico pas europeu a navegar por mares nunca antes navegados. E se, por descuido ou desinteresse, deixasse as suas descobertas abandonadas, outros viriam apossar-se delas. Estamos diante de um agudo problema. Por um lado Portugal no dispunha de homens para ocupar as novas terras e nem queria utilizar os seus recursos tcnico-navais para garantir a posse de um territrio que rendia poucos lucros. Por outro lado, a constante ameaa de ter as terras invadidas exigia uma atitude. As feitorias de explorao do pau-brasil foram a primeira estratgia de ocupao e manuteno da nova descoberta. O pau-brasil era madeira valiosa. Sua seiva de cor vermelha desempenhava importante funo na indstria do tecido, tingindo-os com mais qualidade, durabilidade e a preos baixos. A extrao do pau-brasil torna-se uma exclusividade da coroa. Ela tinha os direitos de explorao, que eram alugados iniciativa privada, mediante o pagamento de taxas acordadas entre as partes. Ricos comerciantes compravam o direito de vir ao Brasil, extrair a madeira e vend-la no mercado europeu. Em troca, pagavam altas somas coroa, que assim conseguia obter lucros sem investir. Alm de pagar pelo direito de comercializar o pau-brasil, os comerciantes assumiam a responsabilidade, nem sempre observada, de proteger e mapear o litoral. Assim as feitorias emergem como laboratrios de encontro cultural, pois portugueses e ndios relacionavam-se na organizao do abate, transporte e armazenamento da madeira. Alm disso, as feitorias serviam como pontos de defesa e posse das terras. O perodo pr-colonial assim chamado pela ausncia de um processo efetivo de colonizao. Mas no pode ser desprezado, como se representasse apenas o esquecimento de Portugal em relao nova terra. Deve ser compreendido como uma estratgia de aproximao e preparao para os lances que futuramente caracterizariam a espantosa tarefa de criar uma colonizao em terras tropicais numa escala gigantesca.

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AtividadesA partir do texto apresentado, responda s seguintes questes: 1) Aprendemos que contexto um conjunto de circunstncias que pode caracterizar o momento histrico e cultural de um povo. Faa uma pequena investigao e escreva em duas etapas sobre o contexto em que voc vive. Na primeira o contexto brasileiro atual, na segunda o contexto da sua comunidade. 2) O perodo pr-colonial apresenta caractersticas prprias, que o diferem das posteriores fases da colonizao portuguesa no Brasil. Comente como o contexto da expanso comercial europeia dos sculos XV e XVI explica o referido perodo. 3) Alm do econmico, qual o papel desempenhado pelas feitorias no perodo pr-colonial?

GabaritoCaro aluno, em seguida voc encontrar um guia de resoluo das atividades propostas. 1) Faa um apanhado dos aspectos gerais que caracterizam o Brasil hoje. Pode ser da rea educacional, social, poltica econmica ou cultural. Voc escolhe. Escreva um pargrafo utilizando os aspectos que voc agrupou no seu apanhado. Depois faa o mesmo em relao comunidade em que voc vive. 2) Sendo a expanso martima um movimento primordialmente mercantil, a colonizao no estava nos planos iniciais da coroa portuguesa. 3) O papel de laboratrio da colonizao. Na medida em que consideramos as diculdades inerentes aos primeiros contatos entre portugueses e indgenas, diculdades oriundas inclusive da quase impossibilidade na comunicao, podemos entender que o laboratrio refere-se a aprender o que a terra e sua gente.

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Dicas de EstudoFilme recomendado Indicaremos um lme bastante interessante, que integra aventura aos contatos entre europeus e indgenas nos primeiros anos do Brasil. Trata-se de Hans Staden, baseado no texto de um aventureiro alemo, que, depois de prestar dois anos de servio no forte de Bertioga, foi aprisionado pelos ndios. O lme uma produo bem cuidada que nos aproxima do cotidiano dos ndios, do ritual de antropofagia, que tanto apavorava os europeus, e dos conitos que marcaram o encontro entre europeus e tribos indgenas. O lme foi dirigido por Luiz Alberto Gal Pereira e lanado em 2000, aproveitando o clima comemorativo dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Leitura recomendada Quer ampliar os seus conhecimentos sobre os ndios e os primeiros contatos com os europeus? Quer fazer isso lendo um livro muito bem escrito, sobre uma belssima histria que mistura aventura, navegao, descobrimento e compromisso tico? Ento leia o muito bem pesquisado e escrito livro de Leyla Perrone-Moiss, Vinte Luas. Viagem de Paulmier de Gonneville ao Brasil: 1503-1505. So Paulo: Companhia das Letras, 1992. Trata-se de uma tima obra, que retraa a histria de um navegador francs que vem ao Brasil, na Regio Sul, no comeo do sculo XVI, e leva consigo o lho do chefe de uma tribo, mediante a promessa que o traria de volta em vinte luas. Uma leitura instigante e informativa. E ainda: AZANHA, Gilberto & VALADO, Virgnia Marcos. Senhores destas terras. Os povos indgenas no Brasil: da colnia aos nossos dias. So Paulo: Atual, 1991. BARRETO, Lus Filipe. Descobrimentos e Renascimento. Formas de ser e pensar nos sculos XV e XVI. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983. CASTRO, Silvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha: O descobrimento do Brasil. Porto Alegre: L&PM, 1996. GIUCCI, Guilhermo. Viajantes do Maravilhoso. O Novo Mundo. So Paulo: Companhia das Letras, 1992 LOPES, Luis Roberto. Histria do Brasil Colonial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros sculos. So Paulo: Contexto, 1994. WEHLING, Arno & WEHLING, Maria Jos. Formao do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. Site recomendado A prefeitura do Rio de Janeiro, com a MULTIRIO, empresa ligada Secretaria de Educao, desenvolveu um site muito bem feito, com amplo material e de fcil consulta sobre o Brasil Colonial. uma tima fonte de pesquisa, com textos simples e corretos e boas ilustraes: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/index.html. Para ler a Carta de Caminha, faa uma busca na Internet ou acesse o site http://www.dominiopublico.gov.br.

Texto 6: O Processo de ModernizaoIniciou-se uma redenio desse quadro com a vinda da Famlia Real. A invaso francesa na Pennsula Ibrica, sob o comando de Napoleo, provocou um acontecimento inesperado: a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil. At aquele momento, no existia uma proposta ou ideia poltica de formar uma sociedade no Brasil. Vejam o filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati. Para aqueles que assistiram ao lme Carlota Joaquina, de Carla Camurati, devemos ressaltar que os personagens e os acontecimentos histricos foram apresentados de forma caricata. Mas no to distante da realidade. Anal, sabemos que eles no vieram para o Brasil com o intuito de xar a Coroa aqui, pois vieram estrategicamente fugindo de Napoleo.

Fique atento!Cabe lembrar que essa transferncia da Corte para o Brasil foi patrocinada pelo governo britnico. Com isso, poderamos pensar: essa seria nossa primeira dvida externa? Ainda com fortes marcas da colonizao exploratria no Brasil com a instalao da Corte Portuguesa na Colnia, observaram-se algumas substituies das prticas mercantilistas existentes no pacto colonial. Os portos brasileiros foram abertos s naes amigas; manufaturas so abertas; foi fundado o Banco do Brasil; criada a Imprensa Rgia, o Jardim Botnico,

Museu Real; escolas, fbricas e indstrias so instaladas e ocorrem articulaes que visam a modernizao do Brasil. Percebemos, ento, analisando esses fatos, que no Brasil o incio para as transformaes comea a aparecer. As mudanas eram notrias, desde suas instituies econmicas, polticas e sociais, como tambm na sociedade, com o surgimento de novos personagens e grupos de poder, sempre relacionados a uma elite e no ao povo. O perodo em que a Corte esteve no Brasil j havia trazido uma fase independente e as transformaes ocorridas j tinham se xado com novas ideias. A independncia do Brasil, em 7 de setembro de 1822, ocorreu de forma pacca se for comparado ao restante da Amrica Latina. Apesar dessas iniciativas e acontecimentos, o desenvolvimento do Brasil ainda era lento. A hegemonia poltica e econmica do Brasil era protecionista, defendia os interesses da elite que era formada em parte por produtores de caf e outros produtos agrcolas. fcil encontramos marcas desse perodo por que nosso pas passou. Nosso papel compreendermos que tudo isso inuenciou a formao da sociedade brasileira e est reetido em nosso contexto atual. Anal fomos marcados por trezentos anos de atraso em seu desenvolvimento no perodo colonial. O Brasil, com a vinda da Famlia Real portuguesa em 1808, comea a passar por transformaes que o levaria a um processo de desenvolvimento mais ntido. Algumas estruturas do Brasil Colnia comeam a modicar. Contudo, a lgica do capitalismo segue mantendo alguns aspectos iguais aos do seu incio. Antes vamos acontecer o surgimento de modelo comercial que enriquecia a Europa atravs da explorao das colnias. No desenvolvimento do capitalismo industrial no foi diferente. Com a Revoluo Industrial baseada na ideologia liberal o olhar sob a explorao muda, mas os interesses ainda so constitudos em favor do enriquecimento de uma elite. No existe um pensamento de prosperidade ao povo, a ideia bsica ampliar o mercado consumidor para aumentar e concentrar os lucros nas mos das elites, atravs da explorao de mo de obra desrespeito s questes de idade, sexo etc. Nesse contexto temos o Brasil ainda sem a ideia de formao de uma sociedade. Vamos reetir um pouco mais sobre a estrutura social e as ideologias polticas?

Instalou-se com o capitalismo industrial a estrutura da sociedade moderna. Formada por classes polarizadas, onde encontramos de um lado a gura da burguesia, a elite econmica e poltica que comanda e detm o poder da sociedade. Do outro lado, temos a classe trabalhadora, que se encontra no outro extremo dessa estrutura. Vamos pensar sobre esse quadro que se formou no sculo XIX. Ele diferente do Contexto que encontramos hoje? Em meio a esse contexto, no Brasil, essas transformaes se manifestam com razes no passado. A modernizao brasileira se mostrava atravs da existncia de alguns bancos, companhias de seguro, de transporte a vapor, de transporte urbano e de transporte ferrovirio. Muitas iniciativas progressistas no Brasil vieram de uma das guras mais representativas do empreendedorismo brasileiro. Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mau, tentou dar um novo rumo ao desenvolvimento do Brasil, mas no conseguiu muito. Vejam o lme Mau. Mesmo com essa viso empreendedora Mau faliu. O que colaborou com esse fato foi a hegemonia econmica e poltica dos produtores de caf e de outros produtos agrcolas, que se privilegiavam da poltica protecionista que existia na poca. Encontrvamos como realidade o comando poltico de uma burguesia cafeeira, que se mantinha por encontrarmos no Brasil uma sociedade presa ao passado. Nesse contexto o coronelismo e o voto de cabresto marcaram extremamente a sociedade, que carregou traos desse quadro por muito tempo. Vale lembrar que ainda temos em nossa histria recente exemplos dessa relao de poder, na qual encontramos pessoas que tomam para si o poder, onde o Estado est ausente. Voc lembra de algum caso em que essa relao ntida nos dias atuais? Para continuarmos nossos estudos, precisamos ter em mente que o Brasil, como os demais pases da Amrica Latina, iniciou sua industrializao por um processo conhecido como substituio de importaes e que consistia em produzir, em territrio nacional, parte do que era destinado ao mercado de consumo local. O processo de substituio de importaes se caracterizava por: produzir apenas para o mercado interno; depender do Estado para a criao da infraestrutura necessria para a circulao de mercadorias; ter um parque industrial constitudo predominantemente de liais

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de empresas internacionais; e remeter para o exterior, aos pases-sede das empresas, os lucros da produo.

lista, por meio das transformaes que comandou e coordenou no sentido da implantao de um parque industrial brasileiro. Foi esse Estado intervencionista o responsvel pelo segundo surto industrial no pas. Segundo Almeida e Rigolin (2004: 394),Vargas foi o responsvel pela infraestrutura necessria para a instalao de indstrias Getlio no pas no perodo de seu primeiro governo (1930-1945). Entre suas realizaes esto a Companhia Siderrgica Nacional (CSN), organizada em 1941 e posta em funcionamento em 1946, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, e a mineradora Companhia Vale do Rio Doce, instalada em 1942, em Minas Gerais. Tambm fundou, em 1943, a Fbrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia Hidreltrica do So Francisco, em 1945. Durante seu segundo mandato (1950-1954), foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE) em 1952 e, no ano seguinte, foi instituda a Petrobras (Petrleo Brasileiro S/A) (ALMEIDA & RIGOLIN, 2004: 394).

Getlio e JK: Incio e Consolidao da IndustrializaoO Brasil chega ao sculo XX como um pas fundamentalmente agrcola, tendo como seu principal produto o caf. A economia brasileira em ascenso era ligada a agroexportao. Nesse perodo tanto a arte como a economia marcaram o Brasil. Economicamente o nosso pas crescia apoiado ao eixo de desenvolvimento dos estados do Rio de Janeiro e de So Paulo. Na sociedade brasileira a modernidade comea a apresentar-se atravs de manifestaes artsticas que romperam com os padres da poca, na Semana da Arte Moderna de 1922. Mas o desgaste da poltica das oligarquias e o descontentamento com o governo levam crise da Repblica Velha, que leva Revoluo de 30 e Era Vargas. Em 1929, aconteceu uma crise que afetou profundamente a economia brasileira. Foi a quebra da Bolsa de Nova York. No ano seguinte Getlio Vargas toma o poder e inicia um perodo marcado pela transformao da sociedade e da organizao econmica brasileira. Conhecido como a Era Vargas, esse perodo da nossa histria foi caracterizado por contradies e inovaes. Tinham uma postura poltica que lembrava o passado autoritrio do nosso pas, mas promovia mudanas fundamentais para a modernizao e desenvolvimento industrial. Vargas cou conhecido como pai dos pobres, por ter uma poltica para o povo, uma poltica nacional e de desenvolvimento industrial, criou uma identidade nacional. Getlio Vargas resolve a crise obtendo crdito para compra do excedente da produo, troca pequena parte do produto por trigo americano e, para evitar a queda do preo no mercado, queima o resto do caf que, tradicionalmente, seria estocado. H um sensvel deslocamento dos capitais investidos at ento na cafeicultura, que passaram a ser aplicados na indstria, atividade que at ento ocupava um lugar de muito pouca importncia no cenrio econmico do pas. O processo de industrializao auxiliado pela desvalorizao da moeda brasileira. A consequente elevao dos preos dos produtos estrangeiros que importvamos vai servir de estmulo para a fabricao de similares no Brasil. Na Era Vargas, o Estado cumpre com ecincia seu papel de principal agente da modernizao capita-

Realmente no podemos negar que Vargas era um visionrio, e, para muitos, foi o primeiro poltico a pensar no povo. Contudo, no podemos esquecer que o Brasil nesse perodo enfrentou um contexto em que sua economia j estava presa ao capital estrangeiro, e que infelizmente iria piorar. Vejamos como foi o modelo de desenvolvimento de JK, outro marco em nosso pas. Juscelino Kubitschek foi eleito no perodo de transio aps o suicdio de Vargas. Governou tentando cumprir seu Plano de Metas, que possua uma ideia desenvolvimentista apresentada pelo slogan Cinquenta anos em cinco. Gerao de energia, transportes, construo de estradas e criao de indstrias de base foram as suas grandes metas, que se consubstanciaram no seu plano, sua pretenso era fazer com apoio de investimentos internacionais. Esse desenvolvimento pregado por JK foi baseado na economia capitalista internacional, que era reetida na associao do Estado, nas empresas nacionais e no capital estrangeiro. O governo JK marca o incio da internacionalizao da indstria no Brasil, poca em que as montadoras de automveis, indstrias de aparelhos eletroeletrnicos e outras comearam a invadir o parque industrial brasileiro, passando a controlar o mercado interno. Compraram as empresas nacionais, que no conseguiam competir com os preos e a tecnologia dos estrangeiros, e instalaram-se aqui denitivamente, inaugurando a era das multinacionais. Em meio a esse contexto, JK e sua poltica de improvisao no terminaram com um saldo positivo.

Deixando uma caracterstica que permeia por muito tempo no contexto brasileiro: os problemas econmicos com a dvida e